Comentário Quilomba
Comentário Quilomba
Comentário Quilomba
“A língua, por mais poética que possa ser, tem também uma
dimensão política de criar, fixar e perpetuar relações de
poder e de violência, pois cada palavra que usamos define o
lugar de uma identidade.
1. A máscara
O primeiro capítulo, “A máscara”, traz uma imagem bastante conhecida, de
Anastácia, uma mulher escravizada no Brasil. A máscara física do período de
escravidão é “substituída”, nos dias de hoje, por uma máscara simbólica. Afinal,
quem pode falar? E quem pode falar sem ser desqualificado? Quem conta as
histórias, como as conta, como representa o Outro? Estas reflexões podem se
conectar com uma famosa palestra de Chimamanda Ngozie Adichie, “O perigo
da história única”.
3. Dizendo o indizível
O terceiro capítulo, “Dizendo o indizível”, para mim trouxe uma ótima explicação
de porque não existe “racismo reverso”. A autora não construiu a linha de
raciocínio querendo explicar isso, mas foi algo que pensei imediatamente com
a leitura. Grada Kilomba apresenta três características do racismo: construção
de diferença; diferenças construídas estão inseparavelmente ligadas a valores
hierárquicos; poder. As duas primeiras características constituem preconceito,
mas o racismo surge quando unimos o preconceito com o poder.
4. Racismo genderizado
Neste capítulo, a autora começa a trazer alguns depoimentos de situações reais,
vividas por ela mesma ou pelas mulheres que entrevistou em sua pesquisa. Há
a descrição de uma situação em que, após uma consulta médica, ainda quando
criança, ela foi “convidada” a trabalhar para a família do médico durante uma
viagem.
Aqui, Grada Kilomba comenta sobre intersecção entre raça e gênero, como estas
questões são inseparáveis e sempre entrelaçadas. E também sobre como o
feminismo branco é visto como universal, enquanto o feminismo negro é visto
como específico.
5. Políticas espaciais
O quinto capítulo de “Memórias da Plantação” aborda episódios em que
mulheres negras, seja na Europa ou nos Estados Unidos, são questionadas
sobre “de onde elas vêm”, o que causa uma sensação de não-pertencimento.
6. Políticas de cabelo
Este capítulo fala sobre a situação que mulheres negras sofrem de serem
tocadas por desconhecidos, especialmente em seus cabelos. Desta forma, elas
vivem uma experiência de invasão, em que são tratadas como objeto público.
Grada Kilomba comenta ainda sobre padrões dominantes de beleza e de como
o cabelo de mulheres negras é muitas vezes associado a sujeira ou a selvageria.
7. Políticas sexuais
O sétimo capítulo de “Memórias da Plantação” aborda a questão das piadas
racistas, que coloca as pessoas negras em um espaço de subordinação. Também
fala sobre a “castração” simbólica do homem negro e sobre a figura da “mãe
negra” como uma representação ideal da relação que a branquitude deseja com
mulheres negras.
8. Políticas da pele
Grada Kilomba comenta sobre a questão da fobia racial, da “incapacidade” de
uma pessoa em ver “raça”. Ser negro é visto como algo negativo, então quando
uma pessoa negra não corresponde a estes estereótipos racistas, ou se tem um
nível de amizade com o interlocutor, ela passa a não ser vista como negra.
9. A palavra N. e o trauma
N., neste caso, é o termo “Neger”, que carrega uma conotação bastante negativa.
Ele não tem ligação apenas com a cor da pele, mas é ligado à expansão europeia,
trazendo consigo a carga da história da escravização e colonização.
12. Suicídio
Este capítulo de “Memórias da Plantação” fala sobre o estereótipo da mulher
negra de superforte, dedicada e que tem um amor incondicional. E de como a
vida destas mulheres acaba tendo uma carga pesada, pelo racismo e
isolamento. Tanto que o tema do suicídio apareceu de forma recorrente entre
as entrevistadas.
14. Descolonizando o eu
Na conclusão do livro, a autora traz algumas questões interessantes e
pertinentes. Por exemplo, quando uma pessoa negra sofre uma situação de
racismo, em vez da questão “O que você fez?”, seria melhor substituí-la por “O
que o racismo fez com você?”. Desta forma permite-se que o sujeito negro se
ocupe de si mesmo.
Grada Kilomba finaliza com os cinco mecanismo de defesa do ego para, enfim,
tornar-se sujeito: negação; frustração; ambivalência; identificação;
descolonização.
Concluindo
Trouxe aqui um breve resumo dos temas abordados em “Memórias da
Plantação”, de Grada Kilomba, e recomendo fortemente que este livro seja lido.
Esta postagem não chega nem perto da profundidade com que ela aborda cada
questão, que merece ser lida com atenção e cuidado.