As Grandes Doutrinas Económicas
As Grandes Doutrinas Económicas
As Grandes Doutrinas Económicas
Sempre foi assim através dos tempos. Nas comunidades primitivas, o homem
preocupava-se com a caça, a pesca e com a segurança do lar. A mulher cuidava
pessoalmente da casa e dos filhos, ou administrava os serviços executados por
serviçais. Havia uma divisão do trabalho, que naturalmente variava em parte de
uma comunidade para outra, de acordo com os costumes. Essa divisão do
trabalho evoluiu através dos tempos. Parte dos bens e serviços obtidos
domesticamente passaram a ser produzidos fora da casa ou da comunidade, por
pessoas que se especializavam em determinadas profissões; estes foram os
artífices ou artesãos. Mais tarde, surgiram as fábricas e o trabalho passou a ser
assalariado, dando início ao modo de produção capitalista.
Aristóteles critica a crematística por ela desviar a moeda da sua função de medida
comum dos valores. Acumular moeda permitia adquirir quaisquer bens em
qualquer momento. Ao ganhar a categoria de "capital", a moeda abandonava a
sua função "natural". Com o mesmo argumento, condena o empréstimo sem juros.
Apareceram, então, muitos apologistas da vida rural, que ficaram conhecidos por
"scriptores de re rustica". Neles se incluem Cícero e Séneca, Plínio, Horácio e
Virgílio. Defendem o ideal do pequeno agricultor autónomo, que vive na terra que
cultiva e que observa os austeros e sóbrios costumes dos seus antepassados,
livre da atracção do luxo e dos vícios. "Nada melhor, nada mais digno do homem
livre, do que a agricultura." afirmava Cícero. Além de elogiarem a agricultura,
condenam o empréstimo a juros e o comércio em geral.
Com São Tomás de Aquino, aparece uma Noção de Propriedade que não é
imposta pelo direito natural, mas sim "conforme" ao direito natural. A propriedade
foi criada para utilidade da espécie humana, e não para utilidade de qualquer
homem em particular. Mas é o próprio interesse geral dos homens a exigir que a
propriedade esteja confiada a detentores individuais. A propriedade não é
absoluta. O proprietário desempenha uma função social, não tendo apenas
direitos, mas também deveres.
As Doutrinas Mercantilistas
Para os países que não exploravam directamente minas de ouro ou prata, não se
punha o problema de conservaar os metais preciosos, mas o de os atrair.
Em 1716 funda um banco particular por acções, que era simultaneamente banco
emissor, banco de depósitos e banco de desconto, que se tornou um banco
comercial e que em 1718 se converte em banco real. Durante a sua actividade
emite notas do banco que não estão inteiramente cobertas pela reserva metálica
existente. As sucessivas emissões levantaram a desconfiança e a experiência de
Law acabou numa catástrofe financeira. Percursora do moderno sistema bancário,
esta experiência contribuiu para retardar o desenvolvimento dos bancos devido ao
seu fracasso.
Os Fisiocratas
Esta teoria inspirou Diderot e certos aspectos da Revolução Francesa, teve como
discípulos muitos soberanos e influenciou o próprio Adam Smith.
Cada indivíduo saberá, natural e livremente, encontrar o caminho que lhe é mais
vantajoso. É desnecessária qualquer coacção social. “É da essência da ordem
que o interesse particular de um só não possa separar-se do interesse comum de
todos, e é o que sucede sob o regime da liberdade. É a doutrina do laisser faire.
Ao governo cabia-lhe suprimir os entraves criados à ordem natural, assegurar a
propriedade e a liberdade, descobrir as leis naturais e ensiná-las.
A – Adam Smith
Nesta obra, Adam Smith não repele as ideias dos seus antecessores, refunde- as
e ultrapassa-as. De Quesnay e dos fisiocratas, reteve o que considerou vivo (o
liberalismo, as ideias relativas à distribuição, ao rendimento e ao comércio),
desprezou o que considerou errado (a preponderância da agricultura), e repensou
o que carecia de nova análise (a divisão do trabalho e a utilidade).
Adam Smith proclama que as virtudes inferiores (os desejos e os gostos), como
instintos naturais, conduzem a sociedade ao conforto e á prosperidade. Para ele, a
conduta humana é condicionada por seis determinantes: amor-próprio, simpatia,
ânsia de liberdade, instinto de propriedade, hábito de trabalho, propensão para a
troca. Assim condicionado, cada homem é o melhor juiz dos seus interesses e
deve ter a liberdade de os realizar segundo a sua livre vontade. A sociedade e as
instituições frustram a realização das inclinações naturais dos homens e
prejudicam o seu equilíbrio natural, espontâneo. A sua concepção de uma ordem
natural leva-o a condenar a intervenção do estado.
Adam Smith considera que o imposto deveria recair sobre o trabalho, sobre todos,
portanto, em função das suas possibilidades (rendimentos auferidos). E atribui à
diferente produtividade do trabalho o facto de umas nações serem mais ricas que
outras.
Deve-se a Adam Smith a distinção entre valor de uso e valor de troca. Designa por
valor de uso a utilidade que um qualquer objecto possui. O valor de troca depende
das variações da oferta e da procura do mercado. Aumenta com o aumento da
procura e diminui com o aumento da oferta. Este mecanismo equilibra-se
espontaneamente.
Destas opiniões procede uma doutrina liberal, que se traduzirá no “laissez faire,
laissez passer”.
B – David Ricardo
David Ricardo era um homem de negócios, com grande sentido abstracto como
demonstram as suas teorias, e com grande sentido prático, como demonstra a
fortuna que conseguiu.
C – Thomas Malthus
D – Jean-Baptiste Say
Submetido pelo seu pai a uma educação intensa e vasta desde os 3 anos, John
Stuart Mill (1806-1873) viria a ocupar um lugar de relevo na história das doutrinas
económicas e na história do pensamento filosófico. Como político foi individualista
liberal, tendo sido as suas preocupações políticas e sociais a levarem-no à lógica
e à especulação filosófica. Na sua obra encontram-se
Para Stuart Mill, as leis naturais não são providenciais e finalistas, como
pensavam os fisiocratas e os liberais optimistas. Eram simplesmente leis naturais,
em tudo semelhantes à do mundo físico. Universais e permanentes porque, em
todos os tempos e em todos os lugares, as necessidades essenciais dos homens
são as mesmas. Por esse motivo, a ciência económica deve preocupar-se com o
estudo de um tipo abstracto de homem: o “homo economicus”. As leis naturais que
regem o comportamento do “homo economicus” são as seguintes:
b) lei da livre concorrência – se cada indivíduo é o melhor juiz dos seus interesses,
deve ter a liberdade de escolher o caminho para os realizar – laisser faire e livre
concorrência;
c) lei da população – teses de Malthus;
e) lei do salário – distingue entre salário corrente, determinado pela lei da oferta e
da procura, e salário natural, determinado pelo custo de vida do trabalhador;
f) lei da renda – Stuart Mill amplia a lei de Ricardo para os produtos agrícolas a
todos os produtos manufacturados;
g) lei da troca internacional – a troca entre países proporciona a cada parte uma
economia de uma quantidade de trabalho, que representa um ganho a favor do
país importador.
Para Stuart Mill, é o país mais pobre e menos industrializado que mais lucra com
as importações que realiza.
Embora fiel ao liberalismo, Stuart Mill preocupa-se com a “justiça social”. Distingue
os fenómenos da produção, subordinados a leis naturais que os homens não
podem modificar, dos fenómenos de repartição, subordinados a leis contingentes,
que os homens estabelecem. “A sociedade pode submeter a distribuição da
riqueza às regras que lhe parecerem melhores.” As duas tendências, liberal e
intervencionista, revelam-se paralelas na sua obra. Stuart Mill defende a pequena
propriedade agrícola e o desenvolvimento de cooperaticvas de produção. A
criação de cooperativas agrada-lhe, porque transforma a classe trabalhadora em
classe capitalista. “As distinções de classe serão suprimidas, e só haverá as
distinções relativas aos méritos pessoais.”
Critica o direito sucessório por contrariar o princípio da “igualdade do ponto de
partida”. “Que haverá de mais individualista”, pergunta Gonnard, “que esta
concepção que, abolindo o auxílio que os antepassados trazem ao indivíduo,
pretende que tudo recomece com este e, a cada geração, enfileira os homens,
quais cavalos de corrida aguardando o sinal de partida?”
(fim da 4a parte)
“Uma nação normal possui uma língua e uma literatura, um território provido de
numerosos recursos, extenso, bem delimitado, uma população considerável.
Possui forças de terra e mar suficientes para defender a sua independência e para
proteger o seu comércio externo. Exerce influência no desenvolvimento das
nações menos adiantadas que ela e, com a maior plenitude da sua população e
dos seus capitais intelectuais e materiais, funda colónias e dá origem a novas
nações. Eis o tipo da nação ideal, para a qual deve tender toda a nação.”
Henry Carey (1793-1879), filho de um irlandês que emigrara para o Novo Mundo,
foi primeiramente um liberal optimista, orientação patente no seu estudo de 1835
sobre os salários. Mas, por volta de 1842, converteu-se ao proteccionismo, em
consequência da crise de 1837-42. Defende a protecção aduaneira, não como
medida temporária, mas como regime de longa duração.
Na sua obra Principles of Social Science, Carey opõe uma análise vigorosa a
Ricardo e Malthus, critica a escola clássica e expõe o seu proteccionismo
nacional. Ao contrário de List, dá uma importância primordial à protecção da
agricultura.
“Depois de ter indicado qual é, a meu ver, o princípio onde reside a justiça, não me
sinto com forças para indicar os meios de realizá-la. A distribuição dos frutos do
trabalho pelos que concorrem para os produzir parece-me viciosa; mas considero
quase acima das forças humanas conceber um estado de propriedade
absolutamente diferente daquele que a experiência nos fez conhecer.”
(fim da 5a parte)
VI – O Socialismo
Trata-se de uma corrente muito antiga, que se pode filiar na República, de Platão,
e que foi tendo diversos representantes: Thomas Morus (1478-1535), autor de
“Utopia”; Gabriel de Mably (1709-1785), que denuncia os defeitos da propriedade
e tenta demonstrar a existência de estados comunitários; William Godwin (1756-
1836), que, em “Caleb Williams” e “Inquérito sobre a justiça humana”, defende a
ideia de que a necessidade deve ser o único critério da repartição; Babeuf (1764-
1797) afirma que “essa igualdade transcrita na Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão” não é suficiente e preconiza uma igualdade real. Todos
representam uma atitude de protesto contra o regime de propriedade e a situação
das classes inferiores.
A – Saint Simon
B – Robert Owen
Ao contrário dos liberais, não aceitam a ideia de uma “ordem natural”, espontânea
e harmónica. Por intermédio das associações procuram oferecer aos homens “um
novo meio”, embora em certos trechos dos autores associacionistas esse novo
meio (a associação, a cooperativa, a comuna) seja apenas um processo de
“colocar a sociedade em harmonia com a natureza”(Owen).
Outra forma de suprimir o lucro era a restituição dos lucros que as cooperativas
realizariam na proporção das quotas dos seus associados. A associação
corporativa basta para assegurar a glória de Robert Owen, e é o aspecto do seu
pensamento que tem real actualidade; mas é necessário não esquecer que Owen
empreendeu experiências colectivas de verdadeiro carácter comunista, como a
colónia Nova Harmonia, que durou dois anos e fracassou.
C – Charles Fourier
D – Louis Blanc
E – Pierre-Joseph Proudhon
O processo para atingir este objectivo era a criação do crédito gratuito, o qual se
obteria organizando um banco pela associação de todos os homens que
desejassem usufruir dos seus benefícios. O “banco de troca” não tem necessidade
de capitais, emite valores de troca que não são convertíveis em moeda e que os
associados receberiam em troca das suas mercadorias e serviços. A confiança
mútua dos associados garante a circulação e a geral aceitação dos valores de
troca. Deste modo, os antagonismos entre trabalhadores e operários
desapareceriam automática e pacificamente, dado que, eliminada a fonte de
rendimentos sem trabalho, só existiriam trabalhadores iguais, que permutariam os
seus produtos e serviços pelo preço de custo.
F – Rodbertus e Lassalle
Rodbertus não aceita o conceito liberal de que as sociedades são organismos que
automaticamente atingem o equilíbrio pelo livre jogo das leis naturais. “Os Estados
não têm a felicidade ou infelicidade de as suas funções vitais se realizarem por si
próprias, graças a uma necessidade natural. São organismos históricos que se
constituem por si mesmos e devem estabelecer as próprias leis e os próprios
órgãos: por consequência, as funções destes órgãos não podem também exercer-
se por si: compete ao Estado dirigi-las livremente, mantê-las e desenvolvê-las.”
Rodbertus, que queria “um sistema de direcção pelo Estado”, era um “monárquico,
nacional e social”. Considera que no regime liberal não há possibilidade de afirmar
que se procura ajustar a produção à necessidade social, porque a produção se
relaciona sempre, e apenas, com a procura efectiva, aquela que é determinada
pela posse da moeda. Só se satisfazem as necessidades daqueles que já
possuem alguma coisa.
O salário não passa durante muito tempo acima desta média, porque isso
suscitaria um aumento da população operária e, consequentemente, a recondução
do salário ao seu antigo nível. Também não pode descer abaixo dessa
subsistência necessária durante muito tempo, porque, em consequência da
miséria, cresceria a emigração, o celibato, e diminuiria o número de operários,
voltando o salário a subir para o nível anterior. Esta lei é, simplesmente, uma nova
formulação da teoria, de Ricardo, do salário necessário.
Wagner afirmava que existe entre os indivíduos e as classes de uma nação uma
solidariedade moral muito mais forte do que a solidariedade económica. Entendia
que o Estado devia assegurar a justiça na distribuição da riqueza, melhorar as
condições de vida da classe operária, criar instituições de interesse público.
Bismark compreendeu a vantagem da difusão das ideias do socialismo de Estado,
tanto no combate ao liberalismo como na luta contra o socialismo revolucionário,
e, embora tenha adoptado algumas medidas de carácter social, aproveitou-se do
prestígio da doutrina para fortalecer o Estado.
G – William Thompson
H – Karl Marx
existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as relações de
O capitalismo surge como uma troca de não equivalentes. Por isso, em vez de
harmonia e equilíbrio, manifestam-se no seu seio forças de desequilíbrio e rotura.
A massa dos produtores não pode consumir o que produz. Para Marx, a
contradição principal não é a que existe entre produção e consumo, mas entre o
carácter socialmente produtivo do trabalho e a apropriação privada dos produtos
do trabalho.
Bibliografia