A Perícia Papiloscópica Apresentada Como Alternativa para o Ensino Da Química No Estado de Roraima

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Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505

ARTIGO

A PERÍCIA PAPILOSCÓPICA APRESENTADA


COMO ALTERNATIVA PARA O ENSINO DA
QUÍMICA NO ESTADO DE RORAIMA
Dactyloscopy expertise as an alternative for
Chemical teaching in the State of Roraima
Francisco James Oliveira Silva 1
(Recebido em 28/07/2016; aceito em 14/09/2016)

Resumo: Hoje há uma grande variedade de livros e séries de tevê que abordam a temática
da perícia em locais de crimes, e apesar de nem sempre estarem totalmente comprometidos
com o rigor do conhecimento científico, atraem a curiosidade de um grande número de
pessoas, sobretudo dos jovens em idade escolar. Perícia papiloscópica é a área específica
da perícia criminal que se destina a descobrir a verdadeira identidade das pessoas através
da análise de suas impressões digitais. Diante do exposto, esse trabalho buscou apresentar
os princípios químicos presentes nos materiais e métodos utilizados pela perícia
papiloscópica e demonstrar o emprego prático destes conhecimentos como alternativa para
o ensino e divulgação da química no Estado de Roraima. A pesquisa foi aplicada durante a
Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2015, realizada na Universidade Estadual de
Roraima. Para tanto, foi realizada a montagem e exposição de um estande com a temática
da perícia papiloscópica. A avaliação foi feita utilizando coleta de dados através de
questionário e observações diretas. Os resultados conseguidos com a aplicação dessa
proposta obtiveram uma avaliação positiva. Evidenciou-se, através dos questionários
aplicados, que o interesse das pessoas pela química é potencializado quando visto pelo
prisma da atividade pericial.
Palavras-Chave: Química. Perícia Papiloscópica, Ensino.
Abstract: Nowadays there are a wide variety of books and TV series that address the issue
of expertise in local crimes, and despite the fact that not always being fully committed to the
rigor of scientific knowledge, usually rise the curiosity of a large number of people,
schoolchildren, in particularly. Dactyloscopy expertise is the specific field of criminal
expertise that aims to discover the true identity of people by analyzing fingerprints. The
purpose of this work is to present the chemical ingredients, principles and methods involved
in this field of expertise and also to demonstrate the practical use of this knowledge as an
alternative for teaching and disclosure of Chemistry in the State of Roraima. The survey was
conducted during the National Week of Science and Technology 2015, held at the State
University of Roraima. For this purpose, we made exhibitions in a booth with using
dactyloscopy expertise. Data collection was carried out by evaluation using questionnaires
and direct observations. The results achieved by this proposal were positive. In conclusion, it
is clear that the interest of the people for Chemistry could be encouraged when we apply this
king of activities.
Keywords: Chemistry. Dactyloscopy Expertise Education.
How to cite this paper: SILVA F. J. O. A perícia papiloscópica apresentada como alternativa para o ensino da
química no estado de Roraima. Areté - Revista Amazônica de Ensino de Ciências, Manaus, v.9, n.19, p. 162–
175, jul-dez, 2016.

1
Químico. Aluno do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da Universidade Estadual de
Roraima - PPGEC/UERR. RR, Brasil. E-mail: [email protected]
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Introdução

Além dos objetivos e das questões que levam a realizar uma pesquisa, faz-se
necessário justificar e expor as razões que levaram à sua escolha. A maioria das
pesquisas é efetuada com um objetivo definido, não simplesmente por capricho de
uma pessoa; e esse objetivo deve ser suficientemente forte para que se justifique
sua realização. Além disso, em muitos casos é preciso explicar por que é
conveniente realizar a pesquisa e quais são os benefícios que resulte dela
(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006).
O principal papel da perícia papiloscópica é, através da ciência, encontrar os
vestígios deixados no local de um crime e transformá-los em provas. A perícia
papiloscópica é destinada a descobrir a verdadeira identidade das pessoas por meio
das impressões digitais. Essa é considerada uma forma eficiente de individualização
humana e anula a prova testemunhal e os falhos reconhecimentos por outros
processos. Observando a perícia papiloscópica pelo lado didático-educacional pode-
se verificar um forte potencial para divulgação da química, uma vez que essa área
da perícia utiliza um grande número de conhecimentos e princípios químicos.
Essa pesquisa buscará responder à seguinte questão: É possível provocar a
curiosidade e o maior interesse das pessoas sobre a ciência química através dos
materiais e técnicas utilizados na perícia papiloscópica?
Dessa forma, o presente artigo tem os seguintes objetivos: a) Expor, de forma
didática, os princípios químicos presentes em cinco técnicas utilizadas
mundialmente para revelação de impressões digitais latentes; b) Observar os
princípios químicos presentes nos materiais e métodos utilizados pela perícia
papiloscópica e demonstrar o emprego prático destes conhecimentos como
alternativa para o ensino e divulgação de princípios químicos; c) Verificar, através de
aplicação de questionário e de observação direta, o potencial da perícia
papiloscópica como ferramenta metodológica no ensino e divulgação do
conhecimento em química.

O que é “perícia papiloscópica”?


A perícia papiloscópica, ou simplesmente “Papiloscopia”, é a ciência que trata da
identificação humana por meio das marcas deixadas pelas papilas dérmicas de
fricção (ARAÚJO, 2000).
As papilas dérmicas são pequenas saliências de natureza neurovascular, conforme
as papilas vistas na Figura 1, que se encontram situadas na parte superficial da
derme, sendo seus ápices reproduzidos pelos relevos que se apresentam na
epiderme. A palavra Papiloscopia é resultante de uma junção de duas expressões:
Papilla = papila, e Skopein = estudar (DULTRA, 2004).

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Figura 1: Papilas epidérmicas em mão de adulto.


Fonte: http://www.papiloscopia.com.br
Conforme ARAÚJO (2000), as impressões digitais são classificadas em quatro tipos
fundamentais, como observado na Figura 2. São eles:
▪Arco - É a impressão sem delta, formada por linhas que atravessam de um lado a
outro o campo digital, são linhas mais ou menos paralelas e não formam o sistema
nuclear. É identificada pelo número 1;
▪Presilha Interna - Esse tipo de impressão possui o delta à direita do observador e
um núcleo constituído de uma ou mais laçadas soltas, que partem da esquerda,
curvam-se no centro do desenho e voltam ao ponto de origem. É identificada pelo
número 2;
▪Presilha Externa – Nesta o delta está à esquerda do observador, fazendo o
desenho de laçadas que partem da direita, ao inverso da presilha interna. É
identificada pelo número 3;
▪Verticilo – É a impressão que apresenta dois deltas. As linhas partem dos deltas
para o núcleo, formando círculos de formas e direções variadas, determinando
assim as subclassificações. É identificada pelo número 4.
As incontáveis variações de cada impressão digital geram subtipos e
subclassificações extremamente variadas. Entretanto, não poderão ser abordadas
aqui todas essas variações possíveis, sob o risco de perder o foco principal dessa
abordagem. Em uma impressão digital existem vários pontos característicos, que
são pequenos acidentes morfológicos encontrados durante o confronto de uma
impressão com outra. São necessários doze pontos característicos idênticos e
coincidentes para que a prova científica e jurídica tenha validade. Além do sistema
de linhas e pontos característicos, os poros também são observados. Esses são
orifícios do canal produzido pelas glândulas sudoríparas (DULTRA, 2009).

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Figura 2: As classificações primárias de uma impressão digital.


Fonte: http://bio-trabalho.blogspot.com.br

Revelação de impressões digitais em locais de crimes


De acordo com o Manual de Identificação Papiloscópica elaborado pelo Instituto de
Identificação do Distrito Federal - DPF (2005), o objetivo de revelar uma impressão
latente em local de crime é visualizar o desenho das cristas papilares, que são as
linhas do desenho das impressões digitais. Os detalhes dos desenhos destas linhas
é que irão permitir a classificação da impressão e um posterior confronto da
impressão latente coletada com as impressões digitais dos suspeitos, vítimas e
demais envolvidos em cada caso.
Impressões digitais latentes são aquelas impressões que foram deixadas no local de
crime. Estas impressões podem ou não ser visíveis. As visíveis podem ser
impressões contaminadas com sangue, por exemplo. Mas a maior parte das
impressões latentes é mesmo invisível. Ao tratamento para torná-las visíveis é dado
o nome de “revelação de latentes”, que ocorre através de materiais e técnicas
específicas. A atuação da perícia papiloscópica destina-se à análise das impressões
digitais para determinar ou confirmar a autoria de um delito, podendo também
descartar algum suspeito (BARBERÁ, 1998).
Para elucidação de um crime a partir da análise de impressões digitais é
fundamental o conhecimento de princípios químicos. A composição das impressões
digitais latentes é basicamente 99% de água e 1% de compostos nitrogenados,
ácidos graxos, ácido lático, glicídios, lipídios, além de compostos inorgânicos:
ânions, cloretos, sulfato, fosfatos, cátions metálicos como sódio, potássio e ferro.
Portanto, a escolha da melhor técnica para revelação de uma impressão oculta em
um local de crime exige, além da obediência de todos os procedimentos padrão
necessários para uma boa perícia, alguns conhecimentos específicos de química
(ARAÚJO, 2000).

A química presente na perícia papiloscópica


Uma vez esclarecido do que se trata a perícia papiloscópica, veremos de que forma
a perícia papiloscópica foi usada como “pano de fundo” para visualização de
princípios químicos de forma prática. O foco da abordagem é contemplar a química
de modo plausível. Nesse contexto é que se propõe o uso da perícia papiloscópica
como algo atrativo que seduza a atenção das pessoas em proveito da divulgação
científica (MAIA, 2011).

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Até o final do século passado, o termo “vulgarização científica” designava


especificamente a ação de falar de ciência para os leigos. Hoje essa expressão é
tida como pejorativa, evitada pelos que trabalham com o tema da relação entre
público e ciência (VERGARA, 2010).
Divulgação científica é um conceito mais amplo do que comunicação científica. É
preciso democratizar a ciência e isso envolve pensar a dimensão política da difusão
científica, incluir a participação da sociedade no debate entorno da produção das
pesquisas e de seus resultados. Parece existir uma tênue linha separando os termos
Ensinar e Divulgar. Ao mesmo tempo em que se encontram afirmações sobre a
função social de ambas as práticas que as aproximam atribuindo tanto à escola
quanto as mídias o papel de ensino, sendo inclusive complementares, é possível
identificar posições que fazem questão de diferenciá-las, atribuindo à divulgação o
papel motivador como instrumento pedagógico sem substituir o aprendizado
sistemático (MONTERO; TAPIA, 2004).
O foco foi exclusivamente voltado para os aspectos químicos do tema. Foram
apresentadas no estande e discutidas pelo prisma didático educacional apenas
cinco técnicas de revelação de impressões digitais latentes. São elas: Pó; Iodo;
Ninidrina; Cianoacrilato; Nitrato de Prata.
●Técnica do Pó: A técnica de revelação com pincel e pó é a mais comumente
usada na revelação de impressões latentes, e será suficiente para atender à maior
parte das demandas apresentadas em um local de crime. Quando a impressão
digital latente é recente, a água é o principal composto no qual as partículas de pó
aderem. Esta interação entre os compostos da impressão e o pó é de caráter
elétrico. Esta técnica implica, entre outras coisas, em identificar a cor ideal do pó a
ser usado (que é especialmente fabricado para esta finalidade), e fazendo uso de
um pincel macio (também concebido para esta atividade específica) aplicar o pó de
forma correta sobre a superfície onde potencialmente pode haver impressões
latentes (FIGINI, 2003).
Para retirar as impressões reveladas do local onde estão, são usadas fitas adesivas
próprias para esse fim que logo após são coladas em um suporte secundário e
devidamente identificados (IIDF/DPF, 2005).
Principais princípios químicos presentes que podem ser explorados: Forças
intermoleculares; Forças de Van Der Waals; Momento dipolo-dipolo; Ligação de
hidrogênio; Magnetismo; Eletronegatividade (ATKINS; JONES, 2012).
●Técnica do Iodo: O iodo tem a capacidade de sublimar, ou seja, passar do estado
sólido diretamente para o estado gasoso. Para realizar essa mudança, necessita
absorver calor. O vapor gerado por essa mudança apresenta a coloração marrom
amarelada. O princípio da técnica de revelação utilizando o vapor de iodo está
relacionado a essa mudança de estado. Coloca-se o material a ser examinado em
um saco plástico selado junto a cristais de iodo. Agita-se o saco, movimento
suficiente para gerar calor no microambiente. Ocorre, dessa forma, a sublimação e o
vapor reagem com a impressão digital latente por meio de uma absorção física. É
uma técnica extremamente simples e indicada para avaliação de pequenos objetos.
Apresenta a vantagem de não danificar o vestígio, portanto, pode ser realizada antes
de outras técnicas (DULTRA, 2009).

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Principais princípios químicos presentes que podem ser explorados: Cinética


química; Teoria das colisões; Energia de ativação; Lipídeos e ácidos-graxos;
Fabricação de sabões (ATKINS; JONES, 2012).
●Técnica da Ninidrina: A ninidrina é reconhecida como de grande eficiência para
revelação de impressões digitais latentes. Seu princípio de atuação é reagir com os
aminoácidos contidos na impressão latente. A maior parte dos fluidos corporais
reagem com o composto químico da ninidrina. Comumente ela se apresenta na
forma líquida, em embalagem spray, mas também é encontrada na forma de cristal,
com a aparência de pó branco, na maioria das lojas de produtos químicos (FIGINI,
2003).
A ninidrina é utilizada em superfícies absorventes e porosas, especialmente papéis.
Sua aplicação pode ser com algodão ou pincel, ou pode ser borrifada por meio de
uma bomba com bico difusor. O material pode, também, ser imerso na própria
solução de ninidrina. Após a aplicação, à temperatura ambiente, as impressões
começarão a surgir em uma ou duas horas. A maior parte delas será revelada em 24
horas, porém, há impressões que necessitarão de até 72 horas. A ninidrina revela
tanto impressões recentes quanto aquelas produzidas há alguns anos (ARAÚJO,
2000).
Muito embora as impressões reveladas durem por um período de tempo
relativamente longo, estas aos poucos vão perdendo sua capacidade de contraste.
Por isso, é necessário que sejam fotografadas.
Principais princípios químicos presentes que podem ser explorados: Funções
químicas (Hidrocarboneto, Álcool, Cetona, Aldeído, Ácido carboxílico); Funções
orgânicas; Funções inorgânicas; Aminoácidos; Nutrição humana; Drogas
(PERUZZO; CANTO, 2002).
●Técnica do Cianoacrilato: O cianoacrilato é encontrado no mercado como
componente ativo das supercolas (Superbonder). Além de sua eficiência como
revelador de impressões digitais latentes, sua utilização também objetiva a fixação
dos vestígios papilares já revelados (BARBERÁ; TURÉGANO, 1998).
O cianoacrilato é apresentado na forma líquida, gel e bastão. O vapor do
cianoacrilato polimeriza as substâncias úmidas das impressões papilares latentes, o
que permite o seu processamento (fotografia, transporte, aplicação de reveladores),
maximizando, assim, a qualidade da evidência para o posterior exame de confronto.
Esta polimerização é o resultado da reação com a umidade dos sais minerais e as
gorduras contidas nas impressões papilares latentes. O calor, a luz e a umidade são
fatores que influenciam na reação do cianoacrilato (KOTZ; TREICHEL, 2009).
Principais princípios químicos presentes que podem ser explorados: Ligações
químicas; Ligação iônica; Ligação covalente; Regra do octeto; Polimerização;
Termoquímica; Estados físicos da matéria (ATKINS; JONES, 2012).
●Técnica do Nitrato de Prata: É uma técnica bastante utilizada e baseia-se na
reação dos íons de prata, presentes no nitrato de prata, com os íons cloreto
presentes nas secreções do suor e consequentemente nas impressões digitais. O
princípio da técnica consiste em imergir a superfície a ser analisada em um
recipiente contendo solução 5% de nitrato de prata Ag+(aq) e NO3-(aq) por 30
segundos. O cloreto de prata (AgCℓ(s)) originado é insolúvel em água, ou seja, é um
precipitado. Após esse procedimento, a superfície deve ser colocada em câmara

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escura para secagem. Depois, deve ser deixada ao sol para que o íon prata seja
reduzido à prata metálica, revelando a impressão digital sob um fundo negro. Deve-
se fotografar a impressão digital antes que toda a superfície escureça (ARAÚJO,
2000).
Principais princípios químicos presentes que podem ser explorados: Reações
químicas; Representação das equações químicas; Ajuste estequiométrico de
equações; Substâncias químicas; Substância simples; Substância composta; Lei de
conservação da massa; Lei das proporções constantes (ATKINS; JONES, 2012).

Metodologia
A pesquisa realizada para elaboração desse trabalho ocorreu por meio de
compilação de dados a partir de livros, revistas especializadas, sites, artigos
científicos e manuais. Para possibilitar a abordagem didática necessária à pesquisa
e verificar alguns dos princípios da ciência química existentes no trabalho da perícia
papiloscópica, foi necessário também observar as especificidades de atuação da
papiloscopia e seus procedimentos, para isso foi utilizado o manual de
“Procedimento Operacional Padrão” elaborado pela Secretaria Nacional de
Segurança do Ministério da Justiça (POP/SESP/MJ).
A aplicação da pesquisa foi feita a partir do processo didático sistemático de
organização e execução da ideia proposta, implicando na análise posterior de
observações de dados qualitativos, buscando realizar inferências de toda a
informação coletada, sendo possível alcançar um maior entendimento da proposta e
do conteúdo estudado (DEMO, 2009).
A opção por uma análise qualitativa, buscou observar de forma mais detalhada as
concepções do público alvo sobre a temática apresentada. Foram realizadas
entrevistas informais que permitiram a obtenção dos dados em um clima de
cooperação na linguagem do entrevistado, permitindo ao pesquisador desenvolver
intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os pesquisados interpretam
aspectos específicos da proposta (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
A necessidade de procurar instrumentos que possam revelar as ideias sobre os
temas propostos para obter dados capazes de mostrar com maior detalhe e
profundidade as concepções dos participantes, fez necessário também a aplicação
de um questionário avaliativo aplicado ao público que visitou o estande. O
questionário foi constituído por quatro questões simples e diretas, cada uma
contendo três possíveis respostas objetivas que buscaram captar as concepções da
pesquisa. O propósito principal era que, após a abordagem, fosse possível obter das
pessoas participantes o real nível de assimilação dos temas específicos
apresentados e, além disso, observar a viabilidade do estande como meio de
divulgação da ciência química (RUDIO, 2002).
Para aplicação prática dessa proposta de divulgação da ciência química através da
perícia papiloscópica, foi montado e apresentado um estande durante a Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia 2015, ocorrida na Universidade Estadual de
Roraima - UERR.
A estrutura do estande foi constituída de: Uma mesa, onde foram expostos alguns
materiais utilizados na perícia papiloscópica; Uma faixa com a ilustração de uma
impressão digital e um átomo; E dois banners contendo informações, imagens e
curiosidades relacionando a atividade da perícia papiloscópica com a ciência
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química. Tal formato de apresentação foi proposto com o intuito de chamar a


atenção dos visitantes para o estande, provocando uma aproximação e facilitando a
abordagem (LIMA, 2005).

Figura 3: Exposição do estande na SNCT-2015 na UERR.


Fonte: Francisco James (outubro/2015)

A apresentação utilizou uma linguagem clara e direta, onde se tentou responder aos
questionamentos e curiosidades das pessoas que visitaram o estande (Figura 3).
Vale ressaltar que as pessoas que aparecem sendo atendidas permitiram serem
fotografadas durante o evento. Importante também esclarecer que não houve
qualquer incentivo para discussões relacionadas a ocorrências policiais ou voltadas
para fatos isolados.
Primeiro, foi feita a explicação sobre o que é a perícia papiloscópica e os principais
princípios químicos presentes; Em seguida, foram apresentadas cinco técnicas para
revelação de impressões digitais em locais de crimes; Por fim, ocorreu a abordagem
didática da temática provocando questionamentos, reflexões e discussões sobre os
princípios químicos apresentados.
A atenção e seus mecanismos são componentes essenciais para o desenvolvimento
de todos os processos cognitivos e de aprendizagem, mas sua eficiência também
depende de outros fatores como a motivação. Entende-se com isso que também
deva haver certa dose de persuasão na abordagem do público alvo, para que haja
real reflexão sobre a ideia e não apenas uma concordância pacífica e sem
resultados (MAIA, 2011).
Como diz Libâneo (2008), entre outros aspectos, a intencionalidade é o elemento
comum entre a ação educativa formal e não formal. Então a busca será por, de certa
forma “mascarar” a intenção de falar em química, buscando, num primeiro momento,
verbalizar sobre as observações feitas pelo público participante sobre o material
exposto. E só em um segundo momento é que questionamentos e afirmações
abordando princípios químicos serão trazidos à discussão.

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Resultado e Discussão
O estande foi exposto no dia 24 de outubro no pátio da UERR. Houve um grande
número de visitantes que prestigiaram o evento e visitaram o estande. Durante todo
o tempo em que o estande ficou montado, esteve presente o pesquisador para
apresentar a proposta, dar explicações e responder as perguntas trazidas pelos
visitantes. Somente após a abordagem inicial e dirimidas todas as dúvidas e
curiosidades do participante é que havia o convite para participação da pesquisa
respondendo ao questionário.
Foi observada, durante a exposição do estande, a participação de pessoas com
idades variadas, inclusive professores e alunos de faculdades. Muitos perguntaram
sobre a possibilidade de haver um curso voltado para a área da perícia e também
sobre as matérias disciplinares mais exigidas para atuar nessa área. Ocorreu, em
vários momentos, de pessoas já abordarem o pesquisador com perguntas prontas,
ou seja, dúvidas especificas sobre determinado assuntos. O que demonstra
claramente o interesse prévio das pessoas em conhecer melhor a ciência por trás da
perícia.
É imprescindível destacar que as ideias prévias dos educandos sobre muitos
tópicos, seja por informações adquiridas em seu cotidiano, seja pelos meios de
divulgação (televisão, jornais, revistas, internet), devem ser exploradas com o
objetivo de alçar um aprendizado significativo e crítico em relação aos conceitos
científicos. O docente tem papel fundamental no emprego de recursos pedagógicos
alternativos e deve agir como um guia, um mediador do processo de ensino, que
possibilite o alcance do aluno a competências cada vez mais complexas, até que ele
consiga competências independentemente. Para isso, o professor precisa buscar
métodos facilitadores da construção de conhecimentos e, consequentemente, uma
melhor aprendizagem (PIAGET, 1976).
Além disso, muitos visitantes se surpreenderam com as técnicas e reagentes usados
na revelação de impressões latentes, gerando vários outros questionamentos sobre
a composição dos produtos e as reações observadas. Isso foi muito positivo para
avaliação da pesquisa proposta.
Alguns dos visitantes não entenderam, num primeiro momento, o objetivo central da
proposta, gerando ainda mais questionamentos. Muitos acreditavam que o processo
para revelação e análise de impressões digitais era algo altamente informatizado e
complicado, e isso exigiu atenção e paciência do pesquisador para esclarecer sobre
os procedimentos realizados pela perícia e também sobre o foco principal da
temática apresentada no estande. Observou-se então, que muitos se surpreendiam
com a simplicidade de certos materiais e técnicas usadas, e também com as
propriedades químicas que eram apresentadas em cada processo de revelação.
Aprendizado informal era o termo utilizado para descrever o aprendizado científico
sucedido fora dos locais tradicionais de ensino, como escolas e universidades.
Entretanto, alguns pesquisadores acreditam que o perfil e o modo de aprendizado se
modificaram. Dessa forma, uma revolução no campo educacional estaria a
acontecer à medida que as pessoas procuram conhecimentos específicos sobre
uma grande gama de assuntos em suas horas livres por vontade própria, interesse
ou curiosidade. Tal comportamento tornou-se uma tendência. Por isso tem crescido
uma corrente que o chama de aprendizado de livre-escolha (DIERKING, 2005).

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Resultados do questionário: Não foi possível contabilizar o número exato de


visitantes que passaram pelo estande, entretanto, 113 pessoas participaram da
pesquisa respondendo ao questionário. Ao qual obteve os seguintes resultados:
Primeira questão: Conforme Figura 4, vemos os resultados obtidos para a primeira
pergunta do questionário “Você gostou do estande e da proposta apresentada para
divulgação da ciência química?”. Para qual houve as seguintes respostas: 109
respostas “Gostei muito”; 3 respostas “Mais ou menos”; 1 resposta “Não gostei”.

1ª pergunta

Gostei muito
Mais ou menos
Não gostei

Figura 4: Resultados da 1ª pergunta do questionário.


Segunda questão: Conforme Figura 5, vemos os resultados obtidos para a segunda
pergunta do questionário “Você já tinha conhecimento sobre os materiais e técnicas
apresentadas no estande?”. Para a qual houve as seguintes respostas: 9 respostas
“Sim”; 41 respostas “Algumas coisas”; 63 respostas “Não”.

2ª pergunta

Sim
Algumas coisas
Não

Figura 5: Resultados da 2ª pergunta do questionário.


Terceira questão: Conforme Figura 6, vemos os resultados obtidos para a terceira
pergunta do questionário “O que mais chamou sua atenção no estande?” Para a
qual houve as seguintes respostas: 36 respostas “As técnicas usadas na perícia
papiloscópica”; 35 respostas “Os materiais utilizados para revelar impressões
digitais”; 42 respostas “Os princípios científicos apresentados”.

3ª pergunta
As técnicas usadas na perícia
papiloscópica
Os materiais utilizados para
revelar impressões digitais
Os princípios científicos
apresentados

Figura 6: Resultados da 3ª pergunta do questionário.


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Quarta questão: Conforme Figura 7, vemos os resultados obtidos para a quarta


pergunta do questionário “Você acha possível utilizar os princípios químicos
apresentados para ajudar no ensino da química?”. Para a qual houve as seguintes
respostas: 8 respostas “Sim, ajudaria na motivação dos alunos”; 105 respostas “É
possível a utilização de alguns princípios”; Nenhuma pessoa respondeu “Não
ajudaria na aprendizagem”.

4ª pergunta
Sim. Ajudaria na motivação
dos alunos
É possível a utilização de
alguns princípios
Não ajudaria na
aprendizagem

Figura 7: Resultados da 4ª pergunta do questionário.


Os resultados conseguidos com a aplicação do questionário demostraram
claramente a relevância da temática em uma abordagem educacional informal. Além
disso, evidenciou-se que o interesse das pessoas pela química é potencializado
quando visto pelo prisma da atividade pericial. Ficou também muito claro a
possibilidade de estimular a curiosidade das pessoas através da perícia
papiloscópica, apresentando relevante oportunidade para a abordagem de princípios
químicos em geral.
Após a exposição no evento, foi feita uma avaliação positiva. Foi percebido, através
dos comentários e questionamentos observados, que houve boa aceitação das
pessoas que prestigiaram o estande, sendo possível observar a viabilidade da
abordagem em resposta à problemática da pesquisa.
Consequentemente ressalta-se o papel essencial do professor como um elemento
esclarecedor da matéria teórica e de sua aplicação prática. Ele, ao mediar à
formação de novas informações e a reestruturação das já existentes, atua como um
facilitador no processo de aprendizagem, um guia que possibilita a aquisição pelo
educando de competências cada vez mais intrincadas. Esta atuação do docente no
processo ensino-aprendizagem é destacada na medida em que se percebem os
diversos obstáculos para o ensino no mundo contemporâneo.

Considerações Finais
Na exposição do estande de divulgação científica verificou-se que houve boa
aceitação pela maioria dos alunos e demais pessoas que participaram. Foram
observados vários aspectos positivos para o ensino da química a partir da perícia
papiloscópica. Os materiais de perícia apresentados cumpriram sua função de atrair
a atenção dos alunos, professores e do público em geral para a temática,
proporcionando ótima oportunidade para a abordagem dos princípios químicos
selecionados e a discussão de outros que surgiram durante as interações.
Com base nos resultados apontados e nos dados obtidos nessa pesquisa foi
possível concluir que a resposta ao problema apresentado tenha sido positiva. Os
saberes que participaram da construção da exposição do estande abordaram
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diversos campos do conhecimento em química. Houve contribuições para a


educação e para a divulgação da ciência química. Os saberes técnicos
apresentados se somaram aos saberes dos alunos e das outras pessoas que
participaram da pesquisa.
Podemos concluir que a proposta metodológica de ensinar e divulgar princípios
químicos utilizando a perícia de impressões digitais potencializou a relação ensino e
aprendizagem e contribuiu significativamente para a assimilação do conhecimento
do público em geral que participou da proposta. Entretanto, é muito importante que
haja constante abordagem de novas metodologias de ensino em futuras pesquisas
que busquem continuar o aprofundamento das ideias aqui apresentadas.

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Apêndice

Questionário aplicado na pesquisa.

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