Experiências Agroecológicas NEA

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 106

Organizadores:

João Vianey Fernandes Pimentel


José Wilson Costa de Carvalho
Júlio Justino de Araújo
Renato Silva de Castro
Experiências
Agroecológicas

Organizadores:
João Vianey Fernandes Pimentel
José Wilson Costa de Carvalho
Júlio Justino de Araújo
Renato Silva de Castro

Natal, 2019
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Jair Messias Bolsonaro
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Ariosto Antunes Culau

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E


CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA PARAÍBA TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE
REITOR REITOR
Cícero Nicácio do Nascimento Lopes Wyllys Abel Farkatt Tabosa
PRÓ-REITORA DE ENSINO PRÓ-REITOR DE PESQUISA E INOVAÇÃO
Mary Roberta Meira Marinho Márcio Adriano de Azevedo
PRÓ-REITORA DE PESQUISA, INOVAÇÃO E PÓS- COORDENADORA DA EDITORA IFRN
GRADUAÇÃO Kadydja Karla Nascimento Chagas
Silvana Luciene do Nascimento Cunha Costa
REVISÃO TEXTUAL
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E CULTURA Laianni Vitória Cosme e Silva
Maria Cleidenédia Moraes Oliveira
PRÓ-REITOR DE ASSUNTOS ESTUDANTIS
Manoel Pereira de Macedo Neto
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
Pablo Andrey Arruda de Araujo

EDITORA IFPB
DIRETOR EXECUTIVO
Carlos Danilo Miranda Regis
CAPA E DIAGRAMAÇÃO
Laís Lacet

Copyright © Nina Maria da Guia de Sousa Silva. Todos os direitos reservados.


Proibida a venda As informações contidas no livro são de inteira responsabilidade dos seus autores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

P644e Pimentel , João Vianey Fernandes


Experiências Agroecológicas/ João Vianey Fernandes Pimentel et al. – João Pessoa/PB:
IFPB, 2019.
106f.: Il.

E-book (PDF)
ISBN: 978-85-54885-29-8

1. Agroecologia 2. Experiências agroecológicas 3. Agronomia 4. Ecologia I. Instituto


Federal de Educação do Rio Grande do Norte, Campus Ipanguaçu. II. Vale do Açu.

CDU: 631.95

Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento de Bibliotecas DBIBLIO/IFPB


SOBRE NÓS

João Vianey Fernandes Pimentel (Organizador/Autor)


Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal do
Ceará (UFC/1990), especialização em Desenvolvimento com Meio
Ambiente (ESDEMA-UVA/2001), Mestrado (2009) e Doutorado
(2012) em Engenharia Agrícola, com área de concentração em
Irrigação e Drenagem na Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG). É professor do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área
de Agronomia, Meio Ambiente e Agroecologia, com ênfase em
Sistemas Agroflorestais, atuando principalmente nos seguintes
temas: desenvolvimento sustentável, reflorestamento, recuperação
de áreas, caatinga, agroecologia, plantas medicinais, mudas nativas,
solo e água no semiárido. E-mail: [email protected]

José Wilson Costa de Carvalho (Organizador/Autor)


Possui graduação em Engenharia Agronômica pela
Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA (2002),
especialização em Extensão Rural para o Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade Federal Rural de Pernambuco-
UFRPE (2006), Mestrado em Ciências do Solo pela Universidade
Federal Rural do Semi-árido-UFERSA (2010) e Doutorado em
Manejo de Solo e Água pela Universidade Federal Rural do Semi-
Árido - UFERSA (2016). Atualmente, é professor nos cursos Técnicos
em Agroecologia e em Meio ambiente e no curso de graduação
tecnológica em Agroecologia no Instituto Federal de Educação,
Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN/Campus
Ipanguaçu. Tem experiência no Ensino, Pesquisa e Extensão
nas áreas de Agroecologia, Ciências do solo e Metodologias
Participativas. E-mail: [email protected]

4
Júlio Justino de Araújo (Organizador/Autor)
Possui graduação em Engenharia Agronômica pela
Universidade Federal Rural do Semiárido (1985), Mestrado em
Irrigação e Drenagem (2010) e Doutorado em Manejo de Solo
e Água (2016), com tese em Sistemas de Irrigação na produção
orgânica de bananeira no Vale do Açu-RN, pela Universidade
Federal Rural do Semi-Árido. Atualmente, é professor efetivo do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte, Campus de Ipanguaçu-RN. Tem experiência na área de
Engenharia Agrícola, atuando como professor do curso Técnico em
Agroecologia e do curso Superior de Tecnologia em Agroecologia,
no qual exerceu a função de coordenador de 2016 a 2018. Também
coordenou o projeto de Revegetação da Mata Ciliar do Rio Açu,
financiado pela Termoaçu e pela Petrobras, e o projeto de pesquisa
“Sistemas de Irrigação na produção orgânica de bananeira no Vale
do Açu-RN”, financiado pelo IFRN e pelo Banco do Nordeste.
Além disso, possui experiências como consultor e instrutor da
FUNCERN e do SEBRAE nas áreas de Agroecologia, Fruticultura
Irrigada e Elaboração de Projetos Agropecuários. E-mail: julio.
[email protected]

Renato Silva de Castro (Organizador/Autor)


Professor de educação básica, técnica e tecnológica do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte, Campus Ipanguaçu, na área de Meio Ambiente
e Agroecologia. Possui graduação em Engenharia Agronômica pela
Faculdade de Agronomia e Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves
(1985), Espírito Santo do Pinhal - SP, e Mestrado (2003) e Doutorado
(2010) em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semiárido,
Mossoró-RN. Foi professor da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN), ministrando disciplinas nos cursos
de Geografia e Ciências Biológicas. Participou dos projetos de
pesquisa “Metodologia Científica ao Alcance de Todos”, financiado
pela FINEP; “Rio Apodi/Mossoró: Integridade Ambiental a

5
Serviço de Todos”, por meio do Programa Petrobras Ambiental; e
“Desenvolvimento de Metodologia de Desumidificação do Mel
de Jandaíra”, financiado pela FAPERN. Atualmente, desenvolve o
projeto “Rendimento de cultivares de Quinoa (Chenopodium quinoa
Willd) em região semiárida utilizando diferentes tipos de adubo
e densidades de planta”, projeto iniciado com auxílio de Bolsa
DCR (FAPERN/UERN/CNPq). Tem experiência em extensão rural,
em diversas culturas agrícolas, adquirida por meio da atuação na
Companhia de Seguros do Estado de São Paulo durante 14 anos,
onde atuou na divisão regional agrícola de Ribeirão Preto – SP, e na
W.G. Produção e Distribuição de Frutas LTDA, na região semiárida
do Nordeste. E-mail: [email protected]

Ana Luiza de Souza (Autor)


E-mail: [email protected]
Ana Paula Pereira do Nascimento (Autor)
E-mail: [email protected]
Cássio Luiz Cavalcante Cunha (Autor)
E-mail: [email protected]
Edla Daiane de Souza Freire (Autor)
E-mail: [email protected]
Francisco Eudes da Silva (Autor)
E-mail: [email protected]
Nielison Douglas da Costa (Autor)
E-mail: [email protected]
Sâmara Beatriz Sugimoto Faustino (Diagramação/Arte)
E-mail: [email protected]
Talita Geórgia da Cunha (Autor)
E-mail: [email protected]

Sumário
Capítulo 1
1. Introdução ...................................................................................................................................11
2. Origem do NEA: integrando ensino, pesquisa e extensão............................. 14
3. A experiência das Unidades Técnicas Demonstrativas (UTD) ..................30
4. Desafios e avanços na construção do conhecimento agroecológico......33
5. Considerações Finais............................................................................................................39
Capítulo 2
1. Introdução...................................................................................................................................45
2. A UTD manejo da caatinga no ifrn campus ipanguaçu................................. 46
3. Práticas agroecológicas relacionadas à UTD manejo da caatinga...........48
Capítulo 3
1. Introdução................................................................................................................................... 57
2. A UTD Agrocaatinga.............................................................................................................58
3. Estabelecimento da Agrocaatinga................................................................................59
4. Condução das plantas na UTD......................................................................................61
5. Manejo de insetos...................................................................................................................62
6. Identificação das espécies plantadas..........................................................................63
7. Considerações Finais.............................................................................................................63
Capítulo 4
1. Introdução ..................................................................................................................... 67
2. A UTD Nutrientes ..................................................................................................... 67
3. Produção e manejo das principais fontes de nutrientes de base ecológica
utilizadas na UTD Nutrientes............................................................................................. 69
4. Considerações Finais............................................................................................................ 81
Capítulo 5
1. Introdução...................................................................................................................................83
2. A UTD Banco de sementes no IFRN Campus Ipanguaçu............................84
3. Práticas agroecológicas relacionadas à UTD Banco de sementes............87
4. Secagem da semente e armazenamento: .......................................................... 90

7
Capítulo 6
1. Introdução ..................................................................................................................................93
2. A UTD - Banana orgânica, variedade pacovan, no IFRN Campus
Ipanguaçu.........................................................................................................................................94
3. Práticas agroecológicas relacionadas à UTD - Banana orgânica,
variedade pacovan.......................................................................................................................95
4. Tratamento fitossanitário e transplantio...............................................................102
5. Colheita.......................................................................................................................................104

8
APRESENTAÇÃO

Reunimos, neste livro, um resgate histórico da criação e do


desenvolvimento do Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA)
do IFRN - Campus Ipanguaçu. No capítulo 01, descrevemos todo o
processo, desde o seu marco inicial, em 2010, até os dias atuais.
Para a reconstituição da trajetória do Núcleo, foram aplicadas
metodologias de pesquisa participativa — que se caracterizam
por integrar investigação, educação popular e participação social
— através de oficinas envolvendo os integrantes do NEA, de
entrevistas com roteiro semiestruturado, do uso da metodologia
conhecida como “linha do tempo”, do mapeamento participativo
ou mapa falado, do levantamento das fortalezas, oportunidades,
fraquezas e ameaças do núcleo e do Diagrama de Venn.
Do capítulo 02 ao 06 são abordados, detalhadamente, o
processo de implantação de algumas das Unidades Técnicas
Demonstrativas (UTDs) e as práticas agroecológicas relacionadas
a elas que podem ser aplicadas pelos agricultores familiares em
suas realidades locais. Assim, foram descritas as UTDs Manejo
da Caatinga, Banco de Sementes, Manejo de Nutrientes de Base
Ecológica, Sistema Agroflorestal e Banana Orgânica.
Nos capítulos relativos às UTDs, são descritas todas as etapas
de sua implantação e manutenção, com especial destaque ao
envolvimento de toda a comunidade interna e externa do IFRN —
Campus Ipanguaçu. Além disso, são destacados o papel fundamental
que estes espaços didáticos têm no processo formativo dos alunos
dos cursos técnicos e superiores em Agroecologia e o fomento ao
aprimoramento das práticas agroecológicas no Vale do Açu.

9
Capítulo 1
TRAJETÓRIA DO NÚCLEO DE ESTUDOS EM
AGROECOLOGIA (NEA)
CAPÍTULO 1

TRAJETÓRIA DO NÚCLEO DE ESTUDOS


EM AGROECOLOGIA (NEA)1

Talita Geórgia da Cunha


João Vianey Fernandes Pimentel
José Wilson Costa de Carvalho

1. INTRODUÇÃO
A região do Vale do Açu é marcada pelo modelo convencional
de agricultura, especificamente no município de Ipanguaçu/RN.
Essa modernização de acordo com Albano (2005), divide-se em dois
momentos distintos: a instalação do perímetro irrigado Baixo Açu
e a inserção da multinacional Del Monte Fresh Produce.
No primeiro momento, na década de 70, com a construção da
Barragem Armando Ribeiro Gonçalves e a instalação do perímetro
irrigado Baixo Açu, houve a chegada de muitas empresas agrícolas
que mudaram o eixo da produção municipal de agricultura familiar
tradicional e de subsistência da região para uma agricultura
patronal de mercado (agronegócio). Na década de 90, houve
o aprofundamento dessas transformações com a chegada da
multinacional Del Monte Fresh Produce, que impactou fortemente
o mercado fundiário local e o modo de produção camponês, que
passava por grandes modificações desde a década de 70, o que
inseriu o município, através da produção de banana para fins de
exportação, em uma economia globalizada.
Todavia, a concentração de terras por parte das empresas,
a intensificação do êxodo rural, a mão de obra barata, a poluição

1. Este capítulo foi extraído de parte da monografia revista e atualizada,


“Construindo Conhecimento Agroecológico: A Trajetória do Núcleo de Estudos
Em Agroecologia (NEA) no IFRN Campus Ipanguaçu/RN”, da Tecnóloga em Agro-
ecologia, ex-integrante do NEA, Talita Geórgia da Cunha.

11
do ar, da água e do solo, a desvalorização do saber local, a
desertificação, os problemas de saúde ocasionados pela utilização
de agrotóxicos, dentre outras, são consequências desse processo
de globalização.
De acordo com Lopes (2014), dentre as principais
transformações evidenciadas no meio rural do município
de Ipanguaçu estão as mudanças nas relações de produção
e de trabalho, o processo de proletarização do camponês, a
desarticulação e/ou a desintegração do campesinato, a expropriação
do camponês, o fim da autonomia camponesa e a concentração
de terra e de renda. Essas transformações promoveram várias
consequências indesejáveis, tanto ao meio natural (destruição dos
carnaubais e contaminação do solo por meio do uso indiscriminado
de agrotóxicos), quanto à população local, sobretudo para os
pequenos proprietários que foram expropriados de suas terras.
Em 2006, com a expansão da rede federal de educação
profissional e tecnológica, o CENTAVALE foi contemplado pelo
Ministério da Educação com a instalação da Unidade de Ensino
de Ipanguaçu (MDA, 2008) junto com o curso de Agroecologia,
compreendendo uma abordagem divergente à do agronegócio.
De acordo com Carvalho (2016), o curso técnico na modalidade
EJA (Educação de Jovens e Adultos) integrado ao ensino médio do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN) — Campus Ipanguaçu foi o primeiro curso de
Agroecologia do estado, funcionando desde 2006. Atualmente, o
IFRN Campus Ipanguaçu oferta o curso de Agroecologia tanto na
modalidade integrada e integrada EJA (nível médio/técnico), quanto
na modalidade superior (graduação tecnológica), além de cursos em
outras áreas.
De modo geral, os cursos de Agroecologia, em todas as
modalidades, têm como missão a formação de profissionais
capazes de atuar nas esferas sociocultural, ecológica, política e
econômica junto aos agricultores familiares da região, contribuindo
para a transição de agroecossistemas de base ecológica e para o
desenvolvimento local sustentável.

12
As atividades do curso devem resultar de um processo
integrado de ensino, pesquisa e extensão de qualidade, capaz de
dotar os discentes de discernimento e habilidades para pesquisar,
propor, gerenciar e conduzir tecnicamente mudanças, bem como a
utilizar racionalmente os recursos disponíveis, além de promover e
conservar o equilíbrio ambiental. (IFRN, 2012, p. 9).
Nesse sentido, Caporal, Paulus e Costabeber (2006) afirmam
que a educação e a comunicação nos processos baseados nos
princípios da Agroecologia têm que permitir a expressão dos
desejos e necessidades dos atores para sua incorporação nos
desenhos de alternativas de desenvolvimento e de agriculturas
sustentáveis, rompendo-se a barreira do difusionismo e criando-se
mecanismos que evitem a alienação dos sujeitos.
Ainda, de acordo com Silva et. al. (2017), os NEAs propõem um
novo formato de grupos de pesquisa e extensão nas Universidades
e Institutos Federais, rompendo com as práticas de isolamento e
autopromoção das estruturas convencionais existentes. Além disso,
abrem as portas dessas instituições para o conjunto da sociedade,
possibilitando a construção de saberes a partir da realidade
concreta do território onde estas se inserem.
Nesse sentido o NEA tem adotado em suas ações as seguintes
estratégias: o ensino contextualizado, o qual visa a aproximação do
ensino nos cursos de Agroecologia e as experiências desenvolvidas
pelo Núcleo no próprio Campus ou junto aos contextos reais
dos agricultores e agricultoras; a pesquisa participativa, que
aporta um enfoque sistêmico e transdisciplinar, baseando-se em
metodologias participativas, promovendo a interação de aspectos
científicos e culturais trazidos pelos diversos sujeitos envolvidos
como estudantes, extensionistas e agricultores(as); e a extensão,
que tem promovido o intercâmbio de saberes, entre estudantes,
docentes, extensionistas, agricultores(as), a fim de contribuir para
a construção do conhecimento agroecológico na região mediado
pelos diversos saberes.

13
2. ORIGEM DO NEA: INTEGRANDO ENSINO,
PESQUISA E EXTENSÃO
O NEA surge em 2010, a partir da necessidade de alavancar
as discussões sobre a agroecologia dentro e fora do IFRN
Campus Ipanguaçu:

Nós vimos aí a possibilidade de termos um grupo


de pesquisa interdisciplinar e multidisciplinar, e
que pudesse fazer tanto o aprofundamento mais
teórico do ponto da construção do conhecimento
agroecológico nesse núcleo, como a gente poderia
também estar fazendo iniciativas práticas dentro das
comunidades, a partir desse conhecimento, e fazendo
com que o Campus Ipanguaçu, que tinha como foco a
agroecologia, pudesse se tornar uma referência, não só
no ensino, mas também de experiências nesse campo
agroecológico (Informação verbal)2

Dessa forma, ainda em 2010, foi aprovado o primeiro projeto


junto aos Ministérios MEC/MAPA/MCT, intitulado “A Construção
do Conhecimento Agroecológico Vivenciado na Pesquisa Participativa”.
O projeto tinha como objetivo socializar tecnologias de base
ecológica, passíveis de apropriação por agricultores familiares da
comunidade Base Física do município de Ipanguaçu/RN, além
de criar e fortalecer um ambiente de debates e estudos sobre a
Ciência Agroecológica.

Uma notícia por e-mail institucional divulgando


o Edital. Alguns professores se sensibilizaram
e se envolveram, principalmente Júlio Justino.
Depois mantivemos contatos e tivemos apoio
consultivo do Campus do IFPB de Picuí, Prof. Wilson
Carvalho, que nos forneceu importante subsídio,

2. Fornecida por Paulo Sidney Gomes Silva, em Ipanguaçu, fev. 2017.

14
que julgo preponderante à aprovação do projeto
(Informação verbal)3.

O objetivo dessa iniciativa caminha no sentido apontado


por Caporal (2009a), quando afirma que a nova extensão rural
se baseia em quatro objetivos principais, dentre eles, apoiar os
agricultores(as) na seleção de tecnologias de produção capazes
de reduzir riscos e otimizar o uso dos recursos internos, de
modo a alcançar na totalidade dos sistemas agrícolas, níveis
de produtividade estáveis e que não afetem negativamente o
equilíbrio ecológico.
Também Pimenta e Franco (2008) afirmam que a utilização da
pesquisa participativa como forma metodológica possibilita aos
participantes condições de investigar sua própria prática de uma
forma crítica e reflexiva.
Dessa forma, através dos recursos disponibilizados pelo
projeto, foi possível iniciar a estruturação do NEA através da
compra de materiais e equipamentos e, principalmente, da
concessão de bolsas para estudantes do curso Técnico Integrado
em Agroecologia. Assim, o núcleo ganhou força e estrutura para se
organizar no que diz respeito a potencializar discussões e promover
ações sobre agroecologia dentro e fora do Campus (Figura 1).
Figura 1 - Oficina de compostagem realizada na Associação dos
moradores da Base Física como ação do projeto, Ipanguaçu/RN, 2010.

Fonte: Acervo NEA.

3. Fornecida por Saint Clair Lira Santos, em Ipanguaçu, fev. 2017.

15
Caporal, Paulus e Costabeber (2006) afirmam que, a
Agroecologia, como matriz disciplinar, vem aportando as bases para
um novo paradigma científico, que, ao contrário, do paradigma
convencional da ciência, procura ser integrador, rompendo
com o isolacionismo das ciências e das disciplinas gerado pelo
paradigma cartesiano.

O que me motivou a participar do NEA foi o caráter


de formação integral que ele oferecia, que a gente
tinha uma carência né, técnica do curso. Que não
conseguia ainda, abranger muito a experiência prática,
profissional, em especial, na ideia de extensão e
pesquisa (Informação verbal)4.

Nota-se na fala do ex-bolsista a importância de o núcleo


trabalhar a relação ensino, pesquisa e extensão, de modo a
contribuir para a integração desses três pilares dentro do
Instituto. Nesse sentido, Martins (2012) aponta que é importante
fazer a distinção entre universidades de ensino e universidades
de ensino, pesquisa e extensão, sendo a primeira preocupada em
formar profissionais executores de conhecimento, enquanto a
segunda destinada à formação de profissionais críticos, que sejam
agentes de transformação da realidade, aptos à produção científica
e tecnológica.
A presença desses elementos de transformação da realidade
fica evidenciada em outra fala do estudante, transcrita abaixo,
apontando que essa é uma preocupação real e concreta do NEA
desde a sua concepção:

Eu entrei no início de 2011, e o processo de seleção foi


via carta de intenção e entrevista. Tinha também os
critérios de turno, de ano de curso e coisa do tipo, se
não me engano. E tinha também cotas pra mulheres,

4. Fornecida por Franco Willamy da Fonseca, em Ipanguaçu, mar. 2017

16
que eu acho bem importante e revolucionário,
inclusive na época. (Informação verbal)5

Na perspectiva de articular ensino, pesquisa e extensão, alguns


dos resultados das ações do NEA e do seu primeiro projeto foram
publicados através de artigos no VII CONGRESSO BRASILEIRO
DE AGROECOLOGIA (Figura 2), realizado entre os dias 12 e
16 de dezembro de 2011, em Fortaleza/CE. O tema central do
evento foi “Ética na Ciência: Agroecologia como paradigma para
o desenvolvimento rural”. O evento reuniu mais de 5.000 pessoas,
dentre elas pesquisadores, extensionistas, professores, técnicos,
estudantes, representantes de entidades de assistência técnica
rural, movimentos sociais do campo e agricultores(as).
Figura 2 - Participação do NEA no VII Congresso Brasileiro de
Agroecologia, Fortaleza/CE, 2011.

Fonte: Acervo NEA (2011).

5. Fornecida por Franco Willamy da Fonseca, em Ipanguaçu, mar. 2017

17
Importante destacar que mesmo com o encerramento, em 2011,
do projeto inicial, o NEA seguiu desenvolvendo suas ações com o
apoio institucional do Campus através da manutenção das bolsas
estudantis até a aprovação de um novo projeto em 2012.
Assim, no início de 2012, o núcleo aprovou um novo projeto
de extensão, junto à Pró-Reitoria de extensão do IFRN Campus
Ipanguaçu, chamado “A construção dialógica de saberes agroecológicos
e resgate da cultura camponesa”, que tinha como objetivo elaborar
um diagnóstico participativo contendo os principais problemas e
estratégias adotadas pelos agricultores(as) familiares do manejo dos
agroecossistemas locais no Assentamento Pedro Ezequiel de Araújo
localizado no município de Ipanguaçu (Figura 3).
Essa perspectiva de ação dialoga com Altieri (2012) quando
afirma que, mais do que nunca, é de extrema importância que
cientistas enfatizem o papel da agricultura tradicional, como uma
fonte de material genético e técnicas agrícolas regenerativas que
constituem a fundação de uma estratégia de desenvolvimento rural
sustentável direcionada a agricultores(as) menos favorecidos.
Figura 3 - Equipe do NEA em visita ao assentamento Pedro Ezequiel de
Araújo, Ipanguaçu/RN, 2012.

Fonte: Acervo NEA (2012).

18
Diversas atividades foram realizadas nesse período:
Intercâmbio de Experiências, como o realizado em São Miguel
do Gostoso em parceria com a UFERSA, projetos como “Horta
Agroecológica na Escola” e “Horta como Terapia Ocupacional na
APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais)”.
Entre essas ações, é possível destacar a realização de um
intercâmbio através de parceria estabelecida entre o projeto e a
Prefeitura Municipal de Ipanguaçu, que busca viabilizar a visita
de um grupo de agricultores do Projeto de Assentamento Pedro
Ezequiel de Araújo aos municípios de Caraúbas/RN e Umarizal/
RN (Figura 4).
Figura 4 - Intercâmbio aos municípios de Caraúbas/RN e
Umarizal/RN, 2012.

Fonte: Acervo NEA (2012).

Espaços como esses são de suma importância, tendo em vista


que esses contribuem para o enriquecimento do saber científico
e cu ltural dos sujeitos envolvidos. Afinal, o conhecimento se
constitui nas relações homem-mundo, relações de transformação, e
se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações (FREIRE,
2006, p. 36).

19
A iniciativa de recepcionar os novos estudantes dos cursos de
agroecologia através de uma caminhada pela fazenda escola, ação
interna realizada pelo NEA ainda em 2012, constituiu-se como a 1ª
Caminhada Ecológica do Campus Ipanguaçu (Figura 5) e introduziu,
assim, essa prática no Campus.
Figura 5 - 1º Caminhada Ecológica realizada pelo NEA no IFRN Campus
Ipanguaçu, 2012.

Fonte: Acervo NEA

A caminhada ecológica é definida por Santos (2007) como


uma atividade educativa e recreativa que envolve a incorporação
de princípios do ecologismo, traduzidos na prática de Educação
Ambiental de vertente emancipatória, na adoção de critérios de
atenuação de impactos socioambientais e na difusão em linguagem
acessível de conhecimentos multidisciplinares ou interdisciplinares
sobre os locais visitados.

[...] Me marcou muito a caminhada ecológica,


que começou pelos bolsistas da época, a gente

20
recepcionava os alunos e ainda fazia uma semana
de consciência ambiental e ecológica, e falava
um pouco sobre o curso, sobre a agroecologia.
Até hoje, eu encontro pessoas que lembram dessa
experiência, de como isso os marcou, para a formação
e para a chegada, naquele momento de acolhimento
(Informação verbal)6.

Ainda em 2012, o CNPq lança a chamada pública nº 46/2012, na


qual aprovou-se o projeto “Implantação de unidades demonstrativas
e caracterização socioambiental para o fortalecimento da
Agricultura Familiar no Vale do Açu-RN”. Através desse projeto,
foram implantadas 04 Unidades Técnicas Demonstrativas (UTDs):
UTD Agrofloresta, UTD Manejo da Caatinga, UTD Palma Forrageira
e UTD Manejo de nutrientes.
Pinotti et. al. (2016) define Unidade Demonstrativa (UD) como
a implantação de áreas com a finalidade de transmitir a um público
específico conhecimento e aprendizagem de práticas através da
demonstração prática do exposto.
Outra função das UDs é a função didática, pois elas podem e
devem ser implementadas em escolas agrotécnicas e universidades
como forma de complementar as atividades práticas dos alunos.
(EMBRAPA, 2010).

Então, a partir dessas UTDs, foi que a gente


realmente foi ganhando espaço dentro da fazenda
escola, os professores passam a dialogar com a
direção da fazenda e começam a propor mais
intervenções, solicitando apoio para que aconteçam
de fato as práticas agroecológicas dentro do Instituto
(Informação verbal)7.

6. Fornecida por Franco Willamy da Fonseca, em Ipanguaçu, mar. 2017

7. Fornecida por João Vianey Fernandes Pimentel, em Ipanguaçu, mar. 2017.

21
Já em 2013, o projeto “A construção do conhecimento agroecológico
vivenciado na produção de nutrientes através de processos participativos”,
vinculado ao NEA, foi aprovado em edital de fluxo contínuo do
IFRN Campus Ipanguaçu, tendo como objetivo contribuir para a
implantação da UTD de Manejo e Produção de Nutrientes de Base
Agroecológica (Figura 6).
Figura 6 - Início da implantação da UTD Manejo e Produção de
Nutrientes no IFRN, Campus Ipanguaçu, 2013.

Fonte: Acervo NEA.

Também em 2013, o NEA recebeu um grupo da Caravana


Agroecológica e Cultural da Chapada do Apodi, em Ipanguaçu,
que teve como objetivo mobilizar organizações e movimentos do
território na construção do III Encontro Nacional d Agroecologia
(ENA), a fim de promover o intercâmbio de experiências,
proporcionando um espaço de socialização do potencial das
experiências agroecológicas e de denúncia ao modelo de agricultura
convencional.

22
Como explica Porto (2016), a caravana territorial é um
instrumento político-pedagógico construído pelo movimento
agroecológico no Brasil, junto com diversas entidades, redes e
movimentos sociais, e tem como finalidade exercitar um olhar
coletivo e popular sobre o território, com suas contradições e seus
desafios na construção de uma nova sociedade.
A caravana foi realizada entre os dias 23 a 26 de outubro
de 2013, sendo de responsabilidade da Articulação Nacional de
Agroecologia (ANA) e das organizações nacionais e regionais, como a
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Comissão Pastoral da Terra
(CPT), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores
(CUT) e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de
Apodi. A caravana reuniu cerca de 350 representantes dos nove
estados do Nordeste. O grupo recebido pelo NEA pôde observar os
impactos do modelo da agricultura moderna, irrigada, no vale do
Açu/RN, e dialogar com a comunidade interna do Campus e com o
entorno do IFRN Campus Ipanguaçu (Figura 7).
Figura 7 - Grupo da Caravana Agroecológica e Cultura da Chapada do
Apodi recebido pelo NEA em Ipanguaçu/RN, 2013.

Fonte: Acervo NEA

23
Ao mesmo tempo que manteve uma ação local, no Campus e
nas comunidades, o NEA avançou nas discussões nacionais através
dos diversos fóruns e eventos nacionais: I Seminário de Discussões
do Núcleo de Estudos em Agroecologia: “Os mitos dos grandes
projetos de desenvolvimento: você vai engolir?”, em Ipanguaçu/RN;
III Encontro Internacional de Agroecologia, em Botucatu/SP; VIII
Congresso Brasileiro de Agroecologia, em Porto Alegre/RS e XIII
Encontro Regional de Agroecologia/NE, em Crato/CE.
A aprovação do Projeto “Sementes crioulas para o fortalecimento
da agricultura familiar no Vale do Açu/RN” na chamada MCTI/MAPA/
CNPq Nº 40/2014, no ano de 2014, com objetivo de ampliação
e manutenção da estruturação e das ações do NEA, visando
contribuir com o fortalecimento da Agricultura Familiar no Vale
do Açu-RN, iniciou o trabalho importantíssimo de resgate e
multiplicação de sementes crioulas.
De acordo com Sauer (2010), as sementes crioulas servem
como uma âncora territorial que garante a manutenção de uma
identidade local, mesmo com as novas interações constituintes da
vida moderna. Para Barcelos (2011), elas são um meio de propagação
da vida e produto da evolução da natureza, que vai muito além de
uma unidade biológica, elas criam um universo de saberes que se
mantêm por milênios através da evolução e seleção natural.
Outro projeto importante desenvolvido pelo NEA, foi o Projeto
“Quintais Agroecológicos no entorno do IFRN Campus Ipanguaçu”, que
surgiu com o intuito de diversificar os quintais através da adoção
de práticas de base ecológica por parte das famílias que moram no
entorno do Campus.
Ainda em 2014, houve a participação de integrantes do NEA
no IV Congresso Latino Americano de Agroecologia, realizado em
La Molina – Lima/Peru (Figura 8); apresentação de trabalhos e
realização de minicursos para agricultores(as) e estudantes sobre
práticas de base ecológica desenvolvidas nas UTDs na II Expotec
do Campus Ipanguaçu, além da participação no XIV Encontro
Regional de Agroecologia em Mossoró/RN, realizado na UFERSA,

24
com o tema: “O papel da agroecologia no fortalecimento da
identidade camponesa”.
Figura 8 - Participação do NEA no IV Congresso Latino Americano
de Agroecologia realizado em La Molina – Lima/Peru, 2014.

Fonte: Acervo NEA (2014).

Como uma das ações do Projeto “Sementes crioulas para


o fortalecimento da agricultura familiar no Vale do Açu/RN’, foi
realizado, em 2015, o “I Seminário de Agroecologia do Vale do Açu”.
O seminário contou com a participação de mais de 150 estudantes,
técnicos de instituições e agricultores(as). Nele houve apresentações
culturais, debates e um momento riquíssimo de troca de sementes,
fortalecendo a temática da agroecologia e das sementes crioulas no
Vale do Açu (Figura 9):

“A gente participou do primeiro e do segundo


seminário. Pra gente é sempre gratificante, chegar lá
e saber que tem uma universidade federal preocupada

25
com essas questões de preservação” (Informação
verbal)8.

Essa iniciativa está de acordo com Menegoni (2011), quando


afirma que as feiras e trocas de sementes crioulas buscam,
através de uma programação diversificada (seminários, oficinas,
palestras, shows, etc.) focada na realidade dos agricultores (as),
promover informação e a formação desses agricultores (as) quanto
à importância da conservação da biodiversidade, sobretudo, da
preservação das sementes crioulas.
Figura 9 - I Seminário de Agroecologia do Vale do Açu, IFRN Campus
Ipanguaçu, 2015.

Fonte: Acervo NEA

[...] Através do seminário de agroecologia realizado


pelo NEA, foi possível ter contato com o agricultor.
É muito interessante, porque você vai vendo como

8. Fornecida por José de Lima Bandeira, em Ipanguaçu, mar. 2017.

26
é a forma de dialogar quando você for profissional,
como você pode auxiliar, ver o que tá faltando no
campo, onde você pode intervir, onde pode ajudar a
desenvolver, tudo através dos seus conhecimentos
adquiridos dentro de sala de aula e nas suas práticas,
né? (Informação verbal)9

Nesse sentido, Sousa et. al. (2016) dizem que a ocupação


das universidades e Institutos pelos sujeitos do campo, a partir
de cursos, seminários, feiras, oficinas e outras atividades, tem
possibilitado a presença, cada vez mais comum, de agricultores
e agricultoras familiares nos campi onde existem núcleos de
agroecologia.
Também em 2015, integrantes do NEA participaram do
XV Encontro Regional de Agroecologia, em Bananeiras/PB, e
como comissão organizadora no I Congresso de Agroecologia do
Semiárido, em Mossoró/RN, consolidando-se como um Campus de
referência no RN na temática da Agroecologia. Nessa oportunidade,
além da comissão organizadora, foi responsável por ofertar
dois cursos durante o congresso, inclusive com a parte prática
desenvolvida no Campus Ipanguaçu: um dos cursos sobre produção
e manejo de nutrientes de base ecológica, ministrado pelo prof.
Wilson Carvalho, e o outro com a temática da produção orgânica
de banana, ministrado pelo prof. Júlio Justino.
Além disso, o NEA participou em 2016 da I Reunião Regional
do Projeto RENDA (Rede Nordeste de Núcleos em Agroecologia),
que reuniu núcleos de agroecologia de diferentes territórios do
Nordeste, com representações de Universidades e Institutos
Federais, no Campus da UFPE/Recife, (Figura 10).

9. Fornecida por Francisco Eudes da Silva, em Ipanguaçu, fev. 2017.

27
Figura 10 - I Reunião Regional do Projeto Renda/NE realizado em Recife/
PE, 2016.

Fonte: Acervo NEA

Dessa forma, o NEA Campus Ipanguaçu se insere na


construção da RENDA, passando a participar das atividades
realizadas pela rede, dentre elas os cursos de comunicação popular
e agroecologia e de sistematização, a Caravana Agroecológica e
Cultural do Araripe, o IV Encontro de Agroecologia do Agreste
Meridional de Pernambuco e o 8º Encontro Nacional dos Grupos
de Agroecologia (ENGA).
Para fomentar as inovações tecnológicas da RENDA-NE, têm-se
como base ações que permitem o desenvolvimento de metodologias
relacionadas à construção de processos participativos, os quais se
constituem como processos inovadores didáticos e de construção
do conhecimento agroecológico. Tais ações se dão através de cursos,
seminários, encontros e caravanas agroecológicas, dentre outras, no
Projeto da Rede Nordeste de Núcleos de Agroecologia (RENDA).
Em 2016, também, o NEA realizou o II Seminário de
Agroecologia do Vale do Açu, que tinha como tema “Biodiversidade

28
da caatinga e sementes crioulas”. O evento reuniu cerca de 70
pessoas, entre estudantes, técnicos (as), agricultores (as) da região
do Vale do Açu. Na ocasião foram realizados debates, visitas
técnicas às UTDs e troca de sementes crioulas.
Uma ação importante, também nesse ano, foi a aprovação do
projeto de Manutenção do Núcleo de Estudos em Agroecologia
do IFRN Campus Ipanguaçu junto à Chamada MCTI/MAPA/
CNPq Nº 02/2016, que objetivou integrar atividades de extensão,
de tecnologia, de pesquisa científica e de educação profissional,
com a finalidade de apoiar o processo de transição agroecológica
dos agroecossistemas familiares no Território do Vale do Açu, com
área de concentração nos municípios de Ipanguaçu e entorno. O
projeto, com prorrogação, esteve em execução até janeiro de 2019.
Em novembro de 2017, realizou-se, como uma das metas do
projeto, a I Semana de Meio Ambiente e Agroecologia – SEMAGRO,
com o tema: “Desafios e Perspectivas das Questões Rurais e Ambientais
no Brasil”, envolvendo os cursos de Agroecologia e de Meio
Ambiente do IFRN – Campus Ipanguaçu. Durante a programação
do evento houve a abertura da 1ª Campanha Anual para a
Promoção do Produto Orgânico, que foi marcada pela realização
da segunda Feira de Agricultura Familiar e Economia Solidária do
Vale do Açu (FAFESVA). De 31 de julho a 02 de agosto de 2018 foi
realizada a II SEMAGRO, com o tema “Democracia, Meio Ambiente
e Agroecologia: conjuntura e perspectivas” e a II Campanha Anual
para a Promoção do Produto Orgânico, ocasião em que ocorreu a III
FAFESVA. Em parceria com a EMATER-RN, o NEA realizou, ainda
no âmbito do projeto, em 2018, dois cursos de Formação Inicial e
Continuada (FIC) de Agricultura e Pecuária de Base Ecológica I e
II, com 80 horas cada, envolvendo agricultores familiares e técnicos
de ATER atuantes no Território.
Para Caporal (2009b), a transição agroecológica é entendida
como um processo gradual e multilinear de mudança, que ocorre
através do tempo nas formas de manejo dos agroecossistemas. A
transição agroecológica implica não somente na busca de uma
maior racionalização econômico-produtiva, mas também numa

29
mudança nas atitudes e valores dos atores, com respeito ao manejo
e conservação dos recursos naturais.
Caporal (2009a) defende que para dar suporte científico ao
processo de transição seria necessário investir, pesadamente, em
pesquisa de base ecológica. Tal pesquisa deveria orientar seus
aportes não para a busca da mais alta produtividade agropecuária,
mas, sim, na busca de ótimos de produtividade que assegurem
estabilidade produtiva no médio e longo prazo, além de maior
resiliência dos agroecossistemas.

3. A EXPERIÊNCIA DAS UNIDADES TÉCNICAS


DEMONSTRATIVAS (UTD)
Em suas ações e práticas, o NEA busca a integração do ensino,
pesquisa e extensão. Nessa perspectiva, desenvolve desde 2010 um
processo participativo, priorizando de forma pedagógica estratégias
que fortaleçam a construção do conhecimento agroecológico.

O NEA é uma base de possibilidades, um ambiente de


envolvimento e de fortalecimento de uma nova ciência,
capaz de permear-se nos corações dos estudantes,
principalmente por ser um espaço diferente das aulas
obrigatórias, por produzir um aroma científico mais
agradável, mais leve e fácil de perceber o óbvio, que é
o equilíbrio (Informação verbal)10.

Dentro das estratégias adotadas estão: o ensino


contextualizado, que visa a aproximação do ensino no curso de
Agroecologia junto às experiências desenvolvidas pelo Núcleo;
a pesquisa participativa, que aporta um enfoque sistêmico e
transdisciplinar, baseando-se em metodologias participativas,
promovendo a interação entre aspectos científicos e culturais;
e a extensão que tem promovido o intercâmbio de saberes entre

10. Fornecida por Saint Clair Lira Santos, em Ipanguaçu, fev. 2017.

30
estudantes, docentes, extensionistas e agricultores(as), a fim de
contribuir para a construção do conhecimento agroecológico
na região.

Tem experimentos sendo montados no campo, a gente


usa como material didático nas nossas aulas, leva as
nossas aulas práticas para dentro das UTDs. E a gente
também traz os agricultores, faz essa ligação com a
extensão, na medida que os agricultores vem conhecer
as UTDs e vem participar de cursos, de seminários.
Então, existe essa interligação de ensino, pesquisa e
extensão (Informação verbal)4

Caporal e Azevedo (2011) destacam, como prioridade inadiável,


que pesquisa, ensino e extensão rural devem reinventar seus
enfoques tradicionais à luz do imperativo socioambiental da nossa
época. Para isso, surge a necessidade de repensar processos que
englobem os princípios da agroecologia numa perspectiva que
assegure maiores sustentabilidades socioambientais e econômicas
para os diferentes agroecossistemas.
Assim, o relato de experiências das Unidades Técnicas
Demonstrativas implantadas no IFRN – Campus Ipanguaçu pelo
NEA, através do projeto “Implantação de unidades demonstrativas e
caracterização socioambiental para o fortalecimento da Agricultura
Familiar no Vale do Açu-RN”, expressa concretamente a integração
do ensino, pesquisa e extensão à luz dos princípios agroecológicos.
Dessa forma, foram instaladas, dentro da Fazenda Escola
do IFRN Campus Ipanguaçu, cinco UTDs: Manejo da caatinga,
produção e manejo de nutrientes, Agrocaatinga (agrofloresta),
Banco de Sementes (sementes nativas, crioulas e adubos verdes) e
Banana Orgânica.

Eu acho que é de fundamental importância porque


antes quando cheguei e dava aula, a gente não tinha
o que mostrar fora da sala de aula. Depois que foram
criadas as UTDs, a gente já tem o que mostrar fora da

31
sala de aula. Não tínhamos áreas que se trabalhasse
a agroecologia mesmo e hoje a gente tem. Então, isso
para aprendizado, para o ensino, foi de grande valia
(Informação verbal)11.

Para Pupo e Cardoso (2010), um dos grandes desafios do ensino


e da aprendizagem em agroecologia é apontar a necessidade de
novos paradigmas científicos para a construção do conhecimento,
priorizando metodologias educacionais que, em seus princípios,
relacionem-se criticamente com o caráter político-ideológico, tanto
do pensamento reducionista, quanto da visão de neutralidade
da ciência.

Existia essa deficiência inicial de alguns professores


nessa área, eu também tinha essa dificuldade,
em função da própria política de formação das
universidades de agronomia, isso não é um erro nosso,
foi a própria formação nossa da grade curricular da
engenharia agronômica. E a gente viu a questão do
NEA como uma possibilidade da gente se capacitar
dentro das UTDs. Então, foi uma forma da gente
caminhar e tentar adequar a fazenda (fazenda escola)
à realidade do curso (Informação verbal)12.

Dessa forma, além de proporcionar espaços de produção e


disseminação de práticas de base ecológica, as UTDs têm cumprido
o papel de envolver estudantes, professores (as), agricultores (as) e
servidores (as), sem hierarquizar o conhecimento, promovendo o
diálogo de saberes, reflexões e disseminação desses conhecimentos
para outros agroecossistemas.

4. DESAFIOS E AVANÇOS NA CONSTRUÇÃO DO

11. Fornecida por Renato Silva de Castro, em Ipanguaçu, mar. 2017.

12. Fornecida por Marlon de Morais Dantas, em Ipanguaçu, fev. 2017.

32
CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO
Embora o núcleo tenha avançado ao longo dos anos, os
desafios continuam, como a necessidade de maior integração entre
profissionais de outras áreas, tais como Sociologia, Filosofia ou
Geografia. Isso tem dificultado o aprofundamento de questões que
perpassam por todas as dimensões da agroecologia:

Eu vejo que um dos desafios do NEA hoje, é de


sermos um grupo que faça realmente uma discussão
da agroecologia em todos os níveis, né. E que consiga
alcançar todas as dimensões da agroecologia, não
só ecológica, econômica e social, mas também nas
outras multidimensões na questão cultural, dimensão
política e ética. Resumindo, o grande desafio do NEA
hoje é ser promotor de debates, é abrir espaço para
novas perspectivas (Informação verbal)13.

Com base nisso, Caporal, Costabeber e Paulus (2006)


afirmam que, enquanto ciência integradora, a Agroecologia tem
potencialidade para constituir a base de um novo paradigma
de desenvolvimento rural sustentável a partir do momento em
que busca a integração e a articulação de distintas ciências, tais
como Física, Antropologia, Economia Ecológica, Ecologia Política,
Biologia, História e Sociologia.
Para Jacob (2016), o fortalecimento da abordagem
agroecológica em instituições de ensino que não acolhe esse
enfoque se configura como uma tarefa muito difícil. Afinal, como
podemos construir o novo se ainda estamos presos no antigo
paradigma do conhecimento?

Acredito que falta um maior reconhecimento interno


do NEA e até mesmo dos cursos de Agroecologia.
Falta compreensão mesmo por parte das sucessivas

13. Fornecida por João Vianey Fernandes Pimentel, em Ipanguaçu, mar. 2017.

33
gestões do que venha a ser a Agroecologia! Sendo o
primeiro curso do Campus e por mais que se veja
escrito em documentos oficiais que a agroecologia
é o foco do Campus, não se tem, de forma concreta,
uma percepção maior de apoio para a consolidação
da Agroecologia no Campus, de forma a tornar, esse
que é o único curso de Agroecologia do estado, uma
referência! (Informação verbal)14.

Além disso, parece haver uma necessidade urgente de se


avançar na perspectiva de melhorar a comunicação e divulgação
das ações e resultados do NEA, de forma a superar barreiras e
entraves internos, existentes no próprio Campus, o que também tem
se apresentado como um grande desafio:

[...] acho que o maior desafio do NEA é dentro da


própria instituição, dele ter mais visibilidade pelo
próprio Instituto (IFRN). A gente vê trabalhos com
menos relevância ser bastante divulgado! Então a
gente precisa trabalhar com maior divulgação do que
é realizado por nós. (Informação verbal)15

Apesar disso, Silva et al (2017) em seu estudo sobre avanços e


limites dos Núcleos de Agroecologia das IES no Brasil, afirmam que
a maioria dos NEAs têm demonstrado uma profunda capacidade
de resiliência social, permanecendo ativos mesmo em ambientes
pouco favoráveis à sua existência.

[...] Apesar de não participar do NEA e saber pouco


sobre seu trabalho, acredito que o núcleo é uma porta
para vivenciar na prática a Agroecologia. Acho que
o NEA poderia envolver mais os alunos divulgando

14. Fornecida por José Wilson Costa de Carvalho, em Ipanguaçu, mar. 2017.

15. Fornecida por Renato Silva de Castro, em Ipanguaçu, mar. 2017.

34
seus trabalhos, não só nos eventos que acontece na
instituição, mais adotando a comunicação como algo
diário, através de debates, rodas de diálogos, oficinas,
dando a oportunidade aos alunos conhecer mais sobre
suas ações. (Informação verbal)16

Porém, é preciso salientar que a comunicação aqui proposta


não é aquela apenas considerada como meio ou instrumento eficaz
nos canais difusores de mensagens, mas é, principalmente, uma
comunicação popular, que, como afirma Peruzzo (2015), é parte de
um processo organizativo/mobilizador.
Nesse sentido, para Peruzzo (2015), a comunicação popular
acontece nas conversas cotidianas, no compartilhamento de casos,
nas manifestações artísticas e culturais, no diálogo de saberes,
nas comunicações em eventos, em reuniões, encontros, palestras,
oficinas, visitas de intercâmbio, nas marchas de protesto e
caravanas e em outros espaços de interação social.
Um outro desafio tem sido o de conciliar as atividades de
ensino, pesquisa e extensão, que possuem carga horária elevada,
e o grande número de atividades administrativas dos professores
envolvidos no NEA. Para superar isso, a estratégia tem sido
estabelecer uma previsão do horário de reuniões já na elaboração
do horário docente, possibilitando uma dinâmica de encontros
semanais do grupo que integra o Núcleo.

A dificuldade que nós temos é principalmente


equacionar uma dinâmica de encontros dentro do
Campus para a questão das reuniões, na continuidade
das bolsas, dos projetos e tal, mas de modo geral, acho
que temos mais coisas positivas. (Informação verbal)17

De acordo com Silva et. al. (2017), a visão teórica dos Núcleos
de Estudos em Agroecologia é bastante variada, podendo transitar

16. Fornecida por Graziela Sousa da Cunha, em Ipanguaçu, mar. 2017.

17. Fornecida por José Wilson Costa de Carvalho, em Ipanguaçu, mar. 2017.
35
por suas diferentes dimensões, em geral, com enfoque em temáticas
técnico produtivas. Apesar disso, percebe-se uma busca pelo
exercício da interdisciplinaridade, na medida que os NEAs são
criados com o envolvimento de profissionais de diferentes áreas
do conhecimento, estudantes, técnicos, agricultores e agricultoras.

O NEA tem atuado hoje como um espaço de


articulação entre os diversos sujeitos do campo... a
gente consegue articular as nossas atividades em
parceria com a Emater, com o STTR, com a secretaria
de agricultura da prefeitura municipal (Ipanguaçu),
articula experiências para que os nossos estudantes
possam vivenciar a prática dos agricultores e
agricultoras. Então eu vejo o NEA, principalmente,
com o papel de articulador e facilitador para que
esses sujeitos se encontrem pra construção do
conhecimento agroecológico, aqui e no entorno do
nosso Campus. (Informação verbal)18

Nesse sentido, Petersen et. al. (2009), afirmam que a construção


do conhecimento agroecológico se faz pela articulação sinérgica
entre diferentes saberes e recoloca a inovação local como
dispositivo metodológico necessário para a criação de ambientes
de interação entre acadêmicos e agricultores.
Assim, no decorrer de sua trajetória, o núcleo tem atuado como
um espaço de construção do saber agroecológico, priorizando as
discussões sobre a Agroecologia enquanto ciência, rompendo com
o difusionismo provocado pelo modelo cartesiano, considerando o
saber do agricultor e da agricultora como elemento central.

[...] Eu creio que o NEA tem a capacidade de unir as


pessoas que tem uma sensibilidade pela Agroecologia.
Então, quando a gente une uma gama de profissionais,
professores, técnicos, alunos e agricultores as somas

18. Fornecida por José Wilson Costa de Carvalho, em Ipanguaçu, mar. 2017.

36
desse “Know-how”, contribuem de forma significativa
para a construção do conhecimento, para a
experiência individual e coletiva (Informação verbal)19

Já para Aguiar (2010), os processos de educação e de


construção do conhecimento agroecológico devem primar pelo
pluralismo metodológico e epistemológico, podendo adquirir
maior pertinência se consubstanciados em ações e atitudes
multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares,
fundamentando-se no diálogo dos diversos saberes e áreas do
conhecimento e contribuindo para a indissociabilidade entre o
ensino, pesquisa e extensão.
Para isso, é importante destacar que o NEA tem buscado
parceiros, com a finalidade de fortalecer suas ações que vão além
da captação de recursos via editais, firmando parcerias com
poder público, entidades locais e instituições de ATER. Dentre os
parceiros que têm atuado com maior frequência junto ao NEA,
estão o CNPq, a Emater local de Ipanguaçu e Regional Assú/RN, a
Prefeitura Municipal de Ipanguaçu, o NEA Macambira/UFERSA e
a RENDA-NE.

Eu vejo que o NEA tem um papel muito importante


no sentido de realmente abrir espaço para um diálogo,
para questionamento da agricultura que é praticada
aqui no Vale do Açu. Então, na medida que a gente tem
essa relação com as entidades, com o sindicato, com a
prefeitura, com Emater, com os órgãos de extensão, na
medida que a gente procura fazer um questionamento
dessa realidade que está aí posta, a gente começa a
questionar o modelo atual vigente de agricultura e
propor uma outra alternativa (Informação verbal)20

19. Fornecida por Victor Hugo Pedraça Dias, em Ipanguaçu, mar. 2017.

20. Fornecida por João Vianey Fernandes Pimentel, em Ipanguaçu, mar. 2017.

37
Dessa forma, de acordo com Petersen (2007), a partir
do momento em que organizações governamentais, não-
governamentais e movimentos sociais definem a Agroecologia
como o norte orientador das ações de desenvolvimento, verificam-
se avanços na geração e na gestão do conhecimento no meio rural.
Esse parece ser um dos objetivos do NEA ao construir uma forte
articulação com seus parceiros:

A parceria com o NEA tem contribuído não só para


o IFRN ou pra Emater, mas para o município. A
gente sabe que o IFRN é voltado para essa área, e a
Emater também está trabalhando Agroecologia na
região, aqui em Ipanguaçu tem alguns agricultores
que já trabalham com o sistema agroecológico, então
acredito que essa parceria só vem a contribuir para
a construção e fortalecimento da Agroecologia na
região” (Informação verbal)21

Essa percepção vai ao encontro do que pensa Petersen (2007),


ao declarar que esse tipo de parceria institucional tem contribuído
para a introdução de um novo modo de pensar, construindo ou
reconstruindo uma compreensão de desenvolvimento rural baseada
nos princípios da Agroecologia.
São perceptíveis os vários avanços do NEA em sua trajetória,
no entanto, é evidente a necessidade de reavaliar os processos de
comunicação e, assim, progredir no que concerne ao envolvimento
de docentes de outras áreas do Campus no Núcleo, ampliando as
discussões, perpassando por todas as dimensões da Agroecologia, e
as fontes de recursos e parcerias, fortalecendo as ações e os projetos
já existentes.
Além disso, também é necessário priorizar a sistematização
das experiências, não só para possibilitar uma reflexão sobre
os processos vividos, mas, também, para ampliar os canais de

21. Fornecida por Lucieudes Neves Lopes, em Ipanguaçu, mar. 2017.

38
comunicação que evidenciam as experiências do NEA junto aos
agricultores e divulgar as ações desenvolvidas pelo núcleo para a
comunidade acadêmica e externa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Núcleo de Estudos em Agroecologia do Campus Ipanguaçu,
durante sua trajetória, tem sido um importante articulador e
promotor de diversos espaços, dentro e fora das salas de aulas,
desenvolvendo diferentes atividades, buscando aprofundar o debate
sobre a Agroecologia e desempenhado um papel fundamental no
que tange à construção do conhecimento agroecológico dentro
da instituição.
Dessa forma, o NEA contribui para o processo de construção
do conhecimento agroecológico, na medida em que cria espaços
e estratégias para que a comunidade externa possa participar,
construir e refletir sobre os conhecimentos que estão sendo
produzidos no âmbito acadêmico, e, ao mesmo tempo, propicia
à comunidade acadêmica vivências em espaços de construção
de saber, através da integração ensino-pesquisa-extensão, em
contextos reais.
No entanto, para que o fortalecimento da Agroecologia dentro
e fora do IFRN continue progredindo, é fundamental que os reveses
do Núcleo sejam solucionados e que estratégias que promovam
o conhecimento e o reconhecimento das atividades do NEA
como referência na construção do conhecimento agroecológico
sejam elaboradas.

39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, M.V.A. Educação em Agroecologia – que formação para a
sustentabilidade. In: Revista Agriculturas: experiências em agroecologia,
v.7, n.4. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2010. Disponível em: http://aspta.org.br/
wp-content/uploads/2013/04/Agriculturas_V7N4_DEZ2010.pdf. Acesso em:
11 mar. 2017.

ALBANO, G.P. Globalização da agricultura e concentração fundiária no


município de Ipanguaçu-RN. Editora Universitária UFRN, 2005.

ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura


sustentável. 3. ed. São Paulo, Rio de Janeiro: Expressão Popular,
AS-PTA, 2012.

BARCELOS, J.R. DE OLIVEIRA. A Tutela Jurídica das Sementes: a


proteção da diversidade e da integridade do patrimônio genético e
cultural brasileiro à luz do princípio da proibição de retrocesso ambiental.
Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2011.

CAPORAL, F. R. Em defesa de um Plano Nacional de Transição


Agroecológica: compromisso com as atuais e nosso legado para as futuras
gerações. Brasília: [s.n.], 2009a. 35 p.

CAPORAL, F. R. Extensão Rural e Agroecologia: temas sobre um novo


desenvolvimento rural, necessário e possível. 2009b. Disponível em:
< http://www.cpatsa.embrapa.br:8080/public_eletronica/downloads/
OPB2444.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2017.

CAPORAL, F. R; AZEVEDO, E. O. Princípios e perspectivas da


agroecologia. Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2011. 192 p.

CAPORAL, F.R.; COSTABEBER, J.A.; PAULUS, G. Agroecologia: matriz


disciplinar ou novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável.
Brasília. 2006. Disponível em: < http://www.reformaagrariaemdados.
org.br/sites/default/files/Agroecologia,%20Matriz%20disciplinar%20
ou%20novo%20paradigma%20%20Francisco%20Caporal,%20Jose%20
Costabeber,%20Gervasio%20Paulus.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2017.

40
CARVALHO, J. W. C. Diálogos entre Agroecologia e Etnopedologia:
Sítio Tapera, Município de Upanema/RN. 2016. 86 f. Tese (Doutorado em
Manejo de Solo e Água). UFERSA, Mossoró, 2016.

EMBRAPA. A utilização de unidades demonstrativas para a


transferência de tecnologia. Goiás/GO: Embrapa Arroz e Feijão, 2010.
Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/
doc/880808/1/adocao.pdf. Acesso em: 08 jan. 2017.

FREIRE, P. Extensão ou Comunicação. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO


RIO GRANDE DO NORTE. Projeto pedagógico do curso superior em
Agroecologia. Ipanguaçu/RN: IFRN, 2012. 131 p.

JACOB, L. B. Agroecologia na Universidade: entre vozes e silenciamentos.


1ª edição, Curitiba: Appris editora, 2016, 209 p.

LOPES, José Edvaldo. A Del Monte Fresh Produce e a territorialização


do capital no meio rural do município de Ipanguaçu-RN. 2014. 158f.
Dissertação (Mestrado em Geografia). UFPB, João Pessoa, 2014.

MARTINS, L. M. Ensino-pesquisa-extensão como fundamento


metodológico da construção do conhecimento na universidade.
São Paulo: Unesp, 2012. Disponível em: <http://www.umcpos.com.br/
centraldoaluno/arquivos/07_03_2014_218/2_ensino_pesquisa_extensao.pdf>.
Acesso em: 20 fev. 2017.

MDA. Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável Açu-


Mossoró. 2008. Disponível em: http://sit.mda.gov.br/download/ptdrs/ptdrs_
qua_territorio001.pdf. Acesso em: 20 mar. 2017.

MENEGONI, Cleider da Cunha. Sementes crioulas: o caso do programa


de produção de sementes desenvolvido pela união das associações
comunitárias do interior de Canguçu. 2011. 57 f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação Tecnológica em Planejamento e Gestão para para
o Desenvolvimento Rural). UFRGS, São Lourenço do Sul, RS. Disponível
em:<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/52353/000820030.
pdf;sequence=1>. Acesso em: 08 fev. 2017.

41
PERUZZO, C.M.K. Comunicação popular e comunitária em práticas
de desenvolvimento rural na região de Borborema (PB – Brasil). Rev.
Comunicação & Sociedade: São Bernardo do Campo, UMESP, v.37, n;2,
p.183-208. 2015. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-
ims/index.php/CSO/article/view/5829. Acesso em: 20 mar. 2017.

PETERSEN, P.; DAL SOGLIO, F.K.; CAPORAL, F. R. A construção de uma


Ciência a serviço do campesinato. Agricultura familiar camponesa na
construção do futuro. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2009. 168 p.

PETERSEN, Paulo. Construção do conhecimento agroecológico: novos


papeis, novas identidades. In: PETERSEN, P.; DIAS, A. (Orgs) Caderno do
II Encontro Nacional de Agroecologia, realizado em Recife. Articulação
Nacional de Agroecologia (ANA), 2007. Disponível em: <www.agroecologia.
org.br>. Acesso em: 20 fev. 2017.

PIMENTA, Selma G e FRANCO, Maria A. Santoro. Pesquisa em educação:


Possibilidades investigativas/formativas da pesquisa-ação. São Paulo:
Edições Loyola, 2008. Disponível em:< http://www.periodicos.unir.br/index.
php/igarape/article/viewFile/860/873> Acesso em: 10 fev. 2017.

PINOTTI, R.N.; ISHICAVA, S.M.; WATANABE, E.Y. Unidade


Demonstrativa(UD) da batata inglesa no assentamento rural – SP. São
Paulo: Pesquisa & Tecnologia, v. 13, n.2, 2016. Disponível em: <http://
www.aptaregional.sp.gov.br/acesse-os-artigos-pesquisa-e-tecnologia/1695-
unidade-demonstrativa-ud-da-batata-inglesa-no-assentamento-rural-sp/
file.html>. Acesso em: 10 fev. 2017.

PORTO, Marcelo Firpo. A tragédia da mineração e a experiência da


caravana territorial da bacia do rio Doce: encontro de saberes e práticas
para a transformação. São Paulo: Rev. Ciência e Cultura, v. 68 n.3. 2016.
Disponível em: < http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-
67252016000300014&script=sci_arttext>. Acesso em: 08 mar. 2017.

PUPO, M.; CARDOSO, M. M. R. Reflexões sobre a formação de técnicos:


educadores em agroecologia no campo. In: Agriculturas: Experiências
Agroecológicas. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2010, p.13.

SANTOS, C. G. Educação Ambiental e ecologismo nas trilhas das


caminhadas ecológicas. 2007. Dissertação (Mestrado em Ciência

42
Ambiental) – Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PGCA),
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.

SAUER, S. Terra e modernidade: a reinvenção do campo brasileiro. São


Paulo: Expressão Popular, 2010.

SILVA, L.M, SOUZA, R. P.; ASSIS, W. S. A educação superior e a perspectiva


agroecológica: avanços e limites dos Núcleos de Agroecologia das IES no
Brasil. Redes, v. 22, n. 2, 2017.

SOUSA, R. P.; COELHO, R.; SILVA, F. S.; AZEVEDO, H. P. Núcleo de


Estudos em Agroecologia: a construção de uma (re)ação na Amazônia
paraense. Cadernos de Agroecologia, v. 01, p. 01-13, 2016.

43
Capítulo 2

UTD – MANEJO DA CAATINGA


CAPÍTULO 21

UTD – MANEJO DA CAATINGA

Cássio Luiz Cavalcante Cunha


Edla Daiane de Souza Freire
João Vianey Fernandes Pimentel

1. INTRODUÇÃO
Apesar de na Agricultura Convencional as Unidades Técnicas
Demonstrativas (UTDs) servirem como modelo para a divulgação
do “Pacote Tecnológico” pronto onde um determinado conjunto
de técnicas são seguidas sem questionamento, estas unidades
pensadas na concepção da Agroecologia, ao contrário, são espaços
pedagógicos, onde os agricultores, estudantes e professores,
todos juntos, são protagonistas do processo de construção
do conhecimento, na medida em que a unidade é discutida
coletivamente e adaptada às necessidades da realidade local e do
grupo social envolvido, sendo constantemente aprimorada, não se
constituindo em modelo único a ser seguido. Assim, as Unidades
descritas a partir deste Capítulo foram pensadas e são conduzidas
na prática.
A Unidade Técnica Demonstrativa (UTD) de Manejo da
Caatinga é uma unidade implantada em campo, onde são aplicadas
técnicas de manutenção e/ou restauração das espécies nativas do
Bioma, que poderão, no futuro, serem utilizadas para produção
de forragem e outros produtos, se forem manejados com base
em princípios ecológicos. A UTD é utilizada para a realização
de atividades de ensino, pesquisa e extensão, com a participação
de professores (as), estudantes e agricultores (as), tanto em aulas
práticas, quanto em pesquisas, em seminários e em dias de
campo (Figura 1).

1. Revisão Técnica: Diego Resende de Queirós Pôrto, Rerisson José Cipriano


dos Santos. Revisão de texto: Aline Peixoto Bezerra

45
Figura 1 - Prática de plantio de mudas, durante Minicurso de Manejo da
Caatinga, na EXPOTEC do IFRN Campus Ipanguaçu, de 2014.

Fonte: Acervo NEA (2014).

O objetivo é trabalhar com espécies nativas do semiárido


aproveitando o seu potencial produtivo, quer seja forrageiro,
madeireiro, medicinal ou de proteção ambiental, contribuindo para
o equilíbrio ecológico dos agroecossistemas e, ao mesmo tempo,
fornecendo produtos capazes de garantir a sustentabilidade dos
agricultores familiares.
Neste capítulo, será apresentada a UTD, como ela surgiu e
como foi implantada no Campus Ipanguaçu, sendo comentadas, em
seguida, algumas técnicas de manejo que os agricultores familiares
podem tomar como referência em suas realidades locais.

2. A UTD MANEJO DA CAATINGA NO IFRN CAMPUS


IPANGUAÇU
A UTD Manejo da Caatinga do IFRN Campus Ipanguaçu
surgiu a partir da constatação de que, na área da Fazenda-Escola do
IFRN Campus Ipanguaçu e em boa parte do Vale do Açu, a cobertura

46
nativa de caatinga encontra-se praticamente inexistente, com
predominância da Algaroba (Prosopis sp.), havendo a necessidade
de se estudar alternativas de manejo com o propósito de diminuir a
população dessa espécie dominante e propagar a adoção da prática
de enriquecimento com espécies nativas da caatinga, de modo a
aumentar a disponibilidade de alimentos para os rebanhos bovino
e ovino.
No final de 2013, o grupo de docentes do NEA (Núcleo de
Estudos em Agroecologia) começou a debater e a procurar uma
solução para a problemática, na medida em que a Gestão (Direção
Geral) do Campus havia tomado a decisão de eliminar a algaroba em
piquetes que deveriam ser destinados à formação de pasto nativo
para o rebanho da Fazenda-Escola. Em diálogo com o Diretor
de Gestão da Unidade Agrícola-Escola, chegou-se ao acordo de
implantar a UTD de Manejo da Caatinga em parte da área (1ha) em
que seria realizada a retirada da algaroba, sendo esse procedimento
realizado em faixas e não na área total.
A UTD foi implantada no âmbito do projeto “Implantação de
unidades demonstrativas e caracterização socioambiental para o
fortalecimento da Agricultura Familiar no Vale do Açu-RN”, através
do Edital MCTI/MEC/MAPA/CNPq Nº 46/2012, e foi dada sua
continuidade e manutenção através dos projetos:
- SEMENTES CRIOULAS PARA O FORTALECIMENTO DA
AGRICULTURA FAMILIAR NO VALE DO AÇU – RN, aprovado
na Chamada MCTI/MAPA/CNPq Nº 40/2014 - Linha 1: Sementes
Crioulas, Tradicionais ou Locais, e
- MANUTENÇÃO DO NÚCLEO DE ESTUDOS EM
AGROECOLOGIA DO IFRN Campus IPANGUAÇU, BIÊNIO 2016
A 2018, aprovado na Chamada MCTI/MAPA/CNPq Nº 02/2016.
Ao final de 2014, iniciou-se o plantio das mudas na UTD, tendo
sido realizados replantios em 2015, 2016 e 2017. Em 2016, outras
áreas da Fazenda-Escola foram também replantadas com espécies
nativas, seguindo o modelo preconizado pela UTD.
Ao longo dos anos, a UTD vem sendo utilizada para a
realização de aulas práticas por diversos professores de várias

47
disciplinas, tanto dos cursos superior e médio de Agroecologia,
como do médio em Meio Ambiente, existentes no Campus, tendo
ainda recebido visitas de estudantes de outras instituições de
ensino. Nela são realizados trabalhos de pesquisa, tendo sido
desenvolvido, inclusive, Trabalhos de Conclusão de Curso e
Monografias. Agricultores (as) familiares da região têm visitado e
discutido a UTD em cursos de Manejo da Caatinga, Seminários
e eventos realizados no Campus. Assim, a Unidade vem sendo
constantemente aprimorada com a participação de estudantes,
professores e agricultores (as) familiares.

3. PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS RELACIONADAS À


UTD MANEJO DA CAATINGA
A escolha da área é a primeira ação a ser feita em um manejo
da caatinga. Para isso, deve-se procurar um local na propriedade
que já possua uma mata nativa e que seja menos produtiva pela
baixa disponibilidade de forragem, com vistas a ser melhorada.
Depois da escolha da área, é feita uma análise do local
observando se existe mata aberta ou fechada. Se a mata for fechada,
é necessário fazer um raleamento ou rebaixamento, para que a
pastagem natural possa se desenvolver. O raleamento pode ser
feito retirando as plantas rasteiras não forrageiras e deixando as de
maior ou de menor interesse para fins pastoris, o que pode ser feito
aleatoriamente ou em núcleos de vegetação, ou, ainda, através do
raleamento em faixas, cujas plantas de menor valor forrageiro, ou
plantas como algumas leguminosas que não têm fixação biológica
de Nitrogênio, sejam removidas, deixando linhas abertas para
o plantio de novas espécies, como no caso da UTD Manejo da
Caatinga do IFRN Campus Ipanguaçu (Figura 2), lugar em que havia
a predominância de uma só espécie exótica invasora.

48
Figura 2 - Faixa aberta com retirada de algarobas para plantio das mudas
de espécies nativas.

Fonte: Acervo NEA.

Outro método é o rebaixamento, que é um corte, conhecido


como “broca”, feito principalmente no tronco de algumas espécies
lenhosas. Esse corte é feito a uma altura de 30 a 40 cm do solo e
deve ser executado no final da estiagem para que, quando se inicie
o período chuvoso, a planta consiga rebrotar, fornecendo forragem
para os animais.
Durante o processo de raleamento ou rebaixamento, devemos
preservar algumas espécies de árvores nativas, ou até mesmo
introduzir novas espécies, aumentando a biodiversidade da flora
local. Foi o que ocorreu na UTD Manejo da Caatinga do IFRN
Campus Ipanguaçu, onde foram introduzidas algumas espécies, tais
como: catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul. - Fabaceae); sabiá
(Mimosa caesalpiniifolia Benth -Fabaceae); aroeira (Myracrodruon
urundeuva Allemão - Anacardiaceae); jucá (Caesalpinia ferrea Mart.
Ex Tul. - Fabaceae), mororó (Bauhinia sp. - Fabaceae), etc.

49
É recomendável que seja feito o plantio de espécies nativas
da Caatinga, chamado de enriquecimento, na estação chuvosa,
podendo ser realizado de duas formas:

• Semeadura direta: É feita através da abertura de


berços, onde as sementes escolhidas pelo produtor são
semeadas.
• Plantio de mudas: Depois de pré-selecionadas é
necessário fazer uma cova com dimensões 40x40x40
cm, onde os primeiros 20 cm de solo retirados devem
ser separados por terem uma maior concentração
de matéria orgânica. Depois que a muda for fixada
na cova, deve-se colocar o material que foi separado
para que fique em contato com as raízes, fornecendo
nutrientes para a planta, aumentando as suas chances
de sobrevivência.

Manutenção da Área:
A manutenção da área deve ser uma prática comum no início
da implantação de um manejo da Caatinga, a fim de evitar a morte
das plantas e o controle das espécies indesejáveis. As práticas de
manutenção serão descritas nos itens abaixo.
A cobertura morta do solo mantém a sua umidade,
possibilitando um maior acúmulo de água e, depois de um
determinado tempo, transforma-se em matéria orgânica, servindo
como adubo para as plantas. Essa prática é feita assim que se
dispõe de material suficiente para cobrir o solo, sendo em geral,
utilizadas as ervas espontâneas que ocorrem naturalmente na área,
e pode ser realizada duas vezes ao ano: uma no início da época
chuvosa e outra no início da estação seca, antes da decomposição
do material disponível (Figura 3).

50
Figura 3 - Prática de aplicação da cobertura morta ao redor das plantas
nativas na UTD Manejo da Caatinga.

Fonte: Acervo NEA.

Assim como no IFRN Ipanguaçu, se o produtor contar com


áreas dominadas por Algaroba, ou alguma outra planta indesejável
para o sistema, deve ser feito o controle, eliminando-as com o
arranquio das plantas jovens, de modo a evitar o desenvolvimento
dessa vegetação. Deve ser realizada pelo menos uma coleta anual
das vagens da Algaroba, ao final do período seco, para evitar que
as sementes germinem no período chuvoso ou sejam consumidas
pelos animais integralmente e continuem sendo dispersas por eles
através das suas fezes. Além disso, as vagens coletadas podem ser
trituradas e entrar na composição da ração animal.
Os ataques de pragas podem ser minimizados a partir de
práticas de controle e de manutenção da biodiversidade, como o
uso alternativo de inseticidas naturais como o extrato de Neem
(Azadirachta indica A. Juss), que tem como função principal repelir
insetos como lagartas, pulgões, tripes, mosca branca e outros, ou os
extratos de Sisal (Agave sisalana), de Mamona (Ricinus communis L.)
ou de Angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan) para formigas.

51
Modo de preparo do angico para formigas:
Deve-se adicionar 1 kg de folhas de Angico em 10 L de água e,
após 8 dias de repouso, usar 1 L da mistura por metro quadrado de
formigueiro (MEIRA & LEITE, 2016).
Vide outras receitas para prevenção e controle de pragas e
doenças nos capítulos de Manejo de Nutrientes de Base Ecológica
e Sistema Agroflorestal (Agrocaatinga).
O replantio de plantas nativas da caatinga é importante para
que se tenha um melhor resultado no enriquecimento, resolvendo
as possíveis falhas que podem vir a surgir, respeitando sempre a
diversidade de espécies (Figura 4).
Figura 4 - Faixa de espécies nativas crescendo entre faixas de algarobas.

Fonte: Acervo NEA.

52
O manejo da rebrota é uma prática realizada em áreas de
caatinga nativa ou quando as árvores plantadas atingem o porte
adulto, após a poda e o desgalhamento, o que permite a produção
de dois ou mais bens (forragem e madeira) simultaneamente.
A poda drástica consiste no corte do tronco a uma altura de,
aproximadamente, 30 cm (Figura 5-A), sendo utilizada para a
obtenção de madeira ou para o rebaixamento da copa e aumento
da oferta de forragem. O desgalhamento consiste na remoção
parcial ou total dos galhos a partir de uma determinada bifurcação,
utilizada para a colheita de forragem ou de madeira para lenha.
Geralmente, as árvores de grande porte e/ou de crescimento lento
são apropriadas para o desgalhamento, ao passo que as de pequeno
porte e crescimento rápido são mais adequadas para a poda
drástica (PIMENTEL, 2010).
Figura 5 - Desenho esquemático das árvores com a Técnica de manejo da
rebrota com altura da poda e do desgalhamento (A) e evolução ao longo
do tempo (B).

Fonte: Pimentel (2010)

53
Com o início das chuvas, as árvores submetidas à poda drástica
rebrotarão vigorosamente, chegando a 20 rebentos (brotos) por
tronco. Nessa fase, é essencial que sejam protegidas do ramoneio
(ato de pastejar ramos e folhas, de preferência leguminosas, muito
característico de caprinos e outros herbívoros que buscam plantas
de alto valor nutritivo onde não existem gramíneas para pastejar.)
por um período de 60 dias. No fim da estação seca, a maioria das
rebrotas estarão fora do alcance dos animais. É, então, a época
de se proceder o desbaste. Dependendo do diâmetro e vigor do
tronco, poupa-se até três vergônteas (ramos) por planta, podando-
se as demais. Nos anos seguintes, as rebrotas poupadas continuarão
crescendo, formando-se, então, na base do caule, uma nova massa
de folhagem, advinda do rebrotamento de novas gemas adventícias
(Figura 5-B). Novos desbastes, então, deverão ser promovidos para
manter a forragem ao alcance dos animais.
No caso das plantas desgalhadas, as rebrotas, geralmente em
pequeno número, deverão crescer sem nova intervenção. A prática
rotineira é de só proceder novo desgalhamento com a ocorrência
de seca. Todavia, no caso de espécies de crescimento rápido, o
desgalhamento pode ser executado a intervalos anuais ou de acordo
com as necessidades do agricultor.
Ao fim de três ou quatro anos, a árvore poderá ser podada
para a produção de lenha, devendo-se, geralmente, esperar
aproximadamente sete anos para fazer a coleta de madeira para
estaca ou para mourão. Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth. -
Fabaceae), jurema preta (Mimosa hostilis (Mart.) Benth.- Fabaceae),
jurema branca (Piptadenia stipulacea Benth. - Fabaceae), pau branco
(Auxemma oncocalyx (Allemão) Taub.) - Boraginaceae), mororó
(Bauhinia spp. - Fabaceae) e catanduva (Piptadenia moniliformis
Benth. - Fabaceae) são exemplos de espécies arbóreas da caatinga
que se prestam ao manejo da poda drástica. Já a canafístula (Senna
spectabilis Schrad. - Fabaceae), o juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart. -
Rhamnaceae), jucazeiro (Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var. férrea
- Fabaceae), faveleira (Cnidoscolus quercifolius Pohl - Euphorbiaceae),

54
a catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul. - Fabaceae) e o amargoso
podem ser citadas para uso pelo desgalhamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEIRA, A. L.; LEITE, C. D. Controle de formigas cortadeiras 2. Sanidade
Vegetal 29. In: MAPA. Fichas Agroecológicas: Tecnologias Apropriadas
para a Agricultura Orgânica, 2016. Disponível em: <http://www.agricultura.
gov.br/assuntos/sustentabilidade/ organicos/fichas-agroecologicas/
arquivos-sanidade-vegetal/29-controle-de-formigascorta deiras-2.pdf>
Acesso em: 18 maio 2017.

PIMENTEL, J. V. F. Caatinga e manejo agrossilvipastoril. In: ANDRADE,


Eunice Maia de et al. Semiárido e manejo dos recursos naturais, uma
proposta de uso adequado dos recursos naturais. Primeira. ed. Fortaleza:
Imprensa Universitária da UFC, 2010. cap. 5, p. 106-130.

55
Capítulo 3
UTD – SISTEMA AGROFLORESTAL
(AGROCAATINGA)
CAPÍTULO 3

UTD – SISTEMA AGROFLORESTAL


(AGROCAATINGA)

Renato Silva de Castro


Nielison Douglas da Costa
Francisco Eudes da Silva

1. INTRODUÇÃO
Atualmente, a palavra-chave é “sustentabilidade” e a atenção
volta-se à busca de formas de produção que não comprometam as
necessidades das gerações futuras. Na agricultura não é diferente, já
que os reflexos da chamada “revolução verde” ainda repercutem na
sociedade, no meio ambiente e, inserido nesse contexo, no seu ator
elementar, o produtor rural. Formas de produzir com princípios
ecológicos têm apontado esse caminho baseado no exemplo dos
ecossistemas naturais, que demonstram produtividade, longevidade
e estabilidade, a fim de evitar as consequências indesejáveis da
agricutura convencional. Sistemas diversificados espelhados na
natureza, com inclusão de plantas nativas ou adaptadas (arbóreas,
frutíferas, agrícolas, entre outras) e animais, ocupando o espaço
(longitudinal e vertical) e o tempo (ciclo das plantas), têm se
mostrado um caminho interessante.
Os Sistemas Agroflorestais apontam para uma produção
sustentável, principalmente em biomas sensíveis ao desmatamento
e à exposição do solo às intempéries, como o Bioma Caatinga. Nesse
contexto, o ensino, a pesquisa e a extensão devem indicar caminhos
e soluções para uma agricultura sustentável, preocupada com a
saúde humana e da natureza, de forma a promover tecnologias
que possam garantir a segurança alimentar e o desenvolvimento
equilibrado das comunidades rurais, minimizando o êxodo e suas
perniciosas consequências. Sendo assim, as instituições de ensino
devem buscar esse elo, apresentando tecnologias simples e viáveis

57
ao alcance dos produtores e propagadores dessas práticas. À vista
disso, esse capítulo procura trazer uma singela contribuição a
atividades que estão em consonância com o perfil agroecológico.

2. A UTD AGROCAATINGA
A UTD Agrocaatinga é uma unidade técnica demonstrativa
que procura mostrar à comunidade uma área modelo de produção
integrada. A Agrocaatinga é um sistema de produção que integra
plantas nativas da caatinga, frutíferas, arbóreas e agrícolas, motivo
pelo qual recebe essa denominação, e auxilia na resolução de
problemas da baixa produtividade, da falta de alimentos e da
degradação ambiental globalizada. Os sistemas agroflorestais se
apresentam como alternativas viáveis para propriedades rurais nos
países em desenvolvimento, por integrarem áreas com culturas
agrícolas e pecuárias (Almeida et al., 1995; Santos, 2000).
A unidade técnica surgiu através do projeto “Sementes
Crioulas para o Fortalecimento da Agricultura Familiar no Vale do
Açu”, financiado pelo MCTI /MAPA/CNPq (Figura 1).
Figura 1 - Conceito de Unidade Técnica Demonstrativa e Agrocaatinga.
UTD Agrocaatinga, 2017.

Fonte: Autores, com arte de Nielison Douglas da Costa.

58
3. ESTABELECIMENTO DA AGROCAATINGA
O sistema foi instalado em abril de 2016 no IFRN Ipanguaçu,
com base no Sistema Agroflorestal (SAF) proposto pela circular
técnica 16 da Embrapa (Armando, 2003). O trabalho de implantação
foi realizado em três etapas: na primeira foram plantadas as
espécies florestais e biopesticidas: Sabiá, Catingueira, Jucá, Angico,
Oiticica, Oiti, Pereiro, Embiratanha, Cumaru e Caraibeira; na
segunda, as frutíferas Acerola, Ciriguela, Pinha, Umbu-cajá, Pitanga,
Araçá, Tamarindo e Carnaúba; e, na terceira, foram adicionadas as
espécies agrícolas Jerimum, Milho e Feijão de Porco (Figura 2, na
página seguinte).
No módulo inicial, foram plantadas as espécies de maior
porte adaptadas à caatinga, com várias possibilidades de uso,
como, por exemplo, na produção de bioinseticidas e de madeira.
Inicialmente, foram abertas covas com dimensões de 0,40 x 0,40
x 0,40 m e realizada adubação com 500 g de húmus de minhoca e
100 g de MB4 misturado ao solo, em quantidade igual para todas as
espécies florestais, sendo o espaçamento entre as plantas de 3 x 3
m. No módulo seguinte, foram implantadas as frutíferas em covas
de 0,30 x 0,30 x 0,30 m, com adubação de 400 g de húmus e 70 g de
MB4 e espaçamento de 1 metro entre plantas. No último módulo,
foram adicionadas algumas espécies agrícolas e adubos verdes, e
realizada adubação com 150 g de húmus e 30 g de MB4 por cova,
com espaçamento conforme croqui da Etapa 3, a fim de multiplicar
algumas sementes crioulas para a troca e doação de sementes
(Figura 3).

59
Figura 2 - Croqui demonstrando a disposição das plantas. UTD
Agrocaatinga, 2017.

Fonte: Autores, com arte de Nielison Douglas da Costa.

60
Figura 3 - Plantio de espécies para formação da Agrofloresta. UTD
Agrocaatinga, 2017.

Fonte: Autores, com arte de Nielison Douglas da Costa.

4. CONDUÇÃO DAS PLANTAS NA UTD


Irrigação: Em razão da ausência de chuvas no período da
implantação, as plantas foram irrigadas duas vezes por semana,
como operação de salvamento, promovendo a manutenção
das mudas.
Poda: A poda no sistema agroflorestal é uma prática
indispensável. A mesma traz para o sistema o desenvolvimento
das plantas e o controle da produção. A poda foi feita de acordo
com a necessidade do sistema. A parte vegetal retirada foi utilizada
como cobertura morta para o solo, como adubação e como fonte
forrageira, utilizada na alimentação animal conforme aptidão da
espécie implantada no sistema.
Tutoramento: Foi realizada a prática do tutoramento
colocando-se estacas dispostas a 10 cm de distância do caule, do

61
lado oposto ao vento predominante, e amarradas em forma de oito,
o que evitou o tombamento e o estrangulamento das plantas.
Monitoramento: O acompanhamento foi realizado com visitas
periódicas a área, observando o desenvolvimento das plantas, sua
condição fitossanitária e nutricional e verificando o aumento de
matéria orgânica no solo. Como auxílio nessa operação, foram
utilizados os seguintes materiais: um paquímetro para medir
o diâmetro do tronco (caule) e uma fita métrica para medir o
tamanho da planta (Figura 4).
Figura 4 - Plantio de espécies para formação da agrofloresta. UTD
Agrocaatinga, 2017.

Fonte: Acervo dos Autores.

5. MANEJO DE INSETOS
Com base nos conhecimentos de manejo ecológico, foram
testados alguns meios alternativos para minimizar o ataque de
insetos (lagartas e besouros) às folhas das plantas: extrato de alho,
calda de neem e urina de vaca. Dentre esses, foi observado que a

62
urina de vaca, com seu forte odor, foi o que apresentou o melhor
resultado, conseguindo afastar os insetos por maior período.

6. IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES PLANTADAS


Para a identificação das plantas na Unidade Técnica
Demonstrativa, foram feitas placas utilizando-se garrafas PET
e pedaços de madeira. Tal prática auxiliou na redução do custo,
além de diminuir o impacto ambiental causado pelos descartes
inadequados das garrafas plásticas (Figura 5).
Figura 5 - Identificação das espécies plantadas. UTD Agrocaatinga, 2017.

Fonte: Acervo dos Autores.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a implantação do sistema agroflorestal, o agricultor
passará a ter uma maior diversidade de plantas, de animais e de
alimentos, além de promover a saúde do sistema, regularizando a
nutrição das plantas e a pressão de insetos, patógenos e plantas
espontâneas. Embora a UTD tenha sido construída em pequena

63
área (15 x 15 m), futuramente os produtores terão condições de
repetir esse módulo, corrigindo falhas de adaptação das plantas
usadas e adaptando os módulos conforme a sua necessidade
e aptidão (sistema agrícola, pecuário ou misto), além de poder
parcelar os custos de implantação. Em termos de aprendizagem
na Instituição, o trabalho proporcionou uma unidade dinâmica,
pois permitiu estudos diversificados e inovadores. Assim, o projeto
“Sementes Crioulas para o Fortalecimento da Agricultura Familiar
no Vale do Açu” possibilitou para os agricultores familiares,
professores e estudantes, não somente um local de aprendizagem,
mas também um modelo de empreendimento viável para o
produtor familiar, auxiliando na sua renda e gerando segurança
alimentar (Figura 6 e 7).
Figura 6 - Efeitos esperados após a implantação do módulo. UTD
Agrocaatinga, 2017.

Fonte: Autores, com arte de Nielison Douglas da Costa.

64
Figura 7 - Agrocaatinga como unidade de vivência e aprendizagem para
agricultores estudantes. UTD Agrocaatinga, 2017.

Fonte: Acervo dos Autores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, M. V. C. et al. Sistemas agroflorestais como alternativa auto-
sustentável para o Estado de Rondônia. Porto Velho: PLANAFLORO,
PNUD, 1995, 59p.

ARMANDO, M.S.; BUENO, Y.M.; ALVES, E.R. da S.; CAVALCALTE, C.H.


Agrofloresta para agricultura familiar. Brasília: Embrapa-Recursos
Genéticos e Biotecnologia, 2003. 11p. (Circular técnica, 16).

SANTOS, M. J. C. 2000. Avaliação econômica de quatro modelos


agroflorestais em áreas degradadas por pastagens na Amazônia
Ocidental. Piracicaba: ESALQ-USP, 75p. (Dissertação de Mestrado).

65
Capítulo 4
PRODUÇÃO E MANEJO DE NUTRIENTES DE BASE
ECOLÓGICA
CAPÍTULO 41

PRODUÇÃO E MANEJO DE NUTRIENTES


DE BASE ECOLÓGICA

José Wilson Costa de Carvalho


Ana Luiza de Souza

1. INTRODUÇÃO
A Unidade Técnica Demonstrativa (UTD) Nutrientes está
localizada no IFRN – Campus Ipanguaçu, inserida no campo de
iniciativas do Núcleo de estudos em agroecologia, dentro do espaço
didático da fazenda escola, a qual tem por objetivo dar suporte aos
cursos técnicos e superior em agroecologia, existentes no campus.
Assim, a UTD Nutrientes é uma ferramenta didática/
pedagógica para a construção de conhecimento agroecológico, com
foco no manejo de solos e produção e manejo de diversas fontes
de nutrientes de base ecológica, tendo por objetivo a realização de
oficinas, aulas práticas, visitações, aulas de campo, realização de
projetos de pesquisa, cursos, e etc.
Dessa forma, este capítulo pretende mostrar como são
produzidas e/ou manejadas as principais fontes de nutrientes de
base ecológica trabalhadas na UTD Nutrientes.

2. A UTD NUTRIENTES
A experiência surge com a compreensão de que a escolha do
enfoque a ser adotado nos agroecossistemas e, consequentemente,
a definição das tecnologias e técnicas utilizadas neles, carrega
a perspectiva dos desenvolvimentos social, ecológico, cultural,
econômico, político e ético dos sujeitos sociais ali envolvidos e,
essa clareza na escolha do enfoque, é fundamental para a transição

1. Revisão Técnica: Diego Resende de Queirós Pôrto

67
dos sistemas de produção e consumo de alimentos a partir
da agroecologia.
Nesse sentido, a UTD nutrientes surge a partir da necessidade
de um espaço didático para as aulas práticas das disciplinas de
solos dos cursos técnico em meio ambiente e técnico e superior
em agroecologia ((Figura 01). A transformação em UTD expressa
uma tentativa de criar um espaço de diálogo na construção do
conhecimento agroecológico, promovendo iniciativas de ensino,
pesquisa e extensão, visando aproximar, através dessas, os diversos
sujeitos protagonistas desse processo, sejam eles estudantes,
agricultores (as), professores (as)/pesquisadores (as) e técnicos(as)
da extensão rural.
Figura 1 - Turma do curso técnico em meio ambiente após encerramento
de oficinas sobre fontes de nutrientes de base ecológica. UTD
nutrientes, 2017.

Fonte: Arthur Aquino.

Atualmente, a UTD tem servido para desenvolver aulas


práticas dos cursos técnicos de agroecologia e meio ambiente e
da graduação tecnológica em agroecologia; para proporcionar

68
dias de campo e visitas técnicas com agricultores e estudantes de
outras escolas, além de dar suporte às práticas de demais cursos de
extensão e trabalhos de pesquisa.
Assim, a UTD Nutrientes surge no âmbito do projeto
“Implantação de unidades demonstrativas e caracterização
socioambiental para o fortalecimento da Agricultura Familiar
no Vale do Açu-RN”, consolidando-se através das diversas ações
desenvolvidas posteriormente, como outros projetos aprovados
pelo NEA.

3. PRODUÇÃO E MANEJO DAS PRINCIPAIS FONTES DE


NUTRIENTES DE BASE ECOLÓGICA UTILIZADAS NA
UTD NUTRIENTES
A UTD Nutrientes utiliza como estratégia para a construção
do conhecimento do manejo de solo e nutrição de plantas, opções
de fontes de nutrientes que possam ser facilmente encontradas
nas propriedades de agricultura familiar. Essa estratégia é feita
através do melhor aproveitamento e da integração de atividades,
da potencialização da ciclagem de nutrientes e do aproveitamento
de subprodutos da indústria ou agroindústria, quando esses
nutrientes são de fácil obtenção na região. Além disso, estratégias
de produção de nutrientes que possam ser facilmente manejadas
pelos agricultores e agricultoras são utilizadas, objetivando sempre
o máximo de autonomia da unidade produtiva no que diz respeito
à manutenção e melhoria da fertilidade dos solos e nutrição
adequada das plantas.
Dessa forma, as principais fontes de nutrientes estudadas,
pesquisadas e socializadas, suas tecnologias de uso através
de atividades práticas ou extensionistas na UTD, são: fixação
biológica de nitrogênio (FBN), adubação verde, farinha de ossos,
pós de rochas, cinzas de madeira, estercos animais, compostagem,
vermicompostagem, biofertilizantes e urina de vaca. Abaixo será
apresentado como se trabalha cada fonte na UTD.

69
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN)
A fixação biológica é um processo simbiótico entre plantas
(principalmente leguminosas, como o feijão) e bactérias fixadoras
de nitrogênio (rizóbios). Através desse processo, bactérias
conseguem fixar o nitrogênio (N) atmosférico no solo, por
meio do desenvolvimento de nódulos nas raízes das plantas,
disponibilizando o N antes não acessível a elas.
A FBN promove vários benefícios para os cultivos agrícolas,
sendo fonte ecológica de N, promovendo uma menor, ou
nenhuma, necessidade de aquisição e uso de adubos nitrogenados
comerciais solúveis; melhorando o crescimento e a resistência
das plantas a estresses ambientais, resultando em plantas mais
sadias; minimizando os impactos do nitrogênio solúvel sobre
o meio ambiente (solo e água principalmente) e aumentando a
produtividade, especialmente em solos deficientes em nitrogênio,
com baixo custo e sem dano ambiental.
A inoculação pode variar em função do inoculante comercial,
mas, de modo geral, segue a seguinte lógica: de acordo com a cultura
a ser trabalhada, se adquire no mercado o inoculante adequado à
espécie cultivada (feijão, soja, adubos verdes, etc); comumente, se
utiliza de uma mistura de inoculante, açúcar (preferência mascavo e
livre de aditivos químicos) e água (não clorada de preferência) para
produzir uma pasta adesiva e misturar as sementes (inoculação).
Após esse processo, em torno de 12h, se faz o plantio.

Adubação Verde
Adubação verde (Figura 02) é a utilização de plantas,
principalmente leguminosas, com grande potencial de incorporação
de N e biomassa ao solo, reduzindo ou eliminando a necessidade
de fertilizantes nitrogenados. Além disso, ela aumenta o teor
de matéria orgânica e a CTC do solo; reduz a perda e melhora a
ciclagem de nutrientes em profundidade; promove a redução de
camadas adensadas de solo e melhora a infiltração e retenção de
água, reduzindo a erosão do solo, e melhora o controle de plantas

70
espontâneas ao mesmo tempo em que inibe a ação de pragas
e doenças.
Figura 2 - Turma do curso técnico em agroecologia em aula de campo.
UTD nutrientes, adubos verdes, 2014.

Fonte: Acervo dos autores.

A escolha das espécies de adubos verdes varia em função do


objetivo, ou seja, da necessidade do sistema. Nesse sentido, se deve
escolher a espécie ou variedade mais adequada a cada contexto
de acordo com: o ciclo do adubo e da cultura, da produção de
biomassa, do hábito de crescimento; a rusticidade; a exploração
do sistema radicular; o potencial forrageiro e o antagonismo em
relação a nematóides. Abaixo, descrevemos algumas possibilidades
de utilização:
Em pré-cultivo ou rotação de culturas: Quando são utilizadas
antes ou depois da cultura principal, onde a mesma é levemente
incorporada ao solo por ocasião do florescimento (acima de 50%
das plantas). Uma das culturas mais utilizadas com esse objetivo é
a Mucuna preta.

71
Em consórcio: O adubo verde é plantado intercalado com
a cultura principal, podendo ou não ser cortada por ocasião da
floração, fazendo-se o corte e deposição do material sobre o solo
para fornecer nutrientes para essa cultura ou concluindo o ciclo
junto à cultura principal. Alguns adubos são muito utilizados com
esse objetivo, principalmente os feijões guandu e as crotalárias,
devido ao porte ereto das mesmas.
Cultivos perenes em faixas: quando se cultivam faixas de
leguminosas perenes ou semi-perenes, separando talhões de
culturas, e as leguminosas são podadas periodicamente para adubar
as culturas principais. Entre os adubos verdes mais utilizados estão
a Tefrósia e a Gliricídia.
Principais espécies de adubos verdes trabalhadas na UTD:
• Calopogônio: Callopogonium mucunoides Desv. -
Fabaceae.
• Crotalária breviflora DC - Fabaceae
• Crotalária juncea L. - Fabaceae
• Crotalária ochroleuca G.Don- Fabaceae
• Crotalária paulina - Fabaceae
• Crotalária spectabilis Roth - Fabaceae
• Feijão de Porco: Canavalia ensiformis (L.) DC-
Fabaceae
• Feijão Guandu (anão, carioquinha, fava larga,
semente preta): Cajanus cajan (L.) Millsp - Fabaceae
• Girassol: Helianthus annuus (L.)- Asteraceae
• Gliricídia: Gliricídia sepium (Jacq.) Walp. -
Fabaceae
• Labe labe: Dolichos lablab L. - Fabaceae
• Mucuna preta: Mucuna aterrima (L.) DC - Fabaceae
• Mucuna anã: Mucuna deeringiana (L.) DC -
Fabaceae
• Mucuna cinza: Mucuna pruriens (L.) DC - Fabaceae
• Siratro: Macroptilium atropurpureum (Benth) -
Fabaceae
• Sorgo: Sorghum bicolor (L.) Moench - Poaceae
• Tefrósia: Tephrosia adunca Benth- Fabaceae

72
Farinha de Ossos
A farinha de ossos é uma fonte importante de nutrientes,
obtida a partir do descarte de ossos animais (principalmente
abatedouros) com alto teor em fósforo (P) e cálcio (Ca) e ainda
contendo bons quantitativos de outros nutrientes essenciais
às plantas.
Como é rica em fósforo, pode ser uma excelente opção para
substituir o fósforo comercial, altamente solúvel, empregado nos
sistemas convencionais, potencializando, assim, o desenvolvimento
do sistema radicular das plantas e contribuindo para um melhor
equilíbrio nutricional.
A farinha de ossos pode ser obtida comercialmente em lojas
de produtos agrícolas ou pode ser produzida, pontualmente, em
pequena escala, através de processos artesanais no próprio sítio.
A queima pode ser feita em uma pequena fogueira, onde são
colocados os ossos para que sejam queimados completamente até
mudarem de cor, ficando bem brancos e quebradiços (de início
ficam pretos, depois, completamente brancos). Após o esfriamento,
podem ser triturados e os fragmentos em forma de farinha já
estarão prontos para serem utilizados diretamente no solo ou em
compostos e biofertilizantes.
É importante atentar para alguns cuidados na produção e
na utilização da farinha de ossos, como colocar só a quantidade
de madeira para a adequada queima dos ossos, evitando excesso
de cinzas. Além disso, em processos artesanais, deve-se utilizar
somente carcaças de origem na propriedade, evitando contato
com carcaças de animais doentes e contaminados. Também deve
certificar-se se houve a queima completa dos ossos, para que não
ocorra a contaminação do ambiente e nem riscos sanitários.

Pós de Rocha
O pó de rocha é um fertilizante mineral obtido da trituração
das rochas. Serve para aumentar a fertilidade do solo, visto que
tem potencial de rejuvenescimento (material de origem), podendo

73
fornecer uma variedade de nutrientes a depender da composição
química da rocha de origem.
O pó de rocha pode ser encontrado em comércio especializado
em produtos agrícolas, tendo origem, muitas vezes, em um
subproduto da indústria mineral ou da construção civil (pó
de brita).
Para a utilização dos pós de rocha, é imprescindível verificar
tanto a necessidade do solo através de análise química, quanto a
composição química do pó, de modo a identificar as exigências
requeridas, assim como, também, averiguar a existência de qualquer
tipo de contaminante, como os metais pesados.

Cinzas Madeira
A cinza de madeira é um resíduo obtido a partir da queima
vegetal, comumente utilizada em fornos a lenha, como cerâmicas e
padarias, sendo rica em potássio e cálcio, contendo, ainda, diversos
elementos essenciais para as plantas.
Além de poder ser aproveitada na agricultura como uma boa
fonte de nutrientes, principalmente cálcio e potássio, mas também
de magnésio, fósforo e outros elementos, a cinza pode substituir,
em parte ou totalmente, a necessidade de calcário para correção de
baixo pH do solo (solos ácidos).
No entanto, a utilização de cinzas de madeira pode elevar
ainda mais o pH em solos alcalinos, fator que merece atenção,
assim como o monitoramento da presença de sódio no solo, uma
vez que as cinzas são ricas em Na.
Estercos Animais
O esterco é um excremento animal, também conhecido como
estrume, utilizado na agricultura como uma das principais e mais
antigas formas de fornecer nutrientes às plantas. O esterco eleva
o teor de matéria orgânica do solo e aumenta a CTC, impactando
positivamente as propriedades químicas, físicas e biológicas
do solo.

74
Pode ser utilizado de diversas formas (compostagem,
vermicompostagem, biofertilizantes ou o esterco puro), no
entanto, é fundamental que o esterco seja curtido antes de ser
disponibilizado ao solo, sendo adequadamente molhado, revirado
e protegido das chuvas para evitar perda de nutrientes. Os estercos
utilizados na UTD são: estercos bovinos, ovinos e cama de frango.

Compostagem
A compostagem é o processo biológico da degradação do
material orgânico, estercos (dos diversos tipos) e restos vegetais
(verdes e secos), resultando em partículas menores e produto
estável, denominado composto orgânico.
Já o composto orgânico é o produto resultante da
compostagem, produto estabilizado biologicamente, com cor
escura, aspecto de pó de café, humificado. É classificado como
adubo orgânico, pois é preparado a partir de estercos de animais e/
ou restos de vegetais em estado natural.
O composto orgânico promove a disponibilidade mais rápida
de nutrientes presentes em seu material de origem animal e vegetal
acelerando, assim, o processo natural de mineralização e ciclagem
de nutrientes. Além de favorecer a atividade e a diversidade
microbiana do solo, contribui para melhorar a estrutura, a aeração
e a CTC do solo, elevando, ainda, os teores de matéria orgânica.
Para produzir o composto orgânico, deve-se amontoar o
material em pilhas, com largura em torno de 1,20m (melhor manejo,
mas pode ocorrer variação) e comprimento variável, a depender
do local e disponibilidade de material e altura final da pilha até
a altura do peito dos trabalhadores(as), o que facilita na hora de
revirar e refazer a pilha.
A formação da pilha se dá intercalando uma camada de restos
vegetais (de preferência uma camada de vegetais secos, material
mais grosseiro primeiro, para permitir melhor aeração, e uma
camada de vegetais verdes), com uma fina camada de material
inoculante de microrganismos (estercos ou terra de mata), tendo-

75
se o cuidado de molhar após cada camada de esterco, e segue
repetindo-se essa sequência até a altura máxima recomendada
(altura do peito).
Deve-se manter o material sempre úmido, molhando-o pelo
menos uma vez por semana (ou duas, a depender das condições
ambientais), revolvendo a cada 15 dias (o revolvimento ajuda na
homogeneização do processo e dispersão do calor, ajudando na
mineralização e humificação do material), formando uma nova
pilha. Aos 90 dias, aproximadamente, o material compostado é
transformado em composto orgânico com cheiro de terra molhada
e cor escura, pronto para utilização.

Vermicompostagem
É um processo biológico de transformação dos resíduos
orgânicos em húmus, que se dá através da ação de minhocas,
principalmente as espécies Gigante Africana (Eudrilus eugeniae) e
Vermelha da Califórnia (Eisenia foetida).
O húmus de minhoca é um dos adubos naturais de mais alto
potencial para elevar a CTC do solo, rico em vários nutrientes para
as plantas e de elevada composição biológica, contribuindo, dessa
forma, para um maior equilíbrio da vida no solo, ao passo em que
melhora as suas propriedades químicas e físicas, como a aeração e
a retenção de água.

76
Instalação do minhocário:
• Escolher um local bem arejado e sombreado nos
horários mais quentes do dia, não devendo haver água
em excesso ou estagnada no local;
• Não é exigido um padrão determinado nas
dimensões e nos materiais escolhidos para a confecção
do minhocário. No campus Ipanguaçu, optou-se por
tanques de alvenaria com as seguintes dimensões: 1
metro de largura, por 1.6m de comprimento e 0.5m
de altura;
• Embora as minhocas possam se alimentar de
forma diversificada e ingerir muitos tipos de resíduos
orgânicos (estercos curtidos, restos de culturas, cascas
de frutas, folhas de verduras, resíduos de gramados,
etc.), o substrato mais utilizado tem sido o esterco
curtido, principalmente de bovinos ou ovinos;
• Acima da camada de esterco, deve-se colocar uma
camada de palhas (folhas inteiras de carnaúba ou
coqueiro), o que facilita a remoção por ocasião do
manejo, com o objetivo de reduzir a perda de umidade,
melhorar a temperatura e proteger do ataque de
predadores.

Pode ocorrer no minhocário a presença de alguns predadores


que se alimentam das minhocas – pássaros, sapos, formigas –
e, com isso, ocasionam a redução da produção de húmus ou até
inviabilizam a atividade, com o que se deve ter atenção. Uma
experiência utilizada com sucesso no combate às formigas na UTD
(Figura 03) tem sido a construção de barreiras de cinza de madeira
no entorno dos tanques, na área externa, no período seco (sem
chuvas). No caso de já existir ataque de formigas na área interna
dos tanques, se utiliza borra de café (sem açúcar) diretamente no
seu interior.
Além disso, um cuidado imprescindível diz respeito ao
controle de umidade dos tanques, o qual deve ser feito pelo
menos duas vezes por semana. O controle consiste em se retirar

77
uma amostra do substrato e fechar a mão com firmeza, se sair
água entre os dedos, há umidade em excesso; se, ao abrir a mão, o
material parecer solto, não formar um “bolo” firme, pode estar com
pouca umidade; caso não saia água entre os dedos ou saia apenas
pequenas gotículas e forme um “bolo” firme, a umidade está ideal.
Figura 3 - Agricultores(as) e estudantes em dia de campo no minhocário.
UTD nutrientes, 2015.

Fonte: Acervo dos autores.

Quando o material estiver bem humificado, deve se proceder


a separação das minhocas do húmus confeccionando um novo
tanque. A separação pode ser feita através de “iscas”, ao se colocar
um substrato novo em um saco de ráfia, atraindo as minhocas e
retirando-as para um novo tanque, ou através do peneiramento,
onde o húmus irá passar por uma peneira e as minhocas poderão
ser tiradas da peneira e colocadas em um novo tanque. O húmus
pode ser armazenado durante um período de até seis meses, em
local sombreado e bem arejado.

78
Biofertilizantes
Os biofertilizantes (Figura 04) são fontes de nutrientes de
adubação líquida, confeccionados através da ação combinada
de diversos microrganismos a partir de processos aeróbicos ou
anaeróbicos de fermentação, tendo a possibilidade de serem
confeccionados a partir de uma vasta opção de matérias-primas,
o que resulta, também, num grande leque de possibilidades de
composição química final do produto, como a riqueza de nutrientes
e a diversidade biológica.
Além de fornecer macro e micronutrientes essenciais para
as plantas, contribui para o aumento da estabilidade biológica
do agroecossistema, auxiliando no controle de doenças e insetos,
tanto por uma nutrição mais equilibrada das plantas (teoria
da trofobiose), quanto pela ação antagônica com organismos
patogênicos e pela repelência a insetos pragas.
A base dos biofertilizantes são os estercos, mas a preparação e
a composição completa varia de acordo com cada um deles, assim
como os prazos de validade, uma vez que são elaborados levando-se
em conta as necessidades presentes em cada contexto.
Figura 4 - Estudantes do curso técnico em agroecologia montando
experimento com biofertilizante. Utd nutrientes, 2014.

Fonte: Acervo autores.

79
Cuidados necessários com o biofertilizante:
• Água, de preferência de chuva, não clorada;
• Deve ficar protegido da incidência direta da
luz solar, pois ela pode destruir parte dos seus
componentes;
• Não deve estar exposto à chuva, pois pode diluir
mais que o desejável.

Urina de Vaca
A urina de vaca é um excremento fluido animal, coletado a
partir de vacas sadias em lactação. No momento da ordenha,
a vaca geralmente urina e é nesse momento que o excremento
deve ser coletado. Utiliza-se um balde limpo para a coleta e o
armazenamento é feito em garrafa PET também previamente
limpa. Após a coleta, a urina deve permanecer guardada em
recipiente fechado, ao abrigo da luz, por pelo menos três dias antes
da aplicação.
A urina de vaca é um biofertilizante rico em fitohormônios,
os quais contribuem para o crescimento e desenvolvimento das
plantas, além de ser rica em substâncias, como os fenóis e os macros
e micronutrientes presentes em sua composição, que aumentam a
resistência das plantas ao ataque de doenças e insetos.
A aplicação da urina de vaca diluída em água (Figura 05)
poderá ser feita diretamente no solo ou em pulverizações foliares.
Recomenda-se diluir a urina em água, variando de 1% a 10%
(1 a 10 litros de urina para 100 litros de água), tendo-se o cuidado
em aplicar nos horários mais frios (início do dia ou final da tarde),
sendo ainda recomendado se fazer testes de aplicação em pequenas
parcelas com novas diluições e/ou quando for aplicar a urina em
uma cultura pela primeira vez.
A urina corretamente engarrafada e armazenada ao abrigo da
luz poderá ser usada com eficiência em até um ano.

80
Figura 5 - Estudantes do curso superior em agroecologia desenvolvendo
oficina sobre aplicação de urina de vaca. Utd nutrientes,2015.

Fonte: Acervo dos autores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O relato aqui exposto buscou sistematizar alguns elementos da
nossa prática pedagógica cotidiana no espaço da UTD no tocante
à tríade ensino-pesquisa-extensão. Uma iniciativa que já nos traz
frutos quanto ao processo de aprendizagem e ao intercâmbio com
os diversos sujeitos, mas que se encontra em coevolução, sendo um
espaço que busca transformações, se transforma e transforma a
prática da construção do conhecimento agroecológico.
Nesse sentido, a UTD tem sido um espaço de troca permanente
de conhecimentos e de exercício do aprender a fazer fazendo.
Através dessas experiências, é possível atentar para algumas
indagações que nos apontam para a necessidade da pesquisa e
para a importância de transpor os limites do ambiente acadêmico,
potencializando conhecimentos técnicos e humanos por meio das
vivências junto aos agricultores.

81
Capítulo 5

UTD – Banco de Sementes


CAPÍTULO 51

UTD – BANCO DE SEMENTES

Talita Geórgia da Cunha


João Vianey Fernandes Pimentel

1. INTRODUÇÃO
A Unidade Técnica Demonstrativa (UTD) Banco de Sementes
surgiu com intuito de tornar-se um centro de referência em
conservação de sementes crioulas, sementes nativas da caatinga
e adubos verdes, servindo de modelo e apoio a novos bancos nas
comunidades.
Segundo Baensifer e Silva (2016), os Bancos Comunitários de
Sementes são experiências coletivas realizadas, principalmente,
por agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais das
diversas regiões do país. Esses Bancos têm como objetivos preservar
e conservar as variedades crioulas, garantir variedades adaptadas
às condições edafoclimáticas, preservar a agrobiodiversidade, a
cultura e a identidade camponesa, assim como garantir autonomia
e liberdade aos agricultores.
Para atingir esses objetivos, os agricultores das comunidades
locais atendidas pelas instituições de Assistência Técnica e Extensão
Rural (ATER) parceiras, como EMATER-RN e Secretarias de
Agricultura dos municípios próximos ao IFRN Campus Ipanguaçu,
estão sendo sensibilizadas a coletar e doar para o projeto sementes
nativas arbóreas, bem como amostras de sementes crioulas, como
as de (cultivares) milho e feijão para a formação do banco de
sementes do IFRN (Figura 1). Em contrapartida, os agricultores
recebem mudas de plantas nativas, arbóreas e arbustivas, para
recuperarem a biodiversidade do seus agroecossistemas, bem como

1. Revisão Técnica: Diego Resende de Queirós Pôrto, Rerisson José Cipriano


dos Santos

83
para incrementar o banco de alimentação animal, além de espécies
para adubação verde, fruteiras tc.
Figura 1 - Multiplicação de Milho e Feijão Crioulos no IFRN Campus
Ipanguaçu, 2016/2017.

Fonte: Acervo dos autores.

A seguir, será detalhado como a UTD surgiu e como ela


funciona no IFRN Campus Ipanguaçu e, logo depois, serão
apresentadas algumas práticas agroecológicas relacionadas a ela.

2. A UTD BANCO DE SEMENTES NO IFRN CAMPUS


IPANGUAÇU
A UTD surgiu a partir da elaboração do projeto “Implantação
de unidades demonstrativas e caracterização socioambiental para
o fortalecimento da Agricultura Familiar no Vale do Açu-RN”,
quando se planejou a criação do Banco de Sementes dentro do
IFRN Campus Ipanguaçu para apoiar os agricultores familiares
da região no armazenamento das sementes crioulas. Assim, como
contrapartida do projeto, o próprio IFRN se responsabilizou

84
pela estrutura física, procedendo a reforma de um prédio com a
adaptação para o Banco de Sementes.
A fim de fortalecer esse processo, o NEA, aprovou o
projeto denominado Sementes Crioulas para o fortalecimento
da Agricultura Familiar no Vale do Açu — RN 2, o qual tem
proporcionado espaços de troca de experiências entre os
agricultores, bem como atividades educativas com os estudantes
do campus, visando complementar a formação integral
dos participantes.
Com o projeto, foi possível, em dois anos e cinco meses,
identificar, resgatar, multiplicar e disponibilizar para os
agricultores familiares duas cultivares crioulas de Milho (Ligeiro
e Metro) e duas de Feijão (Azul e Lisão), como também, espécies
de adubos verdes e espécies arbóreas de mudas nativas do bioma
Caatinga (dentre elas, Aroeira, Sabiá, Catingueira, Mororó e Jucá),
que foram distribuídas em Assentamentos Rurais de agricultores
familiares no Vale do Açu. Além disso, foram realizadas pesquisas
que resultaram na apresentação de três Trabalhos de Conclusão de
Curso (TCC): “Desenvolvimento das variedades de feijão Guandu
(semente preta e anã) no município de Ipanguaçu”; “Multiplicação
de Sementes Crioulas do milho e feijão em consórcio”; “Germinação
e desenvolvimento inicial de mudas de Jucá (Caesalpinea Ferrea),
Sabiá (Mimosa Caesalpiniaefolia) e Mororó (Bauhinia forficatalinn) no
semiárido brasileiro”.
Foram realizados dois Seminários de Agroecologia do Vale do
Açu (em 03 de julho de 2015 e em 06 de outubro de 2016), no IFRN
Campus Ipanguaçu, cujo tema foi “Biodiversidade da Caatinga
e Sementes Crioulas na Construção da Agroecologia”. Ambos
proporcionaram discussões sobre agroecologia e sementes crioulas
e visitas de agricultores às UTDs existentes no campus e espaços
dedicados à troca de sementes entre agricultores (Figura 2 e 3).

2. O projeto, foi aprovado na Chamada de Nº 40/2014, Linha 1: Sementes


Crioulas, tradicionais ou Locais, sendo financiado pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério da Educação (MEC), Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico (CNPq).

85
Figura 2 - Troca de sementes, durante o I Seminário de
Agroecologia do Vale do Açu.

Fonte: Acervo dos autores.

Figura 3 - Agricultor fazendo relato histórico das sementes, para trocas,


durante o I Seminário de Agroecologia do Vale do Açu.

Fonte: Acervo dos autores.

86
3. PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS RELACIONADAS À
UTD BANCO DE SEMENTES
As sementes crioulas estão mais adaptadas às condições de
cultivo dos agricultores familiares, portanto, são mais resistentes
às pragas e doenças. Essas sementes têm potencial produtivo
adequado ao sistema utilizado, já as convencionais são selecionadas
para altas produções, no entanto, precisam ser cultivadas com uso
de adubos químicos, irrigação e agrotóxicos.
Assim, Moreira (2016) destaca sobre a importância da produção
da própria semente:
• Menor gasto com a compra de sementes;
• Maior soberania, pois o agricultor decide qual a
variedade que cultivará e não ficará dependente das
sementes comerciais;
• As sementes comerciais nem sempre se adaptam
as condições locais de produção;
• Sementes produzidas pelo agricultor resultam
em plantas que se adaptam melhor ao clima e ao
solo (ambiente) com o passar dos anos. Chama-se a
isso de COEVOLUÇÃO, porque o agricultor também
seleciona ao longo do tempo as melhores sementes e
que se adaptam às suas reais condições ambientais e
culturais locais.

Cuidados na multiplicação da própria semente


(Segundo MOREIRA, 2013):
a) Escolha das plantas: selecionar as plantas
no campo (roça), escolhendo as mais sadias e mais
vigorosas que se destacam das outras;
b) Isolamento: deve ser feito o isolamento, porque
existem plantas que têm a capacidade de cruzar
materiais entre si, o que leva a cruzamentos acidentais,
deixando que as cultivares percam a pureza. Para que
isso não aconteça, é preciso:

87
• Manter um intervalo de segurança em dias
entre um plantio e outro das variedades que
possuem potencial de cruzamento, evitando que
floresçam juntas;
• Resguardar as cultivares que cruzam em uma
distância segura, capaz de evitar o cruzamento.
c) Limpeza ou purificação: retirar da lavoura
aquelas plantas que são diferentes da cultivar que está
sendo plantada;
d) Conhecimento da forma de reprodução das
plantas: é importante conhecer a forma de reprodução
das plantas. Existem plantas na natureza que possuem
a fecundação cruzada e, por isso, são chamadas de
plantas “alógamas”. Além delas, também existem
plantas que se autofecundam e que são chamadas
de “autógamas”.
O feijão é uma planta autógama, que apresenta
numa só flor os órgãos masculinos e femininos (flor
hermafrodita). Para as plantas que apresentam esses
tipos de flores, não é necessário um isolamento
muito grande em distância entre um cultivo e outro
de cultivares diferentes. Pode-se plantar com uma
diferença de 30 dias entre duas variedades ou com
uma distância de 50 metros.
Já para as plantas alógamas, como o milho, que
apresenta flores masculinas separadas das flores
femininas, são necessários isolamentos maiores em
distância entre um cultivo e outro. No caso do milho
a distância deve ser de no mínimo 400 metros e de
30 (trinta) a 50 (cinquenta) dias o tempo que se deve
deixar para plantar uma outra cultivar;
e) Local para a produção de sementes: é
importante que se tenha um local próprio para a
produção de sementes, pois o manejo que é usado é
diferente. Além disso, o tempo que algumas espécies
levam para produzir sementes é maior do que o
tempo que levam para produzir a parte comestível
ou comercial. Mas isso ocorre somente em plantas

88
que se consomem as folhas ou outras partes não
reprodutivas, como no caso do Alface.

Cuidados no plantio (De acordo com MOREIRA, 2016):


• Verificar junto a vizinhos e na própria
propriedade se o campo de produção de sementes está
isolado de outras cultivares que possam cruzar com as
plantas do campo (ver item do 5.2.2/b);
• Para a escolha da área, deve ser selecionada
uma área de média fertilidade, mas que não esteja
compactada pelo pisoteio do gado. Assim, as plantas
mostrarão seu potencial;
• Realizar adubação orgânica;
• Antes do plantio, fazer um teste de germinação
das sementes;
• Se possível, escolher áreas protegidas do vento
com plantas de Quebra-Vento, para melhorar a
polinização;
• Plantar observando o espaçamento ideal para a
produção de sementes.

Cuidados na colheita
• Após o florescimento, escolhem-se as melhores
plantas, observando-se sempre a sua resistência, sua
produtividade e a finalidade do cultivo;
• Selecionar e colher sementes em número de
acordo com a categoria das plantas autógamas e
alógamas;
• Plantas de frutos carnosos
• Colher quando os frutos estão perdendo o
brilho e passando para um tom opaco. Depois, deixe
descansar entre 10 e 20 dias e então podem-se extrair
as sementes.
• Plantas de frutos secos
• Colher quando as plantas apresentarem sinais
visíveis como:

89
a) milho com a base da semente com um ponto
preto;
b) feijão com 90% das folhas bem amarelas.

4. SECAGEM DA SEMENTE E ARMAZENAMENTO:


Os agricultores familiares têm várias formas de conservação de
suas sementes, que vêm passando de geração em geração e precisam
ser ainda pesquisadas e comparadas com o armazenamento em
câmaras frias (Figura 4).

Secar as sementes ao sol, das 8h às 11h, e depois das


14h, em lonas (menos a preta) ou panos. Armazenar as
sementes em garrafas pet, vidros ou bombas plásticas,
colocando no interior do recipiente, folhas de
eucalipto, citriodora ou cinza de madeira. Se possível,
guarde as sementes na geladeira. (Moreira, 2016)

Figura 4 - Armazenamento de sementes com controle de temperatura e


umidade, em “câmara fria adaptada”. Ipanguaçu, 2017.

Fonte: Acervo dos autores.

90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALENSIFER, P.G.M.; SILVA, A.P.G. Metodologia para formação de banco
comunitários de sementes. Recife: Instituto Agronômico de Pernambuco,
2016. 32p.

MOREIRA, V. R. R. MAPA, 2016. Fichas Agroecológicas: Tecnologias


Apropriadas para a Agricultura Orgânica. Disponível em: <http://
www.agricultura.gov.br/assuntos/ sustentabilidade/organicos/fichas-
agroecologicas/arquivos-sanidade-vegetal/18 e 19-cproducao-de-sementes-
ii.pdf> Acesso em: 18 maio 2017.

MOREIRA, V.R.R, Produção de sementes. Instituto 5 Elementos, São


Paulo, 2013,12 p.

91
Capítulo 6

UTD – BANANA ORGÂNICA


CAPÍTULO 6

UTD – BANANA ORGÂNICA


Júlio Justino de Araújo
Luany Gabriely da Silva
Ana Paula Pereira do Nascimento

1. INTRODUÇÃO
A Unidade Técnica Demonstrativa (UTD) de Banana
Orgânica é o espaço onde são aplicadas técnicas de manutenção
ou redesenho de práticas agrícolas, através de atividades
agroecológicas referentes à cultura da banana orgânica, que
atualmente é símbolo de referência de sucesso para os agricultores
(as) familiares, estudantes e estudiosos da área que se interessam
em fazer de tais práticas de cultivo, mudanças de atitudes. A UTD
é utilizada para a realização de atividades de ensino, pesquisa e
extensão, com a participação de discentes, docentes e agricultores
(as), tanto em aulas, quanto em pesquisas, seminários e em dias de
campo (Figura 01).
O objetivo dessa UTD é desenvolver tecnologias de sistemas de
irrigação e fontes de adubação para a produção de banana orgânica
por agricultores familiares na região do Vale do Açu-RN. Além
disso, essa sistematização de experiências tem seu foco em práticas
de sistema agroecológico e busca alternativas de sustentabilidade
com viabilidade técnica, econômica, social e ambiental.

93
Figura 1 - Dia de campo com Alunos do IFRN e agricultores da região.

Fonte: Acervo dos autores.

2. A UTD - BANANA ORGÂNICA, VARIEDADE PACOVAN,


NO IFRN CAMPUS IPANGUAÇU
A implantação teve início através da aprovação em Edital do
BNB, tornando-se um Projeto Institucional e Multidisciplinar,
envolvendo ações de Ensino, Pesquisa e Extensão, financiado
através do Convênio de Assistência Técnica e Financeira - BNB/
FUNDECI, que entre si celebraram o Banco do Nordeste do
Brasil S/A, a entidade gestora financeira Fundação de Apoio à
Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do
Norte — FUNCERN e a Instituição Executora Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte — IFRN-
Campus Ipanguaçu.
Atualmente, faz parte das Unidades Técnicas Demonstrativas
do projeto intitulado “Sementes crioulas para o fortalecimento da
agricultura familiar no Vale do Açu”, financiado pelo MCTI /MAPA/
CNPq, realizado pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA) do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN), Campus Ipanguaçu.

94
3. PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS RELACIONADAS À
UTD - BANANA ORGÂNICA, VARIEDADE PACOVAN
Escolha e preparo da área
A escolha e o preparo da área foram as primeiras ações
definidas para a instalação da UTD — Banana Orgânica, Variedade
Pacovan. Para isso, procurou-se um local na propriedade com fonte
de água, energia elétrica e solo adequado a cultura, com bom aporte
de nutrientes essenciais e facilidade de drenagem, em que foram
realizadas práticas culturais, como desbaste e adubação orgânica,
visando melhorias nas características químicas, físicas e biológicas
do solo.
Visando viabilizar a implantação do projeto, foram adquiridos
os seguintes equipamentos e materiais de consumo:
Equipamentos para o campo
• Conjunto de irrigação completo, constituído de 04
sistemas: gotejamento, microaspersão, aspersão convencional
e alternativo ou micro bacias;
• Roçadeira manual com motor a gasolina.
Equipamentos para Laboratório de solos e água
• Agitador magnético com aquecimento;
• Bureta digital;
• Condutivímetro digital;
• Fotômetro de chama digital;
• Medidor de PH microprocessador;
• Mesa agitadora para solos com motor de indução;
• Refratômetro digital PR 101 Precisão 0 - 32 %.
Aquisição de insumos
• Aquisição de mudas de banana pacovan (rizoma);
• Aquisição de sementes para coquetel de adubação verde,
antecedendo ao plantio das bananeiras, no intuito de melhorar
as características químicas, físicas e biológicas do solo (...);

95
• Aquisição de fosfato orgânico para adubação das parcelas
com tratamento do composto;
• Aquisição de MB4 (pó de rocha) para adubação orgânica
das parcelas com tratamento do composto.
Preparo da área
• Destocamento e limpeza da área realizado manualmente
para retirada de tocos e raízes de algaroba;
• Construção de 600m de cerca com 07 fios de arame farpado
para isolamento da área, contra o pastejo de ovinos e bovinos.
Preparo do solo
• Foram realizadas 02 gradagens cruzadas, visando a
incorporação da adubação verde na área onde foi efetuado o
plantio do coquetel de plantas ricas em nutrientes (Figura 02) e
incorporação da pastagem nativa, na área sem adubação verde;
• Demarcação da área, com identificação dos blocos, parcelas
e abertura das covas em cada parcela com espaçamento em
fileira dupla 4 x 2 x 2 m.

Figura 2 - Mistura e homogeneização das sementes para adubação verde.

Fonte: Acervo dos autores.

96
Análise do solo através do Laboratório da EMPARN
• Inicialmente, na área de implantação do experimento,
foram coletadas amostras de solo de acordo com protocolos
de amostragem de solos da Embrapa (1997). As amostras foram
coletadas nas profundidades de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm e
analisadas quanto às características químicas e físicas.
• Plantio de coquetel para adubação verde, realizado através
da mistura de várias espécies, de diferentes famílias como:
poaceae, fabaceae, gramíneas e oleaginosas, mantido através
de sistema de irrigação por aspersão e durante o período
de floração realizou-se uma roçagem mecanizada e duas
gradagens visando incorporar a massa vegetal para adubação
verde.
Demarcação da área
• A área foi dividida em 32 parcelas com dimensões 12 x 12 m
para o plantio do coquetel de adubos verdes (Figura 03);
Figura 3 - Demarcação e piqueteamento da área.

Fonte: Acervo dos autores.

• Montagem e instalação do sistema para irrigação para


irrigar os adubos verdes;

97
• Croqui da área mostrando a distribuição das plantas
na parcela, sendo 8 plantas úteis e 16 plantas na bordadura
(Figura 4);

Figura 4 - Espaçamento em fileira dupla 4 x 2 x 2 m, com 08 plantas úteis


por parcela.

Fonte: Acervo dos autores.

• No manejo da irrigação para o coquetel de adubação verde,


foi utilizado sistema de irrigação por aspersão durante as fases
de desenvolvimento inicial, vegetativo e floração do coquetel
(Figuras 5);

98
Figura 5 - Manejo da irrigação na fase de desenvolvimento vegetativo do
coquetel.

Fonte: Acervo dos autores.

• Floração das plantas do coquetel para adubação verde


(figuras 06 e 07);
Figura 6 - Floração do girassol, crotalária e sorgo, entre outras espécies.

Fonte: Acervo dos autores.

99
Figura 7 – Floração da crotalária.

Fonte: Acervo dos autores.

• Operação mecanizada com roçadeira, sobre os adubos


verdes durante a fase de floração (figura 08);
Figura 8 - Operação mecanizada com roçadeira, sobre os adubos verdes.

Fonte: Acervo dos autores.

100
• Gradagem para incorporação da adubação verde;
• Piqueteamento das parcelas em fileira dupla 4 x 2 x 2 m,
para o plantio da banana (Figura 9);
• Não foi possível realizar abertura das covas manualmente,
na área na qual não foi feito plantio de adubos verdes, tendo
em vista que o solo estava compactado (Figura 10);
Figura 9 - Demarcação e piqueteamento da área.

Fonte: Acervo dos autores.

Figura 10 - Tentativa de abertura de covas manualmente em solo


compactado.

Fonte: Acervo dos autores.

101
• Abertura das covas de forma mecanizada com trado, na
profundidade de 40 cm e 40 cm de diâmetro;
• Preparo de compostagem, com esterco bovino 50%, palha
de carnaúba 50% - foi feito a adubação de fundação utilizando-
se 10 litros por cova;
• Pó de rocha MB4 e Fosfato orgânico - foi feito uma
adubação a lanço para o tratamento da compostagem (B2),
durante o mês de março/2011, aplicando-se 1000 kg ha-1 e 500
kg ha-1, respectivamente;
• No tratamento B2 (compostagem) foi realizada a adubação
de fundação durante os meses de setembro a outubro de 2010,
com dosagem de 10 litros por cova e homogeneizado com os 20
cm de solo da camada superficial. Foi realizada uma adubação
em cobertura, durante o mês de outubro/2012, na dosagem de
5 litros por cova;
• Adubação em cobertura: durante o mês de março/2011,
foi realizada uma adubação com o composto produzido,
utilizando-se 10 litros por cova. A adubação foi efetuada
nos tratamentos com compostagem e nos tratamentos com
adubação verde. Após 01 ano (março/2012), foi repetida a
adubação com composto, em ambos os tratamentos, com
dosagem de 5 litros por cova. Durante o mês de novembro/2012,
foi realizada uma adubação com o composto produzido,
utilizando-se 9 litros por berço. A adubação foi efetuada nos
tratamentos com compostagem e com adubação verde.

4. TRATAMENTO FITOSSANITÁRIO E TRANSPLANTIO


Escolha dos rizomas
• Limpeza e desinfecção de rizomas;
• As mudas utilizadas foram pedaços de rizomas, com
aproximadamente 1,0 kg, retiradas de mudas do tipo chifrão, as
quais foram submetidas aos tratos culturais e fitossanitários
em conformidade com o sistema de produção agroecológico.
Inicialmente foi feito o tratamento hidrotérmico com água a

102
50ºC durante 20 minutos, para o controle de larvas do moleque
da bananeira e em seguida foi feito a imersão em hipoclorito
de sódio, com diluição em água a 20%, durante 20 minutos,
para o controle de bactérias.
Plantio de rizomas no viveiro para produção das mudas
• Os pedaços de rizomas após o tratamento foram plantados
em sementeiras no viveiro de mudas com espaçamento 20 x 20
cm e com profundidade de 15 cm. A sementeira foi preparada
com 80 litros de composto/m2 e homogeneizado com areia.
Transplantio das mudas para o campo e características
do solo
• Foi feito o transplantio das mudas durante os meses
novembro a dezembro de 2010;
• Com relação às características físicas do solo, na área na
qual foi realizada a adubação verde, os resultados foram mais
evidentes na melhoria da compactação do solo durante a
abertura das covas (prática realizada com a primeira turma do
Técnico Integrado em Agroecologia) e das trincheiras, como
também, na melhoria da velocidade de infiltração da água no
solo, através da diminuição do escoamento superficial da água
de irrigação (Figura 11).
Figura 11 - Abertura de covas com solo descompactado.

Fonte: Acervo dos autores.

103
5. COLHEITA
A colheita foi realizada semanalmente, cuja produção
se destinou à merenda escolar dos Alunos do IFRN Campus
Ipanguaçu. Nos 03 (três) ciclos de produção da bananeira, os quais
ocorreram entre 2012 e 2015, a produtividade média foi de 20,8 Mg
ha-1, mostrando que, no sistema agroecológico, mesmo diante às
adversidades climáticas com limitações relacionadas à água de
irrigação em função da alta salinidade, a produtividade obtida foi
superior à média nacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGRIANUAL. Palmito: Mercado e Perspectivas. In: Anuário estatístico
da agricultura irrigada. São Paulo: FNP/M $ S, 2001. P.446. (Agrianual 2001).

ALLEN, R. G.; Pereira; L. S.; Raes, D. Crop evapotranspiration. Guidelines


for computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998. 300p. Irrigation
and Drainage Paper 56.

ALVES;OLIVEIRA, M. A. de. Planejamento de um plantio comercial.


In: Alves, E. J. (Coord.) A cultura da banana: aspectos técnicos,
socioeconômicos e agroindustriais. 2. Ed. Brasília, DF: EMBRAPASPI/Cruz
das Almas, BA: EMBRAPA-CNPMF, 1999.p. 261-290.

BERNARDO, S. Manual de Irrigação. 6 ed. Viçosa: UFV, 1995. 657 p.

DANTAS, J.A.; MEDEIROS, A.A.; ARAÚJO, J.R.A. de. Levantamento


detalhado de solos e características climáticas da estação experimental
da Chapada do Apodi. In: Congresso Brasileiro de Ciências do Solo, 26,
1997, Rio de Janeiro. SBCS. Viçosa, MG: SBCS, 1997. V.1.p.339.

DOORENBOS, J.; KASSAN, A.H. Yield response to water. FAO. Irrig. and
Drain. Paper 33, 1979, 193p.

KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu/


SP: Agroecológica, 2001.

104
MERRIAN, J.L.; KELLER, J. Farm irrigation system evaluation: A guide for
management. Logan: Agricultural and irrigation Engineering Department,
Utah State University, 1978. 217 p.

MOURA, R. J. M.; SILVA JÚNIOR, J. F. Recomendações de calcários e


fertilizantes para a cultura da banana. In: Recomendações de adubação
para o Estado de Pernambuco (2ª aproximação). Recife: IPA, 1998. 198 p.

ROSA, C. D. R.M. Bananeira: Cultivo sob condição irrigada. 2. Ed. Recife,


SEBRAE, 2000. 51 p.

SOUZA, H.H; MEDEIROS, A.A.; DANTAS, J.A. Situação nutricional de


bananais do Rio Grande do Norte. In: Reunião Brasileira de Fertilidade
do Solo e Nutrição de Plantas, XXIII, 1998, Caxambu-MG. SBCS. Caxambu-
MG, 1998.p.64-65.

SOUZA, I.H.; ANDRADE, E.M.; SILVA, E.L. Avaliação hidráulica de um


sistema de irrigação localizada de baixa pressão, projetado pelo software
“bubbler”. Revista de Engenharia Agrícola. Jaboticabal, 2005, v.25, n.1,
p.264-271.

ESPÍNDOLA, J.A.A.; GUERRA, J.G.M.; ALMEIDA, D.L. de. Adubação


verde: Estratégia para uma agricultura sustentável. Seropédica: Embrapa-
Agrobiologia, 1997. 04p.

105
Este livro reune um resgate histórico da criação e do
desenvolvimento do Núcleo de Estudos em Agroecologia
(NEA) do IFRN - Campus Ipanguaçu.
Foram aplicadas metodologias de pesquisa participativa
— que se caracterizam por integrar investigação, educação
popular e participação social — através de oficinas envolven-
do os integrantes do NEA, de entrevistas com roteiro semi-
estruturado, do uso da metodologia conhecida como “linha do
tempo”, do mapeamento participativo ou mapa falado, do
levantamento das fortalezas, oportunidades, fraquezas e
ameaças do núcleo e do Diagrama de Venn.
O livro também aborda, detalhadamente, o processo de
implantação de algumas das Unidades Técnicas Demonstrati-
vas (UTDs) e as práticas agroecológicas relacionadas a elas
que podem ser aplicadas pelos agricultores familiares em
suas realidades locais.

Você também pode gostar