Artigo Joviles Tammy PDF
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CAMPUS CHAPECÓ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUACAO EM EDUCACAO (PPGE)
MESTRADO EM EDUCAÇAO
Resumo
O presente artigo abordará, brevemente, as relações sobre a história da implantação da Escola
de Artes de Chapecó, com os momentos políticos, históricos e culturais da educação
brasileira, na perspectiva das questões ligadas ao gênero2. Ao final, será apresentado um
histórico dos últimos 11 anos da presença do gênero masculino no contexto da dança clássica,
no centro de formação educacional da referida Escola.
Abstract
This article will briefly discuss the history of the implementation of the School of Arts in
Chapecó, with the political, historical and cultural moments of Brazilian education, from the
perspective of gender issues. At the end, it will be presented a history of the last 11 years of
the presence of the masculine gender in the context of classical dance, in the educational
center of the said School.
1. Introdução
O homem sempre esteve buscando formas de se expressar e uma delas é através das
manifestações artísticas, sejam elas plásticas, musicais ou cênicas. A arte como expressão
tornou-se parte do cotidiano humano.
1
Mestranda em Educação no PPGE da Universidade Federal da Fronteira Sul (2018). Especialista em gestão e
produção em Dança pela Faculdade Inspirar (2013). Bacharel e licenciada em Dança, Faculdade de Artes do
Paraná (2011).
2
Não haverá aprofundamento teórico sobre as questões ligadas ao gênero, apenas as questões históricas.
A Arte-Educação no Brasil vem passando por diversas mudanças para que consiga
contribuir de forma significativa na formação de um ser com uma vivência artística consciente
do patrimônio artístico-cultural e ativo em novas produções no presente.
A Escola de Artes de Chapecó, fundada em 1979, é avaliada como um marco
significativo na arte e educação regional. Sua criação e desenvolvimento são considerados
como uma das maiores manifestações culturais do município de Chapecó.
As relações sobre a história da Escola de Artes de Chapecó aos momentos políticos,
históricos e culturais da educação brasileira são fatores necessários de estudos para uma
análise contemporânea da presença do gênero masculino na dança clássica neste importante
centro de formação.
2. A Arte-Educação no Brasil
Antes de iniciarmos um breve histórico da Arte-Educação no Brasil, é necessário
conhecer e entender que esta é uma proposta iniciada a partir das ideias do filósofo inglês
Herbert Read (1983), apoiada por educadores, artistas, filósofos e psicólogos.
...A Educação através da Arte é, na verdade, um movimento educativo e
cultural que busca a constituição de um ser humano completo,
total...valorizando os aspectos intelectuais, morais e estéticos... a arte dentro
do sistema nacional...(FUSARI, 1992, p.15)
No início do seu desenvolvimento, a arte no Brasil era dirigida aos aristocratas e a
educação valorizava excessivamente a literatura, conferindo as tarefas manuais aos escravos,
pois havia um elevado preconceito em relação às atividades manuais. Os Jesuítas
monopolizavam a educação e o seu modo educativo influenciou a sociedade até o ano de
1759, quando foram expulsos do Brasil por razões políticas e administrativas da coroa
Portuguesa.
Duas tem sido as principais causas que muito tem concorrido para o
vergonhoso atraso em que se acham entre nós as artes industriais; a 1ª
provém da falta de vulgarização do desenho, a 2ª desse cancro social que se
chama escravidão... Por isso onde se acha estabelecida a escravidão, o
trabalho da agricultura e artes fica desonrado, como única ocupação de
cativos. (FERREIRA, 1876, p. 23-25 apud CARAMORI, 1998, p. 16)
Somente no início do século XX é que houve a implantação de um novo sistema na
educação brasileira. Este sistema era constituído pelas escolas primárias normais profissionais
e posteriormente industriais, dominando ainda os princípios liberais. Na escola primária havia
dois tipos diferentes de orientação, uma baseada no desenho geométrico e outra no desenho
natural. A educação popular, profissional e técnica, baseavam-se na convicção de ser o
desenho o alicerce para o ensino industrial. Na escola secundária predominava a filosofia dos
estudos que possivelmente seriam treinadores da mente e transmissores da cultura em geral.
Enquanto isso, a legislação brasileira da época não previa a educação artística como
componente curricular na escola primária, apenas contemplava o ensino do desenho que, em
princípio, era o geométrico.
Com os cursos ministrados pelo professor catedrático da Universidade de Modena da
Itália, Ugo Pizzoli em 1914, é que inicia a conscientização a cerca da natureza das crianças e a
compreensão empírica da criança como ser “sui generis”, com características próprias,
potencialidades orgânicas e funcionais com determinação de objetivos e métodos.
No entanto, a primeira grande revolução metodológica no campo a Arte-Educação
deve-se ao movimento da “Semana da Arte Moderna de 22”, com Anita Malfatti e Mário de
Andrade que organizaram classes de Arte para crianças semelhantes às inovadoras classes de
Franz Azek na Áustria. Mário de Andrade escrevia artigos sobre a arte da criança, dirigindo
uma pesquisa sobre a expressão infantil e organizando um curso de história da Arte, onde a
arte da criança era estudada e enfatizada como expressão autentica e espontânea. Mário de
Andrade tinha uma preocupação em decodificar modelos pelos quais os adolescentes veem a
Arte e que tipo de arte preferem e o quê os levam a ter preferência.
Somente nos entre os anos de 1935-1940 é que a ideia de livre-expressão alcançou a
escola pública. Isso veio aliado a uma crise política, com mudança da oligarquia para a
democracia, o que exigiu reformas educacionais.
O movimento da “Escola Nova” explodiu no país, numa tentativa de transformar o
deficiente sistema educacional. Fortemente influenciados por Dewey, Claparéde e Decroly, os
líderes do movimento afirmaram a importância da arte na educação para o desenvolvimento
da imaginação, criatividade, intuição e inteligência da criança.
De acordo com Caramori (1998), quando a livre expressão nas escolas primárias
estava no auge, o Estado Novo iniciou uma regressão no campo educacional. Em 1945, com a
queda de Getúlio Vargas, é que a educação é novamente considerada e se retoma alguns
princípios do movimento “Escola Nova”.
Em 1948, há o início da renovação da Arte-Educação no Brasil. A criação da
“Escolinha de Arte do Brasil” por Augusto Rodrigues no Rio de Janeiro fez com que se
iniciasse no país uma valorização da arte como livre expressão, abrindo caminhos para o
acesso a arte para todos. No entanto, o governo não deu à arte o devido valor devido o seu
potencial contestador, afinal um cidadão com consciência crítica adquirida através da arte
pode tornar-se capaz de perceber mais concretamente o rumo da sociedade em que está
inserido, criando meios, principalmente pela arte, com que os demais tomem consciência da
realidade e possam, ou não, transformar futuros caminhos.
200
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2016
2017
2018
6.2 Aspectos históricos e sociais que levaram a baixa presença masculina no ballet clássico
Historicamente, até o fim do século XVIII, o homem era o responsável por
interpretar grandes papéis nos ballets clássicos, assim como a técnica era desenvolvida em sua
maior parte para a valorização do masculino em cena. Foi a partir do século XIX que ocorreu
o apogeu do feminino na dança clássica, atrelando assim a feminilidade e a suavidade à
técnica. Desde então, de acordo com Hanna (1999), há um pré-conceito do masculino, como
gênero e sexualidade na prática do ensino do ballet clássico, seja no discente ou docente.
O estranhamento causado pela visão de um homem ser bailarino clássico é
consequência do processo social de classificação de gênero, sexualidade e feminilização do
ballet. Segundo Sorignet (2004), um homem em um ambiente dito como feminino,
rapidamente tem sua sexualidade questionada. Essas pré-determinações de condutas entre
homens e mulheres, de acordo com Scott (1995), são reproduzidas por gerações e, no entanto
a definição de gênero é um elemento constitutivo das relações sociais, baseado nas diferenças
percebidas entre os sexos, e não a partir da fisiologia.
A partir deste conceito de gênero e sexualidade, o ensino do ballet passa por uma
inquietação com a maneira de como lidar didaticamente com a masculinidade na técnica, na
cena e na aproximação do homem pelo ballet clássico. Enfretamentos e abertura de novos
caminhos para o masculino na dança clássica são necessários para que tal técnica não seja
inibida entre meninos. O ensino desta técnica, assim como no âmbito da educação infantil e
fundamental “representam e dão sustentação ao processo geral de desenvolvimento humano”
(CEVASCO, 2008, p.8), desenvolvendo assim aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e
sociais, cabendo ao professor desta técnica distinguir e aplicar conceitos de gênero e
sexualidade com os alunos, afim de que a inserção do masculino no ballet seja naturalizada
pela sociedade.
Referências
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Arte-Educação no Brasil. 2 ed., São Paulo:
Perspectiva, 1986.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 24ª Ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
CEVASCO, Maria Elisa. Dez lições sobre estudos culturais. 2. Ed. São Paulo: Boitempo,
2008.
HANNA, Judith Lynne. Dança, sexo e gênero: signos de identidade, dominação, desafio e
desejo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
IGUAÇU, Diário do. Ex-prefeito de Chapecó, Milton Sander, faz avaliação do centenário
da cidade. Disponível em: <http://www.diariodoiguacu.com.br/noticias/detalhes/eu-gostaria-
que-chapec-tivesse-no-mximo-350-mil-habitantes-36591>. Acesso em: 04 de janeiro de 2019.
SCHWARCZ, Lilia, STARLING, Heloísa. Brasil: uma biografia. 2ª Ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2018.
SCOTT, Joan Wallace. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Porto Alegre:
Educação & Realidade. Vol. 20, 1995.