Exercício IV - Versão Final
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Questão 2) No município de More Mal e Sobreviva Pior Ainda, há várias
edificações e atividades econômicas não licenciadas pelos órgãos ambientais
competentes, conforme disposto na Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
institui a política nacional do meio ambiente: Art. 10 - A construção, instalação,
ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como
os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de
prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema
Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem
prejuízo de outras licenças exigíveis. Preocupado com as repercussões legais dessa
situação, pois muitas dessas edificações estão localizadas em áreas de preservação
permanente e as atividades desenvolvidas geram significativo impacto ambiental, o
prefeito requereu à Procuradoria do Município que apontasse as possíveis soluções
para o problema. Para auxiliar o prefeito, considerando a legislação federal e o
entendimento jurisprudencial de nossos tribunais, discorra sobre as possíveis
soluções.
RESPOSTA:
No caso em questão, como expressamente aludiu o art. 10 da Política Nacional
do Meio Ambiente, as atividades econômicas e edificações situadas na região que
deveriam ter passado previamente por algum modelo de concessão de licenças, trifásico
ou o simplificado, não seguiram de forma devida o processo previsto em lei.
Inerente a isso, vislumbra-se aqui uma situação de possível responsabilização
aos órgãos licenciadores que denegaram o cumprimento do seu dever legal, assim como
também dos órgãos fiscalizadores que, conforme entendimento jurisprudencial, são
exercidos por todos os entes federados. Tal constatação pode ser evidenciada pela
grande quantidade de edificações presentes no local, que salientam uma possível
caracterização de negligência por parte desses órgãos. Em entendimento jurisprudencial,
o STJ determinou que:
"não há falar em competência exclusiva de um ente da federação para
promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização
a ser exercido pelos quatro entes federados, independentemente do
local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo. O Poder de Polícia
Ambiental pode - e deve - ser exercido por todos os entes da
Federação, pois se trata de competência comum, prevista
constitucionalmente. Portanto, a competência material para o trato das
questões ambientais é comum a todos os entes. Diante de uma
infração ambiental, os agentes de fiscalização ambiental federal,
estadual ou municipal terão o dever de agir imediatamente, obstando a
perpetuação da infração" (STJ, AgRg no REsp 1.417.023/PR, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
25/08/2015). No mesmo sentido: STJ, REsp 1.560.916/AL, Rel.
Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, DJe de
09/12/2016; AgInt no REsp 1.484.933/CE, Rel. Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 29/03/2017.
Adiante, após grande decisão do STJ no ano de 2021, foi fixado como proceder
frente à divergência de competência entre legislações distintas perante a resolução de
conflitos envolvendo edificações urbanas consolidadas em área de APP antes do
período de “anistia”. Nesta decisão que firmou um marco para o direito ambiental,
debateu-se a escolha da aplicação do Código Florestal (Lei n. 12.651/2012) ou da Lei de
Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.766/1979), que era a vigente na época, para a
fixação do distanciamento da faixa não edificável em cursos d’água.
No Recurso Especial que deu origem ao tema, foi abordado o assunto da
seguinte maneira:
“A definição da norma a incidir sobre o caso deve garantir a melhor e
mais eficaz proteção ao meio ambiente natural e ao meio ambiente
artificial, em cumprimento ao disposto no art. 225 da CF/1988,
sempre com os olhos também voltados ao princípio do
desenvolvimento sustentável (art. 170, VI,) e às funções social e
ecológica da propriedade.” (REsp n. 1.770.760/SC, relator Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 28/4/2021, DJe de
10/5/2021.)