A Política Africana Da França Frente Os Desafios Do Século Xxi
A Política Africana Da França Frente Os Desafios Do Século Xxi
A Política Africana Da França Frente Os Desafios Do Século Xxi
Porto Alegre
2019
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Porto Alegre
2019
CIP - Catalogação na Publicação
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Prof. Dr. Paulo Gilberto Fagundes Visentini - PPG POL/ UFRGS Orientador
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AGRADECIMENTOS
Chega um momento na vida que temos que pular do ninho e fortalecer nossas próprias
asas. Este foi o meu momento. E que sorte a minha em pousar em um lugar com tantas
pessoas especiais. Foram quatro anos desafiadores, mas deliciosamente especiais. Conheci
pessoas incríveis que se tornaram minha família e transformaram Porto Alegre em mais do
que o lugar que eu morava, mas o lugar que eu me sentia em casa. Estes quatro anos
representaram uma longa jornada de amadurecimento, autoconhecimento e superação.
Já dizia o poeta, “é impossível ser feliz sozinho”. Bem, sendo assim, gostaria de
apresentar a você, caro leitor, algumas das pessoas incríveis que cruzaram o meu caminho e
com quem pude dividir as dores e as delícias desta jornada. Começarei com meu ninho, onde
cresci e me ensinaram que o conhecimento é a única coisa que é verdadeiramente nossa. A
única coisa que não perdemos e que não podem nos tirar. Meu muito obrigada, mãe, pai e
Dudu pelo apoio incondicional, incentivo e por acreditarem nos meus sonhos. Obrigada a
minha família, tios, tias e primos, pelo apoio, incentivo e cuidado.
Mas o meu ninho não é só formado por minha família. Não poderia deixar de
agradecer especialmente a Kiara e Marcos pelos anos de amizade, cumplicidade, aventuras e
pelo apoio e cuidado em um dos momentos mais difíceis pelo qual já passei. Tenho também
dois serzinhos que me enchem de amor e de alegria. Sibilla, minha gata, parceira de
madrugadas em claro e que adora deitar no teclado do computador para pedir carinho.
Benício, meu cachorro, um bebezão que me faz feliz só de tê-lo por perto e ver seus olhinhos
brilhando quando ganha carinho. Tive que deixar meu ninho e fazer morada, literalmente, do
6
outro lado do país. Quase quatro mil quilômetros me separavam da segurança e conforto do
seio dos meus.
Porém a vida de um pós-graduando não se resume a vida acadêmica, ainda que esta
signifique grande parte da nossa vida. Agradeço a Maria Elza, minha companheira nesta
aventura do doutorado e da vida sulista. Duas piauienses perdidas por Porto Alegre. Foram
tantas aventuras, caminhadas pela Cidade baixa, cervejas, experimentos culinários, risadas,
conversas sobre a vida e aprendizado compartilhado. Ricardo Ossagô e Rodolfo Marques,
meus amigos responsáveis por me apresentar aos colegas e por me ajudarem em tantas
missões. Não esqueci que vocês andaram metade do centro com um colchão na cabeça pois eu
ainda não tinha cama. Muito obrigada por tudo, meus amigos.
A Luana Basségio e Michelle Dias, minhas parceiras de indiadas, que abriram suas
casas para mim e suas famílias que sempre me receberam de braços abertos. Bruno
Conceição, companheiro de conversas sobre a vida, música e da espera pelo dia que os
humilhados serão exaltados. Ao Júnior Ivan pelos anos de amizade.
Agradeço também aos colegas Caroline Assis, Carolina Corrêa, Camila Andrade,
Juliana Foernges e Rafael Lameira pela experiência compartilhada na organização do II
Seminário Internacional de Ciência Política, por todo o trabalho realizado e o bom humor
envolvido no processo. Aos demais colegas do PPG Ciência Política pelos momentos e
conhecimentos compartilhados. O meu muito obrigada a todas as pessoas que contribuíram
para que eu seja o que sou hoje, que cruzaram o meu caminho e deixaram um pouco de vocês
em mim. Espero ter deixado um pouco de mim em vocês.
7
RESUMO:
ABSTRACT:
France has built a particular type of relationship with the African continent, being the former
metropolis that has been most involved in conflicts and African affairs after independence
from its colonies. The construction and longevity of this relationship is due to several factors
ranging from the belief in belonging of the colonial possessions to a Great French,
assimilation of elites, a process of independence designed for a maintenance of its influence in
the region, national values like the grandeur, francophonie and rayonnement and a particular
vision of the international system and the French role in the international system. However,
the end of the bipolar conflict and the transformations of the post-war international system has
brought about profound changes in the international system and brought about the challenge
of the maintenance of France’s African policy, requiring revisions and changes in this policy.
So this analysis tries to answering the question of how the transformations at the international
system at the beginning of the XXI century impacted on the French foreign policy to Africa
during the Nicolas Sarkozy's and François Hollande's administration? For such purpose, I
propose (1) to investigate the construction of France’s African politics, identifying the main
aspects that led to a situation of this policy; (2) to map the changes of the international system
of the 21st century, that challenge the French policy; 3) to analyze how this policy was
conducted during the governments of Nicolas Sarkozy and François Hollande. As a
structuring point, I use the strategic-relational approach and construct the research according
to qualitative methodological protocols. Therefore, the working hypothesis that guided this
research is that the conjuncture of the international system after the Cold War made possible
the emergence of competition, especially North American and Chinese, to French power in
the African continent. This, coupled with the endogenous transformations that have taken
place on the African continent and the deepening of European integration, have transformed
the operational environment in which the African policy of France was initially designed, thus
highlighting the need for revision and modernization of this policy since this new operational
environment do not hold anymore the traditional French foreign policy to Africa designed at
the beginning of the French Fifth Republic.
Key words: France’s African policy; Foreign Policy Analysis; French Fifth Republic, France;
Africa.
9
SUMÁRIO
Introdução……………….………………………………………………………………… . 14
2.6. Conclusão…………………………...…………………………………………………... 90
3.4. Novos Livros Brancos de Defesa e Segurança Nacional e de Política Externa ………... 98
Referências……………....………………………………………………………………… 147
INTRODUÇÃO
Durante quase quarenta anos após a independência formal de suas colônias, a França
foi o único ator expressivo dentro de sua zona de influência africana, o que levou à
manutenção das estruturas de dominação colonial e ao desenvolvimento de um peculiar
sistema de favorecimento de relações com profundidade ímpar dentro das experiências
africanas com suas antigas metrópoles. Os relacionamentos franco-africanos destacam-se e
diferem-se de outros relacionamentos entre antigas colônias africanas e metrópoles europeias
por sua longevidade e profundidade. A singularidade desse relacionamento reside no grau de
proximidade, dependência e personalismo envolvido entre líderes franceses e africanos.
potência internacional sustentado pelo governo de Paris que ocupa uma posição de liderança
no seio da União Europeia no âmbito dos diálogos euro-africanos, além de desempenhar
função análoga na Organização das Nações Unidas.
A busca pelo equilíbrio entre passado e presente tem sido um importante fator na
construção da política africana francesa no início do século XXI. Ao mesmo tempo que os
tomadores de decisão não podem negligenciar as alterações no sistema internacional; sua zona
de influência, cada vez mais atrativa para diversos outros atores internacionais por representar
uma das últimas fronteiras do capitalismo e um importante reservatório de minerais e
petróleo; a emergência de uma geração de líderes africanos cada vez menos alinhados aos
interesses de Paris, os processos de integração africano e as raízes de um relacionamento
controverso e privilegiado são por demais profundas para também serem negligenciadas ou
imediatamente substituídas por um novo modelo de relacionamento.
É diante desses desafios que foram construídas as políticas africanas dos governos
Sarkozy e Hollande, pautadas por desafios atuais e laços de um relacionamento privilegiado
de quase meio século. O discurso sobre a necessidade da normalização das relações
franco-africanas é recorrente na fala de diversos presidentes e líderes franceses, e também
encontra na opinião pública francesa uma importante fonte de apoio. Porém, a necessidade de
normalização das relações franco-africanas tem se apresentado de maneira mais urgente nas
últimas duas décadas. A entrada dos países emergentes, em especial a China, e o
fortalecimento da presença de outros atores como Estados Unidos como parceiros de países
15
Quanto à estrutura, esta tese se divide em quatro capítulos centrais, além de introdução
e conclusão. No primeiro capítulo é tratado aspectos teóricos-metodológicos, como a
definição dos conceitos de política externa e a abordagem utilizada. No primeiro capítulo
também abordamos a construção da política africana da França durante a Quinta República, a
influência do pensamento de Charles de Gaulle na construção da política externa e africana
francesa, bem como a condução desta política durante as independências africanas.
CAPÍTULO 1
Este capítulo tem por objetivo discutir a construção da política africana francesa a partir do
projeto de inserção internacional delineado e conduzido durante a Quinta República Francesa,
buscando evidenciar a lógica em que se baseia esse relacionamento, a importância da zona
francófona para esse projeto e as bases do relacionamento privilegiado entre a França e suas
antigas colônias durante o período pós-colonial.
Três trabalhos podem ser considerados as pedras fundamentais desse campo de estudo,
são eles, Decision making as an Approach to the study of International Politics (1954) de
Snyder, Bruck e Sapin; Pre-theories and Theories of Foreign Policy (1966) de Rosenau e
Man-Milieu Relationship Hypotheses in the context of International Politics (1956) de Sprout
e Sprout (HUDSON, 2005). Cada um dos trabalhos acima citados contribuiu para o
estabelecimento e consolidação de uma vertente metodológica da análise de política externa.
1
No original: “That seeks to explain foreign policy, or, alternatively, foreign policy behavior, with reference to
the theoretical ground of human decision makers, acting singly or in groups.”
2
No original: “The conception of foreign policy as an academic subject matter has had strong roots in the
broader domain of public policy, especially in the United States. However, this is not where the field originated
but is, rather, a reaction to the earlier tradition – primarily os a European provenance, with origins in the
seventeenth century and the rise of the modern state thereafter- of viewing foreign policy as a distinct domain
differing in fundamental respects from all other spheres of public policy.”
18
O trabalho de Snyder, Buck e Sapin publicado em 1954 foi de fundamental importância para a
análise do processo de tomada de decisão e dos atores envolvidos na elaboração da política
externa (HUDSON, 2012). James Rosenau (1966) propôs o desenvolvimento de uma teoria
de ator-específico que levaria ao desenvolvimento de proposições generalizáveis ao nível de
uma teoria de médio alcance. Enquanto Harold e Margaret Sprout (1956) destacaram a
importância da referência ao meio sócio-político e psicológico dos atores envolvidos no
processo de tomada de decisão para a explicação da política externa. Assim, esses três
trabalhos fundaram as três principais linhas de análise de política externa: a orientada para a
análise do processo de tomada de decisão em pequenos ou grandes grupos; a política externa
comparada e as explicações psicológicas e sociológicas da política externa, respectivamente
(HUDSON, 2012).
Nos quase sessenta anos do campo de análise de política externa, diversos níveis e
diversos atores foram o foco central das análises desde líderes, burocracias e grupos de
interesses a fatores estruturais do sistema internacional (CARLSNAES, 2008, HUDSON,
2005), utilizando em grande parte das análises conhecimento multidisciplinar envolvendo a
psicologia, sociologia, antropologia, economia, dentre outras (HUDSON, 2005). AInda que
grande parte da literatura sobre análise de política externa e as pesquisas desenvolvidas no
campo sejam focadas no processo de tomada de decisão, Salomón e Pinheiro (2013), apontam
que
Não entendemos [...] tão somente o campo de estudos sobre a política externa centrado
na análise de processo decisório. É verdade que essa dimensão foi a marca da
constituição da subdisciplina conhecida por esse nome nos anos 1950. Nos dias de
hoje, entretanto, seria equivocado atribuirmos à pesquisa sobre o impacto do processo
decisório no conteúdo da política externa como o único objeto de investigação para o
qual se volta a APE. Ao nosso entender, os estudos de processo decisório constituem
hoje um, dentre outros, dos focos desse amplo campo de estudos, que inclui todos os
aspectos (influências, contextos e práticas sociais, entre outros) que incidem em todas
as fases (desde a formação da agenda até a implementação) de uma política externa
(SALOMÓN e PINHEIRO, 2013, p.42).
Outros conceitos de política externa podem ser encontrados em trabalhos como o de Letícia
3 4 5
Pinheiro (2010) , Karl Deutsch (1982) , Carlsnaes (2008) , dentre outros.
3
A política externa pode ser definida como o conjunto de ações e decisões de um determinado ator, geralmente,
mas não necessariamente o Estado, em relação a outros Estados ou atores externos- tais como organizações
internacionais, corporações multinacionais -, formulada a partir de oportunidades e demandas de natureza
doméstica e/ou internacional. Nesse sentido, trata-se da conjugação dos interesses e ideias dos representantes de
um Estado sobre a sua inserção no sistema internacional tal como este se apresenta ou em direção a sua
reestruturação, balizados por seus recursos de poder (PINHEIRO, 2010, p.7).
4
A política externa de cada país diz respeito, em primeiro lugar à manutenção de sua independência e segurança
e, em segundo lugar, à promoção e proteção de seus interesses econômicos, sobretudo os de seus grupos mais
influentes. Profundamente ligados a esses interesses- pelo menos no caso das grandes potências- estão a
preocupação de resistir a qualquer penetração e manipulação por parte de países e ideologias estrangeiras e um
imprudente esforço para conseguir certo grau de penetração e manipulação em outros países. Finalmente,
intimamente relacionadas com a segurança nacional, bem como os interesses econômicos e militares – inclusive
clandestinos- de cada grande potência, estão suas diretrizes políticas de ajuda econômica a nações estrangeiras,
assim como seus esforços para difundir sua própria propaganda nacional e ideológica em países estrangeiros e
seu apoio a missões de intercâmbio cultural e científico que favorecem àquele objetivo (DEUTSCH, 1982,
p.119).
5
No original: “Foreign policy consist of those actions which, expressed in the form of explicity stated goals,
commitments and/or directives, and pursued by governmental representatives acting on behalf of their
sovereign communities, are directed toward objectives, conditions and actors- both governmental and
non-governmental- which they want to affect and which lie beyond their territorial legitimacy”. (CARLSNAES,
2008, p.335)
20
abordagem teórica adotada pelo autor. Nota-se, em grande parte dos conceitos, o alinhamento
quanto ao entendimento da política externa como uma política elaborada em nível interno e
com aplicação externa que busca estabelecer os parâmetros e estratégias de atuação e inserção
internacional de atores estatais ou não-estatais, evidenciando o seu projeto nacional (no caso
de atores estatais); sua visão do sistema internacional, bem como seu posicionamento no
mesmo; seus objetivos e interação com os demais atores, estatais ou não, do sistema
internacional. É na política externa de um Estado que se materializam sua visão do sistema
internacional; seu posicionamento, a posição que almeja alcançar e a estratégia para alcançar
essa posição; e a manutenção ou modificação da sua inserção internacional. Para fins
operacionais, o conceito de política externa adotado nesta análise será o fornecido por Valerie
6
Hudson (2012, p.14, tradução nossa ) que define política externa como “a estratégia ou
abordagem escolhida pelo governo nacional para atingir seus objetivos nas suas relações com
outras entidades externas. Isto inclui a decisão de não agir”
Esta complexa combinação entre atores e estruturas no nível interno e externo e sua
influência na construção e condução da política externa é um dos principais desafios para a
subárea da Análise de Política Externa. Isto faz com que tanto os questionamentos quanto as
respostas variem de acordo com a perspectiva (foco nos atores versus foco na estrutura)
adotada pelo pesquisador.
6
No original: “The strategy or approach chosen by the national government to achieve its goals in its relations
with external entities. This includes decisions to do nothing.”
7
Um trabalho esclarecedor sobre o assunto é a obra de Robert Putnam “Diplomacia e política doméstica: a lógica
dos jogos de dois níveis”, publicada em língua portuguesa na Revista de Sociologia Política V.18, N. 36, junho
de 2010.
21
O desafio para o analista de política externa não é apenas distinguir o que é doméstico
e o que é internacional, mas principalmente entender a onipresença tanto dos atores quanto
das estruturas e as ligações íntimas e recíprocas entre estes dois conjuntos de fatores. Sendo
assim, é essencial para o pesquisador um quadro analítico ou uma abordagem como ponto de
partida, bem como uma definição clara do objeto a ser analisado e explicado na política
externa para a escolha apropriada dos fatores explicativos (CARLSNAES, 2012).
8
No original: “Actors and structures are always present in, and indeed crucial to, the making of foreign policy.
Christopher Hill has expressed the intimate relationship between these two factors very well: ‘Foreign policy
making is a complex process of interaction between many actors, differentially embedded in a wide range of
different structures. Their interaction in a dynamic process, leading to the constant evolution of both actors and
structure’ (HILL, 2003:28). In other words, in the real world we find a number of actors, both domestic and
international, who are closely involved in foreign policy decision making in one manner or another; and equally
there are a number of structures on both sides of the domestic-international divide which decisively affect these
actors in many different ways.”
9
No original: “Indeed, structures – political, cultural, psychological, economic, national, regional, global,
technological, ideational, cognitive, and normative, to name some of the most important- are omnipresent in
society everywhere, existing in various degrees on all levels from the most isolated tribal groupings to the global
system as a whole. Not all are equally important to foreign policy making, but many are vital and central to
understanding and explaining its manifestations.”
22
10
Como aponta Brighi e Hill (2012, p. 166, tradução nossa ), “o ponto de decisão da
política externa é normalmente apenas o início de um longo processo de imersão em um
ambiente externo fluido e imprevisível. A fase de implementação não significa o fim da
política, apenas uma nova fase da mesma.” Por ser a fase em que as decisões são traduzidas
em ações- buscando atingir os objetivos e resultados definidos no processo de deliberação e
elaboração da política externa- e na qual os atores enfrentam o meio e o meio reage às suas
ações, é o momento em que a interação entre fatores domésticos e internacionais é mais
visível.
Cabe destacar que não há uma relação direta ou automática entre objetivos delineados
na política externa e seus resultados alcançados na fase da implementação. Como destaca
11
Brighi e Hill (2012, p. 148, tradução nossa ), “a implementação bem sucedida de qualquer
política externa não depende apenas de uma clara definição dos objetivos e da escolha
apropriada dos instrumentos, mas também, e de forma crucial, da interação entre a estratégia
do ator e o contexto em que está inserido”. Assim a implementação da política externa é um
processo estratégico e dialético, dependendo dos objetivos definidos no momento da
elaboração da política, dos instrumentos de política externa disponíveis para cada ator, da
leitura que o mesmo faz do sistema internacional e de si próprio, da reação dos demais atores
à sua ação, que por sua vez também impactará na sua própria ação, e o seu próprio contexto.
10
No original: “The point of decision in foreign policy is usually only the start of a long process of immersion in
a fluid and unpredictable external environment. The onset of implementation denotes not the end of politics, but
simply a new phase of it.”
11
No original: “A successful implementation of any foreign policy depends not only on a clear definition of
objectives and a sound choice of instruments, but also, and rather crucially, on the interplay between the actor’s
strategy and the context surrounding it.”
23
12
No original: “The intuition at the heart of the strategic-relational model- a type of system approach- is that
foreign policy behavior is produced via a dialectic interplay between the actor’s own strategy on the one hand
context on the other hand. The approach is called strategic in that actors are conceptualized as oriented toward
the attainment of stated goals. Furthermore, in the process of elaborating appropriated courses of action, actors
inevitably have to take into account the strategies of all others players. It is also relational because it assume that
actors and their behavior only become intelligible when analysed in relation to their proper context. In turn, the
context only become truly ‘real’ when looked at from the perspective of the individual actor in question;
therefore it always exists in relation te something, or some other actor.”
24
13
No original: “(1) Adjustment Changes. Changes occur in the level of effort (greater or lesser) and/or in the
scope of recipients (such as refinement in the class of targets). What is done, how it is done, and the purposes for
which it is done remain unchanged. (2) Program Changes. Changes are made in the methods or means by which
the goal or problem is addressed. In contrast to adjustment changes, which tend to be quantitative, program
changes are qualitative and involve new instruments of statecraft (such as the pursuit of a goal through
diplomatic negotiation rather than military force). What is done and how it is done changes, but the purposes for
which it is done remain unchanged. (3) Problem/Goal Changes. The initial problem or goal that the policy
addresses is replaced or simply forfeited. In this foreign policy change, the purposes themselves are replaced. (4)
International Orientation Changes. The most extreme form of foreign policy change involves the redirection of
the actor's entire orientation toward world affairs. In contrast to lesser forms of change that concern the actor's
approach to a single issue or specific set of other actors, orientation change involves a basic shift in the actor's
international role and activities. Not one policy but many are more or less simultaneously changed.”
26
programa de Hermann (1990), na modernização os objetivos não são alterados, mas o motivo
da mudança se dá por alterações no meio operacional, o qual geralmente não suporta ou
condiz com as estratégias de consecução de objetivos da antiga política.
Outro pressuposto aqui adotado é que este projeto de inserção internacional foi
15
delineado no início da Quinta República Francesa pelo General Charles de Gaulle, com o
14
No original: One of the most striking characteristics of France’s African policy is it continuity throughout the
various political régimes of Fifth Republic from 1960 to 1985. There is no doubt that an autonomous and
permanent policy exists, transcending the traditional political cleavages, the various régimes and individual
political leaders. The successive Government of General de Gaulle, George Pompidou and Valéry Giscard
d’Estaing have inaugurated and strengthened this African policy. Although François Mitterrand had proclaimed
his desire and willingness to somewhat ‘liberalise’ this policy, his socialist régime (inaugurated in May 1981)
found its room of maneuver strictly limited by ‘historical’ constraints and by the weight of economic, political
and strategic interests.”
15
A V° República Francesa teve início em 04 de outubro de 1958 após a aprovação por meio de referendo em 22
de setembro do mesmo ano da quinta constituição republicana francesa. Constituição esta que estabeleceu o
regime semipresidencialista como substituto do antigo regime parlamentarista. O General Charles de Gaulle foi o
primeiro presidente da V° República Francesa.
27
16
Marechal Phillip Pétain foi um oficial do exército francês que atuou nas duas Guerras Mundiais, sendo
considerado um herói nacional por sua atuação na Primeira Guerra Mundial, em especial na Bataille de Verdun,
contra o exército alemão, de 21 de fevereiro a 19 de dezembro de 1916 .
17
Segundo Cowder (1970), o envolvimento passivo das colônias africanas francesa nas disputas da metrópole
entre o Movimento França Livre e a lealdade do governo de VIchy se dá pelo fato de "o direito de vacilar lhes
28
(CROWDER, 1970). Além disso, o movimento dividiu o espaço colonial francês entre a
lealdade ao governo de Vichy, representado pela África Ocidental Francesa, e a lealdade ao
Movimento França Livre, endossado pelo África Equatorial Francesa.
era negado porque, embora as forças francesas tivessem sido derrotadas na França, os africanos de fala francesa
eram ainda um povo colonizado, e havia ainda funcionários de fala francesa nas colônias pra levar adiante o
trabalho de um governo autocrático. Foram esses funcionários que, com notáveis africanos escolhidos a dedo,
associaram-se pró ou contra De Gaulle"(CROWDER, 1970, 69). Ou seja, salvo raras exceções, era vetado aos
africanos a participação na estrutura burocrática e administrativa das colônias.
29
desconhecido General De Gaulle para juntarem-se ao seu Governo da França Livre no exílio
(CROWDER, 1970, p. 70).
18
Liberación é o período compreendido entre 1944 e 1947 onde ocorreram os debates para a reorganização da
República francesa após a ocupação alemã, dando origem à Quarta República e a duas importantes forças
políticas o Gaullismo e o comunismo. Para um entendimento abrangente do período recomenda-se a leitura da
obra: KNAPP, Andrew (org). The Uncertain Foundation: France at the liberation (1944-1947). Palgrave
Macmillan, Londres, 2007.
30
Como resultado destas duas mudanças, a função de mobilizar apoio para o executivo
foi institucionalizada no sistema partidário e no processo eleitoral. Isto por sua vez
transformou o Gaullismo. O Gaullismo não mais recebia seu ímpeto do apelo
carismático de um líder heroico, mas sim da eleição popular do presidente e da força
do partido dentre o eleitorado. (CAMERON, HOFFERBERT, 1973, p.78, tradução
20
nossa .)
Devido ao peso político exercido pelo General, o gaullismo passa a ser a principal
força política da Quinta República, influenciando diversos líderes, a inserção internacional e a
política externa francesa.
19
No original: “In 1958, France herself was already weary of the war, and the politicians had not moved much
further towards finding an adequate solution. The soldiers in the field of Algeria were growing increasingly
frustrated, Finally a revolt on the part of the soldiers, challenging the very existence of the French Fourth
Republic, created a national crisis of considerable proportion. There seemed to be only one man high enough in
stature in France, and acceptable enough to large numbers on both sides of the confrontation, to be capable of
averting a civil war in France. Charles de Gaulle had his second moment in history. He emerged from the
self-imposed oblivion which had lasted since his resignation as head of government in 1946, and assumed once
again supreme authority in France.”
20
No original: “As a result of these two changes, the function of mobilizing support for the executive has been
institutionalized in the party system and in the electoral process. This in turn has transformed Gaullism. Gaullism
no longer receives its impetus from the charismatic appeal of an heroic leader but rather from the popular
election of the president and from the strength of the party in the electorate.”
31
A política externa passa a ocupar uma posição central durante os primeiros anos da
Quinta República, chegando a transformar, de acordo com Bartolini (1998), a política interna
em seu instrumento. O culto à independência econômica, política e militar em relação ao
exterior, propiciava, muitas vezes, a união dos franceses junto à figura de liderança de De
Gaulle relegando problemas internos a um segundo plano.
21
No original: “One feature of the Fifth Republic, as opposed to the Fourth, was the strong executive – a
president elected for seven-year terms (reduced to five years in 2002) with extensive powers. This power is
linked to the fact that the president is the head of the armed forces, has control of France’s nuclear deterrent and
negotiates with foreign powers and ratifies treaties. Moreover, the president is empowered to call referendums on
laws or on constitutional changes, dissolve the parliament, and nominate the prime minister as well as ministers
and senior figures in the administration. The French president appoints three of the nine members of the
Constitutional Council, including its president, which he can call upon to decide on the constitutionality of a
law.”
22
No original: “De Gaulle was determined to give the authority of the state a personal embodiment in a chef with
far wider powers than those available to the consensual figures whom the parliamentarians of the Third and
Fourth Republics elected to the presidency. Moreover, if such leadership was necessary to deal with France’s
pressing internal and colonial problems, their resolution was itself a means to a wider end: the restoration of
France’s national independence and the reinforcement of its position in the world.”
32
De Gaulle foi uma figura proeminente não apenas durante a libertação francesa do
jugo alemão, mas a sua visão do sistema internacional e a sua concepção do papel e do lugar
25
francês no sistema internacional – a grandeur - forjaram a inserção internacional e a política
23
No original: “Although according to the Constitution African policy is the shared responsibility of the
President and the Primer Minister, it has in practice formed part of the President's “domaine reserve” since 1958
and each President has had his own personal adviser on African affairs as part of an African “cell” which
operates outside the normal government channels and is not accountable either to the government or parliament.”
24
No original: “The formulation and implementation of major African policy decisions is almost the exclusive
preserve of the President of the Republic, acting through his main advisor of African affairs […]. Practically no
exceptions to this principle of ‘reserved competence’ are allowed. The competence of other Ministries- External
Relations, Co-operation, and Development- in African affairs is strictly and exclusively by delegation of
presidential delegation.”
25
O conceito de grandeur não foi desenvolvido por De Gaulle, mas foi utilizado por ele para guiar e justificar
sua política. De acordo com Bruno Charbonneau (2008), a construção do "Mito francês", de uma única e
indivisível França, de sua grandeur e excepcionalidade, são resultados de um processo de construção social de
um Estado simbólico ocorrido durante a Terceira República Francesa a partir do reconhecimento da "importância
e necessidade de símbolos que fortalecessem o mito nacional e o senso de identidade nacional [...] O mito
francês de Estado Nação foi (e é) baseado na crença de que a entidade política pode ser baseada na unidade
cultural" (CHARBONNEAU, 2008, p.24). Para uma análise detalhada da construção do Estado simbólico
francês recomenda-se a leitura do primeiro capítulo da obra "France and the New Imperialism" de Bruno
Charbonneau (2008).
33
De Gaulle criou “uma certa ideia da França”, um conceito de nação associada a ele e
baseada na sua crença sobre a França. A ideia Gaullista da França, previa
reestabelecer a honra da nação e afirmar sua grandeza e independência. “Durante três
mil anos houve a aliança entre a grandeza da França e a liberdade do mundo”. De
Gaulle tomou para si o desafio de construir uma visão messiânica do destino histórico
da França com o objetivo de reafirmar seu prestígio no mundo e superar a humilhação
27
a que Vichy a tinha submetido. (KRITZMAN, 2007, p.158, tradução nossa ).
26
No original: " The theme of grandeur, the preoccupation with rank and the assertion of independence,
underpinned by a claimed universalism of the nation and of human rights, formed the cornerstone of Gaullist
foreign policy."
27
No original: “De Gaulle invented "a certain idea of France," a concept of the nation associated with him and
predicated on the belief in France itself. The Gaullist idea of France set out to restore the honor of the nation and
affirm its grandeur and independence: "For three thousand years there has been a covenant between the greatness
of France and the freedom of the world. " De Gaulle took it upon himself to construct a messianic view of
France's historic destiny in order to reaffirm its prestige in the world and transcend the national humiliation to
which Vichy had submitted itself.”
28
Por potências menores entende-se aqui atores intermediários do sistema internacional durante o conflito
bipolar, ou seja, todos os atores que não fossem as superpotências.
34
29
No original: “According to the French analysis, the superpowers had incentives to coordinate their foreign and
strategic policies and to organize the global community into an international condominium, dividing the globe
into two spheres of influence. Within each sphere strategic power and diplomatic initiative would become
gradually congruent. Each sphere would be under the control and management of the major state in the bloc.
States would gradually lose their capacity to pursue an independent diplomacy; their security functions, which
sustained their claims of sovereignty, would be entrusted to (or assumed by) a Big Power. External superpower
constraint, strategic and diplomatic, would conspire with internal decay in the exercise of traditional state
functions to undermine the separate legal, political, and moral existence of third powers.”[…] “In sum, the
superstates were alternately accused of provoking global conflict and war which would inevitably destroy the
territorial integrity and political independence of other states, and of challenging, through their mutual accord,
the separate identity of third states whose legal sovereignty and viable political authority would be weakened and
eventually enfeebled by the progressive erosion of their capacity to discharge their traditional responsibilities.”
30
No original: “the French decisions to develop an independent nuclear strike force, to build a strong Europe on
the foundation of Franco-German cooperation and to maintain a privileged sphere of influence in Africa were the
cornerstones of de Gaulle’s policy to maintain France’s world status—its grandeur—in the post-colonial era, the
dawn of which he now increasingly saw as inevitable. Black Africa was thus one of the key pillars of his strategy
of grandeur and he, like the French political leaders who came after him, mobilised an impressive array of policy
instruments to ensure its implementation. The strategy of grandeur was the product of a concept of power that
was centered on an active, interventionist nation-state and linked to territorial control and military strength.”
35
Tal política, iniciada pelo General de Gaulle, é desenhada para colocar a França em
uma posição de respeitável potência média, livre da hegemonia norte-americana e
soviética, e verdadeiramente não-alinhada. De fato, ‘é no Terceiro Mundo que a
França encontra espaço político e econômico para se libertar da hegemonia das
superpotências’. Nesta perspectiva, a África francófona constitui a base em que a
França pode desenvolver relações com Estados localizados fora da sua tradicional
esfera de influência – testemunhamos o recente aumento de participantes na Cimeira
França-África- ou com outros países do Terceiro Mundo com que a África mantém
relações regulares, incluindo o Brasil e a Índia. A esse respeito não há dúvidas de que
‘a posição neocolonial francesa nos Estados francófonos, em alguns aspectos, facilitou
31
a expansão da sua influência global’ (MARTIN, 1985, p.206-207, tradução nossa ).
Assim, o antigo espaço colonial francês passa a ser o viabilizador da manutenção do status
internacional da França e o garantidor da sua autonomia em relação aos dois blocos de poder.
31
No original: “Such a policy, initiated by General de Gaulle, is designed to build France into a respectable
middle power, free for hegemony form United States and the Soviet Union, and truly ‘non-aligned’. Indeed, ‘It is
in the Third World that France finds the political and economic space within which to disengage from
superpower hegemony’. In this perspective, francophone Africa constitutes a base from which France can
develop relations with countries located outside her traditional sphere of influence – witness the recent
broadening of the participation in Franco-African summits- or with other third-world countries with which
Africa entertains regular relations, including Brazil and India. In this respect, there is no doubt that ´France’s
neo-colonial position in the francophone countries in some respects has facilitated the extension of her global
influence’.”
32
No original: "Thanks to the relatively peaceful transition to independence in west and central Africa (apart
from Cameroon), sub-Saharan Africa emerged as the privileged arena for the projection of French power
(raynnement) in the pos-colonial period. [...] The bipolar system provided France with athe opportunity to assert
its self-appointed status as a global power, representing and protecting Western interests in west and central
Africa. At the same time, the relative lack of strategic importance attached to sub-Saharan Africa by the United
States during the Cold War provided de Gaulle and successive French presidents with a physical space which
they could assert France´s non-dependence and (relative) autonomy on the global stage".
36
33
No original: “No enthusiast for colonial rule, de Gaulle nonetheless saw the maintenance of a sphere of
influence in Africa as crucial to French grandeur, to his vision of France as a world power in the post-colonial
world. The attitude of the USA was of crucial importance here. Against the background of the cold
war,Washington saw France’s continuing presence, in a part of the world that it did not know well, as desirable to
ensure that the region did not fall into the clutches of Moscow. Thus, while the USA saw the maintenance of a
French sphere of influence as essential to the containment of communism in Africa, France saw its pre´ carre´ as
a means of containing ‘Anglo-Saxon’—for which read American and British—influence. As far as British
influence was concerned, France need not have worried as British governments had decided that western Africa
was peripheral to its strategic priorities in the post-colonial world, leaving France as the only major power in the
region.”
34
No original: “For the Soviet Union, decolonization represented an opportunity to forge friendly ties with the
new states, especially where strong antiimperialist movements emerged. For the United States, African
independences posed the challenge of keeping the former European colonies inside the Western orbit of
influence.”
37
35
No original: “American policy makers were principally guided by the ideological interest of containing the
former Soviet Union and its communists allies.[…] In sharp contrast, French policy makers sought first and
foremost to consolidate and promote the rayonnement (spread) of the most notable aspects of French culture,
including the French language and intellectual traditions. […] Economic interests were perceived by French
policy makers as both parallel and integral to the promotion of French culture.”
36
No original: “American and French policies toward francophone Africa were also complementary in terms of
what has been referred to as their “creative ambiguity” concerning the normative goal of promoting democracy.
In the case of France, French policy makers sought to spread French culture with the same ideological fervor
38
with which American policy makers sought to prevent the spread of communism. Consequently, when
francophone countries tries to renounce their special relationship with France, as Guinea did in 1958 when it
voted against the creation of a revised French community of states, French retribution as swift: all aid to Guinea
was abruptly cut off by an angry de Gaulle. But as long as these countries maintained strong support for la
francophonie and close ties with France, even authoritarian leaders were unlikely to find themselves under heavy
pressure from Paris to democratize.[…] Similar contradictions were evident in Washington’s often-stated
preference for democracy in Africa and perceived national security interests. Whenever the ideal of democracy
clashes with the national security objective of containing communism, containment often prevailed at the
expense of democracy.”
37
No original: “According to Foccart, Washington’s successful efforts in 1965 to place in power the pro-United
States Mobutu Sese Seko facilitated the penetration of ‘Anglo-Saxon influence’ into the largest country of
francophone Africa, and therefore constituted a clear ‘victory’ for the United States at the expense of French
interests.”
39
Paris argumentava que, diferente de outras potências imperiais que se viam como
administradoras [de suas colônias], ela estava trabalhando para integrar suas colônias
em uma Grande República Francesa. Esta assim chamada República de 100 milhões
de franceses seria construída por meio da assimilação, um processo em que os sujeitos
coloniais seriam gradualmente integrados cultural e politicamente ao modo de vida
38
francês (CUMMING, 2005, p. 234, grifo no original, tradução nossa ).
Enquanto algumas estruturas republicanas foram replicadas, até certo ponto, nas
colônias, o fato é que a lei francesa era aplicada apenas para os colonizadores
europeus brancos. As populações nativas eram obrigadas a aceitarem o domínio
colonial, que não se assemelhava em nada com a Declaração dos Direitos do Homem.
Eles não usufruíam de liberdades democráticas, foram governados por decreto e
praticamente não podiam opinar nos assuntos coloniais. Eles não se beneficiaram da
igualdade, e sim foram sujeitados a trabalho forçado, taxação de impostos, serviço
militar compulsório e ao indigénat (um código legal que permitia aos administradores
franceses impor penalidades sumárias aos 'nativos problemáticos') " (CUMMING,
39
2005, p. 235, tradução nossa )
38
No original: "Paris argued that, unlike other imperial powers, who saw themselves as trustees, she was working
to integrate her colonies into a Greater French Republic. This so-called Republic of 100 million French people
would be achieved through assimilation, a process whereby colonial subjects would gradually be integrated
culturally and politically into the French way of life."
39
No original:"While republican state estructures were mirrored, to some extent, in the colonies, the acts remains
that French law applied only to 'white' European settlers. Indigenous populations were forced to accept a form of
colonial rule that had nothing to do with the Declaration of the Rights of Man. They did not enjoy democratic
freedoms but were ruled by decree and given virtually no say in colonial affairs. They did not benefit form
40
Aliado à ideia de uma grande comunidade francófona, que englobava seu domínio
colonial, o sistema político francês da Quarta República foi desenhado para garantir o acesso,
ainda que limitado, de uma pequena elite francófonas a posições de poder na metrópole. Esta
garantia de acesso às estruturas políticas da metrópole criou privilegiada elite francófona não
radical (ainda que em alguns casos, anticolonialista) e alinhada aos interesses franceses
(TAYLOR, 2010). De acordo com Siradag (2014, p.110) “entre 1946 e 1958, todos os chefes
de Estado da África francófona se tornaram membros do Parlamento Francês com o objetivo
de melhorar as relações bilaterais com a França”. Outros líderes, como Félix
Houphouët-Boigny, da Costa do Marfim, e Léopold Sédar Senghor, do Senegal, chegaram a
atuar como Ministros de Estado do governo francês e após as independências foram fortes
aliados e defensores dos interesses franceses no continente africano.
equality but were subject to forced labour, taxation, compulsory military service and the indigénat (a legal code
which allowed French administrators to impose summary penalties on 'troublesome natives')."
41
lisonjeira atenção francesa, eles mantêm suas portas abertas para a influência francesa
40
(tradução nossa ).
40
No original: “The Francophone elites, in turn, have become accustomed to this privileged treatment at the
highest level of the French government. Such treatment accords them a visibility and international recognition
that would be difficult to acquire otherwise. In return for France’s flattering attention, they have reserved an open
door for French influence.”
41
No original: "African governings élites benefited from a reliable ally that provided economic, political,
technical, and, if needed, military support, in a situation in which their hold on power was often fragile. Against a
backgroud of extreme poverty and social and political divisions within the countries over which they ruled,
France represented a source of stability."
42
Esta série de acordos bilaterais entre a França e suas antigas colônias formaram a
estrutura na qual as relações de dependências e os relacionamentos privilegiados entre a
antiga metrópole e suas ex-colônias puderam continuar após as independências. É válido
42
No original: “De Gaulle’s cult of national dignity and presidential authority appealed to many of the leaders of
fragile newly independent states. Gaullist France cultivated this affinity by supplying the technical advisers and
teachers that these new governments needed to build a state apparatus and provide basic services. The French
astutely named this dependent relationship “la cooperation”; it assured the flow of French goods into these
markets and protected the environment for French capital investment. By supporting a common currency – the
CFA franc- Paris assured tight financial links and a measure of monetary stability throughout the entire
francophone community (only Guinea and Mali tried to establish their own money, and both eventually sought
readmission to the franc zone)”.
43
No original: “The transition from colonization to coopération was smoothed before the formal granting od
independence by the negotiation of comprehensive bilateral agreements between France and each francophone
African state, covering such areas as defense and security; foreign policy and diplomatic consultation; economic,
financial, commercial, and monetary matters; strategic minerals; and technical assistance. Through the linkage
established between the accession to international sovereignty, the signing of model cooperation agreements,
and the wholesale adoption of the French constitutional model of the Fifth Republic, France managed to
institutionalize its political, economic, monetary, and cultural preeminence over its formal African colonies,
which thereby- and for the next three decades- remained excessively dependent on the motherland.”
43
destacar que, assim como a expansão colonial francesa não foi motivada apenas pelo discurso
44
da mission civilisatrice e seu "dever civilizador" , mas possuía fortes motivos econômicos,
políticos e estratégicos (CUMMING, 2005), a construção desse arcabouço institucional
também possuía claros interesse econômicos e estratégicos. A zona de influência francófona,
blindada da presença de outras potências principalmente durante as primeiras décadas após as
independências africanas, representou um espaço protegido para as empresas francesas
atuarem, uma fonte de recursos naturais como petróleo e urânio, além de um grupo de apoio
conciso em organismos multilaterais internacionais.
44
Ainda que o discurso da mission civilisatrice tenha sido utilizado como fator legitimador para a expansão
colonial francesa, este não foi a motivação para esta expansão. Diversos autores abordam o assunto, no entanto,
Cumming (2005, p. 235) oferece uma exposição concisa dos motivos. Segundo o mesmo, "A França estava
interessada em se reestabelecer como uma grande potência imperial, em restaurar o orgulho nacional após a
derrota em 1870-71 na Guerra Franco-Prussiana e assegurar acesso a matérias-primas, mercados e mão-de-obra
que a África parecia estar pronta para oferecer."
45
O termo originalmente utilizado por Houphuët-Boigny foi "France-Afrique", a forma "Françafrique" foi
utilizada por Verschave em referência à expressão "France à Fric", onde "à fric" é uma expressão popular para
dinheiro.
44
parte significativa da política externa francesa para a África, porém não a sua totalidade.
Mesmo sendo por meio do comportamento dos tomadores de decisão da política africana da
França que a "Françafrique" se revele (BOVCON, 2011) e tem continuidade, este não
representa a totalidade da política africana da França.
46
No original:"First, the pays du champ came to include in the 1970s former Belgian colonies such as the
Democratic Republic of Congo (DRC: former Zaire), Rwanda and Burundi. Indeed, French officials and
government websites often refer to the DRC as ‘le premier pays francophone du monde’ (Ministère des Affaires
Étrangères 2014), perpetuating the notion of the DRC as a lynchpin of both Francophonie and the
Franco-African special relationship, whereas in fact most Congolese do not speak French and the country never
was a French colony. Thus, France’s special relationship with Africa cannot be understood purely by reference to
its colonial past. Secondly, the term Francafrique homogenises an increasingly differentiated relationship
between France and its former colonies in sub-Saharan Africa. Some former French colonies do not consider
themselves pays du champ and indeed have never done so.Mali (in colonial times French Sudan) is a good
example of this. Unlike other former colonies such as Gabon and Coˆ te d’Ivoire, there have never been close
relations between French and Malian governing elites: the latter have always resisted co-optation by French
elites and there are no mafia-like unofficial networks linking the two countries. Indeed, while Mali has
maintained its links with France throughout the post-colonial period, these relations have often been tense. [...]
Thirdly, in using the term Francafrique there is always the danger of appearing to posit ‘France’ as a unitary
actor. [..] so many different actors have a significant stake in policymaking ."
45
França, a Françafrique não deve ser entendido como sinônimo da política africana da França,
tampouco será abordada como tal nesta análise.
Segundo Verschave (2016), a base do pilar político está no que ele chama de
"gouverneurs à la peau noire" (governadores de pele negra), um grupo seleto de chefes de
Estado, selecionados por Jacques Foccart, considerados "amigos da França" que, apesar da
aparente impressão de independência, estão intimamente alinhados aos interesses franceses.
Para a manutenção desse seleto grupo no poder, segundo Verschave (1998; 2016), a França
48
utilizou desde assassinatos políticos, como no caso de Sylvanus Olympio do Togo e
Barthélémy Boganda da República Centro Africana; fraudes eleitorais, golpes de Estado e
intervenções militares para socorrer líderes "amigos da França". Aliado a isto, se tem o
discurso sobre a francofonia e os laços culturais compartilhados entre a ex-metrópole e suas
antigas colônias, Estes laços culturais compartilhados foram utilizados como uma ferramenta
central para a manutenção da zona francófona longe da ameaça da influência anglo-saxã,
culminando na criação da Organization Internationale de la Francophonie – OIF, em 1970,
com o objetivo de promover a língua e a cultura francesa dentre seus Estados membro e
observadores.
47
Por não-normalizado entende-se o relacionamento altamente personalista e privilegiado entre líderes franceses
e africanos, bem como o baixo de controle institucional sobre esses relacionamentos, uma vez que não estão
sujeitos à apreciação da Assembleia Nacional Francesa, fazendo parte do domínio privado da presidência da
República.
48
Sylvanius Olympio, primeiro presidente do Togo, foi assassinado em 13 de janeiro de 1963 durante um golpe
de Estado com a participação de Étienne Gnassingbé Eyadéma que, quatro anos mais tarde se tornaria presidente
por meio de outro golpe de Estado bem sucedido. Já Barthélémy Boganda, um promissor político da República
Centro Africana faleceu em um controverso acidente aéreo em 29 de março de 1959.
46
Aliado ao pilar político e cultural, está o pilar militar. Apontados por alguns analistas
como a espinha dorsal da dominação francesa sobre o espaço francófono africano, o pilar
militar está baseado em acordos de defesa e acordos de cooperação militar. De acordo com
Charbonneau (2008) as diferenças entre os acordos de defesa e os acordos de cooperação
militar são mais teóricas do que práticas. Os acordos de defesa permitem o Estado signatário
pedir ajuda e assistência francesa em caso de agressão externa e até instabilidade interna.
Estes acordos permitem também que a França legalmente mantenha bases militares nos
territórios dos países signatários e geralmente incluem cooperação técnica militar fornecida
pela França. Já os acordos de cooperação militar variam tanto em nome quanto em conteúdo e
dependem da peculiaridade de cada país signatário.
Assim, o que diferencia os acordos de cooperação militar dos acordos de defesa é que
o último, permite intervenções militares diretas e a presença de tropas e bases militares
francesas nos territórios dos países signatários. No entanto, de acordo com Charbonneau
(2008), a ausência de acordos de defesa nunca impediu a França de intervir militarmente em
49
No original: "To differentiate them from the defense agreements, the diplomatic documents took different
names: military cooperation, military assistence, conventions, 'échanges de lettre'. They usually are referred to as
military cooperation accords and provide for military training, technical assistence (maintenance, logistics, and
supply), and/or arms transfer."
47
sua zona de influência africana. É importante ressaltar também que especialmente os acordos
de defesa
Sem sombra de dúvidas um dos pontos mais peculiares nas relações entre a França e
suas antigas colônias são as moedas comuns franco-CFAs e franco comorense. Imposta no
contexto da dominação colonial, o franco - moeda oficial francesa à época da colonização-
passou a ser utilizada em detrimento de moedas e meios de troca tradicionais e particulares
dos povos africanos subjugados. A utilização da moeda da metrópole por suas colônias não
foi exclusividade francesa. Esta foi uma estratégia utilizada por todas as potências coloniais
europeias para comercializar e ter acesso às riquezas de seu espaço colonial, incluindo estas
forças sociais locais ao sistema capitalista colonial.
51
No original: “ l’un des objectifs principaux de l’entreprise coloniale des Européens en Afrique, au XIX siècle,
est l’appropriation d’une grande partie des richesses du continent à travers l’instauration de régime commerciaux
à l’avantage des métropoles. Dans ce but, le pouvoirs coloniaux devaient contrôler les circuits de production et
d’échange. Et ce contrôle passe forcément par celui de la monnaie. Afin de briser les résistances locales et de
faire accepter leurs monnaies, les colonisateurs utilisèrent tous les moyens de pression à leur disposition et
n’hésitèrent pas à recourir alternativement au droit colonial et à la violence.”
49
De acordo com Pigeaud e Sylla (2018, p. 35, tradução nossa53), “ com a criação da
zona do franco em 1939, a França buscou fazer de seu império colonial um escudo comercial
e monetário para proteger sua economia de um contexto de crise monetária, econômica e
política internacional”. Em 1945 ocorre a diferenciação do franco colonial com a criação do
franco CFP (Colonies française du Pacifique) e do franco CFA (Colonies françaises
d’Afrique). A peculiaridade envolvendo o franco CFA é que, ao contrário de outras moedas
coloniais, esta continuou a ser utilizada pelas antigas colônias francesas na África e com uma
lógica de funcionamento muito semelhante à do período de dominação colonial. Sendo assim,
a França é a única ex-potência colonial a manter sua zona monetária após as independências
(PIGEAUD e SYLLA, 2018).
52
No original: “Pendant la période coloniale, cette architecture institutionnelle a permis de faciliter le drainage
des ressources des pays africains vers la métropole. Grâce à la libre convertibilité du franc CFA à taux fixe et à la
liberté des transferts, les entreprises métropolitaines investissaient e désinvestissaient librement, et transféraient
librement leurs profits vers la métropole. [...] Le fait que l’AOF et l’AEF aient eu une monnaie unique arrimée
au franc métropolitain permettait de diminuer considérablement les coûts de transaction des administrations
coloniales et des entreprises métropolitaines. Si les différents territoires sous administration française avaient eu
chacun sa propre monnaie à parité fluctuante, le règlement des opérations commerciales aurait été plus
compliqué et onéreux.”
53
No original: “Lorsqu’elle crée la zone franc, en 1939, la France cherche à faire de son empire colonial un
bouclier commercial et monétaire protégeant son économie dans un contexte de crise monétaire, économique et
politique internationales”
50
também é gerenciado por um banco central específico, o Banco Central dos Estados da África
Central- BEAC. A ilha de Comores possui uma moeda específica, o franco comorense,
administrado pelo Banco Central de Comores -BCC.
54
No original: Fixité des parités, les francs CFA et comorien sont rattachés (ancrés) à la monnaie française,
appelée ‘monnaie d’ancrage’, de manière fixe: leur valeur en monnaie française ne varie pas selon la conjoncture
économique. Elle ne peut être modifiée que si les autorités politiques de la zone franc le décident.”
55
No original: “le libre transfert. Cela signifie que les transactions courantes (règlements des importations et des
exportations, rapatriement des profits et des dividendes, envois de fonds des travailleurs expatriés, etc) et les
mouvements de capitaux (comme les achats de titres ou les placements financiers) sont libres au sein de la zone
franc, c’est-à-dire entre les pays africaines et entre ces derniers et la France”
56
No original: “La convertibilité illimitée[...] signifie que l’on peut échange les franc CFA et comorien contre de
la monnaie française (franc puis euro) sans restriction. Cette convertibilité illimité est assurée par le Trésor
français: à travers les accords monétaires qu'il a passés avec les autorités africaines, il s'est engagé à prêter autant
d'argent qu'il le faut aux banques centrales de la zone franc dans le cas où leurs avoirs extérieurs seraient épuisés.
L'objectif: faire en sorte que les banques centrales ne manquent jamais de devises et puissent régler les paiements
extérieurs ou les opérations de change au quotidien, mais aussi faire en sorte que la liberté de transfert ne soit
jamais restreinte au sein de la zone franc. Cette convertibilité présente la particularité de se concrétiser
uniquement sous la supervision du Trésor français. En dehors de ce cadre, le franc CFA n'est pas convertible:
51
O quarto princípio que rege a zona do franco é a centralização das reservas de troca,
de acordo com Pigeaud e Sylla (2018, p.40, tradução nossa57),
Pigeaud e Sylla (2018) apontam que para que estes quatro princípios possam ser
operacionalizados, existe um sistema próprio da zona do franco, as contas de operação.
Segundo os autores, cada Banco Central possui a sua conta especial de operação por meio da
qual o Tesouro Francês faz as trocas de moedas, atuando como o escritório de trocas oficial
dos países da zona do franco. São nas contas especiais que são depositadas as reservas de cada
Banco Central para garantir a livre conversibilidade das moedas. Quando um país da zona do
franco faz comércio com um outro país que não usa euro, China ou Brasil, por exemplo, o seu
Banco Central deve informar o Tesouro Francês que irá, por meio da conta de operação do
contrairement aux billets de dollars ou d'euros qui peuvent être échangés presque partout dans le monde, les
billets de francs CFA ne peuvent l'être que dans leur zone d'émission.”
57
No original: “la BEAC, la BCEAO et la BCC doivent déposer une partie de leurs avoirs extérieurs en France,
auprès du Trésor français. [...] Cette centralisation des réserves constitue la contrapartie de la garantie de
convertibilité illimitée du Trésor français. La centralisation et la garantie française instaurent ainsi une double
solidarité. La première, verticale, relie la France aux pays africains par la garantie de convertibilité. L’autre,
horizontale, s’établit entre les pays africains: ceux qui ont le plus de ressources et donc le plus de devises
permettent, par la mise en commun, à ceux qui en ont moins de profiter de leur matelas de devises.”
58
Pooling é uma técnica de finanças que visa reduzir os riscos e maximizar os ganhos de transações financeiras.
52
referido banco, converter o franco CFA em euro e depois trocar o euro pela moeda de destino.
O mesmo acontece quando ocorre a operação inversa. A moeda estrangeira é convertida em
euro e depois creditada em franco CFA na conta de operação específica.
Este processo é realizado por conta da não possibilidade de conversão direta dos
franco CFAs e comorense em qualquer outra moeda que não seja o euro. Vale destacar ainda
que esta conversão é feita no mercado de troca de Paris, gerando uma demanda suplementar
para o euro, que se torna um intermediário privilegiado nas trocas entre países africanos.
Mesmo que as trocas sejam entre países africanos, a França, e consequentemente o euro,
acabam envolvidos indiretamente nestas trocas.
O governo francês intervém por meio do Tesouro Francês, que está ligado ao
Ministério das Finanças francês. Ele garante a conversibilidade e gerencia as “contas
de operação” dos Bancos Centrais, que estão de fato sob a sua tutela. O Banco da
França é o banqueiro do Tesouro francês. Ela lida com o gerenciamento de suas
contas, incluindo as contas das operações. Ela também é correspondente do BCEAO,
BEAC e BCC. Isso significa que eles têm contas -diferentes das contas de operação -
que funcionam como contas bancárias comuns. Se o BEAC quer fazer, por exemplo,
uma transferência em euros à um operador na França, ele dá a ordem ao seu
correspondente no local, o Banco da França, efetuar a transação. Este, através do
sistema de correspondentes que os Bancos Centrais gerenciam suas relações
financeiras com o exterior (PIGEAUD e SYLLA, 2018, p. 45-46, tradução nossa59)
Por sua vez, os Bancos Centrais africanos são responsáveis pela emissão de moeda
para a sua respectiva região, a fiscalização da atividade bancária local e a garantia da
estabilidade monetária e financeira de sua zona. No entanto, cabe ressaltar que os Bancos
Centrais africanos não possuem poder de decisão no estabelecimento de políticas financeiras e
monetárias em suas regiões. Os representantes franceses participam do conselho de
59
No original: “Le gouvernement français intervient à travers le Trésor français, qui dépend du ministère français
des Finances.II apporte sa garantie de convertibilité et gère les ‘comptes d'opérations’ des banques centrales qui
sont, de fait, placées sous sa tutelle.La Banque de France, elle, est le banquier du Trésor français.Elle s'occupe de
la gestion de ses comptes, dont les comptes d'opérations.Elle est également l'une des correspondantes de la
BCEAO, de la BEAC et de la BCC.Cela signifie que ces dernières disposent auprès d'elle de comptes différents
des comptes d'opérations - qui fonctionnent comme des comptes bancaires ordinaires. Si la BEAC veut adresser,
par exemple, un virement en euros à un opérateur en France, elle donne l’ordre à sa correspondante sur place, la
Banque de France, d’effectuer cette transaction. C’est à travers le système des correspondants que les banques
centrales gèrent leurs relations financières extérieures.”
53
A França continua dentro dos três Bancos Centrais de Dakar, Yaoundé e Moroni.
Participa dos conselhos de administração das três instituições e possui o mesmo
número de representantes e voz que qualquer Estado membro dos respectivos espaços
monetários.[...] Isto significa de que França possui poder de veto implícito sobre
questões essenciais. Paris também está representada nos outros órgão do BCEAO e
BEAC: no Collège des censeurs, que controla a execução de seu orçamento, na
Comissão Bancária, que fiscaliza a atividade bancária em seu respectivo espaço,
dentre outras (PIGEAUD e SYLLA, 2018, p.97-98, tradução nossa60).
Além do mais, o Tesouro Francês e Banco da França são os responsáveis pelo controle
e análise de informações da zona do franco, bem como por formular recomendações para a
zona e supervisionar as reuniões de Ministros de Finanças da zona do franco. O controle e a
participação francesa sobre toda a política monetária e financeira da zona do franco é sem
dúvida alguma uma importante ferramenta de dominação francesa sobre sua zona de
influência africana e uma marca incontestável de seu relacionamento privilegiado com suas
ex-colônias.
Por meio do estabelecimento de uma moeda comum – o Franco CFA- adotado por
praticamente todos os países da zona francófona africana, a França consegue manter sua
influência, bem como garantir o acesso as matérias primas estratégicas africanas, facilitar o
escoamento de bens manufaturados franceses e espaço para investimento de capitais
excedentes (KROSLAK, 2004). Além do mais, por meio do sistema monetário do Franco
CFA a França mantém o controle sobre a moeda e política financeira das suas antigas colônias
(SIRADAG, 2014), e de acordo com Verschave (1998, 2016), por meio do Franco CFA é
possível o desvio de recursos da ajuda para o desenvolvimento, o que movimenta uma extensa
rede de corrupção envolvendo líderes franceses e africanos.
60
No original: “ La France siège toujour au sein des instances des trois banques centrales de Dakar, Yaoundé et
Moroni. Au sein des conseils d’administration de ces trois institutions, elle dispose du même nombre de
représentants et de voix que chaque État membre des espaces monétaires concernés. [...] Cela signifie que la
France a un droit de veto implicite sur les questions essentielles. Paris est aussi représenté dans d’autres organes
de la BCEAO et BEAC: le Collège des censeurs, qui contrôle l’exécution de leur budget, la Commission
bancaire, qui surveille l’activité bancaire dans leur espace respectif, etc.”
54
1.5. Conclusão:
CAPÍTULO 2
2.1.1. Globalização
EUA e URSS, e das atuais potências emergentes da “Nova Ordem Mundial”, como a
China. (MACLEAN e SZARKA, 2008, p.6, tradução nossa61)
Assim como outros assuntos, a questão dos riscos e dos efeitos da globalização na
cultura, identidade, economia e posição francesa no sistema internacional, uniu a esquerda e a
direita política durante o período de cohabitation64 do governo Chirac. Tanto Chirac quanto
Lionel Jospin, seu Primeiro Ministro do Partido Socialista, concordavam e defendiam
medidas para administrar, regular e acalmar os efeitos da globalização e o estabelecimento de
acordos internacionais para administrar os efeitos geopolíticos da globalização. O
61
No original: “In the late twentieth century, the Gaullist ambition to perpetuate national grandeur (greatness)
produced a tension between a long-standing will to international leadership and the reality of diminishing
national influence on the world stage. Internationalisation, and latterly globalisation, have exposed France’s
position as an ‘intermediary’ power some way behind the Cold War superpowers of yesteryear, the USA and the
USSR, and the emerging powers of today’s ‘new world order’, such as China.”
62
No original:”By the 1990’s this unipolar world entailed a context where, for the French, globalisation was
often synonymous with Americanisation, stirring the desire to preserve national differences and cultural
diversity.”
63
Yet it is also true that globalization often comes with an American face—because of the role of the English
language in global culture and business, the size of the U.S. economy and its large share of world trade and
investment, Americans’ comfort with the liberal economic practices associated with economic globalization, and
the United States’ unique power to project military force and diplomatic influence abroad. This is one of the
reasons why globalization poses particular problems to France, which has long competed with the United States
for world influence and, like the United States, has always seen itself as something of a model for the rest of the
world.
64
“Cohabitation politique” é um termo utilizado para denominar a coexistência institucional de um chefe de
Estado e um chefe de governo politicamente antagonistas.
57
Em sua obra, Gordon e Meunier (2001) discutem quatro aspectos centrais para que a
globalização seja tão desafiadora para a França. O primeiro aspecto diz respeito à tradição
intervencionista (dirigisme) do Estado francês na economia e na política, uma vez que o
processo de globalização e liberalização econômica demanda a diminuição do controle estatal
sobre a economia e consequentemente sobre a sociedade. O segundo fator está intimamente
relacionado à identidade e a cultura francesa, que estariam ameaçadas em especial pela
projeção cultural norte-americana e pela anglofonia. O terceiro fator diz respeito aos desafios
aos princípios e valores sobre os quais a República Francesa foi fundada. “Enquanto a
República Francesa está baseada, em teoria, na racionalidade- o Estado esclarecido se engajou
na melhora do destino coletivo do povo francês- a globalização é inevitavelmente um
processo desordenado e bagunçado que interfere na capacidade do Estado de desempenhar
esse papel” (GORDON e MEUNIER, 2001, p. 9, tradução nossa66). O quarto fator, e mais
importante para esta análise, é que a globalização era vista como ameaçadora para a projeção
internacional francesa justamente por reforçar a projeção internacional dos Estados Unidos.
65
No original: “France learned to conceive of Europe as a means of extending French influence, recognising that
French and European interests shared much common ground. Through playing a leading role in the European
Community (EC), France discovered that it could transcend national limitations and enjoy an amplified role on
the world stage, thus retaining more control over its own destiny than geopolitical and historical considerations
alone would logically have permitted”.
66
No original: “Whereas the French republic is based, in theory, on rationality—the enlightened state engaged in
the improvement of the collective destiny of the French people— globalization is inevitably a messy and
disorderly process that interferes with the state’s ability to play that role.”
58
O ambiente internacional do fim da Guerra Fria impôs à França, além dos desafios
relacionados à globalização, dois desafios fundamentais a sua política africana. O primeiro foi
o fim da política externa norte-americana ideologicamente orientada para a contenção da
URSS e assim da chancela para atuação francesa no espaço francófono como representante
dos interesses capitalistas ocidentais e da relativa exclusividade de atuação francesa na região.
O segundo, a crescente presença de outros atores internacionais na zona de influência francesa
no continente. Além da crescente presença de democracias industrializadas do norte, houve o
crescimento significativo da presença de potências emergentes no espaço africano, em
especial após o início do século XXI.
Durante trinta anos a França conseguiu manter sua zona francófona africana
relativamente livre da influência das duas superpotências da Guerra Fria, e também
relativamente livre da presença de outras grandes potências e potências intermediárias. Por
meio da chancela norte-americana para lidar com questões envolvendo seu espaço de
influência africano, a França conseguiu se manter como o principal potência em sua zona de
influência africana. Mesmo com seu discurso anticolonial, os Estados Unidos assistiram com
apreensão o fim do jugo colonial europeu no continente africano, em especial devido a
questões estratégicas envolvendo a balança de poder internacional que vigorava na ocasião.
Como aponta Chazan et al. (1999), a África foi historicamente um espaço de pouca prioridade
para os Estados Unidos e especialmente no momento da descolonização, os Estados Unidos,
assim como a União Soviética, sabiam pouco sobre o espaço africano.
67
A expressão “Chasse gardée” é comumente encontrada na literatura sobre relações franco-africanas e pode se
referir tanto ao espaço geoestratégico da zona francófona africana, quanto à questão institucional da competência
quase exclusiva do Presidente da República e do seu Conselheiro para Assuntos Africanos na definição da
política externa francesa para a África. Cabe ressaltar que esta expressão não é exclusivamente utilizada para
tratar sobre as relações Franco-Africanas. Não raramente esta expressão é encontrada na literatura para se referir
a algum outro espaço geográfico dominado ou sob forte influência de outro ator, por exemplo, a América Latina
como um chasse gardée dos Estados Unidos da América.
68
No original: “As long as the United States and France were pursuing fundamentally different but
complementary foreign policy interests-ideology for the United States and culture and economics for
France-francophone Africa remained the beneficiary of a complementary cold war regime in which U.S.-French
relations tended to be balanced, cooperative, and predictable. Regardless of whether France was led by the
conservative partisans of Charles de Gaulle or the socialists of François Mitterrand, French policy makers
predictably claimed that historical links and geographical proximity justified placing francophone Africa within
France's sphere of influence. The implicit assumption of what is referred to as the French version of the Monroe
Doctrine is that francophone Africa constituted France's chasse gardée (private hunting ground) and therefore
remained off limits to other great powers, regardless of whether they were "friends," such as the United States
and the other northern industrialized democracies, or "enemies," such as the former Soviet Union and other
"radical" powers.”
60
Ainda que muito tenha se falado sobre os emergentes e sua cooperação sul-sul com o
continente africano, assunto abordado adiante, a crescente presença de aliados franceses em
sua zona de influência mostra-se o verdadeiro desafio à atual política africana francesa.
O título da estratégia norte- americana [more than humanitarianism] fala por si, ao
lançar as bases conceituais para a ação dos norte-americanos para as próximas
décadas. Pragmatismo mais que humanitarismo, disputa por recursos minerais,
ampliação da diversificação no campo da energia, cooperação com os governos
democráticos e ocupação de espaços na luta contra o terrorismo são as linhas gerais de
trabalho para os próximos 20 anos dos Estados Unidos na África. Querem disputar a
69
No original: In comercial terms, the value of trade between the United States and the countries of the CEMAC
in 2010 shows that the US topped not only China but also the 27 European Union countries (including France).
And has as important commercial partners there: Congo (2 544.2 million euro), Gabon (1 751.8 million euro),
Equatorial Guinea (1 798 million euro) and Chad (1 516.7 million euro). Only Cameroon (329.7 million euro in
2010) and CAR (12.5 million euro) are exceptions. The US position is also visible through a military
cohabitation with France in Djibouti, with an increased influence in the Great Lakes region previously dominated
by France. In the cultural field, young Francophone elite prefer the American way and are attracted by North
America. As a matter of fact, large numbers of Francophone Africans trained in France or Belgium are moving to
the US or Canada (Quebec). As Achille Mbembe put it, “More fundamentally. France is losing a large part of the
cultural influence it once had on African elite. (…) The United States is clearly the principal beneficiary of this
defection.”.
61
70
No original: Since September 11 there is not much doubt that the fight against international terrorism
constantly has been a high priority of the different American administrations. In relation to Africa, the failed
states and the large ungoverned spaces attracted much attention from Washington (Schraeder 2011; Ploch 2010)
because of the analysis that these areas potentially could host terrorists and terrorists training camps.
62
71
No original: “[CJTF-HOA’s] mission was to discover and destroy international terrorist networks in the Horn,
East Africa, Yemen, and adjacent Indian Ocean islands.”
72
No original: “ a $100 million program to combat terrorist activities in Kenya, Tanzania, Uganda, Eritrea,
Ethiopia, and Djibouti. Personnel from these countries were trained in border, coastal, and aviation security and
in general police work. EACTI also established programs to thwart money laundering and terrorist financing, as
well as education programs to undermine the appeal of extremist ideologies.”
73
No original: In 2005, the PSI program was extended and transformed into the five-year interagency
TransSahara Counterterrorism Initiative (TSCTI). Like its counterpart in East Africa, TSCTI’s mission was to
help countries with large Muslim populations curtail the proliferation of extremist ideologies and the appeal of
terrorism by extending aid to the disaffected. TSCTI’s military program, Operation Enduring Freedom–Trans
Sahara (OEFTS), provided equipment, logistical support, and training to regional forces in border control, rapid
response capabilities, and terrorism prevention.
63
74
No original: “[is responsible] for coordinating, integrating and managing all Department of Defense (DoD)
assets and operations in its designated area of responsibility.”
64
75
No original: “ By working with the African partners to help strengthen stability and security in the region
through improved security capability and military professionalization. A key aspect of the command’s mission is
its supporting role to the other agencies’ and departments’ efforts on the continent. But like other combatant
command, AFRICOM is expected to oversee military operations, when directed, to deter aggression and respond
to crises. ”
65
Se, como demonstrado no capítulo anterior, estas políticas outrora possuíam um caráter
complementar, hoje possuem um caráter competitivo, ainda que não opostos.
Se durante a maior parte dos anos 1990 o continente africano foi visto como espaço de
atuação humanitária e com pouco valor estratégico, esta situação é revertida no início do
século XXI com o crescimento do valor estratégico do continente e com a reformulação da
política africana de diversos países. De acordo com Mangala (2010, p.8-10), há pelo menos
seis fatores fundamentais para esta mudança do status internacional do continente africano.
Em primeiro lugar, o autor aponta as significativas transformações econômicas, institucionais
e políticas que ajudaram a combater a ideia do “afro-pessimismo” típico dos anos 1990; em
segundo lugar, a crescente demanda por recursos energéticos e naturais africanos; em terceiro,
a securitização do espaço africano no contexto da “Guerra ao Terror” por parte dos Estados
Unidos e países membro da União Europeia; em quarto, a crescente importância do continente
nas estruturas de governança global e da importância da garantia do apoio africano para
avanço de agendas globais, em especial em negociações no âmbito da Organização Mundial
do Comércio (OMC), já que o continente africano representa quarenta por cento dos membros
da organização; em quinto, o autor destaca a importância de questões demográficas e sociais
decorrentes da diáspora e da interação entre normas socioculturais africanas e estrangeiras;
sexto, a redefinição da política africana de grandes e médias potências que é, em grande parte,
uma reação à crescente presença chinesa no continente.
Sendo, desde 2010, a segunda maior economia do mundo, a China vem muito
rapidamente formando novos eixos de relacionamento onde as parcerias são consolidadas
muito além das trocas comerciais ou investimentos. Contando com importação de valores
culturais e principalmente, com um modelo de desenvolvimento alternativo “Made in
Beijing”, o governo chinês se propõem oferecer uma via de desenvolvimento alternativa ao
modelo ocidental proposto por Washington.
Com uma estratégia explícita que envolve a) exportação para a África do modelo
chinês de tratamentos dos temas da agenda internacional, apresentando-se como uma
representante natural dos países em desenvolvimento; b) exportação dos bens industriais e
armas e importação de produtos primários; c) exploração de todas as fontes possíveis e
necessárias de recursos minerais, estratégicos e de energia que garanta a sustentabilidade do
seu crescimento econômico, (SOMBRA SARAIVA, 2008, p.97) a China tem superando
sucessivamente diversas potências europeias, representando hoje um dos principais parceiros
comerciais e um importante investidor no continente. No campo multilateral, a iniciativa do
Fórum China-África de Cooperação (FOCAC), representa uma importante ferramenta de
aproximação e construção de laços entre a potência asiática e o continente africano.
76
No original: “With the increasing economic interdependency between China and Africa, Beijing perceives a
peaceful international environment not only an economic necessity but also an attractive foreign policy goal
(Zengyu and Taylor 2011: 150–151; Lei 2011: 346ff) and as such, the USA and China share basic interests.
Beijing has a political–strategic interest in making allies in Africa with the aim to strengthen the African voting
bloc within the UN having a group of likeminded countries challenging the global dominance of the USA and
the West”
67
Carbone (2011) argumenta que a crescente presença chinesa na África após o primeiro
FOCAC e o lançamento da Política Africana da China em 2006 consolidaram o entendimento
de que o relacionamento entre a potência asiática e o continente africano iam além de
oportunidades de negócio e cooperação para o desenvolvimento.
77
A política da Uma China (One China Policy), diz respeito ao não reconhecimento de Taiwan como uma
província independente, assumindo assim a existência de um único governo e único país, a China.
78
No original: “First, China’s interest in Africa has certainly been driven by economic interests, with the aim of
securing raw materials, gaining access to energy sources and finding a market for its manufactured goods. It has
had, moreover, an important political dimension. By presenting itself as ‘the largest developing country in the
world’, not only has China been able to project an identity of being a post-colonial actor, closer to the needs of
developing countries, but it has also actively sought to gain African support for an alternative development
model. Second, in line with the logics of its foreign policy, China has pursued a policy of non-interference in
human rights and democratic governance. This has meant a rejection of any type of conditionality (except the
‘One China’ policy). This, however, has attracted wide criticism because of its (unintended) consequences, that
of supporting undemocratic regimes.”
68
É inegável, contudo, que a maioria dos Estados africanos têm sido rápidos em suas
respostas à China e têm conseguido concluir acordos nas mais diversas áreas, que vão
desde a formação de profissionais até a construção de ampla infraestrutura, passando,
obviamente, pelo setor de petróleo e recursos naturais. Os investimentos feitos por
Pequim em educação, infraestrutura de capacitação, por exemplo, são interpretados
como uma prova da intenção chinesa de estabelecer uma ligação duradoura com o
continente africano, e não de manter uma relação apenas de exploração conjuntural de
seus recursos naturais (VISENTINI, 2013, p. 13).
79
Disponível em: http://www.sais-cari.org/data-china-africa-trade/
69
80
No original: “emerging powers such as China, India, Brazil, Turkey, and the Middle Eastern Gulf states
increased their economic involvement in Africa during the first decade of the twenty-first century. Although
these countries initially played only limited diplomatic and military roles, their presence gave African states
more flexibility and opportunity in forming international alliances.”
70
81
A Conferência de Bandung foi uma reunião de 29 países asiáticos e africanos recém independentes na cidade
de Bandung,Indonésia, entre os dias 18 e 24 de Abril de 1955. A conferência tinha como objetivo de mapear o
futuro de uma nova força política global (Terceiro Mundo), visando a promoção da cooperação econômica e
cultural afro-asiática, como forma de oposição ao que era considerado colonialismo ou neocolonialismo, por
parte dos Estados Unidos e da União Soviética, dando origem ao Movimento Não Alinhado.
71
82
No original: “It should be noted, however, that unlike China and a number of other countries with which it in
competition for access to Africa’s petroleum resources, India has “stressed that it [is] interested not just in buying
Africa’s oil but in participating in all phases of oil production, refining, storage, and transport.” Hydrocarbons
are not the only natural resources being sought by the growing Indian economy. Vedanta Resources, a publicly
traded metals conglomerate founded in Mumbai in 1976, has invested over $750 million in Zambian copper
mines, while Liberia entered into a 25-year deal for Arcelor Mittal to launch a $1 billion iron ore mining project
that will eventually employ 20,000 and is expected to begin exports next year after the company refurbishes train
tracks damaged during theWest African country’s long civil conflict. In Senegal, a joint public-private Indian
group has invested $250 million in exchange for a stake in colonial era enterprise, Industries Chimiques du
Senegal, with rock phosphate mines and plants to produce phosphoric acid used in agriculture. Indian firms are
also beginning to see in Africa a possible solution to their country’s food security challenge as formerly
agricultural lands are lost to urbanization and industrialization. A few years ago, for example, two Indian firms,
MsMashuli Gashmani Ltd. and Angelique, invested a total of $12million in Uganda to establish, respectively, a
commercial prawn fishery and turnkey aquaculture development. Uganda has become something of a favorite for
Indian agricultural investment. At the end of 2009, Jay Shree Tea & Industries, a part of the B.K. Birla group of
companies that has extensive tea-growing holdings in Assam, Darjeeling, Jalpaiguri, Uttar Dinajpur, and Tamil
Nadu, announced plans for its first overseas acquisition in Uganda as well as plans to establish itself in Kenya.
Such enterprises like these will undoubtedly proliferate as India, where the average food energy intake per
person is still below 2500 kcal and the population is set to grow at an average of over 1 percent per year over the
next three decades, overtakes China as the major driver of growth in world demand for agricultural products.”
73
Outro ponto a ser destacado nas relações indo-africanas é que a Índia, detentora de
uma das maiores forças armadas do mundo, tem participado ativamente de operações de paz
no continente africano especialmente após o fim da Guerra Fria. Sendo o terceiro maior
provedor de tropas para as operações de peacekeeping lideradas pela ONU no continente
africano, a Índia tem investido na formação de líderes militares africanos por meio de do
oferecimento de treinamentos à militares de diversos países africanos em suas escolas
militares, principalmente na National Defense College e na Defense Services Staff College
(PHAM, 2010; NAIDU, 2009, TAYLOR, 2010; VISENTINI, 2013).
Pham (2010), destaca ainda o importante papel que a Índia tem desempenhado na
promoção da democracia no continente africano, “a história da Índia permite que o seu
governo articule uma mensagem anti-extremismo e pró-democracia de credibilidade em
lugares que a credibilidade dos EUA e de outras potências ocidentais é bastante limitada”
(PHAM, 2010, p.124-125, tradução nossa83). No entanto, como destaca Taylor (2010), a ajuda
militar indiana atua como facilitadora para as atividades econômicas indianas no continente e
também colocam a Índia em uma posição de destaque, aumentando a sua influência no
sistema internacional.
83
No original: “India’s history enables its government to articulate the anti-extremism, pro-democracy message
credibly in places where, quite simply, the credibility of the United States and other Western nations is very
limited.
74
situações de conflito entre as potências emergentes e os tradicionais atores europeus, uma vez
que esta interação pode levar a situações de cooperação e coordenação de interesses.
84
No original: “During the Cold War, the United States carried the burden of global power projection for the
anti-Soviet alliance. Western Europeans largely specialized in warfare on the continent and in their neighboring
75
[A] União Europeia está se preparando para lidar autonomamente com problemas
securitários na periferia europeia e para ter voz em decisões sobre questões
securitárias mais distantes, caso tenham interesse. Isto está acontecendo porque os
europeus não acreditam que os Estados Unidos estarão sempre dispostos a lidarem
com estes problemas e porque muitos europeus não gostam da maneira com que os
Estados Unidos lidam com estes problemas. Eles querem outras opções e eles
perceberam que é necessário ter poder militar para ter opções. A UE está balanceando
o poder norte-americano, ainda que haja uma baixa percepção por parte dos europeus
de uma ameaça direta e iminente por parte dos EUA (POSEN, 2006, p,150-151,
tradução nossa85).
seas. British and French power projection capability contracted as they shed their empires. The United States has
employed the military power projection capabilities that were its Cold War legacy to project its influence and
power across the globe.”
85
No original: “the EU is preparing itself to manage autonomously security problems on Europe’s periphery and
to have a voice in the settlement of more distant security issues, should they prove of interest. It is doing so
because Europeans do not trust the United States to always be there to address these problems and because many
Europeans do not like the way the United States addresses these problems. They want another option, and they
realize that military power is necessary to have such an option. The EU is balancing U.S. power, regardless of the
relatively low European perception of an actual direct and imminent threat emanating from the United States.”
76
A construção de uma política externa comum tem que lidar e conciliar interesses
variados de múltiplos atores. Isto pode ser um fator dificultador para tradução de objetivos
específicos franceses em objetivos de política externa comum, ou seja a França tem que
convencer os outros países membro da UE da relevância da sua pauta e transformar esta pauta
específica (francesa) em uma pauta comum regional (europeia). Um exemplo deste tipo de
transformação de uma pauta específica em pauta regional é a própria construção de uma
capacidade militar comum no âmbito da União Europeia defendida e liderada pela França.
86
No original: “First, the EU’s most capable powers, especially Britain and France, but also Germany and to
some extent Italy, should be at the heart of these developments because they are the only members who can even
consider such an effort. Considerations of autonomy and power should figure in their decisions to support ESDP.
Second, events that demonstrate the risks of security dependence on the United States should be the major
proximate events stimulating ESDP developments. The Balkan wars were such events, and their lessons were
closely tied to ESDP. Third, the capabilities being sought should do more than merely deliver presents to the
United States; for example, they should provide the hope of some degree of genuine strategic autonomy. In
particular, Europeans should seek their own ability to command and control complex, multinational military
operations beyond their own borders and to support those operations with adequate intelligence.
87
Segundo Sophie des Beauvais, “ o conceito de ‘Exception Culturelle’ (exceção cultural) foi um termo usado
pela primeira vez pela França durante as negociações do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio em 1993. O
termo se refere ao fato de bens culturais e serviços não serem tratados como bens regulares em acordos de
comércio e na Organização Mundial do Comércio. Este conceito permite os países implementarem barreiras de
comércio indiretas, como cotas para difusão de trabalhos artísticos estrangeiros ou oferecer subsídios ao setor
cultural local”.
Para mais informações acessar: https://worldpolicy.org/2014/11/03/france-ending-the-cultural-exception/
77
com seu PIB e população igual ou até maior que as do EUA- é capaz de o fazer com
crescente sucesso. (MEUNIER, 2004, p.131, tradução nossa88)
Ainda que o fato de existir uma política externa comum e uma estrutura regional que
molde esta política, limite a atuação bilateral francesa no continente africano, esse não
extingue a capacidade do governo francês de estabelecer objetivos de política externa próprios
e independentes. Ao mesmo tempo, este tipo de atuação por meio de organizações regionais,
funciona como um diluidor de custos políticos e econômicos da presença e do envolvimento
francês no continente africano que passou a sofrer maior criticidade após o controverso
envolvimento francês na Guerra Civil Ruandesa.
88
No original: “A united Europe can wield much more influence in international negotiations, whether they be
on trade, the environment, food safety, international financial reform, foreign policy, the cultural exception, or
anything else. Individually, none of the EU Member States could successfully stand up to the Americans in any
of these areas, but the EU — with a GDP and population on a par or indeed even greater than those of the United
States — does so with increasing success.”
78
Com suas economias a beira do colapso, menor peso internacional e, em muitos casos
uma herança de rivalidade étnica produzida pelos colonizadores europeus, o continente
79
africano vivenciou a proliferação de conflitos internos e guerras civis durante os anos 1990,
resultando no colapso e falência de diversos Estados africanos.
Mesmo com esta situação, Chazan aponta que houve uma significativa relutância por
parte das grandes potências de se comprometerem com a reconstrução dos Estados falidos. A
indiferença das grande potências em relação ao continente africano é rompida diante a
instabilidade generalizada gerada por diversas crises como as ocorridas na Somália, Ruanda,
Congo, Libéria, Serra Leoa e Burundi, e demandou a intervenção de organizações
internacionais para evitar o colapso de diversos Estados, o que colocaria diretamente em risco
a estabilidade de diversas regiões do continente.
89
No original: “During most of the post-Cold War period, Africa has been presented and approached in Westerns
circles primarily as an object of humanitarian concern; a case for charity; a continent ravaged by wars and
conflicts and plagued with diseases, poverty, and endemic corruption; a marginal part of the world ravaged by
failed and weak states; a continent that seemed, for the majority of its states, stuck in chronic
underdevelopment.”
80
González (2018) sustenta que durante o início do século XXI, em especial sua segunda
década, o continente africano vivenciou um período de melhora em seu panorama outrora de
crise. A estrutura institucional do continente sofreu uma melhora significativa, o que
possibilitou a solução e prevenção de conflitos. No entanto o continente ainda enfrenta graves
problemas quanto a sua economia e novos desafios como o terrorismo e o questões climáticas.
Porém, os desafios propostos por questões securitárias, principalmente em zonas com
abundantes recursos naturais e governos corruptos ainda são um desafio a ser enfrentado pelos
países africanos
90
No original: “The Brazzaville bloc proved to be rather short-lived and became a sub-set of the Monrovia group
which stood opposed to the much smaller Casablanca group. In the run-up to the negotiations establishing the
OAU, the Monrovia and Casablanca groups disagreed over two main issues. First, over how to liberate Africa
from European rule, the main bone of contention being whether or not to support the National Liberation Front’s
struggle against the French in Algeria. The second divisive issue was the territorial partition of the continent.
There were squabbles over the cases of Somalia and Morocco–Mauritania, but the most important case was the
crisis unfolding in the Congo over, among other things, Katanga’s secession. By the time of the OAU
negotiations, these and other less fundamental divisions had given rise to two competing visions of African unity.
The first, dubbed the ‘United States of Africa’ and championed by Kwame Nkrumah and Julius Nyerere, argued
81
Durante o período de 1999 a 2002, a atuação de três potências regionais africanas foi
determinante para transformação da Organização da Unidade Africana em União Africana.
Este processo resultou da convergência/ fusão de interesses estratégicos da África do Sul,
Nigéria e Líbia. A África do Sul, liderada por Thabo Mbeki, via na criação da UA uma
estratégia para melhorar a imagem internacional do continente africano e assim atrair
investimentos estrangeiros, colocando a África do Sul como uma importante nação comercial
global. Buscando uma nova imagem do continente africano no sistema internacional, Mbeki
resgata a expressão “Renascimento Africano” como sinônimo de “visão holística orientada
para a promoção da paz, prosperidade, democracia, desenvolvimento sustentável, liderança
progressista e bom governo” (TIEKU, 2004, p.255, tradução nossa91).
for a single continental government. The second, dubbed the ‘United Nations of Africa’ won the day, however,
and was exemplified by the creation of an organization of newly independent sovereign states.”
91
No original: “‘holistic vision . . . aimed at promoting peace, prosperity, democracy, sustainable development,
progressive leadership and good governance’.”
82
Além da alínea (h), o artigo 4 do Ato Constitutivo da União Africana traz dois
princípios relevantes. A alínea (m) fala do “respeito pelos princípios democráticos, Direitos
Humanos, Estado Democrático de Direito e boa governança” (ATO CONSTITUTIVO DA
UNIÃO AFRICANA, 2002, p.7), enquanto a alínea (p) trata da “condenação e rejeição a
trocas inconstitucionais de governantes” (ATO CONSTITUTIVO DA UNIÃO AFRICANA,
92
No original: “Unlike the OAU, the AU has real powers. For instance, in sharp contrast to the Charter of the
OAU,which made the principle of juridical sovereignty an inviolable artefact, the Constitutive Act (CA) of the
AU creates room for the continental organization to interfere with some sovereign prerogatives of African states.
Indeed, Article 4(h) of the CA states that the AU has the right to intervene, without consent, in a member state in
order: to ‘restore peace and stability’; to ‘prevent war crimes, genocide and crimes against humanity’; and in
response to ‘a serious threat to legitimate order’.The new authority delegated to the AU has not only given some
‘teeth’ to the continental organization, but also marks a radical overhaul of co-operation among African states.”
83
2002, p.7). Estes princípios revelam a menor tolerância da organização regional à governos
autoritários e não democráticos, tornando politicamente custoso para os Estados-membros
recorrerem a estratégias não democráticas de tomada de poder, por exemplo, a utilização de
Golpes de Estado. Durante as primeiras décadas após as independências africanas, a França
recorreu diversas vezes a Golpes de Estado para garantir a permanência de aliados franceses a
frente de Estados africanos, bem como para retirar do poder líderes que contestavam o papel
francês no continente. A partir da criação da UA, esta deixa de ser uma estratégia viável para
a manutenção da influência política francesa na região. Utilizar esta ferramenta de dominação
política resultaria em custos políticos altíssimos para a França.
entre políticos franceses e elites africanas para assegurar interesses estratégicos franceses no
continente.
Uma alteração que não pode ser negligenciada é a reação da opinião pública em
relação aos escândalos envolvendo a presença francesa no continente africano. A repercussão
negativa na mídia internacional e nacional francesa da controversa atuação da França na
Guerra Civil ruandesa e as implicações no genocídio do povo Tutsi e Hutus moderados em
meados dos anos 1990 expôs à população francesa as entranhas, até então desconhecidas do
grande público, da política africana da França. Outros escândalos como o “Angolagate”,
escândalo que envolveu grande parte da elite política francesa em um esquema de tráfico de
armas, tráfico de influência, evasão de divisas e corrupção durante a Guerra Civil Angolana
quando o governo angolano sofreu um embargo de armas pela ONU em 1992 e políticos
franceses utilizaram empresários franceses e comerciantes de armas europeus para fornecerem
ilegalmente armas e munições para o recém-eleito presidente angolano, José Eduardo dos
Santos em troca de petróleo e dinheiro (ALLEN, 2010), desencadeou uma onda de pressão
por parte da opinião pública demandando reformas e a normalização da política africana da
França.
bancário e transporte aéreo, além de ter interesse significativo nas commodities e agricultura
(tradução nossa93);
93
No original: “It accounts for 3 per cent of France’s exports and also remains an important supplier of oil and
metals- uranium from Niger is particularly strategic for energy security as about one-quarter of France’s
electricity production depends on it. French companies are particularly strong in sectors such as logistic, port and
rail operations, telecoms, shipping, banking and air transport; they also have a significant interest in tropical
commodities and agriculture”.
94
O autor não deixa claro se este número inclui os aproximadamente 900 mil franceses que vivem no
departamento ultramarino francês Ilha Reunião.
95
No original: “At least 240,000 French nationals are registered as living in Africa”.
96
No original: “French engagement with African states have played an important role in sustaining its image as a
major power. African countries can be a valuable source of supportive votes at the UN and they have been key
allies for France and fellow EU members in international negotiations on certain global issues, notably climate
changes.”
97
No ano 2000, por meio uma reforma do sistema eleitoral francês, houve a redução do mandato presidencial de
7 para 5 anos que entrou em vigor nas eleições de maio de 2002. Assim o primeiro mandato de Jacques Chirac
teve duração de 7 anos, enquanto o segundo durou 5, e esta é a atual duração do mandato presidencial francês.
86
98
No original: "budgetary support for African states became conditional uopn the prior conclusion of structural
adjustment agreements with the International Monetary Fund (IMF) and World Bank.
99
No original: "This required states in the pré carré to reestructure their economies in accordance with the
principles of international liberalism. Importantly, the adoption of the Adbijan doctrine marked an end to one of
the distinguishing features of the Franco-African 'family' relationship - the provision of financial assistence to
the pays du champ without any formal economic conditions attached. From now on, only countries undertaking
an IMF/ World Bank- sponsored reform programme were eligible for aid."
87
100
No original: "Until decolonization (and indeed up to this day), race-thinking clearly conditioned European
views and policies regarding Rwanda. The Germans discovered intricate social structures and were amazed by
complexities of the social order, but they redefined it all in racial terms. Rwanda was inhabited by Hutu, Tutsi,
and Twa, who comprised one per cent of the population. However, to be Hutu or Tutsi had nothing to do with
race or class. Agriculture was the domain of the Hutu and Tutsi were the owners of cattle. Cattle were a sign of
wealth, power, good breeding, and a means for upward social mobility."
101
No original: "The Belgian colonial authorities also classified Hutu, Tutsi, and Twa according to their height,
the length of their nose, the shape of their eyes, and then introduced identity cards in 1933 which specified who
belonged to which 'race'"
88
causadas pela desvalorização das exportações ruandesas a partir de 1974. Com a crise
econômica e o consequente enfraquecimento político de Habyarimana, em outubro de 1990 a
Frente Patriótica Ruandesa (FPR), liderada por Paul Kagame, invadiu Ruanda, o que segundo
Charbonneau (2008), forneceu a justificativa para que Habyarimana reforçasse posições
extremista e iniciasse uma perseguição não apenas ao FPR, mas também aos Tutsi e até Hutus
moderados. Esta radicalização da postura do governo ruandês levaria ao genocídio do povo
Tutsi e Hutus moderados. Diante da ameaça a um "governo amigo", a França forneceu apoio
militar ao governo Habyarimana por meio da Operação Noroît, que além de incapaz de evitar
102
a escalada do conflito e o genocídio , forneceu as condições necessárias para que este
ocorresse.
102
Segundo Pesnot (2010, p. 399), genocídio é definido pela "Organização das Nações Unidas como a destruição
sistemática de um grupo étnico por meio do massacre de dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças."
103
No original: "French military and logistical support for Habyarimana in the run-up to the genocide and the
consequent implication of the French government in preparations for the genocide focused the attention of both
international and domestic opinion on French military intervention in Black Africa in a manner that was
unprecedented. From political independence in 1960 to 1994, there had been a average of one French military
intervention in Black Africa per year, but these now stopped. The combination of international and domestic
criticism of the French role in Rwanda serves to de-legitimize overt military interventions as na instrument of
policy."
89
104
No original: "As a result, old-style, unilateral French military interventions in Africa were discredited. Not
only this, but France could do nothing to prevent the English-speaking Rwanda Patriotic Front from taking
power in Kigali. The result was the replacement of a pro-French government with a new government that was
hostile to France and the loss of Rwanda from the Franco-African 'family'."
105
No original: "The central innovation for France is the 'multilateralization' of military policy, which comprises
two elements: the 'Africanization' of regional security and a 'multinationalization' of Western interests
exemplified by Franco-British and American-led initiatives to create regional peacekeeping forces. This is in
France's interest for several reasons. It helps avoid the danger of France becoming militarily and diplomatically
isolated and, in the case of a decision to intervene militarily, it share the responsabilities, risks and financial
burden of military intervention. [...] For Paris, this new approach has the advantage of maintaining influence -
and lucrative arm markets- while reducing the attendant political risks and economic costs of unilateral military
interventions."
90
2.6. Conclusão
CAPÍTULO 3
O final dos anos 1990 e início dos anos 2000 foi um período de polêmicas e
escândalos envolvendo elites políticas francesas e seu relacionamento com o continente
africano. A grande a repercussão de escândalos como o caso de corrupção envolvendo a
petroleira estatal francesa Elf Aquitaine, o caso Angolagate, a crítica internacional acerca da
atuação francesa em Ruanda e seu apoio a governos autoritários desgastaram a opinião
pública francesa a respeito dos relacionamentos franco-africanos e fortaleceu o discurso de
necessidade de normalização destas relações já endossado por Mitterrand e Chirac.
Precisamos construir uma relação nova, limpa, desinibida e equilibrada, livre das
escórias do passado e da obsolescência que perdura nos dois lados do Mediterrâneo.
Isso envolve várias mudanças fundamentais, algumas das quais, felizmente, estão em
ação.
Primeiro, esse relacionamento precisa ser mais transparente. Precisamos nos livrar das
redes de outra época, emissários não oficiais que não têm mandato além do que
inventam. O funcionamento normal das instituições políticas e diplomáticas deve
prevalecer sobre canais informais que causaram tanto dano no passado. Devemos
definitivamente virar a página de elogios, segredos e ambiguidades. (SARKOZY,
DISCURSO EM COTONOU, 2006, tradução nossa106)
Logo após sua eleição em maio de 2007, Nicolas Sarkozy deu continuidade a seu
discurso reformista e constituiu uma gabinete de viés modernizador com indicações de nomes
como Jean-Marie Bockel para o Ministério da Cooperação e Francofonia, Bernard Kouchner
107
para o Ministério das Relações Exteriores e Bruno Joubert como Conselheiro de Assuntos
Africanos- o Messieur Afrique, como são conhecidos os ocupantes de tal cargo. Um ponto
relevante em relação à indicação de Joubert é que Sarkozy requisitou que o mesmo se
reportasse a Jean-David Levitte, Conselheiro Geral de Política Externa do Elysée e não
106
No original: “Il nous faut construire une relation nouvelle, assainie, décomplexée, équilibrée, débarrassée des
scories du passé et des obsolescences qui perdurent de part et d'autres de la Méditerranée. Cela implique
plusieurs changements de fond, dont certains sont heureusement à l'oeuvre.
D'abord, cette relation doit être plus transparente. Il nous faut la débarrasser des réseaux d'un autre temps, des
émissaires officieux qui n'ont d'autre mandat que celui qu'ils s'inventent. Le fonctionnement normal des
institutions politiques et diplomatiques doit prévaloir sur les circuits officieux qui ont fait tant de mal par le
passé. Il faut définitivement tourner la page des complaisances, des secrets et des ambiguïtés.”
107
Bernard Kouchner é um médico francês e um dos fundadores da ONG Médicos sem Fronteiras.
93
Como aponta Moncrieff (2012b, p.11, tradução nossa108) “os laços entre os líderes
africanos e o movimento Gaullista francês têm sido tão densos que é altamente improvável
que alguém consiga ascender em sua estrutura sem algum suporte daqueles ligados à África”.
Esta dualidade entre o discurso modernizador e a necessidade de acomodar interesses ligados
à tradicional política africana francesa será nítida durante todo o governo Sarkozy. Um
episódio peculiar que ilustra a aparente ambivalência da política africana do governo Sarkozy
foi a vista, logo em seu primeiro mês à frente do governo francês. Sarkozy recebeu a visita de
Ellen Johnson Sirleaf, presidente da Libéria - primeira mulher a ocupar o cargo de presidente
em um país africano, de um país anglófono e que tem se destacado na região da África
Ocidental por seus avanços democráticos- em um dia e recebeu Omar Bongo - um aliado
histórico francês e árduo defensor dos relacionamentos privilegiados entre França e África-
no dia seguinte (MONCRIEFF, 2012b).
Em sua primeira viagem oficial ao continente africano, Sarkozy fez sua primeira
parada na capital do Senegal, Dakar, onde proferiu um controverso discurso na Universidade
de Dakar Cheikh Anta Diop em 26 de julho de 2007. O discurso foi alvo de duras críticas, em
108
No original: “such has been the density of links between African leaders and the French Gaullist movement,
that it is highly improbable that anyone could rise through its ranks without some support from those connected
to Africa.”
94
especial na França, onde foi acusado de racismo devido o tom infantilizado que tratava os
africanos e devido tentativa de negação da participação francesa nos problemas africanos
(FOUTOYET, 2009).
A tragédia da África é que o homem africano não foi longe o suficiente para a
história. O camponês Africano, que por milhares de anos, vive com as estações do
ano, cujo ideal de vida é estar em harmonia com a natureza, conhece apenas a eterna
renovação de tempo pontuado pela repetição infinita dos mesmos gestos e mesmas
palavras. Neste mundo imaginário, onde tudo começa de novo, não há lugar para a
aventura humana ou para a idéia de progresso. Neste universo onde a natureza
comanda tudo, o homem escapa à angústia da história, que agarra o homem moderno,
mas o homem permanece imóvel em meio a uma ordem imutável em que tudo parece
escrito antecipadamente. O homem nunca corre para o futuro. Nunca chega à ideia de
sair da repetição para inventar um destino.
O problema da África - diz um amigo da África - está lá. O desafio da África é
aprofundar-se na história, explorar a energia, a força, o desejo, a vontade de ouvir e
casar a sua própria história. O problema da África é parar sempre repetindo, ensaiar
constantemente, libertar-se do mito do eterno retorno, é tornar-se consciente de que a
idade de ouro que ela nunca deixa de lamentar [seu fim] não retornará porque nunca
existiu. O problema da África é que ela vive demais na nostalgia do paraíso perdido
da infância. O problema da África é que muitas vezes julga o presente em relação a
uma pureza de origens totalmente imaginárias e que ninguém pode esperar ressuscitar.
O problema da África não é inventar um passado mais ou menos mítico para ajudar a
sustentar o presente, mas inventar um futuro com meios próprios. O problema da
África não é preparar o retorno do infortúnio, como se ele se repetisse
indefinidamente, mas querer dar a si mesmo os meios para evitar o infortúnio, porque
a África tem o direito de felicidade como todos os outros continentes do mundo. O
problema da África é permanecer fiel a si mesmo sem ficar parado.
O desafio para a África é aprender a considerar sua ascensão ao universal não como
uma negação do que é, mas como uma conquista. O desafio para a África é aprender a
sentir a herdeira de tudo o que é universal em todas as civilizações humanas, é
apropriar-se dos direitos do homem, democracia, liberdade, igualdade, justiça como
patrimônio comum de todas as civilizações e de todos os homens e apropriar-se da
ciência e tecnologia modernas como o produto de toda a inteligência humana.
(SARKOZY, DISCURSO DE DAKAR, 2007, tradução nossa109)
109
No original: “Le drame de l'Afrique, c'est que l'Homme africain n'est pas assez entré dans l'Histoire. Le
paysan africain, qui depuis des millénaires, vit avec les saisons, dont l'idéal de vie est d'être en harmonie avec la
nature, ne connaît que l'éternel recommencement du temps rythmé par la répétition sans fin des mêmes gestes et
des mêmes paroles. Dans cet imaginaire où tout recommence toujours, il n'y a de place ni pour l'aventure
humaine ni pour l'idée de progrès. Dans cet univers où la nature commande tout, l'Homme échappe à l'angoisse
de l'Histoire qui tenaille l'Homme moderne mais l'Homme reste immobile au milieu d'un ordre immuable où tout
semble être écrit d'avance. Jamais l'Homme ne s'élance vers l'avenir. Jamais il ne lui vient à l'idée de sortir de la
répétition pour s'inventer un destin.
Le problème de l'Afrique -- permettez à un ami de l'Afrique de le dire --, il est là. Le défi de l'Afrique, c'est
d'entrer davantage dans l'Histoire, c'est de puiser en elle l'énergie, la force, l'envie, la volonté d'écouter et
d'épouser sa propre histoire. Le problème de l'Afrique, c'est de cesser de toujours répéter, de toujours ressasser,
de se libérer du mythe de l'éternel retour, c'est de prendre conscience que l'âge d'or qu'elle ne cesse de regretter
ne reviendra pas pour la raison qu'il n'a jamais existé. Le problème de l'Afrique, c'est qu'elle vit trop le présent
dans la nostalgie du paradis perdu de l'enfance. Le problème de l'Afrique, c'est que trop souvent elle juge le
présent par rapport à une pureté des origines totalement imaginaire et que personne ne peut espérer ressusciter.
Le problème de l'Afrique, ce n'est pas de s'inventer un passé plus ou moins mythique pour s'aider à supporter le
présent mais de s'inventer un avenir avec des moyens qui lui soient propres. Le problème de l'Afrique, ce n'est
pas de se préparer au retour du malheur, comme si celui-ci devait indéfiniment se répéter, mais de vouloir se
95
donner les moyens de conjurer le malheur, car l'Afrique a le droit au bonheur comme tous les autres continents
du monde. Le problème de l'Afrique, c'est de rester fidèle à elle-même sans rester immobile.
Le défi de l'Afrique, c'est d'apprendre à regarder son accession à l'universel non comme un reniement de ce
qu'elle est mais comme un accomplissement. Le défi de l'Afrique, c'est d'apprendre à se sentir l'héritière de tout
ce qu'il y a d'universel dans toutes les civilisations humaines, c'est de s'approprier les droits de l'Homme, la
démocratie, la liberté, l'égalité, la justice comme l'héritage commun de toutes les civilisations et de tous les
Hommes, c'est de s'approprier la science et la technique modernes comme le produit de toute l'intelligence
humaine.”
110
No original: “son style volontariste, sa relative jeunesse et son désir de « rupture» paraissaient de bon augure à
une partie au moins des nouvelles générations africaines de cadres, pressées d’en finir avec le vieux clientélisme
franco-africain.”
96
Em julho de 2006, pouco menos de ano antes das eleições presidenciais francesas,
Sarkozy lançou sua segunda lei de imigração. Conhecida como segunda Lei Sarkozy, a edição
de 2006 visava “adaptar a imigração à capacidade francesa de receber os imigrantes e às
necessidades econômicas do país” (MARTHALER, 2008, p.389, tradução nossa112). A
segunda Lei Sarkozy sofreu duras críticas devido ao seu caráter seletivo de imigração que
buscava restringir a imigração às necessidades econômicas francesas, em especial no que se
refere à mão-de-obra qualificada. Este aspecto da lei foi imediatamente relacionada a uma
tentativa de “brain drain” - fuga de cérebros- enfraquecendo ainda mais os países africanos
que sofrem de uma deficiência crônica de mão-de-obra qualificada.
111
Fundado em 1972 por Jean- Marie Le Pen, o partido Front National buscava unificar a extrema direita
francesa de caráter nacionalista e protecionista. Atualmente o partido é liderado por Marine Le Pen, filha de
Jean-Marie, e teve seu nome alterado para Rassemblement National.
112
No original: “this one was aimed at better adapting immigration to France’s capacity to receive immigrants
and to the country’s economic needs.”
97
separado para regular a imigração. Para os olhos africanos o discurso de Dakar, vindo
apenas algumas semanas depois, reforçou a percepção de que ele via o continente de
maneira negativa (MELLY E DARRACQ, 2013, p.7, tradução nossa113).
Logo após sua eleição, Sarkozy deu continuidade a sua plataforma reformista em
especial no que se refere à política externa.
113
No original: “ In forming his government earlier the president had attempted to defuse the domestic political
challenge of the xenophobic Front National by establishing a separate ministry to regulate immigration. In
African eyes the language of the Dakar speech, coming just a few weeks later, reinforced perceptions that he saw
the continent largely in negative terms.”
114
No original:He initially appointed a foreign minister from the left, Bernard Kouchner, and several other
figures not from the right to indicate he wished to break with previous practices and be more inclusive and
innovative. He ordered several reports and white papers on foreign policy and defense, and pushed the debate
about what could be accomplished with available resources. In his first months, he announced the “return of
France in Europe” (to overcome France's rejection of the 2005 EU referendum); a full and complete return to
NATO's command structures; a reconciliation with the United States, marked in particular by sending additional
troops to Afghanistan; an initiative for a Union for the Mediterranean; and a renewed relationship with Africa as
well as the Middle East.
98
denúncia sobre as propriedade de Omar Bongo na França foi a gota d’água para sua saída do
governo francês (CUMMING, 2013; MONCRIEFF, 2012a).
A saída de Bockel do Ministério da Cooperação foi feita ao melhor estilo “old way”,
por meio de um emissário especial. Robert Bourgi, um advogado libanês com relação pessoal
com diversos líderes africanos, atuou por diversas vezes como um porta-voz especial dos
líderes africanos junto ao governo francês após a morte de seu tutor Jacques Foccart
(CUMMING, 2013; MONCRIEFF, 2012b) e chegando a ser condecorado em 2007 por
Sarkozy (MONCRIEFF, 2012a). Sua presença e influência no governo francês demonstra que
a promessa feita por Sarkozy de romper com a prática dos emissários especiais, pode ter sido
exatamente isto, uma promessa.
O governo Sarkozy é frequentemente apontado por sua ambiguidade e, até certo ponto,
confusão, quanto a condução da política externa. No entanto, mesmo com as idas e vindas de
sua política externa, percebe-se uma continuidade na busca por destaque e liderança
internacional, marca incontestável da política externa da Quinta República francesa. Sarkozy
tentou ampliar o prestígio e o envolvimento internacional francês por meio da liderança em
assuntos internacionais como o retorno à OTAN em 2009, busca de uma maior projeção na
União Europeia, reaproximação com os Estados Unidos e tentativa do estabelecimento de
relações privilegiadas com a potência norte-americana. Porém, a falta de uma estratégia clara
que desse um posicionamento e uma direção sólida para esta política externa causou reações
nem sempre esperadas do meio levando a diversas correções de política externa, o que foi
entendido como ambiguidade e controvérsias e até mesmo falta de estratégia por parte dos
analistas da política externa francesa.
ameaças à segurança nacional francesa com maior destaque para ameaças não tradicionais
como meio-ambiente, terrorismo e interdependência econômica.
Esta lista não esgota a incerteza do mundo em que nós vivemos, um mundo que não
necessariamente se tornou mais perigoso, mas certamente mais imprevisível, mais
instável, mais contraditório do que aquele que existia em 1994, quando o Livro
Branco anterior [foi elaborado]. Em tal ambiente, as novas vulnerabilidades afetam o
território nacional e a população francesa. Elas se impõe como elementos
determinantes para a adaptação de nossa defesa e de nossa segurança (FRANÇA,
2008a, p. 14, tradução nossa115).
Esta região não constitui um todo homogêneo. Cada país possui sua identidade e sua
história, sua instância política, social, econômica e humana. Cada subconjunto
regional tem sua lógica: o da zona do Sahel, da Mauritânia para a Somália, é
distintamente diferente das fronteiras do Mediterrâneo, do Oriente Leste, Golfo
Pérsico, Afeganistão e Paquistão. Mas nesta parte do mundo, na vizinhança da
Europa, coração de interesses estratégicos para a segurança global, desenvolvimentos
alterações essenciais aos dados de segurança da França e Europa. (FRANÇA, 2008a,
p.43, tradução nossa116)
115
No original: “Cette liste n’épuise pas l’incertitude du monde dans lequel nous sommes entrés, un monde qui
n’est pas nécessairement devenu plus dangereux, mais certainement plus imprévisible, plus instable, plus
contradictoire que celui qui se dessinait en 1994, lors de l’élaboration du précédent Livre blanc. Dans un tel
environnement, des vulnérabilités nouvelles affectent le territoire national et la population française. Elles
s’imposent comme des éléments déterminants pour l’adaptation de notre défense et de notre sécurité.”
116
No original: “Cette région ne constitue pas un ensemble homogène. Chaque pays y a son identité et son
histoire, ses ressorts politiques, sociaux, économiques et humains. Les sous-ensembles régionaux ont chacun sa
logique: celle de la zone sahélienne, de la Mauritanie jusqu’à la Somalie, se distingue nettement des bordures de
la Méditerranée, du Proche-Orient, du golfe Arabo-Persique, ou de l’Afghanistan et du Pakistan. Mais, dans cette
partie du monde, au voisinage de l’Europe, au coeur d’intérêts stratégiques pour la sécurité mondiale, des
évolutions essentielles modifient les données de la sécurité de la France et de l’Europe.”
100
117
No original: “L’Afrique aspire à disposer de ses propres capacités de règlement des différends, de prévention
des crises et de maintien de la paix. La France et l’Europe ont un intérêt majeur à contribuer à l’établissement de
ces moyens. À cette fin, elles doivent continuer d’accompagner les efforts de l’Union africaine, des organisations
régionales et des pays africains eux-mêmes.”
101
Outro ponto importante da reforma militar conduzida por Sarkozy foi o fechamento de
bases militares francesas espalhadas pelo continente africano. A França possuía bases
militares no continente africano localizadas ao longo de sua zona de influência em Dakar,
Senegal; Abidjan, Costa do Marfim, Djibouti e Gabão. Com a reforma, são mantidas apenas
as bases do Djibouti e Gabão. Em consonância com a busca da multilateralização da presença
militar francesa no continente em detrimento de intervenções unilaterais, a reforma conduzida
por Sarkozy buscou adaptar a presença militar francesa para apoiar estruturas africanas de
administração de crises por meio do apoio à estruturas que compõe Arquitetura Africana de
Paz e Segurança (CUMMING, 2013).
A França adaptou sua presença militar para apoiar administração de crises africanas,
não apenas os esforços da União Africana para construir suas próprias estruturas
institucionais, a Arquitetura Africana de Paz e Segurança. As forças francesas agora
apoiam quatro componentes da força africana de estabilização: com o Gabão cobre a
Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC); Djibouti apoiando
118
No original: “La stabilité de l’Afrique du Nord, et tout particulièrement du Maghreb, est d’une importance
particulière pour l’Europe et la France, en raison de notre proximité et des liens étroits tissés de part et d’autre de
la Méditerranée, historiques ou culturels, mais aussi politiques et économiques. Or, cette région connaît une
évolution contrastée, avec : une transition démographique en cours, mais une forte pression migratoire venue
d’Afrique subsaharienne ; un dynamisme économique inégal, mais de forts déséquilibres sociaux (notamment en
termes d’emploi); un risque terroriste persistant et sans doute plus internationalisé (qu’illustre le rôle d’«Al
Qaïda au Maghreb islamique »). À long terme, la réforme politique, la capacité à anticiper sur la dégradation
environnementale, le développement de l’éducation, l’amélioration de la gestion du développement urbain seront
des facteurs importants de l’évolution de cette sous-région.”
102
Porém, estas reformas francesas devem ser analisadas com cuidado e parcimônia.
Mesmo com o fechamento de bases militares e a redução do número de tropas, a França pode
mobilizar uma quantidade significativa de tropas e material bélico no continente africano em
um curto período de tempo - forças de ação rápida- o que faz dela a principal força militar
estrangeira no continente. Além disso, a França se mostra particularmente disposta a empregar
sua força militar e engajar em conflitos no continente africano, o que faz dela um parceiro
potencial para questões que envolva paz e segurança no continente.
Mesmo com alguns países africanos despontando como potências militares regionais,
a exemplo da África do Sul e Nigéria, estes países não possuem uma infraestrutura militar que
possa fazer frente à capacidade militar francesa na região. Mesmo a União Africana, principal
organização multilateral africana, enfrenta limitações quanto a possibilidade de atuação
militar devido à restrições financeiras para arcar com os altíssimos custos de intervenções
119
No original: “France did adapt her military presence to support African crisis management, not least the AU’s
efforts to construct its own institutional framework, the African Peace and Security Architecture. French forces
now support the four regional components of the African standby force: with Gabon covering the Economic
Community of Central African States (CEEAC); Djibouti supporting East Africa’s regional organisations
(IGAD, EASBRIG); Senegal covering the Economic Community of West African States (ECOWAS); and the
base in Re´union (French sovereign territory) bolstering the South African Development Community (SADC).”
120
No original: “However, Sarkozy did also work through the UN, EU and regional organizations to pursue
French objectives. This allowed France to maintain an important voice on the future of Africa’s security
architecture, even as it reduced its physical military presence on the ground. France also widened its economic
focus away from traditional francophone partners, to reach out to the largest subSaharan economies, South
Africa and Nigeria.”
103
militares. Assim, a França permanece como uma importante força militar no continente e uma
importante parceira das organizações regionais e multilaterais africanas na condução da sua
política de paz e segurança.
Outro ponto que carece que especial atenção é a busca por apoio multilateral em
organizações como a União Europeia e Organização das Nações Unidas. No primeiro caso,
nota-se a busca por contrapartida financeira para arcar com os custos do envolvimento militar
e até mesmo uma participação de menor expressão de outras potências europeias nas
operações, desde que esta não comprometa a liderança francesa na condução de assuntos
militares (RIEKER, 2017). Um sinal desta estratégia foi a transformação do programa
RECAMP em EURORECAMP. Em 2008 Sarkozy promoveu a europeização do programa
RECAMP com a alteração do seu nome para EURORECAMP e o colocando sob a
responsabilidade do Conselho Europeu (CHAFER, 2016). Nota-se também a busca por
legitimidade por meio da chancela internacional como forma de reduzir os custos políticos
envolvidos neste tipo de engajamento.
121
No original: “Europeanization was also seen as a means of avoiding the charge of neo-colonialism,
insofar as an EU military operation would not have the same direct association with France and would
thus be seen as more politically ‘neutral’. More generally, from a French point of view,
Europeanization, like Africanization, is about burden-sharing: sharing the risks, and costs, of military
operations in Africa with other EU member states.”
104
122
No original: Since the 1998 Saint-Malo Franco-British summit, and especially since the Cahors summit of
2001, France has increasingly cooperated with the UK on security issues in Africa (Chafer and Cumming 2010).
Franco-British summits now regularly include a chapter on Africa and institutional bridges have been built
through secondments of personnel and regular meetings that are designed to improve the two countries’
understanding of each other’s modus operandi in the peace and security field. Moreover, in the wake of the
December 2007 EU summit in Lisbon, France and the UK took the lead in transforming the French RECAMP
training programme into an EU programme, EURORECAMP. Based in Paris, as France is the ‘framework
nation’ designated by the EU, EURORECAMP has a French general as its director and a British officer as its
deputy director.
105
reformas neoliberais propostas pelo Banco Mundial e FMI durante os anos 1980. Com a
morte de Houphouët-Boigny em 1993, a crise econômica transformou-se em crise política e
adquiriu um importante viés étnico-religioso e regional por conta das contradições entre as
elites políticas regionais de maioria católica ao sul e muçulmana ao norte.
Entre 2007 e 2010 a Costa do Marfim se viu em meio a um processo de paz que
buscava a estabilidade política. Os passos concretos dados para alcançar tal objetivo
se materializaram em: a formação de um governo no qual se integrou o principal líder
rebelde na função de Primeiro-Ministro, a desmobilização dos combatentes e a sua
integração em um exército nacional misto, assim como a entrega das cidades
controladas por eles. Apesar disto, o processo não avançava: o desarmamento efetivo
não ocorreu com rapidez, tampouco o fez a reunificação das forças de segurança, se
registravam crimes violentos, assaltos armados e roubos em estradas por grupos
relutantes em aceitar as negociações (GONZÁLEZ, 2018, p.86, tradução nossa124)
123
No original: “Las elecciones programadas no pudieron efectuarse debido al no cumplimiento del desarme por
parte de los rebeldes. Las Naciones Unidas, mediante una resolución, prorrogó un año más el mandato del
presidente Laurent Gbagbo, lo que provocó una escalada en la ola de violencia”.
124
No original: “Entre el 2007 y el 2010 Costa de Marfil se vio involucrada en un proceso de paz que buscaba la
estabilidad política. Los pasos concretos dados para lograr este objetivo se materializaron en: la formación de un
gobierno a cual se integró el principal líder rebelde en la función de Primer Ministro, la desmovilización de los
combatientes y su integración en un ejército nacional mixto, así como la entrega de las ciudades controladas por
ellos. A pesar de esto, el preceso no avanzaba: el desarme efectivo no fluyó con rapidez, tampoco lo hizo la
reunificación de las fuerzas de seguridad, se reportaban crímenes violentos, asaltos armados y robos en las
autopistas por grupos reacios a aceptar las negociaciones.”
106
O segundo turno das eleições presidenciais foi marcado pela proclamação de dois
resultados contraditórios. Um resultado proclamado pelo presidente da Comissão
Eleitoral Independente no quartel geral do candidato Alassane Ouattara, atual
presidente, que representava a oposição na época. Esses resultados o deram como
vencedor das eleições com mais de 54% dos votos, segundo o relatório final da
Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (2011) e acabaram levando a
controvérsias quanto à validade jurídica e ética da proclamação de tais resultados. Isso
se justifica pelo fato dos resultados não terem sido detalhados como recomendam os
textos do código eleitoral marfinense e do próprio procedimento já observado durante
o primeiro turno. Além disso, foram dadas em circunstâncias duvidosas como, por
exemplo, o fato dos resultados serem proclamados apenas pelo presidente da
Comissão Eleitoral Independente, sem a presença dos vice-presidentes desse órgão
administrativo, no quartel geral do candidato Ouattara, e no quarto dia após as
eleições, enquanto a Constituição prevê um prazo máximo de três dias para a
proclamação dos resultados provisórios que deveriam, logo em seguida, serem
averiguados e confirmados ou não pelo Conselho Constitucional. O segundo resultado
foi dado pelo presidente do Conselho Constitucional em ruptura com o resultado dado
horas antes pelo presidente da Comissão Eleitoral Independente. Com base em relatos
e informações comprovadas de fraudes em massa e violências físicas contra os seus
militantes, a coalizão de partidos que apoiava o então presidente Gbagbo entrou com
pedidos em anulação dos votos em algumas regiões do país. Esses pedidos
encontraram um parecer favorável da parte do Conselho Constitucional que, com base
nas provas apresentadas, anulou os resultados de sete departamentos do Norte e do
Centro do país e proclamou a vitória do presidente Laurent Gbagbo. (PENNA FILHO
e BADOU, 2014, p.167)
O outro lado [o lado de Gbagbo], por contraste, via isto como a prova cabal da
“guerra da França contra a Costa do Marfim” e a intervenção como a confirmação da
ambição neocolonialista de Paris no conflito marfinense. De fato, desde o início da
crise, muitos marfinenses - desde aqueles ligados ao regime de Gbagbo até simples
cidadãos- tentaram interpretar e até experienciar o conflito ao longo de linhas
125
no original: “The initial French approach was to push for broad diplomatic isolation of the Gbagbo regime,
rebuff any possibility of French military intervention, and to put in place sanctions to isolate Gbagbo within his
own camp and persuade those around him of the hopelessness of his cause. Following a European visa ban on
Gbagbo and 58 of his supporters, on 14 February 85 people and 11 companies were subject to a Europe-wide
asset freeze, affecting in particular the cocoa export sector. This European sanctions regime was unusually firm
and broad. On 23 December 2010 the West African Central Bank of the Franc Zone stopped emitting money to
the Gbagbo government. [...]French-owned commercial banks were caught between pressure from Gbagbo to
stay open and the collapse of their day-to-day work as the crisis unfolded and liquidity dried up.
108
agonistas como uma luta pela libertação nacional e uma “segunda guerra de
independência” . Entre 2002 e 2011, esta retórica se tornou o principal instrumento
com o qual o regime, que carecia de apoio interno e externo, buscou conquistar
legitimidade. Isto ofereceu o argumento para uma verdadeira máquina de propaganda
estatal que atribuía a origem da rebelião à França de Chirac e Sarkozy e atribuía todas
as mazelas do país à alienação colonial (BANÉGAS, 2014, p.65-66, tradução nossa
126
).
Em 1° de abril de 2011 parecia que as forças leais a Ouattara estavam prestes a depor
Gbagbo sem nenhuma ajuda significativa das forças francesas. No entanto, Gbagbo se
manteve firme, e sob uma trégua, suas forças libertaram Abidjan. Neste momento,
entre 9-10 de abril, mediante um pedido tanto de Ouattara quanto do Secretário Geral
das Nações Unidas, Ban Ki-moon, os franceses começaram a bombardear de maneira
contundente as posições de Gbagbo. Em 11 de abril as forças francesas ajudaram a
cercar a residência de Gbagbo enquanto ele era capturado. No entanto, teve uma
cuidadosa apresentação para mostrar Gbagbo sendo capturado pelas forças
pró-Ouattara, agora é sabido que as forças francesas desempenharam um papel crucial
no fim. (MONCRIEFF, 2012a, p.30, tradução nossa127)
126
No original: “The other side, by contrast, saw it as the ultimate proof of ‘France’s war against the Côte
d’Ivoire’ and a striking confirmation of Paris’ neo-colonialist ambitions in the Ivorian conflict. Indeed, since the
start of the crisis, many Ivorians – those with ties to Laurent Gbagbo’s regime as well as simple citizens – have
tended to interpret and even experience the conflict along agonistic lines as a fight for national liberation
and a ‘second war of independence’. Between 2002 and 2011, this rhetoric became the preferred vehicle by
which the regime, which lacked internal and external support, sought to win legitimacy. It provided the grist for a
veritable state propaganda machine that attributed the origins of the rebellion to Chirac and Sarkozy’s France and
presented colonial alienation as the source of all of the country’s ills.”
127
No original: “On 1 April 2011 it seemed that the forces loyal to Ouattara were about to depose Gbagbo with
no significant help from French forces. However, Gbagbo held out, and under cover of a truce, his forces pushed
out into Abidjan. At this point, on 9–10 April, following a request from both Ouattara and the UN
secretary-general, Ban Ki-moon, the French started heavy bombardment of Gbagbo’s positions. On 11 April
French forces helped to surround Gbagbo’s residency while he was captured. Although there was a careful
presentation to show Gbagbo being captured by pro-Ouattara forces, it is now known that French forces played a
crucial role right to the end.”
109
3.6.2. Líbia:
Primeiro Ministro inglês, David Cameron, solicitou junto ao CSNU a imposição de uma “No
fly zone” à Líbia. Porém, diante da pouca receptividade estadunidense em se envolver
militarmente em mais um país árabe, Cameron voltou atrás de sua decisão e “anunciou em 1
de março que o Reino Unido iria restringir o seu envolvimento [no conflito líbio] ao
oferecimento de apoio político aos rebeldes” (HOWORTH, 2014, p.408, tradução nossa128).
128
No original: “announced on 1 March that the UK would restrict its involvement to offering political support to
the rebels.”
129
No original: “It was Nicolas Sarkozy, on the other hand, in a speech in Ankara on 25 February, who first
called for the departure of Gaddafi. It was again Sarkozy who, in the early days of March, first entered into
contact with the ‘rebel’ Transitional National Council (TNC). During the first two weeks of March, the French
president constantly beat the war drum, calling regularly for ‘targeted strikes’ on Gaddafi’s forces. He was
widely seen by the European media as being the self-proclaimed leader of the war party. ‘It seems Sarkozy
wants to smash the Libyan dictator all on his own’, opined a Berlin journalist, adding, maliciously, that ‘a few
months ago, he would have been keen to sell him nuclear reactors’. It was Sarkozy who, on behalf of France on
10 March, officially recognised the TNC as the sole legitimate representative of the Libyan people – a decision
taken unilaterally on the eve of a European summit convened precisely to discuss the issue of recognition. In all
these moves the UK prime minister appeared to be trailing behind his French partner.”
111
O segundo motivo pode ser relacionado à questões regionais europeias. Nos últimos
anos, Alemanha tem se destacado em diversas áreas da União Europeia, no entanto, o aspecto
militar ainda é ponto de poder importante para a França, uma vez que ela pode tomar para si a
liderança em matérias de defesa e segurança (RIEKER, 2017), e assim contrabalançar a
liderança alemã no seio da organização regional.
130
No original: “Military action against Libya began two days later, and by October Col. Muammar al-Qaddafi
was dead and the National Transitional Council was in power.”
112
No entanto, nota-se, durante a gestão Sarkozy, uma dualidade para se relacionar com o
continente africano. Sarkozy buscou uma abordagem mais individualizada para cada país,
utilizando diferentes abordagens, desde uma abordagem mais normalizada, ou seja,
respeitando os canais formais de diplomacia, até abordagens “à moda antiga francesa”. Esta
dualidade demonstra uma instrumentalização dos laços compartilhados entre a França e a
África. Por diversas vezes Sarkozy invocou a memória dos laços históricos que unem o país
europeu e o continente africano para justificar a presença e a necessidade francesa de intervir
no continente, como ocorrido durante a intervenção na Costa do Marfim. Porém, Sarkozy não
exitou em invocar a necessidade de normalização das relações franco-africanas quando estas
eram demasiado custosas econômica ou politicamente.
Cabe ressaltar que a busca de Sarkozy de expansão da influência francesa não está
restrita ao continente africano. Desde início de seu governo, Sarkozy demonstrou interesse em
retomar as relações com os Estados Unidos, com quem a França possui uma animosidade
histórica, e construir um eixo Washington-Paris. Além disso, Sarkozy explicitou este objetivo
ao reintegrar a França à estrutura de comando da OTAN e no anúncio do “retorno da França
para a Europa” como forma de dirimir a rejeição francesa ao referendo de 2005 da União
Europeia (ROWDYBUSH e CHAMOREL, 2012).
A Alemanha, sob o comando da chanceler Angela Merkel, adotou uma postura crítica em
relação à proposta de Sarkozy por acreditar que tal iniciativa criaria um subgrupo dentro da
UE (EMERSON, 2008; BICCHI, 2011).
Não foi de surpreender que o projeto tenha encontrado uma relutância inicial por parte
dos outros estados membros europeus e da Comissão, principalmente porque a
proposta inicial deixou de fora a UE. Os parceiros europeus da França reagiram com
igual insatisfação, assim como alguns dos países parceiros do Mediterrâneo. O
excessivo unilateralismo do presidente francês, juntamente com natureza do projeto
que parecia competir diretamente com a atual política mediterrânea da UE, a exclusão
dos parceiros europeus não mediterrâneos, o unilateralismo na concepção e
apresentação, e a grandiloqüência com a qual foi esboçado, trouxeram medo de um
retorno a uma Paris mais individualista (DELGADO, 2012, p.11, tradução nossa132).
131
No original: “The Barcelona Declaration identified three main objectives to the Euro-Mediterranean
Partnership: (1) establishing a common area of peace and stability through the reinforcement of political and
security dialogue; (2) creating an area of shared prosperity through an economic partnership and the gradual
establishment of a free-trade area; and (3) bringing people together through a social, cultural, and human
partnership aimed at promoting understanding between cultures and exchanges between civil societies.”
132
No original: “It was not surprising that the project met with initial reluctance from the other European
member states and the Commission, mainly because the initial proposal left out the EU. France’s European
partners reacted with equal disaffection, as did some of the Mediterranean partner countries. The excessive
unilateralism of the French president, together with the nature of the project that seemed to compete directly with
existing EU Mediterranean policy, the exclusion of the non-Mediterranean European partners, the unilateralism
in the design and presentation, and the grandiloquence with which it was outlined, all brought fears of a return to
a more individualistic Paris.”
114
sem uma estratégia sólida em que pudesse se basear, mostrou-se recorrente durante a
administração Sarkozy (EMERSON, 2008). Porém, isto mostra-se mais uma questão de estilo
de condução política do líder do que uma característica da política externa francesa.
Após um período inicial de apreensão por parte dos demais membros da União
Europeia e dos demais países às margens do mediterrâneo, em grande parte devido a falta de
clareza da proposta francesa e da incerteza quanto ao papel dos demais envolvidos neste
processo, uma nova abordagem foi adotada pelos diplomatas franceses e um intenso processo
de negociações teve início. A retórica francesa tomou então uma direção mais inclusiva e
menos individualista e tentou incluir os demais membros de UE na definição dos contornos da
nova instituição. A Itália e Espanha juntaram-se a França na construção da nova instituição,
no entanto, ambas impuseram como condição a completa participação da União Europeia, a
alteração do nome da instituição de “União do Mediterrâneo” para “União para o
Mediterrâneo” e que esta nova instituição fosse complementar e não substituta do Processo de
Barcelona (DELGADO, 2011).
133
No original: “on the one hand, France consolidated its role as a genuine entrepreneur, making concessions and
showing a less rigid and more cooperative attitude. On the other hand, France did not renounce the role of primus
inter pares. Paris got back the name and the institutional design consolidating the intergovernmental approach.”
134
De acordo com o website oficial da União para o Mediterrâneo, fazem parte da organização: Albânia, Argélia,
Áustria, Bélgica, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Croácia, Chipre, República Tcheca, Dinamarca, Egito,
Estônia, Finlândia, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Israel, Itália, Jordânia, Lituânia, Luxemburgo, Malta,
Mauritânia, Mônaco, Montenegro, Marrocos, Holanda, Palestina, Polônia, Portugal, Romênia, Eslováquia,
Eslovênia, Espanha, Suécia, Tunísia, Turquia e Reino Unido. A Síria, apesar de ter participado inicialmente da
organização, foi suspensa em 01 de dezembro de 2011.
115
militar na Líbia foi utilizada para aumentar a popularidade baixíssima de Sarkozy durante o
período pré-eleitoral, por exemplo. Esta estratégia do uso da pautas de política externa para a
criar a união dos franceses e assim apoiar a figura do líder, é uma das características básicas
do gaullismo.
As pautas de reformas defendidas por Sarkozy, tanto no plano interno quanto externo,
e seu anseio por colocar a França novamente em uma posição de liderança dentro da União
Europeia, onde a Alemanha tem aumentado consideravelmente seu poder, assim como em
organizações internacionais, como o retorno à OTAN e seu papel durante a articulação da
intervenção na Líbia, a qual a França foi a principal incentivadora, demonstra uma tentativa
de retorno à política da grandeur. Ainda que a tentativa de Sarkozy esteja mais ligada à uma
estratégia de realpolitik do que à estratégia ideológica gaullista, demonstrada por meio de seu
tratamento personalizado a cada país e seus interesses, percebe-se a tentativa de
recolocamento da França como um ator relevante no sistema internacional.
O alargamento da zona estratégica francesa e seu foco para a além da sua tradicional
zona influência, em especial para o mundo árabe e a tentativa de reaproximação com os
Estados Unidos no contexto de uma política atlântico-mediterrânea, e a busca da construção
de parcerias com outros países subsaarianos não-francófonos como Angola, Nigéria e África
do Sul, apontam para a tentativa de readequação e instrumentalização da política externa por
meio da aplicação de uma política externa mais voltada para ganhos econômicos e expansão
francesa para além da sua tradicional zona de influência. Outro aspecto notável da política
externa de Sarkozy é a manipulação das relações privilegiadas francesas para atenderem as
necessidades do país europeu. Um traço frequente nos discursos do líder francês é a utilização
dos laços históricos compartilhados em situações em que este discurso fosse favorável aos
interesses franceses e a utilização do discurso de anacronismo e necessidade de revisão e
normalização dos relacionamentos franco-africanos quando estes representavam um alto custo
político à França.
3.9. Conclusão
CAPÍTULO 4
4. 1. Socialistas no poder.
Assim como Sarkozy, Hollande, em sua primeira visita ao continente africano, visitou
a capital do Senegal, Dakar, onde proferiu um discurso na Assembleia Nacional Senegalesa.
Ao contrário de Sarkozy, o discurso de Hollande foi surpreendentemente bem recebido e “em
seu próprio ‘Discurso de Dakar’, o presidente Hollande claramente indicou sua intenção de
romper com a tônica condescendente e a incoerência política da era Sarkozy. Renovando sua
promessa de iniciar uma nova era nos relacionamentos franco-africanos.”(CHAFER, 2016,
p.122, tradução nossa136) e, buscou destacar “que enquanto a política francesa para a áfrica
deve ser sempre orientada por seu compromisso com os princípios da democracia e direitos
humanos, o relacionamento com os países africanos deve ser baseado no princípio do respeito
mútuo de suas identidades e independências” (MELLY e DARRACQ, 2013, p.9, tradução
nossa137). A boa repercussão do discurso de Hollande dirimiu as dúvidas dos líderes africanos
em relação à visão do novo líder francês sobre os relacionamentos franco-africanos.
135
No original: “ on 27 August 2012 in an address to France’s 163 ambassadors across the world, he promised a
renewal of Africa policy”
136
No original: “In his own ‘Dakar speech’, President Hollande clearly indicated his intention to break with the
condescending tone and policy incoherences of the Sarkozy era. Renewing his promise to inaugurate a new era in
Franco-African relations.”
137
No original: “While French policy towards sub-Saharan Africa would always be shaped by its own attachment
to the principles of democracy and human rights, relationship with African countries would be founded on the
principle of mutual respect for their identity and independence.”
138
No original: "Le temps de la Françafrique est révolu : il y a la France, il y a l'Afrique, il y a le partenariat entre
la France et l'Afrique, avec des relations fondées sur le respect, la clarté et la solidarité"
120
Embora não tenha sido a primeira vez que um líder francês declarou o fim da
Françafrique, a diferença agora foi que foi seguido por uma mudança também nas
práticas (Chafer 2014). Primeiro, Hollande seguiu suas palavras denunciando
domínio colonial brutal da França sobre a Argélia. Como nenhum de seus
antecessores se atreveu a fazer isso, isto serviu para aumentar sua legitimidade. Em
segundo lugar, Hollande foi instrumental na mudança da política africana da França
para o potencial econômico do continente, em vez de ver a África unicamente como
uma fonte estratégica de matérias-primas como petróleo, gás e urânio. Em terceiro
lugar, ele deu mais atenção questões de desenvolvimento do que seus antecessores,
alocando 0,7% do PIB do assistência ao desenvolvimento (Melly e Darracq 2013). E
finalmente, Hollande alcançou a renovação administrativa, dando a posição de chefe
da unidade consultiva para a África do Elysée a Hélène Le Gal, diplomata cuja
experiência concentrou-se em grande parte no leste e sul anglófono do continente
africano e não o seu oeste francófono (RIEKER, 2017 p.50, tradução nossa139).
139
No original: “While it was not the first time that a French leader declared Françafrique dead, the difference
now was that it was followed by a change also in practices (Chafer 2014). First,Hollande followed up his words
by denouncing France’s brutal colonial rule over Algeria. As none of his predecessors had dared to do that, it
served to boost his legitimacy (Hollande 2012b). Second, Hollande was instrumental in shifting French African
policy more towards the economic potential of the continent, instead of viewing Africa solely as a strategic
source of raw materials like oil, gas and uranium. Third, he paid greater attention to development issues than his
predecessors, allocating 0.7% of France GNI to development assistance (Melly and Darracq 2013). And finally,
Hollande achieved administrative renewal by giving the position as head of the Elysée advisory unit for Africa to
Hélène Le Gal, a diplomat whose career expertise had focused largely on the anglophone east and south of the
African continent and not its francophone west.”
121
não disputa diretamente o apoio eleitoral da extrema-direita, para quem a pauta do controle da
imigração é central. Este é um campo de disputa mais próximo ao partido gaullista por possuir
um alinhamento político-ideológico de direita.
Em consonância com seu discurso reformista das relações franco-africanas, seu pouco
envolvimento e conhecimento do continente africano, François Hollande buscou promover
mudanças na política africana francesa. Como aponta Leboeuf e Quénot-Suarez (2014),
Estes primeiros momentos da relação François Hollande com a África são, portanto,
caracterizados por um distanciamento e pelo desejo de normalizar as relações,
especialmente, opondo-se de maneira clara às práticas anteriores de Nicolas Sarkozy.
Esta oposição é legível no discurso Dakar de François Hollande. O simbolismo do
lugar não escapa a ninguém. Quanto ao mérito do discurso, se não é muito inovador,
ele desenvolveu ideias interessantes, especialmente ideias da África com uma
parceira e uma franqueza necessária no relacionamento. No entanto, como lamentou
um diplomata do Ministério das Relações Exteriores (MAE), sem medidas concretas
para acompanhar, ideias não podem tomar o lugar da estratégia. O desejo de "não
fazer como Sarkozy" parece ter sido um forte motor para o relacionamento com
África e permitiu François Hollande encontrar um posicionamento muito claro, que
se traduz em dois elementos. Notamos antes de tudo uma mudança de estilo nas
relações entre presidentes, já que François Hollande está mais atento para demonstrar
o seu respeito e amizade para os seus parceiros africanos e tomar o tempo para ouvir
antes de tomar uma decisão. Em segundo lugar, o mudança também aparece na
descentralização da tomada de decisão sobre a África (LEBOEUF e
QUÉNOT-SUAREZ, 2014, p.11, tradução nossa140).
140
No original: “Ces premiers temps de la relation de François Hollande à l’Afrique sont donc caractérisés par
une prise de distance nette et par le souhait de normaliser les relations, notamment en s’opposant de manière
claire aux pratiques antérieures de Nicolas Sarkozy. Cette opposition est lisible dans le discours de Dakar de
François Hollande. La symbolique du lieu n’échappe à personne. Quant au fond du discours, à défaut d’être très
novateur, il développe des idées intéressantes, en particulier avec les idées d’une Afrique partenaire et d’une
nécessaire franchise dans la relation. Toutefois, comme le regrette un diplomate du ministère des Affaires
étrangères (MAE), sans mesure concrète pour les accompagner, des idées ne peuvent tenir lieu de stratégie.
La volonté de « ne pas faire comme Sarkozy » semble avoir été un moteur fort pour la relation à l’Afrique et a
permis à François Hollande de trouver un positionnement très clair, qui se traduit concrètement par deux
éléments. On note tout d’abord un changement de style dans les relations entre présidents, puisque François
Hollande est plus attentif à démontrer son respect et son amitié pour ses partenaires africains, et à prendre le
temps de les écouter avant de prendre une décision. Deuxièmement, le changement s’affiche aussi par la
décentralisation du pouvoir de décision sur l’Afrique.”
122
A mudança nas práticas de política externa também é confirmada pelo fato de que os
atores tradicionais nas antigas redes da Françafrique não tiveram acesso ao Palácio do
Élysée. Em vez de ter uma célula africana no Elysée - que costumava lidar com os
países africanos em um estilo altamente personalizado que permitia o florescimento
do clientelismo e da corrupção - os assuntos africanos foram colocados
principalmente sob o Ministro das Relações Exteriores, dando assim ao parlamento
141
No original: “the operation of both the unit and the Africa department at the Ministry of Foreign Affairs has
become more formalized. Officials handle most of the workload, but it is Hollande and his ministers who engage
in direct dialogue with their African counterparts, whereas previous French presidents often dispatched trusted
advisers or envoys to convey messages on an informal, personalized basis. Officials have been instructed to
respect formalities and use formal official channels so that African government leaders feel they are treated with
the same respect for their rank that would apply to French dealings with governments elsewhere in the world.
Moreover, traditional players in the old françafrique networks have been denied access to the Elysée Palace.”
123
papel de supervisão nas novas relações francesas com a África (RIEKER, 2017,
p.50-51, tradução nossa142)
142
No original: “The change in foreign policy practices is also confirmed by the fact that the traditional actors in
the old Françafrique networks have now been denied access to the Elysée Palace. Instead of having a cellule
Africaine in the Elysée – which used to deal with the African countries in a highly personalized style that
allowed clientelism and corruption to flourish – African affairs have been placed mainly under the Minister of
Foreign Affairs, thereby also giving the parliament an oversight role new in French relations with Africa”
143
No original: “Under Hollande the Ministry of Foreign and European Affairs has recovered a major role in
shaping France’s approach to African relationships, rather than simply implementing a policy set in the Elysée
Palace. This has to some extent re-empowered the professional diplomats dealing with Africa, and the trend has
been reinforced by the president’s choice of foreign minister – former premier Laurent Fabius, a heavyweight in
the ruling Socialist party. The ministry is no longer marginalized.”
124
144
Ministério da Economia e Finanças
145
No original: “Si des efforts de renouvellement de la relation sont faits, ils se heurtent à des contraintes
institutionnelles qui en limitent considérablement la portée. La compétition bureaucratique entre les institutions
impliquées, telles que le ministère des Affaires étrangères, la direction générale du Trésor, qui dépend de Bercy,
ou l’Agence française de développement (AFD) par exemple, formulent chacune une politique africaine propre,
issue de leur culture institutionnelle et de leurs agendas particuliers. Or, sans réforme profonde des institutions et
de leurs relations, le renouvellement des relations avec l’Afrique reste superficiel et se concentre essentiellement
sur la fin des réseaux et des rapports d’amitié ou de clientélisme entre la France et certains pays africains.”
125
A estratégia utilizada para uma política mais orientada para ganhos comerciais foi a
maior coordenação e cooperação entre os Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da
Economia e Finanças. A crescente queda da participação francesa no comércio africano e o
cenário de crise do euro, transformou esta aproximação entre o MAE e o Bercy em uma
parceria prioritária para resgatar a economia francesa (LEBOEUF e QUÉNOT-SUAREZ,
2014).
Segundo Chafer (2014), Hollande continuou a expansão iniciada por Sarkozy dos
negócios franceses para além do pré-carré, objetivando parcerias com as maiores economias
africanas e buscando desvencilhar a imagem francesa do antigo retrato da Françafrique. O
sucesso de sua Cúpula França-África em 2013 demonstra o empenho do governo francês em
construir novos laços econômicos com o continente e expandir sua área de atuação.
146
No original: “Ce recul commercial très fort oblige la France à se repositionner au plan économique sur le
continent africain, parce que sa puissance économique – plus modeste que celle de la Chine par exemple – et sa
capacité diplomatique – très grande, avec le troisième réseau diplomatique du monde, une histoire coloniale et un
siège permanent au Conseil de sécurité des Nations unies – sont en dissonance constante. Ce repositionnement
passe par une redéfinition profonde du « métier » de diplomate.”
147
No original: “French presidents have invited African leaders to the Franco-African summits from outside
France’s original pre´ carre´ since the late 1970s. However the non-francophone presence at the 2013 summit
was unprecedented, with 40 African leaders, including many Anglophones, in attendance, alongside the UN
Secretary-General Ban Ki-moon, to discuss peace and security on the continent. The E ´ lyse´e did everything it
could, prior to the summit, to convince African leaders that this would not simply be another old-style,
neo-colonial gathering. The success of this strategy may be gauged from the fact that the presidents of, among
others, Nigeria, Uganda, Tanzania and Sierra Leone attended for the first time.”
126
O Mali nunca ocupou uma posição de destaque dentro da política africana francesa
nem manteve laços estreitos com a ex-metrópole, como aconteceu com a Costa do Marfim e
Gabão, por exemplo. Ao contrário de outras elites africanas francófonas, as elites governantes
malinesas sempre resistiram a cooptação francesa, o que impediu a construção de
relacionamentos privilegiados nos moldes do Françafrique. A inexistência de relacionamentos
privilegiados nos moldes do Françafrique não significa ruptura total entre a antiga metrópole e
a ex-colônia, mas evidencia os perfil tenso das relações entre o Mali e a França.
Cabe destacar também que o país sahelino, com grande parte do seu território
ocupado pelo deserto do Saara, o que reduz enormemente seu potencial agrícola, e com
poucos recursos naturais como petróleo e urânio, nunca se mostrou atrativo para os interesses
comerciais estrangeiros (CHAFER, 2014). Além do mais, ao contrário do que acontece em
outras ex-colônias francesas, o número de cidadãos franceses vivendo no Mali não é
expressivo e grande parte desses cidadãos são portadores de dupla cidadania, o que não traz o
mesmo peso nas decisões que o socorro à outras comunidades francesas mais importantes, até
economicamente, como as da Costa do Marfim ou Gabão (MARCHAL, 2013).
As minas de Arlit e Akoa, próximas à fronteira [do Níger] com o Mali e também
situadas na área Tuaregue, são exploradas pela Areva, uma das maiores produtoras
mundiais de urânio e uma campeã nacional francesa. O urânio do Níger representa
20% do combustível dos 58 reatores nucleares franceses, que por sua vez são
responsáveis pela geração de 75% da energia elétrica francesa. A importância dessas
minas para a França é ilustrada pelo fato de que elas são protegidas, de um local
secreto nas proximidades, por comandos franceses (BOEKE e SCHUURMAN, 2015,
p.6-7, tradução nossa148).
148
No original: “The mines at Arlit and Akoka, near the border with Mali and also situated in Tuareg country, are
exploited by Areva, one of the world’s biggest producers of uranium and one of France’s national economic
champions. Niger’s uranium provides 20 per cent of the fuel for France’s 58 nuclear reactors, which are in turn
responsible for generating nearly 75 per cent of France’s electricity. The importance of these mines for France is
illustrated by the fact that they are protected, from a secret nearby location, by French commandos.”
127
149
No original: “In the context of economic globalisation, all capitalist countries have an interest in securing
global spaces as safe places for capitalist economics to operate. Thus, as a member of the G7 and one of the
world’s largest economies, France has a central interest in ensuring that Africa provides a secure environment in
which capitalist enterprise can function. As the western and central Sahel are at the heart of France’s sphere of
influence on the continent, it is in this sense ‘normal’ that France takes the lead in securing this part of the Sahel
for economic activity, not least because, thanks to its pre-positioned troops, it has the military capacity to do so.”
150
Os Tuaregues são um povo berbere que habita o deserto do Saara e no passado dominavam as rotas
comerciais do deserto. Os Tuaregues estão espalhados por diversos países sahelinos como Argélia, Mali, Níger,
Líbia, Chade, Burkina Faso e Nigéria
128
Durante meses o governo francês defendeu que seu envolvimento no conflito do Mali
deveria se limitar ao suporte logístico e de inteligência às forças africanas comandadas pela
ECOWAS. Simultaneamente, o governo francês exercia pressão diplomática tanto para a
votação da Resolução 2071 no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) quanto em
sobre seus aliados europeus para o lançamento da missão de treinamento EUTM Mali
(European Union Training Mission). Esta missão tinha como objetivo reconstruir o exército
malinês para que este fosse capaz de restaurar o controle sobre a porção norte do território. No
entanto, o governo francês viu suas pressões serem ineficazes tanto em relação aos seus
parceiros Europeus, que não consideravam a crise no Mali uma ameaça real à Europa, quanto
no CSNU.
Para Hollande, era importante ressaltar que a decisão de intervir não foi iniciada pela
França, e que as tropas francesas estavam respondendo aos pedidos do Mali com o
apoio de aliados regionais africanos e globais. Nesse sentido, deve ser visto como
parte da guerra contra o terrorismo - não uma guerra para preservar os interesses
130
Então, em 11 de janeiro de 2013 a Operação Serval foi lançada contendo três objetivos
centrais 1) ajudar as forças armadas do Mali a conter o avanço dos rebeldes e repeli-los,
assegurando a segurança da população civil; 2) ajudar o Mali a recuperar sua integridade
territorial e sua soberania; 3) Facilitar a implementação de decisões internacionais, permitindo
a rápida implementação de duas missões internacionais complementares: a Missão
Internacional de Apoio ao Mali (MISMA) e a Missão de Formação do Exército do Mali da
União Europeia (EUTM) (MINISTÉRE DES ARMÉES, 2013, tradução nossa152). A
Operação Serval durou até 31 de julho de 2014, sendo encerrada como uma operação exitosa,
uma vez que conseguiu conter o avanço dos rebeldes do norte e dispersar os grupos
extremistas da região.
151
No original: “For Hollande, it was important to stress that the decision to intervene was not initiated by
France, and that French troops were responding to Malian pleas with the support of both regional African and
global allies. In this sense, it must be seen as part of the war against terrorism – not a war to preserve French
national economic interests, for which earlier French interventions in Africa have been so widely criticized.”
152
No original: “1. Aider les forces armées Maliennes (FAM) à arrêter la progression des groupes terroristes et à
les repousser tout en assurant la sécurité des populations civiles; 2. Aider le Mali à recouvrer son intégrité
territoriale et sa souveraineté; 3. Faciliter la mise en œuvre des décisions internationales en permettant le
déploiement rapide de deux missions internationales complémentaires : la mission internationale de soutien au
mali (MISMA) et la mission de formation de l'armée malien de l'union Européeenne (EUTM).”
153
Operação Epervier é o nome dado ao conjunto de operações militares francesas no Chade durante o período
de 1986 a 2014.
154
O grupo G5 Sahel é formado pelo Burkina Faso, Mali, Mauritânia, Níger e Chade e foi criado em 2014 pelos
Chefes de Estado dos países sahelinos como um marco institucional para o monitoramento da cooperação
regional, coordenar as políticas de desenvolvimento e segurança de seus membros.
155
No original: “en priorité à favoriser l’appropriation par les pays partenaires du G5 Sahel de la lutte contre les
Groupes armés terroristes (GAT), sur l’ensemble de la Bande sahélo-saharienne (BSS).”
131
populações locais. Esta operação, conduzida pelo exército francês, se baseia em uma
abordagem global que envolve aspectos políticos, de segurança e desenvolvimento e
encontra-se em curso até a presente data com o envolvimento de aproximadamente 4.500
militares franceses156.
Chafer (2016, p.132), aponta que apenas meses antes do lançamento da operação
Serval, Hollande se recusou a convidar Déby ao Palácio do Élysée por conta do pouco
respeito aos direitos humanos despendido pelo seu governo, mas teve que voltar atrás e buscar
uma reconciliação com o líder africano por conta da rápida deterioração da situação do Mali e
a iminência da necessidade de intervenção no país. O Chade atuou grande parceiro francês na
operação Serval por meio do fornecimento de contingentes militares. De acordo com Leboeuf
e Quénot-Suarez (2014),
Para a França, a participação das forças africanas na Costa do Marfim ontem, Mali e
CAR hoje é essencial, não somente militarmente (por exemplo, as forças chadianas no
Mali, que desempenharam um papel central na guerra contra jihadistas do norte), mas
também politicamente. Paris insiste no fato que os atores africanos foram consultados
durante muito tempo antes das intervenções no Mali e na RCA, na medida em que a
posição de Paris seria o resultado do posicionamento de seus parceiros africanos
(LEBOEUF e QUÉNOT-SUAREZ, 2014, p.24-25, tradução nossa157), .
Esta no entanto, esta não foi a única aproximação em relação a um líder autocrático
africano que Hollande teve que promover para viabilizar sua atuação militar no continente.
Em 2013, simultaneamente ao desenrolar da Operação Serval, uma crise afetou outro país
156
Segundo informações do Ministère de la Défense francês de dezembro de 2017, a Operação Barkhane
envolve 4500 militares, 5 drones, 8 caças, 17 helicópteros, entre 6 e 10 aviões de transporte tático e estratégico,
260 veículos blindados pesados, 210 veículos blindados leves e 360 veículos logísticos.
157
No original: “pour la France, la participation de forces africaines en Côte d’Ivoire hier, au Mali et en RCA
aujourd’hui est essentielle, non seulement militairement (exemple des forces tchadiennes au Mali, qui ont joué
un rôle central dans la guerre contre les groupes armés djihadistes du Nord), mais aussi politiquement. Paris
insiste sur le fait que les acteurs africains ont été longuement consultés avant les interventions au Mali et en
RCA, au point que la position de Paris serait la conséquence des positionnements de ses partenaires africains.”
132
africano, desta vez a República Centro Africana. Assim como o ocorrido durante a fase inicial
dos conflitos no Mali, Hollande declarou que não tinha intenção de intervir na crise da RCA.
No entanto, diante dos desdobramentos da crise, em 5 de dezembro de 2013 foi lançada a
Operação Sangaris com o objetivo de evitar um possível genocídio e desarmar os rebeldes
(VALLIN, 2015).
A agência e o papel dos líderes africanos não pode ser negligenciada. Como destaca
Chafer (2014), alguns dos principais aliados franceses na África são líderes autocráticos e
estes preferem a manutenção dos relacionamentos privilegiados e personalistas aos
relacionamentos normalizados. Esta postura de resistência à normalização por parte dos
líderes africanos, que ainda veem na França uma parceiro confiável e preferem manter a
maneira de negociar com Paris à moda antiga, se coloca como uma força de resistência às
tentativas de normalização das relações franco-africanas.
A versão de 2013 do LBDSN traz muitos pontos em comum com a edição de 2008,
por exemplo o foco na segurança regional e na ameaça representada pelo terrorismo jihadista
à segurança francesa e europeia. Segundo Chafer (2014, p.523), nos últimos anos, políticos
franceses buscaram apontar para seus pares europeus os perigos que a instabilidade política,
as atividades criminosas internacionais como tráfico de drogas e de pessoas, e o
fortalecimento de grupos islâmicos radicais na região do Sahel ofereciam à segurança
europeia, argumentação reforçada na edição de 2013 do Livro Branco para a Defesa francês.
Após reexame dos sérios problemas humanitários enfrentados pelos frágeis Estados
em regiões como o Sahel e a incapacidade de seus governos em enfrentá-los e garantir
a segurança de seus cidadãos [franceses e europeus], o Livro Branco buscou
demonstrar que esses problemas representam uma ameaça à segurança europeia
devido sua proximidade geográfica “aux portes de l’Europe” [às portas da Europa]
(CHAFER, 2014, p.523, tradução nossa159).
158
No original: “the speeding up of the process and the redefinition of France’s defence planning are due to two
independent variables beyond the personality and programme of the president himself: lessons learned from
Libya and a pessimistic budget forecast, both of which induce new calculations when debating issues of defence
capability and size.”
159
No original: “After reviewing the serious humanitarian problems facing fragile states in regions such as the
Sahel and the inability of their governments effectively to address them and ensure the security of their citizens,
the White Paper goes on to explain that these problems represent a threat to the security of Europe because of
their geographical proximity ‘aux portes de l’Europe’”.
134
Como afirmou Nicolas Sarkozy no preâmbulo do Livro Branco: "Esta estratégia traz
uma ambição europeia e internacional" (Livro Branco 2008: 10). O tom do Livro
Branco de 2013 foi marcadamente diferente. Em seu preâmbulo a este último,
François Hollande afirmou que os três princípios no cerne da política francesa de
defesa e segurança são proteção, dissuasão e intervenção. Para implementar esses
princípios, a ênfase em todo o Livro Branco esteve na autonomia do Estado, tanto na
tomada de decisões quanto nas ações que realiza (CHAFER, 2016, p.132, tradução
nossa160)
Por sua economia, suas idéias, sua linguagem, suas capacidades diplomáticas e
militares e o lugar que ocupa no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a França,
está comprometida com o cenário internacional, com seus interesses e valores. Ela age
em estreita consulta com os seus parceiros europeus e com os seus aliados, mas
mantém a sua capacidade de iniciativa própria (FRANÇA, 2013, p.7, tradução nossa
161
).
160
No original: “As Nicolas Sarkozy stated in the preamble to the white paper: ‘Cette stratégie porte une
ambition européenne et internationale’ (Livre Blanc 2008: 10). The tone of the 2013 white paper was markedly
different. In his preamble to the latter, François Hollande asserted that the three principles at the heart of French
defence and security policy are protection, deterrence and intervention. In order to implement these principles,
the emphasis throughout the white paper was on the autonomy of the state, both in decision-making and in the
actions it undertakes”
161
No original: “Par son économie, par ses idées, par sa langue, par ses capacités diplomatiques et militaires, par
la place qu’elle occupe au Conseil de sécurité des Nations unies, la France est engagée sur la scène
internationale, conformément à ses intérêts et ses valeurs. Elle agit en concertation étroite avec ses partenaires
européens comme avec ses alliés, mais garde une capacité d’initiative propre.”
135
162
No original: “La souveraineté repose sur l’autonomie de décision et d’action de l’État. Dans un monde
interdépendant, elle n’est effective que si la Nation conserve la capacité de peser sur un environnement extérieur
dont elle ne peut s’isoler. Mais la Nation ne concourt durablement à la sécurité internationale que si les actions
entreprises sont reconnues comme légitimes. Le respect de l’État de droit renforce la souveraineté des États. La
France entend préserver sa souveraineté, en se donnant les moyens de l’action et de l’influence, et
contribuer à la sécurité internationale en inscrivant ses actions dans une légitimité nationale et internationale.
Souveraineté et légitimité internationale sont donc deux fondements essentiels et complémentaires de sa stratégie
de défense et de sécurité nationale.”
163
No original: “ This was justified by reference to the changing international strategic context, in which the
United States has become less willing to undertake external military interventions and expects Europe to play a
greater role in ensuring its own security, and in which progress towards the adoption of a common EU security
and defence policy has been slow. Against this background ‘le maintien de notre autonomie stratégique, gage de
liberté de décision et d’action, s’impose comme le premier principe de notre stratégie’ (Livre Blanc 2013: 88). In
short, there has been a return to a geopolitical discourse in French strategic thinking that emphasizes the risk of
losing great power status and stresses the need to retain the autonomy and the sovereignty of the nation, a notion
that is completely incompatible with the Europeanization of security policy.”
136
Chafer (2016) aponta que “já que o país não é mais uma potência em escala global em
termos de população e economia, uma forte crença permanece dentre a elite governante
francesa de que agir para a estabilidade na África continua sendo um ferramenta-chave para
justificar a posse francesa de um assento no Conselho de Segurança da ONU (CHAFER,
2016, p.131, tradução nossa165).” Esta crença e este posicionamento, corroboram o
entendimento da necessidade francesa de se manter como um ator relevante no continente
africano para assim conseguir projetar sua posição no sistema internacional e na própria UE.
Com a Alemanha conquistando a liderança em diversas áreas da UE, as pautas de segurança e
defesa ainda são pautas que a França consegue exercer liderança. Junto com o Reino Unido166,
a França possui a maior capacidade militar da UE e este é um dispositivo-chave para a sua
posição no seio da organização regional.
No entanto, não é apenas no âmbito da UE que a França vê sua posição desafiada. Nas
primeiras décadas do século XXI, com o crescimento da projeção internacional das potências
164
No original: “Il s’appuie sur quatre bases : deux pôles opérationnels en Côte d’Ivoire et à Djibouti et deux
bases opérationnelles à Libreville et au Sénégal (Éléments français au Sénégal). À cela s’ajoutent les quatre
bases principales de l’opération Barkhane à Ndjamena, Niamey, Gao et Ouagadougou, ainsi que des
pré-positionnements de forces spéciales au Burkina Faso, des bases aériennes et de renseignement (drones) à
Niamey et à Atar (Mauritanie), ainsi que des implantations dans des villes stratégiques servant de « points
d’appui » ou de « bases temporaires » : Tessalit au Mali, Madama au Niger ou Faya-Largeau au Tchad.”
165
No original: “Thus, according to Foreign Minister Laurent Fabius, the intervention allowed France to
demonstrate its willingness to take responsibility for dealing with global terrorism in ‘its’ area of influence.
Moreover, in the French geopolitical imaginary, France is a medium-sized power that continues to have a global
role. However, since the country is no longer a major player on a global scale in terms of population and
economics, a strong belief subsists among France’s governing elites that acting for stability in Africa remains a
key tool to justify retaining the French permanent seat at the UN Security Council.”
166
No momento de escrita desta tese, o Reino Unido encontra-se no processo de saída da UE (Brexit), o qual
ainda não foi finalizado.
137
Durante seu governo, Hollande tentou, além de dar um novo rumo para a política
africana francesa, se distanciar de forma contundente do seu predecessor. Este foi um
importante aspecto da política africana francesa durante o governo do presidente socialista.
Enquanto o governo Sarkozy foi por diversas vezes acusado de ser incoerente e ambivalente,
Hollande buscou mandar mensagens claras ao continente africano. Sua primeira tentativa de
normalizar as relações franco-africanas, em especial a controversa rede da Françafrique, por
meio de um tratamento formalizado das relações com os presidentes africanos, abandono da
prática do uso de emissários especiais, marginalização de líderes autocráticos e a escolha de
Hélène Le Gal para comandar a célula africana, demonstram um comprometimento com esta
agenda.
Apesar da busca pelo distanciamento de Sarkozy ser uma marca profunda na política
africana de Hollande, não podemos apontá-la como o único impulso para as tentativas de
reorientação da mesma.
Essa mudança não foi simplesmente orientada pela normativa: ela também foi
considerada uma necessidade. Com a França, cada vez mais desafiada
economicamente por atores como a China e outros estados emergentes, sua influência
cultural estava em risco. Tornou-se impossível manter o antigo regime em uma África
mais moderna e autoconfiante. Embora o total de importações e exportações da África
tenha diminuído de forma consistente (Melly e Darracq 2013). No que diz respeito à
influência cultural, vários países de língua francesa, como o Gabão e o Ruanda,
começaram a mover-se em direção à língua francesa para o inglês (RIEKER, 2017,
p.49-50, tradução nossa167).
167
No original: ”This change has not been simply normatively driven: it was also deemed a necessity. With
France increasingly challenged economically by actors like China and other emerging states, also its cultural
influence was at risk. It had become impossible to maintain the old regime in a more modern and self-confident
Africa. Although total imports and exports from Africa had increased on the whole, the French share was
consistently declining (Melly and Darracq 2013). Concerning cultural influence, several French-speaking
countries, like Gabon and Rwanda, have begun moving away from the French language towards English.”
139
4.6. Conclusão:
CONCLUSÃO:
Assim, a política africana da França foi desenhada contra um pano de fundo de perda
de influência no sistema internacional - a humilhação da ocupação alemã, o governo
colaboracionista de Vichy e a construção do Movimento França Livre por De Gaulle, as
guerras de libertação da Argélia e Indochina e o fim de seu império colonial. A construção de
laços privilegiados e não-normalizados, ou seja, não sujeito aos canais formais de diplomacia,
por meio de um processo de independência conduzido por Paris, mostrou-se uma estratégia
viável para a manutenção da independência e margem de manobra francesa frente as
superpotências EUA e URSS, e da posição de proeminência internacional reivindicada por
Paris.
No entanto, não parece nos parece correto também afirmar que há um desengajamento
francês do continente. A França ainda monopoliza as políticas monetárias da zona do franco
CFA e Comores, ainda é o país estrangeiro com maior contingente militar no continente e
possui uma influência indiscutível na política de suas ex-colônias. Além disso, a França
168
No referimos aqui como tradicional política africana da França, a política africana desenha e conduzida desde
a descolonização até o fim da Guerra Fria, quando esta política começa a sofrer as primeiras iniciativas de
reforma.
143
que leva a processos de mudança gradual e contínua, podendo passar por períodos de
mudanças aceleradas e períodos de menor velocidade de mudança.
A França vem utilizando nos últimos anos uma abordagem mais pragmática das suas
relações com o continente africano. A política ideologicamente orientada pelos laços
históricos compartilhados e a francofonia tem dado espaço a abordagens mais orientadas para
o alcance de objetivos em outras esferas de atuação francesa, principalmente na União
Europeia, onde ocupa o lugar de principal potência militar ao lado do Reino Unido e na
Organização das Nações Unidas, onde busca consolidar seu lugar como uma nação defensora
dos Direitos Humanos e da liberdade, além de garantir a manutenção do seu assento no
CSNU.
decorrência da dinamização econômica da região. Ainda que a França possua uma influência
incontestável na região, esta não é mais sua zona privada de atuação.
O aprofundamento da integração regional europeia e a transformação da OUA em UA
também contribuíram para a modernização da política africana da França, uma vez que são
limitadores da margem de manobra dos atores em negociações bilaterais por estarem sujeitos
às regras das organizações regionais. Assim, todas essas alterações no sistema internacional e
as demais alterações citadas e analisadas de maneira mais aprofundada durante o texto,
demandaram a definição de novas estratégias, mais adequadas ao sistema internacional do
século XXI, para a operacionalização da política externa francesa para a África. No entanto,
os objetivos para o qual esta política é endereçada permanecem inalterados.
147
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ANEXOS
160
Je suis venu vous dire aujourd'hui mon respect. Respect, parce que vous avez bâti en quelques
années, au Bénin, une démocratie forte et vivante, prouvée par trois alternances réussies.
Nous, les Français, qui sommes si fiers d'être la patrie des droits de l'Homme, il nous a fallu
plusieurs siècles pour cela.
Le Bénin a été et reste plus que jamais un exemple pour l'Afrique toute entière. Vous avez été
les premiers à tirer les conclusions de la chute du mur de Berlin, en tournant pacifiquement le
dos au communisme dès 1989 (bien plus rapidement que certains intellectuels français !). Et
c'est à la transition démocratique déjà engagée au Bénin que le président Mitterrand pensait
lorsqu'il prononça son désormais célèbre discours de La Baule en juin 1990.
Chacun sait que les Béninois ont participé à près de 70% à l'élection présidentielle de mars
dernier. C'est une nouvelle preuve de la vitalité de votre démocratie : votre peuple est
profondément, fondamentalement démocratique. Personne n'a pu réussir à le manipuler. La
lutte a été forte, car la démocratie c'est aussi la compétition, et le combat politique est parfois
un combat rude. J'en sais quelque chose. Mais c'est librement que le peuple béninois a pu se
déterminer entre des candidats de grande valeur.
J'ai déjà eu l'occasion de dire au président Boni Yayi toute l'admiration dans laquelle je tiens
son engagement sincère de nommer aux responsabilités des hommes neufs, choisis pour leurs
compétences. Avec lui, le Bénin a choisi de prendre le chemin de la bonne gouvernance, qui
est la condition du développement. Et vous, les Béninois, comme les Maliens ou les
Ghanéens, vous avez asséné une solide leçon à tous ceux qui ne cessent de répéter que la
démocratie n'est pas faite pour les Africains. Il n'y a pas d'exception africaine, pas de
prétendue spécificité culturelle qui justifierait je ne sais quelle incompatibilité entre l'Afrique
et la démocratie. Vous démontrez le contraire. Vous démontrez que la démocratie, ici comme
ailleurs, est non seulement possible, mais surtout souhaitable. Seule la démocratie peut
répondre aux aspirations des citoyens. Seule la démocratie peut permettre à un pays de se
sortir d'une crise interne, aussi grave et longue soit-elle. Quoi qu'on ait pu penser pendant si
longtemps, la dictature, ce n'est pas la stabilité. Seule la démocratie peut créer les conditions
de la stabilité en profondeur. Qu'il me soit donné ici l'occasion de rendre hommage à Helen
Johnson-Sirleaf, première femme élue présidente en Afrique, à qui les Libériens ont confié,
avec une grande maturité politique, la si difficile mission de sortir leur pays d'une guerre
161
civile de 15 ans, qui a fait 250 000 morts, et dont les effets se sont fait sentir dans toute la
sous-région. Je veux lui dire que la France sera à ses côtés pour redonner l'espoir au peuple
libérien.
La démocratie, vous et nous le savons bien, car nous le vivons, cela ne se résume pas à des
élections. On ne peut s'arrêter à ce premier pas, sinon la démocratie reste de façade. Il faut
aller plus loin : faire vivre la démocratie, c'est bâtir un état de droit, où l'administration est
neutre, les circuits financiers transparents, où la presse est à la fois responsable et
indépendante, où l'autorité judiciaire est libre de travailler sans influence extérieure. Et ce seul
fait rend nécessaire une vigilance de tous les instants. Le projet démocratique place l'individu
au coeur du projet de société : il impose le respect des libertés individuelles, le refus des
communautarismes, et notamment de l'éthnicisme. Et vous, les Béninois, vous avez en plus
montré qu'en Afrique, la démocratie n'a pas nécessairement de base ethnique. C'est aussi le
principe de l'égalité des citoyens, et notamment la parité, et le respect de l'intégrité physique et
morale des femmes, qui sont les égales des hommes et qui "portent l'Afrique sur leur dos",
comme le dit un proverbe africain.
Alors, existe-t-il un lieu mieux choisi que Cotonou, le "quartier latin de l'Afrique", pour parler
des relations que la France doit avoir avec l'Afrique ? Nos relations sont amicales,
constructives, décomplexées : nous nous disons les choses franchement, et, je le crois, nous
nous comprenons. Alors permettez-moi de vous parler très franchement, comme on ne le fait
sans doute pas assez souvent entre Français et Africains.
Car en m'adressant à vous, vous qui faites vivre la francophonie, c'est à l'Afrique d'aujourd'hui
et de demain que je veux m'adresser, à l'Afrique ancrée dans le XXIème siècle, qui refuse les
archaïsmes et qui regarde l'avenir avec confiance. A l'Afrique qui sait que son destin est entre
ses mains, et qu'elle est pleinement responsable de ses choix, de ses actes, et de son avenir. A
l'Afrique qui a choisi d'assumer cette responsabilité et de relever les défis auxquels elle doit
faire face.
- bâtir la démocratie, en respectant les échéances électorales, mais aussi l'état de droit et la
bonne gouvernance ;
- construire une économie qui offrira à votre jeunesse, nombreuse, motivée, des débouchés et
un avenir, la promesse d'une vie meilleure ; et chacun sait que c'est un défi majeur, car la
moitié des Africains ont moins de quinze ans.
- s'insérer dans un monde globalisé, alors même que l'Afrique apparaît aujourd'hui comme le
perdant de la mondialisation : cela passe par le développement du commerce intra-africain et
l'émergence des marchés régionaux.
162
Ces défis ne sont pas minces. Mais ils sont à votre portée. La réussite, votre réussite, dépend
d'abord et avant tout de vous-mêmes. La responsabilité du succès ou de l'échec est d'abord la
vôtre. C'est cette responsabilité, celle de son destin, que le Bénin a choisi d'assumer. C'est un
choix courageux, un choix lucide, un choix intelligent. C'est le seul choix viable : les autres
options sont des impasses.
Mais si cette responsabilité est la vôtre, elle peut se nourrir du dialogue avec des partenaires.
La France veut être le premier de ces partenaires.
La relation entre l'Afrique et la France est une relation ancienne et dense ; une histoire
partagée, qui a aussi connu des épisodes de violence et parfois, des épisodes tragiques. Je le
sais et je respecte le nécessaire devoir de mémoire que nous avons tous à l'égard de cette
histoire commune, y compris de ses heures sombres. Ensuite est venu, pour les anciennes
colonies françaises, le choix des indépendances, en 1960, il y a déjà près d'un demi-siècle. Ce
passage à l'indépendance s'est fait dans le dialogue, dans la paix, dans la confiance. Il n'en pas
été ainsi partout sur le continent : ailleurs, des indépendances ont été conquises dans le sang et
dans les troubles. Je salue les qualités visionnaires du général de Gaulle, qui a su comprendre
les aspirations de l'Afrique à l'autonomie puis à l'indépendance, les respecter et faire de
l'ancienne métropole un partenaire, même si d'un côté comme de l'autre nous considérons que
ce partenariat est imprégné d'une dimension affective qui est unique.
Il faut aujourd'hui refuser le poids des habitudes. La poursuite de relations fortes entre deux
partenaires repose sur deux conditions de base : une volonté commune et un respect mutuel.
Au Bénin, je constate que l'Afrique aime la France. Mais malgré tout je ne veux pas esquiver
mes responsabilités. Je veux aborder franchement la question des relations de la France et de
l'Afrique.
Je crois indispensable de faire évoluer, au-delà des mots, notre relation. L'immense majorité
des Africains n'ont pas connu la période coloniale. 50% des Africains ont moins de 17 ans.
Comment peut-on imaginer continuer avec les mêmes réflexes ?
Il nous faut construire une relation nouvelle, assainie, décomplexée, équilibrée, débarrassée
des scories du passé et des obsolescences qui perdurent de part et d'autres de la Méditerranée.
Cela implique plusieurs changements de fond, dont certains sont heureusement à l'oeuvre.
D'abord, cette relation doit être plus transparente. Il nous faut la débarrasser des réseaux d'un
autre temps, des émissaires officieux qui n'ont d'autre mandat que celui qu'ils s'inventent. Le
fonctionnement normal des institutions politiques et diplomatiques doit prévaloir sur les
circuits officieux qui ont fait tant de mal par le passé. Il faut définitivement tourner la page
des complaisances, des secrets et des ambiguïtés.
163
Il nous faut aussi ne pas nous contenter de la seule personnalisation de nos relations. Les
relations entre des Etats modernes ne doivent pas seulement dépendre de la qualité des
relations personnelles entre les chefs d'Etat, mais d'un dialogue franc et objectif, d'une
confrontation des intérêts respectifs, du respect des engagements pris.
Nous voulons dialoguer sur un pied d'égalité, entre partenaires responsables. Notre relation
doit être décomplexée, sans sentiment de supériorité ni d'infériorité, sans sentiment de
culpabilité d'un coté ni soupçon d'en jouer de l'autre, sans tentation de rendre l'autre
responsable de ses erreurs. A nous Français de renier tout paternalisme, d'exclure toute
condescendance à l'endroit des Africains. Et surtout plus de respect. Nous ne savons pas
mieux que vous quel est le bon chemin. Je refuse la posture d'une France donneuse de leçons.
Mais je refuse tout autant de transiger sur nos valeurs. Ces valeurs de démocratie, de respect
des droits de l'homme, de bonne gouvernance, nous les défendons partout, en Asie comme en
Amérique latine ou en Europe de l'Est. Nous devons les défendre en Afrique comme ailleurs :
ces principes ne s'arrêtent pas aux portes du continent !
Les crises que nous voyons éclater sur le continent, dont les conséquences sont souvent si
brutales, ne naissent pas sans cause. Elles se sont nouées parfois bien avant, provoquées par
des dérives autoritaires, des écarts par rapport aux lois fondamentales ou par rapport à la
morale, des politiques xénophobes, des comportements arbitraires, des humiliations...
Pourquoi alors devrions-nous renoncer à nos valeurs et nous taire devant ces dérives ?
Pourquoi désespérer les hommes et les femmes de bonne volonté, militants associatifs,
hommes politiques d'opposition, entrepreneurs, responsables religieux, tous ceux qui luttent
pour la démocratie et la bonne gouvernance, si nombreux mais parfois si vulnérables, qui
espèrent dans l'angoisse un geste de soutien de notre part ? Au nom de quel principe supérieur
? Nous mettons-nous à ce point en danger en disant à haute et intelligible voix les torts que
causent les excès d'un dictateur à son propre pays ? Mes chers amis, nous devons défendre les
valeurs de la démocratie ici comme ailleurs parce que ceux qui luttent pour la démocratie
doivent nous trouver à leurs cotés.
A nous aussi de débarrasser la relation Afrique-France de ses fantasmes et de ses mythes qui
la polluent. Disons les choses clairement : la France n'a pas les intentions et l'influence qu'on
lui prête. On lui prête la faculté de redresser les situations, de rechercher des intérêts
économiques que nous n'avons pas et d'être capables d'assurer la stabilité ou de créer
l'instabilité dans un pays. Bien souvent d'ailleurs, les deux fantasmes sont mêlés : la politique
de la France en Afrique aurait pour seul objectif de s'approprier les ressources géologiques du
continent. Où est la vérité ? A ceux qui pensent cela, je veux quand même rappeler qu'il
n'existe plus de compagnie minière française, et que les entreprises françaises présentes en
Afrique sont surtout spécialisées dans les services.
Il y a bien le pétrole, me direz-vous. Regardons bien les faits : les deux pays africains où Total
réalise l'essentiel de sa production sont le Nigeria et l'Angola, deux pays qui ne sont pas parmi
les plus proches de la France. Il n'y a en réalité qu'un petit nombre de grands groupes français
164
qui réalisent une part importante de leur activité en Afrique : Bouygues, Air France, Bolloré,
et quelques autres. Peut-être les choses ont -elles été différentes par le passé, mais ce que je
sais, c'est qu'aujourd'hui ces grands groupes français n'ont pas besoin de la diplomatie
française pour exister et se développer en Afrique. S'ils y sont aussi dynamiques, c'est à
l'ancienneté de leur implantation - ils ont cru à l'Afrique avant beaucoup d'autres-, au talent de
leur management et de leurs collaborateurs qu'ils le doivent, et à eux seuls. Mais de leur côté,
les Africains doivent comprendre que l'aide publique au développement ne peut rien sans les
investisseurs privés. Et ceux-là, soyez-en sûrs, ne viendront durablement que si les pays
d'Afrique peuvent leur garantir un climat serein et stable pour y mener leurs affaires.
L'immigration est devenue un autre enjeu majeur de la relation entre la France et l'Afrique. Le
sujet ne doit plus être tabou. Il est absolument essentiel d'en parler entre nous. Si on laisse aux
partis extrémistes le monopole du discours sur l'immigration, il ne faut pas être surpris de voir
progresser la xénophobie et le racisme. L'immigration peut être un atout pour la France
comme pour les pays africains. Mais elle sera une chance si elle est choisie et non subie. C'est
tout le sens de mon projet de loi relatif à l'immigration et à l'intégration en cours de discussion
au Parlement. L'immigration doit être pour la France une ouverture sur la diversité, le
dialogue des cultures, la tolérance. Or le résultat de plusieurs décennies d'immigration subie
est exactement inverse : aujourd'hui, les petits enfants des migrants qui ont la nationalité
française se sentent moins français que leurs grands-parents qui n'avaient pas la nationalité
française.
A côté de cette réalité, les Africains qui n'ont que des bonnes raisons de venir en France, pour
des raisons d'affaire, d'études, de travail, rencontrent aujourd'hui les pires difficultés pour
obtenir un visa. Il faut sortir de cette situation. C'est tout l'objectif de la politique
d'immigration choisie que je suis en train de mettre en place. Le terme immigration choisie a
été beaucoup caricaturé et utilisé à des fins de polémique. Dans mon esprit, immigration
choisie ne signifie en aucun cas la mise en place d'un filtre destiné à faire venir les diplômés et
à rejeter les autres. Quand je parle d'immigration choisie, c'est une immigration choisie aussi
bien par le pays d'origine que par le pays de destination. Immigration choisie veut dire
immigration régulée, organisée, négociée entre les pays d'origine et les pays de destination.
L'émigration est une richesse pour l'Afrique. Les transferts d'épargne des migrants installés en
France représentent une somme presque aussi importante que l'aide publique au
développement. En outre, les migrants qui reviennent de France avec une formation et une
expérience professionnelle peuvent jouer un rôle déterminant pour le développement de leur
pays d'origine. Un grand chantier doit donc s'ouvrir entre la France et les pays d'Afrique pour
mettre en place une politique commune définissant les nouvelles règles d'une immigration
choisie. Nous devons favoriser la mobilité et la circulation des hommes tout en évitant le
pillage des cerveaux. D'après un rapport récent de l'OMS, "l'Afrique supporte 24% du fardeau
des maladies et ne possède désormais plus que 3% du personnel sanitaire". La plupart des
médecins béninois exercent aujourd'hui en France. Nul ne peut se satisfaire de cette situation
dont les conséquences sont catastrophiques pour les Africains. Il est donc urgent de mettre en
place une grande politique de co-développement qui facilitera la mobilité des personnes et la
165
réinstallation volontaire en Afrique de migrants. Et c'est ensemble que nous devons organiser
les migrations pour sortir de l'impasse actuelle et en faire un véritable atout en faveur du
développement, mais aussi de la tolérance et de l'amitié entre l'Afrique et la France.
Il nous faut enfin analyser avec sérénité cette idée obsessionnelle que la relation entre
l'Afrique et la France serait une relation d'exclusivité. On ne cesse de dire : "la France perd ses
positions en Afrique". Ce vocabulaire n'est pas respectueux des Africains ! Il ne s'agit ni de
parts de marché, ni non plus de possessions. Ceux qui tiennent ce discours chez nous se
croient des amis de l'Afrique. Le moins que l'on puisse dire, c'est qu'ils en ont une vision d'un
autre âge.
Il arrive que des Africains tiennent également ce discours. Ils l'assortissent en général d'un
autre commentaire : "les Américains, les Chinois et les Indiens s'installent partout"... Je vais
peut-être vous surprendre, mais je considère que c'est une bonne nouvelle pour l'Afrique.
D'abord, je ne vois pas la France dans une compétition pour savoir quel est celui qui aura la
"meilleure place" en Afrique. L'Afrique est la patrie des Africains. Ceux qui se plaignent de
l'arrivée de nouveaux investisseurs ont la vision passéiste de l'économie des comptoirs, une
conception qui a au minimum cinquante ans de retard ! L'Afrique, pour eux, ce serait un
gâteau que l'on partage, un champ clos et immuable. Pour tout dire, c'est l'inverse de la réalité
africaine d'aujourd'hui, qui voit heureusement de nombreux pays afficher des taux de
croissance que nous aimerions connaître en France : l'économie africaine est aussi une
économie dynamique, malgré le sous-développement et malgré l'endettement.
Qu'il n'y ait pas de malentendu entre nous : je souhaite vivement que les entreprises françaises
viennent en Afrique, qu'elles y investissent et qu'elles y prospèrent. Je souhaite qu'elles y
restent les plus nombreuses, de la même façon que je crois à une relation privilégiée entre
mon pays et les pays africains. Mais sincèrement, pour défendre nos intérêts commerciaux et
nos parts de marché, comme partout ailleurs dans le monde, je fais confiance au savoir-faire et
au dynamisme de nos entrepreneurs. C'est de leur talent que dépend notre puissance
économique. L'Etat, notre diplomatie doivent les aider. La relation avec l'Afrique doit même
constituer une priorité de notre action diplomatique. Mais il n'y a pas de chasse gardée.
La concurrence est plus forte aujourd'hui qu'hier ? Tant mieux ! C'est la preuve que l'Afrique
intéresse, que l'Afrique s'insère dans la mondialisation. On ne peut expliquer que la
concurrence est une bonne chose et ne pas l'accepter pour soi-même. La présence des
Américains et des Chinois en Afrique n'est pas moins légitime que celle d'autres. Les besoins
sont tels que chacun y a sa place.
Je souhaiterais néanmoins que nos amis américains élèvent le niveau de leur aide publique à
celui des pays européens, pour montrer que leur approche de l'Afrique n'est pas uniquement
motivée par le souci de faire des affaires.
166
Par ailleurs, tous les pays ne méritent pas d'être aidés de la même façon : le respect des droits
de l'homme n'est pas un critère moins important que la localisation des matières premières.
Je ne suis pas ici pour esquiver les interpellations qui sont faites à la France. Je vois bien que
certains pays d'Afrique, avec lesquels la France avait depuis toujours entretenu des rapports
d'amitié, paraissent aujourd'hui la rejeter. Cette tendance est le plus souvent confuse et
ambiguë : parfois les mots contredisent les actes : parfois on dit pis que pendre de la France
mais en coulisses on lui demande une aide budgétaire supplémentaire. Parfois les actes
contredisent les mots. La France doit reconnaître sa part des torts. Mais ceux qui s'en prennent
à la France et l'accusent de tous les maux sont eux-mêmes dans le passé : ils semblent avoir
besoin d'un bouc émissaire pour cacher leur propre incurie, et s'inventent par ce nouveau
mythe une légitimité de façade.
Cela étant je prends cette évolution au sérieux et avec respect : je comprends tout à fait que
certains de nos amis et partenaires aient pu être déçus. Qu'ils trouvent eux-mêmes leur
chemin. Peut-être nous retrouverons-nous plus tard, quand les rancoeurs réciproques se seront
apaisées. Je veux simplement rappeler à ceux qui rejettent aujourd'hui la présence française
que les Français d'Afrique dans leur grande majorité ont toujours considéré que ce continent
était pour eux leur deuxième patrie, et qu'ils ont contribué à la développer par leur travail.
Oui, ils ont travaillé durement et pris des risques qui n'ont pas toujours été payés de retour.
Certains, nous le savons, ont souffert physiquement et ont tout perdu. Et aujourd'hui, j'ai une
pensée pour les Français de Côte d'Ivoire qui ont été victimes de violences. Et c'est en pensant
à eux que je dis ici que la France se fera respecter, et qu'elle n'entend pas que ses ressortissants
soient pris à partie dans des pays où ils n'apportent que leur bonne volonté et leur travail.
Il y a d'autres questions dont nous devons parler franchement, entre partenaires et amis. La
présence de nos bases militaires dans plusieurs pays du continent est une de ces questions. La
première mission de ces bases, c'est d'aider l'Union Africaine, bel exemple d'une intégration
africaine réussie, à construire une architecture de paix et de sécurité régionale, qui permettra
au continent de disposer d'un outil pour mieux assurer, solidairement, sa sécurité et sa
stabilité.
Dans la période actuelle, le fait d'être présent militairement dans un pays nous conduit parfois
à devoir intervenir dans un conflit ou une crise interne, à titre humanitaire, pour préserver la
sécurité des populations civiles, ainsi que celle des ressortissants étrangers (et pas seulement
des Français). Ces interventions sont parfois mal comprises, en Afrique mais aussi en France.
Ce sont toujours des décisions difficiles, qui consistent à choisir entre deux mauvaises
solutions. Soit nous n'intervenons pas, et l'on nous accuse de manquer à nos engagements
bilatéraux et d'abandonner des gouvernements souverains ! Soit nous intervenons, et l'on nous
reproche d'intervenir dans les affaires intérieures d'un Etat souverain !
La vérité, c'est que nous sommes présents, et que nous avons une capacité à agir militairement
: il est donc logique que l'on vienne nous solliciter pour rétablir l'ordre et éviter des drames.
Car nous devons bannir toute tentative de prise du pouvoir par la force. Cela veut dire
167
intervenir dans une crise qui bien souvent ne nous concerne pas. Nous le faisons pour
préserver des vies humaines, et le plus souvent en concertation avec la communauté
internationale, avec les Nations Unies et l'Union Africaine. On peut reprocher à la France son
interventionnisme, mais je constate que rares sont les candidats pour venir en aide à des Etats
d'Afrique en proie à une crise politico-militaire. Quelles qu'aient pu être les insuffisances de la
politique suivie par la France au Rwanda avant le génocide, en 1994, il y avait beaucoup de
gens pour dénoncer les atrocités et les massacres commis contre les Tutsis, mais bien peu pour
intervenir directement afin d'arrêter ce crime contre l'humanité, comme le fit, seule, la France,
sous l'autorité d'Edouard Balladur. Sans doute devons-nous réfléchir davantage aux moyens
d'anticiper ces crises, aux moyens de les prévenir avec l'Union Africaine. Cela passe par le
renforcement des capacités africaines de maintien de la paix, et c'est en cela que la présence
militaire française en Afrique doit trouver toute son utilité. Vous les Béninois, avez justement
pris vos responsabilités en envoyant des contingents au Libéria et au Congo.
Je le répète, prévenir les crises, cela suppose que nous n'attendions plus pour dire à nos
partenaires africains que nous estimons que telle décision ou telle politique ne sont rien moins
que des manipulations électorales ou des dérives autocratiques, et qu'à ce titre elles sont
porteuses d'instabilité. L'autoritarisme, ce n'est pas la stabilité. Il n'y a pas d'issue hors de la
démocratie. Et la conclusion, c'est que nous devons parler de tout, y compris de ce qui est
sensible.
Mesdames et Messieurs,
C'est en confiance et en toute amitié que j'ai voulu vous indiquer mes espérances dans la
relation entre l'Afrique et la France. Je crois que l'Europe doit continuer à s'impliquer en
Afrique, et que la France est la meilleure des passerelles entre nos deux continents. Notre
relation est forte, ancienne, historique, elle est faite de sentiments qui dépassent le protocole,
qui vont au-delà des relations habituelles entre les Etats. Notre relation est spéciale et doit le
demeurer. La modernisation de notre relation, la responsabilisation de chacun permettront
d'ouvrir de nouvelles pages, et de construire ensemble nos avenirs respectifs.
Pour avancer dans cette voie, nous disposons d'un outil commun particulièrement précieux : le
français. C'est grâce aux Africains que le français reste une des grandes langues de
communication internationale. 28 des 63 Etats membres de l'Organisation internationale de la
Francophonie se trouvent en Afrique. Je veux saluer ici les efforts déployés par le président
Abdou Diouf à la tête de cette Organisation. Je sais que les Africains attendent beaucoup de la
Francophonie, sur l'éducation et l'enseignement, le développement des technologies de
l'information et la promotion de la culture africaine. C'est aussi une exigence à laquelle nous
devrons répondre.
Vous le voyez, Mesdames et Messieurs, c'est à un renforcement de nos relations que j'appelle.
Nos destins sont et resteront liés. Vous pouvez compter sur mon engagement pour que ce lien
si particulier qui nous unit soit renforcé. Et, plus encore, vous pouvez compter sur mon amitié.
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Disponível em:
https://www.lemonde.fr/afrique/article/2007/11/09/le-discours-de-dakar_976786_3212.html
Mesdames et Messieurs,
C'est pour cela que j'ai souhaité adresser, de Dakar, le salut fraternel de la France à l'Afrique
tout entière. Je veux, ce soir, m'adresser à tous les Africains, qui sont si différents les uns des
autres, qui n'ont pas la même langue, qui n'ont pas la même religion, qui n'ont pas les mêmes
coutumes, qui n'ont pas la même culture, qui n'ont pas la même histoire et qui pourtant se
reconnaissent les uns les autres comme des Africains. Là réside le premier mystère de
l'Afrique.
Oui, je veux m'adresser à tous les habitants de ce continent meurtri et en particulier aux
jeunes, à vous qui vous êtes tant battus les uns contre les autres et souvent tant haïs, qui
parfois vous combattez et vous haïssez encore mais qui pourtant vous reconnaissez comme
frères, frères dans la souffrance, frères dans l'humiliation, frères dans la révolte, frères dans
l'espérance, frères dans le sentiment que vous éprouvez d'une destinée commune, frères à
travers cette foi mystérieuse qui vous rattache à la terre africaine, foi qui se transmet de
génération en génération et que l'exil lui-même ne peut effacer.
Je ne suis pas venu, jeunes d'Afrique, pour pleurer avec vous sur les malheurs de l'Afrique.
Car l'Afrique n'a pas besoin de mes pleurs. Je ne suis pas venu, jeunes d'Afrique, pour
m'apitoyer sur votre sort parce que votre sort est d'abord entre vos mains. Que feriez-vous,
fière jeunesse africaine, de ma pitié ? Je ne suis pas venu effacer le passé car le passé ne
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s'efface pas. Je ne suis pas venu nier les fautes ni les crimes car il y a eu des fautes et il y a eu
des crimes.
Il y a eu la traite négrière, il y a eu l'esclavage, les hommes, les femmes, les enfants achetés et
vendus comme des marchandises. Et ce crime ne fut pas seulement un crime contre les
Africains, ce fut un crime contre l'Homme, ce fut un crime contre l'Humanité tout entière. Et
l'Homme noir qui éternellement « enten[d] de la cale monter les malédictions enchaînées, les
hoquettements des mourants, le bruit d'un qu'on jette à la mer », cet Homme noir qui ne peut
s'empêcher de se répéter sans fin : « Et ce pays cria pendant des siècles que nous sommes des
bêtes brutes », cet Homme noir, je veux le dire ici à Dakar, a le visage de tous les Hommes du
monde. Cette souffrance de l'Homme noir (je ne parle pas de l'homme au sens du sexe, je
parle de l'Homme au sens de l'être humain et, bien sûr, de la femme et de l'homme dans son
acception générale), cette souffrance de l'Homme noir, c'est la souffrance de tous les Hommes.
Cette blessure ouverte dans l'âme de l'Homme noir est une blessure ouverte dans l'âme de tous
les Hommes.
Mais nul ne peut demander aux générations d'aujourd'hui d'expier ce crime perpétré par les
générations passées. Nul ne peut demander aux fils de se repentir des fautes de leurs pères.
Jeunes d'Afrique, je ne suis pas venu vous parler de repentance. Je suis venu vous dire que je
ressens la traite et l'esclavage comme des crimes envers l'Humanité. Je suis venu vous dire
que votre déchirure et votre souffrance sont les nôtres et sont donc les miennes.
Je suis venu vous proposer de regarder ensemble, Africains et Français, au-delà de cette
déchirure et au-delà de cette souffrance. Je suis venu vous proposer, jeunes d'Afrique, non
d'oublier cette déchirure et cette souffrance qui ne peuvent pas être oubliées, mais de les
dépasser. Je suis venu vous proposer, jeunes d'Afrique, non de ressasser ensemble le passé
mais d'en tirer ensemble les leçons afin de regarder ensemble l'avenir. Je suis venu, jeunes
d'Afrique, regarder en face avec vous notre histoire commune.
L'Afrique a sa part de responsabilité dans son propre malheur. On s'est entretué en Afrique au
moins autant qu'en Europe. Mais il est vrai que jadis les Européens sont venus en Afrique en
conquérants : ils ont pris la terre de vos ancêtres, ils ont banni les dieux, les langues, les
croyances, les coutumes de vos pères, ils ont dit à vos pères ce qu'ils devaient penser, ce qu'ils
devaient croire, ce qu'ils devaient faire. Ils ont coupé vos pères de leur passé, ils leur ont
arraché leur âme et leurs racines. Ils ont désenchanté l'Afrique.
170
Ils ont eu tort. Ils n'ont pas vu la profondeur et la richesse de l'âme africaine. Ils ont cru qu'ils
étaient supérieurs, qu'ils étaient plus avancés, qu'ils étaient le progrès, qu'ils étaient la
civilisation. Ils ont eu tort. Ils ont voulu convertir l'Homme africain, ils ont voulu le façonner
à leur image, ils ont cru qu'ils avaient tous les droits, ils ont cru qu'ils étaient tout puissants,
plus puissants que les dieux de l'Afrique, plus puissants que l'âme africaine, plus puissants que
les liens sacrés que les Hommes avaient tissés patiemment pendant des millénaires avec le ciel
et la terre d'Afrique, plus puissants que les mystères qui venaient du fond des âges. Ils ont eu
tort. Ils ont abîmé un art de vivre. Ils ont abîmé un imaginaire merveilleux. Ils ont abîmé une
sagesse ancestrale. Ils ont eu tort. Ils ont créé une angoisse, un mal de vivre. Ils ont nourri la
haine. Ils ont rendu plus difficiles l'ouverture aux autres, l'échange, le partage parce que pour
s'ouvrir, pour échanger, pour partager, il faut être assuré de son identité, de ses valeurs, de ses
convictions. Face au colonisateur, le colonisé avait fini par ne plus avoir confiance en lui, par
ne plus savoir qui il était, par se laisser gagner par la peur de l'autre, par la crainte de l'avenir.
Le colonisateur est venu, il a pris, il s'est servi, il a exploité, il a pillé des ressources, des
richesses qui ne lui appartenaient pas. Il a dépouillé le colonisé de sa personnalité, de sa
liberté, de sa terre, du fruit de son travail.
Il a pris mais je veux dire avec respect qu'il a aussi donné. Il a construit des ponts, des routes,
des hôpitaux, des dispensaires, des écoles. Il a rendu fécondes des terres vierges, il a donné sa
peine, son travail, son savoir. Je veux le dire ici, tous les colons n'étaient pas des voleurs, tous
les colons n'étaient pas des exploiteurs. Il y avait parmi eux des Hommes mauvais mais il y
avait aussi des Hommes de bonne volonté, des Hommes qui croyaient remplir une mission
civilisatrice, des Hommes qui croyaient faire le bien. Ils se trompaient mais certains étaient
sincères. Ils croyaient donner la liberté, ils créaient l'aliénation. Ils croyaient briser les chaînes
de l'obscurantisme, de la superstition, de la servitude ; ils forgeaient des chaînes bien plus
lourdes, ils imposaient une servitude plus pesante, car c'étaient les esprits, c'étaient les âmes
qui étaient asservis. Ils croyaient donner l'amour sans voir qu'ils semaient la révolte et la
haine.
La colonisation n'est pas responsable de toutes les difficultés actuelles de l'Afrique. Elle n'est
pas responsable des guerres sanglantes que se font les Africains entre eux. Elle n'est pas
responsable des génocides. Elle n'est pas responsable des dictateurs. Elle n'est pas responsable
du fanatisme. Elle n'est pas responsable de la corruption, de la prévarication. Elle n'est pas
responsable des gaspillages et de la pollution.
171
Mais la colonisation fut une grande faute qui fut payée par l'amertume et la souffrance de ceux
qui avaient cru tout donner et qui ne comprenaient pas pourquoi on leur en voulait autant. La
colonisation fut une grande faute qui détruisit chez le colonisé l'estime de soi et fit naître dans
son cœur cette haine de soi qui débouche toujours sur la haine des autres.
La colonisation fut une grande faute mais de cette grande faute est né l'embryon d'une
destinée commune. Et cette idée me tient particulièrement à cœur. La colonisation fut une
faute qui a changé le destin de l'Europe et le destin de l'Afrique et qui les a mêlés. Et ce destin
commun a été scellé par le sang des Africains qui sont venus mourir dans les guerres
européennes. Et la France n'oublie pas ce sang africain versé pour sa liberté. Nul ne peut faire
comme si rien n'était arrivé. Nul ne peut faire comme si cette faute n'avait pas été commise.
Nul ne peut faire comme si cette histoire n'avait pas eu lieu. Pour le meilleur comme pour le
pire, la colonisation a transformé l'Homme africain et l'Homme européen.
Jeunes d'Afrique, vous êtes les héritiers des plus vieilles traditions africaines et vous êtes les
héritiers de tout ce que l'Occident a déposé dans le cœur et dans l'âme de l'Afrique. Jeunes
d'Afrique, la civilisation européenne a eu tort de se croire supérieure à celle de vos ancêtres,
mais désormais la civilisation européenne vous appartient aussi.
Jeunes d'Afrique, ne cédez pas à la tentation de la pureté parce qu'elle est une maladie, une
maladie de l'intelligence, qui est ce qu'il y a de plus dangereux au monde. Jeunes d'Afrique, ne
vous coupez pas de ce qui vous enrichit, ne vous amputez pas d'une part de vous-même. La
pureté est un enfermement, la pureté est une intolérance. La pureté est un fantasme qui
conduit au fanatisme.
Je veux vous dire, jeunes d'Afrique, que le drame de l'Afrique n'est pas dans une prétendue
infériorité de son art, sa pensée, de sa culture. Car, pour ce qui est de l'art, de la pensée et de la
culture, c'est l'Occident qui s'est mis à l'école de l'Afrique. L'art moderne doit presque tout à
l'Afrique. L'influence de l'Afrique a contribué à changer non seulement l'idée de la beauté,
non seulement le sens du rythme, de la musique, de la danse, mais même dit SENGHOR, la
manière de marcher ou de rire du monde du XXe siècle.
Je veux donc dire à la jeunesse d'Afrique que le drame de l'Afrique ne vient pas de ce que
l'âme africaine serait imperméable à la logique et à la raison. Car l'Homme africain est aussi
logique et raisonnable que l'Homme européen. C'est en puisant dans l'imaginaire africain que
vous ont légué vos ancêtres, c'est en puisant dans les contes, dans les proverbes, dans les
172
mythologies, dans les rites, dans ces formes qui, depuis l'aube des temps, se transmettent et
s'enrichissent de génération en génération, que vous trouverez l'imagination et la force de
vous inventer un avenir qui vous soit propre, un avenir singulier qui ne ressemblera à aucun
autre, où vous vous sentirez enfin libres, libres, jeunes d'Afrique, d'être vous-mêmes, libres de
décider par vous-mêmes.
Je suis venu vous dire que vous n'avez pas à avoir honte des valeurs de la civilisation
africaine, qu'elles ne vous tirent pas vers le bas mais vers le haut, qu'elles sont un antidote au
matérialisme et à l'individualisme qui asservissent l'Homme moderne, qu'elles sont le plus
précieux des héritages face à la déshumanisation et à l'aplatissement du monde. Je suis venu
vous dire que l'Homme moderne qui éprouve le besoin de se réconcilier avec la nature a
beaucoup à apprendre de l'Homme africain qui vit en symbiose avec la nature depuis des
millénaires.
Je suis venu vous dire que cette déchirure entre ces deux parts de vous-mêmes est votre plus
grande force, et votre plus grande faiblesse selon que vous vous efforcerez ou non d'en faire la
synthèse. Mais je suis aussi venu vous dire qu'il y a en vous, jeunes d'Afrique, deux héritages,
deux sagesses, deux traditions qui se sont longtemps combattues : celle de l'Afrique et celle de
l'Europe. Je suis venu vous dire que cette part africaine et cette part européenne de
vous-mêmes forment votre identité déchirée.
Je ne suis pas venu, jeunes d'Afrique, vous donner des leçons, je ne suis pas venu vous faire la
morale. Mais je suis venu vous dire que la part d'Europe qui est en vous est le fruit d'un grand
péché d'orgueil de l'Occident mais que cette part d'Europe en vous n'est pas indigne. Car elle
est l'appel de la liberté, de l'émancipation et de la justice et de l'égalité entre les femmes et les
hommes, car elle est l'appel à la raison et à la conscience universelles.
Le drame de l'Afrique, c'est que l'Homme africain n'est pas assez entré dans l'Histoire. Le
paysan africain, qui depuis des millénaires, vit avec les saisons, dont l'idéal de vie est d'être en
harmonie avec la nature, ne connaît que l'éternel recommencement du temps rythmé par la
répétition sans fin des mêmes gestes et des mêmes paroles. Dans cet imaginaire où tout
recommence toujours, il n'y a de place ni pour l'aventure humaine ni pour l'idée de progrès.
Dans cet univers où la nature commande tout, l'Homme échappe à l'angoisse de l'Histoire qui
tenaille l'Homme moderne mais l'Homme reste immobile au milieu d'un ordre immuable où
173
tout semble être écrit d'avance. Jamais l'Homme ne s'élance vers l'avenir. Jamais il ne lui vient
à l'idée de sortir de la répétition pour s'inventer un destin.
Le problème de l'Afrique -- permettez à un ami de l'Afrique de le dire --, il est là. Le défi de
l'Afrique, c'est d'entrer davantage dans l'Histoire, c'est de puiser en elle l'énergie, la force,
l'envie, la volonté d'écouter et d'épouser sa propre histoire. Le problème de l'Afrique, c'est de
cesser de toujours répéter, de toujours ressasser, de se libérer du mythe de l'éternel retour, c'est
de prendre conscience que l'âge d'or qu'elle ne cesse de regretter ne reviendra pas pour la
raison qu'il n'a jamais existé. Le problème de l'Afrique, c'est qu'elle vit trop le présent dans la
nostalgie du paradis perdu de l'enfance. Le problème de l'Afrique, c'est que trop souvent elle
juge le présent par rapport à une pureté des origines totalement imaginaire et que personne ne
peut espérer ressusciter.
Le problème de l'Afrique, ce n'est pas de s'inventer un passé plus ou moins mythique pour
s'aider à supporter le présent mais de s'inventer un avenir avec des moyens qui lui soient
propres. Le problème de l'Afrique, ce n'est pas de se préparer au retour du malheur, comme si
celui-ci devait indéfiniment se répéter, mais de vouloir se donner les moyens de conjurer le
malheur, car l'Afrique a le droit au bonheur comme tous les autres continents du monde. Le
problème de l'Afrique, c'est de rester fidèle à elle-même sans rester immobile.
Le défi de l'Afrique, c'est d'apprendre à regarder son accession à l'universel non comme un
reniement de ce qu'elle est mais comme un accomplissement. Le défi de l'Afrique, c'est
d'apprendre à se sentir l'héritière de tout ce qu'il y a d'universel dans toutes les civilisations
humaines, c'est de s'approprier les droits de l'Homme, la démocratie, la liberté, l'égalité, la
justice comme l'héritage commun de toutes les civilisations et de tous les Hommes, c'est de
s'approprier la science et la technique modernes comme le produit de toute l'intelligence
humaine.
Le défi de l'Afrique est celui de toutes les civilisations, de toutes les cultures, de tous les
peuples qui veulent garder leur identité sans s'enfermer parce qu'ils savent que l'enfermement
est mortel. Les civilisations sont grandes à la mesure de leur participation au grand métissage
de l'esprit humain. La faiblesse de l'Afrique, qui a connu sur son sol tant de civilisations
brillantes, ce fut longtemps de ne pas participer assez à ce grand métissage. Elle a payé cher,
l'Afrique, ce désengagement du monde qui l'a rendue si vulnérable.
174
Mais, de ses malheurs, l'Afrique a tiré une force nouvelle en se métissant à son tour. Ce
métissage, quelles que fussent les conditions douloureuses de son avènement, est la vraie
force et la vraie chance de l'Afrique au moment où émerge la première civilisation mondiale.
La civilisation musulmane, la Chrétienté, la colonisation, au-delà des crimes et des fautes qui
furent commises en leur nom et qui ne sont pas excusables, ont ouvert les cœurs et les
mentalités africaines à l'universel et à l'Histoire.
Ne vous laissez pas, jeunes d'Afrique, voler votre avenir par ceux qui ne savent opposer à
l'intolérance que l'intolérance, au racisme que le racisme. Ne vous laissez pas, jeunes
d'Afrique, voler votre avenir par ceux qui veulent vous exproprier d'une histoire qui vous
appartient aussi parce qu'elle fut l'histoire douloureuse de vos parents, de vos grands-parents
et de vos aïeux. N'écoutez pas, jeunes d'Afrique, ceux qui veulent faire sortir l'Afrique de
l'Histoire au nom de la tradition parce qu'une Afrique où plus rien ne changerait serait de
nouveau condamnée à la servitude.
N'écoutez pas, jeunes d'Afrique, ceux qui veulent vous empêcher de prendre votre part dans
l'aventure humaine, parce que sans vous, jeunes d'Afrique qui êtes la jeunesse du monde,
l'aventure humaine sera moins belle. N'écoutez pas, jeunes d'Afrique, ceux qui veulent vous
déraciner, vous priver de votre identité, faire table rase de tout ce qui est africain, de toute la
mystique, la religiosité, la sensibilité, la mentalité africaines, parce que pour échanger il faut
avoir quelque chose à donner, parce que pour parler aux autres, il faut avoir quelque chose à
leur dire.
Écoutez plutôt, jeunes d'Afrique, la grande voix du président SENGHOR, qui chercha toute sa
vie à réconcilier les héritages et les cultures au croisement desquels les hasards et les tragédies
de l'Histoire avaient placé l'Afrique. Il disait, lui, l'enfant de Joal qui avait été bercé par les
rhapsodies des griots, il disait : « Nous sommes des métis culturels, (...) si nous sentons en
nègres, nous nous exprimons en français, parce que le français est une langue à vocation
universelle, que notre message s'adresse aussi aux Français de France et aux autres Hommes.
» Il disait aussi : « Le français nous a fait don de ses mots abstraits -- si rares dans nos langues
maternelles (...). Chez nous les mots sont naturellement nimbés d'un halo de sève et de sang ;
les mots du français rayonnent de mille feux, comme des diamants. Des fusées qui éclairent
notre nuit. »
Ainsi parlait Léopold SENGHOR, qui fait honneur à tout ce que l'Humanité comprend
d'intelligence. Ce grand poète et ce grand Africain voulait que l'Afrique se mît à parler à toute
175
l'Humanité et lui écrivait en français des poèmes pour tous les Hommes. Ces poèmes étaient
des chants qui parlaient à tous les Hommes d'êtres fabuleux qui gardent des fontaines,
chantent dans les rivières et qui se cachent dans les arbres, des poèmes qui leur faisaient
entendre les voix des morts du village et des ancêtres, des poèmes qui faisaient traverser des
forêts de symboles et remonter jusqu'aux sources de la mémoire ancestrale que chaque peuple
garde au fond de sa conscience, comme l'adulte garde au fond de la sienne le souvenir du
bonheur de l'enfance.
Car chaque peuple a connu ce temps de l'éternel présent où il cherchait non à dominer
l'univers mais à vivre en harmonie avec l'univers ; temps de la sensation, de l'instinct, de
l'intuition, temps du mystère et de l'initiation, temps mystique où le sacré était partout, où tout
était signes et correspondances. C'est le temps des magiciens, des sorciers et des chamanes, le
temps de la parole qui était grande parce qu'elle se respecte et se répète, de génération en
génération, et transmet, de siècle en siècle, des légendes aussi anciennes que les dieux.
L'Afrique a fait se ressouvenir à tous les peuples de la terre qu'ils avaient partagé la même
enfance. L'Afrique en a réveillé les joies simples, les bonheurs éphémères et ce besoin, ce
besoin auquel je crois moi-même tant, ce besoin de croire plutôt que de comprendre, ce besoin
de ressentir plutôt que de raisonner, ce besoin d'être en harmonie plutôt que d'être en
conquête. Ceux qui jugent la culture africaine arriérée, ceux qui tiennent les Africains pour de
grands enfants, tous ceux-là ont oublié que la Grèce antique, qui nous a tant appris sur l'usage
de la raison, avait aussi ses sorciers, ses devins, ses cultes à mystères, ses sociétés secrètes, ses
bois sacrés et sa mythologie, qui venait du fond des âges et dans laquelle nous puisons encore,
aujourd'hui, un inestimable trésor de sagesse humaine.
L'Afrique qui a aussi ses grands poèmes dramatiques et ses légendes tragiques, en écoutant
SOPHOCLE, a entendu une voix plus familière qu'elle ne l'aurait cru et l'Occident a reconnu
dans l'art africain des formes de beauté qui avaient jadis été les siennes et qu'il éprouvait le
besoin de ressusciter. Alors entendez, jeunes d'Afrique, combien RIMBAUD est africain
quand il met des couleurs sur les voyelles comme tes ancêtres en mettaient sur leurs masques
(« masque noir masque rouge (...) masques blanc-et-noir »).
Ouvrez les yeux, jeunes d'Afrique, et ne regardez plus, comme l'ont fait trop souvent vos
aînés, la civilisation mondiale comme une menace pour votre identité mais la civilisation
mondiale comme quelque chose qui vous appartient aussi. Dès lors que vous reconnaîtrez
dans la sagesse universelle une part de la sagesse que vous tenez de vos pères et que vous
176
aurez la volonté de la faire fructifier, alors commencera ce que j'appelle de mes vœux, la
renaissance africaine. Dès lors que vous proclamerez que l'Homme africain n'est pas voué à
un destin qui serait fatalement tragique et que, partout en Afrique, il ne saurait y avoir d'autre
but que le bonheur, alors commencera la renaissance africaine. Dès lors que vous, jeunes
d'Afrique, vous déclarerez qu'il ne saurait y avoir d'autres finalités pour une politique africaine
que l'unité de l'Afrique et l'unité du genre humain, alors commencera la renaissance africaine.
Dès lors que vous regarderez bien en face la réalité de l'Afrique et que vous la prendrez à
bras-le-corps, alors commencera la renaissance africaine.
Car le problème de l'Afrique, c'est qu'elle est devenue un mythe que chacun reconstruit pour
les besoins de sa cause. Et ce mythe empêche de regarder en face la réalité de l'Afrique. La
réalité de l'Afrique, c'est une démographie trop forte pour une croissance économique trop
faible. La réalité de l'Afrique, c'est encore trop de famine, trop de misère. La réalité de
l'Afrique, c'est la rareté qui suscite la violence. La réalité de l'Afrique, c'est le développement
qui ne va pas assez vite, c'est l'agriculture qui ne produit pas assez, c'est le manque de routes,
c'est le manque d'écoles, c'est le manque d'hôpitaux. La réalité de l'Afrique, c'est un grand
gaspillage d'énergie, de courage, de talents, d'intelligence. La réalité de l'Afrique, c'est celle
d'un grand continent qui a tout pour réussir et qui ne réussit pas parce qu'il n'arrive pas à se
libérer de ses mythes.
La renaissance dont l'Afrique a besoin, vous seuls, jeunes d'Afrique, vous pouvez l'accomplir
parce que vous seuls en aurez la force. Cette renaissance, je suis venu vous la proposer ; je
suis venu vous la proposer pour que nous l'accomplissions ensemble parce que de la
renaissance de l'Afrique dépend pour une large part la renaissance de l'Europe et la
renaissance du monde.
Je sais l'envie de partir qu'éprouvent un si grand nombre d'entre vous confrontés aux
difficultés de l'Afrique. Je sais la tentation de l'exil qui pousse tant de jeunes Africains à aller
chercher ailleurs ce qu'ils ne trouvent pas ici pour faire vivre leur famille. Je sais ce qu'il faut
de volonté, ce qu'il faut de courage pour tenter cette aventure, pour quitter sa patrie, la terre où
l'on est né, où l'on a grandi, pour laisser derrière soi les lieux familiers où l'on a été heureux,
l'amour d'une mère, d'un père ou d'un frère et cette solidarité, cette chaleur, cet esprit
communautaire qui sont si forts en Afrique. Je sais ce qu'il faut de force d'âme pour affronter
le dépaysement, l'éloignement, la solitude. Je sais ce que la plupart d'entre eux doivent
affronter comme épreuves, comme difficultés, comme risques. Je sais qu'ils iront parfois
177
jusqu'à risquer leur vie pour aller jusqu'au bout de ce qu'ils croient être leur rêve. Mais je sais
que rien ne les retiendra. Car rien ne retient jamais la jeunesse quand elle se croit portée par
ses rêves.
Je ne crois pas que la jeunesse africaine ne soit poussée à partir que pour fuir la misère. Je
crois que la jeunesse africaine s'en va parce que, comme toutes les jeunesses, elle veut
conquérir le monde. Comme toutes les jeunesses, elle a le goût de l'aventure et du grand large.
Elle veut aller voir comment on vit, comment on pense, comment on travaille, comment on
étudie ailleurs.
L'Afrique n'accomplira pas sa renaissance en coupant les ailes de sa jeunesse. Mais l'Afrique a
besoin de sa jeunesse. La renaissance de l'Afrique commencera en apprenant à la jeunesse
africaine à vivre avec le monde, non à le refuser. La jeunesse africaine doit avoir le sentiment
que le monde lui appartient comme à toutes les jeunesses de la terre. La jeunesse africaine
doit avoir le sentiment que tout deviendra possible comme tout semblait possible aux hommes
de la Renaissance.
Alors, je sais bien que la jeunesse africaine ne doit pas être la seule jeunesse du monde
assignée à résidence. Elle ne peut pas être la seule jeunesse du monde qui n'a le choix qu'entre
la clandestinité et le repliement sur soi. Elle doit pouvoir acquérir hors d'Afrique la
compétence et le savoir qu'elle ne trouverait pas chez elle. Mais elle doit aussi à la terre
africaine de mettre à son service les talents qu'elle aura développés. Il faut revenir bâtir
l'Afrique ; il faut lui apporter le savoir, la compétence, le dynamisme de ses cadres. Il faut
mettre un terme au pillage des élites africaines dont l'Afrique a besoin pour se développer.
Ce que veut la jeunesse africaine, c'est ne pas être à la merci des passeurs sans scrupules qui
jouent avec votre vie. Ce que veut la jeunesse d'Afrique, c'est que sa dignité soit préservée,
c'est pouvoir faire des études, c'est pouvoir travailler, c'est pouvoir vivre décemment. C'est au
fond ce que veut toute l'Afrique. L'Afrique ne veut pas de la charité. L'Afrique ne veut pas
d'aide. L'Afrique ne veut pas de passe-droit.
Ce que veut l'Afrique et ce qu'il faut lui donner, c'est la solidarité, la compréhension et le
respect. Ce que veut l'Afrique, ce n'est pas que l'on prenne son avenir en main, ce n'est pas
que l'on pense à sa place, ce n'est pas que l'on décide à sa place. Ce que veut l'Afrique est ce
que veut la France, c'est la coopération, c'est l'association, c'est le partenariat entre des
Nations égales en droits et en devoirs.
178
Jeunesse africaine, vous voulez la démocratie, vous voulez la liberté, vous voulez la justice,
vous voulez le droit ? C'est à vous d'en décider. La France ne décidera pas à votre place. Mais
si vous choisissez la démocratie, la liberté, la justice et le droit, alors la France s'associera à
vous pour les construire. Jeunes d'Afrique, la mondialisation telle qu'elle se fait ne vous plaît
pas ? L'Afrique a payé trop cher le mirage du collectivisme et du progressisme pour céder à
celui du laisser-faire. Jeunes d'Afrique, vous croyez que le libre-échange est bénéfique mais
que ce n'est pas une religion. Vous croyez que la concurrence est un moyen mais que ce n'est
pas une fin en soi. Vous ne croyez pas au laisser-faire. Vous savez qu'à être trop naïve,
l'Afrique serait condamnée à devenir la proie des prédateurs du monde entier. Et cela vous ne
le voulez pas. Vous voulez une autre mondialisation, avec plus d'humanité, avec plus de
justice, avec plus de règles.
Je suis venu vous dire que la France la veut aussi. Elle veut se battre avec l'Europe, elle veut
se battre avec l'Afrique, elle veut se battre avec tous ceux qui dans le monde veulent changer
la mondialisation. Si l'Afrique, la France et l'Europe le veulent ensemble, alors nous
réussirons. Mais nous ne pouvons pas exprimer une volonté à votre place.
Jeunes d'Afrique, vous voulez le développement, vous voulez la croissance, vous voulez la
hausse du niveau de vie. Mais le voulez-vous vraiment ? Voulez-vous que cesse l'arbitraire, la
corruption, la violence ? Voulez-vous que la propriété soit respectée, que l'argent soit investi
au lieu d'être détourné ? Voulez-vous que l'État se remette à faire son métier, qu'il soit allégé
des bureaucraties qui l'étouffent, qu'il soit libéré du parasitisme, du clientélisme, que son
autorité soit restaurée, qu'il domine les féodalités, qu'il domine les corporatismes ?
Voulez-vous que partout règne l'État de droit qui permet à chacun de savoir raisonnablement
ce qu'il peut attendre des autres ? Si vous le voulez, alors la France sera à vos côtés pour
l'exiger, mais personne ne le voudra à votre place.
Voulez-vous qu'il n'y ait plus de famine sur la terre africaine ? Voulez-vous que, sur la terre
africaine, il n'y ait plus jamais un seul enfant qui meure de faim ? Alors cherchez
l'autosuffisance alimentaire. Alors développez les cultures vivrières. L'Afrique a d'abord
besoin de produire pour se nourrir. Si c'est ce que vous voulez, jeunes d'Afrique, vous tenez
entre vos mains l'avenir de l'Afrique et la France travaillera avec vous pour bâtir cet avenir.
Vous voulez lutter contre la pollution ? Vous voulez que le développement soit durable ? Vous
voulez que les générations actuelles ne vivent plus au détriment des générations futures ?
Vous voulez que chacun paye le véritable coût de ce qu'il consomme ? Vous voulez
179
développer les technologies propres ? C'est à vous de le décider. Mais si vous le décidez, la
France sera à vos côtés.
Vous voulez la paix sur le continent africain ? Vous voulez la sécurité collective ? Vous voulez
le règlement pacifique des conflits ? Vous voulez mettre fin au cycle infernal de la vengeance
et de la haine ? C'est à vous, mes amis africains, de le décider. Et si vous le décidez, la France
sera à vos côtés, comme une amie indéfectible, mais la France ne peut pas vouloir à la place
de la jeunesse d'Afrique. Vous voulez l'unité africaine ? La France le souhaite aussi parce que
la France souhaite l'unité de l'Afrique, car l'unité de l'Afrique rendra l'Afrique aux Africains.
Ce que veut faire la France avec l'Afrique, c'est regarder en face les réalités. C'est faire la
politique des réalités et non plus la politique des mythes. Ce que la France veut faire avec
l'Afrique, c'est le codéveloppement, c'est-à-dire le développement partagé. La France veut
avec l'Afrique des projets communs, des pôles de compétitivité communs, des universités
communes, des laboratoires communs. Ce que la France veut faire avec l'Afrique, c'est
élaborer une stratégie commune dans la mondialisation. Ce que la France veut faire avec
l'Afrique, c'est une politique d'immigration négociée ensemble, décidée ensemble pour que la
jeunesse africaine puisse être accueillie en France et dans toute l'Europe avec dignité et avec
respect. Ce que la France veut faire avec l'Afrique, c'est une alliance de la jeunesse française
et de la jeunesse africaine pour que le monde de demain soit un monde meilleur. Ce que veut
faire la France avec l'Afrique, c'est préparer l'avènement de l'« Eurafrique », ce grand destin
commun qui attend l'Europe et l'Afrique.
À ceux qui, en Afrique, regardent avec méfiance ce grand projet de l'Union méditerranéenne
que la France a proposé à tous les pays riverains de la Méditerranée, je veux dire que, dans
l'esprit de la France, il ne s'agit nullement de mettre à l'écart l'Afrique, qui s'étend au sud du
Sahara mais, qu'au contraire, il s'agit de faire de cette Union le pivot de l'Eurafrique, la
première étape du plus grand rêve de paix et de prospérité qu'Européens et Africains sont
capables de concevoir ensemble.
Alors, mes chers amis, alors seulement, l'enfant noir de Camara LAYE, à genoux dans le
silence de la nuit africaine, saura et comprendra qu'il peut lever la tête et regarder avec
confiance l'avenir. Et cet enfant noir de Camara LAYE, il sentira réconciliées en lui les deux
parts de lui-même. Et il se sentira enfin un Homme comme tous les autres Hommes de
l'Humanité.
180
Je vous remercie.
disponível em:
https://www.jeuneafrique.com/173903/politique/france-afrique-le-texte-du-discours-de-dakar-
prononc-par-fran-ois-hollande/
12 octobre 2012
Mesdames et Messieurs,
C’est un honneur que vous me faites en m’invitant à m’exprimer au sein de votre Assemblée
nationale. J’y vois un double symbole. Le premier, c’est le symbole de la vitalité de votre
démocratie. Le second, c’est la singularité du lien qui unit nos deux pays.
181
J’effectue ici, à Dakar, mon premier déplacement en Afrique depuis mon élection à la
Présidence de la République française. Ce choix est celui de l’Histoire. Mais il est surtout et
avant tout le choix de l’avenir.
L’histoire que nous avons en commun, elle est belle, elle est rebelle, elle est cruelle. Une
histoire qui nous lègue une langue en partage, mais aussi une culture politique en commun : la
démocratie.
Je pense en cet instant à Blaise DIAGNE, et à ses successeurs, qui ont activement participé
aux travaux du Parlement français après la guerre. Je pense à Léopold SEDAR-SENGHOR
qui fit partie, non seulement du gouvernement de la République française, mais du Comité qui
fut chargé en 1958 de réfléchir et d’élaborer la Constitution de la Vème République. Je suis
donc doublement en dette devant vous. Avec vos représentants Sénégalais, vous avez
contribué à la République française et même à la Constitution qui me permet d’être
aujourd’hui, Chef de l’Etat. Notre histoire est aussi celle d’une fraternité. Celle de combats
menés ensemble.
La France se souvient qu’en 1914 et 1940, elle a pu compter sur le concours de nombreux
sénégalais enrôlés de gré ou de force sous le drapeau tricolore et dont le courage a permis à
notre pays d’être celui qu’il est aujourd’hui. Par deux fois au cours du dernier siècle dernier, le
sang africain a été versé pour la liberté du monde. Je ne l’oublierai jamais.
Cette histoire, notre histoire, a aussi sa part d’ombre. Comme toute Nation, la France se
grandit lorsqu’elle regarde lucidement son passé.
Je serai cet après-midi avec le Président Macky SALL sur l’Ile de Gorée pour rendre
hommage à la mémoire des victimes de l’esclavage et de la traite négrière, en présence d’élus
des Outre-mer français dont j’ai souhaité la présence à mes côtés. L’histoire de l’esclavage,
nous devons la connaître, l’enseigner et en tirer toutes les leçons pour que l’exploitation des
êtres humains puisse être combattue avec la plus grande énergie, parce que c’est l’idée même
de l’humanité que nous avons en partage. A la Maison des esclaves, qui fait face à l’océan
Atlantique, je ne m’inclinerai pas seulement devant l’histoire, devant ces hommes, ces
182
femmes, ces enfants emmenés de force pour être esclaves : mais je m’engagerai aussi pour la
dignité humaine partout où elle est blessée et vous serez avec moi dans ce combat.
La part d’ombre de notre histoire, c’est aussi la répression sanglante qui en 1944 au camp de
Thiaroye provoqua la mort de 35 soldats africains qui s’étaient pourtant battus pour la France.
J’ai donc décidé de donner au Sénégal toutes les archives dont la France dispose sur ce drame
afin qu’elles puissent être exposées au musée du mémorial.
***
Mais la meilleure raison, la plus sûre raison même de ma présence ici, c’est que je veux vous
parler de l’avenir. L’avenir du Sénégal, l’avenir de l’Afrique.
Les trois premiers présidents sénégalais ont su, dans leurs diversités, transmettre, tous, le
flambeau à leur successeur, permettant à votre pays, et soyez en fiers, de réussir des
alternances sans déchirement. Votre Assemblée, ici, devant laquelle je m’exprime, est l’une
des seules du continent à avoir exercé la totalité de ses droits, sans interruption, depuis
l’indépendance.
Et quand je vois, sous mes yeux, le nombre de femmes, présentes ici comme représentantes du
peuple sénégalais –un rapport qui a doublé par rapport aux dernières élections- cela m’inspire
beaucoup de modestie, parce qu’en France nous ne sommes pas encore à votre niveau, même
s’il y a eu quelques progrès. Voilà ce qui nous rassemble, Mesdames et Messieurs les députés.
Le respect des droits de l’Homme, l’égalité devant la loi, la garantie de l’alternance, les droits
des minorités, la dignité de la femme, la liberté religieuse : autant de valeurs universelles
ancrées chez vous et qui doivent s’épanouir dans toute l’Afrique.
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Je ne suis pas venu ici, à Dakar pour montrer un exemple, pour imposer un modèle, ni pour
délivrer une leçon. Je considère les Africains comme des partenaires, comme des amis.
L’amitié crée des devoirs : le premier d’entre eux est la sincérité. Je veux leur parler
librement, directement, le faire sans ingérence, mais avec exigence.
La démocratie vaut pour elle-même, partout. Aucun pays, aucun continent, ne peut en être
privé. Mais elle vaut aussi pour ce qu’elle permet, pour ce qu’elle apporte. Il n’y a pas de vrai
développement économique, ni de vrai progrès social sans démocratie.
J’ai une conviction profonde : si l’Afrique, berceau de l’humanité, parvient à vivre et à faire
vivre pleinement la démocratie, partout et pour tous, si elle réussit à vaincre ses divisions,
alors l’Afrique sera le continent où se jouera l’avenir même de la planète.
L’Afrique est portée par une dynamique démographique sans précédent : la population au sud
du Sahara doublera en l’espace de quarante ans –pour atteindre près de 2 milliards de femmes
et d’hommes en 2050. Le nombre d’habitants aura été multiplié par dix en un siècle : c’est un
changement sans équivalent dans l’histoire même de l’humanité. L’Afrique est la jeunesse du
monde.
Elle est aussi une terre d’avenir pour l’économie mondiale. La croissance y est supérieure à
beaucoup de croissances des pays dits développés, cette croissance a été ces dernières années
toujours à un rythme plus important et elle vous permet, même si c’est difficile, d’accéder à
de nouveaux marchés, à de nouveaux produits. Les besoins d’infrastructures sont
considérables. La qualité de son agriculture, ses ressources naturelles, ses richesses minières,
ce continent a tous les atouts pour être demain le continent de la croissance, du
développement et du progrès. Il y a en Afrique un potentiel exceptionnel. Les paysans, les
artisans, les étudiants, les entrepreneurs, les savants constituent une ressource formidable pour
votre avenir.
Les grands pays se tournent vers l’Afrique et investissent massivement. Vous n’avez pas à
avoir peur de cet intérêt nouveau. Vous pouvez vous en méfier, il peut y avoir des prédateurs.
Vous devez être conscients que vos institutions, vos pratiques, vos capacités vous permettront
de guider, d’orienter ces capitaux dans votre propre intérêt.
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Je vous fais, ici, une promesse, dans ces grandes négociations qui ont lieu aujourd’hui sur le
commerce, sur le climat, sur les questions économiques, vous êtes notre premier partenaire et
la France sera votre premier allié. Le devoir d’un pays comme le mien, c’est de vous
accompagner dans les domaines d’avenir, pas simplement les ressources naturelles mais aussi
l’agro-alimentaire, les télécommunications, les services.
***
C’est vers cette Afrique de demain que je suis tourné, c’est vers cette Afrique de demain que
je viens ici au Sénégal. Le changement viendra d’abord et avant tout des peuples. Les
africains ont pris leur destin en main et ce mouvement ne s’arrêtera pas.
Chaque pays en Afrique connait son propre dynamisme et parfois connait des rechutes.
Chaque pays adapte ses institutions à ses réalités. Chaque pays est chahuté par des
mouvements qui contestent les frontières issues de la colonisation. Mais au-delà de toutes ces
turbulences, j’ai confiance. L’Afrique est en marche et les principes sur lesquels elle peut
fonder son développement sont ceux-là même que vous portez ici au Sénégal.
Le premier de ces principes auxquels j’adhère, c’est la transparence. Vous avez raison
d’exiger de toutes les entreprises qui viennent ici investir chez vous ou occuper des positions
d’être transparentes et de pouvoir rendre des comptes chaque fois qu’il est nécessaire.
pas de l’Afrique, c’est l’affaire de tous. Nous devons être intraitables face à ceux qui
pourraient se croire autorisés à voler les deniers de leur propre pays, mais aussi être
implacables face à ceux qui viennent chercher des contrats en ne négligeant aucun moyen de
pression ou d’influence.
Et notamment les femmes qui en Afrique constituent une formidable force de changement et
de transformation. Plus nombreuses que par le passé à s’impliquer dans la vie économique et
sociale, elles jouent un rôle majeur auprès de la jeunesse africaine qui représentera les deux
tiers, bientôt, de la population du continent.
Voilà, ce que je voulais vous dire : confiance en vous, fierté de ce que vous avez déjà
accompli, ouverture aux autres et certitude que vous êtes sur le bon chemin, que l’Afrique est
un continent d’avenir. Mais en même temps je n’ignore rien des menaces auxquelles vous
faites face et des périls qui sont autour de vous.
Je pense particulièrement au Mali, victime de groupes extrémistes qui font régner la terreur
dans le Nord. C’est votre sécurité qui est en jeu, c’est aussi la nôtre, celle de l’Europe qui
connait la valeur inestimable de la paix pour laquelle elle a obtenu aujourd’hui même le Prix
Nobel.
Cette Europe qui a fait la paix, qui fait la paix, cette Europe, elle doit aussi faire la paix et
vouloir la paix en Afrique chaque fois qu’il y a un conflit et du terrorisme. Elle sera derrière
vous. Mais c’est vous, les Africains, qui aurez la responsabilité de décider ce qui est bon pour
votre propre sécurité.
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Les organisations telles que la CEDEAO et l’Union africaine se sont imposées dans le
traitement d’un certain nombre de conflits.
C’est très encourageant. L’engagement des armées africaines dans le maintien de la paix, au
sein des Casques Bleus en est la preuve. Je pense au courage des Burundais, des Djiboutiens,
des Ethiopiens, des Kényans et des Ougandais qui payent un lourd tribut pour libérer la
Somalie. Je salue ici les soldats sénégalais engagés dans des opérations de maintien de la paix
difficiles, en Côte d’Ivoire, en Guinée-Bissau, en RDC et au Soudan. Merci au Sénégal.
Aujourd’hui, c’est la crise que connaît le Nord du Mali, occupé et violenté, qui doit nous
fédérer. On en connaît les causes, elles sont multiples. Les pratiques maffieuses des groupes
terroristes, les erreurs qui ont marqué la fin de l’intervention en Libye, et notamment le
manque de contrôle des armes, les trafics de drogue qui ont corrompu une partie de
l’économie malienne, mais qui menacent, on le sait bien, une bonne partie de l’Afrique de
l’Ouest. Il y a aussi une insuffisance du développement économique au Sahel, qui a nourri le
désespoir. Je connais tout ça. Y compris l’absence de mise en œuvre effective des accords
passés qui auraient dû conduire à une coexistence harmonieuse entre les communautés du
Mali.
Mais sommes-nous là pour faire des analyses, pour essayer de comprendre, ou pour prendre
nos responsabilités ? Les horreurs actuelles ne peuvent plus se poursuivre. Comment accepter
ces mausolées profanés, ces mains coupées, ces femmes violées ? Comment tolérer que des
enfants puissent être enrôlés de force par des milices, que des terroristes viennent dans cette
région pour ensuite semer la terreur ailleurs ? La France, je l’ai dit aussi, à travers ses
ressortissants dans cette région, a été attaquée et agressée.
Mais je veux, maintenant, vous dire ma volonté de renouveler la relation entre la France et
l’Afrique.
Les émissaires, les intermédiaires, les officines trouvent désormais porte close à la Présidence
de la République française comme dans tous les Ministères.
La clarté, c’est dans la constitution du Gouvernement, que j’ai décidé de former, la décision
que j’ai prise de remplacer le Ministère de la Coopération par celui du Développement placé
auprès du Quai d’Orsay, indiquant ma conviction que nous devons gérer ensemble les grands
défis de l’humanité, les changements climatiques, la question des maladies, le développement
solidaire. Bref, ce qui compte aujourd’hui, ce qui est espéré de la France ce n’est pas une
coopération, c’est un développement.
Le respect, c’est aussi la franchise. Elle doit être réciproque. Je ne cèderai pas à la tentation de
la complaisance, et je n’en attends pas non plus en retour de la part de l’Afrique. Nous devons
tout nous dire. Ce que nous pensons, ce que nous croyons, ce qui est utile.
Cette sincérité, elle vaut en particulier pour le respect des valeurs fondamentales : la liberté
des médias, l’indépendance de la justice, la protection des minorités. Car, sans Etat de droit il
ne peut y avoir de fonctionnement normal de l’Etat, ni d’investissement durable des
entreprises, ni de société en paix. Nous devons être particulièrement engagés dans la lutte
contre les violences. Violences faites aux enfants, violences faites aux femmes, violences
faites aux personnes déplacées. Voilà le message que nous devons faire passer ensemble,
français et africains.
une présence. C’est dans cet esprit que sera définie la nouvelle politique de défense de la
France.
Je vous ai parlé de clarté, je vous ai parlé de respect. Je veux vous parler de solidarité.
Il associera donc les ONG davantage qu’aujourd’hui, les collectivités locales. Et puis aussi
tous ceux qui, entrepreneurs, veulent participer avec les sociétés civiles à ce que nous avons à
faire ensemble. Il faut en terminer avec ces relations d’Etats à Etats qui ignorent les peuples et
les sociétés.
La solidarité, c’est aussi d’aller chercher de nouveaux financements, ce que j’appelle les
financements innovants, pour trouver de nouvelles ressources et les mettre au service de
projets futurs.
Au niveau européen, une taxe sur les transactions financières sera bientôt en place dans onze
pays. Pour la France, 10 pour cent du produit de cette taxe ira au développement et à la lutte
contre les pandémies qui meurtrissent votre continent. Je pense au paludisme, à la tuberculose,
au Sida. Nous allons avec cette taxe sur les transactions financières montrer une nouvelle fois
l’exemple. L’exemple de ce que nous pouvons faire pour limiter l’influence de la finance.
L’exemple de ce que nous devons faire pour utiliser les ressources au service du
développement.
La solidarité, elle ne peut être simplement qu’une affaire de finance et d’échange de moyens
matériels ! La solidarité, c’est aussi l’échange entre des hommes et des femmes qui veulent
circuler. J’entends mettre fin à ce paradoxe absurde, qui fait que la France dans un passé
récent, ait trop souvent fermé la porte à ceux-là même qui voulaient y créer des emplois, y
développer des échanges, participer à l’effort de recherche ou de création artistique ! Je
souhaite donc que les procédures administratives soient simplifiées pour les étudiants, dès lors
qu’ils sont motivés, talentueux, capables de subvenir à une grande part de leurs besoins.
Je veux aussi que les artistes, les créateurs ne soient pas contraints de renoncer à un
déplacement en France faute d’obtenir un visa. J’ai entendu le message de votre Ministre de la
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Culture, Youssou N’DOUR. C’est parce que j’ai entendu ce message que nous allons
améliorer nos procédures, tout en étant responsables sur la maîtrise de notre immigration.
La solidarité, c’est, aussi, la consolidation de la zone franc. Vous êtes attachés à cette zone de
stabilité monétaire. Vous savez ce que vous lui devez, c’est-à-dire d’avoir été capables de
créer, vous aussi, une union de l’Afrique de l’Ouest et de l’Afrique centrale, qui a permis une
intégration et une stabilité. Mais, en même temps, est-ce que nous ne pourrions pas réfléchir
ensemble, pays de la zone franc et la France, à assurer de manière plus active la gestion des
réserves, des monnaies, de façon à ce que nous puissions les utiliser pour la croissance et pour
l’emploi ? Voilà l’enjeu de la relation entre la France et l’Afrique : développement des
économies, un niveau supérieur dans nos échanges, une conception commune de nos
responsabilités, des valeurs que nous portons, des exigences que nous posons.
Nous voulons permettre aux Etats africains de négocier de meilleurs contrats avec les
multinationales étrangères, et notamment dans le secteur minier. C’est la raison pour laquelle
mon pays a mis en place, avec la Banque mondiale, une facilité financière pour renforcer
l’assistance juridique aux pays africains dans la négociation de leurs contrats. Il s’agit de
permettre aux pays d’Afrique de percevoir un juste prix pour les ressources qui sont prélevées
sur leur territoire.
Ici au Sénégal, mes chers amis, ces principes se traduisent par la volonté de la France d’être
toujours à vos côtés. C’est la raison pour laquelle j’ai accordé en juillet dernier à votre pays
une aide budgétaire exceptionnelle de 130 millions d’euros, pour répondre aux urgences que
je connaissais et qui obligeaient la France. Il ne s’agissait pas de générosité, il s’agissait de
solidarité, il s’agissait de compréhension. Vous savez l’importance que j’accorde à la relation
entre nos deux pays.
Je salue ce que vous avez voulu faire avec le Président Macky SALL en donnant la priorité à
la jeunesse. Priorité à la jeunesse, ce fut aussi le thème de ma campagne présidentielle en
France. Je sais ce qu’elle représente ici au Sénégal et partout en Afrique. Je comprends donc
votre exigence, votre impatience. Tout à l’heure, nous visiterons avec le Président SALL, l’un
des 3 centres de formation professionnelle que l’Agence Française de Développement a
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récemment financé à Dakar. La France continuera d’agir dans cette direction pour renforcer
votre potentiel en matière d’éducation, de qualification. Nous agirons pour la rénovation de
collèges publics dans l’académie de Dakar. Nous sommes conscients aussi que les jeunes
africains veulent être mieux formés, ici dans leur propre pays, avec de grandes universités
parce qu’il y a besoin de grandes universités africaines avec des centres de recherches pour
que vous puissiez faire étudier, ici, vos enfants. Ce qui n’empêchera pas qu’ils puissent se
déplacer pour nous apporter leurs concours et le produit de leur travail. Mais c’est ici que leur
formation doit être faite et c’est ici que les jeunes qui sortiront de vos écoles, de vos
universités, partout en Afrique et au Sénégal, devront trouver l’emploi qu’ils recherchent.
A travers l’éducation, à travers une conception de la santé, à travers les transports, les
infrastructures que nous voulons développer, bref tout ce qui permet la mobilité, l’échange, la
communication — qu’est-ce que nous voulons faire ? Nous développer ? Oui, sans doute,
mais également partager. Partager une culture, partager une langue.
Parce que, ce qui nous unit aussi, c’est la francophonie, cette communauté qui permet de
mieux se comprendre, mais aussi de mieux agir, cette communauté vers laquelle j’irai avec le
Président Macky SALL demain, à Kinshasa, pour la convaincre de s’élargir encore, de
prendre toutes les initiatives et de porter des valeurs. Parce que parler une langue, parler la
langue française, qui est ici une langue africaine, c’est aussi transmettre des valeurs, porter
des messages, inspirer des peuples ; parler la langue française, c’est parler la langue de la
liberté, c’est parler la langue de la dignité, c’est parler la langue de la diversité culturelle.
C’est votre langue, c’est notre langue, nous l’avons en commun. Diffusons-la, portons-la et
faisons en sorte que ceux qui la parlent aient une chance de plus que les autres.
Nous ne demandons pas d’écraser d’autres langues. Ici la langue française ne chasse aucune
autre langue. Elle n’écrase rien, elle permet tout. Voilà pourquoi nous voulons partager ce bel
idéal de la francophonie.
Vous avez aussi besoin, non seulement d’échanges humains, culturels, linguistiques ; vous
avez besoin aussi d’échanges — je l’ai dit — d’infrastructures, de transports. Vos villes sont
en train d’être transformées en Afrique. De très grandes villes mondiales seront en Afrique
avec ce que cela génère comme complexité d’urbanisme, comme exigence de logements.
Je suis arrivé à l’aéroport — j’ai mis un certain temps avec le Président Macky SALL car les
Sénégalais étaient venus nombreux nous accueillir et nous circulions au ralenti. J’ai eu le
temps d’observer ce que je découvrais. Je voyais ces immeubles qui sortaient de terre, je vois
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bien les besoins. Voilà pourquoi la France est prête à prendre toute sa part à cette construction,
à cette invention.
Je parle des villes et je n’oublie pas les campagnes. L’Afrique a aussi un atout formidable
avec la ruralité. Ne croyez pas que c’est une charge ou un poids ; ne pensez pas qu’il y aurait
un exode rural qui serait irréversible, parce que ce serait ce qui vaudrait pour tous les
développements. Non, votre agriculture doit être développée, vos produits peuvent être plus
nombreux qu’aujourd’hui et mieux mis en valeur. Vous devez assurer votre sécurité
alimentaire, la productivité en matière agricole peut connaitre, en Afrique, un développement
considérable. Nous serons avec vous parce que l’Afrique a besoin de se nourrir par elle-même
et d’assurer sa sécurité et son indépendance alimentaire.
***
Je ne voudrais pas m’installer trop longtemps à cette tribune, c’est la vôtre. Vous m’avez fait
grand honneur — je le disais — de m’accueillir ici. J’ai ressenti une grande émotion.
Nous sommes dans un lieu que le colonisateur avait lui-même bâti. Vous vous en êtes libérés,
vous avez été capables de trouver votre voie. Vous êtes une grande Nation et vous
m’accueillez aujourd’hui comme un ami.
Nous sommes à la fois liés par l’Histoire et en même temps tellement conscients de ce que
nous avons à faire ensemble, les uns avec les autres. Vous attendez de la France, non pas des
mots, non pas des principes, même si les principes conduisent à l’action. Vous attendez qu’elle
pose des actes, montre des preuves qu’elle est à vos côtés. Je veux essayer de vous convaincre
que vous devez être fiers de vous-mêmes, fiers de votre avenir, conscients de votre présent et
que vous avez à faire, finalement, le plus beau chemin possible, celui de votre développement.
Vous avez une jeunesse qui, je le sais, attend beaucoup et parfois attend trop longtemps. Elle
s’impatiente. Nous avons le devoir, les uns et les autres, de lui répondre.
Je me souviendrai longtemps de la chaleur de son accueil. Mais nous avons encore tant à faire
ensemble.
Une grande histoire commune nous lie. Il nous revient maintenant d’écrire, ensemble, un
nouveau récit, de tracer l’avenir. J’ai retrouvé une belle phrase qui se trouve dans votre hymne
national que le Président SENGHOR vous a laissé. Elle témoigne de ce que jeux faire avec
vous. « Epaule contre épaule », faire avancer la France et l’Afrique ensemble.
Vive le Sénégal.
Vive la France.