Extrativismo Bacuri
Extrativismo Bacuri
Extrativismo Bacuri
história, ecologia,
economia e domesticação
Vegetal na Amazônia
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Amazônia Oriental
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Embrapa
Brasília, DF
2014
Introdução1
Algumas frutas da Amazônia, como guaraná, açaí e cupuaçu, já são
conhecidas em outras partes do país e até no exterior, mas outras
são consumidas apenas pela população local. Entre as que começam
a ganhar mercado fora da região está o bacuri, do qual é extraída
uma polpa usada para fazer sorvetes, doces, sucos e outros produtos.
A maior procura por essa fruta já está superando a capacidade de
produção atual, essencialmente extrativa, mas estudos
Figura 3. Frutos de
bacuri maduros para
serem comercializados.
O bacurizeiro na História
O primeiro relato conhecido sobre o bacuri está no livro História da
missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão, escrito pelo frade
francês Claude d’Abbeville (?–1632), publicado em 1614. Sua descrição
da espécie, grafada como “pacuri”, é a seguinte:
O pacuri é uma árvore muito alta e grossa, suas folhas parecem-se com as
da macieira e a flor é esbranquiçada. O fruto tem o tamanho de dois pu-
nhos, com uma casca de meia polegada muito boa de comer como doce, tal
qual a pera. A polpa desse fruto é branca, parecida com a da maçã, de gosto
suave; encontram-se dentro quatro nozes comestíveis.
quer maço, ou requer se dar com ela em uma pedra, ou pau; ... porque tudo
são caroços vestidos ou revestidos de uma felpa por modo de algodão muito
alva... É esta uns gomos da mesma massa, que serve de divisão aos caroços.
(...) Costumam pois os moradores, quebrada a fruta, separar com um garfo
esses gomos intermédios para um prato, e se o querem cheio é necessário
quebrar mais fruta; mas no seu superlativo gosto pagam muito bem o tra-
balho em as quebrar, e suprem a sua pouquidade: falo das doces, em que
sempre há algum tal ou qual ácido; e tão tenros os gomos, que parecem
nata, ou manteiga (DANIEL, 2004, v. 1, p.450)
Figura 4. Selecionando-
-se as brotações mais
vigorosas, depois de
10 a 20 anos ter-se-á
frondosas árvores,
promovendo a
regeneração das áreas
degradadas, gerando
renda e emprego.
Figura 6. Com a
enxertia, os bacurizeiros
iniciam a frutiicação
com 4 a 5 anos,
reduzindo o tamanho
das árvores.
Os desaios do bacuri
Para obter a polpa, os agricultores partem a casca com um porrete
(Figura 7). Retirada a casca, encontram os “ilhotes” ou “línguas”, como
chamam a porção da polpa que não está aderida às sementes, e as
“mães”, nome dado à parte da polpa que envolve as sementes (caroços).
As sementes devem ser separadas cuidadosamente, com o uso de
tesouras, porque qualquer ferimento no caroço libera uma resina
que mancha a polpa. Por isso, os produtores de bacuri não utilizam
as máquinas despolpadoras existentes no mercado, mas esse problema
poderia ser evitado com o desenvolvimento de um equipamento
especíico para extração da polpa dessa fruta.
Foto: José Edmar Urano de Carvalho.
Figura 7. Corte
transversal de um fruto
de bacuri mostrando a
polpa.
266 Extrativismo Vegetal na Amazônia: história, ecologia, economia e domesticação
Figura 8. Diferentes
padrões de frutos,
mostrando a grande
diversidade existente.