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6771-Texto Do Artigo-22265-1-10-20180308

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ELITES REGIONAIS E REALINHAMENTOS POLÍTICOS

NO ESPÍRITO SANTO (1930-1964)

UEBER JOSÉ DE OLIVEIRA

RESUMO
Objetiva compreender o Estado do Espírito Santo no contexto do
federalismo brasileiro, tendo como pano de fundo os dilemas
constitutivos da formação e do desenvolvimento do Estado nacional,
cuja materialidade se dá no debate entre centralização versus
descentralização. Neste sentido, observar-se-ão os rebatimentos das
mudanças institucionais que se operaram no plano nacional e no
contexto regional capixaba em termos de realinhamentos e rearranjos
político-partidários, da Revolução de 30 até o Golpe de 1964. A
principal hipótese é a de que os sistemas partidários são formados a
partir das elites e máquinas políticas e eleitorais que transpõem com
êxito as fronteiras e turbulências representadas pelas mudanças
institucionais.

PALAVRAS-CHAVE: Federalismo; Elites políticas; instituições; mudanças


institucionais.

ABSTRACT
Aims to understand the state of the Espírito Santo in the context of
Brazilian federalism, with the backdrop of the dilemmas that constitute
the formation and development of the national state, whose materiality
gives the debate between centralization versus decentralization. In
this regard, note will be the repercussions of the institutional changes
that have taken place at the national and regional context capixaba in
terms of realignments and rearrangements political party, the
Revolution of the 1930 until the 1964 coup d'état. The main
hypothesis is that party systems are formed from the elites and
political and electoral machines that span borders and successfully
turbulence represented by institutional changes.

KEYWORDS: Federalism, Political elites, institutions, institutional changes


Doutor em Ciência Política – Ufscar e Mestre em História Social das Relações Políticas
– Ufes; Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em História Social das
Relações Políticas (PPGhis/Ufes) e Professor do Departamento de Educação e
Ciências Humanas – Ufes/Ceunes. Contato email: [email protected]

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ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

O presente artigo tem por objetivo compreender o estado do


Espírito Santo no contexto do federalismo brasileiro, tendo como
pano de fundo os dilemas constitutivos da formação e do
desenvolvimento do Estado nacional, cuja materialidade se dá no
debate entre centralização versus descentralização. Neste sentido,
observar-se-ão alguns aspectos dos rebatimentos das mudanças
institucionais que se operaram no plano nacional, no contexto da
República (1930-1964) e no contexto regional capixaba em termos
de realinhamentos e rearranjos político-partidários.
A principal hipótese é a de que os sistemas partidários são
formados a partir das elites e máquinas políticas e eleitorais que
transpõem com êxito as fronteiras e turbulências representadas
pelas mudanças institucionais. Nesse aspecto convém ressaltar que
o conjunto da literatura relevante sobre partidos políticos e sistemas
eleitorais no Brasil, a exemplo de Lamounier (1989), Meneguelo
(1998), Motta (1999), entre vários outros, dá ênfase excessiva aos
aspectos de descontinuidade entre os diferentes sistemas que
vigoraram ao longo da história política do Brasil. O presente trabalho
busca trilhar outro caminho, buscando aproximações com autores
que levam em consideração os elementos de continuidade entre os
sistemas partidários. Entre eles, se destacam Carvalho (2008),
Grinberg (2009), Madeira (2002) e Madeira (2006), entre outros.

O ESPÍRITO SANTO NA ERA VARGAS (1930-1945)

Na fase final da Primeira República, especialmente a partir de


meados da década de 1920, aflora no seio dos setores médios
recém-emergentes da sociedade brasileira em geral, uma série de
manifestações contrárias ao modelo político vigente naquele
contexto. O discurso liberal pelo voto secreto e pela moralização dos
processos eleitorais ganha força e acaba se materializando em
movimentos sociais, a exemplo do Tenentismo.
Assim, passa a ser alvo de duras contestações as chamadas
eleições por bico de pena em que os resultados eram decididos pelas
elites políticas locais detentoras do poder. Sobre os processos eleitorais
da Primeira República, o sobrinho de Jerônimo Monteiro, Carlos
Fernando Monteiro Lindenberg, ao qual voltaremos a fazer referência
neste trabalho, em um de seus depoimentos afirma que “[...] não havia
abstenção. Não havia nada. Faziam o resultado como queriam. Não

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1
havia protesto [...]”. De modo geral, as escolhas eleitorais eram
fraudadas em proveito do situacionismo político, por meio do voto de
cabresto utilizado pelos coronéis que manipulavam os votos dos
eleitores de seu curral eleitoral. Dessa forma, os resultados das
eleições geralmente eram construídos bem antes da eleição e as
escolhas políticas e eleitorais ocorriam no âmbito do partido e competia
ao eleitorado, direcionado pelos coronéis, a confirmação da chapa dos
candidatos. Elucidativo neste sentido é o depoimento do mesmo Carlos
Monteiro Lindenberg em que relata como se dava o controle dos
eleitores pelos coronéis no Espírito Santo:

[...] Quando eu tinha uns sete anos para oito anos o meu tio alistava
os eleitores da fazenda. Eles eram analfabetos. Para registrar como
eleitores tinham que dar uma procuração para meu tio. Então nós, os
meninos, eu, Benvindo de Novaes, Moacir, fazíamos o Constituo:
“constituo meu bastante procurador o coronel Antonio de Souza
Monteiro para efeito de me alistar em Itapemirim”. E a gente
2
assinava o nome do sujeito [...] .

Do mesmo modo, passa a ser alvo de duras críticas, o


domínio dos aparelhos regionais de Estado pelos grupos
oligárquicas, as quais lutavam entre si pelo controle dos espaços de
poder, uma vez que, tal como argumenta Achiamé (2010; p. 90),
“[...] o controle desse aparelho dava à facção vencedora uma
vantagem extra, pela importância política considerável que possuía
a administração pública [...]”. Assim, pelo sistema que vigorava na
Primeira República, no período eleitoral ou na formação de
governos, quem não era correligionário, era automaticamente
considerado inimigo, configurando um jogo de soma zero.
O rompimento com esta ordem política e social se dá em
1930, exatamente por ocasião das eleições presidenciais e da
dissensão na oligarquia que comandava o país no contexto da
3
Primeira República, que denominam política do café com Leite .
1
LINDENBERG. Carlos. De viva voz: depoimento de Carlos Lindenberg. Vitória:
IHGES; AESL; Cultural-ES, 1989, p. 28-29.
2
LINDENBERG. Carlos. De viva voz: depoimento de Carlos Lindenberg. Vitória:
IHGES; AESL; Cultural-ES, 1989, p. 28-29.
3
A alternância de poder foi celebrada no chamado Pacto de Ouro Fino, ocorrido
em 1913, por Cincinato Braga, representando São Paulo e Julio Bueno Brandão,
de Minas Gerais e teve como objetivo diminuir a influência política do Rio
Grande do Sul, representada por Pinheiro Machado. Segundo a tese mais geral,
tal acordo foi rompido por São Paulo em 1930, quando se recusou em apoiar o
candidato mineiro em favor do candidato Julio Prestes. Todavia, muitos
criticam essa visão, indicando que não há uma alternância entre paulistas e

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Nesse momento, as forças políticas espírito-santenses dividiam-se
em duas correntes opostas: uma delas congregava os políticos que
apoiavam o situacionismo nas esferas estadual e federal, ou que se
alinhavam a Washington Luiz, apoiando seu candidato Julio Prestes.
Neste grupo estavam os políticos ligados ao então Presidente do
Estado Aristeu Borges de Aguiar (1928-1930), incluindo os
partidários de Bernardino Monteiro, além de vários seguidores de
Jerônimo Monteiro que, apesar de discordarem do governo local,
4
hipotecavam apoio ao situacionismo federal (ACHIAMÉ, 2010) .
A outra corrente, minoritária, reunia políticos vinculados à
Aliança Liberal, tais como Fernando de Abreu, que participara da
Revolta de Xandoca de 1916 contra a eleição de Bernardino, o
advogado Afonso Correa Lírio (antijeronimista estremado), o
Deputado Federal Geraldo Viana, que esteve incorporado à corrente
bernardinista, mas que havia rompido por ocasião do Governo Aristeu
Borges de Aguiar, e o juiz de direito João Manuel de Carvalho, filiado
à corrente jeronimista (ACHIAMÉ, 2010). Hipotecaram apoio ao
movimento, vendo nele a possibilidade de concretização de seus
objetivos políticos, entre eles o de chegar ao comando da direção
política estadual, uma vez que diante da situação vivenciada no
período seria muito difícil alcançá-los pelas vias eleitorais.
Tal panorama demonstra, portanto, que o posicionamento
político dos segmentos oligárquicos capixabas no plano nacional
não correspondeu às divergências e conflitos políticos regionais:
Bernadinistas e Jeronimistas se subdividiram e se reagruparam em
respectivos apoios às candidaturas situacionistas e aliancistas, por
ocasião das eleições presidenciais.
Após a Revolução de 1930, o realinhamento na política
estadual seria fortemente marcado pelos segmentos oligárquicos

mineiros. Polêmicas à parte, trabalhamos com a idéia que, independente se


havia ou não tal alternância, houve uma dissensão na oligarquia dominante.
4
Marta Zorzal e Silva (1995) defende a posição de que a corrente Jeronimista, pelo fato
de se encontrar alijada do poder estadual, havia aderido à Aliança Liberal. Todavia, sem
adentrar nos detalhes analíticos da questão, endossamos a visão de Fernando Achiamé
(2010), em seminal trabalho sobre o Espírito Santo na Era Vargas, que defende a tese de
que “[...] Tudo indica que [Jerônimo] não abraçou de forma entusiasmada a campanha da
Aliança Liberal, nem do Movimento de Outubro de 1930 [...]”. Para o referido autor,
Jerônimo, além de outros dois ex-presidentes do Estado (Nestor Gomes e Marcondes de
Aguiar), estavam insatisfeitos com a situação política regional e simpatizavam com uma
dissidência no plano federal que poderia render-lhes dividendos políticos, o que não quer
dizer que tenham apoiado a Aliança Liberal. Para maiores esclarecimentos, ver:
ACHIAMÉ, Fernando. O Espírito Santo na Era Vargas: elites políticas e reformismo
autoritário (1930-1937) (1930-1937). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

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predominantes no contexto da República Velha que, como
salientado, se faziam representar entre os aliancistas. A composição
da Junta Governativa, criada em outubro de 1930, não deixa
dúvidas nesse sentido: foi formada, de um lado, pela tendência
jeronimista, com João Manoel de Carvalho e, de outro, por um
elemento possuidor de uma postura antijeronimista, no caso Afonso
5
Correia Lírio, além de João Punaro Bley , cuja indicação como
membro da Junta Governativa e depois como interventor, se deveu
6
ao interesse de Vargas em atender aos anseios dos Tenentes
(ACHIAMÉ, 2010). Nesse sentido, o compromisso consistia em
acomodar os objetivos do poder central com os interesses regionais.
A acomodação dos agrupamentos locais na nova lógica de
poder se manifestaria, também, no papel exercido pela Associação
Comercial de Vitória, representante da classe dominante local.
Demonstrou claramente sua influência na política estadual no
período em questão. No início, ainda antes da Revolução, hipotecou
apoio e se mostrou solidária ao governo Aristeu de Aguiar (1928-
1930). Porém, ao pressentir o curso dos acontecimentos, os
diretores da Associação se dirigiram ao palácio do governo com o
objetivo de propor a Aristeu de Aguiar um acordo com as forças
revolucionárias, buscando evitar um confronto entre estas e as
forças fiéis ao Presidente do Estado. Após a renúncia de Aristeu
Borges de Aguiar, a Associação passa a se inclinar para a fonte do
novo poder e terá papel destacado ao recomendar, por meio de
telegrama a Getúlio Vargas, o nome de Punaro Bley para
7
Interventoria (ACHAMÉ, 2010).
Para promover a pacificação da política local e até mesmo se
5
João Punaro Bley nasceu em Montes Claros – MG em 14 de novembro de 1900. Se
formou pela Escola Militar do Realengo. Foi enviado pelo Presidente Washington
Luis para combater os revoltosos de 1930 no Espírito Santo, e acabou aderindo o
movimento. Permaneceu como administrador do Estado por quase uma década e
meia, sendo interventor federal de 1930 a 1935, governador eleito pela Assembléia
Legislativa estadual de 1935 a 1937 e novamente como interventor de 1937 a 1943.
Veio a falecer no Rio de Janeiro, no dia 20 de abril de 1983.
6
Os Tenentes durante a década de 1920, aliados a outros setores urbanos,
fizeram importantes mobilizações políticas a favor da moralização do processo
eleitoral e foram também atores estratégicos na Revolução de 30. Para maiores
esclarecimentos, ver: CARONE, Edgar. O Tenentismo. São Paulo: Difel, 1975.
7
Em suas memórias, Bley argumenta que a sua escolha se deveu ao fato de ser ele
o oficial de mais alta patente em Vitória naquele momento. Porém, além da
importância do papel desempenhado pela Associação Comercial, Achiamé (2010)
argumenta que, durante a movimentação para a composição da Junta, bem como nos
momentos posteriores, Bley trabalhou para afastar do caminho outros possíveis
pretendentes ao posto de líder militar da Revolução no Espírito Santo.

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manter no poder, Punaro Bley se valeu do principal instrumento à
sua disposição, a delegação outorgada pelo Chefe do Governo
Provisório, cumprindo à risca os ditames do poder central, por meio
do controle da burocracia estatal (especialmente a Polícia, o fisco e
o magistério). Nesse sentido, uma nova ordem no poder estadual
passa a pairar acima das antigas correntes políticas, que poderiam
continuar a existir, mas a ela submetidas. E completa Achiamé
(2010, p. 139) dizendo que

Significativamente, a interventoria não foi atribuída a nenhuma


dessas correntes. Ambas ficaram submetidas à nova liderança que
dominava o aparelho do Estado, liderança que soube se manter
independente das disputas políticas locais originadas na chamada
República Velha, mas que as fomentou e delas se utilizou quando
era do seu interesse. Podemos considerar que essa era a tradução,
em ponto menor e em nível estadual, do “Estado de Compromisso”
estabelecido no âmbito nacional [...].

Essa composição com as forças políticas locais se


manifestara também quando analisamos as movimentações de
Punaro Bley, por ocasião da Constituição de 1934, e da iminente
necessidade de angariar apoio para a sua candidatura ao Governo
Constitucional que se iniciaria no mesmo ano. Neste momento,
pressionado a promover a reconstitucionalização do país, Getúlio
Vargas patrocina a criação de partidos políticos estaduais que
agissem como forças de apoio aos interventores e, por
conseqüência, ao poder que exercia de forma cada vez mais
centralizada. Assim, nos planos nacional e estadual, foram criados
diversos partidos tais como o Partido Social Democrático (PSD); a
Ação Integralista Brasileira (AIB); o Partido da Lavoura (PL); além do
Partido Proletário (PP), bem como reanimada a expectativa de
legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Para os propósitos do presente artigo, que pretende observar
a elite política do Espírito Santo a cada rearranjo institucional
verificado no Brasil no decorrer da República, interessa a análise,
mesmo que panorâmica, daquele PSD, que seria o partido de
sustentação ao Governo Constituinte. Sobre a formação deste
partido, assim se manifesta João Punaro Bley:

[...] O ano de 1933 foi dos mais difíceis e trabalhosos, em face da


convocação de eleições para a Assembléia Constituinte. [...] Assim,
cumpria-nos organizar um partido para apoiar Getúlio e defender os
ideais da Revolução [...]. A exemplo dos demais estados, fundamos

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o Partido Social Democrático do Espírito Santo, congregando
revolucionários e outros elementos de maior projeção na vida do
estado, desde que não comprometidos fundamentalmente com o
8
governo deposto [...].

Econômica e administrativamente, Bley encontrou o Estado


numa situação caótica, advinda da gestão anterior, do governo de
Aristeu Borges de Aguiar (1928-1930), já associado a uma imagem
de ineficiência e irresponsabilidade, naquela altura de crise
econômica aguda ante o crash de 29.
Diante da situação que se encontrava o Estado, a ação do
governo Bley se voltou, em primeiro lugar, para o saneamento das
finanças públicas. Procurou reduzir em 67% o montante das
despesas orçadas para o exercício de 1931 - já em execução -, em
relação ao orçamento anterior (GRAZZIOTTI, 2006; MENDONÇA,
2002). Isso graças ao fato de ter certa liberdade de ação em relação
às injunções regionais, passando a obedecer mais às diretrizes do
poder central. (VASCONCELLOS, 1995).
Bley se ocuparia também de controlar os chefes políticos locais
por meio do decreto estadual Nº 983 de 31 de março de 1931, que
criou a Inspetoria dos Municípios, depois denominada Departamento
das Municipalidades, cuja atribuição era fiscalizar as ações dos
prefeitos nomeados e orientar a ação municipal na aplicação de seus
recursos. Essa realização, inclusive, foi pioneira no Brasil, sendo
adotada posteriormente por outros estados, devido à sua eficácia em
controlar as finanças e a política desenvolvida pelas administrações
locais. Esse controle das municipalidades pelas Interventorias teve
repercussão até mesmo na Assembléia Constituinte de 1933-1934, tal
como reconhecido por Vitor Nunes Leal (1975, p. 86).
Apesar de tais realizações, via de regra, considera-se que o
Governo Punaro Bley não gerou transformações substanciais da
economia do Estado. Segundo Siqueira (1995, p. 34),
[...] Inserido na dinâmica econômica nacional, o Espírito Santo tinha
na agricultura a base de suas atividades econômicas de produção,
apoiando-se em um produto de exportação - o café [...]. Na década
de 40, esse produto permanecia absoluto na pauta de exportação
estadual [...]. A produção industrial, incipiente, representava um setor
pouco importante no contexto econômico capixaba. Tipicamente
primária, a principal produção resultava do beneficiamento do café

8
BLEY, João Punaro. Memórias. Fotocópia manuscrita. CPDOC/FGV,
J.P.B.d.0000.00.00/2, Rio de Janeiro, p. 80

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Porém, a análise mesmo que superficial do governo Bley,
mostra que ele seguiu a orientação da política traçada no plano
nacional, dentro daquilo que se convencionou chamar de
reformismo autoritário, no qual os processos de reformas se deram
a partir da união das idéias de ruptura e continuidade que buscava,
ao mesmo tempo, a modernização institucional postergando os
avanços sociais das classes subordinadas e, dessa forma,
patenteando o aspecto de continuidade nas muitas ações políticas
da época (ACHIAMÉ, 2010).
Por outro lado, se é verdade que não houve grandes rupturas
no desenvolvimento da economia capixaba no período, também não
se pode deixar de mencionar que foi o Governo Bley o responsável
por iniciar o aparelhamento do Estado com um suporte técno-
financeiro capaz, mais à frente, de impulsionar e desenvolvimento
regional. Para tanto, criou-se a Escola Prática de Agricultura de Santa
Teresa (Decreto-Lei Nº 12.143, de setembro de 1940), com a
finalidade específica de formar homens com conhecimentos claros e
racionais acerca de agricultura, pecuária e seus derivados
(GRAZZIOTTI, 2006); criou o Instituto de Crédito-Agrícola do Espírito
Santo (Decreto-Lei Nº 6.627, de 1935), o qual foi posteriormente, em
1937, transformado no Banco de Crédito Agrícola do Estado do
Espírito Santo e hoje constitui o atual Banco do Estado do Espírito
9
Santo - BANESTES . E foi ainda na gestão Bley que se deu a
implantação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), cujos impactos
para a economia do Estado foram enormes (GRAZZIOTTI, 2006).
O sucessor do Capitão João Punaro Bley na Interventoria do
10
Estado do Espírito Santo foi Jones dos Santos Neves , que esteve
à frente Governo do Estado em duas oportunidades (1943-
1945/1951-1955). Segundo o historiador Renato Pacheco
(PACHECO, apud MEDEIROS, 2002), Santos Neves demarcou a
história capixaba entre antes e depois dele. Esta importância
9
Conforme se verá adiante, um dos idealizadores de tal instituição foi Jones dos
Santos Neves, que substituiu Bley na interventoria do Estado, a partir de 1943.
10
Diplomado em farmácia e dono de um estabelecimento do mesmo ramo em
Vitória, havia combatido voluntariamente na Revolução paulista de 1932 ao lado
das tropas getulistas. Como membro do antigo PSD/ES, foi escolhido por Bley
para participar do chamado Conselho Administrativo do Estado, órgão
encarregado de formular e analisar políticas públicas, do qual se tornou diretor,
cuja proposta de maior destaque foi a criação do Bando de Crédito Agrícola do
Espírito Santo, sendo também seu diretor, instituição que se destinava a
modernizar a agricultura e fomentar o cooperativismo. Foi escolhido entre
outros dois candidatos que, juntos com Jones, compuseram a lista tríplice,
eram eles: Mario Freire e Américo Monjardim (VASCONCELLOS, 1995).

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atribuída ao ex-governador deve-se ao seu audacioso projeto
desenvolvimentista, o qual pode ser vislumbrado em uma de suas
mais célebres expressões: “Os galhos dos cafezais do Espírito
Santo já são insuficientes para suportar o peso de nossa economia”.
Com esta expressão e com este espírito, o governo Jones
consolidou as raízes do desenvolvimento capixaba. A ação de Jones
como interventor na Era Vargas é vista como muito mais dinâmica
do que a do Capitão João Punaro Bley (VASCONCELLOS, 1995).
Criou o Departamento do Serviço Público (DSP), a partir da
orientação política e técnica do Departamento Administrativo do
Serviço Público (DASP). Simultaneamente, lançou mão de alguns
decretos que redefiniram o organograma do governo e criaram o
sistema de serviço público, bem como estabeleceram critérios para
a promoção do funcionalismo.
Além disso, na gestão de Santos Neves, com base numa
estrutura administrativa organizada, impôs aos organismos públicos
uma ação planejada. Dentro dessa racionalidade, elaborou o Plano
de Obras e Equipamentos que, segundo Vasconcellos (1995, p.
198), “[...] foi a primeira experiência brasileira de planejamento
governamental [...]”. Assim, Jones ampliou os recursos públicos por
meio da modernização do aparelho arrecadador do Estado, o que
tornou possível a execução de um ambicioso plano de obras,
priorizando as áreas de saúde, transportes e educação
(VASCONCELLOS, 1995).
Os governadores que se seguiram não deram continuidade às
ações jonistas. Entre vários fatores, vale dizer, que o setor agrário ainda
permanecia hegemônico não permitindo, com isso, a implementação de
um projeto de cunho mais urbano-industrial, mesmo na segunda gestão
Jones dos anos 1951-1954. Isso só ocorreria a partir de meados da
década de 60 conforme os tópicos seguintes.

O ESPÍRITO SANTO NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA (1945-


1964)

A partir de 1943, começam a surgir as pressões pela


redemocratização do país e pelo fim do Estado Novo. Em Minas
Gerais, no mesmo ano, ocorre a manifestação que inaugura as
articulações da oposição contra a ditadura varguista,
consubstanciada no Manifesto dos Mineiros, texto produzido pela
elite política de Minas Gerais articulada com a de outros Estados,
contando com a assinatura de vários políticos que ficaram fora das
esferas de poder durante o Estado Novo.

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Pressionado por todos os lados, inclusive por apelos
nacionais e internacionais simultaneamente ao período
caracterizado pelo refluxo de regimes de cunho autoritário, no início
de 1945, Vargas tomou algumas medidas para acalmar seus
opositores: decretou anistia aos presos políticos e, em maio de 1945
lançou mão do Decreto-Lei nº 7.586, por meio do qual criara um
código eleitoral provisório, que regulamentaria as eleições
presidenciais e para a Assembléia Nacional Constituinte (função de
que se revestiria o Congresso Nacional). Esta Lei, também
11
conhecida como Lei Agamenon , introduziu na legislação eleitoral
brasileira a exigência de organização de partidos políticos em bases
nacionais. Para obtenção do registro eleitoral provisório, as
organizações partidárias deveriam atingir o critério mínimo de serem
apoiadas por listas de pelo menos 10 mil eleitores. Esse total devia
estar, por sua vez, distribuído em, pelo menos, cinco estados da
federação com não menos de 500 eleitores em cada um deles. A
referida exigência de caráter nacional para os partidos políticos seria
consagrada pela Constituição de 1946, o que viria a se repetir em
todos os textos constitucionais posteriores. (SCHMITT, 2000).
Durante a Terceira República (1945-1964), o TSE concedeu
registro provisório a 32 organizações partidárias. Todavia, entre os
anos de 1947 e 1952, 16 desses registros foram cancelados em
virtude, na maioria dos casos, do não cumprimento dos critérios
organizacionais pré-estabelecidos. Em 1946 outros três partidos
haviam se fundido e no contexto do Golpe de 1964, havia 13
partidos em atuação legal em todo o Brasil, mais o PCB que, desde
1947, atuava na clandestinidade (SCHMITT, 2000).
Ao longo dos dezenove anos de regime democrático, quase
todos os partidos que se consolidaram no plano nacional marcaram
12
presença na política capixaba , com especial destaque para o PSD,
a UDN, o PSP e o PTB. O Partido Social Democrático (PSD), criado
na perspectiva de reforçar a hegemonia das forças políticas
11
Este código ficou conhecido como Lei Agamenon, em referência ao seu
elaborador, o então ministro da Justiça, Agamenon Magalhães.
12
O Jornalista Rogério Medeiros escreveu uma série de matérias que foram
publicadas em 1982 no diário capixaba A Tribuna, que buscavam rememorar a
história dos partidos políticos brasileiros do período anterior ao Golpe de 1964.
Quando foram publicadas, o regime militar buscava consolidar o processo de
abertura, que resultaria no fim do bipartidarismo e a instauração de um novo
regime multipartidário, momento em que muitas legendas seriam retomadas.
Tais matérias estão disponíveis no site do Jornal on line Século Diário, de
propriedade do próprio Rogério Medeiros:
http://www.seculodiario.com.br/partidos/index.htm

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estaduais vinculados à Getúlio Vargas, surgiu já em 1945, tendo
como seu primeiro presidente o ex-interventor varguista Jones dos
Santos Neves. Junto com Jones formaram a Comissão Executiva o
vice-presidente Ary Vianna, o secretário Carlito Medeiros, um oficial
do Exército remanescente da Revolução de 30, que depois migrou
para o PSP; teve ainda como tesoureiro Sílvio Monteiro Avidos,
descendente de Jerônimo Monteiro, bem como o Secretário Geral
Eurico de Aguiar Sales, sobrenho do ex-presidente de Estado
Aristeu Borges de Aguiar (1928-1930), com carreira política de
projeção nacional, entre outros.
Além destes, figuraram como importantes nomes do Partido,
Atílio Vivacqua, pertencente a uma das famílias mais poderosas da
época, tal como Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, sobrinho do
13
ex-presidente Estado Jerônimo Monteiro, Henrique Novaes, Paulo
Rezende, Álvaro Castelo, Asdrúbal Soares, Lauro Ferreira da Silva
Pinto, Otaviano Santos, Luiz Ferreira de Lima Freitas, Judith Leão
14
Castelo Ribeiro , Cícero Alves, Odilon Castelo Borges, Américo
Aguiar, Pedro Seleme, Ildo Garcia, Honório Fraga, Placidino Passos,
Alfredo Antônio e Oto de Oliveira Neves, o maior latifundiário do
15
estado na época .
Nota-se que os políticos de grande expressão no Espírito
Santo se abrigaram no PSD, restando poucas lideranças de peso
para os demais partidos. Mesmo assim, a segunda maior força
política no Espírito Santo, a UDN, teve como principais fundadores
13
Denominação dada ao Governador de estado no contexto da Primeira
República (1889-1930).
14
Judith Leão Castello Ribeiro nasceu no município de Serra, em 1898, sendo
filha de João Dalmácio Castello e de Maria Grata Leão Castello, oriundos de
duas famílias tradicionais de origem portuguesa. Cursou a escola primária no
Município de Serra-ES, e em seguida prestou exame de admissão para o
Colégio do Carmo, em Vitória-ES, onde obteve seu diploma no Curso Normal.
Diplomada ainda muito jovem passou a lecionar no Ginásio São Vicente de
Paulo, na mesma cidade, onde estudaram várias figuras proeminentes do
cenário nacional, dentre elas, seus alunos, o ex-Senador João Calmon e o
jurista capixaba Clóvis Ramalhete, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal. No
Colégio São Vicente, durante quarenta anos ministrou cursos em diversas
áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Pedagogia, Psicologia,
Geografia, Didática entre outras. Após lecionar por vários colégios tradicionais
da capital capixaba, em 1947 foi a primeira mulher eleita como deputada
estadual no Estado do Espírito Santo, cargo no qual permaneceu por quatro
legislaturas consecutivas (1947-1950/1951-1954/1955-1958 e 1959-1962). Morreu
no Estado do Rio de Janeiro em 1982.
15
MEDEIROS, Rogério. Os Partidos no ES. Disponível em
<http://www.seculodiario.com.br/partidos/index.htm>. Acesso em 6 nov. 2011.

Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017 63


Eurico Rezende, Antônio Gil Vellozo, Fernando Lindenberg, Argeo
Lorenzoni, Rosendo Serapião, Eurico de Oliveira Neves, Adhemar
de Oliveira Neves, José Cupertino Leite de Almeida e João
16
Calazans, entre outros .
O PTB surgiu no mesmo ano sob a liderança de um militar,
Floriano Lopes Rubim. Este fator, mais a necessidade de fincar
raízes no interior, onde se encontrava a maior parte do eleitorado
17
capixaba, no período, tornou o PTB extremamente conservador
que, durante a maior parte do tempo, permaneceu como o terceiro
partido político local, tendo à sua frente apenas o PSD e a UDN.
Despontaram como importantes lideranças do PTB capixaba:
Rubens Rangel, Moacir Brotas, Mário Vello, Luiz Batista, José
Rodrigues de Oliveira, os irmãos José e Luiz Buaiz e os militares
18
Floriano Rubim e Isaac Rubim .
Todavia, as constantes lutas internas o levaram a fragmentar-
se em grupos e alas sempre cambiantes, culminando com a perda da
condição de terceira força política para o PSP. Mais tarde, no início da
década de 1960, essas lutas internas levaram a um grande racha e à
formação de duas novas agremiações partidárias - Partido Trabalhista
Nacional (PTN) e o Movimento Trabalhista Renovador (MTR).
O Partido Social Progressista (PSP) foi fundado por três
jovens lideranças políticas da época: Joaquim Leite de Almeida e
Harry de Freitas Barcelos, ambos Capitães do Exército, e Hélio
Carlos Manhães, radialista de Cachoeiro de Itapemirim, aos quais
vieram se juntar mais tarde os médicos Emir Macedo Gomes e Raul
Giuberti, tendo o último exercido o cargo de prefeito de Colatina. Os
dois últimos não começaram no PSP. Emir veio da UDN e Raul
Giuberti do PSD juntamente com Asdrúbal Soares. Na Grande
Vitória, o PSP não tinha nenhuma figura importante, espaço que era
16
MEDEIROS, Rogério. Os Partidos no ES. Disponível em
<http://www.seculodiario.com.br/partidos/index.htm>. Acesso em 6 nov. 2011.
17
Consta que foi um simples bilhete de Getúlio Vargas para Floriano Rubim
convocando-o para uma reunião no seu refúgio político em São Borja, no Rio
Grande do Sul, que fez nascer o PTB no Espírito Santo. Na companhia de Saturnino
Mauro (pai do deputado federal Max Mauro, que muito tempo depois viria a ser
governador do Estado) e na presença de Jones dos Santos Neves, Floriano ouviu
de Vargas o seu batismo trabalhista: - Tu vais organizar o PTB no Espírito Santo
juntamente com o Saturnino. E disse para Jones dos Santos Neves: - Tu vais
reestruturar o PSD. Para maiores esclarecimentos, ver: MEDEIROS, Rogério. Os
Partidos no ES. Disponível em <http://www.seculodiario.com.br/partidos/index.htm>.
Acesso em 6 nov. 2011.
18
MEDEIROS, Rogério. Os Partidos no ES. Disponível em
<http://www.seculodiario.com.br/partidos/index.htm>. Acesso em 6 nov. 2011.

64 Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017


coberto por Américo Bernardes da Silveira, prefeito de Vila Velha
19
por vários mandatos .
Nos anos 1945-1964, é consensual a idéia de que as
sociedades brasileira e capixaba haviam se tornado mais complexas
e hierarquizadas, deixando aos poucos de se enquadrar no binômio
senhor de terras e seus dependentes. Como já indicado, as eleições
no período anterior a 1930 baseavam-se em inúmeros expedientes,
como fraudes, falsificação de assinaturas, alterações de atas
eleitorais (instrumento de falsificação chamado de bico de pena),
dentre outros (NICOLAU, 2002).
Após a redemocratização de 1945, foram criadas diversas
regras visando diminuir as falcatruas eleitorais: foi restabelecido o
voto secreto, instituído para as eleições constituintes de 1934,
enquanto as mesas receptoras e comissões legislativas perderam a
atribuição de apurar os resultados eleitorais; foi também criada a
justiça eleitoral, como instância independente, que teria a
responsabilidade de organizar os pleitos e apurar os votos.
Embora ainda sobrevivessem as influências dos chefes
políticos e dos clãs familiares locais, paralelamente, emergia a
importância de lideranças personalistas, ao tempo em que a política
começava a girar mais em torno dos partidos, organizações que
estavam começando a se institucionalizar. Isto é, aumentava a
competitividade eleitoral em pleitos mais lisos e democráticos e
surgiam as condições de incertezas típicas de processos eleitorais
(SILVEIRA, 1998; LAVAREDA, 1991).
Apesar desse relativo fortalecimento das instituições
partidárias, neste contexto, o personalismo atingiu seu auge com a
emergência de líderes nacionais que gozavam de grande carisma
entre as massas populares, tais como Getúlio Vargas, Ademar de
Barros, Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda; e, no
plano regional, Carlos Lindenberg, Atílio Vivácqua, Jones dos
Santos Neves, Raul Gilberti, Francisco Lacerda de Aguiar. Ocorre
que este personalismo não se dava mais aos moldes tradicionais, a
partir de contatos e compromissos definidos caso a caso. A proteção
do líder passava cada vez mais a ser implementada por intermédio
de medidas governamentais que beneficiavam as grandes massas,
via Estado. Assim, o controle dos aparelhos regionais de Estado
passa a figurar como elemento sine qua non do processo político.
No caso específico da realidade capixaba, embora ainda
19
MEDEIROS, Rogério. Os Partidos no ES. Disponível em
<http://www.seculodiario.com.br/partidos/index.htm>. Acesso em 6 nov. 2011.

Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017 65


mantendo a base econômica primário-exportadora baseada no café,
com a elite política correspondente aparelhada nos espaços de poder,
o que impedia saltos qualitativos em termos desenvolvimentistas, o
Espírito Santo também passava por transformações, especialmente no
decorrer das décadas de 30, 40 e 50, que impactaram na sua face
político-social em duplo sentido. De um lado, ampliou a composição
dos grupos políticos pré-existentes e permitiu que as tendências
divergentes ou rivais entre si ocupassem espaços partidários distintos
no sistema partidário em formação. De outro, houve o surgimento de
novas forças políticas, formadas no seio da pequena produção rural e
urbana, as quais passaram a reivindicar e adquirir espaços nas esferas
de decisão (SILVA, 1995).
O efeito dessas transformações foi a formação de um
espectro político bem mais heterogêneo e fragmentado, cujo
20
substrato básico estava constituído conforme quadro abaixo:

TABELA 1 – Síntese da composição social do Espírito Santo – 1945-1964


COMPOSIÇÃO SOCIAL DO ESPÍRITO SANTO – 1945-1964
a) Forças agrofundiárias - que conseguiram conquistar determinados espaços
junto ao aparelho regional de Estado e que, no decorrer do tempo foram,
gradativamente, ampliando os espaços na composição com João Punaro
Bley, mas que estavam em decadência;
b) Forças Mercantis-exportadoras - tanto aquelas que haviam sido
destronadas no contexto da revolução de 30, quanto aquelas que haviam se
rearticulado em torno da Gestão Punaro Bley;
c) Forças constituídas no seio da pequena produção rural e do complexo
terciário dos núcleos urbanos do interior do Estado a ele vinculados - que
representava a grande massa populacional, dada a distribuição demográfica
do Estado. Grande parte desse contingente era oriunda da colonização
estrangeira estimulada nos anos finais do século XIX e início do XX, em
especial nos Governos de Muniz Freire, tal como indicado no início deste
capítulo;
d) Forças constituídas no seio das classes populares urbanas, em especial do
setor terciário da economia, localizadas em Vitória, Cachoeiro do Itapemirim
e Colatina e suas respectivas imediações;
e) Forças urbano-industriais/conservadoras emergentes - adeptos de políticas
voltadas para o desenvolvimento urbano-industrial cuja materialidade se
deu, principalmente, a partir da Interventoria Jones dos Santos Neves
(1943-1945) que, apesar da não continuidade de seu projeto
desenvolvimentista, também atuará como um importante lócus de pressão
que mais à frente se reunirá na Federação das Industrias.
FONTE: Elaboração própria com base nos dados de Silva (1995) com algumas
modificações.

20
Este esquema foi elaborado a partir de Zorzal (1995). Porém, pelo fato de termos
uma compreensão um pouco diferente no que tange à composição sócio-política
do Espírito Santo do período 1945-1964, imprimimos algumas modificações.

66 Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017


Seria a partir desse campo social que as diversas
agremiações partidárias do período se formariam, com destaque
para dois grupos de interesses principais que, com o tempo, se
tornaram cada vez mais conflitantes, no caso os setores
agrofundiários e os urbano-industriais.
Nesse cenário político-social, o PSD despontou como o
principal partido do período democrático, pois aglutinou a maior
parte das forças políticas em disputa. Isso ocorreu graças às
articulações do então Interventor Jones dos Santos Neves, primeiro
presidente do partido, que adotou a estratégia de agregar o maior
número possível de lideranças e suas respectivas correntes e
tendências, no sentido de manter o controle sobre o aparelho
regional de estado, bem como seguir a orientação de construir
agremiações partidárias fortes e de abrangência nacional.
Quanto à composição das novas agremiações partidárias,
nota-se que remanescentes dos grupos políticos que
protagonizaram o cenário político durante a Primeira República e
que haviam se acomodado na estrutura de poder montada na Era
Vargas (1930-1945), retomam os seus espaços, ou pelo menos
parte deles.
É o caso de Carlos Lindemberg e Atílio Vivácqua. O primeiro,
como salientado, era líder pertencente à antiga corrente jeronomista,
o qual expressava e traduzia os interesses das forças agrofundiárias
do Espírito Santo, de base cafeeira, em especial do sul. Tal como já
apontado anteriormente, era membro de uma das famílias mais
tradicionais do estado – os Sousa Monteiro, radicados em Cachoeiro
de Itapemirim –, nascendo, portanto, no seio da vida política
espíritossantense. Os membros dessa oligarquia tiveram presença
marcante na vida política capixaba. Desde seu avô, o Capitão
Francisco de Sousa Monteiro, passando pelos tios maternos,
Coronel Antônio de Sousa Monteiro (Deputado Estadual e
Presidente da Assembléia), Jerônimo de Sousa Monteiro
(Governador – 1908/1912 –, Deputado Federal e Senador),
Bernardino de Sousa Monteiro (Governador – 1916/1920 – e
Senador), por seu primo, Nelson Goulart Monteiro (Deputado
Federal), entre outros nomes. Assim, Carlos Lindenberg acabou
herdando, além do ethos político constituído por sua família, as
desavenças criadas por ela ao longo dos anos (SILVA, 1995).
Embora Carlos Lindenberg tenha-se candidatado a Prefeito
do Município de Cachoeiro de Itapemirim, em 1920 (vide tópico
anterior), sua carreira política se iniciou efetivamente após a
Revolução de 1930, quando se tornou peça-chave nas articulações

Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017 67


em torno da organização do primeiro PSD em 1934, sendo eleito
como Deputado Federal Constituinte e ocupando cargos de
Secretário da Fazenda e de Agricultura Terras e Colonização do
Governo de João Punaro Bley. E em 1945, ao lado de Jones dos
Santos Neves e Fernando Abreu, colaborou com a fundação do
novo PSD, sendo eleito Deputado Federal Constituinte para a
legislatura iniciada em 1946.
Já Atílio Vivácqua era membro de uma família de imigrantes
italianos que se fixou no atual Município de Muniz Freire (centro-sul
do Estado) em fins do século XIX, que prosperaram com o comercio
do café. O seu ingresso na carreira política se deu como vereador no
Município de Cachoeiro do Itapemirim, onde exercera, mais tarde, o
cargo de Prefeito, ambos na Primeira República. Nesta mesma época
militara nas fileiras bernadinistas. Além de alguns cargos técnicos no
Governo Florentino Avidos (1924/1928), foi Secretário de Educação
na Gestão Aristeu Borges de Aguiar (1928-1930), em que idealizou e
executou uma ampla reforma educacional considerada revolucionária
para a época. Durante os anos 1930 atuou como advogado, porém
sem se desligar totalmente da política. Foi membro ativo do Partido da
Lavoura, que fora oposição ao Governo Constitucional de João
Punaro Bley (1934/1937), pelo qual fora eleito deputado estadual nas
eleições de 1935. Em 1945, inicialmente no PSD, foi eleito Senador
Constituinte, sendo o candidato mais votado.
Portanto, o PSD reuniu nas suas fileiras, políticos de
diferentes matizes, reproduzindo-se também na realidade capixaba,
o perfil clássico atribuído ao PSD como “[...] o partido da oligarquia
modernizante - que reunia os interesses dos donos das terras e da
burguesia comercial [...]” (BENEVIDES, 1989, p. 33).
Todavia, essa concentração de várias forças políticas em um
único partido não duraria muito tempo. Além do rompimento de
Vivácqua, divergências contemporizadas ante a necessidade de se
criarem partidos nacionais fortes e de manter a hegemonia das
elites regionais, se exacerbaram logo no primeiro pleito eleitoral
ocorrido em 1947 no Estado. As conversações internas para a
escolha de quem seria candidato da sigla a governador redundou na
debandada de diversos elementos do PSD. Atílio Vivacqua tentou
apoderar-se do partido, mas contra sua pretensão levantaram-se os
mais legítimos herdeiros de Jerônimo Monteiro: Carlos Lindenberg e
Fernando de Abreu, que lançaram inicialmente o General Tristão de
21
Araripe a Governador e, com a desistência deste , optaram pelo
21
O General Tristão de Araripe, capixaba e muito ligado ao então Presidente

68 Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017


próprio Carlos Lindenberg.
Vivácqua e seu grupo fundam, então, o Partido Republicano
(PR), agremiação política criada pelo ex-Presidente Arthur
Bernardes, a partir de MG, para concorrer a governador no pleito de
1947 (BENEVIDES, 1981). Além dessa, outras cisões foram
ocorrendo com o passar do tempo, tal como a de Asdrúbal Soares e
Raul Gilberti, que se desvincularam para fundar o PSP, já em 1952,
com vistas ao pleito de 1954.
Assim, o PSD permaneceu durante todo o período como a
grande força partidária, mas decadente em termos eleitorais. Em
parte porque não acompanhou o padrão populista de campanha
eleitoral, algo melhor incorporado pela frente de oposição formada por
variados partidos que se convencionou chamar de Coligação
Democrática. A esse respeito, o trabalho de Oliveira (2010) é
revelador quando aponta para a maior assimilação, por parte desta
frente partidária, da capacidade de aproximação com as camadas
menos abastadas da sociedade, bem como da utilização dos meios
mais modernos de comunicação de massa da época, nas duas
campanhas em que Francisco Lacerda de Aguiar saiu vencedor (1954
e 1962), nas quais houve a transformação de um desconhecido
fazendeiro do Sul do estado em um fenômeno eleitoral e de massas.
Além disso, o PSD também não estabeleceu, durante o
período democrático, nenhuma coalizão permanente e duradoura
com outra agremiação ou grupo político. Só em nível de exemplo e
considerando apenas as disputas para as eleições majoritárias do
22
período, em 1947 , o PSD compôs com a UDN e elegeu Carlos
Lindenberg como Governador.
No pleito seguinte, em 1950, o PSD compôs com o PTB e
venceu com Jones dos Santos Neves. Do outro lado, a partir deste
pleito de 1950 vencido por Jones, os oposicionistas montaram uma
ampla coalizão composta por 6 partidos que, a partir de então, se
convencionou chamar de Coligação Democrática e que protagonizou
as disputas seguintes com o PSD e com os poucos grupos a ele

Eurico Dutra, impôs como condição para a sua candidatura o consenso em


torno entre aqueles que despontavam como as duas grandes lideranças
políticas do Espírito Santo da época: Lindenberg e Vivácqua. Diante das
divergências criadas, desistiu da candidatura no dia 26 de dezembro de 1946,
sendo que o pleito ocorreria no dia 19 de janeiro.
22
Nas eleições gerais de 19 de janeiro de 1947, foram escolhidos vinte
governadores de estado os membros das Assembléias Legislativas, um terço
do Senado Federal, além de eleições suplementares para a Câmara dos
Deputados Federais.

Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017 69


vinculados. Além da UDN, que durante a Gestão Lindenberg (1947-
1951) havia rompido com o Governo ante o programa de contenção
de gastos empreendida, a Coligação Democrática contou ainda com o
PR, o PSP, o PDC, o PRP e o PRT, que lançaram o nome de Afonso
Schwab (UDN) para o cargo de Governador.
Tal como aponta Silva (1995), apesar da grande frente
partidária formada pela Coligação Democrática, não foi ainda nesse
pleito que conseguiu derrubar a hegemonia pessedista. Além da
vitória nas eleições majoritárias, o PSD, em grande medida ajudado
pela aliança com o PTB, obteve maioria tanto na Câmara dos
Deputados (4 dos 7 representantes), quanto na Assembléia
Legislativa, com resultado muito semelhante às eleições de 1947.
À frente do Governo, Jones dos Santos Neves (1951-1954)
retomou, segundo visão de Silva (1995), o que havia introduzido no
seu primeiro Governo (1943-1945), isto é, o planejamento como
linha mestra para viabilizar sua ação administrativa. Inspirado pelo
que na Europa se convencionou chamar de welfare state, o seu
segundo governo instituiu o Plano de Valorização Econômica do
Espírito Santo, que definiu a política econômica, norteando os
investimentos do Estado. Segundo esse plano, 39% da receita
estimada em um quinquênio seriam destinados à infraestrutura,
sendo que desse total 35% foram destinados a investimentos no
aparelhamento e ampliação do porto de Vitória; 24% para aumento
do suprimento de energia elétrica (Usina Rio Bonito); ampliação de
vias rodoviárias, quando foram abertos mais de 150 Km de estradas,
sendo pavimentados 100 Km com asfalto, numa época em que todo
o Brasil só possuía 2.500 Km de estradas pavimentadas; além de
construção de pontes, prédios públicos e obras urbanísticas em
geral, na cidade de Vitória; destinou também 11% ao fomento da
produção agrícola. Com estas e outras ações, o governo Jones
introduzia o processo de mudança em uma economia que era
totalmente agrícola para direcioná-la nos rumos da industrialização
(VASCONCELLOS, 2010).
A iniciativa jonista só não foi mais impactante por causa da
oposição intransigente sofrida pelo governo no âmbito do poder
legislativo. Além disso, o seu sucessor, Francisco Lacerda de Aguiar
(1955-1958), tinha uma visão mais voltada para o setor rural, tendo,
por isso, suspendido os projetos iniciados por Jones (FRANCO &
HEES, 2005; SILVA, 1995). A tentativa jonista de colocar
alternativas sócio-econômicas ao desenvolvimento do Estado, que
não a total dependência do café, acabou sendo neutralizada na
gestão governamental de Francisco Lacerda de Aguiar (1955-1959),

70 Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017


uma vez que nesse período houve a manutenção das atividades
tradicionais do Estado (SILVA, 1995).
Já em 1954, o PSD estava eminentemente dividido em
relação ao nome que concorreria ao pleito, em que dois eram os
postulantes: Ary Viana, o preferido do então Governador Jones de
23
um lado e, de outro lado, Eurico Sales , considerado de maior
consenso dentro do Partido. Neste pleito, que acabou concorrendo
com Eurico Sales, figura que possuía trânsito livre nas duas
principais alas do partido, o PSD se aliou somente ao PDC, partido
criado pelo ex-interventor João Punaro Bley em 1947, e com parte
da UDN liderada por Emílio Zanotti. A outra parte de udenistas,
comandada por Eurico Rezende, permeneceu apoiando o candidato
da Coligação Democrática, Francisco Lacerda de Aguiar, que saiu
vencedor. O impasse interno e a dificuldade de trazer toda a UDN
para a aliança acabou provocando a sua primeira derrota para
Francisco Lacerda de Aguiar (sem partido).
Neste mesmo pleito, ficaram evidentes as cisões no interior
do próprio PSD, especialmente entre os seus dois principais
caciques: Carlos Lindenberg – que expressava os interesses
agrofundiários, especialmente do café –, e Jones dos Santos Neves
– representante da emergente fração industrial e demais forças
políticas identificadas com o processo de industrialização em curso
no país –, cada um visualizando ritmos distintos para o processo de
desenvolvimento econômico e industrial do Estado.
Tais cisões existiam desde a fundação do PSD, porém se
exacerbaram como conseqüência, entre outras coisas, da forma
como Jones conduziu o Governo, visto como eficiente do ponto de
vista administrativo, mas centralizador e autoritário politicamente, e
pelo fato de Jones não ter reforçado os laços de solidariedade
24
política com os líderes locais , algo fundamental para o equilíbrio
23
Eurico de Aguiar Sales era membro de uma família de políticos da região central.
Ingressou na carreira política como oficial de gabinete no Governo de seu tio, Aristeu
Borges de Aguiar e se tornou um dos políticos capixabas de grande projeção nacional
durante a República. Ocupou importantes postos da burocracia estatal e em vários
níveis, como Secretario Estadual de Educação e da Cultura no período do Estado
Novo, quando Jones dos Santos Neves fora interventor; Deputado na Assembléia
Nacional Constituinte de 1946; Deputado Federal na legislatura iniciada em 1950, e
mais à frente, no governo de Juscelino Kubitschek, foi nomeado para a direção da
Superintendência de Moeda e Crédito (órgão que tinha as mesmas funções que hoje
tem o Banco Central do Brasil) e o Ministério da Justiça e Negócios Interiores (1957),
entre vários outros cargos.
24
O Governo de Jones dos Santos Neves, segundo a opinião geral dos analistas,
foi mais eficiente do que o de Carlos Lindenberg em matéria gestão administrativa

Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017 71


político da época no Espírito Santo, tal como fizera Carlos
Lindenberg, repercutindo na coesão interna da sigla.
Neste mesmo pleito de 1954, enquanto a cisão no PSD se
mostrava cada vez mais evidente, se cristalizou um pólo aglutinador
das oposições existentes desde 1947, reunidas na que ficou
conhecida como Coligação Democrática (PR, PSP, UDN, PDC,
PRP, PRT) que acabou se fortalecendo, levando à vitória de
Francisco Lacerda de Aguiar (vulgo Chiquinho). Inicialmente esse
elemento aglutinador foi o PR, liderado por Atílio Vivácqua,
passando, a partir do pleito de 1954, a ser o PSP encabeçado por
Asdrúbal Soares e, nas disputas seguintes, por Raul Gilberti, além, é
claro, da própria figura de Lacerda de Aguiar que com o tempo se
tornou o principal elemento catalisador da Coligação Democrática.
Em 1958 o PSD retorna ao poder, após a complicada gestão
de Francisco Lacerda de Aguiar (1955-1958) no que tange às
relações com sua base de apoio, quando ocorreu o rompimento
entre o Governador e quase todos os partidos que compunham a
Coligação Democrática. Novamente com Carlos Lindenberg, o PSD
venceu, estabelecendo uma aliança com o PSP de Raul Gilberti,
que se desligara da Coligação Democrática na gestão de Chiquinho
(1955-1958).
A partir dos anos finais da década de 50, acentuava-se,
paulatinamente, o aparelhamento do PSD por elementos
representantes dos setores mais industrializantes, neste momento
respaldados pela fortalecida Ala Moça. Por conta disso, indicou
Jones dos Santos Neves como candidato ao Governo em 1962, no
último pleito da dita República Populista. Durante as conversações,
cometeu uma série de erros, entre os quais o de fechar os espaços
e não abrir diálogo mais flexível com o PSP, partido que, pelas
vitórias conquistadas nas urnas, demonstrou ser o fiel da balança do
jogo político capixaba (SILVA, 1995; OLIVEIRA, 2013), naquela
circunstância, cujo controle havia passado para Raul Gilberti que,
25
além de preferido do então Governador Carlos Lindenberg em

e realizações de obras. Porém, foi desastroso no plano político. Desentendeu-se


imediatamente com o seu aliado o PTB e não correspondeu às lideranças do
interior, que eram a grande sustentação eleitoral do partido. Ilustrativamente,
consta que, diferentemente de Carlos Lindenberg, Jones recebia os
correligionários do interior em pé, a fim de abreviar à sua permanência. E era
ainda avesso às orientações vindas dos chefes políticos do interior.
25
A escolha de Jones foi precedida de vários lances dramáticos dentro do PSD.
Na convenção partidária em que ele foi escolhido, o governador Carlos
Lindenberg defendeu a candidatura do seu vice-governador Raul Giuberti, sob

72 Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017


concorrer ao pleito, era importante figura política do Município de
Colatina, norte do Estado, à época uma das regiões mais dinâmicas
política e economicamente do Espírito Santo.
Ao fim das articulações, o PSD havia angariado apoio apenas
do nanico PTN, que acabara de ser formado a partir de uma
dissidência do PTB liderada por Floriano Rubim. Todas essas
questões levaram à recomposição da Coligação Democrática,
inclusive com o PSP e à conseqüente vitória de Francisco Lacerda
de Aguiar contra o candidato pessedista, Jones dos Santos Neves.
Segundo Silva (1995), a eleição de 1962 representou a mais
fragorosa derrota do PSD, uma vez que, além dos cargos
majoritários, reduziu bastante seus espaços na Câmara e na
Assembléia. Para o Senado, o candidato do PSD, Carlos
Lindenberg, que havia se desincompatibilizado do Governo do
Estado para concorrer ao pleito, ficou em terceiro lugar na disputa
do cargo, perdendo para Raul Gilberti (2º colocado) e para o
udenista Eurico Rezende, que ficou com a vaga.
O quadro abaixo, apesar de esquemático, mostra as alianças
partidárias verificadas nas eleições do período 1945-1964.
Observam-se as aproximações dos principais partidos nos pleitos
majoritários dos anos 1945-1964, no Espírito Santo. Nota-se o que
se observou ao longo desse tópico, isto é, a tendência à polarização
entre o PSD, de um lado, e a Coligação Democrática, de outro,
apesar de tais aproximações terem variado conforme os cálculos
que as principais lideranças faziam no sentido de manterem suas
posições ou terem aumentadas suas áreas de atuação/influência.

alegação de que era necessário manter a aliança com o PSP. Todavia,


Lindenberg só contava com o apoio de Dirceu Cardoso e o restante do Partido
havia optado por candidatura própria. Internamente ao PSD, dois postulavam
concorrer: Jones dos Santos Neves, que tinha em e José Parente Frota e na Ala
Moça representada por Christiano Dias Lopes Filho, seus principais defensores.
O outro postulante era Carlos Alberto Lindenberg Von Schilgen, o Carlito, que
exercia no Governo do tio a Diretoria de Saúde (estrutura que antecedeu a
Secretaria de Saúde). Carlito perdeu por dois votos. Consta que, na ocasião,
Carlos Lindenberg, em cujo chapéu na falta de urna no PSD foram depositados
os votos dos convencionais, teria encerrado a convenção com palavras
pessimistas, certo da derrota do seu partido: “- Eu não me responsabilizo pelo
resultado da eleição. Os senhores que escolheram, que assumam a
responsabilidade. Está encerrada a sessão”.

Historiæ, Rio Grande, 8 (1): 53-81, 2017 73


TABELA 2 – Síntese das alianças político-partidárias – Eleições
Majoritárias no ES - 1945-1964.
ANO Candidaturas Candidaturas oposicionistas/Alianças
situacionistas/Alianças
1947 Carlos Lindenberg (PSD) Atílio Vivácqua (PR)
(PSD/UDN*) (PR/PDC - Coligação Democrática)
1950 Jones dos Santos Neves Afonso Schwab (UDN)
(PSD) (UDN/PR/PSP/PDC/PRP/PRT – Coligação
(PSD/PTB) Democrática)
1954 Eurico de Aguiar Sales Francisco Lacerda de Aguiar (Sem Partido)
(PSD) (PSP/PTB/PR/PRP – Coligação
(PSD/PDC/UDN**) Democrática)
1958 Eurico Rezende (UDN) Carlos Lindenberg (PSD)
(UDN/PTB/PRP/PR – (PSD/PSP)
Coligação Democrática) Floriano Rubim
(PTB)
1962 Jones dos Santos Neves Francisco Lacerda de Aguiar (PSP)
(PSD) (PSP/UDN/PRP/PTB/PDC/PRT/PTN/PSB –
(PSD/PTN) Coligação Democrática)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados de Silva (1995)
*Sob a liderança de Olimpio Monteiro, apoiou oficialmente a candidatura PSD, mas
parte do partido, comandada por Eurico Rezende, José de Medeiros Correia, entre
outros nomes, apoiaram a candidatura Atílio Vivácqua.
** Mais uma vez a UDN foi dividida para o pleito: oficialmente, agora sob a liderança
de Eurico Rezende e Dulcino Monteiro dos Santos, apoiou a Coligação Democrática,
mas a outra parte (liderada por Emílio Zanotti) se aliou ao PSD.

A Tabela também mostra as movimentações dos vários partidos:


em muitos casos, o mesmo partido participou tanto da campanha
situacionista quanto da oposicionista, como é o caso da UDN nos
pleitos de 1947 e 1954. Outro foi o PSP que, até às vésperas das
eleições de 1962, participava das conversações como componente da
base aliada do candidato do PSD, Jones dos Santos Neves. Porém,
nas vésperas do registro das chapas, desentendimentos quanto aos
espaços que ocuparia na campanha pessedista e no possível futuro
governo Jones, levaram ao rompimento, passando o PSP a recompor a
Coligação Democrática, com o candidato Francisco Lacerda de Aguiar,
eleito novamente naquele ano.
Em relação às divisões partidárias internas, do mesmo modo que
na realidade nacional, ao término do período democrático, em 1964,
praticamente todas as agremiações partidárias de peso, no Espírito
Santo, possuíam sérias cisões internas. No quadro abaixo, podem ser
observadas tais divisões nos quatro principais partidos - PSD, PSP,
PTB e UDN, sendo importante ressaltar que se trata apenas de uma
generalização, uma vez que as composições variaram bastante no
decorrer do período, o mesmo ocorrendo com as cisões.

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TABELA 3 – Divisões internas das principais agremiações
partidárias do Espírito Santo – 1960/64.
PSD UDN PSP PTB
Carlos Eurico Rezende Lourival de Floriano Rubin
Lindenberg Afonso Schwab Almeida Isaac Rubin
(Setores agro- Tendência a apoiar Asdrúbal Soares (Ala mais
fundiários) a Coligação Raul Gilberti conservadora. Em
Democrática* (Grupos 1960, fundam o
emergentes PTN)
X do norte do estado: (Setores da
X compuseram com burocracia e
pessedistas e com militares) – mais
Jones dos Fernando a Coligação próximos ao PSD.
Santos Neves Lindenberg Democrática)
José Parente Olimpio Monteiro X
Frota Abreu X
Ary Viana Emílio Zanotti Rubens Rangel
(Setor Industrial (Maior aproximação Wilson Cunha (Possuía algumas
emergente) com o PSD) Cel. Carlos ligações com o
Marciano de PSD, porém esteve
Medeiros algumas vezes ao
X (Ala militar/anti- lado da Coligação
pessedista, mais Democrática, a
Christiano Dias próximos à Lacerda exemplo de 1962)
Lopes de Aguiar)
Carlito von X
Schilgen, X
Élcio Alvares, Rubens Gomes
Mário Nicoletti, José Cupertino Mario Gurgel
Manoel Soares, Leite de Almeida Berredo de
Francisco Roberto Vivacqua Menezes
Soares, Joaquim Leite de Ramon de Oliveira
Guilherme Aires Almeida (Ala progressista -
José Carlos da (“Ala Nova” – mais Em 1960, fundam o
Fonseca próximos à Lacerda MTR)
(“Ala Moça”, mais de Aguiar) (Setores urbanos.
alinhados com Compuseram o
Jones dos Santos governo Chiquinho)
Neves, embora
pudessem
compor com
Carlos
Lindenberg)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados de Silva (1995)
*Embora no pleito de 1954 tenha apoiado o candidato do PSD, Eurico Sales, após a
vitória de Chiquinho (Coligação Democrática), a UDN passou a integrar por completa
a base de apoio do Governador.

Assim, pode-se concluir que todos os partidos do período


sempre estiveram extremamente divididos por grupos liderados por
determinados elementos detentores de respaldo político-eleitoral, o

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que tornava indispensável construção de alianças eleitorais bem
como coalizões de governo com cada liderança, levando-se em
consideração a sua região e os respectivos grupos de interesses que
representavam. Assim, pelos dados indicados, é possível reiterar a
tese de Silva (1995) e Pereira (2004) que advogam a idéia de que
havia a necessidade de articular com líderes locais para angariar os
votos do interior do Estado. Isto é, o Espírito Santo, que teve sua
ocupação iniciada no século XVI pelos lusitanos, teve muitas
dificuldades de integrar suas quatro principais regiões: a da capital e
suas imediações, o sul, o norte, e a região serrana. Segundo a
interpretação, com o passar do tempo, interesses muito divergentes
estabeleceram-se em cada uma delas: a oligarquia cafeeira do sul;
pequenos proprietários enquadrados numa agricultura familiar de
imigrantes alemães e italianos na região serrana; a elite comercial e
os burocratas na capital e, mais tarde, os madeireiros, cafeicultores do
norte e a insipiente indústria. Com essa divisão, a estabilidade política
do Estado dependeria da capacidade de se articular com esses
26
grupos de interesses locais .
Nesse sentido, o PSD foi bem sucedido em 1947, 1950 e
1958 e a Coligação Democrática obteve êxito nas duas ocasiões em
27
que Lacerda de Aguiar saiu vencedor: 1954 e 1962 , quando foi
construída uma ampla coalizão capaz de abarcar um amplo
espectro de interesses que se expressavam nas várias siglas que
compuseram a Coligação Democrática nesses pleitos. Além disso,
os dados mostram que tais alianças eram construídas sem nenhuma
perspectiva programática e/ou ideológica. Eram articuladas pleito a
pleito, sem a garantia de que elas pudessem se perpetuar. Não é
por outro motivo que Silva (1995) e Pereira (2004) defendem a tese
de que o caráter oligárquico se mantinha como principal marca das
26
Sobre esse assunto, alguns estudos mostram que o êxito eleitoral ainda nos dias
de hoje depende muito da articulação que se faz com as lideranças do interior, onde
ainda se encontra a maior parcela do eleitorado. Sobre isso, ver: PEREIRA, André
Ricardo Valle Vasco. Por baixo dos panos: governos e assembléias no Brasil
Republicano. 2004. 239 f. Tese (doutorado em Ciência Política) – Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004; OLIVEIRA, Ueber
José de. Desempenho político-eleitoral do Partido dos Trabalhadores, no
Espírito Santo, nas eleições de 1982 a 2002. 2008. 326 f. Dissertação (Mestrado
em História) – Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações
Políticas, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2008.
27
Sobre as vitórias de Francisco Lacerda de Aguiar, ver: OLIVEIRA, Ueber José de.
Desenvolvimento urbano-industrial e transformações político-eleitorais no Brasil e
no Espírito Santo (1950-1990). In. Siqueira, Maria da Penha Smarzaro (Org.).
Desenvolvimento brasileiro: alternativas e contradições. Vitória: Grafitusa, 2010.

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disputas políticas no Espírito Santo. Sem entrar nos méritos da
questão, o que ultrapassaria os objetivos do presente artigo,
defendem ainda a idéia de que a principal causa para tal fenômeno
foi o fato de o estado ter mantido a base primário-exportadora da
sua economia, uma vez que se inseriu tardiamente no processo de
industrialização, quando o Brasil, em especial a Região Sudeste, já
estavam em um grau bastante avançado.

O GOLPE DE 64 NO ESPÍRITO SANTO

Em termos regionais, no momento da instauração do Golpe


de 1964, o Espírito Santo era governado por Francisco Lacerda de
28 29
Aguiar , eleito em 1962, tendo vencido Jones dos Santos Neves ,
ex-interventor de Vargas (1943-1945) e ex-governador (1951-1954).
Ao contrário do que ocorrera em vários Estados e com diversos
governadores, Francisco Lacerda de Aguiar não foi deposto
imediatamente após a eclosão do movimento político-militar de
1964. Por conta de sua adesão, mesmo que tardia, o político
permaneceu no poder. Todavia, na medida em que o Regime se
perpetuava, passando a reorientar os rumos políticos e econômicos
do país, o Governo Chiquinho passa a representar um sério
obstáculo aos anseios, tanto do regime autoritário, quanto das elites
regionais que a ele passam a se alinhar.
E foram exatamente essas forças políticas regionais, as mesmas
identificadas com os setores urbano-industriais, reunidas em torno do
antigo PSD, doravante inseridas na Arena, que haviam perdido o pleito,
em 1962, para Lacerda de Aguiar, que passaram a articular ações, a
partir de maior aproximação com o Regime Militar, visando a retirá-lo do
Governo, lançando mão de uma verdadeira Cruzada Anti-Chiquinho,
que redundaram na sua deposição no início do ano de 1966, dando
início a um novo momento institucional no Brasil.

28
Francisco Lacerda de Aguiar foi governador do Espírito Santo em duas
oportunidades: uma, entre 1954 e 1958; e outra, entre 1963-1966.
29
Jones dos Santos Neves governou o Espírito Santo em duas oportunidades: uma,
como interventor, entre os anos de 1943/1945, substituindo João Punaro Bley, que
ocupara o cargo de 1930 a 1943. Outra, depois de eleito senador da República para a
legislatura 1945/1950, quando retornou ao Palácio Anchieta para o segundo mandato
a frente do executivo estadual entre os anos de 1950 e 1954.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente artigo, foi feito um esforço de identificar os


impactos ou rebatimentos na realidade política capixaba, das
mudanças institucionais verificadas no plano nacional,
especialmente no contexto da República até o Golpe de 1964.
Observou-se que a Primeira República fora dominada, inicialmente,
por um agrupamento oriundo do antigo Partido Liberal do Império,
no caso Moniz Freire (PRC), seguida da cristalização, à frente do
poder do estado, de uma oligarquia, tendo à frente os Souza
Monteiro, representantes das forças mercantis-exportadoras e
agrofundiárias, respectivamente, tentaram, cada um a seu modo,
proporcionar saltos qualitativos ao desenvolvimento econômico
capixaba, dentro daquilo que denominamos de coalizão de
possibilidades (VILASCHI, 2011).
Após a Revolução de 30, foi nomeado Interventor para o
Espírito Santo o Capitão do Exército João Punaro Bley que, sendo
um elemento alijado das rivalidades políticas locais, teve habilidade
para acomodar as duas principais forças políticas. Se, para muitos
estudiosos, não é considerado um governo que teve a capacidade
de gerar transformações substanciais na economia capixaba, teve o
mérito de colocar em ordem as suas finanças, bem como dotar o
Estado, parcialmente, de um suporte técno-financeiro capaz de
impulsionar e economia regional nos anos posteriores. O seu
sucessor, Jones dos Santos Neves, teve o mérito de propor um
projeto modernizante para a economia capixaba em bases
industriais e planejamento estratégico, sendo mais um caso passível
de enquadrar-se no modelo de Coalizão de possibilidades
(VILASCHI, 2011), tal como Moniz e Jerônimo. Importante ressaltar
que o projeto Jonista só não foi à frente por conta da hegemonia dos
grupos agrofundiários, que resistiam tenazmente a qualquer
transformação mais substancial na ordem econômica, bem como no
modo de conduzir o Estado.
A democracia do período 1945-1964 se inicia, no Espírito
Santo, com o amplo domínio do PSD, o qual abrigou as principais
lideranças do cenário político capixaba. A partir de 1947, por
ocasião das primeiras movimentações políticas para o pleito que
ocorreria naquele ano, houve algumas cisões na sigla. Figuras tais
como Atílio Vivácqua, impossibilitado de hegemonizar o PSD,
fundam o PR local. Outras importantes lideranças, a exemplo de
Asdrúbal Soares, Raul Gilberti e Francisco Lacerda de Aguiar,
também se desvincularam do PSD que, articulados a outros

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partidos, compuseram a chamada Coligação Democrática que, a
partir daquele pleito, passou a polarizar a política do Estado com o
PSD até o Golpe de 64 e a posterior extinção do multipartidarismo e
a fundação do bipartidarismo, cujos realinhamentos das elites locais
em um novo cenário, são assuntos para outro artigo.

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Recebido em 17/03/2017
Aprovado em 05/08/2017

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