Apontamentos Acerca Da Psicologia Transpessoal e Das Abordagens Alternativas

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Apontamentos acerca da Psicologia Transpessoal e das abordagens alternativas

Ananda Azevedo (12021PSI039), Eduardo Veloso (12021PSI024), Gabriela Luiza

(12021PSI029), Júlia Gouveia (12021PSI009), Rayanne Eva Silva (12021PSI003),

Thaís Massaro (12021PSI011)

Instituto de Psicologia, Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

História e Sistemas em Psicologia II

Prof. Dr. Airton Barros

Resumo

Este texto tem como objetivo abranger de forma sucinta, mas pontual, os aspectos da

formação da Psicologia como área do saber, principalmente da origem da Psicologia

Transpessoal e as diversas abordagens alternativas e seus impactos na sociedade

contemporânea. Nesse contexto, a sociedade passa por uma revisão de valores, em que a

educação e o disciplinar do cuidar humano se debruçam em várias teses com o fim de

descobrir meios e ferramentas eficazes para promoção de uma cultura de paz baseada

em valores. A promoção da saúde de forma integral e de uma comunidade fortalecida de

ações e valores humanos pode ser favorecida a partir de programas e projetos de

orientação Transpessoal, que resgatam a importância da transcendência e da

espiritualidade inerentes à psique humana. Desse modo, não só será analisada as

dimensões socioculturais para o aparecimento da quarta força da psicologia no século

XX, como também o seu caráter intrínseco da prática clínica proposta por Maslow que

modelaram as diversas abordagens transpessoais. Além disso, apresenta-se, no entanto,

as importantes noções sobre as estruturas de tais terapias e em contrapartida as várias


críticas e controvérsias acerca dessas abordagens, bem como as incompatibilidades

nesse processo de construção dessa área clínica.

Palavras-chave: História da Psicologia, Psicologia transpessoal, Abordagens

alternativas.

História e formação da Psicologia Transpessoal

Mesmo que a Psicologia Transpessoal tenha origem nos EUA e na Europa como

a quarta força da psicologia, no Brasil a Psicologia transpessoal tem sido vista com

certas ressalvas por alguns psicólogos e órgãos oficiais reguladores das atividades da

categoria. Nesse sentido, ela é portadora de múltiplas e importantes contribuições, tanto

no campo da metateoria quanto na prática psicoterapêutica, e que precisa ser mais bem

compreendida pelos profissionais brasileiros. Para tanto, talvez seja necessária uma

apresentação que não aponte apenas os pontos positivos como também discuta algumas

críticas que devem sem consideradas.

Para compreender a formação dessa área é necessário voltar na primeira metade

do século XX. Uma das figuras cruciais no surgimento da psicologia transpessoal foi

Abraham Maslow (1908-1970) que, a certa altura de sua trajetória intelectual, foi

tomado de profundo descontentamento com o que chamava as “duas forças”

majoritárias da psicologia no século XX: o behaviorismo ou Psicologia Experimental

(“primeira força”) e a psicanálise (“segunda força”) (Parizi, 2006).

Diante dessa ótica, com relação ao behaviorismo, Maslow recusava-se a

entender os seres humanos como animais complexos que simplesmente respondiam a

estímulos ambientais; criticou a simples transposição de conclusões obtidas na

observação de animais para os seres humanos. Já em relação a psicanálise, Maslow

critica principalmente o que chamava “ênfase na doença e no indivíduo doente”. Para


ele, Freud tinha baseado suas observações principalmente no comportamento de

indivíduos doentes (as “histéricas”, o Pequeno Hans, Schreber, o Homem dos Ratos) e

afirmava que basear-se no estudo da doença ou no que existe de pior nos seres humanos

forçosamente conduziria a uma visão distorcida da natureza humana. Embora

absolutamente não negasse as conclusões de Freud, pois conforme Maslow: “Freud

forneceu-nos a metade doente da psicologia e devemos agora preencher a metade

saudável”. Maslow criticou a ideia de Freud de que a humanidade é dominada por

instintos inferiores, criticando-o por derivar suas teorias sobre o comportamento

humano a partir do estudo de indivíduos neuróticos e psicóticos.

Para compreender a construção da psicologia transpessoal é imprescindível

entender os objetivos de Maslow com a formação do psicológico-existencial de cada

indivíduo por intermédio da autorrealização. Nesse viés, a realização plena de si como

obra do trabalho sobre si, na medida em que se procuram atualizar os potenciais com os

quais se nasce. É importante notar que, para Maslow, esses potenciais só podem ser

desenvolvidos através de um ato de vontade e do constante trabalho consciente.

No final da década de 1950 e início dos anos 60, Maslow dedicou-se ao estudo

de indivíduos que apresentavam o que chamou de experiências transcendentes ou

culminantes (peak experiences), estados místicos espontâneos que considerava

importantes no processo de autorrealização. A partir dessas pesquisas, concluiu que as

experiências culminantes caracterizavam um estado de consciência superior, que

ultrapassava o Self, definido por Maslow como o núcleo organizador da psique.

Desse modo, o novo movimento, imediatamente, atraiu muitos seguidores, em

particular graças ao prestígio de Maslow na comunidade científica norte-americana, e

conseguiu avanço tão rápido que, no ano de 1969, é fundada a Associação de Psicologia

Transpessoal (Transpersonal Psychology Association).


Os fundadores e os primeiros psicólogos a apoiarem a psicologia transpessoal

estavam cientes de que lançavam uma abordagem muito distante da ciência tradicional,

principalmente pela ênfase dada à espiritualidade.

Em resumo, “a psicologia transpessoal é um movimento iniciado nos EUA, a

partir de críticas às principais correntes teóricas dominantes na década de 1960; que

reconhecia a existência de estados de consciência diversos dos estados usuais ou

habituais, que foram chamados inicialmente de ‘estados ou experiências culminantes’ e

depois de ‘estados transpessoais’; que tais estados podem ser espontâneos ou

provocados (por atividades intensas como esportes, privação sensorial, meditação,

práticas espirituais, uso de drogas); que esses estados são importantes no

desenvolvimento humano e, portanto, não apenas são bem-vindos como podem e devem

ser procurados, provocados, e sua ocorrência estimulada; que tais estados são comuns

durante e devido a prática espiritual” (Parizi, 2006).

As abordagens alternativas

A Psicologia abrange uma grande variedade de abordagens, métodos e correntes.

Esse cenário se torna ainda mais amplo quando falamos sobre as abordagens

alternativas, ou práticas alternativas, que vêm sendo cada vez mais praticadas e

divulgadas desde o início do século XXI. As práticas alternativas, em geral, são

metodologias e abordagens que fogem da medicina tradicional ocidental e de respaldos

científicos.

Existem inúmeras abordagens alternativas, com diferentes abordagens,

metodologias e princípios. O presente artigo analisará algumas das principais e mais

conhecidas delas, sendo essas os Florais de Bach, a Aromaterapia, a Constelação

Familiar, a Acupuntura, o Theta Healing e a Meditação.


Os Florais de Bach recebem esse nome em homenagem ao médico Edward

Bach, responsável pelo desenvolvimento de uma medicina natural para cuidados com a

saúde mental e espiritual, por meio dos florais, em 1929. Bach propôs que certos

compostos extraídos de flores e plantas possuem propriedades curativas, benéficas ao

sistema imunológico, e desenvolveu 38 florais que seriam suficientes para gerar o bem-

estar de todos os aspectos da saúde e da natureza humana, indicados para regular e

equilibrar os estados emocionais e mentais. O tratamento consiste em ingerir os florais,

seja pela diluição em água ou diretamente na língua, com frequência e quantidade

estipuladas pelo terapeuta.

A Aromaterapia é um método desenvolvido pelo químico René Gattefosse em

1928. Essa abordagem, assim como os Florais de Bach, também é baseada no uso de

substâncias naturais extraídas de plantas e flores, denominadas de óleos essenciais.

Gattefosse propôs que as propriedades dos óleos essenciais, capazes de estimular células

nervosas, pudessem influenciar as emoções e reações fisiológicas. A função do

terapeuta é, portanto, identificar quais as questões a serem trabalhadas no paciente, e a

partir de então, montar uma mistura de óleos com propriedades específicas, que surtirão

um efeito positivo na melhora do sintoma. O uso dos óleos essenciais pode ser feito pela

aplicação tópica (absorção na pele), ou inalação. É esperado que, com a utilização dos

óleos essenciais específicos, suas propriedades ajudem a equilibrar estados emocionais e

respostas fisiológicas.

A Constelação Familiar é uma abordagem empírica baseada na fenomenologia,

desenvolvida pelo missionário alemão Bert Hellinger, que busca principalmente

solucionar conflitos familiares. Esse método consiste em uma dinâmica, individual ou

em grupo, que se assemelha ao psicodrama, em que o constelador (guia) sugere o tópico

a ser trabalhado. Quando feita em grupo, os participantes assumem papéis


representativos e simbólicos do núcleo familiar, para que, na dinâmica, ocorra uma

troca de sentimentos e perspectivas. Quando feita individualmente, os papéis são

projetados em objetos. Portanto, a constelação familiar procura desvelar e solucionar

conflitos familiares, principalmente aqueles de cunho geracionais como traumas,

sofrimentos velados e questões mal resolvidas.

A Acupuntura é uma técnica chinesa desenvolvida aproximadamente há mais de

cinco mil anos. Em geral, o tratamento pela acupuntura envolve a utilização de agulhas

finas que são aplicadas na pele em diferentes pontos do corpo. A localização da

aplicação das agulhas é feita de acordo com os problemas de saúde e sintomas

manifestados, contudo, uma vez que essa técnica visa o bem-estar geral do corpo, ela

pode ser realizada até mesmo em indivíduos que não apresentam queixas de mal-estar

físico ou emocional. O princípio da acupuntura parte da ideia da existência da energia

vital que habita no corpo, a qual o percorre através de caminhos denominados de

meridianos, onde se localizam os pontos de inserção das agulhas. A aplicação das

agulhas estimula as células nervosas, o que permite o bloqueio, alívio ou intensificação

do fluxo da energia vital, promovendo o equilíbrio, a restauração e a cura dos sintomas

apresentados pelo paciente. A aproximação da Psicologia com a acupuntura se

intensificou a partir do final da década de 1980, e seu uso é atualmente defendido, por

alguns, como prática auxiliar.

A Meditação é uma prática milenar de origem oriental, relacionada também ao

budismo. Existem diversas técnicas, métodos e correntes divergentes sobre essa prática:

a meditação pode ser guiada ou autônoma, pode ser feita em silêncio ou com a

utilização de mantras, em grupo ou individualmente, pode ser direcionada a um

propósito, pode ser feita em diferentes posições e envolver a manipulação de energia

(chakras). Independentemente de como seja feita, a meditação envolve o foco e a


atenção contínuos e a introspecção. Em geral, essa técnica visa a diminuição do estresse

e o afloramento de emoções a serem posteriormente trabalhadas, por meio da submissão

do corpo a um estado de clareza, calma e consciência mental e emocional.

A aproximação da medição com a Psicologia é exemplificada pelo Theta

Healing, um método criado em 1995 pela professora espiritual Vianna Stibal. O Theta

Healing propõe que, ao se submeter a um estado de meditação profunda, é possível

estabelecer uma conexão com a Energia Universal, atingindo um estado de paz e

conexão emocional capaz de promover o desenvolvimento da autoestima, a regressão de

problemas psíquicos e a diminuição de sintomas psicossomáticos. Ademais, nota-se

uma influência da psicanálise freudiana, uma vez que, esse estado de submissão

permitiria o afloramento do inconsciente, culminando na liberação de traumas.

Portanto, as práticas citadas até então exemplificam algumas das mais atuais e

conhecidas abordagens alternativas da Psicologia. É necessário ressaltar que, como será

discutido ao longo do artigo, os métodos citados são conflitantes e controversos quando

discutidos pela comunidade científica e pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP),

uma vez que existe ainda o debate acerca da eficácia e da possível aproximação dessas

práticas com a Psicologia.

A intersecção social entre as terapias alternativas

Há diversos tipos de abordagens clínicas e tratamentos dentro da Psicologia, e

com o passar dos anos a busca pelos cuidados com a saúde mental e o tratamento da

mente aumentaram, com isso percebe-se também o crescimento da procura por

abordagens alternativas e pela Psicologia transpessoal. Logo, o seguinte texto procura

descrever os motivos as quais as pessoas se interessam por essas abordagens diante dos

diferentes pontos de vista da sociedade. Logo, com o passar dos anos, o tabu presenta na

sociedade de que saúde se refere apenas a parte física dissolveu-se com a divulgação
sobre a importância do cuidado com a mente, ou seja, a saúde mental. Com isso, o

número de pessoas que fazem terapia aumentou conforme o passar dos anos o que

reflete diretamente nas diversas abordagens presentes dentro da Psicologia e entre

outras formas de tratamento.

Por conseguinte, a Psicologia é a área de conhecimento que estuda a psique

humana e busca entender emoções e comportamentos dos indivíduos, e as psicoterapias

são a forma de aplicar na prática os estudos e conseguir ajudar os pacientes a se

entenderem. Há diversos questionamentos sobre eficiência e eficácia entre diferentes

métodos e abordagens dentre as terapias convencionais e alternativas, todavia,

independente do que a comunidade considera ou não Psicologia é perceptível um

crescimento pela busca de tratamento e prevenção nos últimos anos, pois poderá

promover o bem-estar que gera uma sensação de prazer e alívio, algo que as pessoas

desejam alcançar para sentirem-se bem consigo mesmas e com os outros. Com isso, os

aspectos metodológicos e epistemológicos são discutidos dentro de cada perspectiva e

abordagem, mas não impedem necessariamente que o público-alvo deixe de ser

atingido, pois o crescimento da busca por cuidados com a saúde mental é condizente

com o incentivo a terapia, entretanto mesmo essa determinada parcela sendo atingida,

há divergências na comunidade se essas estão recebendo o devido tratamento.

Diversas abordagens alternativas prometem o tratamento e uma cura alcançável

como o Reiki e o uso dos Florais de Bach, algo que já contradiz as psicoterapias que

não prometem em si uma cura, mas sim um tratamento que poderá oferecer mudanças

ao longo do tempo e caso o paciente esteja disposto a ouvir e colocar em prática o que

lhe foi dito. A partir da comparação apresentada, surge uma das grandes discussões

entre a comunidade científica e os defensores das abordagens alternativas: a eficácia de

tais terapias que divergem das convencionais, principalmente por uma eficiência que se
opõem ao método científico. Entretanto, mesmo com a nítida divergência de ideias entre

as comunidades, a busca por essas abordagens não diminui de maneira significativa,

aliás há uma tendência em aumentar os adeptos nos próximos anos. Uma justificativa

para o acréscimo de pacientes seria explicada pelo fato que em geral os seres humanos

não gostam de lidar com incertezas, e como o próprio método científico é baseado no

princípio da falseabilidade e de sempre ocorrer a possibilidade de ser refutado, há

indivíduos que não aceitam a ausência de garantias em um tratamento. Logo, como as

abordagens alternativas promovem métodos que são impossíveis de serem falsos,

alegando uma cura em poucas sessões e uma sensação de bem-estar instantânea, algo

que chama a atenção de indivíduos que não se adaptam a imprevisibilidade das

psicoterapias.

Portanto, o objetivo das informações citadas anteriormente é expor as

divergências presentes entre as comunidades científicas e a das abordagens alternativas,

pois ambas visam promover a saúde e o bem-estar da população-alvo, porém possuem

métodos e pensamentos diferentes quanto ao que se refere a tratamento. Ademais, como

a tendência presente nos seres humanos em a se afastarem das incertezas gera um

aumento pela busca de tratamentos que prometem respostas mais rápidas a das

psicoterapias, mas não quer dizer que isso especificamente ocorra.

Relação paciente e psicoterapeuta e o manejo ético sobre a religião e

espiritualidade dentro da Psicologia Transpessoal

A Psicologia Transpessoal se constitui no ramo da psicologia do século XX

caracterizado pela busca do desenvolvimento do potencial máximo do ser humano,

visando níveis de consciência elevados e se dedicando a estudá-los levando em

consideração aspectos além do indivíduo, da matéria e dos fenômenos observáveis. A

partir desse momento, a Psicologia Transpessoal incentivou, ainda mais, o diálogo entre
religião e espiritualidade com a Psicologia. Por isso, compreender os limites éticos

dessas crenças na relação psicoterapêutica é importante.

Nesse sentido, pelo fato de grande parte da comunidade seguir alguma prática

religiosa formal ou possuírem outra forma de crença na espiritualidade, na

transcendência, ignorar ou negligenciar essas questões na saúde mental é um equívoco.

A Psicologia reconhece a diversidade social e, dessa maneira, também considera a

diversidade religiosa e a existência de grupos e de indivíduos que não são adeptos à

religião. Nesse viés, faz-se imprescindível compreender que a espiritualidade se

constitui em uma importante dimensão da subjetividade do ser, embora não dependa,

necessariamente, da religiosidade, e a Psicologia se posiciona formalmente contra

qualquer modo de fundamentalismo religioso, resguardando o reconhecimento de

diversidades sociais, subjetivas e culturais.

A Psicologia se comunica com a espiritualidade e a religião tomando uma

postura laica ao não induzir convicções religiosas nas práticas laborais, conforme

previsto no Código de Ética Profissional do Psicólogo art. 2º, alínea b, uma vez que seus

construtos e epistemologias se pautam e se orientam pelo embasamento da ciência e não

da teologia. Isto é, o psicólogo, em prática clínica, deve possuir uma postura ética em

olhar e tentar compreender o indivíduo em sua integralidade, e não somente por meio de

um viés espiritual ou religioso. Desse modo, o profissional de Psicologia deve

considerar a religiosidade e a espiritualidade quando estas forem expressas pelos

indivíduos como construtos significativos em suas subjetividades e vida. Logo, da

mesma forma que associar a fé religiosa do próprio profissional ao seu exercício laboral

é um equívoco ético, também há violação do Código quando o psicólogo desconsidera,

inferioriza ou problematiza a expressão de fé de indivíduos submetidos a seus cuidados.

Em resumo, é importante a manutenção da laicidade no exercício profissional


psicológico no sentido de garantir o reconhecimento de subjetividades na perspectiva da

alteridade, ou seja, a consideração do profissional acerca do ramo de significações que

as próprias pessoas edificaram em seus modos de subjetivação e de vida.

Acerca da pauta espiritualidade e saúde mental, a Organização Mundial de

Psiquiatria propõe recomendações aos profissionais de saúde para a construção de uma

relação justa e significativa entre paciente e terapeuta. Em primeiro lugar, o profissional

não esquecer/negligenciar a dimensão religiosa dos pacientes é de extrema importância,

já que esta dimensão pode impactar o tratamento, sendo essa informação essencial para

a construção do entendimento sobre a vida do sujeito. Em segundo lugar, o profissional

da saúde deve estar atento aos potenciais positivos e negativos da prática religiosa dos

pacientes dentro do processo terapêutico, uma vez que existem doutrinas religiosas que

negligenciam culturalmente a saúde mental, caracterizando psicopatologias como

“frescuras”, minimizando e reprimindo o uso da medicação, condenando o

tratamento/acompanhamento psicológico. Por conseguinte, ficar atento a esses pontos

faz com que o profissional possa rebater esses equívocos e conscientizar o paciente de

que a recomendação psiquiátrica e psicológica pode ser diferente da crença espiritual

adotada pelo paciente, todavia não precisam ser incompatíveis e inconciliáveis.

Nesse viés, vários aspectos religiosos e espirituais podem ajudar no processo

terapêutico no sentido de o paciente estar numa rede de pertencimento, de

relacionamentos significativos, ter fé, esperança de uma melhora, o que é positivo para a

evolução dos transtornos mentais. Por fim, fazer com que o centro da atenção

psiquiátrica, psicológica seja o paciente e não sua religião ou espiritualidade também é

de suma importância, visto que essas informações são importantes de se saber para

construção do entendimento do indivíduo, mas não é disso que se vai tratar, não haverá

tentativa de mudar a fé do paciente, e sim a ajuda da pessoa em seu sofrimento.


À vista disso, ao passo que a religião pode ser um elemento de ajuda no

tratamento psicopatológico, ela também pode atrapalhar, sendo importante o

profissional da saúde mental estar atento a quais pontos da espiritualidade, da religião,

adotada pelo indivíduo, que ajudam no tratamento e quais interferem, do ponto de vista

médico, psicológico e psiquiátrico, negativamente no processo terapêutico, salientando

o cerne no indivíduo e em seu sofrimento. Além disso, deve-se compreender que assim

como pode ocorrer o mau uso da religião, da espiritualidade nesse processo, também

pode haver o mau uso da psiquiatria, da psicologia, sendo importante entender que o

ponto crucial na comunicação harmônica entre espiritualidade, religião, terapeuta e

paciente é o profissional utilizar o melhor de cada uma dessas esferas do conhecimento

humano em prol do tratamento psicológico, psiquiátrico.

Portanto, é fundamental entender que a Psicologia utiliza o método científico de

compreensão dos fenômenos e, logo, trata-se de uma racionalidade distinta da religiosa.

Nesse sentido, ambos os conhecimentos coexistem e podem dialogar entre si, porém o

psicoterapeuta não questionará o entendimento que o sujeito faz de suas questões com

base na religião. Ou seja, o processo psicoterapêutico busca compreender de que modo

esse entendimento impacta nas questões psicológicas e vice-versa. Logo, unir o melhor

dessas esferas, desses discursos é o ideal, já que uma não precisa aniquilar a outra, não

são inconciliáveis.

O Conselho Federal de Psicologia e o Sistema Único de Saúde dentro das

abordagens alternativas

As terapias alternativas estão ocupando cada vez mais espaço e é de suma

importância retratar os posicionamentos que o CFP (Conselho Federal de Psicologia)

tem em relação as fronteiras dessas práticas com a psicologia, além de apontar o lugar

que essas terapias ocupam no SUS (Sistema Único de Saúde). É válido também discutir
alguns posicionamentos da comunidade de terapeutas holísticos e pontuar algumas

críticas feitas às práticas que eles exercem.

Com a aplicação de terapias alternativas em muitos lugares e o avanço dessas

práticas é importante ressaltar que, diante do saber psicológico, algumas questões

entram em pauta quando psicólogos exercem essas atividades. Nesse sentido, o

Conselho Federal de Psicologia estabelece algumas diretrizes para que profissionais

psicólogos não confundam as práticas terapêuticas holísticas com a profissão e saibam

os limites que devem ter em cada área para exercer de forma correta e nos momentos

adequados. A importância dessa separação se dá, porque a ideia das terapias alternativas

é dar conta de problemas que tradicionalmente são reservados à Psicologia, mas com

recursos que não se valem de saberes científicos. Dessa forma, o CFP busca trazer essas

pautas para fóruns e congressos de discussão, além de algumas resoluções para

delimitar a linha existente entre a prática profissional psicológica e o exercício de

terapias holísticas a partir do ano de 1993.

Em 1994, aconteceu o I Congresso Nacional Constituinte da categoria que

colocou as questões das terapias alternativas em pauta, mesmo que não sendo o assunto

principal. Já em 1996 trouxe como tema central para o debate o que desencadeou uma

reação proibitiva do CFP. Nesse contexto, o CFP, em uma tentativa de delimitar as

fronteiras entre Psicologia e as práticas integrativas, tentou, através da resolução n.

029/95, coibir a proliferação das terapias alternativas entre psicólogos que ficou muito

aquém das expectativas. Além disso, com a realização do Fórum Nacional de Práticas

Alternativas em 1997, implementou as resoluções n.010/97 e n. 011/97 que não

regulamentam o alternativo, mas definem as fronteiras do saber psicológico, excluindo

do seu campo de ação as técnicas alternativas. Desse modo, para aqueles que acreditam

na eficácia dessas práticas no tratamento de ansiedade, transtornos de humor, entre


outras patologias, deve-se entender que são alternativas à prática da Psicologia quando

se trata do bem-estar holístico e biopsicossocial do ser humano.

É relevante ressaltar também o espaço que as terapias ocupam no Sistema Único

de Saúde (SUS) e como são ofertadas. Em 3 de maio de 2006, através da Portaria n° 971

do Ministério da Saúde, foi agregado ao SUS a Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares (PNPIC) com a ideia de promover saúde, principalmente

pelos pontos de atenção básica, com ênfase em cuidados humanizados e integrais.

Atualmente, 29 técnicas são disponibilizadas, sendo elas: acupuntura, antroposofia,

apiterapia, aromaterapia, arteterapia, ayurveda, biodança, bioenergética, constelação

familiar, cromoterapia, dança circular, fitoterapia, geoterapia, hipnoterapia, homeopatia,

imposição de mãos, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, ozonoterapia,

quiropraxia, reflexologia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa, terapia de

florais, termalismo e yogaatenção. Existem 9.350 estabelecimentos de saúde no país

ofertando 56% das técnicas das PICs, sendo eles 8.239 de Atenção Básica, distribuídos

em 3.173 municípios. Portanto, é evidente o vasto espaço que as técnicas de terapias

alternativas tomaram e estão sendo, cada vez mais, praticadas. Por isso a importância de

discuti-las e debater os limites que devem ser estabelecidos.

Dentre as questões citadas anteriormente é válido ressaltar o que o Código de

Ética Profissional do Psicólogo da resolução do CFP N° 010/05 estabelece como

responsabilidade do psicólogo.

Primeiramente, logo na apresentação, o Código de Ética ressalta os direitos

humanos e cita a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a importância de se

manter uma conduta humanitária:

Códigos de Ética expressam sempre uma concepção de homem e

de sociedade que determina a direção das relações entre os


indivíduos. Traduzem-se em princípios e normas que devem se

pautar pelo respeito ao sujeito humano e seus direitos

fundamentais. Por constituir a expressão de valores universais,

tais como os constantes na Declaração Universal dos Direitos

Humanos; socioculturais, que refletem a realidade do país; e de

valores que estruturam uma profissão, um código de ética não

pode ser visto como um conjunto fixo de normas e imutável no

tempo. As sociedades mudam, as profissões transformam-se e

isso exige, também, uma reflexão contínua sobre o próprio código

de ética que nos orienta.

Em segundo lugar, no decorrer do documento, no Art. 1°, são pontuados os

deveres fundamentais do psicólogo. No item “c”, é destacado que o profissional deve

“prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e

apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas

reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação

profissional”. Ademais, no Art. 2°, são estabelecidas as fronteiras da prática

psicológica. No item “f”, é abordado que ao profissional é vedado “prestar serviços ou

vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos

procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela

profissão”. Dessa forma, fica exposto de que maneira o psicólogo deve manter suas

condutas quanto profissional, além de estabelecer limites para que o saber psicológico e

a aplicação de métodos com bases teóricas científicas não sejam confundidos com

outras práticas, independente da eficácia.

Críticas e reflexões pontuais acerca das abordagens alternativas


Uma discussão que avalie criticamente os impactos e as entrelinhas das práticas

integratistas é importante para a compreensão e adoção ou não de tais atividades. Dito

isso, se torna ainda mais prudente quando o debate ocorre no campo da psicologia,

posto que a procura pelas PICs têm aumentado, tanto por psicólogos, quanto por

indivíduos cujas queixas giram em torno de um possível estado de saúde mental

fragilizado. Sob esse contexto, traça-se dois momentos de reflexão e exposição de fatos

acerca desse polêmico e polarizado tema. O primeiro se dedica a pontuar certas

problemáticas metodológicas e éticas sobre a eficácia e o conteúdo de algumas das

práticas mais eminentes atualmente, bem como seus perigos. O segundo quadro propõe

uma discussão sobre evidências científicas atreladas às PICs.

Primeiramente, a fim de contextualizar as análises pontuais de algumas PICs

com maior relevância na contemporaneidade, faz-se uma retomada ao assunto dessas

práticas disponibilizadas pelo SUS. É de conhecimento da psicologia que a psicoterapia,

independente da abordagem e do referencial teórico, é o principal meio com maior

eficácia para lidar com questões de saúde mental, sofrimento psíquico e transtornos

psicopatológicos, quando comparada a práticas/terapias alternativas. Essa comparação é

válida, uma vez que tais atividades integratistas se propõe a lidar, e muitas vezes

solucionar, problemáticas do cotidiano – como em relação ao trabalho, às relações

familiares e sociais, relacionamentos amorosos etc. -, transtornos mentais – incluindo,

principalmente, depressão e ansiedade – traumas advindos da infância, e entre muitos

outros.

Quando indagados sobre o motivo das implantações das PICs no SUS, os

defensores afirmam que, ao se tratar de práticas complementares, essas agem de forma

coadjuvante aos principais tratamentos, como a psicoterapia. Fato é que, o serviço de

psicoterapia no Sistema Público de Saúde enfrenta grandes desafios. Entre eles pode-se
citar a alta demanda de encaminhamentos de pacientes para a psicoterapia e a baixa

quantidade de profissionais psicólogos ofertada pelos postos de saúde, os quais não

conseguem abarcar a maioria dos casos, o que faz com que as sessões ocorram

demasiadamente espaçadas umas das outras, comprometendo o tratamento e a evolução

do paciente em seu quadro. Outro ponto importante é que, devido à alta demanda de

pacientes, opta-se por atender os casos de indivíduos com maior urgência, aqueles que

sofrem de transtornos mentais graves e são pacientes psiquiátricos.

Posto isso, a falta de investimento na saúde mental pública brasileira pelo

Ministério da Saúde cria uma realidade defasada no enfretamento do sofrimento

psíquico da população, que é extremamente negligenciada. Ocorre, porém, a

transferência de uma verba que poderia ser aplicada no investimento da psicoterapia,

como na oferta de mais psicólogos e mais salas de atendimento para esses, para ser

cedida às PICs, as quais evidências científicas são desconhecidas até hoje. Se trata,

portanto, de um gasto público, sendo investido em atividades sem relevância científica

no enfrentamento da saúde mental, os quais prometem a cura por meio de crenças, de

discursos antiéticos e de práticas duvidosas. Para exemplificar e compreender tal

realidade, é importante trazer algumas informações relevantes a respeito das práticas

integratistas mais utilizadas, conhecidas e debatidas atualmente, sendo elas: os Florais

de Bach, a aromaterapia, a homeopatia e, principalmente, a constelação familiar. H,

A prática da constelação familiar vem ganhando destaque entre a população e

profissionais simpatizantes das terapias holísticas. Não só desse público, mas também

da área acadêmica. Nos últimos anos, as constelações vêm sendo debatidas

positivamente e até mesmo ofertadas dentro de instituições e universidades de Ensino

Superior. Para além disso, ela foi introduzida no âmbito judicial, principalmente nos

julgamentos da Vara da Família. Afinal, por que, então, se dá tanto sucesso e relevância
a tal pseudociência? A começar, as constelações, nas palavras de seu idealizador

Hellinger, em uma famigerada palestra em Kyoto, no Japão, no ano de 2001:

[...] é um método que visto de fora parece muito simples. Se um

cliente tem um problema, é então solicitado a selecionar

representantes para membros de sua família e colocá-los uns em

relação aos outros. Tão logo isto é feito, os representantes sentem-

se como as pessoas que estão representando, mesmo sem saber

nada sobre elas. [...]

Ao fazer essa espécie de dramatização pública, com base em improviso e leitura

corporal inconsciente dos participantes em são representados, entende-se, por essa

prática, que as problemáticas, os sentimentos e os desejos são passados de geração a

geração, ou seja, é quase uma espécie de mágica, se tratando de uma crença parecida

com uma religiosidade, com uma telepatia metafísica. As pessoas se identificam com a

constelação porque suas ações passam a ser de responsabilidade de um ente familiar de

três gerações passadas, por exemplo. O sujeito é isento, então, de sua autoria, sua

subjetividade, quanto seus atos e seus problemas, na maioria das vezes. O

autoconhecimento desenvolvido nessa prática dá lugar a um achismo aleatório surgido

durante as chamadas representações.

Vale destacar também o caráter sexista e extremamente conservador da prática

criada por Hellinger. Esse, que serviu ao lado da tropa nazista na Segunda Guerra

Mundial, trocava cartas de afeto e admiração com Hitler e teve uma relação muito

íntima com a Igreja Católica. Dentre suas ideias, inclusive que servem de base para a

compreensão das relações familiares, está a defesa da hierarquia patriarcal, em que a

mulher deve servir o marido, assim como obedecê-lo, assumindo um papel que a reduz
e a atrela aos cuidados domésticos e maternos. Na obra ‘A Simetria Oculta do Amor’,

de 1999, Hellinger defende sobre as famílias:

O amor é geralmente bem servido quando uma mulher segue o

marido na língua, na família e na cultura, e quando concorda que

os filhos devem segui-lo também [...] isso parece bom e natural

para a mulher [...] as famílias com que temos trabalhado

funcionam melhor quando a mulher cuida da responsabilidade

primária do bem-estar interno da família, e o homem é

responsável pela segurança da família no mundo, e ela segue sua

liderança.

Ao defender, então, a supremacia heterossexual como a família ideal, exclui e

condena, automaticamente, as outras relações que não sejam compostas de um homem e

uma mulher, se mostrando estupidamente homofóbico.

Uma das mais polêmicas questões da constelação familiar é a naturalização do

incesto e do estupro, assim como a defesa do agressor, uma vez que fere os direitos

humanos e traumatiza as vítimas. A exemplo disso, citemos um caso hipotético

colocado pelo próprio Hellinger: quando a mulher/esposa não serve devidamente o seu

marido, ela se sente culpada e, inconscientemente, ‘cede’ a filha. A vítima faz isso,

inconsciente, pela mãe e pelo pai que não foi satisfeito anteriormente, por isso, não deve

levá-lo à julgamento, nem o denunciar. A filha deve compreender e assumir que parte

da culpa do pai tê-la estuprado também é dela, porque fez isso em amor ao pai. Nessa

situação, ela deve perdoar o pai e aceitar seu amor inconsciente a ele, para que se liberte

da raiva e de todos os sentimentos angustiantes pós abuso.

Por fim, para citar mais uma entre tantas outras perversidades perigosas das

constelações, está na sugestão de causas para questões envolvendo transtornos mentais.


A exemplo disso, poderíamos citar um indivíduo que esteja sofrendo, hoje, de

depressão. O constelador pode supor ou até mesmo ser informado pelo próprio cliente,

que a bisavó paterna dele sofreu um abordo na adolescência. Então, ele atrelará esse fato

à causa do transtorno depressivo do indivíduo.

Vale ressaltar, mais uma vez, que não existem evidências científicas relevantes

que comprovem a eficácia da constelação familiar, seja para bem-estar geral, para o

tratamento de transtornos mentais ou para a solução e/ou melhora de problemas

familiares dos indivíduos. Por último, as sessões de constelação, sejam elas em grupo

ou individuais, costumam ser caras e prometem a cura e a melhora significativa da

pessoa que experiencia a prática, mesmo sendo completamente pseudocientífica.

Os Florais de Bach, assim como a homeopatia, são diluições homeopáticas

tomadas para determinados objetivos, sejam eles relacionados à cura e ao tratamento de

alguma doença ou transtorno – como depressão, ansiedade, insônia, pânico, dores

crônicas, cânceres, etc. –, na melhora de algum incômodo – como estresse, raiva, falta

de empatia, impaciência, infelicidade, inveja, etc. – e até mesmo para aumentar os

desempenhos fisiológicos em atividades físicas, aumentar a imunidade e entre outros

tantos. A substância de tratamento, seja ela essências de flores ou outros extratos, é

diluída sempre em água e substâncias como o álcool. A problemática é que o nível de

diluição é tão alto que nenhuma das pílulas ou líquidos desenvolvidos nessas práticas

possuem eficácia.

Já a aromaterapia, famosa por seus mais diversos tipos de óleos essenciais para

as mais diversas causas, inclusive doenças, transtornos mentais e sofrimento psíquico,

não se passa de mais uma prática, assim como as duas outras citadas acima, que não

possui comprovações científicas quanto os seus benefícios e eficácias. Inclusive,

diversos dermatologistas alertam sobre os perigos da dermatite no contato direito de


óleos sob a pele. Destaca-se que os óleos essenciais, famosos atualmente entre

blogueiras criadoras de conteúdos digitais, podem ser extremamente caros.

Dentro da área das terapias/abordagens integratistas têm se desenvolvido

estudos, já há algumas décadas, a respeito de suas eficácias. Entretanto, até hoje, são

pseudociências, já que não há fortes evidências científicas que provem o contrário. Há

os seus estudos/séries de casos, quando um estudo é realizado com uma pequena

amostra de participantes e esses respondem positivamente aos tratamentos. Porém, isso

não é suficiente para que se possa generalizar e dizer que a maioria das pessoas terão

resultados eficazes com aquele tratamento, ou seja, é insuficiente para afirmar que

aquela intervenção funciona, cientificamente. O ideal é que sejam realizados ensaios

clínicos randomizados - a mais robusta ferramenta de ensaio clínico - cujas escolhas dos

participantes são aleatórias, de forma cega para o experimento e que a amostra seja

grande e ampla.

Por quê, então, existem tantos relatos de pessoas que afirmam que as práticas

integratistas e as pseudociências, no geral, funcionam para elas? A resposta é simples:

efeito placebo. As pessoas se convencem e acreditam que aquele tratamento de fato

funciona para elas, ou seja, elas os baseiam em crenças subjetivas de melhora, no poder

sugestivo da eficácia da prática. Utilizemos um exemplo que é muito comum sua

ocorrência em estudos que testam florais, homeopatia e aromaterapia: em um

experimento para testar a eficácia de uma pílula, divide-se os participantes em dois

grupos, sem que eles saibam - aqueles que irão receber a determinada pílula de

tratamento, e aqueles que do grupo placebo, que irão receber uma pílula à base de

farinha. Os resultados apontam que os participantes do grupo placebo relatam melhoras

na mesma proporção dos participantes do grupo teste. Os participantes do grupo placebo


possuem crenças na melhora e no funcionamento da pílula homeopática e por

acreditarem nela, percebem uma melhora subjetiva em suas condições.

Os pacientes costumam se seduzir pelo discurso pseudocientífico, porque ele

promete curas e resoluções de problemas e até de transtornos de forma extremamente

rápida. Muitas vezes, não só da própria vida atual, presente, mas se suas ‘vidas

passadas’, futuras, da família e dos ancestrais. Práticas baseadas em fé, e muitas vezes,

charlatanismo. É ideal que o profissional integratista, portanto, alerte os seus clientes

que aquele não é o método mais eficaz para tratar determinada queixa/problema. Nessa

dinâmica, o paciente escolhe se quer tentar tratar desse modo, a partir da sua própria

crença e hipóteses, mesmo tendo o conhecimento de que a chance dessas abordagens

serem efetivas é baixa.

Para finalizar, cabe ressaltar que não ter evidências científicas fortes e

suficientes para afirmar que uma terapia funciona significa dizer que não há estudos que

embasam a prática analisada. Ou seja, não há grandes probabilidades de melhora.

Funcionar ou não funcionar é muito relativo, uma vez que a evidência científica trabalha

sempre com a maior probabilidade.

Referências:

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