Transmissão Das Características Hereditárias
Transmissão Das Características Hereditárias
Transmissão Das Características Hereditárias
A escolha da planta: Mendel escolheu a ervilheira porque esta tem um ciclo reprodutivo curto, produz muitas
sementes, os componentes envolvidos na reprodução sexuada ficam encerrados no interior da flor, protegidas pelas
pétalas, o que favorece a autopolinização e consequentemente a autofecundação, formando descendentes com as
mesmas caraterísticas da progenitora, e ainda pela existência de uma grande variedade de caraterísticas de fácil
comparação. Por exemplo: a cor das ervilheiras, umas púrpuras e outras brancas, sementes lisas e rugosas, etc.
Polinização cruzada: Removem-se os estames numa fase em que ainda não são capazes de produzir grãos de
pólen e, posteriormente, fertiliza-se essa planta com o pólen proveniente de outra planta escolhida.
A polinização cruzada realizada de forma artificial evitava a autopolinização e garantia que o cruzamento era
efetuado entre linhas puras detentoras de caracteres antagónicos (sementes lisas vs. Sementes rugosas).
Rigor e Método
Mendel teve o cuidado de utilizar linhas puras, isto é, plantas que, quando são autopolinizadas, originam uma
descendência igual entre si e igual aos seus progenitores (relativamente a uma determinada característica).
Para isso, Mendel cruzava as ervilheiras idênticas em relação a uma determinada característica, durante várias
gerações e eliminava sucessivamente aquelas que surgiam com uma variação, dessa característica, diferente daquela
que ele pretendia obter.
Monoibridismo
Além disso, realizou cruzamentos recíprocos, isto é, uma variedade era usada algumas vezes como produtora de
pólen e outras vezes como progenitora feminina.
• Permitiram a Mendel concluir que o caracter herdado não dependia da planta que doava as células
masculinas ou femininas.
Todas as sementes resultantes deste 1º cruzamento apresentavam o aspeto liso, tendo desaparecido por completo o
carácter rugoso.
Logo, embora cada indivíduo tenha recebido um fator antagónico (transportado por cada um dos gâmetas), possuía,
assim, os dois fatores (liso e rugoso). Contudo, o carácter liso ter-se-á sobreposto ao carácter rugoso, que foi
“silenciado”.
Ao permitir que as sementes da geração F1 germinassem e dessem origem a plantas adultas, que se
autopolinizaram, Mendel obteve uma geração F2, com sementes lisas e rugosas, sendo as lisas em maior número.
Mendel calculou a proporção entre o número de sementes lisas e o número de sementes rugosas obtidas na
geração F2: 5474:1850 = 2,96; logo, 2,96: 1;
Explicação dos resultados obtidos em F2: O fator responsável pelo carácter rugoso que estava “escondido” na
geração F1 poderia, devido a uma nova combinação dos gâmetas, ser o único presente em algumas plantas da
geração F2 e, assim, manifestar-se (dado que já se tinha verificado que na presença dos dois fatores apenas se
manifesta aquele que é responsável pelo carácter liso).
Hipótese de Mendel
• Ex: alelo responsável pela cor verde (L) e o alelo responsável pela cor amarela (l- recessivo) - os genótipos
possíveis seriam: LL, Ll e ll
L l
L LL Ll
L LL Ll
Fenótipo - (características) resulta da expressão de um determinado genótipo.
Experiência: monoibridismo
Geração F2:
P p
P PP Pp
p Pp pp
Proporções dos fenótipos:
Explicação da existência de indivíduos com o mesmo fenótipo (flores com corola púrpura) e genótipos diferentes:
Quer os indivíduos com genótipo PP, quer os que têm o genótipo Pp apresentam o fenótipo corola púrpura, porque
o alelo P (que determina a cor púrpura) é dominante em relação ao alelo p (que determina a cor branca). Assim, a
presença do alelo P obriga à manifestação da característica corola púrpura, não se manifestando a característica
corola branca (no caso dos indivíduos Pp).
Resultados de Mendel
• Cada individuo da geração parental, sendo linhas puras, apresenta um genótipo formado por 2 alelos iguais
para um determinado carácter (ex: PP ou pp) - homozigóticos para essas características;
• Ao formarem gâmetas, cada um dos progenitores, por ser homozigótico para essa característica, apenas
pode formar gâmetas com um tipo de alelo (ex: P no caso das plantas com flores de corolas púrpuras);
• A união dos gâmetas da geração parental constitui a geração F1, onde os indivíduos possuem 2 alelos
diferentes para o caracter considerado (Pp) - heterozigóticos para essa característica;
➢ Os indivíduos/híbridos da 1ª geração, originam gâmetas que são portadores do alelo P e
outros que são portadores do alelo p.
➢ A autopolinização que ocorreu nos indivíduos de F1 pode conduzir à reunião de gâmetas
portadores de formas alélicas iguais (homozigóticos) ou diferentes (homozigóticos);
Cruzamentos-teste
Cruzamentos-teste/retrocruzamentos - cruzamentos com indivíduos homozigóticos recessivos, que permitem que
se manifestem os alelos presentes nos indivíduos/progenitores que apresentam o fenótipo dominante, de modo a
determinar o seu genótipo.
Razão pela qual se cruzaram os indivíduos de genótipo desconhecido com indivíduos linhas puras recessivas
(homozigóticos recessivos): Uma vez que os gâmetas do indivíduo homozigótico recessivo apenas possuem alelos
recessivos, os alelos que os gâmetas do outro progenitor possuem é que irão determinar o fenótipo da
descendência. Assim, se nessa descendência surgirem indivíduos que manifestem o carácter recessivo, isso significa
que o progenitor (de genótipo inicialmente desconhecido) é heterozigótico.
• homozigóticos (PP);
• heterozigóticos (Pp).
Progenitores homozigóticos
Apenas produzem gâmetas portadores do alelo P e consequentemente, toda a descendência deste cruzamento (PP X
pp):
P P
• será heterozigótica (Pp); p Pp Pp
• fenotipicamente uniforme (todos com corola púrpura). p Pp Pp
Progenitores heterozigóticos
Os progenitores produzem 50% de gâmetas portadores do alelo dominante P e 50% de gâmetas portadores do alelo
recessivo p. Descendentes deste cruzamento (Pp X pp ) :
Di-hibridismo
Di-hibridismo - modo de transmissão simultânea de 2 características.
Mendel pretendia verificar se existia alguma interferência na transmissão de 2 caracteres distintos (ex: “forma da
semente” e “cor da semente”) e se essa transmissão se fazia em bloco ou de forma independente.
Experiência: Começou por selecionar ervilheiras de linhas puras para 2 caracteres diferentes. Cada indivíduo da
geração parental possui 2 pares de alelos AALL ou aall:
Por serem linhas puras, cada indivíduo da geração parental só pode produzir 1 tipo de gâmeta:
AL AL
al AaLl AaLl
al AaLl AaLl
• Segregação dependente - os alelos responsáveis pelos 2 caracteres em estudo são transmitidos em bloco
para os gâmetas, isto é, considerando que os 2 caracteres são recebidos dos pais e transmitidos à
descendência sempre juntos.
AL al
AL AALL AaLl
al AaLl aall
• Segregação independente - os alelos responsáveis pelos 2 caracteres em estudo são transmitidos de forma
independente para os gâmetas, isto é, os indivíduos F1 ao produzirem os seus gâmetas podem combiná-los
de forma aleatória, desde que cada gâmeta possua um alelo para a cor da semente e outro para a forma da
semente.
AL Al aL al
AL AALL AALl AaLL AaLl
Al AALl AAll AaLl Aall
aL AaLL AaLl aaLL aaLl
al AaLl Aall aaLl aall
Resultados obtidos do cruzamento por autopolinização de F1:
Nesta situação obter-se-iam 9/16 de sementes amarelas e lisas; 3/16 de sementes amarelas e rugosas; 3/16 de
sementes verdes e lisas e 1/16 de sementes verdes e rugosas. Os resultados obtidos aproximam-se destes valores,
concluindo-se que existe uma segregação independente dos alelos de diferentes caracteres.
AL Al aL al
AL AALL AALl AaLL AaLl
Al AALl AAll AaLl Aall
aL AaLL AaLl aaLL aaLl
al AaLl Aall aaLl aall
Conclusão de Mendel
Concluiu-se que nos cruzamentos de di-hibridismo se verifica a segregação independente dos alelos.
Segunda Lei de Mendel/ Lei da segregação Independente - Os alelos de genes diferentes são segregados de forma
independente durante a formação dos gâmetas.
Mais tarde verificou-se que esta lei só se aplica quando os genes se encontram em cromossomas diferentes. Os
cromossomas são segregados de forma independente durante a formação dos gâmetas.
Leis de Mendel:
• Lei da Segregação Fatorial/ 1ª lei de Mendel - quando um organismo produz gâmetas, os alelos são
segregados (separados), de tal forma que cada gâmeta recebe apenas 1 dos elementos de cada par de
alelos;
• Lei da Segregação Independente/ 2ª lei de Mendel - durante a formação dos gâmetas, alelos de diferentes
genes são segregados de forma independente da segregação dos alelos de outro gene.
Segregação dos fatores de Mendel + Separação dos cromossomas homólogos durante a meiose = Teoria
Cromossómica da Hereditariedade
Dominância incompleta
Situações em que um dos alelos de um determinado locus não é completamente dominante sobre o outro.
Experiência:
Genótipo de F2: 1⁄4 VV; 1⁄2 VB; 1⁄4 BB, ou25% VV; 50% VB; 25% BB).
V B
V VV VB
B VB BB
➢ Plantas com flores vermelhas: Todos os descendentes apresentam flores vermelhas, com o genótipo VV.
V V
V VV VV
V VV VV
➢ Plantas com flores cor-de-rosa: a descendência de F3 é idêntica à de F2, isto é, 1⁄4 VV; 1⁄2 VB; 1⁄4 BB;
V B
V VV VB
B VB BB
➢ Plantas com flores brancas: todos os descendentes apresentam flores brancas, com o genótipo BB.
B B
B BB BB
B BB BB
Codominância
Ambos os alelos se expressam com igual influência na determinação do fenótipo, verificando-se a relação
dominância/recessividade entre os alelos de um determinado gene. Ex: genes envolvidos na determinação da cor do
pelo de alguns bovinos: O cruzamento de indivíduos linhas puras de cor vermelha com indivíduos linhas puras de cor
branca origina descendentes que possuem uma mistura de pelos vermelhos e pelos brancos, cujo efeito é uma
coloração cinzento-avermelhada (ruão). Cada um dos alelos expressa-se de forma independente, pelo a pelo.
Alelos múltiplos
Exemplos:
Alelos múltiplos - o locus tem alelos múltiplos quando existem 3 ou mais alelos que podem ocupar os 2 loci
correspondentes de 1 par de homólogos.
• Mesmo nesta situação, cada individuo possui apenas 2 dos diversos alelos possíveis.
• A maioria dos genes existentes nas populações apresenta mais do que 2 formas alélicas.
Sistema ABO
Existem diferentes tipos de sangue:
O grupo sanguíneo humano ABO é determinado por um gene para o qual existem 3 variantes de alelos:
Os antigénios presentes na superfície das hemácias são designados aglutinogénios (pelo facto de, em presença de
anticorpos específicos, desencadearem uma reação de aglutinação).
O conhecimento do grupo sanguíneo é fundamental quando se procedem a transfusões sanguíneas, pois cada
individuo produz anticorpos (proteínas), contra os aglutinogénios de grupos sanguíneos diferentes do seu:
A reação antigénio-anticorpo conduz à aglutinação e precipitação das hemácias, podendo causar a morte do
individuo que recebeu a transfusão.
Os alelos IA e IB possuem uma relação de codominância, pois verifica-se que ambos os alelos se expressam (ambos os
alelos têm expressão fenotípica).
Considerando os genótipos e os fenótipos do sistema ABO, verificamos que IA e IB são codominantes e ambos são
dominantes relativamente ao alelo i. Ou seja, o alelo i é recessivo em relação aos outros alelos.
Aglutininas - anticorpos específicos para os aglutinogénios das hemácias. As hemácias do tipo O não induzem a
produção de aglutininas.
Sistema Rh
“Rh” é uma abreviatura do nome do macaco “Rhesus”, no qual os cientistas Landsteiner e Wiener (1940)
identificaram pela primeira vez a presença do antigénio que denominaram “fator Rh”. Foi também possível verificar
a produção de anticorpos designados por “anti-Rh”.
Alelos letais
Alelos letais - alelos que, quando se reúnem em homozigotia, podem conduzir à morte do seu portador.
O facto desses genes em heterozigotia não serem letais permite a sua manutenção na população.
Exemplo: Ausência de cauda nos gatos - fenótipo de Manx, determinada pela presença de
um alelo C. A presença deste alelo em homozigotia, torna o embrião inviável. Os indivíduos
que apresentam o genótipo cc desenvolvem cauda. O cruzamento entre 2 indivíduos sem
cauda conduz à produção de uma descendência constituída por 2/3 de indivíduos sem cauda
e 1/3 de indivíduos com cauda.
Existe um desvio às proporções fenotípicas esperadas, porque 1/4 dos embriões não completa o seu
desenvolvimento embrionário, não chegando a nascer, genótipo CC.
Para que obtenhamos gatos sem cauda, evitando a existência de embriões mortos, temos de realizar cruzamentos
entre gatos com fenótipo Manx com gatos com cauda Cc × CC.
Na espécie humana temos como exemplo de alelos letais: doença de Huntington, anemia falciforme, fenilcetonúria…
Epistasia - um gene de um determinado locus altera a expressão fenotípica de um gene de um segundo locus.
Este facto conduz ao surgimento de proporções fenotípicas diferentes das esperadas segundo os princípios de
Mendel.
Se no locus estiverem os 2 alelos recessivos (dd), que impedem a deposição do pigmento, o rato será branco.
Assim, o locus responsável pela deposição de melanina é epistático em relação ao locus responsável pela produção
deste pigmento, pois o 1º gene altera a expressão fenotípica do segundo.