Psicologia Organizacional: Encontro
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Revista de Psicologia
Vol. 16, Nº. 24, Ano 2013 Associação entre qualidade de vida e clima
organizacional
1. INTRODUÇÃO
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Com base nisso, é percebido que houve certa mudança na concepção da atuação
da Psicologia no campo organizacional, uma vez que os autores estão se atentando para
outras áreas e não apenas às tradicionalmente vinculadas à POT. Zanelli (1994) destaca a
importância do psicólogo atuar de forma sistêmica no contexto organizacional e não
pensar apenas em estruturas em separado. Atualmente, segundo o autor, o trabalho em
POT perpassa por abordar questões tais como avaliação de clima e cultura organizacional,
planejamento estratégico, elaboração de políticas interna, resolução de conflitos
organizacionais em todos os níveis, bem como trabalhar em conjunto com os diretores da
organização.
Por sua vez, Pereira e Bernhardt (2004) salientam que o sucesso de uma
organização está associado ao relacionamento entre colaboradores e organização e, dessa
forma, conforme Huang, Lawler e Lei (2007), tomar conhecimento de variáveis
individuais que afetam esse contexto possibilitaria melhores condições para intervenções
por parte da organização em relação ao quadro de colaboradores. Ainda, facilitaria as
condições de trabalho, promovendo um adequado clima organizacional e percepção de
qualidade de vida no contexto laboral.
Outro aspecto digno de nota é ressaltado por Leite, Ferreira e Mendes (2009),
pois, de acordo com os autores, atualmente, em decorrências das exigências do mundo do
trabalho, as organizações estão se preocupando com maior ênfase na promoção da
qualidade de vida dos colaboradores, sendo essa uma importante ferramenta de gestão no
processo de aumento da produtividade e diminuição do número de doenças relacionadas
ao trabalho. De forma complementar, Timossi (2009) atenta para o fato de que a discussão
sobre qualidade de vida no trabalho não é algo novo, entretanto, na atualidade, as
organizações concebem tais programas como um diferencial na busca por melhorias e
também, visando maior competitividade em relação às demais organizações.
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Cole e cols. (2005) atentam para o fato de que a qualidade vida no trabalho está
relacionada a diversos fatores do ambiente que influenciam no desempenho e satisfação
dos colaboradores. Essa informação vai ao encontro de Limongi-França (2004) pelo fato de
que o contexto laboral influencia os colaboradores no que se refere à qualidade de vida
percebida. Zanetti (2002) ressalta que a qualidade de vida no trabalho geralmente é
utilizada com o propósito de aumento da produtividade. Em acréscimo, Angeluci,
Copacheski e Cieslack (2005) Conte (2003) e Fernandes (1996) salientam que o trabalho
voltado para o desenvolvimento de qualidade de vida é tido como uma ferramenta de
ganho duplo, por um lado, os colaboradores estão mais satisfeitos com o trabalho, menos
estressados e, por outro lado, a organização tem o aumento da produtividade.
Por sua vez, Quirino e Xavier (1987) se referem à qualidade de vida no trabalho
como sendo uma temática que envolve não apenas questões ambientais do contexto de
trabalho, mas também como sendo uma variável pessoal, que se refere às crenças e
expectativas dos colaboradores em relação ao trabalho que executa. De forma mais ampla,
Rodrigues (1994) aponta para o fato da qualidade de vida no trabalho precisa ser
analisada não apenas com base no indivíduo enquanto trabalhador, mas também
enquanto um sujeito que possui uma vida fora do ambiente laboral.
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De acordo com Valle (2005), o modelo de qualidade de vida adotado por Walton
engloba três outros construtos, sendo esses, satisfação, comprometimento e clima
organizacional. O presente estudo apresenta como um dos objetivos, verificar a relação
entre os construtos qualidade de vida no trabalho (conforme já apresentado) e clima
organizacional. Nesse sentido, torna-se importante a apresentação teórica do referido
conceito.
O clima organizacional tem ganhado cada vez mais destaque, uma vez que o
mesmo pode estar relacionado a explicações acerca da produtividade e qualidade no
trabalho dos colaboradores (Oliveira, 1996). Woodman e King (1978) associam o clima
organizacional aos comportamentos dos colaboradores no ambiente de trabalho e, se
mensurado de forma adequada, pode ser concebido como um valioso instrumento para
conhecer a percepção que os trabalhadores possuem de seu local de trabalho.
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2. MÉTODO
Participantes
Participaram da pesquisa 205 trabalhadores, com idade variando de 18 a 71 anos
(M=32,29, DP=9,46), sendo 134 (65%) homens. A escolaridade dos indivíduos variou de
Ensino Fundamental incompleto até pós-graduação concluída. No que se refere à área de
atuação, 56 (27,2%) trabalhavam na área comercial, 19 (9,2%) na área industrial, 105
(51,0%) como prestadores de serviços e 26 (12,6%) no terceiro setor.
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Instrumentos
Escala de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho – Escala-QVT (Rueda, 2013).
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Procedimentos
Após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética, os instrumentos foram
aplicados coletivamente. O tempo de aplicação foi de aproximadamente 30 minutos,
sendo coletados primeiros os dados da Escala-QVT e posteriormente da CLIMOR.
3. RESULTADOS
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Pela Tabela 1 pode ser verificado que todas as correlações foram positivas, o que
indica que ao aumento de frequência em um fator da Escala-QVT há uma tendência de
aumento também na frequência nos fatores da CLIMOR. Destaca-se que todas as
correlações foram estatisticamente significativas. No que se refere à magnitude dessas
correlações, 17 das 24 foram moderadas, enquanto as sete restantes foram de magnitude
fraca (Dancey & Ridey, 2006). Os maiores coeficientes foram identificados na correlação
entre a ‘QVT relacionada a Integração, respeito e autonomia’ com a ‘Comunicação,
integração e satisfação’ da CLIMOR (r=0,63), e entre a ‘QVT relacionada a Incentivo e
suporte’ com o ‘Desenvolvimento profissional e benefícios’ da CLIMOR (r=0,64). Pelos
resultados apresentados pode-se concluir que ambos os testes avaliam construtos com
características em comum, mas que possuem suas particularidades.
Dando continuidade, foi realizada uma comparação em cada uma das medidas
em função do sexo das pessoas. Foi utilizada a prova t de student e os resultados
encontram-se na Tabela 2.
Tabela 2. Comparação nas medidas da Escala-QVT e da CLIMOR em função do sexo dos participantes.
Sexo M DP t p
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continuidade Tabela 2
Sexo M DP t p
Masculino 30,34 7,21
Desenvolvimento profissional e benefícios 0,26 0,799
Feminino 30,04 8,90
Masculino 23,55 5,14
Ergonomia -0,81 0,422
Feminino 24,21 6,32
Masculino 15,01 3,64
Condições de trabalho 1,16 0,248
Feminino 14,34 4,55
Masculino 11,22 3,40
Processo decisório 1,86 0,064
Feminino 10,23 4,10
Masculino 117,32 19,58
CLIMOR total -0,32 0,751
Feminino 118,35 26,15
Tabela 3. Análise de variância para as medidas da Escala-QVT e da CLIMOR em função da área de atuação.
F p
QVT relacionada a 'Integração, respeito e autonomia' 0,76 0,519
QVT relacionada a 'Compensação justa e adequada' 0,34 0,796
QVT relacionada a 'Incentivo e suporte' 1,56 0,201
QVT relacionada a 'Possibilidades de lazer e convívio social' 1,14 0,336
Comunicação, integração e satisfação 1,52 0,210
Desenvolvimento profissional e benefícios 0,45 0,716
Ergonomia 1,31 0,272
Condições de trabalho 1,21 0,308
Processo decisório 3,54 0,016
CLIMOR total 1,61 0,189
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4. DISCUSSÃO
O objetivo principal desta pesquisa foi buscar evidências de validade entre construtos
relacionados, associando um instrumento de qualidade de vida no trabalho com uma
medida de clima organizacional. Como apontam Zanelli e Bastos (2004), conhecer as
variáveis relacionadas às organizações e seus funcionários é primordial para fornecer
elementos mais científicos no trabalho de intervenção do psicólogo organizacional.
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maior e das diversas áreas de atuação são importantes para generalizações de associação
entre os construtos. De maneira geral, essa evidência de validade encontrada no estudo
atual denota que, do ponto de vista teórico, como aponta Walton (1973), a medida de
qualidade de vida avalia o construto de maneira adequada, permitindo uma inferência
mais sistematizada da realidade organizacional (Campos, 1992). Por último, se sugerem
pesquisas entre a QVT e outras escalas que avaliam o mesmo construto, na tentativa de
encontrar também evidência de validade convergente, já que, como aponta Urbina (2007),
os profissionais da avaliação psicológica devem constantemente se preocupar em buscar
evidências de validade para as medidas propostas, além do que sugere-se amostras
maiores com número equitativo entre as áreas de atuação e sexo, a fim de se explorar
melhor as diferenças de médias com os construtos avaliados.
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