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Capítulo 5: Reforma e Contrarreforma

História Prof. Samuel


Motivos da Reforma
Na Idade Média, a Igreja era rica e poderosa. Os bispos possuíam feudos enormes. O papa celebrava
acordos políticos, interferia na escolha dos reis, era chamado a coroá-los etc. Mas havia um grande número
de pessoas, grupos sociais e líderes políticos e religiosos descontentes com a Igreja e com o imenso poder
do papa. Os motivos dessa insatisfação eram:
1. O poder universal do papa. No século XV, muitos reis passaram a ver o papa (líder de toda a
cristandade europeia) como um obstáculo ao fortalecimento do poder real. E se opunham também à saída
de dinheiro de seus reinos e principados para Roma, a sede do papado. Esse dinheiro saía em razão das
taxas e tributos pagos à Igreja pelos fiéis.
2. Corrupção e despreparo do clero. Muitos membros da Igreja tinham comprado o cargo de bispo
ou cardeal. Vários papas chegavam à chefia da Igreja por pertencerem a famílias poderosas. Os padres
tinham geralmente pouca instrução e nenhum preparo religioso para orientar os fiéis.
3. A venda de indulgências e falsas relíquias. Bispos e padres praticavam o comércio de artigos
religiosos. Vendiam um objeto qualquer dizendo que era um pedaço de osso do jumento montado por Jesus
e várias outras falsas relíquias. E mais: bispos e padres vendiam também indulgências, isto é, o perdão dos
pecados, em troca de uma doação em dinheiro à Igreja.
Motivos da Reforma
Essas práticas abusivas de membros da Igreja
provocaram uma grande insatisfação entre
cristãos de diferentes condições sociais e
contribuíram para o surgimento de ideias e
movimentos reformadores.
Primeiros Reformadores
Entre os maiores críticos da Igreja naquela época estavam os reformadores John
Wycliff e Jan Huss.

Wycliff (1320-1384) se formou em teologia pela Universidade de Oxford


(na Inglaterra) e traduziu a Bíblia para o inglês, a língua de seu povo. Afirmando
que havia um grande contraste entre o que a Igreja era e o que deveria ser, ele
criticava sobretudo o acúmulo de riquezas por parte dos bispos e papas e a falta de
instrução dos sacerdotes. Por isso, Wycliff foi levado a um tribunal religioso, que o
acusou de herege.
Jan Huss (1369-1415) era professor da Universidade de Praga (na atual
República Tcheca), teólogo e brilhante orador; ele se tornou conhecido por fazer
seus sermões no idioma tcheco, língua de seu povo e para a qual traduziu a Bíblia.
Por seus ataques à corrupção e ao luxo do alto clero, Jan Huss foi acusado de
herege e queimado vivo, em 1415. Ainda hoje ele é visto por muitos tchecos como
um mártir.
Martinho Lutero
No início do século XVI, na região onde hoje é a Alemanha, um monge de nome
Martinho Lutero revoltou-se contra a venda de indulgências e ousou discordar da
doutrina católica; com isso, deu início ao movimento conhecido como Reforma
protestante.

Martinho Lutero nasceu em 1483, na cidade alemã de Eisleben, e recebeu de seus


pais uma educação bastante rígida. Com 18 anos, para alegria de seu pai, que
queria vê-lo advogado, Lutero entrou na Universidade de Erfurt para estudar
Direito. No entanto, ele se interessava mais pelo estudo da Bíblia e vivia
preocupado com a salvação eterna. Por isso, trocou o curso de Direito pelo de
Teologia e ingressou num convento agostiniano. Estudioso e persistente, aos 29
anos Lutero tornou-se doutor em Teologia. No convento, ele fazia tudo o que
julgava necessário à salvação da alma: jejuava, orava e lia a Bíblia noites inteiras.
Apesar disso, continuava a se sentir um pecador. Lutero só superou sua crise
pessoal e espiritual ao romper com a Igreja e propor uma nova doutrina.
A Reforma de Lutero
Em 1517, o papa prometeu que todo aquele que desse dinheiro
para construir a nova Basílica de São Pedro, em Roma, receberia,
em troca, uma indulgência plena, isto é, o perdão de todos os
pecados. Indignado, Martinho Lutero pregou na porta de sua
paróquia as 95 teses, um documento contendo duras críticas à
Igreja. Leia a seguir algumas teses de Lutero:
Tese 24. [...] a maior parte do povo está sendo enganada pela promessa de que seus pecados serão
perdoados; [...]

Tese 32. Serão condenados [...], juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua
salvação através de carta de indulgência; [...]

Tese 86. Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos Crassos [romanos ricos], não constrói
com seu próprio dinheiro ao menos a Basílica de São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres
fiéis?
A Reforma de Lutero
Por insistir na defesa de suas ideias, Lutero foi expulso da Igreja pelo
papa. O imperador católico Carlos V, que governava a região da atual
Alemanha, também o considerou herege e mandou queimar seus
escritos. Perseguido, Lutero se refugiou no castelo de um nobre que
apoiava suas ideias. Ali, ele traduziu a Bíblia para o alemão, possibilitando
que pudesse ser lida por um número muito maior de pessoas.

Vários príncipes da região onde hoje é a Alemanha se converteram ao


luteranismo e se apropriaram das terras da Igreja Católica em seus
principados; com isso, aumentaram seu poder e sua riqueza.
A Igreja e a doutrina de Lutero
Diante do avanço do luteranismo, o imperador Carlos V proibiu o culto
luterano nos principados católicos. Os príncipes luteranos protestaram
contra essa proibição; daí o termo protestante para nomear os seguidores
das igrejas surgidas a partir da Reforma. As ideias de Lutero se
espalharam com velocidade. Para isso muito contribuiu o
aperfeiçoamento da imprensa.
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João Calvino
Calvino também defendia a salvação pela fé, refutava o culto
às imagens e admitia apenas dois sacramentos: o Batismo e a
Eucaristia. Mas, diferentemente de Lutero, Calvino acreditava
na predestinação absoluta; ou seja, que as pessoas nada
podiam fazer para mudar seu destino. Para ele, alguns são
predestinados por Deus à vida eterna, e outros, à morte
eterna.
Por divulgar suas ideias, Calvino foi acusado de herege pelos
católicos franceses. Então deixou a França e refugiou-se em
Genebra, na Suíça, onde encontrou pessoas abertas às suas
ideias. Em 1541, tornou-se a principal figura do governo de
Genebra, onde exigiu que seus habitantes levassem uma vida
puritana, isto é, acordassem cedo, dormissem cedo, se
dedicassem à oração e ao trabalho. Além disso, proibiu
festas, teatro, jogos de azar e bebidas alcoólicas. Quem
desobedecesse pagava multa, era expulso da igreja ou
punido com a morte.
Expansão do Calvinismo
A valorização do estilo de vida puritano contribuiu para a rápida difusão do calvinismo pela Europa:
na Escócia, os calvinistas foram chamados de presbiterianos; na Inglaterra, de puritanos; e na França, de
huguenotes.
Na França, as guerras entre protestantes e católicos registraram um episódio de muita violência; na
noite de 24 de agosto de 1572, dia de São Bartolomeu, os católicos, apoiados pelo governo, mataram milhares
de huguenotes nas ruas de Paris.
Divergências entre
Luteranismo e Calvinismo
A Reforma na Inglaterra

Na Inglaterra, o movimento reformista foi conduzido pelo rei


Henrique VIII. Ele vinha querendo se livrar da interferência do papa e dos
impostos cobrados pela Igreja Católica no seu país. Então, pediu que o
papa anulasse seu casamento com Catarina de Aragão (filha dos reis da
Espanha) dizendo que ela não conseguia lhe dar um filho homem para
ser seu herdeiro.

Ao ter seu pedido negado pelo papa, Henrique VIII decidiu agir: rompeu
com a Igreja de Roma (1531) e se casou novamente; desta vez com Ana
Bolena, uma dama da corte. Ao saber disso, o papa anulou o casamento
e o excomungou. O Parlamento inglês reagiu apoiando Henrique VIII e
aprovando o Ato de Supremacia (1534). Este ato declarava o rei o novo
chefe da Igreja na Inglaterra, chamada, então, de Igreja Anglicana.
A Reforma na Inglaterra

Como chefe da nova igreja, Henrique VIII confiscou as terras e


os mosteiros da Igreja Católica e os vendeu ou presenteou aos nobres
e burgueses que o apoiaram. Assim, o rei inglês se fortalecia,
acumulando o poder político e o religioso.

Abadia de Westminster
Reforma Protestante na Europa (século XVI)

Observando o mapa da Europa


após a Reforma, podemos
perceber as áreas com
predomínio de católicos,
luteranos, calvinistas e
anglicanos.
A Reforma Católica ou Contrarreforma

Para tentar conter o avanço do protestantismo e fortalecer o catolicismo, a liderança


católica iniciou o movimento conhecido como Reforma Católica ou Contrarreforma.
Esta reforma foi impulsionada pelos jesuítas e pelo Concílio de Trento e fez uso do Tribunal
do Santo Ofício, também chamado de Inquisição, para reprimir e punir seus adversários.

Concílio:
assembleia de bispos para decidir sobre assuntos relativos à Igreja.

Inquisição:
fundada em 1231 por uma bula do Papa Gregório IX, que estipulava o modo como os inquisidores deviam agir para localizar e
interrogar os hereges e convencê-los a se retratarem. Em 1252, o papa Inocêncio IV permitiu o uso de tortura para obter confissões.
Se a pessoa confessasse, recebia uma penitência; caso contrário, era quase sempre condenada a morrer na fogueira.
A Reforma Católica ou Contrarreforma
Concílio de Trento
A Reforma Católica ou Contrarreforma

A Ordem dos Jesuítas foi fundada em 1534


pelo militar espanhol Inácio de Loyola, que
estabeleceu entre seus integrantes uma
rigorosa disciplina e obediência. Conhecidos
como de os jesuítas
dedicaram-se a divulgar o catolicismo na
Europa e a evangelizar os povos da Ásia,
África e América.

Os jesuítas atuaram também na educação,


criando uma rede de colégios em vários
lugares do mundo, inclusive no Brasil.
A Reforma Católica ou Contrarreforma

O Concílio de Trento foi convocado em 1545 pelo papa Paulo III e interrompido várias vezes,
devido a guerras e a uma peste ocorrida naquela região da Itália. Ao final dos debates, em
1563, o Concílio rejeitou a doutrina da justificação pela fé de Lutero e a doutrina da
predestinação de Calvino. O Concílio também:

1. considerou crime a venda de indulgências;


2. reafirmou o poder do papa;
3. conservou os sete sacramentos e o culto à Virgem Maria e aos santos;
4. propôs a criação de seminários para instruir e formar os sacerdotes;
5. reeditou o Index, isto é, a relação de livros que os católicos estavam proibidos de ler.
Muitas vezes esses livros eram queimados em grandes fogueiras.
A Reforma Católica ou Contrarreforma
A Inquisição
Durante a contrarreforma, o papa Paulo III reativou o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição),
órgão da Igreja encarregado de vigiar, julgar e punir qualquer pessoa acusada de heresia. Às
vezes, bastava uma simples suspeita para que a pessoa fosse chamada a depor nesse tribunal.
E, conforme suas respostas, podia ser condenada à perda de bens (terra, casa, móveis), à
prisão perpétua e, às vezes, à morte na fogueira. As principais vítimas da Inquisição foram
hereges, protestantes, judeus e mulheres consideradas bruxas. Tribunais do Santo Ofício foram
instalados na Espanha (1478), em Portugal (1536) e na Itália (1542).
A Inquisição
Em Portugal, as principais vítimas do Tribunal do Santo Ofício foram os
cristãos-novos, isto é, judeus que se convertiam ao cristianismo para
fugir das perseguições das autoridades católicas. Mesmo assim,
muitas vezes eles eram perseguidos pelo Santo Ofício sob a acusação
de continuarem praticando o judaísmo às escondidas.
Para escapar à perseguição, muitos deles se mudaram para as
capitanias da Bahia e de Pernambuco, onde se estabeleceram como
senhores de engenho e comerciantes. Mas aqui também tiveram de
enfrentar a truculência da Inquisição.
Em 1591, ocorreu a primeira visita de um representante do Santo
Ofício ao Brasil. Ele percorreu Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba
e mandou prender vários cristãos-novos, enviando-os para Lisboa.
No Brasil, africanos e indígenas também foram denunciados como
praticantes de feitiçaria e bruxaria. Os membros do Santo Ofício não
aceitavam suas religiões, costumes e práticas.

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