Aula Onco 4
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O estado de não proliferação (GO) é o estado por defeito nos tecidos. Só se houver estímulos que no seu
balanço total sejam positivos é que há proliferação (sinalização por mitogénios). A decisão para proliferar
depende do meio extracelular e as células cancerosas são surdas.
No entanto, nem tudo estimula a progressão pelo ciclo celular, havendo estímulos anti-proliferativos,
sendo o maior exemplo o TGF-b, estimulando transcripcionalmente um inibidor, o p15, de complexos de
ciclina D-CDK4/6 (e, de forma menos intensa, também estimula o p21). Este, ao contrário dos outros, já é
um inibidor da família INK, que inibe o CDK4/6.
MITOGÉNIOS – ações a vários níveis!
Quando o p21 é citoplasmático, temos a via AKT/PKB ativa, mas quando está concentrado no núcleo, é
porque esta via inativadora não está ativa indicativo de prognóstico. Num tumor da mama de baixo
grau, com melhor prognóstico, o p27 está essencialmente no núcleo, ou seja, está funcional e a inibir a
progressão do ciclo celular. Se o p27 está essencialmente no citoplasma, é porque há uma hiperatividade
da via AKT/PKB por hiperexpressão, mutação com ganho de função dos receptores de membranaTK,
com ativação da via.
Um excelente exemplo de um tumor com estas condições de crescimento são os tumores germinativos
(tumores sólidos agressivos por serem muito replicativos), do qual
o tumor testicular é um exemplo. Geralmente, quando se deteta
este tumor com metástases no pulmão, a QT passa por fármacos
com diferentes mecanismos de ação: Bleomicina (AB antitumoral –
G2); etoposide (inibidor da topoisomerase II) e cisplatina
(alquilante). Como neste tumor a maior parte das células está em
fase replicativa, mesmo quando há metastização à distância com
disseminação pulmonar e noutras localizações, as taxas de
sobrevivência ao fim de 5 anos são muito elevadas (95%)! Isto não
ocorre nos outros tipos de tumores sólidos quando já existe
metastização à distância.
No entanto, a lei de Skipper considera
apenas o componente replicativo do
tumor, mas o que acontece na maioria
dos tumores é que há uma
heterogeneidade celular e da sua
cinética que não inclui apenas a parte
proliferativa temos, assim, o
modelo Gompertziano de outros
tumores sólidos, e o que este modelo
defende é que o tamanho do tumor
aumenta de uma forma mais lenta,
depois terá uma fase exponencial de
crescimento e atinge, por mim, um
plateau. O que acontece é que a fração
de crescimento inicialmente é maior
(porque são menos células a entrar no
ciclo, e por isso começam a replicar-
se), mas depois, no tumor grande, nem todas as células se estarão a replicar qual é a altura ideal para
fazer QT adjuvante? Isto é, qual é a melhor altura para parar o tumor e eliminar todas as células?
Geralmente, é na fase em que o tumor está a crescer com uma maior taxa de crescimento, porque um
maior número de células está em fase replicativa.
No cancro de mama avançado, a taxa de resposta é muito inferior, entre 54-58% e daí a grande diferença
quando falamos de tumores germinativos como verificámos anteriormente: mesmo com doença avançada,
muitas das vezes conseguimos curar e devemos investir nesse doente.
Poliquimioterapia
O que se defende quando estamos a fazer poliQT? Sabemos que existe uma grande heterogeneidade na
maioria dos tumores e, quando fazemos diferentes agentes de QT vamos estar a atuar em diferentes
clones que podem ter sensibilidades e resistências diferentes a cada agente e também que vão atuar em
diferentes fases do ciclo celular, conseguindo uma maior resposta. O que é muito importante é nós não
fazermos QT com toxicidade sobreponível, porque podemos fazer terapêuticas sequenciais OU podemos
juntar, como no caso do cancro testicular, vários agentes de QT simultaneamente.
Este gráfico demonstra como nós conseguimos melhorar a sobrevivência mediana no cancro do colon
quando vamos associando outros agentes, sejam citoestáticos sejam terapêuticas biológicas.
Assim sendo, quando estamos a fazer os nossos ciclos de QT, há uma intensidade de dose que é
administrada e que temos de calcular sabemos que para cada agente temos a considerada dose ideal
(mg) e para cada doente teremos de calcular de acordo com a sua superfície de massa corporal (m2). Esta
intensidade de dose vai ser medida em mg/m2/por semana. Ou seja, se quisermos aumentar a intensidade
de dose, temos duas hipóteses: ou aumentamos a própria dose, ou encurtamos o intervalo de
administração. Chega a um ponto a partir do qual se ultrapassa a capacidade metabólica do doente e só vai
aumentar a toxicidade e não a eficácia, ou seja, a solução passa por reduzir o intervalo: o chamado
esquema “dose dense” (antes era de 3/3 semanas e passa a ser administrada de 2/2 com suporte
hematológico.
Ainda relativamente à hipótese de Norton-Simon e a altura ideal para a QT: quando fazemos uma cirurgia,
estamos a eliminar o maior tumor que existe, e quando conseguimos eliminar todo o tumor, com a QT
adjuvante estamos a tentar eliminar as células que não temos forma de diagnosticar. Ou seja, quando
falamos em Tx adjuvante, é quando não temos evidência radiológica de doença (foi toda retirada na
cirurgia). Poderemos é continuar a ter pequenas células e, como se reduziu o tamanho tumoral, estas vão
entrar em replicação e esta será a melhor altura para nós eliminarmos, de acordo com esta hipótese. – De
acordo com um estudo, o tempo de realização (timing) da QT adjuvante em X tempo após a cirurgia tem
consequências no prognóstico/sobrevida do doente (depois disso, deixa de ter o mesmo efeito).
Outra coisa que se costuma fazer é associar a QT à RT e, neste caso, vamos associar citoestáticos que vão,
ou eliminar as células nas fases em que estas são mais resistentes à RT, ou então fazer com que parem na
fase em que são mais radiossensíveis, e fazer com que se potencie a RT com a QT.
Questões
- Ki67 é um marcador de prognóstico e preditivo de resposta. Preditivo de resposta porque se está aumentado =
maior divisão e melhor resposta a tratamento, mas em termos de prognóstico como é?
Acaba por ser difícil de perceber que os dois estão em simultâneo. Se estamos a falar de um tumor com maior
capacidade de proliferação, é mais agressivo pior prognóstico. Ki67 elevado é maior prognóstico, mas em alguns
subtipos é exatamente este fator que permite uma melhor resposta à QT, mas não deixa de ser um tumor
biologicamente mais agressivo! Muitas das vezes conseguimos tratá-lo, mas pode haver recidivas.
- Nos tumores mais proliferativos, os agentes de QT vão ser mais eficazes porque vão atuar a nível do ciclo celular.
Mas naquela Lei de Skipper, dizemos que um tumor tem crescimento logarítmico e que QT vai ter sempre eliminar
uma fração constante?
Sim, ou seja, conseguimos eliminar totalmente. O que acontece é que temos uma eliminação constante. Nos outros
modelos não há esta questão defendida de ser independente do tamanho tumoral. Há é tumores diferentes do
ponto de vista biológico e estes modelos aplicam-se a situações diferentes. Por exemplo, o de Skipper aplica-se ao
cancro testicular, mas o cancro da mama (que tem muitas células quiescentes e em G0) já não tem taxas de resposta
tão boas e o modelo que permite explicar isto é o Gompertziano. Temos tumores biologicamente distintos e
consoante isso aplicamos o modelo – o Gompertziano permite explicar como é que não conseguimos ter uma
eliminação total.