Calligaris C O Inconsciente em Lacan em Knobloch F 1991 O Inconsciente Várias Leituras
Calligaris C O Inconsciente em Lacan em Knobloch F 1991 O Inconsciente Várias Leituras
Calligaris C O Inconsciente em Lacan em Knobloch F 1991 O Inconsciente Várias Leituras
Contardo Calligaris
O ensino de Lacan, como vocês sabem, se estende por 25
anos ou mais, segundo a data que se escolhe para começar a con-
tar, e é certo que, se tivéssemos que responder ao título "O In-
consciente em Lacan" de um jeito mais orgânico, precisaria falar,
talvez, de um primeiro, de um segundo e de um terceiro Lacan.
Além disso, de fato teria preferido o título "Lacan no Inconscien
te", talvez isso se explique depois.
Enfim, vou falar do "Inconsciente em Lacan" no momento
no qual Lacan fala mais do inconsciente. Vou escolher uma época
importante no ensino de Lacan, o começo dos anos 60. Se é que a
clínica lacaniana é diferente do que seria uma clínica propriamen-
te freudiana, e eu acredito que é, isso pode ser entendido como
implicando concepçócs distintas do inconsciente. Daqui a im-
portância deste começo dos anos 60. Para dar uma referência tex-
tual à qual vocês possam facilmente voltar, se quizerem, trata-se
dos primeiros capítulos do Seminário XI, "Os quatro conceitos
fundamentais da psicanálise" e do texto "Posição do inconscien-
te", que está nos Escritos. Este texto, "Posição do inconsciente",
tem uma relação com o que 1oi lalado ontem, particularmente
sobre Merleau-Ponty, pois ele resume a intervenção de Lacan no
mesmo de Bonneval, que foi mencionado.
colóquio
Vou introduzir, então, o que náo deixará de ser uma certa
vocës certamentee já notaram, se já tivee
simplificação deste jeito:
170 O INCONSCIENTE: VÁRIAS LEITURAS
tar-se dizendo que ele quer que algo mude. Ninguém apresenta-
172 OINCONSCIENTE: VÁRIAS LEITURAS
se a médico dizcndo que tem uma dor, e portanto qucr saber
um
S i(a)
m
A
seguir desejar.
Posso acrescentar uma fique mais
coisa para que isso apenas
dos
claro. Vocês se lembram, certamente, que em A interpretação
sonhos Freud escreve que qualquer sonho sempre seria
uma rea
se consideram os so-
lização do desejo. Isso parece fácil quando
está com fome
nhos alucinatórios das crianças, nos quais quem
180 O
INCONSCIENTE: VÁRIAS LEITURAS
alucina um sorvete de cocoe da cert0, um sonho realiza um
io. Mas fica muito mais complicado quando um dese-
sonho não é des-
sC tipo, não é alucinatório do objeto querido, o
que é extrema-
mente freqüente.
Mas Freud mantem até o
fim essa idéia do so-
nho comosempre sendo a realização de um desejo. Como então
o sonho seria
sempre a realização de um desejo? Se a
do descjo é poder desejar, que o realização
desejo poSsa enunciar-se, é já o
que o realiza.
Ainda tenho que acrescentar duas coisas. A
primeira é a se-
guinte: não dá para conceber este sujeito do inconsciente do qual
estou falando como uma entidade
ontológica, tanto menos que é
um
sujeito evanescente. Por que? Se consegui fazer-me entender
até aqui, esse sujeito é
algo que só existe à medida em que o sig-
nificante o representa, à medida na
qual fala, e é justamente à
medida na qual fala que ele já
não é mais ele, é o
desapareceu. Porque de repente
significante que o representa, então este sujei-
to é uma
pulsação.
O segundo ponto, mais importante talvez, é uma
que esse sujeito inconsciente seria diferente de um sujeito trans-
questão: no