Bolivar e o Brasil
Bolivar e o Brasil
Bolivar e o Brasil
Centro de História e
Documentação Diplomática
Conselho Editorial da
Fundação Alexandre de Gusmão
A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada
ao Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil informações sobre
a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão é promover a
sensibilização da opinião pública nacional para os temas de relações internacionais e para a política
externa brasileira.
Argeu Guimarães
Edição fac-similar
Coordenação Editorial:
Wilma R. d’Oliveira Kroff
Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD)
Capa:
Camilla Barçante de Carvalho
(sobre arte de Ingrid Erichsen Push)
929
G963b - Guimarães, Argeu, 1892-1967.
Bolívar e o Brasil / por Argeu Guimarães: 1a reed.. – Rio de Janeiro : Fundação Alexandre
de Gusmão / CHDD, 2017.
274 p.: 22,5 cm
ISBN 978.85.7631.719-7
1 Pesquisador do CHDD-Funag.
2 Maria Lígia Prado e Luís Claudio Villafañe destacam a tensão entre o Império e os
regimes republicanos no reforço dessa imagem distanciada. Ver PRADO, M. L. C.
O Brasil e a distante América do Sul. Revista de História: Universidade de São Paulo,
São Paulo, n. 145, p. 127-149, 2001. VILLAFAÑE, L. C. O Brasil entre a América e a
Europa: o Império e o interamericanismo (do Congresso do Panamá à Conferência de
Washington). São Paulo: Editora Unesp, 2004.
3 Em outro trabalho tive oportunidade de analisar distintos momentos de aproximação
e divergência entre o Brasil e a América. Ver FERNANDES, Coelho Tiago. Entre
Bolívar e Monroe: o Brasil nas relações interamericanas. In: SALAZAR, Luis Suarez;
LORENZO, Tania Garcia. Las relaciones interamericanas: continuidades y cambios.
Buenos Aires: CLACSO, 2008.
são alguns nomes presentes nas séries documentais já publicadas
pelo CHDD que ajudam a compreender os traços iniciais de uma
política americana do Império.
Argeu Guimarães (1892-1967) foi um dos muitos quadros do
Itamaraty que dividiu sua trajetória entre a atividade diplomática e as
escavações históricas, num período anterior à consolidação do campo
acadêmico no Brasil. Serviu como encarregado de Negócios em Quito
(1921), Bogotá (1922-1928), Copenhague (1929-1931), Santa Sé
(1933), Lima (1936-1937), Helsinki (1937-1938), Paris. Foi delegado
no Congresso Pan-Americano do Panamá em 1926 e chefe do Serviço
de Cooperação Intelectual do Ministério das Relações Exteriores. Seus
escritos abordam temas diversos de história, diplomacia, artes e temas
militares. Também elaborou um Dicionário Bio-bibliográfico de per-
sonalidades ligadas à diplomacia brasileira, editado pelo próprio autor
e recorrentemente utilizado nas pesquisas do CHDD.
O título “Bolívar e o Brasil” foi utilizado pelo autor para dife-
rentes artigos para a imprensa brasileira e hispano-americana antes
de ser publicada a presente versão, em 1930, por uma editora pari-
siense. Nele prevalece a tônica ensaística, de divulgação, mais que
uma pesquisa monográfica detalhada. Conhecedor do ambiente inte-
lectual colombiano e da historiografia em torno do mito de Bolívar,
o autor parte das diferenças entre os processos de independência nas
Américas espanhola e portuguesa para reforçar a urgência de apre-
sentar a epopeia do “Libertador” ao público brasileiro. A abordagem
que privilegia as memórias e as fontes secundárias possibilitou eludir
os pontos de tensão registrados por Bolívar em sua correspondência,
questão debatida por outros estudiosos do tema.4
4 LIMA, Nestor dos Santos. A imagem do Brasil nas cartas de Bolívar. Brasília, DF:
Verano Editora, 2003; ALEIXO, José Carlos Brandi. Simon Bolívar e o Brasil. In:
Síntese – Revista de Filosofia, Belo Horizonte, v. 10, n. 29, 1983. FREDRIGO, Fabiana
de Souza. O Brasil no epistolário de Simón Bolívar: uma análise sobre o descobrimento
entre as Américas. História Revista (UFG), Goiânia, v. 8, p. 89-115, 2003. No artigo a
autora analisa as referências escassas, mas eventualmente ácidas e temerosas ao Brasil na
correspondência de Bolívar.
Assim, a parte inicial da obra se dedica à trajetória de Bolívar,
ressaltando seus feitos militares. Embora indique os excessos de certa
literatura bolivariana mais exaltada, o próprio Argeu não esconde seu
entusiasmo pelo biografado no decorrer das páginas, seja antevendo
na insubmissão do jovem nacionalista o gênio futuro do Libertador,
seja na narrativa grandiloquente da expedição ao Chimborazo.
A análise dos contatos entre Bolívar e o Brasil propriamente
dita emerge a partir da metade do livro, concentrando-se no Con-
gresso do Panamá e nas figuras de Natividade Saldanha e Abreu e
Lima. Da postura global do líder caraquenho, é destacada a neu-
tralidade diante dos conflitos no Prata, examinando suas possíveis
motivações, que naturalmente passavam pelas de caráter estratégico
defensivo, mas também incluiriam os esforços de angariar simpatias
para o projeto de união continental.
O Congresso Anfictiônico do Panamá representa ao mesmo
tempo o auge desse esforço integracionista e o episódio no qual
apresentaram-se mais diretamente as possibilidades – e os limites –
do diálogo entre o nascente Império brasileiro e o projeto político
bolivariano originário. Argeu reserva um capítulo para descrever o
desenvolvimento da ideia e o seu desenlace, destacando as negocia-
ções para a participação de Brasil e Estados Unidos, que acabaram
por não se concretizar. As causas para a ausência do delegado bra-
sileiro nomeado para o Congresso, apenas especuladas nesta obra,
permanecem indefinidas até os dias atuais.5
Os capítulos finais dedicam-se a dois personagens de trajetórias
bem peculiares entre seus compatriotas, mesmo em período tão con-
turbado: o poeta José de Natividade Saldanha e o militar José Inácio
de Abreu e Lima, ambos com o destino marcado pelos movimentos
revolucionários pernambucanos de 1817 e 1824 que, por caminhos
distintos, estabeleceram relação direta com o entorno bolivariano