Port8 Ficha Avaliacao Memorias

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FICHA DE AVALIAÇÃO: Texto biográfico – Memórias

ANO LETIVO: ________ / ________ ANO DE ESCOLARIDADE: 8.º Ano DATA: ______ / ______ / ______

NOME: _____________________________________________________________________________________ N.º: ________ TURMA: ________

CLASSIFICAÇÃO: ______________________ PROFESSOR: _________________________ ENC. DE EDUCAÇÃO: _______________________

GRUPO I

Parte A

Lê o texto.

1 Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago não era um
apelido do lado paterno, mas sim a alcunha por que a família era conhecida na aldeia. Que indo
o meu pai a declarar no Registo Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu
que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre
5 meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da
onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico José de
Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. E que, desta maneira, finalmente, graças a uma
intervenção por todas as mostras divina, refiro-me, claro está, a Baco, deus do vinho e daqueles
que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro havendo,
10 assinar os meus livros. (...)
Entrei na vida marcado com este apelido de Saramago
sem que a família o suspeitasse, e foi só aos sete anos,
quando, para me matricular na instrução primária, foi
necessário apresentar certidão de nascimento, que a verdade
15 saiu nua do poço burocrático, com grande indignação de meu
pai, a quem, desde que se tinha mudado para Lisboa, a
alcunha desgostava. Mas o pior de tudo foi quando,
chamando-se ele unicamente José de Sousa, como ver se
podia nos seus papéis, a Lei, severa, desconfiada, quis saber
20 por que bulas tinha ele então um filho cujo nome completo era
José de Sousa Saramago. Assim intimado, e para que tudo
ficasse no próprio, no são e no honesto, meu pai não teve
outro remédio que proceder a uma nova inscrição do seu nome, passando a chamar-se, ele
também, José de Sousa Saramago.
25 Suponho que deverá ter sido este o único caso, na história da humanidade, em que foi o filho
a dar o nome ao pai. Não nos serviu de muito, nem a nós nem a ela, porque meu pai, firme nas
suas antipatias, sempre quis e conseguiu que o tratassem unicamente por Sousa.

José Saramago, As Pequenas Memórias, Editorial Caminho

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Elisa Costa Pinto e Vera Saraiva Baptista • Novo Plural 8 / Português 8.º ano 1
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Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. As afirmações apresentadas de (A) a (F) registam as duas facetas essenciais deste texto de
memórias: a de crítica a um serviço público e a de apresentação de um facto biográfico.
Escreve a sequência de letras começando pelas frases que têm um sentido crítico.
(A) O funcionário de Registo Civil da Golegã estava ao trabalho apesar de (ao que parece)
não estar com a lucidez que se impunha.
(B) A irresponsabilidade do funcionário do Registo Civil (motivada ao que parece pela
embriaguez) levou à introdução ilegal de uma alcunha no nome registado.
(C) Excessos burocráticos forçaram a que o pai adotasse o apelido que estava, por erro, no
registo do filho.
(D) O apelido veio a ser um útil pseudónimo para o escritor.
(E) A família só sete anos mais tarde soube do engano que tinha havido no registo, quando
pediu uma certidão de nascimento para a matrícula na escola.
(F) O pai conseguiu que, a ele, nunca ninguém lhe chamasse senão Sousa.

2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.

2.1 Saramago era a alcunha que na aldeia tinham dado à família de José de Sousa, mas
(A) passou de alcunha a apelido oficial por desinteresse da família.
(B) passou de alcunha a pseudónimo adotado, muito mais tarde, pelo escritor.
(C) passou de alcunha a apelido oficial por erro do funcionário do registo, de que a
família só se apercebeu muito anos depois.
(D) passou de alcunha a apelido oficial por força do uso popular que foi passando de
geração em geração.

2.2 «sucedeu que o funcionário (...) sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse
apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago
ao lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse.» Esta transcrição
significa que
(A) ao breve nome José de Sousa foi acrescentado Saramago por conta do funcionário
que tinha sido corrompido.
(B) o funcionário, alcoolizado, cometeu um delito em relação ao nome ao acrescentar
Saramago ao simples José de Sousa, por sua iniciativa e sem que a família se
apercebesse.
(C) o pai do autor queria que ele fosse apenas José de Sousa mas foi vítima de uma
fraude do funcionário e de uma brincadeira da família.
(D) ao breve nome José de Sousa foi acrescentado Saramago, o apelido do funcionário
que cometeu uma fraude sem ter noção disso.

2.3 (Graças ao deus Baco) «não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro havendo,
assinar os meus livros.» Pela maneira como a conta,
(A) a história da origem do seu apelido diverte o autor.
(B) a história da origem do seu apelido irrita o autor.
(C) a história da origem do seu apelido é motivo de orgulho para o autor.
(D) a história da origem do seu nome nunca despertou o interesse do autor.

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3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do
texto.
(A) O pai de José Saramago exigiu ser tratado pelo seu apelido de sempre – Sousa.
(B) O pai de José Saramago sentia-se orgulhoso por ter o mesmo nome do único Nobel da
literatura portuguesa.
(C) O pai de José Saramago foi vítima de uma burocracia absurda que o obrigou a mudar de
nome já na idade adulta.
(D) José Saramago acha que o que sucedeu ao pai acaba por ser divertido por ser único.

Parte B

Em Paris

1 Quando vivia em Paris, certa manhã fui despertado por três ou quatro pombos a bicar a
vidraça da janela. Fui abrir, e um deles mais afoito entrava para o meu quarto, enquanto eu ia à
cozinha à procura de qualquer coisa para lhe dar. Enchi uma tijela de arroz, na esperança de o
encontrar, embora não tivesse fechado a janela. Lá estava ainda, para minha alegria.
5 Experimentei dar-lhe os grãos na mão, aceitou, e a sua confiança tornou-me também confiante.
Quando saí, dei os bons dias à porteira com voz clara e fiz uma festa nos cabelos a um garoto
vesgo e feio, (...) que seria neto dela, ou afilhado, já não me lembro. Regressei a casa, depois
de comprar milho, pensando no meu visitante matinal. O meu pombo voltou, e durante uma
semana vivemos um pequeno idílio feito de trocas simples: eu
10 dava-lhe a mão-cheia de milho, ele deixava-me o excremento no
peitoril da janela ─ não era nada do outro mundo, mas a dona da
casa não gostava. Achava aquela relação anormal (talvez
preferisse ser ela a receber o milho, matinalmente), e não deixou
de mo fazer sentir. Nessa mesma noite deve ter acendido uma
15 vela a Santo António, de que era devota, e pedido com fervor a
sua intervenção, porque na manhã seguinte o pombo não
apareceu. Nem em nenhuma das que se lhe seguiram.
Não voltei a Paris, cidade que detesto.

Eugénio de Andrade, O amigo mais íntimo do sol, fotobiografia

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

4. Refere o espaço evocado neste texto de memórias.

5. Caracteriza a relação que se estabelece entre o autor e o pombo.


Fundamenta a tua resposta.

6. Que comentários nos levam a crer que o autor não simpatiza com a personagem feminina
que recorda? Justifica a tua resposta.

7. Indica duas razões, que te sejam sugeridas pelo texto, que justifiquem a declaração final ─
«Paris, cidade que detesto».

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Parte C

8. Indica uma personalidade de que gostarias de ler as memórias e a razão da tua escolha.
Planifica o teu trabalho tendo em conta os seguintes tópicos:
− o que sabes sobre essa personalidade;
− o(s) sentimento(s) que ela te desperta;
− as razões que te levam a ter interesse em ler as suas memórias.

GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Completa cada uma das frases seguintes com a forma do verbo apresentado entre
parênteses, em itálico, e no tempo e modo indicados. Escreve a letra que identifica cada
espaço, seguida da forma verbal correta.
Se a. (poder, pretérito imperfeito do conjuntivo) ia a Paris já amanhã.
Ao contrário de Eugénio de Andrade, é habitual que as pessoas b. (achar, presente

simples do conjuntivo) Paris uma cidade maravilhosa.

Os pombos c. (sair, presente simples do indicativo) dali, não se sabe porquê.

Se estivesse lá, eu d. (querer, condicional composto) saber onde estava o pombo.

2. Distingue, nos complexos verbais que encontras nestas frases, o verbo principal e o auxiliar.
a. Ele foi-se aproximando, devagar.
b. Ele há de voltar.
c. O pombo foi visto noutra praceta.
d. Ele está a voar em torno da janela.

3. Lembro-me do nome da porteira.


Reescreve esta frase:
a. na forma negativa;
b. na forma afirmativa, mas começando-a por «Acho que».

4. Entrou no meu quarto como se fosse o seu.


A que classe e subclasse pertencem as palavras sublinhadas?

GRUPO III
Imagina que te é solicitado que redijas um pequeno texto que incentive outros jovens a vir visitar
a localidade (ou a região) em que vives.

Elabora essa redação não deixando de


− situar o espaço a que irás fazer referência;
− apresentar globalmente esse espaço;
− apresentar pelo menos dois argumentos que justifiquem uma visita turística.

O texto deve conter informações mas manifestar também as tuas emoções.


O texto deve ter um mínimo de 70 palavras e um máximo de 120.

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SOLUÇÕES

GRUPO I
Parte A
1. A, B, D, E, C, F.
2.1 C.
2.2 B.
2.3 A.
3. B

Parte B
4. O episódio relatado no texto passou-se em Paris, no
prédio onde o autor do texto viveu temporariamente.
5. Entre o autor e o pombo estabelece-se uma relação
de amor simples e puro: «durante uma semana
vivemos um pequeno idílio feito de trocas simples».
6. A dona da casa onde o autor vivia não gostava da
relação entre o autor e o pombo. «Achava aquela
relação anormal (talvez preferisse ser ela a receber o
milho, matinalmente), e não deixou de mo fazer sentir.»
O autor acredita que ela pediu a intervenção de Santo
António para que o pombo desaparecesse. «deve ter
acendido uma vela a Santo António (…) e pedido com
fervor a sua intervenção.»
7. Uma das razões pelas quais o autor detesta Paris
tem precisamente a ver com o facto de ter tido uma má
experiência com a dona da casa, pessoa de quem não
gostou. Outra das razões prende-se com o desgosto
que sentiu quando o seu pombo desapareceu.

Parte C
8. Resposta pessoal.

GRUPO II
1. a. pudesse; b. achem; c. saem; d. teria querido.
2. a. Verbo principal: aproximar. Verbo auxiliar: ir.
b. Verbo principal: voltar. Verbo auxiliar: haver.
c. Verbo principal: ver. Verbo auxiliar: ser.
d. Verbo principal: voar. Verbo auxiliar: estar.
3. a. «Não me lembro do nome da porteira.»
b. «Acho que me lembro do nome da porteira.»
4. «meu»: determinante possessivo; «seu»: pronome
possessivo.

GRUPO III
Resposta pessoal.

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