O Programa de Aquisição de Alimentos (Paa) e Seu Impacto No Processo de Desenvolvimento Socioprodutivo de Familias Assentadas: Estudo de Caso No Assentamento 17 de Abril - Restinga/sp
O Programa de Aquisição de Alimentos (Paa) e Seu Impacto No Processo de Desenvolvimento Socioprodutivo de Familias Assentadas: Estudo de Caso No Assentamento 17 de Abril - Restinga/sp
O Programa de Aquisição de Alimentos (Paa) e Seu Impacto No Processo de Desenvolvimento Socioprodutivo de Familias Assentadas: Estudo de Caso No Assentamento 17 de Abril - Restinga/sp
Presidente Prudente
2011
O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) E SEU
IMPACTO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO SOCIO-
PRODUTIVO DE FAMILIAS ASSENTADAS: ESTUDO DE CASO
NO ASSENTAMENTO 17 DE ABRIL - RESTINGA/SP
Presidente Prudente
2011
NEUSA PAVIATO BOTELHO LIMA
O meu maior e sinceros agradecimentos a todos vocês que me ajudaram com meus estudos e na
construção do meu trabalho, e para movimento dos trabalhadores rurais sem terra MST, que me
proporcionou, e confiou a min. a tarefa de estudar, Estarei sempre lembrando de todos vocês com
muito carinho
em especial minha família.
Esse trabalho apresenta uma análise de políticas públicas e sua efetiva contribuição no processo
de (re)criação e consolidação territorial dos camponeses. O objetivo geral deste trabalho
concentra-se na avaliação dos impactos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado
pelo governo federal a partir de 2003 como estratégia de comercialização dos produtos agrícolas
dos assentamentos rurais, inserindo-os em políticas de segurança alimentar e combate a fome.
Neste sentido procurou-se observar os resultados econômicos, a mudança da matriz produtiva, a
ampliação dos conhecimentos técnicos e a reconstituição laboral como formas de garantir a
permanência e a transformação do assentamento em um território da reforma agrária, a partir da
implementação do PAA nestas unidades de produção familiar. Da mesma forma, estabelecer
pontos de reflexão crítica sobre os limites e possibilidades desta política pública como estratégia
de reprodução social e territorial campesina. A análise empírica está centrada em um estudo de
caso no município de Restinga no estado de São Paulo, mais precisamente no "assentamento" 17
de Abril, como ponto de partida para pensar a reforma agrária e o conjunto de políticas
necessárias à sua consecução, como elementos centrais de inclusão, bem como apontar
mecanismos de reformulação destas políticas. Compreende-se que o olhar e a intencionalidade
dos sujeitos que delas se apropriam como movimentos intrínsecos de apropriação territorial.
Este trabajo presenta un análisis de las políticas públicas y su contribución efectiva en la (re)
creación y consolidación de los campesinos.El objetivo general de este trabajo se centra en
evaluar los impactos del Programa de Adquisición de Alimentos (PAA), creado por El gobierno
federal desde el año 2003 como estrategia de comercialización de productos agrícolas de los
sentamientos rurales, colocándolos en las políticas de seguridad alimentaria y contra el hambre.
En este sentido, tratamos de observar los resultados económicos, el cambio de la matriz
productiva, la expansión del conocimiento técnico y la restauración laboral como una manera de
asegurar la continuidad y transformación de los asentamientos en un área de la reforma agraria, a
partir de la aplicación del PAA en estas unidades producción. Asimismo, establecer puntos de
reflexión crítica sobre los límites y posibilidades de las políticas públicas como una estrategia
reproducción social y territorial de los campesinos. El análisis empírico se centra en un estudio de
caso en La ciudad de Restinga en el estado de Sao Paulo, más precisamente en el asentamiento el
17 de abril, como punto de partida para pensar acerca de la reforma agraria y un conjunto de
políticas necesarias para lograrlo, como elementos inclusión central y para identificar los
mecanismos reelaboración de estas políticas. Se entiende que la mirada y la intencionalidad del
sujeto que se apropia de ellas, como movimientos intrínsecos de apropiación territorial.
Palabras clave: política pública, (re) creación de los campesinos, el Programa de Adquisición de
Alimentos (PAA), la reforma agrária.
Lista de Siglas
APRODF Associação Produtores Rurais Dorcelina Foladora
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
ITESP Instituto de Terras do Estado de São Paulo
SP São Paulo
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PAA Programa de Aquisição de Alimento Ministério do Desenvolvimento Social
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
MDA Ministério de Desenvolvimento Agrário
IPEA Instituto de Pesquisa e Economia Agrícola
MST Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra
LOAS Lei Orgânica de Assistência Social
MDS Ministério de Desenvolvimento Social
Lista de Tabelas
Tabela 1 Valores Totais do PAA e Correções Inflacionárias 29
Tabela 2 Números do Desempenho dos Mecanismos de Aquisição do PAA 31
Lista de Figuras
Figura 1 Figura 1 – Área do assentamento 17 de Abril 48
Lista de Fotos
Foto 1 - Arquivo do assentamento 17 de Abril 49
Foto 2 - Arquivo do assentamento 17 de Abril 49
Foto 3 - Casa construída com recursos do “Projeto Social” no assentamento 50
Foto 4 - Grupo de Mulheres Margarida Alves
55
INDÍCE DE QUADROS
Mecanismos e Valores Liberados pelo PAA (R$), Brasil, 2003 32
Quadro 1
Quadro 2 Total de Famílias e total de recursos (R$) PAA, Brasil, 2003 32
Valores (R$) Compra Antecipada e Compra Direta e Número de Famílias
Quadro 3 33
estado de São Paulo, 2003.
Quadro 4 Total de Famílias e total de recursos (R$) PAA, Brasil 34
Quadro 5 Mecanismos e Valores Liberados pelo PAA (R$), estado de São Paulo, 2010 34
Quadro 6 Número de cooperativas e assentamentos Federais no estado de São Paulo 37
Quadro 7 Cooperativas nos Assentamentos do Estado de São Paulo 41
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................10
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................61
ANEXOS.................................................................................................................................................. 65
INTRODUÇÃO
11
Como instrumento particular de apoio ao desenvolvimento da reforma agrária e
complementar ao Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), assim como um dos
estruturadores do Programa Fome Zero, destaca-se o Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA), que surge em 2003, implementado pelo Governo federal por meio da Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB).
Assim, o objeto central deste trabalho é analisar os principais impactos do PAA sobre a
renda e a produção em assentamentos rurais. Da mesma forma analisam-se junto ao desempenho
do programa elementos acerca do cotidiano do assentado sua formação produtiva e a inserção em
diferenciadas lógicas tecnológicas, de produção e comercialização, que permitem analisar
impactos qualitativos na trajetória de vida, bem como pontuar os reflexos desse instrumento de
política de segurança alimentar junto aos setores beneficiários, vinculados às redes de assistência
social, para recebimento de alimentos.
Este trabalho se estrutura com uma abordagem pontual sobre os objetivos e os caminhos
metodológicos da pesquisa (Capítulo 1), seguido de reflexões teóricas que envolvem os principais
conceitos desta investigação, (reforma agrária, políticas públicas e particularmente o Programa de
Aquisição de Alimentos). Finalmente o terceiro capítulo, no qual faremos o esforço da
aproximação com a realidade pelo caso do assentamento 17 de Abril (Restinga – SP). A questão
que norteou nossas investigações foi: quais impactos na renda na matriz produtiva são produzidos
pela implementação do PAA? Essa questão é central considerando a política pública como
efetivo instrumento de consolidação territorial camponesa.
12
CAPITULO 1 – Objetivos e Procedimentos
Objetivos Específicos:
13
1.2 - Procedimentos Metodológicos
1
Caderno de Formação 9 do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra.
14
APRODF - que reúne vinte e quatro famílias no interior desse projeto. Proporcionalmente,
isso representa 40% da Agrovila II do MST do assentamento 17 de Abril.
Foram elaboradas entrevistas semi-estruturadas para alguns dos assentados ligados ao
PAA, com a finalidade de identificar os impactos sociais e econômicos do projeto. Optou-se
por uma amostra de famílias para a aplicação das entrevistas, ligadas ao PAA e que são
ligadas a APRODF. Segundo Marconi e Lakatos (2007) a amostra se refere a uma parcela
convenientemente selecionada do universo (população), de modo que ela seja uma parte
representativa do todo, podendo inferir os resultados da amostra à população total, neste caso
destaca-se que os princípios de representatividade e mesmo de aleatoriedade estiveram
presentes no conjunto amostral. Da mesma forma um elemento central trata-se da capacidade
de estabelecer os recortes empíricos necessários a obter uma precisão do universo amostral e
que são elementos que respondem conceitualmente ao processo de investigação científica.
Quanto aos meios de investigação esta pesquisa pode ser caracterizada como uma
pesquisa de campo, que é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e
conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta. Segundo Gil
(2007), esse processo de pesquisa consiste na observação dos fatos e fenômenos tal como
ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que
se presumem relevantes, para analisá-los.
Posteriormente determina - se as técnicas de registro desses dados, como a entrevista
utilizada nessa pesquisa. E, por último, é realizada a análise dos dados coletados. Já quanto
aos fins, esta pesquisa é caracterizada como uma pesquisa aplicada, fundamentalmente
motivada pela necessidade de resolver problemas concretos, com finalidade prática, não sendo
somente motivada pela curiosidade intelectual do pesquisador. Ou seja, seu objetivo é gerar
conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos (GIL,
2007).
Vergara (2004) aponta para importância de se embasar quantitativamente e
qualitativamente a pesquisa científica através de tabelas, quadros e gráficos, isso auxilia na
legitimação das idéias a serem a apresentadas. Com relação à forma de abordagem do
problema, caracteriza-se uma pesquisa qualitativa, considerando que há uma relação dinâmica
entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos
fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa, e
não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas (GIL, 2007).
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Para finalizar, é importante destacar as duas principais variáveis de pesquisa do
presente trabalho:
• Política Pública: linha de ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e
garantidos em lei.
• Reforma Agrária: é a revisão, por diversos processos de execução, das relações
jurídicas e econômicas dos que detêm e trabalham a propriedade rural, com o objetivo
de modificar determinada situação atual do domínio e posse da terra e a distribuição
da renda agrícola, e considerando o mundo real trazer uma proposta de credito
específica para as áreas de assentamentos.
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Aproveitando que estariam todos os produtores começamos a realizar as entrevistas
com aplicação dos questionários para cada produtor. O conhecimento de vida que cada
assentado traz consigo é muito grande, o que implica em reconhecer que estes sujeitos sociais
tem suas representações sobre a vida, a trajetória de luta e reflexões. Apresentam nestes
diálogos suas compreensões sobre os projetos socio-políticos elaborados ao longo deste
processo. A relevância em fazer referência a estas questões se estabelece considerando o
conjunto e a quantidade de reflexões que são expostas nas “prosas” e evidenciam o quanto
esse assentado toma para si a condição concreta de sujeito histórico. Por sua vez, cabe
destacar que este processo exige de nós objetividade e foco no tema investigado, frente a
riqueza de leituras e problemáticas que se revelam no ambiente da reforma agrária e em sua
consolidação sócio-territorial, denotando a amplitude de abordagens teóricas que invadem a
antropologia, a histórica, a literatura, entre outras leituras possíveis, disciplinares ao não.
Em alguns casos, tivemos entrevistas com produtores que marcamos para fazer-las em
suas casas, como foi o caso do Sr. Pedro Sebastião da Rocha (citado no capítulo 3). E foi o
que mais chamou a atenção, especialmente pela sua trajetória de vida e de luta. O Sr. Pedro
Sebastião da Rocha, também chamado de Pedro Xapuri veio do Acre e teve sua luta com os
seringueiros. Essa luta se deu no intuito da preservação da Floresta Amazônica e também foi
amigo pessoal do Chico Mendes. Na sua fala ele coloca que Chico Mendes morreu em seus
braços, e foi Presidente da cooperativa que eles montaram com os seringueiros, e que existe
até hoje no Acre. Esta foi a entrevista que mais demorou, ficamos por toda a tarde em (prosa)
conversa. Essa entrevista proporcionou o maior subsidio para completar minhas entrevistas e
entender a possibilidade da (re) criação camponesa através do PAA.
A metodologia que foi utilizada para fazer as pesquisas foram as conversas e os
questionários, tudo baseado no que queríamos para o trabalho de campo. O trabalho se deu
então de forma direta no assentamento, por mais de uma semana. . Com toda a construção do
assentamento e com diferentes culturas de cada um, as relações sociais que foram sendo
estabelecidas no assentamento 17 de Abril pode ser motivo da continuidade da pesquisa, pela
riqueza dessas relações. A autonomia do que se produz faz-nos refletir o papel dos
assentamentos de Reforma Agrária, principalmente na Agrovila II aonde as famílias vem
construindo uma reflexão sobre a política pública e as formas de conduzi-la. Na forma do que
se produz, do que se vende, e o que fica para subsistência da família. Isso então evita, por
enquanto, uma não cooptação e integração às grandes indústrias (OLIVEIRA, 1999). Tendo
em vista que a maior parte da produção é marcada pela produção de legumes, verduras, e não
17
pela produção em grande escala, como simplesmente produção de mercadoria, de matérias
primas, que servem a lógica de acumulação e exploração do trabalho.
18
CAPITULO 2 – Reflexão Teórica
19
No entanto, o Brasil, assim como tantos outros países periféricos optaram por um
modelo capitalista de concentração de riquezas e da gleba, em prol de um crescimento
econômico que não se revela sustentável do ponto de vista social e muito menos do ponto de
vista ambiental. . Um modelo que se distancia da equidade na renda, que em função de um
padrão técnico produtivo gradativamente elimina emprego e formas de ocupação social no
campo e comprometem o desenvolvimento nacional. Esse pensamento foi inicialmente
materializado no suposto “Milagre Econômico” de 1973, arquitetado pelo Ministro Delfim
Neto e que resultou em mais uma etapa histórica de aprofundamento das desigualdades
socioeconômicas brasileiras, ao enriquecer uma elite agroexportadora aumentando os
oligopólios agrários e expropriando os camponeses.
Segundo Prado Júnior (1945), o processo histórico da colonização brasileira e sua
decorrência, mostram a herança concentradora que se ostenta no país. O Brasil foi colonizado
pelos portugueses em 1500, dividindo as porções de terra em sesmarias, dadas a colonos
portugueses. Posteriormente, com o avanço da colonização, as terras foram divididas por
capitânias hereditárias, grandes latifúndios submetidos política e economicamente a coroa
portuguesa, porém preservava-se a autonomia de gerir as terras da capitânia, ao seu
mandatário. Mesmo assim, a disputa por terras continuava entre grileiros, posseiros, índios e
estrangeiros que chegavam de vários lugares do mundo e invadiam as propriedades, pois,
devido ao tamanho exorbitante das mesmas, não se encontrava fiscalização capaz de impedir
as transgressões. Posteriormente, essas invasões forçaram a criação, em 1850, da “Lei de
Terras”, pelo Império Brasileiro, a primeira lei de terras a instituir em solo brasileiro, a posse
da gleba através da compra. Isso efetivou o aumento de latifúndios, da monocultura e da
desigualdade social.
Como se nota a distribuição de riquezas tanto naturais quanto monetárias encontra
uma barreira histórica no Brasil, assim como em muitas outras regiões do globo. Mas com o
esvaziamento do “Milagre Econômico” e a abertura política na década de 1980, junto à crise
econômica, forçou-se um novo debate sobre a Reforma Agrária e sua viabilidade,
principalmente com a formação de movimentos sociais como o MST – Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, à volta de sindicatos estruturados e a reestruturação da
sociedade civil, culminando na Constituição de 1988 (FERNANDES, 1999) Outro ponto que
colaborou para avançar nas questões agrárias foi à criação de um Estatuto da Terra no governo
militar, junto com órgãos como o INCRA e, somado a isso, os problemas ambientais trazidos
pela agricultura tradicional e a insegurança alimentar da nação, devido às práticas
monocultoras visando à exportação (INCRA, 2007). Atualmente devido ao avanço das
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agroindústrias e a alta competitividade da agropecuária brasileira, busca-se nas exportações
melhores preços e oportunidades. Aliado à proposta ambiental de produzir energias
renováveis, destinam-se grandes somas da produção de grãos, chamados de “grãos agro-
energéticos” para a geração de biodiesel, inserindo-se na pauta de exportação para países
como os EUA. Essa prática, embora possa, em um primeiro momento, favorecer a balança
comercial, em um segundo momento, redireciona a economia para uma perspectiva de
reprimarização e, ao mesmo tempo, precariza os abastecimentos internos, encarecendo a cesta
de bens nacionais.
Destaca-se que este processo não é acompanhado por um aumento da renda social
lançando maior contingente de pessoas ao risco alimentar. E em um país onde, por exemplo,
no triênio 2001-03 constatou-se a existência de 14,4 milhões de pessoas subnutridas,
correspondendo a 8% da população (FAO, 2006); aumenta a responsabilidade, da agricultura
familiar de gerar alimentos de qualidade e baratos, como estratégia a este quadro alarmante de
subnutrição (LEITE, 1994).
Trazendo à tona e reforçando a discussão, sobre a viabilidade econômica, social e
política dentro de uma Reforma Agrária é preciso, segundo Guanziroli (1994), proporcionar
aos trabalhadores rurais um alcance do custo de oportunidade em manterem-se nos
assentamentos, visto a oferta de emprego e renda fora dos mesmos. E de que as reformas
devem ser parciais, pois segundo este autor, a Constituição de 1988 não permite uma Reforma
Agrária nacional, visto que esta abrange apenas terras improdutivas; e mesmo que fosse
possível uma reforma total, acarretaria em uma diminuição profunda da produtividade e renda
em escala nacional. Sendo, portanto, viável em torno do país, principalmente como estratégia
à falta de alimentos e ao encarecimento da cesta de bens para populações na linha de risco de
subnutrição.
Pensando pragmaticamente, os assentamentos e a Agricultura Familiar em geral são de
suma importância devido à soberania alimentar nacional, pois cada vez mais se plantam
gêneros que se destinam, em mais da metade aos mercados externos. Portanto pensar em uma
Reforma Agrária ampla não é mais questão política ou partidária, mais estratégica e viável
economicamente, visando terras de especulação imobiliária, devolutas, improdutivas ou áreas
em que as máquinas não consigam atuar, devido ao terreno tendo que se utilizar de cortadores
de cana, atividade que se mostra cada vez mais precária e contra os direitos humanos
(GUANZIROLI, 1994). Em suma, a produção oriunda do pequeno produtor e dos
assentamentos destina-se a suprir os centros urbanos, dado que os grandes latifúndios
monocultores destinam sua produção para o mercado externo.
21
Cabe destacar ainda que a Reforma Agrária deva estar atrelada a um conjunto de Políticas
Públicas que promovam nos assentamentos as materialidades econômicas, sociais, culturais e
política dos meios, garantindo a sua sustentabilidade (SILVA; SHIMBO, 2006).
Todos estes elementos denotam a importância da reforma agrária e a contribuição sócio-
política que o movimento social de luta pela terra estabelece no Brasil ao colocar apara a
sociedade uma agenda de discussão que ultrapassa e rompe com a dimensão da propriedade
privada e instaura elementos reflexivos sobre sustentabilidade, distribuição de renda e
equidade social.
Com o contrato acordado entre sociedade civil e Estado, este último tem por função
conduzir e regular os acontecimentos políticos, econômicos e sociais proporcionando o bem
comum, ou pelo menos o almejando em suas ações, conforme preconiza a Constituição
Federal. Dessa maneira, por meio de políticas públicas tenta-se estabelecer um elo entre o
Estado e a sociedade civil. (CUNHA e CUNHA, 2002).
A gestão social de uma política pode ser entendida como uma “ação gerencial que se
desenvolve por meio da interação negociada entre setor público e sociedade civil” (CUNHA e
CUNHA, 2002, p. 10).
Segundo Cunha e Cunha (2003), pode-se entender política pública como uma:
Por sua vez cabe considerar que para além de uma questão gerencial a Política Pública
envolve como o próprio no enseja uma reflexão política e um processo de clareza social sobre
sua elaboração, implementação e resultados.
SOUZA e CABERO DIEGUES (2011), ao analisarem as políticas comunitárias em
Europa, destacam que embora elas tenham características de desenvolvimento sócio-territorial
tais políticas apresentam problemas e incertezas no que se referem aos seus objetivos e
impactos e eles se estabelecem exatamente pela ausência de um componente sócio-político
fundamental, são elaboradas a partir de uma perspectiva técnica gerencial e não consolidam
mecanismos concretos de apropriação social das mesmas.
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A ausência desta apropriação se estabelece por uma desarticulação organizativa da
sociedade o que responde a expressão dos autores de que política pública não se recebe mas
se demanda, considerando assim a importância da organização da sociedade nas estratégias de
elaboração e sobretudo de apropriação das ações de Estado.
A estagnação econômica brasileira a partir da década de 1970 culminou para a
redemocratização do país, concretizada na Constituição de 1988; que, ao contrário do
movimento mundial das potências capitalistas de neoliberalismo, trazia um tratamento
diferenciado das questões sociais, universalizando direitos como os da educação, saúde,
garantia à alimentação, moradia entre outros quesitos. Mas o fato é que o antagonismo da
Constituição de 1988, de acordo com a corrente neoliberal, trazia certa desconfiança no
Estado brasileiro pelas elites em relação a sua eficiência e, segundo Cunha e Cunha (2002), a
preocupação do Estado com questões sociais atrasaria o país e o deixaria em posição contrária
de parceiros comerciais e de potências econômicas.
Montaño (2002) explicita que se tratando de Brasil, principalmente a partir da década
90, assiste-se ao progressivo rompimento com o modelo de Estado desenvolvimentista (com
características de bem estar social) e ao avanço de políticas neoliberais. Incorpora-se ao
cenário de propostas uma menor atuação do Estado na regulação das relações capital/trabalho
e no atendimento às demandas sociais, que são repassadas à sociedade civil, esvaziando as
conquistas trazidas pela Constituição Federal de 1988.
Dessa maneira, Cunha e Cunha (2002), afirmam que as políticas públicas passaram a
se designar às mazelas sociais, com um enfoque residual, enquanto as classes médias e altas
abastecem-se dos bens e serviços privados; desacreditando e precarizando as instituições
governamentais, que tem por lei o dever de manter seu padrão, porém, devido à subserviência
às relações capitalistas fogem à sua obrigação.
Com relação a esta prática de individualização de instrumentos públicos de direito
coletivo, como as políticas públicas, Belloni (et al, 2007) afirmam que há uma falta de
metodologia e de sistematização tanto na formulação quanto na operacionalização de políticas
públicas, que deveriam respeitar três pilares fundamentais como eficácia, eficiência e
efetividade social; apoiados em recorrentes e periódicas avaliações da missão e do
comprimento objetivo do gasto público para que não houvesse distorções e nem fraudes.
Freqüentemente as políticas públicas são criadas devido à pressão social representada
por movimentos sociais, sindicatos, ONG’s entre outras entidades; que mobilizam a máquina
estatal a responder e atender as demandas sociais e, muitas vezes, essa resposta vem através
de políticas públicas. Como foi o caso da Reforma Agrária, surgindo programas como o
23
PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e outros projetos
do INCRA (Instituto de Colonização e Reforma Agrária), assim como: Crédito de Instalação,
Infraestrutura, Documentação da Trabalhadora Rural, Luz para Todos, PACTO (Programa de
Apoio Tecnológico e Cientifico), PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária), PROCERA (Programa de Crédito Especial na Reforma Agrária), Terra do Sol, PAC
(Programa de Consolidação e Emancipação, auto-suficiência), ATES - Assessoria Técnica
Social e Ambiental. (INCRA, 2007).
24
considerando neste caso a necessária organização coletiva dos sujeitos sociais, por si só, já se
refere a uma característica extremamente particular e importante ao Programa.
No âmbito da institucionalização dos instrumentos de gestão o aspecto central se
refere a atuação de diversos agentes do setor público e esferas local, regional e nacional e sua
articulação com movimento e entidades sociais o que se consagre em um protagonismo
político, para além de uma perspectiva de que os agentes sociais são receptáculos vazios das
ações de Estado, um protagonismo que destaca o reconhecimento social destes sujeitos e sua
capacidade de apontar questões de condução e de demandas destas políticas. Outro reflexo se
refere a necessidade de organização da sociedade para não apenas atuar como gestor mas
também como sujeito-beneficiário do programa e responde aqui o PAA por dois efeitos
extremamente significativo, o primeiro internamente reforça a necessária articulação e
organicidade cooperativa e associativa dos assentamentos, considerando a necessidade de
organização destas instâncias para inscrever-se no programa; o segundo, refere-se a relação
dos movimentos sociais pela reforma agrária com outros segmentos sociais e que de um lado
gera um efeito de articulação sócio-política e que rompe preconceitos e leituras fragmentadas
dos movimentos sociais e, por conseguinte, de outro, aponta os efeitos econômico-produtivos
que a reforma agrária produz no que se refere à produção e à segurança alimentar para setores
sociais e risco nutricional. Estes avanços e intervenções institucionais que o programa gera
são fundamentais para seu desenvolvimento enquanto política pública e desenvolvimento da
própria sociedade enquanto protagonizadora e beneficiária da mesma.
Com base nas entrevistas dos gestores e a revisão de literatura sobre o PAA, pode-se
notar uma mudança considerável entre os primeiros anos de atuação da política 2003 a 2005,
sendo que em 2005 já foi expressa uma diminuição de modalidades de aquisição, sem
acarretar uma diminuição dos recursos. No início existiam cinco mecanismos de compra:
Compra Antecipa Agricultura Familiar, Compra Antecipa Especial Agricultura Familiar,
Compra Direta da Agricultura Familiar, Incentivo a Produção de Leite e Formação de
Estoque; sendo que os produtos eram comercializados e operacionalizados pela CONAB. Mas
em 2005, a Compra Antecipada não foi executada, e em seguida, já em 2006, o MDA se
juntou com o MDS para compor o orçamento do PAA. A partir deste momento, o programa
foi separado em duas vertentes, como funciona atualmente, a Compra Direta da Agricultura
Familiar, operacionalizado pela CONAB; e a Compra Direta Local, que é operacionalizada
pelas prefeituras municipais de cada região que, somando-se ao PAA Leite e a Formação de
Estoques, figura-se a formação atual dos mecanismos de aquisição da política estudada.
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Apresentam orçamento único, mas tem competências difusas, assim como formação de
preços, logística e operacionalização.
Com relação à questão teórica da política Belloni (et al, 2007), apresentam a eficácia e
eficiência em relação à maioria dos quesitos do PAA, por exemplo, em sua missão de
subvenção de alimentos a pessoas em risco alimentar, atrelado a compra de alimentos de
agricultores familiares e pequenos grupos ou minoria. Mas o que falta por parte do programa
são ferramentas teóricas para mensurá-las, podendo chegar a um custo benefício da política
para comprovar sua efetividade social que completaria a avaliação da mesma.
Segundo Belloni (et al, 2007) e acordado pelo gestor da CONAB, outra lacuna é a
ambiguidade do PAA que se mostra um instrumento de compra da Agricultura Familiar,
segurança alimentar (formação de estoques públicos), erradicação da fome e pobreza (Fome
Zero), criando conflitos institucionais como dotação de orçamentos, liberalização de recursos,
prazos, atribuições e responsabilidades evidenciando sua complexidade e atual falha na
gestão, apesar de seu caráter inovador e positivo que tem evidenciado.
Os maiores problemas que se encontram estão na parte da gestão do próprio PAA, que
se inicia em Brasília com seu grupo gestor interministerial. É evidente que existam problemas
na operacionalização e logística da CONAB e das Prefeituras, assim como a falta de preparo
dos agricultores para adequar-se às exigências e documentos, devido suas condições de
analfabetismo, baixa escolaridade e/ou falta de informação, como evidenciou os gestores da
CONAB responsáveis pelo PAA no estado de São Paulo em entrevista para o projeto.
Portanto, evidencia-se uma falha prática na inter-relação ministerial, visto que as decisões não
são tomadas coletivamente, mas delegadas segundo a competência dos ministérios
participantes. Deste modo, no cerne do programa, encontra-se uma lacuna que promove outras
falhas, porque devido a esta fraqueza na gestão, até hoje o PAA não tem dotação orçamentária
anual, seguindo como programa de governo e insere-se como um dos braços do Programa
Fome Zero, com um projeto de lei tornando-se parceiro do MEC na distribuição de merendas
e complementação das mesmas com produtos da Agricultura Familiar. Desta maneira,
atrasam-se os pagamentos e não se planeja financeiramente a política, pensando na
sazonalidade da agricultura e prejudicando o financiamento correto de alguns agricultores que
necessitam do capital para reinvestir em outra safra.
Mas evidentemente que estes problemas institucionais deveriam surgir, fatores
orçamentários, ajustamento das regras de beneficiários, mecanismos gestores eficientes do
ponto de vista de conciliação de ano fiscal e ano agrícola e agilidade na liberação dos recursos
são problemas com as quais se convivem as políticas de reforma agrária e crédito.
26
SOUZA e GEBARA (2009) ao analisarem o Programa Especial de Crédito para a
Reforma Agrária (PROCERA) e BELIK (2011) ao também estabelecer considerações acerca
dos resultados do Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF) destacam os
problemas de ordenamento institucional e sobretudo de processos de gestão que normalmente
conflitam com as condições sociais e econômicas dos beneficiários e com questões relativas a
cronogramas de execução e de liberalização dos recursos.
Significa dizer que um Programa como o PAA, diante de seu caráter inovador seja do
ponto de vista de romper barreiras relativas ao já fechado e permeado mundo de
complicadores de transparência e de gestão a que está envolvido o sistema (“esquemas”) de
compras públicas, mediadas pela Lei 8663, no Brasil. Considerando ainda o esforço de tornar
o Programa em projeto coletivo de governo e de apresentar elementos inovadores do ponto de
vista do envolvimento dos agentes sociais em suas tramitações, parece ser singular que diante
de tantos aspectos passasse a reunir problemas centrais em sua consecução, o que não o
inviabiliza, mas aponta para a necessária superação dos modelos tecnocratas
compartimentados com os quais a burocracia se protege e ao mesmo tempo em que determina
relações de poder. Este também nos parece um elemento central em uma avaliação
institucional de um programa com esta natureza, o sentido de permitir que os movimentos
sociais olhem para dentro da s estruturas de Estado e, ao mesmo tempo em que sua estrutura
burocrática passa a olhar a lógicas cotidianas como muito mais dinâmicas e muito menos
formatáveis do que se espera a partir das portarias e decretos.
Como mencionado ocorrem também problemas com a operacionalização, devido à
novidade que é esta ferramenta pública de aquisição sem licitação, mas de caráter público e
transparente, também pela política ainda ser nova e estar adaptando-se ao cenário da prática
operacional, visto que se pensando apenas o estado de São Paulo, apresenta-se muita demanda
para um órgão apenas como a CONAB coordenar. Somado a isso, encontra-se a falta de
capacitação, pessoas e recursos por parte das assistências técnicas do Estado para orientar os
agricultores a respeito do planejamento, da documentação e execução de acordo com os
órgãos do PAA.
27
desta produção. As atividades relacionadas à operacionalização do programa, desenvolvidas
pela empresa, encontram-se em sintonia com outras ações implementadas pela Conab e
relacionadas ao Programa Fome Zero, como a estruturação de uma logística de recebimento,
armazenamento e distribuição de donativos e a compra, através de leilão eletrônico, de
alimentos visando o atendimento emergencial a comunidades indígenas, quilombolas e
acampados da reforma agrária em situação de risco alimentar (PAA, 2008a).
O programa é hoje operacionalizado com recursos do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, MDA Ministério Desenvolvimento Agrário,
provenientes do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, repassados à Conab através de
convênio (PAA, 2008b).
Por apresentar problemas de gestão, como os acima esclarecidos, ocorrem
divergências como a formação de preços pagos pelos produtos, fator que pode ser decisivo
para o produtor rural e para política como um todo. A CONAB utiliza-se de uma média
ponderada dos cinco últimos anos de acordo com a tabela diária do CEAGESP, o que confere
pelo histórico segundo seus gestores no geral, melhores preços para as prefeituras, criando
problemas institucionais que deveriam ser combatidos pela sua gestão em Brasília criando um
padrão, mesmo que seja para diferenciar os locais e preços de compra, mas que efetive sua
legalidade suprimindo os conflitos estabelecidos.
Uma atribuição importante do PAA é a capitalização de recursos que insere nos
municípios e localidades em que é operacionalizado. A quantia por família não parece ser
expressiva, mas o que se espera são os associativismos e cooperativismos entre os próprios
agricultores proporcionando uma redução nos custos fixos e uma maior quantidade de
recursos em um mesmo local, aquecendo esta microeconomia que motiva criação de renda, de
postos de trabalho e melhora nos bens e serviços locais (VATSMAIN, 2007).
As normas que regulamentam o PAA estabelecem valor máximo de acesso de
recursos. Quando de sua implantação o valor total era de R$2.500,00 ao ano por agricultor. A
partir de 15/08/2006 , com a edição do Decreto nº 5.873, de 15 de agosto de 2006, o limite
anual foi corrigido para R$ 3.500,00/ano (PAA, 2008b),e em 2009 esse valor passou a ser
operado em R$ 4.500,00 por produtor ano.
Na tabela 1, se demonstra as defasagens apresentadas pelo valor teto do PAA e as
correções segundo as datas de implantação dos valores tetos e os principais índices de
correção inflacionários adotados no país e que impactam significativamente os produtos de
alimentação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo do Instituto Brasileiro de Geografia e
28
Estatística (IBGE) e o Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
disponibilidade interna.
Por sua vez, considerando elementos de correção inflacionária observa-se que estes
valores apresentam uma significativa defasagem em termos de composição de renda dos
campesinos. O primeiro dado observável nesta tabela 3 é que quando da implantação do PAA
em julho de 2003, o valor teto adotado de R$ 2.500,00 apresentava-se extremamente distante
da efetiva demanda de renda e de capacidade produtiva dos assentados. Ainda que se tenha
clareza de que a produção de um assentado não seria integralmente absorvida pelo Programa é
de necessário frisar que por se tratar de uma política de renda e de segurança alimentar tem
por princípio atingir a sustentabilidade mínima do assentado rural que se encontra nas
mesmas condições sociais e econômicas que os sujeitos assistidos pelas entidades. Significa
dizer que o PAA atinge o mesmo estrato social nas duas pontas da produção-consumo. O
segundo dado é que as pressões dos movimentos sociais foram capazes de produzir aumento
real no teto máximo e que de certa forma acompanham correções que pudessem de um lado
responder a defasagem inflacionária a que estavam expostos os valores praticados.
Neste caso se observa que utilizando os índices de correção do IGP-DI da Fundação
Getúlio Vargas em 08 de 2006 o valor teto pela correção atingiria um valor de R$ 2.978,26,
mas o valor teto é reajustado para R$ 3.500,00. O que representa sobre o novo valor um
acréscimo de 14,9%.
Com relação aos valores praticados em 2009 em relação a 2006, observa-se uma nova
inflexão positiva e acréscimo real. A correção básica, com o mesmo índice da FGV
determinaria um valor teto de R$ 4.214,25, sendo que sua alteração atingiu R$ 4.500,00,
apresentando neste caso um acréscimo real de R$ 284,71, em termos percentuais sobre o valor
a ser praticado a partir de janeiro de 2009 de 6,3%.
Não obstante, cabe considerar a necessidade de estabelecer mecanismos mais
freqüentes de correção. As negociações precisam estabelecer datas bases de correção com o
intuito de permitir perdas significativas na renda dos camponeses que estão inseridos no
29
processo. Este fato é extremamente relevante e precisa ser acompanhado de uma investigação
para a qual se chama atenção neste trabalho. Qual seja verificar o comportamento médio dos
preços pagos pela CONAB aos assentados e estabelecer se existe equilíbrio nos termos em
relação ao teto. Em outras palavras estabelecer uma relação entre quantidade e preços dos
produtos entregues ao longo deste período para identificar se a política efetivamente transfere
renda para os assentamentos ou se ocorre a existência de preços abaixo do mercado
produzindo um efeito perverso na renda agrícola dos beneficiários, trata-se de um enfoque
que a leitura sobre os tetos de venda no programa apontados na tabela 3, não permitem
estabelecer.
Por último, cabe considerar que o estabelecimento de uma data base é fundamental aos
assentados, tendo em vista a necessária correção em 13% do valor teto atuais.
No que se refere aos recursos aplicados observa-se nas tabelas abaixo que os valores e
os produtores rurais beneficiados variam de acordo com a região e com os anos, sendo que a
região Nordeste recebe periodicamente os maiores incentivos. Outros itens pesquisados como:
número de famílias atendidas, quantidade de produtos adquiridos, número de municípios
atendidos, não foram disponibilizados, e em alguns casos são exibidos com dados
incompletos de 2003 a 2005 no geral por grandes regiões.
De todas as formas com base pode-se observar a inflexão positiva dos valores
liberados. Em termos totais parte de um R$ 81,5 milhões e apresenta um crescimento de
30
29,9%, atingindo um total de R 105,9 milhões. No âmbito da inclusão dos trabalhadores
assentados o número de beneficiários apresenta um crescimento no período da ordem de 14%.
O programa de aquisição de alimento (PAA), tendo em vista que a comparação ao
inicio do ano de 2003 a 2010 teve um aumento significativo para o projeto de resistência no
campo.
Os valores do PAA em 2003 através da Conab e os mecanismos, de operacionalização
foram:
Quadro 1 - Mecanismos e Valores Liberados pelo PAA (R$), Brasil, 2003
Compra Antecipada Compra Proagro Compra Direta
Especial Antecipada
R$ 17.747.092,96 R$ 56.337.401,44 R$ 863.156,43 R$ 6.593.557.87
Fonte: PAA/ Conab
Verifica-se que considerando o ano de 2003, o valor médio das famílias estive abaixo
do teto máximo permitido, atingindo aproximadamente 80% do mesmo. Esse processo é
revelador de duas dinâmicas: a) de caráter conjuntural, uma vez que o programa foi
implementado naquele ano e as estruturas burocráticas ainda não estavam preparadas e
tampouco os trabalhadores formalmente organizados para sua consecução; b) de caráter
estrutural, revela a demanda existente para políticas desta natureza, como forma de viabilizar
a produção e o escoamento da produção agrícola nos assentamentos. Deve-se atentar neste
caso, que em reduzido período de tempo, os camponeses foram capazes de assimilar a política
e atingir um significativo percentual de utilização dos recursos disponibilizados o que de
imediato apontava para a uma questão que passou a ser ponto de luta dos assentados, o teto
máximo era reduzido para a demanda de renda necessária à manutenção das famílias
camponesas e extremamente inferior a capacidade produtiva das mesmas.
No caso do estado de São Paulo verificou-se que a operacionalização se deu em duas
modalidade, a Compra Antecipada da Agricultura Familiar e a Compra Direta da Agricultura
Familiar:
31
Quadro 3 - Valores (R$) Compra Antecipada e Compra Direta e Número de Famílias
estado de São Paulo, 2003.
Compra Antecipada Total de Família Compra Direta Total de Famílias
32
de uma demanda concreta dos movimentos sociais e que representa fortemente a superação do
modelo de distribuição de terras, de estruturação produtiva e articulação da reforma agrária às
questões da sociedade no que diz respeito o acesso a produção alimentar.
Uma análise da trajetória do PAA no estado de São Paulo indica que o valor total dos
recursos atinge R$ 19.564.404,00 (Quadro 5) e um valor médio por família de R$ 4.377,80.
O programa no estado mantém uma média superior a nacional, bem como o elevado
percentual de utilização do teto (97%).
Quadro 5 - Mecanismos e Valores Liberados pelo PAA (R$), estado de São Paulo, 2010.
Compra Direta Doação Formação de Recurso MDA Recurso MDS
Simultânea Estoque
R$ 36.623,00 R$ 16.082.576 R$ 1,445.206 R$ 2.000.000,00 R$ 17.564.404,00
Fonte PAA/CONAB. 2010.
33
No entanto as limitações de recursos junto aos órgãos competentes, faz com que os
objetivos estratégicos não consigam de fato ser executados, considerando que os valores
máximos, ainda não permitem uma capacidade de renda e comercialização efetiva da
produção dos assentados, o que representa vulnerabilidade no que diz respeito a geração de
renda, sustentação dos preços da produção familiar, e a segurança alimentar das populações
do campo e da cidade.
35
PA Primavera 280 9.595,10 0
PA Chico Mendes 268 4.283,55 0
PA Araçá 80 1.379,18 0
Araçatuba
PA Hugo Silveira
60 936,41 0
Herédia
Birigui PA São José I– gleba I 48 1.182,48 0
PA São José I – gleba II 3 48,78 0
Brejo Alegre
PA Salvador 20 477,24 0
PA São Joaquim 46 606,19 0
PA Celso Furtado 179 2.434,76 0
PA Terra Livre 41 628,32 1
PA Nossa Senhora
73 976,45 0
Aparecida II
Castilho PA Cafeeira 125 1.968,58 1
PA Santa Isabel 68 1.033,48 0
PA Ipê 75 978,75 0
PA Anhumas 70 1.350,26 1
PA Rio Paraná 92 2.205,13 1
PA Pendengo 245 4.139,62 0
PA Nova Vila 57 882,37 1
PA Santa Luzia 70 1.077,49 0
Guaraçaí
PA São José II 39 877,6 0
PA Aroeira 40 872,17 0
PA Estrela da Ilha 209 2.984,33 1
Ilha Solteira PA Santa Maria da
75 1.210,63 0
Lagoa
PA Rosely Nunes 85 1.172,66 1
Itapura PA Cachoeira 65 972,57 0
PA Zumbi dos Palmares 80 1.181,80 0
PA Primavera 105 1.777,06 1
Mirandópolis
PA São Lucas 68 1.550,07 1
PA Dois Irmãos 125 1.817,44 1
Murutinga do
PA Santa Cristina 54 986 0
Sul
PA Orlando Molina 77 1.507,65 1
Nova
PA Pousada Alegre 60 929,72 0
Independência
PA Santo Antonio 30 332,35 1
Paulicéia
PA Regência 33 709,66 1
PA Terra é Vida 39 513,66 0
Pereira Barreto PA Olga Benário 49 757,57 0
PA Esmeralda 85 2.082,13 1
Suzanópolis PA União da Vitória 155 2.906,31 0
Turmalina PA Santa Rita 35 1.074,22 0
PA Bela Vista do
Araraquara 244 3.427,45 1
Chibarro
Bocaina PA Fortaleza 29 268,55 1
36
PDS Agroecológico
Caconde 25 135,53 0
Hugo Mazzilli
PA Perdizes 36 1.506,17 0
Colômbia
PA Formiga 58 1.063,39 0
PDS Comunidade
40 378,91 1
Agrária 21 de Dezembro
PDS Horto Florestal
Descalvado 80 533,36 1
Aurora
PA Comunidade Agrária
42 376,44 0
02 de janeiro
Jaboticabal PA Córrego Rico 47 467,18 1
Orlândia P.A. Orlândia 10 39,05 0
Ribeirão Preto PDS da Barra 440 1.548,48 1
Serra Azul e
PDS Sepé Tiarajú 79 798 1
Serrana
PDS Santa Helena 19 98,83 1
São Carlos PA Comunidade Agrária
110 1.158,50 0
Nova São Carlos
Bauru PA Horto Aymorés 377 5.262,13 1
PA Santo Antonio 26 883,71 0
Piratininga
PA Brasília Paulista 110 1.863,40 0
PDS Comuna da Terra
Americana 85 103,45 1
Milton Santos
Cajamar PDS São Luiz 37 123,07 1
Itanhaém PDS Agroecológico 6 153,26 0
Limeira PDS Elizabeth Teixeira 150 602,87 1
Mogi das
PA Itapeti 15 86,2 0
Cruzes
PA Maracy 55 1.062,40 0
Agudos
PA Loiva Lurdes 50 982,14 0
Avaré PA Santa Adelaide 28 701,97 0
Iaras PA Zumbi dos Palmares 332 8.001,26 1
Iperó PA Ipanema 125 1.712,00 1
PA 23 de Maio 46 503,8 1
Itapetininga
PA Carlos Lamarca 48 883,3 1
PA Luis Moraes Neto 102 1.721,37 1
Caiuá
PA Engenho 29 480,1 0
Euclides da
PA Nova Esperança 89 2.028,78 1
Cunha Paulista
PDS Bom Jesus (São
Iepê 37 68,36 1
Marcos)
Marabá Paulista PA Areia Branca 86 1.879,44 0
PA Nova Vida 37 961,62 0
Martinópolis
PA Chico Castro Alves 86 1.783,05 0
Mirante do PA Margarida Alves 90 1257,59 1
Paranapanema
37
PA Dona Carmen (São
150 1.216,13 0
Sebastião)
PA Antonio Conselheiro
54 1.078,66 0
II
PA Paulo Freire 55 1.295,21 1
Presidente PA Porto Velho 85 1.492,88 1
Epitácio
PA Lagoinha 143 2.105,52 0
PA São Pedro 74 1.763,53 1
Rancharia
PA Nova Conquista 102 2.501,66 1
PDS Boa Esperança
São Mateus 40 54,69 1
(João Ramalho)
Teodoro
PA Água Sumida 110 4.214,60 0
Sampaio
Cafelândia PA Cafesópolis 3 21 0
PA Lafaiete Antonio de
15 345 0
Oliveira
Gália
PA Margarida Maria
15 305,94 0
Alves
PA Simon Bolívar (Volta
Getulina 40 768,38 1
Grande)
PA Pasto do Planalto 27 678,51 0
Guarantã
PA Antonio Conselheiro 147 2.905,55 1
Pirajuí PA Pirajuí 6 166,92 0
PA Vitória 10 96,3 0
Presidente PA São Francisco II 27 805,23 1
Alves PA Palmares 27 846,4 1
PA Dandara 187 2.882 1
Promissão 17.138,2
PA Reunidas 585 1
6
Biritiba Mirim PA Sítio Casa Grande 48 359,84 1
São José dos
PA Nova Esperança I 61 446,7 1
Campos
Taubaté PDS Olga Benário 63 692,12 0
PDS Manoel Neto 44 378,91 0
Tremembé
PA Tremembé 97 1.290,02 1
PDS Quilombo
Ubatuba 53 210 0
Caçandoca
PDS Professor Luiz de
Apiaí 86 7.767,22 1
David Macedo
PDS Alves, Teixeira e
Eldorado 64 3.072,68 0
Pereira
Miracatu PDS Ribeirão do Pio 8 406,1 0
Pradópolis PE Guarany 273 4.190,22 1
Fonte: INCRA, 2011.
38
Como salientado o Programa de Aquisição de Alimentos atua fortemente nos
processos de organicidade dos assentamentos. No quadro acima se verifica que para o total de
230 assentamentos do no estado de São Paulo existem 84 cooperativas e associações dos
dados revelam que a maior parte, cerca de 70%, ou se rearticularam ou foram criadas a partir
do PAA, destacando a importância institucional referida.
Por outro lado considerando que 63% dos assentamentos do estado de São Paulo, não
dispõem de cooperativas e ou associações organizadas, implica em dizer que existem tarefas
fundamentais aos movimentos sociais de articulação política e de ampliam da política pública
junto aos assentamentos. Através das entidades nacionais e estaduais que são: CONCRAB
(Confederação Nacional de Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil), AESCA
(Associação Estadual Cooperação agrícola) e a CCA (Cooperativa Central dos Assentados de
Reforma Agrária). Esse fato é revelador de outro aspecto. Muitas vezes não se trata apenas da
existência de determinada ação pública, mas fundamentalmente a sua divulgação e a
capacidade do Estado e da sociedade em tornar acessível determinada política pública.
Considerando, portanto o número de assentados pode-se dizer que minimamente que cerca de
60% dos assentados no estado de São Paulo, não tem acesso a uma política como o PAA, que
do ponto de vista da análise institucional já se revela extremamente significativa à sociedade e
particularmente ao movimento social de luta pela terra.
39
PE Sumaré II 327,84 39
PE Monte Alegre III 1.099,56 77
Araraquara PE Monte Alegre VI 1.253,94 1
PE Bueno de Andrada 472,41 31
Matão PE Horto Silvânia 405,4 19 1
PE Monte Alegre I 726 49 1
PE Monte Alegre II 857,7 62
Motuca
PE Monte Alegre IV 679,35 49
PE Monte Alegre V 483,76 33
Batatais PE Nossa Terra 239,76 30
PE Boa Sorte 2.979,07 157
PE Boa Sorte 2.979,07 157
Restinga PE Boa Sorte 2.979,07 157
PE Boa Sorte 2.979,07 157
PE Boa Sorte 2.979,07 157
Franco da Rocha PE São Roque 619,19 61 1
PE Maturi 4.519,35 171
PE Santa Rita 523,54 21
PE Fazenda Santo Antonio 1.945,85 49
Caiuá
PE Vista Alegre 532,8 22
PE Santa Angelina 535,81 22
PE Malú 477,11 24
PE Porto Letícia 707 35
PE Rancho Alto 1.292,24 51
PE Rancho Grande 2.447,09 101
Euclides da Cunha PE Santa Rosa 865,67 62
Paulista PE Santa Rita do Pontal 800 46
PE Tucano 664 34
PE Santa Tereza 1.318,16 46
PE Guana Mirim 812,13 34
PE Santo Antonio 1.822,47 74
PE Nossa Senhora Aparecida 616,1 17
Marabá Paulista PE Santo Antonio da Prata 817,65 29
PE Santa Maria 1.091,60 39
PE São Pedro 254,1 8
Mirante do PE Flor Roxa 953,67 39
Paranapanema
PE Haroldina 1.964,89 69
PE Santa Carmem 1.043,01 36
40
PE Arco-Íris 2.609,79 104
PE Santa Cruz 408 17
PE Canaã 1.223,74 55
PE King Meat 1.134,50 45
PE Santana 212 29
PE Santa Apolonia 2.657,74 104
PE Santa Rosa I 692 23
PE Washington Luis 343,24 16
PE Novo Horizonte 1.540,59 57
PE Santa Izabel 492 53
PE Santa Cristina 837,9 35
PE Vale dos Sonhos 617,94 23
PE Santa Lúcia 597,27 24
PE Alvorada 565,43 21
PE Marco II 242,96 9
PE Santo Antonio I 515,05 17
PE Nossa Senhora Aparecida 175,03 7
PE Lua Nova 375 17
PE Che Guevara 976,45 46
PE São Bento 5.190,50 180 1
PE Estrela Dalva 784,4 31
PE Santa Rosa II 766 13
PE Santo Antonio 517,99 16
PE Repouso 515,05 21 1
PE Roseli Nunes 2.082,75 55 1
PE Santo Antonio I 399,28 -*
PE Santo Antonio II 118,7 -*
Paulicéia PE Fazenda Buritis 2.209,50 54
PE Santo Antonio da Lagoa 968,03 29
Piquerobi PE São José da Lagoa 1.026,37 29
PE Santa Rita 600,96 26
Presidente Bernardes PE Água Limpa I 956 30
PE Estância Palu 1.243,85 44
PE Rodeio 1.861,39 64 1
PE Santa Eudóxia 167 6
PE Água Limpa II 789 24
PE Florestan Fernandes 1.116,61 55
PE Santo Antonio II 672,85 24
41
PE Quatro Irmãs 385,98 15
PE Fazenda Lagoinha 634,15 26
Presidente Epitácio
PE São Paulo 1.855,28 73
PE Santa Maria 551 16 1
PE Primavera I 2.179,00 81
PE Tupaciretã 2.861,62 75
Presidente Venceslau PE Radar 548,24 29
PE Primavera II 895 43
PE Yapinary 852,52 39
PE São Camilo 668,93 25
PE Nova Pontal 2.786,90 121
PE Bonanza 1.144,00 31
Rosana PE Porto Maria 40
13.310,7
PE Gleba XV 6 568 4
PE Bom Pastor 2.682,39 129
Sandovalina
PE Guarany 1.334,28 67 1
PE Córrego Azul 226,71 9
PE Santo Antonio dos Coqueiros 485,29 23
PE Santa Vitória 515,51 27
PE Haidéia 868,26 24
PE Vale Verde 1.010,75 50
PE Santa Rita da Serra 837,43 39
PE Cachoeiro do Estreito 490,47 29
PE Laudenor de Souza 1.545,20 59
PE Água Branca I 630 28
Teodoro Sampaio PE Vô Tonico 550,77 18
PE Alcídia da Gata 462,03 18
PE Santa Zélia 2.730,35 103
PE Santa Terezinha da Alcídia 1.345,83 25
PE Santa Terezinha da Água Sumida 1.345,82 45
PE Santa Cruz da Alcídia 712,57 25
PE Fusquinha 1.081,76 43
PE Padre Josimo 2.290,19 96
PE Santa Edwirges 684,92 24
PE Santo Expedito 662,85 28
Tupi Paulista PE Santa Rita 749,56 31
Pitangueiras PE Ibitiuva 725 41
Iaras PE Nova Vida 299,98 19
42
Iperó PE Bela Vista 1.034,96 30 1
PE Pirituba II Área 3 2.142,33 72 1
PE Pirituba II Área 5 807,71 39 1
Itaberá PE Pirituba II Área 6 126,13 37 1
PE Pirituba Área VII 42,52 8
PE Pirituba II João Moreira de
Macedo 96,4 46
Itapetininga PE Capão Alto 485 18
PE Pirituba II Área 1 2.511,00 105 1
Itapeva PE Pirituba II Área 2 1.341,20 56
PE Pirituba II Área 4 1.096,83 49
Porto Feliz PE Porto Feliz 1.092,66 83
Fonte: ITESP, 2010.
43
CAPITULO 3 – Renda e Produção nos assentamentos a partir do PAA.
46
Os assentamentos rurais têm sido considerados como expressão territorial da luta dos
trabalhadores do campo pela melhoria das condições de vida, espaços onde se desenrolam
múltiplas relações sociais. Diante da busca de alternativas para a crise de emprego, a
problemática da organização social. Assim, os assentamentos rurais, com base no
associativismo, têm sido objeto de investimento das políticas públicas e, sobretudo campo de
disputa de projetos de desenvolvimento econômico-social (SCOPINHO, 2007; LEITE, 2004).
As famílias assentadas estão dividas em agrovilas e lotes de campo com áreas entre
12 até 16 hectares, numa extensão de 2979,07 hectares sendo que em 27% da área total se
mantém uma reserva legal, bem como diferentes áreas de preservação permanente, com a
existência de varias lagoas, sendo uma das melhores terras da região, denominada de terra
roxa (latossolo vermelho) o assentamento é ainda banhado pelo rio Sapucaí.
47
Foto 1 - Arquivo do assentamento 17 de abril
48
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que são direcionados
à reforma agrária.
O fomento foi liberado em 2001, no valor de R$ 1.400,00, sendo um subsídio para
comprar alimentos e pequenas ferramentas; o credito Habitacional do INCRA na época foi de
R$ 3.000,00 para compra de materiais de construção e foram liberados R$12.000,00 para
projetos de produção de longo prazo.
No ano de 2003 a comunidade solicitou a doação de madeiras existentes nos lotes que
não foram incluídas no leilão de venda do Horto Florestal. O grupo ligado ao MST pleiteava
os recursos para a construção de benfeitorias como Centro de Convivência para o Grupo de
Mulheres, manutenção de poço tubular profundo e aquisição de equipamentos e a solicitação
de madeiras vinha sustentada pela apresentação de um “Projeto Social”.
Essa solicitação consistia num projeto protocolado pelos beneficiários para que uma
parte da madeira comercializada pela Fundação Florestal fosse destinada a aquisição de
materiais de construção para habitações., uma vez que o credito habitação não tinha sido
liberado no assentamento.
49
aquisição de produtos da agricultura familiar nas compras da merenda escolar, são precedidos
de debates, reflexões e estratégias de atuação por parte dos assentados. Um processo que
viabiliza a organização e principalmente a formação dos trabalhadores, que sempre viveram
do trabalho assalariado ou empregados das grandes fazendas, sapateiros nas indústrias em
Franca etc., e passam a conviver com conceitos e procedimentos administrativos que não
faziam parte de seu universo cultural, de seu cotidiano. Esses trabalhadores passam a
administrar o seu lote e, principalmente a renda, e aí se inclui os montantes creditícios com
muitas dificuldades de gestão e evidencia que o órgão de estado que atua na formação e
administração que é o Instituto de Terra do Estado de São Paulo (ITESP), responsável pelas
orientações e assistência técnica, não corresponde aos anseios dos trabalhadores.
Todos estes fatores evidenciam como as políticas públicas passam a integrar a vida
dos assentados, revelando mudanças significativas na trajetória de vida destes sujeitos,
determinando impactos sociais, econômicos, ambientais e culturais no território da reforma
agrária, foram estas questões observadas a partir do PAA no assentamento 17 de Abril.
50
de trabalho no corte da cana (SILVA, 2005). Com este contexto de avanço do sistema
capitalista no campo e com a produção de matéria prima para exportação, além das grandes
indústrias se apoderando das terras para acumular mais capital, vemos um cenário complicado
para o camponês, mas ao mesmo tempo o cenário que fortalece luta e demonstra a urgência
de organização.
Portanto a Reforma Agrária, que é também um das Políticas Públicas que está
embasada na constituição de 1988, para que seja realizada de fato no Brasil precisa consolidar
a volta do camponês a terra fortalecendo a reconstrução camponesa e sua recriação no país.
Podemos dizer que as famílias assentadas que estão nos assentamentos (os territórios
conquistados) fazem com que passemos a refletir que estes são os verdadeiros camponeses/as,
que estão resistindo, e que na sua maioria tem sua unidade familiar e usa a força de trabalho
familiar para produzir e comercializar (são os camponeses da atualidade). Isso reforça o que
Marques (2008) propôs dizendo que uma das características do campesinato é a unidade de
produção sustentada no trabalho familiar e que resiste aos modelos de exclusão do capital,
considerando que a apropriação das políticas públicas são os instrumentos de
desenvolvimento destes camponeses, como analisamos no Assentamento 17 de Abril, em
Restinga- SP.
No Assentamento 17 de abril, predomina uma população adulta, com idade média
entre 35 e 60 anos, migrante de várias regiões do Brasil. A maioria dos entrevistados veio dos
estados de Pernambuco, Ceará, Piauí, Minas Gerais, Paraná e Sergipe, sendo notável a
diversidade de origens e de trajetórias de migração. Com um nível de escolaridade
extremamente reduzido, a maioria dos assentados possui ensino fundamental incompleto e
muitos deles são analfabetos.
É notável não só a diversidade de origens e trajetórias, mas também de experiências
profissionais porque, ao longo do itinerário, as pessoas nem sempre conseguiram manter a
51
rota profissional e se transformaram em vários outros tipos diferentes de trabalhadores para
sobreviver. As experiências profissionais dos assentados são marcadas pelo desenvolvimento
de atividades rurais e urbanas desenvolvidas em diversos setores e ramos da economia formal
e informal que não requerem qualificação, indicando um tipo de trabalho que, tipicamente, se
caracteriza como precário, ou seja, aquele realizado sem cumprir, minimamente, a legislação
trabalhista e social (ANTUNES, 1995).
Segundo Souza, Jorge e Gebara (2001) este processo de migração se constitui em
uma complexa trajetória de desconstituição e reconstituição laboral dos agricultores. Nos
depoimentos, verificou-se uma trajetória de “perda” e ou distanciamento de conhecimentos do
modo de vida camponês, dos cultivos, para um estágio de reconstrução laboral no campo de
forma parcial (apanhador, cortador, peão de gado) e na cidade (servente, pedreiro, sapateiro,
ajudante geral, entre outras), para novamente, no assentamento reorganizar e ou reaprender,
em uma nova lógica de reconstituição laboral, o fazer no campo (camponês, agricultor).
(SOUZA, JORGE, GEBARA, 2001).
No assentamento 17 de abril, a maioria dos assentados trabalhava na lavoura, em
indústrias, construção civil, comércio, de diarista, dona de casa, empregada doméstica,
sapateiros, vendedores, fixos ou ambulantes, cortador de cana. A fuga da pobreza e da
violência fez com que a maioria das famílias aderisse ao movimento social em favor da
Reforma Agrária e estas famílias já estão na luta pela Reforma Agrária a aproximadamente
11 anos, como alternativa de reinserção social.
Esses trabalhadores possuíram vínculos com a terra, mas na condição de assalariados
temporários - ou bóias-frias ou na condição de filhos de trabalhadores rurais . Eles vêem o
assentamento como um lugar para se fixar, onde a família pode encontrar condições para
superar as dificuldades de reprodução social, principalmente no que se refere à alimentação,
moradia, educação, saúde e segurança (SCOPINHO, 2007).
De modo geral, as famílias tinham uma composição muito variada, desde as
numerosas (mais de oito pessoas) até as de um só membro. Nos lotes vivem os responsáveis,
cônjuges, irmãos, filhos, netos, noras e genros. A grande maioria trabalha no próprio lote,
além disso, é grande o número de adolescentes que estão estudando, completando o ensino
médio.
Os assentados produzem em seus lotes individuais, a produção é bastante diversificada,
todavia no ano de 2003 a produção do assentamento 17 de abril era voltada para seis linhas de
produção: arroz, milho, feijão, mandioca, abobora e gado de leite. A partir de 2005 com a
compra antecipada, que era de R$ 2.500,00 por produtor, somente seis trabalhadores fizeram
52
os projetos e não avançaram muito pelo fato do recurso ser liberado depois da safra o que
dificultou até o pagamento dos gastos envolvidos.. Mas, a partir de 2007 através da
Associação de Produtores Dorcelina Folador (APRODF), realizou-se o primeiro projeto de
doação simultânea no assentamento, que atingiu R$3.500,00 por produtor. Toda a produção
teve que ser planejada de acordo com a tabela da CONAB além do que já existia de produtos,
a diversificação foi se intensificando, os assentados começaram a produzir: maracujá,
pimentão, alface, rúcula, cheiro verde, almeirão, beterraba, cenoura, rabanete, brócolis,
repolho, mamão, manga, acelga, batata doce, abobrinha verde, couve flor, coentro, jiló,
quiabo, cara, banana, etc.
Verificou-se uma alteração na matriz produtiva do assentamento, com ampliação do
número de culturas e produzindo mudanças quantitativas e qualitativas na própria linha
nutricional das famílias assentadas. As grandes hortas foram se dando no assentamento,
alterando a configuração da paisagem, ao passo que respondiam progressivamente ao
atendimento das demandas e ou possibilidade de comercialização apresentadas pela lista do
CEAGESP. Ao mesmo tempo o Grupo de Mulheres existente na agrovila do MST, passa
atuar no processo de industrialização de algumas frutas como a banana, abobora, mamão e o
leite transformando em compotas e doces, os quais passam a ser entregues às entidades sociais
que atuam com famílias carentes e populações em risco alimentar. Uma estrutura de produção
que passa a atuar basicamente em municípios como Restinga, Batatais e Franca.
Destaca-se que muitos destes produtos que passaram a ser processados (frutas, por
exemplo) não eram produzidos no assentamento. Contudo, com a demanda do PAA, os
assentados visualizaram a potencialidade destes produtos e passaram a produzir o que em um
primeiro momento possa estar vinculada ao atendimento da cota de venda objetivando atingir
o teto, automaticamente se revela também em um processo de aquisição de conhecimentos
técnico-produtivos, revelando que o papel da política pública é de indução produtiva. O fato
de ter a garantir da comercialização faz com que os assentados busquem conhecimentos e
aplicar no processo produtivo, determinando o que apontamentos como constituição e ou
reconstituição laboral dos agricultores, dos camponeses. .
Verifica-se, portanto que para além da composição formal da renda monetária
agrícola nos assentamentos ocorre por meio da política pública a diversificação produtiva, a
alteração do padrão nutricional e o aumento da renda não monetária (subsistência), com o
aumento da quantidade e da qualidade de consumo dos camponeses; o perfil laboral dos
assentados e o aumento do universo cultural ao apontar para as necessidades de controle e
gestão dos processos produtivos.
53
A modificação no uso da propriedade feita pelos assentamentos rurais
necessita ser drástica, isto é, o modo de produção precisa apresentar
características estruturais totalmente diferentes do que era antes. Sendo
assim, cabe colocar que a formação dos assentamentos não pode ser um
processo tênue e transitório de concessão da terra com vistas a acalmar as
inquietações dos trabalhadores sem-terra, mas, deve sim ser uma nova
estrutura produtiva (PIRES, 2011, sem paginação).
54
Essa parceria firmada com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no
âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na modalidade Doação Simultânea,
garantiu a viabilidade econômica do assentamento. Cada assentado pode comercializar no
valor de até R$ 4,5 mil seus produtos. Apesar dos produtores terem outros compradores, o
valor da Conab é considerado vantajoso, pois além dos assentados, são beneficiadas mais de 6
mil pessoas ligadas às entidades assistenciais da região, entre hospitais, creches,comunidade
de base,centros sociais e asilos. (RAMOS FILHO, 2007).
A renda total dos assentados é formada pela soma da renda agrícola, renda não
monetária e renda não agrícola. A renda agrícola, composta pelo preço e pela produção (esta
última resultado da área cultivada e da produtividade obtida), e apresenta como principal
característica uma inerente instabilidade, relacionada aos preços agrícolas e à dependência das
condições climáticas. No assentamento 17 de abril, a renda agrícola tem como principal
componente a venda dos produtos entregues à Conab o que representa cerca de 70% do total
da produção. Para não ultrapassar o teto estabelecido pelo PAA, os assentados entregam os
produtos referentes a R$ 400,00 mensais. Fora isso, os assentados realizam a venda direta
para atravessadores e essa renda varia de R$ 200,00 a R$ 800,00 mensais. Porém, muitos
assentados não entregam seus produtos para atravessadores, pois alegam que eles pagam
pouco e não valorizam a qualidade dos produtos o que passa a representa uma tomada de
consciência dos agricultores sobre o trabalho, a exploração e lógica de expropriação da
mercadoria.
A renda não monetária é aquela proveniente, por exemplo, da produção voltada ao
auto - consumo, que também precisa ser aferida em valores correntes de mercado, sob pena da
renda total do agricultor ficar subestimada. Os assentados consomem quase todos os
alimentos que produzem, em diferentes quantidades, o que se observou nos depoimentos é a
alteração dos padrões internos de consumo familiar da produção própria a partir do PAA.
Destaca-se ainda que este fator impacta o redirecionamento de outras rendas
monetárias existentes no assentamento para novas finalidades que aumentam o conforto e a
qualidade de vida destas famílias, desde a habitação, ao vestuário, entre outras necessidades
familiares. A renda monetária não agrícola dos assentamentos é composta por todos os
valores que não são oriundos da agropecuária, como, por exemplo, pensão, aposentadoria,
LOAS3 (Lei Orgânica de Assistência Social), bolsas do governo, entre outros valores que
3
“O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC-LOAS, é um benefício da assistência
social, integrante do Sistema Único da Assistência Social – SUAS, pago pelo Governo Federal, cuja a
operacionaliização do reconhecimento do direito é do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS e assegurado
por lei, que permite o acesso de idosos e pessoas com deficiência às condições mínimas de uma vida digna”.
55
compõem monetariamente a renda dos trabalhadores rurais. Segundo os entrevistados, a renda
com a bolsa família contribui com cerca de R$ 90, a aposentadoria gira em torno de R$ 1000
a R$ 1800, e o LOAS R$ 450. Além disso, alguns dos assentados trabalham fora do lote,
recebendo cerca de R$ 500 mensais, este fator é importante, uma vez que embora não
quantificado, tem-se depoimentos de famílias que paulatinamente vão deixando de receber
auxílios de programas de renda mínima, frente a melhoria das condições de vida conquistadas.
De forma geral, a venda para a Conab representa uma garantia de renda para os
assentados. Como excedente na produção criam-se novos canais de comercialização, além
disso as famílias contam com rendas fora do lote, como trabalho na cidade, contribuindo com
a renda total dos assentados.
A entrevista também destacou quais são os principais gastos dos assentados. Um dado
bastante relevante foi o gasto mensal com alimentação, cerca de R$ 500,00. Os gastos com a
produção e com o lote também foram altos, com um valor de R$ 1.000,00 por safra. As
despesas são ainda compostas com transporte (R$ 100,00), água e energia (R$ 40,00),
telefonia (R$ 50,00) e remédios (R$ 50,00), sendo ainda detectado um fenômeno diferenciado
que trata dos auxílios que saem do assentamento aos familiares que se encontram na “cidade”,
e que se realiza na forma monetária e ou com alimentos. Contudo, a maioria dos
entrevistados avaliou que o teto máximo estabelecido pelo PAA é insuficiente, pois os
assentados afirmam que têm produção excedente ainda encontra dificuldades para escoamento
de seus produtos. Outro aspecto fortemente levantado pelos assentados se refere ao atraso
freqüente do pagamento pela Conab, embora isso venha melhorando desde o início do ano de
2011.
Com relação aos impactos e contribuição do PAA para a Reforma Agrária, os
entrevistados afirmaram que a ajuda foi muito relevante, garantindo uma renda fixa e
melhoria de qualidade de vida. Destacou-se nas entrevistas a redução do preconceito que os
assentados sofriam nas cidades da região, amenizando as críticas ao MST. Também
afirmaram que é uma maneira de ficar em contato direto com o Governo, onde todos podem
saber como o movimento está utilizando a terra e contribuindo para a região. Esse programa
também ajudou na organização interna do assentamento, com relação à produção e entrega
dos alimentos.
Atentam os agricultores que o dinheiro vindo do programa ajudou apenas nos gastos
essenciais, como comida e investimento no lote, mas não é suficiente para desfrutar de lazer, e
gastos com material escolar entre outros. Embora algumas famílias conseguiram abrir
crediário em lojas, com o recibo mensal da Conab, possibilitando a compra parcelada de
eletrodomésticos, móveis, roupas e calçados. Este fato também se relaciona aos aspectos de
identidade e auto-estima, considerando que estes sujeitos sociais passam a ter visibilidade
social o que representa a reafirmação social da reforma agrária de forma interna e externa ao
assentamento.
Interessante destacar a opinião dos assentados em relação a sua luta pela Reforma
Agrária. Através das entrevistas podem-se perceber duas visões entre os assentados. Alguns
deles afirmam que a luta valeu a pena, que realizaram o sonho de viver no campo e ser seu
próprio patrão. Por outro lado, alguns dizem que acreditam que estariam vivendo melhor na
cidade, com acesso a saúde, educação e segurança, mas sabem que para usufruir disso teriam
que ter um bom emprego e salário.
No geral todos destacaram a importância do PAA como ser uma política permanente
de compra dos seus produtos, e que ela seja de fato política publica para agricultura, e que
tenha aumento do teto no valor de R$8.000,00 por produtor. Também se colocou a
necessidade de um credito especifico para Reforma Agrária, sendo que o valor que se recebe
pelo PAA de R$4.500,00 anuais, representa uma renda de R$350,00 por mês, abaixo do
salário mínimo vigente, como disse o produtor Pedro Sebastião da Rocha:
“Ainda não fiz toda conta de quanto recebi, mas com certeza foi o que se deu
para investir no meu lote, e na sua casa. A organização também melhorou
muito e todos os assentados estão envolvidos em uma cooperativa e
associação, todos consegue vender seus produtos desde quando a direção
trouxe este projeto para dentro do assentamento nossas vidas melhorou
muito mas temos que aprender a fazer planejamento da nossa produção
porque estamos com a merenda escolar ai e temos que nos qualificar para
podermos entregar também na merenda”.
57
mais necessitando de tecnologias para que os produtores possam desenvolver sua produção e
se modernizando.
Considerações Finais
58
As questões sociais são diversas, desde os aspectos subjetivos de identidade e auto-estima
passando pela mudança de organicidade do assentamento até mesmo os reflexos externos no
que diz respeito ao reconhecimento social do papel da reforma agrária.
No âmbito do entendimento do programa, como militante, destaca-se a importância de
reflexão sobre as estratégias de Estado no âmbito da reforma agrária, considerando o papel
dos movimentos sociais em atuar na elaboração e correção de políticas públicas, sobretudo
aquelas que impactam diretamente à vida dos trabalhadores rurais e urbanos.
Destaca-se ainda a necessidade de revisão do teto de aquisição pela CONAB, , que
deve atingir uma renda fixa mensal acima do salário mínimo, ampliando a quantidade de
produtos que podem ser entregues à Conab, em relação à quantidade produzida nos lotes,
evitando que os assentados se deparem com atravessadores que reduzem a renda e
desequilibram os processos dos produtos. Verificou-se uma melhora significativa na
qualidade de vida, nos gastos essenciais, como comida, vestuário e investimento no lote e
possibilitou maior visibilidade social aos assentados a partir do crédito no setor urbano..
O programa também contribuiu para a redução do preconceito que os assentados
sofrem nas cidades da região, amenizando as críticas ao MST, bem como na organização
interna do assentamento.
A priori pode-se concluir que o PAA, como política pública, tem apresentado
bons resultados em sua operacionalização e, mesmo com todos os seus problemas, tem
injetado recursos nos municípios, acelerando as economias locais e trazendo, mesmo que
precariamente, um pensamento de planejamento da produção e controle de caixa aos
produtores.
A gestão tem que ser realizada para algum Ministério específico para flexibilizar os
trâmites legais do programa, ou eleger-se uma equipe específica para cuidar desta política.
Assim como para avaliar periodicamente sua efetividade e eficiência, tanto do próprio
programa quanto das instituições envolvidas. Para melhor corresponder as expectativas
sociais poderiam ser definidas, objetivamente, as metas e a missão do PAA, para que não se
confundir com outras políticas, melhorando o gasto público.
Suas informações sobre os desempenhos precisam ser melhores disponibilizadas para
poder ocorrer à democratização da progressão ou não da política, assim como as informações
sobre o programa para os produtores rurais, como congressos e palestras que o MDS e a
CONAB vêm promovendo para capacitar e inserir mais indivíduos no PAA, tendo em vista
que este recurso e o único subsídio que está indo para as áreas dos assentamentos. Assim o
governo e os movimentos sociais, em especial o MST, são provocados a repensar qual seria
59
de fato um crédito especifico para Reforma Agrária, para que as conquistas territoriais dos
movimentos sociais permaneçam.
60
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64
ANEXOS
Gastos:
Alimentaçã Telefone Produção mês Transporte Outros
o ou safra (ônibus e/ou
(preparo de combustível)
solo, sementes,
maquinário...)
65
- energia/água
- remédios
- ajuda uma parte da
família que ficou na
cidade
-pensão alimentícia
-outros
•Para você o PAA contribui para o avanço da Reforma Agrária de uma forma geral? Como?
___________________________________________________________________________
__
___________________________________________________________________________
__
___________________________________________________________________________
__
• Se não tivessem ingressado na luta pela terra como acham que vida de vocês estaria
hoje?Por que?Valeu a luta?
_________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____
Quais produtos não eram produzidos e que passaram a ser produzidos para atender o PAA?
___________________________________________________________________________
_____
O PAA possibilitou a vocês obterem bens materiais e/ou pessoais que não tinham e que
passaram a ter devido à renda que ele possibilitou ou ao comprovante de que recebimento
mensal da CONAB?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________
67