Estudo de Caso Atresia Intestinal UTIN FINAL

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM HOSPITALAR
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
CAMPUS DE SANTARÉM – XII

CÁSSIA MARIA BRANCO DOS SANTOS


INGRIDY SOYAN SAMPAIO MESQUITA
MAÍSA FERREIRA DE ALMEIDA

ATRESIA JEJUNOILEAL EM UM RECÉM-NASCIDO DA


UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL:
ESTUDO DE CASO

SANTARÉM
2022
2

CÁSSIA MARIA BRANCO DOS SANTOS


INGRIDY SOYAN SAMPAIO MESQUITA
MAÍSA FERREIRA DE ALMEIDA

ATRESIA JEJUNOILEAL EM UM RECÉM-NASCIDO DA


UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL:
ESTUDO DE CASO

Estudo de caso, escrito como requisito para


obtenção de nota parcial de campo de estágio na
disciplina de Enfermagem em UTI Neonatal e UTI
Pediátrica.
Docente: Prof.ª Ma. Mariane Santos Ferreira

SANTARÉM
2022
3

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 4

2. ESTUDO CLÍNICO 6

2. 1 História Clínica 6

2.2 Exame Físico 7

2.3 Exames Laboratoriais 7

2.4 Exames Complementares 8

3. DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA 8

4. FISIOPATOLOGIA 8

5. CLASSIFICAÇÃO 9

6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 9

7. EPIDEMIOLOGIA 9

8. DIAGNÓSTICO 10

9. TRATAMENTO 11

10. ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA AO RN COM ATRESIA


JEJUNOILEAL E AOS FAMILIARES 12

11. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM - SAE 13

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS 16

13. RESUMO CIENTÍFICO 16

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 17


4

1. INTRODUÇÃO

O Sistema Digestivo inicia-se com a cavidade oral (boca e faringe), que servem de
recepção para o alimento. Este, após ser ingerido entra no trato gastrointestinal (trato GI), que
consiste em esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. A porção do trato GI que
vai do estômago ao ânus, chama-se intestino. O trato GI consiste em um longo tubo com
paredes musculares alinhadas por um epitélio secretor e transportador. Em intervalos ao longo
do trato, anéis musculares funcionam como esfíncteres para separar o tubo em segmentos com
funções distintas. O alimento move-se pelo trato, sendo propelido por ondas de contrações
musculares (SILVERTHORN, 2010).

O intestino delgado é o órgão digestivo no qual ocorre a continuação da digestão dos


componentes advindos do estômago, os quais, sendo devidamente fragmentados por ação
enzimática, são absorvidos e veiculados à circulação sanguínea ou linfática. Para que ocorra
um eficiente processo de absorção, é necessária uma grande área de superfície; para tanto, o
intestino delgado se apresenta como um longo órgão, atingindo cerca de 4-7 m de
comprimento, dotado ainda de uma série de especializações que contribuem para o aumento
da sua superfície de absorção de diferentes tipos de nutrientes (ORIÁ & BRITO, 2016).

O intestino delgado é subdividido em três segmentos, a saber: (a) o duodeno, sua


primeira e menor porção, formado por uma alça em formato de letra C medindo cerca de 25
cm de comprimento e de localização predominantemente retroperitoneal; (b) o jejuno, que se
continua a partir da extremidade final do duodeno, e que constitui a maior parte do intestino
delgado, formado por várias alças livremente móveis e suspensas em meio à cavidade
abdominal por meio de extensas pregas de peritônio que constituem o mesentério, o qual se
insere na região dorsal da parede abdominal; e (c) o íleo, representando a porção final do
intestino delgado, também apresentando alças suspensas como as do jejuno, mas em menor
quantidade, e que desemboca no início do intestino grosso através de um orifício, denominado
óstio ileal (ORIÁ & BRITO, 2016).

Um trato alimentar completamente funcional em recém-natos corresponde a um


complexo sistema orgânico que se desenvolve do tubo digestivo primitivo a partir de uma
complicada, porém ordenada sequência de eventos que se estende desde o período
embrionário até o nascimento. Um amplo espectro de anomalias congênitas do trato
gastrintestinal é causa significativa de morbidade no grupo pediátrico. Estas anormalidades
incluem distúrbios obstrutivos completos ou parciais (atresia/estenose), anomalias de rotação
5

e fixação, bem como duplicações e compressões extrínsecas. Entre as causas obstrutivas


destacamos as atresias, cuja apresentação clínica é variável com a topografia acometida, a
qual deve ser determinada principalmente em estudos por métodos de imagem
(FIGUEIRÊDO et al., 2005).

As atresias intestinais são historicamente divididas em quatro tipos com base na


classificação de Louw e Barnard: Tipo-1: teias intestinais, tipo-2: cordão fibroso, tipo-3a:
defeito mesentérico em forma de V, tipo-3b: atresia de casca de maçã , e tipo-4: atresias
múltiplas. A atresia intestinal tipo 1 é considerada rara e o local mais comum de teias é
conhecido por ser a segunda parte do duodeno . O jejuno é o local de apenas 8% das teias. A
teoria vascular e a teoria da recanalização foram propostas como as etiologias subjacentes das
teias intestinais (Khoei et al., 2021).

No entanto, a hiperproliferação da mucosa em uma teia jejunal pode ser outro


mecanismo para a formação da teia intestinal. As teias jejunais geralmente estão presentes no
período neonatal, mas podem se tornar apenas intermitentemente sintomáticas ou podem se
apresentar mais tarde em sua vida porque sua fenestração central permite a passagem de
alimentos. A atresia jejunal pode ser única ou múltipla ocorrendo desde o ligamento de Treitz
até a junção jejunoileal, necessitando de atenção cirúrgica imediata para prevenir mortalidade
e morbidade entre esses neonatos (Khoei et al., 2021).

A UTI Neonatal (UTIN) é um ambiente hospitalar onde são utilizados técnicas e


procedimentos sofisticados, que podem propiciar condições para a reversão dos distúrbios que
colocam em risco a vida dos bebês de alto risco. A hospitalização em UTIN introduz o bebê
em um ambiente inóspito, onde há exposição intensa a estímulos nociceptivos, como o
estresse e a dor que são frequentes. Ruídos, luz intensa e contínua, bem como procedimentos
clínicos invasivos e dolorosos são constantes nessa rotina (REICHERT et al., 2007).

Para tanto, faz-se necessário que toda a equipe multiprofissional que compõe a UTIN,
tenha um preparo que sustente a complexidade das atividades desenvolvidas. O conhecimento
científico e a habilidade técnica são características imprescindíveis para o rigoroso controle
das funções vitais na tentativa de reduzir a mortalidade e de garantir a sobrevivência dos RNs
com atresia jejunoileal. Assim, destacamos a importância do acompanhamento e da
atualização dos avanços terapêuticos e tecnológicos nessa área (REICHERT et al., 2007).
6

A capacitação dos profissionais de enfermagem para apreender as necessidades


singulares de cada bebê é de grande importância para que os procedimentos e cuidados de
rotina, dolorosos e invasivos, sejam empregados de forma individualizada e singular. Um dos
primeiros passos nesse sentido é a observação acurada das respostas comportamentais e
fisiológicas do bebê, visando à diminuição do estresse e da dor, contribuindo para o seu
conforto, segurança e consequentemente seu prognóstico (REICHERT et al., 2007).

2. ESTUDO CLÍNICO

2. 1História Clínica
Paciente E.G.P., procedente do Hospital Municipal de Juruti, apresenta histórico de
nascimento prematuro (33 semanas) com peso de 1.715 gramas, estatura de 42 centímetros,
perímetro torácico de 27 centímetros, perímetro cefálico 28 centímetros, apresentação pélvica,
ausência de choro ao nascer, cianótica com índice de APGAR 6/7 no primeiro e quinto
minuto de vida respectivamente, foi admitida no dia 14/05/2022 em seu 18º dia de vida no
Hospital Regional do Baixo Amazonas na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Genitora
relata que desde o 11º dia de vida, recém nascida apresentou vômito com odor fétido e
constipação progressiva com evolução para abdômen distendido e desidratação.

No dia 14/05/2022 realizou exames de imagens e laboratoriais que atestaram distensão


de alças e ausência de ar em ampola retal. Neste mesmo dia foi submetida a sondagem
orogástrica (SOG) com drenagem de 47 mililitros de débito fecalóide. Após análise dos
resultados dos exames foi estabelecido hipótese diagnóstica de Atresia Intestinal Tipo 2.

No dia 15/05/2022 foi submetida a laparotomia exploratória com evolução para


enterectomia segmentar e enteroanastomose devido a atresia intestinal tipo 2.

No dia 16/05/2022 recém-nascida apresentava-se estável em ventilação mecânica, boa


saturação, mantendo sonda orogástrica aberta com débito sanguinolento no trajeto.

No dia 18/05/2022 encontrava-se estável, confortável em ar ambiente, débito bilioso


em grande quantidade pela sonda orogástrica.

No dia 20/05/2022 apresentou piora clínica com distensão e aumento da tensão


abdominal, hiperemia e cianose de parede abdominal, hiperemia da cicatriz cirúrgica,
oscilação de saturação em ar ambiente. Deixada em cateter nasal de O2. Realizado reposição
de perdas pela sonda orogástrica com 35 mililitros de soro fisiológico.
7

No dia 26/05/2022 recém-nascida mantém débito de resíduo bilioso em grande


quantidade pela SOG. Após avaliação médica, fora marcada nova laparotomia exploratória
para o dia 27/05/2022.

No dia 27/05/2022 submetida a nova laparotomia exploratória com resecção enteral de


3 centímetros e anastomose término - terminal.

Em 28/05/2022 apresentou oligúrica, fazendo uso de morfina conforme prescrição.


Débito bilioso em grande quantidade.

Em 30/05/2022 após troca de antibioticoterapia, apresentou diminuição do edema e


melhora da diurese.

No dia 31/05/2022 diminuição do edema e evacuação presente.

2.2 Exame Físico


Ao exame físico no dia 14/05/2022: Couro cabeludo íntegro, cabelos pouco
volumosos sem presença de sujidades, cavidade auriculares simétricas e sem alterações
visíveis, pele e mucosas hipocoradas, hipoativo, cavidade nasal e oral sem alterações visíveis
e com higiene satisfatória, tórax simétrico com boa expansibilidade bilateral, ausculta
pulmonar murmúrios vesiculares presentes e rudes, ausculta cardíaca com batimentos
cardíacos normofonéticos em dois tempos, abdome globoso, distendido com relevo de alças,
ruídos hidroaéreos aumentados. Coto umbilical cicatrizado, genitália feminina sem alterações
visíveis, ânus pérvio, membros superiores sem alterações visíveis, diurese diminuída e
evacuações ausentes.

2.3 Exames Laboratoriais


A tabela 01 mostra os principais resultados encontrados no exame laboratorial de
hemograma e leucograma.

Tabela 01: Exames laboratoriais de Hemograma e Leucograma


Eritrograma Valores obtidos Valores de Referência
Hemoglobina 11,5 g/dL 13 a 16 g/dL
Hematócrito 33,4% 38 a 50%
Hemácias 3.90 em milhões 4,5 a 6,0 em milhões
Leucócitos 5000/mm³ 4.500 a 11.000/mm³
Basófilos 37.41/mm³ 0 a 100/mm
Fonte: Elaborados pelos autores segundo informações coletadas no prontuário do paciente.
*OBS.: Exame realizado em 27 de maio de 2022.
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2.4 Exames Complementares


Raio – X de Abdome
Resultado: Distensão de alças e ausência de ar em ampola retal não aparentando ter
pneumoperitonio.
Ultrassonografia Abdominal

Resultado: Pequena quantidade de líquido livre na cavidade abdominal; Observa-se


distensão de alças intestinais.

Teste Rápido para COVID-19: Swab Nasal

Resultado: Negativo

3. DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA

Atresia intestinal é o termo utilizado quando existe um bloqueio total ou a ausência de


continuidade em algum local do intestino, podendo ocorrer em qualquer porção do trato
digestivo, sendo mais frequente no intestino delgado, denominada atresia jejunoileal
(ANDRADE; TAMADA, 2021).

A atresia jejunoileal é uma das causas mais comuns de obstrução intestinal no neonato,
com uma incidência de 1 em 5.000 recém-nascidos. Ocorre como resultado de agravo
isquêmico durante a gravidez, que pode ocorrer em consequência de intussuscepção,
perfuração, vólvulo, estrangulamento intestinal por hérnia ou tromboembolismo. Quanto à
etiologia, o tabagismo e uso de cocaína maternos foram associados à atresia intestinal. Essa
doença afeta igualmente ambos os sexos. Atresias jejunoileais são proporcionalmente
distribuídas (MORRIS et al., 2016).

4. FISIOPATOLOGIA

Considera-se que as atresias jejunais e ileais sejam resultantes de falha de


recanalização do estágio sólido do tubo intestinal ou de insulto vascular durante o
desenvolvimento dessas estruturas (FIGUEIRÊDO et al., 2005).

Opostamente à atresia duodenal, pacientes com atresia jejunoileal apresentam poucos


defeitos congênitos em outros sistemas. Combinações de atresia de alças delgadas e colônicas
são raras. Aproximadamente 20% das atresias jejunais são múltiplas (FIGUEIRÊDO et al.,
2005).
9

Uma acentuada distensão abdominal é óbvia em 80% dos bebês com obstrução distal
ao jejuno, e a peristalse ativa de alças distendidas pode ser visível. Esta distensão grave pode
estar associada a desconforto respiratório, por elevação do diafragma. É importante enfatizar
que os bebês com abdome escavado ou de aspecto normal com vômitos biliosos após o parto
também devem ser considerados como portadores de obstrução duodenal e jejunal proximal
até que se prove o contrário. O número de alças dilatadas aumenta quanto mais distal for a
atresia, porém, ocasionalmente o segmento mais dilatado está preenchido por líquido ou há
um vólvulo, dificultando a identificação do segmento mais dilatado (FIGUEIRÊDO et al.,
2005).

5. CLASSIFICAÇÃO

De acordo com Grosfeld, a atresia jejunoileal é classificada da seguinte forma:

Tipo I: diafragma intraluminal em contiguidade com as camadas musculares dos segmentos


distal e proximal; Tipo II: atresia com um segmento em forma de cordão fibroso entre as
extremidades em fundo cego do intestino; Tipo IIIA: atresia com completa separação das
extremidades em fundo cego associada a defeito (“gap”) mesentérico em forma de V; Tipo
IIIB: atresia com extenso defeito Mesentérico. O intestino distal enrola-se em torno dos vasos
mesentéricos, dando um aspecto em “casca de maçã”. Este segmento distal é curto e de
pequeno calibre; Tipo IV: atresia múltipla do intestino delgado (GROSFELD et al, 1993;
FIGUERÊDO et al., 2005).

6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Neonatos com atresia jejunoileal apresentam manifestações no 1º ou no 2º dia de vida


com distensão abdominal, falha em eliminar fezes, êmese e problemas alimentares. Bebês
com atresia jejunoileal proximal iniciam vômitos biliosos logo após o nascimento, enquanto
aqueles com atresia mais distal podem não apresentar vômitos até várias horas ou dias pós-
natal (FIGUEREDO et al., 2005).

7. EPIDEMIOLOGIA

A atresia é a mais comum causa de obstrução intestinal congênita e correspondente a


cerca de um terço de todos os casos de obstrução intestinal nós recém- nascidos. Estima-se
que seja duas vezes mais comum que atresia esofagiana e hérnia hiatal diafragmática. A
10

distribuição é quase igual entre sexos e a incidência é entre 5.000 nascidos vivos
(FIGUEREDO et al., 2005).

8. DIAGNÓSTICO

O Diagnóstico pré-natal da atresia é realizado principalmente por meio da


ultrassonografia fetal (USG), ocorrendo geralmente de forma tardia e com precisão
diagnóstica bastante variável. Essa variabilidade na precisão pode ser atribuída ao fato de que
alguns dos achados podem ser considerados não característicos e, em alguns casos,
interpretados como variações normais, sem levar em consideração alguns fatores extrínsecos,
como as limitações da própria USG, um campo de visão limitado e a experiência do
profissional, que também podem influenciar para ocorrência do diagnóstico tardio (LAU et
al., 2017).

À USG pré-natal, a atresia intestinal é caracterizada por alças delgadas dilatadas


formando tipicamente um aspecto de "tripla ou quádrupla bolha". Estas aparecem como áreas
sonolucentes em tomadas axiais do abdome. Polidrâmnio ocorre em aproximadamente metade
dos recém-nascidos com atresia duodenal e jejunal proximal, no entanto, é pouco observado
em bebês nascidos com atresia ileal e colônica. Além de atuar no diagnóstico de atresias
intestinais altas, a ecografia fornece informação sobre anomalias cardíacas e do sistema
nervoso central (FIGUERÊDO et al., 2005).

À radiografia, estas atresias são caracterizadas pela presença de alças intestinais


delgadas dilatadas, frequentemente associadas a níveis hidroaéreos. O aumento do conteúdo
abdominal é refletido em flancos distendidos e hemicúpulas diafragmáticas elevadas
(FIGUEIREDO, 2005).
11

Figura 01: Radiografia simples de paciente com Atresia Jejunal

Fonte: Radiologia Brasileira

9. TRATAMENTO

O tratamento da atresia jejunoileal se dá por meio de cirurgia. Durante a cirurgia, todo


o intestino deve ser examinado para garantir que não haja atresias múltiplas. A porção ocluída
é excisada e geralmente é realizada uma anastomose. Se a porção proximal do íleo estiver
muito distendida e difícil de anastomose com a porção não utilizada do intestino distal, às
vezes é mais seguro realizar uma ileostomia de saída dupla e retardar a anastomose até que o
diâmetro do intestino proximal dilatado seja reduzido. A cirurgia para reduzir a alça proximal
dilatada também pode ser considerada (DEWBERRY et al., 2020).

O prognóstico para lactentes com atresia jejunoileal é excelente, com sobrevida


superior a 90%. O prognóstico é baseado no comprimento do intestino delgado remanescente
e na presença da válvula ileocecal. Os bebês que mais tarde desenvolvem síndrome do
intestino curto requerem nutrição parenteral total (NPT) de longo prazo, sendo também
necessário receber nutrição enteral para promover a adaptação intestinal, maximizar a
absorção e minimizar o uso de nutrição parenteral. Os neonatos também devem receber
pequenas quantidades de alimento por via oral para estimular e manter a sucção e a deglutição
(BATRA et al., 2017; PANDEY et al., 2020).

O prognóstico da síndrome do intestino ultracurto neonatal melhorou


significativamente devido a novas técnicas cirúrgicas, incluindo procedimentos de
alongamento intestinal (por exemplo, enteroplastia transversa seriada ou procedimentos
12

PETS), assistência médica aprimorada e a capacidade de realizar transplantes de intestino


delgado (SQUIRES et al., 2012).

10. ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA AO RN COM ATRESIA


JEJUNOILEAL E AOS FAMILIARES

O RN que possui anomalias congênitas requer um cuidado imediato e seu prognóstico


depende muito do conhecimento e da capacitação da equipe de enfermagem, pois a
enfermagem compõe a maioria dentre o quadro de profissionais de saúde. Destaca-se ainda a
necessidade do conhecimento do processo de cuidar e que o enfermeiro deve ser inserido no
acompanhamento e tratamento desde os primeiros resultados de exames clínicos e de
diagnóstico, possibilitando a aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem
desde o início da gestação até o puerpério. O enfermeiro também pode atuar fazendo
solicitação de exames, inclusive a USG, a fim de diagnosticar possíveis patologias, sendo os
exames de imagem de extrema importância no diagnóstico precoce de atresias intestinais o
que possibilita um tratamento eficaz (PEREIRA et al., 2021).

O diagnóstico precoce possibilita ao enfermeiro informar a gestante a importância da


assiduidade nas consultas pré-natais, as quais estarão voltadas não somente para atender o
neonato, mas toda família, pois a mesma necessitará de apoio para compreender as
necessidades do RN (BRITO et al., 2018).

Quando há o diagnóstico prévio de alguma anomalia congênita, a equipe de saúde


trabalha em conjunto já na sala de parto, e as ações de enfermagem devem ser iniciadas nas
primeiras horas de nascimento e cabe ainda ao enfermeiro seguir as diretrizes do cuidado
contínuo do neonato na UTIN proporcionando um bom prognóstico. Para isso, torna-se
imprescindível o conhecimento prévio sobre o funcionamento dos equipamentos e também de
interpretação de resultados de exames (FONTOURA et al., 2011).

Outro papel essencial é o acolhimento dos pais e familiares que deve ser realizado pela
enfermagem, desde esclarecer dúvidas a explicar sobre o tratamento, resultando em um
cuidado humanizado que deve ser feito por toda a equipe interdisciplinar favorecendo ao
neonato de alto risco, um tratamento holístico e humanizado (DUARTE; DE SENA;
TAVARES, 2010).
13

11. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM - SAE

Para obtenção de um ótimo prognóstico para o paciente, o enfermeiro possui um papel


fundamental durante todo o tratamento do neonato com atresia intestinal. Cabe ao profissional
de enfermagem trabalhar em conjunto com toda a equipe interdisciplinar visando uma
assistência de qualidade. A implementação da sistematização da assistência de enfermagem
(SAE), permite à equipe de enfermagem assistir o paciente com maior qualidade e de forma
holística. Sendo um instrumento fundamental na assistência de enfermagem, a SAE aumenta a
capacidade de percepção do profissional para a detecção de problemas, promove a criação de
um plano de ação e auxilia na recuperação do paciente e do seu bem estar geral, além de
valorizar a profissão como ciência e dá autonomia e segurança para os enfermeiros
(CARVALHO et al., 2008).

Utilizando o North American Nursing Diagnosis Association (NANDA), a


Classificação de Intervenções de Enfermagem – Nursing Interventions Classification (NIC) e
a Classificação de Resultados de Enfermagem – Nursing Outcomes Classification (NOC)
pode-se construir um plano de cuidado com 3 diagnósticos de enfermagem relacionados a
Atresia Jejunoileal.

A tabela 02 destaca os principais diagnósticos, resultados esperados e intervenções de


enfermagem ao paciente neonatal com atresia jejunoileal.

Tabela 02: Sistematização da Assistência de Enfermagem à Atresia Jejunoileal.


Diagnóstico Intervenções Resultados Horários
Esperados
Nutrição - Administrar - Promover bom - SSVV: 8h 10h 12h
desequilibrada nutrição parenteral estado nutricional do 14h 16h 18h 20h
menos do que as total (NPT) RN dentro dos 22h 24h;
necessidades conforme prescrição padrões esperados
corporais: médica até que a de normalidade; -Cuidados
caracterizada por viabilidade do tubo assépticos: Sempre
baixo peso, digestivo seja - Proporcionar que for manipular o
episódios de êmese, reestabelecida; cicatrização da FO RN ou a PICC;
constipação, sem complicações
obstrução intestinal; - Inserir cateter objetivando a - Monitorar peso:
relacionada a central de inserção restauração do diariamente;
anomalia congênita periférica de acordo trânsito intestinal
(atresia jejunoileal) e com o protocolo da normal. - Monitoramento de
pós cirurgia de instituição; glicemia: 10h 14h
correção da 18h 22h 2h 6h;
anomalia. - Verificar o
14

posicionamento - Monitorar estado


correto do cateter Nutricional
venoso central por (Indicadores
meio de radiografia; Bioquímicos):
Manter o acesso diariamente.
central pérvio,
conforme protocolo
da instituição;

- Monitorar quanto à
infiltração, à
infecção e às
complicações
metabólicas (p. ex.,
hiperlipidemia,
triglicerídeos
elevados,
trombocitopenia,
disfunção
plaquetária);

- Realizar cuidados
regulares, assépticos
e meticulosos no
cateter venoso
central,
particularmente no
local de inserção do
cateter, para
assegurar utilização
prolongada, segura e
sem complicações;

- Utilizar bomba de
infusão para infusão
de soluções de NPT;
Monitorar o peso
diário;

- Monitorar ingestão
e eliminação;

- Monitorar
albumina sérica,
proteínas totais,
eletrólito, perfil
15

lipídico, níveis de
glicose e perfil
químico;

- Monitorar sinais
vitais;
- Manter pequena
ingesta oral de
nutrientes durante a
NPT, sempre que
possível;
Integridade da pele - Administrar - Proporcionar a - Cuidados com a
prejudicada medicamentos cicatrização da FO FO: diariamente;
associada ao conforme prescrição sem complicações;
procedimento médica; - Monitorar
cirúrgico de - Minimizar riscos cicatrização da FO:
correção da atresia - Realizar cuidados de infecção que diariamente;
jejunoileal e a com a FO: limpeza e possam prejudicar a
dispositivos médicos troca de curativos; cicatrização da FO; - Monitorar sinais
(PICC). - Supervisionar local flogísticos:
suturado; - Manter PICC diariamente;
- Monitorar eficiente afim de
cicatrização da FO; evitar que sejam - SSVV: 8h 10h 12h
necessárias muitas 14h 16h 18h 20h
- Realizar cuidados punções; 22h 24h.
com o Cateter
Central de Inserção - Manter estado
Periférica (PICC); nutricional do RN
dentro dos padrões
- Monitorar sinais de normalidade até
flogísticos na FO e que o trânsito
no cateter; intestinal seja
reestabelecido.
- Administrar
nutrição parenteral
total (NPT)
conforme prescrição
médica até que a
viabilidade do tubo
digestivo seja
reestabelecida;

- Manter controle da
nutrição do RN;
- Monitorar SSVV.
16

Motilidade - Administrar
- Proporcionar - Mudança de
gastrointestinal medicamentos para conforto ao leito; decúbito: 8h 11h 14h
disfuncional: controle do vômito 17h 20h 23h 2h 5h;
caracterizado por conforme prescrição- Promover bom
episódios de êmese e médica; funcionamento - Administração de
constipação; gastrointestinal; leite materno ou
relacionada a - Realizar mudança fórmula: 8h 11h 14h
mobilidade física de decúbito; 17h 20h 23h 2h 5h.
prejudicada
evidenciada por - Realizar
restrição ao leito; administração de
associada a atresia pequena ingesta oral
jejunoileal e a NPT. de nutrientes (leite
materno ou fórmula)
durante a NPT,
sempre que possível.

Fonte: NANDA (2021); NIC (2020); NOC (2016).

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, é de suma importância a efetivação de uma assistência de enfermagem de


qualidade no contexto da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) quanto a Atresia
Jejunoileal, visando minimizar fatores que possam vir a causar estresse, dor ou estímulos
negativos para o paciente fragilizado. Dessa forma, a capacitação dos profissionais é de
grande relevância para que a atenção humanizada ao paciente ocorra, executando a
implementação da (SAE), respeitando as necessidades individuais, atendendo as
especificidades patológicas e minimizando os efeitos da hospitalização.

13. RESUMO CIENTÍFICO

A IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROGNÓSTICO


DE UM PACIENTE COM ATRESIA INTESTINAL

INTRODUÇÃO: Atresia Intestinal é o termo utilizado quando existe um bloqueio total ou a


ausência de continuidade em algum local do intestino, podendo ocorrer em qualquer porção
do trato digestivo, sendo mais frequente no intestino delgado, denominada atresia jejunoileal.
Esta anomalia é uma das causas mais comuns de obstrução intestinal em neonatos, com
incidência de 1 em 5.000 recém-podendo nascidos (RN), afetando igualmente ambos os
sexos. Essa doença é resultante do agravo isquêmico durante a gravidez, que pode ocorrer em
consequência de intussuscepção, perfuração, vólvulo, estrangulamento intestinal por hérnia ou
17

tromboembolismo. O tratamento da atresia jejunoileal se dá por meio de cirurgia, onde a


porção ocluída é excisada e geralmente é realizada uma anastomose. Nesse contexto, a
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) é por excelência, o ambiente destinado ao
acompanhamento destes pacientes, na qual a Assistência de Enfermagem possui papel crucial
no tratamento e manejo evolutivo objetivando um bom prognóstico, para isso, faz-se
necessário conhecimento técnico- científico e capacitação da equipe, pois os enfermeiros
compõem a maioria dentre o quadro de profissionais de saúde. OBJETIVO: Evidenciar a
significância da Assistência em Enfermagem para o prognóstico de um RN diagnosticado
com Atresia Intestinal Jejunoileal. METODOLOGIA: O estudo possui caráter qualitativo e
descritivo, para isso utilizou-se dados de prontuários como: exames laboratoriais e
complementares, evoluções médicas e multiprofissionais e artigos científicos sobre a
temática. RESULTADOS: Considerando a complexidade da patologia, percebeu-se a
importância da assistência de enfermagem frente à prestação de cuidado e boa evolução
clínica, cabendo a este, seguir as diretrizes do cuidado contínuo na UTIN proporcionando
prognóstico positivo ao neonato e um tratamento holístico e humanizado. Para isso, o
conhecimento científico e a habilidade técnica são características imprescindíveis para o
rigoroso controle das funções vitais na tentativa de reduzir a mortalidade e de garantir a
sobrevivência dos RNs de risco. CONCLUSÃO: Diante do exposto, torna-se evidente a
importância de uma efetiva assistência de enfermagem no contexto da Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal quanto as anomalias intestinais, visando contribuir para melhora do quadro
clínico, respeitando as necessidades individuais, atendendo as especificidades patológicas e
minimizando os efeitos da hospitalização.
Palavras-chave: Anomalias intestinais; Assistência de enfermagem; Prognóstico.

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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