Trabalho Patrimônio

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PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL BRASILEIRO: REFLEXÕES

SOBRE A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL E A


CONCEITUALIZAÇÃO DE PATRIMÔNIO.

Lethícea Holanda Pinto

Resumo: Este artigo tem por fim discorrer sobre o conceito de brasilidade e suas
relações com os conceitos de patrimônio cultural e patrimônio histórico, mostrando a
importância dos mesmos para a formação da identidade nacional e a trajetória tanto do
conceito de patrimônio em si quanto da preservação do mesmo.
Abstract: This article has finally to talk about the concept of brazilian and their
relations with the concepts of cultural heritage and historical heritage, showing the
importance of the same for the formation of the national identity and the route as much
of the concept of heritage as of the preservation of the same.

A concepção de que o povo brasileiro é composto a partir da miscigenação


entre brancos, negros e índios (“mito das três raças”, tal como DaMatta chama esse
conceito) é amplamente difundida e aceita. “Cada uma dessas raças contribuiria para a
formação de nosso povo que teria como traço distintivo justamente ser fruto da mistura
das três raças originais”. (NAJJAR, 2005, p. 348)

Embora esse conceito, aparentemente, vise a importância das três culturas para
a formação da identidade brasileira, ainda há uma visão turva em relação às culturas
africana e indígena, que são homogeneizadas, ainda hoje, nos livros didáticos, que
apresentam uma ideia de: um índio, um africano, uma cultura generalizada. É preciso
analisar um povo, seja ele indígena ou africano, não como um único tipo, mas com a
perspectiva de que são subdivididos em tribos diferentes, com dialetos, costumes e
culturas diversificadas.

Apesar do mito das três raças ser baseado na premissa de que ser brasileiro é
ser também, em parte, índio e africano, isso não implica numa igualdade cultural, muito
pelo contrário, a cultura do português colonizador sobrepõe-se às outras duas.

No Brasil, em 1937, é criado o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional), o conceito de patrimônio em 37, estava relacionado apenas às
construções portuguesas, restringindo as culturas ameríndia e africana. Rodrigo Melo
Franco de Andrade, primeiro diretor do SPHAN (hoje IPHAN), defendia a ideia de que
as culturas africana e indígena eram meros resquícios de uma etapa ultrapassada de
nossa história. Desvalorizando, assim, não só a participação destes na formação da etnia
brasileira, mas o conceito de patrimônio cultural nacional em si.

Essa perspectiva de patrimônio vinculada aos bens ibéricos, muda quando


Aloísio Magalhães assume a direção SPHAN, ocorrendo uma valorização da cultura
popular. “Aloísio lida com a cultura enfatizando muito mais o presente do que o
passado, tentando ver os bens culturais no contexto da vida cotidiana da população”.
(NAJJAR, 2005, p. 355). Exemplo disso foi o tombamento do Terreiro da Casa Branca,
em Salvador.

O tombamento deste terreiro de Candomblé, ainda em pleno


funcionamento, que não possui qualquer característica arquitetônica
memorável, mostra-se importante não só pela perspectiva de pensar
uma atividade religiosa fora da Igreja Católica como manifestação
cultural relevante para o patrimônio nacional, mas, também, por já
apontar a necessidade de preservar manifestações culturais imateriais.
(NAJJAR, 2005, p. 356)
Apesar do SPHAN só ter sido criado em 37, já na década de 20 figuras como a
de Mário de Andrade ligado aos modernistas, já apresentavam a preocupação de
preservar o patrimônio nacional, o objetivo não era mais edificar uma ideia de Brasil
baseada em noções raciais e sim procurar uma identidade nacional. “Mário de Andrade
mostrou-se inovador, dando atenção às manifestações tanto eruditas quanto populares,
algo incomum naquela época, que normalmente privilegiava o erudito em detrimento do
popular”. (TOMAZ, 2010, p. 9)

O patrimônio histórico não é somente prédios, monumentos, casarões antigos,


entre outros, vai além da construção em si e focaliza o valor simbólico de determinado
monumento, que conta a história de uma geração, seja através da arquitetura, mobília,
utensílios, ferramentas, transportes, dentre outros. “Cada edificação, portanto, carrega
em si não apenas o material de que é composto, mas toda uma gama de significados e
vivências ali experimentados”. (TOMAZ, 2010, p. 2) O patrimônio histórico é
imprescindível para a compreensão da identidade histórica de uma época, seja ela qual
for, uma vez que, preservar o contexto histórico é também manter vivo os costumes e
usos populares de uma sociedade.

Preservar não é só guardar uma coisa, um objeto, uma construção, um


miolo histórico de uma grande cidade velha. Preservar também é
gravar depoimentos, sons, músicas populares e eruditas. Preservar é
manter vivos, mesmo que alterados, usos e costumes populares. É
fazer, também, levantamentos, levantamentos de qualquer natureza, de
sítios variados, de cidades, de bairros, de quarteirões significativos
dentro do contexto urbano. É fazer levantamentos de construções,
especialmente aquelas sabiamente condenadas ao desaparecimento
decorrente da especulação imobiliária. (LEMOS, 2010, p. 29)
Não devemos encarar o patrimônio histórico como algo estagnado, visto que,
esse patrimônio está ligado a processos históricos e que esses monumentos representam
uma determinada época, contam a história de um período e nos fazem refletir os
processos e transformações que a sociedade brasileira já passou e continua passando,
porque a História é um fluxo contínuo de eternas transformações.

CONCLUSÃO

Sendo assim, o conceito de patrimônio histórico e patrimônio cultural não são


divergentes, mas se complementam, visto que, preservar a história de um povo também
é manter viva sua cultura. “Com a alteração do conceito de patrimônio cultural para
dimensões mais amplas, surgiu à necessidade de se preservar não apenas os
monumentos tidos como valor histórico, mas a diversidade de manifestações culturais
que se mostram presentes em uma determinada sociedade. Essa nova forma de pensar a
preservação do patrimônio cultural e sua repercussão nos organismos nacionais
possibilitam uma maior abrangência em sua esfera de atuação, permitindo-se ampliar a
valorização e a preservação das mais variadas manifestações culturais tão latentes em
nossa sociedade”. (TOMAZ, 2010, p. 12)
REFERÊNCIAS

LEMOS. Carlos A.C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo, Editora Brasiliense,
2010.
NAJJAR. Jorge. O Indígena e a Construção da Ideia de Brasil: Reflexões Sobre
Patrimônio, Identidade e Cidadania. Goiânia, Habitus, 2005.

TOMAZ. Paulo. A Preservação do Patrimônio Cultural e Sua Trajetória no Brasil.


2010

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