Filosofia 1º Teste

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FILOSOFIA DA ARTE

> O problema da definição de arte


Qual é a definição de arte?
A Filosofia da arte é a disciplina filosófica que se dedica ao estudo deste problema.
Definição de Arte. O que é a Arte? A definição deve captar o sentido classificativo (descritivo) e o sentido valorativo (avaliativo).
Descritivo: é dizer simplesmente que esse objeto pertence a uma classe.
Avaliativo: é reconhecer que esse objeto, além de pertencer à categoria das obras de arte é uma boa/bela obra de arte; tem valor
estético.
O que terá de dizer uma boa definição de arte? Se algo é uma obra de arte, então é X.  condição necessária
Terá de dizer o que é a arte e distingui-la do que não é arte. Se algo é X, então é uma obra de arte.  condição suficiente
É necessário identificar características: Algo é uma obra de arte se, e só se, é X.
• que todas as obras de arte possuam; Basta um contra-exemplo para uma definição de arte ser falsa:
• e que só as obras de arte possuam. • uma obra de arte que não seja X
> Quais as condições necessárias e as condições suficientes para • coisas que sejam X e não sejam arte
algo ser arte?
> Teorias essencialistas e teorias não-essencialistas
Muitas teorias apresentam uma resposta à pergunta «O que é a arte?»: podem identificar-se condições necessárias e suficientes
para definir a arte.
Teorias essencialistas - Existem características que constituem a Teorias não-essencialistas - Há características comuns a todas as
natureza da arte. obras de arte.
São inerentes às obras de arte. Essas características não são inerentes às obras de arte.
• Aceitam a existência de uma essência da arte. • Há características comuns a todas as obras de arte e só a
• Tentam captar essa essência quando definem arte. elas.
• Essas características não são observáveis nas próprias
obras de arte: têm a ver com o contexto social.
A TEORIA REPRESENTACIONISTA

Por representação entende-se o ato através do qual algo toma intencionalmente o lugar de outra coisa.
Platão e Aristóteles entendiam que o tipo de representação envolvido na produção artística consistia simplesmente na imitação
(mimesis). É a teoria mimética da arte. Algo é uma obra de arte se e só se imita um original (def.); e é tanto mais artística quanto
mais/melhor imitar o original.
Contudo, se todas as obras de arte são imitações, nem todas as imitações são obras de arte: a imitação é uma condição necessária,
mas não suficiente para a obra de arte. A teoria da arte como imitação tem sido criticada por ser demasiado restritivista, pois exclui
desta classificação muitas obras de arte que não assentam no caráter mimético, como, por exemplo, as formas de arte abstrata.
Objeções à teoria da arte como representação
> Não apresenta uma definição de arte
 «Se algo é arte, então é representação» significa que todas as obras de arte são representação, mas não significa que só a
arte é representação.
 O conceito é muito abrangente, inclui coisas que não são arte, por exemplo, os sinais de trânsito.
> Contraexemplos
 A ideia de que a representação é uma condição necessária da arte é muito discutível.
 Há muitas obras de arte que não representam nada.
A TEORIA EXPRESSIVISTA (defendida por R. G. Collingwood - 1889-1943)
Representante principal desta teoria: Leão (Lev) Tolstoi, escritor (Romancista) russo e mais tarde a teoria foi reformulada por Robin
Collingwood. Teorias expressivistas: a arte é expressão de sentimentos ou emoções. «Algo é arte se e só se
1) isso foi produzido por alguém com o intuito de exprimir as suas emoções individuais
2) de modo a clarificá-las.» (Exprimir = clarificar)
Tese: Algo é obra de arte se e só se transmite as emoções/sentimentos do seu criador ao público.
Questão: Toda a forma de expressão de sentimentos é obra de arte?
Evocar: contra-argumentos/Exemplos.
A expressão de emoções: As emoções:
• é a essência da arte; • não são gerais, são específicas;
• é um esforço do artista para clarificar as suas emoções. • não está em causa apenas se o artista sente insatisfação;
• mas também que insatisfação é essa.

A arte do ofício
R. G. Collingwood: algumas coisas normalmente consideradas como arte não o são. (Arte ≠ ofício) Existe:
• a «arte autêntica», aquilo que genuinamente é arte;
• e aquilo que não é arte, mas sim, «ofício».
Por exemplo, dizer «arte do carpinteiro» é usar inadequadamente a palavra arte.
A carpintaria transforma um material num produto seguindo um plano previamente estabelecido.
O artífice sabe o que quer fazer antes de o fazer.
Os artistas:
• não têm um plano prévio;
• só ganham consciência do que estão a expressar durante o processo de construção ou criação.

A arte do entretenimento
Collingwood: É incorreto designar como arte a música, o cinema ou o teatro quando têm por objetivo o entretenimento. Porquê?
Procura provocar emoções previamente concebidas no público. A «arte» do entretenimento não é arte autêntica, é, sim, uma
forma de ofício.

Autoconhecimento através da arte


A verdadeira arte não tem por finalidade despertar emoções. A contemplação da arte não deve ser passiva. O artista partilha a sua
experiência com o público. Artista e público ganham consciência do seu mundo interior.  a arte promove o autoconhecimento

Objeções à teoria expressivista

Contraexemplos: O estado de espírito dos artistas é muitas vezes


Definir arte como expressão e clarificação de emoções é desconhecido
demasiado restritivo. Exclui: Muitas vezes não é possível saber o que sentiram
• obras que não parecem exprimir emoções do artista; determinados artistas ao fazerem as suas obras.
• obras criadas para entretenimento e reconhecidas A apreciação de uma obra não pode depender dos
como obras-primas. sentimentos do artista. É implausível que a expressão de
emoções seja a essência da arte.
A TEORIA FORMALISTA (defendida por Clive Bell - 1881-1964)
Representantes principais desta teoria: e Clive Bell, Filósofo Crítico de Arte Inglês e Igor Stravinsky. Bell propõe a seguinte definição
de arte: Um objeto ou atividade é arte se, e só se, tem forma significante.
A Forma é o critério de definição da Obra de Arte.
Definição de Forma Significante: é uma combinação de linhas, cores, sons, formas e espaços capazes de produzir no espectador
emoções estéticas. Tese: Algo é obra de arte se e só se tem forma significante.
Questões: Toda a arte tem forma significante? Qual a forma significante do urinol de Duchamp?
A forma significante:
 constitui a essência da arte;
 está presente em tudo o que é obra de arte.
 não é a forma física dos objetos;
 é uma determinada relação entre as partes da obra;
 é independente de qualquer função;
 destaca-se por si mesma e impressiona-nos.
Exemplo: Na dança, é uma certa organização dos movimentos
Forma significante e emoção estética
A forma significante provoca uma emoção estética. Esta emoção:
 não é como a alegria ou a insatisfação;
 é uma emoção especial;
 é uma emoção apenas suscitada por uma obra de arte.
Sensibilidade
A emoção estética só é sentida por pessoas que têm sensibilidade estética.
Há quem não a tenha de todo. Sem sensibilidade estética, estar diante de uma pintura ou de uma escultura é como estar num
concerto e ser surdo.
Só a forma significante e a emoção estética contam
É indiferente se a arte representa ou não alguma coisa.
A representação não é essencial.
Também é indiferente se houve ou não intenção artística na sua criação.
Essencial é uma obra:
 ter forma significante;
 e provocar emoção estética.
O contexto (social, político, religioso, etc.) em que uma obra surgiu também é irrelevante.
Para Bell: se possuírem forma significante e suscitarem emoção estética:
 edifícios;
 tapetes;
 cerâmica; etc.;
podem ser considerados obras de arte.
Pelo contrário, vários quadros famosos e muito apreciados foram rotulados por Bell como meros documentos ou descrições que
não mereciam o título de obras de arte.

Objeções à teoria formalista:


Contraexemplos:
Há objetos considerados artísticos que não se distinguem de outros (com a mesma forma) que não são artísticos; logo, a forma
significante não permite diferenciar o que é arte do que não é.
Por exemplo: se Fonte, de Marchel Duchamp, é arte, então todos os urinóis com essa forma são obras de arte.
Circularidade
A teoria formalista é circular: as explicações de forma significante e de emoção estética remetem uma para a outra.

CETICISMO ESTÉTICO (defendido por Morris Weitz)


Existem razões para pensar que as teorias representacional, expressivista e formalista não conseguem definir arte adequadamente.
Morris Weitz é um dos filósofos que pensa deste modo.
E afirma que a dificuldade está na natureza da atividade artística:
 os artistas valorizam muito a criatividade e a liberdade;
 experimentam frequentemente novas possibilidades e coisas diferentes;
 a arte vai estando em permanente construção.
Morris Weitz: «Arte» é um conceito aberto e não fechado. Logo, é indefinível.
O conceito tem mudado ao longo da história e pode continuar a mudar.
Tal como as atuais, as futuras teorias também não encontrarão a essência da arte.
Não é possível definir a arte – posição cética de Weitz.

A TEORIA INSTITUCIONAL (defendida pelo filósofo norte-americano George Dickie (1926-2020).


George Dickie: Procura responder aos desafios colocados pelos desenvolvimentos da arte
no século XX, nomeadamente o aparecimento de obras como Fonte, de Marcel Duchamp.
Tal como Weitz: pensava não ser possível encontrar uma essência da arte. Ao contrário
de Weitz: pensava ser possível definir arte.
Dickie acredita ser possível indicar condições necessárias e suficientes da arte, mas:
 essas características não fazem parte das próprias obras de arte;
 fazem parte do contexto institucional em que as obras são apreciadas.
E, por isso, a teoria institucional é uma teoria não-essencialista.
Para a teoria institucional, algo é arte se for um artefacto e se for considerado arte por
alguém que faz parte de uma certa instituição social – o «mundo da arte».
Por outras palavras: um membro do mundo da arte atribui a um objeto ou atividade o
estatuto de candidato a apreciação; esse objeto ou atividade torna-se uma obra de arte.
Para Dickie,
– um artefacto:
• não tem de ser um objeto produzido pelo próprio artista,
• pode ser um objeto escolhido pelo artista.
• Exemplo: um tronco de árvore apanhado do chão e colocado num museu pode ser um
artefacto.
– mundo da arte: artistas, críticos, historiadores de arte, galeristas, público. O mundo da arte é uma
instituição social, como a família ou uma religião.
A teoria institucional é classificativa e não avaliativa;
• pretende apenas dizer o que é arte e o que não é arte;
• não pretende distinguir a boa e a má arte.
Dickie tenta contornar o problema das teorias essencialistas: a avaliação de obras de arte. Ao fazê-lo, acaba-se por negar valor a
obras geralmente consideradas como artísticas.
Dickie pretende:
• limitar-se a indicar as características que as obras de arte possuem;
• abster-se de indicar características que deveriam ter.
Deste modo, se alguém do mundo da arte considerar algo como como candidato a apreciação, nada impedirá que seja uma obra de arte.

Objeções à teoria institucional


Contraexemplos Circularidade
Há obras artísticas de autores que não fazem parte do Ninguém parece ser capaz de estabelecer muito bem as
mundo da arte. regras e os procedimentos do mundo da arte.
Autores que nunca publicaram nada em vida só foram Se um dos principais conceitos da teoria é pouco claro, esta
reconhecidos após a sua morte. não parece ser uma definição de arte satisfatória.

A TEORIA HISTÓRICA (proposta pelo filósofo norte-americano Jerrold Levinson (nascido em 1948)
A teoria histórica é uma teoria não-essencialista.
Teoria da arte como renovação histórica. Trata-se de uma reformulação da teoria institucional, acrescentando como exigências a
Intenção (do artista) de integração na História (critério recursivo) da Arte de uma obra que é sua Propriedade.
Tal como a teoria institucional, Jerrold Levinson defende:
 é possível indicar condições necessárias e suficientes da arte;
 essas características não são intrínsecas às obras de arte, mas sim um aspeto contextual.
Este aspeto contextual é o caráter histórico ou retrospetivo da arte. Todas as obras de arte se relacionam de modo intencional com
as anteriores.  Por vezes, Levinson refere-se à sua teoria como histórico-intencional.
Jerrold Levinson:
Um objeto (ou atividade) é arte na medida em que o seu autor quer que este seja encarado como o foram as obras de arte do
passado e estas, por sua vez, são arte porque os seus autores queriam que elas fossem encaradas como foram encaradas as obras
de arte anteriores.
Essa intenção de inserir as obras numa tradição histórica explica a unidade e a continuidade da arte ao longo dos séculos.
INTENÇÃO:
 sem a intenção, a semelhança de uma obra com as obras do passado poderia dever-se ao acaso;
 essa intenção tem de ser firme e duradoura para poder transparecer na própria obra.
A relação com o passado não significa:
 que as obras imitem as obras do passado;
 que se inspirem nas obras do passado.
Se assim fosse, a arte não mudaria. Mas é facto que muda, e muito.

Artefacto A intenção do titular do artefacto para que este seja


encarado como outras criações artísticas do passado, Obra de arte
reconhecidas pela tradição histórica.

Levinson propõe a seguinte definição de arte:


X é uma obra de arte se, e apenas se, X é um objeto acerca do qual uma pessoa (o artista), possuindo o direito de propriedade
sobre X, tem ou teve a intenção séria de que seja encarado como as obras de arte anteriores foram encaradas.
Ou seja: “Algo é arte, se e somente se, uma pessoa com direitos de propriedade sobre a sua obra tem a intenção séria de que a
sua obra seja inserida numa tradição na qual se encontram outras obras de arte”.
A referência ao DIREITO DE PROPRIEDADE
> Visa evitar que um artista possa tentar transformar em arte coisas que não lhe pertençam ou cujo uso não esteja devidamente
autorizado pelos legítimos proprietários.
Exigências da Teoria Histórica: a) Intenção; b) integração na História; c) Propriedade.

Objeções à teoria histórica


Contraexemplos O problema da primeira obra de arte
É possível realizar obras artísticas e não deter o direito de Se algo é uma obra de arte se for visto como o foram as
propriedade. obras anteriores, como surgiu uma primeira obra de arte
sem qualquer referência anterior?
Exemplo: os autores de graffitis quando realizam obras em
paredes. Não é plausível que nenhum graffiti seja uma obra de
arte.
a) À Propriedade (ex. Arte dos Graffitis: o artista é proprietário da obra sendo que a parede onde pintou não é sua?)
b) À Tradição Histórica (ex: Pinturas Rupestres: em que tradição histórica da arte se inserem?). E a arte “Naif”, que não foi criada e
relação com nenhuma outra corrente estética ou artística (ex as pinturas de Afred Wallis)?
c) À Intenção (ex: obra literária de Franz Kafka, que pediu a um amigo para destruísse a sua obra após a sua morte: Ele tinha a
intenção de que a sua obra literária fosse arte?).

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