2º Edição Do Manual Do Gestor Hospitalar
2º Edição Do Manual Do Gestor Hospitalar
2º Edição Do Manual Do Gestor Hospitalar
1
VOLUME 2
DIRETORIA DA FBH DIREÇÃO E COORDENAÇÃO
Presidente DO PROJETO –
Adelvânio Francisco Morato VIVA COMUNICAÇÃO GROUP
Vice-Presidentes Coordenação-Geral
Altamiro Bittencourt Viviã de Sousa
Eduardo de Oliveira
Coordenação Científica
Manoel Gonçalves Carneiro Netto
Andréa Prestes
Reginaldo Teófanes de Araújo
José Antônio Ferreira Cirino
Francisco José Santiago de Brito
José Pereira Produção Executiva
Mauro Duran Adan Rosana Oliveira
Álson Sousa Miranda Redator
Secretário-Geral Felipe Nabuco
Luiz Aramicy Bezerra Pinto Autores
Secretário Adjunto Allan James Paiotti
Ivo Garcia do Nascimento Ana Cristina Barbosa Pontes
Andréa Prestes
Diretor-Tesoureiro
Gilvane Lolato
Mansur José Mansur
Hilmara Souto Mendes Moreira
Tesoureiro Adjunto J. Antônio Cirino
Glauco Monteiro Cavalcanti Manso Josenir Teixeira
Diretor de Atividades Culturais Luiza Watanabe Dal Ben
Marcus Camargo Quintella Marcelo Accetta
Miquéias Alves Santos
CONSELHO FISCAL Paulo Salmão
Membros Efetivos Péricles Góes da Cruz
Fernando Antônio Honorato da Silva e Souza
Leonardo Gigliotti Barberes
Edivardo Silveira Santos
Membros Suplentes
Roberto de Oliveira Vellasco
Maurício Souto Maior
Benno Kreisel
ASSESSORES DA DIRETORIA
Leonardo Rocha Machado
Ibsen Pontes Moreira Pinto
VOLUME 2
ORGANIZADORES
Andréa Prestes
José Antônio Ferreira Cirino
Rosana Oliveira
Viviã de Sousa
Brasília
Federação Brasileira de Hospitais – FBH
2020
ASSOCIAÇÕES
AHCES – A
ssociação de Hospitais, Clínicas e Prestadores de Serviços
da Área de Saúde do Espírito Santo
UMÁRI
SUMÁRIO
8
PÁG. 10 Autores
PÁG. 16 Palavra do Presidente
PÁG. 18 Prefácio
PÁG. 22 Introdução
CAP. 3 Compliance
PÁG. 54
AUTORE
AUTORES
10
Allan James Paiotti
Executivo, possui MBA em Gestão e Administração de Negócios pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e MBA em Gestão e Liderança pela
Universidade de Harvard (Estados Unidos); formado em Biologia e
Genética pela Universidade de São Paulo (USP). Liderou a GuardeAqui Self
Storage, maior empresa brasileira no mercado de autoarmazenamento,
tendo passado por grandes instituições como Grupo Libra, Klicknet,
Phoenix Strategic Financial Advisors, HeliSolutions, Officemax, Lig-Lig e
Booz-Allen & Hamilton. Possui mais de 25 anos de experiência na área
financeira e na liderança de companhias de diversos segmentos. Atua
nas áreas financeira, de suprimentos, de relações com o mercado, de
engenharia e de manutenção.
Andréa Prestes
Administradora com MBA em Gestão Hospitalar, especialista em
Qualidade nos Serviços de Saúde - Acreditação, Master Black Belt em
Lean Six Sigma, Life, Executive e Positive Coach. Mestranda em Gestão
da Saúde (ENSP, Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa, Portugal),
consultora e professora. Coordenadora científica do Manual do Gestor
Hospitalar, volume 1, da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), e
autora do capítulo “Liderança e Pessoas”, na mesma obra. Professora
conteudista da Organização Nacional de Acreditação (ONA). Ampla
experiência em gestão de hospitais de média e alta complexidades, com
atuação na direção de áreas estratégicas, administrativas, financeiras
e de apoio. Conduziu e participou de implantações de unidades
hospitalares (projetos, estrutura física, escopo de serviços, treinamento
e desenvolvimento de pessoas e equipes), em grandes e importantes
projetos no Brasil. É CEO e fundadora do Andrea Prestes Institute e
General Manager para Portugal, da American Accreditation Commission
International (AACI)
11
AUTORES
Gilvane Lolato
Mestranda em Gestão e Metodologias da Qualidade e Segurança
da Atenção em Saúde no Instituto Avedis Donabedian (Espanha);
especialista em Qualidade e Segurança do Paciente pela Universidade
Nova de Lisboa (Portugal); possui MBA Gestão em Saúde e Controle de
Infecção pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (Inesp); graduada
em Administração de Empresas pela Universidade Gama Filho (UGF).
Atua na gestão da qualidade em saúde há mais de dez anos, sendo,
também, docente. Gerente de Educação da Organização Nacional de
Acreditação (ONA). Fellowship ISQua.
J. Antônio Cirino
Comunicólogo, gestor de qualidade, professor e pesquisador, atuando
desde 2009 na área da Saúde. Doutor em Comunicação e Sociabilidade
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em estágio pós-
doutoral em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), no qual compõe o Núcleo de Estudos em Comunicação,
História e Saúde (NECHS) em interface com o Instituto de Comunicação
e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo
Cruz (ICICT/Fiocruz); mestre em Comunicação pela Universidade Federal
de Goiás (UFG); especialista em Gestão de Projetos pelo Instituto de
Pós-Graduação e Graduação (Ipog); Black Belt em Lean Six Sigma pela
FM2S Escola e Consultoria; graduado em Publicidade e Propaganda
pelo Instituto de Ensino Superior Rio Verde (IESRIVER) e em Gestão de
Marketing pela Universidade Paulista (Unip). Autor do livro "Gestão
da Comunicação Hospitalar", coordenador científico do "Manual do
Gestor Hospitalar" e organizador das obras “Mídias e Desigualdade”
e “Comunicação e Mídia: interfaces com a cidadania e com a cultura”.
Professor conteudista da Organização Nacional de Acreditação (ONA).
Editor-assistente da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e
Inovação em Saúde (Reciis/Fiocruz).
12
Josenir Teixeira
Advogado, mestre em Direito Civil pela Faculdade Autônoma de Direito
(Fadisp); pós-graduado em Direito do Terceiro Setor pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV), em Direito do Trabalho pelo Centro de Extensão
Universitária de São Paulo, em Direito Empresarial pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie e em Direito Processual Civil pela UNIFMU;
graduado em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (UNIFMU).
Membro da Comissão de Direito do Terceiro Setor e da Comissão de
Direito Sanitário da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São
Paulo (OAB/SP). Vice-presidente do Instituto Brasileiro de Advogados do
Terceiro Setor (Ibats). Professor e palestrante de temas ligados às áreas da
Saúde e do Terceiro Setor.
Marcelo Accetta
Economista e consultor sênior de Custos, com foco em Gestão de Custos
na Saúde. Especialista em Custos e Gestão da Saúde pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV). Ex-diretor financeiro na área hospitalar privada.
Professor do curso “Como Mapear a Rentabilidade e Tornar seu D.R.E.
Viável e Competitivo". Palestrante e professor da Associação dos Hospitais
do Estado do Rio de Janeiro (AHERJ) no tema Custos na Saúde. Consultor
de Custos do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Leste
Fluminense (SINDHLESTE).
13
AUTORES
Paulo Salmão
Doutor em Informática em Saúde pela Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp). Diretor do Instituto HL7 Brasil, consórcio internacional
de padrões em saúde. Fundador e CEO da DTO Sistemas em Saúde S/A,
empresa de interoperabilidade em saúde. Fundador e CEO da Katu,
empresa que criou o primeiro PEP na web do Brasil.
14
ALAVRA
PALAVRA
DO PRESIDENTE
16
DESENVOLVIMENTO E QUALIFICAÇÃO
PARA OS HOSPITAIS DO BRASIL
A Federação Brasileira de Hospitais (FBH) reconhece que a educação, a informação e a capacitação
dos gestores hospitalares e dos profissionais que atuam no segmento é o principal caminho para o
desenvolvimento e a qualificação da rede hospitalar. Foi por esse motivo que iniciamos, em 2019, uma
nova jornada, muito importante para a ampliação e a troca de experiências, com a apresentação do Manual
do Gestor Hospitalar para todo o país.
O primeiro volume do Manual do Gestor Hospitalar apresentou alguns dos principais temas
que são de fundamental importância para a compreensão de diversas áreas que englobam a gestão
hospitalar. E, para este segundo volume, trouxemos outros assuntos fundamentais para dar continuidade
ao trabalho iniciado com este projeto, destacando as informações e as melhores práticas adotadas
nas diversas temáticas que envolvem o segmento, com o objetivo de ser um instrumento que auxilie
o gestor e os profissionais da saúde para construirmos um Setor Hospitalar cada vez mais dinâmico,
qualificado e moderno.
Agradecemos a colaboração e a parceria dos autores e das instituições que participaram da
primeira e da segunda edições do Manual do Gestor Hospitalar, contribuindo com suas expertises para
levarmos informações estratégicas e úteis na tomada de decisão e na ampliação de novos caminhos e
experiências que promovam um excelente desempenho de suas atividades, para possibilitarmos um
atendimento cada vez melhor aos pacientes e aos usuários dos nossos hospitais.
Representar um segmento tão importante para as pessoas requer uma visão multidisciplinar,
técnica e estratégica para a melhoria do Setor Hospitalar brasileiro. Sabemos que a FBH construiu um
legado e uma trajetória de muitas lutas e desafios em mais de cinco décadas pela representatividade
e pela defesa dos hospitais.
É preciso avançar para conseguirmos ajudar os hospitais e suas equipes a cumprirem sua missão,
que também é a nossa, de atuar pelos melhores atendimento e cuidado com as pessoas. É necessário
inovar, agregando conteúdo, novas metodologias e tecnologias para possibilitarmos a todos o acesso à
informação adequada para a verdadeira qualificação e o desenvolvimento do Setor Hospitalar do Brasil.
Desejamos que este trabalho, construído com muita dedicação pela Federação e por parceiros
especiais, seja aproveitado por todos os gestores e profissionais do setor, e, juntos, com a participação de
cada um de vocês, construiremos um novo tempo para a saúde do nosso país!
Presidente
17
PREFÁCIO
PREFÁCIO
18
A ARTE DE GARANTIR O PERFEITO FUNCIONAMENTO
DE UMA COMPLEXA ENGRENAGEM
O aprimoramento do sistema de saúde brasileiro perpassa, necessariamente, pelo preparo de
seus líderes, sobretudo de atores que estão em posicionamento estratégico, capazes de compreender
e adequar-se às constantes transformações a que está submetido o setor para, a partir dali, prover
soluções que fortaleçam os elos de toda a cadeia produtiva. A gestão hospitalar, sem sombra de
dúvidas, é uma das áreas capitais nesse processo.
O hospital, ao longo da história, constituiu-se como uma instituição de grande apelo social,
sinônimo de recuperação, saúde e segurança. Entre munícipes das mais distintas regiões deste
imenso Brasil, a construção de unidades hospitalares para atender a população está entre as políticas
públicas mais demandadas. Isso apenas reforça a magnitude e a importância histórica deste valioso
equipamento social.
Compreendendo dessa forma, o gestor passará a conceber o seu trabalho como uma
missão, como a arte de garantir o perfeito funcionamento de uma complexa engrenagem, pois é
no estabelecimento hospitalar que encontramos a maior densidade de modernização tecnológica,
concentração de especialistas e capacitação técnica do Setor Saúde. Também é ali que são
desenvolvidos conhecimentos e pesquisas que têm contribuído, historicamente, com a evolução
das Ciências Médicas e do próprio Setor Saúde.
Entre os anos de 2010 e 2019, o Brasil registrou a abertura de 1.567 hospitais privados e
o fechamento de outros 2.127. Portanto, um saldo negativo de 560 hospitais. Se levarmos em
consideração o cenário de abertura e fechamento de leitos, a situação é ainda mais preocupante.
19
PREFÁCIO
Neste período, os hospitais que foram abertos adicionaram 58.713 novos leitos, enquanto os que
fecharam reduziram 92.645 leitos.1 Este quadro também deve servir de termômetro para uma
análise crítica sobre como esses gestores têm atuado.
É fato que muito já se andou, nos últimos anos, para que o Brasil consolidasse uma rede
hospitalar sólida, com grandes centros de saúde e especialistas reconhecidos internacionalmente.
Basta notar que o número de hospitais que têm recebido selos de Acreditação e certificações
internacionais de garantia de bons serviços tem aumentado consideravelmente, e não apenas em
unidades localizadas entre os estados da região Sudeste.
Para construção deste Manual, partimos da constatação de uma necessidade que o setor
apontava. Esta publicação, portanto, deve se somar a outras tantas importantes ferramentas que
estão disponíveis para contribuir com a adoção de boas práticas de gestão a essa categoria tão
imprescindível ao aprimoramento do Setor Saúde.
1
FBH – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HOSPITAIS. Cenário dos Hospitais no Brasil 2019. Brasília: FBH, 2019.
20
O Manual é concluído com dois importantes capítulos. Em “Gestão de Custos” – o calcanhar de
Aquiles da administração hospitalar – são levados em consideração o cenário de crise e a frequente
necessidade de recursos para novos investimentos. E, por fim, com o último capítulo, “Gestão de
Hotelaria”, ensina-se o quanto a liderança é ímpar para o atendimento de excelência dos pacientes
nos quesitos conforto, higiene e alimentação.
Importante, ainda, acrescentar que a obra foi organizada com a contribuição multidisciplinar
de autores que possuem notório reconhecimento em diferentes campos de atuação no setor.
O Manual apresenta, em seus dez capítulos, temas que trazem luz ao desenvolvimento de
competências necessárias ao bom desempenho do gestor em suas atividades cotidianas, oferecendo
conhecimento qualificado e multidisciplinar nas diversas frentes de atuação na área.
A FBH agradece a participação de cada colaborador, que possibilitou fazer desta construção
uma ferramenta de conhecimento e atualização a essa classe de profissionais tão imprescindível à
evolução do Setor Saúde.
Diretoria FBH
21
INTRODUÇÃO
Andréa Prestes e J. Antônio Cirino
ESTRATÉGIA PERMEANDO O TÁTICO-OPERACIONAL
PARA O ENCANTAMENTO DE TODOS
No primeiro volume do Manual do Gestor Hospitalar, publicado em 2019, ressaltamos que
a excelência no Setor Saúde perpassa por um adequado gerenciamento de projetos, pessoas e
processos, e a visão sistêmica, essencial ao gestor hospitalar.
Nesta nova obra, que figura como o segundo volume deste importante projeto da Federação
Brasileira de Hospitais (FBH) para a atualização e o fortalecimento dos mais de 4 mil hospitais que
compõem a estrutura da FBH, e, ainda, as demais unidades que são impactadas por seus construtos,
avançamos em outros temas essenciais para a gestão estratégica das unidades de saúde.
Além dos desafios impostos pelo mundo VUCA,1 associados à complexidade inerente à
gestão das organizações de saúde, que denotam necessidade de adaptação contínua a mudanças de
cenários, neste momento em que o globo é assolado por uma doença viral, gatilho impulsionador para
uma revisão de conceitos e ideias, adaptar a estratégia é crucial para a estabilidade organizacional.
A dinâmica do ambiente tende a ser maior que a das organizações, o que não significa que
estas são estáticas e as estratégias não são revistas com certa frequência, e sim que as mudanças no
ambiente são superiores à capacidade de resposta das organizações. A inércia organizacional tende a
uma estabilidade entre 15 e 20 anos, e somente a partir de eventos disruptivos, chamados de triggering
events, é que a mudança estratégica será estimulada e novos desafios serão colocados à prova.2
Cabe à alta direção desenvolver e comunicar a estratégia, que deve ser simples e
cuidadosamente disseminada, para que seja entendida por todos os que fazem a realidade da
unidade de saúde, com maior chance de ser executada ao fazer sentido para quem está no “gemba”.3
Nenhuma estratégia pode ser efetiva se não tocar os corações das pessoas e inspirar o trabalho de
cada dia. É nessa dimensão que se vê a estratégia florescer, uma vez que só será efetiva se estiver
alinhada à cultura da organização.4
1
VUCA: acrônimo dado para caracterizar um ambiente de Volatilidade, Incerteza (uncertainty), Complexidade e Ambiguidade. Veja mais
em: MACKEY, S. R. H. Translating vision into reality: the role of strategic leader. Carlisle: US Army War College, 1992.
2
HUNGER, J. D.; WHEELEN, T. L. Essentials of strategic management. 5th ed. New Jersey: Pearson Education, 2011.
3
Gemba é o mesmo que o local de trabalho. Veja mais em: KOENIGSAECKER, G. Liderando a transformação Lean nas empresas. Porto
Alegre: Bookman, 2011. p. 60.
4
LEE, F. Se Disney administrasse seu hospital: 9 ½ coisas que você mudaria. Porto Alegre: Bookman, 2009.
23
INTRODUÇÃO
Essa ideia acompanha o conceito de indústria 4.0,5 e, também, está associada ao marketing
4.0,6 que versam sobre o potencial das novas tecnologias em transformar muito além “das coisas”,
mas também na forma de viver, agir e trabalhar das pessoas. Neste sentido, a construção de um
propósito único nas organizações perpassa o aspecto social inclusivo, com a criação de um novo
cenário na perspectiva horizontal, que oportuniza a transição para o digital e a ideia de que fazer
“juntos” desenvolve um sentimento de pertencimento nos colaboradores e auxilia na criação de uma
estratégia de sustentabilidade às instituições.
Construir a estratégia com a equipe que a executará faz com que a personificação dos heróis
aos gestores e profissionais da saúde não seja necessária, ou, se utilizada, apenas o será com um tom
lúdico, para fortalecer a autoestima. Heróis travam batalhas diariamente sem saber se sobreviverão,
seguindo o curso dos acontecimentos ao acaso. No contexto hospitalar, os colaboradores não
podem contar com “superpoderes”, e sim com uma gestão qualificada e excelente para a segurança
de todos: pacientes, profissionais e demais envolvidos. Por isso, há a necessidade de conhecimentos
específicos para que as tomadas de decisão sejam sistematizadas e orientadas aos resultados, de
humanos para humanos.
Esse encantamento precisa pautar a realidade das unidades de saúde do país ao focarem,
com os recursos disponíveis, a entrega da melhor experiência personalizada aos pacientes-clientes,
e isso só é possível por meio de um esforço conjunto ao fazer com que a estratégia permeie as ações
de cada profissional e dos parceiros da instituição.
Este novo volume do Manual do Gestor Hospitalar dá continuidade aos temas discutidos
5
MAGALDI, S.; SALIBI NETO, J. Gestão do amanhã: tudo o que você precisa saber sobre gestão, inovação e liderança para vencer na 4ª
Revolução Industrial. São Paulo: Editora Gente, 2018.
6
KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.
7
Ibidem.
8
Ibidem, p. 201.
24
na primeira obra e conclama todos os gestores hospitalares a compreenderem o seu papel crucial
na promoção de uma assistência segura aos pacientes, com a utilização dos recursos possíveis
para a promoção de uma estrutura adequada à atuação dos profissionais de saúde, resultando no
encantamento de todos os intervenientes do hospital, tanto os que foram atendidos quanto aqueles
que nele labutam. O atual cenário vivido é ímpar e denota um marco na linha do tempo na história
da saúde mundial, favorecendo percepções e modificações até então inimagináveis. Que o luto
trazido pela pandemia possa se transformar em luta, para que façamos da saúde um setor cada vez
mais efetivo!
Referências
HUNGER, J. D.; WHEELEN, T. L. Essentials of strategic management. 5th ed. New Jersey: Pearson
Education, 2011.
KOENIGSAECKER, G. Liderando a transformação Lean nas empresas. Porto Alegre: Bookman, 2011.
KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.
LEE, F. Se Disney administrasse seu hospital: 9 ½ coisas que você mudaria. Porto Alegre: Bookman,
2009.
MACKEY, S. R. H. Translating vision into reality: the role of strategic leader. Carlisle: US Army War
College, 1992.
MAGALDI, S.; SALIBI NETO, J. Gestão do amanhã: tudo o que você precisa saber sobre gestão,
inovação e liderança para vencer na 4ª Revolução Industrial. São Paulo: Editora Gente, 2018.
25
CAP. 1
GESTÃO DA
MUDANÇA
Andréa Prestes e J. Antônio Cirino
Objetivos
» Fundamentar a gestão da mudança no contexto do Setor Saúde;
» Instrumentalizar os gestores hospitalares para o gerenciamento da mudança;
» Abordar a gestão da mudança segura, efetiva e sustentável.
Naturalmente, podemos indagar qual seria, então, a faísca que funciona como ignição para
as mudanças no cotidiano. Estamos cercados de micro e macroacontecimentos que acabam por
serem os impulsionadores do movimento das pessoas e das organizações. Corriqueiramente, não
percebemos, de forma tão evidente, a importância de cada pequeno ato para o grande quadro,
mas lá estão eles: são as pequenas ações, boas ou más, que orquestram diversas reconfigurações no
sistema da vida.
Ao atuarmos nas unidades da saúde, devemos entender que as mesmas vivências geram
impactos distintos entre os indivíduos. De acordo com a premissa de Zourabichvili,2 as experiências
são plurais, ou seja, ninguém vivencia um acontecimento da mesma forma que outrem. Por isso,
a empatia é importante para a compreensão do momento atual de cada componente dos grupos
multidisciplinares existentes nos contextos da prestação do cuidado. É preciso ter zelo e sensibilidade
1
Música “Anacrônico”, composta por Pitty.
2
ZOURABICHVILI, F. Deleuze: uma filosofia do acontecimento. São Paulo: Editora 34, 2016.
27
1. GESTÃO DA MUDANÇA
para que as alterações sejam visualizadas como oportunidade de melhoria e ocorram da melhor
forma possível.
Diante disso, algumas inquietações que podem ser trazidas para fundamentar a discussão
deste capítulo é: torna-se compreensível que a pandemia remexesse com vários setores empresariais,
mas qual a razão de ter sido tão impactante nos sistemas de saúde? Os surtos, as epidemias e as
pandemias deveriam ser presumíveis, do ponto de vista dos hospitais, e, por isso, não seria esperado
que atuassem preventivamente, com o planejamento de ações estruturadas para amortecer os
danos de mudanças bruscas?
Cada vez mais as empresas são expostas a cenários desafiadores, que demandam atitudes
rápidas e certeiras para a adaptação ao contexto. O fato é que, dificilmente, retornaremos àqueles
tempos em que os gestores tinham o conforto e o poder de decidir como e quando mudar, com a
condição de planejar a implementação de determinada alteração.
O tema gestão da mudança surgiu e evoluiu consideravelmente nas últimas décadas. O que
antes era considerado como uma abordagem pontual e reativa após a ocorrência do fato passou a
ser compreendido pela composição de processos holísticos e estruturados, por meio de um conjunto
completo de ferramentas capazes de conduzir a transformação, a nível individual e organizacional.
Essa evolução, nos últimos anos, de conceitos e práticas tem ocasionado maior sucesso nas entregas
dos objetivos dentro do prazo e dos orçamentos.4
3
DOSSE, F. Renascimento do acontecimento: um desafio para o historiador, entre Esfinge e Fênix. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
4
THOUGHT Leadership Article – Enterprise Change Management. Prosci, [s.d.]. Disponível em: https://www.prosci.com/resources/articles/
enterprise-change-management-overview. Acesso em: 23 ago. 2020.
5
BUONO, A. F.; KERBER, K. Creating a sustainable approach to change: building organizational change capacity. S.A.M. Advanced
Management Journal, v.75, n. 2, p .4-21, 2010.
28
ambiente interno, associada ao conjunto de valores compartilhados, e, por isto, tem um papel crucial
no processo de mudança.
Na gestão de projetos há uma evocação natural ao change management, visto que cada ação
neste âmbito é entendida como um esforço temporário que exige a transformação de contextos e,
por isso mesmo, necessita de um instrumental capaz de permitir que estas mudanças transcorram de
forma efetiva.6 Também é essencial que o gestor hospitalar tenha noção clara de quando empregar
os recursos necessários para a gestão da mudança, de forma a otimizar os esforços que, de fato, irão
gerar impacto positivo na organização.
Apesar da particularidade de cada perfil, como porte e contexto das unidades de saúde,
citamos, aqui, alguns exemplos de situações em que o planejamento da mudança torna-se
imprescindível para que ela aconteça de forma segura e efetiva:
6
CARLI, E. Gestão de mudanças aplicada a projetos: ferramentas de change management para unir PMO e CMO. Rio de Janeiro:
Brasport, 2015.
29
1. GESTÃO DA MUDANÇA
SEGURA
Outrossim, para que ocorra uma mudança positiva em uma organização, diante de um
cenário negativo, além da consideração dos três fatores ora apresentados, é essencial que se realize
o gerenciamento da transformação, o que pode resultar em alguns benefícios, possíveis por meio da
metodologia Strategy©:
7
BASSALO, J. Metodologia para gestão de mudanças organizacionais: guia prático de conhecimento da Strategy Consulting. Rio de
Janeiro: Brasport, 2017. p. 9.
30
A metodologia Strategy© é suportada por quatro diferentes perspectivas: mobilização,
comunicação, impactos e capacitação. Cada perspectiva permite uma visão orientada às diferentes
necessidades impostas pela gestão da mudança, derivando de algumas fases do processo, as quais
são abordadas por Bassalo:8
» Preparação: a partir da emergência da mudança, seja por meio de situações positivas, seja de
negativas, a primeira fase é compreender o cenário e levantar os dados e as informações que
possibilitarão conhecer sobre o que estamos falando;
» Estruturação: de posse deste diagnóstico inicial, é essencial planejar o que será feito, quem
fará, de que forma será executado e em qual prazo;
» Execução: com o plano pronto, possibilitar que as ações pensadas sejam executadas e seus
resultados monitorados;
» Sustentação: após a mudança principal, torna-se necessário verificar o quanto este cenário
teve aderência e prover, por meio de novas práticas, o suporte para a manutenção da
mudança positiva.
O processo de sustentação está muito ligado à capacidade organizacional de gerir o
aprendizado desenvolvido com a mudança implementada. Ainda que existam amplas discussões
sobre a inteligência corporativa e o capital intelectual, poucos entendem o que significa gerir o
conhecimento nas instituições. A tradição da administração ocidental apregoa que a construção do
conhecimento útil dá-se com o processamento de informação obtida por meio de dados formais e
quantificáveis. A visão dos gestores japoneses, por exemplo, não se resume ao processamento de
dados objetivos. Eles buscam aproveitar os insights (às vezes, subjetivos) dos colaboradores em prol
da empresa como um todo. Possuem uma abordagem mais holística deste processo de geração de
conhecimento, por entenderem a organização como um organismo vivo, e não como uma máquina.9
Nesse sentido, a figura 2 demonstra que a capacidade transformacional tem sua base
no contexto organizacional, em que a cultura do aprendizado contínuo está sedimentada,
passando a suportar o desenvolvimento de novos conhecimentos, o que oportuniza e favorece as
implementações das mudanças.
IMPLEMENTAÇÃO
DAS MUDANÇAS
CULTURA DO
APRENDIZADO
CONTEXTO ORGANIZACIONAL
Fonte: Elaboração dos autores do capítulo a partir dos conceitos de Buono e Kerber (2010).
8
Ibidem.
9
NONAKA, I. The Knowledge-Creating Company. Harvard Business Review, Jul.-Aug. 2007. Disponível em: https://hbr.org/2007/07/the-
knowledge-creating-company. Acesso em: 22 ago. 2020.
31
1. GESTÃO DA MUDANÇA
Kotter11 apresenta o que considera os oito passos da mudança, para que seja possível atingir
o sucesso neste processo:
1 2 3 4
ESTABELECER CRIAR A COALISÃO DESENVOLVER COMUNICAR
SENSO DE ORIENTAÇÃO: UMA VISÃO A VISÃO
DE URGÊNCIA LIDERANÇA ESTRATÉGICA ESTRATÉGICA
8 7 6 5
INSTITUCIONALIZAR CONSOLIDAR AS PLANEJAR OS OBJETIVOS, CAPACITAR E
DESDOBRAR EM ETAPAS, EMPODERAR AS
AS MUDANÇAS: MELHORIAS E COMEMORAR PEQUENAS PESSOAS PARA
CULTURA DA PROMOVER MAIS VITÓRIAS E RECONHECER TRABALHAREM
MUDANÇA OS ENVOLVIDOS
MUDANÇAS A VISÃO
Nesse modelo, o autor oportuniza uma visão essencial ao tema: a conexão com os processos
de gestão de pessoas e com as designações estratégicas de qualquer organização. A partir disso,
considerando as estruturas ancoradas neste capítulo,12,13 propomos um sistema unificado de gestão
da mudança em organizações do Setor Saúde:
10
Nonaka (2007).
11
KOTTER, J. P. Leading Change. Boston: Harvard Business School Press, 1996. p. 21.
12
Kotter (1996).
13
Bassalo (2017).
32
Figura 4 – A gestão da mudança para organizações de saúde
ANÁLISE
IDENTIFICAÇÃO
EXECUÇÃO DE
DE
RESULTADOS
OPORTUNIDADE
SENSIBILIZAÇÃO MANUTENÇÃO
PLANEJAMENTO
DOS PÚBLICOS DA MELHORIA
14
MARCIAL, E. C. Planejamento por cenários em organizações hospitalares. In: PRESTES, A. et al. (Eds.). Manual do Gestor Hospitalar.
Brasília: FBH, 2019.
33
1. GESTÃO DA MUDANÇA
e a participação ativa dos públicos são essenciais. Com vistas a subsidiar a definição das
ações destinadas a cada público, recomendamos que seja feito um mapeamento15 destes e,
a partir daí, sejam criadas estratégias adaptadas a cada perfil;
» Execução: a partir da criação do plano da mudança, seguido da sensibilização dos públicos,
pode-se dar início à implantação das ações. Ao estabelecer ações ordenadas, desde a fase do
planejamento até a sensibilização, é possível que a implantação das ações ocorra de forma
fluida, com mais chances de resultados positivos;
» Análise dos resultados: para a continuidade deste processo, é preciso acompanhar cada
resultado e girar ciclos de melhoria visando ao aperfeiçoamento das práticas. Em situações
de mudança, mesmo com um plano coeso, há variáveis que não são totalmente apuradas ou
controláveis, o que denota a necessidade constante de monitoramento e reavaliação;
» Manutenção da melhoria: a implantação das mudanças deve ser percebida como um
projeto, ou seja, com data determinada para o início e fim. Neste sentido, para que as
alterações deixem de compor um projeto e passem a integrar o rol de processos, sugere-se
a sistematização de ciclos de medição, que evidenciarão a correta implementação. Desta
forma, é esperado que as mudanças sejam duradouras, ao se integrarem às práticas habituais
da instituição de saúde.
De um modo geral, essas etapas, assim como todos os modelos existentes, são, inevitavel-
mente, parte de um ciclo PDSA,16 e exigem avaliação e adaptações constantes, com base nos apren-
dizados obtidos em cada situação vivida por cada organização.
Instrumentalizando a mudança
Considerando a proposta de etapas para a gestão da mudança, apresentamos, a seguir, um
quadro que demonstra os produtos almejados em cada etapa e as ferramentas para a execução e o
acompanhamento dos resultados, que podem ser úteis neste processo, a depender da realidade e da
situação experenciada.
15
CIRINO, J. A. F. Comunicação. In: PRESTES, A. et al. (Eds.). Manual do Gestor Hospitalar. Brasília: FBH, 2019.
16
Plan – Planejar; Do – Executar; Study – Estudar; Act – Agir.
34
Quadro 1 – Ferramentas para gestão da mudança em organizações de saúde
Gerencie a mudança
De acordo com o exposto no decorrer deste capítulo, percebemos que a mudança é inevitável,
visto que, mesmo que não a provoquemos, poderão surgir situações externas que nos fogem ao
controle, que nos impulsionarão à transformação. Diante disto, o cenário mais positivo é aquele em
que é possível controlar as mudanças, mesmo as não previstas, por meio das melhores práticas de
gestão de riscos. A diferença estará, assim, entre agir preventivamente ou ter condutas reativas.
35
1. GESTÃO DA MUDANÇA
Existem alguns fatores que resumimos como a chave para o sucesso de um processo de
mudança: a cultura voltada para o aprendizado contínuo e a gestão do conhecimento; a liderança,
que precisa estar alinhada à estratégia organizacional e dotada de competências capazes de
gerir o processo transformacional; e o planejamento, oportunizando análises prévias de cenários,
com a inclusão da gestão dos riscos identificados. Considerando o que conversamos até agora,
principalmente no Setor Saúde, a melhor forma, então, seria despir-se da necessidade de lograr
êxito na constância e partir mesmo para o não lugar da mudança, assumindo o controle do próprio
destino enquanto ser humano e da organização em que está inserido, justamente ao visualizar que
mesmo o acaso pode ser gerenciado, quando nos preparamos para isso.
É fato que a maioria das unidades de saúde sempre navegaram em águas incertas, habituadas
a viver sob demanda, em contingência, e, em boa parte do tempo, “apagando incêndios”. Diante
de um cenário pandêmico, com a iminência de um considerável aumento na carga tributária e
tantos outros desafios diários da gestão em saúde, como é possível que os hospitais ultrapassem a
necessidade de agir para “sobreviver”, para uma situação em que sejam capazes de antever cenários,
planejar, implementar e sustentar melhorias positivas?
Não existe uma resposta certa a essa abordagem nem mesmo uma receita milagrosa capaz de
reconfigurar uma organização de uma hora para outra, ou, ainda, alterar a forma de ver e administrar
do gestor hospitalar. Trata-se de uma construção, de um caminhar estruturado e constante, liberto de
crenças e apegos a métodos ou conceitos. Claro que eles são importantes e necessários, desde que
adaptados à realidade de cada organização. Contudo, além deles, é preciso atitudes e pensamentos
disruptivos, orientados pela composição do conhecimento técnico, pela visão sistêmica e pela ação.
De que adiantam ideias excelentes se não forem operacionalizadas?
Mesmo o cenário da Covid-19, que é díspar de vivências cotidianas, já não foi tão incerto
alguns meses depois de sua irrupção no Brasil, em 2020, sendo possível prever e analisar seus
desdobramentos com mais propriedade. O que cada gestor de saúde fez após tomar ciência das
variáveis presentes no mundo que se reorganizava a partir do caos ocasionado pela disseminação
deste vírus? E como está a visão destes líderes com estes novos acontecimentos? Não podemos deixar
o planejamento para depois. A definição estratégica de pensar em todos os elementos incertos,
nas oportunidades e nas ameaças, nas forças e nas fraquezas de cada instituição não é tópico para
“quando possível”, e sim a agenda diária e fixa para a sustentabilidade econômico-financeira destes
hospitais.
Sendo que nada é para sempre o mesmo, partindo de uma noção de impermanência
constante,17 podemos assumir que somos estradas, caminhos para jornadas mais amplas, 18 vivendo
enquanto condutores de boas práticas, de bons exemplos e boas ações para todos, mesmo em
situações desafiadoras. A mudança está aí, todos os dias. O que vamos fazer dela?
MONJA COEN. Nada fixo nem permanente: o desabrochar da alma | Monja Coen | Zen Budismo. YouTube, 21 jul. 2018. 4’57’’. Disponível
17
36
Referências
BUONO, A. F.; KERBER, K. Creating a sustainable approach to change: building organizational change
capacity. S.A.M. Advanced Management Journal, v.75, n. 2, p .4-21, 2010.
CARLI, E. Gestão de mudanças aplicada a projetos: ferramentas de change management para unir
PMO e CMO. Rio de Janeiro: Brasport, 2015.
CIRINO, J. A. F. Comunicação. In: PRESTES, A. et al. (Eds.). Manual do Gestor Hospitalar. Brasília: FBH, 2019.
MARCIAL, E. C. Planejamento por cenários em organizações hospitalares. In: PRESTES, A. et al. (Eds.).
Manual do Gestor Hospitalar. Brasília: FBH, 2019.]
MONJA COEN. Nada fixo nem permanente: o desabrochar da alma | Monja Coen | Zen Budismo.
YouTube, 21 jul. 2018. 4’57’’. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Lk4QWum2Jmc.
Acesso em: 15 ago. 2020.
NONAKA, I. The Knowledge-Creating Company. Harvard Business Review, Jul.-Aug. 2007. Disponível
em: https://hbr.org/2007/07/the-knowledge-creating-company. Acesso em: 22 ago. 2020.
THOUGHT Leadership Article – Enterprise Change Management. Prosci, [s.d.]. Disponível em: https://
www.prosci.com/resources/articles/enterprise-change-management-overview. Acesso em: 23 ago.
2020.
ZOURABICHVILI, F. Deleuze: uma filosofia do acontecimento. São Paulo: Editora 34, 2016.
37
CAP. 2
PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO
Allan James Paiotti
Objetivos
» Entender a estratégia em um contexto histórico;
» Definir missão, visão e valores como ponto de partida para o planejamento estratégico;
Ao longo dos séculos, esses conceitos influenciaram personagens históricos como Alexandre,
o Grande, Napoleão, Mao Tsé-Tung e Winston Churchill, reconhecidos pela capacidade estratégica
com que enfrentaram momentos de conflito transformadores do mundo. No campo da administração
não foi diferente: o pensamento estratégico foi, gradualmente, incorporado à atividade empresarial
ao longo do século XX, evoluindo de acordo com o contexto histórico em que se desenvolvia.
“A essência da estratégia é escolher o que não fazer!” (grifo nossos).3 Mudanças cada vez mais
rápidas, demandas geracionais, turbulências econômicas e políticas e tensões competitivas criam
um ambiente de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, caracterizando o conceito
de mundo VUCA.4 Nos dias de hoje, em especial no segmento hospitalar, ter uma estratégia clara é
fundamental para orientar as ações que vão garantir vantagens competitivas e sucesso sustentável
às organizações. E, para ser clara, a estratégia precisa estar conectada com suas aspirações e seu
propósito. Começamos, aqui, a jornada do planejamento estratégico.
1
TZU, S. A arte da guerra. São Paulo: Editora Jardim dos Livros, 2008.
2
Ibidem.
3
Frase de Michael Porter (Ann Arbor, Michigan, 1947), professor da Harvard Business School, com interesse nas áreas de Administração
e Economia.
4
VUCA: acrônimo de volátil (volatility), incerto (uncertainty), complexo (complexity) e ambíguo (ambiguity). Conceito utilizado pelo
Exército americano a partir dos anos 1990 para tratar ambientes dinâmicos e de alta imprevisibilidade; começou a ser aplicado no mundo
dos negócios na última década.
39
2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Com essa consciência, a administração moderna estruturou uma abordagem para definir o
tripé que irá orientar o planejamento estratégico: a missão, a visão e os valores da organização.
MISSÃO
Razão de ser
da organização.
Para que existimos?
VALORES VISÃO
Quais são os nossos padrões Aonde queremos chegar?
de comportamento? O que buscamos atingir?
O que nos motiva? Em que seremos referência?
O que nos faz únicos?
40
Planejamento estratégico
Enquanto a estratégia é definida pela síntese de uma visão de oportunidade e diferenciação,
o planejamento pressupõe a adoção de metodologias que permitam o desenvolvimento de planos
de ação com atividades, recursos, objetivos e responsabilidades definidos.
De forma mais ampla, a estratégia mostra-nos para onde queremos ir, idealmente com
diferenciais competitivos, enquanto o planejamento estratégico cria a rota para chegarmos lá,
desdobrando as diferentes etapas do caminho em planos integrados que buscam promover
movimentos sinérgicos e coordenados para a conquista de cada etapa prevista.
Visão estratégica
Planejamento
estratégico
(ex.: cinco anos)
Ciclo do Plano
planejamento operacional
estratégico (ano 1, ...)
Estudo
de cenários
Diagnóstico
estratégico
41
2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
do ambiente em que ela está inserida. Planejamentos estratégicos de países, por exemplo, chegam
a ser formulados em perspectivas de 20 ou 30 anos. No contexto empresarial, considerando-se aqui
o segmento hospitalar, especialmente em economias mais dinâmicas e sujeitas a flutuações mais
intensas, que podem impactar de forma determinante os planos em andamento, planejamentos são,
normalmente, feitos em um horizonte de cinco anos.
VISÃO ESTRATÉGICA
Esses processos são vivos e precisam ser revisitados de tempos em tempos para uma análise
de aderência aos planos traçados: novas propostas de valor da concorrência, transformações no
perfil do mercado consumidor e mudanças no ambiente político e econômico são apenas algumas
variáveis que podem impactar o planejamento em curso e determinar medidas de correção, ajuste
ou alteração de planos.
42
Figura 4 – Desdobramento do plano operacional
A
N
O E
INDICADORES
V
• Operacionais A O
• Financeiros N L
• Qualidade T U
E
R Ç
I Ã
O O
R
Plano Operacional
Ações Metas
O gestor hospitalar deve dar a devida importância aos indicadores, por serem instrumentos
críticos para a avaliação contínua da implementação da estratégia definida. Eles precisam
ser claramente definidos, apurados de forma transparente e amplamente debatidos entre os
colaboradores da organização, pois só assim se garantem o engajamento e a ação coletiva na direção
que se busca.
O planejamento estratégico é uma construção de longo prazo. Comece com planos mais
simples e de fácil compreensão. Vá evoluindo em complexidade e desafiando os colaboradores
com metas ambiciosas, porém atingíveis. E surpreenda-se com o desenvolvimento da equipe e a
superação de seus objetivos!
Vantagem competitiva
A concorrência é fator determinante para o sucesso de uma organização, independentemente
de seu segmento de atuação. Por isso, um tema importante a ser considerado durante as discussões
do planejamento estratégico são os elementos percebidos externamente como vantagens
competitivas.
5
PORTER, M. E. Vantagem competitiva. São Paulo: Editora Atlas, 1989.
43
2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
e percepção de exclusividade. Tais elementos criam uma percepção de valor agregado que, se bem
explorados, levam a desempenhos superiores da organização quando comparados a concorrentes
na mesma indústria ou mercado.
Em seu livro “Vantagem Competitiva” (1985), Michael Porter6 propõe duas alternativas para
se obter a vantagem competitiva: menor custo ou diferenciação. Associado ao escopo competitivo,
sendo ele de atuação mais ampla ou mais restrita, podem-se desenvolver, essencialmente, três
estratégias genéricas: liderança em custos, diferenciação ou enfoque/nicho.
Segundo Porter,7 adotar uma dessas estratégias com clareza como base do planejamento
estratégico é fundamental para que a organização supere a concorrência de forma sustentável e rentável.
6
Ibidem.
7
Ibidem.
44
estratégico. Especialistas em estratégia, como Michael Porter, Gary Hamel, Coimbatore Krishnarao
Prahalad, Henry Mintzberg, Thomas Wheelen e J. David Hunger, trouxeram contribuições objetivas
para o tema, estruturando conceitos que orientam as discussões nos dias atuais.
5 Forças de Porter
Michael Porter8 propôs um modelo de análise competitiva que analisa a atratividade de uma
indústria centrada na sua competitividade, considerando a ameaça de novos concorrentes, do poder
de negociação de fornecedores e compradores e dos riscos de serviços/produtos substitutos.
PODER DE
BARGANHA DOS
FORNECEDORES
PODER DE
BARGANHA DOS
CLIENTES
8
Ibidem.
9
Ibidem.
45
2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Análise SWOT
A análise SWOT,10 acrônimo de forças (strengths), fraquezas (weaknesses), oportunidades
(opportunities) e ameaças (threats), é uma abordagem que orienta a identificação dos fatores internos
e externos favoráveis e desfavoráveis à organização.
Forças Fraquezas
Quais os atributos internos que tornam a Quais as fragilidades internas que limitam
organização única? ou impedem a exploração das forças e/ou
Interno
Quais os elementos diferenciadores da oportunidades?
organização? O que a organização não faz bem e deveria fazer
O que promove vantagem competitiva? melhor?
Oportunidades Ameaças
Onde se concentrar para potencializar O que representa risco para o desenvolvimento
sucesso? sustentável?
Externo
O que está disponível no mercado, não Desafios legais e/ou regulatórios.
explorado pela organização ou pelos Instabilidades de mercado, moedas etc.
concorrentes?
Mudanças tecnológicas.
10
Metodologia creditada a Albert Humphrey, líder de pesquisa na Universidade de Stanford nas décadas de 1960 e 1970.
11
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. The Balanced Scorecard: measures that drive performance. Massachusetts: Harvard Business Publishing,
1992. p. 71-79.
46
Figura 7 – Dimensões do BSC
PROCESSOS INTERNOS
EQUIPE COM CONHECIMENTOS
E COMPETÊNCIAS ADEQUADOS
CRIAM PROCESSOS DE
EXCELÊNCIA
APRENDIZADO E
CONHECIMENTO CLIENTES
CONHECIMENTOS E VISÃO
PROCESSOS EFICIENTES
HABILIDADES LEVAM À ESTRATÉGICA CRIAM MELHORES
MELHORIA CONTÍNUA RELAÇÕES COM CLIENTES
E À INOVAÇÃO
FINANCEIRA
PERCEPÇÃO POSITIVA
PELOS CLIENTES CRIA VALOR
NA RELAÇÃO E MELHORES
RESULTADOS
FINANCEIROS
47
2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
5 Ps
Henry Mintzberg12 tem sido um grande crítico das abordagens de planejamento estratégico
defendendo que, por sua complexidade, este processo deve considerar cinco perspectivas diferentes
(ou 5 Ps):13
12
Henry Mintzberg (Montreal, Canadá, 1939), acadêmico canadense e autor de diversos livros na área de Administração.
13
5 Ps: plan (plano), ploy (pretexto), pattern (padrão), position (posição), perspective (perspectiva).
14
Ver nota 12.
15
WHEELEN, T. L.; HUNGER, J. D. Concepts in Strategic Management and Business Policy. Pearson, 2006.
48
Esta análise deve considerar elementos naturais, como eventual impacto de alterações
do clima e recursos naturais, políticos/regulatórios, econômicos, sociais e tecnológicos,
além daqueles internos relacionados à cultura, aos valores, à estrutura e aos recursos da
organização;
b. Etapa 2 – Formulação da estratégia: fase em que são definidos a missão, os objetivos, as
estratégias e as políticas da organização;
c. Etapa 3 – Implementação estratégica: foca a implementação das estratégias definidas,
considerando os planos, os orçamentos e os processos necessários;
d. Etapa 4 – Avaliação: fase de medição e avaliação dos resultados obtidos, oferecendo
elementos para retroalimentação do ciclo.
MEIO INTERNO
PLANOS DE AÇÃO
FORÇAS E FRAQUEZAS
Fonte: Elaboração do autor do capítulo com base nos conceitos propostos na metodologia.
49
2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Indicadores operacionais
Esses indicadores refletem a performance
operacional da organização. No contexto hospitalar,
recomendamos, de forma não exaustiva:
• Quantidade de procedimentos;
• Ticket médio/procedimento;
Possíveis indicadores
• Quantidade de leads;16
• Taxa de conversão.
Os indicadores podem variar de hospital para hospital,
dependendo do modelo de gestão e dos sistemas de
controle disponíveis.
Formato de cálculo Dados objetivos extraídos dos sistemas operacionais.
Indicadores financeiros
Esses indicadores refletem a performance financeira da
organização. No contexto hospitalar, recomendamos:
• Receita bruta;
Possíveis indicadores • Receita líquida;
• Margem de contribuição;
• EBITDA;17
• Resultado operacional.
Dados objetivos extraídos da contabilidade ou
Formato de cálculo
relatórios gerenciais internos.
Indicadores de qualidade
Esses indicadores refletem a percepção de qualidade
do hospital, e estão diretamente ligados às áreas
assistências e médica. Recomendamos, de forma não
exaustiva:
• NPS18 do cliente;
• Tempo de espera;
Possíveis indicadores
• Taxa de ocupação;
• Duração média de estadia;
• Densidade de infecção hospitalar;
• Taxa de readmissão.
Os indicadores podem variar de hospital para hospital,
dependendo do foco da organização.
16
Potenciais clientes.
17
EBITDA, acrônimo de earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, significa lucros antes de juros, impostos, depreciação
e amortização.
18
NPS: Net Promoter Score é uma métrica de fidelidade do cliente criada por Fred Heichheld em 2003. É calculado com base nas respostas
a uma única pergunta: qual é a probabilidade de você recomendar a nossa empresa/produto/serviço a um amigo? A pontuação para esta
resposta é, mais frequentemente, feita com base em uma escala de 0 a 10.
50
• Tempo de espera = (tempo de espera dos
pacientes) / (número de atendimentos no
período);
• Taxa de ocupação = (quantidade de pacientes por
dia / número de leitos por dia) x 100;
• Duração média da estadia = (pacientes por dia em
Formato de cálculo determinado período / saídas no período) x 100;
• Densidade de infecção hospitalar = (pacientes
infectados em determinado período / total de
paciente atendidos no mesmo período) x 1.000;
• Taxa de readmissão = (número de readmissões
em determinado período / total de pacientes
atendidos no período) x 100.
Possíveis participantes da análise crítica desses
Conselho, Diretoria e gestores.
dados
Recomenda-se que a meta desses indicadores seja planejada em comum acordo entre
management e Conselho de Administração – ou instância similar na governança da instituição, com
base nos horizontes definidos no planejamento estratégico. Com periodicidade mensal, podemos
realizar a análise crítica desses dados com o Conselho, a Diretoria e os gestores envolvidos.
51
2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
estratégicos que produzem relatórios complexos perdem sua efetividade na medida em que ficam
restritos aos altos níveis gerenciais. O resultado deve, idealmente, ser traduzido com a simplicidade
adequada, para ser capturado por todos os níveis da organização, pois o efetivo envolvimento de
todos em sua implementação potencializa as chances de sucesso e seus resultados.
Com o setor da saúde sendo redesenhando a uma velocidade nunca antes vista, estratégia e
planejamento, suportados por equipes capacitadas e com excelência em gestão, serão cada vez mais
decisivos para a sustentabilidade das organizações.
Referências
TZU, S. A arte da guerra. São Paulo: Editora Jardim dos Livros, 2008.
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. The Balanced Scorecard: measures that drive performance.
Massachusetts: Harvard Business Publishing, 1992.
WHEELEN, T. L.; HUNGER, J. D. Concepts in Strategic Management and Business Policy. Pearson,
2006.
52
CAP. 3
COMPLIANCE
NA SAÚDE
Josenir Teixeira
Objetivos
» Condensar informações jurídicas sobre o programa de integridade (compliance);
» Apontar a necessidade de os profissionais que atuam na saúde conhecerem o arsenal de
regras jurídicas existente que visa impedir a prática de crimes;
» Detalhar as normas legais que precisam ser respeitadas pelos profissionais da saúde para
evitar o cometimento de ilícitos;
» Indicar as ações mínimas necessárias para implantar o programa de integridade;
» Discorrer sobre o histórico de regras de convivência.
Contemporaneidade do tema
A mídia sempre estampou atos desonestos praticados por profissionais que atuam na área da
saúde. Deslizes éticos; compras superfaturadas; furtos de materiais, equipamentos e medicamentos;
desvio de dinheiro público; e vários outros ilícitos poderiam ser aqui elencados para ilustrar a
afirmação, pois eles são fruto do desvio de conduta ou de caráter das pessoas.
Crime sempre foi crime e deve ser punido. Há enorme quantidade de regras jurídicas que
conceituam e apontam os modos de conduta que devem ser adotados – e os que devem ser evitados
– para não se praticar a ilegalidade nelas definidas.
De maneira geral, todos temos noção do que é certo e do que é errado, e sabemos os limites
do que podemos ou não fazer, mesmo que estes, às vezes, sejam tênues.
A postura correta na prática das atividades profissionais sempre foi exigida dos cidadãos,
e ela se torna cada vez mais relevante e obrigatória à medida que assistimos a tantos casos de
descumprimento das regras legais que importam em desvio de verba pública ou de dinheiro
privado, o que faz com que a exigência de se agir em conformidade com o previsto nas normais
jurídicas vigentes acentue-se e esteja obrigatoriamente no radar de quem atua na área da saúde,
que respondeu por 8,5% do produto interno bruto (PIB) do Brasil em 2019, estando ele em nono
lugar no ranking de países com mais gastos com saúde, o que corresponde a US$ 1.109 per capita.1
1
O BRASIL é o 8º maior mercado de saúde do mundo. Terra, 8 jul. 2019. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/dino/o-brasil-
e-o-8-maior-mercado-de-saude-do-mundo,4f126aa3fc74c1876e7f0dfd81523c60qii5n85h.html. Acesso em: 26 jun. 2020.
55
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
em sociedade, inclusive as diretrizes processuais para a aplicação delas, ou seja, a definição de como,
quando, de que forma, em que tempo e quais seriam as penas a que os infratores delas estão sujeitos.
O Código de Hamurabi é um conjunto de leis escrito pelo rei Hamurabi por volta de 1772 a.C.,
e foi encontrado em 1901 na região da antiga Mesopotâmia, atual Irã. Este Código é o documento
jurídico mais antigo de que se tem conhecimento. As rígidas previsões constantes nele têm como
ponto principal a regra da conhecida expressão “olho por olho, dente por dente”, que se constitui na
chamada “lei de talião”, a qual consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena (“retaliação”, de
onde provém o termo “talião”).
O Código de Hamurabi existe fisicamente. Ele se constitui numa pedra redonda de 2,25 m
de altura por 1,50 m de circunferência que está exposta no Museu do Louvre, em Paris. Nesta pedra
estão cunhados os 282 artigos – e suas 3.600 linhas – que compõem o Código, que são as regras de
convívio da sociedade da época, mas se referem praticamente aos mesmos assuntos nos quais a
humanidade hoje se digladia, como comércio, família, propriedade, herança, escravidão e as formas
de se aplicar as rígidas punições aos transgressores.
A Lei das Doze Tábuas consistia na sistematização da legislação romana que era praticada na
época, por volta do ano 451 a.C. A importância dela é tal que representa a fonte do direito público e
privado, com enorme importância e influência para o Direito brasileiro.
Há mais de 2 mil anos os romanos criaram regras gerais de convívio para serem observadas
pelas pessoas, sendo que os assuntos que as tábuas tratavam são os mesmos discutidos pela
sociedade em 2020, a saber: tábuas I e II – organização e procedimento judicial; tábua III – normas
contra os inadimplentes; tábua IV – pátrio poder; tábua V – sucessões e tutela; tábua VI – propriedade;
tábua VII – delitos; tábua VIII – direitos prediais; tábua IX – direito público; tábua X – direito sagrado;
tábuas XI e XII – complementares.
Se voltarmos os olhos para a Bíblia, como instrumento de informação, veremos que Moisés
recebeu diretamente de Deus, no alto do monte Sinai (localizado no Egito), algumas regras de
procedimento da humanidade conhecidas como “Os Dez Mandamentos”, que regulamentariam a
relação do ser humano com Ele e com o seu próximo, conjunto de normas conhecido como “Lei
Mosaica” ou “Código Mosaico”, que o cristianismo cuidou de propagar e que adquiriu caráter universal.
Os Dez Mandamentos estão escritos na Bíblia no Velho Testamento, nos livros de Êxodo 20:2-
17 e Deuteronômio 5:6-21, e são os seguintes (o texto varia conforme a versão consultada): 1. Não
terás outros deuses diante de mim; 2. Não farás para ti nenhuma imagem para adorar; 3. Não tomarás
o nome de Deus em vão; 4. Guardarás o dia de sábado para o santificar; 5. Honra a teu pai e a tua
mãe; 6. Não matarás; 7. Não adulterarás; 8. Não furtarás; 9. Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo; 10. Não desejarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo nem coisa
alguma que pertença ao teu próximo.
Há várias outras normas jurídicas que previram regras de convívio entre as pessoas e que
estão registradas na história, como o Código de Manu (escrito entre 1300 e 800 a.C.), o Código de
Teodósio (escrito em 438 a.C.), o Código Gregoriano (escrito em 291 a.C.), o Corpus Juris Civilis (escrito
por volta do ano 529), o Código da Prússia (escrito em 1792), o Código da Áustria (escrito em 1797) e
o Código Napoleônico (escrito em 1804).
56
Histórico de normas jurídicas brasileiras
A primeira Constituição brasileira foi imposta por D. Pedro I em 1824, seguida pela de 1891
(marechal Deodoro da Fonseca), depois a de 1934 (Getúlio Vargas), então veio a de 1937 (Getúlio
Vargas), depois a de 1946 (Eurico Gaspar Dutra) e a de 1967 (Humberto Castelo Branco).
Nossa sociedade é regida pela sétima Constituição Federal, promulgada em 1988 por Ulysses
Guimarães, então presidente da Assembleia Nacional Constituinte, sendo o presidente da República,
naquela época, José Sarney. Esta Constituição previu os princípios que orientam o desenvolvimento
da atividade de todo gestor, público ou privado, devendo ele agir com seriedade, competência e
rigor e respeitar as imensuráveis normas jurídicas vigentes.
» Economicidade – é a possibilidade de promover resultados com o menor custo possível (art. 70);
» Eficiência – é a consequência esperada da realização correta e adequada das funções, das
atribuições e/ou das atividades pelas pessoas a partir da utilização dos recursos disponíveis
da melhor forma possível, visando à obtenção de resultados positivos e à qualidade
satisfatória dos serviços (art. 37);
» Impessoalidade – é a obrigação de tratar todos igualmente e agir de forma a não identificar,
discriminar, direcionar ou privilegiar alguém no exercício da atividade, devendo ser mantida
a necessária imparcialidade, exigindo-se tratamento equânime e neutralidade, abominando-
se favoritismos e restrições indevidas (art. 37);
» Improbidade – é a prática de atos ou realização de ações com desonestidade, mau caráter,
má índole, falta de honradez ou de lisura (art. 37, § 4º);
» Legalidade – é aquilo que provém da lei e que está dentro dela (art. 5º, inciso II, e art. 37);
» Moralidade – é o comportamento do ser humano dentro da sociedade a partir de um
conjunto de valores, normas e noções indicativas do que é certo ou errado, proibido ou
permitido, que constitui o conceito de moral (art. 37);
» Publicidade – é a divulgação pública (sem qualquer sigilo ou restrição) de informações em
geral que permita às pessoas terem acesso completo a qualquer dado do seu interesse para
possibilitar o acompanhamento do desenvolvimento da atividade, da conduta dos agentes
públicos, e o exercício da fiscalização sobre todos os aspectos dos negócios realizados que
envolvam verbas públicas (art. 37).
A transparência não foi tratada de forma expressa na Constituição Federal, mas decorre do
entendimento e da aplicação do princípio da publicidade, podendo ser enquadrada no seu art. 5º,
incisos XXXIII, XXXIV, LX e LXXII.
O primeiro Código Civil brasileiro vigorou de 1917 (Lei nº 3.071/2016) até 2002, quando
entrou em vigor a atual versão (Lei nº 10.406/2002),3 no dia 10/01/2003.
2
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988.
3
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 2002a. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
57
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
O Código Penal brasileiro vige desde 1940 (Decreto-Lei nº 2.848),4 e já trazia em seu texto
a previsão do crime de corrupção passiva (art. 317) e corrupção ativa (art. 333), além de outros que
comumente vemos serem aplicados a gestores, inclusive da saúde.
Em 1992, foi editada a Lei nº 8.429,5 conhecida como LIA (Lei de Improbidade Administrativa),
e dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito
no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou
fundacional.
Em 1993, houve a edição da Lei nº 8.666,6 conhecida como Lei de Licitações, que regulamenta
o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e prevê série de circunstâncias e atos que devem ser
evitados pela pessoa que atua no gerenciamento da coisa pública, inclusive verba, sob pena de
enquadramento deles como crime.
Em 1998, foi editada a Lei nº 9.613,7 que dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de
bens, direitos e valores, dentre outras previsões, a qual foi bastante reformulada pela Lei nº 12.683, de 2012.
A Lei de Acesso à Informação (LAI – Lei nº 12.527) foi editada em 2011 e dispõe sobre os
procedimentos a serem observados pelas entidades públicas e também privadas nela mencionadas
“com o fim de garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º
do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal” (art. 1º).8
Em agosto de 2013, foi editada a Lei nº 12.846,9 que tratou da responsabilização administrativa
e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, conhecida como Lei
Anticorrupção, que foi regulamentada pelo Decreto nº 8.420/2015.
Essa lei definiu os atos lesivos praticados contra a administração pública que ensejam punição
e aplicação de multas às pessoas jurídicas e aos seus prepostos que agirem da forma nela indicada,
4
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 1940. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
5
BRASIL. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito
no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
6
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e
contratos da administração pública e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1993. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
7
BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção
da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.htm. Acesso
em: 26 jun. 2020.
8
BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º , no inciso II do §
3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5
de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências Diário Oficial da União, Brasília, 2011.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
9
BRASIL. Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. Dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de
atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2013. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
58
além de prever atenuante para as empresas que possuírem “procedimentos internos de integridade”,
conhecidos como compliance, que visam normatizar as posturas das pessoas que trabalham nelas
para fazer com que ajam de maneira íntegra no desenvolvimento de suas ações do dia a dia, tendo
por norte a regularidade da sua atuação em todos os seus aspectos, com o cumprimento integral
das regras jurídicas.
A Lei nº 12.846/2013 prevê que “serão levadas em consideração na aplicação das sanções”
(art. 7º) a quem a infringir: “a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade,
auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de
conduta no âmbito da pessoa jurídica” (art. 7º, inciso VIII).10
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) editou a Resolução Normativa (RN) nº 443,13
em 25/02/2019, que dispõe sobre a adoção de práticas mínimas de governança corporativa, com
ênfase em controles internos e gestão de riscos para fins de solvência das operadoras de plano de
assistência à saúde.
Em 2018, o Brasil caiu nove posições e passou a ocupar o 105º lugar, seu pior resultado desde 2012.
Em 2019, o país caiu mais uma posição e ficou em 106º lugar, do total de 180 países avaliados.
10
Idem.
11
BRASIL. Decreto nº 8.420, de 18 de março de 2015. Regulamenta a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, que dispõe sobre a
responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
decreto/d8420.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
12
Idem.
13
BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Resolução Normativa (RN) n° 443, de 25 de janeiro de 2019. Dispõe
sobre adoção de práticas mínimas de governança corporativa, com ênfase em controles internos e gestão de riscos, para fins de
solvência das operadoras de plano de assistência à saúde. Brasília: ANS, 2019. Disponível em: http://www.ans.gov.br/component/
legislacao/?view=legislacao&task=TextoLei&format=raw&id=MzY3MQ==. Acesso em: 26 jun. 2020.
14
TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL. Índice de Percepção da Corrupção 2019. [S.l.]: Transparência Internacional, 2020.
Disponível em:
https://transparenciainternacional.org.br/ipc/?utm_source=Ads&utm_medium=Google&utm_campaign=%C3%8Dndice%20de%20Percep%C3%A7%C3%A3o%20da%20Corrup%C3%A7%C3%A3o&utm_term=Ranking%20da%20
Corrup%C3%A7%C3%A3o&gclid=CjwKCAjwltH3BRB6EiwAhj0IUBj71aG03l1ZzR3UDI9u09JPDNi6-r_ktu7fjo_H_lJh35o7GtyLnhoCDYkQAvD_BwE.
Acesso em: 25 jun. 2020.
59
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
O mundo corporativo, incluindo o da saúde, exige dos seus administradores ações rápidas,
práticas inovadoras, resultados eficientes e superavit expressivo, nem que, para isso, eles se valham
de sua influência pessoal ou poderio econômico, o que pode conflitar com as regras de programa de
integridade que contenha princípios que devam ser respeitados incondicionalmente.
Em março de 2014, o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento de ação penal (nº 470)
que ficou conhecida como Mensalão. Mal nos recuperamos daquele impacto e no mesmo mês de
março de 2014 surgiram as notícias sobre escândalo ainda mais rumoroso e abrangente, descoberto
por investigação conduzida pela Polícia Federal, fiscalizada pelo Ministério Público Federal e
presidida pela Justiça Federal, chamada de Operação Lava Jato, conhecida por todos e que continua
se estendendo até os dias de hoje, em suas diversas ramificações.
É inegável que, nos últimos anos, a sociedade brasileira tem experimentado sensações
diferentes do que se via até então. Os resultados de várias operações policiais provocaram nos
cidadãos a sensação de que as coisas mudariam sensivelmente dali por diante, o que será confirmado
ou não pelo desenrolar dos acontecimentos aos quais assistimos todos os dias ao vivo e em cores.
O histórico aqui foi feito para demonstrar ao leitor que a mudança de postura e a necessidade
de agir conforme o previsto nas diversas regras jurídicas vigentes têm que partir das pessoas, individual
e coletivamente, pois as normas devem ser cumpridas por elas mesmas, de nada adiantando produzir
leis e mais leis se os cidadãos não entenderem o seu papel de protagonista neste cenário.
O que é o compliance?
O termo compliance vem do verbo inglês to comply e significa agir de acordo com as
regras legais, morais, éticas e de conduta diante das situações experimentadas por nós, comercial,
profissional e pessoalmente falando.
15
Idem.
16
Brasil (2015).
60
nacional ou estrangeira.
Vê-se que a lei brasileira tem como foco a pessoa jurídica e atribui-lhe responsabilidade
objetiva civil e administrativa pelos atos ilegais que seus componentes (dirigentes ou colaboradores)
eventualmente cometerem.
No programa de compliance,
17
Idem.
18
BARROSO, L. R. Prefácio. In: CUEVA. R. V. B.; FRAZÃO, A. (Coords.). Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade.
3. reimp. Belo Horizonte: Fórum, 2018.
19
GUARAGNI, F. A. Princípio da confiança no Direito Penal como argumento em favor de órgãos empresariais em posição de comando e
compliance: relações e possibilidades. In: GUARAGNI, F. A.; BUSATO, P. C. (Coords.). Compliance e Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2015, p. 74.
61
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
legais que as demais pessoas jurídicas. Algumas possuem, ainda, mais normas específicas a serem
cumpridas em razão de ostentarem títulos públicos que as obrigam a adotar prática neste sentido,
além de muitas manterem relacionamentos jurídicos com entes políticos ou órgãos públicos e
receberem repasse de dinheiro oriundo de cofres municipais, estaduais ou federal, como por
intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo.
Não só as empresas e as entidades que atuam na saúde, mas também as pessoas físicas
que nelas labutam, estão sujeitas à aplicação de toda a legislação caso suas atividades destoem do
esperado e enquadrem-se nas práticas ilícitas descritas nela, pois os profissionais equiparam-se a
servidor (ou funcionário) público quando há verba pública envolvida.
Veja, nesse sentido, o que decidiu o Superior Tribunal de Justiça, em quatro oportunidades,
de muitas:
Enquadra-se no conceito de funcionário público, para fins penais, todo aquele que
exercer função pública, temporária ou permanente, a título oneroso ou gratuito,
ainda que a mesma seja delegada. Inteligência do art. 327 do Código Penal,
preconizada mesmo antes do advento da Lei n. 9.983/2000. Administradores de
hospital conveniado ao SUS e médicos que atendem pacientes segurados por
esta Autarquia estão inseridos nesta concepção, por exercerem função pública
delegada.22
20
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus nº 12.405/SC. Relator: Ministro José Arnaldo da Fonseca. Diário da
Justiça, 2 out. 2003b.
21
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 331.055/RS. Relator: Ministro Paulo Medina. Diário da Justiça, 25 ago. 2003a.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus nº 15.081/RS. Relator: Ministro Jorge Scartezzini. Diário da Justiça, 24
22
maio 2004.
23
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 495.933/RS. Relator: Ministro Luiz Fux. Diário da Justiça, 23 set. 2002b.
62
Vislumbra-se que o programa de integridade terá a mesma importância que as certificações
de qualidade obtidas pelas empresas que atuam na saúde, com a criação de órgãos que vão analisar
o seu conteúdo, atestar regularidades à luz de algum modelo ideal e cobrar anuidades para sua
renovação.
É por isso, também, que se chama “programa”, sugerindo planejamento, organização, método,
execução e continuidade, devendo ser prolongado e constantemente revisto, adaptado e ajustado a
eventuais mudanças ocorridas durante o percurso.
No programa de compliance devem estar reunidas – e dele fazerem parte integrante – todas
as normas de procedimento até então criadas pela empresa para que elas sejam consolidadas e
estejam em consonância com a ideia central daquele documento, como o indispensável código de
conduta, por exemplo, que deve seguir essa diretriz.
Investe-se tempo entre o início dos trabalhos até a redação final do programa de integridade,
variáveis de acordo com o tamanho da empresa, o número de colaboradores, de filiais, os serviços prestados
e a série de fatores que implicam o elastecimento ou o encurtamento do tempo necessário para que ele
seja elaborado de forma a atender fielmente ao cenário de quem pretende implantá-lo corretamente.
24
REZENDE, W. Estação clínicas: os bastidores do maior hospital público da América Latina. São Paulo: Edição do autor, 2007.
25
RAMOS, P. L. G. A máfia das próteses: uma ameaça à saúde. São Paulo: Évora, 2016.
26
Não se está, aqui, fazendo qualquer juízo de valor a respeito das pessoas físicas ou jurídicas e das situações descritas nos livros, até
porque há quem conteste os autores.
27
Rezende (2007).
28
Ramos (2016).
29
Ricardo Villas Bôas Cueva, fazendo menção a Mendes (2018), diz que “Um programa de fachada, que não preencha os requisitos mínimos
ou que os preencha apenas formalmente, pode de fato resultar em penalidades maiores do que aquelas que seriam aplicáveis em sua
ausência” (CUEVA; FRAZÃO, 2018).
63
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
Os riscos aos quais a empresa, seus colaboradores e administradores estão sujeitos são vários,
conforme alerta Ricardo Villas Bôas Cueva:
30
Brasil (2015).
31
GIOVANINI, W. Programas de compliance e anticorrupção: importância e elementos essenciais. In: DE PAULA, M. A. B.; DE CASTRO, R. P. A.
(Coords.). Compliance, gestão de riscos e combate à corrupção: integridade para o desenvolvimento. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2020.
64
Esses riscos naturalmente aumentam de acordo com a abrangência setorial e
territorial das atividades da empresa.32
As regras internalizadas pela empresa podem e devem ser estendidas aos seus parceiros,
fornecedores e prestadores de serviços em geral, visando, também, sanear os relacionamentos
e fazer com que o contato dela se dê apenas com quem possui a mesma sintonia de atuar com
regularidade e agir conforme o previsto nas regras jurídicas aplicáveis à sociedade em geral e ao
segmento específico de atuação.
Optou-se, aqui, por mencionar o previsto no Decreto nº 8.420/2015 para indicar parâmetros
de aferição de aplicabilidade e avaliação de critérios constantes de um programa de integridade, o
que foi feito em dispositivo assim redigido:
Art. 42. Para fins do disposto no § 4º do art. 5º, o programa de integridade será avaliado,
quanto a sua existência e aplicação, de acordo com os seguintes parâmetros:
32
CUEVA, R. V. B. Funções e finalidades dos programas de compliance. In: DE PAULA, M. A. B.; DE CASTRO, R. P. A. (Coords.). Compliance,
gestão de riscos e combate à corrupção: integridade para o desenvolvimento. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2020.
65
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
XVI. transparência da pessoa jurídica quanto a doações para candidatos e partidos políticos.
§ 1º Na avaliação dos parâmetros de que trata este artigo, serão considerados o porte e
especificidades da pessoa jurídica, tais como:
66
I. a quantidade de funcionários, empregados e colaboradores;
VII. a quantidade e a localização das pessoas jurídicas que integram o grupo econômico;
e
O programa de integridade é dinâmico, possui vida contínua e deve estar presente no dia
a dia da empresa, dos seus administradores e colaboradores, e servir como norte e indicador de
postura para o desenvolvimento dos seus negócios, sob pena de ser imprestável ao fim a que se
destina e inservível como atenuante a eventual aplicação de punições aos envolvidos.
33
Brasil (2015).
67
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
perseguição por agir em conformidade com as regras jurídicas e morais exigidas das pessoas que
compõem a sociedade, inclusive a corporativa.
Referências
BARROSO, L. R. Prefácio. In: CUEVA. R. V. B.; FRAZÃO, A. (Coords.). Compliance: perspectivas e desafios
dos programas de conformidade. 3. reimp. Belo Horizonte: Fórum, 2018.
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de
Janeiro, 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.
htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988.
______. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes
públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função
na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm. Acesso
em: 26 jun. 2020.
______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da administração pública e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 1993. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8666cons.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
______. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de
bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos
nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L9613.htm. Acesso em: 26 jun. 2020.
______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, 2002a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso
em: 26 jun. 2020.
68
______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 495.933/RS. Relator: Ministro Luiz Fux.
Diário da Justiça, 23 set. 2002b.
______. ______. Recurso Especial nº 331.055/RS. Relator: Ministro Paulo Medina. Diário da Justiça,
25 ago. 2003a.
______. ______. Recurso em Habeas Corpus nº 12.405/SC. Relator: Ministro José Arnaldo da Fonseca.
Diário da Justiça, 2 out. 2003b.
______. ______. Recurso em Habeas Corpus nº 15.081/RS. Relator: Ministro Jorge Scartezzini. Diário
da Justiça, 24 maio 2004.
______. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso
XXXIII do art. 5º , no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei
nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da
Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências Diário Oficial da União, Brasília, 2011.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm. Acesso
em: 26 jun. 2020.
69
3. COMPLIANCE NA SAÚDE
O BRASIL é o 8º maior mercado de saúde do mundo. Terra, 8 jul. 2019. Disponível em: https://www.
terra.com.br/noticias/dino/o-brasil-e-o-8-maior-mercado-de-saude-do-mundo,4f126aa3fc74c1876
e7f0dfd81523c60qii5n85h.html. Acesso em: 26 jun. 2020.
RAMOS, P. L. G. A máfia das próteses: uma ameaça à saúde. São Paulo: Évora, 2016.
REZENDE, W. Estação clínicas: os bastidores do maior hospital público da América Latina. São Paulo:
Edição do autor, 2007.
Bibliografia complementar
BRAGA, R.; SOUZA, F. (Coords.). Compliance na saúde: presente e futuro de um mercado em busca
da autorregulação. Salvador: Sanar, 2016.
CASTRO, R. P. A. Compliance e gestão de riscos nas empresas estatais. Belo Horizonte: Fórum,
2018.
________. Compliance nas contratações públicas: exigência e critérios normativos. Belo Horizonte:
Fórum, 2019.
DAL POZZO, A. A. F. et. al. Lei Anticorrupção: apontamentos sobre a Lei n. 12.846/2013. 2. ed. rev. e
atual. São Paulo: Editora Contracorrente, 2015.
70
RAMOS, P. L. G. A máfia das próteses: uma ameaça à saúde. São Paulo: Évora, 2016.
RIZZO, M. B. M. Prevenção da lavagem de dinheiro nas organizações. 2. ed. atual. e rev. São Paulo:
Trevisan Editora, 2016.
VIEIRA, J. L. (Ed.). Código de Hamurabi: Código de Manu, excertos (livros oitavo e nono): Lei das XII
Tábuas. 3. ed. São Paulo: Edipro, 2011. (Série Clássicos Edipro).
71
CAP. 4
GESTÃO
DE RISCOS
J. Antônio Cirino
Objetivos
» Compreender a gestão de riscos como uma metodologia essencial para o gerenciamento de
serviços de saúde, para a prevenção e o controle de danos;
» Fundamentar as bases da gestão de riscos no Brasil e no mundo, oportunizando uma visão
ampliada desse tema;
» Apresentar ferramentas, técnicas e métricas para a prática da gestão de riscos na saúde.
O corpo humano atua constantemente voltado para gerenciar os erros possíveis de ocorrer,
emitindo sinais passíveis de serem percebidos por nós para a busca da causa-raiz, atuando diretamente
nesses fatores de risco, assim como quando as pálpebras dos olhos estão trêmulas, em referência a
um possível aumento de pressão arterial. Nesse sentido, as unidades de saúde, enquanto um corpo
vivo organizacional, também devem atuar por meio de seus mecanismos para evitar falhas, a partir
de controles estabelecidos e gerenciados pelos humanos que nelas trabalham.
1
ONA – ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO. Manual das organizações prestadoras de serviços de saúde. São Paulo: ONA,
2018. p. 143.
2
AVALOS, J. M. A. Auditoria e gestão de riscos. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 65.
3
ONA (2018, p. 140).
73
4. GESTÃO DE RISCOS
Essas frases são presentes na rotina de uma unidade de saúde, em que os colaboradores
habituam-se a trabalhar em um contínuo modo emergencial, quando, nem sempre, esse é o perfil
de atendimento da unidade, tampouco, mesmo nesse cenário, assim o deveria, visto que as próprias
“emergências” são passíveis de planejamento para a atenção em saúde de qualidade.
Por isso, o conclame mais importante que o Setor Saúde pode empreender na atualidade é
a transformação da consciência voltada ao contingenciamento e às práticas emergenciais para uma
visão de prevenção desses riscos, controles adequados, planejamentos em curto, médio e longo
prazos, possibilitando maior segurança ao paciente, ao colaborador, bem como a efetividade dos
resultados clínicos e organizacionais.
Apesar de fulcral para o Setor Saúde, a gestão de riscos não nasceu enquanto gerenciamento
nas unidades hospitalares. Possui grande força em outras áreas, como a aviação, para a prevenção
dos riscos inerentes aos procedimentos aéreos,4 mas estava presente muito antes disso, conforme
resgata Bernstein,5 desde a Grécia Antiga; com o desenvolvimento da matemática e o estudo de
probabilidades foi possível discutir sobre o risco. Sequencialmente, os jogos de azar, o mercado
financeiro e o desenvolvimento das práticas de controle interno oportunizaram uma visão voltada à
mitigação de danos, de todas as naturezas.
Castiel, Guilam e Ferreira6 rememoram também que, “no decorrer da Segunda Grande
Guerra, no campo da engenharia, o tema recebeu forte impulso devido à necessidade de estimar
danos decorrentes do manuseio de materiais perigosos (radiativos, explosivos, combustíveis)”. Os
autores contribuem para visualizar que a discussão de riscos é presente nas ciências econômicas; na
epidemiologia, para compreender as doenças transmissíveis; na engenharia, com a intervenção de
estruturas no meio ambiente, por exemplo; e nas ciências sociais, ao vislumbrar o risco de um ponto
de vista mais qualitativo.
4
Recomendamos a leitura do “Guia de Gerenciamento de Riscos para a Aviação”, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Disponível
em: https://www.anac.gov.br/noticias/2019/anac-disponibiliza-guia-de-gerenciamento-de-riscos-para-a-aviacao. Acesso em: 16 fev. 2020.
5
BERNSTEIN, P. L. Desafio aos Deuses: a fascinante história do risco. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
6
CASTIEL, L. D.; GUILAM, M. C. R.; FERREIRA, M. S. Correndo o risco: uma introdução aos riscos em saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2010. p. 15.
74
Historicamente, ainda temos um marco conceitual do controle interno, como a Lei Sarbanes-
Oxley, nos Estados Unidos, em 2002, e a publicação do informe do Committee of Sponsoring
Organizations (Coso) of Treadway Commission – National Comission on Fradulent Financial Reporting:
Segundo Avalos,8 “esse relatório destaca a necessidade premente de que a alta direção[,]
como o restante da organização[,] compreendem cabalmente a importância do controle interno
[...]”. Isso tem impacto direto no gerenciamento dos riscos nas instituições, aqui ora discutidas as de
saúde, considerando a inserção direta do nível estratégico ao emanar as diretrizes para a prevenção
de falhas.
Na saúde,9 de uma forma mais específica, foi desde Hipócrates, com o “primum non nocere”
(antes de tudo não fazer mal), passando por Ignaz Semmelweis e Florence Nightingale, no século XIX,
com o início da discussão sobre higienização das mãos e práticas de precaução, e Avedis Donabedian,
já no século XX, ao trabalhar uma assistência de qualidade pensando na tríplice estrutura, processo e
resultado e a criação de institutos e legislações que, de lá para cá, foi possível chegarmos ao momento
do pensar para a prevenção. No Brasil, podemos remontar à criação dos hospitais-sentinela, desde
2001, com práticas que levaram à promulgação do Programa Nacional para Segurança do Paciente,
em 2013. Esse tema será mais bem aprofundado no capítulo de “Segurança do Paciente” deste manual.
Essas palavras serão usadas nos próximos tópicos de forma recorrente; por isso, é crucial
distingui-las para a devida assimilação da discussão.
7
Avalos (2009, p. 51).
8
Ibidem, p. 54.
9
NASCIMENTO, J. C.; DRAGANOV, P. B. History of quality of patient safety. Hist Enferm Rev Eletronica [internet], v. 6, n. 2, p. 299-309, 2015.
75
4. GESTÃO DE RISCOS
REVISÃO E
MONITORAMENTO AUDITORIA CICLOS DE ACOMPANHAMENTO
DOS RISCOS DE RISCOS MELHORIA DE FORMA
CONTÍNUA
Para a adequada implantação da gestão de riscos, sugerimos algumas fases, que perpassam
pelo planejamento fundamentado, pelo acompanhamento da alta direção, pela instituição de um
comitê multidisciplinar para a condução do trabalho, pela escolha de uma ou mais metodologias
que deverão ser adaptadas à realidade e ao contexto do hospital, pela capacitação das equipes em
nível estratégico/tático/operacional, pela identificação e pela classificação dos riscos.
A partir daí, iniciamos a fase de implementação, com a comunicação dos riscos identificados e
suas formas de controle; o monitoramento de suas ocorrências e as contingências; o empreendimento
periódico de auditorias de riscos e a criação de planos de ação para a melhoria da gestão dos riscos; e
a revisão e o acompanhamento constante pelos diversos setores do comitê de riscos e da alta direção.
Além dos objetivos, outro fator importante é a identificação das pessoas que serão envolvidas
e quais as responsabilidades a elas imputadas no dia a dia. Falaremos, a seguir, da estrutura de comitê
76
que pode ser desenvolvida, mas há, também, uma atribuição específica em nível hierárquico a ser
estabelecida: qual setor/gerência/diretoria/superintendência terá a atividade do gerenciamento
do risco? Todas as áreas do hospital possuem corresponsabilidade nesse gerenciamento, mas há a
necessidade de uma estrutura definida e declarada como detentora da autonomia para a gestão do
tema na instituição de saúde, com deliberação para o comitê ou com apoio do comitê, a depender
da forma como se pretende padronizar essas atividades.
Caso se opte por instaurá-lo, deve ser compreendido como um agrupamento de temáticas ora
já discutidas em grupos, como a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, a Equipe Multidisciplinar
de Terapia Nutricional, o Comitê Transfusional, a Comissão de Controle de Infecções Relacionadas à
Assistência à Saúde, a Comissão de Gerenciamento de Resíduos, o Núcleo de Segurança do Paciente,
a Comissão de Verificação de Óbitos, a Comissão de Análise e Revisão de Prontuários, o Núcleo de
Compliance, dentre outros conglomerados que existem vocacionados à prevenção, seja de riscos
ambientais, seja de riscos organizacionais, clínicos e administrativos, por exemplo.
77
4. GESTÃO DE RISCOS
Definição da metodologia
Existem variadas metodologias e ferramentas para a gestão de riscos. Na saúde, algumas são
mais usuais, as quais apresentamos a seguir no intuito de ofertar uma visão geral ao gestor hospitalar,
para que sirvam de subsídio à decisão. É importante ressaltar que não há uma melhor ou pior, mas
sim diferentes possibilidades a partir dos cenários que se fizerem possíveis.
Metodologia Descrição
Metodologia retrospectiva de análise de riscos com o intuito de, após a ocorrência
Análise de de eventos e falhas, buscar melhorias para evitar reincidências. Seu uso é
causa-raiz recomendado enquanto ferramenta complementar focada nos eventos adversos,
mas não diretamente como metodologia ampliada da gestão de riscos.
Também aplicada de forma retrospectiva, é uma análise que possibilita desenvolver
a cultura justa e uma visão mais ampliada das causas que levaram ao erro,
Protocolo de
verificando os fatores contribuintes nas esferas organizacionais que propiciaram a
Londres
falha de um ser humano. As melhorias implementadas não visam somente capacitar
um profissional, mas sim melhorar o contexto da realização da atividade em falha.
A Failure Mode and Effect Analysis (FMEA) trabalha de forma prospectiva, ou seja,
atua na identificação de riscos para sua prevenção por meio de práticas de controle
Análise de modo e já definidas. Constrói um arcabouço dos riscos possíveis e os classifica a partir de
efeito de falha sua severidade/gravidade, probabilidade de ocorrência e sua forma de detecção,
utilizando, então, três grandezas por meio do NPR – número de priorização de risco
para a definição das condutas para a falha em nível baixo, médio ou alto.
Atua de forma prospectiva; sua diferença principal é que utiliza duas grandezas:
impacto e probabilidade, oportunizando a criação de uma matriz que posiciona o
Matriz de Impacto
risco entre baixo, médio ou alto para que os setores do serviço de saúde possam
e Probabilidade
visualizar a movimentação dessa possibilidade de falha ao longo do período,
baseados na conformidade das práticas de controle.
Análise prévia que promove a identificação de riscos interligados aos processos
mapeados da instituição, com foco em construir barreiras efetivamente
Análise preliminar conectadas no processo empreendido, para que cada produto/serviço gerado seja
de risco contemplado. Para cada perigo/ameaça possível, elenca as vulnerabilidades e os
danos inerentes, verificando quais seriam as medidas preventivas essenciais para
evitar o erro.
10
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Gestão de Riscos e Investigação de Eventos Adversos Relacionados à Assistência
à Saúde. Brasília: Anvisa, 2017.
11
Avalos (2009).
78
Considerando que cada profissional poderá ter vivenciado uma metodologia diferente em
atuações pregressas, é primordial que os gestores hospitalares possibilitem o alinhamento desses
conceitos e o aproveitamento de ideias e boas ações que possam auxiliar a implantação.
O ideal é não descartar nenhuma estratégia, visto que podem contribuir diretamente com a
estruturação do método próprio para pensar os riscos da unidade de saúde. É preciso ficar claro: apesar
do uso das metodologias predefinidas/recomendadas, podem ser adaptadas ao contexto em que
estão inseridas para uma melhor aderência, desde que as decisões estejam/sejam fundamentadas.
Ferramenta Descrição
Uma tempestade de ideias é esperada nessa ferramenta comum em vários cenários
da gestão da qualidade. A proposta é empreender uma reunião oportunizando um
Brainstorming
espaço profícuo para sugestões e percepções e, somente depois, as manifestações
serem ordenadas e estruturadas objetivando uma melhoria efetiva.
Também chamada “espinha de peixe”, por seu formato visual que se assemelha ao
nome, a busca é compreender quais fatores afetam dentro das categorias mão de
Diagrama de
obra, métodos, meio ambiente, mediação, máquinas e equipamentos e materiais. A
Ishikawa
partir desses “6 Ms”, podemos vislumbrar uma visão ampliada do contexto da falha
para propor inovações nos processos.
A técnica que remete a uma criança em seus primeiros anos, ainda curiosa para
entender o mundo, que pergunta, a cada resposta, um novo “por quê?”. Dessa forma,
5 Porquês propõe-se aprofundar em pelo menos cinco fases de pergunta, a fim de identificar
a motivação para a ocorrência de uma falha, em busca da causa original e que pode
minimizar os efeitos desse erro.
Relacionado à análise dos termos em inglês Design, Equipment, Procedures,
Operators, Supplies and materials, e Enviroment, a Depose pode ser usada também
em conexão com o diagrama de Ishikawa, para avaliar o processo e seu desenho, os
Depose
equipamentos e seus operadores, os insumos e materiais presentes e o ambiente
em que esse procedimento é empreendido, fazendo perguntas específicas em cada
um desses cenários para evidenciar questões ainda pertinentes de análise.
Por seu desenho assemelhar-se a uma gravata borboleta, tem, em seu cerne,
o objetivo de perceber quais as prováveis causas para uma falha e as suas
Bow tie
consequências, ocasionando o planejamento de barreiras de segurança/práticas de
proteção e em um plano de mitigação dos possíveis desdobramentos.
12
Brasil (2017).
79
4. GESTÃO DE RISCOS
Com essa formação primária, surgirão dúvidas e anseios quanto à gestão de riscos que
podem ser sanadas por meio de uma consultoria do comitê de riscos ou do setor que coordena
o tema em cada processo/área. Essa consultoria tem um papel ativo na percepção dos riscos, dos
próximos passos que vislumbramos a seguir, com a identificação, a classificação e a priorização dos
riscos. Nem todos os profissionais assimilarão esses conceitos de imediato; por isso, a consultoria/
assessoria torna-se um momento crucial para auxiliá-los na conexão do que foi aprendido enquanto
metodologia com o que é desenvolvido na prática de seus processos.
80
deve considerar a natureza destes e as estratégias de enfrentamento para cada um. Esta definição
deve ser da própria instituição de saúde, apesar da existência de exemplos e cases considerando
os diferentes cenários e contextos presentes no país. Não devemos confundir a “classificação do
risco” do paciente para atendimento nas emergências, por exemplo, com essa etapa. São atividades
distintas.
A natureza do risco poderá ser verificada por categorias mais ou menos comuns entre as
metodologias utilizadas na saúde para o gerenciamento das falhas, sendo as mais presentes:
administrativa; ambiental; assistencial; financeira; imagem/reputação; informação; e jurídica.
Apesar das posturas distintas entre cada metodologia, o que há de comum entre elas,
normalmente, é a sugestão de uma categorização semafórica, quando existem muitos riscos
mapeados:
» Alto (vermelho): plano de ação de melhorias imediato e controle por indicadores obrigatório;
acompanhamento mensal do comitê e da alta direção;
» Médio (amarelo): plano de ação de melhorias em tempo médio (até três meses) e controle
por indicadores desejável; acompanhamento bimestral do comitê e da alta direção;
» Baixo (verde): plano de ação de melhorias em tempo longo (até seis meses) e controle por
indicadores opcional; acompanhamento trimestral do comitê e da alta direção.
Caso a instituição não tenha identificado muitos riscos, esses prazos podem ser diminuídos
para um melhor controle e gerenciamento das falhas. Ao encontrar o resultado dessa priorização, é
importante que a prática de atuação diferente para cada tipo de risco (alto, médio ou baixo) fique
evidente para a equipe, para o comitê e para a alta direção, visto que o esforço é para tratar com
prioridade aquilo que há, dentre os resultados dos cálculos, uma maior gravidade x probabilidade
de ocorrência com menor possibilidade de detecção, por exemplo, variando em cada tipo de risco.
81
4. GESTÃO DE RISCOS
quanto com os pacientes-clientes que atendem para uma barreira de segurança compartilhada. Por
isso, reforçamos que “a comunicação é essencial para cuidar de pessoas e alcançar bons resultados”.13
Os períodos pré-auditoria de riscos, interna ou externa, são cruciais para o reforço desta
comunicação, buscando fortalecer os conceitos e locais para o acesso às informações.
Toda essa sistematização deve ser transformada em ação no dia a dia do serviço de saúde.
A gestão de riscos deveria ser uma das principais atividades diárias dos gestores hospitalares e dos
profissionais de saúde. O que você e sua equipe fazem, todos os dias, para evitar que o risco com
alta probabilidade de ocorrência, de fato, aconteça? É nessa premissa que o trabalho sobre riscos se
baseia: em um esforço contínuo para mitigar a possibilidade de uma faísca transformar-se em um
incêndio.
O líder de cada processo é um auditor do dia a dia, e deverá monitorar, de forma constante, o
gerenciamento de risco em sua área, a efetividade das ações corretivas das práticas de controle, ou
mesmo se deve ser considerada e planejada a construção de novas práticas.
Auditoria de riscos
Ao vivenciar o primeiro ciclo, inicia-se a auditoria de riscos. Cada instituição define a
periodicidade em que fará a movimentação de um ciclo para o outro. Minimamente, recomenda-se
período trimestral e, no máximo, semestral, para vislumbrar o impacto das melhorias empreendidas.
Nesse sentido, a auditoria serve para findar um ciclo e iniciar um novo, avaliando, de
forma direta, cada prática de controle implementada para os riscos, a conformidade e as possíveis
oportunidades de melhoria nos processos.
O que se pretende em uma auditoria de riscos para o modo de falha “queda”, por exemplo,
é perceber se o protocolo básico de segurança do paciente está implementado, capacitado,
se o paciente está com o risco destacado em sua pulseira de identificação, se a escala de Morse
está aplicada, se o paciente e o acompanhante sabem sobre esse risco e de que forma auxiliam
13
CIRINO, J. A. F. Gestão da Comunicação Hospitalar. Curitiba: Appris, 2018. p. 21.
82
como barreira, se as grades da cama e da maca estão levantadas, se o piso está molhado e possui
identificação do risco, dentre outros requisitos propostos pelo próprio líder do processo em parceria
com o Núcleo de Segurança do Paciente para o acompanhamento da efetividade no gerenciamento.
Alguns passos antes, é papel do comitê planejar essa auditoria, com o rigor esperado em um
processo dessa natureza. Na sequência, é necessário definir e capacitar a equipe de auditores internos
de riscos. Esses profissionais devem ser observadores, perspicazes, com inclinação educativa, visão
sistêmica e extremamente éticos em suas posturas.
Não é fácil reunir todas as qualidades necessárias em uma equipe de auditores desde o início;
por isso, poderá ser necessário, além de um curso introdutório, o acompanhamento da primeira
turma por profissionais já atuantes na área, que possam instruí-los durante a auditoria. A cada novo
ciclo, os auditores da etapa anterior podem acompanhar os novos auditores, o que possibilitará a
formação de um grande grupo, que tem condições de ser acionado a cada necessidade.
Melhorias
Relatório
Execução
Divulgação
Capacitação
dos auditores
Planejamento
Ciclos de melhoria
A partir do relatório da auditoria de riscos, inicia-se a fase de proposição das melhorias
para, assim, girar o ciclo. Os riscos são movimentados a partir dos resultados da auditoria, e cabe
à instituição definir quais os critérios para aumentar ou diminuir a probabilidade de ocorrência de
uma falha. Comumente, isso é realizado a partir do percentual de conformidade das práticas de
controle dos riscos, que pode movimentar a probabilidade/ocorrência dessa falha, fazendo com que
passe a ser com menor ou maior possibilidade de acontecer, dependendo do tipo da metodologia
de priorização adotada.
83
4. GESTÃO DE RISCOS
Não somente nesse período, mas em qualquer momento em que o processo for alterado,
torna-se necessário pedir a atualização do gerenciamento do risco do processo, a ser validada com
o comitê. A única circunstância em que não se preconiza a revisão é a partir do momento em que os
ritos de auditoria já tenham sido iniciados, visto que os avaliadores estudarão os riscos existentes, e
qualquer alteração nesse período poderá incidir em erros.
São esses os passos para o estabelecimento de uma gestão de riscos, desde a sua concepção
até as práticas, que são contínuas a cada novo ciclo inaugurado. Quando as equipes de saúde
conseguirem moldar sua atuação na gestão de riscos em uma perspectiva preventiva e proativa,
será possível impactar consideravelmente a redução dos eventos adversos e das falhas decorrentes
dos processos de saúde.
84
Riscos categorizados como alto x 100.
Formato de cálculo:
Total de riscos identificados
A meta deverá ser definida a partir daquilo que a
instituição entender como factível em percentual
de riscos com alta probabilidade de ocorrência.
Recomendações para a definição da meta
Compreende-se que quanto menor esse percentual,
e a direção (inversamente ou diretamente
melhor, visto que esse tipo de risco exige um controle
proporcional):
mais apurado e com práticas de controle monitoradas
diretamente pela alta direção. Sugerimos avaliar o
histórico dos primeiros ciclos para essa definição.
Possíveis participantes da análise crítica desses Comitê de riscos, líderes dos processos com riscos
dados: altos, alta direção.
Reforçamos que o uso desse quadro dependerá da metodologia adotada e da forma como
o comitê de riscos conduzirá essas práticas na organização. Além disso, o caderno da Anvisa14 sobre
a “Gestão de Riscos e Investigação de Eventos Adversos Relacionados à Assistência à Saúde” possui
outros templates que podem ser consultados.
14
Brasil (2017).
85
4. GESTÃO DE RISCOS
Prevenindo
O mais importante na gestão de riscos para as instituições de saúde é aprender a praticar a
prevenção. O melhor gerenciamento de riscos é aquele que reduz, ao mínimo possível, a ocorrência
de erros; assim, o esforço é substancialmente menor do que o de mitigar os danos, além, é claro, da
postura ética e social para com as pessoas que são cuidadas pelos profissionais de saúde. Prevenir
é uma forma de assumir o comando no atendimento àqueles que buscam assistência nas unidades
de saúde, oportunizando que o custo versus benefício desses procedimentos seja o melhor possível,
em todos os âmbitos.
Almejamos que a instituição de saúde, com a gestão de riscos, possa gozar de uma boa saúde
organizacional/administrativa ao implementar práticas que reduzam os prejuízos financeiros e de
imagem, inserindo práticas de controle que possibilitem manter a unidade saudável. Para isso, é
imprescindível que os processos deste serviço de saúde estejam mapeados e contratualizados, para
que os riscos sejam identificados e associados aos procedimentos que os relacionam e no impacto
que podem ocasionar na entrega dos produtos desta atividade.
Referências
AVALOS, J. M. A. Auditoria e gestão de riscos. São Paulo: Saraiva, 2009.
BERNSTEIN, P. L. Desafio aos Deuses: a fascinante história do risco. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
CASTIEL, L. D.; GUILAM, M. C. R.; FERREIRA, M. S. Correndo o risco: uma introdução aos riscos em
saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2010.
NASCIMENTO, J. C.; DRAGANOV, P. B. History of quality of patient safety. Hist Enferm Rev Eletronica
[internet], v. 6, n. 2, p. 299-309, 2015.
86
CAP. 5
SEGURANÇA
DO PACIENTE
Péricles Góes da Cruz e Gilvane Lolato
Objetivos
» Apresentar conceitos de segurança do paciente;
» Explanar a importância da gestão por processos, riscos e resultados para a segurança do paciente;
» Demonstrar as estratégias do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP);
» Descrever o papel do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e suas responsabilidades;
» Discutir sobre o fluxo de notificação e a necessidade de uma mudança de cultura nas
organizações de saúde.
Esses danos desnecessários são conhecidos como eventos adversos, que, por sua vez, são
danos não intencionais decorrentes da assistência prestada ao paciente, não relacionados à evolução
natural da doença de base. Obrigatoriamente, acarretam lesões mensuráveis nos pacientes afetados,
óbito ou prolongamento do tempo de internação. A importância dos eventos adversos reside na
indicação de falhas na segurança do paciente, refletindo o marcante distanciamento entre o cuidado
real e o cuidado ideal.
A falha “aceitável” refere-se àquilo que é viável diante do conhecimento atual, dos recursos
disponíveis e do contexto em que a assistência foi realizada frente ao risco de não tratamento ou
outro tratamento. Sendo assim, a segurança do paciente é a redução de atos inseguros nos processos
assistenciais e o uso das melhores práticas descritas de forma a alcançar os melhores resultados
possíveis para o paciente. É o ato de evitar, prevenir e melhorar os eventos adversos na assistência
prestada ao paciente.
1
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. The Conceptual Framework for the International Classification for Patient Safety. Genebra:
WHO, 2009. v1.1. (Final Technical Report and Technical Annexes). Disponível em: https://www.who.int/patientsafety/taxonomy/icps_full_
report.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
89
5. SEGURANÇA DO PACIENTE
» 1818-1865: Dr. Ignaz Semmelweis, pioneiro nos procedimentos antissépticos, fez a relação
entre a febre puerperal e o exame obstétrico realizado pelos estudantes que tinham vindo
da aula de anatomia e manipulado o cadáver. Com a lavagem das mãos, a mortalidade
diminuiu de 18% para 1%;
» 1855: Florence Nightingale (1820-1910),2 pioneira no tratamento de feridos de guerra
durante a Guerra da Crimeia. Também contribuiu no campo da estatística, sendo precursora
na utilização de métodos de representação visual de informações, com gráficos setoriais,
gestão da clínica e profissionalização da Enfermagem na Inglaterra;
» 1966: Avedis Donabedian (1919-2000),3 publicou os sete pilares da qualidade:
› Eficácia;
› Eficiência;
› Aceitabilidade;
› Legitimidade;
› Equidade;
› Otimização;
› Custo.
» 1999 – “Errar é humano”: o Institute of Medicine (IOM), dos Estados Unidos,4 publicou um
livro-relatório com o título “Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”);
» 2001 – “Crossing the quality chasm”:5 problemas de qualidade geralmente ocorrem não
porque falta conhecimento, mas devido a falhas fundamentais nas formas como o cuidado
é organizado.
2
FRELLO, A. T.; CARRARO, T. E. Contribuições de Florence Nightingale: uma revisão integrativa da literatura. Esc Anna Nery, v. 17, n. 3, p.
573-579, jul.-set. 2013.
3
DONABEDIAN, A. The seven pillars of quality. Arch Pathol Lab Med, v. 114, p. 1115-1118, 1990.
4
KOHN, L. T.; CORRIGAN, J. M.; DONALDSON, M. S. (Eds.). To err is human: building a safer health system. Washington: National Academy
Press; IOM, 1999.
5
IOM – INSTITUTE OF MEDICINE. Crossing the quality chasm: a new health system for the 21st Century. Washington: IOM, 2001.
90
Paciente (International Classification for Patient Safety – ICPS), em 2004,6 para padronizar e organizar
os conceitos e as definições sobre segurança do paciente a serem utilizados pelas organizações de
saúde, além de propor medidas para reduzir os riscos e mitigar os eventos adversos.
No Brasil não foi diferente. Várias iniciativas tiveram destaque, como o portal Proqualis da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),7 que tem um relevante papel na disseminação de conhecimento
nas áreas de informação clínica e de segurança do paciente. Em 2006, foi realizado o primeiro Fórum
Internacional sobre Segurança do Paciente e Erro de Medicação, organizado pela Associação Mineira
de Farmacêuticos,8 em Belo Horizonte; e, em 2013, o PNSP (Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013)9
foi instituído pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), bem
como a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 36, de 25 de julho de 2013, que promulga ações
para a segurança do paciente.10
A cultura de segurança
O mundo começou a refletir de forma diferente sobre a segurança do paciente posteriormente
à publicação “Errar é humano”, do IOM, em 1999. Os profissionais de saúde iniciaram um
questionamento sobre como os irreparáveis erros estavam sendo tratados. É como se estivéssemos
esperando o erro acontecer, parados e sem ação.
A linha entre os erros aceitáveis e inaceitáveis era tênue e, definitivamente, precisávamos rever
toda uma cultura de segurança como requisito essencial para melhorar a qualidade do cuidado em
saúde. A necessidade de mudança fazia-se necessária aos líderes e para os mais diversos profissionais
de saúde que estavam à frente do cuidado. Assim, iniciamos um movimento de implantação da gestão
da qualidade e segurança dos pacientes de uma forma diferente, por isso não podemos falar de
segurança dos pacientes sem ter os processos estruturados, os riscos identificados, com suas barreiras
definidas, e os resultados para monitorar o desempenho dos processos e dos desfechos clínicos.
6
OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Estrutura conceitual da Classificação Internacional de Segurança do Paciente.
Lisboa: OMS, 2011. Disponível em https://proqualis.net/relatorio/estrutura-conceitual-da-classifica%C3%A7%C3%A3o-internacional-de-
seguran%C3%A7a-do-paciente. Acesso em: 5 maio 2020.
7
FIOCRUZ – FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Proqualis. [S.l.]: [s.d.]. Disponível em: https://proqualis.net/. Acesso em: 5 maio 2020.
8
AMFAR – ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE FARMACÊUTICOS. Institucional. Prados: Amfar, [s.d.]. Disponível em: http://www.amfar.com.br/
amfar_novo/. Acesso em: 5 maio 2020.
9
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do
Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, Brasília, 2013. Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/
legislacao/item/portaria-529?category_id=220. Acesso em: 5 maio 2020.
10
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 36, de 25 de julho de 2015. Institui ações para a segurança do paciente em
serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html. Acesso em: 5 maio 2020.
91
5. SEGURANÇA DO PACIENTE
Gestão de riscos
A gestão de riscos realiza uma avaliação da estrutura organizacional, verificando os processos
existentes e seus gargalos. Os papéis e as responsabilidades precisam estar claros para que os
recursos sejam alocados de forma adequada, e a comunicação seja efetiva em todas as etapas da
implementação da gestão de riscos. A identificação dos riscos, tanto nos processos de trabalho
quanto organizacionais, é crucial para reconhecer os riscos que podem impedir uma organização de
alcançar seus objetivos. Para esta identificação, é importante levar em consideração a abordagem
de processos. O gerenciamento de risco pode ser baseado nas entradas e nas saídas dos processos,
mas, principalmente, com foco nas atividades que podem afetar o seu desempenho, levando
em consideração suas causas, seus impactos, as fontes tangíveis e intangíveis, as limitações e as
mudanças.
92
Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP)
O Brasil, por meio da Portaria GM/MS nº 529/2013, instituiu, em 2013, o PNSP. Este é responsável
por várias iniciativas educacionais, na pesquisa, no desenvolvimento de uma taxonomia específica e
de ferramentas e no lançamento de campanhas, tais como a de “Higienização das Mãos” e “Cirurgia
Segura Salva Vidas”, por exemplo. O programa visa, especialmente, prevenir, monitorar e reduzir a
incidência de evento adverso nos atendimentos prestados, promovendo melhorias relacionadas à
segurança do paciente e à qualidade em serviços de saúde no país, por meio da obrigatoriedade de
constituição de NSPs nos serviços de saúde.
» Identificar o paciente;
» Educar o paciente;
» Participação do paciente;
» Educar os familiares.
93
5. SEGURANÇA DO PACIENTE
As intervenções são:
94
5. Higienizar as mãos para evitar infecções:
Tem a finalidade de instituir e promover a higiene das mãos nos serviços de saúde do país com
o intuito de prevenir e controlar as infecções relacionadas à assistência à saúde, visando à segurança
do paciente, dos profissionais de saúde e de todos aqueles envolvidos nos cuidados aos pacientes.
» Percentual de adesão: número de ações de higiene das mãos realizadas pelos profissionais
de saúde/número de oportunidades ocorridas para higiene das mãos, multiplicado por 100.
95
5. SEGURANÇA DO PACIENTE
Deve ser constituído por uma equipe multiprofissional, minimamente composta por médico,
farmacêutico e enfermeiro, e capacitada em conceitos de melhoria da qualidade, segurança do
paciente e ferramentas de gerenciamento de riscos em serviços de saúde. Preferencialmente, o NSP
deve contar com a participação de membros da organização que conheçam bem os processos de
trabalho e que tenham perfil de liderança. A direção é a responsável pela nomeação e pela composição
do NSP, conferindo aos seus membros autoridade, responsabilidade e poder para executar as ações
do Plano de Segurança do Paciente (PSP).
Os NSPs são responsáveis pela elaboração do PSP, o qual deve apontar e descrever as
estratégias e ações definidas pelo serviço de saúde para a execução das etapas de promoção, de
proteção e de mitigação dos incidentes associados à assistência à saúde, desde a admissão até a
transferência, a alta ou o óbito do paciente no serviço de saúde. É importante, também, que o NSP
integre as diferentes instâncias que trabalham com riscos na instituição, considerando o paciente
como sujeito e objeto final do cuidado em saúde. O NSP tem como objetivos:
Competências do NSP
A RDC também estabeleceu algumas competências para o NSP, como:
11
Ver Brasil (2015).
96
» Desenvolver ações para a integração e a articulação multiprofissional no serviço de saúde;
» Elaborar, implantar, divulgar e manter atualizado o PSP;
» Promover ações para a gestão do risco no serviço de saúde;
» Promover mecanismos para identificar e avaliar a existência de não conformidades nos
processos e nos procedimentos realizados, incluindo aqueles envolvidos na utilização de
equipamentos, medicamentos e insumos, e propor ações preventivas e corretivas;
» Acompanhar as ações vinculadas ao PSP;
» Estabelecer barreiras para a prevenção de incidentes nos serviços de saúde;
» Desenvolver, implantar e acompanhar programas de capacitação em segurança do paciente
e qualidade em serviços de saúde;
» Analisar e avaliar os dados sobre incidentes decorrentes da prestação do serviço de saúde;
» Compartilhar e divulgar à direção e aos profissionais do serviço de saúde os resultados
da análise e da avaliação dos dados sobre incidentes relacionados à assistência à saúde
decorrentes da prestação do serviço de saúde;
» Notificar ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) os eventos adversos decorrentes
da prestação do serviço de saúde e acompanhar os alertas sanitários e outras comunicações
de risco divulgados pelas autoridades sanitárias.
97
5. SEGURANÇA DO PACIENTE
» Manter registro adequado do uso de órteses e próteses quando esse procedimento for realizado;
» Prevenção de queda dos pacientes;
» Prevenção de lesão por pressão;
» Prevenção e controle de eventos adversos em serviços de saúde, incluindo as infecções
relacionadas à assistência à saúde;
» Segurança nas terapias nutricionais enteral e parenteral;
» Comunicação efetiva entre profissionais do serviço de saúde e entre serviços de saúde;
» Estimular a participação do paciente e dos familiares na assistência prestada e na promoção
do ambiente seguro.
Fluxo de notificação
A base para um PSP são os sistemas de notificações, pois, assim, conseguimos identificar as
falhas e propor as melhorias para os processos. Os sistemas de notificação têm origem em indústrias,
em especial, aviação e energia nuclear. Nas organizações de saúde, faz parte da gestão de riscos,
dentro do PSP, para identificação de eventos adversos, near miss e circunstâncias de risco.
Para que a notificação seja de fato agregadora, precisamos contar com uma cultura justa,
em que líderes e liderados agirão por meio de um processo transparente e de melhoria contínua. A
notificação conta com as etapas de: registro, avaliação, análise, verificação, feedback, comunicação e
disseminação do aprendizado a partir das notificações.
O relatório de incidentes é o principal método para gerar alertas e sinais relativos à prestação
de cuidados de saúde de qualidade. No entanto, apenas 1% dos incidentes são relatados por
profissionais de saúde. Dados da literatura indicam que cerca de 10% dos eventos adversos graves
são identificados por meio de notificação voluntária.12
Para garantirmos um processo fidedigno, precisamos garantir que haja, também, a busca
ativa das notificações para ser um complemento nos relatórios. Como estratégias para busca ativa,
temos as comissões obrigatórias, que, com um grupo de profissionais participantes, realizam análises
de óbitos, auditorias de prontuários, auditorias de processos, dentre outras ações, as quais acabam
sendo fonte de muitas notificações de eventos.
12
BEVILAQUA, A. Núcleo de Segurança do Paciente e fluxo de notificação. São Paulo: ONA, 2020. (Série 20 anos da ONA).
98
Uma cultura de segurança depende de comportamentos e atitudes, e, para mudá-los, é
importante que tenhamos uma liderança preparada e com influência positiva, além de um ambiente
de trabalho agregador, transparência nos momentos em que precisamos ouvir as nossas equipes,
bem como dar o feedback de forma sistematizada. A cultura de segurança também precisa estar
embasada na cultura organizacional, que se forma pelos valores da instituição. Por isso, as equipes
precisam estar envolvidas e, principalmente, comprometidas, para vivenciarem estes valores e a
missão da organização.
Outro ponto bastante crítico e que impacta diretamente esse processo é o amadurecimento
da liderança imediata e da alta direção no registro, na análise e no feedback das notificações, pois
ainda temos muitas falhas na aplicação de uma cultura justa. Compreender que o foco da notificação
precisa ser os processos, e não as pessoas, é o primeiro passo para uma grande mudança.
A notificação tem muitas vantagens, como: identificação das falhas nos processos; feedback
imediato; agrega para o aprendizado; viabiliza acesso às informações de pacientes que, possivelmente,
não estão em prontuário; identificação das falhas na adesão das práticas de segurança; detecção
rápida; informação ágil para tomada de decisão.
Porém, também possui algumas limitações, que são: pouco sensível à identificação de
eventos adversos; e dificuldade em extrair informações adequadas e práticas em meio ao grande
volume de dados coletados.
Segundo a Anvisa:
13
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Tecnovigilância: conceitos e definições. Brasília: Anvisa, [s.d.]. Disponível em: http://
portal.anvisa.gov.br/tecnovigilancia. Acesso em: 5 maio 2020.
99
5. SEGURANÇA DO PACIENTE
É muito importante encontrar a causa-raiz para garantir efetividade do plano de ação. Algumas
ferramentas podem auxiliar a análise, como o diagrama de causa e efeito, também conhecido como
diagrama de Ishikawa (ou espinha de peixe); e o brainstorming (ou tempestade de ideias). E, para os
eventos adversos, a recomendação é o Protocolo de Londres, pois traz ao NSP e aos responsáveis um
fluxo de investigação bastante consistente.
Para o plano de ação, a ferramenta mais recomendada é o 5W2H, considerando os itens “o que”,
“quem”, “quando”, “como”, “quanto”, “onde” e “por que”. Os mais utilizados são: “o que”, “quem” e “quando”.
Uma análise de causa consiste em trazer a oportunidade de melhoria nos processos, que ocorre quando
aprendemos a combinação criativa entre o conhecimento específico e a ciência da melhoria.14
Para que possamos aprimorar a capacidade de identificar e realizar uma mudança que resulte
em melhoria, devemos ampliar o conhecimento sobre o assunto específico e compreender o processo
em questão, que pode ser aprofundado por meio dos dados coletados, os quais, posteriormente a
uma tratativa, transformar-se-ão em informação e irão nos orientar para as possíveis mudanças.
Toda mudança identificada, antes de ser implantada na organização como um todo, deverá
ser testada, para que tenhamos a certeza de sua viabilidade. Portanto, identifique a mudança, teste
em pequena escala, colete resultados, estude-os e analise-os para, posteriormente, com resultados
positivos, possa aumentar sua escala de implantação da mudança.
A supervisão e a educação contínua farão total diferença para os resultados não somente
dos processos, e sim para a organização como um todo. Contudo, também precisamos compreender
que não estamos mais no momento em que reunir os colaboradores no auditório vai ser suficiente
para conseguir resultados satisfatórios. O que vai trazer resultados promissores é a continuidade da
capacitação e a atualização à beira-leito, na ponta, na produção, em conjunto com os colaboradores.
14
LANGLEY, G. J. et al. Modelo de Melhoria: uma abordagem prática para melhorar o desempenho organizacional. Campinas: Mercado
de Letras, 2011.
15
Ver IOM (2001).
100
Também precisamos definir métodos, pois somos seres humanos e, algumas vezes, buscamos
atalhos. De acordo com a Pirâmide de Aprendizagem de William Glasser,16 o nosso processo de
aprendizagem atual garante apenas 50% da recepção do ensino, pois é da seguinte forma:
» Centrado no professor;
» Conteudista;
» Monótono e cansativo;
» Dependente da memória;
» Fragmentado;
» O ciclo básico “ninguém merece”.
» Dinâmica em grupo;
» Compartilhar as próprias histórias;
» Ouvir as histórias dos pacientes;
» Aprender com seus pares (profissionais);
» Desenvolver perspectivas múltiplas;
» Aprender a trabalhar em equipe e a desenvolver habilidades de comunicação.
Faça simulações e crie cenários clínicos para promover ainda mais a interação entre os alunos.
Utilize a dramatização; assim, irá sensibilizar os profissionais para os papéis dentro das organizações
de saúde como pacientes, gestores e sociedade, além de ativar as sensações e os sentidos, visão e a
audição.
E não deixe de avaliar. Reflita sobre a forma como está promovendo o ensino dentro das
organizações de saúde, avalie a efetividade dos treinamentos, avalie a sua aplicabilidade na prática,
verifique o quanto o ensino está agregando para o dia a dia dos profissionais e cheque qual a
distância entre o que está sendo ensinado e a prática no dia a dia.
16
A PIRÂMIDE de Aprendizagem de William Glasser. Ceesd – Construindo a Inclusão, [s.d.]. Disponível em: http://www.ceesd.org.br/
piramide-de-aprendizagem-de-william-glasser/. Acesso em: 5 maio 2020.
101
5. SEGURANÇA DO PACIENTE
Métricas e ferramentas
» Formulário de notificação:
Tabela 1 – Itens mínimos que devem constar no formulário para análise da notificação
Notificante Data:
Notificado Data:
Nome da ocorrência
Origem
Processo
Detecção
Ação imediata
Descrição
Análise da causa-raiz
Ação (o quê)
Responsável pela ação
Prazo para a ação
Coordenar todas essas fases exige um bom planejamento, persistência, observação, saber ouvir
o colega e, principalmente, os pacientes e seus familiares. Sempre estimular o aprendizado contínuo,
saber que somos seres humanos e que as falhas irão existir, mas que precisamos gerenciá-las, por se
tratar do ponto crucial para sustentarmos a segurança do paciente em nossas organizações de saúde.
102
Referências
A PIRÂMIDE de Aprendizagem de William Glasser. Ceesd – Construindo a Inclusão, [s.d.]. Disponível
em: http://www.ceesd.org.br/piramide-de-aprendizagem-de-william-glasser/. Acesso em: 5 maio 2020.
BEVILAQUA, A. Núcleo de Segurança do Paciente e fluxo de notificação. São Paulo: ONA, 2020.
(Série 20 anos da ONA).
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. Institui
o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, Brasília, 2013.
Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/legislacao/item/
portaria-529?category_id=220. Acesso em: 5 maio 2020.
______. ______. RDC nº 36, de 25 de julho de 2015. Institui ações para a segurança do paciente em
serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2015. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html. Acesso em: 5
maio 2020.
______. ______. Tecnovigilância: conceitos e definições. Brasília: Anvisa, [s.d.]. Disponível em: http://
portal.anvisa.gov.br/tecnovigilancia. Acesso em: 5 maio 2020.
DONABEDIAN, A. The seven pillars of quality. Arch Pathol Lab Med, v. 114, p. 1115-1118, 1990.
FIOCRUZ – FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Proqualis. [S.l.]: [s.d.]. Disponível em: https://proqualis.
net/. Acesso em: 5 maio 2020.
IOM – INSTITUTE OF MEDICINE. Crossing the quality chasm: a new health system for the 21st
Century. Washington: IOM, 2001.
KOHN, L. T.; CORRIGAN, J. M.; DONALDSON, M. S. (Eds.). To err is human: building a safer health
system. Washington: National Academy Press; IOM, 1999.
LANGLEY, G. J. et al. Modelo de Melhoria: uma abordagem prática para melhorar o desempenho
organizacional. Campinas: Mercado de Letras, 2011.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. The Conceptual Framework for the International
Classification for Patient Safety. Genebra: WHO, 2009. v1.1. (Final Technical Report and Technical
Annexes). Disponível em: https://www.who.int/patientsafety/taxonomy/icps_full_report.pdf. Acesso
em: 19 maio 2020.
103
CAP. 6
INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA
EM SAÚDE
Paulo Salomão
Objetivos
» Explorar o conceito de inovação tecnológica em saúde;
» Abordar os motivos para a adoção de inovações tecnológicas em saúde;
» Identificar os principais temas das inovações tecnológicas na área da saúde;
» Apresentar as inovações que devem estar na pauta do gestor em saúde;
» Apresentar as tendências e as prioridades para investir em inovação.
Vejamos as três partes do título: “Inovação”, “tecnológica”, “em saúde”. Muitos têm falado,
e escrito, sobre inovação, mas poucos conhecem a origem e os desdobramentos desse conceito.
Etimologicamente, a palavra “inovação” é a conjunção de dois termos em latim, in e novare, que
significam “em novo(a)”. Portanto, podemos dizer que inovação é a criação ou a transformação de
alguma coisa já existente em algo novo. E qual a importância da inovação?
Adam Smith, filósofo e economista inglês do século XVIII, acreditava que a riqueza das
nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos pelo seu próprio interesse, promoviam o
crescimento econômico e a inovação.1 Já no século XX, Joseph Schumpeter, economista e cientista
político austríaco, elaborou a teoria do desenvolvimento econômico e apontou cinco tipos de
inovação: novo bem, novo método, novo mercado, nova fonte de matéria-prima e nova estrutura
de organização. Segundo Schumpeter, para que a economia saia de um estado de equilíbrio, é
necessário que algo novo altere significativamente as condições anteriores de equilíbrio. Em um
de seus livros mais conhecidos e de grande repercussão até os dias atuais, Schumpeter introduz o
termo “destruição criadora” para dizer que a inovação dos empreendedores é a força que sustenta
o crescimento econômico em longo prazo, mesmo que isso destrua empresas com algum grau de
monopólio.2
1
SMITH, A. An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations. Delhi: Atlantic Publishers & Dist, 2008. v. 2.
2
SCHUMPETER, J. A. Capitalism, socialism and democracy. New York: Harper & Brothers, 1950.
105
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
Para Baldwin e Gellatly, britânicos, “inovação é a exploração com sucesso de novas ideias”.3 Já Peter
Drucker, austríaco, informa que “inovação é a habilidade de transformar algo já existente em um
recurso que gere riqueza”.4 Geoff Nicholson, americano, é mais categórico quando afirma que
“inovação é transformar conhecimento em dinheiro”.5 Considerando a possibilidade de haver
inovação mesmo em organizações sem fins lucrativos, optamos por adotar o termo sucesso em vez
de recursos ou dinheiro.
Com base no exposto até aqui, podemos dar o próximo passo e restringir um pouco a
abrangência do trabalho. Como proposto anteriormente, vamos focar nossa busca na “inovação
tecnológica”. Vimos que Schumpeter classifica inovação em cinco tipos: bem, método, mercado,
fonte de matéria-prima e estrutura de organização. No entanto, como ocorre com qualquer forma
de classificação, independentemente do assunto, ela sofre alterações, reagrupamentos e exclusões
com o decorrer do tempo. Isso acontece porque surgem novos conhecimentos, novas práticas ou,
ainda, novos consensos. Muitos autores têm substituído os termos “bem” e “método” por “produto”
e “processo”, respectivamente, e os definem como a base da inovação tecnológica. Pela definição
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, “inovação tecnológica é
definida pela introdução no mercado de um produto (bem ou serviço) tecnologicamente novo
ou substancialmente aprimorado ou pela introdução, na empresa, de um processo produtivo
tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado”.6
Existem várias definições para inovação tecnológica, mas vamos ficar apenas com mais uma.
O Decreto nº 5.798/2006, que regulamentou a Lei nº 11.196/2005 (Lei do Bem), define inovação
tecnológica como:
3
BALDWIN, J. P; GELLATLY, G. Innovation strategies and performance in small firms. Cheltenham: Edward Elgar Pub, 2003.
4
DRUKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor. São Paulo: Editora Pioneira, 1987.
5
IMPERIAL COLLEGE LONDON. Alumni Stories – Geoffrey Nicholson. London: Imperial College London, [s.d.]. Disponível em: https://
www.imperial.ac.uk/alumni/alumni-stories/geoffrey-nicholson/. Acesso em: 25 maio 2020.
6
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual de Apoio ao Preenchimento da Pesquisa de Inovação
Tecnológica (Pintec). Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
106
a concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como
a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto
ou processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho
de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no
mercado.7
Agora, com o foco em apenas um tipo de inovação, podemos dizer que inovação tecnológica
é a ação de criar ou renovar um produto ou processo já existente, para que ele traga mais sucesso.
Por fim, tendo o conceito e escolhido o tipo de inovação, introduzimos a terceira parte do título
para delinear a aplicação dessa nova ideia. Para tanto, usamos a definição da Organização Mundial
da Saúde (OMS), que afirma que “tecnologia em saúde é a aplicação de conhecimentos e habilidades
organizados na forma de dispositivos, medicamentos, vacinas, procedimentos e sistemas desenvolvidos
para resolver um problema de saúde e melhorar a qualidade de vida” (tradução nossa).8
Fechamos, então, o nosso conceito, e podemos dizer que inovação tecnológica em saúde
é a ação de criar ou renovar produtos (dispositivos, sistemas, medicamentos etc.) e processos
(atendimentos, comunicações etc.) já existentes para resolver um problema de saúde e melhorar a
qualidade de vida.
Motivação e desafios
A inovação tecnológica na área da saúde é um campo em rápido crescimento e com resultados
muito promissores quando aplicados a clínicas, hospitais, laboratórios, planos de saúde, pacientes
ou, ainda, à sociedade em geral.
Por outro lado, o processo de inovação em saúde não é trivial. Em 2019, a Medicina S/A10
conduziu uma pesquisa com CEOs e gerentes de tecnologia de 250 hospitais privados brasileiros
sobre a intenção de investimento em inovações tecnológicas, e eles apontaram como principais
dificuldades o custo, a cultura para clientes e funcionários, as dificuldades de integração de sistemas
e a preocupação com a segurança. Veja o gráfico 1, a seguir.
7
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Decreto nº 5.798, de 7 de junho de 2006. Regulamenta os incentivos fiscais às atividades de
pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, de que tratam os arts. 17 a 26 da Lei nº 11.196, de 21 de novembro de
2005. Diário Oficial da União, Brasília, 2006.
8
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health technology. [S.l.]: [s.d.]. Disponível em: https://www.who.int/health-technology-
assessment/about/healthtechnology/en/. Acesso em: 10 jul. 2015.
9
MORSCH, J. A. Inovação na área da saúde: 9 novas tecnologias e tendências. Telemedicina Morsch, 15 mar. 2019. Disponível em: https://
telemedicinamorsch.com.br/blog/inovacao-na-area-da-saude. Acesso em: 16 abr. 2020.
10
85% DOS HOSPITAIS pretendem investir em TICS. Medicina S/A, Digital Health, 21 maio 2019. Disponível em: https://medicinasa.com.
br/investimento2019/. Acesso em: 26 abr. 2020.
107
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
OBSTÁCULOS NA INCORPORAÇÃO
DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
14% CUSTO
34% CULTURA
25% INTEGRAÇÃO
SEGURANÇA
27%
A boa notícia é que relatório divulgado pela consultoria KPMG aponta que existem, hoje,
288 startups no Brasil focadas no segmento de health tech e com muitas soluções para as inovações
tecnológicas.12 Veja como elas estão distribuídas na figura 2, a seguir.
11
CERIONI, C. Integração de dados é desafio para aplicação de novas tecnologias na saúde. Exame Fórum Saúde, 14 jun. 2019. Disponível
em: https://exame.abril.com.br/brasil/integracao-de-dados-o-principal-desafio-para-aplicacao-da-tecnologia-na-saude/. Acesso em: 26
abr. 2020.
12
DISTRITO. Healthtech Mining Report. São Paulo: Distrito, 2018. p 17. Disponível em: https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/
pdf/2018/06/br-healthtech-mining-report-2018.pdf. Acesso em: 26 abr. 2020
108
Figura 2 – Distribuição de startups por categoria
5 prescrição
57. GESTÃO E PEP 25 gestão de clínicas 19 gestão hospitalar 8 PEP & laudo
109
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
eventual diferença nas listas das buscas deve-se, além do fator cultural, a ondas de inovações
que já passaram por lá e agora chegaram aqui, ou é inovação no momento lá, mas ainda não
está sendo discutido aqui;
» Evitamos incluir referências que estejam vinculadas a empresas ou produtos comerciais
porque isso, certamente, traria viés para a nossa avaliação.
Em seguida, para cada um dos 20 sites, coletamos os temas propostos, como inovação. Alguns
sugeriam apenas três temas, enquanto outros apresentaram 12. Muitos desses temas repetiram-se
em vários sites, e outros foram citados exclusivamente.
Na etapa seguinte, unificamos temas semelhantes, mas com nomes diferentes ou mais
abrangentes (ex.: alguns citaram big data/big data e analytics, internet das coisas/wearables). No
total, foram abordados 19 temas diferentes para os 20 sites consultados.
110
Decidimos abordar mais detalhadamente apenas os temas que foram citados em mais de
30% dos sites, para garantir sua relevância; portanto: inteligência artificial, telemedicina, internet das
coisas, realidade virtual, big data, aplicativos, blockchain e interoperabilidade. Desses, os três que
se referem à infraestrutura necessária para dar suporte às demais tecnologias foram agrupados em
uma única subseção
As outras 11 inovações tecnológicas em saúde (citadas em menos de 30% dos sites consultados)
foram abordadas resumidamente em uma seção à parte, permitindo uma visão bastante abrangente
dos temas que estão sendo discutidos por gestores, analistas e consultores.
1. Inteligência artificial:
Definição:
Existem inúmeras definições para o termo “inteligência artificial”, que evoluíram na medida
em que surgiram novas possibilidades para a sua aplicação. Optamos por coletar partes das
definições propostas por outros autores e arriscar formular uma nova. De acordo com Fernandes,13
a palavra “inteligência” vem do latim e é composta por duas partes: inter (entre) e legere (escolher).
Portanto, inteligência é a capacidade de escolha. Já Rosa14 esclarece que “artificial” é simplesmente
tudo o que é feito pelo homem. Finalmente, podemos citar Silva e Vanderlinde,15 que destaca como
características da inteligência humana a compreensão da linguagem, o aprendizado, o raciocínio, a
resolução do problema. Nesse caso, podemos elaborar a seguinte definição: inteligência artificial é
a parte da ciência da computação que busca dotar equipamentos com sistemas que se assemelham
ao comportamento da inteligência humana.
Contexto:
13
FERNANDES, A. M. R. Inteligência artificial: noções gerais. Florianópolis: Visual Books, 2003.
14
ROSA, J. L. G. Fundamentos da inteligência artificial. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
15
SILVA, B. M.; VANDERLINDE, M. Inteligência artificial, aprendizado de máquina. Florianópolis: UFSC, [s.d.]. Disponível em: https://
egov.ufsc.br/portal/conteudo/intelig%C3%AAncia-artificial-aprendizado-de-m%C3%A1quina. Acesso em: 29 abr. 2020.
16
MENESES, F. G. A. et al. Prospecção científica e tecnológica do uso da inteligência artificial na área da saúde. In: INTERNATIONAL
SYMPOSIUM ON TECHNOLOGICAL INNOVATION, 8., 2017, Aracaju. Anais [...]. Aracaju: ISTI, 2017. Disponível em: https://www.researchgate.
net/publication/321311213. Acesso em: 29 abr. 2020.
111
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
que esta área deverá se desenvolver ainda mais nos próximos anos, com base no levantamento
de patentes registradas sobre inteligência artificial. Algumas das tarefas atribuídas aos sistemas
de inteligência artificial são: compreensão de linguagem, reconhecimento de padrões, raciocínio,
escolha, resolução de problemas e aprendizado.
Aplicação:
Naturalmente, esses algoritmos científicos utilizados pela inteligência artificial ainda são
mais assertivos quando a quantidade disponível de informações é maior.
2. Telemedicina:
Definição:
Um bom trabalho na elaboração de uma definição de telemedicina foi feito por Urtiga,
Louzada e Costa,20 que reuniram outras definições, como as da OMS, da American Telemedicine
Association (ATA), da National Aeronautics and Space Administration (Nasa) e da Telemedicine
Information Exchange (TIE): “(...) uso de meios de comunicação eletrônica para a transmissão
de informações e dados médicos (...) de centros especializados para regiões que não possuem
assistência médica satisfatória”.
Entendemos que, nesta última década, houve significativa evolução nas aplicações de
telemedicina, e podemos estender, também, a sua definição para: telemedicina é o uso de meios de
comunicação digital para a troca de informações entre profissionais de saúde ou para o atendimento
de um paciente em locais distintos.
17
CHIAVEGATTO FILHO, A. D. P. Uso de big data em saúde no Brasil: perspectivas para um futuro próximo. Epidemiol. Serv. Saúde,
Brasília, v. 24, n. 2, p. 325-332, 2015. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/ress/v24n2/2237-9622-ress-24-02-00325.pdf. Acesso
em: 11 maio 2020.
KESSLER, R. C. et al. How well can post-traumatic stress disorder be predicted from pre-trauma risk factors? An exploratory study in the
18
WHO World Mental Health Surveys. World Psychiatry, v. 13, n. 3, p. 265-274, 2014.
19
ROSA, B. L. Gestão em saúde: desafios frente ao aumento dos custos e a revolução tecnológica. 2019. Monografia (Bacharelado em
Administração) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
20
URTIGA, K. S.; LOUZADA, L. A. C.; COSTA, C. L. B. Telemedicina: uma visão geral do estado da arte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
INFORMÁTICA EM SAÚDE (CBIS), 4., 2004, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Unifesp, 2004. Disponível em: http://telemedicina.unifesp.br/
pub/sbis/CBIS2004/trabalhos/arquivos/652.pdf. Acesso em: 30 abr. 2020.
112
Contexto:
A utilidade desse recurso para o atendimento remoto é tão grande que foi necessária uma
revisão extensa e abrangente nas normas e nas condutas para manter a segurança e a qualidade
na troca dessas informações. Muitos países já regulamentaram o seu uso, como pode ser visto na
figura 3, a seguir. O Brasil evoluiu significativamente na discussão desse tema, e esperamos que a sua
regulamentação ocorra muito em breve.
4 3.84
2.11
2 1.16
0.64
0.35
0
2013 2014 2015 2016 2017 2018
21
IHS MARKIT TECHNOLOGY. Telehealth Report 2014. London: IHS, 2014. Disponível em: https://technology.informa.com/api/
binary/470351?attachment=true. Acesso em 25 maio 2020.
113
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
Aplicação:
Em uma publicação muito rica sobre as evidências internacionais das experiências e dos
impactos do uso da telemedicina,24 o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) descreve
vários exemplos mundiais de telemedicina, como mostra o quadro 1, a seguir.
22
CFM – CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM nº 2.227/2018. Define e disciplina a telemedicina como forma de prestação
de serviços médicos mediados por tecnologias. Diário Oficial da União, Brasília, 2019a. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/
normas/visualizar/resolucoes/BR/2018/2227. Acesso em: 1º maio 2020.
23
CFM – CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM nº 2.228/2019. Revoga a Resolução CFM nº 2.227, publicada no D.O.U. de 6
de fevereiro de 2019, Seção I, p. 58, a qual define e disciplina a telemedicina como forma de prestação de serviços médicos mediados por
tecnologias, e restabelece expressamente a vigência da Resolução CFM nº 1.643/2002, publicada no D.O.U. de 26 de agosto de 2002, Seção
I, p. 205. Diário Oficial da União, Brasília, 2019b. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2019/2228.
Acesso em: 1º maio 2020.
24
SILVA, A. R. A. A telemedicina traz benefícios ao sistema de saúde? Evidências internacionais das experiências e impactos. São
Paulo: IESS, 2019. (Texto para Discussão, n. 74). Disponível em: https://www.iess.org.br/cms/rep/td-74-telemedicina.pdf. Acesso em: 1º
maio 2020.
114
País Programa Objetivo
Reduzir os deslocamentos de pacientes com lesão cerebral
traumática grave para o único centro de trauma no país, na sua
capital. O objetivo é realizar procedimentos em tempo hábil para
Albânia Teleconsulta
melhorar o resultado de saúde do paciente e reduzir os custos
financeiros para ele, a família e o sistema de saúde, gerados pelo
deslocamento.
Reduzir o tempo de tratamento para infarto do miocárdio em
Tele-ECG e situações de emergência. As ambulâncias são providas com
Noruega
teleconsultoria equipamentos para capturar e transmitir imagens de ECG para os
hospitais onde médicos cardiologistas prestarão o aconselhamento.
Melhorar o acesso a especialistas, com redução de tempo e
Austrália Teleconsulta
despesas envolvidos na viagem para as grandes cidades.
Fonte: Adaptado pelo autor do capítulo com base em IESS (SILVA, 2019).
Provavelmente, o termo “internet das coisas”, do nome original em inglês internet of things
(IoT), foi utilizado pela primeira vez há mais de 20 anos, mas só se popularizou na virada do século,
após a publicação de artigo pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), conforme apuraram
Silveira Junior e Moura.25
De uma forma bastante compacta, mas compreensível, podemos dizer que internet das
coisas é uma rede de dispositivos conectados à internet. Vários autores têm proposto modelos de
arquitetura para implementação de internet das coisas. Uma estrutura simples e suficiente para a
nossa compreensão foi apontada por Rodrigues Neto,26 ao dividir a estrutura de internet das coisas
em três camadas principais: dispositivos físicos (equipamentos capazes de se conectar diretamente
à internet, sem a necessidade de ter um computador intermediário), canais de comunicação (a forma
de enviar esses dados para servidores, utilizando a “nuvem”) e análise de dados (sistemas responsáveis
por avaliar as informações e repassar para um especialista ou tomar decisões automaticamente.
Contexto:
Há muito tempo são utilizados equipamentos para monitorar pacientes e que podem reagir
com alertas visuais ou sonoros quando os parâmetros capturados pelos sensores estão fora da
25
SILVEIRA JUNIOR, W. P.; MOURA, L. G. L. Comunicação IoT aplicado à saúde através de dispositivos de monitoramento pessoal.
Interdisciplinary Scientific Journal, v. 5, n. 3, p. 74-87, 2018. Disponível em: http://revista.srvroot.com/linkscienceplace/index.php/
linkscienceplace/article/view/555/0. Acesso em: 2 maio 2020.
RODRIGUES NETO, E. C. Estudo sobre aplicações de IoT na área médica. 2020. Monografia (Bacharelado em Engenharia Eletrônica) –
26
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/204169. Acesso
em: 2 maio 2020.
115
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
normalidade. É só observar os quartos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), por exemplo. Lá,
encontramos monitores de eletrocardiograma, frequência cardíaca, saturação de oxigênio, pressão
venosa central, pressão arterial média e temperatura, que podem ser visualizadas não só do quarto
do paciente, como também de uma central de monitoramento.
Aplicação:
Além dos exemplos já citados com equipamentos médicos em sala de UTI, há inúmeras
aplicações da tecnologia da internet das coisas utilizando-se os wearables (ou “vestíveis”). Alguns
desses acessórios, como relógios, calçados, pulseiras, roupas (camada dispositivo), já “nasceram” IoT e
utilizam conexão bluetooth com os celulares (camada conexão) para envio de informações relevantes
à saúde do usuário. Rodrigues Neto27 coletou alguns estudos já realizados com os wearables:
27
Ibidem, p.19-39.
116
» Monitoramento de sinais vitais:28
S obre um sistema de monitoramento de sinais de ECG, utilizando sensores biomédicos para
medir a frequência cardíaca e a de pulso, a temperatura corporal e a saturação de oxigênio.
» Detecção de queda:31
S obre um sistema de detecção de quedas utilizando o acelerômetro de um smartphone, com
algoritmo capaz de discernir queda de atividades rotineiras, como sentar, pular e caminhar.
» Lentes de contato:
S obre um sistema que monitora os níveis de glicose de pacientes com diabetes por meio de
suas lágrimas.
4. Realidade virtual:
Definição:
De um modo geral, podemos dizer que qualquer realidade é virtual, já que pode ser uma
representação criada pelo nosso cérebro depois de processar os sinais captados pelos nossos órgãos
sensoriais. Mas, deixando de lado esse conceito de ficção científico-filosófica, podemos adaptar duas
definições, uma dada por Barilli, Ebecken e Cunha33 e outra por Sabbatini,34 e dizer que realidade
ISLAM, M. S. et al. Monitoring of the human body signal through the internet of things (IoT) based LoRa wireless network system.
28
SOFTWARE AND APPLICATIONS CONFERENCE (COMPSAC), 41., 2017, Turin. Annals […]. Turin: IEEE, 2017.
30
LI, B. et al. A wearable IoT aldehyde sensor for pediatric asthma research and management. Sensors and Actuators B Chemical, v. 287,
p. 584-594, 2019.
31
TRAN, H. A.; NGO, Q. T.; TONH, V. A new fall detection system on android smartphone: application to a SDN-based IoT system. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON KNOWLEDGE AND SYSTEMS ENGINEERING (KSE), 9., 2017, Hue. Annals […]. Hue: IEEE, 2017.
32
PASLUOSTA, C. F. et al. An emerging era in the management of Parkinson’s disease: wearable technologies and the internet of things.
IEEE J. Biomed. Health Inform., v. 19, n. 6, p. 1873-1881, 2015.
33
BARILLI, E. C. V. C.; EBECKEN, N. F. F.; CUNHA, G. C. A tecnologia de realidade virtual como recurso para formação em saúde pública a
distância: uma aplicação para a aprendizagem dos procedimentos antropométricos. Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 1247-1256,
2011. Disponível em: https://scielosp.org/article/csc/2011.v16suppl1/1247-1256/. Acesso em: 3 maio 2020.
SABBATINI, R. Realidade virtual e medicina. [s.d.]. 47 slides. Disponível em: http://www.sabbatini.com/renato/slides/realidade-virtual.
34
117
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
virtual é uma técnica de interface que permite a sensação de imersão e interação de uma pessoa em
um ambiente tridimensional gerado por computador e periféricos multissensoriais.
Contexto:
Realidade virtual não é um termo recente. Na verdade, foi utilizado pela primeira vez ainda no
século XIX para criar situações ilusórias no teatro. Em meados do século XX, uma primeira máquina
mecânica, batizada de Sensorama (figura 5) já permitia ver filmes curtos com a sensação de imagens
3D, vento, aroma e inclinação do assento.
Figura 5 – Sensorama
Com a evolução dos computadores, do software e dos dispositivos periféricos, essa tecnologia
passou por diversas inovações e aplicações em várias áreas do conhecimento humano, tais como jogos
de entretenimento, simuladores de voo, educação e cultura, treinamento individual ou corporativo,
campanhas de marketing e, particularmente, ganhou o interesse e o desenvolvimento na medicina. A
figura 6 mostra o estado da arte de alguns dos periféricos utilizado em realidade virtual.
VIRTUAL reality. Virtual Reality for Dummies, [s.d.]. Disponível em: https://vrdummies.org/virtual-reality/geschichte/. Acesso em: 11
35
maio 2020.
118
Figura 6 – Dispositivos para realidade virtual
Aplicação:
A área da saúde é uma das mais promissoras na aplicação da tecnologia da realidade virtual, e
pode ser utilizada para treinamento de procedimentos, educação, reabilitação, trabalho colaborativo.
» Treinamento:
uso de VR para treinamento de profissionais e estudantes de medicina em procedimentos
O
cirúrgicos tem inúmeras vantagens, como, por exemplo, baixos custos, possibilidade de
repetição e, principalmente, eliminação de riscos para o paciente.
» Tratamento de dor:
esviar a atenção do paciente do foco da dor tem mostrado resultados paliativos bastante
D
positivos, como imergir crianças em ambientes virtuais agradáveis na hora da vacinação.
» Educação:
árias aplicações oferecem uma imersão em atlas de anatomia e fisiopatologia humana,
V
fornecendo informações sobre as estruturas anatômicas, permitindo a manipulação de
órgãos e possibilitando a visualização de crescimento de tumores.
» Reabilitação:
or meio de uma biblioteca de atividades, estimula pacientes com Parkinson, amputados
P
ou que tiveram acidente vascular cerebral, a praticar movimentos corporais comprometidos.
Além disso, permite que o terapeuta tenha acesso aos dados do movimento.
» Combate a fobias:
imersão em ambientes que simulam a realidade ajuda indivíduos a reagir em circunstâncias
A
que lhe causam mal-estar e a superar fobias como medo de altura, de aranhas, de lugares
apertados etc.
119
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
5. Aplicativos:
Definição:
Encontramos várias definições para aplicativos nos artigos pesquisados e, quase sempre,
referem-se à tecnologia móvel, ou seja, notebooks e tablets, smartphones. Assim, esses aplicativos
(ou aplicativos móveis, ou apps) podem ser definidos como o software instalado em um dispositivo
móvel para uma finalidade específica. No contexto da saúde, surge a expressão mobile health ou
mHealth; então, podemos dizer que os aplicativos para saúde ou mHealth são sistemas instalados em
dispositivos móveis para melhorar a gestão da saúde de um indivíduo ou uma população.
Contexto:
36
GOMES, M. L. S. et al. Avaliação de aplicativos móveis para promoção da saúde de gestantes com pré-eclâmpsia. Acta Paul. Enferm., São
Paulo, v. 32, n. 3, p. 275-281, 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201900038. Acesso em: 4 maio 2020.
MHEALTH Solutions Market. Markets and Markets, 2020. Disponível em: https://www.marketsandmarkets.com/Market-Reports/
37
120
Um outro fator importante a ser considerado é a entrada das tecnologias 5G (5ª geração da
internet móvel) e o aumento de dispositivos IoT (já comentado anteriormente) nos próximos anos.
Essa combinação de tecnologias deverá expandir o uso de mHealth para soluções conectadas, em
relação a aplicativos instalados nos dispositivos, mas que não se conectam à internet.
Aplicação:
Considerando o fato de o dispositivo móvel ser pessoal, os mHealth têm explorado soluções
centradas no indivíduo (paciente, profissional da saúde), proporcionando uma experiência
personalizada e empoderando pacientes no cuidado da sua própria saúde.
PROFISSIONAL
Apoio ao profissional 1,1 (4,8%)
Administração 0,1 (0,4%) PACIENTE
Fonte: Elaboração do autor do capítulo com base em PwC Analysis (2017 apud INVESTOR..., 2020).
Big data é uma tecnologia que permite a coleta e a utilização de um número gigantesco de
informações, e é imprescindível para suportar, pelo menos, duas outras tecnologias já mencionadas:
inteligência artificial e telemedicina. Inteligência artificial porque o “aprendizado” de qualquer algoritmo
utilizado por esses sistemas fica mais refinado à medida que o número da amostra é maior. Por exemplo,
se tivéssemos apenas dois casos de pacientes infectados pelo coronavírus (Covid-19) e um deles
viesse a óbito, certamente não conseguiríamos identificar grupos de risco ou métodos de prevenção.
A teleconsulta também pode ser mais eficaz e eficiente se, durante o atendimento de um paciente, o
38
INVESTOR Information. Wearable Health Solutions, 2020. Disponível em: http://www.wearablehealthsolutions.com/investor-
information/. Acesso em: 5 maio 2020.
121
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
médico tiver os resultados dos últimos exames (feitos em laboratórios diferentes), o resumo de alta da
última internação, a relação de medicamentos em uso ou as informações de alergias, por exemplo.
122
mais chamado a atenção, apesar de ainda ser uma grande dor de cabeça para muitos, é o prontuário
eletrônico do paciente (PEP). Vários consultórios, ambulatórios, clínicas e hospitais já adotaram
algum produto para o registro clínico do paciente, a prescrição de medicamentos, a solicitação de
exames. Provavelmente, o PEP só ganhará novo fôlego quando se incorporar a barramentos de
interoperabilidade, capazes de exibir informações de outras fontes que não o próprio médico, como
wearables, chatbots, produtos de apoio à telemedicina, entre outros.
Por outro lado, há tecnologias que realmente impressionam. Um exemplo bastante atual
são as impressoras 3D. As duas grandes inovações em relação às impressoras convencionais são um
terceiro eixo de movimentação do cabeçote de impressão e o material utilizado (pó, gel, filamento de
plástico ou metal, titânio e biotinta), que é depositado em camadas sucessivas até formar um objeto.
Podem ser utilizadas para materializar os resultados de exames de imagens (radiografia, ressonância,
tomografia), permitindo melhores visualização e planejamento cirúrgico; na confecção de próteses
personalizadas ou na reconstrução da face; e, futuramente, na impressão de órgãos para transplante
com a utilização de materiais biológicos.
É imprescindível citarmos, também, que uma aplicação bastante importante das novas
tecnologias na saúde está voltada para o tratamento das doenças, particularmente por meio da
terapêutica genômica. Desde o mapeamento do genoma humano (1990-2003), já foi possível
identificar mais de 1.800 genes de doenças. Esses estudos têm auxiliado no desenvolvimento
de vacinas e fármacos, além de prever o desenvolvimento de certas doenças em um indivíduo e
indicar tratamentos personalizados. Quando falamos de doenças genéticas, estamos lidando com
uma ordem de grandeza denominada nanômetro (um bilionésimo ou 10-9 metros). Daí deriva o
termo nanomedicina, que é o uso de nanopartículas ou biossensores ou nanorobôs para prevenir,
diagnosticar e curar doenças. Esses biossensores são compostos por três partes diferentes: o sensor
biológico (tecidos, micro-organismos, organelas, enzimas, ácidos nucleicos etc.), que se conecta com
o alvo do estudo; o transdutor, que transforma o resultado da conexão em um sinal que possa ser mais
facilmente lido; e o leitor, que é capaz de processar e exibir esses sinais. Já os nanorobôs poderiam
ser introduzidos no corpo humano para procurar e destruir células cancerosas ou infectadas por
vírus. As possibilidades da nanomedicina são gigantescas!
Um ponto importante que pode ser observado é que boa parte das tecnologias tem levado
ao empoderamento dos pacientes. Telemedicina, internet das coisas, aplicativos, são exemplos de
facilitadores e estimuladores do envolvimento do paciente no cuidado de sua própria saúde, uma vez
que permitem uma interação maior com dispositivos e informações médicas. A Lei Geral de Proteção
de Dados (LGPD)39 também confere ao paciente a capacidade de decidir se, quem e quando alguém
pode ter acesso aos seu histórico clínico. Dentro desta mesma linha de pensamento, os chatbots
têm se tornado a palavra da vez nesses últimos meses. Alguns estão até apostando que eles vieram
para substituir os apps. A ideia por trás dessa tecnologia não é nova: assistentes digitais inteligentes
capazes de entender as necessidades humanas. Dotados da capacidade de reconhecer a fala ou uma
pergunta por escrito, os chatbots podem facilitar o agendamento de uma consulta (basta perguntar
quais os melhores dia e horário para sua consulta), melhorar o engajamento do paciente para um
determinado tratamento (lembrando dos medicamentos e das dietas), entre várias outras aplicações.
39
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Diário
Oficial da União, Brasília, 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em:
26 fev. 2020.
123
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
Tendências e prioridades
A figura 8 posiciona as oito inovações tecnológicas que tratamos neste capítulo em uma linha
cronológica. Naturalmente, não é simples fixar uma data exata para o surgimento dessas tecnologias
porque, por definição, elas são as melhorias de produtos ou processos anteriores. Veja o caso da
telemedicina, por exemplo, que, na época da Segunda Guerra, já era utilizada para orientações de
médicos de retaguarda para os médicos do front. Assim, quando possível, procuramos datas em que
se cunharam os termos.
Interoperabilidade
Big Data
Inteligência Artificial
Aplicativos
Telemedicina
Blockchain
50 60 70 80 90 00 10
Naturalmente, não faz sentido achar que é preciso implementar todas essas tecnologias, mas
identificar o que é mais importante para cada situação. Para auxiliar essa decisão, fizemos algumas
recomendações sobre suas utilizações, particularmente em hospitais, conforme mostrado no quadro 2.
124
Tecnologia Recomendação Observação
No momento, mais importante para as
Blockchain trilhas de auditoria e segurança do que Tecnologia ainda no início
para registros clínicos
Importante quando há informações de Grupos de hospitais
Interoperabilidade vários sistemas diferentes (internos ou deveriam ter projetos em
externos) interoperabilidade
As health techs, startups de tecnologia em saúde, podem ser excelentes opções para se levar
para a mesa de negociações e amadurecer essas ideias antes de sair investindo. Além disso, o cenário
brasileiro tem se mostrado um dos mais promissores para a implementação de novas tecnologias
em saúde nos próximos anos.
Referências
85% DOS HOSPITAIS pretendem investir em TICS. Medicina S/A, Digital Health, 21 maio 2019.
Disponível em: https://medicinasa.com.br/investimento2019/. Acesso em: 26 abr. 2020.
BARILLI, E. C. V. C.; EBECKEN, N. F. F.; CUNHA, G. C. A tecnologia de realidade virtual como recurso para
formação em saúde pública a distância: uma aplicação para a aprendizagem dos procedimentos
antropométricos. Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 1247-1256, 2011. Disponível em: https://
scielosp.org/article/csc/2011.v16suppl1/1247-1256/. Acesso em: 3 maio 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Decreto nº 5.798, de 7 de junho de 2006. Regulamenta os
incentivos fiscais às atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica,
de que tratam os arts. 17 a 26 da Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005. Diário Oficial da União,
Brasília, 2006.
______. ______. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Diário Oficial da União, Brasília, 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 26 fev. 2020.
CERIONI, C. Integração de dados é desafio para aplicação de novas tecnologias na saúde. Exame
125
6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
______. Resolução CFM nº 2.228/2019. Revoga a Resolução CFM nº 2.227, publicada no D.O.U. de 6 de
fevereiro de 2019, Seção I, p. 58, a qual define e disciplina a telemedicina como forma de prestação de
serviços médicos mediados por tecnologias, e restabelece expressamente a vigência da Resolução
CFM nº 1.643/2002, publicada no D.O.U. de 26 de agosto de 2002, Seção I, p. 205. Diário Oficial
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TRAN, H. A.; NGO, Q. T.; TONH, V. A new fall detection system on android smartphone: application
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6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM SAÚDE
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www.who.int/health-technology-assessment/about/healthtechnology/en/. Acesso em: 10 jul. 2015.
128
CAP. 7
LEAN EM
SAÚDE
Andréa Prestes
Objetivos
» Apresentar o Lean, sua origem e a aplicabilidade na área da saúde;
» Expor a importância da liderança para a criação do pensamento enxuto;
» Abordar a cultura Lean como fator de sustentabilidade dos resultados.
Introdução ao Lean
O pensamento enxuto surgiu em decorrência das práticas e dos grandes resultados do
Sistema Toyota de Produção (Toyota Production System – TPS). Sua criação é atribuída ao engenheiro
da Toyota Taiichi Ohno, no Japão pós-Segunda Guerra Mundial. O foco foi a eliminação do
desperdício para responder às mesmas condições enfrentadas pela maioria das empresas hoje em
dia: a necessidade de possuírem processos rápidos e flexíveis capazes de ofertar aos clientes o que
eles desejam, quando desejam, com o máximo de qualidade e a um custo interessante.1
O Lean busca a eliminação total da perda, com a remoção daquilo que não contribui para o
avanço do processo, eliminando o que não agrega valor.3 É uma filosofia de gestão que favorece
a visualização sistêmica da cadeia produtiva, em que os processos são organizados para facilitar a
identificação e a eliminação dos desperdícios e a manutenção apenas do que agrega valor. Estrutura-
se com base na ordenação sequencial das atividades, para que estas fluam sem interrupção.
No início, o Lean ficou restrito às indústrias automotivas, por existir o entendimento de que
era factível apenas nos sistemas produtivos deste tipo de empresa. Com o passar dos anos, ganhou
espaço em outros segmentos, ao exemplo dos serviços governamentais e os de assistência à saúde.
As organizações, de forma geral, procuraram desvendar o segredo da produção Lean da Toyota, que se
tornou um movimento global, aos moldes do que ocorreu com a qualidade total na década de 1980.4
1
LIKER, J. K. O modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. Porto Alegre: Bookman, 2015.
2
WOMACK, J. P; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo: baseado no estudo do Massachusetts Institute of Technology
sobre o futuro do automóvel. 10ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
3
SHINGO, S. O sistema Toyota de produção: o ponto de vista da engenharia de produção. Porto Alegre: Bookman, 1996.
4
LIKER, J. K.; COMVIS, G. L. O modelo Toyota de liderança Lean: como conquistar e manter a excelência pelo desenvolvimento de
lideranças. Porto Alegre: Bookman, 2013.
131
7. LEAN EM SAÚDE
O pensamento enxuto – Lean thinking –, além de ser baseado em questões técnicas, como
o uso de ferramentas e métodos de trabalho com vistas à redução dos desperdícios, estrutura-se
na força das lideranças para a boa condução das pessoas. Líderes qualificados, capazes de utilizar
as ferramentas disponíveis com reconhecida habilidade e, ainda, mobilizar e desenvolver as
pessoas, tornam a melhoria contínua uma realidade diária, otimizando os processos e as pessoas,
simultaneamente.5 Importante citar que o Lean muito tem sido usado associado aos Seis Sigma,
por se tratar de um método para a promoção de mudanças gerenciadas, utilizando a detecção e a
resolução de problemas para a prevenção de erros, com a redução da variação. Com a utilização de
suas práticas de gestão, move a organização para a diminuição de falhas, considerando o ponto de
partida a taxa de erro atual, com meta para a redução das oportunidades de ocorrência.6
O objetivo de toda a iniciativa Lean precisa ser a criação de valor para o paciente. Uma nova
cultura organizacional focada na melhoria contínua deverá ser desenvolvida, tendo a alta gestão
como promotora e condutora da mudança. Uma jornada intensa de desenvolvimento organizacional
deve ser iniciada, para a promoção de novos paradigmas à mentalidade tradicional da assistência.
Trata-se de um processo longo e desafiador, muito mais amplo do que apenas o uso das técnicas,
das ferramentas e dos princípios, uma vez que “só é possível manter os ganhos de uma abordagem
enxuta com o foco incansável na melhoria contínua de todos os processos”.7
São diversos os casos com excelentes resultados em reconhecidos hospitais mundo afora
advindos do Lean. No Brasil, as iniciativas são poucas e incipientes, desafiando ainda mais os gestores
que desejam iniciar a implantação em suas unidades de saúde. A difusão do Lean no país tem
recebido valiosa contribuição com o projeto do Ministério da Saúde e Hospital Sírio Libanês, que,
desde 2017, trabalha a superlotação nas emergências dos hospitais públicos em todo o território
nacional, alargando os resultados positivos por meio do pensamento enxuto.
O intuito deste capítulo é trazer o Lean como fator competitivo para a gestão das instituições
de saúde. Pretendemos destacar, principalmente, a necessidade do alinhamento estratégico, com
a inclusão do Lean nos objetivos institucionais, bem como o desenvolvimento e a valorização
das pessoas como fator essencial na promoção do pensamento enxuto e na criação da cultura
institucional Lean. Busca-se apresentar, de maneira simples e fácil, a ideia central, para que os
gestores hospitalares tenham subsídio teórico e prático, sem a pretensão de esgotar as abordagens,
descrever um roteiro ou realizar uma revisão de literatura acerca do tema.
5
Ibidem.
6
BARRY, R.; MURCKO, A.; BRUBAKER, C. The Six Sigma book for healthcare: improving outcomes by reducing erros. Chicago: American
College of Healthcare Executives, 2002.
7
LIKER, J. K.; OGDEN, T. N. A crise da Toyota: como a Toyota enfrentou o desafio dos recalls e da recessão para ressurgir mais forte. Porto
Alegre: Bookman, 2012. p. 13.
132
cada vez mais crescentes da população, enquanto os recursos financeiros diminuem. São muitos os
entraves para fomentar a adequada operação destas instituições, que, devido à sua própria natureza
de serviço, são reconhecidas pela grande complexidade associada.8
Melhorar os resultados em saúde tem sido um dos principais temas debatidos no âmbito da
gestão hospitalar, em que o fator qualidade está sendo buscado não apenas no sentido de desfecho
clínico, mas também ao custo-efetividade com a agregação de valor, sem que danos sejam causados
aos pacientes.
Os estudos para redução de custos consomem grande energia e tempo dos gestores que
trabalham constantemente neste intuito. Acerca disto, o Lean pode ser um importante contributo
para estes profissionais, visto que os hospitais Lean concentram-se em reduzir o desperdício em vez
de reduzir custos, com foco no valor que entregam aos pacientes, e, ainda, com menor esforço,9
proporcionando uma forma diferente de encará-los; por não olhar diretamente para eles, passam a
enxergá-los como o resultado de todos os sistemas e processos.
A abordagem Lean contribui para uma maior eficiência nos custos da operação, por focar nos
processos da instituição. Neste sentido, torna-se um auxílio substancial para que as pessoas invistam
nos processos, trabalhando na eliminação dos desperdícios de forma contínua, promovendo a
racionalização (em vez da contenção) no uso dos recursos, com ganhos maiores e sustentáveis em
longo prazo para o hospital.
Por ser “um conjunto de ferramentas, um sistema de gestão e uma filosofia que pode
mudar a forma pela qual os hospitais são organizados e administrados”,10 o primeiro passo para a
implementação do Lean deve ser o desenvolvimento da visão dos gestores hospitalares, dos líderes
de processos ou de áreas específicas, para compreenderem que a filosofia traz consigo princípios
que servem de diretrizes para a operação contínua das unidades de saúde.
8
PRESTES, A. et al. (Orgs.). Manual do gestor hospitalar. Brasília: Federação Brasileira de Hospitais, 2019.
9
GRABAN, M. Hospitais Lean: melhorando a qualidade, a segurança dos pacientes e o envolvimento dos funcionários. Porto Alegre:
Bookman, 2013.
10
Ibidem, p. 4.
11
Ibidem.
133
7. LEAN EM SAÚDE
O valor em saúde “só pode ser medido tomando-se por base o ciclo de atendimento, e não um
procedimento, serviço, consulta ou exame isoladamente”.12 Desta forma, deve ser compreendido como
os resultados alcançados por meio da assistência prestada. Resumidamente, o valor em saúde pode ser
definido como o resultado em relação aos custos, o que significa dizer que engloba a eficiência.13
Desperdício em saúde pode ser considerado como tudo aquilo que acontece no dia a dia de
trabalho, que gera problemas e aborrecimentos, interferindo na prestação do cuidado ao paciente.
As interrupções durante a execução das atividades, os erros de comunicação, os deslocamentos
desnecessários e as horas extras inúteis são exemplos de desperdícios.15
São oito os tipos de desperdícios que buscamos eliminar com o Lean: superprodução; espera;
transporte ou movimentação desnecessários; superprocessamento ou processamento incorreto;
excesso de estoque; movimento desnecessário; defeitos; e desperdício da criatividade dos funcionários.16
Abordaremos cada um deles, adaptados para o contexto da saúde, com alguns exemplos:
12
PORTER, M. E.; TEISBERG, E. O. Repensando a saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. Porto Alegre: Bookman,
2007. p. 22.
13
Ibidem.
14
WOMACK, J. P; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas: elimine o desperdício e crie riqueza. 6ª reimpressão. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
15
Graban (2013).
16
Liker (2015).
134
ter de ir várias vezes para a mesma clínica de especialidades para coletas solicitadas em
momentos distintos; camareira realizar várias entregas no mesmo local devido à falta de
planejamento;
4. Superprocessamento ou processamento incorreto: realizar atividades desnecessárias, em
excesso, ou, ainda, ter de repeti-las. Exemplos: exames desnecessários ou com frequência
acima da mandatória; recoleta de amostras laboratoriais; sessões de terapias em excesso ou
com tempo superior ao esperado;
5. Excesso de estoque: itens armazenados acima do necessário. Exemplos: itens guardados nos
postos de Enfermagem além do volume adequado ao uso; carrinhos de emergência com maior
quantidade de itens em apresentações sem utilidade; materiais e medicamentos adquiridos e
estocados em volume além do indispensável, gerando mais gasto de espaço e dinheiro;
6. Movimento desnecessário: qualquer movimentação ou deslocamento sem utilidade
que os colaboradores executam durante o trabalho e que gera uma perda. Exemplos:
movimentações nos postos de Enfermagem para localizar os itens destinados aos curativos
dos pacientes; deslocamento para buscar algum produto que deveria estar acondicionado
no posto de trabalho, mas está ausente; desorganização do local de trabalho, ocasionando
buscas reiteradas de itens “perdidos”;
7. Defeitos: tudo aquilo que foi mal feito, causando dano, ou que precisa ser corrigido, gerando
retrabalho. Exemplos: reoperação decorrente de erros; montagem incorreta dos kits de
medicamentos para os pacientes; reprocessamento de roupas (relave), devido à existência
de manchas após a lavagem;
8. Talento: desperdício da competência que o colaborador tem a oferecer, está disposto a
entregar e a empresa desconsidera. Exemplos: utilização do tempo dos profissionais para
atividades não necessárias; o não uso das ideias para gerar a melhoria interna da instituição;
não ouvir as pessoas e não as integrar aos projetos; colaboradores com alta capacidade
alocados em trabalhos que subutilizam seu conhecimento.
Os desperdícios aqui apresentados são apenas para a contextualização das perdas durante
a análise dos processos, para subsidiar a identificação das atividades que agregam valor daquelas
que não agregam valor. Importante destacar que a literatura sobre os desperdícios do Lean é vasta.
Alguns autores relacionam apenas sete. Outros, como é o caso de Liker17 e mesmo Graban,18 em
seu livro “Hospitais Lean”, obra que recomendamos para o aprofundamento do assunto, já trabalham
com o oitavo desperdício: o talento.
Com a eliminação dos desperdícios, o processo passa a ser executado sem barreiras, paradas
ou interrupções desnecessárias, o que torna o fluxo contínuo. A partir da maior precisão do fluxo de
valor, com a manutenção das etapas que realmente agregam valor, o fluxo do produto ou serviço
começa a ser contínuo e puxado pelo cliente. Assim, há um processo de redução de esforço, tempo,
espaço, custo e erros, tornando-se mais próximo do ideal.
Surge, então, a busca pela perfeição, gerada pelo ciclo virtuoso do pensamento enxuto, por
meio das mudanças positivas realizadas continuamente com a eliminação das barreiras, gerando
fluidez e fluxo puxado. Nasce um ambiente de análises constantes, debates entre a equipe para a
17
Liker (2015).
18
Graban (2013).
135
7. LEAN EM SAÚDE
Existe algo que pode ajudar para o esclarecimento e a adesão, considerado como ponto crucial
a comunicação para a preparação das equipes. É fundamental que as pessoas sejam informadas do
assunto, recebam explicações, mesmo que básicas, no início, e, com o avanço dos trabalhos, sejam
integradas ao processo.
Com a comunicação ampla e maciça dos profissionais da instituição, é possível explicar que
o Lean não tem o propósito de interferir na conduta clínica. O foco é nos processos que podem ser
melhorados com a eliminação dos desperdícios, para maior entrega de valor aos pacientes.
A preparação das equipes é fundamental para que o Lean atinja o seu propósito de eliminar
barreiras e favorecer que os profissionais da assistência concentrem-se na execução do cuidado,
possibilitando, em longo prazo, um fortalecimento e crescimento do próprio negócio, por meio da
redução de custos e riscos.19
19
Graban (2013).
136
É necessário que as lideranças deixem de operar como bombeiros a apagar incêndios (solução
momentânea) e passem para a análise detalhada de tudo o que envolve as causas e o que deve ser
mudado para que o problema não ocorra mais (análise de causa-raiz).20 Espera-se a mudança de
comportamentos e o uso de ferramentas adequadas para as análises, como, por exemplo, o diagrama
de Ishikawa (espinha de peixe), ou a técnica dos 5 Porquês.
Como a filosofia Lean centra esforços na eliminação de tudo aquilo que não agrega valor, as
pessoas poderão passar mais tempo executando o que, de fato, gera valor ao paciente. No caso dos
hospitais e das entidades de saúde, significa dizer, por exemplo, que propiciará aos profissionais da
assistência um maior tempo na efetiva prestação dos cuidados aos pacientes.
20
KOENIGSAECKER, G. Liderando a transformação Lean nas empresas. Porto Alegre: Bookman, 2011.
21
Liker (2015).
22
Womack e Jones (2004).
137
7. LEAN EM SAÚDE
Por meio do Lean é possível promover a aprendizagem das equipes para que consigam
separar as atividades em categorias: as coisas que fazem de valor (ajudam o paciente); e as coisas que
fazem que não têm valor (não ajudam o paciente). Neste ponto, é necessário adicionar a perspectiva
do negócio: manter as atividades que são necessárias na visão da empresa, para o cumprimento
de leis, regulamentações, como, por exemplo, realizar o registro inicial do paciente em prontuário
único. Este processo de categorização das atividades constitui um passo crítico na jornada Lean.
A mudança de cultura
A decisão em iniciar o Lean no hospital deve ser da alta gestão e estar alinhada com a estratégia
organizacional, por considerarmos que o sucesso da filosofia enxuta está diretamente ligado ao
modelo de gestão. Deve-se pensar na gestão da mudança, pois existirão muitos paradigmas internos
a serem superados. É crucial deixar claro que o Lean, se implantado de fato para promover melhorias
substanciais e perenes, modificará a forma como as coisas são feitas na organização.
A cultura Lean começará a ser criada quando as pessoas da organização forem treinadas,
desenvolvidas, valorizadas e preparadas para identificarem os desperdícios na execução do seu
trabalho diário, em um ambiente de constante aprendizado, tornando-se um ciclo contínuo de
aperfeiçoamento, conforme demonstra a figura a seguir:
23
CAMERON, K. S; QUINN, R. E. Diagnosing and changing organizational culture: based on the competing values framework. San
Francisco: John Wiley & Sons, 2006.
24
Graban (2013).
138
Figura 1 – Desenvolvimento da cultura Lean
PESSOAS
Jornada Lean
A cultura Lean, conforme demonstra a figura, será obtida em uma conjunção de fatores,
ocasionados pelas ferramentas de melhoria contínua dos processos, partindo do estado atual para o
estado futuro, por meio da valorização das pessoas, do aprendizado e desenvolvimento constantes,
do forte trabalho das lideranças para o engajamento de todo o corpo profissional, oportunizando
ciclos de melhorias como rotina. O ambiente tornar-se-á propício ao aprendizado, gerando uma
jornada permanente de crescimento.
1. Decida estrategicamente:
A meta de se tornar um hospital enxuto precisa vir da alta direção, que deve declarar e suprir
tudo o que for necessário para o desenvolvimento do pensamento Lean, tornando parte de sua
estratégia. É crucial declarar amplamente para todas as pessoas da organização que se trata de um
posicionamento estratégico organizacional, e que deve ter a adesão de todos.
139
7. LEAN EM SAÚDE
Não temos o intuito de atribuir preferência ao modo para a escolha da liderança Lean. O
que, de fato, pretendemos é enfatizar a imprescindibilidade de o hospital iniciar a sua jornada
Lean dispondo de pessoas capacitadas, com profundo conhecimento do pensamento enxuto, com
propriedade técnica e comportamental para conduzir a aplicação das ferramentas e trabalhar em
parceria com a alta direção na criação da cultura Lean.
Grande parte da responsabilidade acaba por recair sobre o profissional escolhido para
esta função ou para a equipe formada. Mais um ponto importante a destacar é que este ou estes
profissionais, quando advindos das lideranças internas, sejam dispensados do acúmulo de funções, ou
seja, não atuem como um “especialista Lean interno” e continuem com as responsabilidades prévias.
Além do conhecimento aprofundado na filosofia Lean, é esperado que o líder Lean seja:
proativo, capaz de se autodesenvolver, focado em resultados, disciplinado, capaz de aprender e
ensinar, possuir excelente comunicação verbal e escrita, conciliador, excelente ouvinte. Precisar ter
alta capacidade de análise crítica, possuir visão sistêmica e ótima relação interpessoal.
LIKER, J. K.; MEIER, D. O Modelo Toyota – Manual de Aplicação: um guia prático para a implementação dos 4 Ps da Toyota. Porto Alegre:
25
Bookman, 2007.
140
3. Atribua autonomia:
É de extrema importância que o profissional ou a equipe de referência Lean gozem de
autonomia interna. Por se tratar de um papel estratégico, sugere-se que estejam em nível hierárquico
diretamente ligado à alta direção.26 O objetivo é a minimização das interferências no trânsito de
dados, informações e abordagens, por exemplo. Também, as decisões a serem tomadas pela direção
tendem a ser mais rápidas, fato possibilitado pela relação direta do líder Lean com a direção.
4. Comece pequeno:
Outra questão fundamental é a compreensão de que é necessário começar pequeno.
Escolher poucos processos e priorizar aqueles que trarão resultados maiores e mais rápidos. Pode ser
um grande equívoco iniciar com a implantação do Lean de forma verticalizada no hospital. O grande
risco nesta escolha é que um problema pontual em um projeto específico tenderá a ser generalizado,
o que pode comprometer a execução dos outros trabalhos desenvolvidos em simultâneo. Iniciar
com um projeto permite o tempo da aprendizagem, da maturação, da adaptação, e as correções
necessárias para posteriores ampliações nas demais áreas.
5. Estabeleça prioridades:
É comum que os líderes estratégicos sejam questionados sobre o processo pioneiro, onde
iniciar o trabalho Lean. São questionados quanto à “dor sentida” a fim de que possam expor os
principais problemas e, portanto, as prioridades, para que o primeiro trabalho seja realizado em
área ou processo considerado crítico pelo hospital, por existir maior potencial de resposta rápida e
adesão da liderança, oportunizando a criação de um modelo para que todos possam ver como foi
feito e percebam o ganho rápido de resultados, promovendo credibilidade institucional ao Lean.27
A priorização de projetos pode ser feita a partir da elaboração de uma lista com as principais “dores”
ou “incômodos” sentidos na organização, contemplando a percepção da alta direção e, ainda, as
necessidades relatadas pelos demais gestores do hospital.
6. Treine maciçamente:
Para o início da jornada Lean, é necessário treinar as pessoas, formá-las para que entendam
o contexto, o significado, e compreendam o objetivo proposto. Pode se dar por meio de um
seminário, um workshop para a divulgação da estratégia e primeira formação, contemplando o maior
número de colaboradores do hospital. Este momento deve ser utilizado com a melhor perspectiva
possível, comunicando de forma maciça qual a base do Lean, para, com isso, minimizar as possíveis
inseguranças iniciais, como demissões, perda de autonomia das áreas, entre outras. Os treinamentos
devem ser contínuos, de acordo com as necessidades percebidas e a evolução das etapas.
26
Ibidem.
27
Ibidem.
141
7. LEAN EM SAÚDE
142
Figura 2 – Roteiro para a criação do mapa de fluxo de valor desejado
DEFINIR O
MACROPROCESSO
1. Definir o macroprocesso/área/serviço:
Importante que seja escolhido em conjunto com a alta direção e seja elaborada uma lista de
prioridades com o que é considerado crítico e estratégico para a instituição. Para esta etapa, pode ser
utilizada uma matriz de priorização, a exemplo: Matriz GUT (gravidade-urgência-tendência), Matriz
Urgência x Importância, Matriz Esforço x Impacto. Outra forma é usar o Pareto para criar a lista inicial
e, no topo da lista, o processo/serviço que mais gera problemas. O princípio de Pareto sustenta que
80% dos efeitos derivam de 20% das causas. Trazendo para a realidade Lean, significaria dizer que
80% dos problemas advêm de 20% dos processos/áreas, e que deveriam compor a lista inicial para
a implementação do Lean. É interessante que cada instituição possa usar a maneira de priorizar
conforme maior aptidão e conhecimento prévio.
2. Observar no gemba:
Além dos relatos e das informações repassadas pela equipe que atua na área do projeto, é
necessário que o serviço seja acompanhado no local onde ocorre, no gemba.28 Por exemplo: caso
tenham escolhido o processo de montagem de kit de medicação para os pacientes, deve-se ir até à
farmácia, onde os medicamentos são separados, conferidos e organizados para serem entregues às
áreas assistenciais. É fundamental que exista observação (sem interferência), em horários e turnos
distintos (se possível), para que a realidade atual seja conhecida. Neste momento, todas as anotações
de como ocorre o processo devem ser feitas, a partir da observação dos fluxos, das atividades
humanas, do uso ou não da tecnologia e dos equipamentos, se existem atividades repetidas ou
28
Koenigsaecker (2011).
143
7. LEAN EM SAÚDE
deslocamentos desnecessários. Nesta fase, os tempos das atividades/etapas devem ser medidos, a
fim de gerar dados iniciais para serem comparados após a implantação das mudanças, essenciais
para o monitoramento e a evidência das melhorias futuras.
144
6. Mapa de valor do fluxo desejado:
Trata-se da meta a ser atingida. Como todos percebem e entendem, o fluxo de valor deve
ser para gerar maior entrega aos pacientes, com melhor tempo e menor custo, sem interrupções.
É aonde se pretende chegar após a implementação de todas as ações de melhorias identificadas
e relacionadas no plano de ação. A partir do primeiro desenho, do mapa de valor do fluxo atual,
considerando todas as ações a serem implantadas, pode ser representado, também em forma de
cartaz, como será o mapa de valor do fluxo futuro, utilizando da mesma técnica. É muito importante
manter a primeira construção e, após, comparar com o que se deseja, analisando o plano de ação,
para que seja, mais uma vez, racionalizados o processo e as possíveis necessidades adicionais.
7. Monitoramento:
É uma parte importante de todos os processos de melhorias. É aconselhável que seja
realizado também durante a implantação das ações do plano, e não apenas no final do prazo. Isto
serve para criar maior comprometimento e condições de que o projeto possa ser reposicionado,
caso necessário. A tendência das pessoas ao voltarem para a execução de suas atividades diárias é de
esquecerem aquilo que foi proposto, por estarem acostumadas com o modo como o processo ocorre,
e desviam do propósito da implantação de melhorias. Assim, o monitoramento é essencial. Sugere-
se o estabelecimento de reuniões periódicas com todos os responsáveis pelas ações e as lideranças,
para o compartilhamento do status de cada etapa. Importante determinar datas específicas para as
entregas das implementações das melhorias, o que gera, normalmente, maior comprometimento
e controle. A disciplina de todos os envolvidos é fundamental para a obtenção dos resultados nos
projetos Lean. Métricas numéricas controladas a partir de indicadores são fundamentais para que o
processo seja acompanhado e a evolução dos dados seja evidenciada.
Apresentamos, também, algumas ferramentas que podem ser usadas ou adaptadas conforme
a realidade de cada contexto. Contudo, existem muitas outras que cada hospital pode escolher fazer
uso, ou mesmo lançar mão em projetos e momentos específicos:
145
7. LEAN EM SAÚDE
29
LIKER, J. K.; FRANZ, J. K. O modelo Toyota de melhoria contínua: estratégia + experiência operacional = desempenho superior. Porto
Alegre: Bookman, 2013.
30
Graban (2013, p. 80).
146
O quê? Quando usar?
É a organização sistematizada das ações que precisam
ser executadas para garantir a implantação das
melhorias. Deve constar minimamente a descrição
Plano de ação clara e objetiva do que precisa ser feito, quem será o
responsável por garantir a execução e qual o prazo
para a finalização. Poderá ser utilizado o modelo 5W2H,
ou adaptá-lo às necessidades do hospital.
Para avaliar continuamente os resultados e analisar
as melhorias dos processos, verificar se as metas
traçadas estão sendo atingidas, se existem desvios,
qual a tendência, entre outras situações para o
Indicadores acompanhamento dos projetos e tomadas de
decisão. Sem a criação, a alimentação, a análise e o
monitoramento de indicadores, não é possível saber
se as ações implantadas estão gerando melhorias nos
resultados.
Visa gerar um equilíbrio das atividades por meio de
análises, e distribuí-las em fluxo contínuo, gerando
uma estabilidade produtiva. Busca evitar a flutuação
Heijunka do volume. Exemplo: equilibrar a distribuição das
consultas médicas ambulatoriais de forma igual em
todos os dias da semana, em todas as horas da agenda
do dia.
Existem diversos nomes utilizados, como round,
huddle meeting, daily huddle, que se tratam de
momentos curtos realizados diariamente, no local de
trabalho, conduzidos pelo líder, para o alinhamento
Reuniões diárias para a gestão da rotina
das informações, reportar às equipes informações
sobre os resultados, em que é possível discutir metas
diárias, necessidades e demais assuntos de orientação,
feedback, manter as pessoas focadas etc.
Conclusão
Se existe uma mensagem que pretendemos deixar aos leitores deste capítulo é que o
hospital obterá sucesso no desenvolvimento da cultura do pensamento enxuto se conseguir alterar
o mindset31 das pessoas da organização, fundamentalmente das lideranças. É necessário que
concebam que as operações podem ser executadas de maneiras distintas daquelas realizadas até o
momento, lançando um olhar crítico sobre todo o macroprocesso.
Todos na instituição devem compreender que o Lean busca a perfeição, o que denota a
31
Segundo a SBCoaching (2019), mindset é o tipo de mentalidade que cada pessoa tem sobre a vida, a forma como organiza os seus
pensamentos e decide encarar as situações do cotidiano.
147
7. LEAN EM SAÚDE
possibilidade de melhorar continuamente. Desta forma, mesmo aquele processo que vinha aferindo
bons resultados, é passível de ser melhorado e deve ser analisado criticamente.
Referências
BARRY, R.; MURCKO, A.; BRUBAKER, C. The Six Sigma book for healthcare: improving outcomes by
reducing erros. Chicago: American College of Healthcare Executives, 2002.
KOENIGSAECKER, G. Liderando a transformação Lean nas empresas. Porto Alegre: Bookman, 2011.
LIKER, J. K. O modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. Porto Alegre:
Bookman, 2015.
LIKER, J. K.; COMVIS, G. L. O modelo Toyota de liderança Lean: como conquistar e manter a excelência
pelo desenvolvimento de lideranças. Porto Alegre: Bookman, 2013.
LIKER, J. K.; FRANZ, J. K. O modelo Toyota de melhoria contínua: estratégia + experiência operacional
= desempenho superior. Porto Alegre: Bookman, 2013.
LIKER, J. K.; MEIER, D. O Modelo Toyota – Manual de Aplicação: um guia prático para a implementação
dos 4Ps da Toyota. Porto Alegre: Bookman, 2007.
LIKER, J. K.; OGDEN, T. N. A crise da Toyota: como a Toyota enfrentou o desafio dos recalls e da
recessão para ressurgir mais forte. Porto Alegre: Bookman, 2012.
PORTER, M. E.; TEISBERG, E. O. Repensando a saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir
os custos. Porto Alegre: Bookman, 2007.
PRESTES, A. et al. (Orgs.). Manual do gestor hospitalar. Brasília: Federação Brasileira de Hospitais,
2019.
148
SBCOACHING – SOCIEDADE BRASILEIRA DE COACHING. Mindset: entenda o conceito e como utilizá-
lo a seu favor. SBCoaching, 9 jan. 2019. Disponível em: https://www.sbcoaching.com.br/blog/
mindset/. Acesso: em 22 abr. 2020.
WOMACK, J. P; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo: baseado no estudo do
Massachusetts Institute of Technology sobre o futuro do automóvel. 10ª reimpressão. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
Bibliografia complementar
DENNIS, P. Produção Lean simplificada: um guia para entender o sistema de produção mais
poderoso do mundo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.
JOINT COMMISSION. O pensamento Lean na saúde: menos desperdício e filas e mais qualidade e
segurança para o paciente. Porto Alegre: Bookman, 2013.
LIKER, J. K.; ROSS, K. O modelo Toyota de excelência em serviços: a transformação nas organizações
de serviço. Porto Alegre: Bookman, 2018.
ØVRETVEIT, J. Melhoria de qualidade que agrega valor: o cuidado de saúde. Rio de Janeiro:
Proqualis; ICICT/Fiocruz, 2015.
149
CAP. 8
TRANSIÇÃO DE
CUIDADOS PARA
O AMBIENTE
EXTRA-
HOSPITALAR
Luiza Watanabe Dal Ben
Objetivos
» Apresentar o conceito de transição de cuidados e sua importância na gestão de condições
crônicas;
» Expor as modalidades de transição de cuidados para o ambiente extra-hospitalar;
» Propor reflexões sobre as inovações em gestão na transição de cuidados.
1
LIMA, M. A. D. S. et al. Estratégias de transição de cuidados nos países latino-americanos: uma revisão integrativa. Revista Gaúcha
Enfermagem, v. 39, p. 1-12, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rgenf/v39/pt_1983-1447-rgenf-39-04-e20180119.pdf. Acesso
em: 15 maio 2020.
2
OLIVEIRA, L. R. Descrição do serviço de desospitalização de um hospital privado no município de São Paulo. 2018. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2018.
3
BRAET, A. et al. Effectiveness of discharge interventions from hospital to home on hospital readmissions: a systematic review. JBI
Database of Systematic Reviews and Implementation Reports, v. 14, n. 2, p. 106-173, 2016. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.
nih.gov/27536797/. Acesso em: 20 jun. 2020.
151
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
hospitalares está na promoção do empoderamento dos pacientes, que ocorre pelo aumento da
capacitação para o autocuidado deles e do treinamento dos seus cuidadores. Isso requer sistemas
financeiros que apoiem e facilitem a colaboração entre hospitais e atendimento domiciliar.4
Um dos fatores que contribui para uma assistência segura aos pacientes é a continuidade com
a integração de processos, informações, personalização atendendo às necessidades e aos valores dos
pacientes, inseridos em ambientes adequados, tais como hospital, unidade de cuidados prolongados,
ambulatório, hospital-dia, atenção domiciliar, entre outros. O estudo apresentado pelo Anuário da
Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil indica que 30% dos pacientes internados nos hospitais
poderiam ser atendidos em outro perfil de serviço, e os custos com internações desnecessárias giram
em torno de R$ 10 bilhões por ano, o que reforça a importância de acompanharmos os pacientes em
seu curso de condição de saúde objetivando uma assistência segura e de qualidade.6
O perfil da população mais idosa e dos doentes em condições crônicas com comorbidades
induz a necessária e crescente integração entre os prestadores de serviços de saúde, atores centrais
do sistema de saúde e responsáveis pela maior parte do valor entregue aos pacientes, resultando em
uma competição de soma positiva baseada em resultados.7 No Brasil, apesar do crescente aumento
nos custos da saúde, não se tem evidenciado uma melhoria de qualidade na assistência considerando
a restrição ao acesso, o volume de eventos adversos e os índices de satisfação dos pacientes, o que
corrobora para que sejam redirecionadas estratégias de ações e serviços para entregar valor em
saúde, definidas como a relação entre os resultados que importam para os pacientes, que são os
desfechos clínicos e o custo para atingir estes resultados.8
» É uma transição epidemiológica que conduz à tripla carga de doenças, em que se manifestam
os quadros de infecções de curso longo, como HIV/Aids, hanseníase, certas hepatites virais; a
desnutrição e os problemas de saúde reprodutiva; as causas externas e as doenças crônicas,
como distúrbios mentais de longo prazo; as deficiências físicas e estruturais contínuas, como
amputações e deficiências motoras persistentes, estimando-se que 85% da carga total de
4
Ibidem.
5
VERAS, R. P. et al. Integração e continuidade do cuidado em modelos de rede de atenção à saúde para idosos frágeis. Revista de
Saúde Pública, v. 48, n. 2, p. 357-365, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102014000200357&script=sci_
abstract&tlng=pt. Acesso em: 15 maio 2020.
6
IESS – INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil. Belo Horizonte:
IESS, 2017. Disponível em: https://www.iess.org.br/cms/rep/anuario_atualizado_0612.pdf. Acesso em: 15 jun. 2020.
7
PORTER, M. E.; TEISBERG, E. O. Repensando a saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. Tradução de Cristina
Bazan. Porto Alegre: Bookman, 2007. p.139-200.
8
SILVA, G. E. S.; MALIK, A. M. Valor em saúde. GV Executivo, v. 18, p. 13-15, 2019. Disponível em: https://pesquisa-eaesp.fgv.br/sites/
gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/valor_em_saude.pdf. Acesso em: 10 maio 2020.
152
doenças está em condições crônicas;9,10
» O Disability Adjusted Life Years (Daly), que representa anos de vida perdidos ajustados
por incapacidade, foi estimado para o Brasil em 2008. O seu cálculo é a soma de dois
componentes: o de mortalidade, representado pelos anos de vida perdidos em decorrência
de morte prematura (years of life lost – YLL), e o de morbidade, caracterizado pelos anos de
vida saudável perdidos em virtude de incapacidade (years lost due to disability – YLD). Daly =
YLL + YLD. Em 2008, no Daly, preponderaram as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs)
em todas as regiões do país, em particular as doenças cardiovasculares, os transtornos
mentais, o diabetes e a doença pulmonar obstrutiva crônica, elevada carga das causas
externas, principalmente a dos homicídios e dos acidentes de trânsito;11
» Uma transição demográfica que leva ao envelhecimento rápido da população: as pessoas
com mais de 60 anos consomem seis vezes mais internações hospitalares do que os adultos
na faixa dos 40 anos.12 Uma transição nutricional em que 55,7% da população está com
sobrepeso, prevalente na faixa etária de 18 a 24 anos, devido ao consumo de alimentos
ultraprocessados, com alto teor de gordura e açúcar, e ao estilo de vida vigente no país.13
Esses são os desafios que os gestores enfrentam no cotidiano ao elaborarem suas estratégias
de negócio, pois todos os itens mencionados interferem no aumento de condições crônicas de saúde.
Outra variável presente que impacta o aumento nos custos em saúde é a transição
tecnológica, com a alta produção de conhecimentos e avanços da ciência em saúde e consequente
demanda de incorporação pelos serviços, mesmo com a implementação de regulamentações pela
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias em Saúde do Ministério da Saúde (MS), na
integração de novas drogas, técnicas e equipamentos que, em função de seu alto volume, superam
a capacidade dos sistemas de saúde em aplicá-las de forma racional,14 como também a coexistência
dos avanços tecnológicos em saúde, permitindo a sua utilização em ambientes extra-hospitalares
com total segurança. Portanto, reformular e inovar as práticas de administração em saúde torna-se
vital, principalmente para a gestão da transição dos níveis de intensidade dos cuidados.
9
MENDES, E. V. A abordagem das condições crônicas pelo Sistema Único de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, n. 2, p. 431-436, 2018.
(Entrevista). Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232018000200431&lng=en&nrm=iso&tlng
=pt. Acesso em: 7 maio 2020.
10
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis
e Promoção da Saúde. Saúde Brasil 2018: uma análise de situação de saúde e das doenças e agravos crônicos – desafios e perspectivas.
Brasília: MS, 2019a.
11
LEITE, I. C. et al. Carga de doença no Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 31, n. 7, p. 1551-1564, jul. 2015. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/csp/v31n7/0102-311X-csp-31-7-1551.pdf. Acesso em: 10 maio 2020.
12
VECINA NETO, G.; MALIK, A. M. Tendências na gestão da saúde. GV Executivo, v. 16, n. 4, p. 13-16, 2017. Disponível em: https://rae.fgv.
br/gv-executivo/vol16-num4-2017/tendencias-na-gestao-saude. Acesso em: 7 maio 2020.
13
BRASIL. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores
de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico – estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de
fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. Brasília: MS, 2019b.
Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/julho/25/vigitel-brasil-2018.pdf. Acesso em: 11 maio 2020.
14
LIMA, S. G. G.; BRITO, C.; ANDRADE, C. J. C. O processo de incorporação de tecnologias em saúde no Brasil em uma perspectiva
internacional. Ciência e Saúde Coletiva, v. 24, n. 5, p. 1709-1722, May 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
81232019000501709&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 7 maio 2020.
153
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
A entrega de valor aos pacientes pode ser realizada por meio de modalidades de cuidados
transicionais, pois estes contribuem para o usuário usufruir uma melhor qualidade de vida, o que é
positivo para a sustentabilidade do negócio e do ecossistema da saúde.
15
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC Anvisa nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre
o regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de
saúde. Brasília: Anvisa, 2002.
154
No hospital de transição, a equipe interdisciplinar avalia e reavalia constantemente, de
acordo com a evolução do paciente, o plano terapêutico estabelecido, segundo as métricas a serem
alcançadas. A intensificação de forma coordenada do cuidado inclui a avaliação dos exercícios, que
visam potencializar ao máximo a reabilitação das funcionalidades, envolvendo a equipe (médicos,
enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas e técnicos de enfermagem) para evitar
riscos de subnutrição, prevenir lesões de pele e complicações inerentes aos dispositivos. O paciente é
mantido sentado o máximo de tempo possível, incluindo no plano de cuidados, além da conciliação
da terapêutica medicamentosa, a estimulação visual, auditiva, sensitiva e cognitiva, com apoio de
recursos audiovisuais (vídeos, fotografias com a participação ativa dos familiares). É comum que,
em 90 dias, o paciente tenha alta, com o apoio de um cuidador familiar, alimentando-se por via
oral e com maior autonomia. A família acompanha todos os procedimentos técnicos, incluindo a
permanência na área externa (jardim), proporcionando a realização de desejos do paciente, tais
como receber a visita do animal de estimação (após permissão da Comissão de Infecção).
O setor privado oferece serviços a pacientes e familiares, com articulação entre hospitais,
operadoras de saúde e prestadores de serviços, um trabalho educativo junto a famílias, pacientes e
médicos sobre a lógica de rede articulada, referenciada e integrada na assistência à saúde.
Nos últimos anos, houve um crescimento de hospitais de transição nos estados do Paraná,
do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, da Bahia e do Espírito Santo
para atender a uma demanda crescente do mercado. Em 2020, foi criada a Associação Brasileira
dos Hospitais e Clínicas de Transição (ABRAHCT), com sede em São Paulo, iniciativa que demonstra
a necessidade desta modalidade no mercado nacional, visando ao cuidado transicional seguro.
Todos oferecem serviços de reabilitação e cuidados paliativos, com inclusão dos familiares no
compartilhamento de decisões, o que os empodera para o autocuidado.
16
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM n° 2.809, de 7 de dezembro de 2012. Estabelece a organização dos cuidados prolongados para
retaguarda à Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) e às demais Redes Temáticas de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, 2012b.
155
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
PAZIN-FILHO, A. et al. Impacto de leitos de longa permanência no desempenho de hospital terciário em emergências. Revista de Saúde
17
156
Os instrumentos de avaliação apresentados são protocolos utilizados na prática na Espanha
pelas enfermeiras gestoras de caso, também conhecidas como enfermeiras de continuidade de
cuidados ou enfermeiras hospitalares de enlace, que realizam a coordenação com os profissionais
de saúde e, em conjunto com o usuário e a família, estabelecem o plano de cuidados mais adequado
para cada paciente no pós-alta hospitalar. As atividades realizadas por enfermeiras hospitalares de
enlace relacionadas à continuidade do cuidado para a Atenção Primária à Saúde (APS) englobam
a especificidade do processo de trabalho, a disponibilidade de recursos, as habilidades e as
competências individuais para exercer a função de ligação entre os níveis assistenciais.19
Atenção domiciliar
Os serviços de assistência domiciliar (SADs) seguem a RDC nº 11 da Anvisa,20 que define o
funcionamento técnico das organizações de atenção domiciliar em relação à estrutura, aos processos
e aos resultados, considerando a responsabilidade das instituições, tanto públicas e privadas, da
admissão até a alta ou o óbito do paciente. Há necessidade de uma central de atendimento que
funcione 24 horas, todos os dias da semana, com capacidade de resolubilidade.
No setor privado, a atenção domiciliar tem sido praticada desde o início da década de 1990,
sendo considerada um benefício extracontratual. Não está incluída no roll de procedimentos pela
Agência Nacional de Saúde (ANS). A prática denota que as operadoras de planos de saúde consideram
uma boa ferramenta de gestão, pois há mais de duas décadas tem sido praticada pela autogestão,
pelas cooperativas médicas, pelas operadoras verticalizadas e pelos seguros de saúde.
19
COSTA, M. F. B. N. A. et al. A continuidade do cuidado de enfermagem hospitalar para a Atenção Primaria à Saúde na Espanha.
Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 53, p. 1-8, 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0080-62342019000100441&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 18 jun. 2020.
20
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC Anvisa nº 11, de 26 de janeiro de 2006. Dispõe sobre o
regulamento técnico de funcionamento de serviços que prestam a atenção domiciliar. Brasília: Anvisa, 2006.
21
NEAD – NÚCLEO NACIONAL DAS EMPRESAS DE SERVIÇOS DE ATENÇÃO DOMICILIAR. Tabela de Avaliação para Planejamento de
Atenção Domiciliar. São Paulo: Nead, [s.d.]. Disponível em: https://www.neadsaude.org.br/pdfs/5-FINAL-SITE.pdf. Acesso em: 20 maio 2020.
157
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
No setor público, as diretrizes são claras, determinadas e divulgadas pelo MS, no sentido de
ampliar a atenção básica por meio do fortalecimento do programa Estratégia de Saúde da Família
(ESF), e do Programa Melhor em Casa, sendo um dos seus eixos proporcionar celeridade ao processo
de alta hospitalar com cuidado continuado no domicílio. A atenção domiciliar é indicada para pessoas
com estabilidade clínica que necessitam de atenção à saúde em situação de restrição ao leito, ao lar,
de maneira temporária ou definitiva ou em grau de vulnerabilidade, na qual a atenção domiciliar é
considerada a oferta mais oportuna para tratamento, paliação, reabilitação e prevenção de agravos,
tendo em vista a ampliação de autonomia do usuário/paciente/família/cuidador. Os objetivos do SAD
são: redução da demanda por atendimento hospitalar; redução do período de permanência de usuários
internados; humanização da atenção à saúde, com ampliação da autonomia dos usuários; transição de
cuidados (desinstitucionalização); e otimização dos recursos financeiros e estruturais da RAS.27
A atenção domiciliar no SUS está organizada em três modalidades – AD1, AD2 e AD3 –,
que diferem de acordo com as necessidades de cuidados demandados de cada paciente/família,
22
NEAD – NÚCLEO NACIONAL DAS EMPRESAS DE SERVIÇOS DE ATENÇÃO DOMICILIAR. Manual de Boas Práticas. Práticas assistenciais:
avanços na assistência domiciliar. Fascículo VI. São Paulo: Nead, 2019. p. 20-27. Disponível em: https://www.neadsaude.org.br/wp-content/
themes/nead/nead-digital/boaspraticas06/#p=20. Acesso em: 20 maio 2020.
23
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência. Segurança do
paciente no domicílio. Brasília: MS, 2016b.
24
OLIVEIRA, P. R. et al. Terapia antimicrobiana parenteral ambulatorial para infecções ortopédicas: uma experiência bem-sucedida em
saúde pública no Brasil. The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 20, n. 3, p. 272-275, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1413-86702016000300009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 15 maio 2020.
25
SBI – SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA. Novas diretrizes são lançadas pela SBI. Boletim SBI, SBI em Pauta, p. 3, mar. 2017.
Disponível em: https://www.infectologia.org.br/admin/zcloud/120/2017/03/Boletim_Marco_2017.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.
26
GORSKI, L. A. The 2016 infusion therapy standards of practice. Home Healthcare Now, v. 35, n. 1, p. 10-18, 2017. Disponível em: https://
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27922994. Acesso em: 10 maio 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de atenção domiciliar. Brasília:
27
MS, 2012a.
158
da complexidade clínica, do tipo de atenção, da frequência em relação à periodicidade das visitas/
avaliações, da intensidade do cuidado multiprofissional e da necessidade dos recursos da saúde –
equipamentos.28 O ambiente domiciliar propicia ao paciente cuidado pautado na humanização,
próximo da rotina da família, evitando hospitalizações desnecessárias, diminuindo o risco de
infecções,29 bem como promove a autonomia dos pacientes e familiares pela capacitação,
possibilitando aos usuários finalizarem o tratamento proposto em seus domicílios, por já terem
superado a fase aguda da patologia. A viabilidade econômica e assistencial é significativa: o custo
médio paciente/dia do SAD é 1.041% menor que o da internação hospitalar.30
Estudo31 revelou que os pacientes pediátricos hospitalares apresentaram 6,04 vezes mais
infecções e foram submetidos a 6,43 vezes mais procedimentos, quando comparados ao grupo
domiciliar, no qual se constatou menores índices de reinternações, sendo que 41,66% das crianças
estudadas nunca reinternaram e 76,19% das que precisaram de reinternação o fizeram após mais
de 30 dias desde a alta hospitalar. Outro benefício foi a disponibilização, em média, de 101,80 leitos
hospitalares pediátricos em cinco anos,32 o que demonstra o quanto os SADs são efetivos na redução
do número de procedimentos, de infecções e, consequentemente, dos gastos públicos com saúde.
28
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 825, de 25 de abril de 2016. Redefine a atenção domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS) e atualiza as equipes habilitadas. Diário Oficial da União, Brasília, Seção 1, p. 33, 2016a.
29
PADOVEZE, M. C.; FIGUEIREDO, R. M. (Coords.). Prevenção e controle de infecções associadas à assistência extra-hospitalar: atenção
primária, ambulatório, serviços diagnósticos, assistência domiciliar, serviços de longa permanência. 2. ed. ampl. e rev. São Paulo: APECIH,
2019. p. 361-436.
30
REIS, G. F. M. Atenção domiciliar: análise do perfil dos pacientes na utilização de recursos e custos em uma cidade do sudeste do Brasil.
2018. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, 2018.
CARVALHO, A. J. L. Análise da efetividade de um serviço de atenção domiciliar pediátrico brasileiro. 2019. Dissertação (Mestrado
31
159
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
ou aos custos adicionais ao paciente33 e com discussão sobre diretivas antecipadas de vontade.34 O
Núcleo de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (Nadi), do Instituto Central do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), criado desde 1996, exemplo de inovação, atende com
equipes interdisciplinares, compostas por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos,
nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, cirurgiões-dentistas e farmacêuticos, que realizam, em
média, seis visitas diárias para garantir qualidade de vida aos doentes. Constitui um excelente espaço
de ensino, pesquisa e formação para residência multiprofissional e aprimoramento,35 e, anualmente,
realiza o Congresso Interdisciplinar de Assistência Domiciliar (Ciad), referência nacional.36
O setor de atenção domiciliar está avançando, com empresas que possuem selos de
acreditação de qualidade reconhecidos, como os da Joint Commission International (JCI), da
Organização Nacional de Acreditação (ONA), da Accreditation Canada International (ACI), entre
outras.
Como cada domicílio representa um hospital virtual, o suporte para agilizar os processos,
com segurança e qualidade, é vital, bem como a comunicação e a logística, viabilizando transporte
seguro dos insumos, controle e armazenamento no local para o sucesso de todos os envolvidos.
O registro no prontuário do paciente é de suma importância, com a expressa autorização deste e
de seus familiares responsáveis, estando descrito quem pode ter acesso ao documento, pois este
permanece no domicílio em que o cuidado é prestado, sob a responsabilidade do SAD.
33
BRASIL. Ministério da Saúde. Recomendações para a ventilação mecânica domiciliar. Brasília: MS, 2018.
34
DADALTO, L. et al. Diretivas antecipadas de vontade: um modelo brasileiro. Revista Bioética, v. 21, n. 3, p. 463-476, 2013. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/bioet/v21n3/a11v21n3.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.
35
YAMAGUCHI, A. M. et al. (Eds.). Assistência domiciliar: uma proposta interdisciplinar. São Paulo: Manole, 2010.
36
Veja mais em: www.ciad.com.br. Acesso em: 7 ago. 2020.
37
DAL BEN, L. W.; GAIDZINSKI, R. R. Proposta de modelo para dimensionamento do pessoal de enfermagem em assistência domiciliária.
Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 97-103, mar. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342007000100013. Acesso em: 15 maio 2020.
BÔAS, M. L. C. V.; SHIMIZU, H. E.; SANCHEZ, M. N. Elaboração de instrumento de classificação de complexidade assistencial de pacientes
38
em atenção domiciliar. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 50, n. 3, p. 434-441, maio/jun. 2016. Disponível em: https://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342016000300434&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 20 maio 2020.
160
» Métricas na atenção domiciliar:
O monitoramento, a avaliação da qualidade e a segurança do paciente em atenção domiciliar,
nas diferentes modalidades, são realizados pelos indicadores de estrutura, processo e resultados.
Para o Programa Melhor em Casa (SUS), os indicadores adotados são: a média de permanência
geral e de permanência por agravo; o percentual de usuários classificados por modalidades da atenção
domiciliar como AD1, AD2 e AD3 na admissão; o percentual de usuários por serviço de origem
(procedência); o percentual de usuários por conduta/motivo de saída (desfecho); o percentual de
usuários em atenção domiciliar por agravo/condição avaliada; e a capacidade de atendimentos do SAD.
No setor privado, os dados são coletados diariamente, analisados e discutidos pela Comissão
de Controle de Infecção, pela Comissão de Gestão de Atendimento ao Cliente e pela fonte pagadora
(planos de saúde), para, depois, serem transformados em gráficos visando às melhores compreensão
e comunicação de acordo com os protocolos de cada instituição.
39
Ibidem.
161
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
40
NAVES, L. K.; TRONCHIN, D. M. R.; MELLEIRO, M. M. Incidência de extubação gástrica nos grupos pediátrico e adulto em um programa de
assistência domiciliar. Revista Mineira de Enfermagem, v. 18, n. 1, p. 61-67, jan./mar. 2014. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/
reme.org.br/pdf/en_v18n1a05.pdf. Acesso em: 20 maio 2020.
41
MACHADO, D. O. et al. Cicatrização de lesões por pressão em pacientes acompanhados por um serviço de atenção domiciliar. Texto
& Contexto Enfermagem, v. 27, n. 2, p. 1-8, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
07072018000200329&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 20 maio 2020.
42
SILVA, G. E. S. A busca pelo cuidado baseado em valor em um hospital universitário. 2018. Dissertação (Mestrado em Gestão para
a Competitividade) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2018. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/23984/A%20BUSCA%20PELO%20CUIDADO%20BASEADO%20EM%20
VALOR%20EM%20UM%20HOSPITAL%20UNIVERSIT%C3%81RIO.pdf?sequence=7&isAllowed=y. Acesso em: 15 maio 2020.
162
principalmente na área da saúde, que, majoritariamente, vai ao encontro do propósito esperado dos
profissionais de saúde, de fazer o melhor para as pessoas. Em todo o processo de mudança, a alta
liderança precisa estar presente, como um leme, direcionando e redirecionando para o alcance dos
propósitos do processo de mudança.
43
MALTA, D. C. et al. Doenças crônicas não transmissíveis e a utilização de serviços de saúde: análise da Pesquisa Nacional de Saúde
no Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 51, supl. 1-4, p. 1-10, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rsp/v51s1/pt_0034-8910-
rsp-S1518-87872017051000090.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.
163
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
O hospital deve estar voltado para atender os pacientes de situação aguda e agudização das
condições crônicas, e serem centros de tecnologia e de pesquisa para reduzir as mortes prematuras
e influenciar políticas públicas para o bem de todos.
Referências
ANDRADE, M. M. O processo de trabalho em unidades de cuidado prolongado no estado de São
Paulo. 2017. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC Anvisa nº 50, de 21
de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o regulamento técnico para planejamento, programação,
elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Brasília:
Anvisa, 2002.
______. ______. ______. RDC Anvisa nº 11, de 26 de janeiro de 2006. Dispõe sobre o regulamento
técnico de funcionamento de serviços que prestam a atenção domiciliar. Brasília: Anvisa, 2006.
164
cuidados prolongados para retaguarda à Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) e às
demais Redes Temáticas de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário
Oficial da União, Brasília, 2012b.
______. ______. Portaria nº 825, de 25 de abril de 2016. Redefine a atenção domiciliar no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS) e atualiza as equipes habilitadas. Diário Oficial da União, Brasília,
Seção 1, p. 33, 2016a.
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DADALTO, L. et al. Diretivas antecipadas de vontade: um modelo brasileiro. Revista Bioética, v. 21,
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18, 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27922994. Acesso em: 10 maio 2020.
165
8. TRANSIÇÃO DE CUIDADOS PARA O AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
LEITE, I. C. et al. Carga de doença no Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 31, n. 7, p.
1551-1564, jul. 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csp/v31n7/0102-311X-csp-31-7-1551.
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YAMAGUCHI, A. M. et al. (Eds.). Assistência domiciliar: uma proposta interdisciplinar. São Paulo:
Manole, 2010.
167
CAP. 9
GESTÃO
DE CUSTOS
Marcelo Accetta
Objetivos
» Apresentar a gestão de custos como essencial para o planejamento da cadeia produtiva;
» Instrumentalizar os gestores hospitalares para a reflexão sobre custos e seus desdobramentos;
» Proporcionar uma reflexão sobre o aperfeiçoamento do desempenho, tornando uma
referência na negociação, na maximização dos resultados e no apoio no processo de tomada
de gestão.
Dentre alguns dos benefícios possíveis com uma adequada gestão desses temas, citamos:
» Correta formatação de preços dos serviços hospitalares, apoiada em dados reais e seguros,
melhorando, também, as negociações futuras;
» Aumento da rentabilidade;
» Diminuição do desperdício;
» Vantagem competitiva;
» Permanência no mercado.
O gestor hospitalar tem papel fundamental nesse processo, visto que se trata de algo
estratégico e que pode ser fator decisivo para a permanência da organização no mercado.
169
9. GESTÃO DE CUSTOS
170
aferidos, o processo passa a fazer parte da rotina de forma horizontal na instituição.
Para um gestor hospitalar, o conceito de custo deve possuir um significado particular, às vezes
radicalmente diferente daquele comumente conhecido e presente nos registros contábeis. Já na
concepção econômica de custos, e em essência na teoria econômica, gira em torno da visão de que
os recursos são de necessidades ilimitadas para recursos limitados ou escassos. Nesta concepção,
toda a ordenação produtiva também passa, necessariamente, a ser uma estrutura de escolha, já que
os recursos utilizados em um determinado processo produtivo não estarão disponíveis para serem
usados em outra alternativa de produção.
Com o empoderamento do gestor em saúde, já não haverá mais espaço para a tomada
de decisões com base em opiniões pessoais. Um hospital bem-sucedido deve possuir um corpo
administrativo que conheça custos (pessoas certas, nos lugares certos) e que planeja, com todas
essas informações, investimentos de capital, com um bom conhecimento da situação da companhia,
e que estabeleça preços e salários com base em custos reais, provendo uma apuração exata destes.
A direção e os gestores necessitam de uma apuração detalhada, com informações claras, objetivas e
precisas de custos, pois eles trabalham com um “lucro líquido” habitualmente pequeno.
1
PIOLA, S. F.; VIANNA, S. M. Economia da saúde: conceitos e contribuição para a gestão da saúde. Brasília: Ipea, 1995.
2
BERMAN, H. J.; WEEKS, L. E. The Financial Management of Hospitals. Rio de Janeiro: Livraria Pioneira Editora, 1979.
171
9. GESTÃO DE CUSTOS
essas necessidades exigem informações corretas dos dados, que decorrem da aplicação de métodos
precisos de apuração.3
A gestão de custos hospitalares, por meio de seus resultados e indicadores, pode influenciar
o faturamento final da instituição. Orientamos que o gestor hospitalar, ao conhecer os custos de
forma analítica, busque as ações plausíveis para a racionalização de recursos e o reposicionamento de
investimentos, e não opte pelo comum “corte de gastos”, pois, além de, possivelmente, não resolver
os problemas do orçamento, pode acabar gerando outras falhas na organização, como acontece, por
exemplo, quando a escolha perpassa pela redução do quadro de pessoal.
A partir do estudo detalhado das contas apuradas, podem ser percebidas outras fontes de
problemas, como, por exemplo, na gestão de equipamentos (utilização ineficiente) ou na gestão de
medicamentos (valor elevado parado no estoque), e, ainda, processos internos ineficientes.
Em outro ponto de vista, os gestores hospitalares também podem acreditar que o orçamento
está bom e que os resultados positivos são sinal de que a instituição está crescendo – quando, na
verdade, existem vários processos que podem ser otimizados para aumentar o faturamento. Atrasos
de 15 ou 20 minutos para iniciar um procedimento no centro cirúrgico podem não parecer muito
tempo para profissionais ou pacientes. Contudo, em longo prazo, se for contabilizado o tempo de
ociosidade total da sala, dos equipamentos e dos médicos, a percepção tende a ser bem diferente.
É imprescindível que o gestor hospitalar compreenda que os custos dos serviços não se
resumem às despesas diretas, como de salários, suprimentos, alimentos, medicamentos, mas também
inclui itens de despesas gerais, tais como manutenção, administração, depreciação, conservação e
limpeza, lavanderia e registros médicos (centros de custos gerais).
Para que os custos totais da operação do hospital sejam recuperados, por meio da cobrança
dos serviços prestados aos pacientes, deve ser feita uma atribuição exata de todos os custos, com os
rateios interdepartamentais, via centros de custos que prestam os serviços pelos quais os pacientes
pagam. Para tanto, é necessário que seja criado um processo capaz de alocar todos os custos de
operação do hospital aos respectivos centros ou unidades que produzem a receita.
3
Idem.
172
de higienização dos leitos, rateado para a unidade de internação, é de responsabilidade final do
gestor de hotelaria, por possuir autonomia de intervir diretamente no processo.
Uma instituição de saúde depara-se com frequente necessidade de investimento, como, por
exemplo, quanto à renovação do nível de tecnologia médica, sistemas de informação e inovações
relativas ao modelo assistencial. Todas essas decisões exigem um alto grau de responsabilidade por
parte dos dirigentes, em geral, envolvendo e/ou agregando recursos. Não se pode errar em termos
do momento do investimento e da dosagem adequada, que permitam assegurar resultados não
apenas de ordem financeira, mas também na qualidade dos serviços e na oportunidade diante do
crescimento de competitividade do setor.5
Destacamos, abaixo, alguns itens que devem ser utilizados para a formulação do planejamento
financeiro, que auxiliam e permitem visualizar decisões importantes:
» Metas;
» Projeções orçamentárias;
4
MATOS, A. J. Gestão de custos hospitalares: técnicas, análise e tomada de decisão. São Paulo: Editora STS, 2002.
5
Idem.
173
9. GESTÃO DE CUSTOS
» Reserva orçamentária;
» Série histórica;
» Análise de viabilidade;
» Fluxo financeiro exigido;
» Avaliação de custo (retorno) x produtividade;
» Volume mínimo de atividade necessária.
A apuração de custos
Com o intuito de oferecer subsídio aos gestores acerca das metodologias de custos existentes,
faremos uma breve contextualização sobre as mais utilizadas pelas instituições de saúde, demostrando
indicadores e informações para a gestão de seus custos. Não são necessariamente excludentes, isto
é, podem ser mutuamente utilizadas, cada qual com suas vantagens e desvantagens; por isso, a
instituição deve analisar qual metodologia será mais apropriada para alcançar os objetivos.
O sistema de custeio por absorção faz apropriação integral de todos os custos (diretos,
indiretos, fixos e variáveis) aos produtos/serviços finais. Segundo Martins (2001),7 “custeio por
absorção é o método derivado da aplicação dos princípios de contabilidade geralmente aceitos,
nascido da situação histórica mencionada, consiste na apropriação de todos os custos de produção
aos bens elaborados”, isto é, todos os gastos relacionados ao esforço de fabricação são distribuídos
para todos os produtos/serviços.
O sistema de custeio ABC (Activity-Based Costing) permite melhor visualização dos custos por
meio da análise das atividades executadas dentro da instituição e suas respectivas relações com
os objetos de custos. O princípio básico deste sistema é tornar direto o maior número possível de
custos proporcionais e não proporcionais, por meio de direcionadores de custos. É um sistema de
custeio alternativo que vem sendo testado, principalmente no Brasil. O custeio ABC é adequado para
organizações complexas, em que os produtos consomem os recursos de forma muito heterogênea.
Os hospitais são bons exemplos para aplicação desta metodologia.
O custeio direto ou variável, segundo Martins (2001),8 tem como fundamento básico a
separação dos custos variáveis e os custos fixos, sendo apropriado aos produtos e serviços somente
os custos que variam com o seu volume de produção, uma vez que os custos fixos são considerados
6
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Economia da Saúde. Programa
Nacional de Gestão de Custos. Manual técnico de custos: conceitos e metodologia. Brasília: MS, 2006.
7
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
8
Idem.
174
despesas do período, tendo seus valores alocados diretamente ao resultado. O custeio direto também
é chamado de custeio variável, ou, ainda, de custeio marginal (mudança no custo total de produção
advinda da variação em uma unidade da quantidade produzida), visto que os custos variáveis, na sua
maioria, são diretos. O custeio variável geralmente é utilizado para fins gerenciais, como ferramenta
de auxílio à administração para a tomada de decisões.
175
9. GESTÃO DE CUSTOS
Hospitais são recursos vitais e necessários à comunidade e devem ser administrados para o
benefício desta, com o objetivo de promover os serviços em saúde a um nível aceitável de qualidade
e ao menor custo possível, ou seja, equilíbrio no custo e na receita para a sustentabilidade do negócio.
Para isto, os instrumentos e as técnicas gerenciais são indispensáveis para ajudar a promover,
controlar e proporcionar serviços de qualidade a um custo mínimo, e, paralelamente, para tomada
de decisões de investimento de capitais e controle de operações de um sistema complexo.
Vimos que os custos dos serviços, por vezes, são apurados de maneira inadequada, o que
compromete a análise de dados e a tomada de decisão. É fundamental que os gestores hospitalares
apropriem-se do instrumental microeconômico de apuração de custos e de cálculo e da análise de
custo médio e outros indicadores relativos a categorias microeconômicas, além de usarem como
subsídio para as análises de natureza macroeconômica, isto é, para decidir acerca da melhor forma
de alocação dos recursos entre diferentes possibilidades.9
A grande diferença na gestão hospitalar perpassa por uma estrutura de gestão financeira,
orçamentária e de custos, embasada em técnicas capazes de responder, no âmbito da racionalidade
econômica, a questões de natureza absolutamente distinta, embora todas de caráter alocativo (e,
portanto, distributivo). Neste sentido, fundamenta-se a necessidade de o gestor hospitalar desenvolver
competências que o habilitem para a adequada condução destes temas, indiscutivelmente
desafiadores no âmbito da saúde.
Referências
BERMAN, H. J.; WEEKS, L. E. The Financial Management of Hospitals. Rio de Janeiro: Livraria Pioneira
Editora, 1979.
MATOS, A. J. Gestão de custos hospitalares: técnicas, análise e tomada de decisão. São Paulo:
Editora STS, 2002.
9
Piola e Vianna (1995).
176
PIOLA, S. F.; VIANNA, S. M. Economia da saúde: conceitos e contribuição para a gestão da saúde.
Brasília: Ipea, 1995.
Bibliografia complementar
ATKINSON, A. et al. Contabilidade gerencial. São Paulo: Editora Atlas, 1999.
BEULKE, R.; BERTÓ, D. J. Gestão de custos e resultados na saúde. Rio de Janeiro: Editora Saraiva,
2007.
FALK, J. A. Gestão de custos para hospitais: conceitos, metodologias e aplicações. São Paulo:
Atlas, 2001.
MATOS, J. G. Análise de custo – volume – superávit. Santa Catarina: Editora UFSC, 1999.
177
CAP. 10
GESTÃO DE
HOTELARIA
Ana Cristina Barbosa Pontes,
Hilmara Souto Mendes Moreira e
Miquéias Alves Santos
Objetivos
» Abordar os principais conceitos que permeiam a gestão de hotelaria;
» Demostrar a importância da liderança na gestão de hotelaria para a obtenção dos resultados
institucionais esperados;
» Apresentar a hotelaria como fator contributivo para a boa experiência do paciente.
Entre os serviços prestados pela hotelaria, citamos como exemplo a lavanderia, a rouparia,
a gestão do mobiliário e a manutenção corretiva dos apartamentos, em que se destacam o apoio à
gestão de leitos e o atendimento ao paciente interno, realizado pelo concierge hospitalar. O serviço
desempenhado por este profissional apresenta grande relevância aos processos de gestão e viabiliza
o acesso do paciente à infraestrutura do hospital.
1
BOEGER, M. Hotelaria hospitalar: gestão em hospitalidade e humanização. 2. ed. São Paulo: Editora Senac, 2012.
179
10. GESTÃO DE HOTELARIA
A interação entre as distintas áreas da hotelaria oportuniza um olhar crítico e ampliado sob a
ótica do paciente e da percepção dele a respeito do cuidado recebido. Pautar as condutas da gestão
de hotelaria em conceitos primordiais, entre eles os que permeiam a estrutura organizacional e a
liderança, é fundamental para a obtenção de bons resultados. As organizações necessitam investir
continuamente no desenvolvimento das pessoas, por meio da educação, do treinamento e das
novas oportunidades de crescimento profissional.2
A qualificação dos gestores e o olhar voltado à busca constante da liderança assertiva são
fundamentais para a sustentabilidade organizacional. Ultrapassar os seus escopos e mergulhar na
estrutura do hospital e no propósito da organização deve ser a meta de todo gestor de hotelaria,
suportada pela educação continuada, a fim de que compreenda a complexidade do sistema e possa
agir de forma eficaz, eficiente e sustentável.3
O gestor de hotelaria deve ter como principais características o olhar estratégico e a habilidade
de liderança, para que seja assertivo na tomada de decisão. Para tanto, planejar ações que levem à
interação dos serviços de hotelaria às áreas assistenciais não é um papel simples, e exigirá do gestor
hábitos capazes de criar uma intercessão entre habilidade, conhecimento e desejo (figura 1). A partir
da obtenção de resultados positivos, é mais provável que a equipe sinta-se impulsionada a buscar
e contribuir ainda mais para uma assistência voltada à qualidade e ao atendimento direcionado às
necessidades dos clientes internos e externos.5
2
BURMESTER, H. Manual de Gestão Hospitalar. São Paulo: Editora Senac, 2012.
3
VECINA NETO, G.; MALIK, A. M. Gestão em saúde. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.
4
PRESTES, A. et al. (Eds.). Manual do Gestor Hospitalar. Brasília: FBH, 2019. p. 49.
5
FILHO, J. M. et al. Planejamento e gestão estratégica em organizações de saúde. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2016.
180
Figura 1 – Hábitos eficazes
Conhecimento
(o que fazer)
HÁBITOS
Habilidade Desejo
(como fazer) (querer fazer)
Covey,7 em seu livro, aborda que, para ser eficaz, não devemos apenas falar o que pensamos,
mas ouvir o que os outros pensam, estar abertos para a escuta e querer ouvir. Reporta que um hábito
é estabelecido quando existe esforço em três dimensões: o que fazer, como fazer e querer fazer.
Isto posto, é possível compreendermos que, para a obtenção dos resultados esperados das áreas de
hotelaria, além dos conhecimentos técnicos necessários ao gestor, este deve possuir a habilidade
para colocar em prática aquilo que sabe, que é a competência de sistematizar as ações na prática
diária do serviço, e, ainda, ter a aspiração de torná-las reais, que perpassa pelo desejo de fazer “o que
sabe que tem de ser feito”.
Para Prestes et al.,8 “o líder é diferenciado por não se vitimizar nas dificuldades, pois foca
suas ações na busca de soluções para os problemas e estimula as pessoas do seu time a caminharem
juntas”. É importante que o líder saiba compartilhar conhecimento com os seus liderados. Estimular
a criação de um ambiente de partilha de informações técnicas, estratégicas e pessoais fortalecerá o
grupo, ajudará na tomada de decisão e na interação entre os pares.
Por fim, mas não menos importante, o líder precisa, no seu dia a dia, praticar o feedback.
Essa ferramenta traz consigo um enriquecimento para o autoconhecimento e a transparência junto
à equipe, fazendo com que todos possam desenvolver suas ações com o conhecimento claro do
que é necessário para atingir o resultado esperado. Toda a equipe precisa ser sinalizada quando
6
COVEY, S. R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes: lições poderosas para transformação pessoal. 76. ed. Rio de Janeiro: Franklin
Covey, 2019.
7
Ibidem.
8
Prestes et al. (2019, p. 52).
181
10. GESTÃO DE HOTELARIA
erra e reconhecida quando acerta, para que as pessoas possam desenvolver a habilidade de criar
alternativas junto ao seu líder, e, assim, solucionar os problemas. Para Burmester,9 “talvez uma das
mais importantes funções do líder na organização seja tornar-se o responsável por moldar uma
cultura organizacional que busque a excelência”.
Seguindo esses preceitos de liderança, o gestor de hotelaria tem papel essencial na criação
de uma estrutura organizacional capaz de apoiar as áreas assistenciais, proporcionando um cuidado
de excelência aos pacientes, além de garantir que a estadia em ambiente hospitalar traga uma boa
experiência ao paciente.
É comum que a avaliação do paciente seja focada na observação de questões não assistenciais.
Ele consegue perceber, por um lado, se a comida está gostosa, se o ambiente está limpo, se os lençóis
estão adequados e se suas demandas foram atendidas com rapidez; por outro lado, na maioria das
vezes, não é capaz de perceber se o remédio administrado é o do melhor laboratório, se o exame
solicitado é o mais adequado para a definição do seu tratamento – olhar para as questões técnicas
necessita de um conhecimento especializado.
Quando existe uma melhor interação entre a gestão de hotelaria e as áreas assistenciais, é
possível tornar a experiência do paciente mais positiva, alinhada aos princípios de segurança exigidos
em uma instituição hospitalar. Destacaremos as áreas de higienização e nutrição para descrever a
atuação e os aspectos mais relevantes, que contribuem para a experiência do paciente internado, e
o alinhamento destas áreas com os objetivos estratégicos de uma instituição hospitalar.
A higienização hospitalar
O ambiente hospitalar é, naturalmente, repleto de micro-organismos, e, por isso, oferece
pontos de contato e transmissão de infecções que podem ser conduzidas ao paciente por meio
de superfícies, objetos e vetores. Para Boeger,10 o objetivo da limpeza é a remoção da sujidade
visível; a remoção, a redução ou a destruição dos micro-organismos patogênicos e de controle de
disseminação de contaminação biológica.
9
Burmester (2012, p. 85).
10
Boeger (2012).
182
frequentemente observado pelos clientes, justamente pela capacidade rotineira de julgarem, com
um olhar, se um local está devidamente limpo.
É fundamental, também, entender o que gera satisfação e o que motiva a equipe operacional
para atingir as metas estabelecidas. Desenvolver objetivos compartilhados e criar projetos e ações
com o foco de motivar e engajar as pessoas são ações que significam lançar mão de uma excelente
ferramenta para a gestão da área.
» Desempenho nas atividades: a avaliação deve ser clara e objetiva (exemplo: metros
quadrados ou áreas higienizadas pelo profissional x qualidade x tempo);
» Motivação no ambiente de trabalho: disposição e acolhimento em executar as tarefas
propostas pelas lideranças, sem a necessidade de ser conduzido por outra pessoa;
» Comunicação com a equipe (líderes e colegas de trabalho): falas adequadas ao local de
trabalho que estimulam um ambiente favorável em equipe;
» Cumprimento de rotinas: precisam estar claras e amplamente conhecidas por todos os
membros do time;
» Uso de equipamentos de proteção individual (EPIs): para a segurança de todos;
» Assiduidade/pontualidade: presença e constância no trabalho;
183
10. GESTÃO DE HOTELARIA
A intenção é que toda a equipe busque cumprir cada critério de forma ainda mais engajada,
o que gera, naturalmente, um clima de envolvimento, busca pelo conhecimento e cumprimento
mais cuidadoso das práticas.
A alimentação tem envolvimento direto na cura. Para Castro e Correa,12 “esses serviços são de
grande importância na forma como o paciente se recupera durante seu tratamento e no conceito que
cria na mente dos que procuram o hospital”. Este pensamento justifica-se pela capacidade de avaliação
e pela relação que as pessoas mantêm com a alimentação, tida como fonte, inclusive, de prazer.
11
SEVERINE, A. N. Gestão do serviço de alimentação. In: MALIK, A. M.; VECINA NETO, G. (Orgs.). Gestão em Saúde. São Paulo: Guanabara
Koogan, 2012.
12
CASTRO, A.; CORREA, M. D. R. G. Gastronomia e nutrição no contexto da hotelaria hospitalar. In: BOEGER, M.; FARAH, O. G. D.; WAKSMAN,
R. D. (Orgs.). Hotelaria hospitalar. São Paulo: Manole, 2011. p. 87.
184
Figura 2 – Integração de gastronomia e nutrição
MENTAL
O paciente precisa ser tratado de forma individualizada; sua origem, seus hábitos, seus
costumes e seu credo precisam ser respeitados, para que as necessidades sejam atendidas, sempre
aliados aos aspectos relacionados a seu processo de restabelecimento e cura, além de humanizar o
cuidado.
A dieta hospitalar tem de ser planejada para fornecer ao paciente os nutrientes necessários
visando auxiliá-lo na recuperação e na manutenção da saúde. É importante que o cuidado
nutricional seja monitorado por médicos, enfermeiros e nutricionistas, principais agentes envolvidos
neste processo. A interação multidisciplinar contribui para a promoção da saúde e a prevenção de
patologias relacionadas à alimentação, que poderão surgir durante a internação hospitalar.
13
Ibidem, p. 93.
185
10. GESTÃO DE HOTELARIA
O paciente tende a se identificar com os profissionais da hotelaria a partir dos contatos diários,
sentindo-se confortável em compartilhar críticas, necessidades e sugestões durante o seu período
de internação, o que possibilita a identificação e a implementação de ações de melhorias imediatas,
capazes de repercutir na melhor percepção de qualidade, na segurança e na experiência do paciente.
14
Burmester (2012, p. 35).
186
Além disso, o envolvimento da alta direção no apoio e no processo de preparação da liderança
é fundamental; por isso, precisa estar comprometida com o desenvolvimento de todas as pessoas
que trabalham no hospital, estimulando o aprendizado e a criatividade, envolvendo-se e servindo de
exemplo e modelo a ser imitado, reforçando os valores e engajando todos.15
Observamos que a gestão da hotelaria tem papel estratégico, principalmente no que tange
à aplicação dos conceitos da gestão de pessoas e de processos, lastreados pelas ferramentas da
qualidade que envolvem as boas práticas dos processos de certificação.
Referências
BOEGER, M. Hotelaria hospitalar: gestão em hospitalidade e humanização. 2. ed. São Paulo: Editora
Senac, 2012.
COVEY, S. R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes: lições poderosas para transformação
pessoal. 76. ed. Rio de Janeiro: Franklin Covey, 2019.
SEVERINE, A. N. Gestão do serviço de alimentação. In: MALIK, A. M.; VECINA NETO, G. (Orgs.). Gestão
em Saúde. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.
VECINA NETO, G.; MALIK, A. M. Gestão em saúde. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.
Bibliografia complementar
CRUZ, P. G.; LOLATO, G. Gestão da qualidade e a acreditação hospitalar. In: PRESTES, A. et al. (Eds.).
Manual do Gestor Hospitalar. Brasília: FBH, 2019.
15
Ibidem.
187
CONSIDERAÇÕES
Andréa Prestes e J. Antônio Cirino
MELHORIA CONTÍNUA NA SAÚDE
É importante reiterarmos que, no Setor Saúde, não há espaço para a estagnação,
principalmente em tempos de mudanças substanciais no cenário mundial. Cada vez mais o gestor
hospitalar é chamado a trabalhar o tema change management de forma hábil e rápida. Considerando
o apresentado nos capítulos deste volume do Manual do Gestor Hospitalar, podemos vislumbrar que
sempre existe espaço para a promoção de mudanças positivas e muitas oportunidades de fazermos
ainda melhor.
A máxima da “melhoria contínua”, apregoada por tantos autores, destaca-se, no Setor Saúde,
na trilogia de Juran, referindo que a qualidade é alcançada por meio do planejamento, do controle e
da melhoria, com a implantação de mudanças positivas que sejam, de fato, sustentáveis.1
Nesse sentido, organizamos esta nova obra para que ela trouxesse aos leitores temas que
lhe são caros no dia a dia da gestão hospitalar e, ao mesmo tempo, assuntos que estão in voga no
cenário mundial, como subsídio à busca da excelência nas gestões de processos, pessoas e projetos
das instituições de saúde.
Outrossim, para empreendermos essa gestão de forma apropriada, precisamos embasar cada
ação em uma política de compliance, tema abordado no terceiro capítulo, intitulado “Compliance na
Saúde”. Neste, trouxemos informações jurídicas para a formalização de um programa de integridade
e o quanto é crucial conceder este conhecimento aos profissionais de saúde, bem como as regras
jurídicas que se interpõem ao tema. E, de forma prática, como fundar este programa que visa,
também, pautar as normas internas de convivência entre as diversas pessoas atuantes nas unidades.
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SCOVILLE, R. et al. Sustaining improvement. Cambridge: Institute for Healthcare Improvement, 2016. (IHI White Paper).
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CONSIDERAÇÕES
Com vistas a isso, o quinto capítulo versa sobre a “Segurança do Paciente”, trazendo os
principais conceitos deste tema, conectando a gestão por processos e resultados e a própria gestão
de riscos. Com a expertise apresentada no texto, é possível conhecer as estratégias para viabilizar
a implantação de um Núcleo de Segurança do Paciente (NSP), bem como focar estas informações
como fontes efetivas de melhoria na organização de saúde.
Já no capítulo de “Inovação Tecnológica em Saúde", a ideia foi expor esse cenário disruptivo
para a melhoria dos processos, conhecendo os motivos para se adotar novos procedimentos, os
temas envolvidos e as principais inovações que estão ocorrendo no âmbito da saúde. Para que tal
mudança seja viabilizada, apresentamos os investimentos necessários para tornar a inovação uma
realidade nos diferentes perfis de unidades de saúde.
O sétimo capítulo, intitulado “Lean em Saúde”, faz uma conexão das discussões voltadas à
melhoria. Por meio dele conhecemos a origem desta filosofia e sua aplicação na saúde, bem como a
necessidade de líderes que desenvolvam e estimulem o pensamento enxuto. Neste contexto, com
a apresentação das ferramentas mais usuais, foi possível compreender que a cultura Lean é fator
essencial para a sustentabilidade dos resultados.
No nono capítulo, “Gestão de Custos”, fortalecemos este tema como fulcral à gestão em
saúde, considerando a frequente necessidade de recursos para novos investimentos. Assim, foram
ofertadas reflexões para instrumentalizar os gestores hospitalares nesta área, visando à melhoria do
desempenho econômico e financeiro das unidades em que atuam.
Por fim, com o último capítulo, “Gestão de Hotelaria”, aprendemos o quanto a liderança é
ímpar para o atendimento de excelência dos pacientes nos quesitos conforto, higiene e alimentação,
ao firmarmos ações de sucesso que podem contribuir com a implantação de uma gestão que apoie,
efetivamente, as práticas assistenciais, oportunizando o melhor giro de leitos e a satisfação dos
pacientes.
Diante disso, podemos afirmar que este segundo volume do Manual do Gestor Hospitalar
cumpre seu papel, ao trazer temas atuais e relevantes aos hospitais que compõem a FBH e aos
demais que porventura tiveram a oportunidade de interagir com a obra. Que a melhoria contínua
seja o lema de todos os que atuam na gestão em saúde!
Referência
SCOVILLE, R. et al. Sustaining improvement. Cambridge: Institute for Healthcare Improvement,
2016. (IHI White Paper).
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FBH E AS
FEDERADAS
A FBH E AS FEDERADAS
FBH
UM HISTÓRICO DE LUTAS POR MELHORIA
NO SETOR SAÚDE DO PAÍS
A Federação Brasileira de Hospitais (FBH) é uma entidade associativa, sem fins lucrativos, que,
há mais de 50 anos, representa o setor hospitalar brasileiro.
Membro titular na Câmara de Saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), presen-
ça constante junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ao Ministério da Saúde (MS),
a FBH participa das principais decisões do setor, lutando por melhores condições de trabalho para as
empresas que representa e pela qualidade dos serviços prestados pela rede privada de saúde.
Atualmente, um dos principais focos da Federação é a luta pela mitigação da crise financeira que
atinge uma significativa parcela dos hospitais particulares conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS),
aí incluídas as instituições de caráter beneficente e as clínicas especializadas, como as de nefrologia.
A tabela dos procedimentos do SUS ficou sem qualquer reajuste de 1994 a 1999, o que resultou
em uma defasagem acentuada e jamais corrigida.
A proposta da FBH é fortalecer a posição institucional da entidade frente às negociações da
rede particular de saúde com o poder público e as operadoras de planos de saúde, com o propósito
de promover um plano para recuperação por meio da atualização dos valores pagos às unidades
conveniadas ao SUS e ao sistema suplementar.
Outra grande bandeira de luta da Federação é a redução da carga tributária no Setor Saúde,
considerada pelos estudos tributários uma das mais altas da economia brasileira, havendo inclusive
bitributação incidindo sobre alguns impostos.
A carga tributária imposta ao setor é pauta de constante debate da FBH junto ao poder público e ao
Congresso Nacional. A FBH propõe a desoneração de alguns impostos que incidem sobre a receita para
reduzir os encargos, melhorando, assim, a negociação do reajuste das tabelas do SUS e dos planos de saúde.
HISTÓRICO
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193
FBH E AS FEDERADAS
Crescimento e modernização
Nessa trajetória de lutas, a FBH transformou as adversidades em conquistas e, hoje, segue
norteada pela meta permanente de qualificar a assistência pública sempre pautada pela ética, pela
justiça e pela ideia de que saúde é realmente um direito de todos.
194
FEDERADAS
medicina com vistas ao desenvolvimento do país e efetivo fator de bem-estar social de nossa comuni-
A Associação continua vigilante e atenta à política de saúde no país, alinhada às ações pro-
movidas pela FBH no sentido de promover a atualização constante de seus associados, atenta aos
Presidente:
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E-mail: [email protected]
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FBH E AS FEDERADAS
-
manente na orientação aos associados com vistas à qualidade do segmento de saúde do estado da
Bahia; apresentar-se enquanto substituta processual na defesa dos interesses dos seus associados na
via judicial ou administrativa; representar os associados perante as autoridades, entidades de classe,
O intuito da Associação é fazer com que, cada vez mais, hospitais, clínicas e outros estabelecimentos
da área estejam sempre próximos, estimulando a troca de informações, tornando a AHSEB uma referência
Por meio de parcerias com importantes e conceituadas entidades – Universidade Salvador (Unifa-
cs), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Norte do Paraná (Unopar) e Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) –, a AHSEB alcança a excelência na educação conti-
nuada.
Presidente:
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14º andar – Caminho das Á
Telefone/fax:
Site: www.ahseb.com.br
E-mail: [email protected]
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Associação de Hospitais do Estado do Ceará
também dos que prestam serviço ao SUS, bem como à saúde suplementar (operadoras, seguradoras,
cooperativas e caixas de autogestão).
Atualmente, a Associação funciona em sede própria adquirida em agosto de 2007, com o De-
partamento de Convênios abrange
Presidente:
Endereço: Av. Pereira Filgueiras, 2020, Sala 407 – Aldeota,
Telefone/fax:
E-mail:
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FBH E AS FEDERADAS
Santo (SINDHES), são os únicos representantes legais da categoria econômica na área da saúde, que
congregam mais de 3 mil empresas no estado. A Associação é responsável pela defesa dos direitos
e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões jurídicas, técnicas e admi-
Desde o início, houve a participação e o apoio das empresas de todo o estado, que enxergaram
na Associação um espaço democrático e importante para as negociações e discussões do setor. A
-
Presidente:
Endereço:
Telefone/fax:
E-mail: [email protected]
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Associação dos Hospitais do Estado de Goiás
Presidente:
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Site: www.aheg.com.br
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FBH E AS FEDERADAS
Em função do crescimento de Belo Horizonte e devido à chegada cada vez maior de enfer-
mos oriundos do interior do estado, a oferta de leitos hospitalares na capital não mais suportava a
demanda. Tais fatos, somados à estatização dos serviços assistenciais, motivaram o surgimento de
Para representá-las havia o Sindicato dos Hospitais. Entretanto, devido à rigidez da legislação
Médica de Minas Gerais, mas logo se tornou autônoma, tendo em vista a necessidade de ampla
autonomia e independência de ação.
Presidente:
Endereço:
Telefone/fax:
Site: www.centraldoshospitais.com.br
E-mail:
200
Associação de Hospitais e Casas de Saúde do Estado do Pará
A Associação de Hospitais e Casas de Saúde do Estado do Pará (AHCSEP) foi fundada no dia 27
de janeiro de 1977 com o objetivo de realizar um trabalho efetivo em prol da classe de hospitais e
A primeira diretoria teve Fernando Guimarães como presidente, Carlos Costa de Oliveira como vi-
ce-presidente, Joaquim Alcides Queiroz como 1º secretário, Sérgio Vasconcelos Paiva como 2º secretá-
Presidente:
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FBH E AS FEDERADAS
Fundada em 26 de julho de 1968, tem como visão atuar com excelência na atenção à saúde, pro-
movendo a busca pela melhoria dos serviços oferecidos pelas instituições associadas com o objetivo
Por meio do trabalho realizado pela APH, os associados são representados junto aos órgãos
públicos e convênios para toda e qualquer tratativa de natureza institucional. O estado possui 153
hospitais e 3.143 leitos hospitalares, e a Associação trabalha para agregar e fortalecer o setor cada
vez mais.
Presidente:
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202
Associação de Hospitais do Estado do Paraná
No início dos anos 1990, a Associação engajou-se em grandes movimentos nacionais e estaduais.
Participou da criação da Frente Parlamentar de Saúde, da valorização dos serviços na saúde pública e
supletiva e da redução de impostos, incluindo aí o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) nos
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FBH E AS FEDERADAS
de cursos, seminários e congressos para desenvolver e aprimorar a gestão dos hospitais. Luta pela
melhoria nas condições das prestações dos serviços hospitalar, médico e ambulatorial. O estado hoje
possui 20.181 leitos hospitalares e 250 hospitais.
Foi idealizada pelo médico psiquiatra Luiz Inácio de Andrade Lima e fundada em Recife com a
parceria do professor Waldemir Miranda e dos médicos Avelar de Castro Loureiro, Sávio Vieira, João
Os caminhos percorridos pela Associação sempre foram de muitas lutas em defesa dos hospitais,
principalmente dos localizados nas cidades interioranas que viviam, constantemente, enfrentando
exigências das mais diversas, feitas pela Secretaria Estadual de Saúde e pelas Secretarias Municipais
de Saú
Representante do estado de Pernambuco, que possui um dos maiores polos de saúde do país,
regional. Uma região que possui mais de 400 hospitais e 8 mil leitos e que gera mais de 107 mil
empregos, Pernambuco é um dos locais mais procurados para tratamentos de saúde, por questões
de tecnologia, infraestrutura adequada e instrumental avançado em saúde.
Presidente:
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Associação de Hospitais do Estado do Rio de Janeiro
A Associação de Hospitais do Estado do Rio de Janeiro (AHERJ) é uma sociedade civil de caráter privado,
unidades assistenciais de saúde, sejam hospitais, sejam casas de saúde, clínicas, sanatórios e demais
unidades ambulatoriais e serviços complementares de diagnóstico e tratamento, particulares ou públi-
Em 1969 foi criada a Nosocômios Assistenciais de Duque de Caxias (NADUC), formada por um grupo
de hospitais daquele município. Em 1971 ocorreu a transformação da NADUC na AHERJ. Em 1972, no
no resgate do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde de Niterói e São Gonçalo, promo-
seu estatuto em 2015, constituindo uma nova diretoria, passando a contar com um vice-presidente
executivo e o Departamento de Oftalmologia.
Presidente:
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Site: www.aherj.com.br E-mail:
Departamento de Psiquiatria – FBH: Tel.: (21) 2223-1029
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FBH E AS FEDERADAS
A Associação de Hospitais do Estado do Rio Grande do Norte (AHORN) foi fundada em 1973,
com intuito de representar o setor hospitalar do estado, que possui 2.336 leitos e 107 hospitais. Os
da Comissão Elaboradora do Estatuto Social e teve voto de louvor proposto em Assembleia Geral;
Severino Lopes da Silva, segundo presidente da AHORN, reeleito por cinco mandatos consecutivos,
de 1983 a 1993; Ricardo Bittencourt, terceiro presidente da AHORN, reeleito por cinco mandatos con-
secutivos, de 1993 a 2003; Carlos Alexandre A. Garcia, quarto presidente da AHORN, eleito em 2003
2005 e que exerceu o mandato até 2008. A Associação viveu um momento de desativação, retornan-
do suas atividades em 2013, com Élson Sousa Miranda exercendo o cargo de presidente, há 13 anos.
Presidente:
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Telefone/fax:
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Associação dos Hospitais e Estabelecimentos
de Saúde do Rio Grande do Sul
A noite de 23 de janeiro de 1969 foi um marco para a saúde gaúcha. Em um encontro no Hos-
pital Moinhos de Vento, representantes de 14 instituições de Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul
e Bento Gonçalves fundaram duas entidades que, desde então, são indispensáveis na defesa dos
Em quase cinco décadas foram inúmeros avanços e conquistas, galgados com muito empenho
Presidente:
Endereço:
Telefone:
E-mail:
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FBH E AS FEDERADAS
Em janeiro de 1975 foi adquirida a sede da entidade, sendo ampliada em 1983, com a aquisição
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Regional Grande Florianópolis, Regional Norte e Nordeste, Regional Sul, Regional Serrana, Regional
nas diversas áreas de interesse da classe hospitalar; divulgar e fazer obedecer o Código de Ética do
Em agosto de 1995, a entidade teve um importante reforço na realização das atividades ine-
rentes a saúde. A criação da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do
em maio de 1996, com a união das duas entidades em um mesmo ambiente de trabalho, no escritó-
A AHESC representa atualmente 105 hospitais associados, em um total de mais de 8.365 leitos
Presidente
Endereço
Telefone/fax:
Site: saudecatarinense.com.br/#/entidades/ahesc/institucional
E-mail:
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Associação de Hospitais do Estado de São Paulo
Em 7 de junho de 1965, foi criada a Associação dos Hospitais com objetivo de prestar serviços
à Previdência Social, presidida, à época, por Lívio Amato. Dois anos depois da fundação, em 7 de
agosto de 1967, a entidade passou a chamar-se Associação dos Hospitais do Estado de São Paulo e
Trabalha para estabelecer políticas na área de gestão hospitalar, estimulando a adoção de boas práti-
cas, visando à qualidade assistencial, à segurança dos pacientes e preservando a sustentabilidade do
seus associados perante instituições públicas e privadas. Promove estudos, pesquisas e eventos para
aprimoramento do corpo técnico e administrativo dos associados, como também o intercâmbio
entre associados e instituições na área de assistência à saúde. Defende os interesses jurídicos e eco-
nômicos comuns dos associados.
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