Investigação Acerca Da Performance e Seus Aspectos Relacionados A Preparação Do Performer
Investigação Acerca Da Performance e Seus Aspectos Relacionados A Preparação Do Performer
Investigação Acerca Da Performance e Seus Aspectos Relacionados A Preparação Do Performer
INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTE DRAMÁTICA
Dezembro de 2010
Dedico esse trabalho a Tai e agradeço à minha família
pelo apoio, ao Ezelino pelas conversas, a Profa. Suzi
pelas tais “lamparinas”, a profa. Silvia por incentivar, ao
Elcio Rossini, a Alexandra Dias, ao Marco Paulo Rolla
pelas contribuições valiosas e ao Joseph Beuys pelo
choque provocado.
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................05
2 OBJETIVOS............................................................................................................08
3 SOBRE ASPECTOS E CARACTERÍSTICAS DA PERFORMANCE....................09
4 PRESENÇA FORTEMENTE AFIRMADA..............................................................12
5 SOBRE O MEU PROCESSO DE CRIAÇÃO.........................................................15
6 SOBRE ATUAÇÃO ................................................................................................18
7 O FAZER ARTÍSTICO E O FAZER PEDAGÓGICO..............................................21
8 SOBRE A PREPARAÇÃO DOS PERFORMES.....................................................22
CONCLUSÃO............................................................................................................26
REFERÊNCIAS..........................................................................................................28
ANEXOS....................................................................................................................30
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1 INTRODUÇÃO
O contato prático e teórico com a performance art , que se caracteriza por ser
um espaço interdisciplinar e que busca romper os limites entre as linguagens
artísticas, aproximou-me da arte contemporânea de maneira mais atualizada e
instigante. Esta aproximação trouxe-me, também, um questionamento sobre o que é
arte, qual o espaço da arte e da vida, e os cruzamentos existentes entre esses
territórios.
A performance art é fruto das transformações ocorridas na Arte na pós-
modernidade, tornando-se um espaço/tempo privilegiado para a pesquisa teatral.
Por colocar fora de ordem certas convenções do teatro, a performance contribuiu,
também, para as discussões em torno da interpretação/atuação do ator. Na
performance o ator não está comprometido com a estrutura em torno do drama. Sua
meta é a articulação do objeto, do tempo e do espaço através da ação, valorizando o
aqui-agora. A ficção mistura-se com a realidade e assim o ator faz a ligação entre as
esferas vida e arte, transitando, o seu corpo, nessa zona de indefinição (ROSSINI,
2005). Essa zona de indefinição se caracteriza pela ruptura com a representação.
Através do estudo de aspectos da performance podemos compreender
melhor as transformações ocorridas na arte em nosso tempo. Para aprofundar meu
conhecimento referente à expressão artística da performance, resolvi experimentar-
me como performer também. Além disso, utilizei entrevistas com outros artistas. Os
materiais teóricos consultados serviram de base para esta pesquisa que pretende
investigar as formas de preparação que artistas da performance usam para atuar.
Minha formação, tanto no curso de Licenciatura em Teatro, no Departamento
de Arte Dramática da UFRGS, como nas oficinas e cursos que frequentei, como o
TEPA (1996), por exemplo, atendia parte das necessidades surgidas na experiência
vivida na disciplina Laboratório Experimental de Teatro I, ministrada por Elcio
Rossini, em 2006, no Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Além do estudo
da performance art, também tínhamos a tarefa de criar uma performance. Através de
vários estímulos, entre eles, usar imagens de performances já criadas por diferentes
artistas como referência, criei a minha própria performance que, agora, veio a ser
intitulada QUEM. Uma pequena foto de Yoko Ono atrás de uma estrutura de tecido
com algumas palavras entrecortadas me serviu de inspiração. Naquele momento
6
surgiu, então, a idéia de fazer algo usando um tecido que delimitasse dois lados.
Élcio sugeriu o uso de um retroprojetor e, automaticamente, eu tinha uma sombra
como objeto cênico. Da interação sombra/tecido/corpo cheguei a uma forma que
considerei instigadora como instrumento de comunicação.
Até então, toda a minha prática artística tinha sido no sentido da construção
da personagem coerente com a estrutura de uma dramaturgia. Neste tipo de
criação, meu corpo era preenchido pelo conteúdo personagem, com suas
características bem definidas, tanto psicologicamente como fisicamente. Para esse
tipo de construção de personagem existe toda uma gama de exercícios, de jogos e
de técnicas. Mas, em se tratando de performance, quais recursos utilizar para
chegar ao corpo que em cena não é sustentado pelo personagem ou por uma
dramaturgia? E mais, qual natureza (significado) desse corpo/presença na
performance?
Como professora do ensino fundamental e médio, na rede pública estadual,
constato que a visão da arte nas escolas, de um modo geral, ainda é a “moderna” ou
a das “belas-artes”. Acredito que o estudo da performance como manifestação
artística da pós-modernidade, pode contribuir para uma atualização dessa visão, já
que ela é vista por muitos teóricos das artes (Goldberg, 2006) e do teatro
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2 OBJETIVOS
A partir dos anos 1970, iniciam-se, sobretudo nos Estados Unidos, estudos
sobre a performance (Performance studies), ampliando o conceito para além do seu
aspecto artístico. Diretor de teatro e editor da revista The Drama Review, Richard
Schechner (2003) constata que a performance art é apenas uma das formas do ser
humano performar e que defini-la como tal vai depender da cultura em que está
inserida e do pensamento dominante de determinada sociedade. Segundo
Schechner (2003), a performance é definida como uma “conduta restaurada” e “tipo
de conduta comunicativa que forma parte de, ou é contígua com cerimônias rituais
mais formais, reuniões públicas e outros vários meios de troca de informações e
costumes”. Para ele “Mostrar-se fazendo é performar: apontar, sublinhar e
demonstrar a ação”. E ainda, performar é o resultado de certas ações:
• Ser – comportar-se
• Fazer – atividade de tudo o que existe
• Mostrar fazendo – performar
• Explicar essa exposição do fazer – reflexão sobre a performance
11
definição características
- associa, sem conceber ideias, artes
plásticas, teatro, dança, música, vídeo,
poesia e cinema.
“Teatro das artes visuais” que
Pavis - É apresentada não em teatros, mas em
surgiu nos anos sessenta.
museus e galerias de arte.
- Efemeridade e falta de acabamento da
produção.
Caráter de descrição dos fatos;
Engajamento total do artista, colocando em
Férral Execução de ações
cena o desgaste que caracteriza suas
ações
Tipo de conduta comunicativa
que forma parte de, ou é
contígua, com cerimônias rituais - Condutas restauradas
Schechner
mais formais, reuniões públicas - mostrar-se executando a ação.
e outros vários meios de troca
de informações e costumes.
Prática artística que se
desenvolve como gênero ao
longo da segunda metade do -resistir a definições
sec. XX. -desconstrução de modos tradicionais de
Trata-se de um gênero produção e recepção artística
E. Fabião
multifacetado, de um -ênfase no corpo como tema e matéria
movimento, de um sistema tão -desconstrução da representação,
flexível e aberto que dribla desinteresse pela ficção
qualquer definição rígida de
arte, artista, espectador ou cena
Linguagem de experimentação
-"reforçar o instante e romper com a
Cohen e
representação".
Expressão cênica
- aproximação entre vida e arte.
12
cada movimento, que gera essa presença capaz de manter-nos ligados ao que
acontece em cena.
Essa noção de presença, em Hans-Thies Lehmann (2007), é auto identidade
e só existe por causa de um cotidiano estabelecido, uma pessoa é uma quantidade
de possibilidades diversas, sendo, então, a presença uma ilusão.
O corpo do artista performando evidencia a construção/desconstrução das
identidades assumidas na experiência social. Buscando a desconstrução, temos
uma revelação de outro corpo possível, outra relação com a vida e com a arte se
estabelece. A partir dessa nova maneira de vivenciar o corpo, mais livre do tempo e
dos papéis desempenhados no dia-a-dia, o performer procura compartilhar com o
outro seu desassossego com as coisas da vida.
Como observa Schechner:
Ela não existe pelas características físicas do indivíduo, mas sim em uma
energia vibrante, da qual podemos sentir os efeitos mesmo antes de o ator
agir ou tomar a palavra, no vigor do seu estar no lugar(...) De certa forma, a
aptidão para a concentração age sobre a qualidade da presença
(RYNGAERT, 2009 p. 55-56).
15
Por outro lado, sem um personagem, eu teria que falar por mim mesma. Meu
corpo teria o meu gesto, não o meu gesto cotidiano, certamente, mas outro que não
sabia dizer qual era. Foi um processo de autonomia como artista que vai ao
encontro com o que é sugerido por Cohen (1989):
O como a ação acontece é que passa a ser o centro de interesse e não mais
a história que será encenada. O corpo do performer não esconderá as dificuldades
por qual passa e expõe, “ao vivo e a cores” sua realidade psicofísica.
Estabelecendo uma quebra com a ficção, a atuação em performance, propõe
outras questões e relações para o corpo, que são diferentes da relação
ator/personagem do teatro tradicional. Essa dicotomia ator/personagem presente na
representação teatral, na performance se amplia, pois o que esta em questão são
vários papéis, tendo em vista a ruptura mencionada:
Figura 5
A pesquisa como prática para o professor de Arte deve ser uma constante. A
pesquisa alimenta e integra o trabalho pedagógico desenvolvido em sala de aula
com o trabalho artístico, encontrando situações comuns a esses universos. Através
do processo pedagógico o professor de Arte incorpora o ambiente da escola e o seu
relacionamento com os alunos ao seu fazer artístico e vice-versa. O aluno ganha
com esta prática, pois o processo de criação estará sempre em desenvolvimento a
partir das experiências vividas na pesquisa pelo professor e por ele mesmo.
Segundo Dantas (1999):
Por lidar mais diretamente com o momento presente e ter um contato mais
direto com o público como indivíduo e não como um personagem, a preparação do
performer exige uma “energização” do corpo diferenciada da do personagem. São
muitos os artistas que lidam com a performance que referem ao trabalho com a
energia para que a sua presença possa ser a força que sustentará a cena.
Direcionando a energia disponível que, geralmente, se dispersa nas tarefas
cotidianas, para a ampliação da presença, o performer cria, desta forma, um campo
mítico (COHEN, 1998) onde vivenciará a experiência da performance. Em entrevista
concedida a este Tcc, Marco Paulo Rolla fala sobre sua preparação: “eu não atuo
simplesmente, eu medito, transmito energia, crio uma presença” (vide anexo).
Para chegar a essa presença fortemente afirmada de que fala Féral e como
diz Cohen (1998) , adentrar esse campo mítico, o performer usa uma forma de
preparação que, muitas vezes, vai cruzar o espaço da arte e da vida. O performer
vai ao encontro do que muitos autores chamam de estado zen, como veremos nos
exemplos a seguir.
Sobre Eletroperformance (espetáculo de Guto Lacaz), Cohen diz que “... não
existe esse trabalho de preparação do performer. Isto é intencional, não existe a
preocupação com a interpretação. O artista esta livre (das técnicas teatrais) e anda e
fala no espaço cênico como quiser” (COHEN, 1998, p. 86). A preparação do
performer depende do artista, da criação em questão e de sua prática, isso porque a
performance é uma arte interdisciplinar, abrangendo artistas oriundos de várias
linguagens artísticas.
Cohen, em Work in Progress na cena contemporânea, descreve a
preparação dos “atores-performes”, para suas performances, como “formulado a
partir da empiria (laboratórios, vivências, workshops, montagens de peças) e de
cruzamento de conceitos diversos (sistema gurdjeffiano, modelos budistas, Gestalt),
essa conceituação advém de percepção, sensação, ideação.” (1998, p.67).
Pretende-se, com ela, adentrar o “campo mítico”, descrito como “um tempo-espaço
que se insere no tempo cotidiano (experiência do ordinário, das relações objetivas)”
(p. 67, 1998). A partir de laboratórios com atores, Cohen (1998) observou algumas
práticas que facilitam a instauração desse campo mítico como: inteireza,
adensamento, exacerbação, ampliação da presença – colocação do potencial
psicofísico inteiramente alinhado com o trabalho presente .
Como exemplo dessa preparação variada e diferenciada da de um ator do
teatro tradicional, por exemplo, cito os “Trabalhos em Campo Pessoal” (presentes
em Work in Progress na cena contemporânea) que consistem em exercícios tais
como: amplificar a atenção e registrar os acontecimentos cronologicamente para, no
dia seguinte, a partir da lembrança, representar, através da escrita, esses
acontecimentos; representar, através de desenho, imagens internas e seu campo
dinâmico de forças.
Eleonora Fabião (2008), no artigo “Performance e teatro: poéticas e políticas
da cena contemporânea” coloca que essa preparação trata-se de “experiências que
possibilitam um confronto cru com a fisicalidade, com a metafisicalidade; confronto
este que, penso, tonifica o atuante para além de gêneros ou técnicas específicas”
(Fabião, 2008, p. 241). A autora cita as propostas de Marina Abromovic, em seus
workshops: “durante um período de uma hora, escreva seu nome apenas uma vez
num papel branco sem levantar a caneta” ou “andar para longe de casa; parar;
vendar-se; encontrar o caminho de volta” ou “da manhã até à noite, movendo-se o
mais lentamente possível, fazer as ações cotidianas” (Fabião, 2008, p.241).
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
BONATTO, Mônica Torres. Juntou deu nisso: percursos entre arte contemporânea
e processo de criação na escola. Dissertação - Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Instituto de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas. Porto
Alegre, 2009.
ROSSINI, Elcio. Objetos para ação. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, 2005.
WEBER, Suzane. The Sunday Project: por uma prática reflexiva e colaborativa.
Revista Repertorio, 2010
ANEXOS
Entrevista com Elcio Rossini
4. Como é, para ti, essa relação da atuação e não atuação no corpo que
vive nessa zona de indefinição?
Tem uma citação interessante: o corpo do artista, já de imediato,
representa alguma coisa na performance. Em primeiro lugar porque ele é
o artista fazendo algo. Eu acho que tem duas noções que nós
poderíamos trazer que é: o teatro pensa muito num corpo preparado ,
numa determinada tonicidade, numa determinada qualidade de ações. A
performance, especificamente do campo das artes visuais, não pressupõe
o mesmo tipo de qualidade. Poderíamos pensar que qualidade é essa. Às
vezes, esse corpo que é interessante de ser visto não está numa
preparação física, está numa integridade de eu estar fazendo algo na
frente de alguém, o quanto estou engajado nessa ação. Isso não é uma
conversa que tenha fim, uma resposta única. Muitos pesquisadores e
artistas se debruçam sobre esse problema sem encontrar uma solução
exata. O que faz com que eu me torne interessante para o outro ver, que
minha ação se torne interessante? Em relação ao atuar e não atuar, tem
um autor que fez uma análise muito simples, mas eficiente de um
determinado ponto de vista. Ele propôs uma escala entre o atuar e o não
atuar e pensou que o que está em jogo nisso. Ele começou a perceber que
tem coisas que são lidas como atuação e, às vezes, a pessoa nem está
atuando. Tem quantidades de atuações que são colocadas no ator sem
que ele necessariamente atue. Um dos exemplos que ele cita : na época
do natal uma pessoa que trabalha como Papai Noel está tomando um
lanche numa lancheria. Tu vê o cara vestido de Papai Noel na lancheria,
tu sabe que ele não é o Papai Noel, ele tá ali no intervalo do trabalho.
Numa outra situação agente vê essa mesma pessoa atuando como Papai
Noel em um cenário decorado. Então, através desses elementos que
rodeiam o ator que é a roupa, a circunstância, tu podes ir acrescentando
níveis à idéia de atuação sendo que, o não atuar, a gente pode questionar
se isso existe ou não. Não existe, porque de alguma maneira tu tá
sempre colocando alguma coisa. Às vezes, é muito mais interessante
essa atuação que não está no palco, que é muito mais coloquial, alguma
coisa tu chama naquele momento que torna interessante para o
outro.Essa questão começou a ser muito tratada, as pessoas têm falado
muito nisso. Uma coisa interessante nesse caso é que o ator não é mais
aquele cara que interpreta um papel, que vive um tempo diferente desse
aqui. A ideia de performer rompeu com isso, o ator pode ser
parcialmente ele, evocando para seu corpo determinadas qualidades sem
viver o papel que seja de um outro . A ideia de tempo também tá
colocada nisso, não é uma representação, a ideia de performance
ampliou o campo porque mesmo as performances dos artistas
contemporâneos existe representação , as vezes, estão representando no
sentido clássico da palavra. É tão difícil hoje agente criar um limite.
5. E como a idéia de tarefa, que tu refere em tua dissertação, se relaciona
com a performance?
A tarefa, descolada da referência artística, também é uma coisa do
cotidiano. Se agente considera aquele texto da Roselee Goldberg, a
performance teve origem no futurismo e depois foi retomada nos anos 60,
onde se estabeleceu mesmo como agente conhece hoje. Ali essa mistura
entre arte e a vida, essa coisa da individualidade, do próprio artista estar
se colocando em ações muito banais, fazendo tarefas cotidianas esta
colocada. Na própria palavra tarefa cabem varias coisas, como na
performance também. Ao mesmo tempo que é um gênero, ela também
diz outras coisas, esta em todos os cantos. São palavras que começaram a
adquirir um tamanho que não tem fim. A performance não é só isso de
apresentação, além de ser desempenho ela esta sendo empregada em
outras áreas do conhecimento, em outros campos.
6. Como tu começou a trabalhar com performance?
Eu comecei nesse laboratório, que fiz no DAD. Nos meus últimos
trabalhos eu sempre tive um fascínio pelo objeto, por causa da minha
formação, claro. Em vários trabalhos eu ia levando para os atores
objetos. A tendência do ator é sempre a representação . Eu comecei a
desenvolver um objeto que é um inflável e quando eu levava para os
atores eu tinha uma dificuldade de usar o que eles fazim por causa dessa
tendência. Eu quis, logo no início, trazer uma ideia de dança , de
coreografia, de agrupá-los , bem uma ideia de coreografia mesmo. Eu
fugi dela por um certo receio de entrar num campo que eu desconhecia
que é a dança. Hoje estou bem a fim de experimentar isso. Daí que eu
comecei, com aqueles objetos. E vi que era um campo interessante.
Também porque teatro é uma coisa difícil de fazer . Eu tenho,
periodicamente, interesses muito diferentes. Ao longo de minha trajetória
como artista, eu fiz muitas coisas diferentes, mudando de rumo, trocando
totalmente. Agora eu acho que estou mais estabelecido, as coisas
conversam e estão mais entremeadas e por isso a performance é um
caminho interessante e porque eu resolvo sozinho.
7. Tu te consideras um performer?
Eu gostaria de me considerar um artista. Como um artista
contemporâneo, nos momentos oportunos, eu uso os determinados
gêneros. Por isso não me considero um performer ou ator. Eu não queria
voltar a atuar, mas ali com o trabalho, com as alunas, me deu vontade
de voltar a fazer. Também porque a Romanita, minha orientadora, ficou
questionando o porque eu não fazia também. E com os objetos eu sempre
precisei experimentá-los, dominar o movimento, saber sobre ele, até para
construí-los, então eu já tinha essa prática e acho que foi uma coisa
natural. E hoje eu tenho feito. Sobre esta experiência tem sido muito
bom falar, eu tenho gostado, nesse caso onde a duração é importante e
tem alguns conceitos que estou explorando. Depois dessa, apresentei
outros tipos em que a estrutura é a mesma: são durações longas. O que
elas tem de peculiar é serem situações inusitadas e num segundo
momento isso vai se esvaziando essa coisa que parecia muito estranha vai
se esvaziando e tornando banal por ser repetida. Criar uma relação com o
lugar, pensar a ideia de instalação, de coisa que muda, por exemplo, a
forma, mas mantendo essas estruturas que te falei, o tempo, a ideia de
repetição.
Cada obra pode solicitar uma metodologia própria que será desenhada a
medida de seu processo; assim, posso adotar procedimentos variados de
acordo com o movimento da própria criação. No entanto, partindo da idéia
de que o treinamento se trata de um processo para a escuta aguda e
íntima de si mesmo – uma definição muito própria de arte de performance
- , ele transborda para ir além de uma obra específica, para fora da sala e
do tempo do ensaio. O treinamento não está em função do espetáculo, ele
percorre a vida, vibra quando dialogo com meu processo e quando aguço
a escuta. Quando não estou na obra, também estou treinando. Assim,
uma consciência aguda de si é o que move o treinamento. Esta
consciência se relaciona com o estudo do corpo que busca, através da
experimentação com o movimento, novas possibilidades, explora riscos,
limites, coloridos. O mergulho acontece quando percebemos que a criação
se dá o tempo todo. Essa imersão no processo de si se relaciona com a
opção por uma técnica, uma visão de corpo que encontra seu espaço na
profunda relação do performer com seu movimento. Um espaço íntimo de
descoberta dentro de si mesmo vem de um mergulho profundo do
performer no seu corpo e no que o envolve. É através dessas descobertas
que podemos encontrar um lugar muito próprio e é a partir disso que nos
posicionamos, nos relacionamos com o mundo, politicamente, e com
outros artistas.
Sim, creio que existam diferenças, assim como existem múltiplas visões
de corpo. Porém penso que o que define essas diferenças não está no
limite - muitas vezes poroso - que distingue uma arte da outra. Desta
forma, no momento, me autorizo a falar a partir do meu entendimento -
que parte de uma prática específica - do que está implicado no meu modo
de ver/pensar corpo:
Sim.
Posso dizer que, se “Assassino” (espetáculo solo dirigido por Irion Nolasco
em 1999) despertou a minha vocação e desejo autoral, o texto de
Margolin legitimou e impulsionou para todas as direções esta vontade. Eu
vibrei com cada palavra da autora e queria mais. Foi assim que eu entrei
na arte de performance, através das palavras da artista. A performance se
insurgiu diante de uma emergência pessoal como uma possibilidade
fantástica.Desta forma, a minha noção de autoria e de performance – pois
são noções interdepentendes – estão diretamente relacionadas as
concepções que Margolin apresenta naquele primeiro texto que li e em
outros que fui encontrando ao longo do meu caminho como Guillermo
Gómez-Peña, La Ribot, Rachel Rosenthal, Deborah Hay.
Entrevista com Marcos Paulo Rolla
Este processo foi muito natural em minha pessoa, desde criança mesmo
me apresentava sempre na escola, estudava piano desde os 5 anos,
gostava de dançar desenhar, representar, música...etc. Fiz música e piano
até os 22 anos, mas aos 18 entrei para escola de Belas Artes. Também
junto estava sempre envolvido com teatro e dança.
Sim, mas como um todo sou artista, pois trabalho com muitos
outros materiais.