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PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS


PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

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Núcleo de Educação a Distância
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Gildenor Silva Fonseca

3
Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
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importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-


rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professoras: Fernanda E. Barbosa


Lilian Hoffmann
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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

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Esta unidade trata de Psicologia e Laço Social, tema de gran-
de relevância dentro da Psicologia social, que enfatiza os aspectos
sócio-históricos das relações do ser humano em sociedade e busca
compreender essas relações. Nosso estudo começa ao entendermos
a questão do sujeito, sua subjetividade e sua constituição a partir da
sua vivência em sociedade. A questão subjetiva é importante desde a
antiguidade clássica. Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles,
chegando a Descartes, Hume, Hegel, Foucault, Deleuze, Heidegger, e
psicanalistas como Freud e Lacan, entre outros tantos nomes alteraram
a concepção que temos do sujeito. Diversos desses autores são estu-
dados nesta unidade.
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Psicanálise, Laço social, Constituição do sujeito.

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Apresentação do Módulo ______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
PSICANÁLISE: SUJEITO E LAÇO SOCIAL

O que é o sujeito e como ele se constitui ________________________ 13

Freud: o inconsciente, a divisão do sujeito e a ordenação psíquica 15

O complexo de Édipo: mito e processo civilizatório regulador ___ 23

Recapitulando _________________________________________________ 28

CAPÍTULO 02
SUJEITO, DISCURSOS, GOZO E LAÇO SOCIAL

Lacan: o sujeito e o laço social __________________________________ 36

O avesso da psicanálise, o laço social e os discursos _____________ 39

Introdução à leitura de Lacan ___________________________________ 42

Recapitulando _________________________________________________ 46
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CAPÍTULO 03
FUNDAMENTOS E TEORIAS DA PSICANÁLISE

Estudos iniciais sobre a Psicanálise _____________________________ 51

Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade ______________________ 55

Caso clínico: Srta. Anna O. ______________________________________ 59

Caso clínico: Dora ______________________________________________ 61

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Recapitulando _________________________________________________ 65

Fechando a Unidade ___________________________________________ 70

Referências ____________________________________________________ 73
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A constituição do sujeito é tema essencial para o campo da
Psicologia, desde a sua configuração enquanto ciência que estuda o ser
humano em seu ambiente, tendo sido, em sua origem, influenciada de
um lado pela filosofia e de outro pelos estudos e práticas da medicina
sobre os corpos e comportamentos humanos.
A Psicologia social enfatiza os aspectos sócio-históricos das
relações do ser humano em sociedade e busca compreendê-las se-
gundo o aspecto da dominação ideológica e vê a conscientização e
emancipação do sujeito como saídas possíveis diante deste determi-
nante cultural. Assim, a Psicologia social estuda o comportamento dos
indivíduos em interação.
Justamente no decorrer da história da humanidade e do acom-
panhamento psicológico dos indivíduos em seu meio, percebeu-se que
o sujeito, para se constituir enquanto tal, precisa da presença de outro
sujeito, pois, diferente dos demais animais, o ser humano não consegue
sobreviver sozinho. Ele não nasce pronto e jamais chega a ficar pronto
naquilo que ele pode vir a ser. Em contrapartida, essa constituição do
sujeito por meio do outro pode ser um problema para um grande núme-
ro de pessoas, traz sofrimento e costuma levar ao adoecimento psíqui-
co e/ou psicossomático.
Como podemos investigar o porquê disto? Esmiuçando, esgar-
çando o conhecimento que temos hoje sobre os sujeitos, partindo do
que se conhece para o que podemos encontrar efetivamente na prática
clínica. Isso é o que defende a teoria psicanalítica, tema deste módulo.
Vale apontar que o século XXI traz desafios que vão colocar em
questão a Psicologia social e comunitária, principalmente com relação
à constituição do sujeito diante de sua cultura, a relação e a formação
dos seus laços sociais (família, vizinhança, amigos, escola, comunida-
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de), na questão dos direitos humanos, da inclusão e da exclusão social
e mediação dos conflitos nos processos sociais, da saúde, bem-estar
e de sustentabilidade possíveis, e sobre as produções socioculturais e
incremento das tecnologias e seus impactos na sociedade.
Assim, no primeiro capítulo iremos abordar a constituição do
sujeito e a construção do laço social, considerando os aspectos histó-
rico, antropológico, científico e filosófico que conformam os estudos do
homem em sociedade.
No segundo capítulo deste módulo discutiremos questões re-
ferentes ao sujeito, considerando a importância da função paterna na
definição da psicanálise como organizadora do sujeito e, enquanto fun-
damentada na cultura, a construção dos laços sociais que ele forma no
decorrer da vida; a importância do aspecto afetivo para o desenvolvi-
11
mento humano e da função civilizatória reguladora; além das questões
referentes ao enfrentamento do sofrimento humano e à criação de ilu-
sões frente ao desamparo social como medidas defensivas.
Para finalizarmos, no capítulo três trataremos das questões
relativas ao sujeito e ao laço social, pensando nas exigências organi-
zacionais governamentais e não governamentais de atendimento e pro-
dução de conhecimento no trabalho profissional inovando práticas que
auxiliem o sujeito no desenvolvimento de sua emancipação diante dos
desafios contemporâneos.
Bons estudos e boas reflexões!


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PSICANÁLISE:
SUJEITO & LAÇO SOCIAL

Para a filosofia clássica, a questão humana se relacionava com


o saber e a verdade. Podemos afirmar que o sujeito é o objeto próprio
da Psicologia como ciência e pode ser estudado sob a ótica de qual- PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
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quer corrente psicológica, mas vamos aprimorar nossos conhecimentos
sobre a importância da constituição do sujeito para a Psicologia social,
tomando por base a teoria psicanalítica criada por Sigmund Freud no
final do século XIX.

O QUE É O SUJEITO E COMO ELE SE CONSTITUI

A questão subjetiva é importante desde a antiguidade clássica.


Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles, chegando em Descar-
tes, Hume, Hegel, Foucault, Deleuze, Heidegger, e psicanalistas como
Freud e Lacan, entre outros tantos nomes, alteraram a concepção que
temos do sujeito.
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Enquanto o sujeito platônico era o sujeito das ideias (logos),
o aristotélico era o do simulacro (imagem malfeita do divino). Enquan-
to para Descartes (1596-1650), o sujeito era o da razão, aquele que
conhecia a verdade, para Hegel (1770-1831) e Freud (1856-1939), o
sujeito se configurava a partir do desejo (inconsciente, na concepção
freudiana) e, a partir disso, o eu não mais vai ser concebido como uma
entidade plena de verdade, ou, pelo menos, essa entidade do eu como
o lugar da verdade do sujeito vai ser abalada.
Descartes defende uma concepção subjetiva baseada na ra-
zão e na verdade que abre caminho para toda uma forma de pensar
científica e positivista (Comte, 1788-1857). Hegel, apesar de defender
a verdade enquanto racionalidade real, aponta para a lógica do desejo
como o lugar da própria gênese do ser humano, pois é negando a natu-
reza que o sujeito se constitui como humano.
Para a Psicologia social, de forma geral, o sujeito se constitui
historicamente e dentro de uma determinada cultura ou sociedade, por
isso não temos uma forma de sujeito, mas sujeitos que se constituem
em interação. Somos nós, sujeitos que atribuímos ao mundo a nossa
própria subjetividade.
Na psicanálise inaugurada por Freud em 1896 – apesar de
percebermos claramente a influência da lógica platônica – há um rom-
pimento com o conceito do centramento do homem consciente e de
razão plena, uma verdadeira inversão do cartesianismo, segundo Gar-
cia-Roza (1993).
Assim, inaugurando o conceito de inconsciente, tira-se a cons-
ciência do lugar da verdade do sujeito e a coloca no lugar da distorção,
ilusão e de ocultamento. O eu consciente, que costumamos identificar a
partir de então como o próprio sujeito, é o lugar epistemológico em que
as verdades são distorcidas e alteradas. Então, a partir da psicanálise,
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passa a se conceber o sujeito não como um todo unitário, lugar do co-


nhecimento e da verdade, mas dividido em dois grandes sistemas: o
inconsciente e o consciente. É nessa divisão que o sujeito se constitui.
Assim, na base da constituição dos sujeitos temos os instintos
diferenciados, as pulsões, que são carregadas de afetos e ambivalentes
e são sexualizadas, da concepção freudiana; mas também o sujeito só
pode ser pensado enquanto um ser que se constitui pela presença indis-
pensável do outro desde o início de sua vida, e pelo seu posicionamento
dentro de uma determinada lei, no contexto de uma cultura, e batizado
a partir da linguagem e do campo de inscrição simbólica que, principal-
mente, na leitura lacaniana pode ser representado pela dicotomia sujeito
do enunciado/significado/razão e sujeito da enunciação/significante/ex-
cêntrico (excêntrico aqui considerado no sentido de fora do centro).
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FREUD: O INCONSCIENTE, A DIVISÃO DO SUJEITO E A ORDENA-
ÇÃO PSÍQUICA

Freud era um médico austríaco que ao final do século XIX e


início do século XX, ao atender pacientes que desafiavam a lógica na-
turalista da medicina por apresentar comportamentos e sintomas que
se expressavam fisicamente no corpo, sem ter o nexo causal ou im-
pedimento fisiológico, descobriu uma característica importante no ser
humano, a saber, que possui duas lógicas de funcionamento: a lógica
consciente, que em última instância busca manter a sobrevivência do
sujeito frente às desventuras da realidade (da vida), e a lógica do de-
sejo, que tem como objetivo sua plena satisfação. Para chegar nes-
sa concepção houve um longo caminho, muitos estudos, diálogos com
outros pesquisadores de sua época e definição de vários conceitos e,
conforme vemos em sua obra publicada, muito trabalho.
Não podemos negar que a psicanálise muito contribuiu para a
compreensão do funcionamento psíquico e do sofrimento humano em
sociedade, pois, a partir da psicanálise, o sujeito não pode mais ser
definido como o sujeito pleno de razão e verdade, mas também como o
sujeito do afeto/desejo.
Silva (2013) defende que Freud não foi apenas um investiga-
dor do funcionamento interno do aparelho psíquico, pois, ao longo do
seu trabalho, ele foi moldando seus conceitos em um movimento dialé-
tico que iniciou com uma concepção biologicista, em consonância com
sua formação, mas se manteve crítico e acompanhou o processo social,
político e histórico de seu tempo, mantendo diálogo com as ciências
humanas, principalmente com a arqueologia e as artes. O tempo e o
espaço também são importantes meios nos quais o sujeito vai se consti-
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tuir, e ajudam a formar o seu juízo de realidade. Nas cartas a Fliess, por
exemplo, o autor fala que Freud (1950 [1892-1899] 1990) apresenta:

[...] a tese de que a memória não se faz presente de uma só vez, mas se
desdobra em vários tempos” (p. 324). Prossegue sugerindo que a memó-
ria passa por diferentes registros que de tempos em tempos se rearranjam,
são transcritos de diferentes formas, e ao final, numa camada chamada Vor-
bewusstsein (pré-consciência), os traços que continuam sendo inscritos e
rearranjados se juntam a restos de palavras, representações verbais, dando
origem ao nosso Eu (SILVA, 2013, p. 18).

O autor destaca esse texto porque acredita que, desde a dé-


cada de 1890, Freud já dava importância à comunicação e à linguagem
para a constituição do ser humano e a construção do laço social.
15
A teoria psicanalítica freudiana vai se construindo a partir de
uma prática clínica, nos seus estudos com pacientes histéricas e, em seu
percurso, lança luz sobre impasses relacionados ao social, ao fato de
que o homem está marcado por uma ordem social. Desde seus primeiros
escritos no Projeto para uma psicologia científica (1895), conhecido no
meio acadêmico por escritos pré-psicanalíticos, Freud ressalta a impor-
tância da presença de outro ser humano na formação do sujeito (eu).
A partir da descoberta do inconsciente, atendendo pacientes
histéricas, Freud foi definindo como o ser humano se constitui, diferente
dos demais animais, e esquematiza o aparelho psíquico e suas fun-
ções. Um dos conceitos mais importantes apontados nessa diferencia-
ção e presente na própria origem de constituição do sujeito é o conceito
de pulsão.

A pulsão e suas vicissitudes


Um dos principais fatores que diferencia o ser humano do resto
dos animais é que a maioria deles já nascem prontos (dotados de todas
as condições de se levantar pouco depois de nascer e procurar o seu
alimento), e o homem nasce como se ainda fosse uma espécie de em-
brião, ou seja não pronto, um “vir a ser”, e necessita da presença de ou-
tro ser humano para sobreviver e para finalmente se constituir enquanto
sujeito. Ele se forma a partir de sua concepção e vai se desenvolver até
o final de sua vida de forma incompleta. Assim, na teoria freudiana, o
sujeito se constitui não a partir dos instintos, mas das pulsões.
É óbvio que, como pertencentes da espécie animal, desen-
volvemos comportamentos a partir de instintos, como no exemplo dos
movimentos de arco reflexo; porém, desde cedo, em nossas primeiras
experiências de vida e a partir da relação com o desejo do outro, há
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uma diferenciação instintual, pois ela passa a ser carregada de afeto e


também sexualizada, em decorrência da satisfação dos estímulos (ex-
ternos e internos). Dizendo de outra forma, a satisfação da pulsão se
diferencia da satisfação do instinto porque nesta há um retorno sob a
forma de alívio da excitação, mas na realização de uma pulsão há além
do alívio, o prazer ou o gozo.
Assim, ainda no projeto de 1895, Freud já analisava o vínculo
mãe – bebê como experiência de satisfação erógena, que ele veio cha-
mar de autoerotismo. A experiência de satisfação autoerótica determina
o processo dinâmico mental na dualidade prazer – desprazer.
Para Testi (2012), a experiência de satisfação em Freud se ca-
racteriza pelo encontro entre o bebê e a pessoa que permite as descar-
gas das tensões internas, promovendo o apaziguamento dessas ten-
16
sões, reconhecida aqui por vivência de satisfação, produzindo, assim,
a primeira sensação de prazer para além da saciedade de uma pura
necessidade orgânica. Nesse sentido, tomando a mãe como geralmen-
te aquela pessoa que permite o alívio dessas descargas endógenas,
quando cuida do filho, o alimenta e promove sua higiene básica está
também despertando a diferenciação da pulsão sexual (libido).
Podemos começar a entender agora que, segundo a psicaná-
lise freudiana, o encontro com o desejo do outro produz uma dimen-
são traumática e, assim, Freud desenvolve o conceito de sexualidade
infantil, um assunto polêmico na sociedade em que ele vivia e ainda
muito mal trabalhado em nossa sociedade, mesmo entre os psicólogos,
psicanalistas, assistentes sociais e educadores. Dessa forma, em Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud (1905) afirma que:

Faz parte da opinião popular sobre a pulsão sexual que ela está ausente na
infância e só desperta no período de vida designado da puberdade. Mas este
não é um erro qualquer, e sim um equívoco de graves consequências, pois é
o principal culpado de nossa ignorância de hoje sobre as condições básicas
da vida sexual. (FREUD, 1905/1990, p. 162).

Podemos considerar então que o ser humano, enquanto sujei-


to, é formado por um corpo orgânico dotado de instintos que se trans-
formam no decorrer de sua constituição, que se dá a partir da inscrição
do desejo do outro em seu próprio corpo.
Numa fase muito primordial, o ser humano se dirige ao mundo
sem compreender a diferenciação entre este e seu próprio corpo, por-
que essa noção e esses conceitos ainda não estão estabelecidos. Os
instintos que regulam a manutenção do ser vivo para que este sobreviva
são acionados e respondidos por outro sujeito. A satisfação desse incô-
modo orgânico produz além do alívio da tensão algo mais, que Freud PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
chamou de prazer e Lacan de gozo, diferenciando, assim, o instinto (au-
torregulatório e autômato referente ao organismo animal) das pulsões
(movidas por desejo e por afeto).
De uma forma resumida, a pulsão para Freud é um conceito
que faz fronteira entre a mente e o corpo, uma representação psíquica
de estímulos internos, e se difere de instinto principalmente pelo fator
da hereditariedade, por este ser fixo e ter um objeto determinado. A
pulsão, por sua vez, não tem um objeto específico ou padrão de com-
portamento, e se expressa como afeto (que determina a quantidade e a
qualidade da pulsão) ou ideia, e não participa da dualidade consciente
– inconsciente.
O afeto descrito por Freud não é sinônimo de afetividade. O
afeto se expressa em descargas que nós denominamos sentimentos,
17
mas os afetos não podem ser recalcados (sofrer repressão dos meca-
nismos conscientes), mas sofrem as consequências do recalcamento.
As ideias são representações, catexias ideativas, traços de memória e
elas, sim, podem ser recalcadas.
Fazemos aqui um adendo explicativo ao conceito de recalque
na concepção freudiana para melhor entendermos o conceito de pul-
são. A vida anímica do sujeito aqui é marcada pela dualidade dos prin-
cípios de prazer e desprazer, assim, o mecanismo do recalque surge a
partir de uma falha motora em evitar o desprazer provocado por uma
exigência pulsional, que é chamada de hiância, um vazio entre o desejo
de fuga, que não pode ser realizado por um motivo real, e a elaboração
de um juízo de valor adequado em relação à fonte de tensão. É neste
espaço (hiância) que o recalque se faz presente. O sujeito vai repetindo
esse processo durante toda a sua vida, frente ao mundo, ao desconhe-
cido, ao outro com quem estabelece laços sociais.
Segundo Silva (2013), devido à divisão do psiquismo humano,
a satisfação de uma pulsão pode trazer desprazer à parte consciente,
enquanto proporciona satisfação à parte inconsciente, assim, no recal-
camento localiza-se a fonte causadora das psiconeuroses, porque ele
não é um arremedo perfeito, é ele que instaura no sujeito o reino da
fantasia. Para mostrar-se e passar pela clivagem da consciência, ele
deve sofrer um deslocamento ou uma deformação.
Com relação ao juízo de realidade e o recalcamento, Freud nos
diz que:

[...] um determinado tipo de atividade do pensar foi apartado do teste de


realidade, permaneceu livre deste e ficou submetido apenas ao princípio do
prazer. É ele o fantasiar, que já se inicia com o brincar das crianças e mais
tarde prossegue com o devanear, deixando então de sustentar-se em objetos
reais (FREUD, 1911/2004, p. 67).
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

A presença indeterminada do inconsciente impossibilita a rela-


ção do sujeito com o social de forma objetiva, pois as representações
fantasmáticas costumam prevalecer. Assim, para Freud, o conflito psí-
quico é resultante do embate de forças instintivas (inconscientes) e re-
pressoras (oriundas do ego e de outra instância que ele vai chamar de
superego), expressando-se em sintomas.
O conceito de pulsão sofre mudanças no decorrer de sua obra.
Passando pelo trabalho que o próprio Freud reconhece como um dos
seus mais importantes, a Interpretação dos sonhos, em 1900, leva ao
estabelecimento de muitos conceitos que caracterizam a dinâmica do
aparelho psíquico, o fenômeno do recalcamento e os mecanismos de
defesa do ego contra as exigências do meio (baseadas no princípio da
18
realidade) e do inconsciente (baseadas no princípio do prazer). O recal-
que é um procedimento defensivo bem trabalhado nesse texto e os me-
canismos de deslocamento e associações aparecem como formadoras
do recalque, servindo para encobrir lembranças/ideias que não podem
ficar conscientes, pois desestabilizariam ou ameaçariam o eu.
Voltamos à descrição das pulsões e sua ligação com a libido
e os afetos, pois estes são capazes de fazer com que o sujeito formule
os laços sociais.
Freud afirma que as pulsões possuem fonte, pressão, finali-
dade e objeto. A fonte das pulsões é orgânica e está localizada nas
excitações corporais que precisam de um trabalho de representação,
simbolização. A pressão é a quantidade de energia/força necessária
para realizar a sua vicissitude, tendo como finalidade a satisfação da
pulsão. O objeto é a coisa (indeterminada) através da qual a pulsão
tenta se realizar. A pulsão sustenta toda a vida anímica do sujeito e vai
estar presente na construção dos laços sociais.
Vemos, através destes conceitos, que Freud fala desde o início
em uma dualidade das pulsões (ideias – afetos), demarcando a pulsão
afetiva como libido. A libido procura objetos para sua satisfação, mas,
no seu investimento no mundo real, pode não encontrar o objeto em
que a pulsão possa se satisfazer. Diz-se que há um interdito na realiza-
ção pulsional, que Freud chamou, em 1915, de “prova de realidade”. A
pulsão sem se vincular a um objeto (livre), vincula-se a uma ideia ou ao
próprio ego (eu). Entramos, então, na seara do narcisismo ou da satis-
fação narcísica da pulsão.
O narcisismo é outro conceito importante para a formação do
sujeito, pois demarca o momento em que fica patente a diferenciação
que o ser humano em formação faz em relação a ele mesmo e ao mun-
do. Vamos voltar a essa questão um pouco mais adiante.
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Os conceitos da psicanálise freudiana estão descritos em seu


extenso trabalho publicado pela editora Imago no Brasil em 24 volumes.
Hoje em dia, você o encontra na internet em domínio público.
http://satepsi.cfp.org.br/imprimelistateste.cfm?status=1

19
Retomando o conceito de pulsão e suas características dico-
tômicas, no artigo Luto e Melancolia (1915) também aparece a relação
do investimento libidinal quando não se é possível encontrar o objeto de
satisfação da pulsão na realidade. Por exemplo, quando uma pessoa
querida morre, o sujeito parece perder interesse nas coisas do mundo,
ou mesmo parece perder a capacidade de amar, deixa de investir nas
atividades diárias e diminui os sentimentos de autoestima. Essas carac-
terísticas podem ser normais ou patológicas. Assim, afirma Freud que,
quando a libido não pode mais encontrar o objeto investido de afeto na
realidade, a tendência é prolongar sua existência psiquicamente (repre-
sentação/ideia). No luto, esse fenômeno é visto de forma consciente
e pode ser superado no tempo, através de um processo de trabalho
psíquico de elaboração da perda do objeto. No fenômeno patológico,
como no caso da melancolia, a insuportabilidade da perda faz com que
o sujeito retire esse investimento da consciência e passe a direcioná-lo
ao ego, não mais ao objeto perdido, realizando a identificação narcísica
com o objeto.
Relembrando, Freud apreciava explicitar as suas definições
para o funcionamento anímico do sujeito em pares dicotômicos (prin-
cípio de prazer X princípio de realidade); assim, no início, ele define as
pulsões em dois tipos: as de autopreservação e as sexuais. Depois ele
reformula esses conceitos em pulsão de vida e pulsão de morte. A pul-
são de vida são as catexias (impulsos de afetos) que procuram manter
o ego (eu). As pulsões do ego não necessariamente levam à busca por
novos objetos e criam novas oportunidades, mas, sim, ao mecanismo
de repetição. Elas se fixam no sujeito de forma narcísica, segura do
ponto de vista imaginário, mas que se mostram potencialmente produ-
toras de doença psíquica.
O conceito de pulsão de morte em Freud (1920) transforma-se
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em um reposicionamento do psicanalista frente a diversas questões de


difícil elucidação que acompanhava na clínica, como por exemplo, por-
que uma pessoa pode fazer mal e sentir prazer agredindo a si mesma?
Na teoria freudiana, isso iria contra o princípio do prazer. A dicotomia
pulsional se mostra presente, os afetos podem ser de amor e ódio e
esse afeto pode estar direcionado ao objeto externo, mas, principalmen-
te ao ego, pois o eu para Freud é o primeiro objeto afetivo do sujeito.
A pulsão de morte caracteriza tudo o que não pode ser repre-
sentado, pulsão sem significantes, ao mesmo tempo destrutiva e cria-
tiva. Percebemos que no desenvolvimento de suas teorias sobre as
pulsões, a representação já traz a marca do campo da linguagem e
da cultura. A própria sublimação e criatividade artística são formas de
expressar essa dinâmica conflituosa, ao invés do sofrimento psíquico.
20
O narcisismo, os objetos de amor e idealização
Voltemos a partir deste ponto ao conceito de narcisismo, pois
o investimento libidinal do ego é inseparável da própria constituição do
sujeito e do aparelho psíquico.
Segundo Garcia-Roza (1993), o narcisismo é uma categoria
criada por Freud para representar um investimento libidinal no ego.
Freud diferencia também narcisismo primário e secundário: no primário,
a criança investe toda a sua libido em si mesma, enquanto no secun-
dário há um retorno da libido ao ego após a retirada dos investimentos
objetais (libido de objeto), antes direcionados ao mundo externo.
O narcisismo primário é uma realidade psíquica formulada a
partir do mito primário de regresso ao “seio materno” e é uma fase de
desenvolvimento da sexualidade infantil, posterior ao autoerotismo, que
seria uma fase preparatória para o narcisismo. O recalque se inscreve
nesta fase e serve como função normalizante, imposta por exigências
culturais com a finalidade de lidar com o narcisismo infantil. Freud en-
tende que o objeto original de amor é a mãe para as crianças de ambos
os sexos e, em determinado momento, esse objeto de amor é barrado/
abandonado com a categoria descrita como Complexo de Édipo.
O complexo de Édipo também é uma alegoria criada a partir
de um mito da literatura clássica. É um conceito de extrema importância
para a conformação do sujeito, para sua maturação, e para instituir a lei,
as regras de determinada cultura, por isso vamos tratá-lo em um item
à parte.
Retomando as fases do desenvolvimento infantil, a partir das pul-
sões sexuais, Freud demarca quatro fases: oral, anal, genital e fálica. Não
se trata aqui de fases cronológicas, mas de fases que correspondem ao
processo de organização psíquica do sujeito frente ao objeto da pulsão.
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
Segundo Testi (2012), na constituição psíquica do sujeito,
Freud classifica duas etapas de organização que chamou pré-genital:
a oral e a sádico-anal, pois a busca por satisfação está a serviço da
função de autopreservação (referência ao mecanismo de nutrição, di-
gestão, excreção). A organização sexual infantil se dá pela primazia do
falo (coisa que falta) até o amadurecimento e a resolução (dissolução)
do Complexo de Édipo.
Concluindo, no narcisismo infantil é o ego que vai se colocar
como objeto da libido, e do ponto de vista da economia libidinal, orga-
niza-se a troca energética entre o ego, os objetos do meio externo e os
objetos internos (fantasmáticos), de acordo com a analogia dos pseu-
dópodes da ameba criada por Freud em 1914 para explicar que quando
um dos objetos é mais investido, o outro sofre um esvaziamento.
21
Para visualizar o conceito de investimento e esvaziamento li-
bidinal e a analogia freudiana da ameba, disponibilizamos o link de um
vídeo que representa a descrição desta e de seu movimento no micros-
cópio.
https://www.youtube.com/watch?v=bPwVOggUp4M&featu-
re=emb_rel_end

Podemos afirmar que a partir do texto sobre o narcisismo,


Freud caracteriza dois tipos básicos de escolha de objeto amoroso que
vai guiar a orientação para o laço afetivo que estabelecemos em socie-
dade para o resto da vida: um se baseia no modelo das figuras parentais
(tipo anaclítico), ou seja, baseado no apoio das pulsões sexuais sobre
as de autoconservação e o outro que se baseia no modelo da própria
pessoa (tipo narcísico). De acordo com Garcia-Roza (1993), tomar a
si próprio como modelo não é simples, pois uma pessoa pode amar o
que ela própria é, ou o que ela própria foi ou o que gostaria de ser ou
ainda alguém que foi uma vez parte dela mesma. Relacionado ao tipo
anaclítico, geralmente temos o modelo de afeto na mulher que alimenta
ou no homem que protege (tipos ideais, e não necessariamente reais).
Lembramos que essas são categorias descritivas, e que po-
dem não corresponder exatamente ao tipo descrito por Freud e se di-
ferenciar, inclusive, pelo tipo de contexto familiar e cultural em que o
sujeito está inserido.
Ainda segundo o autor, o narcisismo primário na teoria freu-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

diana é responsável pela formação do ego e, assim, pela formação do


recalque, um provém do outro, tendo como suas fontes de exigência o
tabu presente em uma cultura.
No narcisismo primário, o indivíduo erige um ideal (de ego), o
que condiciona o recalque. Com a criação deste ego imaginário, dotado
da perfeição narcísica da infância, procuramos sempre buscá-la na re-
lação com a realidade e com o outro sob a forma de ideal do ego. Então
podemos afirmar que a relação com o outro e a criação do laço social
passa, antes de tudo, por uma idealização. O ego ideal tem seu modelo
no narcisismo primário, enquanto o ideal de ego aponta para uma ins-
tância diferenciada, um modelo em que o sujeito tenta conformar-se,
promovendo uma nova identificação, que Freud chamou de narcisismo
secundário.
22
Como já falamos anteriormente no artigo de 1915, Luto e Me-
lancolia, Freud vai propor uma visualização deste processo de identifi-
cação do narcisismo secundário, com o retorno da libido que foi direcio-
nada ao mundo externo para o próprio ego, na reação diante da perda
do objeto.
Deste momento até 1923, vemos Freud se debater com novos
conceitos para descrever o funcionamento psíquico, que anteriormente
se referia como instâncias inconscientes, pré-conscientes e conscien-
tes. Em o Ego e o Id, Freud expõe seu esquema psíquico, que foi no-
meado como segunda tópica do aparelho mental.
O Ego tem sua origem no esquema perceptivo-consciente
(Pcpt-Cs), enquanto efeito das sensações corporais, por isso, a defini-
ção freudiana de que o ego é, antes de tudo, um ego corporal. O Id é a
parte inacessível ao psiquismo, está aberto a influências somáticas e os
representantes pulsionais buscam a satisfação (princípio do prazer). O
superego é um representante do mundo externo no aparelho psíquico e
herdeiro do Complexo de Édipo, possuindo tríplice função: auto-obser-
vação, consciência moral e ideal do ego. Vamos trabalhar mais esses
conceitos no próximo tópico.
Para concluir, o Ego vai se posicionar entre os dois mundos,
como um mediador, que vai procurar atender às exigências do Id, se-
gundo Garcia-Roza (2013), com um mínimo de conflito com a realidade
e com o superego (que é tirano) e vai se apropriar de partes do id para
se fortalecer e se ampliar.
É assim que funciona a dinâmica psíquica do sujeito em nosso
mundo, em nossa sociedade, guardadas algumas mudanças culturais,
mesmo nos dias atuais.

PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS


O COMPLEXO DE ÉDIPO: MITO E PROCESSO CIVILIZATÓRIO RE-
GULADOR

Até aqui falamos do campo constitutivo da subjetividade que


está intimamente relacionada à fantasia, que Freud delimitou como sen-
do um campo imaginário, e sua relação com o mundo real, aquele que
está à volta do sujeito, onde ele nasceu e começou a se desenvolver;
mas no qual, porém, não tem quase nenhum controle. Para preparar o
sujeito em formação, seu ego, para lidar com as frustrações a respeito
das inacessibilidades na realidade (com suas regras), começa a delimi-
tar o campo simbólico, aquele que através da palavra e das convenções
sociais vai organizar o posicionamento do ego em relação ao mundo
externo.
23
Vimos que na organização psíquica freudiana, além do ego e
do id, há a instância denominada superego, que é o representante mo-
ral das leis do mundo introjetado na subjetividade. Porém, as leis do
mundo também foram estabelecidas para que o sujeito – a partir do pro-
cesso civilizador enquanto regulador das normas de conduta em uma
sociedade – pudesse coexistir com outros sujeitos.
Mas como é possível estabelecer essas relações de civilidade,
quando o sujeito é um ser governado por uma dinâmica pulsional?
Há a necessidade de instaurar uma lei. Essa lei é formada por
palavras e por referenciais de organização de uma determinada cultura.
Essa lei, representada pela linguagem, determina uma ordem e um im-
pedimento à liberdade pulsional. É uma lei simbólica que é internalizada
pelos sujeitos. Essa lei é passada através das gerações pelo mito, que
Freud descreve em Totem e Tabu, retomando suas hipóteses sobre o
Complexo de Édipo.
Sobre o Complexo de Édipo, Moreira (2004) afirma que não
é apenas um “complexo nuclear” das neuroses (uma das psicopatolo-
gias investigadas por Freud na psicanálise); mas, um ponto decisivo
na sexualidade humana, pois irá estruturar e organizar como o sujeito
se posicionará em sua vida ou, de forma mais contundente, como este
sujeito vai diferenciar o eu e o outro, o mundo interno e o externo, os
sexos e como se posicionará diante da “angústia de castração”, que em
última instância seria uma barreira social do “incesto”, que tem como
origem o conceito de “amor” pelas figuras materna/paterna. A resolução
do Complexo de Édipo (Freud, 1924) é um texto fundamental para a de-
finição desta estrutura complexa, lembrando que a “castração” também
anuncia a presença irredutível do outro na constituição do sujeito.
Então, podemos afirmar que o momento da construção deste
campo simbólico de funcionamento do psiquismo humano pode ser lo-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

calizado no Complexo de Édipo.


Freud trabalha o conceito de Complexo de Édipo em vários
textos como A interpretação dos sonhos (1900) e em Os Três Ensaios
sobre a Teoria da Sexualidade (1905), e neste descreve as fases do
desenvolvimento da sexualidade: oral, anal, fálica e genital. Ao entrar na
fase fálica, há afetos direcionados geralmente à figura materna, afetos
que inconscientemente querem se satisfazer plenamente. Neste mo-
mento surge uma interdição à satisfação desse desejo, estabelecido
geralmente na própria fala e atitude da figura materna, que se chamou
de lei instaurada pela inscrição no campo simbólico.
Assim, as crianças tanto do sexo feminino quanto do sexo mas-
culino têm esse mesmo primeiro objeto de amor e desejo e, na entrada
na fase fálica, vê surgir uma figura que interdita a sua livre expressão
24
pulsional, identificada pela figura paterna presente no discurso da mãe.
O que antes era uma relação dual passa a sofrer interferência de um
terceiro elemento (outro) e esse terceiro elemento, identificado como
um objeto, será fonte de afetos ambivalentes expressos em sentimen-
tos de amor e ódio, ciúme e medo.
Na psicanálise freudiana estão estabelecidos dois momentos
do complexo de Édipo, o momento em que surge o impedimento, que
Freud chamou de barreira contra o incesto, e um segundo em que no-
vamente o sujeito, tendo que escolher um objeto de amor, pode optar
por um tipo relacionado à figura materna ou paterna. O que acontece
geralmente é que o menino escolhe como objeto de desejo a figura ma-
terna e se identifica com a figura paterna, e a menina se identifica com
a figura materna e toma como objeto de desejo a figura paterna. Mas,
nem sempre isso acontece, as inversões também são comuns, pois es-
tamos falando em lógica do desejo, e não em norma.

O complexo de Édipo tem origem por analogia à relação amo-


rosa tríplice entre pai-mãe-filho presente num Mito clássico publicado
por autoria de Sófocles em sua trilogia Tebana com o título de Édipo
Rei. A história descreve de forma dramática a sequencia de aconteci-
mentos e enganos que levam Édipo a matar seu próprio pai e desposar
a própria mãe. Você pode conhecer a história clássica no site:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000024.pdf

PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

Baseado numa peça grega, sobre o mito de Édipo, Freud


(1897) diz que:

Cada pessoa da plateia foi, um dia, em germe ou na fantasia, exatamente um


Édipo como esse, e cada qual recua, horrorizada, diante da realização de so-
nho aqui transposta para a realidade, com toda a carga de recalcamento que
separa seu estado infantil do seu estado atual (FREUD, 1990, 1897, p. 365).

No artigo Mal-Estar na Cultura (Civilização) e Doença Nervosa


Moderna (1908), Freud articula a relação do complexo de Édipo com a
cultura, localizando o complexo de Édipo na base do processo civilizatório.
Para Costa e Endo (2014), Freud, no artigo supracitado, abor-
da a importância de compreendermos que a sociedade de seu tempo,
25
da forma como estava organizada, para o psicanalista austríaco, se
configurava como a maior produtora da doença nervosa.
Desde muito cedo essa questão do indivíduo com a sociedade
se acha presente, pois aparece no Rascunho N (na carta a W. Fliess,
em 1897). O tema do incesto também aparece na carta, além da hipóte-
se de formação da histeria e da neurose obsessiva, e há um debate so-
bre a tensão social que impõe ao homem o sacrifício de sua liberdade,
com base no mais primitivo conceito regulador, o horror ao incesto, que
condiciona as organizações sociais e limita a vida sexual. A afirmação
de Freud sugere que a base de uma sociedade está fundamentada na
imposição da renúncia ao gozo. Essa interdição funda o laço social,
mas, por outro lado, também incrementa a doença nervosa.
Esses mesmos autores comparam essa concepção freudiana
sobre o processo civilizador e regulador dos corpos humanos com as
concepções do sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990), no sentido
de autocontrole e autorregulação. Assim, o corpo passa a ser condição
de coletividade. O processo civilizador marca o corpo humano e muda
comportamentos (condutas) e sentimentos (afetos e desejos), através
das proibições sociais transformadas em autocontrole e autorrestrições.
Na concepção de Norbert Elias, o processo civilizatório tem
a tendência de “tornar íntimas todas as funções corporais, a encerrá-
-las em enclaves particulares, a coloca-las atrás de portas fechadas”
(ELIAS,1939/1990, p. 188 apud COSTA & ENDO, (2014).
Assim, através do processo civilizador, há uma continuidade
entre a estrutura da personalidade e a estrutura social. A sociedade
transmite valores ao indivíduo, este deve abdicar do gozo sobre cer-
tos objetos pulsionais, assim, a sociedade se inscreve nos indivíduos
(como na alegoria do superego), sob a forma de Lei (regras e controle).
Em Totem e Tabu, artigo de 1913, Freud retoma o Complexo de
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

Édipo comparando estudos antropológicos realizados com aborígenes


australianos que, em sua época, eram considerados povos muito primi-
tivos, pois não possuíam uma organização social como na sociedade
europeia, não tinham instituições, funcionavam baseados na lógica to-
têmica e se dividiam em clãs e tribos.
Para Silva (2013), as relações de um indivíduo com seu totem
organizavam os laços sociais, sobrepondo-se às suas relações con-
sanguíneas. Mesmo nas sociedades chamadas primitivas, temos uma
ordem simbólica (Totem) que organiza as relações sexuais e impõe in-
terditos. Freud localiza que em quase todas as culturas há uma lei pri-
mordial que se configura como a proibição do incesto. A linguagem que
instaura o campo simbólico aparece como um terceiro elemento que diz
que o sujeito tem que inscrever um laço entre um indivíduo e o grupo.
26
Desta forma, o processo civilizatório se torna regulador e man-
tenedor das leis sociais que controlam os desejos do sujeito dentro de
uma cultura. A ideia de linguagem constituinte do sujeito e do laço social
vem sendo trabalhada desde a Interpretação dos sonhos (1900).
Vamos finalizar esse capítulo com algumas reflexões: se a ver-
dadeira identidade do sujeito está na dinâmica pulsional inconsciente e
a sociedade (enquanto função reguladora) está representada no supe-
rego, como o ego se mantém em relação aos laços sociais que constrói
em sua vida, como ele lida com as frustrações desse jogo que envolve
três instâncias e que está balizado pela cultura?
O psicanalista francês Jacques Lacan relê Freud e esmiúça
muitos dos conceitos que foram abordados até aqui. Ele vai retomar a
descoberta freudiana sobre inconsciente e a formação do eu. Lacan re-
pensa a tradução de uma enigmática frase freudiana de edição inglesa,
traduzindo-a do alemão para o francês, que podemos transcrever como:
“onde o id está então o ego deve ser”. Não importando a tradução mais
correta aqui, o sentido é marcar a divisão do sujeito, que Lacan passa a
chamar de sujeito barrado.
Esse conceito de sujeito barrado na teoria lacaniana vai per-
mitir uma maior elucidação sobre as questões humanas. Lacan afirma
algo que Freud já havia sugerido durante a elaboração da psicanálise:
o inconsciente está estruturado como linguagem e, assim, reformula al-
guns conceitos que contribuem para a constituição do sujeito e do laço
social, analisando os discursos. Vamos desenvolver essa concepção no
próximo capítulo.

PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

27
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2017 Banca: IADES Órgão: Fundação Hemocentro de Brasí-
lia-DF Prova: Psicólogo Nível: Superior
De acordo com a psicanálise freudiana, a instância concebida
como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem
inconsciente é conhecida como:
a) pulsão
b) sublimação
c) isso
d) inconsciente
e) eu

QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: Instituto Excelência Órgão: Prefeitura de São
Luís do Piraitinga-SP Prova: Psicólogo Nível: Superior
O elemento central da concepção freudiana da pulsão é seu caráter
eminentemente parcial, especificado por uma fonte pulsional (oral,
anal etc.) e por um alvo (a resolução de uma tensão interna). Sobre
a pulsão, assinale a alternativa CORRETA:
a) Enquanto a sexualidade humana é pulsional e obedece a uma força
constante da libido, o sexo no animal é cíclico e biologicamente teleoló-
gico, visando exclusivamente à reprodução.
b) Para Freud, a sexualidade humana é de modo algum passível de
ser subsumida à genitalidade, através da qual a função reprodutora se
perpetua.
c) Freud, em seus estudos, diz por mais estranho que possa parecer, há
algo na natureza mesma da pulsão sexual que é ‘’favorável à realização
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

da plena satisfação’’.
d) A pulsão de vida realiza a função de preservação do indivíduo, como
a alimentação, ao passo que as pulsões sexuais realizam as funções de
manutenção da espécie apenas.

QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: Consel Concursos Órgão: Prefeitura de Cássia
dos Coqueiros-SP Prova: Psicólogo Nível: Superior
Freud, na primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento
da personalidade. Essa teoria refere-se à existência de três siste-
mas ou instâncias psíquicas:
a) inconsciente, subconsciente e pré-consciente.
b) subconsciente, pré-consciente e consciente.
28
d) inconsciente, subconsciente e consciente.
e) inconsciente, pré-consciente e consciente.

QUESTÃO 4
Ano: 2020 Banca: Instituto UniFil Órgão: Prefeitura de Sertaneja–
PR Prova: Psicólogo Nível: Superior
Sobre o Desenvolvimento da Personalidade, de acordo com a Teo-
ria Psicanalítica de Freud, analise as assertivas e assinale a alter-
nativa correta.
I. Não há nenhuma descontinuidade na vida mental. Cada evento
mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é
determinado pelos fatos que o precederam. 
II. O ego é uma das estruturas da personalidade sendo original-
mente criado pelo id na tentativa de enfrentar a necessidade de
reduzir a tensão e aumentar o prazer. Contudo, para fazer isto, o
ego, por sua vez, tem de controlar ou regular os impulsos do id de
modo que o indivíduo possa buscar soluções menos imediatas e
mais realistas. 
III. O sonho é uma forma de satisfazer desejos que não foram ou
não podem ser realizados durante o dia. Os “resíduos diurnos”
que formam o conteúdo manifesto do sonho servem como estrutu-
ra do conteúdo latente ou dos desejos disfarçados. 
IV. A formação reativa é um mecanismo de defesa, cujo recurso
configura em achar motivos aceitáveis para pensamentos e ações
inaceitáveis. É o processo através do qual uma pessoa apresenta
uma explicação que é ou logicamente consistente ou eticamente
aceitável para uma atitude, ação, ideia ou sentimento que emerge
de outras fontes motivadoras:
a) apenas I e II estão corretas.
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
b) apenas II e IV estão corretas.
c) apenas I, II e III estão corretas.
d) todas estão corretas.

QUESTÃO 5
Ano: 2019 Banca: CCV-UFC Órgão: UFC Prova: Psicólogo Clínico
Nível: Superior
Sobre o processo denominado de Complexo de Édipo, teorizado
pela Psicanálise, é correto afirmar que:
a) Pai e Mãe são funções, e não necessariamente os genitores da criança.
b) A teoria do Édipo foi abandonada por Freud ainda no início da Psica-
nálise.
c) O Pai cria o vínculo com a criança a partir de sua função biológica de
29
genitor.
d) O Édipo só acontece nos homens, as mulheres passam pelo Com-
plexo de Electra.
e) Quando a criança se distancia naturalmente da Mãe, a função pater-
na não precisa existir.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

O sujeito para a psicanálise é dividido, e não pleno de verdade. Basea-


do nesta concepção e no que você estudou até aqui, como você poderia
definir o sujeito?

TREINO INÉDITO

De acordo com Santos (2013), desde a década de 1890, Freud já dava


importância à comunicação e à linguagem para a constituição do ser
humano e a construção do laço social. Desta forma, para o ser humano
é imprescindível a presença:
a) Da sexualidade
b) Do inconsciente
c) Do ego
d) Da consciência
e) Do outro

NA MÍDIA

A Pandemia, o vírus e a virada do mundo


Por: Marcos Antonio Ribeiro Morais
O psicanalista reflete, a partir da situação desnorteante que se desen-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

cadeou no início do ano devido à pandemia vinculada à Covid-19, sobre


o sofrimento humano na atualidade, que já estava virado do avesso de-
vido às situações precárias que vimos enfrentando em nossa sociedade
como crises na saúde, na política, na economia e nas relações sociais.
Para o autor desta matéria: “Antes mesmo que irrompesse a atual pan-
demia viral, já estávamos arranjados e inscritos num modo de subje-
tividade e laço social que sinalizava importantes questões acerca do
mal-estar e sofrimento psíquico do sujeito na atualidade. Questões es-
sas articuladas em torno do vazio e da falta constitutiva, que inevitavel-
mente faz comparecer o sujeito desejante. Mas que também podem ser
traduzidas em diferentes formas de sofrimentos, desamparo, alteração
do humor, pânico, paranoia, ansiedade, compulsões, tédio e depressão,
entre outros”.
30
Ele analisa essa crise na existência e a relação do sujeito com o ou-
tro, que já tinha a ver com os mal-entendidos, mas que se percebe em
posturas frente ao outro marcadas por ideologias, intolerâncias, discur-
sos negacionistas ou fundamentalistas. E defende que o sujeito entrou
numa nova ordem diante do Coronavírus, fazendo o mundo novamente
virar num instante, atribuindo à música de Chico Buarque, exigindo que
nos adaptássemos a novos espaços, novas formas de amar, de convi-
ver e de trabalhar imediatamente.
Faz constatar aos psicanalistas os ensinamentos freudianos: “Nosso
próprio corpo condenado a decadência; o mundo externo, com suas
forças de destruição esmagadoras e impiedosas e nossos relaciona-
mentos com os outros” (Freud, 1980, p. 95).
A matéria vai além e questiona o que o psicanalista pode fazer diante
dessa nova realidade, desse dito “novo normal”? Dentro do discurso
psicanalista de Lacan, ele aponta para uma prática possível.

Fonte: Jornal Opção


Data de publicação: 16/06/2020
Site: https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/a-pan-
demia-o-virus-e-a-virada-do-mundo-261665/

NA PRÁTICA

A psicanálise freudiana surgiu a partir dos estudos dos sintomas histé-


ricos, sendo uma das principais pacientes de Freud aquela que ficou
conhecida como Dora, em seu artigo: Fragmento da análise de um caso
de histeria, publicado em 1905. O tratamento desta paciente foi curto e
considerado de certa forma fracassado pelo próprio analista, pois este
admite alguns equívocos. Psicanalistas apontam equívocos com rela-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
ção às interpretações precipitadas sobre os reais desejos da paciente.
Freud, na época do atendimento de Dora (Ida Bauer), estava tentando
comprovar suas teorias sobre a interpretação dos sonhos, os mecanis-
mos de defesa e sobre a teoria da sexualidade. O caso apareceu como
uma forma de comprovar científica e clinicamente suas descobertas por
meio da associação livre e justificando o abandono da catarse e da hip-
nose como técnicas de tratamento.
Tomar o caso Dora para pensar o atendimento clínico da paciente his-
térica na prática é muito proveitoso e, por isso, uma leitura essencial. A
paciente traz em poucos meses dois sonhos que Freud interpretou. Ela
apresentava-se como uma jovem agradável e inteligente, mas também
diversos sintomas corporais. Em seus relatos, há o questionamento so-
bre o desejo feminino e o enigma psicanalítico: o que quer uma mulher?
31
Além de servir para a discussão sobre o Complexo de Édipo no caso
feminino.
Descrevendo o caso clínico, em resumo, a paciente apresentava: enu-
rese noturna, cansaço por esforço físico, dispneia, enxaqueca, tosse
nervosa, afonia, repugnância, alucinação sensorial, rouquidão, apendi-
cite e paralisia de membro. Ou seja, o corpo era o palco onde sua neu-
rose ganhava expressão, onde percebemos claramente seu sofrimento
em vir a ser mulher.
Seus sintomas corporais são produzidos desde a infância em algumas
identificações com os sintomas da doença paterna (ele tinha sífilis, ad-
quirida antes do casamento). Ela sofre por excitação de ordem sexual e
identificação com a figura paterna.
A paciente é levada ao consultório pela família, pois apresenta uma
alteração de caráter, relacionada ao relacionamento dos pais dela com
um outro casal. A história idílica e amorosa desta paciente gira em tor-
no desses dois casais: sua mãe e seu pai e o Sr. e a Sra. K. Podemos
considerar que Freud precipitou-se ao interpretar a excitação sexual de
Dora com relação ao senhor K. Por este, ela apresenta uma certa re-
pugnância, mas uma afeição bastante particular pela senhora K, que é
a amante de seu pai. Ao invés de se dedicar aos afazeres domésticos,
como exigia a sua mãe, a paciente gostava das relações sociais e de
atividades voltadas mais à intelectualidade, como a Sra. K.
Apesar do fracasso de Freud no tratamento de Ida (Dora), a descrição
do caso é muito rica em termos de correlação com os fundamentos da
teoria psicanalítica que ele criou, o que nos leva a refletir sobre nossa
prática quando nos encontramos diante de pacientes que apresentam
esses sintomas conversivos, riqueza de relatos e de material incons-
ciente, de modo que devemos privilegiar a releitura deste texto, con-
siderado até hoje como um dos mais importantes na obra freudiana.
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

Podemos tentar reconhecer o funcionamento do Complexo de Édipo e


como a relação com o outro pode estabelecer laços sociais e sofrimento
psíquico para um sujeito.

PARA SABER MAIS

Para ampliar seus conhecimentos no tema psicanálise e laço social,


sugerimos a leitura do livro:
COSTA-MOURA, F. (2009) Psicanálise e laço social. Rio de Janeiro:
7 Letras

32
SUJEITO DISCURSOS,
GOZO & LAÇO SOCIAL

Podemos afirmar, a partir do que aprendemos até aqui, que


o psiquismo humano é bastante complexo, já que o ser humano é for-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
mado por um corpo biológico (anatomofisiológico), no qual podem ser PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

identificados processos fisico-químicos atuando o tempo todo na ma-


nutenção da vida. Ainda assim, o sujeito não se resume a esse corpo
materializado, mas também é um ser constituído pela linguagem, uma
linguagem inigualável em comparação com as demais espécies vivas,
apresentando uma variedade infinita de significantes, pois a língua está
sempre em transformação. Uma linguagem que é aprendida na rela-
ção com o outro, e com as regras de uma determinada cultura. Ela é
responsável pelas representações e, junto com a capacidade de nosso
cérebro, a memória, por manter nossa história pessoal e cultural.
A psicanálise criada por Freud explica alguns determinantes
que levam à formação do sujeito e do laço social. Vamos ver agora
alguns destes conceitos à luz da releitura freudiana feita por Lacan.
33
Partimos da análise dos efeitos da linguagem no corpo correlacionadas
à escrita, por exemplo:

[...] o sujeito contemporâneo vem adotando diversas formas de escrita para


encontrar, na pluralidade crescente de significantes, a especificidade de seu
desejo e um sentido para seu gozo. Desta forma, tecemos considerações so-
bre a escrita no corpo, tão frequentemente encontrada na forma de tatuagens
e cortes, como maneiras possíveis e singulares de enlaçamento do sujeito ao
Outro, marcando uma forma possível de estabelecimento de laço social [...]
(MANSO; CALDAS, 2013, p. 110)

Apesar de haver diferenças entre a fala e a escrita, Lacan foca


na representação significante do sujeito. Em relação à linguagem é a
própria essência de fala do sujeito; no entanto, ela remete à pulsão que
está a serviço do gozo. Lacan aponta no Seminário 20 que esse signi-
ficante tem duas vertentes: o simbólico, que presta-se ao laço social,
e o campo do real, que é movido pelo inconsciente. Nesse sentido, o
significante é a causa do gozo (MANSO; CALDAS, 2013, p. 110).
Desde os primórdios dos estudos de Freud, o inconsciente tem
ligação com o conceito de corpo, representado pelos sintomas da neuro-
se e veiculando as formações do inconsciente, porém, Lacan avança nos
estudos sobre essa correlação, pois o inconsciente é parte censurada
de uma história, que já está escrita no sintoma, no estilo de vida. Lacan,
então, trabalha o conteúdo significante que envolve e liberta um sentido
aprisionado, mas ele reformula o conceito de real no Seminário 17.
De acordo com o discurso lacaniano, a dimensão do corpo pos-
sui três aspectos no campo da linguagem corporal: o corpo que goza,
fora da linguagem; o corpo do outro que, por meio da realidade social,
goza através da linguagem e o corpo do semelhante que não transita
pela representação sexual e só tem a função de regular as parcerias.
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

Na atualidade, o corpo tem sido tomado como um objeto de


desejo não só da ciência, como do sujeito. A reação psicossomática se
circunscreve neste espaço, como por exemplo a Síndrome do Pânico,
um sujeito que tem medo do seu corpo ser tomado pelo medo e nesse
estranhamento do que é familiar é onde mora a angústia, uma falta que
ela mesma anuncia.
Para a psicanálise, o corpo alimenta um ideal narcisista, como
no caso das cirurgias plásticas, numa tentativa de negar uma falta na-
tural de um corpo desejante, um ideal narcisista que vai de encontro à
nostalgia de integrar imagem e natureza como parte da mesma unida-
de, fato que retoma novamente ao laço social. A figura feminina, nesse
sentido, é um símbolo dessa incompletude anunciada no corpo, o peri-
go reside na eterna insatisfação que, agregada aos valores capitalistas,

34
inflige as exigências pulsionais e o supereu entra em um estado de ciclo
vicioso.
E tudo que envolve o corpo tem sua representatividade sin-
gular, num contexto cultural e sofre mutações conforme o laço social.
Um exemplo clássico é a tatuagem, um significante que poderia ser
uma tentativa de garantir uma escrita indelével, em tempos volúveis,
em que nada é estável, segundo Bauman (MANSO; CALDAS, 2013).
Ela demarca a unidade, dentro da diversidade e convoca o laço social
por meio da escrita, pois o significado está no olhar de quem lê, nesse
sentido, a tatuagem se aproxima do sintoma. Esse corpo é um corpo
social e também político.

Um jovem deu um exemplo da tatuagem conectada ao sintoma em sua deci-


fração ao relatar: “Minha primeira tatuagem foi a de um tubarão porque é um
animal solitário, que se vira sozinho, é guerreiro. Isso dizia muito de mim.”
Afirmação subjetiva que podemos revirar: solitário como todo sujeito, recebo
do Outro minha imagem invertida e a ela respondo sintomático tomando-a
no plano de uma idealização: da agressividade especular ao animal guer-
reiro; da solidão à autonomia daquele que se vira sozinho; do dizer autista
à tatuagem mais pública no meio do peito. Em outro caso, uma jovem e seu
parceiro tatuaram a palavra ‘família’ em caracteres orientais na promessa
de vir a construir uma. Ou ainda outro sujeito que se tatuou para marcar
para seus pais sua autonomia subjetiva, tatuando em seu corpo uma palavra:
‘determinação’. Além do texto herdado de seus pais, passou a escrever seu
próprio texto. Mas por que no corpo? Para nunca esquecer, pois se corre o
risco de não deixar vestígios, apagando-se os rastos na memória (MANSO;
CALDAS, 2013, p. 122).

No entendimento de Lacan sobre o Ideal do Eu que é Ideal do


Outro - I (A), a tatuagem serve bem a esse serviço, considerando que a
expressão de Ideal do Outro carrega uma identificação desse olhar do
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
Outro na direção do significante.
Considerando as questões abordadas sobre a tatuagem e as
cirurgias plásticas, há uma distinção sobre o Ideal do Outro e o Supe-
reu, o primeiro está a serviço da produção do sentido e ao desejo, e
ligado ao princípio do prazer. A inscrição da letra na pele está a serviço
da decifração e do sujeito, contribuindo para a construção do laço social
e da psique humana, o segundo está a serviço direto da pulsão e do
gozo e a escrita na pele, significante, coloca a margem para a pulsão,
fronteira para o gozo. Assim, o corpo, para Lacan, é um espaço de rein-
serção social, de reconstrução psíquica.

35
LACAN: O SUJEITO E O LAÇO SOCIAL

Quem nunca ouviu a frase: o inconsciente é estruturado como


linguagem? Ela foi proferida por Lacan (1964), retomando os estudos psi-
canalíticos de Freud para delimitar o objeto principal da psicanálise e seu
distanciamento do campo da Psicologia, afirmando o inconsciente (e a
linguagem), e não o eu (ego), como o lugar do sujeito na psicanálise.
O eu ou sujeito tanto para Freud quanto para Lacan não é total
ou absoluto como o é para Descartes. Ele é dividido, barrado, atrope-
lado por outro sujeito que lhe é estranho na sua consciência, e que se
caracteriza por uma lacuna, por um lugar sem sentido, sem reconheci-
mento. Lacan vai denominar esse lugar lacunar no próprio discurso do
sujeito como o lugar do Outro (com letra maiúscula ou o grande Outro),
do simbólico, onde se situa a cadeia significante e onde o sujeito apare-
ce. O que Lacan chama de outro em minúsculo são os outros sujeitos,
indivíduos, semelhantes, segundo Garcia-Roza (2013).
Pensando no aparelho psíquico descrito por Freud (Id, Ego e
Superego), o Outro não é uma instância psíquica, mas é a própria or-
dem simbólica constituída pela linguagem e composta por elementos
significantes formadores do inconsciente. O Ego, então, é uma imagem
que o sujeito tem de si mesmo, uma representação, e se manifesta
como defesa e produz desconhecimento. O eu não deve se confundir
com o ego, que é um termo verbal que se refere ao outro na materiali-
zação do discurso, enquanto o ego aparece anteriormente ao discurso
no plano imaginário.
Lacan descreveu a concepção do eu através de uma alegoria
que denominou estágio do espelho, uma fase entre 6 a 18 meses de
idade em que a criança forma uma representação de sua unidade cor-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

poral a partir da identificação da imagem do outro. Na alegoria criada


por Lacan, imagina-se uma criança diante do espelho, que começa a
representar mentalmente uma imagem para si mesmo (primeiro esboço
do ego), uma demarcação dos limites do seu próprio corpo, uma ima-
gem gestáltica. Lacan diz que esse Ego é especular e que só se cons-
tituirá como sujeito quando este passar da representação imaginária ao
campo simbólico através da linguagem. O eu especular corresponde ao
que Freud denominou narcisismo primário.
Para Lacan, a relação imaginária é dual, uma relação entre o
interior e o exterior. Segundo Garcia-Roza (2013), por não haver ainda
a mediação da linguagem, o ser procura a realidade de si na imagem
do outro, com o qual vai se identificar ou alienar, esse outro primeiro é
o lugar da mãe, que Lacan delimita através do a minúsculo. Vale deixar
36
claro que o lugar materno não deve ser identificado com a mãe real e
que as fases não são fixas, pois a criança é falada pelo outro muito an-
tes de apreender a linguagem: ele é nomeado, é paparicado, acariciado
com palavras mesmo dentro da barriga da mãe.
Assim, para Lacan, o sujeito tem 3 registros: o imaginário, o
simbólico e o real. Sendo o imaginário essa fase de idealização/aliena-
ção, o simbólico é determinado pela linguagem e pela cultura, é a Lei
(ordem), o que distingue, por fim, o ser humano do resto dos animais e
que funda o inconsciente; e o real é tudo o que é barrado, tudo que é
impossível de ser definido, pois não tem expressão simbólica, apesar
de poder ser apreendido por intermediação do simbólico.
Mas, para Lacan, o que promove essa relação dual do imagi-
nário é a indistinção entre si mesmo e o outro, esse corpo no processo
de distinção de outro corpo não é o biológico, é um corpo imaginário,
demarcado pelas “inscrições maternas”; por isso, Lacan afirma que o
desejo na relação imaginária é o desejo do outro. O que rompe a re-
lação dual também é a inscrição materna através da linguagem, o in-
gresso na cultura, na ordem das trocas simbólicas, a entrada do pai em
cena, ou seja, entrada de um terceiro elemento na relação dual, que
entendemos como o momento do Édipo.
O momento do Édipo na psicanálise lacaniana é justamente
um ponto em que ocorre a passagem do imaginário para o simbólico
e a divisão (clivagem) dos sistemas Inconsciente X Pré-consciente/
Consciente. Retomando a questão antropológica trabalhada por Freud,
a passagem da instância natural à cultural é marcada por um interdito.
Garcia-Roza (2013) cita Levi Strauss, afirmando que o natural é o uni-
versal e que o cultural são os costumes, as técnicas, as instituições,
sendo a passagem do indivíduo do mundo natural para o cultural situa-
da universalmente no campo social, na proibição do incesto.
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
O interdito marcado pela proibição do incesto está na barreira
à relação de consanguinidade e defesa da relação de aliança. O com-
plexo de Édipo vai, portanto, constituir o homem (indivíduo) como um
ser social sob: do incesto em relação à individuação daquilo que é um
constituinte social e do Édipo uma interdição ao desejo. Lacan vai fazer
essa diferença de Complexo de Édipo e Lei instaurada a partir do Com-
plexo de Édipo.
Percebendo a complexidade da proposta freudiana sobre o
Complexo de Édipo, principalmente levando em consideração as simi-
laridades e as diferenças demarcadas no fenômeno entre os meninos e
as meninas, Lacan vai propor três tempos para o Complexo de Édipo: o
primeiro marcado pela relação dual com a mãe (imaginário); o segundo
pela entrada do pai em cena (simbólico) e o terceiro caracterizado por
37
uma identificação com o pai, iniciando o declínio do Édipo.
Assim como a mãe, não estamos falando do pai real, o pai na
fase da relação dual (imaginária) funciona como um espelho, como a
mãe. No primeiro tempo do Édipo, a relação da criança – mãe é mar-
cada pela falta (falo), na incompletude fundamental do sujeito, que o
joga em uma busca infindável, e movimenta o desejo. Nas sociedades
ocidentais, o falo representa poder, ninguém o possui. O falo é um sím-
bolo para preencher o vazio e organizar as relações entre os sexos. O
pênis é o eleito, para homens e mulheres, como símbolo que preenche
a falta, ou qualquer outra coisa que preencha a falta no nível imaginário.
No primeiro tempo do Édipo, a criança quer se colocar enquanto objeto
fálico, enquanto desejo da mãe.
Mas o falo tem uma dupla concepção, segundo Garcia-Roza
(2013). Ele pode ser vivido pelo sujeito como substituição de um objeto
que sirva imaginariamente para tamponar a falta, mas também é o signi-
ficante (dentro da teoria lacaniana) articulador do Édipo, e esse falo não
pode ser representado pela linguagem, ele estrutura o Édipo.
O pai entra na relação dual da mãe – criança para demarcar o
segundo momento do Édipo, com o advento do simbólico, e vem inter-
vir, privar tanto a criança quanto a mãe. Ele é o pai poderoso, violento e
ciumento do Totem e Tabu, que quer ter todas as fêmeas apenas para
si. Lacan define esse pai totêmico como duplamente privador, pois priva
a criança de se colocar enquanto objeto do desejo materno e a mãe de
seu objeto fálico.
Essa privação permite que a criança supere a perfeição narcí-
sica, segundo a Lei do Pai (metáfora paterna, Nome do Pai) presente
no discurso da mãe que o reconhece como homem e também como
representante da Lei (reguladora do desejo e da civilização). O desejo é
nomeado, simbolizado, e ao fazer isso, o Nome do Pai produz ao mes-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

mo tempo a clivagem subjetiva e a castração, o recalque do desejo de


união com a mãe. A castração é simbólica, pois não se refere ao pênis,
mas ao falo (imaginário). A mãe deixa de ser para a criança o falo, e o
pai (Lei) é posto nesse lugar, pois interdita e desloca o desejo da mãe.
Esse pai-lei é o pai simbólico.
É através da castração simbólica que a criança pode ser cons-
tituída como Eu e, neste momento, ela passa ao terceiro tempo do Édi-
po. A castração passa a ser tripla: da criança, da mãe e do pai, que
passa a ser visto não mais como Lei, mas como o representante dela. A
Lei não pode mais ser representada singularmente e a identificação da
criança com o eu ideal (perfeição narcísica) passa a ser com o ideal do
eu (na identificação com o pai).
A interiorização da lei (lembrando da 2ª tópica freudiana) pos-
38
sibilita que a criança se constitua como sujeito. É através da linguagem
que a resolução do Édipo vai acontecer, pois a linguagem veicula uma
herança ancestral que pode romper com o estado natural e fazer in-
gressar a ordem simbólica familiar, estabelecendo limites e articulações
(laços) sociais.
É a linguagem que vai ordenar (aparelhar) o gozo. E a partir
disso, Lacan vai denominar quatro formas de organizar o gozo pela lin-
guagem, o que ficou conhecido como os quatro discursos.
Afirma Coelho (2006) que há uma articulação inovadora entre
o campo da linguagem e o campo do gozo. O gozo é uma forma de
tentar reproduzir ou restaurar a satisfação (pulsional) com relação aos
substitutos dos objetos de desejo (afetivos), através do discurso. Lacan
nos diz que é o discurso que faz laço, e que a experiência analítica tam-
bém é a experiência do discurso. No avesso da psicanálise (seminário
17), Lacan afirma que o motor da cura pela psicanálise é a transferência
e o vínculo analisante – analista. Vamos esmiuçar a explicação sobre os
discursos propostos no subtítulo a seguir.

O AVESSO DA PSICANÁLISE, O LAÇO SOCIAL E OS DISCURSOS

Conforme apontamos, Jacques Lacan, no Seminário 17, intitu-


lado O Avesso da Psicanálise, apresenta as formas de vínculo social a
partir da definição de quatro discursos que pertencem aos: mestre, uni-
versitário, histérica e analista. A teoria dos discursos instaura um novo
modo de pensar as estruturas clínicas e o vínculo social ao articular os
campos da linguagem e do gozo, o sujeito e o saber inconsciente.
Para Lacan, os discursos são modos de ordenação do gozo por
meio da linguagem (Cultura). Ainda em Coelho (2013), podemos con-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
siderar que os laços sociais são tecidos e estruturados pela linguagem
e denominados de discursos. Os quatro discursos que foram propostos
por Lacan articulando linguagem e gozo têm como base o que Freud
formulou em 1930 sobre os quatro tópicos impossíveis de realização
para o sujeito: governar, educar, analisar e fazer desejar (este último
um adendo lacaniano), enquanto fontes de sofrimento do homem diante
da sociedade. Essas quatro formas possíveis de vínculo social entre os
sujeitos, Lacan denominou de discursos: do mestre, do universitário,
da histérica e do analista e, posteriormente, o quinto discurso que foi
formulado como o discurso do capitalista.
Os discursos foram estruturados por Lacan em fórmulas sim-
ples chamados de matemas. Em cada matema foram determinados
quatro lugares, a saber, os lugares de: agente, outro, produção e verda-
39
de. O agente representa o agente do discurso, aquele que dá o tom da
conversa, aquele que fala, enquanto o outro é aquele a quem o agente
se dirige. Nessa relação discursiva, o agente emerge enquanto sujeito e
o outro precisa dele para se constituir. A produção é aquilo que resta no
discurso, o efeito do discurso, aquilo que o discurso produziu. A verdade
é o que sustenta o discurso, mas é sempre um semi-dito, pois não pode
ser dita de forma total, há uma interdição entre a produção e a verdade.
Os discursos representam uma estrutura, em que os lugares são fixos.
Lacan também definiu os ocupantes de cada lugar que, a partir
de vetores, circulam em sentido horário ou anti-horário de acordo com
determinado tipo de discurso. Ou seja, em cada um dos discursos, cada
lugar é ocupado por um termo, representado por símbolos que repre-
sentam: o sujeito (S ou ṩ), o objeto causa do desejo (a), o significante
mestre (S1) e o saber (S2).Q
Os termos circulam na estrutura do discurso, trocando os luga-
res de acordo com cada tipo de discurso: mestre, universitário, histérica,
o analista e o capitalista. Conforme proposto por Lacan no Seminário 17.
Segundo Coelho (2013) iniciando pelo discurso do mestre, se
obtém os outros 3 discursos, diferenciando cada estrutura discursiva
pela posição dos termos. Estes discursos segundo Lacan sustentam
o mundo social. Os termos do discurso aparecem em uma sequência
fixa, porém se alternam em termos de posições estruturais. O signifi-
cante mestre (S1) representa o sujeito atravessado/determinado pela
ação significante, fazendo assim a articulação da cadeia significante,
mas sendo ele próprio vazio de significação. O saber (S2) é um sig-
nificante ante o qual o S1 representa o sujeito, e com ele estrutura a
cadeia mínima de significação. Para a psicanálise é um saber que não
se sabe, inconsciente, que vai se articular com o objeto a causa do de-
sejo, enquanto o ṩ é o sujeito marcado pela barra, que deixa em aberto
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

a possibilidade de vir a ser, esvaziado de substância.


Lacan baseia a elaboração dos discursos na obra de Hegel, A
Fenomenologia do Espírito (1807) e, a partir do reconhecimento e da
análise da dialética do senhor e do escravo, propõe refletir sobre a ideia
hegeliana de que o escravo se libertará do trabalho, ou seja, que renun-
ciando ao gozo por medo da morte, realizará a sua liberdade. Lacan
observa nisso um engodo, pois afirma que “o gozo é fácil para o escravo
e deixará o trabalho na servidão” (Lacan, 1998, p. 825).
Lacan diz no seminário 17 que: “Não se esperou, para ver isso,
que o discurso do mestre tivesse se desenvolvido plenamente para
mostrar sua clave no discurso do capitalista, em sua curiosa copulação
com a ciência” (1969-1970/1998, p.103).
Assim, para Coelho (2006), o discurso do capitalista que ele
40
faz menção no Seminário 17 (mas que vai apresentar melhor apenas
no seminário 19), não é exatamente outro discurso, mas a forma mais
contemporânea do discurso do Mestre, pois houve um deslizamento do
discurso do mestre para o discurso do capitalista a partir dos avanços
das tecnologias e da ciência, sendo que no discurso do capitalista não
há relação entre o agente e o outro, não há laço social, não há vínculo
entre o capitalista e o proletário. A única produção entre eles é o gozo
(...o gozo é fácil para o escravo). A verdade do mestre é que ele é cas-
trado, um sujeito dividido.
Podemos dizer que se produz entre eles um laço associal, pois
ignora a barreira ao gozo e a perda imposta pelo processo civilizatório
regulador. O discurso do capitalista, para Lacan, incita o imperativo do
gozo na sociedade de consumo, ou seja, o gozo obtido por meio de ob-
jetos-mercadorias, considerando uma transformação radical do mundo
através do capitalismo.
Os outros discursos também são importantes enquanto alicer-
ces sociais e demonstram o quanto Lacan estava preocupado com o
laço social a partir da análise dos avanços científicos e do contexto
histórico da sua época. No discurso universitário, o saber (S2) ocupa
o lugar de agente (o professor) e o estudante ocupa o lugar do outro,
o produto da universidade é o ṩ (incompleto), que deseja saber mais.
O S1 no lugar da verdade o impulsiona a saber mais, a continuar em
busca da verdade.
O discurso da histérica é de extrema importância para a psica-
nálise, pois remete à sua fundação e à formulação do inconsciente. No
lugar do Mestre, ela tenta colocar o analista e também destituí-lo e, para
Lacan, a histérica mantém a pergunta: o que é a relação sexual, como
sustentá-la? A resposta que Lacan mesmo dá é: a verdade, que está
recalcada. Ao trabalhar o discurso da histérica foi possível abandonar
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
outros meios de intervenção não producentes pela associação livre e
que a interpretação do analista acontece a partir dos atos falhos e dos
sonhos.
Os discursos representam modos de uso da linguagem como
vínculo social, pois se funda na estrutura significante. É a articulação
da cadeia significante que produz o discurso, e que ordena e regula um
vínculo social entre os sujeitos.
Em relação à causação do sujeito, Lacan aponta tanto a aliena-
ção como a separação, que permitem – pela diversidade cultural – a ex-
tração da unidade do sujeito. Tanto cifrar, quanto decifrar estão ligados
ao gozo pulsional do sujeito. A escrita deixa rastos dos pensamentos,
dos vestígios do percurso da pulsão e podem representar um laço social
e compartilhado com o mundo, pois há o desejo de que alguém o leia;
41
nesse sentido, há um domínio sobre o real, e de certo modo auxilia na
elaboração do conteúdo traumático.
O significante então ganha significados a partir do leitor, uma
leitura do que se ouve ou se vê desse significante. Exemplos desse laço
social é observar que a obra sempre escapa do autor no encontro com
o Outro, seja por meio da arte, da pintura, da literatura, da poesia, da
tatuagem marcada na pele, o momento em que o significante se encon-
tra com a leitura do significado que é do Outro. Essas representações
revelam temas singulares que podem ser analisados.

INTRODUÇÃO À LEITURA DE LACAN

Se propor à introdução da leitura lacaniana significa percorrer


adentro na história de Lacan, que nasceu em 1901, na França, rompeu
com a comunidade psicanalítica francesa e, em 1964, fundou a “Esco-
la freudiana de Paris”, que tornou-se a instituição mais importante da
França. Intelectual poderoso no país, lançou os seminários e as Confe-
rências, fundamentados com firmeza, principalmente após a recompi-
lação de seus artigos, denominados “Escritos” (1966) (MILLER, 2016).
Lacan está ligado, na atualidade, aos ensinamentos de Freud.
Ele não reinventou a psicanálise, mas começou os seus ensinamentos
sob o signo de um retorno a Freud, formulando, a propósito, uma per-
gunta crítica sobre a psicanálise:

[...] Quais são suas condições de possibilidade? E qual foi a resposta? A


psicanálise só é possível se, e somente se, o inconsciente está estruturado
como uma linguagem. O que se chama o ensino de Lacan é o desenvolvi-
mento dessa hipótese até suas últimas consequências (MILLER, 2016, p. 5).
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

O fato é que entender o inconsciente sob a ótica lacaniana sig-


nifica compreender a sua estrutura, a linguagem, um deciframento dos
mecanismos primários do inconsciente (condensação e deslocamento),
que têm como protótipos a metáfora e a metonímia. Essas questões são
evidências praticamente indiscutíveis no campo analítico. E a pergunta
central se concentra em como poderiam essa ferramenta da associação
livre e o dispositivo da cura psicanalítica afetarem o campo real da sinto-
mática? E de Lacan, a tese parte do princípio de que o axioma freudiano
é um inconsciente estruturado como uma linguagem que é lida pelo laço
social e essa estruturação do inconsciente seria a própria experiência
analítica e o analista seria parte desse conceito de inconsciente propos-
to por Lacan.
Lacan lança luz à epistemologia crítica, pois mobiliza ao escre-
42
ver todos os recursos retóricos e homofônicos da linguagem do incons-
ciente, evidenciando a primazia do significante. E a pedra de toque do
inconsciente como linguagem é a distinção entre o real, o simbólico e o
imaginário (MILLER, 2016).
Entre 1953 e 1963, os estudos de Lacan foram voltados para o
ensino do seminário de textos freudianos e a presença da análise das
estruturas de linguagem é um fato, inclusive de compreender nesse pe-
ríodo a dimensão da experiência simbólica, introduzindo a álgebra, que
ele chamará de organon.
A partir de 1964 até 1974, Lacan, apesar de comentar os textos
freudianos, se utiliza dos termos da elaboração de sua tese como cen-
tral aos ensinamentos.
Depois de 1974, Lacan fundamenta literalmente seus ensina-
mentos em sua tese, especialmente a questão do real – simbólico –
imaginário, onde o real se converteu na categoria central.
E Lacan entra nos estudos introdutórios da psicanálise com o
estágio do espelho, que corresponde à análise comportamental e sua
descrição depende tanto da psicologia animal, quanto da fisiologia hu-
mana e resume-se ao interesse lúdico na primeira infância, entre os seis
e os dezoito meses (MILLER, 2016). Miller (2016) aponta para a pro-
blemática tríade entre a necessidade – o desejo – e a demanda; desse
modo, a pulsão se expressa sob a forma de um representante.
O primeiro processo pulsional da criança surge de um despra-
zer ocasionado pelo estado de tensão devido à fonte de excitação da
pulsão, é a necessidade, um processo orgânico.

Esta experiência primeira de satisfação deixa um traço mnésico ao nível do


aparelho psíquico, na medida em que a satisfação, como tal, irá encontrar-se
doravante diretamente ligada à imagem/percepção do objeto que proporcio-
nou esta satisfação. É este traço mnésico que constitui a representação do PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

processo pulsional para a criança (DOR, 1992, p. 140).

Quando o estado pulsional reaparecer, a memória será reativa-


da. Em um segundo momento não é mais uma necessidade, a dimen-
são do desejo se torna uma realidade psíquica. A pulsão que mobiliza
o sujeito em direção ao objeto pulsional. O desejo não tem objeto na
realidade (DOR, 1992).
A criança, de certo modo, tende a se satisfazer de forma aluci-
natória e somente com a experiência que a imagem mnésica da satisfa-
ção será distinta da satisfação real.
Falar do desejo na psicanálise significa processar um reinves-
timento psíquico, uma ligação mnésica de satisfação e excitação pulsio-
nal. A reaparição da percepção é, de fato, a realização desse desejo, e
43
o total investimento perceptivo, partindo da excitação da necessidade,
leva à realização desse processo de desejo que é dinâmico, e também
antecipa a satisfação alucinatória (DOR, 1992).
A dimensão do desejo tem por via uma realidade psíquica e a
pulsão que mobiliza o sujeito na direção objetal. Lacan analisa a noção
de pulsão através de 4 parâmetros freudianos que definem seu prin-
cípio: fonte, pressão, alvo e objeto e, para ele, a pulsão não se move
satisfeita necessariamente por seu objeto. Em outras palavras, essa
pulsão objetal descobre que não é através do objeto que alcançará a
satisfação (DOR, 1992).
As primeiras manifestações orgânicas traduzem-se por esta-
dos de tensão do corpo. A incapacidade da criança de se auto satisfa-
zer, necessitando do outro. Essas manifestações tomam valor de signo
para o adulto, uma vez que é ele que alivia e decide compreender que
a criança está com necessidades. Nessas manifestações, a criança não
tem intenção de enviar uma mensagem para o outro, mas, em contra-
partida, elas implicam sentido ao outro e isso a coloca no universo de
comunicação. Com a experiência da satisfação, ela deseja a mediação
com o outro.
Se analisarmos profundamente até aqui a introdução dos estu-
dos sobre Lacan, podemos observar que:

[...] o ensino de Lacan começa com a disjunção entre o simbólico e o imagi-


nário. Pode-se dizer, verdadeiramente, que o ensino de Lacan começa quan-
do distingue de forma radical o que ao domínio imaginário e o que pertence
ao domínio simbólico [...] ao mesmo tempo,distingue o eu em sua dimensão
imaginária e o sujeito com o termo simbólico, e esse é também um dos pri-
meiros termos que introduz em Freud, e é também um dos primeiros termos
de sua álgebra (MILLER, 2016, p. 14).
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

Observando a lógica lacaniana, o simbólico é uma noção muito


elaborada, pois possui a vertente da palavra e a vertente da linguagem.
A primeira, para Lacan, possui uma função pacificadora e de identifi-
cação e o sintoma, nessa posição, nada mais é do que não conseguir
dizer a sua palavra e o processo de cura se dá no campo analítico por
meio da simbolização, um processo intersubjetivo de restabelecer a sua
própria história interrompida pelo sintoma, literalmente a vertente da pa-
lavra.
A segunda vertente, da linguagem, é uma linguística simbólica
e estrutural dentro de um campo relacional, ou seja, apesar da relação
com o outro, a linguagem estrutural é da criança mesmo antes da inte-
ração, de modo que ela utiliza formas de linguagem bem elaboradas do
ponto de vista sintático.

44
Lacan elaborou três pontos distintos diante das nuances do
simbólico:
1. o significante atua sobre o significado, criando-o, e é a partir
do sem-sentido do significante que ocorre a significação;
2. conceito de cadeia significante – correlato com a formação do
inconsciente e que o automatismo de repetição veicula uma marca inde-
lével e que o inconsciente provavelmente tem correlação com a memória;
3. a funcionalidade do simbólico estrutural: de forma íntegra,
mostra a relação distinta entre a estrutura simbólica e o sujeito X a rela-
ção imaginária do eu e o outro (da linguagem, do discurso universal, da
biblioteca total de Borges, da verdade, do diálogo, do pacto, do acordo
ou do desacordo, da palavra, cujo inconsciente é o discurso, mas sem-
pre da linguagem) e que possui uma função determinante e de exterio-
ridade para o sujeito (MILLER, 2016). De certo modo, observa-se que o
significante desse Outro está implicado com uma ideia de diversidade
de significações.
E qual seria então a função do psicanalista? Como ele deve
conduzir o grande Outro? Deve-se interpretar a excentricidade desse
simbolismo, desfazendo o sintoma. Essa é a primeira teoria analítica de
Lacan, em seus estudos introdutórios, sucessivamente vieram outros
estudos, delimitando de forma mais precisa o seu objeto.
Lacan desenvolveu uma teoria estrutural lógica e o sujeito não
era um dado inicial, apenas o grande Outro. A estrutura lacaniana cap-
tura o ser vivo que fala e por meio da linguagem também se utiliza do
corpo, porém, essa estrutura escraviza o sujeito, fragmentando-o em
efeitos de significante, como no caso da histeria, a estrutura significante
desvitaliza esse corpo (MILLER, 2016).
Se voltarmos à primeira infância, veremos que Lacan lança
mão do amor para explicar o fundamental, o laço social, antes mesmo PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

da formação da personalidade e da neurose:


[...] O mais importante que se tem para dar é o que não se tem como uma
propriedade, como um bem, e esta é, decerto, a definição lacaniana do amor:
dar o que não se tem. Essa resposta do Outro, a pura resposta do Outro, é
mais importante que a satisfação da necessidade, e é aí precisamente onde
Lacan encontra o princípio da identificação simbólica a partir do significante
da resposta do grande Outro se dá a primeira identificação do sujeito. Acres-
centa-se a isso que é o intervalo entre a necessidade e o amor que explica
aquilo que Freud descobriu no sonho com o nome de “Wunsch” - anseio -, e
que é o desejo (MILLER, 2016, p. 23).

Lacan, em seus seminários, denominou o desejo freudiano de


- Mais, ainda, uma metonimia do desejo, ele não estaria subordinado a
uma lógica, mas suscetível a uma ética, que Lacan formulou em 1950.
45
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: COTEC Órgão: Prefeitura de Turmalina - MG Pro-
va: Psicólogo Nível: Superior
Considere a afirmativa: O inconsciente é estruturado como uma
linguagem. Com base nessa afirmativa, analise as proposições
abaixo e marque a alternativa CORRETA.
a) Essa é uma maneira de expressar a revisão que Lacan fez de um dos
quatro conceitos fundamentais da teoria de Freud.
b) Essa é uma definição original, conforme a teoria de Sigmund Freud.
c) Esse é um conceito determinado por Winnicot, na sua obra “A criança
e o seu mundo”.
d) Essa definição foi largamente difundida por Erich Fromm, a partir da
releitura da obra de Freud.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: CESGRANRIO Órgão: UFC Prova: Psicólogo Clí-
nico Nível: Superior.
“O que chamei de estádio do espelho tem o interesse de manifes-
tar o dinamismo afetivo pelo qual o sujeito se identifica primor-
dialmente com a Gestalt visual de seu próprio corpo”. Lacan, J.
Agressividade em psicanálise. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar,
1995. A teoria lacaniana do estádio do espelho serve, dentre outras
coisas, para pensar os episódios em que a criança se torna agres-
siva. A agressividade entre crianças é explicada, de acordo com
essa referência, pela:
a) emergência da diferença na imagem do outro, já que a imagem do
semelhante coloca em causa sua própria identidade.
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b) falta da referência paterna que regula as relações, sustentada pela


presença de um adulto.
c) estagnação do desenvolvimento nessa fase, fixando a criança em
uma analidade que precisa controlar o semelhante.
d) dependência do olhar do adulto para a sustentação da autoimagem,
sendo a agressividade uma convocação desse olhar.
e) presença de um núcleo psicótico nessa fase do desenvolvimento,
promovendo com o outro relações paranoicas.

QUESTÃO 3
Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: TJ-GO Prova: Psicólogo Nível: Superior
Françoise Dolto, conhecida psicanalista francesa, ressalta em di-
versos livros a importância de dirigir a palavra à criança enquanto
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sujeito de desejo, marcado pela linguagem e, logo, pela lei da cas-
tração. No contexto de separação dos pais, ela recomenda escutar
a criança na perspectiva de:
a) considerá-la membro da família, logo, possuidora dos deveres filiais.
b) sugerir que ela decida com quem deseja ficar, logo, atendendo à sua
condição de sujeito de direitos.
c) obter subsídios para a decisão judicial, logo, orientando a conclusão
das avaliações psicológicas.
d) induzi-la a expressar seus sentimentos, logo, considerando a sepa-
ração entre lei e desejo.
e) considerá-la objeto das leis menoristas, logo, subordinada ao Estado.

QUESTÃO 4
Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: TJ-RJ Prova: Psicologia Nível: Superior
Na conhecida Nota sobre a criança (1969), Lacan afirma que o sin-
toma da criança é capaz de “responder ao que existe de sintomáti-
co na estrutura familiar” e, portanto, se define “como representan-
te da verdade”. Ele aponta, assim, para duas formas de articulação
do sintoma infantil: a primeira, que corresponde à articulação sig-
nificante orientada pela metáfora paterna; e a segunda, que decor-
re da subjetividade da mãe e deixa a criança exposta a todas as
capturas fantasísticas. Assim, pode-se dizer que o sintoma infantil:
a) na primeira articulação, corresponde ao lugar condensador de gozo;
na segunda, permite à criança o acesso à significação fálica.
b) na primeira articulação, está ligado à neurose e à perversão; na se-
gunda, à psicose infantil.
c) na primeira articulação, realiza a presença do objeto mais gozar; na
segunda, deixa uma abertura maior às intervenções do analista.
d) na primeira articulação, representa a verdade do casal familiar; na
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segunda, realiza a presença da criança como objeto a.
e) na primeira articulação, corresponde ao terceiro momento do édipo;
na segunda, ao primeiro momento.

QUESTÃO 5
Ano: 2014 Banca: LEGALLE Órgão: TJ-GO Prova: Psicólogo Nível:
Superior
Segundo a psicanálise, podemos conceber a constituição do eu
(moi) como unidade psíquica, correlativamente à constituição do
esquema corporal no qual a criança se identifica com a imagem
do semelhante. J. Lacan relacionou esse primeiro momento da for-
mação do eu com a experiência narcísica fundamental designada
como:
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a) complexo fraterno
b) estádio do espelho
c) metáfora paterna
d) complexo do desmame
e) dialética fálica

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Jaques Lacan, no seminário 17, o Avesso da Psicanálise publicado em


1970, apresenta quatro discursos que, segundo ele, são os pilares que
sustentam a nossa sociedade. Porém, mais adiante no seminário 19,
ao formalizar os discursos, ele apresenta um quinto formato discursivo,
que ele definiu como sendo o discurso do capitalista. Comente de que
forma ele apresentou e concebeu esse discurso.

TREINO INÉDITO

De acordo com Dor (1992), sobre a sublimação descrita por Freud, o


que Lacan afirma sobre o sentido da satisfação pulsional?
a) A pulsão não seria necessariamente satisfeita por seu objeto.
b) Segundo Freud, a sublimação é um dos destinos da pulsão.
c) A sublimação para Freud satisfaz a pulsão, evitando o recalque.
d) A pulsão é inibida quanto a seu alvo.
e) Lacan concorda com Freud em relação ao sentido da satisfação pul-
sional.

NA MÍDIA

EU + 1 = MUITOS
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Documentário narra a jornada em Saúde Mental voltada para atingidos


pela construção da hidrelétrica de Belo Monte (por Ana Claudia Peres)
A entrevista da jornalista Eliane Brum junto à comunidade de Belo Mon-
te virou projeto social, envolvendo psicólogos, psiquiatras, psicanalis-
tas, a própria jornalista e o documentário. O depoimento do seu João
dizia: “Senhora, é doído. Você constrói tudo pra na hora da velhice di-
zer: ‘Tô sossegado, tenho uma casa, minha família toda estruturada’.
Aí, você abre a mão assim e, xiuuuuu, é igual a uma poça d´água no
meio da areia”.
As pessoas que passaram pela tragédia foram consideradas pelos pro-
fissionais de saúde mental que os atenderam como “refugiados dentro
do próprio país, pessoas expulsas do lar sem direito a decidir sobre seu
destino”.
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Para a psicanalista Ilana Katz, outra idealizadora do projeto, essa foi
uma das experiências mais profundas que já vivenciou. Ela foi a Belo
Monte motivada pela pergunta: “Que nome as pessoas dão para o seu
sofrimento lá?” Podemos ainda perguntar: como se nomeia esse tipo
de sofrimento? Que laço social pode existir nesse espaço onde as pes-
soas se veem desamparadas? Illana ouviu como resposta que, para os
ribeirinhos, o sofrimento tem nome de “cansaço”, “engano”, “traição”,
“perder a casa”, “pescador sem rio”, “monstruosidade”, “buraco”, “es-
quecimento”, “fim”. O desejo dessas pessoas: falar de suas dores e do
que importa para elas, sentirem-se cuidadas. Para cada um dos profis-
sionais, apesar do pouco tempo, era essencial o exercício da escuta.
Apesar da controversa judicial, os relatos falam por si, os discursos so-
bre o sofrimento que viraram testemunhos têm um tom político, de mi-
litância, uma defesa de políticas públicas que descreve a formação de
um laço social: “Se for só eu, nós não vamos fazer nada. Se eu vou te
convidar pra lutar contra alguma coisa, sou eu e mais um, você e mais
um, aí a história segue”, diz um dos refugiados de Belo Monte, que bem
explica o título do documentário e o espírito da Clínica de Cuidado.
Para Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Univer-
sidade de São Paulo (USP), Belo Monte foi um “crime psicossocial”. E
protesta: “Isso é indignante. É a ausência de qualquer consideração
sobre saúde mental. Nosso processo civilizatório não aprendeu nada”.

Fonte: RADIS
Data de Publicação: 01/10/2017
Site: https://radis.ensp.fiocruz.br/index.php/home/reportagem/eu-1-muitos

NA PRÁTICA

PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
Na prática, o terapeuta precisa conhecer as bases e raízes da psicanáli-
se para desenvolver tecnicamente o lado da arte de interpretar proposta
por esta teoria, pois o método da associação livre é ferramenta do pa-
ciente e a arte interpretativa é responsabilidade do terapeuta.
Considerando a questão inicial sobre a prática, Freud considerou o re-
flexo como protótipo e modelo de comportamento. O estímulo é conce-
bido como um fator de produção de energia, dele resulta uma elevação
do potencial, com ruptura do nível ótimo em que deve permanecer o
organismo. O excesso responsável pelo desequilíbrio terá que ser es-
coado através de resposta adequada. A função da resposta será de
descarga, produzindo o escoamento do excesso de energia, cessa o
estado de desconforto ou de desprazer, recompondo-se a condição de
equilíbrio (princípio da constância).
49
De acordo com Freud, os estímulos responsáveis por mais acréscimo
de tensão não são os que procedem do meio exterior, são os que se
originam no próprio interior do organismo (fome, sede, sexo). Uma des-
carga imediata, tal como no caso do reflexo é impossível.
A ação do terapeuta está na responsabilidade diretiva de mobilizar con-
teúdos inconscientes e traumáticos por meio do método da associação
livre, em alguns casos, por exemplo, de conteúdo traumático e de forte
energia pulsional, podem surgir no setting terapêutico por meio da ca-
tarse, por exemplo, que ocorre uma forte descarga libidinal sem controle
e de conteúdo inconsciente, pois o princípio básico, o verdadeiro signi-
ficado da teoria freudiana é o princípio do desprazer, este movimenta
todo o aparelho mental.
Entendido o básico, o terapeuta, na prática, deve considerar o tripé da
psicanálise: conhecimento – prática – análise, ou seja, um terapeuta
qualificado se preocupa e estuda com afinco a teoria psicanalítica e
suas técnicas, exerce a função de terapeuta na prática lidando com ca-
sos clínicos reais e, por fim, jamais se desgarra de sua própria análise,
condição indispensável para analisar o outro.

PARA SABER MAIS



Filme sobre o assunto: Freud, além da alma (Jean-Paul Sartre, 1962)

Peça de teatro: Antígona (TV Cultura, 2011)

Acesse os links: https://vimeo.com/142402784 e https://www.youtube.


com/watch?v=v5rhWLWZlVY
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50
FUNDAMENTOS & TEORIAS
DA PSICANÁLISE

ESTUDOS INICIAIS SOBRE A PSICANÁLISE


PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
A psicanálise nasceu no século XX, e a Interpretação de So-
nhos (1900) foi uma dos mais célebres tratados de Freud. A princípio,
a teoria psicanalítica se ocupava de descrever e analisar o objeto que
eram as doenças nervosas funcionais, e a histeria era, de fato, um enig-
ma do protótipo de toda a espécie; porém, na análise ainda circulava
apenas a neurobiologia e não havia um estudioso que se atrevesse a
discutir a neurose pelo fator psíquico, as paralisias eram analisadas no
fator orgânico.
Foi com o hipnotismo que a genuinidade do fenômeno foi to-
mada pela análise de mudanças somáticas associadas por influências
mentais e da descrição de que havia processos mentais inconscientes.
Com essa técnica, foi a primeira vez que o conceito teórico de incons-
ciente pode ser experimentado de forma tangível.
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A psicanálise teve às suas ordens um legado que herdou do
hipnotismo. Alguns teóricos como Charcot, Janet e Breuer contribuíram
genuinamente com os estudos iniciais da psicanálise. Segundo Char-
cot, a hipnose foi um auxílio no estudo das neuroses, da descrição dos
sintomas histéricos, demonstrando que pela sugestão de um trauma,
sob a técnica da hipnose, poderia provocar artificialmente paralisias.
Pierre Janet, com o auxílio da hipnose, observou que os sinto-
mas da histeria eram dependentes de pensamentos ICS. Atribuiu à his-
teria a uma incapacidade constitucional de manter reunidos processos
mentais, que levava a uma desintegração (dissociação) da vida mental.
Breuer foi um importante colaborador de Freud e de certo modo
co-terapeuta / terapeuta conjuntamente com Freud no tratamento da
histeria do caso de Anna O., e para explicar a origem dos sintomas his-
téricos, observou-se a vida emocional do sujeito (afetividade) e a ação
recíproca de forças mentais (dinâmica). Ele induzia a paciente, sob hip-
nose, a relembrar os traumas esquecidos e reagir a eles com poderosas
expressões de afeto. Quando isso era feito, o sintoma desaparecia, era
um procedimento de investigar a neurose e livrar a paciente dela.
Nos estudos sobre histeria, Freud e Breuer observaram que
os sintomas histéricos surgiam quando o afeto de um processo mental
catexizado por um forte afeto era impedido pela força de ser conscien-
temente elaborado de maneira normal e era desviado para o caminho
“errado”.
Na histeria, o afeto passa para uma inversão somática (conver-
são), mas se podia dar uma outra direção e ver-se livre dele (ab-reagi-
do), se a experiência fosse vivida sob hipnose. Esse processo ocorria
por meio da catarse (liberação de um afeto estrangulado). O método da
catarse foi o precursor da teoria psicanalítica.
Logo após os estudos sobre a histeria, Breuer abandonou a
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clínica e rompeu com os estudos de Freud e este continuou aperfei-


çoando o legado de seu colaborador. Ele apresenta a hipnose como
procedimento técnico, porém, logo abandona, pois não conseguia indu-
zir a hipnose em alguns pacientes, estava insatisfeito com os resultados
terapêuticos da catarse baseada na hipnose, dependia das relações
pessoais do paciente com o analista e os resultados eram temporários.
Foi nesse momento que Freud substituiu a hipnose pelo méto-
do da associação livre associada à arte da interpretação e dava um sig-
nificado de uma compreensão interna (insight) de uma ação recíproca
de forças que estavam ocultas da hipnose.
Um conflito entre dois grupos de tendências mentais deve ser
encarado como o fundamento para a repressão e a causa da neurose. A
teoria da repressão é de fato uma das pedras angulares da psicanálise.
52
A repressão procedia da personalidade consciente da pessoa
enferma (seu ego) e baseava-se em motivos estéticos e éticos, os im-
pulsos sujeitos à repressão eram do egoísmo e da crueldade, porém, os
impulsos e desejos sexuais eram de espécie grosseira e proibida.
A pulsão é importante, as experiências e conflitos da infância
são parte do desenvolvimento e a libido é a força dos instintos sexuais
que é dirigida para o objeto sexual. As fixações infantis da libido são o
que determina a forma de qualquer neurose que vem depois. As neuro-
ses são inibições no desenvolvimento da libido.
Ao lado da libido objetal está a libido narcísica ou do ego, diri-
gida para o próprio ego do sujeito e a interação dessas duas forças ex-
plica tanto processo mentais normais, como anormais, na vida mental.
Nas neuroses de transferência, a libido é deslocada para os objetos,
ocorrendo a transferência; na histeria, a angústia e a conversão estão
presentes. Nos distúrbios narcísicos, as neuroses se apresentam com
a retirada da libido sobre o ego e as psicoses funcionais se apresentam
por meio da esquizofrenia, paranoia, mania e depressão.
A psicanálise teve fatores contribuintes para a sua constituição:
ênfase na vida instintual (afetividade), na dinâmica mental, os fenôme-
nos ICS possuem um significado e uma causa, a teoria do conflito psí-
quico e da natureza patogênica da repressão, os sintomas substituem
satisfações proibidas, etiologia da vida sexual, primórdios da sexuali-
dade infantil, a relação das crianças com os pais (Complexo de Édipo),
e este é o núcleo da neurose e do comportamento transferencial entre
paciente e terapeuta.
No Complexo de Édipo, a relação emocional de uma criança
com seus pais interfere diretamente em sua vida mental e está relacio-
nada a dois fatores biológicos: o longo período de dependência da crian-
ça e a maneira que sua vida sexual atinge um primeiro clímax do ter-
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ceiro ao quinto ano de vida e depois inibido, ressurgindo na puberdade.
Nos estudos de Freud, dois fenômenos pertencem tanto ao
campo da normalidade, quanto da patologia: as parapraxias e os so-
nhos. As parapraxias envolvem o lapso de linguagem e de escrita, co-
locação errada de objetos etc. Acontecimentos dessa natureza ocorrem
devido à intenção consciente na qual o inconsciente interfere; os so-
nhos são construídos da mesma maneira que os sintomas neuróticos,
podem aparecer sem sentido e de conteúdo estranho ou desarticulado
da realidade entendível.
Pela técnica psicanalítica, o conteúdo deformado contido na
manifestação do sonho tem um significado secreto, são os pensamen-
tos oníricos latentes. A latência é um desejo impulsivo, o qual se realiza
no sonho. Exceto em crianças e sob forte pressão de necessidades
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físicas imperativas, esse desejo secreto jamais pode ser identificado,
ele se submete a uma deformação, pelas forças censurantes do ego.
O trabalho com os sonhos estuda o processo que transforma
o desejo latente realizado no conteúdo manifesto do sonho e, se o pro-
cesso de formação onírica ultrapassa limites, quem sonha o interrompe
e acorda assustado.

A teoria analítica baseia-se em três pedras angulares: o reco-


nhecimento da repressão, da importância do instinto sexual e da trans-
ferência.

A repressão (força na mente que exerce as funções de uma


censura e que exclui da consciência e de qualquer influência sobre a
ação todas as tendências que a desagradam (conteúdo reprimido).
A repressão mais intensa incide sobre os instintos sexuais, por
motivos culturais. Os sintomas neuróticos são manifestações substituti-
vas da sexualidade reprimida.
Todas as experiências infantis são importantes para o indivíduo
e, em combinação com sua constituição sexual herdada, formam dispo-
sições para o desenvolvimento do caráter da doença.
Segundo Freud, o curso dos processos mentais é regulado
pelo princípio de prazer – desprazer. O princípio de prazer original pas-
sa por uma modificação com referência ao mundo externo, dando lugar
ao princípio da realidade (o aparelho mental aprende a adiar o prazer
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da satisfação e a tolerar temporariamente sentimentos de desprazer).


O aparelho mental, do ponto de vista topográfico, é compos-
to: ID (impulsos instintuais); ego (é a parte mais superficial do id que
foi modificada pela influência do mundo externo) e o superego (se de-
senvolve do id, dominando-o e representa as inibições do instinto). Os
processos do id são totalmente inconscientes. A consciência é a função
da camada mais externa do ego, que se interessa pela percepção do
mundo externo.
Com os avanços da civilização, os processos instintuais tive-
ram que cada vez mais se adequarem a um sistema regulatório cultural,
e essa jornada da infância até a maturidade teve que ser recapitulada
e ressignificada nos quesitos do laço social e da manutenção do status
quo.
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A psicanálise demonstrou que foram predominantemente, embora não exclu-
sivamente, os impulsos instintuais que sucumbiram a essa supressão cultu-
ral. Parte deles, contudo, apresenta a característica valiosa de se permitirem
ser desviados de seus objetivos imediatos e colocar assim sua energia à
disposição do desenvolvimento cultural, sob a forma de tendências ‘sublima-
das’. Outra parte, porém, persiste no inconsciente como desejos insatisfeitos
e pressiona por alguma satisfação, ainda que deformada (FREUD, 1996, p.
257).

A transferência é uma peculiaridade marcante dos neuróticos.


Eles desenvolvem com o analista relações emocionais, tanto de caráter
afetuoso como hostil, que não se baseia na situação real, mas que deri-
va de suas relações com os pais (Complexo de Édipo).

TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE

Os “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905)” é uma


das obras mais significativas e originais de Freud. Vamos a uma prévia:
• I Ensaio: “As aberrações sexuais”, um tratado sobre a perversão.
• II Ensaio: “A sexualidade infantil”, a própria experiência com a
histeria conduziu Freud ao ensaio sobre a sexualidade infantil.
• III Ensaio: “As transformações da puberdade”, uma convoca-
ção a assumir um papel sexual.
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

[...] Freud dispunha de uma explicação completa da histeria, com base nos
efeitos traumáticos da sedução sexual na primeira infância [...] É verdade que
se poderia supor uma aparente exceção a isso a partir do contraste traçado
por Freud entre a causação da histeria e a da neurose obsessiva: a primeira,
afirmava ele, remontava a experiências sexuais passivas na infância, ao pas-
so que a segunda se originaria em experiências ativas. […] Foi somente no
verão de 1897 que Freud se viu forçado a abandonar sua teoria da sedução
[...] e sua descoberta quase simultânea do complexo de édipo [...] que levou
inevitavelmente ao reconhecimento de que as moções sexuais atuavam nor-
malmente nas crianças de mais tenra idade, sem nenhuma necessidade de
estimulação externa [...] (FREUD, 1972, p. 121)

Um exemplo de caso clínico que confirma a teoria dos três en-


saios é o caso de Hans (1909), que evidenciava uma criança se es-
55
truturando desde a fase pré-edípica (pulsões parciais) até o desenvol-
vimento atual. No processo de estruturação do sujeito, o processo de
constituição ocorre da seguinte maneira, perceba o esquema gráfico:

Quadro 1 – O processo de constituição do sujeito

Fonte: Freud (1972)

Observe que o processo de constituição do sujeito, proposto


pelos três ensaios leva a uma primeira escolha objetal na infância, que
será ressignificada na adolescência. Nesse sentido, o masculino e o
feminino são parte de um corpo sexual, e não biológico.
No terceiro Ensaio, Freud afirma que o período da puberdade
é significativo e a presença dos pais em todo o processo de estrutura-
ção do sujeito é importante devido ao mecanismo de castração, que
funciona de certo modo como um dispositivo de reparação psíquica, por
vias de fato, fazemos escolhas amorosas ICS e de identificação com as
figuras paterna e materna, de acordo com a teoria psicanalítica.
Em termos patológicos, o perverso não se angustia com o gozo
dele e o neurótico se inquieta com a fantasia perversa. A neurose, nesse
sentido, funciona como uma negação da perversão.
Em termos de sexualidade, a estrutura não está determinada,
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

pois, para a criança, o laço social de identificação sexual é de conteúdo


recalcado. Observe o caso de Hans, por exemplo, o falo é universal, só
bem adiante ela irá introjetar a diferença sexual, portanto, a castração
(que na prática é um corte na relação/objeto) ocorre em nível simbólico,
real e imaginário. E o primeiro e grande objeto chamado outro é a mãe.
Para Lacan, é faltosa.
Na fase pré-edípica, as pulsões parciais (oral, sádica, escó-
pica, perversão polimorfa) podem ser limitadas e a satisfação ocorrer
por outras vias ou também pode haver fixação em qualquer uma das
pulsões parciais, podendo ocorrer desvios sexuais, como por exemplo
a zoofilia, pedofilia etc., perversões, como por exemplo o fetichismo (su-
pervalorização de partes corporais).
De acordo com os estudos psicanalíticos focados nos três en-
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saios, a única forma de lidar com a pulsão sexual na neurose é por vias
da investigação psicanalítica e, a princípio, utilizando-se do método ca-
tártico, pois se tratam de forças pulsionais de cunho sexual e é a única
fonte energética constante da neurose (FREUD, 1972).

[...] os sintomas são a atividade sexual dos doentes. A prova dessa afirmação
deriva do número crescente de psicanálises de histéricos e outros neuró-
ticos que venho realizando há vinte e cinco anos e sobre cujos resultados
já prestei contas minuciosamente em outras publicações, como ainda conti-
nuarei a fazer. A psicanálise elimina os sintomas histéricos partindo da pre-
missa de que tais sintomas são um substituto - uma transcrição, por assim
dizer, de uma série de processos, desejos e aspirações investidos de afeto,
aos quais, mediante um processo psíquico especial (o recalcamento), nega-
-se a descarga através de uma atividade psíquica passível de consciência.
Assim, essas formações de pensamento que foram retidas num estado de
inconsciência aspiram a uma expressão apropriada a seu valor afetivo, a
uma descarga, e, no caso da histeria, encontram-na mediante o processo de
conversão em fenômenos somáticos - justamente os sintomas histéricos [...]
(FREUD, 1972, p.153)

No segundo Ensaio, Freud aponta que, com a castração, as


pulsões são satisfeitas, mas subordinadas aos limites da organização
fálica. Na obra, Freud refere que antes dos 7 anos de idade, a vivência
infantil fica recalcada como numa espécie de amnésia infantil, no caso
de Hans, por exemplo, a rivalidade do pai e da irmã e a questão da se-
xualidade fica recalcada no ICS e essa estruturação vai determinando
outros elementos da história e do laço social do sujeito.
A realidade ICS é sexual e os traços psíquicos, significantes,
ficam no nível do recalque. A pré-história do sujeito é conduzida pela
filogênese (história da humanidade) e na infância está latente e recal-
cada. Portanto, a amnésia infantil é apenas o primeiro período. Como PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
afirmamos, no período pré-edípico que há predominância das pulsões
parciais e o Complexo de Édipo – castração – é necessário para a or-
ganização psíquica da criança. Dessa maneira, as pulsões parciais vão
subordinando a castração (que, de certo modo, não é mais satisfeita
como antes, estabelecem-se restrições e limites, pois o recalque opera
com o discurso externo e o superego da criança vai introjetando essa
experiência).
De acordo com os resultados da psicanálise, a forma de resol-
ver o conflito entre a pulsão e o antagonismo da renúncia sexual é a via
da doença, não como forma de solução, mas como uma transformação
das aspirações libidinosas em sintomas (FREUD, 1972).

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Para complementar os estudos sobre a estruturação do sujeito,
estude o conteúdo também a partir do texto “À guisa de introdução ao
narcisismo”, que explica o desenvolvimento libidinal a partir do esque-
ma proposto para a constituição psíquica do sujeito (autoerotismo – nar-
cisismo – escolha objetal).

Assim, quando se trata de analisar o narcisismo, não se es-


queça do entendimento de que Freud retira o narcisismo do campo das
perversões e o fundamenta como uma constituição egoica e o encaixa
na etapa do desenvolvimento libidinal, pela qual toda criança passa,
reconhecendo-o na fase intermediária necessária entre o autoerotismo
e o amor objetal, ou seja, Freud verificou que um dos limites que se in-
terpõem à possibilidade desses pacientes serem influenciados se devia
a um comportamento narcísico dessa ordem.
Nessa acepção, o narcisismo não seria uma perversão, mas o
complemento libidinal do egoísmo próprio da pulsão de autoconserva-
ção, egoísmo que, em certa medida, corretamente pressupomos estar
presentes em todos os indivíduos (narcisismo primário).
Quanto ao narcisismo primário (psicose e neurose), a tenta-
tiva de compreender a dementia praecox (Kraepelin) ou esquizofrenia
(Bleuler) sob a ótica da teoria da libido levou Freud a se ocupar da ideia
de um narcisismo primário. Freud chamou-os de parafrênicos (poste-
riormente manterá esquizofrenia) e estes exibem dois traços fundamen-
tais: delírio de grandeza e desligamento de seu interesse pelo mundo
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

exterior (pessoas e coisas).


Freud considerou que esta última característica torna-os ina-
cessíveis à influência da psicanálise e não podem ser curados por ela.
O psicanalista relembra que também o neurótico desiste da relação com
a realidade, porém, a análise mostra que de modo algum o neurótico
suspende seu vínculo erótico com as pessoas e as coisas. Ele as con-
serva em fantasia.
A escolha objetal é de fato amorosa, real ou fantasiosa, mas
o objeto é a pessoa. O EU é um objeto libidinal e é dele que retiramos
a energia sexual para ser investida no mundo externo e o investimento
libidinal também ocorre no EU.
Na primeira parte, Freud discute o narcisismo considerando as
distinções entre neurose e psicose. Nessa etapa ocorre a ruptura com
58
Jung. Na segunda parte, Freud discute o narcisismo a partir de outros
elementos:
a) a doença orgânica
b) a hipocondria
c) a vida amorosa
O que Freud verificou nessa etapa foi sobre o investimento libi-
dinal voltado para esses três fenômenos.
Na parte três, os estudos de Freud se direcionam para o ideal
do EU, superego, e nessa etapa ocorre o rompimento com Adler. O nar-
cisismo nesse estudo é identificado na forma primária: autoerotismo, e
na forma secundária: a construção do EU como objeto/unidade.
No terceiro Ensaio, Freud descreve as transformações da pu-
berdade nos processos internos e refere que a pulsão sexual nesse
período está direcionada para a função de reprodução, concomitante às
mudanças corporais que ocorrem nessa fase, como por exemplo o cres-
cimento da genitália. Essas transformações ocorrem no nível externo,
orgânico e interno e na vida anímica (psicológica), construindo o laço
social do EU com o outro.

[...] Do ponto de observação da psicanálise podemos contemplar, como que


por sobre uma fronteira cuja ultrapassagem não nos é permitida, a movi-
mentação da libido narcísica, formando assim uma ideia da relação entre
ela e a libido objetal. A libido narcísica ou do ego parece-nos ser o grande
reservatório de onde partem as catexias de objeto e no qual elas voltam a ser
recolhidas, e a catexia libidinosa narcísica do ego se nos afigura como o es-
tado originário realizado na primeira infância, que é apenas encoberto pelas
emissões posteriores de libido, mas no fundo se conserva por trás delas [...]
(FREUD, 1972, p. 205).

CASO CLÍNICO: SRTA. ANNA O. PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

Anna adoeceu em 1880, aos 20 anos de idade. Algumas psi-


coses haviam ocorrido em seus parentes. Ela tinha dotes poéticos e
imaginativos controlados por um senso agudo e crítico bom senso. Ela
não era sugestionável, sendo influenciada por argumentos, e não afir-
mações. Era sujeita a alteração do humor. Não tinha desenvolvido a
noção de sexualidade, nunca se apaixonou; nas alucinações, a sexuali-
dade nunca emergiu. Certas fantasias foram se convertendo em doença
(FREUD, 1996a).
O curso da doença foi se enquadrando em várias fases: pas-
sou por uma incubação latente; a doença manifesta (psicose com pa-
rafasia, estrabismo convergente, graves perturbações da visão, para-
59
lisias, paresia dos músculos do pescoço). Tinha a presença de grave
trauma psíquico (a morte do pai); período de sonambulismo persistente;
cessação gradual dos estados e sintomas até junho de 1882.
Com a doença do pai, Anna O. se dedicou totalmente a cuidar
dele e sua saúde foi se deteriorando, debilidade, anemia, aversão a ali-
mentos e uma tosse intensa (tussis nervosa). Em meados de novembro
e dezembro adoeceu gravemente e caiu enferma de cama. Surgiram
perturbações graves e novas no quadro sindrômico.
Anna O. tinha dois estados de consciência distintos, em um
reconhecia o ambiente, ficava melancólica e angustiada, mas, relativa-
mente normal; em outro tinha alucinações, deformações de objetos e
ficava agressiva. Quando estava lúcida, queixava-se de escuridão na
cabeça, de não conseguir pensar, de ficar cega e surda e de ter dois EU
(mau e real). Ocorreu também desorganização da fala (FREUD, 1996a).
O terapeuta era a única pessoa que ela reconhecia, permane-
cia animada na conversa e em contato, exceto pelas súbitas interrup-
ções causadas pelas absences alucinatórias (que ocorriam na trans-
ferência), eram elas, via caveiras, esqueletos, figuras aterradoras etc.,
como o fato da transferência voltou a se alimentar.
Observava-se que de dia as alucinações eram persecutórias e
à noite estava lúcida, surgiam impulsos suicidas. Segundo seu analista,
o ponto de partida de Anna O. era a situação central: uma moça ansiosa
sentada à cabeceira de um doente (seu pai) e quando reproduzia as
imagens assustadoras e dava expressão verbal a elas, ficava com sua
mente aliviada. Ela curou literalmente pela fala (FREUD, 1996a).
Na ausência do terapeuta, sentia angústia e excitação, um mis-
to desagradável para ela. Os fatos assimilados pela parte patológica de
sua mente persistiam como estímulo psíquico até a hipnose, depois não
atuavam mais. Perturbações isoladas do período de incubação que pro-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

duziram os fenômenos histéricos, quando receberam expressão verbal,


os sintomas desapareceram. Também teve hidrofobia, não bebia água.
Nessa etapa, os fenômenos histéricos desapareciam após a reprodu-
ção da hipnose.
Cada um dos sintomas histéricos surgiu sob a ação de um afe-
to. Quando o tratamento chegou ao fim, a paciente manifestou a Breuer
uma transferência, mas não analisada, de natureza sexual.
Havia em Anna O. características psíquicas que atuaram como
causas de predisposição para a sua histeria: sua vida familiar monótona
e a ausência de ocupação intelectual, todo o excedente se encontrou
na atividade imaginativa e essa questão a levou a fantasias (seu teatro
particular) que lançou as bases para uma dissociação de sua persona-
lidade mental e aos sintomas de conversão.
60
Só depois do colapso completo, esgotada por falta de alimen-
tos, insônia e angústia constante e depois de passar mais tempo em
sua condição secundária que a normal, foi que os sintomas histéricos
passaram de agudos intermitentes a crônicos. Foi no caso de Anna O.
que Freud cita pela primeira vez o inconsciente (FREUD, 1996a).

Filme sobre o assunto: O caso de Anna O. (Dunker, 2017)


Peça de teatro: Histeria (TVPuc, 2016)
Acesse os links: https://www.youtube.com/watch?v=sY-
07tx52ySY e https://www.youtube.com/watch?v=ITjcQ6_aq-8
Observação: sobre a temática, é importante que o aluno note
a relevância do assunto dentro do seu campo de atuação.

CASO CLÍNICO: DORA

Antes de discutir propriamente a histeria, é necessária uma ex-


planação geral sobre a neurose, pois se localiza num campo complexo.
De certo modo, a neurose é uma forma imprópria de negar o gozo in-
consciente e perigoso e transformarmos essa dor intolerável em sinto-
mas neuróticos, convertendo o gozo inconsciente, perigoso e irredutível
em um sofrimento suportável, consciente e redutível.
Assim, o Eu disponibiliza três maneiras de se defender mobili-
zando três modos de viver a neurose: a obsessão, a fobia e a histeria. O
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
obsessivo promove um deslocamento de um gozo inconsciente para um
sofrimento do pensar (desarranjo do pensamento). O fóbico realiza uma
projeção de um gozo inconsciente para o mundo externo, cristalizando-
-o em um elemento do ambiente, tornando-o um objeto ameaçador. O
histérico converte um gozo inconsciente num sofrimento corporal.
No caso de Dora, a narração dessa conversão, a histeria, e
o tratamento são o foco central. Freud fundamenta a tese sobre a pa-
togênese dos sintomas histéricos e sobre os processos envolvidos na
histeria e localiza a psicanálise numa nova proposta de tratamento, dis-
tinta da catarse e da hipnose, baseada na interpretação dos sonhos e
na associação livre. O caso de Dora foi redigido em 12/1900 e 01/1901
e publicado em 1905 (FREUD, 1997).
Atentemos para a originalidade da obra freudiana, que foi es-
61
crita num contexto sócio-histórico que interferiu diretamente no olhar
da medicina da época em relação às “perturbações corporais”. A teoria
sobre histeria se consolida como referencial psicanalítico, explicando
uma teoria geral sobre um modelo do funcionamento psíquico. O escla-
recimento da etiologia psíquica da histeria é paralelo às principais des-
cobertas da psicanálise (inconsciente, recalque, fantasia, transferência
etc.) (FREUD, 1997).
Vale ressaltar que, apesar do sofrimento da histeria moderna
ter nuances distintas em relação à do século XIX, a psicanálise continua
indissociável dessa neurose. A terapêutica analítica ainda está situada
na cura da neurose e baseada num princípio fundamental: para tratar e
curar a histeria é preciso criar uma outra histeria, no entanto, ao final do
processo, essa nova histeria é superada, tornando-se possível a cura
da neurose primária.
A história de Dora tem seu plano de fundo em uma família bur-
guesa (pais, um irmão e ela). O pai era a figura dominante, tanto por in-
teligência, como pelos traços de caráter, e pelas circunstâncias da vida
e que lhe serviram de suporte para a sua história infantil e patológica;
além disso, sua filha era muito apegada a ele.
Devido às situações de saúde do pai, a família se mudou para
uma cidade chamada B, onde viveram em torno de 10 anos e por lá
fizeram amizade íntima com uma família constituída do Sr. e da Sra.
K e dois filhos. Na história, o pai tinha um caso com a Sra. K e o Sr. K
desenvolveu grande afetividade por Dora e isto o fez criar situações que
lhe possibilitaram beijá-la e, em outra ocasião, fazer-lhe uma proposta
amorosa, fato que fez Dora se afastar da família K.
Freud designa esse o seu caso como uma “petite hystérie”,
devido às características de seus sintomas (quando comparados aos de
Anna O.). Aos 8 anos, ela começou a apresentar sintomas neuróticos,
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

tendo dispneia crônica com alguns acessos agudos. Aos 12 anos, apre-
sentava cefaleia, acessos de tosse e perda da voz, logo seguidos de
desânimo e alteração do caráter, evitava contatos sociais, tinha fadiga e
falta de concentração, mas foi a perda da consciência que fez o pai de
Dora encaminhá-la para tratamento com Freud (FREUD, 1997).
A histeria se manifesta sob a forma de distúrbios diversificados
e passageiros, nos quais os mais comuns referem-se a sintomas psi-
cossomáticos e psicomotores (contrações musculares, problemas na
marcha, paralisias faciais etc.), distúrbios da sensibilidade (dores locali-
zadas, enxaquecas, anestesias em campos corporais específicos etc.)
e distúrbios sensoriais (cegueira, surdez e fobia etc.); além de insônia,
desmaios, alterações da consciência, da memória e da inteligência até
situação mais grave de pseudocoma (NASIO, 1991).
62
A primeira teoria freudiana aponta para uma origem da histeria
em vestígios psíquicos associados a um trauma. A histeria é provocada
pela ação patogênica de uma representação psíquica inconsciente e
intensamente carregada de afeto. O que adoece o histérico não é tanto
o vestígio psíquico do trauma, mas o fato de que ele, sob a pressão
do recalcamento, ser sobrecarregado de um excedente de afeto que
insiste no escoamento de sua energia. Consiste no conflito entre uma
representação portadora de um excesso de afeto, por um lado e, por ou-
tro, uma defesa – recalcamento – que torna a representação virulenta.
A histeria de conversão trata-se de um deslocamento de ener-
gia de um estado primário para um secundário. A região somática afeta-
da pelo sintoma conversivo corresponde à parte do corpo anteriormen-
te afetada pelo trauma. Na conversão, a carga energética abandona a
imagem inconsciente para energizar o órgão do qual essa imagem é
reflexo (FREUD, 1997).
Na segunda teoria freudiana, a origem da histeria é uma fan-
tasia inconsciente. O próprio eu infantil, ao longo da sua maturação
sexual, era a sede da tensão (denominada desejo). O trauma nessa
formulação ganha contação microlocal, centrado numa região erógena
do corpo e fixando uma cena traumática (fantasia).

FANTASIA – roteiro imaginário em que o sujeito está presente


e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos
defensivos, a realização de um desejo e, em última análise, de um de-
sejo inconsciente (LAPLANCHE e PONTALIS, 2001). No núcleo da fan-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
tasia, que é o lugar erógeno, jorra uma sexualidade excessiva, não ge-
nital (autoerótica) – o desejo – com a eventualidade de sua realização,
chamada gozo, é tão intenso que exige, para ser temperado, a criação
inconsciente de fabulações, cenas e fantasias protetoras.

Uma cena fantasística, tão verdadeira quanto a antiga cena


traumática ocorrida na realidade, dá forma e figura dramática à tensão
desejante. A angústia é o nome que o desejo e o gozo assumem ao
serem inscritos no âmbito da fantasia (NASIO, 1991). Quer o excesso
de energia seja um excedente de afeto resultante de um choque trau-
mático (primeira teoria), quer seja uma angústia fantasista que reage ao
despertar espontâneo e prematuro da sexualidade infantil (nova teoria
63
da fantasia), conservamos invariavelmente a tese de que a causa prin-
cipal da histeria reside na atividade inconsciente de uma representação
superinvestida.
A histeria é o nome que damos aos laços e aos “nós” que o
neurótico tece em relação com os outros a partir de suas fantasias. O
histérico é aquele que, sem ter conhecimento disso, impõe na relação
afetiva com o outro a lógica doentia de sua fantasia inconsciente, um ser
de medo que, para atenuar sua angústia, não encontrou outro recurso
senão manter inconscientemente, em suas fantasias e em sua vida, o
doloroso estado de insatisfação. Uma fantasia em que ele desempenha
o papel de uma vítima infeliz e constantemente insatisfeita. Há apenas
um perigo essencial que o ameaça: o perigo de viver a satisfação de um
gozo pleno (FREUD, 1997).
Esse Eu histericizante percebe seus próprios objetos externos
ou internos realmente como são, mas transforma sua realidade material
numa realidade fantasiada, ele histericiza o mundo. Histericizar é ero-
tizar, sexualizar o que não é sexual, sendo que a sexualidade histérica
não é uma sexualidade genital. A tristeza desse Eu corresponde ao va-
zio e à incerteza de sua identidade sexuada, de certo modo, a erotiza-
ção corporal paradoxalmente acompanha uma inibição concentrada na
zona genital. Dora, repugna o Senhor K, nesse sentido.
De certo modo, o histérico vive sua sexualidade de três modos:
sofrimento corporal, masturbação e se dissociando entre a imagem res-
plandecente de um ser hipersexual e a dolorosa realidade de um sofri-
mento vivido com insensibilidade na zona sexual.
Na escolha narcísica, o amor reflete sua própria imagem e o
objeto de identificação objetal se constitui segundo o modelo de seus
objetos anteriores, que podem ser pais ou pessoas de seu meio. E atra-
vés da escolha objetal, a criança investe libido no outro, por exemplo,
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

quando Dora despreza a Sra. K., despreza o que já foi introjetado dela,
nela mesma.
No centro do id (determinando a vida psíquica) está o Comple-
xo de Édipo – um desejo incestuoso pela mãe ou uma rivalidade com
o pai. É esse o desejo fundamental que organiza a totalidade da vida
psíquica e determina o sentido da vida. Na mulher histérica, o afeto per-
passa a fantasia feminina, não é a angústia da castração, mas o ódio e
ressentimento para com a mãe. Ela já tem uma fantasia de castração
consumada, já ocorrida também com o desmame.
Dora anunciava essa organização psíquica quando se referia à
Sra. K., elogiando-a como um adorável “corpo alvo”.

64
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: AOCP Órgão: UFFS Prova: Psicólogo Nível: Su-
perior
Assinale a alternativa correta em relação aos aspectos psicodinâ-
micos da neurose, da psicose e da perversão.
a) Na segunda teoria do aparelho psíquico postulado por Freud, em
uma psicose, o ego obedece às exigências da realidade e do superego,
recalcando reivindicações pulsionais.
b) Na psicanálise, postula-se que a neurose se inicia por uma ruptura
entre ego e realidade, deixando o ego sob o domínio do id.
c) Pode-se designar perversão o conjunto de comportamentos psicos-
sexuais atípicos na obtenção de prazer sexual, em que há presença de
um mecanismo de recalcamento intenso, provocando sentimentos de
culpa.
d) Freud descreveu como principais mecanismos da histeria de conver-
são a anulação retroativa e o isolamento.
e) Seguindo a teoria pulsional da psicanálise, há, na neurose obsessiva,
uma fixação na fase anal e regressão.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: CCV-UFC Órgão: UFC Prova: CCV-UFC - 2019 -
UFC - Psicólogo - Clínica Nível: Superior
Sabemos que o conceito de cura para a teoria psicanalítica não
coincide com o que habitualmente se entende por cura, principal-
mente nas ciências da saúde. Com relação ao conceito de cura na
Psicanálise, é correto afirmar que:
a) A travessia do fantasma se dá no processo de ir contra a inércia libidi-
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS
nal, ou do gozo, é esse trabalho que possibilita uma mudança subjetiva
na regulação da dor e do prazer, não que o analisando deixe de ter
sintomas, mas a relação entre paciente, sintoma e gozo se modifica e o
permite um plus nessa operação.
b) Em um dos seus últimos textos, Freud deixa claro que o mal-estar é
inerente ao homem na condição de civilizado, dito isso não poderia exis-
tir uma cura para o seu sofrimento; entretanto, segundo ele, a análise
possibilita uma forma de autoconhecimento que propicia uma aceitação
dessa realidade, o que aplaca o sofrimento inerente à vida comunitária.
c) O fim da análise é o que se pode classificar como cura para outras
áreas, não existe cura propriamente dita porque o analisando não dei-
xará de sofrer, entretanto, uma vez que ele tenha esgotado o registro
simbólico, objetivo da análise, poderá construir um novo registro basea-
65
do na interseção entre o real e o imaginário, diminuindo significativa-
mente o sofrimento.
d) No início da Psicanálise, Freud acreditava que a cura se dava com
a descoberta do evento traumático que ocasionou o sintoma, com a
formulação da segunda tópica e os diversos atendimentos de seus pa-
cientes, e dos pacientes de seus colaboradores, ele descobriu que a
reformulação, ou ressignificação, do Complexo de Édipo era o fim da
análise, uma vez que todos os traumas tinham essa origem.
e) Em Lacan, o fim da análise se dá no que chamou de torção do dis-
curso do mestre, dentro dos quatro discursos, Lacan afirmou que o ana-
lisando chega ao analista preso no discurso do capitalista. A função do
início de análise é torcer esse discurso para que ele se torne o discurso
da histeria, esse por sua vez, no curso da análise, irá girar para o dis-
curso do mestre e no fim da análise fará o último giro discursivo virando
o discurso do universitário.

QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: CONSULPAM Órgão: Prefeitura de Resende - RJ
Prova: médico Psiquiatra Nível: superior.
As práticas psicoterápicas são fundamentais para o tratamento de
pacientes psiquiátricos, sobre contraindicações para o tratamento
usando a psicanálise, afirma-se:
I. Os analistas deveriam evitar analisar amigos, parentes ou pes-
soas com quem tenham outro envolvimento.
II. Pensamento concreto ou ausência de disposição psicológica
não são bons indicadores para a prática.
III. A presença de extrema desonestidade ou transtorno da perso-
nalidade antissocial não favorece o tratamento analítico.
Assinale a opção CORRETA:
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

a) Apenas os itens I e II são verdadeiros.


b) Apenas os itens I e III são verdadeiros.
c) Apenas os itens II e III são verdadeiros.
d) Os itens I, II e III são verdadeiros.
e) Apenas o item I é verdadeiro.

QUESTÃO 4
Ano: 2019 Banca: FCPC Órgão: UNILAB Prova: Psicólogo Nível:
Superior
Acerca do Complexo de Édipo na Psicanálise, é correto afirmar
que:
a) Vai sedimentar na neurose a questão do ter o falo, e na perversão o
ser o falo.
66
b) Estabelece a relação da cadeia significante em função do S1 (falo),
S2 (significante materno) e Sn (Nome-do-pai).
c) Cria uma nova relação entre o sujeito-objeto, onde no menino fará
com que ele se volte para a Mãe e para a menina que ela se volte para
o Pai como objetos secundários do desejo.
d) É considerada uma etapa decisiva na estruturação psíquica, pois é
através dela que a organização libidinal vai apontar para uma economia
psíquica que será fechada dentro do processo de individuação.
e) Se dá na interdição do(a) filho(a) pelo Pai na relação incestuosa Mãe-
-criança, a efetivação dessa interdição cria o terreno para a significação
do narcisismo primário frente à impossibilidade do objeto, criando a eco-
nomia psíquica que desembocará em um dos grupos estruturais para a
psicanálise: neurose, fobia, perversão, psicose ou autismo.

QUESTÃO 5
Ano: 2019 Banca: FADESP Órgão: Prefeitura de Marabá - PA Prova:
Psicólogo Nível: superior
Analise as assertivas abaixo, sobre a teoria da psicanálise.
I- A infância é uma época decisiva na organização da personalidade.
II- A ação educacional tem valor primordial na estruturação e no
ajustamento da personalidade.
III- Sonhos, arte, cultura, sintomas neuróticos são válvulas de es-
cape da libido recalcada.
Está(ão) correta(s) a(s) assertiva(s)
a) I, II e III.
b) I e III.
c) II e III.
d) I.
e) II.
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Discuta sobre a amnésia infantil. Qual sua relação com o recalque?

TREINO INÉDITO

Sobre o narcisismo primário, é correto afirmar:


a) se refere à psicose e à neurose.
b) não há presença de delírio de grandeza.
c) não se desliga do mundo exterior.
d) o narcisismo não tem influência sobre o autoerotismo.
e) o narcisismo não tem ligação com o amor objetal.
67
NA MÍDIA

Os artigos do dossiê Sonhos aprisionados são o primeiro material de


análise publicado a respeito da pesquisa Sonhos confinados em tempos
de pandemia, que recebeu, entre abril e outubro de 2020, mais de 1.500
sonhos relatados por meio das redes sociais, vindos de várias regiões
do país e alguns do exterior.
O estudo é coordenado pelos psicanalistas e professores doutores Rose
Gurski e Cláudia Maria Perrone (Nuppec/UFRGS), Miriam Debieux Rosa
(Psopol/USP), Christian Dunker (Latesfip/USP) e Gilson Iannini (Depar-
tamento de Psicologia/UFMG), com a participação de Carla Rodrigues
(UFRJ) e de vários colaboradores, entre eles equipes compostas por
bolsistas de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e pós-douto-
randos, somando cerca de 80 pesquisadores. A publicação do primeiro
livro sobre a pesquisa, com o título Sonhos confinados, está prevista
para este primeiro semestre de 2021, pela editora Autêntica.
Segundo Rose Gurski, “os núcleos e laboratórios envolvidos vêm bus-
cando a construção de modos de levar a escuta psicanalítica, tradi-
cionalmente marcada pela experiência em clínica privada, para outros
espaços das cidades, aproximando a universidade das demandas da
sociedade”.

Fonte: Revista Cult


Data: 04 de fevereiro de 2021
Leia a notícia na íntegra:
https://revistacult.uol.com.br/home/dossie-sonhos-aprisionados/

NA PRÁTICA

PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

“Não posso dizer que uma tentativa dessas, de transferência da psica-


nálise para a comunidade cultural, não teria sentido ou estaria conde-
nada à esterilidade. Mas teríamos de ser muito prudentes, e não es-
quecer que se trata apenas de analogias, e que não apenas com seres
humanos, também com conceitos é perigoso retirá-los da esfera em
que surgiram e evoluíram. O diagnóstico das neuroses da comunidade
também encontra uma dificuldade especial. Na neurose individual nos
serve de referência imediata o contraste que distingue o enfermo de seu
ambiente, tido como ‘normal’. Tal pano de fundo não existe para um gru-
po igualmente afetado, teria que ser arranjado de outra forma. E no que
diz respeito à aplicação terapêutica da compreensão, de que adiantaria
a mais pertinente análise da neurose social, se ninguém possui a auto-
ridade para impor ao grupo a terapia? Apesar de todas essas dificulda-
68
des, pode-se esperar que um dia alguém ouse empreender semelhante
patologia das comunidades culturais.”. (FREUD, 1930/2011, p.120).
Os estudos de Freud já apontavam os desafios de que trabalhar com a
psicanálise no campo cultural é um rearranjo na aplicação terapêutica
da compreensão.

PARA SABER MAIS



Filme sobre o assunto: Janela da alma (Carvalho, 2001)

Peça de teatro: Pantomima e mímica (TVOficina, 2017)

Acesse os links: https://www.youtube.com/watch?v=_I9l7upG0DI e


https://www.youtube.com/watch?v=emWXzCxmNC4

PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

69
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
C A D C A

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Descartes defende uma concepção subjetiva baseada na razão e na


verdade, como descreve no cogito: “Penso, logo sou”. Com a concep-
ção do inconsciente pela psicanálise não é mais possível pensar em
um Eu, sujeito, como detentor da verdade e da razão como única e
absoluta.
O sujeito, quando fala de si, mente. A maioria de suas verdades está
guardada no inconsciente, e elas não podem ser expressas em pala-
vras. Como está no texto: assim, inaugurando o conceito de incons-
ciente, tira-se a consciência do lugar da verdade do sujeito e a coloca
no lugar da distorção, ilusão e de ocultamento. O Eu consciente, que
costumamos identificar a partir de então como o próprio sujeito, é o
lugar epistemológico em que as verdades são distorcidas e alteradas.
Então, a partir da psicanálise, passa a se conceber o sujeito não como
um todo unitário, lugar do conhecimento e da verdade, mas dividido em
dois grandes sistemas: o inconsciente e o consciente. É nessa divisão
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

que o sujeito se constitui.

TREINO INÉDITO
Gabarito: E

70
CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
A A A D B

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O discurso do capitalista não é exatamente outro discurso, mas a forma


mais contemporânea do discurso do mestre, pois houve um desliza-
mento do discurso do mestre para o discurso do capitalista a partir dos
avanços das tecnologias e da ciência, sendo que no discurso do capita-
lista não há relação entre o agente e o outro, não há laço social, não há
vínculo entre o capitalista e o proletário.
No discurso do mestre, o agente é o significante mestre, enquanto que
no discurso capitalista, o lugar do agente é ocupado pelo sujeito barra-
do. Ele se dirige ao proletário, e não mais ao escravo, e este como o
outro tem o saber em seu lugar. A produção é o objeto que causa o de-
sejo e a verdade, o significante mestre. É por isso que Lacan afirma que
se produz entre eles um laço associal, o capitalista ignora a barreira ao
gozo e a perda imposta pelo processo civilizatório regulador. O discurso
do capitalista incita o imperativo do gozo na sociedade de consumo, ou
seja, o gozo obtido por meio de objetos-mercadorias.

TREINO INÉDITO
Gabarito: A PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

71
CAPÍTULO 03

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
E A D A A

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A realidade ICS é sexual e os traços psíquicos, significantes, ficam no


nível do recalque. A pré-história do sujeito é conduzida pela filogênese
(história da humanidade) e, na infância, está latente e recalcada, por-
tanto, a amnésia infantil é apenas o primeiro período. Como afirmamos,
no período pré-edípico há predominância das pulsões parciais e o Com-
plexo de Édipo – castração – é necessário para a organização psíqui-
ca da criança, dessa maneira, as pulsões parciais vão subordinando a
castração (que, de certo modo, não é mais satisfeita como antes, esta-
belecem-se restrições e limites, pois o recalque opera com o discurso
externo e o superego da criança vai introjetando essa experiência).

TREINO INÉDITO
Gabarito: A
PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL - GRUPO PROMINAS

72
BARATTO, G. A Descoberta do Inconsciente e o Percurso Histórico de
sua Elaboração. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2009, 29 (1),
74-87. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S1414-98932009000100007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

DOR, Joel. Introdução à leitura de Lacan. 3ª ed. Ed. Artes Médicas, 1992.

FREUD, S. Estudos sobre Histeria (1893-1895). In: Obras Psicológicas


Completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Vol. II. Rio
de Janeiro, Imago: 1996.

FREUD, S. Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Edição Stan-


dard Brasileira, Vol. VII., Editora: Imago - RS, 1972.

FREUD, S. Casos clínicos (Breuer e Freud) Caso 1 Srta. Anna O. In:


Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: edição standard bra-
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