Aula 10 - o Ciclo Do Ácido Cítrico p.2
Aula 10 - o Ciclo Do Ácido Cítrico p.2
Aula 10 - o Ciclo Do Ácido Cítrico p.2
AULA
ser regulada
Andrea Da Poian/Debora Foguel/Marilvia Dansa
de Alencar Petretski/Olga Lima Tavares Machado
Meta da aula
Apresentar a energética e a regulação do ciclo
do ácido cítrico, o seu papel como via central
do metabolismo, sua função anfibólica e
vias alternativas que usam intermediários
do ciclo do ácido cítrico.
objetivos
Pré-requisitos
Para acompanhar esta aula, é fundamental
ter claros os conceitos de oxidação e redução
(Aula 3), saber reconhecer os mecanismos de
regulação enzimática (Aula 3) e identificar as
reações do CAC (Aula 9).
Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
228 CEDERJ
fluxo de elétrons na cadeia de transporte de elétrons. Este fluxo de
10
elétrons possibilita a formação de um grande número de moléculas de
AULA
ATP durante a fosforilação oxidativa, como veremos com mais detalhes
nas Aulas 11 e 12.
Figura 10.1: O ciclo do ácido cítrico (CAC) com o nome e a estrutura de todos os
intermediários, as enzimas e os produtos. Note que, quando um intermediário perde
um carbono, este sai na forma de CO2.
!
Reveja as enzimas do CAC que pertencem ao grupo das desidrogenases e
as reações catalisadas por elas. Isto será muito importante nesta aula.
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
É claro que, além do CO2, uma parte da energia liberada até aqui é con-
vertida em ATP. Mas o principal produto do ciclo do ácido cítrico, que
permitirá a síntese de ATP em etapas posteriores da respiração celular,
está conservada em elétrons de alta energia, associados aos NADH.H+
e ao FADH2.
230 CEDERJ
Tabela 10.1: Balanço da formação de ATP na oxidação aeróbica de uma molécula de
10
glicose por fosforilação no nível do substrato (FSu) e por fosforilação oxidativa (FOx)
AULA
Número de coen-
zimas reduzidas
Número final de
Reação ou ATPs produzi-
ATPs formados
dos diretamente
na reação
Glicose glicose-6P -1 -1
Frutose-6P F1, 6BP -1 -1
(2) G3P > (2) 1,3bPG 2 NADH.H+ 3-5 * (FOx)
(2) 1,3bPG > (2) 3PG 2ATP 2 (FSu)
(2) PEP (2) piruvato 2ATP 2 (FSu)
(2) piruvato (2) acetil-CoA 2 NADH. H +
5 (FOx)
(2) isocitrato (2) α-cetoglutarato 2 NADH. H +
5 (FOx)
(2) α-cetoglutarato (2) succinil-CoA 2 NADH. H+ 5 (FOx)
(2) succinil-CoA (2) succinato 2ATP 2 (FSu)
(2) succinato (2) fumarato 2 FADH2 3 (FOx)
(2) malato (2) axoloacetato 2 NADH. H+ 5 (FOx)
Total (FSu + FOx) 30-32* ATPs
!
Se você prestou atenção à nossa tabela,
verificou que o número total de ATPs
formados por molécula de glicose que-
brada na respiração celular varia de 30 a
32. Isso está em discordância com o que
encontramos em muitos livros didáticos,
principalmente nos livros do Ensino Médio
e Fundamental. O que encontramos com
frequência é que 38 moléculas de ATP são produzidas por molécula de
glicose quebrada na respiração celular. Esta discrepância se deve ao fato
de que, antes dos anos 1990, se assumia que, durante o transporte de
elétrons, uma molécula de NADH.H+ gerava energia para a síntese de 3
ATPs e a molécula de FADH2 gerava energia para a síntese de 2 ATPs. Hoje
se sabe que estes números não estão corretos. O transporte de elétrons
do NADH.H+ gera energia para a síntese de 2,5 ATPs e o transporte dos
elétrons do FADH2 gera energia para a síntese de 1,5 molécula de ATP.
Portanto, aqui vamos utilizar os valores corretos. O processo pelo qual
isso acontece você verá nas próximas aulas.
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
232 CEDERJ
10
RESPOSTA COMENTADA
AULA
Os prováveis pontos de regulação do CAC são as enzimas que
catalisam as reações com ∆Gº mais negativos: citrato sintase (∆Gº
-32.2), isocitrato desidrogenase (∆Gº -20,9) e a α-cetoglutarato
desidrogenase (∆Gº = -33,5). A enzima malato desidrogenase
catalisa uma reação com ∆Gº bastante positiva (+29,7), ou seja, a
direção favorável da reação é no sentido inverso ao que ela ocorre
no CAC. Entretanto, nós já vimos que a alta concentração de um
substrato (no caso o malato, gerado pelas reações anteriores) e
a baixa concentração do produto (oxaloacetato, que está sendo
utilizado nas reações posteriores) muda o ∆G da reação e garante
o fluxo do CAC em direção à formação de oxaloacetato.
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
Embora esta não seja uma reação do CAC, a velocidade desta reação
determina a velocidade de produção de acetil-CoA. Como o acetil-CoA é
o substrato do CAC, sua concentração é um dos fatores preponderantes
na velocidade desta via.
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10
AULA
CEDERJ 235
Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
Figura 10.2: Regulação do CAC. Esta inclui a regulação do complexo piruvato desi-
drogenase, além da regulação de três enzimas do próprio ciclo: a citrato sintase,
a isocitrato desidrogenase e a α-cetoglutarato desidrogenase. Adicionalmente a
malato desidrogenase também sofre controle pela disponibilidade de NAD+. O
símbolo significa inibição e o símbolo significa ativação.
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ATIVIDADE
10
AULA
Atende ao Objetivo 2
Atividade (% de Vmax)
saturante de oxaloacetato, a atividade
da citrato sintase do tecido cardíaco
de porco mostra uma dependência
sigmoidal da concentração de acetil-
CoA, como mostrado no gráfico.
Quando o succinil-CoA é adicionado,
a curva sofre um desvio para a direita [Acetil-CoA] (µM)
e a dependência sigmoidal do acetil-
CoA é mais pronunciada.
Com base nestas observações:
RESPOSTAS COMENTADAS
a. Succinil-CoA é um inibidor da enzima citrato sintase. Sua ação
resulta em um aumento do Km da enzima pelo substrato acetil-
CoA. Isto significa uma diminuição na afinidade da enzima por seu
substrato.
b. O succinil-CoA é o primeiro intermediário após as etapas de des-
carboxilação oxidativa. Se este intermediário se acumula, significa
que o ciclo como um todo não está sendo capaz de utilizá-lo nas
etapas subsequentes, com a mesma velocidade em que este está
sendo produzido. Assim, este tipo de regulação é adequado para con-
trolar o fluxo dos intermediários através do ciclo do ácido cítrico.
c. A velocidade da enzima citrato sintase influencia diretamente a
velocidade do ciclo do ácido cítrico e consequentemente na veloci-
dade de redução dos aceptores de elétrons, NAD e FAD. Estes, no
seu estado reduzido, serão os substratos da cadeia transportadora
de elétrons. Isto significa que a atividade desta enzima é um fator
importante da taxa de respiração celular.
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
a) O papel do CAC no metabolismo energético é finalizar a oxidação
completa de moléculas biológicas, como a glicose, por exemplo. Este
processo gera principalmente poder redutor na forma de NADH.
H+ e FADH2. A regulação do CAC é feita, sobretudo, pelo balanço
NADH.H+/NAD+. Esta regulação é uma resposta ao funcionamento
da via, aumentando sua velocidade quando mais NAD+ que NADH.
H+ está presente, e diminuindo sua velocidade quando há altas
concentrações de NADH.H+ dentro da célula.
b) Esta regulação se dá sobre as enzimas citrato sintase, isocitrato
desidrogenase e α-cetoglutarato desidrogenase.
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10
Enzima Ativador(es) Inibidor(es)
AULA
Citrato sintase ADP NADH.H+,
citrato, ATP,
succinil-CoA
Isocitrato desidrogenase ADP, Ca++ ATP
Aconitase
α-cetoglutarato desidrogenase Ca++ NADH.H+,
succinil-CoA
Fumarase
Succinil-CoA sintetase
Succinato desidrogenase
Malato desidrogenase NADH.H+
da degradação da glicose (ou outras moléculas combustíveis) ou pode É uma via que tem
papel anabólico e
funcionar anabolicamente, fornecendo intermediários que participam catabólico. O prefixo
anfi significa duplo,
de vias biossintéticas. A Figura 10.3 mostra o fluxo metabólico do dúbio.
CAC, destacando as moléculas que podem ser formadas a partir dos
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
240 CEDERJ
Tabela 10.2: Reações anapleróticas do Ciclo do ácido cítrico.
10
Reações Anapleróticas
AULA
Reação Tecido/organismo
-
Piruvato + HCO3 + ATP OAA* + ADP + Pi Fígado e rim
Piruvato carboxilase
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 4
ATP NADH.H+
CO2 Porfirinas
Aminoácidos Ácidos graxos
Glicose
O ciclo do ácido cítrico é uma via anfibólica. Ela é uma via com “1001
utilidades”. Quando a célula precisa de energia, ela funciona produzindo
_______________________, _______________________ e ________________
num processo de degradação de _______________. Quando a célula pre-
cisa de _________________, ________________ ou ______________, o ciclo
funciona fornecendo seus intermediários para as vias de biossíntese dessas
biomoléculas.
RESPOSTA COMENTADA
O ciclo do ácido cítrico é uma via anfibólica. Ela é uma via com
“1001 utilidades”. Quando a célula precisa de energia, ela funciona
produzindo ATP, NADH.H+ e CO2 num processo de degradação de
glicose. Quando a célula precisa de aminoácidos, ácidos graxos ou
porfirinas, o ciclo funciona fornecendo seus intermediários para as
vias de biossíntese dessas biomoléculas.
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
242 CEDERJ
10
AULA
Figura 10.4: O reverso do CAC ou CACr. Nesta via presente em algumas bactérias,
as reações são revertidas de maneira que a via caminhe em direção à utilização de
CO2, para a construção de moléculas orgânicas. Ferred indica a reação de carboxilação
que requer ferredoxina reduzida.
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
!
As vias catabólicas liberam energia que é utilizada na síntese de ATP
ou coenzimas reduzidas. Nas vias biossintéticas, como no caso do CAC
redutivo, a energia é necessária para que as reações aconteçam. O CAC
como via catabólica libera energia na forma de ATP, NADH.H+ e FADH2.
O CAC redutivo requer energia na forma de ATP e elétrons fornecidos
pela ferredoxina reduzida.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 5
RESPOSTA COMENTADA
As reações que apresentam ∆G negativos no sentido do CAC são irre-
versíveis (citrato sintase, isocitrato desidrogenase e α-cetoglutarato
desidrogenase) e, portanto, requerem um caminho alternativo para
que a reação inversa ocorra. Todas as outras podem ser mantidas
(malato desidrogenase, fumarase, succinato desidrogenase, succinil-
-CoA sintetase).
244 CEDERJ
que esta energia tenha sido obtida de reações envolvendo FeS com H2S,
10
formando FeS2 (pirrita de ferro). A pirrita de ferro era abundante na
AULA
Terra primitiva e pode ter sido uma versão antiga dos agregados ferro-
enxofre. Um modelo geral do caminho metabólico que provavelmente
compôs o CACr ancestral está mostrado na Figura 10.5. Nesta figura,
estão indicadas as reações em que poder redutor (XH2) seria necessário
para as reações e os prováveis pontos de carboxilação no CACr.
GLIOXILATO
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
246 CEDERJ
2. citrato cis-aconitato + H2O isocitrato (aconitase,
10
∆G0= + 6,3 kJ/mol)
AULA
3. isocitrato succinato + glicoxilato (isocitrato liase)
4. glicoxilato + acetil-CoA malato + CoA-SH + H+ ( malato
sintase)
5. succinato + FAD fumarato + FADH2 (succinato desidro-
genase, ∆G0= 0 kJ/mol)
6. fumarato + H2O malato (fumarato hidratase, ∆G0 = - 3,8 kJ/
mol)
7. malato + NAD+ oxaloacetato + NADH.H+ (malato desi-
drogenase, ∆G0= + 29,7 kJ/mol)
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 6
RESPOSTA COMENTADA
No ciclo do glioxilato, a célula não precisa reverter as duas reações
de descarboxilação oxidativa altamente exergônicas. A alternativa
metabólica é utilizar enzimas que convertem isocitrato em glioxilato
e succinato (isocitrato liase). Em seguida, a via converte o glicoxilato
em malato, pela ação da enzima malato sintase. Com isso, os car-
bonos que entram no ciclo na forma de acetil-CoA (2C) não saem
nas reações de descarboxilação, permanecendo como parte da
estrutura das moléculas intermediárias.
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Bioquímica II | A via central de todo metabolismo precisa ser regulada
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 4
7. O ciclo do ácido cítrico é uma via que compõe a respiração celular. Ela
faz parte do caminho aeróbico de utilização do piruvato, como vimos na
Aula 7 e, portanto, depende da presença de oxigênio. Com base no que
vimos até aqui, responda: organismos anaeróbicos podem apresentar um
ciclo do ácido cítrico funcional? Justifique sua resposta.
RESPOSTA COMENTADA
O CAC é uma via anfibólica e, como tal, pode ser usada quando
a célula precisa de energia, participando das reações que levam à
síntese de ATP (papel catabólico). Além deste papel, os intermediários
do ciclo podem participar de vias anabólicas, que não dependem
da presença de oxigênio. Por isso, vários organismos anaeróbicos
possuem e utilizam o CAC em seu metabolismo biossintético.
Qualquer dúvida ou dificuldade em responder qualquer uma das
atividades apresentadas, procure a tutoria a distância na plataforma
ou pelo 0800. Você pode e deve fazer isso sempre que precisar. Não
existe dúvida boba, sua dúvida é sempre muito importante!
CONCLUSÃO
248 CEDERJ
10
RESUMO
AULA
Nesta aula, estudamos a regulação do CAC e seu papel anabólico como base para
a construção de outras vias metabólicas. Entre as reações do CAC, 3 apresentam
∆G0s bastante negativos. São aquelas catalisadas pelas enzimas citrato sintase,
isocitrato desidrogenase e α-cetoglutarato desidrogenase. Estes são importantes
pontos de regulação do CAC. O ciclo é finamente regulado por: disponibilidade de
substrato, inibição por acúmulo de produtos e regulação alostérica das enzimas.
O último tipo de regulação é mediado pelo balanço [NADH.H+]/[NAD+], [ATP]/
[ADP] e [acetil-CoA]/[CoA-SH], que são, em última análise, indicativos do estado
energético da célula. Além do seu papel no metabolismo energético, o CAC tem
uma função fundamental de fornecer intermediários para vias biossintéticas, como
a síntese de porfirinas, aminoácidos e ácidos graxos. Embora o CAC seja parte
da respiração celular e, portanto, ocorra na presença de oxigênio, organismos
anaeróbicos também podem apresentar o CAC ou variações desta via, como o
CACr e o ciclo do glicoxilato.
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