Caloni Etal 2017
Caloni Etal 2017
Caloni Etal 2017
F. Caloni
Geólogo - Litotec Estudos Geológicos LTDA, São Paulo, Brasil.
J.P. Ciriades
Engenheiro Civil - Maffei Engenharia, São Paulo, Brasil.
C.K. Miyazato
Engenheiro Civil, São Paulo, Brasil.
B. M. G. Scodeler
Engenheiro Civil - Maffei Engenharia, São Paulo, Brasil.
Resumo: O túnel Engenho Velho, pertencente ao traçado da Transolímpica, novo viário instalado na
cidade do Rio de Janeiro, intercepta o eixo do túnel canal da adutora do Guandú. Durante as escavações
a interferência atribui impactos ao empreendimento e riscos ao túnel canal, tamanha sua importância
como rede de abastecimento d’água para a cidade. A interferência se dá com o cruzamento oblíquo dos
túneis e em outro ponto, por meio de uma falha geológica que intercepta, transversalmente, a ambos
os túneis. Os impactos atribuídos ao empreendimento, levaram a Transolímpica a viabilizar soluções
técnicas inovadoras para mitigar os riscos a adutora e viabilizar as escavações do túnel engenho velho.
1 INTRODUÇÃO
A escavação de túneis em áreas urbanas interage com as mais diversas estruturas e interferências, as
quais atribuem riscos ao empreendimento que, por outro lado, exerce impactos na ocupação de seu
entorno.
Entre os diversos casos de interferência, alguns se destacam pelo alto risco atribuído aos impactos
gerados pela escavação. Algumas estruturas de interferência são de tamanha importância sócio
econômica que, devido aos riscos atribuídos, são mais susceptíveis a incidentes provocados pelas
escavações.
São casos especiais onde os projetos e métodos construtivos devem contemplar soluções mitigadoras
para os impactos gerados. A concepção de soluções adequadas deve, primeiramente, embasar-se na
sólida identificação da interferência em si e dos riscos associados.
Como exemplo de caso e concepções, diante de uma interferência de alto risco socioeconômico, as
soluções adotadas para os túneis da Transolímpica constituem um importante modelo de abordagem.
2 DESCRIÇÃO DA INTERFERÊNCIA
O Túnel Engenho Velho, compondo 1.300 metros do traçado da Transolímpica, constituído de duas
galerias com seção aproximadamente de 140 m², intercepta, em ângulo ortogonal, o eixo do túnel da
adutora do Guandú.
Ambos os túneis estão alojados no maciço da Pedra Branca, em seu setor setentrional, localizados nas
imediações do bairro Sulacap, na cidade do Rio de Janeiro.
O túnel Engenho Velho encontra-se a aproximadamente 30 metros de profundidade em relação ao fundo
do túnel do Guandú. A interceptação entre as estruturas se dá em rocha sã, gnáissica, pouco fraturada e
de elevados parâmetros de classificação geomecânica. Essa relação vertical, de interferência entre os
túneis é ilustrada na Figura 1.
As investigações e estudos revelaram uma segunda interferência, ainda mais importante, retratando uma
falha geológica que intercepta ambos os túneis, com lineamento orientado em ângulo transversal a ambas
as estruturas. A Figura 2 ilustra o traçado dos túneis e suas relações com a falha geológica, em planta.
Tamanha a importância da adutora do Guandú para a cidade do Rio de Janeiro, elevou os riscos atribuídos
às escavações do túnel Engenho Velho, exigindo soluções de projeto e métodos de obra, capazes de
mitigar os riscos e viabilizar o empreendimento.
Foram necessários estudos de detalhamento e mapeamento dos riscos, embasados em campanhas de
investigações, como sondagens e geofísicas, associadas ao levantamento de campo executado por
equipes de engenharia, geologia e topografia.
Figura 1: Relação vertical entre os eixos dos túneis engenho Velho e Guandú.
Tabela 1: Valores admitidos pela norma alemã DIN-4150 para danos em edifícios. Fonte: Bacci, 2000.
Tabela 2: Níveis seguros de velocidade de vibração de partículas para estruturas civis, segundo USBM (R1 8507). Fonte: Bacci, 2000.
4 Hz a 15 Hz 15mm/s – 20mm/s
15 Hz a 40 Hz 20mm/s – 50mm/s
Acima de 40 Hz >50mms
Foram então estabelecidos os valores de velocidade de vibração de partículas para as obras do túnel
Engenho Velho, para as escavações na zona de interferência com o Guandú. Adotou-se os valores limites
de 40 Hz para o controle de frequência e 15 mm/s para o controle de velocidade de partículas. O plano
de fogo foi então dimensionado em função destes limites.
Os furos foram executados om o próprio Jumbo, equipamento de perfuração usado para o plano de fogo.
A pressão de injeção foi limitada em 8 Mpa e o volume de microcimento, com calda de fator A/C de 0,6%,
foi limitado a 300 l por furo.
As injeções foram iniciadas com níveis de pressão inferiores ao limite definido, sendo aumentadas em
função do consumo de calda buscando atingir o limite definido de 300 l. Após a injeção dos primeiros
furos, os consecutivos atingiam pressão de 8MPa com volumes de consumo reduzidos a nívesi de 50% a
30% do limite definido.
Após a campanha de injeções, aguardou-se dois dias de cura da calda e a frente de escavação foi
perfurada para a instalação de drenos profundos do tipo DHP. Os drenos foram instalados acima de
geratriz superior da seção de escavação e comprovaram a impermeabilidade do maciço injetado.
Com a retomada das escavações, os avanços revelaram uma região extremamente fraturada, alterada e
livre de percolação, permanecendo somente gotejamentos. Uma pequena porção, encaixada
verticalmente no maciço, apresentava-se cataclasada e alterada, porém com boa coesão. As injeções,
selaram as fraturas e impermeabilizaram as escavações, comprovando a eficiência do método.
8 CONCLUSÃO
O conjunto de medidas adotadas nas escavações do túnel Engenho Velho, na travessia das interferências
com o túnel canal e a falha geológica, mostrou-se eficiente na mitigação dos riscos associados.
As injeções de micro cimento selaram as percolações nas fraturas alteradas da zona de falha, elevando
os parâmetros de classificação geomecânica e aumentando tempo e estabilização das frentes.
O impacto a adutora do Guandú foi submetido a um controle eficaz de todo o processo de escavação. O
sucesso da travessia, a mitigação dos riscos associados, pôde ser atribuído ao conjunto de técnicas
empregadas. Os esforços em tornar todos estes métodos possíveis, fez com que as interferências fossem
facilmente vencidas, minimizando os impactos e evitando qualquer dano a estrutura da adutora.
A adutora do Guadú foi, pela segunda vez, vistoriada com a participação do consórcio construtor ao fim
das escavações do Engenho Velho. Pôde-se observar um aumento do blocos rochosos, chocos,
acumulados na adutora. Os desmontes a fogo, na escavação do túnel adutor acelararam o processo de
desplacamento nos trechos da adutor com teto em rocha exposta, porém, no trecho de interferência com
o eixo de escavação da Transolípica e, principalmente com a falha geológica, a adutora estava no mesmo
estado registrado na primeira vistoria.
REFERENCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-9653 - Guia para avaliação dos efeitos provocados pelo uso de
explosivos nas minerações em áreas urbanas. Rio de Janeiro, 2005.
[2] BACCI, D.C. Vibrações geradas pelo uso de explosivos no desmonte de rochas: Avaliação dos parâmetros físicos do terreno
e dos efeitos ambientais. Tese de Doutorado. Universidade Estadual paulista, 2003.
[3] DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL. NRM-16 – Operações com explosivos e acessórios. Rio de Janeiro,
2001.
[4] FRANÇA, G.S., VASCONCELOS, M.A.R., CHMPLIGANOND, C.N., TOMÁS, S.S. Estudo das Vibrações Geradas por Detonações
na Obra Civil da Eclusa 2 de Tucuruí - PA RBGF: Revista Brasileira de Geofísica. Vol. 29 (1), 2011.