Versos. Lourival Açucena. CASCUDO, Luis Da Camara. 1927
Versos. Lourival Açucena. CASCUDO, Luis Da Camara. 1927
Versos. Lourival Açucena. CASCUDO, Luis Da Camara. 1927
VERSOS
REUNIDOS POR
NATAL
T yp o g r a p h ia d’A IMPRENSA
MCMXXTII
Joaquim Eduvirges de Melle flcucena
(LOUKIVAL AÇUCENAÎ
(LORENIO)
18*27 1907
VERSOS
REUNIDOS POR
NATAL
T ypo o r aphia d’A IMPRENSA
M( H XX
Publicação do Instituto líistorico e Geograpbico,
devidamente auctorizada.
J OAQUIM Eduvlrgea de Mello Açucena nasceu na
cidade do Natal aos 17 dias do mez de Outu
bro do anno da graça de Nosso Senhor Jesus
Christo 1827. Governava o sr. José Paulino de
Almeida e Albuquerque, o terceiro presidente da Província,
Cidade do PaIqI
fl Sociedade
Üoaqiiltü Sduplrqes
0 poelfl bourtual
0 capitão fíouriua!
bourltal e ó Instituto
9 e 11 de Setembro de 1927.
lii!»lio j»ra | )ltia
L. da C. C.
A Política
I!
II)
IV
VI
VII
VIII
ÍX
Estando de ti ausente,
Da saudade eu sinto a dor;
Serão teus os meus suspiros,
Minha aííeição. meu amor.
Da vida o dncc prazer
Ivni mim IVncro r se acaba ;
Sn <’sb' aiimr não faüccc,
Minha gentil Poranoaba !
(1la iniuimeras transcripções destes versos. Algumas
resentem-se de erros terríveis. Copiei os versos acima da
«Imprensa Periódica», do Dr. Luiz Fernandes, onde o Prof.
Joaquim Lonrival os havia revisto.—A. da C. C.)
Sabiá
(LUNDÜ)
Sabiá resabiado
Na matinha arrepiou-se,
Eu toquei chama de baixo
Sabiá veio, entregou-se.
Respondeu-me Venus,
De hom parecer:
“Quem se dispõe a amar.
Pispõe-se a sofírer;
Craeinha de amor
Amor ([lier dizer...”
Respondeu-me Vénus,
Com riso maligno :
—UK’ muito garoto
Aquelle menino !
Mas, não so despeito
Com o pequenino.”
Respondeu-me Vénus,
Com ar zombeteiro :
“Aquelle meu filho
E’ muito brejeiro !
Sempre foi assim,
Vivo e galhofeiro.”
Respondeu-me Vénus,
- 18 -
Meneando a trança :
—“E’ muito traquinas
Aquella creança.
Só com paciência
Aífectos se alcança.”
Si Yenus é pérfida
E’ pérfido o filho.
E o jogo de Amor
E’ só de codilho !.
1874
Uma Visão
Jà te dei em holocausto
Alma, vida e coração,
Tú me dais em recompensa
Negra, ícia ingratidão.
( TORÈ)
Curupipa se afugenta,
Manitó esquece a taba,
Mas minh’alma não esquece
O amor de Porangaba.
Da extremosa Margarida
O amor jà não se gaba;
Mas eu decanto, ARÀHY,
ü amor de Porangaba.
1874
No majestoso coqueiro
O cupiro altisonante,
Com variados concertos,
Beija, affaga a doce amante.
O auri-negro condiz,
Sobre mangueira copada,
Maviosos sons desprende
Da garganta atenorada.
Em symetricas fileiras
De larangeiras frondosas,
O eanario, em sustenidos,
Tira notas sonorosas.
O canoro pintasilgo,
A patativa queixosa,
Com seus apójos encantam,
Na orchestra harmoniosa.
O mimoso curió,
No castanheiro vistoso,
Com seus mágicos prelúdios
Se apresenta primoroso.
Ouverturas e duêtos,
Boas chulas e lundus,
Aprecio, transportado,
De anilados sanhassús.
O saudoso sabiá
De maestro aqui figura,
Um solo sobre a palmeira
Executa com ternura.
Na sombra refrigerante
Do poético pomar,
Passea e geme a rolinha,
Chamando o seu doce par.
— 41 —
Tu me inspiras e offereces
Summo prazer, gosto tanto..,
Que te darei eu também V
Dou-te o meu insulso canto.
1074
Glosa
Moite
(LUNDU')
Estribilho
Habitador
Da selva escura
Minha ternura
Não te commove? !
Nem mesmo Jove
Meus ais escuta,
Pois, nesta gruta
Choro meus males...
Peço te cales,
Que esse teu canto
Me afílige tanto...
O’ ! Pintasilgo !
Si tu amas, insensível
Aos revezes do destino,
Eu amo, e sinto os effeitos
Do seu impulso ferino.
— 48 —
Est.
Habitador, etc.
Est.
Habitador! etc.
1854
Flôr entre espinhos
Em terra escabrosa
De brenhas escuras,
Por entre fraguras
Nasceu linda flor.
Ao vel-a, senti
No meu triste peito
O magico effeito
Que produz amor.
Emquanto minh’alma
.Se ardia penosa
Na chíimma inditosa
De louca paixão.
A flor innocente
Parecer dizia
Que unir-se queria
Ao meu coração.
Tentei arrancal-a
De sitio tão feio
E pôr em meu seio
A flor, que é meu bem.
Mas, ah ! o cardume
De espinhas agudas
E urzes pelludas
Meus passos contém.
E eu soluçando
Chorosas endeixas,
Do fado mil queixas
Maldigo o rigor.
Aldeia Velha.
A uma Mangueira
Copada mangueira,
Vistosa e faceira,
Que do rio à beira
Se vô florear.
Me lembras o dia
De amor e folia,
Em que terna ouvia
Marilia cantar.
Na tua ramagem
Por entre a folhagem
Vinha a doce aragem
Branda, respirar.
Também no enredo
Do mago brinquedo,
Marilia em segredo...
Ouvi suspirar.
Sentada na areia,
Cantava a sereia,
Mostrando-se cheia
De gosto e prazer.
Porem, no entretanto,
Visei com espanto,
As gottas de um pranto
Marilia esconder.
Mysterio de amores
Que envolvem pudores
De riso c de dores
Cantar eu não sei.
Amores, affectos,
Carinhos selectos,
Afagos dilectos
Me viste gozar.
Frondosa mangueira
Altiva e faceira
Que dita ligeira
Me vens recordar !...
1875.
Quem dera...
Auras perfumosas
Festejai as rosas
De côr purpurina,
Que a bella Aurecina
Já olha p’ra mim.
Estribilho
Mimosa açucena,
Orna-te com a amena,
Gotta matutina,
Que a bella Aurecina
Já olha p’r’a mim.
Gentil beija-flor,
Sorve com fervor
A essencia mais fina,
Que a bella Aurecina
Já olha p’r’a mim.
Regato, serpeia
— 55 —
No prado, campeia,
Abre-te, ó ! bonina !
Que a bella Aurecina
Já olha p’r’a mim.
1874.
Qui potest capere capeat
Porque razão,
Lindo pavão
Ouço grasnar
E resmungar ?
Gralha praguenta
E virulenta
Contumelias crocitando
E a sua côr deslembrando ?
Torcaz ligeiro,
Lindo e faceiro,
Porque o nefario
E sanguinário
Açor cruento,
Tão violento,
Entre as garras furiosas
Te rasga as pennas mimosas ?
Alma remida
— 57 —
De Deus querida,
Porque Lusbel
Anjo infiel,
Tão carrancudo,
Ingrato a tudo,
Quer dar graças por insídias,
Expellir-te com perfídias ?
Doutor Segundo,
Vate profundo,
Diga a razão,
Dessa paixão,
Desse rancor,
Desse furor
De verdugos insolentes
Contra tantos innocentes ?
19 - 2—1906.
Glosa
Motte
GlQsa
Marilia bclla,
Meu doce encanto,
Não sabes quanto,
Por teu respeito,
Eu terno sinto
Dentro do peito.
Na phantasia
Sempre te „vejo,
Te adoro e beijo,
Mas, soffro logo
Triste desgosto.
Si fallo ou canto,
Si durmo ou velo,
E’ meu desvelo
Ter-te im mente,
Ah! cré, Marilia,
Em quem não mente.
— 60 —
(LUNDU')
Marilia, de ti se queixara
Meu amor, minha paixão,
Porque te fallo e me dizes
‘ Ora, isto não é o cão”?...
1 de Outubro de 1875.
Glosa
Motte
Evangelistas na missa...
Jã vi o mar em socego,
O oclio tornar-se amor,
Borboleta em beija flor,
Bato virar-se em morcego.
Vi querer ser Papa um leigo,
Vi trabalhar a preguiça,
Vi se calar a justiça,
Mas, inda não tinha visto,
Perante a imagem de Christo,
Evangelistas na missa.
CONCEITO
De r.osus c belvederes
Trazia a fronte or’oada.
Era a miragem dos campos,
Era a estrella da alvorada.
Do Despotismo
Ü genio sordido
E o baíio morbido
Sobre o Brasil.
No seu valente
Pulso athletico
Supporta tectrico
Duro grilhão.
Altos decretos
Da Providencia
Com reverencia
Sabe acatar ;
Porem, brioso,
Calca o flagício
E ao Ceu propicio
Levanta a voz.
Os meus gemidos
Do teu aurífero
vSolio estellifero
Ouve, ò Tupan.
Rubroso e fulvido
Falia Adonai.
Que sejas rico,
Sabio, libérrimo,
Nobre, integerrimo
Eu hei por bem
E dou-te em Pedro
0 heroe mais bellico,
O teu angélico
Bem tutelar.
Já sente o monstro
Cruel, satanico
Um terror pânico
Regelador.
E’ que o arresto
De Jove inclito
Lhe quebra o impeto
Fero e mortal.
Os seus sequazes
Ministros pérfidos
Procuram fervidos
A fuga vil.
Lá repercute
O echo nimio
De Pedro eximio
Imperador !
No Ipiranga
Dá grito rigido
Que torna frigido
0 monstro audaz.
— 73
Rangendo os dentes,
Convulso e barbaro,
Damnawdo o 1'artaro
Em seu covil.
Lá escancara
A bocca hórrida
E a fauce tórrida
Tenta rasgar;
Lambendo as patas
O monstro sabido
Afia esquálido
Dente fatal.
Pois que inda intenta
Noutro hemisfério
Seu negro império
Reivindicar.
Atrôa o antro
Nojento e lobrego,
Bem feio e sofrego
Urso feroz.
No desespero
Flamma sulfúrea _
Lhe estanca a furia
Eido no chão.
A mais ridente
Aurora rúbida
Desponta lúcida
De encantos mil.
Ella annuncia
O mais licifero
E salutifero
Dia feliz.
Setembro salve...
No dia sétimo
De maior préstimo
— 74 —
Là grita o povo,
Por exeellencia
Independencia,
Viva a Nação!
Repete o echo,
Na eminência,
‘ Independencia!
Viva o Brasil!”
1861
Purpurea flor
2 4 - 1 1— IÜOI.
O cruel açoite
Da impia Megera
Mais que o seu desdem
Tormentos não gera.
Não é Filomela,
Nem tamlx-m ITancina,
Natalia não é,
Nem mesmo Josina.
1361
Furmosa como uns Amores
As Deidades do Parnaso
Prorompem em mil clamores,
Despeitadas porque és
Formosa como uns Amores.
Attende, o’ bella,
Ouve, o’ Corina,
Harpa que afina
Esta minh’alma,
Sustem, acalma
Tanto despeito...
Que a este peito
Suffoca e mata.
O negro Averno
,Se enterneceu,
'locando Orpheu
Na doce lyra,
Alas não te inspira
Ternura e dó
Harpa que só
Respira amor V
Tudo agita,
Tudo se abala,
A rocha estala
A’ voz de Amphion
Porem o som
DMiarpa que gemo
De dor extremo
Não te commove.
Do mar profundo
— 82 —
Surgem tritões
A ouvir os sons
l)’harpa <le Zino
Só teu indino
Peito feroz
Desta harpa a voz
Nunca se abranda.
Eheu, fame pereo
Escuta, ó Arbitro
Do Universo
Meu triste verso,
Eheu, fame pereo.
De Abraham, Isaac
E de Israel,
O’ Deus fiel
Eheu, fame pereo.
Si dòste ao povo
Lá no deserto
O maná certo
Eheu, fame pereo.
Tu que remiste
O peccador,
Ouve, o’ Senhor,
Eheu, fame pereo.
Não desampares
— 84 —
Oh ! Não ostentes
O teu poder
No meu soffrer
Eheu, fame pereo.
Mostra-o .Senhor,
P’r’a o Oceano
Que ruge ufano,
Eheu, fame pereo.
Mostra-o na feia
Procelia undosa
Que freme irosa
Eheu, fame pereo.
Mostra-o no feio
Tufão tremendo
Que berra horrendo
Eheu, fame perco.
Mostra-o e ostenta-o
Com o desabrido
ímpio e descrido
Eheu, fame pereo.
Mostra-o também
PVa o que não quer
Nosso irmão não ser
Eheu, fame pereo.
- 83 -
Mostra-o ainda
PVa o orgulhoso
E ambicioso
Eheu, fame pcreo.
Là grita o filho
Do coração
“Eu quero pão”
Eheu, fame pereo.
Responde a Esposa,
No transe amaro,
“Esposo caro
Eheu, fame pereo.
Em mim preparas
Um outro Job V
De mim tem dó
Eheu, fame pereo.
Dã-me, o’ Monarcha,
Pae do Universo,
Fado diverso
Eheu, fame pereo.
Mandã-me auxilio
Si não eu morro,
Dã-me o soccorro
Eheu, fame pereo.
—86
E tu também,
Nobre Yelloso,
Si és piedoso
Eheu, íame pereo.
Là de Mnemosync
Chega-te a presença
lí para falar-lhe
Supplica licença,
Apresenta-te ás nove
Formosas Cameqas,
As minhas saudades
Minhas duras penas.
Eu te exponho tudo :
Descubro o segredo,
Que de Argus e Zoilos
Nunca tive medo.
Futerpe... se chama,
Que nome engraxado !...
Eu sempre o repito
Todo extasiado
Nessa feiticeTa
Dá um abracinho,
E muito em surdina
Um doce beijinho
Mesmo de Calliope
Eu lenho receios
Que pena pmscinta
Os (.eus devaneios.
Ah ! não te demores,
Vae, corre meu Extro,
Sê meu confidente,
Deixa-te de sestro.
A ninguém reveles
Tua commissão,
E que se divulgue
Não tc importes não.
Do Recreio, 1801.
(Js Threnos de mna amante
Clorimla, tu ès um anjo
Na candura e na feição,
Mas, a Deus aprouve dar-te
Travessas azas de Cão-