Dono Do Sexo Livro 1b
Dono Do Sexo Livro 1b
Dono Do Sexo Livro 1b
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Bônus
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Cap´tulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Quando isso acabar ela vai me agradecer. Agradecer por eu tê-la
levado ao paraíso.
Lorenzo Maldini
Isso foi o que um magnata disse ao conhecer sua bela e doce plebeia.
Uma plebeia que era quase uma gata borralheira. Quase, se não fosse o jeito
de tigresa brava. Entre tudo isso, nosso magnata era um perfeito insistente, no
qual o fato era que...
Se ele quisesse, ele teria.
Carolina Lelis iria entrar no jogo dele, e começava entre eles uma
coisa grande e muito boa, a ponto de eles quebrarem regras.
Eu devo ter jogado pedra na cruz. EU SOU AZARADA. Quero
dizer, eu entro em frias com tanta facilidade Pisquei, entrei em uma fria.
Anotem aí: Carolina entra mais em fria que o polo norte.
Se a culpa é minha? Juro que não! Devia ter ficando em casa. Quando
eu penso que estou evitado problema, arranjo um enorme. Ah, merda! Era
meu primeiro dia nesse trabalho Não podia esperar chegar no terceiro ou
alguns? Devia ser algum sinal do além. Só podia ser isso. Devia ser alguma
aparição maluca ou doente que queria se comunicar comigo.
Poderia pular a janela, mas seria suicida demais; poderia deixar a
torneira brilhosa ligada até inundar todo o lugar, mas não dava! Não podia
fazer mais coisas idiotas, já me bastava ter quebrado o trinco da porta. Não
era qualquer porta, era a porta luxuosa de madeira.
Deus que me livre de pagar prejuízo, nem peguei meu salário, pensei.
Tudo que vi no hotel, em meu primeiro dia, incluía luxo..
Carrinho luxuoso.
Bandeja luxuosa.
Roupas e pessoas luxuosas.
Até o vaso era luxuoso! O vaso para cagar. Só faltava o papel
higiênico ser de folhas de ouro, embora tivessefolha dupla com um cheiro
bom para caramba. Coisas simples no meu dia, mas lá não mostrava ser
assim. Muita sofisticação e coisas modernas. Sim, onde tem uma banheira no
banheiro, um box dividido, um vaso. Tudo bem feito e com a famosa estética
dos ricos.
Eu era incapaz de detalhar tudo. Sou imprestável em detalhes
pequenos e blá, blá, blá. E o que Carolina Lelis fez dessa vez? Carolina ficou
presa. Quanto tempo? Horas. Horas incalculáveis. Como ninguém percebeu
meu sumiço? Eu era tão inútil assim? Cheguei a gritar, mas nada. O medo de
passar a noite ali crescia a cada momento. Minha irmã sentiria minha falta, eu
tinha certeza. Mas, quando?
Meu estômago começou a fazer sons estrondosos de fome e logo a
irritação predominava. O silêncio mortífero se juntou aos meus pensamentos.
Bati mais uma vez com o pé na porta. Nada!
Já podia concluir que seria demitida, e por quê? Minha culpa? Não,
culpa daquela porta do cão. Da porta que decidiu me fazer de trouxa. Saí de
casa feliz, limpei o primeiro quarto ao lado daquele, mas quando chegou
nele... Porra!
Sentei-me, sabendo que não sairia dali naquele dia. Me ferrei por
completo.
— Fim de história para você, Carolina! — murmurei para mim mesma.
Ultimamente eu vinha tendo tantos impedimentos. Na faculdade, que
por falta de dinheiro e pela mesma ter barrado meu retorno, assim, do nada.
Sem dizer que eu sempre fui dedicada, sem dizer que envolvia desejo e
vontade.
Levantei-me novamente e comecei a abrir tudo que podia. Abri o
armário e o vi bem arrumado, sinal que me fez notar que alguém estava no
lugar. Não podia confirmar, foi tempo de entrar e ir para o banheiro tirar o
lixo, só lembrava de estar tudo arrumado. Mas, olhando para aqueles
produtos, a escova de dente... Sim, alguém reinava naquele quarto. Se bem
que era algum lorde do luxo, para viver tão bem. Olhei para o creme de
barbear e o abri, sentindo o cheiro gostoso e masculino. Peguei alguns
potinhos com pílulas, calmantes e analgésico, deixando tudo no devido lugar
em seguida, e abrindo as duas gavetas abaixo da pia.
Nada.
Abaixei-me e abri o armário. Ali tudo funcionava tão bem, por que a
porta não podia funcionar?
Peguei a caixa de primeiros socorros, a inspecionei e não vi nada que
me animasse, mas enquanto a revirava, fiquei espantada com o pacote de
camisinhas que achei. Peguei e vi o sabor destacado. Morango, ainda. Passei
meus olhos pelo pacote e fiquei surpresa.
Ah, Carolina, não faça essa cara.
Achados surpreendentes da noite.
Era, no mínimo, inusitado. Isso não faz parte de uma caixa de
primeiros socorros, ou faz? Você está lá e de repente se machuca, ou
simplesmente precisa de uma na hora H. Se no caso eu estiver no meio dessa
hora H, e o cara disser “pegue a camisinha no kit de primeiros socorros”,
acharia muito broxante. Eu ainda faria uma piada de humor obscuro com o
cara. E, deduzindo pelo pacote, vi que o dono era bem nomeado. Já vi muito,
em particular, mas pouca coisa me impressionava.
Não pense em sexo, Carolina. Você está sozinha, presa na merda de
um banheiro, caramba!
Devolvi tudo ao devido lugar e fui até a porta, batendo forte
novamente.
Já devia ter me acostumado com o frio. Não que estivesse fazendo,
mas eu precisava de algo quente para me cobrir, e algo me dizia que ali não
teria nada que me servisse. O uniforme era um vestido de botões na frente,
com um belo avental e o cabelo bem amarrado.
Camila devia estar preocupada. Perguntei-me se ela já havia ligado
para o meu celular.
Com certeza, sim.
Devia estar achando que eu tinha sido abduzida, ou morta por aquelas
bandas.
Ela prometeu se cuidar e ficar em casa.
Sou meio mandona e autoritária, um pouco porque sempre me viu
como exemplo. Camila Lelis é a única família que tenho. Minha menina
inocente. Sei muito dela, sei que beijou dois carinhas até agora, que é virgem,
que nunca deu uns amassos.
Ela me dizia tudo e eu ria. Era ativa, mas não falava disso com ela
ainda. Não queria deixá-la com a mente aberta. Ela sabia que eu gostava de
sexo, que tinha meus “amigos”, mas não entrávamos em detalhes. A menos
que ela visse, então ela contestava. Ela, aos dezenove anos, estava bem, mas
por dentro se sentia excluída. Seu jeito calmo era sua marca. Ela mancava de
uma perna e isso para mim nunca foi problema. Sempre encontramos saída
para tudo.
Prontos para ouvir a parte triste?
Ela ficou com esse problema aos 12 anos, e junto com os movimentos
da perna dela, se foi o meu pai, tudo em um acidente. Depois de sete anos
minha mãe partiu, após ter se afundado com a morte do marido. É difícil
entender como tudo se complicou, mas eu sei que segurei a mão de minha
irmã e caminhei ao lado dela. Nem na frente e nem atrás. Ao lado dela.
Cuidando da garota.
Com unhas e dentes.
Nunca deixei ninguém maltratar minha irmã, e olha que até uma tia
nossa já foi maldosa, então, o que esperar dos outros? Não queríamos pena de
ninguém. Quando Camila ficava para baixo eu a ajudava a melhorar, sendo a
irmã mais velha. Eu fui por ela, eu sou por ela, e ela e por mim.
Comecei a trabalhar no hotel para melhorar nossa vida, e daria certo,
se não fosse a tal porta.
Levantei e agredi a porta de novo e de novo.
Dessa vez bati forte na porta, meu pé doía e eu dei um grito.
Azarada! É isso que você é! Quem você acha que pode vir tirá-la
daqui? O Superman? O Batman?
— Quem está aí? — perguntaram e eu congelei.
Ai, meu Deus!
Voltei a agir e a voz retornou.
— Eu estou presa, me tira daqui, por favor! — supliquei, me
aproximando da porta e esperando por uma resposta.
— Consegue abrir a porta? — questionou uma voz profunda de
homem, com um leve sotaque.
— Não.
— Há quanto tempo está aí?
— Muito tempo! Me tira daqui.
Suspirei aliviada e ao mesmo tempo angustiada.
Com o ouvido na porta, prendi a respiração pesada e passei a escutar
duas vozes.
“O que você vai fazer?”
“Ela está presa. O que você acha?”
Depois disso as vozes se afastaram e fiquei ali mais uns minutos, até
que a mesma voz se pronunciou.
— Vão abrir a porta. Gire a maçaneta quando...
— NÃO TEM O TRINCO DA PORTA! — gritei em plenos pulmões.
— Quebrou, moço!
— Você quebrou a porta? — perguntou o homem que falou comigo
antes, mas, dessa vez, firme. — Já vão abrir a porta.
Ouvi a voz ficando mais alta, me afastei e só aguardei. Já estava até
com vergonha de sair dali. Respirei fundo e quando finalmente vi a porta se
abrir, soltei todo o ar que estava preso. Um homem com um macacão cinza
entrou e me olhou. Senti um enorme alívio em ver o rosto dele.
— A senhorita está bem? — indagou, e por um segundo busquei a
outra voz, a firme e com um leve sotaque, mas não a escutei e desviei o foco
para o que importava.
Saí do banheiro.
— Sim, muito obrigada.
Estava abalada. Quando saí do quarto vi mais um homem de macacão e
uma mulher. Essa “mulher” eu conhecia bem. Ela quem ministrou minhas
aulas práticas antes de eu começar no trabalho. Vi seus olhos atentos em
mim.
— Então era aqui que você estava?! — Ela pegou o carrinho e começou
a puxar. — Vamos descer.
E assim eu fui. Não escutei a voz do homem, não vi quem era. Apenas
segui com a mulher para a parte de baixo do hotel. Ela era alta e estava bem
vestida, e só foi dizer algo quando deixou o carrinho e me olhou.
— Você está bem?
— Sim, eu... eu fiquei presa e não consegui sair. Gritei, mas ninguém
me ouvia — disse, desabafando, já tentando aliviar a minha barra para não
perder o trampo. — Me desculpe.
— Você passou horas lá. De qualquer maneira, agora está tudo bem.
Vamos até a cozinha e você toma alguma coisa. Peço para alguém te levar.
Parecia tudo tão simples.
A mulher me levou até a cozinha, comi um prato de comida e logo
estava mais calma. Ninguém me fez perguntas, apenas me perguntaram se eu
estava bem.
Melhor assim. A única que ficou atenta foi a mulher, que disse que era
responsável pelo setor e por quem trabalhava nele. No caso, eu. Ela me
analisou, mas logo saiu para conversar com outra pessoa.
Era nova ali, não sabia como funcionava, só sabia o que fazer. Eu era
funcionária.
— Acabou? — perguntou, balancei a cabeça e me levantei. — Peço
desculpas a você pelo incidente, mas é muita gente para ministrar.
— Não se desculpe, foi um acidente de trabalho. — Tirei o avental e
suspirei. — Eu só peço que não me demitam, preciso do emprego.
— Creio que não precise disso. Só pedimos que não espalhe por aí o
que aconteceu. — Bingo! Agora eu entendi tudo. Eles não queriam que eu
fizesse um escândalo. Claro que não faria, sabia ficar quieta. — Bem, tudo
resolvido agora?
— Com toda certeza!
— Agora que resolvemos tudo, troque o uniforme. Tem como ir para
casa?
— Tenho sim. — A primeira mentira do dia foi essa. Arrumaria um
táxi, o que sairia caro para mim, mas não liguei. — Vou me trocar e já estou
indo.
— Até amanhã.
— Até amanhã.
Eu não havia perdido o emprego, e isso significava que nem tudo
estava perdido. Era só eu voltar no dia seguinte e pronto, continuaria o que eu
parei.
Simples. Muito simples.
—O que aconteceu ontem não pode acontecer novamente — disse com
firmeza. Não queria pegar pesado com ela. Patrícia podia parecer o doce de
mulher que fosse, que tratava a todos bem e tinha convívio comigo por
bastante tempo, mas ela sabia o que era uma ordem. Sabia fazer, cumprir,
sabia que tinha que estar em seu lugar. — Ainda bem que foi no meu quarto.
Evitou problemas para o RH.
— A garota é nova aqui, um dos motivos de ter acontecido. Não vai se
repetir.
— Sei que não. Ela ainda trabalha para nós?
— Sim.
— Não tive tempo de conversar, saber como se sentia. Estava com uma
mulher e não pude. Quero fazer isso pessoalmente, evitar futuros problemas.
— Me levantei e ajeitei minha gravata, olhei para fora da janela e vi o trânsito
movimentado. Teria um caminho extenso para chegar à empresa, mas não
faria esse percurso naquele momento. Pelo menos relaxaria um pouco. — E
quanto a verificação. A adiantou?
— Sim. Estou organizando por setor.
— Ótimo. — Respirei fundo e tentei não pensar mais no assunto, por
ora. — Vou ficar aqui na parte da manhã, aproveito e faço algo menos
estressante. Quando encontrar a mulher, a traga até mim. Pode ir.
— Tudo bem.
Olhei para o sol que entrava pela janela, então livrei-me do terno e
vesti minha calça de treino. Caminhei pelo corredor e logo entrei na
academia, onde abri as duas janelas e encarei o espelho. O silêncio que
pairava no ar me deixava relaxado. Peguei as bandagens e passei por minhas
mãos, começando em seguida a esmurrar o saco de pancadas que se movia a
cada golpe que eu dava com vontade, descarregando e criando novas
energias, repetindo os movimentos.
Em meia hora consegui sentir o calor do meu corpo, que transpirava
muito, e interrompi o exercício para beber um pouco de água e secar o meu
tórax. Segui até a cozinha e escutei a campainha. Me virei e fui até a porta,
quando a abri tive uma bela surpresa.
Fiquei olhando para a moça de uniforme, que piscou duas vezes como
se quisesse garantir que não via uma miragem.
Era comigo? Não, Lorenzo, não é com você.
— A que devo a visita? — indaguei em tom travesso.
Segure seu instinto, Lorenzo!
— A Sra. Patrícia me mandou. Disse que o senhor queria conversar
comigo. Sou... a moça que ficou presa no banheiro.
Isso, meu anjo, fale mais. Movimente seus lindos lábios avermelhados.
Estou atraído por eles.
— Entendo. É, você, então?!
Sabe aquelas fantasias sexuais bem explícitas? Criei uma naquele
momento... Uma garota, cabelos pretos, com um belo e organizando uniforme
de camareira. No preto e branco.
— Sim — ela disse parecendo sem jeito, me olhando por inteiro.
Primeiro ela fitou meus olhos, depois desceu com seu olhar pelo meu
peito exposto e, por último, ela demorou-se um pouco analisando a minha
calça de moletom. Gostei dela. Não devia, mas era um fraco. Quando foi que
contratamos uma mulher tão sexy? Eu cuidava de muita coisa, menos dos
funcionários contratados, como a garota a minha frente.
Maldini representava uma firma diversificada, com negócios amplos.
Podíamos ter associações e firmas, podíamos dar oportunidade a uma
empresa falida e poderíamos mexer com a hotelaria, tudo deixava pessoas
felizes no fim do mês.
Mas ali descobri que tinha uma funcionária que podia me deixar feliz
e infeliz no fim do mês.
— Entre — chamei e dei espaço para sua entrada. — Chamei a
senhorita aqui para ver como está.
— Estou bem. Só foi um incidente, não vai voltar a acontecer —
prometeu e abriu um sorriso. — Não se preocupe.
— Tenho que me preocupar. Você está na minha folha de pagamento
— eu disse, calmo. — Sente-se, vamos conversar.
— 24.
— Por que aqui?
— Preciso do emprego.
— Não reclamo de trabalhar aqui, tenho 26 anos e já vi de tudo,
trabalho aqui há quatro anos, mas trabalhar aqui esse tempo todo, não é legal.
— Ela fez uma pausa e sorriu. — Você passa a conhecer as pessoas, as
pessoas te conhecem. Você aprende a lidar com todos.
— Quatro anos? — Arqueei a sobrancelha, surpresa.
— Sim — confirmou. — Já até quiseram me promover, mas não quis.
— Por quê?
— Eu parei de estudar aos 17, tenho uma filha para cuidar. Aqui tenho
meus benefícios, Carolina, consigo pagar uma boa escola para ela. Sei fazer
isso e isso me mantém.
— Uau! Você é bem direta — falei, em seguida peguei o saco e
coloquei dentro do carrinho. Encarei a mulher a minha frente, seu rosto fino,
seu cabelo roxo. — Eu tenho um curso de secretariado. Poderia ser
secretária, mas não é fácil achar um emprego, menos ainda escolher em que
trabalhar.
— E se você achar, se tiver que trabalhar para um homem, ele acaba
querendo mais que uma secretária. Faculdade?
— Não, mas tenho uma irmã que precisa de mim. Ela tem um problema
na perna, então trabalho por nós duas.
— Qual é o nome dela?
— Camila, dona FBI — brinquei, abrindo a porta e me virando com um
sorriso nos lábios. — Um conselho para a notava aqui?
— Tenho três. — Ela me olhou, me encarando longamente.
— Quais?
— Primeiro, sempre que precisar, fale com dona Patrícia. As outras são
nojentas e te ferram em questão de segundos. — Ela olhou para o corredor.
— Segundo, não converse muito.
— É por isso que todos têm esse silêncio crucial? — Balançou a
cabeça, confirmando.
— E, por último — Jack deu um sorriso. — Fique longe desses homens
daqui. São como deuses, mas fique longe. Eles podem te causar sérios
problemas. São pervertidos por natureza. E se eles querem algo, eles vão
atrás. Digamos que você é gostosa demais para ser apenas uma “funcionária”.
O que de fato não era mentira, pensei comigo, lembrando de mais
cedo na presença do homem bonitão.
— Só isso?
— E sempre saiba lidar com eles, que são caridosos, às vezes. Aqui tem
luxo e dinheiro. Mas fique longe dos hóspedes problemáticos.
— Isso será fácil.
— Pode ser, Carolina, mas fique atenta.
Ficar atenta.
Ficar atenta.
Claro que iria ficar. Só o aviso dela que me deixou curiosa. Mas isso
não importava naquele momento.
Não naquele momento.
Faltavam alguns minutos para meu turno acabar.
Me enfiei em uma despensa de produtos de limpeza, estava fazendo
meu trabalho, organizando o que havia sobrado. Depois dali, casa! Banho!
Comida! E até que fazer isso não era tão ruim. Era sexta feira, isso me
alegrava, minha primeira semana de trabalho estava terminando. Por isso
estava cantarolando uma música.
Foquei na caixa ao lado, onde coloquei todos os vidros e fechei.
Suspendi a caixa e a coloquei no lugar. Já havia organizado quase tudo, agora
era colocar algumas coisas enfileiradas e, pronto. Arrumação das coisas que
fazem arrumação. Era até fácil tudo por ali, pois não estava bagunçado.
— Não tem mais nenhuma caixa para erguer? — Uma voz baixa, séria
e grossa, ecoou pelo ambiente.
Peguei o meu avental enquanto me virava, deparando-me com um
homem. A primeira coisa que notei foi a mandíbula, e logo a pele com uma
cor bronzeada. Meu cérebro mandou os sinais para meu corpo e as palavras
para minha boca.
— Você?
Muito mal-educada, Carolina! Isso são modos?
Senti algo me faltar. Como era mesmo o nome daquilo que me fazia
viver? Lembrei!
Ar!
— Sim. Não achou que deixaria pra lá o restante da nossa conversa,
achou?
Era ele.
Lorenzo Maldini. De chefe tinha tudo, mas de descarado também.
Encarei seus olhos e engoli o nó que se formava em minha garganta.
Percebi que gostava da cor escura dos olhos dele. A última dose de
bom senso estava sendo injetada nas minhas veias. Mantive a cabeça firme,
buscando pensar que ele não estava sem “camisa”, nem com a “calça” do
outro dia. Não! Ele estava... bonito, com uma expressão séria. Eu não estava
gostando do jeito que ele me olhava. Nem de seu visual.
Homem de negócios...
Luxuoso...
Calça bem alinhada...
— O gato comeu sua língua? — ele disse, se aproximando de uma das
bancadas e se encostando enquanto dobrava as mangas da camisa branca que
usava com um colete por cima, apenas para o deixar mais vistoso para os
olhos da maníaca que, no caso, era eu. Do que ele estava falando mesmo?
Gatos que malham? Concentre-se, Carolina. Força, mulher. — Gosta de
gatos?
— O senhor precisa falar comigo?
Ele me olhou e sorriu. Estava bem, era grande e os músculos saltavam
sob o tecido fino da camisa. Fiz de novo. Eu arderia no fogo do inferno.
— Queria conferir se estava bem. — Ele me analisou, parando seu olhar
nos meus seios. Sabia quando alguém os observava. — Não tive tempo de
conversar com você.
Lorenzo desviou o olhar dos meus seios e lembrei que o uniforme nem
era decotado. Mas a imaginação dele podia ser grande. Enorme. Colossal. Eu
esperava que Lorenzo Maldini não os estivesse imaginando. Seria maldade se
estivesse fazendo isso.
Homem como ele, ou qualquer outro, que deixa você empolgada
demais, pode ser perigoso.
Comecei a achar que o queria dentro de mim. Mas só a achar. Era
muito Lorenzo em um ambiente só, Deus! O cara tinha aquele rosto moldado,
sério, com lábios de fazer os piores momentos de sua vida... fazer você pedir
por mais.
— Muito obrigada pela preocupação, mas estou bem.
— Não se enrolou com nenhuma porta? — perguntou, sorrindo e me
analisando. Peguei as coisas e andei na direção da porta, ajeitando os últimos
produtos. Tudo sob a vigilância dele. — Por que camareira?
Parei e me virei.
— Oi?
Caramba!
— Não, senhor, não o conheço. Agora preciso me retirar, se não se
importa.
— Espera.
Filho da puta! Deixe-me sair. Eu não vou chegar perto de você, sentir
seu perfume. Isso não, por favor.
— Acho melhor seguir as regras, senhor Maldini.
— Carolina, eu fiz as regras, mas as ignoro.
— Aí já é problema seu.
— Nosso problema, querida. Nosso.
Ele deu um sorriso e minha calcinha... minha calcinha estava a ponto de
pagar sua sina com aquele homem. O debochado ainda sorria da minha cara.
— Melhor tirar esse sorriso do rosto. Não irei para a cama com você!
— Cuspi as palavras. — Isso é imprudência. Quebrar regras não é comigo. O
senhor é imprudente de tentar algo.
— Não quando tenho pessoas que seguem essas regras. Aí surge um
pouco de prudência — argumentou e eu só precisava sair, mas era teimosa.
Ele ficou em silêncio por um segundo, olhou o relógio em seu pulso e
suspirou. — Você acaba de perder o ônibus.
Meu queixo caiu e entrei em pânico, completamente.
Definitivamente, ele jogava sujo.
— O... que... Seu filho da mãe! — xinguei, fazendo isso muito mais em
pensamento.
Saí pela porta apressada, passando por alguns funcionários e logo
entrando no complexo. Olhei para o relógio e percebi que devia estar
entrando no ônibus, já angustiada por saber que passaria duas horas
esperando o próximo. Já não adiantaria trocar o uniforme com tanta pressa.
Eu acho que há uma primeira vez para tudo, porque ali estava eu.
Tinha acabado de perder o ônibus por conta de um cara mal-educado, um
tanto arrogante e gostoso.
Ele calculou isso.
Instantes depois eu me sentava no banco do ponto de ônibus e
colocava a bolsa no colo.
A única coisa que eu sabia com certeza, era que eu precisava continuar
no emprego.
Um homem quando quer algo, faz tudo que pode para atrapalhar nossa
vida. Ele fez isso por que quis? Um bom motivo para ficar longe. Babaca!
Peguei o celular e disquei para Camila, abaixando o telefone
lentamente quando um carro preto parou na minha frente, os vidros escuros,
sem reflexo de ninguém. Naquele carro só poderia ser um homem, uma
pessoa, o que me deixou irritada.
Cadê o tijolo?
Eu o ignorei por ser um descarado.
Ele vai te foder, Carolina.
O vi sair e me olhar, mesmo de longe pude perceber seu sorriso
debochado novamente. Deu a volta e me encarou.
Respira, Carolina. Ele é só um conquistador barato.
— Aceita uma carona?
Que merda é essa? Que coisa sem fundamento é essa?
— Não! — respondi.
— Você não precisa esperar pelo ônibus — ele rebateu, dando-me um
sorriso perfeito.
Eu queria deixa-lo banguela.
— Já disse que não.
— Você vai entrar nesse carro. Não fiz você ficar aqui ? Faço você
aceitar meu pedido.
— Você me atrasou — confirmei, mas queria deixar claro que ele não
mandava em mim. — Mas eu sou paciente. Não vou a lugar nenhum com
você.
Ele respirou fundo, parecendo estar quase calmo. Bufei, com raiva,
sabendo que nunca tinha sido tão paciente na porra da minha vida. Homem
nenhum me fazia de trouxa.
— Entre — o moreno pediu, estendendo a mão.
— Eu não estou no meu “trabalho”. — Olhei fixamente para ele. —
Você não manda em mim. Sabia que posso te mandar para o inferno?
— Isso está me excitando de tal maneira... Ande, aceite e não reclame.
Já era para... para nós...
— Você vai enfiar seu pau no seu rabo!
— Olha a boca suja, linda. — O encarei, perplexa, admirando o homem
sexy parado na minha frente, com um sorriso divino. — Se não aceitar, posso
esperar aqui com você.
Se contenha, Carolina!
— Você não faria isso — desdenhei, vendo o quanto o homem podia
me enlouquecer. Fascinada naqueles olhos pretos que me encaravam. — Eu
não quero nada com você, não gosto desse tipo de brincadeira.
— Vamos, linda, preciso que entre. Não vou fazer nada — afirmou ele
e senti seu olhar sobre todo meu corpo. Aceitar ou não? Minha mente foi
aberta e dentro dela foi implantada a ideia de aceitação. — Bem, sei que vai
aceitar.
Disse ele com uma cara de safado.
Foco, Carolina.
— Eu vou furar seus pneus se não sair da minha frente!
— Amigo?
— Sim, sou homem de família e bem respeitoso.
— E eu sou a Xuxa!
— Então vai aceitar?
— Não vou te dar nada.
— Não me lembro de ter te pedido nada. Só quero te dar uma coisa,
Carolina. — Ele fez uma pausa. — Uma carona.
Filho da mãe!
— Eu aceito.
— Ótimo — ele disse e se afastou o suficiente para abrir a porta, então
voltar a me olhar. — Entre, Carolina. Apenas faça isso.
Eu me levantei e olhei para ele por segundos decisivos.
Você não pode entrar.
Ele sabia o que queria. Sabia o que estava
fazendo e agia sem medo de falhar.
Espere o ônibus.
— Não vai acontecer nada, Sr. Maldini.
— Hoje, talvez não, mas já estou louco para tê-la nua ao meu dispor —
arrisquei, jogando alto. — Tudo com seu consentimento, claro!
— Seu plano é me levar para a cama? — perguntou, olhando para
mim, o que me fez prender seu olhar ao meu.
— O lugar não importa, Carolina. Isso responde a sua pergunta?
— Chegamos.
Parei em frente ao prédio no qual havia pego o endereço mais cedo.
Era tudo organizando, uma boa estrutura, pintura... Tinha uma escadaria que
levava para a entrada e uma fraca iluminação se propagava nela. Isso não
importava. Não naquele momento, nem depois.
Desci calmamente e dei a volta no carro para abrir a porta dela.
Ofereci minha mão para ajudá-la a descer, a qual ela aceitou sem reclamar.
Fiquei surpreso, mas não disse nada.
— Muito obrigada — agradeceu.
Carolina tinha o corpo tentador. Suas pernas eram longas, bem
escondidas por baixo da calça jeans escura, e nos pés usava uma sapatilha. A
camiseta era normal, sem nada de chamativo, mas era branca e vocês sabem o
que branco faz com volume, seja de seios ou pênis.
— Não vou lhe convidar para entrar — disse ela, de repente.
Havia outras mensagens e me dei conta de que havia sido vaca com ele.
Fiz merda! Ele ligou mais uma vez e então atendi.
Passei a ser a errada da história, o que fez eu me sentir mal.
Isso era culpa?
— Carolina? — Eu sabia que a voz dele mostrava um pouco de raiva.
— Acabei de ver as mensagens, acho que cometi um erro.
— Abra a porta. — Fiquei paralisada.
— Fiquei chateada com...
— Abra a porta, Carolina.
— Me desculpa...
— Abra a porta, Carolina, só faça isso. — Escutei o suspiro dele. —
Vamos conversar olhando um para o outro.
Desliguei o celular e fui até a porta.
Pelo tom de voz dele, estava levemente com raiva.
Carolina abriu a porta e eu balancei a cabeça várias vezes até dar um
sorriso irônico para ela.
— Tem mais alguma coisa para me jogar? — perguntei, tentando ao
mesmo tempo não falar, fazer ou agir de forma bruta com ela.
— Desculpa, Lorenzo, desculpa mesmo! — Fiquei parado na porta,
bufando e tentando não ser explosivo.
Já tentou contar até 1000?
Eu estava no número 456.
Carolina pegou minha mão e me fez entrar de vez. Me puxou até eu
estar no seu sofá, sentado. Ela tirou o celular da minha mão, junto com o
terno preto.
— Vou buscar uma toalha.
Ela parecia nervosa.
Não disse nada, entrei e permaneci sentado no seu sofá, com a camisa
ensopada.
Não fique com raiva...
Não fique com raiva... Merda!
Já estava irritado demais com assuntos da empresa.
Ela tinha que me jogar... vodka?!
— Aqui. — Ela apareceu na minha frente e me entregou uma toalha. —
Quer tomar um banho? — Não respondi. — Você não vai dizer nada?
Caroline perguntou e eu ergui meu olhar para ela.
— Eu estou fedendo a vodka!
Eu não tinha culpa disso, era inocente dessa vez.
— Já pedi desculpas.
Fiquei calado. Eu fiquei calado para não falar coisas que fosse me
arrepender depois. Mas minha vontade era gritar. Não só pelo que ela fez
comigo, porém, também pelo meu dia de bosta. Acontece que eu estava
tentando relaxar.
Ela não merecia o meu lado explosivo, até porque, era quem me
relaxava.
— Me desculpe por não aparecer no horário — disse e comecei a abrir
os botões da camisa social branca. — Queria ter vindo.
— Me desculpe por ter feito isso em você.
— Você é temperamental! — falei e comecei a passar a toalha no meu
peito, tentando eliminar o cheiro forte da bebida. — Não podia ter
simplesmente me mandado ir à merda?
— Podia, mas já passou, não passou? — Ela veio até mim e se sentou
ao meu lado. Pegou a camisa social e me olhou. — Estava trabalhando?
— Trabalhando... Não, Carolina, estava passando raiva na empresa. —
Eu me aproximei dela e a olhei. — Já está tudo resolvido, lá e aqui.
— Vem comigo. — Ela se levantou e pegou minha mão, tentando
puxar-me, mas fiquei parado. — Vem.
— Carolina, eu estou há uma semana com meu pau duro para foder
você... Se eu não fizer isso hoje, eu acho que meu pau cai! — Ela me olhou.
— Desculpa a sinceridade, mas eu digo a verdade. Uma semana sem sexo é
meio complexo para mim.
— Vem. Vamos aproveitar.
Me levantei.
— Aproveitar... certo. Como? — perguntei.
Estava tão neurótico com tudo, que eu queria só ser levado. Pelo
menos naquele momento.
— Vem, só não faça barulho — ela disse, e pelo horário podia deduzir
que a metros da gente estava sua irmã.
Carolina me guiou até seu banheiro, o que me empolgou. Assim que ela
entrou, fechou a porta. O banheiro não era grande, mas era médio. Tinha
cheiro de flores e tudo organizado. Era o banheiro de duas mulheres, isso
explicava muito.
Havia o box também. E, cara... era o suficiente para mim.
Quando se tem uma vida agitada, sempre aprendemos a usar o que a
gente tem. Principalmente lugares pequenos. Olhei para Carolina, chateado
porque usava roupas demais. Então ela se virou e se aproximou de mim.
Fiquei ansioso por isso, até me preparei para um possível beijo, só que não
aconteceu beijo nenhum. Ela tirou o vestido que usava e ficou apenas com o
básico.
— Estou querendo isso há tempos — ela falou e logo soltou o sutiã, eu
paralisei.
— Carolina... — tentei dizer e passei a mão no meu pau por cima da
calça. Olhei para ela e tentei não parecer tão louco. — Já disse que você é
linda? O quanto está linda?
— Fala a verdade, Lorenzo.
— Também é gostosa, tem os seios mais fodas que eu já vi — emendei.
— Tira a calcinha.
Ela balançou a cabeça.
— Tira a cueca.
Eu sorri.
Eu disse, não disse?
Isso era relaxante. Me desfiz da calça e de meus sapatos, e logo fiquei
de cueca, mas antes eu olhei para ela.
— Quais são as palavras mágicas para eu poder tirar? — perguntei e
levei a mão até o cós da cueca.
Cueca que era branca. Cueca que revelava minha situação. Qual era
minha situação?
Meu pênis ereto, ou seja, pau duro.
— Por favor? — Ela deu uma risada baixa. — Anda, Lorenzo, tire.
Tirei minha cueca e logo estava pelado, como ela queria. Em seguida
ela baixou a calcinha e sua boceta me deixou ainda mais preocupado.
Minha pressão subiu.
Já pensou ser achado morto e pelado no banheiro? Eu adorava as
preliminares, principalmente com Carolina, tínhamos o grau de fazer isso
como um pré-sexo.
Ela se aproximou e me deu um beijo. Eu odiava quando ela fazia isso,
não beijava como eu queria, fazia um doce, indo com essa calma... paciência.
Ela provocava dessa forma.
Carolina trilhou uma linha reta com seu dedo até chegar lá.
Sabe... lá? Então, direto lá.
Ela colocou sua mão direto no meu pau, em volta, na posição que era
perfeita.
— Me deixe te chupar. — Havia uma diversão ali naquela voz. — Me
deixe te fazer bem, Lorenzo.
Não parecia a louca que havia me jogado um copo com vodka
enquanto ela me dava umas bombeadas.
— Então faça, garota, me faça bem. — Minha voz soou abafada.
Pressionei minha testa na dela e uni nossas mãos, automaticamente
parando seus movimentos para que pudesse falar algumas palavras que
fizessem algum sentido.
— Tenta fazer silêncio — ela só disse isso.
Minha boca tentou se pressionar contra a dela e minha língua
implorou por uma entrada, mas ela não deixou, foi então que ficou de
joelhos.
Eu só gemi.
Era a coisa mais fofa... digo... gostosa... sensual... E quando ela
apertou meu pau com sua mão, eu senti um terremoto dentro de mim.
Fiquei brevemente adormecido e fitei seus olhos.
Ela apenas me olhou, com meu pênis entre as mãos.
Saibam que o contato visual no sexo oral é importante. É algo que
passa um sentimento a mais do que só prazer. Era como se os dois estivessem
falando.
Homens, sempre olhem para a mulher quando ela estiver te chupando.
Mulheres, quando um cara estiver no meio de suas pernas, olhem para
ele!
Sem medo.
Como Carolina estava me olhando.
Como se estivesse esperando algo de mim, mas ao mesmo tempo,
como se estivesse me dando algo precioso.
Que era só meu.
Apenas meu.
Unicamente, exclusivamente, meu.
Ela o abocanhou inteiro e o chupou com força, tirando da boca
devagar.
Caramba! Ela repetiu e moveu a língua em volta da cabeça como se
estivesse com um sorvete em sua mão. Carol me esfregava com a mão e
sugava com força na ponta, com sua boca quente. Eu tinha me esquecido que
a boca daquela mulher era como o meu melhor sonho.
Puta merda! Como estava me sentido bem!
Ela manteve os olhos nos meus, como se me desafiasse e pedisse que
puxasse seu cabelo, o que eu aceitei e fiz.
Fui mais fundo em sua garganta. Ela sorriu em torno do meu pau e...
porra! Eu queria ir mais rápido, mais ágil, então senti um aperto.
— Carolina, amor, estou... Se você não sair agora... eu vou...
Falando isso eu continuava a invadir sua boca.
Acho que ela me entendeu, porque só a vi segurar minhas coxas e pegar
ainda mais ritmo para ir mais fundo.
Ela iria até o final, mas, eu não.
Eu não iria gozar sem aquela mulher. Eu iria para o inferno se fizesse
isso, portanto parei os movimentos, enfiei meus dedos no seu cabelo ainda
mais e trouxe seu rosto até o meu.
— Pronta? — perguntei no mesmo momento em que ela nos puxou
para o box e a água morna caiu sobre nós.
— Agora é a sua vez, Lorenzo. Nossa vez juntos!
Eu beijei o pescoço dela, chupei e ela cravou suas unhas em mim.
A girei e a deixei de costas para mim, então beijei suas costas, seus
ombros, sua orelha. Em seguida, ela se inclinou, flexionou a cintura e se
apoiou na parede.
— Abra suas pernas para mim, Carolina. — Ela as abriu. — Abra mais.
E de novo ela me obedeceu e eu entrei dentro dela. Querendo fazê-la
gozar e querendo o mesmo. Escorreguei para dentro dela e tentei fazer isso o
mais lento possível, só para estimular o seu melhor ponto. Gememos juntos e
ela jogou a cabeça no meu ombro, arranhando minhas costas. Suspirei com a
sensação e acelerei um pouco mais o ritmo.
Peguei suas mãos e as cobri com minhas próprias mãos, cruzando
nossos dedos, entrando e saindo dela sem pressa alguma.
— Mais rápido — ela pediu. — Rápido!
Nada era melhor que isso.
Deixei uma mão na parede e coloquei a outra em seu clitóris. Ela
estava molhada, mas não pela água. Ela queria rapidez e estava excitada o
suficiente. Não dependia só de mim, dependia dela também. Comecei a
estocar mais forte, tão fundo e rápido, até que ela ficou prensada contra a
parede, com sua bochecha contra o azulejo de flores. Eu me movimentei
rápido e com força.
Ela segurou os gemidos, o barulho, e eu sabia o porquê, mas a queria
ela livre.
Vim primeiro, sentindo-me sereno ao gozar, depois a ajudei a vir com
meu pau e dedos. Apertei o quadril dela quando precisou de um apoio, e ela
se moveu, então a puxei para mim.
Assim que o prazer foi diminuindo, ela se virou e colocou os braços
ao redor do meu pescoço, me beijando relaxada.
— Mais calmo, Lorenzo?
Joguei minha cabeça para trás e gargalhei.
— Mais que calmo, relaxado. Satisfeita, Carolina? — Ela balançou a
cabeça e se aproximou ainda mais de mim, então encostou a cabeça em meu
peito e ficamos em pé, deixando a água levar tudo. — O que vem agora?
— O resto da noite. Vai ficar, não vai, Lorenzo? — Ela me olhou,
mordendo os lábios e tirando o cabelo molhado dos meus olhos. — A cama
não é de casal, mas se arrumar bem...
— Ótimo assim. — Ela se virou brevemente e pegou o sabonete,
começando a passar pelos meus ombros. Eu suspirei. — Está bom assim.
— Eu sei. Cada vez que fico com você, é melhor — Carolina admitiu e
novamente beijou minha boca.
Era um gesto até simples demais, mas ele tinha emoção, empolgação.
Não era só mais sexo ou tensão sexual.
O olhar estava carinhoso, o que me fazia crer que ela gostava de mim
também.
Isso era a confirmação.
Eu a admirei por um momento, me embebedando com a estranha
alegria que me envolvia apenas por observá-la. Por observá-la passar suas
mãos pelo meu corpo.
Não queria deixá-la ir embora.
Ela era tudo o que pensei nunca querer, e faria qualquer coisa por ela.
Se tratava de sexo bom. Se tratava de ela ser a garota firme ou o fato
de ela ter me dado trabalho, ou ser tão confiante e impulsiva a ponto de me
desafiar. Ela fazia coisas que ninguém nunca tentou ou conseguiu fazer
comigo.
Me jogar na parede.
Me jogar vodka.
Era muito mais que tudo isso.
Bem, era tudo isso.
Era ela.
Ela me olhava como minha mãe olhava para o meu pai e falo isso do
fundo do coração. Soando muito sentimental para um cara como eu?
Se sim... bem, segurem essa...
— Carolina, eu estou apaixonado por você. Somos um casal, agora!
Eu queria decidir por nós dois, a queria perto de mim.
E então, era oficial.
Escutei uma voz me chamar e ela não parecia muito distante. Alguém
poderia avisar para ela que eu não queria acordar, que era domingo e a cama
estava gostosa, me chamando para dormir mais um pouco? Ela tinha que
fazer isso comigo?
— Lorenzo — alguém chamou e ignorei. — Lorenzo, acorda, seu
celular está dando tique nervoso. — Eu me mexi. — Anda, gato, levanta. Já
são dez da manhã. Vai dormir o dia inteiro?
Vejam, pessoas, essa era a Carolina carinhosa que eu tinha.
EU TINHA!
Ela estava sentada na beira da cama, com uma mão no meu cabelo. O
quanto isso era bom?
100% revigorante?
Muito mais que isso.
— Desliga o telefone — sussurrei.
— Acho que é o seu pai. Tocou uma vez e vi na tela escrito “Maldini”
— ela falou, cautelosa. — Tem mensagens chegando, também.
Me mexi na cama com dificuldade. Cama de solteiro era um saco!
Precisava de mais espaço.
Abri os olhos e, assim que a vi, senti um arrepio gostoso se apossar do
meu corpo.
— Oi — falei, me erguendo e notando que estava nu, sem nada. Era
bom assim. Me cobri com o lençol e Carolina seguiu tudo com o olhar,
prendendo as mãos no colo. Quando já estava sentado, ainda meio sonolento,
dei um sorriso satisfeito para ela. — Dormiu bem?
— É seu aniversário?
De repente ela perguntou e eu arqueei a sobrancelha. Ela não estava
com uma expressão muito boa ao fazer a pergunta. Já havia dito a ela que era
meu aniversário. Bem, eu achava que tinha dito.
— Sim, por quê? — respondi e ela se levantou, ficando de pé na minha
frente, encarando-me com aqueles olhos pretos.
Ela estava com o mesmo vestido do dia anterior, e então pude ver o
quanto ficava bonita nele.
— Seu celular apitou a manhã inteira, Lorenzo. — Fiquei sem
entender, mas logo ela balançou a cabeça de um lado para o outro. —
Lorenzo, só tem mulher ligando para o seu celular. Não só uma ou duas... são
várias!
Olhei para o celular na mesa de cabeceira, tentando entender o que ela
queria dizer com as mensagens e ligações. Era meu aniversário, muita gente,
quer dizer, mulheres sabiam disso.
Isso explicava muito.
Eu comecei a formular uma reposta para ela, depois de ter assumido
no dia anterior que era dela e ela era minha.
Namoro? Provavelmente.
Juntos? Sim.
Se eu sabia como isso funcionava? Não.
Era meu aniversário, tudo bem até aí. Devia me preocupar com as
ligações e mensagens? Sim, muito. A expressão dela era de ciúmes e eu não
gostava de ciúmes. Já estive muito próximo de quem tinha esse sentimento e
era um pesadelo.
Um vulcão em erupção.
Um cano quebrado.
Ciúmes são uma desgraça.
— É normal isso acontecer. Querem desejar felicidades — expliquei,
calmo, não querendo deixar transparecer que estava tentando jogar isso fora,
para bem longe da gente.
— Hmm...
— Só “hmm”? — perguntei, preocupado. — Eu vou desligar o
telefone...
— Não, não desligue. Se está comigo, é comigo, Lorenzo — declarou
Carolina, me deixando surpreso. — Confio em você e em mim, só não gosto
dessa situação, entendeu?
Senti uma pequena mentira no “confio em você”, mas não falei nada.
Confiança vem com o tempo.
Ela pareceu aliviada, pelo menos um pouco. No entanto, eu fiquei
muito aliviado.
Demais!
— Não vai se repetir — prometi e logo escutei o celular tocar. O alívio
foi ainda maior quando vi o nome e o número do meu pai no visor. — É o
meu pai.
— Eu vou buscar sua roupa. Consegui lavar e colocar na secadora, já
volto.
Ela saiu e eu atendi a chamada.
— Pronto.
— Filho? — A voz dele soou com preocupação.
— Não, senhor, é do centro de estética. No que posso ajudar? — Dei
uma risada com o sarcasmo.
— Quero marcar uma massagem. Minha pele está muito seca...
— Senhor, é a idade!
— Aff, Lorenzo, não sabe brincar, não desce para o play! — ele falou e
eu ri. — Onde você está?
— Na casa da minha garota — respondi, me levantei e dei alguns
passos pelo quarto, parando por um momento na penteadeira dela, cheia de
coisas pequenas e delicadas, bem organizadas. — Prepara um bom almoço
por aí, por favor. Vou levar uma convidada.
— Certo, almoço. Cuidarei de tudo — ele concordou e escutei uma
risada, era do Pedro. — Temos um problema, Lorenzo.
— Qual? — perguntei.
— Tem algumas coisas chegando aqui que... não soariam bem para
você. — Fiquei pálido na hora. Não podia ser possível. — Estavam
acostumados com o seu aniversário.
Merda!
— Quero que pegue tudo que chegar e guarde. Não, esconda! Não
deixe nada exposto. Depois dou um jeito nisso — falei e voltei para a cama,
onde me sentei. — Não quero que Carolina veja nada, entendeu?
— Tudo bem. Seu primo já está aqui, vou colocá-lo para trabalhar. Sua
tia virá para o almoço com a mulher. — Passei a mão no cabelo, preocupado.
— Não me deixe muito ansioso, quero conhecer essa menina. Seu primo até
me disse um pouco dela.
— O que ele disse sobre ela?
— Ele falou bem dela, Lorenzo, não se preocupe. Sei o que preciso
saber. Agora tenho que desligar.
— Até logo — Que Deus me ajudasse. Encerrei a ligação e desliguei o
celular.
Algo me dizia que eu tinha que evitar contatos femininos com
segundas intenções.
Sempre tive uma relação boa com as mulheres, entendem? E elas
nunca tiveram problemas comigo, não problemas sérios. Tinha meus
contatos, mas se estar com ela significava me afastar desses contatos, eu o
faria. Quer dizer, os dois fariam isso, porque a lei era para ambos.
Estar em um relacionamento não quer dizer que temos que ser santos,
mas devemos fidelidade para com o outro, isso era importante.
Tinha minha parte ogra, porém, eu conheci o que era ser um homem
para uma mulher. Um homem que ultrapassaria ainda mais o ogro. Eu devia
respeito a todas, mas, principalmente, a minha mulher.
Acompanhei pouco da relação dos meus pais, afinal, minha mãe
morreu quando eu só tinha seis anos, depois disso fomos somente meu pai e
eu, e ele me ensinou a ser um homem de verdade. Um homem que a
sociedade quer, que as mulheres querem e, principalmente, o tipo de homem
que EU admiro.
Levantei novamente e caminhei até a penteadeira. Algumas coisas,
que pude ver com mais calma, chamaram minha atenção. Primeiro uma
fotografia de Carolina com a irmã, depois um pote que tinha aquele aroma
familiar que atingiu meu nariz, fazendo-me inalar profundamente.
Como um viciado em crack.
Cara... que cheiro gostoso!
— Lorenzo? — Eu olhei para a porta e a vi. — Está tudo bem?
— O que é isso? — Coloquei o frasco perto do nariz e inspirei de novo.
— Isso é bom para caralho!
Ela sorriu, mas em seguida fez uma careta.
— É creme hidratante.
— Você costuma passar isso? — perguntei e dei outra fungada
profunda. — Cheira a você.
Sua risada diminuiu, mas o sorriso ainda estava lá.
Deixei o frasco e fui até ela, que havia deixado a roupa dobrada na
cama.
— Posso te perguntar uma coisa? — Balancei a cabeça em afirmativa.
— Você fica sempre excitado com cremes hidratantes?
Olhei para baixo, para onde o lençol cobria. Bem, isso era natural. É
excitante como algumas mulheres cheiram.
— Isso geralmente não acontece — falei. — Ficamos empolgados.
— Acredito. Fofo! — ela disse em tom de deboche. — O que vem
agora?
Um filme passou por minha cabeça e era um filme adulto, explícito,
mas mudei esses pensamentos para um documentário investigativo e blá, blá,
blá...
— Almoça comigo? — Passei minhas mãos pelo seu ombro e a levei
até a cama. Ela se sentou e eu me abaixei até ficando da altura dela. — Hoje é
o meu aniversário e eu queria almoçar com as pessoas importantes da minha
vida. Já falei com meu pai, meu tio também estará, provavelmente minha tia,
mas ela você já conhece. Tudo bem?
Viu como ela ficou sem reação?
— Você está brincando, não está?
— Não, não estou brincando.
— Sua família? — ela perguntou.
— A própria, Carolina. Geralmente faço algo mais amplo, mas eu meio
que fiquei focado em outras coisas essa semana.
Ela pareceu surpresa.
— Lorenzo, eu não estou pronta. — Ela suspirou e olhou no fundo dos
meus olhos. — Seu primo não gosta de mim. Acha que sou uma...
— Uma pessoa que me faz bem. — Ela mudou a expressão. — Não me
deixe na mão.
— Eu odeio que me julguem, ainda mais sem me conhecer — ela disse
e pegou minha mão. — Estamos juntos, Lorenzo, mas somos diferentes.
Estamos nos gostando, mas, acima disso, eu sou Carolina, e se alguém falar
algo que me ofenda ou magoar, eu vou saber me retirar ou revidar.
Ela disse, firme, e eu entendia seu lado. Entendia porque eu já tinha
visto como Pedro agiu com ela. Se eu pudesse evitar isso, eu iria.
Porém, com a minha família, eu não me preocupava. Pedro era só um
idiota que tinha muito a aprender. Ele não conhecia Carolina, então eu
relevava o lado dele.
Eu deveria contar como meu pai era? Não, melhor não.
Meu pai era um amorzinho de pessoa.
— Por mim, tudo bem, eu conheço quem está ao meu lado. — Eu me
aproximei e beijei a boca dela. Ficar pelado naquela posição não era bom,
não era legal, então me levantei. — Quer levar sua irmã?
— Não seria uma boa ideia.
— Se eu quiser, posso convidá-la? — perguntei.
— Lorenzo!
— Ela é minha amiga, já me ajudou, vamos juntar o útil ao agradável
— argumentei. — Agora somos da mesma família, tenho que agradar a sogra.
— Sogra?
— Não é assim que se fala da irmã da mulher?
— Não, se diz cunhada. Mas é tão brega.
— Pelo menos uma pessoa que concorda comigo.
— Quando vamos ficar sozinhos? — ela perguntou.
— Seja mais romântica.
— Sou muito romântica, não duvide disso. Daqui uma hora a gente sai.
— Ótimo! Mais alguma coisa?
— Passaremos na farmácia no caminho, precisamos de camisinha...
— Eu tomei a pílula do dia seguinte — ela falou, me olhando. — Volto
com a medicação fixa amanhã, e você com a camisinha hoje.
— Tudo bem. Posso fazer uma observação? — pedi enquanto fechava a
calça, sorrindo.
— Pode.
— Acho que gosto mais sem camisinha. — Vesti a camisa e logo
fechei os botões.
— Você é mais quente.
— Você é mais molhada — disse quando peguei minha carteira e
coloquei no bolso. — Temos muito o que compartilhar.
— Temos mesmo, mas vamos esperar. Já que estamos juntos, vou
tomar a medicação. Esperamos um tempo e continuamos. Somos limpos,
vamos fazer isso juntos. — Ela abriu o armário. — Não quero ficar igual a
uma louca tomando pílula do dia seguinte sempre.
— Tudo bem para mim.
— Seu terno e seu sapato estão na sala. Vou me arrumar e já vamos.
— Ótimo, ótimo! — Me aproximei e a puxei para mim, segurei seu
queixo e lhe dei um beijo. — Te espero na sala.
Me virei e saí do quarto. Assim que cheguei à sala, vi Camila, e no
ambiente Aerosmith tocava.
— Olá, Camila — a cumprimentei, logo avistando meu sapato perto do
sofá, em frente à garota. — Tudo bem?
Perguntei. cauteloso.
— Bem, e você?
— Bem. Vou almoçar na minha casa com sua irmã, quer vir? —
indaguei enquanto me sentava e puxava o sapato.
— Não, mas obrigada pelo convite — ela disse e deixou o notebook de
lado. — Posso falar algo com você?
— Sobre?
— Sobre o que você está tendo com a Carolina.
Parei de colocar o sapato e olhei firme para ela.
— Carol e eu estamos juntos, e o que eu puder fazer por ela, eu farei.
Se você precisar de qualquer coisa que seja, bem, e só me chamar ou ligar.
Sou seu amigo e companheiro da sua irmã.
Vi seus olhos atentos.
Ela balançou a cabeça.
— É namoro ou só ficar por ficar? Sabe, Lorenzo, você deve ter notado
que sou somos apenas ela e eu. Não a magoe, por favor. Você está com ela...
faça bem a ela. — A garota era a irmã, no lugar dela eu faria a mesma coisa.
— Ela nunca namorou e nem teve algo sério, mas se está com você...
valorize.
— Quero o bem dela.
— Querer o bem de uma pessoa não é fazê-la feliz.
— Eu...
— Faça bem, queira o bem dela e a faça feliz! — Ela sorriu. — Nunca
pensei que você seria o cara que a ganharia, vai por mim.
— Eu cuido dela.
— Não é só na cama, tá?
— Em qualquer lugar.
— Espero que entenda meu lado.
— Eu entendo.
— Imagina só. Você magoa a Carolina, ela perde o emprego. —
Camila balançou a cabeça e continuou: — E então ela começa a beber todos
os dias, dia após dia ela se afunda no álcool. Quando eu voltar do trabalho ela
vai estar de ressaca nesse sofá. E à noite, se ela não tiver dinheiro para
bebida, ela vai para a rua se prostituir, e alguém vai fazê-la ficar viciada em
droga, e então um dia eu vou chegar e vou vê-la caída no banheiro, Lorenzo.
Vou ligar para a ambulância e logo depois vou descobrir que ela teve
overdose.
— Ei... Meu Deus!
— Eu só tenho ela. A gente mata e morre uma pela outra — ela
suspirou. — Então, antes de fazer algo com ela, que futuramente possa
arruiná-la, lembre-se de que eu sei usar uma faca e sou esperta.
Fiquei assustado.
—Tenho sua aprovação, não tenho?
— Sim, tem minha aprovação. Mas, lembre-se do que eu lhe disse.
— Eu lembrarei.
Camila me surpreendeu. Mesmo me assustando, de certa forma. Sabia
que a gente ia dar certo.
Então a linha ficou muda, indicando chamada encerrada. Ele olhou para
mim lá de baixo, com um grande sorriso nos lábios, na sequência acenou para
um dos caras que estava com uma faixa branca nas mãos, e quando ele abriu
a faixa, vi do que se tratava. Com as letras das palavras escritas de forma bem
grande, uma curta frase:
“Para o amor da minha vida”
Olhei para Lorenzo e comecei a balançar a cabeça, sem acreditar em
nada daquilo.
Provavelmente, eu estava com uma expressão de muito assustada.
Quatro homens ladeavam Lorenzo, um deles o que segurava a faixa,
dois com violões, e um não tinha nada na mão, mas vestia o mesmo terno que
os outros três.
Um conjunto.
Deus, me diz que não é o que eu estou pensando.
Não.
Não.
Todo mundo em volta olhava para mim, como se eu fosse uma
espécie de atração.
Eu me apavorei, sentindo-me a ponto de ter um ataque.
Mas, como tudo sempre pode piorar,
Os homens dos violões começaram a tocar, e o outro, para minha
ruína, começou a cantar.
Na verdade, começou a gritar uma música melosa.
Olhei para Lorenzo, que segurava o sorriso, controlando a risada
histérica que eu sabia que ele queria soltar diante da minha reação.
Então ele se encostou no carro e continuou olhando para mim, mas
dessa vez moveu os lábios. Eu conhecia bem aquela boca para entender o que
os lábios pronunciavam.
Vem aqui!
Quase gritei, negando ao pedido silencioso que ele fazia.
Mas eu tinha que tomar uma decisão, e rápido, antes que o prédio
inteiro descesse só para ver tudo aquilo.
Ela parecia horrorizada enquanto descia as escadas. Bem, isso
enquanto escutava a música de fundo.
Estava toda vermelha. O quarteto fazia um ótimo trabalho.
Não era a melhor ideia, eu sabia disso. Carolina era a prova que não
estava entendendo nada de nada. Eu, como bom homem, tinha que arrumar as
coisas.
Pelo menos tentar.
Espero que não achem que sou um louco obsessivo ou algo assim.
Mandei flores o dia inteiro.
Eu não fiquei com orgulho nenhum. Mas e ela? Ela ligou? Mandou
mensagem? Sinal de fumaça? Eu queria fazê-la engolir o orgulho, mas como?
Como?
Por fim, decidi enviar flores, música e o quarteto. Foi difícil para
caralho arrumar esses caras. Eu tentei me segurar, decidi pegar as ideias mais
convincentes. Como o cara com um cartaz ou os que estavam cantando.
Carolina era fria e o olhar que ela mandava para mim e para os
músicos, indicava isso. Eu deveria ter tentado outra coisa? Provavelmente,
não, não deveria. Era bom ela saber que sou desses desesperados. Assim ela
não brigaria mais comigo.
Eu sei, eu sei, sou um gênio.
Carolina estava me tornando um obsessivo.
Quando ela parou na minha frente, fiz questão de dar um passo até ela
e ficar frente a frente. Ela estava bonita, cabelos molhados, uma regata e um
shorts. Eu adorava os shorts dela, mas isso não vinha ao caso.
— O que significa isso? Quer me matar de vergonha?
Balancei a cabeça.
— Nossa, isso foi cruel!
Cadê o beijo?
O obrigada?
— Lorenzo, peça para eles pararem. — Ela me encarou por um
segundo. — Por favor, não precisa disso.
— Claro que precisa, querida.
— Lorenzo!
— Carolina!
Sim, era muito sensual ter uma discussão como essa. Dava para ver
que estava ficando sem controle.
Certamente, pelos olhares de algumas pessoas nessa parte da noite.
Tadinha.
Podia ser diferente, mas ela não colabora.
Carolina tinha que aprender que eu poderia ir à lua por ela.
Ergui minha mão e acariciei seu rosto.
— Você é o amor que a vida escolheu para mim. — Mesmo eu falando
isso, ela permaneceu em silêncio e não respondeu nada. — Desculpa por
ontem, garota.
Meu peito se apertou porque eu sabia a razão pela qual ela não falava
nada.
Dar o braço a torcer não fazia o estilo dela, e eu já estava ficando de
saco cheio disso.
Ela era aberta para tanta coisa — muita coisa mesmo —, mas, para
outras... Putz!
— Vamos subir.
— Não — falei com firmeza.
— Não? — ela indagou, com surpresa em seu rosto.
É, amigos, era aqui que vocês esperavam que tivesse sexo de
reconciliação?
Não teria. Quer dizer, iria depender dela, do que ela diria para mim.
Não colocaria sexo em algo assim. Não naquele momento. Ah, sexo é bom,
vem acompanhado de tesão, paixão, mas quando se tem o afeto amoroso...
O amor.
Ah, o amor é do caralho!
Complica tudo. Envolve de tudo um pouco.
No nosso caso, envolvia desavenças.
— Lorenzo, peça para essa música parar, por favor. — Eu me inclinei
próximo a ela, que repetiu: — Vamos subir.
O cheiro de seu hidratante me pegou e fiz um sinal para os músicos,
que pararam, pelo menos por alguns instantes.
— Suba. Resolvo aqui e vou também.
Minha voz estava baixa, persuasiva.
Eu beijei o topo da cabeça dela que... bem, ela apenas se virou e saiu.
Isso não era bom para mim. Não era bom para ela. Resolvi tudo em questão
de minutos, não querendo nem pensar que era algo perdido. Queria me iludir
pensando que ela, ao menos, tinha me entendido.
Eu não era romântico, mas ela também não era. Só queria
impressioná-la, fazer alguma coisa. Provavelmente ela devia estar me
achando um babaca.
Havia acabado a brincadeirinha.
Travei o carro e respirei fundo quando me encaminhei para lá.
Ah, amorzinho eu sou duro na queda.
Mesmo cansado, com uma dor de cabeça das fortes por estar há dois
dias sem dormir.
Se não fosse o banho demorado que tomei horas antes, eu estaria
parecendo um estudante prestes a entregar o TCC.
Eu disse que tive problemas com os negócios.
Abri a porta e a vi na sala, com todas as flores espalhadas.
Orgulhoso.
Eu sou um cara orgulhoso de mim.
Nunca tinha me visto nesse papel, mas estava me sentindo tão bem...
Vi Carolina sentada no sofá, olhando para mim, com seus olhos
curiosos, esperando que eu falasse algo.
Mas eu não falei.
Queria ver se ela conseguia deixar o orgulho de lado, pelo menos um
pouquinho. E era a vez dela, eu já havia feito muito.
Sentei-me ao seu lado no sofá e esperei por alguns minutos, até que
ela se virou para mim com uma expressão de “estou pronta”.
— Desculpa por ontem. Devia ter encarado as coisas de frente. — Ela
mexeu as mãos em sinal de nervosismo e eu me aproximei dela, segurando-
as, apertando e tentando não sair do controle também. — Fiquei chateada. Foi
a minha forma de lidar com tudo.
Por um segundo, enquanto olhava seus olhos, vi um brilho diferente.
Podia jurar que vi tudo o que ela não disse.
Ela só não tinha coragem.
Queria ter visto mais daquilo.
Escutado mais daquilo.
Só que ela pulou em cima de mim e me apertou com um abraço,
me abraçando com força.
Ela sabia o que fazer.
— Vamos ficar na paz, Lorenzo. — Eu sorri. — Você não tem ideia do
que se passou na minha cabeça. Ontem... eu estou ficando neurótica!
— Não faça o que você fez ontem, Carolina. Seja realista e me encare
antes de correr de mim. — Olhei diretamente para seus olhos, enquanto
segurei seu rosto entre minhas mãos. — Quero ter brigas limpas.
Beijei os lábios dela de leve.
— Fiquei nervosa.
— Eu sei, eu também fiquei. Mas fugir de mim?
— Eu...
— Não faça mais aquilo, Carolina. Quando tiver que falar alguma
coisa, fale na minha cara, olhando para mim.
Eu falei aquilo tão sério. Veio bem do fundo.
— Por que não me ligou para avisar que não viria ontem? Eu planejei
muita coisa e... caramba! Não me deixe no escuro, por favor.
— Não sabia o que você diria se eu falasse que eu não ia vir por alguns
problemas. — Ela se aproximou de mim e segurou meu rosto entre suas
mãos. Eram tão macias... — Eu não fui o mais inteligente, mas tentei resolver
tudo. Como agora. Se você tivesse me esperado...
— Teríamos evitado toda essa situação? — ela questionou e eu dei um
sorriso em afirmativa. — Seus olhos estão fundos.
— Ah, isso? Estou bem cansado.
— Estou me sentido uma covarde.
— Que bom que está se sentindo assim, porque desse jeito você para de
ter medo das coisas.
Foi mais um desabafo do que uma piada.
Eu estava quase a chacoalhando e falando:
— Mulher, eu gosto de você, mostra que gosta de mim também,
caramba!
— Eu não sou romântico, nem sei o que fazer para melhorar isso...
Plagiei a ideia das flores, dos cantores lá embaixo.
— Foi a coisa mais ridícula que eu já vi, Lorenzo.
— Nossa, Carolina, caramba! Você que me incentivou ontem, não
lembra?
— Foi um ridículo-fofo.
Era inacreditável. Carolina era a mulher mais antirromântica que eu
conhecia.
Mas, devo admitir. Graças a Deus ela era assim. Não saberia o que
fazer se ela fosse diferente.
— Da próxima vez vou fazer de tudo, menos ser romântico — falei e
me aproximei dela. — Acho que você prefere um estilo mais diferente de
reconciliação.
— Gostei do que você fez.
— Mentirosa.
— Eu não minto para você.
— Só a verdade? — Passei minha mão por seu pescoço e fui subindo
até chegar ao ponto X, atrás do pescoço dela. — Se eu te perguntar algo, vai
dizer a verdade, só a verdade?
Ela se aproximou e sorriu bem próximo do meu rosto.
Aquilo era bom pra caramba. Foi uma semana dramática sem contato
com outra pessoa.
Sem ela.
Sem a risada.
Sem a risada que ela dava na hora do sexo. Sem os gemidos e sem o
contato do meu corpo com o dela, dentro dela.
— Eu nunca iria mentir para você, Lorenzo. Nunca.
Eu não duvidava dela. Carolina era assim. Doesse quem tivesse que
doer.
Se ela falasse, falava. Se ela não falava, não falava.
Eu beijei por baixo de seu queixo e chupei a pele suave de seu
pescoço.
— O que você vai fazer?
— Eu vou comer.
— Lorenzo... — Nada nunca foi tão bom, nada. Mas então eu parei,
mesmo antes de chegar à boca dela. — O que foi?
— Carolina, eu quero comer, mas não é você — revelei, encarando seu
olhar de raiva momentânea.
— Como? — A vingança era um prato que se comia quente.
— Eu estou com fome, muita fome, mas é de comida, mesmo.
Veja o troco.
Viu?!
Foi o mesmo olhar que eu dei quando ela disse que era ridícula a ideia
do músico. O mesmo olhar.
— Porra, você cortou tudo, agora! — Ela se afastou e se levantou do
sofá, e eu fiquei rindo de orelha a orelha. — Fez isso de propósito, não foi,
Lorenzo?
— Tadinha do meu amor. Foi iludida com propostas indecentes —
zombei e me joguei no sofá, recebendo em seguida uma almofadada na cara.
— Não fica brava, amor da minha vida. Nosso sexo sujo de reconciliação
ainda vai rolar.
— O que quer comer? — ela perguntou e, deitado no sofá, na altura das
pernas dela, estendi meus braços e as puxei, o suficiente para poder envolver
as duas com os meus braços. — Você vai me derrubar, cuidado!
— Vai cair em algo muito fofo, não se preocupe. — Eu beijei cada
coxa dela e depois a encarei. — Que tal uma pizza?
— Eu ligo ou você liga? — Olhei para ela, sorrindo. — Você precisa
descansar. O conheço bem, seus olhos estão fundos demais. Você precisa
dormir.
— Preciso de energia para poder ficar acordado a noite inteira com
você, Carolina.
— Eu vou e fazer um macarrão instantâneo para você. Nada melhor.
— Macarrão instantâneo? Vai fazer isso para mim?
Ela gargalhou lindamente.
Na verdade, a última vez que comi isso foi na faculdade, sete anos
atrás.
Ela me oferecer isso era estranho. Eu podia comprar um restaurante
inteiro, Carolina sabia disso. Mas, mesmo assim, me ofereceu macarrão
instantâneo. Eu tinha que rir disso.
— Eu gosto da sua simplicidade. E depois dos três minutos, o que
vamos fazer?
— Não sabe, Lorenzo?
— Não. Mas gosto do jeito como você pensa, sua safada!
Então ela se abaixou o suficiente para me beijar. Foi ela quem me
beijou dessa vez.
Carolina me beijou afundando suas unhas no meu queixo enquanto
invadia minha boca. Eu a segui, amando aquilo.
Carolina tinha mais a me dar do que ela já estava dando. Ela só
precisava entender isso.
E quanto a mim...
Eu era todo dela, eu daria tudo a ela.
Tudo que eu pudesse e tudo que ela pedisse.
Eu era dela.
E, por Deus, eu realmente esperava que ela fosse minha.
Completamente.
Eu tentei ligar novamente.
E de novo.
E de novo.
Sábado de manhã, onze e meia da manhã, eu havia acabado de chegar
do trabalho e Camila não estava.
Precisava arrumar uma mala para sair às três da tarde, tinha que
organizar as coisas e teria que subir em um avião.
E onde estava Camila, desde o dia anterior, às sete horas?
Ela não havia dormido em casa e isso me apavorava de uma maneira
descomunal. E ainda tinha a viagem com Lorenzo.
O silêncio na casa era, praticamente, ensurdecedor. Sentei-me na cama
e fiquei paralisada, pensando em Camila.
Onde ela está?
Onde está essa garota?
Assim que ouvi o barulho da porta da sala, eu me levantei e fui ver se
era ela.
Não era. Era ele. Era para eu sorrir, mas não consegui.
— Trouxe almoço pra gente... — Lorenzo ia falando enquanto fechava
a porta, e quando olhou para mim, sorriu. — Está tudo bem?
Eu balancei a cabeça e me sentei no sofá, com a cabeça baixa.
Lorenzo se sentou ao meu lado e ergueu a mão até meu rosto, o virando e me
fazendo olhar para ele, pedido pela resposta da pergunta.
Caramba, isso era difícil.
— Camila não voltou para casa, desde ontem.
— Como assim? — perguntou.
— Não voltou. Ela saiu ontem e até agora nada. Eu liguei para o celular
e só dá na merda da caixa de mensagem, Lorenzo. — Engoli o nó que se
formava na minha garganta. — Estou ficando apavorada!
— Carol, calma. Talvez ela esteja com alguma amiga.
— Não, não mesmo! Impossível!
Merda, Carolina. Você tem que parar.
— Pelo menos sabe com quem ela saiu ontem? Você tem noção de
alguém com quem ela possa estar?
Eu balancei a cabeça em negativa, em seguida me levantei e comecei a
andar para lá e para cá.
— Ela nunca fez isso. Nunca. Se acontecer alguma coisa com ela...
— Ei, para. Não vai acontecer nada. Eu vou te ajudar.
— Como você vai me ajudar?
Por favor, por favor, por favor, eu imploro silenciosamente ao
universo, não deixe que aconteça alguma coisa com ela.
— Não faço a mínima ideia, mas quando precisar de ajuda, eu vou estar
lá. Nem que tenha que contratar a NASA.
Eu balancei a cabeça e ri.
— Só você para me fazer rir agora.
— Acha que estou brincando ou contando alguma piada?
— Não, não. Ela tem até uma hora para aparecer.
— Tem certeza?
— Que tal comermos? — sugeri, desviando-me do assunto. — O que
você trouxe?
— Comida mexicana. Conheço um restaurante ótimo e... — Quando
ele se levantou e pegou as sacolas, eu forcei um sorriso — consegui que eles
organizassem algo pra gente.
Eu não conseguia nem prestar atenção no que ele dizia. Passava tanta
coisa na minha cabeça, de onde Camila poderia estar... Não havia como
relaxar ou colocar outra coisa na mente. Era a minha irmã e ela nunca havia
feito isso.
Nunca.
Nunca mesmo!
Então assim, do nada, ela decide começar a mudar suas atitudes?
Não, não é nada normal.
Eu sabia que devia ter tentado fazer com que ela se abrisse. Tinha
quase certeza que isso era dedo de algum cara. Camila estava saindo, sim,
com alguém, e eu devia ter tentado saber pelo menos o nome.
Idiota!
Idiota!
Eu tinha medo de pensar o pior, mas por mais que não quisesse
pensar, as coisas vinham na minha cabeça como bomba. Era uma garota que
estava longe de casa sem dar notícias.
— Carol? Carolina?! — Lorenzo se aproximou. — Vai ficar tudo bem,
ela vai chegar.
— E se não chegar?
— Ela deve chegar de um jeito ou de outro, você sabe disso.
— Eu ainda nem arrumei minha mala, caramba!
— Primeiro isso, depois vemos as outras coisas — ele falou e puxou a
cadeira, me fazendo sentar nela. — Agora vamos almoçar, certo?
— Certo. Eu só...
Foi instantâneo. Quando ouvi o barulho da porta, levantei tão rápido
que quase caí, mas Lorenzo me segurou a tempo, e sorriu quando comprovou
que era ela.
Camila fechou a porta atrás de si e, quando nos viu, abriu um sorriso.
Eu fiquei sem entender o motivo.
Respirei fundo e olhei para ela.
Na verdade, eu olhei para o vestido que ela usava. Não conhecia
aquela roupa. Era o estilo de vestido que ela usaria, mas aquele não era dela.
Por um lado, alívio. Por outro, preocupação.
— Está tudo bem? — Assim que ela se aproximou de mim, notei o
cabelo molhado. — Olá, Lorenzo. Carol?
— Vai me explicar agora ou depois o que aconteceu?
Bomba.
Boom!
— Como assim?
— Pode me esperar no quarto, Lorenzo? — Olhei brevemente para
Lorenzo, que me deu último olhar e saiu. — Senta!
— O que é isso?
— Vamos conversar, anda. Coloca sua bunda nessa cadeira, Camila.
Ela ficou me olhando brevemente, então se sentou e eu também.
Por fora eu estava calma. Mas, por dentro... Ah, por dentro estava bem
ruim.
Eu precisava dessa conversa.
— Primeiro: onde você estava? A verdade, por favor.
Ela ficou séria.
— Não precisa disso.
— Responda, caramba!
— Carolina, eu saí com a Stely, ela mora do outro lado da cidade.
Ela parecia pensativa enquanto inventava toda a mentira.
— Vai mentir para mim? Fale a verdade e apenas diga que está tudo
bem, que você só se esqueceu de me ligar.
— Carolina, pelo amor de Deus! Precisa disso?
— Precisa disso? É isso que você tem para me falar, depois da minha
histeria?
— Eu não...
— Camila, eu sou sua irmã mais velha, não tenho autoridade nenhuma
sobre você por isso, mas quando foi que eu menti para você? Você está
mentindo para mim há mais de semanas, não está?
Ela ficou me olhando, parecia chocada.
— Eu já disse que estava na casa da...
— Você fez de novo. Mentiu de novo. Fala a verdade, por favor!
— Não tem verdade nenhuma.
Eu me levantei, ficando de costas para ela enquanto pensava em algo.
Por Deus! Era difícil pra caramba manter a calma.
Eu inspirei e expirei. Quando me virei, ela estava me olhando.
— Fala. — Fiz uma pausa. — Pelo menos me diga que eu não preciso
me preocupar. Fale apenas que da próxima vez vai me ligar e falar que está
tudo bem. Que não vai me deixar preocupada, por favor.
Tomei um pouco mais de tempo em silêncio dessa vez.
— Você não precisa se preocupar com nada, Carolina. Eu estou bem e
vou continuar bem.
— Mais que bem, não é, Camila? — A ironia ficou tão clara que ela se
levantou.
— O que está querendo de mim? Quantas vezes você fez isso? Eu só
não liguei. Acontece, entende?! Não quero brigar com você.
— Ah, Camila, mas eu quero brigar com você. Quero que fale a
verdade. Para de mentir!
— Eu não estou mentindo...
— Deixe-me adivinhar... Você está omitindo? É isso, Camila? Acertei?
— Eu estou aqui, não estou? Então pronto, Carolina. — Ela olhou para
mim e depois se aproximou, mas eu me afastei. — Não fiz nada que você não
faria. Ou seja, não fiz nada de errado.
— Se não quer confiar em mim, só posso lamentar.
— Não seja dramática, Carolina.
Não adiantaria. Ela não iria falar, por mais que eu tentasse.
E eu tentei.
— Eu vou viajar à tarde.
— Você já me disse. Espero que se divirta.
Eu sorri em derrota.
— E eu espero que você pense no que eu te disse, Camila. — Ela
balançou a cabeça e eu quis dar uns tapas naquele rosto. — Ah, não desligue
o telefone enquanto eu estiver fora.
Ela sorriu.
Ahhh, ordinária do cacete!
— Um abraço? — ela perguntou e eu arqueei a sobrancelha, sem
acreditar.
Depois de mentir?
Vir com essa cara de pau para cima de mim?
Não. Eu não conseguia. Já era demais.
— Não tem abraço!
Falei isso e saí, indo direto para o quarto.
Família era isso. Arruma uma e vê se não tem problema. Pelo menos
eu tinha meu homenzinho, que me fazia muito bem. Porém, dormia que era
uma beleza, ou fingia.
Ele estava jogado na minha cama e com os olhos falsamente fechados.
Meus olhos se prenderam em sua bunda avantajada por baixo da calça.
— Nossa, que pena. Pensei que iria pegar um certo moço acordado...
Tantos planos.
— Planos? — Eu olhei para ele. — Tenho vários planos também, amor
da minha vida.
Eu tentei não parecer tão sentimental quando me aproximei dele e me
abaixei.
— Vamos, amor da minha vida, levanta.
Quando as palavras saíram da minha boca, senti que ele havia notado e
gostado, pelo modo como me olhava.
Por mais foda que isso fosse, já era tarde demais.
Eu entendia exatamente o que ele sempre quis de mim.
Porra, eu estava literalmente afundada nessa história toda.
E, a partir disso, eu tinha que assumir ou sumir.
Literalmente.
Finalmente.
Eu estava a ponto de surtar, sozinha no hotel Maldini, onde havíamos
nos hospedado, pois o senhor Maldini estava em reunião e até então não tinha
voltado.
Ah, filho da mãe!
Não faz essa cara não, colega.
Alguém poderia dizer para ele, que se eu soubesse, eu teria ficado em
casa, fazendo os dois trabalhões da faculdade? Além de ter que subir em um
avião, ficar com náuseas a viagem inteira... infeliz!
Você vai gostar, Carolina.
Estava vendo como eu ia gostar. Era frustrante e eu também não podia
reclamar, afinal, era o trabalho dele, era o que ele era, a vida dele. E eu tinha
que saber fazer parte, mas, caramba, era difícil. Estava a ponto de pular da
janela só para sentir uma ação diferente. Eu precisava dele ali, pertinho. Já
estava perto de dez da noite, não sabia se eu tomava um banho ou pedia algo
para comer, não sabia nem falar a merda do idioma. Bem capaz de eu pedir
um reles macarrão e chegar banana.
Deus, o senhor sabe que eu às vezes faço algumas besteiras, mas
lembra das vezes que eu fiz o bem. Lembra, tudo bem?
Olhei para a banheira cheia de água quentinha, percebendo que
absurdamente inexplicável o que se passava por minha cabeça.
Tirei o roupão, soltei o cabelo e entrei, sentindo a água quente invadir
tudo, relaxando-me. Um alívio para as minhas frustações. Peguei o celular e
comecei a olhar as últimas fotos, principalmente as que havia tirado de
Camila. Tinha algo na minha irmã que eu não sabia dizer o que era... E saber
tudo sobre ela era algo que eu deveria dominar.
Precisava entender o que estava se passando, mas quando chegava
perto ela saía, e eu acabava mandando tudo para a casa do caramba.
Eu odiava ficar com alguma coisa na cabeça. Já bastava Lorenzo, que
invadia até meus sonhos. Não, não dá!
Era muita coisa para uma cabeça só.
Fechei os olhos e tentei não pensar muito, só sentir o aroma vindo da
água, a temperatura, até que uma mão repousou sobre meus cabelos.
Dei um sorriso, satisfeita, e me remexi dentro da água.
— Espero que eu caiba aí dentro — Lorenzo falou e abri os olhos para
encontrar os dele, me olhando, me analisando de ponta a ponta. — Se não
couber, vamos ter que achar outra.
— Com jeito tudo se encaixa, Lorenzo — respondi e ele balançou a
cabeça, se aproximando e colando os lábios nos meus, os sugando, levando
junto um pouco da frustração que antes eu sentia. — Pensei que iria ficar
sozinha a noite inteira.
Minha voz saiu firme. Eu não conseguia ser docinho, preferia mandar
as indiretas bem diretamente.
— Eu precisava cuidar de tudo para amanhã — ele explicou e começou
a desabotoar os botões da camisa social branquinha. — Amanhã só me
levanto para ir ao evento à noite. E por falar nisso, você vai comigo.
— Oi?
— Você é minha mulher, aceite!
— Lorenzo, não...
— Não o caralho, Carolina. Se você falar alguma coisa eu vou te tirar
daí e vou dar uns tapas nessa bunda deliciosa — ameaçou e tirou a camisa,
indo para o sapato. — Não vou sozinho, você vai comigo. Não aguento mais
ter que justificar para outras mulheres que eu sou comprometido. Não dá!
— Como assim?
— Você entendeu.
— Entendi o caramba! Pode me explicar isso melhor, Lorenzo — exigi,
me ajeitando na banheira, já subindo uma raiva repentina.
— Não é só mulher que sofre assédio, entendeu? Se quiser me deixar ir
sozinho, tudo bem.
Ele sorriu, cínico.
— Se eu fosse você, não falaria isso, e pode ir tirando esse sorrisinho
do rosto — resmunguei, firme. — Se você soubesse o que eu sou capaz de
fazer estando com ciúmes, você nunca mais chegaria perto de mulher
nenhuma!
Nesse momento eu quase falei alto demais. Segurei meu tom de voz
no limite. Lorenzo tirou a calça e ficou apenas com a box preta.
— Agora eu não sei se quero, ou não, você com ciúmes — ele disse e
se aproximou. — O bom do ciúme é que o sexo sai melhor. Se bem que eu
acho que não vamos precisar de nada disso.
— Lorenzo...
Tentei falar, mas um toque de celular miserável, vindo das profundezas
do inferno, cortou o clima entra a gente.
Ele se virou e se abaixou, tirando o celular do bolso e fazendo uma
careta.
— Eu preciso atender. — Ele mostrou a tela e vi o nome de Pedro. —
Alô? — A voz de Lorenzo estava calma. — O que você fez dessa vez? Eu
não posso fazer nada daqui, lamento. — Ele passou a mão pelo cabelo e
sorriu. — Sim, ligue lá em casa e veja com alguma delas. Se precisar com
urgência... Espera. Pra que você quer isso?
Lorenzo olhou para mim, que estava só observando o homão da porra
que ele era.
— Pedro, estou ocupado, você consegue... — Lorenzo se aproximou e
eu passei minha mão pelo seu abdômen lentamente, até chegar lá em baixo.
— Pedro, meu celular vai cair acidentalmente e a ligação vai cair.
Foi o que ele fez, mas só desligou o aparelho e o colocou no balcão.
— Terminou? — perguntei e ele pegou minha mão, se abaixou e me
beijou, antes de colocá-la por cima da cueca preta e começar os movimentos.
— Entra!
Chamei, vendo-o sorrir de um jeito safado e com um olhar muito
peculiar sobre mim. Eu adorava isso. Ele se afastou, o suficiente para tirar
todo o pedaço de pano que ainda havia em seu corpo.
— Minha boca está quente.
— E meu pau duro por ela — ele revelou e fiquei de cara com o
Lorenzinho, que deslizava pelos meus lábios lentamente, como se estivesse
entrando no paraíso. — Eu precisava disso, Carolina.
Engoli até o fundo, sentindo cada parte dele. Sentindo-o segurar meus
cabelos.
Consegui acomodar boa parte dentro da minha boca e comecei os
movimentos de vai e vem na minha boca.
— Eu vou entrar! — ele avisou e se afastou da minha boca, em seguida
entrou de uma vez na banheira. Aquilo fez com que transbordasse água da
banheira e eu confesso que ri. Lorenzo era um mundo de homem e que
parecia estar em uma caixa de sardinha.
Ele conseguiu ficar dentro da banheira, só que teríamos que ficar um
por cima do outro.
E eu, realmente, esperava que fosse eu.
— Vem aqui — Lorenzo chamou e eu fiquei sentada no colo dele,
sentindo a ele e a água quente. — Quero tentar algo com você, Carolina.
— E o que seria? — perguntei, puxando e começando a acariciar seu
peito, deslizando meu dedo por ele.
— O que você acha?
Eu parei e olhei para os olhos dele, que encaravam os meus, sentindo
sua mão na minha cintura, segurando e apertando, deslizando para baixo, até
chegar na minha bunda.
— Ai... — Minha voz saiu abafada, muito tensa e surpresa.
— Nunca tentou? — Eu neguei com a cabeça, em seguida ele
escorregou um dedo para uma região que eu desconhecia, fazendo-me sentir
um frio na barriga. — Quer tentar?
— Lorenzo, olha... — Os movimentos dele eram feitos sem pressa, até
que ele tentou entrar com um dos dedos e eu me mexi. Lorenzo me segurou
com a mão livre, mantendo-me segura. — Eu não sei se gosto disso.
— Quer que eu pare?
— Não sei, Lorenzo. Você quer aí?
— Não se trata de apenas eu querer, mas você também tem que sentir
vontade.
A voz dele soou firme, um tanto áspera, admito, e isso era estranho.
Muito estranho para mim.
Lorenzo estava só esperando minha permissão.
Relaxei e usei o que sempre usei com ele, a confiança.
— Vai fundo! — foi o que eu consegui dizer.
O senti segurar minha bunda e apertá-la, se posicionando.
— Está com medo, amor da minha vida?
Eu nunca pensei que diria isso, mas estava com um pouco de medo. Já
havia pensado em fazer isso, mas numa fiz e não fazia ideia se era o que
realmente queria.
Se doesse e fosse ruim, eu gritaria e o mandaria parar.
Mas, se eu gostasse... aí eu não sabia como seria. Ainda mais sentindo
Lorenzo duro e perfeito a minha frente.
— Não estou com medo.
— Você falou isso mais cedo, quando estávamos no avião, e quase
arrancou meu braço. — Eu me contorci quando senti um dedo. — Relaxa, eu
vou te mostrar que é bom.
Caramba, Carolina, caramba!
Senti a cabeça do pau dele na minha entrada.
Vai querer fazer sexo na banheira, Carolina? Olha o resultado aí, um
homem que vai te comer por trás!
Eu me mexi primeiro, sentindo-o empurrar para dentro.
— Relaxa. — Ele me invadiu mais um pouco.
Por um segundo doeu, queimou, abriu tudo, e eu parei até de respirar,
segurando firme.
Ele parou por alguns segundos, enquanto eu fechava os olhos,
tentando absorver tudo e não gritar como uma louca.
Lorenzo então ficou completamente parado, a água quente era a única
coisa que eu sentia.
Só!
Só ela!
— Está tudo bem, Carolina? — A pergunta me faz abrir os olhos.
— Um pouco bom e um pouco ruim.
— Eu vou me mexer.
— Vai fundo, amor da minha vida. — Diante do meu pedido, ele
segurou no meu quadril com força e senti seu pênis pulsar dentro de mim. —
É a coisa mais estranha que eu já fiz.
Então eu me inclinei um pouco para trás, para que meu bumbum
ficasse exatamente no rumo dele. Para facilitar e ajudar.
Ele deslizou as mãos do meu quadril para a minha bunda, e só assim
eu soube o que era tomar no cú.
Gritei com o primeiro movimento e ele saiu, tirando de mim um
gemido, quando voltou eu dei um grito.
Lorenzo me olhou e eu não consegui manter o contato. Era diferente
por ali.
Eu levei uma das mãos até meu seio e apertei, sentindo o bico duro, e
fui descendo até chegar a minha boceta. Quando ele apertou o centro, senti
algo diferente, sensações completamente incomuns, mas que eram legais e
estimulantes para continuar aquilo.
A mão de Lorenzo apertando minha bunda era uma sensação.
O pau dentro de mim era outra.
Minha mão estimulando minha boceta, outra.
Eram coisas diferentes, mas ligadas umas nas outras.
— O que está sentindo, Carol? — Eu suspirei, tomando e buscando um
fôlego que eu não sabia se tinha.
— Caramba, Lorenzo!
Com isso ele teve sua resposta. Esperava que a partir disso, só dessa
vez, eu não precisasse mais abrir minha boca.
— Eu amo você. Amo você!
Aí você pensa:
Que fofo ele falando que a ama na hora do sexo.
Ele falava a verdade, disso eu não podia duvidar.
Maaas...
Queridos, ele falou isso para poder me acalmar, depois de aumentar as
estocadas dentro de mim. Me fazendo arfar e me masturbando cada vez mais
rápido, buscando por algo completamente diferente.
Foi nesse momento que senti Lorenzo tremer por inteiro, suas mãos
parando os movimentos de subida e descida.
Ele havia chegado lá e, por um segundo, eu pensei que eu não
chegaria, mais então senti a mão dele por cima da minha, que fazia
movimentos rápidos na minha boceta. Senti-lo ali, fazendo aquilo, depois de
tudo que havíamos feito, não tinha preço.
Eu o satisfazia e ele me satisfazia, de várias formas, algumas de um
jeito que eu nunca pensei sentir desejo.
Não sei o motivo, mas estava cheia de lágrimas nos olhos enquanto
tinha um orgasmo alucinante.
Ele era o amor da minha vida.
Eu tinha a leve sensação de que minha bunda estava enorme, colossal!
Olhei para o espelho e tentei ver se eu conseguia identificar algo para
entender o porquê do bundão maior.
Poderia ser o vestido?
Não.
Poderia ser Lorenzo, que desencadeou uma alimentação mais
reforçada, estar com ele era comer bem. É, devia ser isso. De qualquer forma,
não era só o sexo que me ajudaria a perder o havia ganho. Mas também podia
ser pelo dia anterior. Não sei por que, mais comecei a olhar meu bumbum
com outros olhos, e era estranho para cacete pensar assim.
Eu havia ocupado algumas das minhas horas da parte da manhã,
enquanto Lorenzo dormia, para comprar um vestido. Fui literalmente puxada
de surpresa para algum desses eventos. Lorenzo ainda me fez pegar um dos
cartões dele, o que me deixou um pouco sem jeito. Poderia passar mil anos,
mas eu ainda iria ter o orgulho em mim. Não era eu que tinha orgulho, era o
orgulho que me tinha.
Eu tinha meu dinheiro, trabalhava para isso, mas Lorenzo... Ah,
Lorenzo era insistente. Eu devia já ir me acostumando com isso. Por fim,
aceitei. Se bem que no período em que fiquei com o cartão, só o usei para o
vestido, o salto, e com maestria para um lingerie. Ainda tive a ousadia de
comprar uma gravata para ele, que foi bem cara pela fodida marca, mas essa
eu tive o prazer de comprar com meu próprio dinheiro a fim de presenteá-lo e
combinar com meu vestidinho foda, e para poder estar em sintonia.
Nem sei de onde tirei isso, mas já até havia deixado junto com a roupa
que ele havia separado, antes de me trancar no banheiro e fazer meu ritual.
Era quase uma magia negra.
Quase.
Era preparação. Ansiedade. Meu vestido tinha uma marca de cintura
bem marcada e saia bem rodada, quase estilo Charleston. Quase. De um
vinho puxado para uma cor ainda mais escura. Eu olhei para o vestido na loja
e o vi me chamando, quase me gritando.
E aí eu tive que escutar o pobrezinho, quer dizer, na verdade, ele não
tinha nada de pobrezinho. Se fosse para eu comprar um desse, com o que eu
ganho, bem, eu teria que vender o meu rim. E para o sapato eu teria que
vender o outro.
Saí do banheiro divina, perfeita. Eu poderia estar até me sentindo um
pouquinho.
Quando olhei para Lorenzo, notei que ele ainda não havia terminado
de se arrumar, estava só com a calça e o sapato, a camisa estava estendida na
cama, junto com a gravata e o smoking.
Ele estava falando com uma voz alterada ao celular, o que me
preocupou. Não era a primeira no dia que eu o via assim, falando no celular
com essa voz.
E, se eu estivesse certa, eram problemas com o primo. Agora, o que
era esse problema, eu não fazia a mínima ideia.
— Escuta, Pedro, você vai me contar detalhe por detalhe. — Ele fez
uma pausa e olhou para mim, me analisando dos pés à cabeça. — Eu não
quero saber... Você ficou louco ou está fazendo merda? Qual a porra do seu
problema, cara? Quando foi que agiu assim? Eu só chego amanhã. Até lá, não
faça mais besteira.
Ele encerrou a chamada e eu me aproximei.
— Problemas?
— Está acontecendo alguma coisa com o Pedro — ele disse isso e me
coloquei a sua frente para fechar a camisa de botões. Tive que colocá-la para
dentro da calça antes. — Se ele não estiver comendo ou trabalhando, pode ser
um problema.
— O conhece assim tão bem?
— Conheço, e algo me diz que está rolando algum problema com ele.
— Eu peguei a gravata e passei pela gola da camisa, começando a fazer o nó.
— Família é foda!
— Não me viu com a Camila? Acontece.
— Camila ainda e calma, Carolina. Mas o Pedro... Ah, aquilo quando
apronta, apronta bonitinho — ele comentou e senti suas mãos no meu quadril.
Quando olhei para o rosto dele, para seus olhos, fiquei acesa. — Posso
elogiar você?
— Pode.
— Puta que pariu, caramba! Você está lindamente gostosa, amor da
minha vida!
Falando isso ele se aproximou e tentou me beijar, mas eu desviei.
— Estou com batom, não quero te sujar.
— Carolina! Pode me sujar — ele pediu e me aproximei, dando um
selinho nele, apenas para o deixar mais satisfeito, até que senti uma mão na
minha bunda, apertando-a fortemente. — Eu odeio quando você me nega um
beijo. Isso é um plano seu para me provocar, não é?
— Não. É que eu gosto de sentir seus lábios. São quentes, carne de
primeira.
Falando isso, ele me soltou.
— Vou provocar tanto você essa noite, mas tanto, Carolina, que você
vai implorar. Pode esperar.
Assim que ele pegou o terno, retirou do bolso uma caixinha
retangular, preta e aveludada.
Eu evitei revirar os olhos.
Quem aí quer apostar que é uma joia? Quem? Mil dólares, pegar ou
largar.
Não? Ninguém?
Eu já havia dito a ele que não gostava de presentes caros, que me
levasse para caminhar, pular, fazer qualquer coisa com ele, até comer, mas
que não me desse coisas materiais.
Olhei para o colar com uma corrente fininha e um belo dourado, com
um pingente na frente que era uma bolinha com um cristal pequenino. Para
acompanhar, outras duas bolinhas também, só que esses eram os brincos.
— O que lhe disse da última vez?
— Que você me adora e que eu sou o dono do sexo, não lembra?
Ele retirou as coisas da caixinha e se aproximou, tirando os brincos que
eu usava.
— Eu já disse que não quero presentes caros, coisas assim, Lorenzo.
— Isso aqui para mim não é caro, é como comprar doce...
— Para mim é como se fosse o meu apartamento.
— Você fica bonita com eles. Eu gosto disso.
— Onde eu vou usar isso depois?
— Você vai estar sempre comigo. Eu quero você deslumbrante, tudo
que é meu é seu. — Ele passou a corrente pelo meu pescoço e senti a
respiração dele perto. — Vou continuar te dando tudo de mim e tudo o que
tenho.
— Eu pago isso como?
— Quer realmente que eu lhe responda isso, Carolina, quer? — Ele
terminou de colocar tudo, finalizando com um beijo. — Agora vamos,
estamos meia-hora atrasados.
Eu sorri enquanto passava meu braço por debaixo do dele. Fomos o
caminho inteiro conversando, de cabo a rabo. Sem interrupção. E quando
atravessamos a entrada e ficamos de frente para o salão, na verdade, quando
eu fiquei de frente para o salão, eu vi tudo muito diferente.
Havia algo muito sofisticado ali, as mesas pelo lugar, a pista de dança,
o palco, até uma banda que já estava posicionada, toda de preto. E as
pessoas... Ah, caralho!
— Você não me disse que seria tudo tão... Wow!
— Relaxa, querida, você está comigo — falando isso, voltamos a
caminhar e eu notei algumas mulheres, na verdade, uma que olhou Lorenzo,
no fundo da alma dele, e aquilo me incomodou. — Eu preciso antes de tudo
fazer algo, procurar um amigo e o chefe da noite, quero que você o conheça.
— Eu estou ficando nervosa. Muitos estão olhando para você.
— Estão olhando para nós. O casal da noite, o casal Maldini. — Ele
sorriu e nos arrastou para uma ala diferente. Assim que Lorenzo viu um
homem todo de branco, ele se aproximou, sorrindo. — Eu espero não ter que
quebrar alguns pratos na cozinha dessa vez.
— E espero não precisar enfiar meu rolo de massa no seu rabo. — Eu
cheguei a me assustar com a pré-apresentação. — E aí, cara, quanto tempo?!
— Vejo que tirou o cabelo fajuto — Lorenzo falou e por um segundo
olhei para os olhos castanhos do homem, que me remetiam a alguma pessoa.
— Essa é a minha mulher. Carolina.
— Prazer, Malik.
— Prazer — o cumprimentei e apenas sorri.
— E a Ana, ela está bem?
Ana? Quem era Ana? Por que Lorenzo conhece uma Ana?
— Sim, está linda, cada dia mais.
Vi os olhos dos dois marmanjos brilharem.
— Quem é Ana? — A pergunta saiu antes mesmo de eu pensar direito.
Lorenzo sorriu.
Ah, infeliz!
— Acho que você não conhece.
Ele respondeu isso eu me senti a excluída, a curiosa. Enquanto o
bonitão cozinheiro falava e o gostosão de smoking escutava, eu só imaginava
maneiras de poder jogar Lorenzo no chão e bater na cara dele. Depois de dez
minutos ali, parecida com uma estátua que sorria e acenava, fomos até a
mesa.
Eu fiquei calada, pacífica, mas só até chegar à mesa, onde ele puxou a
cadeira para mim e eu fiz questão de puxar a minha própria cadeira e sentar.
Ele ficou me olhando, contrariado.
— Por que não se sentou aqui?
— Cadê a Ana? Chama a Ana.
Foi aí que ele deu uma gargalhada.
Ah, filho da mãe!
Lorenzo estava pedindo para levar uma facada, com uma faca dos
talheres da mesa.
Ele se sentou, rindo, porém, eu não achei nada engraçado.
— Para de rir! — exigi, irritada.
— Está com ciúme?
— Não.
— Está sim, Carolina.
— Estou, estou com ciúmes, mesmo! — desabafei.
— Mas não precisa. A Ana e só uma criança — ele revelou e eu fiquei
parada, apenas olhando para ele. — Aquele cara é o pai da filha da Jack, a
cabelo roxo.
Então eu liguei os pontos. Os olhos! Era isso. Eu havia visto a garota
duas vezes, por acaso, e era isso. Mas aí eu parei.
— Jack disse que não sabia onde o pai da... Você... Ele...
— Jack não sabe e nem pode saber. Ele é casado e se envolveu com ela.
Ela não sabia. Engravidou, parou no hotel, eu estava lá e o conhecia. O resto
você sabe.
— Ele não assumiu a criança, Lorenzo? — perguntei.
— Ele não pode.
— Não pode? Que tipo do homem não assume que engravidou uma
mulher?
— O tipo que tem a família mais suja que tudo e que ainda é casado.
Carolina, eu sou padrinho da garota, mas também sou amigo do Malik.
— Você não pode esconder isso dela.
— Isso aí já não é problema meu. Espero que não conte o que eu te
falei. — Havia um tom forte de aviso, então eu só consegui balançar a
cabeça. — Ótimo. O conheço desde o colégio, eu sei que se pudesse ele
assumiria a garotinha. Ele, mesmo longe, nunca a deixou passar a vontade de
nada, nada mesmo! Eu acompanho essa missa há muito tempo.
Concordei com ele.
— Quer me explicar que evento é esse? — perguntei, desviando o
assunto. Eu conhecia Jack, e quanto menos eu soubesse, era melhor.
— Vamos ter um jantar, logo um leilão em prol de alguma coisa que eu
não sei. — Lorenzo fez uma pausa enquanto pegava duas taças de
champanhe, me entregando uma. — Estou aqui pelos negócios. No canto
direito do salão está o senador, do seu lado o senhor Barlow. Ele não sabe,
mas vai vender o que sobrou de suas empresas para mim.
Eu ri.
— E se ele não quiser? — perguntei, vendo a expressão pacífica no
rosto dele.
— Mas ele quer. — Ele fez um gesto com a mão e voltou a olhar para
mim. — Vim aqui para isso. O que eu disser para ele, vai decidir o acordo.
Ele e tradicional, só se desfaz da firma por alguém de confiança. É tipo um
pai prestes a entregar sua filha virgem para um moço, no caso eu sou o moço
e tenho que mostrar que sou o melhor.
— É engraçado o modo como você faz sua colocação.
— Mas é um fato.
Vi um homem de preto parar ao lado dele.
— Já comuniquei que o senhor quer vê-lo. Ele está lhe aguardando.
— Ótimo, Stuart. Vá à cozinha e pegue a lembrança. É o de 85.
Eu fiquei olhando a postura sobre a situação, a maneira dele de emitir
ordens sem fazê-las soar como ordens. Perguntei-me se ele sabia disso.
O homem de preto saiu e Lorenzo se levantou, estendendo a mão para
mim.
— O quê? — perguntei.
— Você vem comigo?
— Conversar com o homem? Não, acho melhor apenas você ir. Vou
atrapalhar.
— Claro que não! — ele fala e se aproxima de onde estou, o encaro
fixamente. — Tudo bem. Prometo voltar logo.
Falando isso ele colou sua boca na minha e se afastou com um
sorrisinho no rosto. Senti vontade de correr e pular nas costas dele, mas me
segurei, enquanto pegava a taça e experimentava o líquido... azedo.
Que merda!
Fiz uma careta com o sabor e deixei a taça de lado.
— Então é a senhorita que o acompanha?
Ainda com o sabor azedo na boca, ergui meu olhar na direção da voz
fininha, encontrando uma mulher alta, com um vestido longo e branco, todo
delicado. O cabelo preto caía sobre os ombros dela como cascata.
— Como? — perguntei e a vi balançar a cabeça.
— Por que ele lhe trouxe? — O sotaque indicava que ela se esforçava
para falar o mesmo idioma que o meu. Fiquei pensando qual seria o rumo da
conversa e se a garota sabia com quem falava. — Você não fala esse idioma?
Cazzo.
— Estou te entendendo.
— O que você tem com ele?
— Com ele? — perguntei para ter certeza.
— Você é burra ou surda? Você é a vadia barata que está com
Lorenzo?
Fui pega de surpresa com a ofensa. Literalmente. A principio fiquei em
choque, mas me recuperei, tomei ar e dei um sorriso.
— Primeiro, sim eu estou com Lorenzo e ele está comigo. Segundo,
não ouse me colocar adjetivos.
— Oh, agora está falando minha língua. — A voz dela se tornou mais
chata e insuportável. Olhei para os lados, tentando localizar Lorenzo, e nada
dele. Eu não sabia o que podia fazer. — Os boatos correm, ainda mais de um
homem como Lorenzo, poderoso, com muita influência e rebaixado a uma de
suas reles funcionárias. O que você usou que eu não usei? Você não é melhor
na cama do que eu.
— Eu acho melhor você ir para longe de mim!
Eu segurava o ar.
Fique calma. Você não pode surtar.
Por Lorenzo.
— Oh, você se ofendeu? Desculpa, mas deixa eu te dizer. Lorenzo é
um fanático por sexo e você é só isso para ele. Não pense que com roupinha
cara e colar, vai indicar algo para ele, porque você é só mais uma.
— Repete.
Eu senti meu sangue esquentar, pouco a pouco.
— Você é só mais uma para ele — ela reafirmou e eu me levantei.
Precisava de ar e de ficar longe de objetos cortantes. Dei as costas para a
garota e o meu primeiro passo a fim de me distanciar, sem tremer, firme no
salto. — Aonde pensa que vai?
— Pro inferno. Quer ir?
— Você e só mais uma puta — ela disse e eu parei. — Que só está com
ele por dinheiro. — Eu me virei para ela, que continuou: — Você é quase
uma prostituta. Quase.
E aí, bem... aí eu não aguentei e tive que revidar.
Eu não sabia o que falar quando ficava nervosa, e até tentei ficar
calada, mas a vaca não foi embora e nem parou de me perturbar.
Eu tentei evitar. Vocês estão de prova.
Mas o que as pessoas do salão iriam presenciar... não era nem um
pouco bonito.
Eu fui para cima dela e o choque foi tão grande que nós duas caímos.
Eu lembro que ela deu um grito fino, irritante. Medonho. Eu fiz questão de
ficar por cima, senti as unhas dela se afundarem no meu braço e machucar,
enquanto minha mão dava repetidos tapas naquele rostinho cheio de
maquiagem.
— PARA, PARA! — Ela só sabia gritar isso? — ALGUÉM TIRA
ESSA MULHER DE CIMA DE MIM. ELA VAI ME MATAR! SUA
VADIA!
— Eu vou arrebentar sua cara, piranha!
O rosto dela foi ficado vermelho. Senti quando meu único anel passou
áspero pelo rosto dela, na bochecha esquerda, e então vi uma linha fina de
sangue aparecer. Continuei batendo e vi mulheres, homens, olhando aquilo.
Eu estava querendo que ela desaparecesse da minha frente com cada
tapa meu, foi aí que senti algo me puxar pela cintura e entrei em desespero.
— Me solta! EU VOU QUEBRAR A CARA DESSA MULHER! —
gritei e vi a mulher se levantar, passando a mão no rosto rapidamente e
começando a chorar pelo sangue.
— OLHA O QUE VOCÊ FEZ!
— Eu vou fazer muito pior, muito pior! — gritei e tentei ir para cima,
só conseguia ouvir aquela mulher e ver a cara nojenta dela na minha frente.
Eu via vermelho de raiva.
— VIU?! É ESSE O TIPO DE MULHER QUE VOCÊ QUER COM
VOCÊ, LORENZO? UMA POBRETONA E AINDA ESCANDALOSA E
VIOLENTA?
— SEU RABO, ORDINÁRIA! — gritei de novo, começando a
arranhar o braço que me segurava forte. Eu batia os pés, tentava a todo custo
me soltar. Em seguida algumas mulheres se aproximaram da outra. —
REPETE O QUE VOCÊ ME DISSE, REPETE!
Foi aí que senti um puxão mais forte para trás, e uma voz falou perto
do meu ouvido.
— CHEGA, CAROLINA, ACABOU!
Era o grito de Lorenzo, que parecia um trovão.
Era ele que me segurava.
Eu me arrepiei e parei de aranhar o braço dele.
Eu atravessei a porta do banheiro com raiva. Muita raiva e muita
frustação. Soltei o braço dela e comecei a andar de um lado para o outro
dentro daquele cubículo, sentindo a respiração pesada.
Boa parte dos meus dois pulsos estava ardendo como o inferno. Se
não fosse o smoking, eu teria ficado, certamente, a ponto de carne. Por culpa
dela.
Havia ainda uma raiva estampada no rosto dela e eu irradiava raiva
também, por tê-la visto no chão dando tapas em outra mulher, parecendo dois
animais.
Como se a qualquer momento eu fosse ouvir a voz do narrador do
Animal Planet.
— Lorenzo. — A voz dela ecoou pelo banheiro.
Eu ia fazer merda se não tomasse uma atitude logo.
— Eu vou sair desse banheiro e você vai ficar aqui, Carolina. Vou
resolver tudo lá fora e me acalmar para não falar qualquer merda para você.
Passei a mão nos cabelos e senti vontade de gritar com ela, de gritar
com Carolina.
Eu tinha que pensar. De uma hora para outra, a calma que estava no ar
acabou. Saí no meio de uma conversa para conter a minha mulher, que estava
aos tapas com outra.
Foi horrível todos olhando para ela como só fosse uma psicopata.
— Eu quero sair daqui. — A voz dela saiu baixa e não me olhava,
embora dessa vez eu quisesse isso, para que ela visse o quanto eu estava
decepcionado.
— Você não vai sair daqui agora. Me espere aqui, Carolina.
Assim que eu saí, vi Charlotte e cheguei a ter náuseas. Não pelo rosto
vermelho ou pelo vestido que havia sido manchado com as gotas de sangue
dela.
Carolina era violenta.
Vi os olhares sobre mim, mas o principal era o dela, e aquilo me
deixou ainda mais puto.
— Você cuidou daquela maluca? — disparou na minha direção.
— Ela me contou tudo. Qual é a sua versão? — menti.
— Eu fui perguntar sobre você, para te dar os cumprimentos. —
Mentira um. Ela havia me visto antes e poderia ter feito isso. — Perguntei
quem ela era e aí ela veio com ironia comigo. — Mentira dois. Carolina não
faria isso. — E aí ela, do nada, veio para cima de mim. Aquela mulher vai me
pagar e eu já tomei minhas providências, Lorenzo.
Suspirei e olhei para ela.
— Peço desculpa por ela. Agora, se me der licença...
Quando ia me virar, eu senti a mão dela em meu braço.
— Você vai atrás dela?
Sim ou com toda a certeza?
— Ela é minha mulher, Charlotte, e eu acredito que você seja a culpada
pelo que aconteceu. Agora me dê licença.
— Va al diavolo.[1] — Eu sorri para ela com o xingamento em italiano.
— Stai andando![2] — dizendo isso ela sorriu, na minha cara, e vi
quando Malik puxou meu braço e sussurrou em meu ouvido:
— Onde ela está?
— O quê?
— A Polícia. Ela chamou a Polícia! — Foi então que eu olhei para a
mulher, rindo e me olhando descaradamente.
Ah, filha da mãe!
Eu quis apertar o pescoço dela.
Vi os dois homens de fardas se aproximando e entrei em pânico, em
desespero. Eles não iriam colocar a mão em nenhum fio de cabelo da
Carolina. Se fizessem isso, eu não me chamaria Lorenzo.
— Policiais, eu quero prestar a ocorrência e quero que peguem aquela
mulher. — Charlotte se colocou na frente dos homens. Eu respirei fundo e
comecei a pensar em algo coerente em defesa da minha mulher. — Olhem o
que a mulher fez comigo, olhem!
— Onde está a outra envolvida?
— Charlotte — chamei e ela me olhou, rindo. — Não faça isso.
— Fazer o quê? Aquela mulher tentou me matar e eu não vou medir
esforços para que a levem, nem que seja para dormir em uma cela fedida!
Malik segurou meu braço quando tentei me aproximar diante das
palavras dela.
— Onde está a outra senhorita? — A pergunta me fez ficar calado.
— No banheiro. O que vão fazer com aquela mulher?
Cacete!
— Vamos levá-la, assim como a senhorita, para prestar depoimento.
Para formalizar a queixa.
— Oh, claro. Só a tirem daqui e a deixe longe de mim. Eu irei de carro
para a delegacia.
— Vocês não podem leva-la — eu falei e os policiais olharam para
mim. — Ela não fez nada.
— Ela vai ser detida por agredir uma pessoa, então, meu senhor, ela fez
alguma coisa.
— Isso é necessário? — perguntei aos dois homens. — Se esse for o
caso, eu mesmo a levo para esclarecer tudo. Vocês não vão podem fazê-la
passar por isso, ela não merece.
— Senhor, estamos aqui pelo chamado. Você tem exatamente cinco
minutos para estar seguindo nosso carro com sua mulher. — Eu engoli em
seco. — Certo?
Balancei a cabeça e comecei a caminhar. Malik me acompanhou até a
porta, e antes de entrar eu me virei para ele.
— Procure Stuart, rápido, e peça para ele encontrar o pai da estúpida.
Quero que ele esteja na delegacia quando eu chegar lá. — Eu suspirei fundo.
— Tenta ficar calmo, você não pode explodir.
— O mafioso aqui e você, Malik. — Eu sorri para o homem a minha
frente. — Se aquela mulher acha que vai atacar a Carolina, ela está muito
enganada!
Falando isso eu entrei no banheiro, encontrando Carolina encostada no
balcão de mármore, com os dois braços debaixo da torneira. Me aproximei e
vi o quanto estava vermelho.
— Por que foi brigar? Por que, caramba?
Segurei seus dois braços e vi as marcas. Aquilo me doeu.
Ela se olhou, retirei o smoking e passei por seus ombros, vendo-a abrir
um sorriso, enquanto eu fiquei sério.
— A gente precisa passar em um lugar antes de ir para o hotel. — Eu
não queria pensar em nada de ruim, pelo menos não naquele momento. —
Vamos ter que ir à delegacia, Carolina. Ela vai prestar queixa contra você.
Eu olhei bem nos olhos delas. Ela não falou nada. Não se moveu. Não
esboçou reação nenhuma, ficando alguns bons segundos paralisada, até que
balançou a cabeça.
— Quero terminar logo com isso, Lorenzo, então vamos rápido.
Eu apenas peguei a mão dela, apertei e comecei a caminhar. Passamos
pelos policiais e a levei direto para o carro. Tentei nem olhar para ela, nem
falar por toda a viagem, pois não sabia o que falar.
Talvez não naquele instante.
Paramos em frente à delegacia e, antes de descer, eu olhei para ela.
— Eu não vou deixar que nada aconteça com você — prometi e ela
olhou para mim.
— Você acredita em mim, não acredita, Lorenzo? — Ela levou a mão
no meu rosto. — Eu juro que não queria começar a fazer aquilo. Ela... ela me
chamou de... de prostituta! EU NÃO SOU PROSTITUTA! EU NÃO SOU!
Foi aí que ela caiu no choro. Um choro abafado. Eu nuca visto esse
lado dela. Eu nunca pensei que a veria chorar.
Segurei sua mão e a beijei.
— Vai ficar tudo bem, amor da minha vida.
Desci do carro e tive que ajudá-la a descer. Quando entrei na delegacia,
eu vi o quanto o corpo de Carolina estava pesado, o quanto ela estava tensa.
Eu jurei que depois dali iria beber algo bem forte, e ela iria comigo.
Eu vi de relance a vaca, percebendo que ela não estava mais sozinha.
Vi ao seu lado uma mulher que eu conhecia bem, uma que me fez passar
noites sem dormir, que me causou dor de cabeça na empresa por semanas.
Então era isso?
Era o clube da Luluzinha das que não aceitam um não?
Caralho!
Eu nem olhei a segunda vez para a dupla. Apertei Carolina contra
mim e segui em frente.
— Me acompanhe — um homem disse e, antes que eu pudesse segui-
lo, vi o pai de Charlotte passar pela mesma porta que eu havia passado.
Era uma pena que eu tivesse que fazer aquilo.
Era uma pena eu ter que misturar as coisas.
Olhei para Carolina e vi seus olhos vermelhos.
Valia a pena.
Por ela, valia.
Onde estava o sorriso dela que eu não estava visualizando?
—Só um momento. — Me virei para Carol e sorri, confiante. — Fique
aqui. Eu preciso resolver isso de uma vez.
A deixei parada ali, enquanto me aproximava do homem bem vestido
e que me olhava assustado. Estendi a mão cordialmente e ele a apertou.
Vi a garota se aproximar e colar nele.
Eu respirei e então sorri, para então jogar as cartas na mesa.
— Wiliam, sua filha procurou problemas com a minha mulher e ainda
quer sair como a certa. Você sabe o quanto odeio isso e sabe que eu defendo
a honra da minha família, então, a menos que não queira cortar os negócios
comigo, faça sua filha entrar naquela sala e evitar que minha mulher entre,
certo? Seria muito ruim para você, que acabou de se levantar das cinzas do
mercado, perder a ajuda dos Maldini até a sua vigésima geração.
Falando isso eu dei um sorriso.
O típico sorriso de quando eu termino de fechar um negócio.
— Pai, o senhor não...
— CALA A SUA BOCA, Charlotte. — Ele tirou os óculos e voltou a
olhar para mim. — Peço desculpas por fazê-los passar por isso, ainda mais
por capricho de uma mulher mimada.
— Obrigado por entender meu lado.
Agradeci e voltei para o lado de Carolina, passando a mão pela sua
cintura. Nem fiz questão de olhar para o ódio que era lançado sobre a gente
— E agora?
— Agora, Carolina, as coisas são você e eu.
— O que vai fazer comigo?
— Precisamos conversar, definitivamente.
Eu vou para o quarto.
—
— Carolina? — Ela parou no meio da sala e voltou a olhar para mim.
— Você não disse nada o caminho inteiro.
Tudo bem, estava assustador para caralho, podia admitir isso.
— Eu não quero falar com você agora, Lorenzo.
— Mas eu quero — rebati e ela respirou fundo, mordendo o lábio com
força.
Carolina seria o trem desgovernado, e eu o carinha que estaria
amarrado nos trilhos.
Merda.
Isso era apavorante.
— O que você quer comigo, Lorenzo? — Ela deu um sorriso frio. —
Deixa eu adivinhar... Quer a porra do divórcio, amor da minha vida?
Ela provavelmente não quis soar tão dura.
Minha respiração ficou acelerada e Carolina deu dois passos até mim,
até ficar frente a frente comigo. Eu respirei fundo, vendo os olhos calmos
dela.
Calma demais.
— A gente ainda não é casado para você me dar o divórcio, Carolina —
falei, divertido, tentando quebrar o clima.
— E nunca vai ser.
Eu a estava perdendo. Ela me deu as costas e eu fiquei ali, parado,
parecendo um idiota. Fiz de tudo por ela, fiquei do lado dela e ela me
agradecia assim? Não pode ser. Não dava para entender a porra das ideias que
se passavam na cabeça dela.
Eu só queria a minha Carolina, aquela que era um doce, não aquela
que era um cubo de gelo e que pisava em mim daquele jeito mirabolante.
Fui direto para o quarto atrás dela. Quando entrei, tive a visão dela
sem o vestido, sem os saltos, colocando uma das minhas camisas, soltando o
cabelo e tirando as joias.
Depois a vi indo para a cama a fim de pegar um dos travesseiros e
uma das cobertas, e se virando para mim.
Por que ela estava olhando para mim daquele jeito?
— O que vai fazer com isso? Você não vai sair desse quarto,
Carolina. Não vou aceitar isso.
— Eu não vou sair de lugar nenhum. — Ela caminhou até mim,
parando na minha frente. — É você quem vai sair daqui.
Eu fiquei parado enquanto assimilava a melhor piada da noite.
— Por que diabos você está agindo desse jeito comigo? Ficou o cacete
do caminho inteiro sem falar nada comigo, e agora está me expulsando do
quarto, da cama?
— Eu preciso ficar sozinha.
— Já fodeu parte da noite, não vai foder com o restante dela, Carolina.
Não mesmo!
Ela ficou me olhando, enquanto eu fiquei firme.
Isso mesmo.
Eu nunca desisto.
— Você dormiu com aquela mulher?
— Quê?! — Então a ficha caiu. Ela ainda estava com raiva de mim. Na
verdade, eu nem sabia o que usar como argumento.
— Ela é melhor na cama do que eu?
A nova pergunta me fez ficar ainda mais confuso.
— Carolina, eu dormi com ela, sim, e não, ela não é melhor na cama
que você. Se fosse, eu estaria com ela e não com você — falando isso, eu me
aproximei e ela se afastou. — Por que está fugindo de mim?
— Você ainda pergunta? Você viu o que eu fiz? Se eu tivesse pego um
B.O., eu poderia perder a bolsa da faculdade, sem falar no papelão que eu fiz
em público por causa de um dos seus antigos casos.
Ela cuspiu as palavras e eu ri. Ri de nervoso, mesmo, bem na cara
dela.
— Sua faculdade já está paga há muito tempo, eu paguei! — falei e
parei de rir, vendo Carolina me olhar bem nos olhos.
E então ela foi para cima de mim com toda força que restava nela.
Como uma galinha descontrolada.
— Seu grande filho da mãe! — ela gritou. — Você não pode fazer isso
comigo. — Ela começou uma sequência de murros no meu peito, e eu apenas
deixei. — Vou matar você!
— Carolina, pare! Pelo amor de Deus, mulher! — Eu tentei segurar a
mulher, mas só consegui abrir espaço para ela me dar mais tapas e socos. Vi
o cabelo bagunçando, descontrolado, invadindo o rosto dela. — Chega,
Carolina, chega!
Eu queria parar com aquilo e rir, rir até a barriga doer.
— Você e um mentiroso! Um mentiroso! — Então eu segurei os braços
dela e fui empurrando-a, até jogá-la na cama. — Seu infeliz!
Eu tentei me aproximar, mas levei dois chutes, um na perna e um no
Lorenzinho.
— Para, sua maluca! — gemi pela dor na parte sul. — Você quer
machucá-lo?
— Maluca é a sua avó — esbravejou e em seguida se levantou de novo,
mas eu consegui segurá-la, forte e firme. Segurei seu braço para baixo. —
Por que não me disse que foi você quem me ajudou? Ia me esconder até
quando? Até quando precisasse, para jogar na minha cara que foi você quem
pagou, achando que eu iria agradecer de joelhos?
— Não, eu só quis ajudar. — Precisava que ela ficasse calma. — Eu
vou te soltar e você vai ficar calma, está legal?
— Seu rabo que eu vou ficar calma! Eu vou te acertar tão forte que vai
doer muito, muito mesmo, Lorenzo!
Eu respirei fundo e então fiz algo que nunca achei que ia fazer diante
de uma briga. Me aproximei do rosto dela e beijei a bochecha direita dela,
igual ou parecido com os que ela me dava quando eu estava agitado.
— Para, amor da minha vida, vamos conversar e não brigar, eu estou te
implorando! — implorei, mentalmente cansado.
— Você é um idiota! É tudo culpa sua! — Então ela se afastou de
novo, dessa vez andando no quarto de um lado para o outro.
— A culpa não é minha. De onde está vindo essa porra, Carolina?
Ela se abaixou, e em câmera lenta pegou um sapato. O sapato de salto
que ela havia usado, em seguida eu vi o sapato de salto voar. Bem na minha
direção.
E, por Deus, se eu não colocasse o braço, ela teria me acertado no
rosto.
Caralho! Eu já havia me machucado com ela.
— Você! — Aí eu vi outro sapato, mas esse acertou meu braço. —
PARA, PORRA!
— Sai daqui, Lorenzo, anda! — Ela estava alterada.
Completamente.
Eu suspirei.
Ela já devia me conhecer e saber que eu não iria sair dali.
— Eu não vou sair daqui, Carolina. Entendeu? — falando isso eu me
joguei na cama, de onde eu não sairia, mesmo correndo o risco de ser
asfixiado com um travesseiro.
— Então é assim?
— Sim, é assim!
Ela se aproximou de mim, se curvou em minha direção, e quando
pensei que a mulher tinha terminado, ela pegou o travesseiro e o cobertor.
— Ei, que merda é essa? — questionei.
— Não fala comigo! — exigiu ela.
— Para onde você está indo?
— Pro inferno, Lorenzo. Para o inferno! — Antes de ela chegar na
porta, eu já estava de pé e segurando seu braço. — Eu vou gritar.
— Para onde você vai, caramba? — perguntei, um tanto preocupado.
— Se você não vai sair desse quarto, eu saio! E não venha atrás do
mim. — Ela se soltou da minha mão. — Só me deixe sozinha!
Falando isso ela saiu, depois de agir como uma doente.
E eu fiquei ali, completamente derrotado após descobrir uma coisa
importante.
Eu odiava brigar com mulher. Principalmente a minha mulher.
Caralho, eu ficaria completamente louco se dependesse da Carolina.
Por alguns segundos da madrugada eu senti meu corpo flutuando,
senti o corpo dele junto ao meu. Ele havia me tirado do sofá e me colocado
na porra da cama, feito algo por mim de novo.
Isso horas antes.
De madrugada.
Eu estava cansada demais para abrir os olhos.
Só queria ter ficado calada. Só isso. Totalmente calada, tanto antes
como depois. Não havia saída, não havia escapatória. Eu já havia dito que
precisava sumir ou assumir.
Agora é aqui, amigos, que chega ao fim ou continua.
Isso mesmo. Ou vai ser o fim ou a continuação.
Mas, sabe quando você acha que cavou a própria cova, o próprio
buraco, pulou de muito alto, alto o suficiente para não só quebrar um osso ou
uma clavícula, mas ir para o hospital já morta?
Bem, olha a Carolina ali, mais perdida que tudo.
Apesar de tudo, Lorenzo foi bem firme e corajoso para fazer aquilo.
Ele me colocou em primeiro lugar.
Para mim que, praticamente, nunca fui o primeiro lugar de ninguém,
aquilo era importante e bom.
Eu estava com raiva de mim, dele, daquela vaca, do sol que entrava
pelo quarto, de todas as coisas na minha vida serem complicadas o suficiente
a ponto de eu mesma querer facilitar, mesmo que para isso eu tivesse que
desistir ou sofrer como uma condenada.
Por um lado, vocês vão me achar fraca.
Eu também acharia e falaria:
“Olha ela fazendo drama.”
Uma coisa era pensar que eu desistiria. Eu sou uma Lelis, não desisto,
e não queria desistir de Lorenzo, mesmo que no fundo quisesse dar na cara
dele por ser tudo e me fazer com que eu me sentisse uma criança amparada
pela UNICEF.
Ele que me fez voltar para a faculdade, caramba! Ele! Lorenzo
Maldini. O gostosão que entrou como um abalo sísmico e agora virou o
caralho de um terremoto.
Mesmo assim eu tinha um homem que me amava dentro e fora de uma
cama, que mais parecia ter me colocado em uma espécie de pedestal e não
queria me tirar de lá.
Está brincando?! Vocês são testemunhas da minha tentativa de
assassinato com um sapato.
Outro homem não aceitaria, eu sei disso.
E vocês também sabem.
Agora conseguem ver a mulher sentada na cama, olhando para a
janela enquanto ela está vendo o sol subir até iluminar o quarto? Ela está com
a camisa dele, do amor da vida dela, mas ele não está na cama com ela.
Eram nove da manhã e eu já me sentia derrotada. Estava me sentindo
um saco de lixo.
Meu cupido só podia ser do Paraguai.
Deus estava me criando, aí chegou na parte de colocar os problemas,
Ele exagerou demais e ali estávamos.
Me levantei da cama, tomei coragem e saí do quarto, então fui
caminhado por todo o lugar, que estava vazio, solitário. Parei na sala e olhei
para a mesa de centro, onde havia várias garrafas.
Aquilo já não me cheirava bem.
Vi um vaso quebrado na parede perto da porta, depois outro.
Eu respirei fundo e só fui sentir a presença dele quando cheguei
próximo ao sofá. Ele estava no chão, deitado de barriga pra baixo, vestindo
apenas a calça.
Me aproximei e me abaixei.
— Que merda você fez?! — Tentei virá-lo. — Lorenzo?
— Hummm. — Coloquei o rosto dele em meu colo e passei a mão em
seu rosto. — Você vai me deixar?
A voz dele estava grossa.
— Você bebeu? — perguntei.
— Só um pouco... muito. Estava uma delícia, você podia vir beber
comigo. — Então ele se levantou meio torto, sentando-se e olhando para
mim, mas com os olhos quase fechados.
Caramba, agora eu estava na merda!
— Você está sóbrio? — perguntei.
— Se for falar ou ficar brava comigo, eu estou mais bêbado que a
própria cerveja. — Ele sorriu e se erguia do chão. — Agora, se for pedir
desculpas, eu estou bem, sem álcool nenhum no meu corpo.
Falando isso ele me deu as costas e eu levantei, seguindo-o até o
quarto.
Dentro do meu peito algo se apertou.
— Você... você...
— Ontem você deixou claro algumas coisas para mim. — Eu engoli a
bola de pelo que se formou dentro da minha garganta. — Eu tentei, Carolina,
e você... você quase conseguiu. Eu não quero deixar que tudo isso fique mais
sério para depois você me deixar.
— O que você está falando?
— Sua histeria me deixou bem perturbado durante a noite e você podia
ter voltado atrás de muita coisa, mas você não voltou por seu orgulho e,
provavelmente, sempre vai ser assim.
— Não!
Ele ficou parado, me olhando.
— Eu tenho que me reunir com alguns...
— Lorenzo, o que você está fazendo?
— O que você não teve coragem de fazer ontem, conversar direito.
— Você...
— Você praticamente me levou ao limite, Carolina, e não foi o limite
que eu gostaria que fosse, foi o limite da raiva, mesmo.
— Você quer que eu vá embora? — Ele foi caminhando em minha
direção, passo a passo, até segurar meu rosto entre seus dedos. Sentia o
cheiro do álcool irradiar dele.
— Não, não.
— O que vai fazer?
— Fazer algo que eu devia ter feito desde o terceiro capítulo desse
livro. Tirar os olhos de você e seguir com a minha vidinha, se for preciso.
— E eu? — perguntei.
— Você? Você vai ficar com o seu orgulho, caso decida ficar longe de
mim.
Eu estremeci totalmente, sentindo como se uma faca invadisse meu
peito e como se alguém batesse na minha cara enquanto ria.
— Desculpa. Por ontem e por tudo.
— Esse é o seu problema. Mas, agora, isso aqui... — Se afastou de
mim. — Não se trata de problemas, se trata de soluções.
Puta que pariu!
Paralisei e fiquei olhando para ele, em pé, de costas para mim,
tomando uma decisão que eu não sabia se seria boa ou ruim.
Eu tinha que o alcançar novamente, o homem que estava na minha
frente.
Então eu me levantei, tomei a decisão mais irônica e mais absoluta da
minha vida, por impulso.
Ele não queria solução? Ele teria.
Eu tive que segurar as lágrimas e o riso antes mesmo de eu declarar
tudo.
Aproximei-me dele e o puxei pela mão, ficando com a esquerda dele
apertada debaixo da minha. Eu deixei uma lágrima... assim, uma bem
pequenininha, cair.
E então eu sorri.
E ele... Bem, ele me olhava com uma expressão confusa e misteriosa.
— Lorenzo — eu falei, sussurrando. — Quer casar comigo?
Essa porra não podia estar acontecendo logo comigo.
Eu estava jogando tudo que tinha dentro de mim dentro da merda de
um vaso. Era vergonhoso. Quer dizer, eu fazia isso enquanto Carolina estava
na porta do banheiro, me olhando depois de ter me pedido em casamento.
Querem que eu soletre “casamento” ou “vomitando”? De qualquer
maneira, nada tornava o momento uma grande confusão. Eu estava
vomitando!
Muito.
Olhei para ela e disse:
— Carol. — Mais uma vez a bile subiu. — Por favor, me
espera no quarto.
— Lorenzo — ela chama, preocupada.
— Anda, amor, não quero que você me veja assim...
— Lorenzo, eu não me importo.
— Mas, eu, sim. Anda, eu já te dou sua resposta — falei alto e
ela até tentou se aproximar, mas eu balancei a cabeça em negativa e aí sim ela
saiu do banheiro.
Respirei fundo. Se eu soubesse disso, não teria bebido tanto.
Okay... casamento.
Queria beber de novo.
Levantei e encarei meu reflexo no espelho, observando a barba sem
fazer, os olhos fundos... Peguei minha escova e a pasta de dente. Eu precisava
de uma desinfecção na boca.
O gosto da cerveja era terrível!
Casamento.
Carolina e eu casados.
Comecei a achar que podia aceitar isso.
Não, espere... por que raios ela queria isso? Depois do dia anterior, de
dormir longe de mim, de querer meu fígado em um prato de cristal.
Ela tinha tanto medo assim de me perder?
De perder a gente?
Isso indicava que não era só eu nisso. Sabe aquela parada de apenas
um tentando? Então, agora eram os dois.
Talvez fosse uma maneira precipitada, mas era a maneira dela.
E, caramba, eu ainda estava tonto com tudo aquilo.
Indicava que ela não gostava de brigar comigo, com o amor da vida
dela.
Que fofo!
Ah, e claro, ela era o amor da minha vida também.
Ela nunca me esqueceria e eu jamais a esqueceria tão fácil. Não tinha
jeito. Havia terminado, acabado. Desligaríamos as televisões, o celular,
fecharíamos o aplicativo e olharíamos para o horizonte, imaginando nós dois
no altar. Não, espera... Eu precisava melhorar isso, certo?
Ela estava vindo em minha direção, toda de branco e... por Deus!
Minha imaginação ainda estava sob efeito do álcool.
Balancei a cabeça e, depois de duas escovações completas, dei um
sorriso confiante para o espelho.
Eu conseguiria.
Eu conseguiria ser o pilar de uma empresa de milhares de
funcionários.
Conseguiria fazer o possível e alguns impossíveis.
Saí do banheiro e eu olhei para ela, sentada em um lado da cama,
encolhida. Me aproximei e juntei-me a ela.
Eu estava com um grande nervosismo.
— Pronto. Estou pronto, Carolina. — Ela me encarou por
alguns segundos, depois olhou para o chão. — Você me pegou de surpresa.
Ainda mais depois que me disse ontem que a gente nem ia se casar, lembra?
— Desculpa, eu só estava... irritada.
Era compreensível. Eu também estava.
Respirei fundo, sabendo que precisava falar.
— Eu pensei em tudo, se eu te fazia bem, e acho que eu
sempre quis bem a você. Eu sou assim, Carolina. Sou aquilo que você
conheceu nesses meses comigo, sou isso e mais um pouco, e algumas coisas
você vai conhecer com o tempo, detalhe por detalhe.
— Eu sei, eu também sou isso que você conheceu, mas tenho
mais coisas dentro do mim e pode não ser agora e nem amanhã que eu vou
conseguir dizer ou lhe mostrar tudo o que sou, Lorenzo. — Eu sorri para ela,
passando confiança. — Mas, uma hora acontece e pode ser divertido ou
muito trágico.
— Eu sei, eu sei — falei e me virei para ela, que fez o mesmo.
— Quero três motivos para fazer o pedido. Três, querida.
Ela pareceu pensativa, mas, ao mesmo tempo, sem medo nenhum.
Aquela era a mulher que eu havia escolhido.
Eu poderia citar várias coisas, porém, não era desses. Eu sei e não vou
dividir com ninguém.
— Eu confio em você, Lorenzo. Ficaria na frente do seu carro
e não teria medo disso. Você tem qualidades perfeitas como homem para uma
mulher, ou com os outros, e eu amo você, caramba! Você é um homem de
virtudes e caráter, mesmo sendo todo esse safado e com o ego enorme. Você
é bom em fazer as coisas, como amigo, como pessoa e como homem.
Ela suspirou. Parecia satisfeita.
Agora era a hora, mas eu precisava confirmar se era para sempre. Eu
só me casaria uma vez. Apenas uma.
Essa era minha promessa de vida. Você devia fazer o mesmo.
— Você vai me querer quando eu estiver com meus oitenta
anos? Com minha dentadura e meus cabelos brancos, Carolina? Com minha
incontinência ou... ou careca? Meu avô era careca.
Okay, soou muito mal incontinência. Mas eu precisava saber se era até
o fim.
E tinha uma ponta de emoção dentro de mim.
— Vai me aceitar também quando for velinha? — Ela sorriu e
se levantou. — Você é a quarta pessoa que eu mais amo nessa vida, Lorenzo.
Eu sei disso.
— Quarta?
— Minha mãe, meu pai e Camila. Eu levaria um tiro por eles.
— Ela pegou minhas duas mãos e as apertou. — E agora você entrou nisso.
— Eu aceito.
Falei rápido. Nem sabia o porquê, caramba! Eu havia ficado tão
nervoso ao pronunciar a palavra, acho que estava emocionado.
Sério, emocionado mesmo.
Profundamente, como nunca pensei estar.
Então eu respirei fundo e senti meus olhos cheios d’água.
Homem chora, saibam disso. E, não, não precisa chorar comigo e
muito menos rir.
Carolina se aproximou e me abraçou, então eu decidi apenas apertá-la
e fechar os olhos.
Por algum motivo eu me lembrei do meu pai, e logo da minha mãe,
aquilo fez algo dentro de mim se apertar forte.
Meu pai perdeu minha mãe, eu a perdi. Eu sempre tive família e
lembro que minha mãe preferiu ir para casa a ficar no hospital antes de
morrer.
Eu já disse que odeio hospital, e é exatamente por isso, porque sempre
que eu entrava em um, algo me dizia da morte. Meu pai amou minha mãe na
saúde e na doença, até que um dia, em um piquenique, ela deu seu último
suspiro. Eu estava ao lado dela, desenhando, e meu pai também. Meu pai foi
separado dela pela morte. Não porque quis.
E agora, com Carolina, eu sentia algo assim, que só a morte poderia
fazer algo com a gente.
Eu comecei a chorar no ombro dela. Carolina enfiou os dedos no meu
cabelo e eu senti um conforto.
— Você... você... está chorando, Lorenzo? — A voz dela veio
fraquinha, como se tivesse algo muito triste ou surpreendente acontecendo.
— Só me abraça, amor. Só me abraça.
Quero deixar claro que eu ainda estava sob o efeito do álcool. Só um
pouco.
— Vou te fazer muito feliz, Lorenzo.
— Eu sei, amor da minha vida. Eu sei.
— Por que está chorando?
— Eu estou feliz, Carolina. Feliz demais e um pouco alterado,
ainda, mas eu sei que eu disse sim para você.
— Quer tomar um banho?
Eu me afastei do aperto dela e olhei para seus olhos, levando minha
mão até sua bochecha e a vendo se encostar nela. Depois baixei meu rosto e
beijei o caminho até o ombro dela, levado pelo momento, mordi a carne.
— Carol, me promete uma coisa? — Ela balançou a cabeça e
gemeu. — Se nossos filhos perguntarem, você diz que foi eu quem te pediu
em casamento?
Então eu terminei tudo como eu comecei. Com o amor da minha vida.
Ontem, hoje, amanhã, dali a meses e anos, até que a morte — somente
ela e nenhum outro filho da puta — separasse a gente.
Eu podia estar com os olhos vermelhos, com uma excitação
monstruosa, mas tudo tinha nome. Tudo tinha uma razão.
Carolina Lelis.
E, caramba, para um cara que só olhou para os peitos primeiro, se
apaixonar e amar era fodidamente louco.
Você não quer só o hoje com essa pessoa, você quer o amanhã.
Enquanto eu vivesse, ela me chamaria de amor.
Enquanto ela vivesse, eu a chamaria de amor.
Ah, claro, sem me esquecer...
Enquanto nós vivêssemos juntos, ela sempre iria me gritar e dizer o
quanto eu era bom, o quanto eu era legal, o quanto era ótimo em ser o seu
dono.
E, por fim, o quanto era bom em ser o dono do sexo.
Para um Maldini, tudo tem continuação.
O dia estava bonito, os pássaros cantavam do lado de fora da
janela, longe de mim, porque eu não gostava de pássaros.
Havia um sol que iluminava o dia, o céu limpo e com previsão de
pancadas de chuva para a parte da noite.
Eu tinha algo muito importante à noite. Algo fodidamente bom
demais.
Na verdade, eu estava prestes a anunciar para minha doce e adorável
família sobre o noivado com a Lelis. Havia pedido ao meu pai que sua nova
mulher, minha tia e companheira, estivessem presentes.
— Lorenzo, eu preciso falar com você agora! — Eu olhei para a
porta, desviando toda a atenção dos papéis e dos meus pensamentos, para o
loiro que havia entrado como um furacão na minha sala. — Aqui — falou,
jogando a chave do meu carro na mesa e puxando a cadeira para mais perto.
Ele estava só com a camisa branca, seu cabelo era uma zona e tinha os olhos
fundos.
— Fico satisfeito com sua rapidez em resolver o problema com
meu carro.
— Me custou alguns zeros, mas está aí — ele disse rápido, e eu
o olhei com preocupação.
— Algum problema, Pedro?
Houve uma pausa.
— Não... sim. Eu fui fértil, Lorenzo, muito fértil.
Fiquei parado, olhando para o loiro, não sabendo o que dizer.
Na verdade, eu estava paralisado no lugar.
Que porra era aquela?
— Como assim? — perguntei.
— Okay. Era isso que você estava fazendo todo esse tempo? É
por isso que me ligou... — Eu parei. — Pedro, você vai ser pai?!
— Sim, eu vou ser pai, e a mãe é a Camila. Não é foda?!
Eu abri e fechei a boca.
Fiquei assimilando a parte irônica e sarcástica da fala de Pedro
Leonel.
— Camila? Que Camila? — Foi aí que eu senti o ar me faltar. O
loiro parou e ficou me olhando, eu me levantei. — Pedro, que Camila é essa?
Responda, seu infeliz!
Tentei me aproximar dele, mas o filho da mãe se afastou.
— Você disse que iria ficar do meu lado.
— Pedro, que Camila é essa? — gritei.
— Lorenzo, eu preciso que fique calmo. Não queremos um
enterro.
— Vá à merda, filho da mãe! Me responda o que te perguntei,
seu arrombado!
Eu tentei me aproximar de novo.
— Fique aí onde você está — ele pediu, indo para atrás da
minha mesa. — Eu não queria que as coisas chegassem até aqui, você sabe,
mas essas coisas acontecem, Lorenzo.
— Pedro, pelo amor de Deus, não me diga que é a Camila que eu
estou pensando! — Eu senti o chão sumir dos meus pés. — Eu fiquei noivo
da Carolina nessa viagem, então me diga que você não engravidou a irmã
dela. Só me diga isso, por favor.
— Você vai casar?!
Eu vi os olhos de Pedro.
Ele piscou várias vezes.
Ele balançou a cabeça, confirmando tudo.
— Me desculpe, primo, mas foi a irmã da Carolina mesmo que
eu engravidei.
Eu arregalei meus olhos.
Não.
Não.
Não.
Não.
Não poderia ser possível. Carolina iria me odiar.
Vi Pedro se aproximar de mim.
Puta que pariu, eu vou matar você! — falando isso, eu fui
—
para cima dele com toda a raiva do mundo.
Pedro não havia só começado a terceira guerra mundial ao fazer
aquilo com Camila, mas havia tirado toda a estabilidade que se encontrava
entre mim e Carolina.
E aquilo, aquilo agora era problema dele. Ele iria se virar para colocar
a paz na porra toda.
Ah, isso depois que eu quebrasse pelo menos um osso do corpo dele.
[1]
Vá para o inferno.
[2]
Vá você!