A Pandemia Foi Apenas o Despertar Que Nos Acordou A Todos
A Pandemia Foi Apenas o Despertar Que Nos Acordou A Todos
A Pandemia Foi Apenas o Despertar Que Nos Acordou A Todos
ABSTRACT: Written and published at the heart of the covid-19 pandemic, the novel Em todas as
ruas te encontro (2020), by Portuguese writer Paulo Faria, highlights a series of other devices in a
cumulative process, designated by Slavoj Zizek as “Ideological viruses” (ZIZEK, 2020, p. 39). In a
scenario ravaged by dystopia (FROMM, 2009; HILARIO, 2013) of a world hit by a fatal disease,
some disagreements, disappointments and other diseases (many of them experienced individually)
add up and result in other forms of viruses (in its metaphorical sense), in a complex amalgm within
the social body: racism, fascism, colonial war and cancer. Faced with these turbulences, some
characters are urged for a reaction of resistance and hope, as forms of awareness and initiative to
envision “social changes that are necessary after the quarantine ends” (SANTOS, 2020, p. 15).
KEY WORDS: Pandemia; Desease; Resistance; Portuguese contemporary fiction; Paulo Faria.
1
Doutor em Letras Vernáculas (Literatura Portuguesa) pela Faculdade de Letras da UFRJ. Professor
Associado de Literaturas de Língua Portuguesa (Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua
Portuguesa) do Departamento de Letras e Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em
Estudos de Literatura da UFSCar. Vice-Presidente da Associação Brasileira de Professores de Literatura
Portuguesa (ABRAPLIP), gestões 2016-2017 e 2020-2021. Finalista do Prêmio Jabuti 2017, na categoria
Teoria e Crítica Literária, com a obra “Corpo no outro corpo”: homoerotismo na narrativa portuguesa contemporânea (São
Carlos: EdUFSCar, 2016).
A pandemia, segundo Carlos, servira para que as máscaras caíssem
definitivamente, passe o trocadilho, para que as pessoas entendessem
de uma vez por todas quem é que se preocupava com os outros e quem
é que se estava nas tintas para o resto da Humanidade, e o abalo nas
consciências não deixaria de exercer os seus efeitos benéficos. A
pandemia eram os óculos especiais do filme Eles vivem!, de Carpenter,
que permitem às pessoas acordar, ver a iniquidade que as rodeia e lutar
contra ela.
[PAULO FARIA. Em todas as ruas te encontro, p. 93.]
Não são poucas as referências dentro da fortuna crítica de estudos específicos sobre
as relações entre obras literárias e doenças. Da peste negra à tuberculose, do câncer à aids,
da gripe espanhola à covid-19, textos críticos, poemas, peças de teatro e ficções surgem
tanto para testemunhar o medo diante de um desconhecido mortal, quanto para reforçar a
esperança na capacidade do homem em superar obstáculos intransponíveis, sem perder de
vista uma ótica crítica sobre as diferentes consequências políticas, sociais, econômicas e
culturais advindas desses cenários.
Ainda que o espaço disponível num artigo e/ou num ensaio sobre o viés temático
“Literatura, artes e doença”, como é o caso do presente dossier, não seja o mais espraiado e
extenso para se fazer um apanhado detido e meticuloso, não posso deixar de iniciar as
minhas reflexões com um breve percurso por alguns títulos cujas ênfases analíticas e
representacionais despontam como estopins dentro desse campo de investigação,
fornecendo-me, assim, subsídios para as considerações a seguir.
Do já clássico estudo Tuberculose e literatura, de Túlio Hostílio Montenegro (1971),
em que o autor se debruça sobre o espectro da doença e dos tísicos e suas aparições na
poesia e na ficção brasileiras, passando pelos incontornáveis ensaios A doença como metáfora
(1978/1984) e Aids e suas metáforas (1988/1989), de Susan Sontag, onde a filósofa norte-
americana parte da tuberculose para chegar ao câncer, no primeiro volume, e, depois,
retoma este aspecto já por ela abordado para adentrar no universo epidêmico da aids, até
chegar aos títulos mais contemporâneos, como A caneta que escreve e a que prescreve: doença e
medicina na literatura portuguesa (2011), antologia organizada por Clara Rocha, com a
colaboração de Teresa Jorge Ferreira, e Na saúde e na doença. Fronteiras entre as
Humanidades e as ciências, coletânea organizada por Carlos Eduardo Pompílio, Fabiana
Buitor Carelli e Hélio Plapler (2020), com trabalhos sobre as diferentes interfaces e diálogos
entre as duas áreas anunciadas no título, não se poderá negar que diferentes formas e
ocorrências de doenças (tuberculose, pneumonia, gripe, câncer, aids e, agora, a covid-19)
convocam os intelectuais a uma necessária reflexão em que nós também, leitores, somos
instados a participar e articular outras linhas de investigação e interrogação mais
particulares.
Assim, sem querer ser exaustivo, e diante da emergência em chamar a atenção para
outros que, muito antes de mim, se dedicaram a expor preocupações distintas a respeito
dos laços dialogantes entre literatura e doença, considero importante destacar as óticas de
Alan Bewell (1999), Giorgio Agamben (2007), Jacques Derrida (1997), Jeffrey Grey (1976),
somadas às de alguns brasileiros, como Eduardo Jardim (2019), Emerson da Cruz Inácio
(2016), João Gonçalves Ferreira Christófaro Silva (2011), Marcelo Secron Bessa (1997),
Roberto Corrêa dos Santos (1999), Rosa Maria Hessel Silveira e Bruna Rocha Silveira
(2016), dentre outros.
Mais recentemente, no calor dos debates sobre as condições de vida no mundo e os
novos comportamentos surgidos e desencadeados no contexto atualíssimo da pandemia,
causada pela disseminação da covid-19, somam-se, ainda, as vozes de Bernard-Heni Lévy
(2020), Boaventura de Sousa Santos (2020, 2021), Giogio Agamben (2020a, 2020b) e Slavoj
Zizek (2020), com diferentes perspectivas, algumas, inclusive, como veremos, contrastantes
e marcadas por afirmações polêmicas e pouco consensuais.
Fato é que o leitor já pode vislumbrar um repertório interessante de textos
produzidos ao longo do doloroso processo de afastamento social e de medidas restritivas,
ocasionando um eclipse nas relações sociais e afetivas e, ao mesmo tempo, antevendo uma
profunda alteração nas formas de ser e estar no mundo no século XXI. Vale lembrar que,
mesmo antes da maior tragédia sanitária mundial, em certas obras da literatura portuguesa,
como Autópsia (2019), de João Nunes Azambuja; Ensaio sobre a cegueira (1995), de José
Saramago; O coração dos homens (2006), de Hugo Gonçalves; O diário da pandemia (2017), de
Luis Telles do Amaral; O mundo branco do rapaz coelho (2009), de Possidónio Cachapa; Por este
mundo acima (2011), de Patrícia Reis; e, mais recentemente, Zalatune (2021), de Nuno Gomes
Garcia, é possível deparar-se com uma série de universos consumidos e destruídos em
cenários distópicos, onde o assombro assume uma função reiterada para chamar a atenção
e “acentuar tendências contemporâneas que ameaçam a liberdade” (HILÁRIO, 2013, p.
205). Entendendo, portanto, a distopia na esteira daquilo que Eric Fromm designa como
“utopias negativas”, gosto de pensar que as obras acima citadas não deixam de expressar,
nessa mesma direção, uma espécie de “sentimento de impotência e desesperança do
homem moderno assim como as utopias antigas expressavam o sentimento de
autoconfiança e esperança do homem pósmedieval” (FROMM, 2009, p. 269).
Interessante observar que tal sentimento de inconformidade e desencanto parece
antecipar e, em alguns casos, confirmar uma comiseração deflagrada e consolidada nos
tempos atuais em que uma doença, ainda não completamente conhecida na sua abrangência
científica total e em processo de aprendizagem dos seus mecanismos, atingiu o mundo de
forma impiedosa e mortal. No entanto, se aquelas obras, por um lado, corroboram uma
ênfase desdobrada sobre os possíveis danos diante de um presente catastrófico e, por isso
mesmo, podem ser lidas pelo viés de narrativas antiautoritárias, insubmissas e altamente
críticas (HILARIO, 2013), por outro, há-de se sublinhar também a iminência concomitante
de um espírito desassossegado que reverbera, na atual produção narrativa portuguesa, no
aceno de uma mensagem esperançosa, em favor de uma mudança radical e revolucionária,
tendo em vista o cenário de calamidade no país e as lições que podemos tirar de suas
efabulações.
Refiro-me a textos, mesmo com diferentes ênfases (ficcional, diarística,
testemunhal, analítica), tais como Cidade infecta (2020), de Teresa Veiga, romance escrito
durante a pandemia; Da meia-noite às seis (2021), de Patrícia Reis; Histórias da pandemia. Da
linha de frente ao confinamento, como 17 portugueses viveram a covid-19 (2020), de Fábio
Martins; Pandemia: diário de um abandono (2020), de Carlos Almeida; O que é amar um país.
O poder da esperança (2020), de José Tolentino Mendonça; Quando as escolas fecharam.
Cadernos da pandemia (2021), de Paulo Guinote; Quarentena – Uma história de amor
(2021), de José Gadeazabal; Regras de isolamento (2020), de Djaimilia Pereira de Almeida e
Humberto Brito.
Dentre as possibilidades que o campo da novíssima ficção portuguesa, eixo
específico a que venho me dedicando nos últimos anos, tem a oferecer, detenho-me no
mais recente romance de Paulo Faria2, Em todas as ruas te encontro (2021), ambientado na
2
Natural de Lisboa e nascido em 1967, Paulo Faria é um dos nomes mais talentosos da novíssima ficção
portuguesa, surgida e difundida a partir dos anos 2000. Licenciado em Biologia, é tradutor literário, tendo
traduzido obras de Charles Dickens (O mistério de Edwin Drood, 2020 e Oliver Twist, 2018, Relógio d’Água),
Cormac McCarthy (Filho de Deus, 2014 e Meridiano de sangue, 2010, ambos pela Relógio d’Água), Don Delillo
(Cosmópolis, 2012; O corpo enquanto arte, 2001; O silêncio, 2020; pela Relógio d’Água; além de O anjo esmeralda,
2012; O homem em queda, 2013; Ponto ómega, 2011; Submundo, 2010; Zero K, 2016; pela Sextante), George Orwell
cidade de Lisboa, em meio ao fervilhar do combate ao corona vírus, e tendo como
protagonistas membros de um núcleo familiar, além de amigos que com eles partilham as
experiências distintas desse cenário distópico.
Antes, porém, de tecer algumas reflexões sobre a referida obra, vale recuperar a
perspectiva crítica de alguns dos principais pensadores da atualidade sobre o cenário atual
da doença. Talvez, com uma visão muito discutível, a proposição mais polêmica seja a de
Giorgio Agamben que, no olho do furacão da pandemia na Itália, começa a questionar a
palavra das autoridades médicas, não pelo conhecimento científico per se, mas pela forma
como o poder do Estado se aproveita dela para impor as suas normas e as suas
determinações sobre as pessoas.
Segundo ele,
[...] a epidemia deixou clara, é que o estado de exceção, ao qual os
governos nos acostumam há algum tempo, de fato se tornou a condição
normal. Houve epidemias mais graves no passado, mas ninguém jamais
considerou declarar um estado de emergência como o de agora, que
impede até que nos movamos. Os homens se acostumaram tanto a viver
nas condições de crise e emergência perpétuas que parecem nem mesmo
notar que suas vidas foram reduzidas a uma condição puramente
biológica e perderam todas as suas dimensões, não só as sociais e
políticas, mas até as humanas e afetivas. Uma sociedade que vive em um
estado de emergência perpétuo não pode mais ser uma sociedade livre.
Na verdade, vivemos em uma sociedade que sacrificou a liberdade pelos
chamados “motivos de segurança” e foi condenada a viver em um estado
perpétuo de medo e insegurança (AGAMBEN, 2020a).
(A quinta dos animais, Antígona, 2020), Jack Kerouac (Big Sur, 1999; Duluoz, o vaidoso, 2007; Os subterrâneos,
2006; Tristessa, 2009; Relógio d’Água), James Joyce (Retrato do artista quando jovem, Relógio d’Água, 2012), Oscar
Wilde (O retrato de Dorian Gray, edição não censurada da Relógio d’Água e em co-tradução com Margarida
Vale de Gato) e Philip K. Dick (Relatório minoritário e outros contos, 2017, Relógio d’Água). Reconhecido no seu
ofício, foi galardoado, em 2015, com o Grande Prémio de Tradução APT/SPA, por História em duas cidades, de
Charles Dickens (Relógio d’Água, 2014). Cronista da revista Ler e do jornal Público, sua estréia como
romancista deu-se com a publicação de Estranha guerra de uso comum (Ítaca, 2016), seguindo-se Gente acenando
para alguém que foge (Minotauro, 2019) e, mais recentemente, Em todas as ruas te encontro (Minotauro, 2021).
certos discursos negacionistas, como os ocorridos no Brasil e proferidos pelo próprio
Chefe de Estado.
Daí que, no calor do momento de sua publicação e divulgação, muitas
contraposições críticas tenham surgido, como a de Yara Frateschi, por exemplo, que não
titubeia em afirmar que Agamben “[...] chega às raias do rompimento com a verdade factual
e nem mesmo as milhares de mortes ou o colapso dos sistemas de saúde em diversos países
do mundo o demovem da tese de que as medidas de contenção, como o distanciamento
social, sejam ‘irracionais’ e ‘imotivadas’” (FRATESCHI, 2020). Ela própria sublinha que tal
obediência rígida às medidas sanitárias não deixa de ser coerente com aquela idéia de um
“estado de exceção como paradigma de governo” (AGAMBEN, 2018, p. 11), exatamente
porque, na concepção do filósofo italiano, “a criação voluntária de um estado de
emergência permanente (mesmo se eventualmente não declarado em sentido técnico)
tornou-se, desde então, uma das práticas essenciais dos Estados contemporâneos, mesmo
dos chamados democráticos” (AGAMBEN, 2018, p. 13).
De uma maneira muito próxima, mas com uma visão muita mais incisiva sobre os
agentes dos poderes republicanos atuando numa manipulação dos cidadãos, Bernard-Henri
Lévy (2020) refuta e repreende qualquer tipo de aproveitamento político e/ou religioso
sobre as possíveis lições do vírus, como se este tivesse uma mensagem clara a entregar à
humanidade: estamos semeando o que plantamos, seja porque a pandemia é um castigo aos
adeptos incondicionais da globalização, seja porque é preciso recusar o mundo anterior,
cheio de vícios e de pecados, dentre outras impropriedades. Na verdade, o filósofo francês
não deixa de aceitar a inevitabilidade das medidas sanitárias como forma de conter a
propagação do vírus, até porque isto também condiz com o seu papel de cidadão francês e
do mundo, mas ele o faz apontando que o negacionismo, diante de uma inevitável
catástrofe mortal, tem a sua parcela de culpa. Por isso, ele não exime e não exita em
mencionar aqueles que, muito próximos de uma atitude criminosa, vão investindo num
“oportunismo, diante desta febre interpretativa” (LÉVY, 2020, p. 42):
A velha lua marxista da crise final do capitalismo misturou-se com a
colapsologia. Uma das doenças infantis do socialismo mudou de look e
virou colapso. Desastroso. Obsceno. À direita da direita, uma igreja
pentecostal americana vê a covid-19 como julgamento divino, um
reckoning, uma punição para os Estados que legalizaram o aborto e o
casamento para todos. Como explicava um bispo francês para uma
igreja vazia, “Deus usa os castigos que nos atingem”, de modo a que
possamos deles extrair “lições de conversão e purificação”. [...]
Também Philippe de Villiers, ao ligar a pandemia ao incêndio de
Notre-Dame, a apresenta como um segundo toque de alarme – antes
do terceiro, que, na sua visão subtrágica do mundo, não demoraria
muito a chegar! –, criando um teatro de punição onde se representa
uma mudança de paradigma e mundo, tal como à esquerda. Bolsonaro,
propondo um jejum nacional para exorcizar o demónio e implorar por
sua piedade. Tal como o pregador islâmico Hani Ramadan, irmão de
seu irmão, para quem o vírus seria fruto das nossas “tormentas” e
poderia, se quiséssemos, e se celebrássemos os mortos como mártires,
tornar-se um chamamento para voltarmos ao controlo da sharia. Tudo
isto sem esquecer Erdoğan, que proíbe a saída à rua de menores de 20
anos e maiores de 65. Kadirov, na Chechénia, aproveita a quarentena
para eliminar alguns dos seus adversários. Ou, na Europa, Viktor
Orbán, que mergulha nesta oportunidade para moer o fino grão de café
da idolatria coronal e nos resgatar, como quem nos resgata de uma
floresta escura, com a linguagem da sua tomada de poder iliberal. [...]
Bastou mais um passo e estes especuladores do vírus, apanhados pelo
vento da conspiração que soprava no mundo, partiram em busca não
mais do paciente zero, mas do culpado zero, e, como La Fountaine,
desse “esfolado”, desse “homem mau”, desse “animal amaldiçoado”,
alguns diriam desse “bode expiatório”, cujos excessos nos trouxeram a
“ira celestial” e cujo sacrifício permitirá a redenção celestial (LÉVY,
2020, p. 42-44).
Sem medir ou usar meias palavras, Lévy vai tecendo um discurso extremamente
cético em relação às posturas de determinadas lideranças políticas e suas formas populistas
de lidar com o cenário distópico da pandemia, dentro e fora da França. Talvez, por isso, ele
lance dúvidas constantes sobre as perspectivas futuras de um mundo pós-pandemia. Diante
dos caminhos adotados e de discursos desfocados da realidade mais emergente, quais as
heranças que efetivamente ficarão? Quais os efeitos colaterais não apenas na economia,
mas nas formas interpessoais de como a humanidade irá reagir, sobretudo, nas relações
sócio-afetivas?
Tais questionamentos também parecem povoar o olhar de Slavoj Zizek, só que o
conhecido filósofo esloveno opta por um caminho bem diverso dos seus contemporâneos,
na medida em que aposta na “aplicação de medidas que muitos de nós hoje consideram
‘comunistas’” (ZIZEK, 2020, p. 20) não mais em níveis locais, mas numa dimensão global,
em que “a coordenação da produção e da distribuição terá de ser feita fora das coordenadas
do mercado” (ZIZEK, 2020, p. 20).
Essa premissa permeia o renascimento de um novo comunismo como resposta à
impossibilidade do capitalismo e à incapacidade das políticas neoliberais em resolverem os
problemas de distribuição de renda, de empregabilidade, de qualidade de vida da
população, sobretudo a mais carente, e mesmo os das condições básicas das máquinas
estatais em oferecer condições mínimas de permanência e sobrevivência dos seus cidadãos.
É claro que, aqui, por mais positivas que sejam as propostas de Zizek, seu idealismo
esbarra quase num fervor laudatório de uma nova ordem mundial, fundada, regida e
conduzida exclusivamente por um sentimento de solidariedade disseminada e
inquebrantável:
Interessante observar que, tal como o ébrio dos versos freiteanos, que vai captando
e absorvendo as imagens noturnas da cidade, numa espécie de apreensão porosa e
pedagógica da noite – dos cartazes aos cães, das mulheres louras aos pedintes de cigarros,
das cervejas despejadas nas ruas aos drinques repartidos entre desconhecidos, até o último
percurso num taxi, sem definir ao certo o ponto de chegada –, também o narrador do
romance de Paulo Faria se coloca numa perspectiva deambuladora, numa movência
dinâmica em que vai acompanhando o cotidiano de cada um dos membros da família, bem
como alguns de seus amigos e parentes. Ora no espaço privado dos diferentes
confinamentos, ora nos locais públicos de circulação limitada e em trânsitos rápidos, a sua
necessidade de tudo captar e registrar sugere uma capacidade narrativa alicerçada na
esperança de conseguir compor um mosaico de vivências no meio de uma pandemia.
O leitor, portanto, não deve estranhar o fato de cada uma das personagens ser
apresentada na sua particularidade e ter a sua intimidade exposta sem haver
necessariamente para cada uma delas um desfecho específico e pontual. No meu entender,
não se trata de uma falha na composição das criaturas ficcionais, mas um ponto
absolutamente positivo e verossímil, afinal, a trama surge tão colada aos nossos dias que
paira a sensação de um puro realismo, quase destituído de sensibilidade. Ledo engano.
Carlos, Irene, Augusto e, sobretudo, Sónia, bem como tio Jorge (ex-combatente da Guerra
Colonial), Teresa e Manuel (ex-militantes da resistência ao Estado Novo), não podem ser
concebidas como personagens fechadas e acabadas porque elas – como nós, aliás, ainda
sobreviventes de uma pandemia, como a efabulada na trama de Em todas as ruas te encontro –
também se constituem personas em devir, seres enclausurados numa redoma de
distanciamento social e, por isso, sem uma conclusão previsível.
Em virtude de uma doença invisível e impiedosa, que ceifa as vidas sem escolher
raça, classe social, religião, orientação sexual ou função profissional, cada uma das
personagens, sobretudo as do núcleo familiar principal, passa a desempenhar um papel
central na focalização operada pelo narrador. Carlos é o marido preocupado com a saúde
da esposa e o pai extremado com a filha Sónia, sobretudo porque esta parece, a princípio,
minimizar os efeitos colaterais da doença, mesmo tendo saído da Itália, onde estudava
Belas Artes em Milão, no momento mais crítico da pandemia.
As reações de Carlos em relação aos cuidados necessários para evitar a propagação
e a contaminação da doença beiram uma obsessão cotidiana e o coloca em choque, por
exemplo, com as idéias menos ortodoxas da filha. Na verdade, pela ótica de Carlos, o
narrador vai expondo algumas condutas muito comuns ao longo do processo de
aparecimento e proliferação da covid-19. Das piadas sobre o deflagrar da doença na China,
nos grupos de Whatsapp, com imagens de uma garrafa de cerveja Corona “numa ponta da
mesa e uma chusma de garrafas de outras marcas na ponta oposta, encostadas umas às
outras, na defensiva, cada qual com uma máscara cirúrgica a cobrir o rótulo” (FARIA,
2021, p. 10), ao silêncio contumaz diante do crescimento da doença, revela-se a maneira
como as pessoas reagem diante de uma doença desconhecida, de um mal silencioso que a
todos vai minando. Talvez, por isso, diante da necessidade de assunção de novos
protocolos de comportamento nas mínimas ações do dia-a-dia, o sujeito alimenta-se da
falsa imagem de uma melhora:
Na verdade, a sensação de que alguma coisa boa poderá surgir diante de um quadro
nebuloso e mortífero não deixa de ser o mote utópico da personagem, na medida em que
Carlos acredita que “a pandemia pode ser o rastilho de uma revolução” (FARIA, 2021, p.
12). Mas, não se trata de uma mudança radical expressa nos aglomerados de pessoas em
praças públicas a reivindicar algo, posto que “a revolução que ele espera não será uma
revolução das massas em movimento. Será a revolução dos indivíduos conscientes,
exigentes” (FARIA, 2021, p. 13).
Apesar de se tratar de um pensamento utópico, posto que tal mudança não
depende unicamente de uma pessoa, mas de toda uma coletividade em torno de uma
atitude consciente, nesse ponto de criação de sua criatura, Paulo Faria parece estar atento às
sugestões de Boaventura de Sousa Santos, para quem, “só com uma nova articulação entre
os processos políticos e os processos civilizatórios será possível começar a pensar numa
sociedade em que humanidade assuma uma posição mais humilde no planeta que habita”
(SANTOS, 2020, p. 31). Ainda que a compreensão de Carlos indique que tal processo seja
irremediavelmente utópico, isso não o impede de chegar a algumas conclusões que
devassam as condições sócio-políticas dos diferentes espaços europeus: “A pandemia pôs a
nu a incompetência de quem nos governa, a impreparação de quem nos devia proteger.
Não lhe parece possível que o status quo resista àquele vendaval. As coisas terão de mudar”
(FARIA, 2021, p. 13).
É bem verdade que, diante das incertezas trazidas pela doença, os índices de
insatisfação com os quadros políticos atuais tenham se acentuado, num nível coletivo e
global, mas não se pode também deixar de mencionar, tal como faz a personagem Sónia (e
daí os seus embates com o espírito do pai, confiante numa revolução aveludada, e com o
olhar exclusivamente numérico e econômico do irmão Augusto, espécie de encarnação do
puro espírito neoliberal, “obcecado por dinheiro” e “com a ideia de ficar sem dinheiro, de
empobrecer”; FARIA, 2021, p. 54), que as atenções voltadas para a busca de uma cura
contra a covid-19 acaba por obliterar outras questões tão relevantes e urgentes em nível
mundial, tais como a destruição de ecossistemas, a contaminação e a poluição dos
ambientes naturais, a riqueza desenfreada e a exploração das indústrias farmacêuticas no
meio da maior tragédia sanitária mundial.
Também as relações familiares são duramente atingidas, na medida em que a filha
regressante de uma viagem precisa ficar isolada dos pais, obedecendo ao período de
quarentena; e estes, por sua vez, só se comunicam com ela apenas pelas redes sociais ou
pelos diálogos trocados através das janelas vizinhas do apartamento. Tal quadro de
afastamento entre afetividades que deveriam se socializar diretamente evoca aquele quadro
pontuado por Slavoj Zizek, em que, “é expectável que as epidemias virais venham a afetar
as nossas interações mais elementares com outras pessoas e os objetos à nossa volta,
incluindo os nossos corpos” (ZIZEK, 2020, p. 42). Nesse sentido, compreende-se a reação
implacável de Sonia diante da revolta amena do pai:
Sónia mandou ao pai uma mensagem a dizer-lhe que não se pode pôr
um país de quarentena e suspender a vida das pessoas sem suspender,
ao mesmo tempo, a lógica do lucro, sem mudar a economia de alto a
baixo. Que não se podem alterar radicalmente as relações entre as
pessoas sem alterar radicalmente as relações económicas entre as
pessoas. Que lógica do lucro e quarentena geral não casam. E que não
podemos meter no congelador certas doenças, como o cancro, que até
há bem pouco tempo eram o nosso maior papão, e, de um dia para o
outro, decretar um novo inimigo principal. Carlos estremeceu ao ler
esta última frase e ficou muito tempo parado, a olhar para o ecrã do
telemóvel. Irene entrou no quarto, perguntou-lhe: «O que tens?», e ele
disfarçou (FARIA, 2021, p. 15).
E disse ainda que a pandemia era uma coisa negra, capaz de contaminar
tudo aquilo em que tocava. Capaz de contaminar a escrita, as palavras
(FARIA, 2021, p. 25).
Ao dar voz aos seus pensamentos negros diante da mulher, era como se
Álvaro lhe apontasse um mosquito pousado na parede e lhe pedisse:
“Mata-o, sim?” (FARIA, 2021, p. 31).
3
Todos os grifos das citações são meus, a fim de realçar o emprego da expressão e a possibilidade de leitura
de um intencional racismo institucionalizado diluído nos seus usos.
esse trecho do passado mais recente de Portugal, como uma espécie de “portador de
segredos alheios, alguns inconfessáveis” (FARIA, 2021, p. 36), todas essas expressões
povoam seus pensamentos até o momento em que é confrontado com a narrativa de tio
Jorge, com a cena da violenta morte dos habitantes da pequena vila africana e com a reação
despudorada de uma plateia insensível e ávida pela destruição dos africanos.
A partir daí, esses empregos são literalmente expurgados da narração e deixam de
fazer parte do repertório de expressões articuladas ao longo do texto. Não me parece
gratuito, portanto, essa mudança de construção discursiva, precisamente porque suscita
uma reflexão direta sobre aquele luto não operacionalizado pelos portugueses em relação
ao recente passado colonial e a sua insistente recusa em lidar com uma herança de racismos
explícitos e exacerbados. A cena acima não deixa de concretizar, em certo sentido, aquele
“desencadear [de] uma vasta epidemia de vírus ideológicos” (ZIZEK, 2020, p. 39), dentre
os quais Slavoj Zizek enumera as “explosões de racismos” (ZIZEK, 2020, p. 39).
Se tio Jorge emerge como uma espécie de narrador da família do “marinheiro
comerciante” (BENJAMIN, 1987, p. 199), porque todo seu relato expõe o olhar de quem
viajou e viveu as peripécias, a sua experiência exacerba também uma concepção colonialista
que não ficou no passado remoto da década de 1960, antes reverbera de forma latente nas
mentalidades contemporâneas, tanto que o círculo formado pela própria arquitetura do
condomínio funciona como uma espécie de arena em que os aplausos da plateia vão todos
para aqueles que perpetraram a violência e a morte de mulheres e crianças. Em
contrapartida, Álvaro, enquanto jornalista, parece querer, a partir desse relato, compor a
sua própria narrativa, colocando-se como um narrador do grupo do “camponês
sedentário” (BENJAMIN, 1987, p. 199), porque absorve o que ouviu. E não será esta
também a atitude do narrador de Em todas as ruas te encontro? Afinal, ele também emerge
como uma testemunha do relato e a apreende para, a partir dela, desnudar as
complexidades da sociedade portuguesa. Não à toa, na cena em questão, a matéria
apreendida, tanto no narrador, quanto em Álvaro e Carlos, causa uma múltipla reação:
repulsa, recusa, sideração e asco diante do show de falta de empatia pelo sofrimento alheio.
Na verdade, o romance Em todas as ruas te encontro concretiza um encontro entre
diferentes formas de narrar e faz com que a função narrativa nesse texto de Paulo Faria
atinja uma tangibilidade plena (BENJAMIN, 1987). Graças à atuação de um narrador que
devassa todas as mentalidades e desnuda as idiossincrasias cotidianas, incluindo aquelas que
procuram mascarar, aplaudir e justificar atitudes e comportamentos injustificáveis, o
confronto com temas incômodos faz-se necessário e urgente, indo na direção daquilo que
Bernard-Henri Levy descreve: “[...] dar sentido ao que não tem, e tentar traduzir por
palavras o inenarrável sofrimento dos homens, é uma das fontes, na melhor das hipóteses,
da psicose, e na pior, do totalitarismo” (LEVY, 2020, p. 47-48). Ainda que a situação
encenada no romance de Paulo Faria seja bem diferente da mencionada pelo filósofo
francês, as reações das personagens Carlos e Álvaro apontam para o fato de que não se
pode compreender, aceitar ou ser conivente com o aplauso racista, porque este não deve
fazer parte de qualquer projeto de vida ou de qualquer espírito que se chame humanitário.
Mais do que um pano de fundo, aqui, a covid-19 e o surto pandêmico da doença
promovem uma exposição pública e despudorada dos comportamentos sem um filtro
minimizador, ou como bem alerta o narrador, na passagem citada em epígrafe (FARIA,
2021, p. 93), eles servem para escancarar velhos hábitos, revelando, enfim, aqueles que
verdadeiramente tem empatia com as pessoas e com os sofrimentos alheios. Nessa
perspectiva, o leitor é impelido a interrogar: será que somente a covid-19 causou esse tipo
de comportamento ou será que ele já não existia antes de forma mascarada? Não terá sido a
pandemia uma força catalizadora para toda essa torrente vir à tona?
Por fim, a segunda situação é a do comovente encontro entre Sónia e Manuel, um
senhor idoso a quem a jovem acode no programa SOS Vizinho. A princípio, a iniciativa da
jovem não se dá por um puro sentimento de ajuda ao próximo, porque, para ela, “era um
excelente pretexto para sair mais vezes de casa, para falar com pessoas” (FARIA, 2021, p.
79), mas, ao longo de suas conversas com o idoso e a descoberta de que, no passado, este
fora preso e torturado por se envolver no movimento revolucionário contra o Salazarismo,
Sónia vai gradativamente alimentando uma afinidade imediata com o senhor.
Aqui, verifica-se um nítido contraponto com a exposição de tio Jorge, na medida
em que Manuel constitui um repositório vivo da memória dos movimentos
revolucionários, bem como das vítimas de torturas da PIDE e de suas artimanhas para
destruir relacionamentos e para afastar os participantes dos movimentos antifascistas.
Ainda que a personagem seja marcada por vislumbres de uma “vida que poderia ter sido a
sua, ao lado de Teresa, e de que a PIDE o privou” (FARIA, 2021, p. 124), as revelações de
Manuel no dia-a-dia na prisão, os efeitos colaterais psicológicos e suas feridas não
cicatrizadas, a ponto dele herdar o fantasma de um monstro que assola o seu sono,
concretizam um passado que nada tem de piegas ou saudosista, e isto, no meu entender,
corrobora a sintonia e a aproximação da jovem com o ex-militante. Também como um
narrador da família dos marinheiros comerciantes (BENJAMIN, 1987), Manuel vai
superando o medo das sombras do passado e, a cada encontro, narra “um breve fragmento
de cada vez” (FARIA, 2021, p. 102). Ao mesmo tempo, Sónia torna-se a depositária desses
breves e complexos relatos, de um passado não tão distante, e, a seu modo, como os
narradores do grupo dos camponeses sedentários (BENJAMIN, 1987), reinventa uma
outra maneira para recontar a trajetória deste ex-militante e de reatar os antigos laços
amorosos de Manuel e Teresa, desfeitos e perdidos no tempo.
Interessante observar que o narrador também exprime essa necessidade em
acreditar nas relações afetivas em tempos de isolamento social, causado por uma doença
espalhada globalmente, já que, ao mesmo tempo, permite a Manuel a exposição dos
desencontros orquestrados pelas mãos insidiosas dos oficiais da PIDE, na invasão e na
deturpação das correspondências trocadas entre ele e Teresa, e intercala no meio desse
relato os primeiros encontros de Sónia com Lorenzo, jovem modelo que aceita posar para
os trabalhos da artista plástica, cujos encontros não se concretizam por causa da pandemia.
No entanto, toda a relação entre eles vai sendo costurada via whatsapp, e uma inusitada rede
de sintonia e afetividade vai sendo consolidada, conforme o tempo passa e o isolamento
social se confirma como uma das formas possíveis de impedir a proliferação da doença.
Uma das cenas mais fortes descritas pelo idoso faz emergir uma figura
fantasmagórica e disforme, cujas garras aparecem como os únicos elementos imagéticos
identificáveis: “– Na noite do quinto dia sem dormir, apareceu o bicho. Andei a noite toda
a passear na sala e, de vez em quando, o tal bicho, que nunca cheguei a ver, saltava-me para
as coisas e cravava-me as unhas, e eu então atirava-me de costas contra a parede para o
enxotar e ele fugia, escondendo-se não sei onde” (FARIA, 2021, p. 108).
Diante dessa exposição, a figura assustadora com garras que ferem e deixam marcas
profundas do seu ataque pode ser lida sob o viés de uma outra presença assustadora, de um
mal maior que ronda os homens e assume diversas faces. Numa das suas visões delirantes,
por causa das noites sem dormir e das sucessivas torturas a que era submetido nas celas da
PIDE, Manuel conversa com uma tomada elétrica que se metamorfoseia na face de Teresa
e esta lhe concede um veredito do qual ele não pode escapar ou prorrogar:
Mandei calar aquele rosto, mas depois vi que era o rosto da Teresa, ali
deitada ao meu lado, que me disse: «O fascismo mete-se em nós,
Manuel. O fascismo é este sabor horrível na língua, este beijo
enjoativo, cheio de cola, um beijo na boca dado à força numa rapariga,
é esta agonia que vem de dentro de nós. Tens de lutar contra os pides e
tens de lutar contra o fascista que tens dentro de ti.» E eu disse-lhe:
«Não consigo travar duas lutas ao mesmo tempo. Uma luta de cada
vez.» E a Teresa afastou-se de mim, e os olhos dela eram os buracos da
tomada, e disse-me: «Não. As lutas que adiamos nunca mais se travam.
Tem de ser já.» (FARIA, 2021, p. 109).
Afinal, não é esta a angústia daqueles que anseiam transitar pelas ruas e
experimentar os encontros amorosos, sociais e afetivos? Não será essa também a utópica
esperança das personagens e do narrador de Em todas as ruas te encontro? Ao devassar os
fantasmas do colonialismo, o ranço fascista e o racismo estrutural e ao desvelar os outros
medos existentes no cenário pandêmico (a ocorrência de doenças, o desmatamento, o
enriquecimento das grandes indústrias farmacêuticas), não será admissível interpelar o
presente (europeu, português e global) e o futuro por vir?
No fundo, ao final da leitura, ficamos com aquela sensação de interrogação, de
vazio ainda por preencher, afinal, o que herdaremos da pandemia? Será possível socializar?
Será cabível desenvolver laços afetivos e concretizar os desejos e os amores num mundo
pós-pandemia? Todas essas questões não deixam de suscitar uma série de inquietações,
precisamente porque o romance Em todas as ruas te encontro, de Paulo Faria, se vale da
ocorrência da covid-19 para encenar um mundo presente marcado ora pelas distopias da
doença e de malefícios correlatos expostos (o racismo, o colonialismo e o fascismo), ora
pelas utopias esperançosas num outro horizonte possível. Não será isto um autêntico
exercício de resistência? Gosto de pensar que sim e, como a personagem Teresa, o autor
parece também partilhar dessa única certeza possível: “Confia. Confia sempre” (FARIA,
2021, p. 120).
Referências bibliográficas:
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Tradução: Miguel Freitas da Costa. Lisboa: Edições
70, 2018.
______. Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Tradução de Selvino José
Assmann. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
______. “Esclarecimentos” (17 de março de 2020a). In: JARDIM, Eduardo. Giorgio
Agamben e a pandemia: subsídios para um debate. Disponível em:
https://bazardotempo.com.br/giorgio-agamben-e-a-pandemia-subsidios-para-um-debate/
Acesso em 27 de março de 2021.
______. Reflexões sobre a peste: ensaios em tempos de pandemia. Tradução de Isabella
Marcatti. São Paulo: Boitempo, 2020b.
ALMEIDA, Djaimilia Pereira de. “Dívida e crédito” (Posfácio). In: FARIA, Paulo. Gente
acenando para alguém que foge. Lisboa: Minotauro, 2020, p. 231-233.
BENJAMIN, Walter. O narrador. In: _____. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre
literatura e história da cultura. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense,
1987, p. 197-221.
BESSA, Marcelo Secron. Histórias positivas: a literatura (des)construindo a aids. Rio de
Janeiro: Record, 1997.
BEWELL, Alan. Romanticism and colonial disease. Baltimore: Johns Hopkins University Press,
1999.
CESARINY, Mário. Pena capital. Lisboa: Assírio & Alvim, 1982.
DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. Tradução de Rogério da Costa. São Paulo:
Iluminuras, 1997.
FARIA, Paulo. Em todas as ruas te encontro. Lisboa: Minotauro, 2021.
______. Gente acenando para alguém que foge. Lisboa: Minotauro, 2020.
FRATESCHI, Yara. “Agamben sendo Agamben: o filósofo e a invenção da pandemia”.
Blog da Boitempo, 12/05/2020. Disponível em:
https://blogdaboitempo.com.br/2020/05/12/agamben-sendo-agamben-o-filosofo-e-a-
invencao-da-pandemia/ Acesso em 25 de março de 2021.
FREITAS, Manuel de. [SIC]. Lisboa: Assírio & Alvim, 2002.
FROMM, Eric. “Posfácio”. Tradução: Fernando Veríssimo. In: ORWELL, George. 1984.
Tradução: Alexandre Hubner e Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.
317-329.
GREY, Jeffrey. A psicologia do medo e do “stress”. Tradução de Junéia Mallas e Maria Inez
Lobo Vianna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1976.
HILÁRIO, Leomir Cardoso. “Teoria crítica e literatura: a distopia como ferramenta de
análise radical da modernidade”. Anuário de Literatura, Florianópolis, v. 18, no. 2, p. 201-
215, 2013. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/2175-
7917.2013v18n2p201/25995 Acesso em: 20 de março de 2021.
INÁCIO, Emerson da Cruz. “Carga zerada: HIV/AIDS, discurso, desgaste, cultura”. Via
Atlântica, São Paulo, 29, p. 479-505, 2016. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/118885 Acesso em 25 de março de
2021.
JARDIM, Eduardo. A doença e o tempo. Aids, uma história de todos nós. Rio de Janeiro:
Bazar do Tempo, 2019.
LÉVY, Bernard-Henri. Este vírus que nos enlouquece. Tradução de João Luís Zamith e André
Tavares Marçal. Lisboa: Guerra e Paz, 2020.
MONTENEGRO, Túlio Hostílio. Tuberculose e literatura. Notas de pesquisa. 2ª ed. revista e
aumentada. Rio de Janeiro: A Casa do Livro, 1971.
PEREIRA, Pedro Schacht. “Regressos (in)desejados: legados coloniais, racismo
institucional, descobrimentos”. Revista anti-capitalista, no 7, 03/06/2018. Disponível em:
https://redeanticapitalista.net/regressos-indesejados-legados-coloniais-racismo-
institucional-descobrimentos/ Acesso em 04 de abril de 2021.
POMPILIO, Carlos Eduardo; CARELLI, Fabiana Buitor; PLAPLER, Hélio. Na saúde e na
doença. Fronteiras entre as Humanidades e as ciências. Curitiba: Editora CRV, 2020.
ROCHA, Clara; FERREIRA, Teresa Jorge (org.). A caneta que escreve e a que prescreve: doença
e medicina na literatura portuguesa. Lisboa: Babel, 2011.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Almedina, 2020.
______. O futuro começa agora: da pandemia à utopia. São Paulo: Boitempo, 2021.
SANTOS, Roberto Corrêa dos. Modos de saber, modos de adoecer. O corpo, a arte, o estilo, a
história, a vida, o exterior. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.
SILVA, João Gonçalves Ferreira Christófaro. “A literatura e a doença: notas sobre a
construção da imagem do escritor nos diários de Vírginia Woolf”. Revele: Revista Virtual
dos Estudantes de Letras, Belo Horizonte, v. 3, p. 215-228, 2011. Disponível em:
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/revele/article/view/3877/3817 Acesso
em 25 de março de 2021.
SILVEIRA, Rosa Maria Hessel e SILVEIRA, Bruna Rocha. “A doença na literatura
infanto-juvenil – análise de quatro obras contemporâneas”. Via Atlântica, São Paulo, 29, p.
389-406, 2016. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/download/108001/118198/225883
Acesso em 23 de março de 2021.
SONTAG, Susan. A doença como metáfora. Tradução: Márcio Ramalho. São Paulo: Graal,
1984.
______. Aids como metáfora. Tradução: Paulo Henriques de Britto. São Paulo: Companhia
das Letras, 1989.
ZIZEK, Slavoj. A pandemia que abalou o mundo. Tradução de João Moita. Lisboa: Relógio
d’Água, 2020.
______. “As pessoas dizem: ‘O capitalismo sobreviverá’. Eu contesto: já mudou
imensamente”. Entrevista a Patricia Gonsálvez. El País, 23/01/2021. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/cultura/2021-01-23/slavoj-zizek-com-a-pandemia-comecei-a-
acreditar-na-etica-das-pessoas-comuns.html Acesso em 30 de março de 2021.