A Guarda Compartilhada No Superior
A Guarda Compartilhada No Superior
A Guarda Compartilhada No Superior
MESTRADO EM PSICOLOGIA
CURITIBA
2018
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
MESTRADO EM PSICOLOGIA
CURITIBA
2018
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação da publicação
Banca examinadora
Assinatura _____________________________________________________________
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Aos meus pais que sempre me apoiaram e acreditaram em mim, sem eles, eu não
teria feito o Mestrado.
Agradeço ao meu orientador Doutor Sérgio Said Staut Júnior, pela paciência,
principalmente com minhas inquietudes. Mas agradeço principalmente as aulas
excepcionais, não só no mestrado, como em toda minha graduação em Direito, pois me
levaram à reflexão e crescimento pessoal. Quando se conhece a grandeza de um
orientador, a tarefa de fazer um trabalho se torna um desafio maior, porém é
gratificante, quando percebe-se de que somos capazes.
Às Doutoras Paula Inês da Cunha Gomide e Gislei Polli, que me ensinaram com
paciência, um pouco do universo que eu sempre gostei: a Psicologia.
Ao meu irmão Lucas, às minhas amigas meus amigas Andréa, Gianne, Anne
Elise, e tantos outros, que compreenderam a minha ausência durante o período que
passei pesquisando.
Queridos mãe e pai:
Sei que estão a sofrer . Eu também estou. Eu sinto a tensão entre vocês e isso
afeta-me. Apesar de ser uma criança e não conseguir expressar verbalmente
o que se passa nas nossas vidas, sinto o impacto na mesma.
O meu coração parte-se sempre que tenho que abdicar de um de vocês. Já
não me sinto seguro. Por favor, não assumam que sou forte. Por favor não
assumam que a minha vida será exactamente como era antes e que vou
continuar a sentir o mesmo amor por cada um de vocês. Sou um ser humano,
tal como os pais. As minhas necessidades são iguais às dos pais. Preciso de
amor, estabilidade, consistência, afeto, compreensão, paciencia, e acima de
tudo preciso de sentir que sou desejado.
Quando discutem por minha culpa ou me usam como argumento, a
mensagem que recebo é que ganhar a discussão é mais importante do que a
minha vida. Assim aprendo que é melhor ter razão do que ser amado.
Estão a ensinar-me que sou filho de uma pessoa que não é amada e que
estava enganada. E que de certa forma eu também fui um engano.
Quando me confidenciam a vossa mágoa estão a interiorizar uma dor aguda
no meu coração, e a roubar-me a minha infância.
Estão a mostrar-me que o amor não é incondicional. Que não devo amar
porque vou sofrer e nunca vou conseguir recuperar.
Os pais podem não perceber isso agora, até porque sou tão novo que ainda
não estão a pensar como isto me afectará de futuro, mas estão a abrir portas
à possibilidade de eu me querer divorciar de mim próprio devido ao vazio
que construí no meu coração, e que colocou a minha segurança em risco.
A minha segurança depende dos pais. Sem vocês e a vossa segurança estou
sozinho no mundo.
Isso vai fazer-me ganhar medos irracionais porque vou estar sempre entre o
lutar ou fugir das situações que me aparecerem o resto da vida.
Um dia, com o tempo, este choque irá desaparecer. Mas a forma como os
pais escolheram lidar com esta crise ficará marcado para sempre.
Ou sentirei o egoísmo, a falta de apoio e protecção, ou ficarei com uma
cicatriz no meu coração com uma mensagem que diz: “As coisas boas
acontecem às pessoas boas”.
Então eu sou má pessoa.
Atenciosamente,
O filho do divórcio (Sem autoria)
Luciana, H. S. (2018). A Guarda Compartilhada no Superior Tribunal de Justiça à
luz da Psicologia Forense. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Forense. Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, Paraná
Resumo
A Guarda Compartilhada foi introduzida no Brasil pela Lei 11.698/08, que conceituou o
instituto no Código Civil brasileiro no art. 1.583§1º como: “a responsabilização
conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo
teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.” Até dezembro de 2014 a
guarda compartilhada era aplicada conforme a mesma lei “, sempre que possível”
quando não houvesse consenso entre os pais. Em dezembro de 2014, entrou em vigor a
Lei 13.058/14 que passou a considerar a guarda compartilhada como regra dentro do
ordenamento jurídico brasileiro, independentemente do consenso dos pais. O instituto
da guarda compartilhada foi implementado no país, após muitos países já terem
implementado este tipo de guarda e percebe-se que em cada país, há requisitos
diferentes para sua implementação. Foram analisados empiricamente os julgados sobre
a guarda compartilhada no Superior Tribunal de Justiça, a corte que tem função de
uniformizar a interpretação da legislações em todo país, uma vez considerando que os
juízes de primeiro grau devem seguir esta intepretação. Foi analisada a importância dos
laudos psicológicos nestes julgados e se foram devidamenteseguidos. Percebeu-se que a
corte neutraliza os conceitos jurídicos abstratos, como também a importância do laudo e
que não há uma interdisciplinaridade necessária entre a Psicologia e o Direito na
aplicação do instituto da guarda compartilhada.
The Shared Guard was introduced in Brazil by Law 11688/08 which conceptualized the
institute in the Brazilian Civil Code in art. 1.583§1º as "joint responsibility and the
exercise of the rights and duties of the father and mother who do not live under the same
roof, concerning the family power of the common children." Until December 2014,
shared custody was applied according to the same law "whenever possible" when there
was no consensus between the parents. In December 2014 came into force Law 13.058 /
14, which now considers shared custody as a rule within the legal system, regardless of
the parents' consent. The shared custody institute was implemented in Brazil after many
countries have already implemented this type of custody and it is perceived that in each
country there are different requirements for its implementation. The judgments on
shared custody were analyzed empirically in the Superior Court of Justice, the court that
has the function of standardizing the interpretation of the law in every country and that
the first degree judges must follow this interpretation. It was analyzed the importance of
the psychological reports in these trials and if they were followed. It was noticed that
the court neutralizes the abstract legal concepts as well as the importance of the report
and that there is not a necessary interdisciplinarity between Psychology and Law in the
application of the institute of shared custody.
Sumário
Apresentação ..........................................................................................................................10
Revisão de literatura ..............................................................................................................12
A guarda de filhos na Psicologia...............................................................................................12
A Guarda Compartilhada na legislação brasileira.....................................................................13
Histórico Legislativo da Guarda Compartilhada......................................................................14
Origem, conceito e terminologia da Guarda Compartilhada...................................................21
Experiências da Guarda Compartilhada em outros países........................................................22
Reino Unido..............................................................................................................................23
Estados Unidos..........................................................................................................................24
Países Nórdicos.........................................................................................................................24
Itália .........................................................................................................................................25
Austrália ...................................................................................................................................25
Princípio do Melhor Interesse...................................................................................................26
Objetivo....................................................................................................................................27
Objetivo Geral ........................................................................................................................27
Objetivos Específicos..............................................................................................................27
Método......................................................................................................................................28
Participantes..............................................................................................................................28
Local..........................................................................................................................................28
Resultados e Discussão............................................................................................................30
O Princípio do Melhor Interesse...............................................................................................30
Poder Familiar ..........................................................................................................................32
A falta ou desnecessidade de consenso dos pais para a implementação da guarda
compartilhada ou a obrigatoriedade da guarda compartilhada.................................................34
Avaliação Psicológica...............................................................................................................38
Súmula 7 do STJ ......................................................................................................................42
Conclusão ................................................................................................................................45
Referências...............................................................................................................................49
Anexos......................................................................................................................................55
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Apresentação
A Guarda Compartilhada foi introduzida no contexto brasileiro pela Lei 11.698/08, que
conceituou o instituto no Código Civil brasileiro no art. 1.583§1º como: “a responsabilização
conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto,
concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.” Até dezembro de 2014 a guarda
compartilhada era aplicada conforme a mesma legislação “sempre que possível” quando não
houvesse consenso entre os pais. Em dezembro de 2014 entrou em vigor a Lei 13.058/14 que
passou a considerar a guarda compartilhada como regra dentro do ordenamento jurídico
vigente, independentemente do consenso dos pais.
A guarda compartilhada ou em inglês “joint custody” não é utilizado tão recentemente
nos ordenamentos jurídicos internacionais como Noruega, Suécia, Austrália, Estados Unidos,
Inglaterra entre outros, onde a sua determinação cresce de forma significativa a cada ano,
seguindo as taxas de divórcio (Hakovirta & Rantalalho, 2011.)
Nessa conjuntura, arranjos compartilhados determinados pelos tribunais ou
consensuais, têm crescido internacionalmente, ou seja, incentivando os países elaborar
legislação, com isso, encorajando os pais separados e divorciados a entrar em parentalidade
compartilhada como o padrão estipulado (Davies, 2015).
Na guarda compartilhada os pais permanecem envolvidos profundamente na vida de
cada um, embora sua parceria emocional e econômica tenha acabado, porém, o
relacionamento parental, permanece intacto, assim limitando a autonomia e a autoridade de
decisão dos ex-cônjuges sobre os filhos (Singer, 2009).
Deste modo, a temática não é simples, sendo que quando as demandas são decididas
no Poder Judiciário, requerem a interdisciplinaridade com a Psicologia Forense, para poderem
ser decididas as medidas cabíveis.
Conforme Oshima (2016), a atuação interdisciplinar nas demandas que versam sobre
interesse de criança e adolescente, é necessária com a finalidade de aprimorar a atividade
judicial.
O presente estudo está embasado em pesquisa empírica dos julgados do Superior
Tribunal de Justiça, o qual tem como uma de suas funções institucionais a reponsabilidade de
buscar uniformizar e interpretar as legislações federais no cenário brasileiro, para que assim,
sejam seguidas por todo território nacional.
Conforme Rodriguez (2017), a pesquisa empírica em direito, raramente se volta para a
fundamentação das decisões jurisdicionais, sendo que a maioria delas, tanto na literatura
12
brasileira quanto mundial, raramente procura investigar as razões para decidir as formas de
guarda oferecidas pelos juízes.
No caso dos julgados do Direito de Família no Brasil, não há acesso devido os
processos de primeiro grau tramitarem em sigilo e os de segundo grau somente são oferecidos
acórdãos, que não citam ou abordam de maneira muito abreviada as razões de decidir do
julgador.
Novo, Quinteiro & Vázquez (2013) destacam que na área da psicologia forense, o
estudo das decisões judiciais é uma das temáticas que vem se destacando e com isso,
chamando a atenção dos pesquisadores sobre às razões de decidir. Isso deve-se ao fato, de que
com a análise das fundamentações ou razões de decidir dos julgados, possibilita o acesso aos
motivos da decisão e é possível então, entender a racionalidade do juiz.
Neste sentido Brinig&Drozd (2014) advertem, que há uma boa razão pela qual se sabe
tão pouco sobre os efeitos reais das leis de parentalidade, ou seja, os dados relevantes são
enterrados em registros judiciais e são difíceis de obter.
É importante enfocar que em tal contexto, a pesquisa empírica assume na produção do
conhecimento, nas ciências naturais e sociais, por oposição àquele que tem na produção do
conhecimento jurídico.Assim, busca-se na análise dos julgadores do Superior Tribunal de
Justiça, a importância da Psicologia Forense na Guarda Compartilhada, em um contexto
jurisdicional que deve ser seguido como parâmetro para todas as cortes brasileiras. E foi assim
que surgiu a ideia da presente pesquisa, no acompanhamento dos julgados deste tribunal, pelo
orientador e orientanda no decorrer do mestrado e pela troca de ideias sobre o assunto.
Ressalta Brining (2011), que a mudança das leis de família continua a ser o cerne de
muitos debates de política social e, no entanto, muito pouco se sabe sobre os efeitos dessas
mudanças. Assim, não pode-se esquecer que a lei tem a função de regular a sociedade e por
sua vez a sociedade é influenciada diretamente pela cultura. Conforme Sotomayor e tal
(2013), os valores culturais e as percepções do que é socialmente desejável ou indesejável
orientam muito a tomada de decisões e o comportamento dos pais. Os estudiosos sócio legais
há muito discutiram o papel da lei na mudança social sendo que os debates persistem até o
presente, onde alguns doutrinadores apontam regularmente para exemplos práticos, do que
poderia ser chamado de ativismo judicial em questões sociais controversas (Artis& Krebs
2015).
13
Revisão de Literatura
Diante de tantas mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas e por consequência
nos fatos a serem tutelados pelo âmbito jurídico, especialmente no que diz respeito ao Direito
de Família, se faz imprescindível a interdisciplinaridade com outras ciências, como a
Psicologia visto, que os envolvidos nesse processo, dependem da visão de outros
profissionais.
Conforme Pinheiro (2014), as decisões humanas acerca da convivência social, são
consubstanciadas na lei e para a abordagem do indivíduo, da sociedade e do direito e do seu
entrelaçamento com a psicologia, sendo fundamental entender a conceituação ampla da
subjetividade. Como a matéria prima da psicologia é centrada no homem em si, todas as suas
expressões são sintetizadas na subjetividade, que é a síntese singular e individual que cada um
vai construindo conforme se desenvolve e vivencia, tanto nas experiências da vida social
como cultural. Bijou e Baer (2002), destacam que o desenvolvimento psicológico
especificamente, significa transformações progressivas nas interações entre o comportamento
dos indivíduos e os acontecimentos do ambiente social onde está inserido. De qualquer
maneira, o estudo da psicologia no contexto atual, seja qual área se tratar é subjetivo. Se
considerar que de acordo com a espécie da guarda a ser adotada no caso concreto, o ambiente
do indivíduo muda, pode-se afirmar que isso acabará repercutindo no desenvolvimento
psicológico da criança ou do adolescente. Ferreira e Macedo (2016)
Discorrem sobre a guarda na psicologia:
“Se o Direito estuda a guarda e seus efeitos jurídicos, a Psicologia por sua vez como
ciência, não conceitua guarda juridicamente, mas trata do comportamento humano e
das relações, inclusive as de interdependência, como entre pais e filhos, com
propriedade, por ser seu objeto de estudo, e também, enfatiza o cuidado, o amparo, o
abrigo, sempre permeados de afeto, não como obrigações a serem cumpridas, e sim
como ações que a própria relação de parentalidade efetiva deveria impor” (Macedo
& Ferreira, 2016, p. 87).
EUA. Finalmente frisou que a guarda compartilhada é sistema recomendável, sempre que
possível, por avaliação do juiz e diz ser o projeto algo muito simples (Câmara dos Deputados,
2002).
A deputada Jandira Feghali pediu vista do Projeto na mesma ocasião. Segundo o voto
da deputada, as razões para o seu pedido de vista eram algumas dúvidas que ela tinha quanto à
matéria: a confusão da guarda compartilhada com a guarda alternada, a relação da pensão com
este arranjo parental e a consequência para os filhos numa exposição constante de conflito.
Relatou fatos vivenciados pela sociedade como a ausência dos pais da gravidez até após a
separação, o crescimento de chefes de família mulheres após serem abandonadas pelos
companheiros além do crescente número de pedidos de exame de DNA e a procura do
movimento dos pais separados pela comissão que luta para ter convivência com os filhos. A
deputada mencionou que após consultar juristas, defensores públicos e pais angustiados,
chegou à conclusão de que muitas das suas dúvidas poderiam ser sanadas pela alteração do
projeto de lei. Cita uma psicóloga a favor da guarda compartilhada, Leila Maria Torraca de
17
Brito, que afirma que quando o Estado reconhece a importância da guarda compartilhada
reafirma-se um princípio de perenidade de dupla filiação e que a guarda compartilhada seria
uma das fórmulas de guarda que atende muito bem o melhor interesse da criança quando é
possível ser aplicada.
Senado Federal
para prevalecer por determinado período considerada a faixa etária do filho e outras condições
de seu interesse (Câmara dos Deputados, 2008). As razões do veto presidencial foram:
imprecisão técnica pois alegou a Casa Civil a que guarda compartilhada fixada por consenso
seria incompatível com a sistemática processual vigente. Frisou que os termos da guarda
poderiam ser formulados em comum acordo pelas partes, entretanto quem iria fixá-los, após a
oitiva do Ministério Público, seria o juiz, o qual dever sempre guiar-se pelo Princípio do
Melhor Interesse da Criança.
Daí então o pano de fundo legislativo da introdução da Guarda Compartilhada no
ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 11.698/08. A norma conceituou no art. 1.584 do
Código Civil a guarda compartilhada como “a responsabilização conjunta e o exercício de
direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder
familiar dos filhos comuns” e no §2º do mesmo artigo, preceituava que quando não houvesse
acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, seria aplicada, sempre que possível, a
guarda compartilhada. Quanto à equipe interdisciplinar, o art. 1583 em seu §3º dizia que para
estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda
compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderia se basear
em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar. O art. 1584 estabeleceu que
tanto a guarda unilateral quanto a guarda compartilhada poderiam ser requeridas pelo pai pela
mãe de modo consensual ou decretada pelo juiz (Lei 11.698/06).
Assim, a tramitação do Projeto da Guarda Compartilhada na Câmara e no Senado
Federal durou um pouco mais de 7 anos, passou pelas Casas Revisoras, teve parecer de
deputados e senadores e apenas um deles teve a opinião de uma psicóloga. A opinião e não
um parecer propriamente dito. Percebe-se que o intuito inicial dos legisladores quando
apresentaram ambos projetos de lei foi que a guarda compartilhada fosse restrita às separações
ou divórcios consensuais e que fossem respeitados os casos especiais, os quais não foram
discriminados. Vários argumentos a favor e úteis foram ditos durante todo o processo
legislativo, como a continuidade do convívio da criança com os ambos pais sendo
indispensável para o desenvolvimento emocional de forma saudável, a quebra do favoritismo
da guarda em favor da mãe como maneira de se respeitar o direito de igualdade dos genitores,
a preocupação com a possível interpretação da guarda como alternada, e a tendência mundial
desse regime de guarda. As preocupações e argumentos foram válidos, porém, não contiveram
diferentes interpretações possíveis. Além disso, repita-se, não houve um só estudo sobre o
tema, nem ao menos um só parecer de um psicólogo e estranha um legislador não perceber as
diferenças culturais e históricas além das diferenças dos sistemas jurídicos de países que
19
guarda provisória da criança quando é utilizada como arma contra o ex-cônjuge praticando a
alienação parental (Câmara 2011).
Senado Federal
da guarda compartilhada mesmo sem consenso entre os pais e vota pela aprovação do projeto
de lei nos moldes apresentados pela Câmara dos Deputados. Após esse parecer, em 10/11/14,
o senador Romeu Jucá elaborou a emenda nº 1, membro da Comissão de Assuntos Sociais do
Senado, nela advertiu alguns pontos sobre imposição da guarda compartilhada com regra.
Para o senador, a legislação deveria estar atenta para impedir que as crianças fossem
submetidas à violência física e psicológica, e qualquer indício geraria a alteração do tipo de
guarda. Por último, frisou a necessidade de que o juiz expressasse, de modo específico os
motivos do não acolhimento da guarda compartilhada ou da concessão da guarda a terceiros.
A emenda foi rejeitada pelo senador Jayme Campos, designado relator do parecer na
comissão (Senado Federal, 2014)
Ainda no Senado Federal aconteceu uma audiência pública, conforme art. 58, II da
Constituição Federal, é facultado a qualquer das casas realizar audiências públicas com
entidades da sociedade civil. Em 20/11/14 foi debatida a matéria sobre a guarda
compartilhada com a participação do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam),
juízes, Associação de Pais e Mães Separados além de senadores. O único a discordar da
redação do projeto de lei foi do professor José Fernando Simão que opinou o texto do projeto
como um equívoco, além de ter várias falhas técnicas. Entre as críticas do jurista, a criança
teria duas casas e que o termo “custódia física “teria que ser retirado do texto. (Senado,
2014). Na mesma semana o texto é aprovado e enviado para a Câmara dos deputados que
transforma finalmente o PL 1009/2011 na Lei 13.058/14. A nova lei altera o art. 1583 do
Código Civil e seguintes. Entre as principais mudanças, a guarda compartilhada como regra
geral ao dispor que no art. º1584 § 2º que “em não havendo consenso entre os pais, a guarda
compartilhada será determinada a menos que um dos genitores declare que não quer a guarda
do filho”. No §3º do mesmo artigo adiciona à multidisciplinar o objetivo de elaborar a divisão
equilibrada do tempo entre o pai e mãe da criança ou adolescente, e em seguida no §4º diz que
a alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda unilateral ou
compartilhada poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor (Lei
13.058/14).
Conclui-se que os nossos legisladores tiveram a clara intenção de criar a imposição
da guarda compartilhada ao suprimir a expressão “sempre que possível. Observa-se
novamente que não houve nenhum parecer formal de algum psicólogo, nenhum estudo
psicológico levado em consideração e nem ao menos um simples levantamento estatístico
para a análise do instituto desde a Lei 11.698/08. Não há registros sobre a discussão da
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audiência pública no Senado sobre o tema, somente a reportagem do site de notícias da casa
(Senado, 2014).
Reino Unido
Apesar de ser o país da origem da guarda compartilhada, somente regulou o instituto
em 1989, mesmo ano da Convenção Internacional da Criança. Introduziu a terminologia
Parental Responsability equivalente aos direitos e obrigações dos pais, compartilhados ao
longo da guarda no Children Act 1989. Uma peculiaridade da lei é atribuir a guarda
compartilhada para pais, que nunca foram casados através de um Joint Birth Registration
(Lehmann, 2013).
O governo britânico considerou uma presunção legislativa de parentalidade
compartilhada, como o acordo padrão para separação e divórcio dos pais, que entram nos
tribunais de família (Davies, 2013).
Estados Unidos
Nos Estado Unidos depois da doutrina “Tender Years Presumption”, que defendia a
guarda de crianças menores de 4 anos como materna, a Guarda Compartilhada foi
regulamentada em vários Estados, que possuem autonomia para legislar sobre a matéria. A
Guarda Compartilhada não foi aceita de pronto entre os tribunais americanos. Até a década de
1970, a visão dominante era que uma criança precisava da estabilidade de uma única casa
executada por apenas um pai, e que mudar o filho de pai para pai, resultaria em uma lesão
permanente para a criança, constantemente seria lembrado que era “centro de uma disputa
parental (DiFonzo, 2014).
A guarda compartilhada foi regulamentada primeiro com o requerimento dos pais,
porém, o tribunal sempre manteve a faculdade de atribui-la a um deles, se achasse que não
estava dando certo. Hoje existe, um consenso na separação dos direitos que podem ser
compartilhados e daqueles que necessariamente são conjuntos. O American Low Intitute
desenvolveu uma forma de guarda compartilhada, denominada “Sharedparenting” a qual
busca incentivar condutas colaborativas dos pais em relação aos filhos para que a guarda
compartilhada não se quebre (Lehmann, 2013).
É comum que os tribunais adotem planos de coparentalidade nos Estados Unidos, para
o acompanhamento da guarda compartilhada. Indiana é um Estado Americano que prevê a
guarda compartilhada desde 1983, não possui a presunção que exige que os juízes considerem
a custódia conjunta, antes de outras formas de guarda e adota o Parenting Time Guidelines
(Artis&Krebs, 2014).
25
Além disso, a legislação de alguns estados, exigem que os pais divorciados apresentem
um plano de parentalidade, o que os obriga a pelo menos, tentar descobrir como eles serão
copais, seus filhos após o divórcio. Exigir que os pais divorciados apresentem um plano de
parentalidade, subentende que ambos os pais deveriam estar envolvidos na educação de seus
filhos. Muitos estados também exigem que os pais se divorciem, para frequentar as aulas de
educação para pais e tentar mediar as disputas pelo tempo de parentalidade. Esses serviços,
embora não sejam perfeitos, refletem a determinação do estado de que as crianças devem
manter vínculos estreitos com ambos os pais, após o divórcio e que cada pai deve ter uma
educação significativa, ou seja, tempo com a criança (Maldonado, 2014).
Até 2013, trinta e seis estados autorizaram a custódia conjunta, seja por presunção.
Inseriu-se a terminologia nesse contexto "compartilhamento compartilhado" e "planos
parentais", em lugar da "custódia" e " Visitação ". Como uma questão de política pública, a
expressão" significa ter um contato frequente e contínuo com ambos os pais, "aparece na
maioria dos estatutos estaduais, com quase regularidade mecânica. (DiFonzo, 2014).
Países Nórdicos
Itália
Austrália
menos 35% do tempo (Meyer &Carlson, 2014). Isso pode explicar uma mudança de
comportamento da população alvo da guarda compartilhada no país.
A lei australiana reforça o benefício para a criança de um relacionamento significativo
com ambos os pais além de protege-la contra violência e abuso além de levar em consideração
a sua opinião. A legislação também tornou a mediação obrigatória, na maioria dos casos para
que chegue a um acordo ou para que os pais cheguem aos tribunais com “novo visual”, com
menos características de adversários. (McIntosh, 2009).
Objetivo
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
Método
Participantes
Local
Banco de dados (site) do Superior Tribunal de Justiça, com acesso pela internet, onde
foi possível encontrar recursos relacionados ao tema “Guarda Compartilhada”, que foram
lidos e analisados, tornando possíveis a pesquisa e a coleta de dados.
30
Procedimentos
Resultados e Discussão
Através das leituras dos julgados sobre a guarda compartilhada percebe-se que o
Princípio do Melhor Interesse é recorrente nas fundamentações das decisões. Em leituras
posteriores percebeu-se também ser utilizado em diferentes contextos. Este Princípio foi
citado na fundamentação de 12 dos 21 julgados: J1, J2, J4, J8, J11, J12, J13, J14, J15, J16,
J17, J19 e J21. É usado em diferentes contextos: em J1 o recurso recebeu provimento com
base no interesse da criança. Em J4, J8, J11, J15, J16, J17 na justificativa da guarda
compartilhada ser a regra. O princípio é usado como justificativa exceção à regra da guarda
compartilha devido à distância geográfica entre os ascendentes em J2, J13e J14, e ainda como
justificativa, para o não deferimento da guarda compartilhada em J12, J19 e J21.
A mudança de enfoque do Princípio do Melhor Interesse percebida na leitura dos
julgados se explica em razão de que conforme visto na literatura, o conceito do Princípio do
Melhor interesse possui uma incerteza em seus referenciais.
Madaleno2016; Carbonera 2000; Marinoni 2014; Grisard 2016; Eros Grau 2005 e Tependino
2008).
Madaleno & Madaleno (2016) explicam que a abstração do Princípio do Melhor
Interesse, a intenção da lei não é dar poderes discricionários aos juízes atuarem de forma
individualista. Os autores mencionam que os conceitos indeterminados possuem duas zonas, o
núcleo do conceito e uma zona difusa que o envolve. O núcleo do conceito seria passível de
valorações subjetivas e que abrange os preceitos legais definidos no ordenamento jurídico,
representando a expressão máxima de parentalidade, sendo toda forma de assistência moral e
material que necessitam os filhos, com vistas ao seu desenvolvimento integral, como por
exemplo afeto e dever de sustentar. A outra zona do conceito do Princípio do Melhor
Interesse seria uma zona difusa, que envolve a primeira e tem o grau de incerteza maior.
Sendo assim, explica este autor que todas as decisões práticas estariam fundamentadas dentro
de um entendimento médio, ao manter uma vinculação legal mais objetiva e ao mesmo tempo
afastando o livre arbítrio do juiz. Considerando este âmbito, as sentenças devem ser
criteriosamente fundamentadas para que os envolvidos possam entender as razões do julgador
e o peso que ele deu a cada critério, inclusive aí a importância da possibilidade de eventual
recurso à instâncias superiores. A forma de aferição desses critérios de julgamento acontece
de forma negativa: primeiro o juiz verifica se existe algum aspecto negativo em relação a um
dos pais e que pode desabonar a fixação da guarda em favor de um deles e por exclusão opta-
se pelo outro. Segundo o autor, quando os dois pais se mostram aptos à criação dos seus filhos
e são capazes igualmente de ter a guarda dos filhos, a decisão final se torna difícil e incerta e
nesta hora o juiz entra na zona difusa e quando se ingressa nessa esfera, não há outra
alternativa ao julgador, a não ser se valer do subjetismo dos fatos.
No mesmo sentido, Grisard (2016) menciona que é o juiz, ao examinar a
situação fática determina a partir de elementos objetivos e subjetivos qual é, verdadeiramente,
o interesse do menor, em determinada situação fática. Percebe-se de acordo com a literatura
mencionada, que quando o julgador do STJ determina que a guarda compartilhada é a regra, o
princípio do melhor interesse, não é aplicado de forma correta e o julgador acaba por se valer
sim, do subjetismo dos fatos.
Explica Rodriguez (2017) um texto normativo fechado, ao contrário dos
Princípios, é capaz de evitar que os juízes criem exceções, com o fim de adaptá-los aos casos
concretos. Os magistrados têm um espaço amplo para isso, diante da Constituição brasileira
que estabeleceu uma série de princípios gerais de diversas áreas do direito. Para este autor, o
risco é que o juiz, nessa situação não explicite as razões pelas quais estabeleceu a exceção e
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não justifique de maneira adequada a sua sentença, fazendo somente a menção ao diploma
legislativo como fundamento de sua decisão. Assim, pode transformar a decisão em uma zona
opaca avessa, ao debate público que poderia passar a imagem de um Poder Judiciário
autoritário, para além dos limites estabelecidos, pela separação dos poderes.
Seguindo este raciocínio, nota-se que em nenhum dos julgados analisados, os
magistrados explicaram na fundamentação de maneira clara a utilização do Princípio do
Melhor Interesse, de acordo com a literatura mencionada. É necessário, que os litigantes
possam em todos os graus de jurisdição possam entender claramente as razões de decidir do
juiz, por mais que em grau de recurso a fundamentação tenda a ser mais sucinta.
O Poder Familiar
Ferreira e Macedo (2016) uma grande revolução no século XX ocorreu para hoje, início do
século XXI, se possa falar em poder familiar, de pai e mãe totalmente igualitário. O poder
familiar estipula que compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar e na falta ou impedimento de um dos genitores o poder
familiar deverá ser exercido com exclusividade, pelo outro ascendente (Madaleno, 2016). É
considerado o conjunto de faculdades encomendadas aos pais, como instituição protetora da
menoridade, com o fim, de lograr o pleno desenvolvimento e a formação integral dos filhos,
físico, mental, moral, espiritual e social (Grisard, 2016).
O regramento do poder familiar está previsto no Código Civil do artigo 1.630 até
1.638 e também no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90). O art. 22 do ECA
diz que são inerentes ao poder familiar os deveres de guarda, sustento e educação, além do
dever de cumprir decisões judiciais. Decorre do art. 226§5º da Constituição Federal, a
igualdade do exercício do poder familiar, que até o advento do Código Civil de 2002 era
denominado Pátrio Poder (CC, 2002). Conforme o art. 1.631 do Código Civil, não há mais o
que se falar de poder familiar como aquele exercido pelo pai da família. Quanto à separação
judicial e o poder familiar, o art. 1.632 diz que as relações entre pais e filhos não são alteradas
pela separação e dissolução de união estável. Ou seja, em resumo, não importa a qualidade da
relação entre os pais, o poder familiar continua entre os ex-cônjuges.
Observa-se, que o Poder Familiar é frequentemente inserido pelas partes na tentativa de
um dos ex-cônjuges impedir que o outro tenha a guarda compartilhada, para que se possa ser
revertida para unilateral. A alegação para isso, é a inaptidão para o poder familiar do outro
progenitor. Ao mesmo tempo, o poder familiar faz parte da fundamentação da Corte, como
uma das justificativas (ao lado do Princípio do Melhor Interesse) a implementação da guarda
compartilhada. Segundo o art. 1.584 do Código Civil, a guarda, unilateral ou compartilhada,
poderá ser: quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda
compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do
menor (Lei 13.058/14). A alegação da corte de que o ideal é que o poder familiar seja
exercido na guarda compartilhada, não procede, pois são duas coisas distintas, conforme a
literatura e as leis vigentes.
A título de exemplo, em Portugal, a Lei 61 de 31 de outubro de 2008, substituiu a
expressão “poder parental” que seria o equivalente ao poder familiar por “responsabilidades
parentais” e estabeleceu o seu exercício conjunto (Grisard, 2016). No direito lusitano,
35
contrário do nosso, o poder familiar é destacado da guarda, que ao menos na teoria se quer
existe, pois não há a palavra, guarda naquele país (Rosenvald, 2017).
Ao contrário do Brasil, em Portugal o poder familiar pode ser decretado somente a um
dos pais. Seguindo este raciocínio, em setembro de 2015 entrou em vigor a Lei 137, que
estende a reponsabilidade parental para o cônjuge unido de fato à qualquer um dos pais, ou
alguém das suas famílias, no caso de ausência, incapacidade ou outro impedimento decretado
pelo tribunal a um dos pais, no caso do outro progenitor não puder exercer o poder familiar.
Se assim fosse no Brasil, faria sentido o ideal de poder familiar exercido na guarda
compartilhada.
se opõe à guarda compartilhada, o fazem por motivos egoístas. O julgador declara que:
“impedimentos insuperáveis à guarda compartilhada, devem ser decorrentes de condições
sociais, geográficas, ou pessoais de um dos genitores e não a falta de consenso”. J17 já na
vigência da Lei 13.054/18, o julgador segue o precedente, J8 e declara que “no âmbito dos
litígios que envolvem o Direito de Família, não há harmonia nem respeito, portanto, a
intransigência dos pais não influencia na guarda, compartilhada, sendo ela obrigatória”.
Além disso, frisa mais uma vez, que não há necessidade de consenso entre os genitores,
mesmo havendo acentuadas divergências pessoais entre as partes. Em J18 o julgador
menciona que o legislador preocupou-se com a efetividade da fixação da guarda
compartilhada e que essa preocupação em J4.
Conforme a literatura mencionada, os deputados que fizeram os primeiros projetos da
lei da guarda compartilhada tinham como origem a guarda compartilhada em caso de
separação consensual e que a guarda compartilhada deveria ser a regra, porém, “respeitando-
se evidentemente os casos especiais”, em razão de se tratar de um cuidado dos filhos
concedidos aos pais comprometidos com respeito e igualdade.
A desnecessidade de consenso entre os pais para a implementação da guarda
compartilhada, entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro antes da regulamentação
legal (Lei 13.058/14). O Recurso Especial 1.251.000/MG (J4) de 18 de agosto de 2011, o qual
teve como relatora a ministra Nancy Andrighi foi um precedente quando ainda vigente a Lei
11.698/06. A redação do art. 1.584§2º do Código Civil dada pela lei 11.698/08 era: A
guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: quando não houver acordo entre a mãe e o pai
quanto à guarda do filho, será aplicada, sempre que possível, a guarda compartilhada (Lei
11.698/06). O Resp 1.250.000/MG (J4) influenciou diretamente a aprovação do Projeto de Lei
da Lei 13.058/14.
Para Ferreira e Macedo (2016), a expressão “sempre que possível”, contida na Lei
11.698/08 encerrava uma recomendação, o que, por si só, já induziria a se pensar
juridicamente na possibilidade da guarda compartilhada e parecia mais cautelosa, pois
somente a lei, não tem o condão de mudar comportamentos.
Adverte Levy (2016) analisa que o Brasil é um país com forte tendência positivista, ou
seja, de forma geral acredita-se que é necessário o incentivo da lei para mudanças
comportamentais, ainda que nem sempre esses preceitos tragam mais novos problemas que
soluções. Em verdade, a guarda compartilhada pressupõe uma inafastável dose de consenso
do casal e não obstante tenha consolidado a perda de sua sintonia afetiva pelo desencanto da
37
separação, por sua maturidade não desconectou da tarefa de priorizar a fundamental felicidade
da prole (Madaleno, 2016).
Conforme ensinamento de Caio Mário da Silva Pereira (2015), completa e
vigente a norma jurídica, em todo o ciclo de sua existência, como disciplina de conduta social,
deve ser aplicada especialmente pelo poder judiciário. O autor adverte, que isso exige o
trabalho de entendimento de seu conteúdo. Vai além, ao elucidar que a finalidade normativa
de comportamento da lei abraça a atividade social e também regulamenta as ações humanas,
segundo o paradigma presente ao tempo de sua votação. Menciona o mesmo autor, que é
necessário um sentido de previsibilidade natural, durante a aplicação, porque a legislação tem
a pretensão de amoldar as relações jurídicas que ainda estão por vir, ou seja, às futuras
relações jurídicas que se formarão em toda a vigência da norma.
Nesse sentido foi observado, que o judiciário e legislativo em primeiro lugar
desencontraram-se de suas funções: a função precípua do Poder Legislativo é a formulação da
lei e ao judiciário, a sua aplicação. Fazer no campo de Direito de Família, o desencontro de
funções de cada poder causou um prejuízo refletido no número de julgados que servem como
referência no posicionamento do Judiciário brasileiro, como um todo. Em segundo lugar, nem
o legislador, nem o julgador respeita o ciclo de amadurecimento e previsibilidade da lei. Pois,
conforme De Blasio e Vuri (2013), explicam que de presunção “sempre que possível”, à regra
“será determinada”, implica uma série de consequências práticas, tanto no Direito como na
Psicologia, além de custos sociais e privados. Aduzem que para o Estado os litígios tendem a
se estender no tempo e se multiplicar uma vez, que os litigantes não saiam de maneira
satisfatória dos tribunais. Além disso menciona, que a aversão à reversão, em recurso pode
estimular uma replicação das decisões anteriores. Conclui dizendo que, uma massa crítica
inicial de decisão tendenciosa pode ser propagada em todos os tribunais fazendo com que,
isso ocorra.
Depois que o STJ teve o entendimento da obrigatoriedade da Guarda Compartilhada, o
número de recursos subiu de 4 para 21 julgados. Observa-se com esse resultado, que quase
simultaneamente, tanto legislador teve pressa em mudar a lei, quanto o Judiciário em mudar
um entendimento. De acordo com a literatura vista, o STJ criou um precedente sem respeitar
o tempo de conhecimento, amadurecimento e previsibilidade que a lei requer de todos os
envolvidos na matéria, sejam os profissionais envolvidos, sejam os litigantes ou a sociedade
em geral. Como resultado o número de julgados mais que quintuplicou.
Quanto à alternância de residências, é imprescindível recorrer ao conceito de guarda
compartilhada, melhor explicada pela doutrina, já que a lei não traz maiores explicações.
38
Avaliação Psicológica
A menção ao laudo psicológico foi realizada em 11 dos 21dos julgados sobre a guarda
compartilhada no Superior Tribunal de Justiça: J1, J2, J3, J5, J9, J10, J15, J16, J19, J20 e J21.
Desses 11 julgados, o julgador segue o laudo em 10 deles, menos em J15. Em J1 e J2 o laudo
foi produzido pelas partes e foram anexadas aos autos, sendo produzido em juízo pela equipe
multidisciplinar no restante deles. Em J8, J11 e J14, após determinar a guarda compartilhada,
o julgador pede que os autos retornem ao juiz de primeiro grau para que faça avaliação.
Tanto a primeira quanto a segunda Lei da Guarda Compartilhada recomendaram a
orientação técnico – profissional ou equipe multidisciplinar na adoção da guarda
compartilhada. A Lei 11.698/08 no art. 1584 § 3º do Código Civil, mencionava que: “Para
estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda
compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em
orientação técnico - profissional ou de equipe interdisciplinar (Lei 11.698/08).
Com o advento da Lei 13.058/14, o dispositivo foi revogado por outra redação similar,
com uma complementação: que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o pai e com
a mãe”. (Lei 13.058/14). Portanto, quando os pais não chegam a um acordo quanto a como
irá funcionar a guarda compartilhada, o juiz ou o promotor poderão basear-se em laudo de
orientação técnico jurídica. Isto não significa que as partes, no decorrer da ação não possam
requerer ao juiz que se faça um laudo, tanto pela equipe do tribunal quanto o façam, por
psicólogo fora dele, conforme art. Art. 472 do Código de Processo Civil de 2015 (CPC 2015).
Além disso, o termo “poderá” do §3º do art. 1.584 do Código Civil indica que o juiz, em
conformidade com o art. 371 do CPC de 2015, não tem obrigação de seguir o laudo. Este
ponto gera polêmica, pois a equipe multidisciplinar é composta por especialistas em ciências,
que o juiz não tem conhecimento, além do senso comum.
avaliar a dinâmica familiar avaliando, assim o relacionamento dos filhos com os genitores,
além dos fatores de risco e de proteção, presentes nos ambientes.
Conforme Gomide (2016), um laudo cientificamente embasado corresponde a uma
peça confiável do processo e permite, que a psicologia forense obtenha respeitabilidade, tanto
acadêmica, como profissional.
Scretas (2015) menciona os laudos na guarda compartilhada, espelham a possibilidade
dos pais adotarem posturas de compartilhar, pois é medida a capacidade interna de tolerância
e flexibilidade, para se adequarem aos constantes ajustes que se fizerem necessários à guarda
compartilhada.
Baisch e Lago (2016), entendem que o artigo 1584 § 3º do Código Civil faça
menção à orientação multidisciplinar, para o estabelecimento dos períodos de
convivência e das atribuições de cada genitor, quando também deveria servir para
basear a própria decisão de aplicar ou não a guarda compartilhada.
órgão, que constatou de fato fortes indícios de alienação parental. Recomendou que o julgador
considerasse extremada a concessão da guarda compartilhada, mantendo as crianças sob a
guarda materna, com visitação do pai, além de acompanhamento psicológico da família.
Apesar disso, o julgador não seguiu as informações constatadas no laudo e decretou a guarda
compartilhada.
Em J16 o julgador cita trechos do sentença de primeiro grau, a qual cita que “(..)
através dos laudos social e psicólogo realizados por profissionais habilitados, que ambos
possuem estrutura em suas casas para receber o menor, e que ambos desejam de igual modo,
uma convivência ativa e participativa na criação e educação do filho”. Segue laudo
Em J19 o julgador cita a decisão do juízo de primeiro grau que merecia importante
destaque o parecer técnico realizado em juízo na Secretaria Psicossocial Judiciária que
concluiu, que as crianças possuíam referência parental na casa de ambos os genitores, mas
que na casa da mãe a referência de lar. No ponto de vista afetivo, o laudo destacou que que as
crianças traziam consigo grande sofrimento, vivenciado tanto no decorrer da relação conjugal
entre os pais, quanto no processo de separação e que naquele momento optaram por um
afastamento em relação ao pai, principalmente com o propósito de se afastarem das vivências
dolorosas, experimentadas quando este consumia excessivamente álcool. Segue laudo
Em J20 extrai-se do acórdão do tribunal de origem existiam 2 relatórios psicológicos
elaborados em diferentes momentos. O primeiro quando a criança possuía apenas 9 meses de
idade e que concluiu a convivência gradual com o pai e o segundo que concluiu que (...) “não
obstante os problemas associados a uma separação mal resolvida que resultou em
desentendimentos entre o ex casal, ambas as partes estão comprometidas com o bem estar da
menor e possuem condições de manter um diálogo mínimo (que, por certo, deverá ser
melhorado), acerca dos interesses da filha.” Segue laudo.
J21 o extraiu do acordão de segundo grau, alguns pontos entre eles o estudo
psicossocial que diz que “O par parental precisa avançar quanto a uma melhora na
comunicação e em aspectos da coparentatilidade, com vistas a um maior equilíbrio do poder
parental. Nesse sentido, uma guarda compartilhada exigiria dos pais, maior flexibilidade,
comunicação mais fluida e prioridade de interesses de V. o, que poderia trazer benefícios para
a criança. Ao mesmo tempo, teme-se que caso o par parental não encontre os recursos para
estabelecer as negociações necessárias, a tensão familiar aumente e o par parental precise
recorrer à Justiça para decidir assuntos banais, referentes à rotina e bem estar da criança “(...)
Percebe-se que não há diretrizes na elaboração das avaliações psicológicas e falta uma
linguagem clara para que houvesse um melhor entendimento da matéria a ser seguida pelos
43
Súmula 7 do STJ
carreadas aos autos, o que é vedado em sede de recurso especial, nos termos do enunciado da
Súmula 7 do STJ”.
Em J21, o ultimo julgado sobre a guarda compartilhada até a presente data, a parte
entra com agravo em função do seu pedido de Recurso Especial não ter sido analisado pela
corte pelo óbice da Súmula 7. Ao julgar o agravo o relator conclui que: “No presente caso, ao
contrário do que afirma o recorrente, a guarda compartilhada foi indeferida apenas em razão
da beligerância existente entre os genitores da menor”.
Quando os julgados sobre a guarda compartilhada citam “conjunto fático probatório”,
se referem ao parecer psicológico. E ainda, o motivo do ingresso com o Agravo, recurso
cabível à parte que não se conforma com a não admissão do Recurso Especial em todos eles,
alegando que uma das partes para que o Recurso Especial seja aceito é que o parecer apontou
ou não o cabimento da guarda compartilhada no caso concreto, dependendo da parte
prejudicada com a decisão. Conforme mencionado em J14, a corte não tem uma
jurisprudência formada sobre o assunto e as decisões podem mudar de acordo com o julgador
que recebe o processo. Sendo assim, o jurisdicionado fica à mercê da sorte de quem vai ser o
relator da demanda.
46
Conclusão
Uma hipótese é que um laudo psicológico em uma disputa de guarda tem um peso
maior por conta disto. Frise-se que o exposto não tem a intenção de justificar nada, só expõe
um panorama que não pode ser ignorado, quando se discute um instituto que sofre a mutação
e interpretação de país para país e que precisa ser bem entendido, para uma melhor analise do
instituto. Nos julgados analisados no Superior Tribunal de justiça, sobre a temática da guarda
compartilhada, não há uma interdisciplinaridade da Psicologia e do Direito que possa ser
levada em consideração, além dos laudos das equipes multidisciplinares, mesmo porque,
quando os julgadores falam em Psicologia, enfocam conforme o senso comum e uma
psicóloga a favor da guarda compartilhada, na fundamentação não serve de referência como
um estudo. Quanto aos laudos, são neutralizados na medida em que o julgador aponta que
segue o fundamento do tribunal de segundo grau, onde o laudo está contido ou toma a decisão
da guarda e envia o processo para que seja feito nova avaliação no juízo de primeiro grau.
47
Sendo assim, apesar dos laudos coincidirem com a decisão, não é levado como motivação
principal ou valorada.
Por último, as zonas de autarquia, que seria um estado institucional em que as decisões
não estão fundadas em um padrão de racionalidade qualquer ou sem fundamentação,
aparecendo como uma fundamentação falsa, mas na verdade arbitrárias. Exemplo de quando o
julgador menciona que o texto legal irradia com força vinculante a peremptoriedade da guarda
compartilhada. Afirmando que o termo “será” não deixa margem a debates periféricos,
48
fixando a presunção – jure tantum – de que se houver interesse na guarda compartilhada por
um dos ascendentes, será esse o sistema eleito. Registre-se que houve dificuldade de
classificar as categorias temáticas na análise deste estudo, devido à falta de uniformidade e
ordem dos assuntos nos julgados, o que os torna difícil de categorizar, pois não há uma
coerência, justamente por conta desta racionalidade jurídica.
Assim, sugere-se que no Brasil, sejam feitos mais estudos empíricos, apesar do sigilo
imposto aos processos de questões de família. Porém é necessário, persistência e diálogo, para
que se façam políticas públicas com parcerias de Psicólogos com o Poder Judiciário. Além
disso, sugere-se que tanto o profissional do Direito, quanto da Psicologia estudem mais
profundamente o campo de cada um, para que possam melhor dialogar e assim produzirem
mais pesquisas nesse âmbito. Conforme Semple (2011) na guarda compartilhada os
psicólogos deveriam ter a mesma autoridade que os juízes, pois têm importantes papéis, de
determinação de fatos, sugestões terapêuticas e deveriam ter o mesmo poder de decisão e por
sua vez, que os juízes por sua deveriam ter um papel maior dentro da área do parecer.
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de 2002 (Código Civil), para estabelecer o significado da expressão “guarda
53
Anexos
57
1 CC redação Abril 2009 Ag.Rg. Ag.Rg.MC 10.531 Conduta Impropria da mãe alegada pelo pai
original 1.121.907/SP que desiste da GC acordada, pede a
3ª T unilateral. Não provimento. Mantém guarda
provisória à mãe.
2 Idem Março/2010 MC 16.357/DF - 3ªT GC em cidades diferentes. A genitora busca
suprimento judicial de autorização do pai
para viagem com duração de 1 ano para o
exterior. Não provimento.
3 11.698/08 Maio/2010 Resp. 1.147.138/SP Pedido de GC para terceiros – tio e avós –
4ª T regulamentação da situação de fato.
Provimento.
4 11.698/08 Agosto/2011 Resp.1.251.000/MG Consenso e Alteração de residências.
3ª T Provimento à GC pedida pelo pai.
5 11.698/08 Novembro/2012 Ag.Rg. no Agr. Resp.1.085.664/DF Consenso e limites geográficos. Não
193.496/MS provimento à GC pedida pela mãe, mantém a
guarda paterna.
6 11.698/08 Dezembro/2012 Ag.Rg. na MC AgRg na MC Pedido suspensão de Resp. de guarda
20.236/SP 15.825/SP unilateral provisória materna –
4ª T desprovimento, mantém unilateral paterna –
sugestão relator: GC na definitiva
7 11.698/08 Março/2013 Ag.Rg. no Resp Modificação da GC, pensão alimentícia entre
1.315.871/MS outros – nega provimento. Mantém GC –
Súmula 7
8 11.698/08 Junho/2014 1.428.596/RS, 3ª T 1.251.000/MG Divórcio Litigioso - Consenso e Alteração
de residência. → Provimento à GC pedida
pelo pai, desfaz unilateral materna.
9 11.698/08 Dezembro/14 AgRg no Agravo em Ag.Rg no AResp. Guarda Compartilhada com custódia física
Resp. 567.332/GO 502.641/RS materna – mantida com o não provimento de
1.251.000/MG pedido de custódia física pelo pai.
10 13.058/14 Novembro/15 Ag.Rg no Resp. Ag.Rg no AResp. Não provimento da GC pedida pelo pai -
1.495.479/DF 193.496/MS mantém guarda unilateral materna – Súm. 7
Resp. 765.505/SC
11 13.058/14 Fev/2016 1.560.594/RS, 3ª T 1.251.000/MG, Falta de consenso e desavenças, pensão e
1.428.596/RS questões financeiras – mantém GC com
retorno dos autos à origem – Súmula 7
12 13.058/14 Maio/2016 1.417.868/MG, 3ª T 1.428.596/RS Falta de consenso, beligerância, discussão da
divisão do tempo e alienação parental;
Desavenças, desentendimentos, imaturidade
dos pais. Não provimento da GC: mantém
unilateral materna.
13 13.058/14 Junho/2016 1.605.477/RS, 3ª T 1.428.596/RS, Falta de consenso, divisão do tempo,
1.251.000/MG alienação parental, distância geográfica.
Não provimento da GC requerida pelo pai.
Mantém unilateral materna.
14 13.058/14 Setembro/2016 1.626.495/SP, 3ª T 1.428.596/RS, Falta de consenso, animosidade, poder
1.251.000/MG, familiar, provimento GC requerida pelo pai
1.417.868/MG, com envio dos autos para o juízo de origem
1.605.477/RS, delimitar a guarda.
1.560.594/RS
15 13.058/14 Dezembro/2016 1.629.994/RJ, 3ª T 1.626.495/SP, Falta de consenso, obrigatoriedade CG;
1.417.868/MG, violência doméstica; animosidade, alienação
1.605.477/RS parental. Provimento da GC requerida pelo
pai.
16 13.058/14 Fevereiro/2017 1.642.311/RJ, 3ª T 1.629.994/RJ, Falta de consenso, animosidade, adoção,
1.626.495/SP casal homossexual, divisão de tempo.
Provimento da guarda compartilhada.
17 13.058/14 Fevereiro/2017 1.591.161/SE, 3ª T 1.428.596/RS Falta de consenso, alternância de residências,
desentendimento entre os genitores.
Provimento à GC requerida pelo pai, desfaz
unilateral materna.
18 13.058/14 Maio/2017 1.654.103/RJ, 3ª T 1.626.495/SP Falta de consenso, violência doméstica,
desentendimento dos genitores.
Pedido de GC pelo pai em detrimento à
guarda unilateral materna.
Extinção do feito – óbice processual – art.
535 CPC/73
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Joint Custody Crianças que passam metade ou significativo Shared pshysical Bauserman, R.
do tempo com cada um dos pais (1) ou Custody (1) 2002/Psico
EUA
Residência principal permanecem Shared Legal Custody
frequentemente com um dos pais (2)
Shared Care Disposições (arranjos) parentais pós- Smyth, B.2009/Psico
separação em que as crianças estão pelo
Austrália pelos 35% das noites com cada pai. Segundo
o ChildSupportScheme – lei australiana de
2008
Shared Residence Arranjos residenciais nos quais as crianças Joint Psysical Custody Artis, J. E., & Krebs,
vivem de forma alternativa entre os pais. e Shared Placement A. V. 2015. Sociologia
Holanda
Van der Heijden, F.,
Poortman, A. R., &
Van der Lippe, T.
2016. Sociologia
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