Apostila - Afetividade e Aprendizagem

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Afetividade e Aprendizagem – Contribuições da Neurociência no
Ambiente Escolar
Alessandra Machado

Não há educação sem amor. O amor implica e luta contra


o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres
inacabados não pode educar. Não há educação imposta,
como não há amor imposto. (Paulo Freire)

Certamente, aprende-se melhor numa esfera de amor. Na educação, esse


amor traduz-se em afeto. O afeto, na sua definição etimológica, tem o caráter da
neutralidade, ou seja, pode expressar sentimento de agrado ou desagrado.
Quando, contudo, ele vem da prática da educação baseada no amor, se
transforma em estímulo para aprendizagem, tanto para aprender, quanto para
ensinar.

Yves de La Taille (1992) disse que “o afeto é uma mola propulsora das
ações, e a razão está a seu serviço.” O afeto estimula a conexão dos neurônios,
a criação e a consequente lembrança de registros, conhecidos como memória.

Segundo o neurocientista Antonio Damásio (2006), a função atribuída às


emoções na criação da racionalidade tem implicações em algumas das questões
com as quais a nossa sociedade defronta-se atualmente e, entre elas, a
educação.

A aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo estão sempre se


reinventando. Pela plasticidade, o cérebro se remodela para pensar e aprender
e é a mediação afetiva quem vai disparar esses processos, pois o afeto estimula
dois mecanismos fundamentais da memória: a fixação (acréscimo de
informações) e a evocação (informações assimiladas anteriormente).

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Segundo a Neurociência, é no cérebro afetivo-emocional que as emoções
se organizam em regiões interconectadas, e determinam a concentração, a
atenção, a memória e o prazer em aprender.

A emoção, seja ela positiva ou negativa, interfere no cognitivo e nos


pensamentos, afinal o que existem são seres sociais e afetivos. Através do afeto,
as emoções negativas podem ser reeditadas, favorecendo tanto o aprendizado,
quanto a relação entre professor e aluno.

Vygotsky afirma que as reações emocionais exercem influência sobre o


comportamento no processo educativo, porque as funções complexas do
pensamento são efetivas pelas trocas sociais, tendo o afeto como papel
preponderante. Ainda segundo Vygotsky (2004), “sempre que comunicamos
alguma coisa a algum aluno, devemos procurar atingir seu sentimento”.

A escola é um lugar essencialmente de socialização, de convivência e de


integração, onde as relações afetivas têm papel preponderante. Assim, o ponto
de partida do trabalho em sala de aula deve ser a emoção. O afeto, a curiosidade
e o estímulo atuam no início para canalizar a atenção e depois para ajudar a
memória no resgate das informações.

A escola deve ser um espaço que proponha atividades estimulantes e


desafiadoras, que os alunos tenham condições de realizar e que despertem
neles curiosidade e vontade de vencer desafios e de buscar respostas.

Para Vygotsky, o afetivo interfere no cognitivo e vice-versa. Um exemplo


é a motivação para aprender, que está associada a uma base afetiva. O ensino
precisa ser de fato desafiador e proporcionar meios para que o aluno dê sentido
ao que está aprendendo, que saiba relacionar, refletir e dar novos significados
às informações.

Com a Neurociência, a motivação e a afetividade associadas à


aprendizagem, ganharam base científica. As descobertas da Neurociência nos
mostram que através de atividades prazerosas e desafiadoras, acontece o

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“disparo” entre as células neurais: as sinapses se fortalecem e as redes neurais
se estabelecem mais facilmente.

Os estímulos recebidos pela criança, as dificuldades que enfrentam e as


hipóteses que levantam para vencer desafios e se adaptar às muitas questões
do ambiente, vão definir os caminhos de seu desenvolvimento.

Há estudos nos EUA que comprovam que crianças bem estimuladas na


primeira infância, apresentam uma vida escolar mais bem-sucedida e
comportamentos sociais mais desenvolvidos, além de dominar mais palavras,
ter mais habilidades com conceitos matemáticos, falar outras línguas com mais
fluência etc.

Chegando à adolescência, surge o interesse por temas diversos, como


filosofia, formas de lazer, cultura, entre outros. É preciso estimular a autonomia
para que novas experiências surjam e estimulem o jovem a aprender, através de
atividades diversificadas e desafiadoras, que permitam novas vivências. Educar
na diversidade é na verdade, o grande desafio. A atenção à diversidade de
capacidades, habilidades, competências, motivações e interesses dos alunos é
o objetivo dos profissionais da educação.

Professor e aluno que interagem, criam e viabilizam possibilidades,


conseguem construir a aprendizagem juntos. O que vai de fato qualificar ou até
mesmo provocar a mudança no aprendizado é o afeto.

A educação emocional deve fazer parte do currículo escolar, objetivando


ser mais uma habilidade para o educando, que vai ajudá-lo a vencer desafios e
superar dificuldades com mais sucesso e felicidade.

A afetividade provoca sensação de alegria, bem-estar e satisfação


emocional, que provoca o feedback intelectual, desenvolve inteligência e
melhora a qualidade da memória.

A Neurociência se estabelece como uma grande aliada do docente para


poder coligar o indivíduo como ser pensante, influente, que aprende em
consonância com sua subjetividade. Descobrindo os mistérios que abrange o
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cérebro na hora da aprendizagem, a Neurociência disponibiliza ao atual
professor/educador, importantes e adequados conhecimentos acerca de como
se processam a memória, a linguagem, o esquecimento, o humor, o sono, o
temor, como os conhecimentos se agrupam, como se dá o desenvolvimento
infantil, o desenvolvimento cerebral e a importância das emoções.

Logo, é imprescindível pensar na conexão de áreas do conhecimento para


apresentar oportunidades diferenciadas de aprendizagem para os alunos com
dificuldades. O trabalho diversificado ainda configura-se como alternativa para
que o docente tenha condições de dar maior atenção aos grupos de alunos com
dificuldades. Por isso, recomenda-se que o docente reflita a cerca de sua prática
pedagógica, de maneira especial sobre as atividades recorrentes e sobre as
experiências que são apresentadas, que nem sempre tendem a respeitar a
subjetividade dos alunos.

É necessário promover o respeito à diversidade e preocupar-se em indicar


aprendizagens expressivas para todos os alunos, com o objetivo de que eles
possam adquirir o gosto pela aprendizagem e aprendam a aprender. Somando
a isso, é necessário que a escola seja diligente voltada para a aprendizagem
funcional, que tenha emprego prático no cotidiano, tornando a aprendizagem
mais significativa. O ambiente escolar deve ser planejado para facilitar as
emoções positivas.

A Neurociência aplicada à Educação, implica um novo olhar do educador


e da escola sobre a aprendizagem humana e propõe trazer mais clareza acerca
dos mecanismos neuronais que sustentam a percepção e os atos cognitivos e
motores, necessários à aprendizagem.

Uma Visão da Neurociência em relação ao Processo de Ensinar e Aprender

Os seres humanos são seres diferentes e isso é um fato lógico, mas será
que a escola prepara seus currículos e sua proposta pedagógica tendo essa
visão como principal parâmetro?

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Todos têm direitos, independente de dificuldades e habilidades, a uma
aprendizagem cognitiva, motora, afetiva e social, e a escola tem o dever de
planejar suas aulas para atender as necessidades dessa diversidade. Esse é o
compromisso social da escola.

Com o conhecimento da Neurociência, sabe-se que a criança aprende a


partir das experiências, da estrutura emocional e do amadurecimento
neurofisiológico das células.

É preciso que a escola faça suas respostas voltadas ao “encantamento”


dos alunos. Um aluno “deslumbrado” busca novas experiências, novos saberes
e tem atenção naquilo que está aprendendo. A atenção é primordial para
aprender e essa função é desempenhada pela formação reticular (encontrada
no tronco encefálico), que mantém o córtex em alerta para receber novos
estímulos, interpretá-los e decodificá-los.

Sem esse “encantamento”, vemos cada vez mais crianças e adolescentes


desestimulados ou até com dificuldades de começar uma atividade ou de
concluí-la, cursando até com uma dificuldade de aprendizagem.

É preciso mais do que nunca, nesses tempos de informações rápidas,


pensar nos alunos enquanto pessoas em processo de crescimento e
desenvolvimento individuais.

A Neuroaprendizagem surge como um processo inovador na área


pedagógica, pois busca conhecer as diferentes estruturas cerebrais para
compreender o processo cognitivo de cada um, inclusive daqueles com
distúrbios ou dificuldades de aprendizagem. Nesse contexto, a emoção dá forma
à cognição e à aprendizagem.

O Sistema Límbico comanda os sistemas endócrinos e é responsável


pelas emoções. De acordo com Antonio Damásio, Neurocientista, razão e
emoção estão interligadas.

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Em primeiro lugar, é evidente que a emoção se desenrola
sob o controle tanto da estrutura subcortical como da
neocortical. Em segundo, e talvez mais importante, os
sentimentos são tão cognitivos como qualquer outra
imagem (DAMÁSIO, 2012, p.151).

O Sistema Límbico recebe experiências emocionais positivas e negativas,


enviando mensagem ao córtex pré-frontal, que interpretará essas experiências.
A emoção transformará essa mensagem em sentimento, que é racional. As
experiências vividas ficam armazenadas no Hipocampo (estrutura do Sistema
Límbico), responsável pela memória de longa duração.

A razão então age diretamente na emoção. Quando se vivencia e


aprende-se, vincula-se a emoção e a razão. Dessa forma, fica claro que os
alunos podem e querem aprender, cada um em tempos diferentes e obedecendo
a ritmos neurais diferentes, pois há um trajeto químico no cérebro que
operacionaliza cada ação dos educandos.

A Plasticidade Cerebral permite que o cérebro se remodele em função da


experiência de cada um, o que só reforça que os alunos podem aprender a vida
inteira de diferentes maneiras. A afetividade provoca mudanças químicas e
neurais que ocorrem no cérebro emocional e que vão interferir no ato de
aprender. Aprender é uma “mistura” complexa de vários elementos:
pedagógicos, emocionais, culturais, sociais e biológicos.

Plasticidade cerebral é a denominação das capacidades


adaptativas do sistema nervoso central (SNC) e sua
habilidade para modificar sua organização estrutural
própria e funcionamento. É a propriedade do sistema
nervoso que permite o desenvolvimento de alterações
estruturais em resposta à experiência, e como adaptação
a condições mutantes e a estímulos repetidos (RELVAS,
2005, p.45).

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São muitos os vínculos entre a cognição, a afetividade, a sensibilidade e
a motricidade. O substrato neurológico responsável por esses vínculos são os
neurônios, que produzem e conduzem impulsos elétricos, criando a rede neural.

A transmissão desses impulsos nervosos de um neurônio para o outro nas


sinapses e dos neurônios para os músculos, se dá através da liberação de
neurotransmissores, que são recapturadas pela membrana pré-sináptica ou
destruídas na fenda sináptica. Eles exercem efeito inibidor ou excitatório nas
membranas pós-sinápticas. As sinapses são dotadas de plasticidade. Da
Neuroplasticidade, depende o processo de aprendizagem e reabilitação das
funções motoras e sensoriais.

As principais estruturas nervosas envolvidas no aprendizado cognitivo são


o Hipocampo e o Córtex Pré-Frontal, possível graças à memória declarativa,
cujos substratos neurológicos são o Hipocampo e o Córtex Frontal.

Já as competências emocionais estão ligadas à amígdala cerebral e ao


Córtex Pré-Frontal. Contudo, sabe-se que todas as competências influenciam-
se mutuamente. Um exemplo disso é o fracasso diante de uma prova escolar
devido ao estresse.

O ser humano é totalmente afetivo. A amígdala emite projeções neurais


para a maioria das partes do cérebro, incluindo as responsáveis pelas funções
cognitivas.

A Plasticidade Cerebral é responsável pelas capacidades adaptativas do


SNC. A cada nova experiência de vida de uma pessoa, rede de neurônios sofrem
um rearranjo e outras sinapses são reforçadas e outras possibilidades de
respostas ao ambiente são possíveis.

Os sistemas cerebrais destinados à emoção estão intrinsecamente


ligados aos “sistemas da razão”. Os sentimentos parecem depender de um
sistema de componentes ligados à regulação biológica e a razão; depende de
sistemas cerebrais específicos, sendo que alguns processam sentimentos, o que
clarifica que pode existir uma interligação (em termos de anatomia funcional)

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entre razão, sentimento e reações do corpo. O ser humano pensa, sente e age
e o aprendizado escolar requer prontidões neurobiológicas, cognitivas e
emocionais.

A criança nasce, cresce e aprende imersa em um meio social que


influenciará na qualidade de seu aprendizado grandiosamente.

A Neurociência se estabelece como uma grande aliada do docente para


poder coligar o indivíduo como ser pensante, influente, que aprende em
consonância com sua subjetividade. Descobrindo os mistérios que abrange o
cérebro na hora da aprendizagem, a Neurociência disponibiliza ao atual
professor/educador, importantes e adequados conhecimentos acerca de como
se processam a memória, a linguagem, o esquecimento, o humor, o sono, o
temor, como os conhecimentos se agrupam, como se dá o desenvolvimento
infantil, o desenvolvimento cerebral e a importância das emoções.

Logo, é imprescindível pensar na conexão de áreas do conhecimento para


apresentar oportunidades diferenciadas de aprendizagem para os alunos com
dificuldades. O trabalho diversificado ainda configura-se como alternativa para
que o docente tenha condições de dar maior atenção aos grupos de alunos com
dificuldades. Por isso, recomenda-se que o docente reflita a cerca de sua prática
pedagógica, de maneira especial sobre as atividades recorrentes e sobre as
experiências que são apresentadas, que nem sempre tendem a respeitar a
subjetividade dos alunos.

É necessário promover o respeito à diversidade e preocupar-se em indicar


aprendizagens expressivas para todos os alunos, com o objetivo de que eles
possam adquirir o gosto pela aprendizagem e aprendam a aprender. Somando
a isso, é necessário que a escola seja diligente voltada para a aprendizagem
funcional, que tenha emprego prático no cotidiano, tornando a aprendizagem
mais significativa. O ambiente escolar deve ser planejado para facilitar as
emoções positivas.

A Neurociência aplicada à Educação implica um novo olhar do educador


e da escola sobre a aprendizagem humana e propõe trazer mais clareza acerca
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dos mecanismos neuronais que sustentam a percepção e os atos cognitivos e
motores, necessários à aprendizagem.

A aprendizagem tem uma estrutura afetiva, estimulada pela linguagem,


pelas sensações, pelo lúdico, pelas artes e pela interação social, que
impulsionarão o desenvolvimento cognitivo e o próprio processo de
aprendizagem. O ser humano pensa, sente e age e o aprendizado escolar requer
prontidões neurobiológicas, cognitivas e emocionais.

É fundamental nos dias atuais o estabelecimento de um diálogo entre a


Educação e a Neurociência, levando o educador a conhecer os fundamentos
neurocientíficos do processo ensino-aprendizagem, que contribuirão para o
sucesso de suas práticas, a melhoria do seu desempenho e a consequente
evolução do aluno.

A proposta da escola no cenário atual deverá se apoiar na integralidade


do aprendente e do professor (razão/emoção), compreendendo que as
informações são processadas, armazenadas e respondidas pelo cérebro
cognitivo, emocional, motor, afetivo e social.

Hoje é possível transformar as salas de aula em lugares acolhedores e


prazerosos, com uma aprendizagem mais significativa e mais emotiva, que
despertem saudades ao final do dia. Só depende do empenho do professor em
buscar essas novas “ferramentas” e se apropriar delas de maneira adequada,
entendendo que isso tudo faz parte de um processo de construção que será
positivo para ambos os lados. É preciso sair da zona de conforto, pois lá pode
parecer cômodo, mas nada de novo acontece e os pensamentos, as ideias, as
vontades ficam sempre atrofiadas.

Quem não experimenta ações afetivas em suas vidas, pode apresentar


falta de interesse pelos demais e “cair” na não adaptação social, apresentando
conflitos e ter uma autoestima inadequada. Por tanto, a afetividade desempenha
um papel fundamental não só na vida, mas principalmente na trajetória escolar.

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Referências Bibliográficas
BINI, Renato Cesar. Quem disse que seu aluno tem problema de
aprendizagem? Rio de Janeiro: WAK, 2014.

CARVALHO, Rosita Edler. O cérebro vai para a escola e o coração vai junto. Rio
de Janeiro: WAK, 2014.

CHABOT, Daniel e Michel. Pedagogia Emocional – sentir para aprender. São


Paulo: Sá, 2005.

COSENZA, Ramon; GUERRA, Leonor. Neurociência e educação. Porto Alegre:


Artmed, 2011.

CUNHA, Eugênio. Afeto e Aprendizagem. 3ª ed., Rio de Janeiro: WAK, 2012.

FREIRE, Serrano. Seja o professor que você gostaria de ter. 4ª ed., Rio de
Janeiro: WAK, 2016.

KREBS, Claudia; WEINBERG, Joanne; AKESSON Eisabeth. Neurociências. Porto


Alegre: Artmed, 2013.
L
ENT, R. Mentes racionais, mentes emocionais: as bases neurais da emoção
e da razão. In: Cem bilhões de neurônios. Conceitos fundamentais de
neurociência. São Paulo: Atheneu, 2001.

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