Método Psicanalítico 5

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Aula 2

Estruturas Psicanalíticas Conversa Inicial

Prof.ª Juliana Santos

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Sejam bem-vindos! É dessa relação primitiva e arcaica, na qual a


criança se considera o objeto de amor
Iniciamos essa aula com essa citação de exclusivo da relação com a mãe, que Freud
Nasio (2007) extrai o complexo de Édipo, como sendo este
“Não, o Édipo nada tem a ver com o fundamento da fantasia do sujeito
sentimento e ternura, mas com corpo, Isto é, são os efeitos da vivência edípica no
desejo, fantasias e prazer. Provavelmente, psiquismo que, quando recalcados,
pais e filhos amam-se ternamente e podem desmentidos ou foracluídos, vão condicionar
se odiar, mas, no coração do amor e do ódio subjetivamente o sujeito em sua respectiva
familiar, medra o desejo sexual” estrutura: neurose, perversão ou psicose

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Para a aula de hoje, então, vamos adentrar


nesse conceito tão polêmico e intrigante que O Édipo Rei
esta no núcleo da teoria psicanalítica: o
complexo de Édipo

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Freud se inspira na peça grega do Édipo Rei, de No caminho para Tebas, Édipo se envolve em
Sófocles, para elaborar a sua teoria do complexo uma briga com um desconhecido, tendo, como
de Édipo resultado, a morte do homem
É a história do jovem Édipo que, em dúvida Prosseguindo seu caminho, encontra-se com uma
quanto à sua origem, vai à busca de um oráculo, Esfinge às portas de Tebas, que lhe propõe um
o qual lhe adverte sobre o seu destino e profetiza
dizendo que Édipo mataria o seu pai e se casaria enigma. Se Édipo o decifrasse, a cidade se
com a sua mãe livraria da peste que a assolava, caso contrário,
Horrorizado com a fala do oráculo, Édipo ele seria devorado. Tendo decifrado o enigma,
abandona sua cidade em Corinto, onde vivia com Édipo é acolhido como herói, recebendo em troca
seus pais, e vai em direção a Tebas, a fim de o trono de Tebas que estava vago devido à morte
evitar o cumprimento da tão sinistra profecia do rei Laio e, juntamente com o trono, Édipo,
enunciada pelo oráculo
recebe a mão da rainha Jocasta

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Édipo ordena, então, que houvesse uma


investigação em busca do culpado. No
Posteriormente, a cidade volta a ser assolada transcorrer da investigação, é que, na cidade,
por uma nova peste. Dessa vez, os chega um adivinho, vindo de Tirésias, que
sacerdotes declaram que o motivo da peste indica o culpado, que seria ninguém menos
era o acolhimento dado a um culpado e, que o próprio Édipo. É revelado a Édipo que
enquanto o culpado se mantivesse encoberto, ele era um filho adotado. E, logo, fica
a peste seguiria dizimando a população evidente que seus verdadeiros pais são Laio e
Jocasta. Com isso, a trágica verdade emerge:
rei Édipo, um parricida e incestuoso

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A tese do complexo de Édipo

O complexo de Édipo é elaborado por Freud em O que se segue na peça mostra que Édipo, ao
1900, na “Interpretação do sonho” descobrir seu ato incestuoso, fura os seus
Para Freud, o importante é o efeito trágico que a olhos, castrando-se do gozo de ver, uma
peça faz ecoar nos espectadores, pois trata-se de consequência lógica da vivência edipiana
um reconhecimento de seus desejos criminosos,
a saber: o assassinato do pai e o incesto com a O mito de Édipo forneceu a Freud a estrutura
mãe de um desejo criminoso que se articula a uma
O complexo de Édipo, em primeiro lugar, vincula proibição de um impossível de ser suportado
a interdição do incesto – ainda que, na peça, não
ocorra isso

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O complexo de castração é uma consequência
lógica do complexo de Édipo
Freud evidencia o complexo de castração nos
textos: “A organização genital infantil” e “A
dissolução do complexo de Édipo”, ambos do ano
O Complexo de Castração de 1924
No primeiro texto, Freud apresenta a primazia do
falo como característica da organização sexual
infantil, em que o órgão genital masculino
representa o falo,. Trata-se da fase fálica no
desenvolvimento sexual, que explica que o pênis
está em posse comum a ambos os sexos,
portanto, o falo é universal

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Com o surgimento da imagem “acidental” do


órgão genital feminino, faz emergir a primeira
negação da falta de pênis e, posteriormente, a Esse momento representa o declínio do Édipo
conclusão de que ele esteve lá, mas foi para os meninos e a entrada no drama
arrancado. Assim, o menino vai conclui que ele
também pode ser castrado (ameaça de edípico para as meninas
castração) É importante destacar que o complexo de
Para a menina, a visão do pênis faz com que castração instaura a lei, pois, em termos, é a
repare na sua falta (castrada). Dessa forma,
Quinet (2015) declara: “Doravante, o falo ameaça de castração que valida a vivência
imaginário, objeto ameaçado de perda para um, edipiana e funda a relação do ser humano por
e objeto de inveja para outro, é inscrito na meio da interdição universal, a lei do incesto
subjetividade, para ambos os sexos como
faltante (-)”

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O efeito trágico da epopeia edipiana


No texto “Para além do princípio de prazer”,
Freud (1920) retoma a dimensão trágica do
Édipo para mostrar que, na repetição
transferencial e nas relações amorosas, o que se Totem e Tabu
repete é o que se encontra na própria estrutura
do complexo de Édipo
Trata-se da experiência que está para além do
princípio do prazer, o gozo oriundo daquilo que
escapa à simbolização do complexo de Édipo,
que, mais tarde, Lacan textualiza pela não
inscrição da relação sexual

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No texto “Totem e tabu”, Freud (1914) aborda Movidos pelo ódio da proibição, os filhos, em
com mais evidência a interdição universal, já que comum acordo, assassinam o pai gozador. No
o próprio Édipo não tinha o complexo de Édipo entanto, depois do pai assassinado, os
Em “Totem e tabu”, o pai da horda primitiva próprios filhos restauram a interdição da
retinha o gozo total de todas as mulheres, endogamia e erguem um totem para
enquanto seus filhos eram proibidos de gozar simbolizar o pai morto, erigindo a interdição
sexualmente delas do incesto, ou seja, não se goza com a
O gozo do pai primitivo era absoluto e ameaça de mulher do pai, esteja ele vivo ou morto
castração os outros homens, pois ele era o único Nesse mito, verificam-se duas figuras do pai:
que podia gozar, já que seu gozo estava excluído o pai gozador e o pai morto que, após a sua
de interdição morte, assume a função do pai simbólico

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Assim, o podemos representar a proposta de


Freud na seguinte ordem
1. Desejo sexual com a mãe
2. Ameaça da punição-castração
3. Desejo de assassinar o pai. Nesse ponto, A Releitura do Édipo em Lacan
Lacan incide sobre a teoria do complexo de
Édipo e o mito de “Totem e tabu” e acrescenta
que o pai é o portador da lei, não só para
proibir o incesto, mas atuando como o pai da
lei simbólica, que funciona no psiquismo com
o significante do Nome-do-Pai, que articula a
lei (do pai) e o desejo (pela mãe)

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A interpretação que Lacan dá ao complexo de No seminário 5, “As formações do inconsciente”


Édipo rende novos horizontes para a clínica, (1958), Lacan traz à tona o que sempre esteve
pois ele coloca Édipo no centro do na mira de Freud, a função do pai
diagnóstico estrutural, isto é, o complexo de O pai, em Lacan, representa um registro
Édipo surge como divisor de águas entre o imaginário, com a função de sustentar a lei
campo da neurose e da psicose. Isso significa simbólica por meio do significante do Nome-do-
que, sem a vivência do complexo de Édipo, o Pai, interditando o gozo da mãe
sujeito responderá a partir da foraclusão do Assim, Lacan nos ensina a ler o Édipo pela
Nome-do-Pai “metáfora paterna”, uma operação lógica dos
Para Lacan, o Édipo surge como resposta ao significantes que terá como resultado a inscrição
desejo da mãe do Nome-do-Pai no lugar do Outro

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A metáfora paterna

A função simbólica do pai é apreendida pela


linguagem, em que a imagem do pai se
transforma num significante, que Lacan nomeou A fórmula da metáfora apresentada por Lacan
de Nome-do-Pai em “De uma questão preliminar”, é a
Trata-se do momento fecundo que coincide com seguinte
o mito de “Totem e tabu”, no qual o pai morto
provoca uma dívida simbólica, que liga o sujeito NP DM NP A
à vida e à lei DM X falo
Desse modo, a função paterna evocada por Lacan
não é a do pai genitor, mas sim a função
simbólica do significante do Nome-do-Pai

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Lacan, ainda no seminário 5, insere três


tempos na leitura de Édipo
1. Momento no qual a criança está totalmente
Os Três Tempos do Édipo identificada com o objeto de desejo da
mãe. O bebê=falo uma equivalência
simbólica que é resultado do complexo de
Édipo na mulher, pois daí resulta essa
posição de identificação com o falo
materno

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2. Momento que corresponde à inauguração da


3. Momento do declínio do complexo de Édipo.
simbolização. Lacan explica essa passagem
Aqui o menino passa da posição inicial de
por meio do brincar da criança e resgata o
ser o falo à posição de ter o falo, podendo, a
jogo de carretel (fort-da), descrito por Freud
partir daí, dar uma significação ao seu pênis.
em “Além do princípio de prazer”. Portanto,
Nesse sentido, a figura do pai, enquanto
a ausência da mãe é percebida e simbolizada
marido da mãe, é tomado como modelo de
pelo significante do Nome-do-Pai. O segundo
identificação do ideal do eu, cuja matriz
tempo do Édipo, portanto, equivale à
simbólica é o significante do Nome-do-Pai. A
castração simbólica, o recalque originário,
mulher se situará como o objeto de desejo
pelo qual a criança perde a sua identificação
do homem, ser o falo
ao falo da mãe, ou pelo menos recalca

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A problemática do falo O falo, como definido por Lacan, “é a
significação, nenhuma outra significação, que
não a própria significação”. Dito de outra
maneira: “o falo como significado é
A assimetria que há em Édipo, entre menina e justamente o objeto que dá à criança a
menino, deve ser entendida pela assunção do significação das idas e vindas da mãe, isto é,
falo, isto é, ter ou não o falo como o elemento o falo enquanto ela não o tem e enquanto a
pivô, no qual a identificação sexual (e não criança o atribui a ela, na sua fantasia”.
genital) do sujeito se organiza e se diferencia Sendo assim, o falo torna-se pivô da
economia do desejo, na medida em que ele é
o desejo sexual (o que falta à mãe)

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Na prática, como ouvir a história edipiana na


clínica? Claro que o sujeito não fala
declaradamente sobre a sua relação edipiana,
pois ela é inconsciente. Ela surge na relação
transferencial
Na Prática O exemplo que trago é de uma paciente, uma
mulher de 49 anos, divorciada, sem filhos,
formada em história, mas que nunca exerceu a
profissão. Buscou análise pois dizia que estava
muito cansada da vida, tudo lhe cansava, não
tinha ânimo para nada, queria dormir e não falar
com ninguém. Parecia um quando de depressão,
mas ela afirma que sempre se sentiu assim,
nunca viu sentido na vida

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Sobre o seu casamento, diz que, na faculdade, O decorrer de suas sessões foi marcado por
conheceu um rapaz muito bonito e que ele relatos de intrigas familiares. Ela
gostou dela, pois ela sempre chamou muita declaradamente odeia a sua mãe, chegando a
atenção. Assim, eles começaram a namorar, agredi-la fisicamente. Além disso, nutre um amor
ficaram noivos, sem saber o real motivo, pois sexual pelo seu pai. Suas declarações não
brigavam muito, ele vivia na praia e não gostava passam por nenhum crivo de censura
de trabalhar, mas, mesmo assim, casaram-se,
pois queria ter um casamento bem chique e, Portanto, nesse curto recorte de um caso clínico,
além do mais, segundo seu relato, eles juntos é possível notar que, no discurso da paciente, o
fazia um belo casal desejo como causa é esvaziado, pois a vivência
O casamento durou menos de um ano. Um dia ele edipiana que funda o desejo por meio da
saiu e não voltou mais. Seu pai conseguiu anular interdição do incesto não ocorreu. Nesse caso, a
o casamento, e, depois, ela nunca quis ficar com hipótese do diagnóstico estrutural é de uma
ninguém psicose

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O mito de Édipo forneceu a Freud a estrutura de
um desejo criminoso, que se articula a uma
proibição de um impossível de ser suportado. Por
outro lado, por se tratar de um desejo, o sujeito
se divide – rejeitando na consciência o desejo
Finalizando proibido e conservando no inconsciente, “entre
não querer saber e um saber que não cessa de se
escrever”, como declara Quinet (2015)
O complexo de castração é o momento de
instauração da lei, pois, em termos, é a ameaça
de castração que valida a vivência edipiana e
funda a relação do ser humano por meio da
interdição universal, a lei do incesto

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As articulações proposta por Freud são A interpretação do complexo de Édipo em Lacan


se resume na metáfora paterna, em que o Nome-
1. Desejo sexual com a mãe do-Pai surge como um novo termo que barra o
2. A ameaça da punição-castração gozo do Outro, destruindo a identificação da
criança com o falo da mãe. Lacan elabora os três
3. Desejo de assassinar o pai. Lacan, ao incidir tempos lógicos do Édipo
sobre a teoria do complexo de Édipo e o mito 1. A criança está identificada ao falo materno
de “Totem e tabu”, acrescenta que o pai é o (mãe-bebê-falo)
portador da lei, não só para proibir o incesto, 2. A criança perde a identificação ao falo e
mas atuando como o pai da lei simbólica, que recalca, simbolizando a ausência da mãe pelo
funciona no psiquismo com o significante do Nome-do-Pai (recalque originário)
Nome-do-Pai, que articula a lei (do pai) e o 3. A saída do complexo de Édipo, em que a
desejo (pela mãe) questão do falo é colocada entre o ser e o ter

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Ficamos por aqui!


E nos encontramos em breve...

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