Gisele Maia Russel
Gisele Maia Russel
Gisele Maia Russel
São Paulo
2009
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São Paulo
2009
3
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
São Paulo
2009
5
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
At this work, we try to design a fast historical course of the Brazilian poetry for
children, considering its publication since the end of the nineteenth century until the
poetics constructions that could become concrete with the popularization of the
computers and the internet: the ciberpoems.
At first, we made a panoram that tries to suggest some significant changes the
new techonologies brought to literature, especially to the relations that involve three
elements that constitutes a literary system according to a social view of literature
supported by Antonio Candido: writer, text and public.
Following, through a historical course of poetry, we expose some aspects
better evidenced on ciberpoems that had already been found in texts of different
times and styles: visuality, sonority, movement and sinestesy.
Finally, through the investigation of the historical of Brazilian literature for
children, we present a fast analyse of Sérgio Capparelli’s poems, writer who
demonstrates in his work the transition of poetry between books and screens,
showing the harmonic convivention between both that we are trying to suggest.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................9
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS......................................................................12
2.1. COMPUTADORES E LITERATURA – A PALAVRA ESCRITA E SEUS
SUPORTES................................................................................................12
2.2. A ERA DA HIPERVELOCIDADE E OS NOVOS COMPORTAMENTOS
HUMANOS.................................................................................................15
2.3. O TEXTO LITERÁRIO ENTRE LIVROS E TELAS....................................17
2.4. A INTERNET E O HIPERTEXTO...............................................................19
2.5. A INTERNET E O SURGIMENTO DE UM NOVO SISTEMA
LITERÁRIO................................................................................................23
2.5.1. A internet reconfigurando o autor..............................................................24
2.5.2. A internet reconfigurando o leitor...............................................................27
2.5.3. A internet reconfigurando a obra...............................................................27
3. POESIA E POEMA AO LONGO DA HISTÓRIA: ALGUNS CENÁRIOS.........28
3.1. POEMAS E CIBERPOEMAS: ANTECIPAÇÕES E CARACTERÍSTICAS.31
3.1.1. A visualidade da poesia.............................................................................31
3.1.2. A sonoridade da poesia..............................................................................40
3.1.3. O movimento e a sinestesia da poesia......................................................43
4. LITERATURA E LITERATURA INFANTIL.......................................................45
4.1. PERCURSO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA:
ALGUNS CENÁRIOS.................................................................................47
4.2. A POESIA E AS CRIANÇAS......................................................................53
4.3. NOVAS PERSPECTIVAS DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA......58
5. A CIBERPOESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI: ESTUDO DE CASO...............65
5.1. SÉRGIO CAPPARELLI – UM POETA PARA AS CRIANÇAS...................65
5.2. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI ENTRE LIVROS...........................69
5.3. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI ENTRE TELAS.............................72
5.4. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI SE TRANSFORMANDO NO
TEMPO.......................................................................................................78
6. CONCLUSÕES.................................................................................................84
APÊNDICE............................................................................................................87
9
ANEXO..................................................................................................................94
REFERÊNCIAS...................................................................................................103
10
1. INTRODUÇÃO
interagir com os amigos, o livro é que exige habilidades com as quais eles não estão
familiarizados, como um maior esforço de concentração, por exemplo.
Daí surge nosso interesse em pesquisar como os computadores estão
influenciando a capacidade leitora dos jovens, o que nos levou a sugerir, no
presente trabalho, que os novos gêneros textuais que surgem nas telas dos
computadores podem parecer mais familiares e, talvez, mais atraentes à criança e
ao adolescente, conquistando-os para o universo da leitura.
Dentre tais gêneros textuais, destaca-se o hipertexto. Mais recentemente,
temos observado o surgimento e crescimento de uma segmentação do hipertexto,
um novo gênero poético, - o ciberpoema - que apresenta características bastante
peculiares, como a participação do leitor na construção do texto, a combinação de
diferentes linguagens evocando sentidos e a estreita relação com as artes gráfico-
visuais. Para esse gênero textual, sabemos da existência das mais variadas
nomenclaturas. Entre elas, infopoesia, poesia virtual, poesia multimídia, hiperpoesia,
tecnopoesia e o termo que utilizaremos no presente trabalho: ciberpoesia1.
Chamaremos aqui de ciberpoemas a representação da combinação de
elementos verbais e não-verbais, como textos, artes gráficas, animações, sons etc.,
produzindo efeitos poético-visuais na tela do computador.
Tomando como referência a teoria da recepção que, segundo Terry Eagleton,
“examina o papel do leitor na literatura”, colocando-o como peça-chave, em posição
de destaque no sistema literário, e atribuindo a ele a diversidade de leituras e
significações que podemos observar em um mesmo texto, conforme este autor
explicita:
1
A preferência ao uso da terminologia “ciberpoesia” foi dada por essa ser a nomenclatura adotada
pelo autor estudado: Sérgio Capparelli. Porém, percebemos que o conceito de ciberpoema se altera
na obra do autor, no decorrer do tempo. Incialmente, no livro “33 Ciberpoemas e Uma Fábula Virtual”,
a tecnologia computacional se faz presente somente nos temas dos textos, diferentemente dos sites
em que o autor publica outro tipo de ciberpoema, aonde a tecnologia é parte integrante da obra,
oferecida em novos suportes e construída a partir de recursos computacionais.
12
2
Sérgio Capparelli é poeta mineiro, graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e doutor em Ciências da Comunicação pela Université de Paris II. Com mais de
quarenta livros publicados, o escritor já recebeu diversos prêmios, em especial por sua obra infanto-
juvenil.
13
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
“A tradição é uma beleza que preservarmos, e não um conjunto de grilhões para nos
aprisionar.” (Ezra Pound)
3
MANGUEL, Alberto. Uma História da Leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
14
(...) Alguns desses livros de cultos eram tão imensos que tinham de ser
postos sobre rodinhas para que pudessem ser movidos. No entanto,
muito raramente saíam do lugar. Decorados com latão ou marfim,
protegidos com cantos de metal, fechados por fivelas gigantescas, eram
livros para serem lidos comunalmente e à distância, desautorizando
qualquer leitura íntima ou sentimento de posse individual. (2003, p. 155)
então, o livro tinha o valor da sua unicidade, uma vez que era produzido
artesanalmente por escribas, representando as horas de trabalho e os gastos
realizados para sua produção. A partir da invenção de Gutenberg, o livro começou a
ser produzido em maior escala, de maneira rápida, uniforme e muito mais barata.
Assim, no século XVI, os livros impressos começaram a ser publicados em
larga escala e tomaram várias formas, o que representou a mais notável
contribuição da invenção da imprensa para o mundo da leitura, que foi, é claro, a
ampliação da quantidade de leitores, que passaram a ter maior facilidade de acesso
aos livros, o que acarretou uma democratização da literatura.
Sobre essas transformações, Alberto Manguel ressalta que:
(...) over the past several decades literary theory and computer hypertext,
apparently unconnected areas of inquiry, have increasingly converged.
Statements by theorists concerned with literature, like those by theorists
concerned with computing, show a remarkable convergence. Working often,
but not always, in ignorance of each other, writers in these areas offer
evidence that provides us a way into the contemporary episteme in the
4
midst of major changes. (1992, p. 2)
4
“(...) De forma crescente, nas últimas décadas, a teoria literária e o hipertexto, áreas de pesquisa
aparentemente desconexas, têm convergido. Colocações de teóricos da literatura, assim como
aquelas dos teóricos da computação, manifestam notável convergência. Trabalhando
frequentemente, mas não sempre, na ignorância um do outro, escritores dessas áreas oferecem
evidências que nos trazem um caminho para a epistemologia contemporânea em meio a mudanças
maiores”. (tradução nossa)
18
(...) Na maior parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como
literatura é que eles a encontram num contexto que a identifica como
literatura: num livro de poemas ou numa seção de um revista, biblioteca ou
livraria. (1999, p. 34)
(...) É tentador desistir e concluir que a literatura é o que quer que uma
dada sociedade trata como literatura – um conjunto de textos que os
árbitros culturais reconhecem como pertencentes à literatura. (1999, p. 29)
20
O termo ‘hipertexto’ foi cunhado por Theodor Holm Nelson em 1964, para
referir uma escritura eletrônica não-sequencial e não-linear, que se bifurca
e permite ao leitor o acesso a um número praticamente ilimitado de outros
textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real. Assim o
leitor tem condições de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir
21
No hipertexto, não há esse espaço fechado, pois não existem limitações para
a distribuição do texto.
Nesse gênero textual, os links se fazem através de palavras-chaves ou
imagens que na maioria das vezes possuem relações hiperonímicas com o texto que
o segue, ou seja, um texto de conteúdo mais abrangente oferece ligações a vários
outros que discutem aspectos mais específicos tratados sobre aquele conteúdo.
5
Para os conceitos de interatividade e iteratividade, ver MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linearização,
Cognição e Referência. 2006. Disponível em: http://www.pucsp.br/~fontes/atividade/17Marcus.pdf.
Acesso em: 06 dez. 2009.
24
por nenhuma aprovação para se tornar autor. Nas palavras de Regina Zilberman,
não é a primeira vez que se pensa nesse processo de dessacralização do autor:
externos ao texto, como a imagem que ele tem do autor e do suporte em que
encontra o texto, por exemplo.
Para que o leitor alcance seu objetivo na leitura hipertextual, primeiramente, é
preciso que, por meio de suas capacidades cognitivas e seu conhecimento prévio,
ele seja capaz de reconhecer a credibilidade e a qualidade do que lê.
Retomando o pensamento de Paulo Freire de que “a leitura do mundo
precede a leitura da palavra”, encontramos o panorama ideal para tal teoria na
leitura hipertextual, que conta com as experiências do leitor para a seleção e
construção do sentido do conteúdo a ser lido, como retoma Xavier:6
6
XAVIER, Antonio Carlos (2004) Leitura, Texto e Hipertexto. In: Hipertexto e Gêneros Digitais – Novas
Formas de Construção de Sentido. Rio de Janeiro: Lucerna.
3
ZILBERMAN, Regina. Fim do Livro, Fim dos Leitores (2000)
28
“Estes poemas não são para ler. São para ver! Mas isso não quer dizer
7
que o poeta não tenha voz!” (E. M. de Melo e Castro)
Assim como,
(...) pode ser feita em verso muita coisa que não é poesia. Julgamentos
retrospectivos a este propósito são inviáveis, mas não a percepção de cada
leitor. Assim, embora a poesia didática do século XVIII, por exemplo, fosse
perfeitamente metrificada e constituísse uma das atividades poéticas
legítimas, hoje ela nos parece mais próxima dos valores da prosa. (1999, p.
22)
7
Apud PERFORMANCES de E. M. de Melo e Castro, Américo Rodrigues e Jorge Sequerra: ciclo
paralelo à exposição O Caminho do Leve.
30
Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama poesia. Ama
outra coisa. Afinal a arte só tem alcance prático em suas manifestações
inferiores, na diluição da informação original. Os que exigem conteúdo
querem que a poesia produza um lucro ideológico.
O lucro da poesia quando verdadeira é o surgimento de novos objetos no
mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir
mundos novos. Uma capacidade in-útil. Além da utilidade.
Existe uma política na poesia que não se confunde com a política que
existe na cabeça dos políticos. Uma política mais complexa, mais rarefeita,
uma luz política ultravioleta ou infravermelha. Uma política profunda, que é
crítica da própria política, enquanto modo limitado de ver a própria vida.
(1986, p. 59)
Portanto, devido à falta de finalidade prática dos poemas eles passam a ser
considerados objetos de reflexão, o que induz ao mito de que poemas são materiais
de leitura dos cultos e eruditos.
Nos tempos atuais, em meio a tantos, tão rápidos e atraentes meios de
comunicação, os textos poéticos parecem estar ainda mais esquecidos. Porém,
observamos que os computadores e a internet têm trazido profundas transformações
na forma de se fazer e ler poemas, disseminando-se o gosto pela arte literária em
uma geração que não é exatamente afeiçoada aos livros, mas que mantêm íntimo
contato com outras mídias de informação. Tais poemas – o que aqui estamos
chamando de “ciberpoemas” - dialogam intensamente com as artes gráficas e
computacionais, sem perder o conteúdo poético, como defende o poeta Ernesto
Manuel de Melo e Castro:
(Fig. 2 – Arte rupestre - Fonte: ALVES, Gerlúzia de Oliveira Azevedo. Arte Rupestre: O Fazer do Artista Paleolítico)
texto poético, que sempre produziu significados também, por exemplo, através da
forma como seus versos e estrofes eram dispostos no papel. Isso pode ser notado
mesmo antes dos poemas que cultuavam a forma explicitamente, como os poemas
concretos que conhecemos no movimento modernista, conforme veremos a seguir.
Já na Antiguidade, em 325 a.C., um poema chamado “O Ovo”8, de Símias de
Rodes, procura reproduzir na disposição dos versos o formato de um ovo, como
podemos verificar na tradução abaixo de José Paulo Paes:
O Ovo
Acolhe
da fêmea canora
este novo urdume que, animosa
Tirando-o de sob as asas maternas, o ruidoso
e mandou que, de metro de um sopé, crescesse em número
e seguiu de pronto, desde cima, o declive dos pés erradios
tão rápido nisso, quanto as pernas velozes dos filhotes de gamo
e faz vencer, impetuosos, as colinas no rastro da sua nutriz querida,
até que, de dentro do seu covil, uma fera cruel, ao eco do balido, pule
mãe, e lhes saia célere no encalço pelos montes boscosos recobertos de neve.
Assim também o renomado deus instiga os pés rápidos da canção a ritmos complexos.
Do chão de pedra pronta a pegar alguma das crias descuidosas da mosqueada
balindo por montes de rico pasto e gruta de ninfas de fino tornozelo
que imortal desejo impele, precipites, para a ansiada teta da mãe
para bater, atrás deles, a vária e concorde ária das Piérides
até o auge de dez pés, respeitando a boa ordem dos ritmos,
arauto dos deuses, hermes, jogou-a à tribo dos mortais,
e pura, ela compôs na dor estrídula do parto
do rouxinol dórico
benévolo.
(O OVO, de Símias de Rodes. Tradução de José Paulo Paes)
8
O poema O Ovo foi digitalizado a partir de: GUIMARÃES, Denise. (2004) Poesia Visual & Movimento: Da
Página Impressa aos Multimeios. Curitiba. (tese de doutorado)
35
Neste poema, escrito no século XVII, já podemos notar uma das principais
características da leitura de ciberpoemas na tela do computador: a deslinearização
do texto, ou seja, não há uma estrutura linear a ser seguida para a compreensão do
poema.
O poeta brasileiro Fagundes Varela, no século XIX, também se utiliza da
visualidade para falar da religião cristã, desenhando uma cruz através da disposição
dos versos do poema, produzindo sentidos através da combinação de elementos
textuais verbais e não-verbais:
Estrelas
Singelas,
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topetais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
E t e r nas!
Extensos,
Imensos
Espaços
A z u i s!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!
(Augusto de Campos, ”ovonovelo” (1955), Viva Vaia – Poesia – 1949-1979, São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 94)
O poema acima apresenta seu texto disposto no formato sugerido pelo título
do poema “ovonovelo”. A temática também tangencia o nascimento e, além disso, o
autor, em todas as “estrofes” utiliza-se de palavras que fazem referência a
circunferências, como “ovo”, “centro”, “zero”, “ponto”, “nó”, “sol”.
No movimento concretista, então, já são evidentes os traços da visualidade
que encontramos hoje nos ciberpoemas, inclusive levando-nos a refletir sobre o
conceito de poema. É o caso de uma das vertentes da poesia concreta: os poemas-
sem-palavras ou poemas semióticos que, apesar de não conterem elementos
verbais, têm aparecido em antologias e publicações ao lado dos poemas com
palavras. Um exemplo dessa vertente é outro poema de Augusto de Campos, “Olho
por Olho”, de 1964:
40
O mesmo ocorre com o poema visual “Olho por Olho”, que não necessita
de “chave léxica” explícita porque se compõe de signos extraídos da
realidade cotidiana: uma esteira de olhos arrancados a personagens
conhecidos conduz a um triângulo formado por sinais de trânsito, de
significado universal: à esquerda, tráfego proibido; no centro, siga em
frente; à direita, direção única à direita; e na vértice superior, termo da
viagem, o sinal geral de perigo. Esse poema “inqualificável” tem, pois, uma
semântica visível a olho nu. (1978, p. 86)
Ainda hoje, os saraus são comuns em eventos culturais inclusive nas grandes
cidades.
Para ilustrar os efeitos que a sonoridade agrega ao poema, aqui
transcrevemos e comentamos os tão conhecidos versos de Manuel Bandeira, de
“Trem de Ferro”:
42
Trem de ferro
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
43
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente..
(trem de ferro, trem de ferro)
(Manuel Bandeira, Estrela da Manhã in Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro, J. Aguilar, 1967, p. 281-2)
9
LIMA, Vinicius Silva de. (2008) Poesia e Novas Tecnologias. In: Midiálogos: Revista Científica de
Comunicação. (http://www.ump.edu.br/midialogos/ed_02/)
45
10
PESSOA, Fernando. ‘Liberdade’. In:______. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p.
188
47
11
Para conhecer sobre o principal programa de escolha de livros das escolas públicas brasileiras, o
PNBE, ver apêndice, bem como o acervo disponível em Anexo.
48
Assim, sugerimos aqui que a literatura que irá atrair as crianças será aquela
que fala da fantasia, do inimaginável que se torna imaginável somente no
pensamento de quem ainda não tem barreiras na capacidade criativa, que brinca
com as palavras e com os sentidos, além de possibilitar maiores reflexões e
curiosidades. Encontramos essas características em textos de sucesso de autores
consagrados como Ziraldo, Ruth Rocha, Ângela Lago, Ana Maria Machado e, na
poesia, é bastante evidente o caso do autor estudado neste trabalho, Sergio
Capparelli.
12
Apud ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças – Para conhecer a literatura
infantil brasileira: histórias, autores e textos. 2. ed. São Paulo: Global Universitária, 1988.
49
É o jantar do papaizinho;
Manjares de fino gosto; Contam-me histórias bonitas,
Carne, legumes, toucinho, Falam da terra e dos ares,
Tudo fresco e bem disposto. De vastidões infinitas,
De rios, campos e mares.
Papai trabalha na roça;
13
LAJOLO, Marisa. ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira – História e Histórias. São
Paulo: Ática, 1987.
14
ZILBERMAN, Regina. LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças. São Paulo: Global, 1986.
15
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira História e Histórias. São
Paulo: Ática, 1987.
50
Neste poema, o eu - lírico, uma criança de oito anos, narra suas atividades
rotineiras, retratando uma família modelo: pai trabalhador, mãe dedicada, filha
estudiosa e obediente convivendo harmoniosamente em um ambiente rural que
passa a sensação de paz e tranquilidade.
Regulamentando comportamentos, ao falar de livros, o poema nos mostra a
literatura se auto-divulgando, buscando convencer o leitor do valor positivo da
leitura.
A criança, ao ler no poema uma situação ideal, a quer para si e, para isso,
supõe-se que buscará reproduzir o comportamento do eu - lírico, sendo também
uma criança dedicada, amorosa e estudiosa.
Em um país com poucos letrados, aonde a literatura tradicional de adultos já
não dispunha de amplas possibilidades de divulgação e comercialização, também
exíguo era o mercado da literatura infantil, o que foi um dos fatores que fez com que
essa vertente fosse divulgada exclusivamente na escola, fato que reforça o propósito
educativo de seus textos. Sendo assim, sempre foi uma preocupação da escola
atrair a criança para o mundo da leitura, que foi considerada um instrumento de
acesso ao saber, além de trazer status. Porém, ao utilizar a literatura como
ferramenta de regulamentação do comportamento das crianças, a única coisa que a
escola conseguiu foi afastá-las deste universo de histórias e fantasia.
Monteiro Lobato (1969) em ensaio intitulado Os Livros Fundamentais alerta
sobre o efeito inverso que tais obras têm na formação de crianças leitoras. De
acordo com Lobato, tais obras não fazem nada além de distanciar as crianças da
51
Não imaginas a minha luta para extirpar a literatura dos meus livros
infantis. A cada revisão nova nas novas edições, mato, como quem mata
18
pulgas, todas as “literaturas” que ainda as estragam. (1945)
16
LOBATO, Monteiro. Os Livros Fundamentais. In: _______. A Onda Verde. O Presidente Negro. São
Paulo: Brasiliense, 1964. p. 83-88.
17
ZILBERMAN, Regina. LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças – Para conhecer a literatura
infantil brasileira: histórias, autores e textos. 2. ed. São Paulo: Global Universitária, 1988.
18
Apud ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças – Para conhecer a literatura
infantil brasileira: histórias, autores e textos. 2. ed. São Paulo: Global Universitária, 1988.
52
Podemos notar que o trecho acima é uma lenda indígena que narra o
surgimento do fogo. História que valoriza os mitos e lendas do povo brasileiro,
remetendo à busca pela identidade de nossa literatura infantil.
A partir da segunda metade do século XX, a literatura infantil ganhou força,
passando a ser mais intensamente comercializada, o que ampliou a quantidade de
publicações de livros para crianças, bem como a diversidade de gêneros presentes
nessas obras, incluindo desde a poesia até textos policiais e de ficção científica.
Com a existência de um público consolidado para a literatura infantil, que
ainda se confundia com a população escolar, ainda era forte a representação da
escola nessas histórias, que deixam de uma vez por todas o espaço rural para se
ambientar nos centros urbanos, aonde é revelada uma nova personagem criança,
representada como um ser crítico, inquieto, atuante, como podemos notar no
fragmento abaixo da obra de Ruth Rocha:
Autores como Pedro Bandeira, Carlos Queiroz Telles, Lúcia Pimentel Góes
e Roseana Murray, entre outros, trazem essas vozes das crianças e o
universo cotidiano com seus conflitos para serem lidos, vistos, sentidos e
vivenciados na literatura infantil de hoje, conflitos esses levados às
crianças com uma proposta de diálogo, não somente de imposição de
53
valores, por meio de uma literatura que busca a arte, sua característica
primeira e que procura cada vez mais trazer à tona as discussões sobre a
identidade complexa do povo brasileiro, com todas as nuanças formadoras
de nossa cultural plural. (2006, p. 191)
19
O catálogo aqui analisado foi a versão 2005/2006 de divulgação das obras da editora Ática.
54
A PÁTRIA
Mais tarde perdemos o interesse pela poesia. No meu caso, quando entrei
na escola e os professores me obrigavam a decorar longos e aborrecidos
versos falando de higiene e de datas festivas. Poesia tinha virado então
sinônimo de obrigação, distanciando-se do prazer e da descoberta. Nessa
época nos vingávamos inventando e descobrindo versos sujos, feitos de
beco de rua. (2008, p. 140)
A Casa
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
(MORAIS, Vinícius de. A Casa, In: A Arca de Noé. Rio de Janeiro: Sabiá, 1974)
Este poema, por ter tão forte sonoridade - o que o levou a ganhar versão
musical - já está incorporado pelo imaginário infantil brasileiro como uma cantiga de
roda, sendo um dos poemas infantis mais populares entre as crianças de várias
gerações desde a sua publicação. A casa que o autor descreve revela o inesperado,
20
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. (1987) Literatura Infantil Brasileira História e Histórias.
São Paulo: Ática.
58
causa estranhamento e incita a brincadeira, por isso perdura no tempo como um dos
favoritos entre o público infantil.
Os recursos de linguagem que envolvem ritmo, como a aliteração, as
onomatopéias, as rimas, são os favoritos para aproximarem a poesia da brincadeira,
da cantiga, da alegria do universo infantil, como podemos ilustrar com o poema
Colar de Carolina, de Cecília Meireles:
Colar de Carolina
Com seu colar de coral
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
O colar de Carolina
Colore o colo de cal
torna corada a menina.
(MEIRELES, Cecília. Colar de Carolina. In: _______ Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1972)
Um Elefante no Nariz
Se acha perigoso
Um elefante no nariz,
Pense bem:
60
Muito pior
Quando ele perde o equilíbrio
E solta um pum.
(CAPPARELLI, Sergio. Um Elefante no Nariz. Porto Alegre: LePM, 2000)
Vivemos, nesta primeira década do século XXI, uma fase de transição que
proporciona novos caminhos para a literatura e, em especial, para a literatura
infantil. Dizemos em especial porque sugerimos neste trabalho que as inovações
trazidas ao universo literário têm causas e efeitos diferenciados e mais evidentes
quando falamos da literatura infantil.
A noção de leitura como um hábito visto sempre de maneira positiva, que leva
ao aprendizado, à inteligência e agrega status intelectual ao leitor, que deve
consumir obras dos mais variados temas e gêneros para adquirir um amplo e vasto
repertório de leituras, faz com que incontáveis produções literárias que prometem
despertar o gosto da criança pelo prazer da leitura sejam elaboradas, utilizando-se
dos mais variados recursos gráficos e lingüísticos.
Somando a isso as modificações que as tecnologias têm trazido ao universo
literário e o intenso interesse das crianças pelas novas tecnologias, que oferecem
múltiplos caminhos e possibilidades para as criações literárias, alguns autores
decidem investir nos computadores como suporte para publicação de seus textos.
Autores como Ziraldo e Ruth Rocha, que estrearam na literatura muito antes
da popularização dessas novas tecnologias, disponibilizaram na internet algumas de
suas obras completas no formato e-book.
61
(Fig. 8: Primeira página da versão eletrônica do livro O Menino Maluquinho, de Ziraldo. Fonte:
http://www.ziraldo.com.br)
(Fig. 9: Versão eletrônica do livro Quem tem Medo de Ridículo? De Ruth Rocha. Fonte:
http://www2.uol.com.br/ruthrocha/livros.htm)
Através da leitura dessa obra, podemos sugerir que, além de trazer para o
livro um leitor das telas, o autor também consegue levar para as telas eventuais
leitores de livros, uma vez que o introduz no ciberespaço e no mundo da
comunicação virtual.
As ilustrações de Guto Lins provocam uma leitura em que texto e imagem
dialogam e interagem, facilitando as percepções do leitor e trazendo as fortes
percepções imagéticas típicas do computador materializadas no papel.
Devemos ressaltar também a intertextualidade que o autor constrói com
contos de fada, como João e o Pé-de-feijão, além de clássicos da literatura
universal, como Dom Quixote e Alice no País das Maravilhas.
Bem sabemos que para discutir literatura da perspectiva do leitor, enfatizando
a hipótese de que é ele quem constrói os sentidos e a interpretação do texto, seria
interessante levar em consideração os gostos, as reações e os efeitos da literatura
infantil manifestadas pela própria criança e que, para tanto, seria bastante produtivo
um projeto didático que servisse como apoio à análise do comportamento da criança
diante dos novos e dos velhos suportes de leitura de poesia (conforme Apêndice).
No entanto, foi impossível levar a cabo tal projeto no prazo necessário para que
seus resultados fossem incorporados neste trabalho.
66
“Com o passar do tempo, a gente percebe que o autor não está do lado de cá e o leitor do lado de lá.
Que o que foi lido não veio do mundo. Que a vila onde nasci, em Uberlândia, e o cerrado dos campos
gerais, que me fascinava, ocupam um todo que é único. Nesse sentido, o não é o outro rosto do sim.
21
E que todo autor vive sempre os miasmas e as iluminações de seu tempo.” (Sérgio Capparelli)
21
HTTP://www.capparelli.com.br
68
X é para xaxim
X é para xaxim
(CAPPARELLI, Sérgio. X é para xaxim. In: Tigres no Quintal. São Paulo: Global, 2005)
22
CAPPARELLI, Sérgio. Tigres no Quintal. São Paulo: Global, 2005.
73
LIMERICK DO COMPUTADOR Nº 1
(CAPPARELLI, Sérgio. Limerick do computador nº 1. In: 33 Ciberpoemas e Uma Fábula Virtual. Porto Alegre: L& PM, 1996)
(Fig. 14: Poema Babel publicado no livro Poesia Visual de Sérgio Capparelli)
Este poema sem palavras é representado por uma torre, que está
parcialmente destruída e da qual sai fumaça, o que sugere a continuidade de sua
destruição. No ponto amarelo, há a imagem de uma mulher tocando violino, o que
74
coloca harmonia e destruição dispostos juntamente. Para esse poema, bem como
para outros nove poemas do livro, foram criadas versões ciber na edição do site, que
analisaremos adiante.
Por fim, em 2003, é lançada a antologia 111 Poemas para Crianças, que
reúne a produção lírica de vinte anos de atividade de Sérgio Capparelli como poeta.
Novamente com ilustrações da design Ana Cláudia Gruszynski, os poemas que
aparecem nessa obra foram selecionados e organizados pelo próprio Capparelli, que
os dividiu em seções separadas por temas. Dentre tais seções, temos “Música de
Ouvido”, que apresenta poemas que destacam a sonoridade, “Poemas Visuais”, que
abusam de recursos imagéticos e “Nonsense”, que são poemas que tratam de
“aquilo que não parece ter sentido a não ser o de jogar com a imaginação.”23
Fecharemos com o comentário sobre essa antologia a análise de livros do
poeta Sérgio Capparelli, porém, após esta data ele ainda lançou o premiado “Duelo
de Batman contra a MTV”, em 2004, e enfatizamos que sua produção de obras
poéticas que encantam adultos e crianças continua crescendo a todo vapor e, como
veremos, se acompanha de uma progressiva aproximação da ciberpoesia.
Sérgio Capparelli se faz presente em vários sites que divulgam sua obra e
sua carreira acadêmica. Dentre eles, HTTP://www.ciberpoesia.com.br, que
apresenta versões digitais de poemas visuais publicados previamente no livro
Poesia Visual, HTTP://www.ciberpoesia.com.br/zoom, que apresenta orientações
didáticas e pedagógicas para incentivar o uso da tecnologia por educadores,
HTTP://www.tigrealbino.com.br, que é uma revista digital sobre poesia infantil, com a
edição do autor em parceria com Maria da Glória Bordini e Regina Zilberman.
No presente trabalho, nossa análise se focará no site
HTTP://www.ciberpoesia.com.br, que surgiu em 2000 para divulgação do
lançamento de seu livro Poesia Visual.
23
CAPPARELLI, Sérgio. 111 Poemas para Crianças. Porto Alegre: L&PM, 2003.
75
Para alguns dos poemas publicados nesse livro, a empresa W3Haus elaborou
versões digitais que foram batizadas por Capparelli como “ciberpoemas” (agora com
um significado diferente do utilizado em 33 Ciberpoemas e Uma Fábula Virtual, o
ciber, agora, significa o suporte no qual é veiculado – computador – e as
características específicas de constituição do texto que essa mídia oferece).
Esta é a tela de abertura do site:
Alguns dos poemas publicados no livro Poesia Visual estão dispostos nas
páginas do site, mas agora conectados através de um link a uma nova versão do
poema que utiliza recursos computacionais em sua composição. Essas versões são
elaboradas por especialistas em computação gráfica da empresa W3Haus, o que
confirma a complexidade da noção de autoria no ciberpoema.
Dois desses poemas chamam um pouco mais a atenção dos pequenos
devido a uma seta puxada do link deles que diz “Super interativo!”. Devido à
curiosidade em investigar tal idéia de interatividade, nos deteremos um pouco mais
na análise do ciberpoema Chá. Esta é a versão visual desse ciberpoema:
(Fig. 16: Poema Chá publicado no livro Poesia Visual de Sérgio Capparelli)
Dependendo dos ingredientes que o leitor escolher para colocar em seu chá,
mudam os efeitos da animação dos versos do poema que saem da xícara de chá,
como se fossem o vapor. Tais efeitos instigam o leitor a recriar o poema para
78
(Fig. 21: Poema Xadrez publicado no livro Poesia Visual, de Sérgio Capparelli)
O ZIGUE E O ZAGUE
O Zigue e o Zague
Seguiam sem direção.
É por aqui?
Por aqui, não?
E sumiram no horizonte
Sem chegar à conclusão.
(Fig. 23: Poema O Zigue e O Zague publicados no livro Tigres no Quintal, de Sérgio Capparelli)
Zague são peixes, perdidos, vivendo um dilema que não conseguem resolver,
conforme notamos abaixo:
(Fig. 24: Poema O Zigue e O Zague publicado no livro Poesia Visual, de Sérgio Capparelli)
E, por fim, a cena 3, tela que mostra que os peixes continuam sem resolver
seu dilema, ilustrando o fim da narrativa com a linha do horizonte:
No caso desta versão, surge um impasse: até que ponto podemos considerar
essa animação em Macromedia Flash um poema e não uma narrativa hipertextual
de baixa interatividade? Para responder a essa pergunta, enfatizamos que a
primeira evidência de que esse hipertexto continua sendo um texto poético é a
combinação entre imagem e texto, além do tema reflexivo e do fato de que é uma
reescrita de um poema publicado previamente em livros.
Mais tarde, em 2003, esse poema foi publicado na antologia 111 Poemas
para Crianças com nova ilustração de Ana Claudia Gruszinsky:
85
(Fig. 28: Poema O Zigue e O Zague publicado no livro 111 Poemas para Crianças, de Sérgio Capparelli)
Nessa nova versão, Zigue e Zague continuam sendo peixes, mas nos chama
atenção o capítulo em que esse poema se encontra neste livro.
Os capítulos desse livro têm como títulos “Coisas que Eu Sei”, “Esses animais
divertidos” e “Jogo e Adivinhas”. Esse poema encontra-se no capítulo “Nonsense”,
ou seja, sem sentido.
Sendo assim, é desmitificado qualquer enigma a ser desvendado na
interpretação desse poema, pois, ao ser inserido na categoria de poemas que não
precisam ter sentido, sua interpretação se torna ainda mais livre de interpretações
fechadas.
86
6. CONCLUSÕES
24
A autora do presente trabalho é professora de Língua Portuguesa da Rede Pública Estadual de
Ensino na cidade de Guarulhos / SP, daí o convívio com crianças dessa faixa etária.
88
APÊNDICE
RESUMO
Sabemos que, nem as crianças e nem mesmo nós, adultos, costumamos nos
sentir atraídos por qualquer coisa que nos seja imposta. Portanto, ainda que sejam
escolhidos para o trabalho educacional textos da literatura infantil que correspondam
às expectativas das crianças, ao se estabelecerem modos de leitura que levam a
determinadas interpretações “ditas” como corretas, eles provavelmente não irão
despertar o entusiasmo pela leitura. Ainda é comum entrar em escolas e observar
crianças de “castigo” nos espaços de leitura, provavelmente lendo um livro escolhido
por um professor para que seja feito um trabalho, em conseqüência de não terem
prestado atenção na aula ou por terem sido indisciplinados.
Se é papel da escola ampliar o repertório de experiências e conhecimento de
mundo de seus alunos, como pode ela distanciá-los da leitura? Ao desvalorizar
leituras de gêneros populares entre as crianças, como as histórias em quadrinhos,
os best-sellers e os textos veiculados pela internet, a escola os faz entender que há
dois tipos de leitura: um deles para ter prazer (leitura recreativa) e outro para fazer
avaliação (leitura escolar).
Enfatizando que não acreditamos em leituras superiores e leituras inferiores,
acreditamos que todos os gêneros textuais que perpassem o imaginário do leitor e
instigue-os a buscar outros textos são práticas de leitura produtivas e positivas.
Em contato com as crianças, percebemos que elas procuram diferentes tipos
de texto dependendo do propósito de sua leitura. Há textos que as crianças lêem
com o objetivo de estudo (nesse caso, a internet é o suporte favorito para pesquisa),
e há também textos para se divertir, se informar, se aventurar, que são lidos pelas
crianças nos mais variados suportes, como revistas, computadores e, também,
livros.
91
25
Para ver o acervo enviado às escolas no ano de 2009, ver anexo II.
92
PÚBLICO-ALVO
OBJETIVOS
METODOLOGIA
26
O acervo da Sala de Leitura é composto por obras distribuídas às escolas pelo PNBE, por doações
de pais, professores, editoras etc., além de um acervo específico do programa Sala de Leitura. Para
verificar parte deste acervo, ver anexo II.
94
DESENVOLVIMENTO
1ª etapa - Diagnóstico
• Entrevistas com os alunos sobre o que sabem sobre poesia, bem como
registro de seus gostos e impressões do gênero.
2ª etapa - Desenvolvimento
ANEXO I
Editora Ltda
O Colombo de Chelem e Outras Bem Zinet Comboio de Corda
Histórias Judaicas Editora Ltda
O Turbante da Sabedoria e Outras Samuel Casal Comboio de Corda
Histórias de Nasrudim Editora Ltda
Os Títeres de Porrete e Outras Peças Frederico García Lorca Comboio de Corda
Editora Ltda
As Fabulosas Histórias de Merlin e do Benjamin Bachelier Companhia Editora
Rei Artur Nacional
Fausto Johann Wolfgang Von Goethe Companhia Editora
Nacional
Guilherme Tell Friedrich Schiller Companhia Editora
Nacional
Moby Dick Herman Melville Companhia Editora
Nacional
Oliver Twist Charles Dickens Companhia Editora
Nacional
A Ambição de Macbeth e a Maldade Arivaldo Viana Cortez Editora e
Feminina Livraria Ltda
Cabelos de Fogo, Olhos de Água Ângela Leite / Lino de Cortez Editora e
Albergaria Livraria Ltda
Histórias que a Menina - Serpente Fabio Cardoso dos Santos Cortez Editora e
Contou Livraria Ltda
Histórias Tecidas em Seda Lucia Hiratsuka Cortez Editora e
Livraria Ltda
Leonardo desde Vinci Nelson Moulin / Rubens Matuck Cortez Editora e
Livraria Ltda
Memórias de um Menino que se Tornou Marcos Cesar de Freitas Cortez Editora e
Estrangeiro Livraria Ltda
Agbalá Marilda Castanha Cosac & Naify Edições
Ltda
Bárbara e Alvarenga Nelson Cruz Cosac & Naify Edições
Ltda
Chica e João Nelson Cruz Cosac & Naify Edições
Ltda
Dirceu e Marília Nelson Cruz Cosac & Naify Edições
Ltda
Kachtanka Anton Tcheckov Cosac & Naify Edições
Ltda
Livro das Perguntas Pablo Neruda Cosac & Naify Edições
Ltda
O Melhor Time do Mundo Jorge Viveiro de Castro Cosac & Naify Edições
Ltda
Pindorama Marilda Castanha Cosac & Naify Edições
Ltda
Será o Benedito Mario de Andrade Cosac & Naify Edições
Ltda
A Volta ao Mundo em Oitenta Dias Julio Verne DCL Difusao Cultural
do Livro Ltda
As Narrativas Preferidas de um Contador Ilan Brenman DCL Difusao Cultural
de Histórias do Livro Ltda
Frankenstein Mary Shelley DCL Difusao Cultural
do Livro Ltda
O Mistério da Terceira Meia Rosana Rios DCL Difusao Cultural
do Livro Ltda
Luluzinha vai às Compras John Stanley Devir Livraria Ltda
Níquel Náusea Tédio no Chiqueiro Fernando Gonsales Devir Livraria Ltda
Suriá a Garota do Circo Laerte Devir Livraria Ltda
A Caverna dos Titãs Ivanir Callado Distr. Record de Serv.
98
de Imprensa SA
A Luz é como Água Gabriel Garcia Marquez Distr. Record de Serv.
de Imprensa SA
Meninos, eu Conto Antonio Torres Distr. Record de Serv.
de Imprensa SA
O livro de Aladim Malba Tahan Distr. Record de Serv.
de Imprensa SA
Cordel em Arte e Versos Moreira de Acopiara Duna Dueto Editora
Ltda
Sei por Ouvir Dizer Bartolomeu Campos de Edelbra Indústria
Queiros Gráfica e Editora
O Enigma das Amazonas Luiz Galdino Edições Escala
Educacional SA
Histórias Maravilhosas de Povos Felizes Julio Emilio Braz Edições Escala
Educacional SA
A Invenção de Hugo Cabret Brian Silznick Edições SM Ltda
Cobra-grande, Histórias da Amazônia Sean Taylor Edições SM Ltda
Contos de um Reino Perdido Erik L’Homini Edições SM Ltda
Contos e Lendas de Macau Alice Vieira Edições SM Ltda
Eleguá Carolina Cunha Edições SM Ltda
Malcriadas Maria José Silveira Edições SM Ltda
Nenhum peixe aonde ir Maria Francine Herbert Edições SM Ltda
Volta ao Mundo dos Contos nas Asas de Catherine Gendrin Edições SM Ltda
um Pássaro
Uma História de Amor Carlos Heitor Cony Ediouro Gráfica e
Editora SA
Marley e Eu John Grogan Ediouro Publicações de
Lazer e Cultura Ltda
Os Melhores Contos de Cães e Gatos Flavio Moreira da Costa Ediouro Publicações de
Lazer e Cultura Ltda
Sundjata o Príncipe Leão Rogério Andrade Barbosa Ediouro Publicações de
Lazer e Cultura Ltda
13 dos melhores contos da mitologia Flavio Moreira da Costa Ediouro Publicações de
Passatempos e
Multimídia Ltda
Confissões de um Vira-lata Orígenes Lessa Ediouro Publicações de
Passatempos e
Multimídia Ltda
Antologia Poética Ledo Ivo Ediouro Publicações
SA
Eu, Robô Isaac Assimov Ediouro Publicações
SA
Histórias Extraordinárias Edgar Allan Poe Ediouro Publicações
SA
O Príncipe Feliz e Outros Contos Paulo Mendes Campos Ediouro Publicações
SA
BGA o Bom Gigante Amigo Roald Dahl Editora 34 Ltda
Diário de um Adolescente Hipocondríaco Aidan Macfarlane Editora 34 Ltda
Limeriques das Causas e Efeitos Tatiana Belinky / Andrés Editora 34 Ltda
Sandoval
O Jardim Secreto Francis Burnett Editora 34 Ltda
Pluto ou um Deus Chamado Dinheiro Anna Flora Editora 34 Ltda
Tumbu Marconi Leal Editora 34 Ltda
Amigos Secretos Ana Maria Machado Editora Abril SA
Ninguém Sabe o que é um Poema Ricardo Azevedo Editora Abril SA
A Insônia do Vampiro Ivan Jaf Editora Abril SA
Contos Mágicos Persas Fernando Alves Editora Aquariana Ltda
Destino em aberto Marisa Lajolo Editora Ática SA
Eu Passarinho Mario Quintana Editora Ática SA
99
O Menino que Vendia Palavras Ignácio de Loyola Brandão Editora Objetiva Ltda
Uólace e João Victor Rosa Amanda Strauss Editora Objetiva Ltda
O Brasil das Placas - Viagem por um José Eduardo Camargo Editora Original Ltda
país ao pé da letra
Raimundo - cidadão do mundo Fabio Yabu Editora Original Ltda
O Reencontro Fred Uhlman Editora Planeta do
Brasil Ltda
Codinome Duda Marcelo Carneiro da Cunha Editora Projeto Ltda
Insônia Marcelo Carneiro da Cunha Editora Projeto Ltda
Confidências, Confusões... e Garotas Gustavo Reis Editora Prumo Ltda
Editora Ltda
Contos e Lendas do Tempo das Christian Jacq Livraria Martins Fontes
Pirâmides Editora Ltda
Matilda Roald Dahl Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Murugawa Yaguare Yama Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Romeu e Julieta, Macbeth, Henrique V, Geraldine McCaughrean Livraria Martins Fontes
Sonhos de uma Noite de Verão e Júlio (adap.) Editora Ltda
César de Shakespeare
Uma Floresta de Histórias Rina Singh Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Antes do Depois Bartolomeu Campos de Manati Produções
Queiros Editoriais Ltda
Sobre Vôos Lalau e Laurabeatriz Manole Ltda
Kafka e a Boneca Viajante Jordi Sierra I. Fabra Martins Editora Livraria
Ltda
O Chupa-tinta Eric Sanvoesin Martins Editora Livraria
Ltda
Poemas para Crianças - Fernando Alexei Bueno (org.) Martins Editora Livraria
Pessoa Ltda
Um Canudinho para dois Erick Sanvoesin Editora Livraria Ltda
Contos de Mirábile Edino de Almeida Pereira Mazza Edições Ltda
Um Menino Invisível José Marcelo R. Freire Mazza Edições Ltda
Na Terra dos Gorilas Rogério Andrade Barbosa Melhoramentos de São
Paulo Livrarias Ltda
O Cão dos Baskervilles Artur Conan Doyle Melhoramentos de São
Paulo Livrarias Ltda
Tecedor de Palavras Humberto Ak’Abal Melhoramentos de São
Paulo Livrarias Ltda
50 Fábulas da China Fabulosa Sérgio Capparelli / Márcia Newtec Editores Ltda
Schmaltz
Deuses, Heróis e Monstros Carmen A. Seganfredo / A.S. Newtec Editores Ltda
Franchini
Uma Colcha muito Curta Sérgio Capparelli Newtec Editores Ltda
Deus segundo Laerte Laerte Olho d’água Comércio
e Serviços Editoriais
Ltda
O Papagaio que não Gostava de Adilson Martins Pallas Editora e
Mentiras e Outras Fábulas Africanas Distribuidora Ltda
Fernando Pessoa: o Amor Bate à Porta Elias José Pia Sociedade de São
Paulo
Mãe África: Mitos, Lendas, Fábulas e Celso Sisto Pia Sociedade de São
Contos Paulo
As Aventuras de Pinóquio Carlo Collodi Pia Sociedade de São
Paulo
Eneida as Aventuras de Enéias Virgilio Pia Sociedade de São
Paulo
História da Avó Burleigh Mutén Pia Sociedade de São
Paulo
Histórias Aumentadas conforme são Mario Bag Pia Sociedade Filhas
Contadas de São Paulo
Odisséia as Aventuras de Ulisses Homero Pia Sociedade Filhas
de São Paulo
Contos de Shakespeare Mary Lamb (org.) Pixel Media
Comunicação Ltda
Memórias de um Cabo de Vassouras Origenes Lessa Pixel Media
Comunicação Ltda
Zé Beleza Teresinha Éboli Pixel Media
104
Comunicação Ltda
A Bola que Rola Vários RHJ Livros Ltda
Contos Contidos Maria Lucia Simões RHJ Livros Ltda
P.s. Beijei Adriana Falcão Richmond Educação
Ltda
Bem do seu Tamanho Ana Maria Machado Salamandra Editorial
Ltda
O Segredo (mas jura que não conta pra Christiane Gribil Salamandra Editorial
ninguém?) Ltda
Peter Pan James Matthew Barrie Salamandra Editorial
Ltda
Ladrões de Histórias João A. Carrascoza Saraiva SA Livreiros
Editores
Pra Você Eu Conto Moacyr Scliar Saraiva SA Livreiros
Editores
Primeiras Lições de Amor Elias José Saraiva SA Livreiros
Editores
Bateu Bobeira e Outros Babados Fanny Abramovich Uno Educação Ltda
Em Busca de um Sonho Walcyr Carrasco Uno Educação Ltda
Malasaventura - Safadeza do Malasartes Pedro Bandeira Uno Educação Ltda
Minhas Rimas de Cordel Cesar Obeidi Uno Educação Ltda
Transplante de Menina Tatiana Belinky Uno Educação Ltda
10 Pãezinhos - Meu Coração não Sei Fábio Moon / Gabriel BA Via lettera Editora e
Por quê Livraria Ltda
105
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Augusto de. Poesia, Antipoesia, Antopofagia. São Paulo: Cortez &
Moraes, 1978.
______. 111 Poemas para Crianças. 8. ed. Porto Alegre: L&PM, 2008.
DILL, Luis. Todos Contra Dante. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
LIMA, Luís da Costa. (Coord. e Trad.) A Literatura e o Leitor. São Paulo: Paz
e Terra, 1979.
LIMA, Vinicius Silva de. Poesia e Novas Tecnologias. In: Midiálogos: Revista
Científica de Comunicação. 2008. Disponível em:
<http://www.ump.edu.br/midialogos/ed_02/> Acesso em: 10 dez. 2009.
MARTINS, Silva; SILVA, Juremir Machado da. Para Navegar no Século XXI –
Tecnologias do Imaginário e Cibercultura. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2000.
MOISES, Carlos Felipe. Poesia não é Difícil. Porto Alegre: Artes e Ofícios,
1996.
ROLIM, Zalina. O Livro das Crianças. Boston: C.F. Hammet & Co., 1897.
SILVA, Juremir Machado da. Por uma Nova Literatura Figurativa, ou a Ficção
do Novo Século. In: MARTINS, Silva; SILVA, Juremir Machado da. Para Navegar no
Século XXI – Tecnologias do Imaginário e Cibercultura. 2. ed. Porto Alegre: Sulina,
2000.
______. Fim do Livro, Fim dos Leitores?. 1. ed. São Paulo: SENAC, 2000.