Escrevivência de Um Andançarino

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DANÇA

LICENCIATURA EM DANÇA

RUI MOREIRA

Escrevivências de um andançarino: ritos de passagem na cultura


(e) nas artes no Brasil - Lei da Dança e (PNA) Política Nacional
das Artes

Porto Alegre
2022

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RUI MOREIRA

Escrevivências de um andançarino: ritos de passagem na cultura


(e) nas artes no Brasil - Lei da dança e (PNA) Política Nacional
das Artes

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Licenciatura em Dança, da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciado em Dança.

Orientadora: Professora Luciana Paludo

Porto Alegre
2022

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RUI MOREIRA

Escrevivências de um andançarino: ritos de passagem na cultura


(e) nas artes no Brasil - Lei da Dança e (PNA) Política Nacional
das Artes

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Licenciatura em Dança, da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciado em Dança.

Orientadora: Professora Luciana Paludo

Aprovado em 11/05 /2022

______________________________________________

Profª Luciana Paludo (Orientadora)

_______________________________________________

Prof. Jair Felipe Bonatto Umann

Porto Alegre
2022
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Dedico à minha mãe, Conceição Camargo (in
memoriam), e aos meus antepassados que
estão sempre comigo, mesmo quando penso
que estou sozinho.

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AGRADECIMENTOS

A vida, da forma que vivo, vejo e entendo, se apresenta em ciclos, em uma sucessão
de estados provisórios. O fim não é um estado definitivo, ao contrário é sempre o início de
algo transformador e surpreendente. O fim se transforma no início do novo.
Neste momento em que estou concluindo mais uma etapa de um esforço da minha
humanidade, me percebo sensível a tudo e a todos que emitiram energias que me provocaram
equilíbrios e desequilíbrios dentro da cosmogonia proposta e instaurada pelo curso de Dança
na ESEFID dentro da UFRGS. Fui afetado e busquei reagir às vibrações usando todas as
ferramentas que eu trazia e já sabia usar, e outras ali reveladas que eu nem imaginava para que
serviam. Adquiri conhecimentos e degustei saberes diversos que aguçaram meus sentidos.
Me sinto valoroso por ter valorizado cada encontro, cada mestra, cada mestre com quem
cruzei caminhos nesta etapa.
Esta vivência me trouxe de maneira potencializada perguntas, reforçando minhas
convicções sobre que sempre precisamos de boas perguntas para seguir. Interrogações
criativas, novos projetos, outras perspectivas. A docência dentro do curso, me foi apresentada
como um grande desafio e como uma missão, que para ser colocada em prática é preciso
entender alguns requisitos que compõem de maneira ritualística o ato da ensinagem. Ou seja,
a ação de ensinar é definida na relação com a ação de aprender, pois, para além da meta que
revela a intencionalidade, o ensino desencadeia necessariamente a ação de aprender.
Por essa mirada, agradeço as mestras, mestres e os estudantes que encontrei na
ESEFID, na FACED, mas de maneira especial agradeço minha orientadora professora
Luciana Paludo por me afetar por seu exercício constante de poetizar a objetividade. Não foi
fácil atingir a intensidade proposta por ela, mas me esmerei ao máximo. Agora sigo, e atento
me aproximo do expediente do “griot” para expor através da minha oralidade escrita, pontos
de vista sobre os conteúdos presentes nos temas que aqui escolhi discorrer.

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O desterrado
Ele é sozinho
Ele anda sozinho o tempo inteiro,
mas ele tem a percepção de que ele é também todos os homens
E é além e aquém do homem até
Ele é parente dos antílopes
Pelos movimentos que ele faz
Ele chama para si este parentesco
E justamente a construção desta outra possibilidade
De ter parentesco com um animal
De toda a história em relação com toda história do homem
É que possibilita a leveza dos passos dele
Ele já deixou de ser apenas um andarilho ele é um andançarino
mas isso não rompe também, por outro lado, esta solidão dele.
ele continua mirando miragens
ele continua representando o mito de Sísifo
essa maldição de empurrar morro acima
diariamente a mesma pedra
empurra até o alto do morro
e no dia seguinte tem que recomeçar tudo.
Mas ele faz isso com a leveza
Com a leveza adquirida por quem
Erra e vaga pela terra
sem ter que ter limitações de fronteiras e leis
Ele constrói na verdade um idioma
Com o qual ele não só fala com as coisas
Como faz com que elas falem também
É um pouco a ilusão de ótica
Esse redemoinho que é mítico e simbólico
Ele dança e faz com que tudo dance também
Ou seja, que tudo fale a língua dele
Mas as coisas na verdade não estão falando a língua dele
Ele ao dançar
É que pensa que as coisas dançam com ele
é isso - Ricardo Aleixo 1

1
Texto do poeta Ricardo Aleixo presente no video/documentário Cia. SeraQ. Um processo em movimento –
parte 1 – Poema o Desterrado. Acesso em: 17/05/2022. Disponível em: https://vimeo.com/22512277
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RESUMO

Esta laboração aplicada para a conclusão da minha graduação como licenciado em dança,
apresenta uma investigação pautada nos fatos históricos apontados como disparadores da
necessidade da formulação de leis específicas para o exercício da Cultura, e dentre estas, uma
que renove a visibilidade institucional das práticas no âmbito profissional da dança no Brasil.
O foco desta pesquisa se centralizou na análise do desenvolvimento de processos ligados ao
estabelecimento de marcos legais da cultura realizados no período de 2005 a 2016. Na
condição de artista da Dança, empreendedor cultural e à época, delegado pelo setor da Dança
pelo Estado de Minas Gerais nas Câmaras Setoriais, no Colégio Setorial de Dança, no Colégio
Nacional de Políticas Culturais, como Articulador nacional pela Dança na Política Nacional
das Artes e membro da diretoria colegiada do Fórum Nacional de Dança, acompanhei e
participei de sessões que definiram as prioridades de redação de leis que organizaram o fluxo
da macro cultura no país assim como promovi debates e compus equipes de trabalho que
idealizaram, redigiram e acompanharam a tramitação do projeto de lei específico para a
Dança naquele formoso momento de exercício de uma democracia participativa no país. A
verificação bibliográfica documental de dados, registros contidos na publicação do Ministério
da Cultura - Câmara e Colegiado Setorial de Dança Relatório de Atividades 2005-2010 entre
outros materiais, explicitam a potência do exercício da democracia participativa no debate das
políticas de Estado para o setor cultural. Como pesquisador problematizo o tema com o intuito
de socializar ainda mais os diversos aspectos desvelados naquele momento da política
nacional. As costuras desta pesquisa são tecidas pela minha história de vida, como trabalhador
da dança, Andançarino.

Palavras-chave: Política; Arte; Democracia; Legislação; Dança.

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ABSTRACT

This study, which I applied to the conclusion of my degree as a dance graduate, presents an
investigation based on the historical facts that have been identified as triggers for the need to
formulate specific laws for the practice of culture, including one that renews the institutional
visibility of professional dance practices in Brazil. The focus of this research was centered on
the analysis of the development of processes connected to the establishment of legal
frameworks for culture in the period from 2005 to 2016. As a dance artist, cultural
entrepreneur and, at the time, delegate for the dance sector in the state of Minas Gerais to the
Sectorial Chambers, the Dance Sectorial College, the National College for Cultural Policies,
as National Articulator for Dance in the National Arts Policy and member of the collegiate
board of directors of the National Dance Forum, I accompanied and participated in sessions
that defined the priorities for drafting laws that organized the flow of macro culture in the
country. I also promoted debates and composed work teams that idealized, drafted and
accompanied the processing of the specific bill for Dance in that beautiful moment of the
exercise of participatory democracy in the country. The bibliographic and documental
verification of data, records contained in the publication of the Ministry of Culture - Chamber
and Sectorial Collegiate of Dance - Activities Report 2005-2010, among other materials,
make explicit the power of the exercise of participatory democracy in the debate of State
policies for the cultural sector. As a researcher, I problematize the theme with the intention of
socializing even more the diverse aspects unveiled at that moment in national politics. The
seams of this research are woven by my life story as a dance worker, Andançarino.
Keywords: Policy; Art; Democracy; Legislation; Dance.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................14

2 METODOLOGIA DA PESQUISA ……………………………………………………. 19

3 ANDANÇARINO ...............................................................................................................21

3.1 O BAILARINO – ARTISTA DA DANÇA .......................................................................20


3.2 O COREÓGRAFO / DIRETOR ....................................................................................... 24
3.3 TÉCNICOS, TÉCNICAS E TECNOLOGIAS ................................................................. 25

4 UNIVERSIDADE PÚBLICA ........................................................................................... 27

4.1 PROREXT .........................................................................................................................30

4.1.1 Ballet da UFRGS .......................................................................................................... 31

4.1.2 Diversos Corpos Dançantes (DCD) ............................................................................ 31

4.1.3 Semana Negra ESEFID ............................................................................................... 32

4.1.4 Festival UNIMÚSICA 40 ............................................................................................. 33

5 ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO, POLITIZAÇÃO E CIDADANIA ......................... 34

6 MARCOS LEGAIS ........................................................................................................... 39

6.1. SISTEMA NACIONAL DE CULTURA ......................................................................... 44

7 LEI DA DANÇA ................................................................................................................. 50

8 PNA - POLÍTICA NACIONAL DAS ARTES ................................................................. 54

8.1 SOBRE A FUNARTE/MINC ........................................................................................... 54

8.2 TEVE INÍCIO A CONSTRUÇÃO DO PROGRAMA PNA ........................................... 55

8.3 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA PNA .............................................................. 56

8.4 IMPLANTAÇÃO/ METODOLOGIA .............................................................................. 58

8.5 PNA – ARTICULAÇÃO DANÇA.................................................................................... 62


12
8.6 I ENCONTRO DA DANÇA COM O MINISTRO DA CULTURA ................................ 63

8.7 I ENCONTRO NACIONAL DE GESTORES DE DANÇA ........................................... 66

8.8 PACTO DO RECIFE ........................................................................................................ 73

8.9 CRONOGRAMA PNA 2016 .............................................................................................74

8.10 INTERRUPÇÃO DO PROCESSO ..................................................................................76

CONSIDERAÇÕES FINAIS…............................................................................................ 79

REFERÊNCIAS ………........................................................................................................ 83

ANEXOS ………………………………………………………………………….…..….… 87

13
1 INTRODUÇÃO

O futuro está sempre à sua frente. Ou nas suas costas, cada vez que você dá
meia-volta. 2

Ao acessar minhas próprias memórias, percebo concentrado em mim, preciosas


experiências. Conheci cidades pequenas, médias e grandes, capitais de diversos países da
América do Sul, Central e do Norte; da África; da Europa Ocidental e do Leste; da Oceania.
Artista, trabalhador da dança, atuei em alguns dos mais importantes teatros do mundo, por
mais de uma ocasião, e me lembrarei para sempre do som dos aplausos calorosos em todos os
palcos. Mas guardo na memória principalmente as pessoas que conheci, todas tão plurais,
diversas culturalmente e muito dispostas a estabelecer trocas. No Brasil, viajei de ônibus,
carro, van, avião, barco, para performar nas mais plurais condições. Aprendi muito nas
minhas caminhadas, mas também ensinei algo. Aplico a metodologia da multiplicação
levando o que aprendo para outros grupos. Coleciono lembranças, assim como sei que sou
lembrado por muitas pessoas. Sigo andante, andançarino, pronto para o novo, ou não…
Talvez eu me perceba mais disponível do que pronto para o novo. Me movo reinventando
para mim os palcos e sigo criando, dançando, aprendendo e exercitando a ensinagem. Sempre
reelaborando minha expressão.
No rol das reinvenções, componho o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na
Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É um
trabalho que tem por foco de investigação e centralidade a análise da sazonalidade do
desenvolvimento de processos ligados ao estabelecimento de marcos legais da cultura no
período compreendido entre 2005 e 2016, com alguns espraiamentos de consequências que
chegam no ano de 2022, momento no qual escrevo este breve resultado averiguador. O
período histórico que cito, é considerado por muitos analistas sociais como um momento
crucial e de referência para os mecanismos de pensamento de políticas de Estado para o setor
cultural brasileiro, pois foi aplicado de maneira radical o exercício da democracia
participativa.
A partir desse objetivo é imprescindível que eu componha uma narrativa de minha
história de vida, quero dizer, da minha participação nas instâncias de decisões políticas que

2
Trecho retirado do filme Yaaba (1989), do cineasta de Burkina Faso Idrissa Ouedraogo. Diz a enunciação: “O
futuro está sempre à sua frente. Ou a suas costas, cada vez que você dá meia-volta”. É uma evidência sankofa.
14
foram se constituindo no decorrer do meu exercício profissional com a dança. "A nossa
escrevivência não pode ser lida como histórias para 'ninar os da casa grande' e sim para
incomodá-los em seus sonos injustos" (EVARISTO, 2007, p. 21)3.
Citando o artigo - “Escrevivências" como ferramenta metodológica na produção de
conhecimento em Psicologia Social, publicado na REVISTA PSICOLOGIA POLÍTICA de
autoria de Lissandra Vieira Soares e Paula Sandrine Machado, conforme Evaristo (2009)4, os
personagens negros presentes na literatura hegemônica comumente são representados de
maneira estereotipada, destoando de valores e traços presentes nos demais personagens das
narrativas em questão. São diversas as produções nacionais em que, por exemplo, os homens
negros são descritos como medrosos, submissos, desprovidos de recursos intelectuais ou
mesmo sem voz própria. Nesse mesmo sentido, Bispo e Lopes (2018),5 sinalizam os
privilégios concretos e simbólicos de que gozam as pessoas brancas ao terem 80% dos
personagens da literatura brasileira representados como brancos. Esse cenário - que não se
restringe ao campo literário - é composto, contudo, por diferentes densidades de resistência,
as quais objetivam o reconhecimento da produção escrita, da fala e da performance de
mulheres e homens negras/os por meio da constituição de outras narrativas, plurais e
diversificadas, mas que aqui busco encontrar coesão em um campo que tem sido denominado
de cena artística brasileira. O termo escrevivência aponta para uma dupla dimensão: é a vida
que se escreve na vivência de cada pessoa, assim como cada um escreve o mundo que
enfrenta tal como o vê ou sente.
Falo a partir de minha negritude vivenciada artisticamente pela dança de palco, por ter
percebido a necessidade de sublinhar em minhas caminhadas aqui descritas, uma relação
ampliada com a diversidade e pluralidade social da produção de arte da cena, especificamente
da dança neste país. Nos trâmites de argumentar nos diversos ambientes de ação cultural,
infelizmente pude observar in loco, os intensos processos de invisibilização das matrizes
indígenas e negras em meio à legitimação sobre qual é a cara da arte feita pelo brasileiro no
Brasil. Especialmente nesta sociedade nacional que é formada por mais de 58% de homens e
mulheres de pele preta e parda, irradiadores de cultura afro-indígena, mas educados para se

3
Evaristo, Conceição (2007). Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita.
In: Alexandre, Marcos A. (org.) Representações performáticas brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces. Belo
Horizonte: Mazza Edições, p. 16-21.
4
Evaristo, Conceição. (2009). Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. Scripta. v.13, n.25, p.
17-31 .
5
Bispo, Ella F. e Lopes, Sebastião A. T (2018) Escrevivência: perspectiva feminina e afrodescendente na poética
de Conceição Evaristo. Revista Língua & Literatura, v. 35, n. 20, p. 186-201, jan./jun. Acessado em
fevereiro/2018, de http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistalinguaeliteratura/article/viewFile/2598/2436
15
reconhecer e atuar como brancos de referência europeia. Este ato negacionista acaba
direcionando a valorização da macro cultura que ressalta as manifestações populares, e outros
aspectos genéricos, mas questiona o desenvolvimento de políticas específicas para as
linguagens da arte, muitas vezes desmerecendo o papel da profissão artista na sociedade. Este
conflito de autoimagem impede que haja avanços mais significativos sobre um projeto
educacional inclusivo para nos reconhecermos em nossa diversidade e pluralidade, como
fazedores, irradiadores e consumidores de cultura das artes. Não falo apenas do papel
simbólico, mas abordo também o aspecto econômico e sobretudo cidadão.
O texto tem início por uma INTRODUÇÃO que se refere à temática geral da pesquisa,
seguida de oito capítulos. São eles, com os principais temas abordados em cada um:

● Capítulo primeiro, a INTRODUÇÃO, apresenta o Andançarino, como um anúncio


poético da trajetória de um artista da dança, em primeira pessoa;
● Capítulo segundo, trata da Metodologia utilizada na pesquisa e da Universidade
Pública; evidencia um universo de possibilidades para novas andanças;
● Capítulo Terceiro, Trajetória artística do Andançarino; trajetória de vida, versa
sobre as múltiplas atuações sociais de um profissional das artes, a partir da própria
história de vida;
● Capítulo Quarto, O Andançarino na Universidade Pública, expõe a aproximação e o
percurso dentro do espaço acadêmico;
● Capítulo Quinto, trata de Administração e Gestão, da Politização e Cidadania e
narra a responsabilidade social de um profissional das artes;
● Capítulo sexto, Marcos legais, propõe a aproximação do cidadão comum dos códigos
do juridiquês e apresenta algumas leis específicas da cultura;
● Capítulo sétimo, Lei da Dança, aí são apresentados fatos que mostram a origem do
projeto de uma lei específica para a profissão dança;
● Capítulo oitavo, Política Nacional das artes, traz informações acerca de um
movimento que concentrou boas intenções sobre a fruição das artes no Brasil, mas foi
bruscamente interrompido por um golpe político;
● Nas Considerações Finais, levanto pontos da História moderna/contemporânea a
serem observados e considerados nos ritos de passagens na cultura (e) nas artes no
Brasil;

16
Como consideração final, comento sobre a cartografia que construiu a metodologia
empregada nesta pesquisa e busco tecer um conjunto de reflexões sobre os aspectos por mim
percebidos ao organizar a ordem dos fatos. Ao longo dos anos do meu percurso Andançarino,
dirigi e coreografei diversos elencos, trabalhei com bailarinos, atores, músicos, maestros,
dançarinos profissionais e amadores, organizei equipes de artes com cenógrafos, figurinistas,
artistas visuais, artistas gráficos, técnicos e engenheiros de som e luz. Coordenei montagens
técnicas em teatros, ruas, em praças ao redor do mundo, aprendi a constituir equipes. Como
cidadão, discuti políticas públicas para o setor da dança e das artes com artistas,
parlamentares, argumentando sobre as diversas implicações da dança que sendo atividade
artística, se instaura como profissão socialmente potente que irradia um rizoma produtivo.
Realizei um incontável número de pesquisas e dialoguei com pesquisadores e pesquisadoras, e
tive minha trajetória investigada em inúmeros processos dentro e fora da academia.
Conquistei notoriedade pública, enfim, uma jornada de aprendizados diversos que aplico a
cada vez que sou demandado para uma nova missão.
Minha família, meu berço, tem papel importante na configuração dos meus olhares e
da minha compreensão de mundo. Gosto sempre de pensar que a Barra Funda, bairro
paulistano onde nasci, os encontros de família aos fins de semana, o tamborilar de panelas, de
pratos e as cantigas entoadas durante essas reuniões, os cultos religiosos hibridados pelas
crenças cristãs e afro animistas, se transformaram em um passaporte para os inúmeros portais
que acessei na vida. Subir em árvores, aprender a preparar e a colocar pipas no alto, correr
atrás de bola, ler muitos gibis, criar estradas de terra para meus carrinhos passarem, ter acesso
à cozinha e preparar minha própria comida desde a mais tenra idade, mexer na máquina de
costura de minha mãe de forma autodidata e aprender a fazer calças, camisas, tudo isso me
proporcionou uma saúde cognitiva que estimula meus sonhos e desejos de contribuir com a
existência de novos e melhores momentos para a humanidade. E tudo isso provoca em mim
um sentimento de gratidão pelo passado, pelo presente, e essa sensação é o dispositivo que
embala minha caminhada rumo ao futuro.
Participei intensamente (2003 a 2016) de importantes ações de fomento à formulação
de políticas públicas para cultura, sempre com o apoio, ou melhor dizendo, pela indicação de
núcleos organizados nos setores da rede produtiva da dança. Fui indicado por sindicatos,
associações, fóruns, grupos de dança profissionais, agrupamentos amadores, escolas
informais, escolas técnicas, universidades, empresariado, como representante do setor da
dança. Primeiro representando o Estado de Minas Gerais nas Câmaras Setoriais (2006),

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Colegiado Setorial de Dança (2009), depois no Conselho Nacional de Políticas Culturais
(2013) e por último, como articulador nacional pela linguagem Dança compus o quadro de
atuantes do programa PNA - Política Nacional das Artes (2015 a 2016).
Nestas funções, delegado do setor dança, participei de conferências Municipais,
Estaduais e Nacionais e pude discutir as formulações e sancionamento de leis como a Política
Nacional de Cultura Viva (PNCV), instituída pela Lei nº 13.018, de 22/07/2014 esta
responsável pela criação dos Pontos de Cultura e a primeira política de base comunitária do
Sistema Nacional de Cultura. Sistema este que resultou da Lei nº 12.343 de 02/12/2010
institui o Plano Nacional de Cultura - PNC, Cria o Sistema Nacional de Informações e
Indicadores Culturais - SNIIC. Acompanhei o desenvolvimento do REUNI - Programa de
Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais é um programa
instituído pelo Governo Federal do Brasil através do Decreto 6096, de 24 de abril de 2007, vi
a Agência Nacional de Cinema (ANCINE) atuar com status de Ministério, discuti
modificações estruturais da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE); fui agente de
organização e mediei conversas em evento realizado de forma interministerial entre MinC e
MEC; e desde sempre militei por melhores caminhos para ressaltar socialmente a autonomia
da Dança, e por essa mirada, desde 2005 integro o Fórum Nacional de Dança (FND)
instituição que leva a frente a promulgação de legislação específica em relação ao exercício
profissional dos trabalhadores da dança para Sempre como representante da sociedade Civil,
discuti os temas: educação e cultura, difusão cultural, internacionalização, marcos legais,
pactos federativos para fomento cultural, enfim.
Com estas atribuições e a responsabilidade de representação de coletivos, desenvolvi
métodos para registro dos conteúdos discutidos e das decisões tomadas em reuniões de
amplitudes distintas. Redigi atas, relatos, documentos diversos, alguns compartilhados, outros
guardados e inéditos. Fiz e tenho comigo arquivos de áudio, imagens de vídeo, fotos e ao me
propor através desta pesquisa a trazer pontos da história recente visitei esse material e os
cotejei com publicações em sites, teses e livros que contém organizações de textos produzidos sobre
práticas artísticas e políticas públicas relacionadas à Cultura. Finalizo esta introdução, que tem
como intuito ser um guia de leitura, em relação aos temas que abordo no meu Trabalho de
Conclusão de Curso.

18
2 METODOLOGIA DA PESQUISA

A forma de coleta de dados para pesquisa foi documental e bibliográfica. Para tal
visitei as seguintes fontes:
1. Sites, teses e livros que contém organizações de textos produzidos sobre práticas
artísticas e políticas públicas relacionadas à Cultura. Especialmente para o setor da
Dança, no período compreendido entre os anos de 2005 e 2016.
2. Minhas Memórias, através de anotações e relatórios de minha autoria. Eu estive
presente como representante de coletivos setoriais em muitas situações, portanto era
uma praxe que eu anotasse praticamente tudo, para produzir atas, relatos e ou
publicações dos conteúdos discutidos. Portanto existem fatos aqui descritos que têm
um ineditismo na sua exposição da narrativa histórica.
3. A Escrevivência, com inspirações nas leituras da autora Conceição Evaristo.
Estabeleci confrontações entre minha percepção dos fatos e os relatos contidos em
livros e sites especializados, conforme consta nas referências.

O referencial teórico para esta pesquisa está constituído por relatos descritivos e
críticos dos processos de construção de políticas públicas setoriais para as artes, que analisam
e discutem questões sobre esfera pública, democracia, participação e deliberação. Por esta
perspectiva esta pesquisa é constituída em sua narrativa, por transcrição de relatos orais e
documentos produzidos em uma série de reuniões de trabalho entre agentes de dança
representantes da sociedade civil, artistas, gestores civis, públicos e técnicos dos instrumentos
institucionais entre outros documentos e evidências aqui devidamente citadas as fontes.
Para concluir o curso me senti motivado e escolhi expor esta minha experiência no
âmbito do aculturamento político cidadão. No ano de 2018, prestei vestibular, objetivando
ingressar no curso de Licenciatura em Dança. Fui aprovado e iniciei meu PRIMEIRO
processo de graduação no ensino superior com a idade de 55 anos. Como atitude coerente
com minha militância pelas causas sociais humanitárias, me autodeclarei negro (que sou), e
ingressei pelas cotas raciais PPI - pretos, pardos e indígenas. Aliás, viver os processos de
aculturação educacional dentro de uma Universidade pública é para mim um ato político dos
mais relevantes.
Por acessar o curso já com uma trajetória no campo das artes reconhecida e
consolidada, valorizei muito as possibilidades de vivenciar as potencialidades da instituição
Universidade. Percebi neste ambiente científico, a estrutura de muitas construções

19
estabelecidas, espaço para reconhecimento do passado como bem patrimonial, assim como,
mecanismos potentes para estruturação no presente de possibilidades para construção de
futuros.
Por este motivo me coloquei sempre que possível, na posição de discente ativo,
objetivando explorar ao máximo as condições para meu aprimoramento como ser social e
político através deste portal. Me percebendo com uma carga de experiência sobre políticas
públicas diferenciada da maioria dos estudantes ingressos, senti a necessidade de concluir esta
etapa de graduação relatando através da escrita, fatos que poderão servir como pistas e
questionamentos para outros que, porventura, se interessem por minha abordagem sobre estes
temas que são recorrentes neste ambiente das artes, da cultura e da educação. Fica sempre o
alerta de que os contos são instrumentos de provocação da curiosidade, pois as histórias e os
fatos, são sempre muito maiores do que a capacidade de narrar de qualquer pessoa. Nesses
argumentos estão evidenciados os motivos das minhas escolhas, em relação aos temas que
permeiam este Trabalho de Conclusão de Curso.

20
3 ANDANÇARINO... NOME DE FAMÍLIA: RUI MOREIRA DOS SANTOS; NOME
ARTÍSTICO: RUI MOREIRA

De maneira autônoma e sintética, me anuncio como artista da dança, professor de arte


e investigador de culturas. Em linhas gerais, tenho como principal atenção o diálogo
envolvendo corpos, culturas e memórias como dispositivo para a indagação criativa. Sou
ativista pelo direito de fruição e amplitude social das artes, militante de causas humanitárias,
que entende a construção de trajetórias como uma consequência da repetição exaustiva de
rituais primordiais.

[...] mesmo que se reconheça a impossibilidade de se falar de um padrão universal,


essencial, congelado e estrutural em toda a extensão e repetição destas formas de
vida, com certeza acredita-se que podemos falar em “famílias de semelhanças”. Isto
significa reiterar a existência de regularidades pontuais, nas quais o “ritual” é o que
se aproxima como o elemento constante, o elemento comunicacional e repetitivo na
dinâmica do processo, o elemento marcante na atividade cotidiana do fazer o
movimento, o gesto, a voz, o ritmo e a elaboração de um idioma do corpo em seus
modos de produzir presença e locomover. É na intenção e na articulação desses
elementos no fazer do ato ritual que a unidade de linguagem, estética, ética,
pensamento e sentido é operada. O corpo aparece como potente manifesto de
múltiplos cenários e figura-fundo de toda a construção do processo para o qual ele
atua de maneira consistente a evocar o estado de ser, a condição do estar e a
manifestação do pensar (TAVARES, 2020, p. 22).

3.1 O BAILARINO – ARTISTA DA DANÇA

Artista, trabalhador da Dança, sou brasileiro, original de São Paulo, morei em Belo
Horizonte – Minas Gerais por mais de 30 anos, fiz ponte produtiva e criativa com a França
através da cidade de Lyon por uma década e hoje (desde 2017) resido em Porto Alegre – Rio
Grande do Sul. Tomei gosto pelas artes primeiro na casa onde nasci, São Paulo, com os
primos mais velhos que na sua juventude, minha infância, promoviam bailes e encontros
sociais em casa. Inspirado por eles, busquei aprender a dançar e acabei encontrando uma
escola de artes que oferecia ensino gratuito, a ONASP Organização Nacional de Artes
Sumaika Pratchowska. Lá tive acesso a aulas que promoviam dinâmicas coletivas compostas
por jogos lúdicos, dublagens de vozes de personagens fictícios, feitura de bonecos com
diversos materiais, aulas de expressão corporal e laboratórios com a palavra. Todas estas
práticas me ajudaram muito a aprender a lidar com meu próprio corpo e com a minha
dificuldade de me expor publicamente.

21
De maneira específica, meu aprendizado corporal na ONASP, se iniciou com as aulas
de expressão e ritmo teatral que adaptavam dinâmicas corporais para iniciantes no
aprendizado dos vários estilos de dança e aprimoramento na estética dos movimentos. Depois
migrei para as aulas de diferentes estilos de dança onde comecei a me aculturar em técnicas
com motricidades específicas, como o balé clássico, o jazz, o maxixe e o samba. O processo
metodológico de ensino na escola era fazer com que cada sujeito se tornasse multiplicador dos
saberes adquiridos. Portanto, mesmo sem domínio total das técnicas com as quais eu tinha
contato, já as repassava em forma de aula para aqueles que sabiam menos.
As curiosidades provocadas naquele ambiente me levaram a procurar livros que me
dessem uma base teórica para meu foco de interesse. Tornei me assíduo frequentador da
Biblioteca Pública Mário de Andrade6, um dos mais importantes acervos do Brasil, localizado
no centro da cidade de São Paulo. De maneira autodidata, eu vasculhava livros de arte,
anatomia, e livros específicos sobre o mundo do balé clássico e das danças modernas, com a
ânsia de descobrir mais sobre aquele pluriverso que estava me chamando tanto a atenção no
momento. Mal sabia eu, que naquele formoso período, se iniciava uma carreira artística que
ressoaria como um caminho definitivo para minha vida e o alicerce de um protagonismo de
contundência social, e como consequência, no delineamento de pensamentos sobre
pedagogias e metodologias da multiplicação de saberes em dança que marcaria minha
existência e das pessoas com quem eu me relaciono profissionalmente.
No início do ano de 1980, confuso com todas as mudanças nas minhas formas de
enxergar a vida, decidi que tinha que interromper minhas aulas de dança, e tudo o mais que
envolvia minhas relações com o fazer artístico. Fui procurar um emprego fora deste território
que me desse um padrão mínimo de sustentabilidade compatível com as minhas necessidades
do momento. No entanto, eu já havia sido sensibilizado e iniciado nos rituais da dança de
palco e não quis voltar atrás em minha decisão de seguir dançando. No novo emprego, ainda
no meu período de experiência, tomei conhecimento de um projeto noturno de dança para
rapazes que acontecia na Escola Municipal de Bailados7. Me inscrevi e passei a frequentar o

6
A Biblioteca Mário de Andrade (BMA), localizada no centro da cidade de São Paulo, foi a primeira e é a
principal biblioteca pública da cidade. Fundada em 1925, a partir do acervo da Câmara Municipal, consolidou-se
ao longo de sua história como uma das mais importantes instituições culturais brasileiras.
7
A Escola de Dança de São Paulo foi inaugurada em 02 de maio de 1940, na gestão do prefeito Francisco
Prestes Maia, como Escola Experimental de Dança Clássica, sob direção do tcheco Vaslav Velchek. A Escola foi
criada com a finalidade de criar um corpo de baile amador, com viés para o balé clássico romântico, a fim de
suprir a demanda coreográfica das grandes montagens líricas nacionais e estrangeiras do Theatro Municipal de
São Paulo. Na década de 70, a Escola foi marcada pela mudança de nome, passando a chamar-se Escola
Municipal de Bailado, e pela inclusão da Dança Moderna como linguagem de expressão. Esta demanda impôs
um ponto de inflexão na demanda pelo balé clássico, impulsionando uma maior sintonia com os movimentos
trazidos pelos grupos independentes de dança da cidade à época.
22
curso na escola que neste período estava sob a direção do professor Klauss Vianna8. Dá-se
início ali, minha segunda e mais decisiva experiência no aculturamento artístico.
Apesar de ter tido poucas aulas diretamente com professor Klauss, através do projeto
pedagógico vigente experienciei posturas éticas e pensamentos aplicados no programa de
formação sob sua gestão. Pelo prisma de estruturação corporal, o pensamento de Klauss
influencia o programa de ensino da dança fazendo valer abordagens somáticas envolvendo
fisiologia e cinestesia, provocando que os professores e alunos valorizassem o estudo focado
nas direções dos ossos e cadeias musculares acionadas pela técnica do balé clássico.
O que mais me marcou neste curso noturno, foram as palestras que foram proferidas.
Os professores Sidnei Astolfi, Klauss Vianna, Wilson de Almeida e Gil Saboya, nos traziam
suas experiências de uma maneira contundente e muito própria. Isso foi um forte estímulo
para que eu buscasse vivenciar a dança cênica profissionalmente. O professor Gil Saboya veio
a assumir a direção substituindo Klauss, e observando meu desenvolvimento técnico no curso
ele me perguntou se eu gostaria de ter a dança como profissão. Respondi prontamente que
sim. Diante da minha falta de hesitação, ele ligou para a diretora da Cisne Negro Cia de
Dança, Hulda Bittencourt, pedindo que ela me recebesse em sua escola, pois ele via potencial
para que eu viesse a integrar sua companhia de dança.
A Cisne Negro Companhia de Dança9, acabou sendo minha primeira experiência
profissional. Chegar na companhia foi chegar no Studio Cisne Negro de Dança, a escola era a
base do grupo. A partir de 1981, ainda como aluno do Studio, passei a integrar em algumas
ocasiões o elenco da companhia profissional do Cisne Negro como estagiário. Nesta condição
avancei para um outro nível de percepção da dança e da arte de dançar. Encenei as obras de
repertório: Sexteto para Dez, e Quem Sabe um Dia, de Sônia Mota; Del Verde al Amarillo, de
Victor Navarro; Encosta Pravesidá, de Umberto da Silva; Do Homem ao Poeta, de Luis
Arrieta.

8
Klauss Vianna nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1928. Começou a dançar aos 15 anos. Teve aulas
de balé clássico, de 1944 a 1948, com Carlos Leite, com quem se formou. Fez curso com Maria Olenewa, em
1949, em São Paulo, cursos de Anatomia Aplicada ao Movimento e Iniciação Musical na Universidade Federal
da Bahia (UFBA). Escreveu o livro A Dança, e desenvolveu um método próprio para a expressão corporal na
dança e no teatro, que seu filho Rainer Vianna posteriormente viria a sistematizar (a chamada Técnica Klauss
Vianna). Fundou, junto a Angel Vianna (sua esposa), o Balé Klauss Vianna, em 1962. Foi diretor da Escola de
Bailado Municipal de São Paulo, entre 1981 e 1985, diretor artístico do Balé da Cidade de São Paulo, e membro
do Conselho Estadual de Dança da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, em 1982.
9
A CISNE NEGRO CIA. DE DANÇA, sob a Direção Artística de Hulda Bittencourt e Dany Bittencourt,
considerada uma das melhores companhias contemporâneas do país, sucesso de crítica e de público completa no
ano de 2021 completou 44 anos de existência olhando para o futuro, sempre pronto para levar a sua inovadora
dança aos quatro cantos do planeta. Fonte- site da companhia.
23
Eu estava em busca de novos desafios, na verdade queria muito conhecer outras terras,
viajar para fora do Brasil, encontrar outras culturas, naquele momento o mais importante era
alimentar minhas ambições e exercitar o direito ao delírio como diz o escritor uruguaio
Eduardo Galeano. Acredito que ambição é necessária, especialmente na juventude. Ir em
busca dos próprios sonhos com determinação e seguir sonhando, superando percalços, é o
maior aprendizado e retorno que tenho da profissão artista bailarino. Com este pensamento,
no ano de 1982, prestei audição para uma companhia profissional de dança em Belo
Horizonte e passei. Era o início de minha história profissional a partir do Grupo Corpo. As
companhias que seguiram daí: Balé da Cidade de São Paulo (direção: Luis Arrieta),
espetáculo musical Emoções Baratas (direção: José Possi Neto), Ballet de Câmara Ismael
Guiser (direção: Ismael Guiser), Grupo Primeiro Ato (direção: Suely Machado), Cie Azanie
(direção: Fred Bendongué e Areski Hamitouche), Cia SeráQuê? (Direção: Rui Moreira, Gil
Amâncio e Guda), Cia SeraQ (direção: Rui Moreira) e Rui Moreira Cia de Danças (direção:
Rui Moreira).

Enquanto bailarino intérprete ou intérprete criador de danças de palco tive muitos


professores e preparadores corporais e dentre eles cito: Sumaika Pratchowska – sensibilização
para a dança, expressão corporal e teatro; Klauss Vianna – preparação corporal e aulas na
Técnica Klauss Vianna; Ady Addor, Aldo Lotufo, Betina Belomo, Bete Arenque, Gil Sabóia ,
Sidney Astofili, Wilson de Almeida, Carlos Moraes, Halina Biernacka, Tatiana Leskova,
Hulda Bittencourt, Ismael Guiser, Yelê Bittencourt, Yoko Okada, Jane Blauth, Neide Rossi,
Gustavo Mollajoli - Balé Clássico; Armando Duarte - Jazz ; Clarisse Abujamra, Sônia Motta,
Renée Gumiel, Rodrigo Pederneiras, Lydia del Picchia - Dança Moderna; Marlene Silva,
Evandro Passos - Dança Afro-brasileira; Mestre João Bosco - Capoeira Angola; Germaine
Acogny, Patrick Acogny - Dança moderna africana – Técnica Acogny.

3.2 O COREÓGRAFO / DIRETOR

Me posicionando sobre os temas coreografia e coreógrafo. Como artista bailarino,


intérprete criativo e criador, coreógrafo, e em alguns casos diretor de movimento, gosto de
pensar que coreografia é a arte de criar trilhas ou roteiros de movimentos que compõem uma
dança, e que o ato de coreografar é uma forma de desenhar ou organizar o espaço com o
movimento corporal. O coreógrafo pode ser entendido como fonte geradora do movimento

24
que será apreendido por um intérprete, mas também, pode ocupar-se na função de
“facilitador” da materialização de formas, a partir das subjetividades gestuais, em função de
contextos específicos. Portanto, o coreógrafo estimula criativamente o artista intérprete ou
criador.
Não sei dizer se existe ou não uma cronologia específica de transição de bailarino para
criador. Penso que isso depende muito da forma de posicionar a atuação dos sujeitos dentro
dos distintos processos criativos. Eu tive a oportunidade de experienciar, um número grande
de ações e diversas etapas criativas em empreendimentos dos mais variados. Trabalhei como
criador/coreógrafo e diretor de movimento a serviço de companhias de dança, trupes de teatro,
produções cinematográficas e programas televisivos. Como professor e organizador criativo
de danças, trabalhei em escolas formais públicas e privadas atuando com alunos e com
professores. Promovi ações comunitárias atuando como facilitador da organização de
agrupamentos espontâneos e neste contexto, pude exercitar formas de sensibilização sensorial
através de vivências de dança com pessoas de todas as idades. Coreografei e/ou organizei
movimentos para manifestações culturais de rua como alas de escolas de samba, cortejos
religiosos, enfim, cada uma destas experiências demandou de mim diferentes competências e
gerou aprendizados diferentes. Considero tudo importante!

3.3 TÉCNICOS, TÉCNICAS E TECNOLOGIAS

Meu registro profissional na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) como bailarino,


foi feito no ano de 1984 no Rio de Janeiro. Em 1996 foi atualizada em Belo Horizonte
através do SATED MG - Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do
Estado de Minas Gerais e agregou as atividades de Coreógrafo e Técnico Cênico.
Os aspectos técnicos na construção de uma arte viva que é apresentada nas diversas
formas de palco, demanda dos seus fazedores atenção e dedicação. Por ser um trabalho feito
sempre por muitas pessoas de distintas competências, torna-se mais fluida a comunicação
quando acumulamos saberes sobre os diversos pontos da dramaturgia ali em processo. O
espaço ocupado e as formas de ocupação, a preparação contextual deste espaço, os recortes de
luz como forma de organizar a estruturação ótica de quem aprecia uma ação artística e de
quem atua, enfim. Tive grandes parceiros e mestres que me mostraram que é necessário usar
da liberdade de expressão para construir o novo, mas também de conhecimento técnico
específico.
Trabalhei em equipes onde o figurinista influenciou o coreógrafo, e que foram ambos
25
conduzidos por uma proposta do iluminador, e que todos tiveram que resolver um “problema”
posto pelo cenógrafo e assim segue. Isso torna-se ainda mais intrínseco quando o bailarino
acumula todas estas funções e dirige sua própria performance organizando todos estes
elementos dramatúrgicos. Já estive em todas estas posições que cito acima, mas também
compus equipes realizando isoladamente cada uma destas funções. Cada uma destas
competências veio aos poucos e foram desenvolvidas com as parcerias que tiveram a grandeza
e a paciência para me fazer compreender a função de cada trabalhador, e que me
possibilitaram exercer funções para que eu também aprendesse algo sobre estas competências.
No universo da dança cênica brasileira, há uma tendência em concentrar na figura do
coreógrafo todas as responsabilidades pela obra. Ao responder a esta centralidade, muitas
vezes o coreógrafo orienta todo o processo. Não é raro ele ir para o palco coordenar a
montagem de um cenário que ele sugeriu, receber os bailarinos para o ensaio e depois ir para
a cabine técnica do teatro conduzir as luzes e o som. Sem falar que nos dias que antecederam
o palco, ele passou todo o tempo na avaliação de imagens fotográficas, na edição de vídeo,
escrevendo e/ou aprovando sinopses e releases, atendendo a toda a equipe de comunicadores,
e por vezes, sugerindo as campanhas de comunicação do evento promovido. Tendo me
acostumado com esta rotina assinei muitos espetáculos para diversos elencos, mais de 40
produções, e gosto deste papel, mas também gosto muito de atuar de maneira distinta em uma
só função por produção.
A criação artística é uma ação cultural, portanto todas as realidades são elemento de
composição desta trama que envolve este ato social. Atualmente, na hipermodernidade que
vivemos, percebo que os nichos criativos se perpassam de tal maneira que os nomes das
funções nas equipes de arte também se modificam. Acontece de o editor de vídeo ser
coreógrafo, o diretor de marketing ser o roteirista dramaturgo e a iluminação ser determinada
pelo diretor de fotografia. Portanto ressalto aqui o papel dos técnicos, pois estes escolhem e
determinam os equipamentos próprios para cada momento, e dos atuantes, que mesmo não
tendo a noção total da tecnologia ao seu redor, acabam emanando a subjetividade que
centraliza os signos da arte viva.

26
4 UNIVERSIDADE PÚBLICA

Em 2014 fui convidado para dirigir e coreografar o projeto “Patas Arriba”, uma
interpretação livre, através da dança, do livro do escritor uruguaio, Eduardo Galeano
intitulado Patas Arriba – La escuela del mundo al revés (De pernas para o ar – A escola do
mundo ao avesso) proposto pela equipe gaúcha da produtora Humanitas Arte e Cultura. O
envolvimento com a cena porto-alegrense durante a criação e estreia deste projeto,
proporcionou-me visitas contínuas à cidade e no ano de 2017, me instalei em Porto Alegre.
Um ano antes, em 2016, depois de um afastamento do ensino formal como discente
por aproximadamente trinta e cinco anos, concluí o ensino médio através do ENEM - Exame
Nacional do Ensino Médio em Belo Horizonte. No ano de 2018, já morando em Porto Alegre,
prestei vestibular para a UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, objetivando
ingressar no curso de Licenciatura em Dança e fui aprovado. Como atitude política, coerente
com minha militância pelas causas sociais humanitárias, me autodeclarei negro (que sou), e
ingressei pelas cotas raciais PPI - pretos, pardos ou indígenas.
Meu envolvimento com a academia, não se iniciou com meu ingresso como discente.
Uma longeva trajetória profissional, difundida pela mídia jornalística e redes sociais, me
destacando como artista cênico de projeção nacional e internacional, aliando uma atuação
social e política que considera inclusive meus posicionamentos como militante de diversas
causas humanitárias, geraram uma projeção pública, que provocou neste ambiente acadêmico,
interesses sobre meus pensamentos e formas de atuação.
Os professores que construíram ou, que vêm construindo os territórios de formação
acadêmica no campo das artes no Brasil, impulsionam a produção ou produzem eles mesmos,
referências literárias que inspiram e informam gerações de estudantes de arte e artistas.
Alguns destes, também com seu trabalho fora dos territórios da universidade, antes de seu
ingresso, puderam aceder e usar esta estrutura acadêmica para concretizar a difusão de seus
pensamentos. Esses profissionais, assim como eu, contribuem para o contexto da evolução
profissional e social das artes. Eles, vivendo os ritos das instituições universitárias, a seu
modo, promovem o estudo e o registro científico dos processos sociais do tempo presente, e
estimulam a expansão das estruturas pró pesquisas, indicando caminhos para que os
estudantes e protagonistas de projetos neste contexto, caminhem ao encontro de artistas,
gestores, professores e pesquisadores que desenvolvem seus próprios caminhos de
investigação, para que contribuam para a amplificação da noção sobre autonomia das artes.

27
Em função disto, trajetórias como a minha, são comumente abordadas por estudantes,
através de entrevistas e outros mecanismos que compõem as metodologias pedagógicas de
pesquisa. Esse material, através de publicações, resulta na socialização das informações que
expõem a diversidade de experiências no campo da cultura e das artes, além de correlacionar
estes temas com outros.
Com a política de expansão da educação superior, por conta do Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que teve como
principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior, o governo federal
adotou uma série de medidas para retomar o crescimento do ensino superior público, criando
condições para que as universidades federais promovessem a expansão física, acadêmica e
pedagógica da rede federal de educação superior. Os efeitos desta iniciativa podem ser
percebidos pelos expressivos números da expansão, iniciada em 2003 a partir da explícita
intenção de mudanças e melhorias implícitas no plano de governo progressista em curso no
momento, conduzido pelo então presidente Luíz Inácio Lula da Silva.
Em 24 de abril de 2007, foi instituído o REUNI pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril
de 2007, como uma das ações que integram o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
Neste processo expansivo vimos no Brasil o surgimento de diversos cursos de arte e em
especial de Dança em todo território. O curso de Dança da UFRGS com treze anos de
existência é um exemplo desta ação expansiva.

[...]. ESEFID sediou comemorações pelos 10 anos do curso nesta quarta-feira, 20.
Apresentação do Ballet da UFRGS foi uma das atividades. Uma apresentação do
Ballet da UFRGS e uma mesa redonda marcaram a comemoração dos 10 anos do
curso de graduação em Dança, na tarde desta quarta-feira, 20. Alunos, egressos,
professores e técnico-administrativos participaram da celebração, realizada na
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (ESEFID). Na abertura da
atividade, houve a apresentação de um fragmento da obra “Comigo”, de Thomaz
Della Vecchia e direção artística de Ruy Moreira, pelo Ballet da UFRGS. Durante a
mesa redonda, o diretor da ESEFID, Ricardo Petersen, relembrou que a presença da
Dança na Escola remonta à criação da Unidade, ainda nos anos 1940. Houve
tratativas para implantação do curso nos anos 90 e nos anos 2000; no entanto, foi em
2008 a aprovação pelo Conselho Universitário e em 2009 o ingresso da primeira
turma, dentro do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (Reuni). “Hoje, é uma licenciatura muito bem avaliada,
construída de forma coletiva e que trabalha no tripé ensino-pesquisa-extensão”,

28
ressaltou Petersen. Em sua fala, a docente Mônica Dantas destacou o crescimento do
campo da Dança no Brasil. Antes do Reuni, apenas 7 universidades públicas
ofereciam o curso no Brasil. Atualmente, 24 universidades públicas e 10 instituições
privadas ofertam a graduação. A professora destaca a contribuição da licenciatura
como um impulsionador de conhecimento acadêmico e cultural. “Estamos
consolidando um campo acadêmico, artístico e profissional, ainda muito novo no
país”, declarou. O sucesso do curso também foi destacado pelo ex-reitor e então
pró-reitor de Graduação na época da implantação, Carlos Alexandre Netto. “É uma
satisfação ver projetos serem elaborados, implantados e darem certo, tal como foi a
Dança”, afirmou. “Um curso universitário cria novas oportunidades, pois podemos
formar profissionais, mudar a vida dessas pessoas e da sociedade”, concluiu. Para o
ex-reitor José Carlos Hennemann, que era o titular da Reitoria quando a licenciatura
foi criada, a forma de implantação de novos cursos é um diferencial das
universidades públicas. Segundo ele, nas instituições públicas de ensino, os cursos
novos nascem a partir das pessoas. “Isso mostra que a construção da Universidade se
dá a partir do seu todo, quando as pessoas se mobilizam e fazem as mudanças
acontecerem”. O reitor Rui Vicente Oppermann ressaltou o crescimento e a
consolidação da graduação em Dança. “É um orgulho para a UFRGS ter um curso
com essa proposta instigante, que dissemina a cultura”, afirmou. “Em 85 anos de
história, a UFRGS superou várias crises. Nós seguiremos resistindo, pois a
Universidade pública e gratuita é um patrimônio da sociedade, não deste ou daquele
governo”, concluiu. O curso de Dança - Licenciatura conta hoje com
aproximadamente 200 alunos. Desde a sua criação, já formou em torno de 100
egressos, aptos a atuar em diferentes espaços de ensino da dança – tanto em escolas,
em todas as modalidades de ensino, quanto nos ambientes extraescolares, como
espaços de lazer e serviços de saúde pública. O ensino é centrado no estudante como
sujeito ativo do processo de formação, com objetivo de formar professores aptos à
investigação, ao questionamento e à produção de saberes específicos da dança
(UFRGS, 2019, p.1).

As ações do programa contemplaram o aumento de vagas nos cursos de graduação, a


ampliação da oferta de cursos noturnos, a promoção de inovações pedagógicas e o combate à
evasão, entre outras metas com o propósito de diminuir as desigualdades sociais no país. Eu,
estou prestes a concluir a minha graduação na licenciatura, já com planos de continuidade
para me aprofundar ainda mais neste universo.
No campo acadêmico, me dedico à pluralidade e diversidade das implicações da minha
graduação. Tenho produzido material textual e participado ativamente de projetos que
cumprem com os objetivos que me levaram a vivenciar a tomada de decisão de me tornar um
29
universitário. Estar na Universidade pública é para mim um ato político. É a possibilidade de
discutir de dentro, os diversos aspectos sociais desta instituição como partícipe do projeto
educacional. Percebi neste ambiente a estrutura de muitas construções e me coloco, sempre
que possível, na posição de discente ativo, objetivando explorar as condições de
aprimoramento do ser social e político que adentra nos universos propostos neste portal. Na
UFRGS, um dos territórios investigativos com o qual acabei me envolvendo foi a Extensão.

4.1 PROREXT

No portal Pró-Reitoria de Extensão (PROREXT)10 UFRGS a Extensão é definida


como um processo que realimenta o fluxo do conhecimento na Universidade e estimula a
renovação de sua produção. E segue, o Ensino, a Pesquisa e a Extensão constituem o tripé que
sustenta a Universidade. Desses três, é papel da Extensão promover a interação entre a
Universidade e os diversos segmentos da sociedade. A Extensão é a ponte que aproxima a
instituição da comunidade. No fim da década de 80, o Fórum de Pró-Reitores de Extensão
definiu a atividade extensionista da seguinte maneira: “processo educativo, cultural e
científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação
transformadora entre Universidade e Sociedade”. Ou seja, a Extensão é o “algo a mais” da
graduação e da pós-graduação, que possibilita a aplicação do conhecimento teórico, tornando
os alunos capazes de pensar de forma integrada a teoria e sua prática. Através da sua atuação
em ações que envolvam a universidade e a sociedade, o estudante troca experiências com
pessoas de diferentes áreas de conhecimento, tanto acadêmico, como popular. De maneira
investigativa participo ou participei contribuindo com os projetos de extensão. A seguir
listarei esses projetos.

10
Acesso em: 17/05/2022. Mais informações de Pró-Reitoria de Extensão (PROREXT) em:
https://www.ufrgs.br/prorext
30
4.1.1 Ballet da UFRGS

Desde o ano de 2018 sou bolsista do Ballet da UFRGS, um dos projetos de extensão
acadêmica que representa a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e seu Curso de
Licenciatura em Dança. Exerci a função de diretor artístico e coreografei peças inéditas para o
elenco formado por discentes do curso. Uma oportunidade, onde dirigi projetos artísticos
didáticos pedagógicos experimentais. Conduzi a experimentação de uma dança aquática
Hidro Poiesis. Esta vivência cinética proporcionou que os dançarinos experimentassem outras
formas de controle do corpo sob a água. Já com o espetáculo Cartografias, propus um
divertimento dançante inspirado na personalidade dos discentes dançantes do grupo,
abordando suas certezas e incertezas no ambiente acadêmico de um curso de licenciatura em
Dança. Criamos também sob minha direção, uma versão de um espetáculo clássico com trilha
sonora da suíte de ballet Coppélia de Léo Delibes, a versão foi batizada de Khoppeelya e
levou para o palco uma linguagem contemporânea trazendo elementos de danças urbanas
hibridizadas por coreografias baseadas nas técnicas de balé clássico e de danças modernas.
Como atuante, dancei na criação coletiva da performance de vídeo dança - Vazio vira avesso.

4.1.2 Diversos Corpos Dançantes (DCD)

Contribuí com a ação de extensão Diversos Corpos Dançantes (DCD) que fomenta
processos artísticos, informação e formação em dança direcionada à prática com grupos
mistos de pessoas com e sem deficiência, potencializando a sinergia entre diferentes corpos e
contextualizando o lugar socialmente construído da deficiência. No ano de 2019, conduzi
experimentações através do compartilhamento de momentos de criação com os bailarinos,
gerando uma nova performance que foi apresentada em diversos eventos.
Em meu percurso como cidadão, artista cênico, pude perceber mudanças no cenário
político-educacional, nos contextos educacionais e artísticos, motivando a constante reflexão
sobre conceitos, temáticas de estudo, metodologias e proposições para atuação inclusiva das
pessoas com deficiências, mas não havia confrontado antes desta experiência com estes
diversos corpos. Em verdade, na cultura da dança, os corpos plenos são os únicos
considerados, salvo em contextos especiais. A miopia social desconsidera as possibilidades de
convivência com a diversidade na qual estamos imersos. Percebi em mim a confusão entre
31
capacidade física, capacidade intelectual e deficiência. Mesmo tendo noção de acessibilidade
pelo prisma espacial, reconhecendo a necessidade de acessórios e estruturas para o acesso aos
espaços pelos diversos corpos, ainda não havia despertado para mim as dimensões humanas
contidas nos corpos diferentes do meu, “pleno e capaz”. Não foi fácil para mim compreender
e assumir tais mazelas provocadas pelos meus pré-conceitos estabelecidos. Conviver com
aquele elenco preparado e sensibilizado para a dança, mesmo que por pouco tempo, foi um
impacto que iniciou uma expansão de visão que me afeta em todos os momentos da minha
continuidade, além de reforçar minha noção sobre a disponibilidade para a vida. Me colocar à
disposição para vivenciar o novo, daquela forma e naquele momento significou promover o
desenvolvimento de socialização necessária para acentuar os valores que entendo fazer parte
da integridade humana.

4.1.3 Semana Negra ESEFID

No ano de 2018, iniciei uma colaboração para a organização de eventos com foco na
cultura e arte negra a convite da professora Cibele Sastre através da ação Semana Negra
ESEFID - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança. Com a parceria dos professores
artistas Celina Alcântara, professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
no Departamento de Arte Dramática, e Eduardo Pacheco (Edu do pandeiro), professor
coordenador do curso de Licenciatura em Música da UERGS em Montenegro, construímos
nos anos de 2018 e 2019 as performances intituladas - INTERVENÇÃO e NDEUP, para
celebrar o dia 20 de novembro, dia da consciência negra. No ano de 2020, escrevi o artigo - O
legado das práticas corporais negras11 que foi publicado no Jornal da Universidade. Neste
escrito, acentuei o foco na observação sobre como a expressão das práticas culturais das
diásporas africanas, ainda não se refletem plenamente no campo acadêmico. A semana negra
ESEFID, no ano de 2020, se transformou em um Programa de Extensão que visa o estudo, a
vivência e a ciência do arcabouço de matriz afro-brasileira e africana nas áreas de Dança,
Educação Física e Fisioterapia. Neste ano, por este programa, organizamos uma roda de
conversa internacional com Patrick Acogny (Franco Senegalês) – filho da bailarina Germaine
Acogny, PhD do Laboratório de Etnocenologia da Universidade de Paris XVIII, Saint-Denis,

11
O legado das práticas corporais negras: Jornal da Universidade 25 anos UFRGS - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – Porto Alegre – RS. Acesso em: 17/05/2022. Mais informações em:
https://www.ufrgs.br/jornal/o-legado-das-praticas-corporais-negras/?fbclid=IwAR0GX16NMJQHqxvUfocre9IalD
pgrVgAb22IPKUO4DTVxVvthGY71V4BLIM
32
França, sobre o filme "Cassa"12 com a mediação de Mônica Dantas – Professora da Graduação
em Dança, da UFRGS. Este programa assim formatado contribui para a manutenção das
políticas afirmativas na universidade. Ações que se iniciam pelo prisma da reparação
histórica, mas que se desenvolvem de maneira a atualizar e potencializar a atuação social da
instituição.

4.1.4 Festival UNIMÚSICA 40

Criado em 1981 pela Pró-Reitoria de Extensão, o Unimúsica é um dos projetos


culturais mais antigos de Porto Alegre. Ao longo de sua trajetória, tornou-se referência tanto
para o público que acompanha a programação, quanto para os profissionais da música –
artistas, críticos, professores –, que veem nele um espaço privilegiado para a difusão da
música popular brasileira. Nos últimos anos, o Unimúsica tem se dedicado a divulgar e
articular a produção de músicos e pensadores através de séries temáticas anuais. O projeto foi
contemplado com três importantes prêmios: Líderes e Vencedores – Expressão Cultural,
outorgado pela Assembleia Legislativa do Estado e Federasul, Destaque Cultural 2006
UNITV e Prêmio Especial do Açorianos de Música em 2016.
Em 2021, participei juntamente com, Ana Fridman, Ana Laura Freitas, Lígia Petrucci,
Suzi Weber e Valência Losada, da equipe curatorial do projeto Unimúsica, que chegou aos
seus 40 anos de existência celebrando a força das artes na transversalidade entre música,
dança, teatro, circo e performance. A edição foi mais do que tudo, uma homenagem aos
processos artísticos fundados no exercício da presença não mediatizada. Uma ação com fortes
traços de interseccionalidade bastante potente. Além de curador, fiz a mediação juntamente
com a professora Suzi Weber, dando entrevista na programação Ciclo de conversa - ATCHA,
ATCHA! O ATO DE DANÇAR com Germaine Acogny.

12
Em 2007, Germaine Acogny, figura de destaque da dança africana contemporânea e fundadora da École des
Sables no Senegal convidou, pela primeira vez, trinta e cinco coreógrafos e músicos de origem africana para o
projeto "Rencontres dansées de l'Afrique et de sa diáspora " (" DANCED ENCOUNTERS OF AFRICA AND
ITS DIASPORA "). Este lugar remoto se tornou o local para um intercâmbio excepcional. Cada artista traz seu
próprio universo pessoal. Eles o desdobram sob o olhar dos outros, em busca da natureza dos vínculos que os
unem com a África. É com um desejo de comunhão e partilha que estas trajetórias únicas se encontram na École
des Sables, onde se reencontram com sua história coletiva.

33
5 ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO, POLITIZAÇÃO E CIDADANIA

Consideramos, em primeiro lugar, a emergência de uma dupla tirania, a do dinheiro


e a da informação, intimamente relacionadas. Ambas, juntas, fornecem as bases do
sistema ideológico que legitima as ações mais características da época e, ao mesmo
tempo, buscam conformar segundo um novo ethos as relações sociais e
interpessoais, influenciando o caráter das pessoas… - Milton Santos13

Por uma série de motivos, uma trajetória profissional é sempre consequência ou fruto
da trajetória cidadã. As relações intrínsecas do meio ambiente nos conectam ao sentido de
uma biopolítica onde todos os fazeres são imprescindíveis. Aspectos administrativos que
permeiam o fazer artístico, me levaram a assumir responsabilidades coletivas e buscar
orientação para gestão empresarial, e consequentemente, aprender os preceitos básicos para
compor equipes de trabalho. Orientado pelo SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio a
Microempresas, criei em sociedade limitada a empresa cultural – Rui e Bete Promoções e
Eventos Ltda com a razão fantasia SeráQuê? Promoções e Eventos. (1998 a 2012) e na
companhia de outros parceiros artísticos criamos a entidade jurídica de fins não econômicos e
associativos – Associação SeráQuê? Cultural (2001 a 2020). A época da criação destas
identidades jurídicas, no período compreendido entre os anos 1995 e 2003, à luz da política
econômica implantada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, acontecia uma
reestruturação do Ministério da Cultura conduzida pelo então Ministro da Cultura Francisco
Weffort, que potencializava a participação dialógica com uma elite cultural, especialmente das
áreas da música e do cinema.
Ficava estabelecida uma formatação estrutural onde se tornaria imprescindível que os
agentes culturais, especialmente dos setores das artes, se organizassem como empreendedores
com inscrição no CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica. Isso capacitava estes agentes
culturais a participar de um número maior de editais públicos de fomento, e às leis de
renúncia fiscal em prol da cultura.
Minhas investigações me levam a concluir que a intenção primordial da gestão, era
encontrar meios de cumprir o que reza a constituição de 1988 em seu artigo 215: “O Estado
garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura
nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.” Ou
seja, era necessário lidar com as demandas da Cultura e cuidar do fomento para um setor
elencado como sendo de grandeza explícita para a nação, administrando um histórico de ações

13
Acesso em: 17/05/2022. Mais informações no capítulo “Referências” deste trabalho.
34
que se deram entre os anos de 1985 e 1994, período de criação do Ministério da Cultura no
governo José Sarney até o fim do governo Itamar Franco, passando por nove ministros que
sucederam se na pasta, incluindo o período em que o Ministério foi rebaixado à condição de
Secretaria durante o governo Collor de Mello.

Estava implantado, assim, um “mercado de patrocínios”, intermediado pelos


“agentes culturais”. Profissionais capacitados para lidar com operações financeiras e
dotados de conhecimentos sobre a área tributária, as finanças e o marketing... Ficava
criado, assim, não só um mercado de bens culturais, mas um mercado de imagens
institucionais (CASTELLO apud. ARRUDA, 2002, p. 636).

Em outros termos, além de profissionalizar a figura do intermediário, a política em


curso estimulou o aparecimento de nichos no mercado cultural, provocando a integração de
setores até então bastante distantes da lógica mercantil, como era a situação das artes, do
patrimônio e da cultura popular. Porém, este modelo de inclusão empreendedora muito
estimulado, foi, e ainda é questionável, pois ele se mostra bastante excludente, uma vez que
nem todo agente cultural tem estrutura suficiente para manter uma empresa em
funcionamento em função das altas tributações fiscais, e sobretudo, pelo fato de nem todos os
fazedores de cultura se dedicarem a ser produtores culturais especializados. É necessário levar
em consideração, que a produção cultural existe em diversos níveis da sociedade e a
manutenção política de organismos institucionais específicos do setor vivem em estado de
escassez constante de recursos, além de ter uma capacidade de articulação com os outros
setores da administração pública, sazonal ou muitas vezes nula. Mesmo com o
estabelecimento de sistemas institucionais de gestão cultural observamos a precariedade das
Secretarias de Cultura dos Estados e dos Municípios quando estas existem. Os avanços das
estruturas que abrangem a cultura e seus fazedores, não se concretizam a termo. As
atualizações sobre dotações orçamentárias e as reformas da política tributária desejadas são
insuficientes, e os poucos movimentos que acontecem, estão muito distantes do
reconhecimento das realidades do setor cultural.
Em 2003, durante o governo Lula, o Ministério foi reestruturado por meio do Decreto
4805, passando a ter a seguinte estrutura: ao Ministro é subordinada uma Secretaria Executiva
com três diretorias (Gestão Estratégica, Gestão Interna e Relações Internacionais), sete
Representações Regionais (nos estados de Bahia, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo) e seis Secretarias: Fomento e Incentivo à Cultura,
Políticas Culturais, Cidadania Cultural, Audiovisual, Identidade e Diversidade Cultural e
Articulação Institucional.
35
Neste período, como cidadão artista bailarino, atendi a um convite/chamamento
público do então presidente da Funarte – Fundação Nacional das Artes, Antonio Grassi, para
participar em Belo Horizonte, de um encontro com o então coordenador de dança Marcos
Moraes. Era um encontro que anunciava intenções, na direção da construção de um conjunto
de ações estratégicas de atendimento ao setor das artes e elencou como prioridade a promoção
de censos setoriais. O objetivo ali, era agir em consonância com a meta do ministério da
cultura, encabeçado por Gilberto Gil, de aumentar os recursos para cultura entendendo que,
entre vários motivos de ordem simbólica, a cadeia produtiva da cultura fazia deste setor um
motor que economicamente movimentava significativamente o PIB nacional.

Durante audiência pública realizada nesta terça-feira (20) na Comissão de Educação


(CE), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, pediu mais recursos do Orçamento da
União para o ministério que comanda. Respondendo ao senador Aloizio Mercadante
(PT-SP) que defendeu uma busca maior de recursos junto ao setor privado, uma vez
que o orçamento da União é muito rígido, Gil disse que o Ministério da Cultura
deveria receber pelo menos 1% do orçamento. Hoje tem apenas 0,2%, o equivalente
a R$ 129 milhões. Gil pediu a atenção dos senadores para o problema. - Não vamos
abrir mão de defender a necessidade de reconhecimento pelo Estado brasileiro da
importância da cultura. Não adianta ter cada vez mais recursos só pela sensibilização
do setor privado. Tá bem, o setor privado vai assumir suas responsabilidades com a
cultura. E o setor público, não vai? - questionou. Em resposta a questionamentos do
senador Hélio Costa (PMDB-MG), Gil explicou que há grande escassez de dados no
Ministério da Cultura, por ser o único a não ter convênio com o IBGE para obtenção
de dados. Costa havia reclamado da concentração de investimentos no eixo Rio-São
Paulo. Gil informou que um grupo de trabalho já está reunido para estudar a
reformulação dos mecanismos de captação da área da cultura, especialmente da Lei
Rouanet e a do Audiovisual. Gil pretende ainda incentivar o uso do Ficarte, uma
espécie de investimento em bolsa que redunda em recursos para a área cultural
(SENADO, 2003, p.1).

Percebi a necessidade de me apropriar de números, dados, e mais, de explicitar as


realidades específicas da minha forma de fazer dança para a comunidade do setor cultural.
Afinal, são tão diversas as percepções das maneiras de dançar quanto são inúmeras as formas
de invenção e de gestão destas danças. Os gestores públicos naquele encontro, estavam
convocando a sociedade civil para participar ativamente daquele movimento de censo e ao
mesmo tempo de prestação de contas do setor para a própria sociedade. Aliás, a participação
da sociedade civil era um dos pilares da implantação do pensamento do governo progressista
que dirigia o país naquele momento. Desde aí, entendi que um movimento de grande potência
estava em curso, e me coloquei totalmente à disposição para trabalhar. Fui então me
responsabilizando, assim como outros artistas e gestores culturais em âmbito nacional, pela

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mobilização de classe e levantamento de dados que trouxeram à tona as muitas informações.
Cito algumas no decorrer desta pesquisa.
Segundo IBGE (2015) a dança é a terceira atividade artística mais disseminada no
território, em 68,5% dos municípios brasileiros. Em porcentagem, apenas as atividades
culturais do artesanato e das manifestações tradicionais populares superam este indicador da
dança, devendo-se tomar em consideração que a dança está inserida no universo de
diversidade das manifestações tradicionais e populares.

Assim, pode-se observar, de acordo com os resultados da MUNIC de 2014 que, para
os 19 tipos de grupos artísticos pesquisados nos municípios brasileiros, os de
artesanato estavam presentes em 78,6% das cidades, seguido pelas manifestações
tradicionais populares (71,9%), de dança (68,5%), banda (68,4%), de capoeira
(61,7%), grupos musicais (54,6%), corais (50,4%), blocos carnavalescos (46,9%) e os
de teatro (43,4%). Não se pode deixar de notar que a música e a dança percorrem
transversalmente o conteúdo das manifestações culturais nos municípios, exceção ao
artesanato. Na comparação entre 2006 e 2014, destaca-se a evolução da proporção de
municípios com grupos de atividades de cineclube (223,8%), circo (134,5%) e
orquestra (92,2%), e a retração da porcentagem daqueles com grupos de artes plásticas
e visuais (-11,7%) (IBGE, 2014, p.1).

● Essas manifestações estariam presentes em todos os municípios brasileiros, devido aos


dados de pesquisas serem, no geral, oriundos das atividades formais, e não das
informais, onde a dança se insere em maior escala. A abrangência e dimensão artística,
social e política da Dança, desde a criação da FUNARTE, em 1976, aumentou em
virtude de diversos cofatores: por ser uma arte que promove de modo único e
corporalizado a criação, a pesquisa, a reflexão artística e, especialmente a integração
entre pessoas e a sociabilidade; por sua diversidade de formatos e de modos de existir
e de se disseminar: nas ruas, bailes, festividades, feiras, espaços públicos e privados,
teatros e espaços alternativos, em companhias e grupos amadores e profissionais,
coletivos, mídias etc.; pelos modos distintos como pode ser apreendida: em escolas,
academias, em rodas de bboys e bgirls, em escolas de samba, nas universidades, nas
favelas, na mídia televisiva e cinematográfica, nas redes sociais, nos tutoriais,
integrada à replicação de músicas, embrenhada em manifestações populares etc.
Relação que comprova que a dança, está inserida em uma cadeia produtiva difusa.
(PRESTES, 2004) trecho do relatório - indícios políticos, econômicos e educacionais
na cadeia produtiva do setor da dança, a partir da implantação da rede nacional de
difusão da dança. Autoria de Marila Annibelli Vellozo, consultora da Política Nacional
das Artes.

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Participei intensamente (2003 a 2016) de importantes ações de fomento à formulação
de políticas públicas para cultura, sempre com o apoio, ou melhor dizendo, pela indicação de
núcleos organizados nos setores da rede produtiva da dança. Fui indicado por sindicatos,
associações, fóruns, grupos de dança profissionais, agrupamentos amadores, escolas
informais, escolas técnicas, universidades, empresariado, como representante do setor da
dança. Primeiro representando o Estado de Minas Gerais nas Câmaras Setoriais (2006),
Colegiado Setorial de Dança (2009), depois o Conselho Nacional de Políticas Culturais
(2013) e por último, como articulador nacional pela linguagem Dança, compus o quadro de
atuantes do programa PNA - Política Nacional das Artes (2015 a 2016).
Nestas funções, participei como delegado de conferências Municipais, Estaduais e
Nacionais e pude discutir as formulações e sancionamento de leis como a Política Nacional de
Cultura Viva (PNCV), instituída pela Lei nº 13.018, de 22/07/2014 esta responsável pela
criação dos Pontos de Cultura e a primeira política de base comunitária do Sistema Nacional
de Cultura. Sistema este que resultou da Lei nº 12.343 de 02/12/2010 institui o Plano
Nacional de Cultura - PNC, Cria o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais –
SNIIC. Acompanhei o desenvolvimento do REUNI - Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais é um programa instituído pelo
Governo Federal do Brasil através do Decreto 6.096, de 24 de abril de 2007, vi a Agência
Nacional de Cinema (Ancine) atuar com status de Ministério, discuti modificações estruturais
da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE); organizei e mediei conversas em evento
realizado de forma interministerial entre MinC e MEC; e desde sempre militei por melhores
caminhos para ressaltar socialmente a autonomia da Dança, e por essa mirada, desde 2005
integro o Fórum Nacional de Dança instituição que leva a frente a promulgação de legislação
específica em relação ao exercício profissional dos trabalhadores da dança para Sempre
como representante da sociedade Civil, discuti os temas: educação e cultura, difusão cultural,
internacionalização, marcos legais, pactos federativos para fomento cultural, enfim.

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6 MARCOS LEGAIS

Marco Legal é toda legislação que rege um determinado assunto, desde a Constituição,
Leis, Portarias, Leis estaduais, municipais etc. Ao trazer, à luz da pesquisa, as reflexões sobre
esta rede do tempo que desvela a complexa estrutura da cultura e do exercício das artes no
Brasil, vamos perceber um acúmulo de atos e/ou de intenções que mostram a história pelo seu
aspecto dinâmico inexorável. Isso pode confundir conquistas perenes, com a sazonalidade de
atos que realmente não chegam a termo.

Quando falamos de marcos legais, vamos observar potentes mobilizações por avanços
sociais a partir de discussões políticas, sendo simplesmente ignoradas ou suplantadas por um
outro momento que se mostre novo, ou “atualizado” sobre um mesmo tema. Isso reforça qual
história vai sempre ser descrita levando em consideração suas variáveis contextuais. Cito
como exemplo a discussão sobre cotas raciais para o ensino superior. Na reportagem de
Rodrigo Baptista, publicada em 11/02/2022, há aspectos importantes à discussão proposta por
esta pesquisa. Segue em itálico a reportagem:

Reportagem: Rodrigo Baptista
Edição: Mayra Cunha
Fonte: Agência Senado
Publicado em 11/2/2022
Dez anos após sanção, norma passa por avaliação e reacende o debate sobre reserva de
vagas para negros e indígenas em universidades
Em 2009, Thamiris Marques ingressou na Universidade de Brasília (UnB) pelo sistema de
cotas. Aos 18 anos, ela foi a primeira da família a frequentar uma universidade pública.
Pioneira entre as universidades federais, a UnB já contava com ações afirmativas antes
mesmo da Lei de Cotas, que completa dez anos em 2022. A própria norma prevê sua revisão
neste ano, o que reacendeu o debate sobre o tema e promete mobilizar o Congresso. O ponto
que gera maior controvérsia é o teor racial da reserva de parte das vagas, ou seja, a garantia
de cadeiras para alunos negros e indígenas.
A Lei de Cotas ( Lei 12.711, de 2012) prevê que 50% das vagas em universidades e institutos
federais sejam direcionadas para pessoas que estudaram em escolas públicas. Desse total,
metade é destinada à população com renda familiar de até 1,5 salário-mínimo per capita. A
distribuição das vagas da cota racial e deficiência é feita de acordo com a proporção de
indígenas, negros, pardos e pessoas com deficiência da unidade da Federação onde está
situada a universidade ou instituto federal, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
— Ao abrir as portas e mostrar possibilidades de um futuro diferente, a Lei de Cotas mudou
não apenas a minha vida, mas a de uma família inteira. As cotas me deram a oportunidade de
ter acesso a esse conhecimento, a essa educação e a outro mundo. Pude romper com um ciclo

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que vinha desde a minha avó, que não teve acesso a educação, e minha mãe, que nem chegou
a concluir o ensino médio. Hoje, sou uma pessoa formada e isso, na minha família, serviu de
exemplo para mostrar para outras pessoas que é possível. Defendo a continuidade da política
de cotas como forma de reparação histórica para a população negra — disse Thamiris.
Assim como Thamiris Marques, milhares de jovens que antes não viam a possibilidade de
cursar o ensino superior passaram, com as cotas, a reivindicar e ocupar espaços nas
universidades e institutos federais. De acordo com a pesquisa "Desigualdades Sociais por
Cor ou Raça no Brasil", do IBGE, o número de matrículas de estudantes pretos e pardos nas
universidades e faculdades públicas no Brasil ultrapassou pela primeira vez o de brancos em
2018, totalizando 50,3% dos estudantes do ensino superior da rede pública. Apesar de
maioria, esse grupo permanecia sub-representado já que correspondia a 55,8% da população
brasileira.
Já o Censo da Educação Superior 2019, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontava que brancos ainda eram maioria somando
universidades públicas e privadas: 42,6%. Pardos somavam 31,1%; pretos, 7,1%; amarelos,
1,7%; e indígenas, 0,7%. A raça/cor de 16% era desconhecida. 

Aprimoramento

Além da criação de cotas na pós-graduação e para o corpo docente, a pesquisa traz outras
recomendações de ajustes na política afirmativa, entre elas estão a necessidade de o
Ministério da Educação colocar em prática o monitoramento anual do programa e a
determinação expressa na lei de mecanismos para combater fraudes na autodeclaração como
as comissões de heteroidentificação, prática que já vem sendo adotada em universidades e
institutos federais para verificar a veracidade das autodeclarações. 

A UFRJ, por exemplo, conta desde 2019 com uma comissão de heteroidentificação
constituída para apurar denúncias de potenciais fraudes às cotas raciais. Até hoje, o
colegiado recebeu cerca de 500 denúncias de possíveis fraudes às cotas raciais. Ao todo, 28
estudantes foram punidos com o cancelamento de matrícula. Desses, 10 foram revertidos
após decisões judiciais.

Projetos propõem desde extinção do caráter racial até tornar-se lei permanente 
O que acontece com as cotas se deputados e senadores não avançarem em uma revisão em
2022? Apesar de prever essa avaliação após dez anos de vigência, a redação da lei não
estabeleceu como esse processo deveria ocorrer e a que critérios obedeceria. De acordo com
a coordenadora da área de direitos humanos e cidadania da Consultoria Legislativa do
Senado, Roberta Viegas, a Lei de Cotas não previu prazo para a sua extinção, ou seja, mesmo
sem a revisão, a política de cotas continuará valendo e só pode ser alterada ou revogada por
lei.
— A lei permanece em vigor e somente uma lei poderá revogá-la. Acredito que seria
necessário, fundamental até uma ampla discussão prévia à revisão legal, senão essa revisão
não necessariamente atenderia às atuais necessidades da população alvo da lei de cotas —
apontou a consultora. 
Fim da cota para negros e indígenas

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Na contramão, está o PL 1.531/19, que elimina o critério racial de reserva de vagas em
universidades e institutos federais de ensino.
“Se os brasileiros devem ser tratados com igualdade jurídica, pretos, pardos e indígenas não
deveriam ser destinatários de políticas públicas que criam, artificialmente, divisões entre
brasileiros, com potencialidade de criar indevidamente conflitos sociais desnecessários. Se o
disposto na Carta Magna se aplica a todos os âmbitos, não se deve dar tratamento legal
diferenciado para a questão racial para o ingresso na educação pública federal de nível
médio e superior”, defende a autora da proposta, deputada Professora Dayane Pimentel
(PSL-BA).
O texto mantém a cota para pessoas com deficiência e a cota social. O mesmo caminho é
defendido pelo deputado Dr. Jaziel (PL-CE) no PL 5.303/2019, que foi apensado ao projeto
da Professora Dayane Pimentel. Para ele, a lei deveria contemplar exclusivamente jovens de
baixa renda e pessoas com deficiência.
“A educação superior pública, bem como o ensino médio técnico público, deve ser de acesso
a todo e qualquer brasileiro, independentemente da cor e da raça. Cabe unicamente
beneficiar aqueles que sejam egressos das instituições de ensino público e de baixa renda,
assim como as pessoas com deficiência, critérios que são mantidos na norma legal”,
argumenta o parlamentar. 
Para a senadora Zenaide Maia (Pros-RN), revogar o teor racial das cotas está fora de
questão. Ela aponta que o Supremo Tribunal Federal já atestou a constitucionalidade da
reserva de vagas e aponta que a Lei de Cotas é uma reparação histórica diante da escravidão
e dos efeitos do racismo estrutural. Se depender dela, a reserva de vagas seguirá em
funcionamento por muitas décadas.
— Sou a favor da prorrogação da política de cotas e por um período longo. Foram 300 anos
de escravidão, o Brasil foi o último país da América Latina a libertar os escravizados, então,
este país tem uma dívida histórica imensa com a população negra — defendeu a senadora.

A fala de Zenaide ecoa as palavras de Thamiris Marques:


— Defendo a manutenção das cotas como uma política de reparação de anos de
desigualdades contra nós negros — apontou a ex-aluna da UnB e hoje assistente social.

O juridiquês utilizado para discutir os aspectos legais que organizam o cotidiano


cidadão, muitas vezes afasta aqueles que não se dedicam a decifrar tais códigos, mas na
sociedade contemporânea, a cada rito essencial de passagem que vivenciamos, vai se tornando
mais evidente a necessidade de ampliar a compreensão destes diversos signos. Hoje, na
condição de artista, homem negro, cidadão urbanoide com 58 anos de idade, sinto a
necessidade de reconhecer estes códigos para assegurar minimamente minha capacidade de
defesa dos meus direitos civis. O advogado atuante, Parecerista, Consultor Jurídico junto a

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Unesco Douglas Cunha publicou on line no portal JUSBRASIL, o texto VIGÊNCIA DA
NORMA14 onde ele expõe informações importantes sobre leis no Brasil (em itálico).
- - Para uma lei ser criada há um procedimento próprio que está definido
na Constituição da República (Do Processo Legislativo) e que envolve dentre outras etapas:
a tramitação no legislativo; a sanção pelo executivo; a sua promulgação (que é o nascimento
da Lei em sentido amplo); e finalmente a publicação, passando a vigorar de acordo com o
art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) 45 dias depois de
oficialmente publicada, salvo disposição em contrário. Este prazo expresso neste artigo
refere-se às leis. Note que o início de vigência da lei está previsto no art. 1º da LINBD.
Geralmente, as leis costumam indicar seu prazo de início de vigência, podendo ser inferior
aos 45 dias citados na lei. No Brasil, é comum que as leis entrem em vigor “na data de sua
publicação”, o que é bastante inoportuno, já que a entrada imediata em vigor deve ser
reservada às leis que efetivamente apresentam urgência em sua aplicabilidade. Salvo
disposição em contrário, a lei começa a vigorar no país 45 dias depois de publicada no órgão
oficial.

Elucida o professor Sílvio de Salvo Venosa:

Quanto mais complexa a lei, maior deverá ser o prazo para seu início de vigência, a
fim de que a sociedade tenha tempo hábil para se adaptar ao novo ato normativo. A
publicação indicará o início da vigência previamente a essa publicação é curial que
exista todo um processo legislativo, basicamente disposto na Constituição
Federal (arts. 59 a 69). A finalidade de publicação é tornar conhecida (VENOSA,
2020, p. 1).

O termo vigorar é ter força obrigatória, ter executoriedade, significa que a Lei já pode
produzir efeitos para os casos concretos nela previstos, ou seja, aquelas situações reais que se
enquadram em sua regulamentação. É como se a lei fosse um ser vivo e que, enquanto
vigente, tem “vida”. A vigência basicamente deve ser analisada sob dois aspectos: o tempo
(quando começam e quando terminam seus efeitos) e o espaço (o território em que a lei terá
validade). Desta feita, sempre que uma lei for publicada sem ter uma menção expressa sobre
quanto entrará em vigor, em regra o prazo para início de vigência é de 45 dias depois da sua
publicação (art. 1º da LINDB).

14
Acesso em: 17/05/2022. Mais informações em:
https://douglascr.jusbrasil.com.br/artigos/620262280/vigencia-da-norma
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Fala-se regra pois há exceções, no que se refere à regra do art. 1º da LINDB temos que
constando da Lei disposição em contrário, esta é que prevalecerá. Por exemplo, se o texto de
lei falar que esta entrará em vigor 10 dias após a sua publicação, assim, acontecerá.
O período entre a publicação e a vigência é o que chamamos vacatio legis e serve para
que os textos legais tenham uma melhor divulgação, um alcance maior, contemplando, desta
forma, prazo adequado para que da lei se tenha amplo conhecimento. A lei, no período de
vacatio legis, ainda não tem obrigatoriedade nem eficácia, embora já exista no ordenamento
jurídico. Esse intervalo temporal entre a data da publicação e o início da vigência da lei é a
VACATIO LEGIS. Quando a lei entra em vigor na data de sua publicação é lei sem
VACATIO LEGIS. É importante salientar que publicação é diferente de promulgação. Aquela
é o nascimento da lei em sentido amplo, é ato solene que atesta a existência da lei, já essa é
exigência necessária para a entrada em vigor da lei. Os prazos de vigência são contados a
partir da publicação da lei. Lei vigente será lei obrigatória. Já o caput do art. 2º da LINDB diz
o seguinte: “Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a Lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue”.
Este é chamado princípio da continuidade das leis. É quando uma lei pode ter vigência
para o futuro sem prazo determinado, durando até que seja modificada ou revogada por
outras. As leis podem ter “prazo de validade”, leis temporárias são aquelas com prazo de
vigência determinado. Normalmente são criadas por um fim específico e, diferentemente das
demais, terão uma data de extinção, de certa forma, predeterminada.
Assim, a lei temporária extingue-se terminando o prazo que consta de seu texto ou
quando cumpre com seu objetivo. Como exemplo, temos as leis que concedem benefícios e
incentivos fiscais limitados a um período específico e também as leis relacionadas ao
orçamento (deste modo, por exemplo, a vigência da lei orçamentária, que estabelece a despesa
e a receita nacional pelo período de um ano, cessará pelo decurso do tempo). Portanto, as leis
têm prazo de validade por constar expresso no seu corpo a data de expiração ou por cessar o
motivo que as criou. E ainda, podem ser classificadas como temporárias (cujo corpo da lei
traz a data de término) ou excepcionais (cessa pelo término da causa que deu origem, são
chamadas de leis auto revogáveis). Assim, pelo princípio da continuidade (art. 2º) uma lei
prolonga seus efeitos pelo tempo, a não ser que seja modificada ou revogada por outra. A
revogação pode ser:

● Expressa, quando expressamente o declare. A revogação está no texto da lei.

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● Tácita (indireta), em duas situações: quando seja incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria, mesmo não mencionando a lei revogada.
● Parcial, quando a nova lei torna sem efeito apenas uma parte da lei antiga que no
restante continua em vigor, é a chamada derrogação;
● Total, quando a nova lei suprime todo o texto da lei anterior, ou seja, é feita uma nova
lei sobre o assunto. É a chamada ab-rogação.

Continuando no artigo 2º, agora no seu § 2º, temos o seguinte: “Art. 2º. § 2º. A lei
nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem
modifica a lei anterior”. Daí se desprende que a simples criação de uma lei com o mesmo
assunto de uma lei já existente (disposições gerais ou especiais) não revoga a eficácia da lei
pretérita (da lei antiga). Neste caso, a revogação somente irá acontecer se houver
incompatibilidade entre elas ou a regulação inteira da matéria. Sendo as duas leis compatíveis
e complementares, ambas continuam produzindo seus efeitos.
Dispõe, ainda, que o "Art. 2. § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se
restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. Este parágrafo trata da chamada
repristinação. Que significa restaurar o valor obrigatório de uma lei que foi anteriormente
revogada. Somente ocorrerá repristinação (lei a voltará a valer) se a Lei C assim dispuser
expressamente. Não há repristinação automática.Também é muito importante saber que não
há a chamada repristinação tácita. Repristinação tácita é a volta de vigência de lei revogada,
por ter a lei revogadora temporária perdido a sua vigência.
Outro ponto importante é o que diz respeito às leis revogadoras declaradas
inconstitucionais. Uma vez declarada a inconstitucionalidade de uma lei, é como se esta nunca
tivesse existido, portanto, não há de se falar em lei anterior que tenha sido “efetivamente
revogada” e tão pouco que tenha ocorrido repristinação. Neste exemplo a lei anterior nunca
deixou de valer. Entendo ser de bastante utilidade essas informações sobre a vigência das leis
para entrarmos na reflexão sobre os marcos legais que abordaremos.

6.1 SISTEMA NACIONAL DE CULTURA

Segue em itálico uma matéria para discorrer sobre o Sistema Nacional de Cultura.

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O Senado aprovou em primeiro e segundo turno nesta quarta-feira (12) a criação do
Sistema Nacional de Cultura (SNC), mecanismo de gestão e promoção de políticas públicas
na área cultural, pactuadas entre a União, os estados, os municípios e a sociedade civil. Com
votação unânime e quebra de interstício, a Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) 34/2012 foi aprovada em Plenário como resultado da primeira articulação da futura
ministra da Cultura, senadora Marta Suplicy (PT-SP), relatora da matéria. De autoria do
deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a PEC acrescenta o artigo 216-A ao texto constitucional,
criando o SNC e assegurando a transparência e o controle social do setor cultural, a partir
da implementação de conselhos de cultura, fundos de cultura e outras formas de participação
nas políticas públicas de produtores culturais e da comunidade em geral. O Sistema Nacional
de Cultura tem como objetivo ainda uma maior integração das três esferas de política
cultural, incluindo as administrações municipais, estaduais e o governo federal. Em seu
relatório aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) no final de
agosto, Marta Suplicy afirma que, apesar dos avanços obtidos na facilitação do acesso às
fontes de cultura, ainda falta ao poder público um sistema que articule as ações culturais dos
três níveis de governo. Segundo a senadora, ao se analisar as medidas implementadas na
forma de planos, programas e projetos pelas três esferas de governo, percebe-se que a falta
de articulação entre as iniciativas resulta em perda de eficiência e desperdício de recursos.
Acordos de cooperação
Para otimizar esse trabalho, o Ministério da Cultura vem firmando, desde 2009,
acordos de cooperação com estados, municípios e o Distrito Federal. Com isso, vem sendo
montada a estrutura do proposto Sistema Nacional de Cultura: Secretaria de Cultura;
Conselho de Política Cultural; Conferência de Cultura; Comissão Intergestores; Plano de
Cultura; Sistema de Financiamento à Cultura (com Fundo de Cultura); Sistema de
Informações e Indicadores Culturais; Programa de Formação de Gestores Culturais e
Sistemas Setoriais de Cultura.
Até o início de agosto deste ano, 1.173 municípios e 22 estados já haviam aderido ao
embrião do Sistema Nacional de Cultura, agora oficializado com a nova emenda
constitucional.
A futura ministra da Cultura agradeceu a unanimidade na votação e a disposição dos
colegas para a quebra do interstício para aprovação da PEC em uma única sessão.
- Gostaria de agradecer a confiança e o apreço dos colegas pelo gesto de aprovar o
Sistema Nacional de Cultura, que promoverá a articulação entre os três entes federativos e

45
estabelecerá um padrão de transparência, articulação e sinergia entre União, estados e
municípios. A cultura hoje dá um grande passo – declarou.
A matéria será promulgada em sessão solene do Congresso Nacional em data ainda a
ser marcada. Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado).

Em itálico acima há a matéria segundo a Agência do Senado15. Para falar do Sistema


Nacional de Cultura sinto como que necessário fazer um pequeno recuo na rede do tempo na
qual cito alguns ritos de passagem na cultura (e) nas artes no Brasil. Parto da narrativa de um
período da história que antecedeu a volta da democracia no Brasil, o Regime Militar. Este
período pode ser didaticamente dividido em 2 fases: a de expansão do autoritarismo
(1964-1974) e a de abertura política (1974-1985).
Nascido no ano de 1963, vivenciei na inocência de minha infância toda a primeira fase
do regime militar e os horrores do autoritarismo político social, mas ao mesmo tempo
vivenciei as alterações no sistema educacional, que possibilitaram que minha mãe oferecesse
a educação que ela julgava a mais adequada. É muito complexo falar deste período de
contradições, mas é certo que os aspectos negativos superam qualquer ideia positivista, pois
neste espaço de tempo acentuou-se ainda mais algumas das mazelas sociais que perduram
ainda hoje. Este período acentuou ainda mais o lugar dos ricos e dos pobres enquanto classe
social. Segue (em itálico) uma contextualização antes da Constituição Federal.16
Contexto antes da nova Constituição Federal: auge e declínio da ditadura militar.
“Quanto a essa primeira fase, cabe destacar que o sistema partidário do país foi extinguido
pelo AI-2, que determinou o fim dos partidos até então existentes. Após esse decreto, as
autoridades federais permitiram a formação de dois novos partidos: a ARENA (Aliança
Renovadora Nacional), que apoiava o governo, e o MDB (Movimento Democrático
Brasileiro), que o combatia. A ARENA era amplamente majoritária no Congresso e dispunha
de total apoio oficial do governo, enquanto o MDB estava permanentemente ameaçado de ter
seus deputados e senadores cassados.
Nessa época já aumentava a resistência à ditadura, apesar da repressão e da censura
à imprensa. Apesar de grande parte dos opositores do regime terem optado pelo silêncio,
muitos se aliaram ao MDB como forma de resistência àquela situação de controle nacional
15
Acesso em: 17/05/2022. Mais informações em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2012/09/12/sistema-nacional-de-cultura-e-aprovado-e-vai-vigorar
-em-breve
16
Acesso em: 17/05/2022. Mais informações em:
https://www.politize.com.br/constituicao-federal-1988/?doing_wp_cron=1652408258.751801967620849609375
0
46
por parte dos militares, enquanto outros optaram pela realização de movimentos de guerrilha
urbana. Entretanto, a luta armada acabou por fortalecer o regime, pois lhe deu a
oportunidade de criar métodos cruéis no combate aos opositores, tais como a tortura, prisão
política e, não raro, assassinatos.
A partir do governo Ernesto Geisel (1974-1979), percebeu-se que se a ditadura
continuasse como estava, a insatisfação ficaria tão generalizada que poderia levar à sua
queda. Isso porque a economia só se deteriorava com o fim do “milagre econômico”, a
sociedade civil estava cansada da falta de liberdade política e as Forças Armadas
começavam a se desgastar devido à sua longa permanência no poder.
Assim, o governo optou por promover a abertura política – nas palavras de Geisel,
“distensão lenta, gradual e segura”. É importante ressaltar que essa liberalização do regime
não visava restabelecer a democracia no Brasil, mas sim dar condições ao regime de
sobreviver em uma época de dificuldades políticas e econômicas.
Desse modo, a repressão policial aos poucos diminuiu, os atos institucionais foram
suspensos, o movimento estudantil se reorganizou, o sistema eleitoral foi democratizado, a
imprensa se libertou da censura, os exilados e presos políticos foram anistiados (perdoados)
e permitiu-se a formação de novos partidos políticos. Em meio à liberação de novos partidos,
ocorrida em 1979, os que apoiavam o governo – antiga ARENA – permaneceram unidos em
um único partido, o PDS (Partido Democrático Social), enquanto o MDB se dividiu em
PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), PT (partido dos Trabalhadores) e
outros. Sobre a Lei da Anistia, aprovada em 1979, é importante dizer que não somente os
presos e exilados políticos foram anistiados, mas também os agentes de órgãos de segurança
do Estado que cometeram crimes de abuso do poder, tortura e assassinato.

Em meio a esta profusão de transformações da sociedade brasileira, o Congresso


Nacional decreta e o presidente da República sanciona a Lei Nº 6.533, de 24 de maio de 1978
que regulamenta o exercício das profissões de Artista e de Técnico em espetáculos de
diversões. Este foi o ano em que eu iniciei meus estudos de dança, e já neste mesmo ano, fui
apresentado ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões São Paulo
(SATED). No ano de 1980, foi aprovada uma emenda constitucional (emenda constitucional
nº 15, de 1980) que restabelecia as eleições diretas para governador. Isso mostra que as
proporções da abertura política estavam aumentando, o que desagradava grupos mais
conservadores. Segundo a Assembleia Constituinte e Cidadã: o berço da Constituição Federal,
segue (em itálico).

47
Feita essa revisão da ditadura militar, podemos orgulhosamente falar da Constituição
Federal de 1988, que está vigente até hoje, pois ela já foi construída com a presença da
população liberta na sua expressão. Em 1986, durante a presidência de Sarney, houve
eleições para o Congresso Nacional (deputados e senadores). Os 559 eleitos formaram a
Assembleia Constituinte, que elaborou a nova Constituição entre 1987 e 1988. A maioria dos
constituintes era de partidos do chamado Centro Democrático, partidos como PMDB, PFL,
PTB e PDS. O presidente da Constituinte foi o deputado Ulysses Guimarães, do PMDB. Entre
os constituintes também estavam figuras importantes, como os futuros presidentes Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

O resultado de mais de 19 meses de assembleia foi a Constituição Federal de 1988,


apelidada de cidadã. É uma das mais extensas constituições já escritas, com 245 artigos e
mais de 1,6 mil dispositivos. Mesmo assim, ela é considerada incompleta, pois vários
dispositivos que dependem de regulamentação ainda não entraram em vigor.

Elementos da Constituição Federal de 1988. Vamos conferir algumas das principais


determinações desta Carta:

- Sistema presidencialista de governo, com eleição direta em dois turnos para


presidente;

- Transformação do Poder Judiciário em um órgão verdadeiramente independente,


apto inclusive para julgar e anular atos do Executivo e Legislativo;

- Intervencionismo estatal e nacionalismo econômico;

- Assistência social, ampliando os direitos dos trabalhadores;

- Criação de medidas provisórias, que permitem ao presidente da República, em


situação de emergência, decretar leis que só posteriormente serão examinadas pelo
Congresso Nacional;

- Direito ao voto para analfabetos e menores entre 16 e 18 anos de idade;

- Ampla garantia de direitos fundamentais, que são listados logo nos primeiros
artigos, antes da parte sobre a organização do Estado.

No conjunto, a Constituição Federal de 1988 se caracteriza por ser amplamente


democrática e liberal – no sentido de garantir direitos aos cidadãos. Apesar disso, nossa
Carta atual foi e continua a ser muito criticada por diversos grupos, que afirmam que ela
48
traz muitas atribuições econômicas e assistenciais ao Estado. O presidente na época da
promulgação, José Sarney, chegou a afirmar que ela tornaria o país “ingovernável”, pelo
excesso de responsabilidades sobre o Estado.

De todo modo, a Constituição Cidadã é considerada por muitos especialistas como


uma peça fundamental para a consolidação do Estado democrático de direito no país, bem
como da noção de cidadania, ainda tão frágil para a população brasileira.

Neste contexto, regido por esta Carta Magna, a emenda constitucional nº 71, de 29 de
novembro de 2012, acrescenta o art. 216-A à Constituição Federal para instituir o Sistema
Nacional de Cultura. As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do
§ 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto
constitucional: Art. 1º A Constituição Federal passa a vigorar acrescida do seguinte art.
216-A. Segue: "Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime de
colaboração, de forma descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e
promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas
entre os entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento
humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais.17”

17
Acesso em 17/05/2022. Mais informações:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc71.htm
49
7 LEI DA DANÇA

Constituição Federal, Seção II da Cultura - Art. 216. Constituem patrimônio cultural


brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar,
fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos,
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V -
os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico. § 1º O Poder Público, com a colaboração da
comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação.
Dentre os diversos interesses emergentes neste tema social, vamos identificar que a
partir do ano de 2001, com a realização de fóruns, seminários, congressos e conferências, foi
amplamente discutida a liberdade do exercício da profissão dança de forma autônoma em
relação a outras profissões regulamentadas. Naquele momento os profissionais de educação
física buscam atrelar a Dança entre suas atividades como atividade física e modalidade
esportiva. Sob o slogan “Dança é Arte”, milhares de profissionais de Dança mobilizaram-se
em todo o país demandando o reconhecimento da autonomia da profissão, o que culminou em
grande mobilização pela regulamentação específica da atividade profissional, que até o
presente momento encontra-se ao abrigo da Lei dos artistas e técnicos em espetáculos de
diversões nº 6.533/78, todavia desatualizada em relação ao fazer específico da dança.
O que é a lei da dança? A Lei da Dança foi aprovada em 02 de março de 2016 em
caráter terminativo, pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, o PLS nº
644/2015, de autoria do Senador Walter Pinheiro, que dispõe sobre o sobre o ofício de
profissional da dança, estabelecendo as condições para seu exercício e atendendo uma
demanda histórica dos profissionais de dança, com a atualização das áreas de atuação, bem
como com o encerramento das longas disputas judiciais com entidades reguladoras de outras
áreas de atuação profissional, com o definitivo reconhecimento da autonomia da profissão.
Segue (em itálico):

50
ESCLARECIMENTOS SOBRE A “LEI DA DANÇA”
PLS Nº 644/2015, de autoria do Senador Walter Pinheiro, atualmente tramitando na
Câmara dos Deputados sob o nº 4768/2016.28/04/2021 - Aprovado na Comissão de
Educação - Aprovado o Parecer com Complementação de Voto e com voto contrário do
Deputado Tiago Mitraud.
Às Comissões de Educação; Trabalho, de Administração e Serviço Público e
Constituição e Justiça e de Cidadania (Mérito e Art. 54, RICD) 05/05/2021 - Encaminhado à
Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público Designado Relator, Dep. Paulo
Pereira da Silva (SOLIDARI-SP) 02/06/2021 - Redistribuído o Projeto de Lei n. 4.768/2016 à
Comissão de Cultura.
Em 02 de março de 2016, foi aprovado em caráter terminativo, pela Comissão de
Assuntos Sociais do Senado Federal, o PLS nº 644/2015, de autoria do Senador Walter
Pinheiro, que dispõe sobre o exercício da profissão da dança, estabelecendo as condições
para seu exercício. Em 16 de março de 2016, o Projeto de Lei foi encaminhado à Câmara
Federal para tramitação, que seguirá sob o nº 4768/2016.
Essa aprovação foi recebida com entusiasmo pelos profissionais de dança de todo o
país, que há muito vêm debatendo sobre a necessidade de uma legislação própria de
regulamentação do exercício da profissão. Esses movimentos ganharam força a partir do ano
de 2001, com a realização de fóruns, seminários, congressos e conferências que abordaram o
tema da liberdade do exercício da profissão de forma autônoma em relação a outras
profissões regulamentadas, como a dos profissionais de educação física (Lei nº 9.696/98) e
dos artistas e técnicos em espetáculos de diversão (Lei nº 6.533/78). Diante de lacuna
existente na lei e respectiva regulamentação que dispõe sobre o exercício da profissão de
artista, no que diz respeito às atividades específicas de dança, os profissionais desta área
passaram a ter suas atividades indevidamente enquadradas na lei do profissional de
educação física, o que provocou inúmeras ações judiciais com o intuito de proteger o
exercício profissional de forma autônoma e desvinculada de área diversa.
O Fórum Nacional de Dança mobilizou milhares de profissionais de Dança em todo o
país, sob o slogan “Dança é Arte”, com a articulação de fóruns e movimentos de dança
regionais, demandando o reconhecimento da autonomia da profissão, o que culminou em
grande mobilização pela regulamentação específica da atividade profissional, que até o
presente momento encontra-se ao abrigo da Lei nº 6.533/78, todavia desatualizada em
relação ao fazer específico da dança.
O conteúdo do projeto de lei foi compilado a partir de contribuições colhidas junto
aos fóruns, seminários, congressos e conferências, tendo sido aprovado como uma das metas
prioritárias da II Conferência Nacional de Cultura, ocorrida em Brasília, em 2010. As
propostas foram encaminhadas à consultoria legislativa do Senador proponente do projeto,
resultando no texto aprovado em caráter terminativo pelo Senado Federal, que será ainda
submetido à aprovação pela Câmara Federal. O texto da lei é de caráter eminentemente
trabalhista, garantidas todas as prerrogativas legais vigentes, ínsitas na Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), sem excluir os direitos previstos na Lei nº 6.533/78 (Lei dos Artistas
e Técnicos em Espetáculos de Diversão), que atualmente abriga os profissionais de dança,
ainda que com lacunas em relação a atividades específicas da profissão.
Além das questões de direitos e prerrogativas do exercício da profissão, a “Lei da
Dança” alçará os profissionais a um patamar de autonomia e dignidade do exercício
profissional, estimulando a organização institucional própria, possibilitando novas
51
conquistas no âmbito socioeconômico, bem como no âmbito das políticas públicas específicas
para a área.
O Art. 1º do projeto de lei, ao elencar quem está apto a exercer as atividades
profissionais previstas no texto legal, não inova em relação à legislação vigente, no sentido
de restringir a atuação profissional, ao contrário, ao prever a regulamentação do
fornecimento de atestado de capacitação profissional (atualmente fornecido pelos Sindicatos
da Dança do RJ e SP, e SATEDs nos demais Estados e Distrito Federal) por entidades de
DANÇA, estimulará a regularização de artistas e profissionais que atualmente encontram-se
em situação de informalidade, com a implementação de critérios específicos para cada uma
das áreas e linguagens de atuação destes profissionais.
Especificamente em relação à obtenção do registro do profissional no Ministério do
Trabalho, a chamada DRT (sigla de Delegacia Regional do Trabalho), tema que tem gerado
dúvidas e questionamentos, a nova lei da dança manterá as diretrizes da Lei do Artista,
possibilitando o registro através de atestado de capacitação profissional a ser emitido pelos
órgãos competentes, bem como com a apresentação de diplomas de cursos técnicos e
superiores.
A nova lei irá estimular a organização de entidades específicas da dança, com
atribuições jurídicas e de representação social e política, bem como com atribuição legal
específica para expedição dos atestados de capacitação técnica a partir de critérios
elaborados para as diversas linguagens da dança, atendendo não só a profissionais das
danças clássica, contemporânea, jazz e outras linguagens, como também aos profissionais
que trabalham na cadeia produtiva de culturas populares, a exemplo das danças periféricas,
urbanas, étnicas e tradicionais, que hoje estão atuando na informalidade.
As atividades previstas na nova lei regulamentadora, em seu Art. 2º, são resultado de
uma demanda histórica dos profissionais de dança, com a atualização das áreas de atuação,
bem como com o encerramento das longas disputas judiciais com entidades reguladoras de
outras áreas de atuação profissional, com o definitivo reconhecimento da autonomia da
profissão.
Quaisquer manifestações sobre a “Lei da Dança” relativas a eventual restrição de
direitos e garantias já conquistadas pelos profissionais da área, demonstram
desconhecimento dos avanços sociais, políticos e legais construídos de forma coletiva. A
busca por esclarecimentos relativos à abrangência e efeitos da proposta de lei deve nortear
as ações e manifestações de artistas, estudantes, professores, pesquisadores, produtores e
demais profissionais da dança, visando conquistar a efetiva aprovação e implementação de
uma lei que trará benefícios a toda sociedade.
O Superior Tribunal de Justiça, em 2014, decidiu que professores e mestres de dança,
ioga e artes marciais não são obrigados a se registrar no Conselho de Educação Física. O
entendimento é da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), tomado no
julgamento do Recurso Especial 1.450.564-SE, da relatoria do Ministro Og Fernandes,
julgado em 16/12/2014, publicado no DJe 4/2/2015. Essa decisão, embora seja condutora de
inúmeras decisões judiciais no país, não torna definitiva a questão, que só terá solução
definitiva através de regulamentação própria. (anexo I texto da PL na íntegra) - Marise
Gomes Siqueira OAB/RS 38.550 - advogada membro do Fórum Nacional de Dança.
No ano de 2021, mesmo que à margem de qualquer marco legal, os Conselhos
Regionais de Educação Física ainda consideram, que os centros/escolas informais de

52
formação em dança coordenados por professores, bailarinos e coreógrafos estejam sob sua
fiscalização, por entenderem a dança como atividade física. Alguns profissionais destas
escolas, preocupados com o momento em que o país passa por uma crise sanitária, se abrem
para esta intervenção entendendo a proximidade com o Conselho Regional de Educação física
como uma possibilidade para que seus profissionais sejam vacinados e seus estabelecimentos
possam abrir as portas e receber alunos, pois o Conselho Nacional de Saúde reconheceu ser a
atuação do Profissional de Educação Física, atividade essencial, por ser profissão da área da
saúde. Entre outros aspectos, este reconhecimento considerou a importância das ações
interdisciplinares no âmbito da saúde, possibilitando que seus profissionais de qualquer idade
possam receber as doses da vacina contra o Coronavírus.

A afirmação da autonomia da dança como área de conhecimento e de atuação artística,


seja ela manifestação popular ou da cena é confrontada por vezes pelos aspectos bioquímicos
que propiciam benefícios para saúde advindas das atividades físicas ocasionadas pelo
exercício da dança como procedimento terapêutico. Poderia o ato de dançar ser regulado e ou
fiscalizado por conselhos esportivos ou de saúde? Onde e de que forma se diferem os campos
de atuação?
Várias questões se estabelecem, dentre elas a possibilidade de que o ensino informal
da dança seja fiscalizado por um conselho profissional que descaracteriza a dança como arte,
podendo exigir que bailarinos, coreógrafos e dançarinos tenham a comprovação de habilitação
em curso de graduação em Educação Física e a inscrição profissional no respectivo conselho
de fiscalização do exercício profissional da área – CONFEF/CREFs – para atuar no ensino
informal da dança e isso pode se configurar como um grande desvirtuamento da formação de
artistas da dança. Percorrer documentos diversos produzidos e buscar através da atuação de
articuladores deste movimento informações que possam descrever os trâmites desta legislação
específica para a dança e outras atitudes que permeiam o universo das artes é um objetivo
específico neste contexto.
No livro Dança e Política – Estudos e Práticas, organizado por Marila Vellozo e Rafael
Guarato, vamos encontrar alguns capítulos e documentos que mostram nitidamente alguns dos
capítulos que envolvem a construção e a tramitação deste PL da Lei da Dança. Cito como
exemplo o documento protocolado no Ministério da Cultura, no Gabinete da Ministra Marta
Suplicy em 29 de abril de 2014. Uma carta de recomendação do Colegiado Setorial de Dança
pedindo apoio para que seja revisto o atrelamento do termo dança na lei de profissionalização
da educação física para esta atividade não fosse tratada como esporte e sim como arte. Nesta

53
carta é pedido um posicionamento do Ministério da Cultura, sendo mencionado todo o
desgaste social desta luta, assim como aponta a necessidade de discutir uma demanda já em
articulação. Uma lei trabalhista própria para Dança (anexos II e II).

8 PNA - POLÍTICA NACIONAL DAS ARTES

A história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida,


anunciadora dos tempos antigos. - Cícero.

Nesta etapa, meus escritos foram organizados, a partir de documentos e conteúdos


gerados entre os anos de 2015 e 2016 no contexto do programa PNA – Política Nacional das
Artes – onde ocupei a função de Articulador setorial pela Dança a convite dos realizadores
deste movimento, técnicos da Funarte e do MinC.

8.1 SOBRE A FUNARTE/MINC

A Fundação Nacional de Artes — Funarte é o órgão responsável, no âmbito do


Governo Federal, pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes
visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo. Os principais objetivos da instituição,
vinculada ao Ministério da Cultura, são o incentivo à produção e à capacitação de
artistas, o desenvolvimento da pesquisa, a preservação da memória e a formação de
público para as artes no Brasil. Para cumprir essa missão, a Funarte concede bolsas e
prêmios, mantém programas de circulação de artistas e bens culturais, promove
oficinas, publica livros, recupera e disponibiliza acervos, provê consultoria técnica e
apoia eventos culturais em todos os estados brasileiros e no exterior. Além de manter
espaços culturais no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, a
Funarte disponibiliza parte de seu acervo gratuitamente na internet (FUNARTE,
2022, p.1).18

O Ministério da Cultura tem a Funarte como articuladora de políticas, delegando a


instituição a função de administradora de parte dos recursos para a cultura, a direcionada às

18
PORTAL BRASILEIRO DE DADOS ABERTOS. Acesso em: 17/05/2022. Disponível em:
https://dados.gov.br/organization/about/fundacao-nacional-de-artes-funarte
54
artes no país, e isto a torna o centro de interesse das linguagens artísticas ali geridas. A
instituição é inclusive lugar de vislumbre de visibilidade e fortalecimento político. Está
concentrada neste órgão público uma expectativa que ora se materializa ora se frustra pela
descontinuidade histórica da valoração da cultura e sobretudo da gestão das artes dentro do
universo de interesses administrativos do país.
De forma muito complexa, esta instituição espelha as potencialidades e as deficiências
sobre as questões de desenvolvimento do setor cultural relacionado às artes. Apesar desta
instituição ao longo dos anos ser responsável por projetos de manutenção institucionalizada
para as linguagens artísticas, não é desenvolvida através dela uma estrutura para organizar
avanços efetivos no campo político social. É como se não houvesse interesse político
administrativo neste desenvolvimento. De 2001 a 2016 movidos por programas ligados ao
avanço da participação social democrática em todos os assuntos do país, uma quantidade de
mapeamentos e censos foram promovidos e colocados à disposição dos técnicos funcionários
tanto do ministério da cultura quanto os desta instituição. O que não se explica de maneira
lógica é porque a simbiose destes órgãos não acontece de forma a efetivar políticas públicas
mais eficazes relacionadas às demandas sociais ligadas a cultura das artes.
A própria iniciativa do Governo Federal, em 2005, de estruturar um sistema nacional
de cultura contribuiu para que mobilizações locais e nacionais fossem ativadas requerendo
fundos setoriais, políticas específicas e espaços de gestão próprios. Período de planejamento
de mudanças radicais no processo político administrativo do país. Avanços que tiveram ao
final culminaram com um retrocesso histórico. Existe até os dias de hoje, um constante
vislumbre de uma reforma política geral pairando no ar. Me utilizo do formato de um diário,
onde as datas aqui colocadas servem como referências para que eu relate os fatos dos quais
estive presente, onde coloco anotações de minhas agendas neste período.

8.2 TEVE INÍCIO A CONSTRUÇÃO DO PROGRAMA PNA

A Política Nacional das Artes (PNA) será construída a partir da valorização da arte
e da cultura em suas múltiplas possibilidades, com diretrizes e mecanismos que
possibilitem o fomento, a preservação e o desenvolvimento das diversas linguagens
artísticas.

55
Esse foi o fundamento apresentado pelo presidente da Fundação Nacional de Artes
(Funarte), Francisco Bosco, na abertura do Seminário de Lançamento do Processo de
Elaboração da PNA, na manhã do dia nove de junho, no Rio de Janeiro.19

Tendo se orientado, em sua primeira gestão à frente do Ministério da Cultura


(MinC), por uma ideia abrangente de Cultura, que norteou a formulação e
implementação de diversos programas e ações – e que representaram uma
transformação profunda na institucionalização do MinC e no conjunto de suas
atribuições, Juca Ferreira identificou a necessidade de, em sua segunda passagem
pela pasta, atuar com igual vigor no campo das Artes, estabelecendo para ele um
conjunto de políticas públicas revitalizando sua principal instituição, a Fundação
Nacional de Artes – Funarte. Dessa percepção surgiu o processo de construção do
programa Política Nacional das Artes (PNA), com o objetivo primordial de
implementação de políticas públicas atualizadas, fundamentadas e duradouras para
as artes. Para tanto, o processo de construção da PNA envolveu gestores públicos,
profissionais contratados, colegiados setoriais, artistas, produtores e sociedade civil
em geral e teve como base inicial os Planos Setoriais dos Colegiados Setoriais do
Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), bem como todo o acúmulo de
experiências no âmbito das instâncias de participação popular constituídas e
legitimadas ao longo dos últimos anos de organização dos diversos segmentos das
artes (BOSCO, 2016, p.41).

8.3 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA POLÍTICA NACIONAL DAS ARTES

Segue abaixo, a equipe de trabalho segundo o Relatório de atividades da Política Nacional das
Artes (2016):

• Comitê Executivo

- Ministro da Cultura – Juca Ferreira

- Secretário Executivo (MinC) – João Brant

- Secretário de Políticas Culturais (MinC) – Guilherme Varella

19
Relatório de atividades da Política Nacional das Artes – Dança Eixo Setorial Articulador Rui Moreira Página
76 a 93. Acesso em 17/05/2022. Disponível em:
https://www.funarte.gov.br/wp-content/uploads/2016/05/Relat%C3%B3rio-de-Atividades-da-Pol%C3%ADtica-
Nacional-das-Artes-4.pdf
56
- Presidente da Funarte – Francisco Bosco

- Diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte – Leonardo Lessa

- Assessor Especial (MinC) – Adriano de Angelis

• Articuladores

- Artes Visuais – Jacqueline Medeiros (CE)

- Circo – Hugo Possolo (SP)

- Dança – Rui Moreira (MG)

- Literatura – Sérgio Cohn (RJ)

- Música – Cacá Machado (SP)

- Teatro – Marcelo Bones (MG)

• Consultores

- Artes Visuais – Kadija de Paula (RJ)

- Circo – Maria de Fátima Pontes (PE)

- Dança – Marila Velloso (PR)

- Literatura – Milena Britto (BA)

- Música – Joana Correa (MG)

- Teatro – (até a interrupção do processo não teve definição)

• Diretorias e Coordenações de Linguagem da Funarte (Diretoria Colegiada)

- Artes Visuais – Xico Chaves (Diretor do Centro de Artes Visuais)

- Andréa Paes (Coordenadora)

- Circo – Marcos Teixeira (Coordenador de Circo)

- Dança – Fabiano Carneiro (Coordenador de Dança)

- Literatura – Maristela Rangel (Diretora do Centro de Programas Integrados)

- Filomena Chiaradia (Gerente de Edições)

- Música – Marcos Lacerda (Diretor do Centro da Música)

57
- Eulícia Esteves (Coordenadora de Música Popular)

- Teatro – Maria Marighella (Coordenadora de Teatro)

• Secretarias do Ministério da Cultura (MinC)

- SE – Secretaria Executiva (Secretário João Brant)

- SPC – Secretaria de Políticas Culturais (Secretário Guilherme Varella)

- SEFIC – Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Secretário Carlos Paiva)

- SEFAC – Secretaria de Formação Artística e Cultural (Secretária Juana Nunes)

- SAI – Secretaria de Articulação Institucional (Secretário Vinícius Wu)

- SCDC – Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (Secretária Ivana Bentes)

- SAV – Secretaria do Audiovisual (Secretário Pola Ribeiro)

• Outras instâncias Transversais da PNA na estrutura do MinC

- DLLLB – Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas

- ASPAR – Assessoria Parlamentar

- CONJUR – Consultoria Jurídica

- ASCOM – Assessoria de Comunicação

- IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus

• Estrutura Operacional (Funarte)

- Produção – Laís Almeida

- Comunicação – Camilo Árabe

8.4 IMPLANTAÇÃO/ METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS E


AÇÕES

A metodologia e a descrição dos trabalhos eram organizadas pelos técnicos de área da


Funarte juntamente com a equipe de produção e comunicação que se ocupavam
exclusivamente deste programa a serviço da Funarte. Aliás, para realização das ações
programadas foram estabelecidas parcerias, dentre elas com a UNESCO Brasil - Organização
58
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, para criar uma estrutura dentro da
FUNARTE através da contratação de uma equipe de colaboradores específicos envolvidos
com a PNA, incluindo a minha como Articulador Setorial pela dança. Recebíamos um
pró-labore mensal, e nosso tempo de dedicação era integral. O meu contrato a princípio era de
sete horas semanais mais duas reuniões presenciais por mês. Ao final do terceiro mês,
trabalhávamos seguido, muito mais que as horas semanais contratadas e fazíamos quantos
encontros presenciais e virtuais fossem necessários, e íamos onde fosse necessário ir.
Normalmente nos reuníamos no Rio de Janeiro ou em Brasília, mas por vezes, e não raro, a
agenda do programa demandava outros roteiros conectados a eventos que pediam
esclarecimento sobre esta ação ministerial que relacionava cultura e educação a partir das
artes. Não havia espaço para envolvimento parcial para tratar de assuntos de tanta importância
social. Acho importante explicitar que foi despendido todo um orçamento e concentrado o
tempo e energia de trabalho de muitas pessoas para esta ação, assim como acontece com todos
os processos públicos. Portanto, quando há uma interrupção sem que se chegue ao termo de
uma ação, como foi o caso deste processo, a sociedade toda perde muito, inclusive
economicamente.
Toda metodologia, agendas e textos publicados, eram apresentados e discutidos com
os Articuladores Setoriais em reunião presencial, e alterados dependendo dos acordos. O
processo de construção da Política Nacional das Artes estava previsto para atravessar toda a
então gestão Dilma Rousseff – e, idealmente, seguiria para além dela. A complexidade e a
multiplicidade da tarefa obrigavam ao pensamento de médio e longo prazos, e uma
perspectiva de ações estruturantes de caráter transversal às linguagens artísticas e outras de
caráter setorial, respeitando as especificidades das linguagens, que possuem demandas
distintas entre si. Temas como economia das artes, por exemplo, requerem a formação de
indicadores, em diversas dimensões, e isso levaria tempo para constituir. Por outro lado, não
podíamos nos ater exclusivamente a esse prazo estendido; havia ações que podiam e deviam
ser feitas em períodos mais breves. Era necessário, portanto, identificar essas ações, delimitar
o que era exequível, a curto prazo, no interior de temas complexos, priorizar essas ações e
distribuir adequadamente as atribuições. A primeira etapa do processo de construção da PNA
esteve focada, portanto, na elaboração objetiva de propostas estruturantes para o
desenvolvimento das políticas públicas para as artes, divididas em dois blocos de ação,
segundo FUNARTE (2016):

59
1. PROGRAMAS SETORIAIS DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS:
A partir da identificação de demandas específicas das linguagens, já apontadas
nos diversos documentos elaborados nos últimos anos, dentre eles os planos
setoriais, sob embasamento dos materiais pesquisados pelos Consultores, os
Articuladores realizaram encontros com setores das suas linguagens para o
levantamento e a atualização de ações a serem desenvolvidas pela Funarte, em
parceria e diálogo com o Sistema MinC. Esse acúmulo constituiria um programa
setorial para cada linguagem artística, a ser elaborado pela Funarte em parceria
com os Articuladores. Esse documento seria submetido à aprovação e debate dos
Colegiados Setoriais e, posteriormente, a uma validação pública em todos os
estados e Distrito Federal.

2. PROJETOS TRANSVERSAIS:
Naquele momento, o Comitê Executivo da PNA havia delimitado três temas a
serem priorizados e transformados em projetos transversais estruturantes, ou seja,
aplicavam-se às redes produtivas das seis linguagens artísticas da PNA, eram
eles:

I-Rede das Artes: Formação de uma rede que possibilitasse a circulação, difusão e
intercâmbio da produção artística de cada linguagem, por meio de uma plataforma
digital cujo objetivo era funcionar como espaço de agenciamentos das linguagens
artísticas, especialmente voltada para circulação. A ideia era que o poder público
desenvolvesse as funcionalidades e os setores se apropriassem dos mecanismos,
tornando-a viva e sempre atualizada. A Funarte vincularia a esse espaço os seus
mecanismos de fomento; os proponentes passariam a se inscrever por meio dele, que
assim induziria à formação de cadastros e indicadores (que inclusive viriam a
orientar melhor as ações da própria Funarte).
ATUALIZAÇÃO: Encontrava-se em desenvolvimento projeto de plataforma digital a
partir do software livre Mapas Culturais (software que idealmente iria congregar
todos os dados e mapeamentos do Sistema MinC) aplicado, no primeiro momento, às
Artes da Cena como projeto-piloto que previa fomento anual à circulação nacional de
espetáculos de Circo, Dança e Teatro por festivais, espaços cênicos e espaços abertos.

60
Em articulação FUNARTE / SPC (Coordenação-Geral de Monitoramento de
Informações e Indicadores Culturais).

II- Marcos Legais das Artes: tendo como foco quatro eixos principais: tributário,
fiscal, trabalhista e previdenciário, seriam empreendidos estudos sobre as legislações
vigentes e constituídas propostas em consonância com parlamentares ligados à
Cultura de projetos de revisão da legislação no sentido de liberar gargalos,
desburocratizar o trabalho dos gestores públicos, regulamentar leis que regem a
profissão dos artistas, entre outros temas.

ATUALIZAÇÃO: Este trabalho estava sendo desenvolvido, no primeiro momento,


através de estudos sobre os setores – em andamento pelos consultores de cada
linguagem – e seria trabalhado de forma transversal junto a um consultor contratado
pela Secretaria de Políticas Culturais, com o apoio das instâncias de suporte jurídico
e parlamentar do Ministério da Cultura.

Em articulação Fundação Nacional das Artes FUNARTE /Secretaria de Políticas


Culturais SPC / Consultoria Jurídica CONJUR / Assessoria Especial Parlamentar e
Federativa ASPAR.

III- Sistema Federativo do Fomento às Artes: dentro do problema complexo da


criação de um sistema federativo da cultura, acreditávamos ser exequível a curto
prazo um “pacto federativo do fomento”, isto é, uma articulação com secretários
estaduais de cultura, gestores de fundos e outros atores a fim de definir as condições
para uma nova forma de relação entre os entes federados, no que dizia respeito ao
fomento. O plano era conseguir implementar esse pacto já em 2016, executando
editais a partir de diretrizes comuns e de seleções descentralizadas, evitando
sombreamentos de ações e iniciativas dos entes federados para os setores artísticos.
Neste contexto e perspectiva, víamos que a necessidade da Criação de um Programa
de Apoio e Fomento Continuado e Plurianuais a Ações estruturantes do Campo
artístico era fundamental.

61
ATUALIZAÇÃO: Estava em andamento trabalho junto à Secretaria Nacional de
Fomento e Incentivo à Cultura SEFIC na aproximação com os estados através dos
fóruns de secretários de cultura e em desenvolvimento projeto-piloto de Programa
Plurianual de Apoio a Atividades Continuadas, envolvendo Eventos Calendarizados;
Manutenção de Espaços e Equipamentos e; Manutenção de Grupos e Coletivos
Artísticos.

Em articulação Fundação Nacional das Artes FUNARTE / Secretaria Nacional de


Fomento e Incentivo à Cultura SEFIC.

IV – Economia das Artes: Implementação nas diretrizes das políticas desenvolvidas


pela Funarte, estratégias para dinamização das cadeias produtivas dos segmentos
artísticos, considerando a indissociabilidade de suas dimensões simbólica, social e
econômica.

ATUALIZAÇÃO: Estava em andamento estudo sobre as economias da Música e do


Teatro, como projetos-piloto junto à SPC.

Em articulação Fundação Nacional das Artes FUNARTE /Secretaria de Políticas


Culturais SPC

8.5 PNA – ARTICULAÇÃO DANÇA

O marco mais importante das ações políticas para as artes realizadas no primeiro
mandato do então Ministro da Cultura Gilberto Gil, e que se referia à valorização de

especificidade em espaços de representatividade, foi a implantação das Câmaras Setoriais de

Teatro, Dança, Música e Circo, em 2005, depois renomeados de Colegiados Setoriais. Pelo
setor da dança, houve acompanhamento e apoio das diferentes gestões da Coordenação de
Dança da Funarte (Marcos Moraes, Leonel Brum e Fabiano Carneiro) para o processo de
elaboração do Plano Nacional da Dança (PND). Essa atuação se deu de modo unificado com a
Câmara/Colegiado Setorial de Dança e CNPC participando do processo de realização de
Assembleias Setoriais Estaduais, da I Pré-Conferência de Cultura, da II Conferência Nacional
de Cultura em 2010 etc. Na gestão de Leonel Brum, foi proposto um Centro de Dança,
62
conforme previsto em um Plano Estratégico de 2009-2010, que chegou a tramitar pelo

Congresso Nacional como um projeto para a reestruturação da Funarte. A criação de uma


Diretoria de Dança na Funarte foi votada como estratégia prioritária na Pré-Conferência
Setorial de Cultura, tendo sido aprovada na II Conferência Nacional de Cultura – Estratégias
Setoriais, 2010.
Na ação da Política Nacional das Artes (2015-2016) a demanda da Diretoria de Dança
permaneceu como um desejo norteador de grandes discussões em várias regiões do país. A
demanda foi organizada levando em consideração vários aspectos e formatou um pensamento
de um núcleo articulador dentro da Funarte e foi reforçada pelo compromisso retomado e
assumido por Juca Ferreira, à época Ministro de Estado da Cultura, em seu primeiro encontro
aberto com militantes da dança nacional acontecido em Brasília, com a promessa de que esta
seria uma prioridade no processo de reformulação da Funarte.

8.6 I ENCONTRO DA DANÇA COM O MINISTRO DA CULTURA

No dia 16 de junho de 2015 foi realizado um encontro que reuniu na cidade de


Brasília, artistas independentes, movimentos organizados pela sociedade civil e gestores
públicos vindos de várias regiões do país, que bancaram a si próprios ou foram enviados por
entidades de classe ou empresas culturais, para encontrar com o Ministro Juca Ferreira. A
intenção geral do coletivo ali reunido foi apresentar uma breve trajetória das ações traçadas
pelas diretrizes políticas do Plano Nacional de Dança, que explicitam a participação da
sociedade civil com suas variadas atuações e contribuições, na construção do desenho do
cenário ideal para a fruição da Dança no Brasil naquele momento.  Na fala dos presentes
houve cobrança da efetivação de processos que estavam em rota ao longo dos anos, mas
também reafirmava a disposição coletiva para continuar colaborando na construção de novas
metas e efetivação das políticas setoriais de Estado.
Representando a Funarte, estiveram presentes à reunião, além do presidente da
instituição, Francisco Bosco, o diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen), Leonardo Lessa,
e o coordenador de Dança, Fabiano Carneiro. Abrindo o Encontro o presidente da Fundação
Nacional de Artes (Funarte), iniciou sua fala abordando contingenciamento orçamentário, mas
garantiu a execução do Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna, mas anunciou a
63
impossibilidade naquele momento, da realização de outros editais específicos, como o edital
para a realização de festivais. Expos também, sua intenção de discutir propostas para o setor
que iriam compor a Política Nacional das Artes (PNA), movimento que ele descreveu aos
presentes.
Este foi o primeiro diálogo oficial da comunidade de dança com o ministro da Cultura,
Juca Ferreira, naquela nova passagem dele pelo Ministério da Cultura. Em avaliação dos
participantes, foi considerado positivo e significativo com destaque relevante principal, a
postura firme do Ministro, que se comprometeu com a condução de alterações estruturais
importantes tanto na Funarte como da CNIC, reafirmando seu compromisso com a exclusão
do termo “artes cênicas” para designar áreas distintas das artes. Durante o início dos trabalhos
das câmaras setoriais em 2005, o termo - artes cênicas foi questionado levando em
consideração a autonomia das linguagens artísticas e as dificuldades na distribuição justa de
orçamentos junto à gestão pública. O Fórum Nacional de Dança, se manifestou através de
uma de suas fundadoras (anexo IV). Falou Dulce Aquino (2005) sobre o encontro:

O que eu acho realmente importante que aconteceu nessa reunião do dia 16 foi a
postura firme de Juca de tirar este termo generalizante “artes cênicas” tanto da
Funarte como na CNIC. Na Funarte será um ganho histórico pois, desde o SNT da
década de 50 do século passado, depois Inacen, Fundacen e por fim Funarte que a
dança permanece submetida à lógica das necessidades de áreas mais hegemônicas
como o teatro. Claro que a presença política do teatro na sociedade brasileira vai
desde o teatro amador, os CPCs e Cucas estudantis, importantíssimos e que a
ditadura militar tanto perseguiu, quanto a indústria atual do entretenimento com as
mídias, em especial a TV. E por todos esses anos, e tenho como militante desde os
doze anos acompanhado o avanço de nossa classe na luta por espaço, políticas
próprias e autonomia, lembro na década de setenta e 80 nossa luta com Celso
Cardoso, na década de 90 com Alfredo e por espaço pequeno de tempo Marcos
Teixeira, que foram coordenadores de dança. No governo FHC no final tivemos uma
lida fantástica quando foi chamado Paulo Pederneiras para uma ação mais forte para
a dança por conta das nossas lutas. E na CNIC será um ganho extraordinário pois
teremos uma cadeira no espaço mais significativo da gestão cultural pois é onde se
determina a distribuição de grana neste nosso “triste país” cada vez mais à mercê do
capitalismo perverso e desta onda negra do conservadorismo e da intolerância… Por
fim foi belíssima a reunião, pela força de cada fala que apesar de sucessivas soaram
como um coro forte e harmônico. Sua luta vale muito, assim como a de todos nós
que temos vontade e coragem de lutar pelo avanço da dança sem interesses

64
imediatos e mesquinhos. Nossos parlamentares, com exceção de alguns, precisam
aprender com os aguerridos cidadãos e cidadãs da DANÇA. Sabe por quê? A dança
nos ensina ética, tipo assim, na coreografia sempre respeitamos o espaço do outro,
na improvisação sempre buscamos novas soluções para poder realizar
deslocamentos, no final do espetáculo para receber os aplausos, sempre nos damos
as mãos e chamamos para o palco também aqueles que ficaram atrás das cortinas e
dos refletores etc, etc, etc… Portanto esta guerra é constante e cheia de batalhas. O
bom é que nós da dança temos ganho a maioria. Bela trajetória – Viva a DANÇA!” 20
(AQUINO, 2005, p.1).

Neste encontro, minha postura foi influenciada por minha participação como
sociedade civil delegada pela classe nos processos das Câmaras Setoriais, Colegiado Setorial,
conselheiro suplente do Colégio Nacional de Políticas Culturais, mas ali, como articulador
pela Política Nacional das Artes, eu estava como representante do poder público na escuta e
recepção das demandas. Me coloquei na condição de mediador entre o poder público e
sociedade civil setorizada organizada, observando o posicionamento dos presentes, para
interagir junto aos gestores da Funarte e do Ministro Juca, a partir das minhas impressões e
traduções dos fatos ali expostos.
Muitos e diversos interesses e prioridades foram levantadas e expostas na reunião.
Eram pessoas de várias partes do país reiterando a esperança de que uma liderança no âmbito
da cultura pudesse dar andamento a anseios mapeados e identificados, mas ainda não
encaminhados de forma política efetivamente. Estavam reunidas lideranças da dança
institucionalizadas e representantes de coletivos civis, com autoridade suficiente para levantar
as mazelas do setor para o gestor máximo da cultura no país.
Ao fim daquela reunião iniciei meu trabalho efetivamente fazendo um planejamento
para promover outros encontros nacionais de dança, para dar sequência a novo levantamento
de dados para cotejar as mazelas com as potencialidades explicitando a capilaridade da
atuação deste setor. De junho a novembro de 2015, um intenso trabalho marcou uma
sequência de encontros setoriais da dança pelo território nacional, ampliando o processo de
construção de políticas de Estado para as Artes.
Posterior aos encontros acontecidos em Fortaleza, Brasília, Pelotas, Belo Horizonte,
Uberlândia, São Paulo, Rio de Janeiro que reuniu artistas, gestores públicos municipais,
estaduais e privados, assim como produtores diretamente ligados à dança, observou-se um

Blog do Fórum Nacional de Dança - Objetividade, produtividade e coerência coletiva marcaram o encontro da
20

Dança com o Ministro. Acesso em: 17/05/2022. Disponível em: https://fndanca.wordpress.com/


65
alinhamento nacional sobre as prioridades políticas apontadas para o setor e foi possível
alimentar de informações o programa PNA – Política Nacional das Artes.

8.7 I ENCONTRO NACIONAL DE GESTORES DE DANÇA

Nos dias 5 e 6 de novembro de 2015, aconteceu o I Encontro Nacional de Gestores de


Dança na cidade de São Paulo no Centro de Referência da Dança. Cada articulador foi
autorizado a organizar um número determinado de encontros com apoio do programa. Este
encontro de gestores convidou lideranças da dança. A PNA ofereceu traslado e a Cooperativa
Paulista de Dança ofereceu hospedagem e alimentação para os convidados de todo o evento.
Durante este encontro, representantes de norte a sul (20 estados e aproximadamente 50
municípios) instituíram grupos de trabalho sobre os temas: pacto federativo, fomento/editais e
marcos legais. Como metodologia, cada um destes grupos temáticos construiu relatos de suas
discussões e apresentou um resumo durante o encontro, debatendo sobre encaminhamentos
possíveis, diretamente com o presidente da Funarte, Sr. Francisco Bosco e com o Diretor do
Centro de Artes Cênicas, Sr. Leonardo Lessa (ambos membros do grupo executivo da Política
Nacional das Artes).
O processo participativo promovido através de encontros setoriais, e seminários
temáticos, direcionados para a elaboração de Políticas de Estado para as Artes, tiveram como
objetivo, além de ampliar a mobilização da diversidade cidadã das artes, também atualizar
estratégias de ação e discutir propostas para a organização de programas que garantissem um
maior acesso à produção, com a implementação de ações de fomento específicas; formação,
com o efetivo acesso às diversas linguagens artísticas no ensino básico, técnico e superior,
além do ensino informal; difusão, através da criação de programas estratégicos para
circulação nacional e internacional; e consumo, com estratégias de democratização de acesso
a espaços tradicionais e alternativos, promovendo assim uma maior compreensão social, tanto
dos protagonistas fazedores de arte quanto do público consumidor, da imprescindibilidade do
ato artístico no contexto sociocultural.
O objetivo deste encontro em especial, foi unir lideranças nacionais representativas da
Dança e gestores públicos, com representação da maioria dos Estados da Federação, para
constituir grupos de trabalho que tinham como mote a estruturação de propostas e estratégias
de ação para curto e médio prazo para o setor da dança. Promovida pela Cooperativa Paulista

66
de Dança (SP), esta atividade foi uma parceria com o Fórum Nacional de Dança (DF) e com
articulação institucional da PNA – Política Nacional das Artes MinC/Funarte.
Estiveram presentes no encontro de São Paulo, eu como articulador Setorial pela
Dança pela PNA, a Consultora Setorial pela Dança pela PNA, Marila Velloso, o Coordenador
de Dança da Funarte, Fabiano Carneiro, o Presidente da Funarte, Francisco Bosco, o Diretor
do Centro de Artes Cênicas, Leonardo Lessa (ambos membros do grupo executivo da Política
Nacional das Artes), além do Secretário Municipal de Cultura de São Paulo acompanhado de
sua assessora, Nabil Bonduki e a Sra. Maria do Rosário Ramalho e o deputado federal, Sr.
Carlos Zarattini.
Um dos pontos de destaque nos debates foi a importância do reconhecimento da Dança
como área autônoma, com o pleito de criação de uma Diretoria própria na estrutura de gestão
da FUNARTE, que garantisse suas especificidades no estabelecimento de programas, projetos
e ações para a área, com equipe qualificada e dotação orçamentária. Essa demanda foi
recorrente nos encontros, fóruns, debates e conferências nos últimos dez anos (levando em
consideração a data atual de 2022, nos últimos dezessete anos), conforme registrado no
Relatório do Colegiado Setorial da Dança, no texto das quatorze recomendações que este
Colegiado fez em uma das moções publicadas (p. 122 do Relatório da Câmara/ Colegiado e
no Plano Nacional da Dança de 2005 a 2010) e mantêm-se na pauta as discussões nacionais,
com a diferença que atualmente não existe diálogos possíveis.
Nesse sentido, naquele momento houve uma devolutiva imediata a um dos pleitos
propostos durante os debates, por parte da representação da FUNARTE. O presidente da
Funarte reafirmou o compromisso do Ministro Juca Ferreira com o setor no sentido de
reformulação radical de gestão da Funarte, garantindo a criação de uma diretoria de Dança
neste órgão, pois havia a compreensão de que esta ação proporcionaria maior autonomia para
o setor.
Para, além disso, foi ressaltada a necessidade de garantia do reconhecimento
profissional, inclusão de planos de carreira na gestão pública, bem como empenho para
consolidação dos direitos trabalhistas e ações estruturadoras nas políticas públicas para o setor
no Brasil. Foi discutida também uma possível formação de uma Frente Parlamentar Nacional
Mista para defesa das questões da Dança. O intuito era o de estabelecer compromissos
específicos com parlamentares e comissões de cultura para que as pautas do setor ganhassem
fluidez nas instâncias onde deveriam ser apresentadas e tramitadas. Foi firmado entre os
presentes, um pacto de realização de esforço coletivo para encaminhar esta mobilização nos

67
Estados de origem dos participantes.
Foi criada também neste encontro a Frente Permanente de Dança (FPD), formada por
Gestores, Artistas e Coletivos de Dança. Aberta a adesões, esta FRENTE se propôs a
colaborar na interlocução de estruturação de uma política nacional para as artes
sistematizando e repassando demandas urgentes e a partir da divisão de grupos de trabalho
temáticos, aglutinar diagnósticos e dados estatísticos nas suas diversas áreas de atuação da
dança (criação, difusão, formação, pesquisa, produção, entre outras).
Um dos objetivos que levaram à existência desta Frente foi estabelecer um grupo
nacional de vigília para difundir as urgências e para promover mobilizações políticas em
nome da dança. Uma busca de conexão nacional direta. As organizações citadas que
participaram do I Encontro Nacional de Gestores de Dança, na Cidade de São Paulo, e outras
a partir do eco deste evento se declararam participantes da FPD - Frente Permanente de
Dança. Segue a lista (em itálico):

A Cozinha Performática (SP)


Assessoria de Dança – Secretaria de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco (PE)
Associação Cultural Dança Minas (MG)
Associação dos Profissionais de Dança de Uberlândia (APDU) – MG
Bienal Internacional de Dança do Ceará (CE)
Cia Street Breakers Crew (SP)
Coletivo em Silêncio (RJ)
Companhia Charme Tango (RJ)
Conselho Estadual de Cultura de Goiás (GO)
Conselho Municipal de Cultura de Ribeirão Preto (SP)
Contacto Associação Cultural (PR)
Cooperativa Paulista de Trabalho dos Profissionais de Dança (SP)
Corpo de Dança do Amazonas – CDA (AM)
Curso de Dança – Unicamp – Instituto de Artes (SP)
Dança em Foco – Festival Internacional de Vídeo & Dança (RJ)
Encontro Beradêro de Dança – EITA (SP)
Escola de Dança da UFBA (BA)
Espaço Corpo que Dança – Presidente Prudente (SP)
Espaço Viver (SP)

68
Festival Internacional de Dança do Recife (PE)
Festival Master Crew (SP)
Festival Múltipla Dança (SC)
Fórum de Dança da Bahia (BA)
Fórum de Dança de Curitiba (PR)
Fórum de Dança de Goiânia (GO)
Fórum de Dança do Ceará (CE)
Fórum de Dança do DF e Entorno (DF)
Fórum Goiano de Dança (GO)
Fórum Latino-americano de Videodança (PE)
Fórum Nacional de Dança (DF)
Fórum Permanente de Dança (RJ)
Fórum Saúde e Cultura do Estado do Rio de Janeiro (RJ)
Fórum Setorial de Dança de Uberlândia (MG)
Fórum Permanente de Minas Gerais (MG)
Fundação Cultural do Estado da Bahia – Coordenação de Dança (BA)
Fundação de Cultura de Florianópolis (SC)
Fundação Palácio das Artes – Porto Velho (RO)
GRU Mudança – Ribeirão Preto (SP)
Instituto Caleidos (SP)
Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (CE)
Mídia Dança: Laboratório de Dança e Multimídia ICA/UFC (CE)
Movimento A Dança se Move (SP)
Movimento Dança Recife (PE)
Mudança – Ribeirão Preto (SP)
Núcleo de Cultura – CEDECA SAPOEMBA (SP)
Núcleo de Dança de Goiânia (GO)
PODFEST – Festival Internacional de Poéticas Digitais (RJ)
PUC Goiás (GO)
Reage Artista – GT de Dança (RJ)
Rede Movimente de Artistas da Dança de Campo Grande (MS)
Representação de Dança – Conselho Estadual de Políticas Culturais de Minas Gerais (MG)
69
Representação de Dança – Conselho Municipal de Políticas Culturais de Uberlândia (MG)
Se Vira Ribeirão – Ribeirão Preto (SP)
Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (SP)
Serviço de Dança da Fundação de Cultura do Recife (PE)
Setorial Municipal de Porto Velho (RO)
Sindicato dos Profissionais de Dança (RJ)
Spray Studio Produções (SP)
Universidade do Estado do Amazonas (AM)
Vila das Artes – Escola de Dança do Ceará (CE)

Além dos compromissos e eventos públicos, aconteciam os encontros estratégicos


internos entre nós, os articuladores setoriais, e o comitê executivo da PNA que era constituído
por técnicos da Funarte – Fundação Nacional das Artes e do MinC – Ministério da Cultura.
No ano de 2015, minha agenda de trabalho foi assim constituída:

• Encontro da Dança com Juca Ferreira – Brasília (DF) – 16/06/2015;


• 1ª Caravana das Artes – Fortaleza (CE) – 21/07/ 2015;
• I Seminário Circulação Nacional e Internacional – Brasília (DF) - 30 e 31/07/2015;
• Roda de conversa sobre Políticas Públicas para Dança realizada em Pelotas (RS)
22/09/ 2015;
• Fórum de Secretários Estaduais de Cultura - Belo Horizonte (MG) – 24/09/2015;
• Reunião setorial na “Ocupação Diálogos” realizada na Funarte Belo Horizonte (MG) -
29/09/2015;
• Encontro Setorial realizado dentro do evento Rede Terreiro Contemporâneo de Dança,
na cidade de Uberlândia (MG) – 15/10/2015;
• I Fórum Nacional de Gestores de Dança – São Paulo (SP) 05 e 06/11/2015;
• Encontro Setorial de Teatro – Políticas de Fomento e Sustentabilidade para Festivais
de Teatro – 07 e 08/11/2015;
• Seminário de Dança na Escola de Teatro e Dança da UFPA - Belém - (PA) 16 e
17/11/2015
• Seminário de Diretores de Cursos Superiores de Dança – Curitiba (PR) 28/11/2015;
• Seminário SEFAC – Secretaria de Formação Artística e Cultural – Brasília (DF) - 01 a
03/12/2015

70
• Encontro Setorial da Dança: Desafios e Perspectivas Futuras – Funarte -Rio de Janeiro
(RJ) 08 e 09/12/2015;
• IV Fórum de Performance Negra – Salvador (BA) - 13 a 17/12/2015.

O ano de 2015 foi dedicado para o lançamento deste programa e uma das estratégias
de trabalho decidida foi criar caravanas itinerantes pelo Brasil, onde a equipe do
MinC/Funarte estaria em um processo de mobilização da sociedade artística, de forma
setorizada, para rediscutir os planos de ação estruturados no período entre 2003 e 2010. O
objetivo era apresentar os planos administrativos para a criação de leis e políticas específicas
que pudessem assegurar a fruição das artes no Sistema Nacional de Cultura.
Foi realizada uma caravana, Fortaleza (CE) – 21/07/ 2015, mas especialmente em
função do custo da ação, foram mudados os planos e cada Articulador Setorial organizou sua
própria estratégia de mobilização setorial, agindo em conjunto com uma agenda institucional
que atualizava e organizava as equipes de trabalho. Os Articuladores falavam entre si
diariamente por WhatsApp, telefone e através de reunião on-line via Skype, nos períodos de
intervalo dos encontros presenciais de trabalho.
Para o ano de 2016, haviam sido organizadas pautas e programação de inúmeras ações,
dentre elas a renovação do Conselho Nacional de Políticas Culturais com a escolha e posse
dos novos membros. Nem tudo foi levado a cabo, mas o que se realizou, aconteceu em um
clima de insegurança pois o processo de impeachment da presidenta da república e
consequentemente de todos por ela empossados estava em andamento. 21

No decorrer do ano de 2015, cinquenta pedidos de impeachment foram protocolados


na Câmara dos Deputados contra Dilma Rousseff. A maior parte desses pedidos foi
arquivada por falta de material probatório e argumentos. Entretanto, um deles foi
acolhido pelo então presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha, em 2 de
setembro de 2016. Esse pedido foi elaborado e protocolado em outubro do mesmo
ano pelos juristas Janaína Conceição Paschoal, Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo. O
pedido estava ainda subscrito por três líderes de movimentos sociais que ajudaram a
articular as grandes manifestações de ruas do ano de 2015: Kim Patroca Kataguiri
(Movimento Brasil Livre), Rogério Chequer (Vem Pra Rua) e Carla Zambelli
Salgado (Movimento Contra a Corrupção). Havia uma esperança pairando pelo setor
cultural de que não aconteceria esta mudança de rumo tão drástica e injustificada. A

21
Site História do Mundo - Impeachment de Dilma Rousseff. Acesso em: 17/05/2022. Mais informações em:
https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/impeachment-dilma-rousseff.htm
71
sociedade civil envolvida nos processos de gestão da cultura continuava atenta e
mantinha sua mobilização de trabalho. Após o acolhimento do pedido de
impeachment, este seguiu para apreciação na Câmara dos Deputados, à qual coube
decidir se o pedido teria prosseguimento (admissibilidade) ou não. No dia 17 de abril
de 2016, ocorreu, no plenário da Câmara, a votação que decidiu pelo
prosseguimento e 367 deputados votaram pela admissibilidade, e o pedido foi
encaminhado para o Senado Federal (FERNANDES, 2022, p.1).

No dia 29 de março de 2016 fomos convocados para uma grande reunião em Brasília
com a participação de toda a equipe administrativa do programa Política Nacional das Artes.
Naquele momento já tínhamos em mente os riscos eminentes de extinção do processo, mas
trabalhávamos para manter cronogramas e planejar ações estratégicas com o material
levantado até aquele momento. Todos tínhamos certeza de que estava em jogo não 1 ano de
trabalho do programa, mas sim uma série de ações que tinham acontecido ao longo de mais de
uma década no âmbito da Cultura. A programação de trabalho daquele dia tinha os seguintes
procedimentos. As agendas de reuniões de articulação eram organizadas por Lais Galvão,
responsável pela produção do programa. Ela fazia a costura e negociava os tempos de todos
os participantes. Coloco aqui em itálico a estrutura do encontro de Brasília (anexo V).

Reunião ampliada do Comitê Executivo da PNA


Dia 29/03
Horário - 14h às 18h
Local – Sala de Reuniões do 4º andar da sede do MinC (Esplanada dos Ministérios, Bloco B)
Participantes - COMITÊ EXECUTIVO - Carlos Paiva (SEFIC) e Guilherme Varella e Renato
Filt (SPC), Francisco Bosco, Leonardo Lessa, Maria Marighella + ARTICULADORES PNA
Rui Moreira, Marcelo Bones, Jaqueline Medeiros, Cacá Machado, Sérgio Cohn
Temas
- Relatório das propostas setoriais por cada Articulador (10 min cada);
- Apresentação da ideia do projeto de “Lei Geral das Artes”;
- Considerações, alinhamentos e encaminhamentos transversais.
Comunicação - Reunião com o Comitê Executivo no próximo dia 29/03, em Brasília,
possivelmente a partir das 14h. Na próxima semana entrarei em contato com maiores
definições. Conforme conversado com quase todos, as passagens foram solicitadas com ida e
volta para o próprio dia 29/03 – exceto Cacá devido a agenda específica junto à SPC. Caso
haja alguma urgência logística, por gentileza, peço que entrem em contato o mais breve
72
possível através dos telefones abaixo. Quanto à reunião da próxima quarta-feira, dia 23/03,
aqui no Rio de Janeiro com os Centros, todas as passagens já foram emitidas e encaminhadas
esta semana na minha ausência, caso alguém não as tenha recebido, por gentileza, peço que
entrem em contato o mais breve possível.
- Entro em contato para confirmar a amanhã (29/03), das 14h às 18h, na Sala de Reuniões do
4º andar da sede do MinC (Esplanada dos Ministérios, Bloco B) com a participação de todos
os Articuladores da PNA, dos secretários Carlos Paiva (SEFIC) e Guilherme Varella (SPC),
Francisco Bosco, Leonardo Lessa, Maria Marighella e possivelmente, o coordenador da
assessoria do Ministro, Gabriel Portela.

8.8 PACTO DO RECIFE

A maior força da dança é a força do movimento de dançar sua diversidade, assim eu


pude constatar. Acredito que o objetivo de mobilizar de maneira mais contundente os técnicos
do Ministério da Cultura, talvez tenha sido mais bem sucedido no Recife, já na última agenda
da Política Nacional das Artes antes de sua interrupção, quando em meio a um grande evento
reunindo os artistas locais em performance, aconteceu um encontro de dimensão nacional.

Durante o Encontro Nacional da Dança do Recife - Pernambuco, profissionais e


ativistas da Dança, representantes da sociedade civil vindos de várias regiões do país,
repactuaram nacionalmente suas posições e se colocaram em diálogo com o poder público
Federal através dos representantes ali presentes, visando salvaguardar o Estado Democrático
de Direito, colaborando efetivamente para a construção do país que ali, naquele contexto,
queríamos. Importante dizer que este encontro aconteceu já em clima de desmonte da
estrutura vigente da cultura do país em função do iminente afastamento da presidenta Dilma
Rousseff e como consequência, de todo o staff institucional que a acompanhava.
Foi redigido um documento que refletiu a confirmação do pensamento de preservação
de um cenário favorável ao diálogo e participação democrática republicana. O objetivo foi
encaminhar um resumo nacional de diretrizes para a formulação de políticas públicas para a
Dança para que se fizessem valer na forma de lei ou de programas específicos, com a
finalidade de fomentar a criação artística, fazer fruir a dança no seio social, estimular e
propiciar a formação em dança, resgatar e registar a Memória, bem como preservar esta
atividade como Patrimônio Nacional, com reflexão crítica e capacidade de mediar as relações
entre as Artes, com o propósito constitucional de garantir e promover o desenvolvimento
artístico em benefício do povo brasileiro. Estiveram presentes no Encontro Nacional da Dança

73
do Recife representantes da sociedade civil de diversas instâncias de representação, tais como
representantes eleitos do CNPC e Colegiado Setorial de Dança, representantes de instituições
públicas e privadas, representantes de movimentos organizados pela sociedade civil, artistas,
produtores, educadores, dentre outros profissionais de dança, que pactuaram quanto a
elaboração do presente documento, a ser direcionado para os responsáveis pela elaboração de
políticas públicas de cultura e suas transversalidades, em todas as esferas do poder público em
âmbito Federativo.
O que se pretendeu com este documento foi entregar um instrumento que apontasse
para os resultados efetivos almejados de um processo político de aproximadamente quinze
anos (2001-2016), construído pelo Ministério da Cultura com ampla participação da
sociedade. Neste período foram feitos censos e gerados documentos de diagnóstico do setor,
foram apresentados projetos de lei que estão em tramitação, e foram aprovadas leis que têm
sido referência para a organização federativa no âmbito da Cultura das Artes. No Dia
Internacional da Dança, 29 de abril de 2016, foi concluído e entregue publicamente um
documento que trazia um posicionamento do setor da dança em relação ao programa Política
Nacional das Artes. O documento e a mobilização ganharam o nome de Pacto do Recife
(anexo VI).
Ali, em um ato nacional e representativo, com a presença de artistas de diversas
formas expressivas da dança, empreendedores de espaços de formação formal e informal,
gestores públicos e com o testemunho da sociedade presente, se encerrava uma etapa da
participação da articulação civil dentro da política nacional das artes pois este material foi
encaminhado para as áreas técnicas do Ministério da Cultura para uma real avaliação de
prioridades de efetivação de ações para as artes. Ações sobretudo nos âmbitos político e
econômico.

8.9 CRONOGRAMA PNA 2016

Neste momento do processo havia um conjunto de pessoas internamente


comprometidas. As pautas a serem discutidas em reuniões distintas ganharam um caráter de
encaminhamento preventivo e de organização de futuros. Estávamos atônitos com as
perspectivas nebulosas que se apresentavam, porém firmes no propósito de dar
prosseguimento. A equipe de trabalho organizou o seguinte cronograma para todo o ano de
2016. Este cronograma foi formulado na Funarte pela equipe executiva da Política Nacional

74
das Artes, Maria Marighella (Coordenadora de Teatro da Funarte), Leonardo Lessa (diretor de
Artes Cênicas da Funarte), e Laís Galvão (Diretora de produção do programa PNA) em
acordo com a equipe do Ministério da Cultura (MinC) e foi discutido com os articuladores
setoriais. O documento que constava deste cronograma foi publicado na web line. Após o
impedimento da governança da Presidenta Dilma Rousseff e do pedido de exoneração de sua
equipe, o que se seguiu foi a desconstrução da estrutura do Ministério da Cultura e
consequente alteração do funcionamento de suas autarquias, dentre elas a da Fundação
Nacional das Artes (FUNARTE). Neste movimento algumas informações da Política Nacional
das Artes que estavam publicadas foram tiradas da web , pois foi desativado o portal
http://culturadigital.br/pna. Portanto cito as informações abaixo em itálico, a partir de meus
arquivos, ressaltando que parte da programação aconteceu, mas outra se transformou em
intenção política.

Agenda 2016
Janeiro
- 12/01 – Primeira Reunião Articulação Circo – Hugo Possolo + Consultora + Coordenação
de Circo (Rio de Janeiro)
- 25/01 – Reunião Artes Visuais + CEAV + IBRAM (Rio de Janeiro)
- 26/01 – Reunião Artes Visuais – interna sobre Plataforma Digital para as Artes Visuais (Rio
de Janeiro)
- 29/01 – Reunião Teatro + Coordenação de Teatro + SPC – Economia do Teatro (Brasília)

Fevereiro
- 05/02 – Reunião Musica + SPC – Economia da Música (São Paulo)
- 16/02 – Reunião Centros (Funarte)
- 17/02 – Reunião Artes Visuais + CEAV (Rio de Janeiro)
- Reunião Dança + Coordenação de Dança (Rio de Janeiro)
- Reunião Teatro + FETEG (Goiânia)
- 18/02 – Reunião Teatro + Coordenação de Teatro + SPC – Economia do Teatro (Brasília)
- 19/02 – Reunião Teatro + Coordenação de Teatro + SPC – Economia do Teatro (Brasília)
- Reunião Artes Visuais + CEAV + IBRAM (Rio de Janeiro)
- 23/02 – Encontro Setorial Circo 1 – Circos Itinerantes (São Paulo)
- 24/02 – Reunião Diretoria Colegiada (Centros Funarte)
- 28/02 – Prazo Entrega do Produto 2 – Consultores (Sistematização dos Encontros Setoriais
2015 e Estudo sobre os Marcos Legais)
- 29/02 – Encontro Setorial Circo 2 – Grupos e Trupes (Rio de Janeiro)

Março
- 01/03 – Reunião Articuladores (Rio de Janeiro)
- 02/03 – Reunião Articuladores + Centros + Consultores - Entrega dos produtos e das
Propostas de Programas (Rio de Janeiro)
- 04/03 – Reunião Música com a SPC – Economia da Música (Brasília)
- 15/03 – Encontro Setorial Circo 3 – Escolas de Circo (São Paulo)

75
- 21/03 – Reunião Diretoria Colegiada (Centros da Funarte) – relatoria propostas setoriais.
- 23/03 – Reunião Articuladores + Centros – Alinhamento propostas setoriais (Rio de
Janeiro).
- 29/03 – Reunião ampliada Comitê Executivo + Articuladores – apresentação propostas
(Brasília).
- Reunião Colegiados Setoriais para apresentação das Propostas de Programas (previsto
para o final do mês)
- Proposta de Realização de Seminário para aprofundamento da discussão sobre a Gestão
dos Espaços da Funarte

Abril
- 11/04 – Encontro Setorial Circo 4 – Escolas de Circo (Salvador)
- 12/04 – Encontro Setorial Circo 5 – Circos Itinerantes (Natal)
- 12/04 – Encontro Setorial Circo 6 – Grupos e Trupes (Natal)
- 15/04 – Encontro Setorial Circo 7 – Festivais de Circo (Belo Horizonte)
- 18/04 – Encontro Setorial Circo 8 – Pesquisa e Patrimônio de Circo (São Paulo).
- 20, 21, 22, 23 e 24/04 (previsto) Congresso do Teatro Brasileiro
- 28, 29 e 30/04 (previsto) – Encontro da Frente Permanente da Dança
- 29/04 – Prazo Entrega Produto 3 Consultores (Análise crítica das propostas de programas)
Consolidação dos materiais para apresentação pública
Maio e junho
- Submissão pública dos resultados da PNA em todos os estados brasileiros.
Julho e agosto
- Consolidação interna dos resultados dos debates realizados; Fim dos contratos com os
Articuladores e Consultores.
- Início da implementação dos programas; Reestruturação da Funarte.
Nos meses de setembro a dezembro de 2016 aconteceria o próximo passo do
planejamento que seria a análise, aprimoramento e validação desse material pelo corpo de
servidores da Funarte e do MinC, pelos Colegiados Setoriais e, como etapa final, pela
sociedade civil, através de encontros presenciais e consultas públicas. É importante salientar
que o processo da Política Nacional das Artes estava previsto para atravessar toda a gestão do
Ministério da Cultura (2015-2018).

8.10 INTERRUPÇÃO DO PROCESSO

No dia 12 de maio, houve uma sessão plenária dos senadores para decidir pela abertura
do processo de impeachment. 55, de 81 senadores, votaram pela abertura. Dilma Rousseff, a
partir de então, teve que se afastar do cargo de presidente até que o processo fosse concluído.

76
O vice-presidente Michel Temer assumiu interinamente, que entre suas primeiras ações,
decretou a extinção do Ministério da Cultura. Tinha início ali, um golpe político social de
dimensões incomensuráveis. Dias antes deste fato, os Articuladores Setoriais da PNA do setor
Dança - Rui Moreira e Teatro - Marcelo Bones, juntamente com o Diretor de Artes Cênicas da
FUNARTE - Leonardo Lessa estávamos em Brasília com a seguinte agenda:

Reunião do Colégio Nacional de Políticas Culturais em Brasília (anexo V).


09/maio – 14h às 20h – Abertura, informes, falas: Colegiados, PNA, Pro Cultura, Ministro
Juca Ferreira, Cerimônia de Designação dos membros dos Colegiados;
10/maio – 9h às 20h – Reunião dos Colegiados Setoriais;
11/maio – 9h às 14h – Plenário do CNPC com a apresentação do Relatório da PNA;
-16h às 22h – Encontro de fechamento geral com Comitê Executivo e Articuladores (anexo
VI)

No dia 12 de maio de 2016, permaneci na cidade e acompanhei a votação, voto a voto,


na esplanada dos ministérios e a ambiência era inesquecível. Foi um dia intenso. Grupos de
militantes perambulavam pelos espaços de poder em Brasília buscando participação em
diversas reuniões de parlamentares. Eu fui à reunião da comissão de Cultura, que naquele
momento estava esvaziada, e como representante da sociedade civil fiz uma breve fala
demonstrando nossa preocupação com o futuro sombrio que se anunciava. Nas ruas, pessoas
andavam enroladas na bandeira do Brasil, enquanto policiais se armavam com bombas de
efeito constrangedor, e construiam barricadas de grades metálicas para separar pessoas prós e
contrárias ao impeachment; pessoas promovendo abraços simbólicos ao prédio do MinC (...),
era possível observar um conjunto de epifanias desencontradas, um clima onírico, um epílogo
danteniano como na Divina Comédia, para uma história que não terminaria ali. Tudo isso
tendo como cenário o tremular impassível da bandeira do Brasil no mastro, em meio a um
belo e brilhante pôr de sol no horizonte candango. Com o afastamento da presidenta eleita
Dilma Rousseff e a extinção do Ministério da Cultura, o percurso da Política Nacional das
Artes (PNA) foi violenta e bruscamente interrompido. O processo atravessava um momento
de transição: a entrega das propostas de programas setoriais formulados pelos Articuladores
de cada linguagem e a consolidação das reflexões sobre os eixos transversais em programas e
ações estruturantes.

77
Em 10 de dezembro de 2016 escrevi minha avaliação final sobre o momento da cultura
dizendo que houve um adiamento dos resultados possíveis de serem efetivados decorrentes de
um esforço social e destinação orçamentária intensos. Os variados documentos de reuniões e
encontros dos setores das artes ocorridos no país ao longo dos últimos treze anos (2003-2016)
são praticamente uma prestação de contas do trabalho desenvolvido no período.
Os processos que estavam sendo pensados e organizados para ganhar efetivação
enquanto ação, perderam a força com a mudança brusca de rumos de gestão do país. Foram
concentrados esforços humanos e recursos para levantar documentos e programas a partir de
censos e mapeamentos do setor para nortear a construção de um sistema nacional para a
cultura que mesmo legalizado corre o risco de ser ignorado no conjunto de contextos políticos
administrativos.
Por todo este movimento ter sido considerado como uma ação político partidária e
menos como a construção de uma política de Estado, temo que estejamos neste momento
voltando a um ponto muito próximo do marco zero nas iniciativas de exercício de uma
democracia participativa popular. Talvez possamos considerar como resultado positivo, o
desenvolvimento ampliado de processos de politização dos movimentos organizados pela
sociedade civil. Quem sabe os sinais de organizações de conferências públicas em alguns
municípios mantenham acesas as esperanças e vislumbres de maturação da população sobre
seu papel cidadão.

78
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade brasileira através de sua constituição e condição de Estado livre e


Democrático, vive e viverá sempre a oportunidade de reafirmar ou refazer seus vínculos de
respeito e solidariedade a partir da redefinição das formas de comportamento orientadas por
valores que confrontam os padrões hegemônicos estabelecidos. As novas, mas não tão novas
assim, formas de produzir a disseminação de fatos e informações a partir das inovações
tecnológicas, especialmente pela comunicação em rede, foram cooptadas pelas estruturas de
classe, promovendo assim formas de interação e de eventual coesão social que se fazem e se
desfazem rapidamente, dispensando as estruturas organizacionais de maior concretude. As
pessoas se juntam e se separam pelas redes, mas de diversas formas permanecem
intercomunicação, e de tempos em tempos organizam demonstrações coletivas tais como:
manifestos políticos, os protestos temáticos, “ondas eleitoreiras” que se formam dependendo
ou não de ações orquestradas por entidades de exercício político partidário. Tudo isso
incomoda e assusta ao que podemos chamar de “fidalguia” econômica do país. Seja esta elite
autodenominada direita, centro ou esquerda, ela está insegura o suficiente para
frequentemente se dizer “contra tudo o que ameace sua própria segurança”.
Há novos parâmetros quanto ao que seja aceitável numa sociedade crescentemente
diversa (uma revisão das questões de gênero, a busca da presença ativa das “minorias”
ocupando seu papel social majoritário, lutas pró-direito de aborto, revisão dos conceitos sobre
etnia, discussões mundiais sobre a legalização do uso das drogas etc.), logo se observa uma
busca de ampliação de consciência, um movimento “orgânico” da humanidade a partir das
revoluções tecnológicas em curso que lembram e mostram que a história não tem volta.
O presente estabelece de forma dialógica conexões com o passado e desvela o futuro,
mas tudo de maneira espiralar, provocando uma sensação de Déjà vu, ou melhor dizendo, de
algo “já visto”. Déjà vu é uma reação psicológica que faz com que o cérebro transmita para o
indivíduo a sensação de que ele já esteve naquele lugar, sem jamais ter ido, ou que conhece
alguém, mas que nunca a viu antes. Isso ocorre porque o cérebro possui vários tipos de
memória, como a memória imediata, que é capaz de repetir um número de telefone e depois
esquecê-lo. A memória de curto prazo dura algumas horas e a memória de longo prazo, que
dura meses ou até anos. Com esta sensação de falha no cérebro, onde os fatos que estão
acontecendo são armazenados diretamente na memória de longo ou médio prazo, quando o
correto seria ir para a memória imediata, dando assim a sensação que o fato já ocorreu antes, é

79
que descrevo alguns fatos vivenciados por mim na primeira pessoa, que ajudam a remontar
algo da recente história política do Brasil.
Para falar sobre os ritos de passagem na cultura (e) nas artes no Brasil, o tempo
assume na narrativa, uma espiral-idade que rompe com a cronologia linear à medida que
associa, concomitantemente, passado, presente e futuro, por meio do resgate da tradição e da
memória, a fim de possibilitar a construção de identidades plurais. Muitos são os ritos de
passagem, em função dos quais nos forjamos, marcando momentos de
superação-transgressões às interdições, com o que atualizamos novos tempos de vida, novas
dinâmicas de consciência, decorrentes de demandas intrínsecas da natureza. Mas para o novo
tempo de vida acontecer haveremos de "morrer" simbolicamente.
Estamos no ano de 2022, o Ministério da Cultura está extinto e os assuntos da Cultura
do país são discutidos e decididos numa secretaria subordinada ao Ministério do Turismo. No
Brasil vive-se um momento nebuloso onde se percebe nos objetivos da atual equipe de
governo, traços explícitos de desconstrução da maioria das políticas culturais que vêm sendo
arquitetadas há décadas. Alguns importantes marcos legais chegam a seu momento de revisão
em função da vigência de sua validade e correm risco de serem extintos ou sofrerem
alterações drásticas em seus princípios fundantes.
Outros marcos, como os projetos de uma legislação trabalhista específica da Dança e
no campo de segurança social, a aposentadoria especial aos 25 anos de contribuição tributária
nesta atividade, tramitam nos âmbitos legais e são discutidos pela sociedade, porém com
desconfiança, pois boa parte dos trabalhadores da dança tem sérias dúvidas sobre se o sistema
trabalhista atualmente instaurado no país, acolherá suas atividades respeitando direitos
profissionais formalizados.
Os infortúnios acentuados por uma crise sanitária mundial ocasionaram a paralisação
de todos os eventos sociais presenciais, demarcou territórios, e isso sensibilizou boa parte da
sociedade tornando visível o valor simbólico da cultura no cotidiano das pessoas. Como
forma de entretenimento da alma, os espetáculos virtuais, filmes, músicas, literatura, e outros
produtos das artes preencheram lacunas, assim como, pelo aspecto econômico, foi sentida a
saída de circulação do movimento financeiro proporcionado por uma grande camada social de
consumidores e fazedores de cultura que movimentam recursos e geram trabalho e renda.
Mesmo assim, ainda se faz necessário mobilizações dos trabalhadores da cultura, para
provocar que haja compreensão por parte da gestão administrativa do país, de que é

80
importante avançar no projeto de um país que entende o setor cultural como um dos pilares de
desenvolvimento da nação em suas dimensões simbólicas, econômicas e cidadãs.
Durante este período de crises econômicas mundiais, que tem a pandemia como um
dos seus motivos, ou consequência (não sei afirmar), esta constatação de potência do setor
cultural está sendo ampliada. No Brasil, apesar da falta de interesse político e vetos por parte
da atual equipe de governo, alguns parlamentares, com o arrimo da sociedade civil, formulam
e apresentam projetos de lei que se aprovados e sancionados pelo presidente da república,
permitirão que haja um escoamento mais significativo de recursos para o setor cultural. Um
redimensionamento político e econômico para que novas formas de fomentos e investimentos
financeiros gerem trabalho e renda, nas diversas camadas sociais de onde vem e onde atuam
os mais de cinco milhões de trabalhadores ligados à cultura no país. Alguns destes projetos
são apresentados para que de forma perenal haja possibilidades de busca de desenvolvimento
suportável para esse setor.
Neste momento eu conduzo um longo processo de encerramento da entidade jurídica
de sociedade limitada que estabeleci, a SeráQuê? Promoções e eventos Ltda, e como decisão
da diretoria da associação SeráQuê Cultural, congelamos nossas atividades associativas. Os
motivos são variados, porém, as esperanças de retomada se renovam em consequência da
busca de um equilíbrio emergencial da economia social. Hoje, estou trabalhador autônomo e
organizo minhas atividades através da Rui Moreira Companhia de Danças. Este
empreendimento me estrutura para promover processos artísticos criativos, espetáculos e
performances, congressos, tendo como tema central a pluriversalidade da Dança. Espaço
criativo e produtivo, este empreendimento acolhe projetos meus, assim como de outros
artistas com trajetória autoral individual e ou coletiva. Um ambiente de fomento à Dança, por
meio de: prática, confrontação estética e intercâmbio entre as linguagens da cena, este
empreendimento é uma estratégia de atuação sociocultural. Tenho como arrimo institucional a
produtora Humanitas Arte e Cultura Ltda, empresa de produção cultural, com quem tenho
firmado um acordo de representação jurídica para contratos diversos. Sigo prestando serviços
de curadoria, como analista de projetos, palestrante, venda de espetáculos, criação de
espetáculos, ministrante de oficinas e outras demandas do campo cultural. Como articulador
político, em Porto Alegre componho a diretoria da associação Articula Dança e nacionalmente
componho a diretoria colegiada da associação Fórum Nacional de Dança (FND).
Este movimento provoca em mim um sentimento de gratidão que perpassa meu
passado e atua no meu presente, ao mesmo tempo que me coloca em estado de alerta

81
constante para com os percalços que estamos sujeitos a viver na manutenção da cidadania
democrática republicana estabelecida na constituição construída através da participação
popular. Redigo – O futuro está sempre à sua frente. Ou a suas costas, cada vez que você dá
meia-volta.

82
REFERÊNCIAS

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1996.

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83
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84
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86
ANEXOS

ANEXO I

87
88
89
90
ANEXO II

91
92
93
ANEXO III

94
95
ANEXO IV

96
ANEXO V

97
ANEXO VI

98
99
100
101
102
103
104

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