1715-Texto Do Artigo-3976-1-10-20180326
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INTERDISCIPLINAR
RESUMO
Patrimônio é um conceito que adquiriu vários sentidos com o passar dos tempos, ganhando
ressignificações no tempo e espaço. Este artigo objetiva mostrar essas conceituações, tal como
apresentar maneiras de utilizar este conceito de uma maneira interdisciplinar, não recorrendo
apenas ao lugar-comum do patrimônio que muitas vezes é atrelada a disciplina de História. O
campo da educação patrimonial deve ser um esforço feito em conjunto com as outras discipli-
nas, seja ao se tratar dos bens patrimoniais naturais, que envolvem tanto a Geografia quanto a
Biologia, por exemplo. Dialogamos aqui com LONDRES (2012) FONSECA (2010), (2006),
e GONÇALVES (2002). Muito se fala sobre a preservação do patrimônio, mas poucas são as
ações que chegam até o ambiente de educação formal. As crianças e jovens em formação devem
ter o contato com o tema transversal que é a pluralidade cultural, e o professor deve incentivar
o zelo ao patrimônio cultural. É recorrente a ausência das questões patrimoniais até mesmo na
formação do professor, e este tem que beneficiar os alunos muitas vezes através de recursos
próprios, mas é sabido que o patrimônio cultural aparece nos livros didáticos, mas nem sempre
utilizando esse conceito. Folclore e bens arquitetônicos são questões mais presentes nos ma-
teriais didáticos. Entretanto, dividir a tarefa de sensibilizar a comunidade escolar é uma tarefa
que exige o esforço de todos os envolvidos no processo educacional. O zelo pelo patrimônio
público, cultural, natural, dentre tantos outros, deve ser assimilado ainda nos primeiros anos de
formação educacional e cidadã.
PALAVRAS-CHAVE
Patrimônio; Educação Patrimonial; Interdisciplinaridade.
ABSTRACT
Patrimony is a concept that has acquired several meanings over time, gaining meanings in time
and space. This article aims to show these conceptualizations, as well as to present ways of using
this concept in an interdisciplinary way, not resorting only to the common place of heritage that
is often tied to the discipline of History. The field of heritage education should be an effort
made in conjunction with other disciplines, be it in the case of natural patrimonial assets, which
involve both Geography and Biology, for example. We have dialogued here with LONDRES
(2012) FONSECA (2010), (2006), and GONÇALVES (2002). Much is said about the preserva-
tion of heritage, but few actions reach the formal education environment. Children and young
people in formation should have contact with the transversal theme that is cultural plurality, and
the teacher should encourage the zeal for cultural heritage. There is a recurrence of the absence
of patrimonial issues even in the formation of the teacher, and this has to benefit the students
many times through own resources, but it is known that the cultural patrimony appears in the
textbooks, but not always using this concept. Folklore and architectural goods are more present
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Já os bens de natureza imaterial devem ter uma relação com a co-
munidade, que pode acontecer de distintas formaspor exemplo, as pessoas que
utilizam plantas e ervas para o preparo de medicamentos caseiros, tendo um
conhecimento de um abrangente leque de plantas que trazem benefícios para a
saúde acabam cuidando de diferentes patrimônios, sua imaterialidade perpassa
pelo patrimônio natural, onde lidam com plantas. O campo do patrimônio é
fluido e interdisciplinar.
No Brasil, a questão preservacionista é relativamente recente, sendo
o órgão responsável pela preservação e salvaguarda dos bens patrimoniais é o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, criado no ano
de 1837 ainda sob a denominação de SPHAN – Serviço do Patrimônio Históri-
co e Artístico Nacional – que, só veio a receber a nomenclatura de IPHAN no
ano de 1946, quando deixou de ser considerado como “Serviço” e então passou
a ser institucionalizado.Contando hoje com mais de 80 anos de existência; de
tal modo, ainda é um órgão novo, pois há apenas oito décadas os bens culturais
– materiais e imateriais – do nosso país tem um órgão que se dedica exclusiva-
mente à cultura.
Em 1937, foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - SPHAN. Mário de Andrade foi um nome que não pode passar des-
percebido em questão de cultura popular no Brasil. Foi da vanguarda do moder-
nismo brasileiro, ajudando a promover a Semana de Arte Moderna de 22. Antes
disso, Mário deixou sua contribuição com um acervo de pesquisas e documen-
tários etnográficos gravados no interior do país. Os primeiros documentários
sobre cultura popular no Brasil foram feitos na década de 1930 sob a supervisão
de Mário de Andrade e sua equipe, que também esteve na expedição que trans-
formou (burocraticamente falando), a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais,
um patrimônio histórico nacional. Um grupo com anseios grandes, e cheio de
ideias a respeito da cultura brasileira.
Um campo fértil de ideias é a escola de ensino básico. Ci-
dadãos em formação, são terreno propício para brotar o desejo de se preservar
a cultura, partindo do pressuposto de que cultura nesse sentido, seriam as ma-
nifestações encontradas na própria comunidade, e não uma fantasia de cultura.
Bens e modos de fazer de uma determinada pessoa ou grupo da própria comuni-
dade seriam os primeiros bens culturais com os quais os estudantes teriam con-
tato, sendo assim, os primeiros a serem tocados pela salvaguarda. Um manual
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foi lançado pelo governo de Minas Gerais - IEPHA-MG, com ele temos dicas
importantes para a educação patrimonial:
A Educação Patrimonial tem que fazer uso de situações que pro-
voquem reações reflexões e aguçar a criticidade a respeito do sig-
nificado e valor dos bens culturais e sua preservação. Aulas de
campo, visitas a locais não tão tradicionais na comunidade, como
por exemplo, pessoas que passam adiante tradições: rendeiras, cor-
delistas, rezadeiras, ceramistas, músicos, artistas plásticos são uma
forma de apresentar aos que desconhecem o patrimônio imaterial.
Em cada localidade sempre tem algo ou alguém que chama a aten-
ção por seu diferencial e posterior importância e tem que haver
a preocupação sobre como o conhecimento vai ser passado para
outras gerações. (CAVALCANTE, 2017, p. 54)
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Ainda a respeito da participação da comunidade nesse processo de
patrimonialização, seguem algumas considerações de Cecília Londres, que por
muito tempo, foi uma das protagonistas no IPHAN, principalmente no âmbito
da cultura imaterial. “Impossível pensar a preservação do patrimônio cultural
sem vinculá-la à transmissão, difusão e apropriação, por parte dos grupos sociais
a que se refere, dos sentidos e valores atribuídos aos bens culturais.” (LON-
DRES, 2012, p.14).
Cecília Londres acrescenta: “o interesse público - é o argumento
que não apenas justifica como legitima a aplicação de instrumentos de salvaguar-
da” (LONDRES, 2012, p. 14), Sendo assim, podemos perceber que a comunida-
de acaba sendo a grande gestora dos bens culturais, e para a preservação de um
monumento, por exemplo, é preciso saber sua história, pois é preciso conhecer
para preservar. E complementa:
Além disso, a percepção da fragilidade dos bens culturais, assim
como da finitude dos recursos naturais, sobretudo face ao cres-
cente poder de destruição ao alcance do homem – consequência,
em parte, do progresso científico e tecnológico – tem provocado a
difusão de uma “consciência preservacionista”, que só será eficaz
se assumida tanto pelo poder público como pela sociedade. (LON-
DRES, 2012, p. 15)
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Para que os alunos e a comunidade como um todo passem a olhar
com zelo determinado bem, é preciso de ações incisivas. Haja vista que é preci-
so produzir uma significação a respeito o patrimônio, ações educativa restritas
a memória, produções e manifestações culturais apresentadas na própria co-
munidade são uma boa estratégia para despertar o interesse, numa tentativa de
sensibilizar comunidade escolar e extramuros. “Nesse sentido, não se trata de
“ensinar sobre” o patrimônio, mas de considerar os bens culturais, sua frui-
ção, preservação e difusão, como um recurso precioso no processo educativo”
(LONDRES, 2012, p. 16)
Os bens patrimoniais, sejam estes de quaisquer categorias, devem
fazer sentido na comunidade e na temporalidade na qual existe. A preservação
de saberes, de bens arquitetônicos arqueológicos, fotográficos ou ambientais é
papel da sociedade, aqui entendida no sentido mais amplo. É preciso fazer sen-
tido para continuar existindo, já que o campo do patrimônio é um campo de
disputas, que muitas vezes envolve interesses financeiros e do capitalismo em
geral. O Estado deve estar em parceria com a comunidade a favor da cultura e
do patrimônio histórico e artístico nacional.
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