Livro Quilombo Caiana

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SUMÁRIO

1. PROPRIEDADE PRIVADA X PROPRIEDADE COMUNITÁRIA.....

2. LUTAS HISTÓRICAS DOS MOVIMENTOS


NEGROS...................................

3. CONCEITO DE QUILOMBO................................................

4. HISTÓRIA.................................................................................................

5. DA IDENTIFICAÇÃO À TITULAÇÃO DA POSSE DA TERRA


QUILOMBOLA..................

6. ATIVIDADES ECONÔMICAS E RELAÇÕES SOCIAIS DE


PRODUÇÃO..................................

7. ANCESTRALIDADE...................................

8. OS “MATUTOS”......................................................

9. MIGRAÇÕES DE CAIANA DOS CRIOULOS PARA O RIO DE JANEIRO

10. MULHERES QUILOMBOLAS..............................................

11. A CULTURA EM CAIANA......................................

12. EDUCAÇÃO...................................................

13. SAÚDE NO QUILOMBO..............................................

14. ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DA COMUNIDADE


QUILOMBOLA CAIANA DOS
CRIOULOS................................................................
INTRODUÇÃO
Este livro é importante por vários motivos. Primeiro, por
ser o coroamento de um projeto que vem dando certo, ou seja,
da parceria do PET História/UFCG com a Comunidade
Quilombola Caiana dos Crioulos (Alagoa Grande). Entendemos
que o papel de uma universidade pública é justamente o de
produzir conhecimento que possibilite a emancipação dos
grupos e classes subalternas. Nesse sentido, a extensão
universitária é um pilar fundamental e pouco considerado
pelas administrações e por muitos professores universitários.
O encastelamento no interior das universidades com seus
intelectuais sem vínculos orgânicos com o mundo lá fora só
vem reforçar o sistema de exploração e opressão, pois não
contribui para romper com ele.
Ligado a esse pressuposto vislumbramos um segundo
motivo que justifica a importância desse livro. Trata-se
justamente de ser uma obra engajada e coletiva, escrita a
muitas mãos e com a parceria fundamental da própria
Comunidade Quilombola e dos petianos de História da UFCG.
O objetivo do mesmo é colocar no papel o resultado de
pesquisas acadêmicas que tiveram como ponto de partida a
memória e os relatos orais da própria comunidade. Assim, a
pesquisa universitária retorna, de forma didática, aos sujeitos
que agora serão leitores da sua própria História. Espera-se
que ele seja lido por toda a comunidade, de jovens a adultos, a
fim de que a História dos ancestrais quilombolas seja narrada
para a continuidade da luta por melhores condições de vida,
pelo combate ao racismo e por uma sociedade mais
igualitária. Campina Grande, 12 de janeiro de 2021.
1. PROPRIEDADE PRIVADA
X
PROPRIEDADE COLETIVA

No início da História da humanidade as pessoas viviam


em comunidades nas quais a propriedade era coletiva, ou seja,
a terra, a água, os peixes, os rios, as plantas, as frutas e os
animais pertenciam a todos e eram utilizados para a
subsistência de todo o grupo. Não existiam classes sociais,
nem desigualdade social, escravidão e propriedade privada.
A partir da descoberta da agricultura e da domesticação
dos animais as coisas se modificaram. Passou-se a geração de
um excedente, ou seja, de uma produção de riqueza para além
das necessidades de subsistência. Daí, então, as comunidades
igualitárias foram se desfazendo. Alguns membros foram se
apropriando da riqueza e escravizando outras pessoas,
surgindo as classes dos proprietários e a dos não
proprietários. Nesse contexto é que surgiu a propriedade
privada da terra e de toda a riqueza produzida, bem como a
escravidão e o patriarcado- (a opressão dos homens sobre as
mulheres). Segundo os historiadores, esse processo teria
ocorrido durante o Período Neolítico, por volta de 10.000 a. C
e ficou conhecido como Revolução Agrícola.
De lá para cá a humanidade foi dividida em classes:
dominantes e dominados, exploradores e explorados,
senhores e trabalhadores. Por exemplo: há mais de 300 anos
vivemos no sistema capitalista no qual a classe dominante é a
burguesia e a classe dominada é a trabalhadora. A burguesia é
dona da propriedade privada das terras, dos bancos, das
empresas, das fábricas, do comércio e vive de lucros obtidos
por meio da exploração dos trabalhadores que recebem
míseros salários para alimentar o patrimônio dos ricos.
No caso específico das terras no Brasil, desde a chegada
dos portugueses, em 1500, o que tem prevalecido são os
interesses dos latifundiários. O Brasil foi dividido em grandes
propriedades- (latifúndios)- e entregue aos senhores que
viviam na casa grande enriquecendo mediante a escravização
de milhares de africanos trazidos, à força, para trabalharem
para os brancos colonizadores. Os povos escravizados
também eram propriedade privada, pois pelas leis
portuguesas, pertenciam a um senhor, assim como a terra, o
boi e o engenho.
Foram quase 400 anos de escravidão no Brasil, uma vez
que, mesmo após a sua Independência, em 7 de setembro de
1822, o trabalho negro escravizado continuou sendo a base da
produção da riqueza para uma elite branca proprietária.
Contudo, o povo negro trabalhador soube resistir. Uma
das formas mais importantes de luta era a formação de
quilombos, quando se procurava fugir da escravidão e do
trabalho forçado nas propriedades privadas. Mesmo assim,
muitos negros e negras viveram e morreram debaixo do peso
da escravização, uma das marcas mais tristes da nossa
História Moderna.
A Abolição (1888) não veio pelas mãos de uma princesa
branca filha do imperador D. Pedro II que na verdade estava
ligado aos senhores de escravos. Um dos fatores fundamentais
para romper com a Escravidão na década de 1880 foram as
rebeliões das senzalas, as fugas dos escravizados e o
movimento abolicionista.
2. LUTAS HISTÓRICAS DOS
MOVIMENTOS NEGROS
É preciso mencionar que as conquistas de direitos sociais
para o povo negro e quilombola do Brasil é resultado de muita
luta dos movimentos negros do país. Não são presentes de
governos, mas conquistas arrancadas com muita força,
bravura e resistência dos movimentos sociais.
Depois da abolição da escravatura- (1888)- agora na
condição de libertos, a vida do povo negro brasileiro
continuou bastante difícil. Além do racismo enfrentado a cada
dia, os ex-escravos tiveram que se defrontar com o sistema
capitalista, alguns recebendo salários baixos, outros ficando
desempregados, além daqueles que continuaram nas fazendas
sob o domínio dos coronéis da terra como meeiros, foreiros,
arrendatários e moradores.
Entretanto, apesar das estruturas de dominação,
exploração e opressão racial, o povo negro soube se organizar
e resistir. Vejamos algumas formas de organização e luta:
❖ Após a Abolição da Escravidão (1888) e a Proclamação
da República (1889), foram criadas várias associações
dos homens e das mulheres de cor;
❖ Também houve a criação de uma imprensa negra
brasileira cujos jornais eram espaços destinados a
divulgar sua cultura e suas reivindicações políticas e
sociais;
❖ Em 1931 foi fundada a Frente Negra Brasileira com mais
de 20 mil associados, entre homens e mulheres negras. A
entidade mantinha escola, grupo musical e teatral, time
de futebol, departamento jurídico, serviços médicos e
odontológicos, curso de formação política, de artes e
ofício, assim como publicava um jornal denominado A
VOZ DA RAÇA;
❖ Em 1932 surgiu a Frente Negra Brasileira Socialista e o
Clube Negro de Cultura Social (São Paulo);
❖ Em 1939 foi criada, no Rio de Janeiro, a União Espírita da
Umbanda no Brasil (UEUB), federação que organizou o
Primeiro Congresso Nacional de Umbanda (1941) e que
lutava em defesa da liberdade de culto;
❖ Em 1944 foi fundado o Teatro Experimental do Negro,
um movimento político e cultural que pregava a
valorização social do negro através da arte, da educação
e da cultura. Lutavam por uma Segunda Abolição e
faziam a defesa de criação de uma associação das
empregadas domésticas e da criminalização do racismo;

Fonte: Museu Afro Brasil


SOLANO TRINDADE (1908-1974): Nasceu em
Recife, filho do sapateiro Manuel Abílio e da
quituteira, Dona Emerenciana. Na década de
1920, ainda jovem, ele se dedicou a compor
seus primeiros poemas. Em 1942 foi preso
pela ditadura varguista do Estado Novo por
escrever o livro cujo um dos poemas se
intitulava “Tem gente com fome”. O livro foi
apreendido pela polícia. Também participou
do Teatro Experimental do Negro e, em 1950,
juntamente com Margarida Trindade e Edson
Carneio, fundou o Teatro Popular Brasileiro,
na cidade de São Paulo, com sede na União
Nacional dos Estudantes. Também trabalhou
como artista plástico pintando vários
quadros a óleo.

Fonte: www.museuafrobrasil.org.br.

ABDIAS DO NSACIMENTO (1914-2011):


Bacharel em Ciências Econômicas e
Diretor fundador do Teatro
Experimental do Negro. Militante do
Movimento Negro foi um dos
organizadores do I Congresso do Negro
Brasileiro (1950). Em 1968, com o AI-5,
teve que se exilar para os Estados
Unidos. Ao voltar do exílio, em 1978,
foi um dos fundadores do Movimento
Negro Unificado. Nas eleições de 1982
ficou na primeira suplência para
deputado federal pelo PDT, assumindo
o mandato em 1983. “Sua atuação
como deputado foi centrada na defesa
dos direitos humanos e civis dos
negros no Brasil. Enfocando o racismo
e a discriminação racial como questões
nacionais, propôs o estabelecimento de
feriado nacional no dia 20 de
novembro, aniversário da morte de
Zumbi dos Palmares”. Fonte: CPDOC.
MARIA DE LURDES VALE NASCIMENTO: Assistente social, jornalista,
professora e ativista contra o racismo, fundadora do Teatro
Experimental do Negro, no qual criou o Departamento Feminino do
Teatro Experimental do Negro e também do Jornal O QUILOMBO, no
qual mantinha uma coluna intitulada FALA A MULHER. Destacou-se no
Serviço de Assistência Social da Guanabara como árdua defensora da
“infância negra”. Ao lado de mulheres como Ruth de Sousa, Léa Garcia
e Guiomar de Mattos, Maria de Lurdes defendia a regulamentação do
trabalho doméstico. (Fonte: Giovana Xavier)

❖ Em 1950 foi realizado o I Congresso do Negro Brasileiro


no qual foram debatidos temas como: a valorização da
África como matriz da nossa formação histórica, o
combate ao racismo, a valorização da negritude, a defesa
da posse das terras pelos quilombolas, a regulamentação
da profissão de doméstica, dentre outros;
❖ Em 1978 um grupo de artistas e intelectuais negros
fundaram o Centro de Cultura e Arte Negra que publicou
os Cadernos Negros, uma série de poesias escritas por
autores negros;
LÉLIA GONZALEZ (1935-1994): mineira,
filha de um negro ferroviário e uma
doméstica, em 1942 migrou para o Rio de
Janeiro onde vai trabalhar de babá.
Graduou-se em História e Filosofia e
exerceu a profissão de professora da
rede pública. Concluiu o mestrado em
Serviço Social e o doutorado em
Antropologia. Se tornou professora
universitária- (PUC-RJ). Se destacou pela
sua militância política no Movimento
Negro Unificado, do qual foi uma das
fundadoras. Também atuou
politicamente no Instituto de Pesquisas
das Culturas Negras (IPCN), no Coletivo
de Mulheres Negras N’Zinga, do qual foi
uma das fundadoras e no Conselho
Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).
Também atuou em partidos como o PT e
o PDT.

Fonte: www.geledes.org.br.

❖ Em 1978 foi fundado o Movimento Negro Unificado


(MNU), em plena Ditadura Militar, cujo objetivo era o de
conscientizar a população negra das desigualdades
raciais e lutar pela melhoria de vida, pelo enfrentamento
às desigualdades sociais e pelo combate ao racismo;

Fonte: MNU
❖ Entre os anos de 1986-88, parte do Movimento Negro se
manifestou por meio da I Convenção do Negro pela
Constituinte, realizada em Brasília, cuja proposta a ser
encaminhada à Assembleia Constituinte foi a seguinte:
que fosse “garantido o título de propriedade da terra às
comunidades negras remanescentes de quilombos, quer
no meio urbano ou rural”;

Fonte: Jornal Brasil de Fato, 2019.

Portanto, cabe destacar que conquistas como as políticas


de cotas nas universidades, as Leis 10.639/2003 e
11.645/2011, a PEC das domésticas, a criminalização do
racismo e a titulação de terras quilombolas, são resultados de
enfrentamento, organização e luta dos movimentos negros.

Inclui no currículo oficial Inclui no currículo


oficial da rede de
da Rede de Ensino a ensino a
obrigatoriedade da obrigatoriedade da
temática da "História e temática da “História e
Cultura Afro-Brasileira". Cultura Afro-Brasileira
e Indígena”.

LEI 10.639/2003 LEI 11.645/2008


Os governos e o Estado Brasileiro nada mais fazem do que
algumas concessões diante da pressão dos movimentos
sociais. É o caso da conquista legal advinda com a Constituição
de 1988 que no Art. 68 do Ato das Disposições Transitórias
delibera o seguinte:
“Aos remanescentes das comunidades
dos quilombos que estejam ocupando
suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes
os respectivos títulos.”

Apesar da letra da Constituição, a primeira titulação de


terra quilombola no Brasil viria a ocorrer apenas no ano de
1995: a Comunidade de Boa Vista, no estado do Pará. Na
década de 1990 a Coordenação Nacional de Comunidades
Negras Rurais Quilombolas- (CONAQ)- intensifica a pressão
sobre o governo federal para que fossem tomadas medidas no
sentido da regularização fundiária das terras. Em 20 de
novembro de 2003 foi, então, assinado o Decreto 4.887 cujo
teor é o seguinte:

“Regulamenta o procedimento para a


identificação, reconhecimento, delimitação,
demarcação e titulação das terras ocupadas
por remanescentes das comunidades dos
quilombos de que trata o art. 68 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias”.
MARCHA ZUMBI DOS PALMARES (BRASÍLIA, 20 DE
NOVEMBRO DE 1995)

Fonte: Acervo da Fundação Perseu Abramo. Crédito: Fernando Cruz.

MARCHA DAS MULHERES NEGRAS BRASILEIRAS


(2015)

Fonte: AMNB: https://amnb.org.br/.


PARTICIPAÇÃO DA PARAÍBA NA MARCHA DAS MULHERES
NEGRAS BRASILEIRAS (2015)

Fonte: Acervo da Bamidelê (Organização de Mulheres Negras na Paraíba) –


2015.

Como podemos ver nas imagens, homens e mulheres


negras continuam lutando atualmente com toda força
necessária para combater o racismo, o machismo e pela
verdadeira emancipação política do conjunto do povo negro
brasileiro.
As mulheres negras também tem tido um grande papel
histórico nos movimentos sociais negros. No caso delas, além
da opressão racial (racismo) e da exploração econômica
(capitalismo), ainda têm que enfrentar no dia a dia a opressão
do patriarcado (machismo). Contudo, como mostra a História,
as mulheres negras vêm combatendo essas três estruturas
que pesam sobre elas. Um dos exemplos é justamente a
realização da Marcha das Mulheres Negras Brasileiras, na qual
as mulheres negras paraibanas têm participado ativamente.
Apenas com luta e resistência podemos transformar a
sociedade e construir um mundo mais igualitário e plural.
3. CONCEITO DE QUILOMBO
Durante muito tempo o conceito de quilombo foi utilizado
para se referir a grupos de negros que fugiam da escravatura
e se escondiam em lugares de difícil acesso. Enquanto durou a
escravidão- (cerca de 1550-1888)- a definição de quilombo
que vigorou foi a seguinte:

Em 1740, reportando-se ao rei de Portugal,


o Conselho Ultramarino valeu-se da
seguinte definição de quilombo: "toda
habitação de negros fugidos, que passem de
cinco, em parte despovoada, ainda que não
tenham ranchos levantados e nem se achem
pilões nele".

Visto por esse ângulo, muitas comunidades hoje ficariam


de fora, uma vez que nem todas haviam se formado a partir de
uma história de povos fugidos da escravidão. As pesquisas de
vários antropólogos vêm procurando alargar o conceito
buscando incluir outras comunidades cuja história não se
relacione diretamente com a fuga da escravidão.
Com a Constituição de 1988 o conceito de quilombo foi
ampliado e, em 2003, o governo federal assinou um decreto
no qual fica definido os critérios para ser uma comunidade
quilombola:
DECRETO 4.887/2003

1) auto identificação;
2) trajetória histórica própria;
3) relações territoriais específicas;
4) ancestralidade negra relacionada
com resistência à opressão histórica;

Desse modo, uma comunidade quilombola pode ser


qualquer grupo formado por pessoas negras que assumam
essa identidade, ou seja, que se considerem e se afirmem
como sendo quilombola.
Também pode ser considerada a relação que essa
comunidade tem com o território em que vive há tempo com
tudo que tem no seu interior: a terra, o rio, a água, a serra, os
moradores, etc. A comunidade quilombola, ao se afirmar
dessa forma, carrega consigo a defesa de um território que
tem um significado muito importante para os quilombolas.
Uma comunidade para ser considerada quilombola
também deve apresentar uma História cujos ancestrais, ou
seja, seus antepassados, tenham sido vítimas de opressão e
exploração, mas também de luta e resistência.
Assim, fugidos ou não da escravidão, todas as
comunidades que se assumam quilombolas, que tenham na
sua História a opressão e a resistência e que lutem pela defesa
de um determinado território, podem ser definidos como
quilombolas.
4. HISTÓRIA

Não existem provas documentais ou pesquisas de


historiadores que demonstrem com firmeza as origens de
Caiana dos Crioulos. O que temos são algumas hipóteses sem
respaldo em fontes históricas confiáveis.

Uma primeira hipótese foi levantada


pelo historiador José Avelar Freire e
consiste na ideia de que os pioneiros de
Caiana se instalaram no território
1ª durante o século XVIII, fugindo da região
de Mamanguape, após uma rebelião
ocorrida depois do desembarque de um
navio negreiro que aportou na Baía da
Traição.
Uma segunda hipótese teria sido
apresentada pelo historiador Celso
Mariz, a que relacionava as origens de
Caiana à Emancipadora Areiense, um
2ª movimento abolicionista na cidade de
Areia que libertou seus escravos antes
da Lei Áurea (1888).

A terceira hipótese que aparece no


Primeiro Relatório Antropológico
aponta que os primeiros negros a
habitarem o atual território de Caiana
3ª haviam fugido do Quilombo dos
Palmares, após o massacre que
culminou no assassinato de Zumbi, em
20 de novembro de 1695.

Já Seu João Téo, morador de Caiana


com 85 anos no ano de 2010 apresenta
4ª uma quarta hipótese, a de que são
descendentes de uma gente que veio
da região do Cariri.
A quinta hipótese é relatada pelo
fazendeiro João de Arruda Câmara à
antropóloga Ester Fortes durante a
constituição do segundo Relatório
Antropológico. Segundo ele, a
5ª Comunidade de Caiana descendia de
ex-escravos do seu avô Eufrásio de
Arruda Câmara que teria, inclusive,
cedido as terras hoje ocupadas pelas
famílias de Caiana.

Diante de várias versões diferentes e sem comprovação


em provas documentais que são tão importantes para os
historiadores escreverem a História, resta-nos analisar as
fontes orais, ou seja, os relatos de memórias das pessoas mais
velhas da comunidade.
Nesse sentido, mesmo não sabendo de onde vieram e
quando chegaram os negros e as negras de Caiana ao lugar em
que hoje se encontram, o mais importante é constatar que há
mais de 100 anos eles vivem uma relação histórica com esse
território.
Analisando os relatos orais, até onde a memória dos
moradores mais velhos pode atingir, percebe-se que o
quilombo já passa muito dos seus cem anos de vida. João Teó
nasceu em Caiana em 1924 e relatou para a pesquisa
antropológica, que seu pai já havia nascido e vivido no mesmo
lugar. Dona Cecília, uma senhora de 77 anos, afirmou o
mesmo durante a pesquisa. Também o senhor Mariano (com
71 anos em 2010) e Dona Dó (com 74 anos em 2010)
relembraram da convivência com seu avô Antônio Paulo nas
terras de Caiana.
Em 1945 o jornalista Péricles Leal visitou a Comunidade
de Caiana e escreveu um artigo para a Revista Manaíra
intitulado “Um pedaço da África na Borburema”.

Fonte: Revista Manaíra, 1945.

Ele nos conta que subiu a serra montado em um animal e


acompanhado de um guia que conhecia o caminho até a
comunidade. O jornalista também procurava conhecer as
origens de Caiana. Foi recebido por um “preto velho” que lhe
serviu café, em seguida, começaram a prosear. E, assim, o
quilombola falou ao jornalista sobre o passado de Caiana dos
Crioulos:

“__ A história de Caiana data de quasi um século.


Contou-na meu pai (que Deus o tenha!), quando se
achava á morte. É simples e breve. Eis o que todos
contam e o que disse o finado meu pai. Logo após a
proclamação da “Lei Áurea”, um bando de libertos-
uns oitenta, entre homens e mulheres- que
pertenciam a senhores dos arredores, não sabendo
para onde ir, e temendo as peças do Destino,
decidiram escolher um lugar onde poderiam
trabalhar e progredir para os seus filhos. Uns
tomaram o rumo da Serra Grande- que fica do
outro lado- e o restante para aqui construíram as
suas primeiras choças. A terra prometida aqui
estava, virgem, ainda, das enxadas, e as árvores
seculares ainda não haviam sentido o gume dos
machados”. (Revista Manaíra, 1945)
Em 1949, Ivaldo Falconi, um filho de Alagoa Grande,
escreveu um artigo para o Jornal Correio das Artes no qual já
relatou o seguinte:

“Nenhum dos negros que interrogamos mesmo os


mais velhos, têm a menor ideia a respeito da
origem dos primeiros habitantes da região dos
quais são eles descendentes. Nenhum, igualmente
sabe dar qualquer informação sobre a vida e sobre
os fatos mais recentes da história daquela
comunidade. José Punaro, negro de quase setenta
anos e que é o chefe do agrupamento, apenas nos
mostrou as casas em que moraram seu pai e seu
avô. Não resta dúvida, pois, de que a comunidade
rural dos negros de Caiana tem mais de cem anos e
de que muito antes da Abolição ela já existia. Tudo,
por isso, leva a crer que se trata dos restos de um
quilombo, formado muito antes da Abolição, por
escravos fugidos dos engenhos de Campina Grande,
Alagoa Nova, Areia e Alagoa Grande. Vivendo em
uma serra de acesso difícil e acidentado e ao tempo
coberta de densa vegetação, longe das estradas,
permaneceram ali ignorados”. (In: Janailson
Macedo Luiz)

Se levarmos em consideração que os dois jornalistas


visitaram e conversaram com o povo negro de Caiana nos
anos de1945 e 1949, já se vão aí mais de 70 anos. E mais:
quando Ivaldo Falconi conversou com o chefe, José Punaro,
este já estava com 70 anos de idade e mostrou a casa onde
moraram seus avôs e seus pais. Dessa forma, não resta dúvida
que o Quilombo Caiana dos Crioulos já existia ao menos no
século XIX (1801-1900) e, talvez, remonte aos tempos da crise
do regime escravista.
Mais do que as especulações sobre as origens, importa
afirmar com certeza que há mais de cem anos o povo negro de
Caiana vive e convive no mesmo lugar de hoje. Isso já
demonstra uma relação histórica de convivência e sentimento
de pertencimento a esse território, vivendo como uma família
a exploração e a opressão racial.
5. DA IDENTIFICAÇÃO À POSSE
DA TERRA QUILOMBOLA
Para que uma comunidade quilombola obtenha a titulação
do território é preciso que o processo passe por algumas
etapas:

IDENTIFICAÇÃO: Deve começar por uma


manifestação de interesse por parte da
1ª própria comunidade, ou seja, por um
auto reconhecimento.

RECONHECIMENTO: a comunidade deve


procurar a Fundação Cultural Palmares
para fazer sua inscrição como
2ª quilombola. Deve ser feita por
representantes da associação
quilombola.

DELIMITAÇÃO: construção de um laudo


antropológico delimitando o território e
tudo que possa ser apresentado pela

memória da comunidade.
DEMARCAÇÃO: após a realização do
laudo antropológico e delimitado o
território, o processo é encaminhado ao

INCRA para fazer a demarcação.

DESINTRUSÃO: processo de retirada do


território de todas as pessoas não
5ª quilombolas que estejam morando ou
exercendo algum tipo de produção no
mesmo.

No caso da Comunidade Quilombola Caiana dos Crioulos o


processo tem inicio em julho de 1997, quando os
representantes de Caiana enviaram uma carta à Fundação
Palmares na qual relatavam e buscavam ajuda para resolver o
problema da terra.
Na carta, os moradores diziam o seguinte:

“Nós, abaixo assinados da comunidade negra de Caiana dos


Crioulos queremos apresentar a esta entidade que defende os
direitos dos negros, nosso problema. Somos uma comunidade
de umas trezentas famílias, todas de negros, remanescente de
quilombo. Pelos testemunhos dos mais velhos, nossos pais,
avós e tataravós nasceram e moraram aqui. Nosso povoado
está encravado numa serra que pertence ao município de
Alagoa Grande, cidade distante 100 quilômetros da cidade de
João Pessoa, capital do estado da Paraíba. O nosso grande
problema, o maior de todos, é que não temos terra para
plantar, só temos um pedacinho de terra ao redor da casa que
nos permite de morar no nosso chão. Vivemos trabalhando
em terra de fazendeiros que cercam nossa comunidade,
pagando foro. Este ano até suspendemos de pagar porque
achamos que temos o direito a estas terras. Apelamos a esta
Fundação para que nos assessore e ajude a alcançar o direito
à terra que foi nossa. Por causa da falta de terra, mais de cem
homens entre adultos e jovens estão no Rio de Janeiro para
onde migraram temporariamente para poder sustentar a
família. Nossa situação é muito difícil, tem muita pobreza e
nosso futuro incerto. Temos problemas de estrada, água,
assistência em geral. Este abaixo assinado está sendo
assumido pela comunidade na ocasião da posse da nova
diretoria da associação de Moradores de Caiana dos
Crioulos”. (Relatório de Identificação, 1998)
Após essa manifestação da comunidade se auto
identificando como comunidade quilombola, o próximo passo
foi a elaboração do Relatório de Identificação. A pesquisa e a
elaboração do mesmo foram feitas e assinadas pela
antropóloga Vânia Fialho e Sousa e pelo sociólogo Ricardo de
Paiva em um convênio estabelecido entre a Universidade
Federal de Alagoas e a Fundação Cultural Palmares. O
Relatório foi concluído no ano de 1998.

A Fundação Cultural Palmares foi instituída pela


Lei Federal 7.688, de 22 de agosto de 1988. Seu
objetivo é “promover a preservação dos valores
culturais, sociais e econômicos decorrentes da
influência negra na formação da sociedade
brasileira”.
Cabe a ela, o processo de certificação que
reconhece as comunidades quilombolas.

6
Após o envio do Relatório de Identificação para a
Fundação Palmares, ocorreu o processo de certificação de
Caiana. A certidão foi emitida em 30 de maio de 2005 e
publicada no Diário Oficial da União do dia 8 de junho de
2005. Enfim, os primeiros passos já haviam sido dados. A
comunidade já havia se auto reconhecido como quilombola e
a Fundação Palmares, oficialmente, a certificou. Os próximos
seriam realizados pelo INCRA, nesse caso, a demarcação e
titulação da área territorial.
O Relatório de Identificação (1998) propôs a delimitação
do território em três áreas:

CAIANA I CAIANA II CAIANA III

552,56 199,46 390,02


HECTARES HECTARES HECTARES
Assim, o processo foi encaminhado ao INCRA e em
outubro de 2006 foi dado inicio ao processo de regularização
da área delimitada. Porém, um técnico do INCRA constatou
um problema. As área I e II estavam distantes 9 Km da área III
(nesta é que vive a comunidade atualmente) e já eram
divididas em pequenas propriedades. Além disso, os
quilombolas de Caiana dos Crioulos não tinham uma relação
histórica com o território das áreas I e II. Por conta disso, foi
preciso fazer outro Relatório de Identificação e Delimitação
do território quilombola.

2º RELATÓRIO
1º RELATÓRIO (1998)
(2011/2015)

Este novo Relatório foi elaborado entre os anos de 2011


e 2013 e se encontra assinado pela antropóloga Maria Ester
Pereira Fortes. Nele, as ÁREAS I e II ficaram de fora do
território quilombola, pois a relação histórica que a
comunidade mantem é apenas com a ÁREA III, ou seja, com as
terras da Fazenda Sapé, de propriedade do da família Arruda
Câmara.

O problema é que no primeiro


E agora?
Relatório a ÁREA III havia
ficado de fora do território
quilombola porque nele o
INCRA já havia constituído os
Assentamentos de SAPÉ (9 de
maio de 1996) e o de CAIANA
(10 de maio de 1996). Ocorre
que os moradores de Caiana
dos Crioulos agora ficaram
sem terra para trabalhar, já
que a Fazenda Sapé foi
desapropriada para constituir
assentamentos da reforma
agrária.

E agora, como resolver o problema da comunidade de


Caiana dos Crioulos se as terras da Fazenda Sapé estavam nas
mãos de trabalhadores assentados? Estes trabalhadores
também tinham vínculos coma Fazenda Sapé, pois antes de
assentados foram posseiros e moradores daquela
propriedade. Assim, é justo que eles tivessem direito aquelas
terras assim como também vale ressaltar que os quilombolas
de Caiana dos Crioulos não desejariam disputar aquelas terras
com os assentados.
DICIONÁRIO
Assentamento da reforma agrária é a terra
desapropriada em favor dos trabalhadores
rurais sem terra. A luta é dirigida e organizada
pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), criado desde o ano de 1984.
Assentado é o trabalhador que vive no
assentamento após a conquista da terra.
No segundo Relatório, assinado por Maria Ester Fortes, a
questão se resolveu da seguinte maneira:

FAZENDA SAPÉ

Fonte: Relatório Antropológico.

ÁREA III
ASSENTAMENTO ASSENTAMENTO QUILOMBO
SAPÉ CAIANA CAIANA DOS
CRIOULOS

Ocorre que durante a realização do segundo Relatório de


Caiana percebeu-se que a AREA III, correspondente ao
território da Fazenda Sapé, era bem maior do que aquela que
fora desapropriada para constituir os dois assentamentos.
Viu-se, então, que havia uma parte da fazenda que não havia
sido desapropriada e não se encontrava ocupada por
trabalhadores assentados. Essa parte de terra continuava nas
mãos da família Arruda Câmara.

RAQUEL SAULO DE JOÃO DE


CRISTINA ARRUDA ARRUDA
ARRUDA CÂMARA CÂMARA
CÂMARA DE
MELO (25% da área) (25% da área)
(50% da área)

Portanto, a elaboração do segundo Relatório


Antropológico vai justamente delimitar esse território como
pertencente à Comunidade Quilombola da Caiana dos
Crioulos. Eram terras da Fazenda Sapé de Alagoa Nova,
situadas entre os municípios de Alagoa Grande e Matinhas.
Ainda assim, esse território (ÁREA III), ainda teve outra
divisão.

ÁREA III
Nos anos 1980, o território foi dividido
em dois (duas associações)

Caiana do Caiana dos


Agreste- (não se Crioulos
identifica como
(reconhecida
quilombola e
comunidade
ficou fora do
quilombola)
Relatório)
Outro problema considerado pelos pesquisadores
durante a escrita do relatório tem a ver com a questão da
propriedade coletiva ou individual privada. Alguns moradores
que possuíam o cadastro do “INCRA DA TERRA” de forma
individual a fim de ter direito a aposentadoria e benefícios
sociais como o auxílio maternidade optaram por não abrir
mão da sua pequena posse de terra em favor de um “INCRA
ÚNICO” e, assim, incluir sua terra individual no grande
território coletivo e quilombola.
A Fazenda Sapé de Alagoa Nova, agora desapropriada em
favor da Comunidade Quilombola de Caiana dos Crioulos
comportava as seguintes benfeitorias:
CASA GRANDE DA FAZENDA SAPÉ

Fotografia feita por Lúcia de Fátima Júlio


INTERIOR DA CASA GRANDE

Fonte: Relatório Antropológico

ANTIGO ENGENHO DA FAZENDA

Fotografia feita por Lúcia de Fátima Júlio


PAINEL FOTOGRÁFICO DE CAIANA DOS CRIOULOS
IMAGENS DO RELATÓRIO ANTROPOLÓGICO (2015)
NOME NASCIMENTO Nº DE PESSOAS
RESIDENTES NO
MESMO DOMICÍLIO
Alzira Maria dos Santos 1961 05

Vera Lúcia Sobral do Nascimento 1980 06

Hilton Jorge do Nascimento 1971 04

Hermenegilda Josefa da Conceição 1941 02


1937
Antônio Manuel da Silva

Genildo Luís da Costa 1970 07


1975
Paula F. Do Nascimento

Adriano Sérgio da Silva 1987 07

Alane Maria Silva dos Santos 1991 04


1983
José Bezerra Cabral

Ana Francisca Da Conceição 1939 02


Adriana Severina Da Silva Alves 1991 02

Antônia Gomes da Silva 1960 05

Antônia da Silva Nascimento 1950 05

Manoel João do Nascimento 1952

Antônia Filismino dos Santos 1963 07

Antônio F. da Silva 1960

Antônio Sebatião Felismino 1962 14

Severina M. Felismino 1957

Antônio do Nascimento de Oliveira 1986 02

Josilene Salvino dos Santos 1992

Carlos Luís da Silva 1973 03

Cecilia Josefa Da Silva 1938 05

Edice dos Santos Silva Nascimento 1978 04

Edite José da Silva 1944 04

Manoel dos Santos Silva 1944

Elenildo do Nascimento Santino 1977 04

Josefa M. de Lima Nascimento 1978

Elza Ursulina do Nascimento 1974 05

José dos Santos S. Segundo 1973

Inês Luzia da Silva 1960 09

Manoel Severino da Silva 1959

Iraci Maria da Conceição Araújo 1971

João Cabral de Araújo 06

Jailma da Silva Xavier 1988 03

Nivaldo Nascimento Silva 1984

Jailton de Assis da Silva 1979 03

Macilene da Silva 1983

Janio Severino N. da Silva 1988 03

Adriana dos Santos Ferreira 1989

Janno Sérgio da Silva 1989 02

Jarson Severino Nascimento da Silva 1991 03


João Januário da Silva 1942 06

Neuza Josefa da Silva 1945

João Santino da Silva 1963 09

Beatriz M. da Silva Santino 1964

João Ursulino Caetano 1949 07

Hilda P. do Nascimento 1949

José Alcides 1986 04

Josefa do Nascimento Silva Alcides 1986

José da Silva 1938 03

Francisca Belisia da Silva 1936

José Severino da Silva 1943 01

José Pereira de Lima 1940 03

Maria do Nascimento Lima 1948

José Joaquim do Nascimento 1953 02

Josefa Severino do Nascimento 1954

José do Nascimento 1979 03

Luciana da Silva do Nascimento

José Franco de Araújo 1978 01

José Augusto Silva 1967 04

Maria da Penha da Silva Nascimento 1980

Josefa de Lourdes da Silva Santos 1981 04

Mariano Salvino do Nascimento 1977

Josefa Joana da Conceição 1946 02

Josefa do Nascimento Santino 1978 06

Luiz Manoel da Silva 1975

Josefa Martins dos Santos 1961 05

Josefa Ana do Nascimento Antonio 1942 07

Josefa Tavares de Oliveira 1972 03

Cleudo de Oliveira 1970

Josefa Vitorino 1941 02

Josenilda Bezerra de Almeida Silva 1975 03


Brasil
José Brasil Firmino

1976

Lúcia Maria da Silva 1972 02

Maria Francisca da Silva 1975

Lúcia Maria Martins da Silva 1984 04

Ivanildo dos Santos 1986

Lucilene da Silva Nascimento 1983 04


Francisco
1978
Severino Francisco do Nascimento

Luzinete Martins dos Santos da Silva 1961 02

Manoel Carlos da Silva 1978 04

Maria Nazaré da Silva Galdino 1982

Manoel Firmino Luís 1940 01

Manoel Martins dos Santos 1953 09

Maria Salvino dos Santos 1965

Manoel Pereira do Nascimento 1975 02

Manuel Querino dos Santos 1944 03

Inês Ana dos Santos 1948

Márcia Pereira Tavares 1977 05

Francisco Pereira Tavares 1971

Marcelo Faustino do Nascimento 1981 05

Maria Aparecida da Silva Nascimento

Maria Ana do Nascimento Silva 1959 05

José Antônio da Silva 1959

Maria Benvinda da Silva 1936 02

Maria da Penha Almeida de Lima 1950 05

José Santana 1951

Maria das Dores Silva 1977 06

José Jorge do Nascimento

Maria das Neves Elias da Silva 1949 04

Maria do Carmo Silva 1932 01

Maria de Fátima Silva Lima 1961 07


Severino Pereira de Lima 1962

Maria de Jesus Alcides dos Santos 1972 07

José dos Santos Silva

Maria Firmino do Nascimento 1955 05

Genival Manuel do Nascimento 1951

Maria José da Silva 1956 04

José Santino da Silva 1960

Maria dos Santos Silva 1967 08

Antônio Sebastião da Silva 1965

Maria Isabel da Conceição

Maria Nazaré Pereira dos Santos 1972 05

José dos Santos Silva 1972

Maria Narcisa Benvinda 1939 01

Maria Severina da Conceição 1929 02

Maria Severino Augusto 1964

Mariano José do Nascimento 1944 04

Severina Maria do Nascimento 1950

Marinalva do Nascimento 1977 06

Noemi Ursulino do Nascimento 1946 02

Olivia Josefa da Silva 1945 01

Rita do Nascimento Silva 1957 04

José Antônio da Silva 1955

Rosilda Salviano 1971 04

Roberto Apolinário da Silva 1979

Rosilda Sobral da Silva 1977 06

Antônio Felismino do Nascimento 1976

Rita Miguel 1977 03

Rosildo Severino da Silva 1968 07

Claudenice Gomes da Silva 1973

Rosinalda Cabral de Araújo 1982 03

Antônio Rufino da Silva 1982


Rosineide Santino da Silva 1981 06

Ricardo Firmino do Nascimento 1977

Sebastiana da Conceição 1955 02

Sebastiana Ursolino Alves 1980 05

José Carlos Nascimento

Sebastião Pereira Tavares 1962 05

Lúcia da Silva Tavares 1962

Severina Luzia da Silva 1967 05

Sérgio Manoel da Silva 1965

Severina Gemerias de Alcântara 1947 03

Severina do Ramo da Silva 1980 02

Severina Maria da Silva Santos 1974 05

Severino Manuel dos Santos 1971

Severino do Nascimento Lima 1980 02

Maria José de Lima 1973

Severino José do Nascimento 1951 04

Severina Felismino do Nascimento 1956

Severino Sebastião da Silva 1963 05

Josefa Severino Augusto 1971

Severino Antônio do Nascimento 1936 01

Severino Jovino do Nascimento 1962 06

Josefa da Silva Nascimento 1964

Ulisses Faustino do Nascimento 1951 02

Maria José Faustino do Nascimento

José Guilherme Xavier 1921 02

Maria João da Silva 1948

Fábio Xavier de Souza 1988 03

Ana Alice Marques da Silva 1983

Francisco Guilherme Xavier 1970 03

Marines Brasil Firmina Xavier 1969

Manoel Guilherme Xavier 1920 02


André Guilherme Xavier 1956 06

Josefa de Fátima da Silva Xavier 1956

Irene Maria Santino 1957 01

Josefa Rodrigues de Lima Xavier 1956 02

José Guilherme Xavier Irmão 1955

Severino Guilherme Xavier 1962 11

Maria das Neves 1961

Ornila Da Conceição 1927 03

Lídia Maria da Conceição 1936 02

Lucélia Diniz dos Santos Silva 1985 02

Francinaldo da Silva Xavier 1981

José Pereira Lima 1940 02

Maria das Dores Silva 1932

Maria Das Dores Da Silva 1958 06

Mílton Martins da Silva 1959

Fonte: Relatório Antropológico.

O GRANDE DIA: A IMISSÃO DE POSSE


DO TERRITRIO
Em 03 de fevereiro de 2020, foi feita a imissão de posse
do território para a comunidade Caiana dos Crioulos. O título
foi entregue à comunidade pelo superintendente do INCRA na
Paraíba, Kleyber Nóbrega e a secretária nacional de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial, em uma cerimônia que contou
com a presença destas autoridades, de lideranças quilombolas
e da comunidade em geral.
Fonte: http://conaq.org.br.

A titulação de posse da terra quilombola representa uma


reparação histórica para o povo negro que foi explorado pelo
fazendeiro daquela região.

EDNALVA RITA DO
NASCIMENTO “Saber que agora essas famílias
podem plantar sem limites e com
toda liberdade, isso pra nós é
glorioso, é dar aquele suspiro de
alívio porque agora sim, temos
terra, temos liberdade, teremos
sobrevivência” Fonte: Conaq.
A cerimônia de posse foi marcada pelo discurso da
presidente da Associação dos Moradores da Comunidade
Quilombola da Caiana na época, Ednalva Rita do Nascimento
(Nalva). Ela leu uma carta em nome da comunidade,
destacando o pertencimento dos quilombolas com a terra e a
luta pela titulação.

Fonte: http://conaq.org.br.
Carta da comunidade que foi lida no evento de entrega do
documento de imissão de posse:

“FINALMENTE A TERRA…”

03/02/2020

“Esta terra que estamos pisando, finalmente é nossa. Demorou, mas


chegou este dia. Foram muitos anos de espera, de dúvidas, decepções.
Mas agora estamos pisando (convida todo mundo a pisar com força)
aquilo que nos pertence. Nossos antepassados trabalharam aqui e
derramaram suor, sangue e lágrimas por serem escravizados. Nos
deixaram esta herança que nunca nos foi reconhecida. As pedras e as
paredes do Engenho e da Casa Grande guardaram os gritos de dor dos
corpos martirizados do nosso povo em nome do preconceito, ganância
e desamor. Mas um cidadão chamado Luís Inácio Lula da Silva, depois
de ouvir os protestos dos Quilombolas do Brasil, no vinte de novembro
de 2003, como presidente promulgou o decreto 4887 que reconhecia e
regulamentava os territórios quilombolas, garantindo o direito
sagrado aos descendentes dos escravizados de possuir sua terra. O
caminho foi longo e complicado: até agora somente SENHOR DO
BOMFIM (Areia) GRILO (Riachão de Bacamarte) conseguiram este
direito. Agora é nossa vez. Tem mais quarenta comunidades
quilombolas na Paraíba que estão na lista de espera. Temos que
agradecer a resistência dos nossos antepassados, os movimentos
quilombolas, as muitas pessoas da Caiana e de fora que acreditaram
que isto era possível. O Ministério Público Federal (MPF) e a
Defensoria Pública da União (DPU) tiveram um papel fundamental
como também as profissionais do setor quilombola do INCRA. AACADE
e CECNEQ estiveram sempre presentes nesta jornada. Apesar de tanto
desmantelo em que se encontra nosso país, ainda tem muita gente
séria que acredita na justiça e na igualdade. O caminho da libertação
da escravidão é comprido: nesta luta muita gente tombou, foi
esmagada e silenciada. Infelizmente ainda hoje isso acontece. Este aqui
é um passo rumo a libertação. Ainda tem muito preconceito contra os
negros, os pobres: nossos direitos custam a chegar. As políticas
públicas estão sendo destruídas. Nosso país, por meio de muitos de
seus representantes, nos coloca de lado, nos considera inferiores. Este
é o momento de afirmar e gritar nossa dignidade, nosso valor, nossos
direitos: existimos e queremos vez e lugar. Tudo se conquista com
consciência e luta”.
“VIVA A NOSSA TERRA, VIVA A CAIANA DOS CRIOULOS, VIVA OS
QUILOMBOS.” Fonte: Conaq.
Em seguida, ao som das músicas tradicionais, as famílias
que compõem a comunidade realizaram uma caminhada até a
casa-sede da antiga fazenda, onde a assinatura do termo de
posse foi comemorada com fogos de artificio.
Após a solenidade, os morados da Comunidade de
Caiana, as autoridades e convidados dançaram ciranda e
comeram uma favada para comemorar.

Fonte: https://www.gov.br/incra/pt-br.
Fonte: http://conaq.org.br.

Fonte: http://conaq.org.br.
6. ATIVIDADES ECONÔMICAS E
RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO
´´Bom dia a todos vocês/ Hoje aqui nesse lugar/ Sou Edite cirandeira/ Vim aqui
apresentar/ Peço aqui por gentileza/ Um pouquinho de atenção/ Pra falar de
uma líder/ Com carinho e emoção/ Essa é Margarida Alves/ Uma mulher
batalhadora/ Em busca pelos direitos/ Ela foi uma lutadora/ Margarida foi
guerreira/ E lutou pelo seu povo/ Tentando encontrar caminho/ Pra formar
um mundo novo/ Mas o que ficou em mente/ Para nos finalizar/ Uma frase
importante/ Vamos todos relembrar/ Ela sempre nos dizia/ Para todos
escutar/ É melhor morrer na luta/ Do que a fome nos matar/ Margarida se
criou-se/ No Agreste de Caiana/ Porém a sua cultura/ Era abacaxi e cana.``
(Mestra Dona Edite IN: Relatório Antropológico, 2015)

Por que não


podemos pensar
a raça sem a
classe?

Fonte: https://escolaeducacao.com.br.

O Brasil foi colonizado pelos portugueses (1500-1822). As


terras eram doadas pelo capitão mor aos latifundiários para
montarem fazendas. Eram chamadas sesmarias. Esses
latifúndios produziam riquezas como açúcar, algodão, gado,
minérios, para alimentar o Capitalismo europeu que surgia na
época das Grandes Navegações. Para completar, os
colonizadores que aqui instalaram a casa grande também
instalaram as senzalas, pois o trabalho que produzia a riqueza
era realizado pelo braço escravo dos povos originários
(“índios) e dos africanos escravizados. O preço do escravo
também gerava lucros para a burguesia portuguesa cujo preço
era alcançado em leilão gerando lucros para os comerciantes
portugueses. Dessa forma, não podemos entender a
escravidão sem relacioná-la com o Modo Capitalista de
produção e o Sistema Colonial emergentes.
Após a Abolição (1888), o Brasil deixa de ser escravista e
entra no seu capitalismo. Uma parte dos ex-escravizados
continuou nas fazendas na qualidade de moradores, meeiros e
arrendatários; outros, foram trabalhar como operários nas
fábricas, no comércio, nos armazéns dos portos, na construção
civil ou no trabalho doméstico. Como cantou a grande Elza
Soares, “a carne mais barata do mercado é a carne negra”,
justamente porque a classe trabalhadora negra continua
sendo aquela que é mais precarizada, pois ocupa profissões
que recebe menores salários, muitas vezes sem os direitos
trabalhistas e que sofrem racismo dentro e fora do local do
trabalho.
Assim, uma sociedade igualitária é impensável se não
transformarmos estruturas como o capitalismo, o racismo e o
patriarcado heterossexista. Para fazer essa revolução, é muito
importante que todos nós trabalhadores subalternos
estejamos juntos, sem perder de vista a construção da
igualdade na diferença.
BURGUESIA: DONOS DAS PROLETARIADO: A CLASSE
TERRAS, FÁBRICAS, TRABALHADORA QUE SÓ
BANCOS, EMPRESAS, REDES POSSUI SUA FORÇA DE
DE SUPERMERCADOS, TRABALHO PARA VENDER
SHOPPINGS, GARIMPO, POR UM SALÁRIO OU ÀS
USINAS: DONOS DO CAPITAL VEZES NEM RECEBE SALÁRIO.

Vejamos o caso
de Caiana dos
Crioulos...

O quilombo Caiana dos Crioulos tem uma longa história


de exploração e opressão dos trabalhadores e trabalhadoras
negras. Nos tempos da cana de açúcar e do sisal, os
trabalhadores negros de Caiana trabalharam bastante na
Fazenda Sapé para os latifundiários Eufrásio e Ney de Arruda
Câmara. Durante muito tempo trabalharam como foreiros,
rendeiros ou “alugado”. Escutemos a voz de uma mulher
negra da classe trabalhadora:

“Porque por aqui os


DONA RITA morador só tem o chão de
casa. Prá trabalhar tem
que sair trabalhar fora.
Arrendava cum ele
mesmo. Arrumava um
roçado lá, com 'seo' Ines
(Ney de Arruda Câmara)
mesmo.”
(Relatório
Antropológico)

DICIONÁRIO
Os rendeiros eram aqueles que
moravam na fazenda, e tinham
direito a uma terra para o uso da
família. Para isso, pagavam um valor
por ano aos proprietários; já os
foreiros eram aqueles que pagavam
o foro, ou seja, um valor
estabelecido diretamente para o
dono da fazenda, mas não moravam
na fazenda, e sim, no sítio de sua
família em Caiana.
Fonte: Relatório Antropológico, 2015.
Dessa forma podemos observar que os moradores de Caiana
estavam submetidos a relações de exploração pré-capitalistas de
dependência, em que precisavam daquelas terras para sobreviver,
e para isso precisavam pagar o foro ou aluguel (bem como pagar
a “condição”, que em geral era trabalhar alguns dias na plantação
do fazendeiro). Trabalharam como foreiros Seu Mariano e João
Teó.
Aqueles que eram rendeiros, era obrigados a utilizar a Casa
de Farinha da Fazenda. Vejamos o belo testemunho de Seu
Mariano:

“A gente plantava roça. Todo mundo daqui plantava roça


nessa propriedade, só que tinha que arrancar a roça daqui e
levar pra fazer lá na fazenda. Num tirava uma mandioca pra
fazer na casa de farinha daqui. O patrão não consentia não.
Não to bem lembrando, acho que de cada dez quilos de
farinha que fazia, lá deixava dois quilos. Chamava a 'Conga'.
Aí quando a gente não levava, que a farinha era poquinha,
que só dava pra faze vinte e cinco quilo, trinta ou quarenta
quilo de farinha, aí a gente dizia assim: nós não vamo botá
mandioca lá na casa de farinha, pra sair daqui pra rapar e
assim nós traz duas carga de mandioca e faz aqui, porque é
pertinho de casa. Fazia, que botava em casa a farinha feita,
quando era dois ou três dias chegava o recado. Alguém viu a
gente quando passava com a mandioca pra aqui e ia dizer lá.
Ele mandava chamar a gente e dizia: É, você ta tirando
mandioca pra fazer fora, né? gente contava a história, e
trololó, que a farinha era pouca e lá vai, ele dizia: por essa
passou, mas de outra vez você vai ficar sem o terreno. Você
sabe que você tem terreno pra trabalha aqui. Aí a gente se
assujeitava a faze. Tinha dia que a gente amanhecia o dia lá
na casa de farinha. Acabava a mandioca tarde da noite, a
gente passava a noite lá dormindo e no outro dia vinha.
Depois que eu me casei, meu sogro ainda morava aqui,
fizemo muita farinha lá. Aí foi tempo que o patrão, o
proprietário mesmo, dono da terra, faleceu, ficou na mão do
filho, o filho ainda levou a casa de farinha bem uns cinco anos
CASAdoDE
depois FARINHA
pai. DE CAIANA
Depois acabou-se DOScasa
tudo. Cabou CRIOULOS
de farinha,
cabou motor, botaro tudo abaixo. Só ta lá a moita da fazenda”.
(Mariano, 71anos- Relatório Antropológico, 2015)
CASA DE FARINHA

Fonte: Relatório Antropológico, 2015.

Outra forma de exploração do trabalho na fazenda era a


chamada “condição”, explicada por Seu Mariano nas
seguintes palavras:

A gente arrendava duas cinquenta ou treis, de terra,


sabe? Aí pagava por ano. Todo mundo pagava aquela
taxazinha de foro. Agora só tem que a gente pagava o
foro e mais dois dias de “condição”. Pergunto o que é
isso. Se a senhora é proprietário, se eu não tenho
onde trabalhar, eu dizia: Dona Maria, eu vim aqui pra
senhora arruma um roçado pra eu, preu trabalhar,
que eu não tenho roçado pra trabalhar. Aí você diz
assim: eu tenho roçado, agora você sabe como é o
sistema aqui? O sistema é você pagá o foro e pagá a
condição. Na semana que você não vim pagá a
condição você perde o terreno, perde o roçado.
Trabalhava dois dias pra fazenda. Era morador,
foreiro, todo mundo. De graça, sem recebe nada.
(Mariano, 71 anos- Relatório Antropológico
'
SEU MANOEL GUILHERME (2010)

Fonte: Relatório Antropológico, 2015.

Seu Manuel também relatou a exploração em que


consistia trabalhar por “condição”:

“Eles trabalhavam mas tinham... como é que se


diz?...tinha dois dias de condição pra trabalhar pro
fazendeiro. Dois dias de condição: na segunda-feira e
na terça. Você tinha que ir todo dia, todo dia. E se
tivesse muito, tinha que ir seus filhos. Os dois dias
que seu pai dava lá você também dava. Em vez de ser
dois dias era quatro. Era assim, e depois de pagar a
condição aí você trabalhava no seu roçado. Você e
qualquer outro. Mas enquanto não desse esses dois
dias, não ia não (…)” (Relatório Antropológico, 2015)
Outro trabalhador que também relatou o grau de
exploração sofrido foi o Sr. João Teó. Vejamos o que ele nos
conta:

Ia se criando um tempo que pagaria esse negócio,


de dar um dia por semana de serviço, ou dois. Inté
eu, o meu pai mandou eu ir uma semana ou foi
duas, mas não vingou não. Todo mundo não achou
bom, todo mundo tava se achando que não dava
certo, não foi criado desse jeito, e parou. Ele
plantava toda cultura (o sr. Ney A.C.): agave, roça
também, plantava banana pelas grotas, aí
precisava do povo pra trabalhar, pra limpar. No
tempo do agave ele tinha roçado de agave que
tudo quem limpou foi o povo daqui. Dois dias ou
foi três pra lá ainda...depois cismaram, não sei
como que foi, que pararam. Pessoal ia, mas só ia
achando ruim. Os trabalhador dele, os foreiros.
Cismaram, porque a gente não pode pagar o foro e
mais dar condição. Ou o foro ou a condição. (João
Teó, falecido, 85 anos em 2010- Relatório
Antropológico, 2015)
Devido a necessidade de terras os homens também
precisam trabalhar fora dos territórios de Caiana: muitos
deles passaram a trabalhar nas plantações de Cana-de-açúcar
em fazendas vizinhas; em Usinas dos municípios próximas e
até mesmo em setores da construção civil nas cidades do Rio
de Janeiro e São Paulo. Como as plantações são sazonais, ou
seja, de acordo com as estações do ano, muitos voltam para
trabalhar nas terras de sua família constantemente. Pelo fato
de o trabalho ser familiar, muitas vezes ele também se
constitui sob a forma de atividades culturais, a exemplo da
quebra da castanha, onde toda a família, incluindo as
crianças, participam, e normalmente as vendem em Alagoa
Grande.
Vejamos o relato de João Teó:

“Eu, com um bucado de filho - recebi uns dez


também - trabalhava um mês, voltava, trazia
uma feirinha. Passava uns dias, voltava de novo.
Quando era inverno a gente vinha, trabalhava o
inverno, a seca entrava a gente ia pra lá. Pagar o
foro, comprar uma roupa, compra uma coisa, as
vezes comprava um bichinho: uma bestinha, um
burrinho, um garrotinho. Quando eu caí na
idade deixei de tratar. Os filho casaram tudo. Aí
parei. (Quando fora de Caiana) Trabalhava em
qualquer um serviço. Plantar cana, cortar cana,
limpar mato. O serviço era esse. Naqueles
engenhos também. Era ticuca demais. A gente
chamava ticuca”. (João Teó, 85 anos em 2010-
Relatório Antropológico, 2015)
Outro exemplo importante pode ser extraído do relato de
Seu João Januário. Vamos à leitura:

“Quando eu voltei do Rio em 78 eu vivia das


usina, através da construção civil – eu ainda
enfrentei a construção em João Pessoa. Mas no
inverno eu vinha prá cá, botava roçado. Aí
quando entrava a seca nós ia, ia pras construção
ou ia prás usina, pros engenho. Ia cortar cana,
pra limpar cana” (João Januário da Silva, 73
anos- Relatório Antropológico, 2015)

Seu João Ursulino teve trajetória semelhante. Durante


muito tempo, ainda na sua mocidade, ele trabalhou no Rio de
Janeiro no setor da construção civil. Ao se casar pela segunda
vez, deixou o Rio e veio trabalhar nas usinas São João,
Santana (município de Santa Rita) e na Usina Santa Maria
(município de Areia). Ele relata que os mais jovens preferem
migrarem para trabalhar no Rio do que viver no trabalho
penoso das usinas de açúcar da região.
Seu Mariano é outro trabalhador quilombola que teve
que migrar para juntar um pouco de dinheiro e enviar para o
sustento de sua família que ficara em Caiana. Escutemos o
seu relato:
“Ôxe, minha vida era no Rio. Era seis meses lá e seis meses
aqui. Mor de não perder a agricultura, sabe? Pronto, eu
trabalhava até o mês de julho. Mês de julho eu ia pra lá.
Quando era o mês de janeiro eu vinha de novo pro roçado.
Assim, dei dezessete viagem lá no Rio. Criei os menino
tudinho desse modo. Adepois que eu criei eles, aí esse
daqui, o José – Deda – ele disse : “Pronto papai, agora pode
ficar tranquilo que nós vamos criar o senhor”. Aí ele foi.
Foram os dois mais velhos. Aí foram. De quinze em quinze
dias mandava a minha feira, quinze em quinze dias
mandava minha feira até eu me aposentar”. (Mariano, 71
anos- Relatório Antropológico, 2015)

Nos dias atuais as plantações consistem em fava,


mandioca, feijão e abacaxi, bem como o cultivo de frutíferas
como mangueiras, cajueiros, bananeiras, jaqueiras e
laranjeiras; também é presente, embora de forma menos
frequente, a atividade pecuária. Aquilo que é produzido pela
agricultura dos moradores de Caiana serve para abastecer as
famílias, e o que sobra é vendido no município de Alagoa
Grande ou nas cidades próximas como uma forma extra de
ganhar dinheiro.
Como podemos ver, os negros e negras de Caiana dos
Crioulos pertencem à classe trabalhadora do campo. Foram
explorados, na Fazenda Sapé, nas usinas da região e na
construção civil e trabalho doméstico no Rio de Janeiro.
Assim, o racismo aliado com o capitalismo é um peso brutal
nas costas desse povo explorado e oprimido.
A conquista da terra é uma vitória a ser comemorada,
mas ainda há muita luta pela frente para que os
trabalhadores e trabalhadoras quilombolas possam viver em
uma sociedade justa, igualitária e plural.
7. ANCESTRALIDADE
EDNALVA RITA DO NASCIMENTO

Inicialmente, faria uma pergunta simples para todos:


Quando você busca sobre os seus antepassados, você encontra
informações?
Imaginem essa pergunta direcionada para pessoas que
são descendentes de pessoas que não optaram por vir ao
Brasil, que durante séculos foram obrigadas a se submeterem
ao trabalho escravo, ou seja, pessoas, descendentes de
pessoas escravizadas.
Neste sentido, estaremos durante essas linhas tentando
fazer um trabalho sobre o passado e o presente,
compreendendo segundo as palavras do escritor Americano
Wiliam Faulkner "o passado nunca está morto. Nem sequer
passou".
Nossos Ancestrais tinha uma grande resistência em
revelar suas origens, compreensível, considerando a história
da escravidão no nosso País e como nossos Ancestrais foram
enganados, perseguidos, explorados, marginalizados,
maltratados, mesmo depois da falsa abolição da escravatura.
Eles ao buscarem refúgios nos hoje denominados Quilombos,
não faziam nada além de procurar defender suas famílias e
manter suas origens.
No Quilombo Caiana dos Crioulos, localizado há 13km
da sede do município de Alagoa Grande/PB, a situação não era
e nunca foi diferente. Na minha infância...aprendi nossos
costumes, ciranda, coco de roda, valores, identidade (e da
religiosidade atravessada) sempre traçando um paralelo com
a escravidão.
Bom, concluindo, estamos caminhando até o presente
momento com uma certeza, Não existe combate ao racismo
sem uma tomada de posição libertária.
ECONÔMICO
O objetivo deste empreendimento (Restaurante Rita de
Chicó) é abrir caminhos para que novas ações possam surgir
na nossa comunidade, para combater as discriminações
estruturais que ainda amarram o desenvolvimento e
libertação de Caiana dos Crioulos.
Estamos de forma embrionária com um Coletivo Cultural
de Caiana dos Crioulos, formado por jovens e donas de casa,
tentando diariamente desenvolver atividades formativas e
profissionais, tendo como referência o potencial turístico e
cultural existente e persistente no nosso meio, tendo como
Lema a seguinte pergunta. Em todos os sentidos, o que você
está fazendo ativamente para combater o racismo?
Larguei meu emprego, juntei o que tinha e mergulhei de
cabeça nesse projeto, vou está onde sempre estive, sentir a
mesma dor, as mesmas dificuldades e lutar até onde minhas
forças resistirem, com a força dos meus Ancestrais, quero
fazer parte desse projeto de desenvolvimento e libertação de
Caiana dos Crioulos.
Sendo assim, iniciei com minha família a construção de
um pequeno Restaurante Rural, para servir de suporte
alimentar as atividades de Turismo Rural Comunitário e
Sustentável que passamos a desenvolver em Caiana dos
Crioulos; atividade que passamos a desempenhar sem vínculo
com as estruturas arcaicas e viciadas do passado, que via de
regra são desenvolvidas até hoje com viés alienante,
manipulador e escravagista em parceria com o poder público
municipal.
Quando você descobre, enfrenta e desbrava barreiras de
naturezas diversas como preconceito, racismo estrutural,
desconhecimento econômico, existenciais, etc. Seu olhar
crítico sobresalta e as coisas que te cercam passam a ter outro
sentido, valor e sobretudo razão de ser. Neste particular,
passei a enxergar com outro olhar o que aconteceu, acontecia
e qual a perspectiva de futuro para a minha comunidade
Caiana dos Crioulos.
Embora trabalhando no meu município e em municípios
vizinhos e residindo na cidade de Alagoa Grande, sempre
mantive contato diário com os meus pares na minha
comunidade e percebia que havia muita semelhança com
todas as comunidades rurais que trabalhava no sentido dos
seus problemas diário, de falta de acesso a água potável,
estradas de acesso, saúde, educação de qualidade, enfim, uma
negação direta dos direitos universais básicos estabelecidos
na nossa constituição cidadã de 1988.
Então, chegou o momento, pensei, necessito retornar e
fixar residência definitiva na minha comunidade e tentar
contribuir com o seu desenvolvimento e libertação, chega de
obscurantismo e invisibilidade, necessito, como que um
chamado dos meus Ancestrais, fazer a minha parte e assim, fiz
quebrando paradigmas, enfrentando desconfiança na minha
própria comunidade que, o que eu iria trazer dessa formação,
era uma barriga e um pai vagabundo para minha mãe criar.
Felizmente, essas expectativas foram frustradas, retornei com
um conhecimento diferenciado no aspecto profissional e
fortemente agregado as minhas raízes, sobre o que nós somos,
o que faremos e o que podemos ser nessa sociedade
altamente violentada pelo racismo.
VIDA PROFISSIONAL E ANCESTRALIDADE
Com um quadro não menos diferenciado do que fora na
minha infância e período de estudos, entrei no mercado de
trabalho. Trabalhei um período de experiência na AACADE,
pelo alimento diário, depois fui encorporada ao programa de
ATES, por uma empresa contratada pelo INCRA, onde no
momento fiz uma opção clara pelo lado que estava
defendendo os trabalhadores, me desliguei do programa de
ATES e iniciei no programa do Agroamigo do BNB numa
seleção extremamente machista e assim continuei batalhando
para sobrevivência diária e não abri mão de garantir a
possibilidade de que seus filhos iriam estudar e lógico aqueles
que assim desejassem, logo agarrei a oportunidade e encarei o
desafio, algo que muito dos meus irmãos desistiram, alguns
por iniciativa própria fizeram a opção de trabalhar logo cedo
fora do Quilombo no Rio de Janeiro na construção civil, algo
que já tinha em casa a experiência do meu pai que estava no
Rio de janeiro por 14 vezes e a cada ida e vinda nascia um
filho.
Outros por não resistirem a pressões extremas no
convívio difícil com o povo da cidade, as dificuldades de
locomoção sem estrada transitável que nos levava a caminhar
13 quilômetros de ida e 13 quilômetros de volta a pé para
tentar terminar o ensino médio, foi difícil, porém foi
gratificante concluir. Próxima etapa, tentar uma
profissionalização, chegou a oportunidade, Técnica Agrícola
em Agropecuária em Bananeiras, programa via política
pública, com as cotas para os quilombolas. Não pensei duas
vezes, vou e agora? Outro enfrentamento familiar, porém
novamente minha mãe venceu e rumei pela primeira vez para
fora do meu município para adquirir conhecimento com 18
anos de idade.
Algo, porém, me saltava os olhos. A proteção dos meus
familiares, o cuidado coletivo de todos sobre qualquer ameaça
externa sobre o nosso habitat natural.
Além do sentimento de pertencimento em relação a
igualdade dos costumes, rituais religiosos, danças, cantorias,
alimentação, etc. praticados por todos no nosso QUILOMBO.
Em síntese, não me sentia só, eu sou porque somos. Embora
que a cada contato com o ambiente externo, leia-se a cidade,
sempre mergulhava num turbilhão de emoções a partir de um
simples olhar diferenciado até palavras não amistosas
recebidas.
ANCESTRALIDADE E ESTUDO
Sempre fui abusada por minha mente a querer aprender,
desde as simples tarefas diárias domésticas e da roça, até
compreender as letras. Período não menos doloroso, ter como
enfrentamento uma lógica operante no nosso meio, de que
aprender a ler para que? Enfim, estudar para quê? Após uma
batalha doméstica pesada, minha mãe foi vitoriosa, logo
descobriu da pior maneira possível que por essa via
associativa, não existia saídas para colocar em prática sozinha
minha obstinação de continuar lutando pela libertação e
desenvolvimento do meu povo. A clareza que ficando com o
grupo resistente remanescente e frente a ele um grupo
significativo de jovens na direção, teríamos condições de
continuar lutando, daí o surgimento embrionário do Coletivo
Cultural Caiana dos Crioulos.

ANCESTRALIDADE FAMILIAR
No período da minha infância, em meio as brincadeiras
corriqueiras desta etapa da vida, sempre surgiam
pensamentos inquietantes sobre as condições de vida que
todos nós no quilombo era submetidos. Desde a alimentação
regada para suprir as necessidades de 14(quatorze) irmãos,
as roupas que vestíamos num processo de revezamento, até
nossos calçados, diga-se de passagem chinelo mesmo,
remendados e improvisados.
Algo instigante sempre corria nos meus pensamentos,
porque estamos tão distante da cidade, porque devemos nos
esconder e não falar com estranhos? A ida na cidade era
disputada entre meus irmãos, como um triunfo inglória.
EXPERIÊNCIA ASSOCIATIVA
Quando do retorno físico a comunidade, objetivando
continuar contribuindo com a libertação e desenvolvimento
da minha comunidade, surgiu a oportunidade de fazer parte
da Direção da Associação dos Moradores Caiana dos Crioulos;
haja visto, que existia uma lacuna "inexplicável" de
pretendentes após vinte anos de uma gestão personificada.
Sendo chapa única pensei, temos tudo para juntos continuar
contribuindo com essa minha obstinação de libertação e
desenvolvimento lerdo engano, encontrando um estado
lamentável de desorganização administrativa e financeira, ao
procurar minimamente ajustar, causou crise interna na
direção e ela se diluía, ficando um grupo resistente. Além
desse processo, vícios de natureza política, subserviência,
submissão, empreguismo, ausência espantosa de sócios nas
assembleias, de fato uma crise generalizada, onde identifiquei
à máxima" Na terra de cegos quem tem um olho é Rei.
8. OS “MATUTOS”
Alguns moradores do Quilombo Caiana dos Crioulos
trabalharam como “matutos”, como eram chamados na época
aqueles pequenos comerciantes que compravam mercadorias
para venderem na feira de Campina Grande.
Entre eles podemos mencionar Seu Manoel, Lourival, Zé
Grande, Zé Pequeno, Elias e José Teodósio. Vejamos um trecho
narrado por seu Manoel:

“Nós carregava de 9 horas da noite, de cinco horas da


manhã estava descarregando na CEASA. Eu andava
para Campina de pé, Mané Teó que tinha dois
burrinhos de sela. Eu andava um pedaço a pé, ele
perguntava se eu queria descansar um pouco, me
dava um burro, depois entregava a ele de novo. A vida
de MATUTO era uma vida muito sofrida, eu sofri
muito e não arrumei nada, MATUTO o que ganha é só
para dizer que arrumando aquele negocinho, o
dinheiro do sítio e tinha deles que nem o dinheiro do
sítio arrumava”. (Entrevista concedida a Lúcia de
Fátima Júlio)

Seu Manuel e Dona Edite


Os “matutos” saíam tangendo burro em direção à cidade
de Campina Grande carregando frutas como manga, banana,
abacaxi, laranja, fava, pimenta malagueta, coco catolé,
macaíba e milho. Antes de começar a tanger as tropas, faziam
uma oração e usavam um rosário no pescoço escondido na
camisa. No meio do caminho faziam algumas paradas para
comer e tomar água. Andavam a noite inteira até chegar à
CEASA na madrugada. Além da dureza da caminhada, da
pouca renda obtida, dos tombos dos burros, ainda
enfrentavam, algumas vezes, a intimidação da polícia, como
nos informa Seu Manuel:

“Tinha um portão e tinha um guarda, chegava mói de


MATUTOS, dava aquele estalo, o cabra saia lá de cima e vinha
abrir o portão embaixo. Depois que a CEASA cresceu foi
proibido, os MATUTOS só entravam na hora certa. Um dia a
polícia atacou a gente, eu e ele, perguntou de onde a gente
vinha, respondemos que vinha de Alagoa Grande, a sorte da
gente foi o guarda que disse que esses MATUTOS já é velho,
ninguém pode mexer com eles. Quando descarregamos os
burros os MATUTOS que chegaram antes, encheu assim de
gente, pensando que tinha acontecido alguma coisa por que a
polícia estava atrás de nós”.
(Entrevista concedida a Lúcia de Fátima Júlio)
O trabalho dos “matutos” foi entrando em declínio com o
aparecimento do caminhão. A partir de então, esses pequenos
comerciantes que desejassem vender seus produtos em
Campina Grande deveriam pagar um valor pelo frente ao dono
do automóvel.
9. MIGRAÇÕES DE CAIANA DOS CRIOULOS PARA O
RIO DE JANEIRO
Vivências na Comunidade de Guaratiba onde tem
aproximadamente 2.000 habitantes. Conhecida como uma
comunidade quilombola, porém, não identificada, mas pela
quantidade de quilombolas que migraram para o Rio de
Janeiro a partir dos anos 1995 é moradia de quilombolas.

Migração dos Quilombolas nos anos 1953


Entre as décadas de 1940 e 1990, com o declínio de
muitos engenhos e usinas no Brejo paraibano, boa parte dos
moradores de Caiana tiveram que migrar para a Região
Sudeste, especificamente,
Segundo as entrevistas realizadas com quilombolas,
aproximadamente no ano de 1953 o pessoal de Caiana
começou a viajar para o Rio de Janeiro em busca de melhoria
para família, a fonte de renda era difícil, viviam apenas da
agricultura e dos trabalhos da cana de açúcar.
Naquela época não tinha ônibus para viajar, o transporte
era pau de arara, levavam oito dias ou mais para chegar ao
destino. As condições durante a viajem eram sofridas,
algumas pessoas nem voltavam para a sua terra devido às
dificuldades encontradas. Passava fome, sede e nem sempre
arrumava trabalho por não conhecer a cidade grande.
RELATOS DE QUILOMBOLAS MIGRANTES
DALVINA DA SILVA NASCIMENTO

A quilombola Dalvina relatou que conversou com José


Salvino (conhecido como Zeca Salvino) um dos
quilombolas que foi para o Rio de Janeiro e morou em
Austin – Nova Iguaçu. Ele morreu e não voltou a sua
terra. Ele foi para o Rio de Janeiro jovem e trabalhou
na construção do Maracanã. O mesmo ainda disse que
na Ponte Rio/Niterói, muitos trabalhadores não
sobreviveram e morreram no trabalho.
Quando o quilombola chegava ao Rio de Janeiro
encontrava familiares na Baixada Fluminense, e no
morro. Aproximadamente em 1990 foi formada a
comunidade em Guaratiba, considerado Novo
Quilombo, pois tem mais de 2.000 pessoas morando e
o primeiro morador foi apelidado de Caiana. Em
alguns relatos dos moradores, eles afirmam que em
1980 já tinha ônibus da Empresa São Geraldo, depois a
Itapemirim, que saia de Alagoa Grande – PB com
destino à Rodoviário Novo Rio, no Rio de Janeiro. O
trabalho que os quilombolas encontravam era na
construção civil, muitos aprenderam a profissão de
pedreiro entre outras trabalhando. As mulheres
trabalhavam como empregadas domésticas e
faxineiras; profissões do lar.

MARINÉLIA NASCIMENTO SANTINO


Vejamos também a vivencia de Marinélia do Nascimento
Santino, nascida a 28 de dezembro de 1983, na Comunidade
Quilombola Caiana dos Crioulos, localizada no município de
Alagoa Grande-PB, tendo como pais, Mariano José do
Nascimento e Severina Maria do Nascimento, tendo como
avós paterno José Antônio do Nascimento e Maria Ana da
Conceição. Avós maternos, Etelvina Maria da Conceição e
Firmo Santino da Silva.
“Aos 4 anos de idade fui morar na cidade de Alagoa Grande,
com os pais, minha adaptação não foi legal, aos 7 anos voltei à
comunidade morar com meus avós materno Etelvina e Firmo
Santino. Meu avó tocava em uma banda de pífano, muito
popular na região; após sua morte, meus pais tiveram que
voltar a morar na comunidade. No Ano de 2001, aos 17 anos
me casei , em consequência parei os meus estudos e fui morar
no Rio de Janeiro no mesmo ano que meu avó Firmo foi
homenageado com seu nome na escola da comunidade. No Rio
de Janeiro, fui morar em Pedra de Guaratiba, onde localiza a
maior partes dos Quilombolas da nossa comunidade, lá a
minha experiência de vida mudou totalmente, passei 8 anos
afastada da sala de aula; voltar tudo estava mudado em cidade
diferente, dificuldade no meu modo de falar, sotaque
paraibano chamava muito atenção na sala, o cansaço batia,
chegava do trabalho já no horário da aula, morava na pedra de
Guaratiba e trabalhava na Barra da Tijuca, ônibus lotado as
vezes me machucava, mais o meu desejo era grande de
terminar o meu estudo, nos dias de prova eu tinha que estudar
no ônibus na ida e volta do trabalho, a dificuldade de terminar
os meus estudo foi grande, aconselhar trabalho com estudo,
não foi fácil, nos dia chuvosos era pior chegava atrasada no
trabalho os ônibus, quebravam, eu acabava saído tarde do
trabalho e perdia o horário da aulas, muitas vezes pensava em
desistir, voltava atrás em seguida, vou até o fim, vou realizar o
meu sonho de ser professora, hoje estou aqui exercendo o que
eu mais amo é estar na área da educação é ser professora,
atualmente cursando Pedagogia”. (Entrevista concedida à
Maria das Dôres)
DORACI DA SILVA NASCIMENTO D ELIMA

“Sou Doraci da Silva Nascimento de Lima, negra,


quilombola de caiana dos Crioulos, cheguei no Rio de
Janeiro no ano 2002, aos 18 anos fui mora com
familiares e indicaram casa de família, não tinha
experiência de vida, mesmo com Ensino Médio e os
anos se passaram, fiquei desempregada e
conversando com amigas que trabalhava em Escola
particular, pediu meu currículo e fui selecionada,
comecei a trabalhar e minha visão de vida mudou,
mas já era casada com uma filha e o meu sonho de
estudar não tinha mais forças para lutar. Porque
trabalhava longe, saia de casa em Guaratiba muito
cedo para trabalhar zona Sul Copacabana e chegava
tarde à noite. Não posso dizer que não tive
oportunidade, estaria mentindo, mas as barreiras da
vida foram altas, os conhecimentos quando
chegaram, o tempo não permitiu eu estudar.
A vida aqui no Rio ou em qualquer outra cidade
grande é difícil principalmente para pessoa negra,
casada e com filho. Morando longe dos seus
familiares (mãe, pai e irmãos).
E se não abrimos os olhos os filhos crescem e você
sempre parada ou lutando para sobrevivência de seu
filho e assim, os anos passam e eu não fiz nada”.
(Entrevista concedida à maria das Dôres)
MARIA DAS DÔRES DA SILVA LIMA

Sou Maria das Dores da Silva Lima, quilombola da


Comunidade Caiana dos Crioulos – Alagoa Grande - PB,
graduada em Letras Português (FAMA – RJ) e Letras Espanhol
(UFPB – PB), atualmente professora de Espanhol na ECIT
(Escola Cidadã Integral no município de Alagoa Grande).
Minha chegada ao Rio de Janeiro em 1997 eu tinha
cursado o Ensino Médio e Serviços de Contabilidade no
SENAC Campina Grande - PB. Viajei pela Viação Itapemirim e
minha moradia foi à casa de parentes que já morava em
Austin – Nova Iguaçu – RJ, baixada fluminense. O transporte
para chegar até lá, um dos mais usado era o trem, o destino
Central/Japeri.
Casei aos 24 anos no ano 2000 e fui mora em Guaratiba –
RJ zona Oeste. Pode-se afirmar que é outro quilombo, uma
continuidade de Caiana dos Crioulos, onde morei até 2012.
Naquela ocasião os familiares trabalhavam como
trabalhadora doméstica, atividade em que também trabalhei.
Infelizmente a perspectiva de profissões e estudos dos
quilombolas não era satisfatória, pois não acreditavam em
profissões, graduações e outros, porém, muitos tinham o
Ensino Médio e trabalhavam na construção civil ou como
doméstica.
Em 2006, fiz vestibular para o curso de Letras Português
em Santa Cruz para a FAMA, fui aprovada e consegui concluir
o curso com dificuldade.
A faculdade já me preparava para profissão e ali decidia
não querer mais ser doméstica e com meu currículo cursando
uma graduação fui encaminhada para trabalhar na empresa
Amoedo Barra da Tijuca, após um ano foi minha formatura,
enfim, Letrada, pedi demissão e voltei para Alagoa Grande –
PB em 2012 onde comecei a trabalhar como professora na
Escola Firmo Santino da Silva na Comunidade Quilombola
Caiana dos Crioulos, 2013 onde ministrei aula Escola Estadual
de Demonstração até 2020. Em 2017 fui classificada para o
curso de Letras Espanhol na UFPB e atualmente sou
professora de Língua Espanhola na Ecit Oswaldo Trigueiro
Albuquerque Mello cidade de Alagoa Grande.
As diversões em Guaratiba, digo não tinha tempo.
Trabalhava de segunda a sábado. Aos domingos não perdia
minha Missa, os padroeiros do bairro são: São Francisco de
Assis, Nossa Senhora Aparecida e São João Maria Vianey.
Infelizmente viver no Rio de Janeiro é difícil, portanto,
conhecer as maravilhas da cidade nem sempre é possível
devido o trabalho que é pesado para homens e mulheres.
Após meu retorno para PB voltei ao Rio de Janeiro e, enfim, fiz
passeios maravilhosos, realmente conhecendo-o, zona Sul,
praias e shopping.
Lá tem a cultura de ir em São Cristóvão apreciar a
cultura nordestina, culinária e o forró. Era jovem e ia ao forró,
tinha primos que tocava teclado, outro cantava e estava
formada a festa familiar à noite toda. As crianças nasciam e já
se tinha a cultura do Quilombo de ser grande festa comes e
bebes com familiares, patrocinada pelos padrinhos, no
batizado a festança continuava. Reza-se o terço natalino em
famílias e até a roda de coco e a ciranda em alguns momentos
é apreciada pelos quilombolas.

Fotos de Festa familiar e de parentes quilombolas em


Guaratiba-RJ

Arquivo de Maria das Dôres da Silva Lima.


Guaratiba foi crescendo e as pessoas já casavam em
Caiana dos Crioulos e iam morar lá, outra já casaram na Igreja
São Pedro Apóstolo em Pedra de Guaratiba bairro vizinho e
tinha festas em homenagem aqueles noivos, a festa do
casamento continua sendo com a cultura de Caiana dos
Crioulos, comes e bebe, forró, ainda hoje temos uma cultura
de casar entre familiares.

Participação nas entrevistas do jovem Quilombola

Luís Francisco da Silva Lima, quilombola, filho da


professora Maria das Dores (conhecida como Dorinha), está
cursando Engenharia de Biossistema – na UFCG – Campus de
Sumé. Orgulhoso de participar da escrita deste livro tive a
oportunidade de entrevistar meu avô paterno, com 84 anos e
minha vó materna com 66 anos; ambos aposentados pela
agricultura, tios e tias; todos quilombolas da Comunidade
Caiana dos Crioulos e afrodescendentes.
Entrevista com minha vó materna Dalvina da Silva
Nascimento, quilombola de Caiana dos Crioulos, aposentada
pela agricultura e sua experiência de vida sempre foi a
agricultura. Ela disse que Caiana era um sitio muito bom de se
morar, olho de água, muita gente, as festas, terço e novenas, a
dificuldade era por ser apertado de trabalhar na agricultura,
pois nos anos 1960 era a sua infância, a comunidade era
grande, hoje muitas terras e a população de Caiana diminuiu,
Jesus.
O pessoal foi embora buscando vida melhor, antigamente
era bom, mas vivia satisfeitos, apesar da agricultura ter seus
tempos de colheitas, a união era forte entre os quilombolas,
nem tínhamos esse título de quilombola, vivíamos tranquilos.
Naquela época plantávamos roça(mandioca), feijão de
pau, mulato, fava, milho entre outros. Plantava a maniva ela
nascia quando fazia 8 dias de nascida já limpava o mato
chegando terra e com seis meses já estava pronta para fazer a
farinha.
As plantações de mandioca, macaxeira nas terras de seu
Inês, lá tinha casa de farinha, hoje é o casarão. Era uma
dificuldade danada mais um ajudava o outro a fazer a farinha,
o triste era pagar a canga a metade da farinha para seu Inês e
sua família, (se fizéssemos 6, 3 sacos era para eles) sacos de
farinha. Caiana mudou muito. Todos trabalhavam na roça,
com a enxada e vivia dali mesmo, não tinha outro trabalho.
A cultura era demais todos os finais de semana tinha
alguma coisa, quando não tinha a ciranda coco de roda, tinha
as novenas com o pífano, os pifeiros tocava a noite toda. O
finado Damião tocava forró. Casamentos nos finais de anos, os
casamentos os noivos e testemunhos e companheiros vinham
de pé, de Caiana. Chegava aqui tomava banho e a celebração
era de 7 horas manhã.
Às 10 horas subia de novo de pé, quando dava 4 horas da
tarde íamos chegando, porque não tinha estrada e a estrada
foi feita aproximadamente em 1974, com a chegada de Bosco
Carneiro, daí Caiana não faltou carro, melhor para animais
passarem e tinha um sanfoneiro chamado Biau, ele tocava a
noite toda.
Nas terras onde é a escola tinha um sitio de café, laranja,
manga, banana e era vendida na feira, hoje tudo acabou, as
frutas em Caiana está pouca, tinha muitas árvores e hoje não
se tem mais olho de água. As escolas era Deus nos acuda, que
tinha um dinheiro pagava o que sabia ler para aprender, ou
ajudava uns os outros a ler, Meu Deus. Depois de 1969 foi
aparecendo escola, e conhecemos o prefeito e conheceram
Caiana e contrataram professores de lá mesmo. Teve um
projeto chamado Mobral. Era leitura para escrever uma carta
e escrever outra. Todos tempos teve alguém que estudava
mais, as posses eram melhores e a partir da estrada pronto foi
ficando melhor e em 2001 finalmente Caiana foi contemplada
com escola Firmo Santino da Silva.
10. MULHERES QUILOMBOLAS
A MESTRA DONA EDITE

Fonte:http://rafaelrag.blogspot.com/2019/07/dona-edite-do-quilombo-
caiana-dos.html.

Dona Edite passou a ser oficialmente reconhecida como


Mestra das Artes da Paraíba no ano de 2019 quando o
Conselho Estadual de Políticas Culturais, ligado ao governo do
estado da Paraíba, concedeu essa honraria. O título é
resultado de um edital aberto pelo governo estadual em 2017
para o preenchimento de duas vagas, uma delas aberta após o
falecimento de “Zabé da Loca”.
Severino Antônio da Silva (“Bibiu”) realizou a pesquisa
sobre a história de Dona Edite a fim de ser apresentada para a
Secretaria de Cultura da Paraíba. No dia 5 de julho de 2019, o
relatório foi lido no plenário do Conselho e aprovado por
unanimidade.
ASSOCIAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS DE CAIANA

A Associação das Mulheres Negras de Caiana foi fundada


em 18 de julho de 2005. Participaram de sua criação e
continuam organizando seu trabalho as seguintes mulheres
quilombolas: Elza Ursulino do Nascimento Silva, Edite José da
Silva, Maria das Neves Silva Nascimento, Rita do Nascimento
Silva, Maria José de Lima, Maria de Lourdes do Nascimento
Germino.
A Organização de Mulheres Negras da Comunidade
Quilombola de Caiana dos Crioulos de Alagoa Grande foi
fundada com o apoio inicial da Bamidelê cujo objetivo é lutar
contra o racismo e o machismo sexista.
BAMIDELÊ: “é uma organização não
DICIONÁRIO governamental, sem fins lucrativos, composta
por feministas negras. Tem a missão de
contribuir para a eliminação do racismo e do
sexismo, na busca da igualdade racial e de
direitos entre homens e mulheres buscando
uma sociedade democrática e com justiça
social”.
Fonte:www.fundobrasil.org.br/projeto/bamidele-organizacao-de-
mulheres-na-paraiba-2/.

Durante a Pandemia do Covid-19, a Associação de


Mulheres de Caiana liderou algumas iniciativas importantes:

A distribuição de duas cestas básicas para cada família de


Caiana dos Crioulos e a confecção de máscaras de tecido
feita pelas mulheres do quilombo e posteriormente a sua
distribuição para toda a comunidade. O projeto que
contemplou as famílias com duas cestas básicas e promoveu
a confecção de máscaras se chama Akoben e foi pensado, a
priori, pela Bamidelê. Esse projeto, além de fornecer os
alimentos básicos para essas famílias e instrumentos de
prevenção contra o COVID-19, também trouxe para a
comunidade informações qualificadas sobre a situação
pandêmica para que elas entendessem a situação global e
pudessem colaborar na disseminação dessas informações.
No que tange às informações, é importante destacar que
as mulheres de Caiana criaram posts, spots e gravações para
divulgar nos canais de comunicação informativos de como
deveria se dá a higienização das mãos, o uso do álcool em gel,
o uso das máscaras e outros pontos relevantes para evitar o
adoecimento por meio do coronavírus.
Uma das ações mais recentes dentro da OMNC foi o
recadastramento das mulheres e o papel que as mulheres
jovens tiveram dentro desse recadastramento, pois foi a partir
delas que essa ação se tornou mais fácil, de acordo com Elza,
bem como o início de uma organização maior no que tange a
criação de projetos para a comunidade pensados por
mulheres quilombolas de Caiana. Essas ações são
imprescindíveis para que a organização continue existindo,
transformando a comunidade e mostrando para essa e para as
outras mulheres que ainda não se mobilizaram como é
importante que elas estejam lutando juntas, pois só assim é
possível melhorar o ambiente no qual elas vivem.
Essas ações também foram frutos da Organização, uma
vez que foi a partir das discussões promovidas por ela que
foram encontradas formas de incentivar a formação escolar
dessas mulheres negras e mostrar a elas que podem
reivindicar os direitos sociais enquanto cidadãs e lutar por
respeito e igualdade, combatendo o racismo e o sexismo
presentes na estrutura da sociedade brasileira, tal como foi
possível encontrar formas para gerar renda local a partir do
turismo no Quilombo através do Projeto Vivenciando Caiana e
evitar que houvesse a migração em massa dos indivíduos de
Caiana para outras cidades e estados.
Pode-se a importância da ação realizada para verificar a
violência contra a mulher na cidade de Alagoa Grande, ação
promovida com o apoio da Cunhã Coletivo Feminista, na qual
Elza e Dorinha foram para a delegacia da cidade em busca de
informações sobre as mulheres que iam prestar queixa em
relação à violência doméstica e falar com essas mulheres a
respeito da situação que tinha sido vivenciada por elas. Elza
relata que ao chegarem nesse lugar a experiência delas foi
muito positiva tanto para as mulheres, quanto para os sujeitos
que trabalhavam na delegacia ao ponto do delegado local
dizer para elas: “Não deixe de vir, não. Quando acabar o
projeto vocês continuem, porque essas experiências a gente
não tinha, a gente não tinha.”
Essa prática se trata de uma ação significativa, porque a
partir dessa posição a mulher que já se encontra em uma
situação de fragilidade emocional pode encontrar na delegacia
não só um ponto onde as pessoas vão gerar boletins de
ocorrência e oferecer proteção vinda do Estado, mas um lugar
no qual a mulher vai encontrar apoio e entendimento
humanizado para o seu caso e com isso entender que ela pode
se desvencilhar do seu agressor.
Destaca-se o Projeto Vivenciando Caiana, que promoveu
o turismo na comunidade quilombola para assim gerar renda
e diminuir a locomoção dessas pessoas para outras cidades e
estados, além de fornecer à população uma forma de renda
que não está ligada somente à agricultura familiar.
Logo esse projeto, se dedica a fornecer aos visitantes
uma experiência única, mostrando a eles a história do
quilombo, a cultura desse e a sua gastronomia, através de
trilhas por essa localidade, para entender melhor os aspectos
do imaginário popular de Caiana, dando destaque para a trilha
que leva a Pedra do Reinado - lenda local que envolve uma
pedra com escritos que até o momento ninguém conseguiu
decifrar o seu significado, além de corroborar com outras
lendas, tal qual a do cavaleiro que montava um cavalo branco
cujos galopes faziam tremer a terra e ao se dirigir para o lugar
onde fica a Pedra do Reinado ele sumia (Edite José da Silva,
mestre da cultura, 2021), e a história das botas de ouro que
ficavam perto dessa pedra e que só eram visíveis se a pessoa
que as observasse as visse de longe, pois uma vez que se
aproximasse desse artefato, ele sumia - e a experiência
musical que é oferecida aos visitantes durante essa trilha.
11. A CULTURA EM CAIANA
MITOS E LENDAS
Na pesquisa feita pelo historiador Janailson Macedo Luiz
percebemos os vários relatos que dão conta da variedade de
mitos e lendas que faziam parte das crenças dos quilombolas
de Caiana.
Dona Edite, por exemplo, fala da existência, por volta dos
anos 1950, de um “cavalo encantado” que perseguia crianças
assim como também fala de relatos de botijas. Já Luzia e
Totinha falam da profecia dos mais antigos na qual o “besouro
mangangá” viria a andar como pessoas na terra.

CAPOEIRA E BANDA DE PÍFANO


Há registro documental da existência da banda de pífano
de Caiana dos Crioulos pelo menos desde o ano de 1949.
Segundo pesquisa de “Bibiu do Jatobá”, a banda participou da
festa de inauguração do abstecimento d` água da cidade de
Alagoa Grande no dia 6 de março de 1949.

Fonte: Janailson Macedo Luiz.


Ela foi criada por iniciativa do mestre Firmo Santino e se
chamava Banda Cabaçal. Os membros da banda sequer
conheciam uma nota musical, nem costumavam se reunir
formalmente para ensaiar. Vejamos o que dizia Mestre
Santino:

“O importante é começar a mexer com a corneta (pífano),


cada som vem na hora e nem precisa de nomes das
músicas, pra se tocar”. (“Pesquisa de Maria Arlita Gomes,
baseada no Acervo de Bibiu do Jatobá)”.

A banda era composta por cinco instrumentos: dois


pífanos feitos de taboca, um triângulo, uma caixa, dois pratos
metálicos e dois tambores feitos de couro de cabra adaptados
em cordas. Além do Mestre Firmino também compunham a
banda entre os anos 1960/70: José Capalo, Anísio, Antônio
José, Heleno e José Januário. Seus sucessores encontrariam
nas pessoas de Dona Edite e Seu Zuza as lideranças que
continuariam o trabalho dos pifeiros mais antigos.
Além de se apresentar nas festividades do quilombo, a
bandinha fez várias apresentações em outros lugares. Em
1968, a convite do então prefeito de Alagoa Grande, João
Bosco Carneiro, ela fez uma apresentação na cidade de Alagoa
Grande. Entre os anos 1960/1970 fizeram apresentações na
reitoria da UEPB, no Jornal do Comércio em Recife, em
Fortaleza, Brasília e São Paulo.
(Governador João Agripino conversando com o Mestre Santino)

(Promotor João da Silva Cruz conversando com os músicos da Banda de


Pífano de Caiana dos Crioulos)

A fotografia que segue, por exemplo, se trata de uma


viagem que a banda de pífanos de Caiana fizera à Brasília.
Começavam cantando na pista do Aeroporto Castro Pinto, em
João Pessoa, diante da aeronave que os levaria para se
apresentar na capital da República.
(Da esquerda para a direita: Chico, Firmo, Vital, Antônio Augusto, ?, Heleno,

José Januário)

Fonte: https://palmarinaestrada.com.br/os-grios-da-caiana-dos-crioulos/.

A bandinha de pífano parou de funcionar por conta da saúde


debilitada do Mestre Firmo Santino. Contudo, o cirandeiro João
Maria formou um novo grupo musical que por muitos anos
animou as festas de Caiana. Com sua morte, em 1993, essa banda
também se desfez. Em 1999, as cirandeiras Cecília Josefa da Silva
e Edite José da Silva lideraram a reconstituição da bandinha de
Caiana, incentivando os jovens e adultos do quilombo para
reavivar a histórica banda de pífano, patrimônio cultural da
comunidade quilombola.

NOVOS MÚSICOS DA BANDINHA DE CAIANA

Sebastião Paulo Alves (51 anos), José Ilson Nascimento (13


anos), José Nilton da Silva (16 anos), Manoel José do
Nascimento Silva, José Antônio Filho, José Assis do
Nascimento Silva e Gilvan do Nascimento. (Baseado na
pesquisa de Bibiu do Jatobá)
Fonte:http://pifercussao.blogspot.com.

PAULINHO

“A Capoeira para mim foi uma das histórias que nosso


povo negro lutou para se libertar a capoeira para mim é uma
história continuada é um sonho realizado entre meu povo, o
povo negro que estava escravizado e lutou para se libertar.
Com a dança da capoeira, a capoeira não é só dança, é luta que
nosso povo se libertar. Capoeira é um estilo de vida, é o
alcançar do amanhã e o depois, capoeira pra mim significa
que cada dia novo, é um dia renovado, é um dia amanhecer.
Quando estava 12 anos, 10 anos e 13 anos nessa faixa
etária, faz 10 anos que entrei na capoeira, até hoje me sinto
renovado quando estou com meus amigos jogando a capoeira,
treinando capoeira A capoeira é um jogo brincado, jogado e
dançado, a capoeira liberta. Quando brinca a capoeira fica
livre, sente emoção dos nossos antepassados. Quando a gente
está jogando capoeira, brincando, relaxa se sente livre
naquele momento. Às vezes a gente tá bem estressado, minha
vida, aí eu tô estressado saio eu vou brincar, vou treinar
capoeira, relaxo, fico bem a vontade.
A capoeira prá mim é tudo, é brincar, é luta, é lazer, é
relaxamento, é um estilo de vida do amanhã e a depois.
A banda de Pífano
A banda de pífano começou muito muitos anos atrás,
tempo de Mestre Firmo, Mestre Zuza, Mestre Bastão e eu
continuei essa história da Banda Pífano, Firmo foi um dos do
mestre de Caiana dos Crioulos mais respeitado, foram para
Brasília, fora do município mostrando a cultura, o
conhecimento, a banda uma das mais famosa da banda da
Paraíba, a banda de Pífano de Caiana dos Crioulos
O mestre Zuza foi um dos que conheci em Caiana também
me incentivou a entrar, a gostar, aliás, eu já gostava da minha
cultura só que eu não conhecia o mestre Firmo. O Mestre Zuza
então me ensinou como começar, como continuar a história.
Eu me lembro de uma vez que tava lá, juntou a gente, eu, o
mestre Bastão, Eli, Voninho, Neném, fomos lá para o salão
trocar lá, nesse tempo eu tocava triângulo, o meu avó tocava
triângulo. Eu me lembro que o Mestre Zuza, ele tava
terminando de tocar, era ele e Bastão que tocava pífano, aí
terminou tudo tocar, ainda todo mundo a sentado, peguei o
pífano e comecei a tocar, o Mestre Zuza disse, Paulinho você
tem talento continue desse jeito que você vai longe. Foi daí
que deixei o triângulo continuei a com o pífano tocar até hoje
eu treino, até hoje eu toco, e renovação da nossa cultura,
temos capoeira na nossa comunidade, a banda de Pífano, essa
é parte principal da nossa da nossa cultura, da nossa a nossa
comunidade e também da minha pessoa Paulino eu gosto de
tudo isso, me renova tocar pífano, renova jogar e brincar de
capoeira, eu gostaria que essa cultura continuasse outros e
outros mestre que vai continuar o nosso trabalho, a nossa
Cultura na nossa comunidade”. (Entrevista concedida a José
Alcides)

CIRANDA E COCO DE RODA


A ciranda é uma tradição cultural em quase todas as
comunidades quilombolas. Em Caiana, inclusive, as
cirandeiras chegaram a gravar um CD no ano de 2003,
produzido pela cantora Socorro Lira. Dona Edite é uma das
lideranças da ciranda, umas das mais antigas praticantes do
coco e da ciranda.
CAPA DO CD

ENSAIO DO GRUPO DE CIRANDEIRAS AINDA COM A PRESENÇA DE


SEU ZUZA (2006)
Imagens de Nazareno Andrade.
https://www.flickr.com/photos/naza/143385449/in/photostream/.

“Entre as décadas de 1970 e 1980, época em


que as bandas de pífano começaram a “cair” na
comunidade, o coco de roda e a ciranda
começaram a “subir”, estando à frente o mestre
cirandeiro e coquista João Maria, oriundo de
Caiana e que levava a sua ciranda para outras
localidades”. Fonte: Janailson Macedo Luiz.

E Dona Edite nos explica a diferença entre a ciranda e o


coco de roda:

“A diferença é pruque a do coco a gente canta bem


avançado e a ciranda a gente já canta mai devagar
(...). A pancada do zabumba do coco de roda ele é
bem rebolado e a da ciranda é ela é compassada.
Num é fai qui nem di o ditado num bate do mermo
jeito não. (...) [Durante as apresentações] Quando a
gente ta muito cansada ai diz vai que a gente já ta
muito cansada no coco de roda aí a gente muda pa
ciranda que a gente toma muito mai fóiga”. Fonte:
citado na pesquisa de Janailson Macedo Luiz.
RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE
Em Caiana dos Crioulos prevalece a religião cristã, com a
comunidade dividida entre Católicos e Evangélicos.
Antigamente eram mais comuns a realização de novenas e a
prática das rezadeiras. As religiões de matriz africana não se
apresentam mais na atualidade, inclusive, porque
historicamente foram demonizadas e alvo de preconceitos.
Contudo, uma reportagem da Revista Manaíra nos mostra que
no passado havia um sincretismo religioso. Vejamos o que nos
diz o documento:

“Pois bem. Como a maioria é cristã, apesar


de aqui ainda existir grande número de
adeptos de Changô, ouvimos a voz do
Criador: ´Crescei e multiplicai-vos`. E assim
chegamos ao que hoje se vê”.
Péricles Leal, Revista Manaíra, 1945.
12. EDUCAÇÃO
ATIVIDADES DE VALORIZAÇÃO ETNICO-RACIAL NA
ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL FIRMO
SANTINO DA SILVA – COMUNIDADE QUILOMBOLA DE
CAIANA DOS CRIOULOS– ALAGOA GRANDE – PB

Lúcia de Fátima Júlio

O Brasil é constituído por uma diversidade racial com


diferentes histórias e culturas, que são invisibilizadas na
sociedade, onde predomina os valores culturais brancos como
padrão. O racismo, o preconceito, a discriminação e a
invisibilidade também estão no dia a dia do ambiente escolar,
comprometendo a autoestima e aprendizado do alunado
quilombola.
Para provocar mudanças nas relações entre os grupos
étnicos ocorreram mudanças nos marcos legais da educação
com a inclusão da diversidade étnico racial.
Nas Diretrizes e Bases da Educação/1996 o Artigo 26, no
§4º, afirma que “o ensino da História do Brasil levará em
conta a contribuição das diversas culturas e etnias para a
formação do povo brasileiro”, especialmente as matrizes
indígena, africana e europeia. Em 2003, foi promulgada a Lei
10.639, esta alterou a LDB 9.394/1996 e tornou obrigatório o
ensino da temática da História da África e das Culturas Afro-
brasileira nas disciplinas que fazem parte das grades
curriculares dos ensinos fundamental e médio. Em 2008, a Lei
11.645/2008 também alterou a Lei 9.394/1996, ou seja, a lei
de diretrizes e bases da educação, e incluiu no currículo oficial
da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-brasileira e Indígena”. Ambas as leis são
importantes ferramentas para o debate e reconhecimento do
racismo no Brasil.
Para a efetivação dessa lei no chão da escola é necessária
ação conjunta de gestores, professores e demais componentes
e equipes pedagógicas, de modo que promova a discussão das
questões raciais a partir do currículo e, assim, evitar que o
debate sobre a temática só aconteça nos dias 13 de maio e 20
de novembro, o que acaba não aprofundando o conhecimento
sobre a história e cultura afro-brasileira e indígena.
No cotidiano da escola, observamos que o artigo 78 B da
lei 10.639/2003 está sendo executado, no entanto, o desafio é
pela efetivação do artigo 26 A dessa lei.
A discussão sobre a diversidade étnico-racial no
ambiente escolar não acontece de maneira harmoniosa, tal
questão é pautada pelo conflito, sobretudo, porque na escola
prevalecem a invisibilização, simplificação e negação da
questão racial, o que se faz urgente à efetivação de tal lei.

EDUCAÇÃO QUILOMBOLA

Os quilombos no Brasil foram constituídos de diferentes


formas e em períodos distintos da história, localizam-se na
cidade e no campo, nesta área estão à maioria desses
territórios, que se constituem sociedades de resistência das
pessoas negras ao sistema escravista.
A palavra quilombo é seguramente originária dos povos
de línguas bantu (kilombo, aportuguesado: quilombo). Sua
presença e seu significado no Brasil têm a ver com alguns
ramos dos povos bantu cujos membros foram trazidos e
escravizados nesta terra. Trata-se dos grupos lunda,
ovimbundu, mbundu, kongo, imbangala, etc., cujos territórios
se dividem entre Angola e Zaire. Embora o quilombo
(kilombo) seja uma palavra de língua umbundu, de acordo
com Joseph C. Miller, seu conteúdo enquanto instituição
sociopolítica e militar é resultado de uma longa história que
envolve regiões e povos aos quais já me referi. É uma história
de conflitos pelo poder, de cisão dos grupos, de migrações em
busca de novos territórios e de alianças políticas entre grupos
alheios (MUNANGA KABENGELE - Origem e histórico do
quilombo na África, São Paulo, Revista USP)
A Constituição Federal (1988), afirma em seu Art. 216,
que os quilombos constituem patrimônio cultural brasileiro
porque são referências à identidade e à memória. A
identidade das comunidades quilombolas não se restringe
puramente aos negros descendentes dos quilombos formados
antes da abolição. Os quilombos no período do Brasil colônia
eram formados como resistência à escravidão, formavam
sociedades alternativas. Os quilombos formados no pós-
abolição, ocorreram em função da não inclusão dessas
pessoas no sistema vigente. As comunidades quilombolas são
frutos de processos, como: fugas com ocupação de terras
livres, falidas ou abandonadas, geralmente isoladas; compra
de propriedades por escravizados alforriados; doações de
terras.
EDUCAÇÃO QUILOMBOLA NAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS

A Educação Escolar Quilombola é uma modalidade da


Educação Básica, instituída pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica.
Essa educação é promovida por escolas quilombolas,
sejam elas urbanas ou rurais, que devem ser pautadas pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Quilombola na Educação Básica definidas pela Resolução
CNE/CEB n° 8/2012.
A Educação Escolar Quilombola fortalece as escolas, no
que se refere à valorização e à afirmação dos valores étnico-
raciais, proporcionando instrumentos teóricos e conceituais
necessários para compreender e refletir criticamente sobre a
educação básica oferecida nas comunidades remanescentes
de quilombos. Ao mesmo tempo em que busca garantir aos
estudantes o direito à apropriação dos conhecimentos
tradicionais e suas formas de produção, a fim de contribuir
para o reconhecimento, valorização e continuidade de suas
práticas.
E.M.E.I.E.F. FIRMO SANTINO DA SILVA

Fotografia feita por Lúcia de Fátima Júlio

A Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino


Fundamental Firmo Santino da Silva foi criada em 27 de
março de 2001 e iniciou suas atividades escolares em 01 de
abril de 2001. Está localizada na comunidade remanescente
quilombola de Caiana dos Crioulos, no município de Alagoa
Grande-PB. Atende a um público diverso, cuja maioria é negra.
A escola funciona nos dois turnos, da educação infantil,
fundamental anos iniciais e fundamenta anos finais, conta
com 193 alunos matriculados. Ela recebe alunos que residem
em Caiana dos Crioulos, e em outras comunidades adjacentes,
como Caiana do Agreste, Paquevira, Serra do Balde e Sapé de
Julião. Atende também as comunidades rurais das cidades
circunvizinhas como por exemplo Matinha e outras.
Fotografia feita por Lúcia de Fátima Júlio

Fotografia feita por Lúcia de Fátima Júlio


Fotografia feita por Lúcia de Fátima Júlio

A escola mantém diálogo com as famílias e a


comunidade, valorizando os saberes e fazeres quilombolas.
Em 2010, a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino
Fundamental Firmo Santino da Silva foi contemplada com o
Selo “Educação para a Igualdade Racial”; resultado das suas
experiências exitosas no trabalho com a Lei nº 10.639/03, no
Dia Internacional contra Discriminação Racial. O Selo foi
muito importante para toda a Educação da Rede Municipal,
pois foi o reconhecimento dos esforços empreendidos pelo
Prefeito João Bosco Carneiro Júnior e do Secretário da
Educação Marcus Alves Pedrosa na implantação da Lei
10.639/03 que determina a inclusão de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar do ensino
médio e fundamental na rede pública de ensino.
Lançado em 2010, o Selo da Educação para a Igualdade Racial
contemplou as primeiras experiências exitosas de escolas e
secretarias de Educação que trabalham com a Lei nº 10.639/03,
no Dia Internacional contra Discriminação Racial

Vale ressaltar que a Escola Firmo Santino foi


contemplada com essa honraria e a professora Lúcia de
Fátima Júlio foi a Brasília recebê-la.
Esse esforço se concretizou através da formação
continuada de professores/as na área de história e cultura
afro-brasileira, o que fez numa parceria com a UEPB, campus
Guarabira. Apesar de relevante, e de ter logrado bons
resultados; sobretudo, no que diz respeito no enfrentamento
do racismo e da promoção da igualdade racial, o projeto de
formação continuada de professores não teve continuidade
nas gestões posteriores o que prejudicou o processo de
educação pautado na igualdade racial que estava ocorrendo
na rede pública municipal.
Por isso, atualmente é necessário o retorno dos cursos
de formação continuada de professores na área de educação
etnicorracial, uma vez que possibilita aos docentes elementos
a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação Escolar Quilombola na Educação Básica, sobretudo,
porque a Escola Firmo Santino da Silva é uma instituição
escolar quilombola.

Ações desenvolvidas pela Secretaria da Educação para a


implementação da Lei 10.639/03 nos anos de 2010 e
2011

Palestra na Escola Firmo Santino da Silva - Os Professores


Waldeci Ferreira Chagas e Luís Domingos Tomás realizaram
palestra sobre a história e cultura afro-brasileira e africana
para os estudantes do 6º ao 9º ano.

Curso de Extensão: Cidadania e Identidades Negras nas


Escolas, (de abril a novembro de 2010 e 2011). Esse curso foi
desenvolvido através de convênio com a UEPB, Campus
Guarabira, através do Departamento de Geo-História. Durante
esse curso foram diretamente atendidos 109 docentes, os
quais concluíram o curso integralmente.

Oficinas de Corporeidade Negra nas Escolas – método da


contação de história ministrado pela arte/educadora
Fernanda Mara Ferreira Santos junto aos estudantes da escola
Municipal de Ensino Fundamental Firmo Santino da Silva.

PROJETO DE EXTENSÃO “COISAS DE NEGROS (AS), COISAS


DE BRASILEIROS (AS)”.
● Encontros afro-pedagógicos;
● Oficinas de sensibilização: De onde viemos?
● Oficinas de Textos: Escrita de negro, imagens de mim.
● Oficina de Poesia e Música.
CURSO DE EXTENSÃO: CIDADANIA E IDENTIDADES
NEGRAS NAS ESCOLAS

Em 2010 foi celebrado um convênio com a Universidade


Estadual da Paraíba para implementação dos conteúdos de
história e cultura afro-brasileira e africana no currículo
escolar. O curso de extensão capacitou professores, gestores,
pessoal técnico e pedagógico com atuação na educação básica
da rede municipal de Alagoa Grande a trabalhar com a
educação das relações etnicorraciais e implantar no currículo
a lei 10.639/03.
Possibilitou aos professores da educação básica
compreender as questões relacionadas a diversidade étnico
racial e lidar positivamente com elas criando estratégias
pedagógica que possibilitasse auxiliar o aluno na construção
do saber acerca da história e cultura afro-brasileira e africana.
Desconstruiu as concepções pedagógicas com relação à
história e a cultura afro-brasileira e africana, quebrando
preconceitos e superando a falta de compromisso com a causa
da população negra.
O curso oferecido foi organizado e coordenado geral:
Professor Dr. Waldeci Ferreira Chagas, e coordenadora: Lúcia
de Fátima Júlio e destinado a todos os integrantes da Rede
Municipal de Ensino. Foram distribuídos material didático
sendo este resultado de convênio com a Universidade
Estadual da Paraíba e com o Fórum Estadual de Educação e
Diversidade Étnico racial.

OBJETIVOS

• Capacitar professores (as) da educação básica a


desconstruir as “imagens” negativas existentes na sociedade
sobre as pessoas negras, a África e a cultura afro-brasileira, de
modo a tornar a sala de aula e a escola espaços pluricultural,
portanto, de inclusão;

• Capacitar os (as) professores (as) da educação básica a


reconhecerem as pessoas negras como sujeitos da sua própria
história, e respeitar suas formas de pensar, conceber a
realidade e seu jeito de ser;

• Desconstruir as concepções pedagógicas dos (as)


professores (as) da educação básica com relação à história e a
cultura afro-brasileira e africana, quebrando preconceitos e
superando a falta de compromisso com a causa da população
negra;

• Possibilitar aos (as) professores (as) da educação básica a


estabelecer a integração entre a teoria e as práticas
pedagógicas, de modo a que os conteúdos de história e cultura
afro-brasileira e africana possam ser incluídos no currículo
escolar;

• Habilitar os (as) professores (as) da educação básica a


compreender as questões relacionadas à diversidade étnico
racial e lidar positivamente com elas criando estratégias
pedagógicas que possam auxiliar o (a) aluno (a) na construção
do saber acerca da história e cultura afro-brasileira e africana;

• Discutir as políticas públicas voltadas para as populações


negras no Brasil, as diretrizes curriculares e a legislação
pertinente à inclusão das ações afirmativas para a população
negra;

• Analisar a cultura local e regional e nela identificar as


expressões e manifestações pertinentes às populações negras;
OBJETIVOS ALCANÇADOS

• Habilitar os (as) professores (as) da educação básica a


compreender as questões relacionadas à diversidade étnico
racial e lidar positivamente com elas criando estratégias
pedagógicas que possam auxiliar o (a) aluno (a) na construção
do saber acerca da história e cultura afro-brasileira e africana;
• Capacitar professores (as) da educação básica a reorganizar
o sistema pedagógico escolar, de modo a alterar o Projeto
Político Pedagógico direcionando objetivos e procedimentos
para o combate ao racismo e a valorização das histórias e
culturas das populações negras;
• Elevar a auto-estima de professores (as) negros (as) e não
negros (as);
• Organizar planos de ação a serem desenvolvidos nas escolas.

Módulos
MÓDULO I - HISTÓRIA DA ÁFRICA E DAS POPULAÇÕES
NEGRAS NO BRASIL
Ministrante: Prof. Dr. Waldeci Ferreira Chagas
(UEPB/CH/DH)
Centro de Formação e Capacitação de Professores de Alagoa
Grande, 29/07/ a 02/09/2011.
MÓDULO II – CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS
Ministrante: Profª. Drª. Maria Lindaci Gomes de Souza
(UEPB/CEDUC/DH) Centro de Formação e Capacitação de
Professores de Alagoa Grande, 16/09/ a 14/10/20114.
MÓDULO III –RELIGIÃO E RELIGIOSIDADES AFRO-
BRASILEIRAS
Ministrante: Profª. Drª. Ivonildes da Silva (UEPB/CH/DL)
Centro de Formação e Capacitação de Professores de Alagoa
Grande, 21/10/ a 25/11/2011
III SEMINÁRIO: A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03 NO
CONTEXTO PARAIBANO – AVANÇOS, DESAFIOS E
PERSPECTIVAS (2015) III Seminário: A implementação da
Lei 10.639/03 no contexto paraibano – Avanços, Desafios
e Perspectivas”

Esse seminário foi realizado com o objetivo de avaliar e


incentivar a promoção e implantação da Lei 10.639/2003 no
currículo escolar, essa lei garante a aplicabilidade dos
conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana no
currículo da escola da educação básica. Os seminários foram
realizados em cinco (5) municípios polos, sendo eles: João
Pessoa, Campina Grande, Patos, Monteiro e Sousa.
Foi constado a necessidade do desenvolvimento de
políticas públicas de educação para diversidade étnico-racial,
diálogo com gestores educacionais e sociedade civil para a
implementação da Lei 10.639/03 e das Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação Escolar Quilombola na Educação
Básica, acompanhar as ações das políticas públicas.
EDNALVA JOSEFA DA SILVA NASCIMENTO

“Sou Ednalva Josefa, moro no Quilombo Caiana dos


Crioulos desde que nasci, sou agricultora, estudante
universitária, mãe e esposa. E escrever sobre a educação
quilombola é um desafio, porque na prática nós não temos
uma educação quilombola, as diretrizes afirmam que todas as
escolas do campo e quilombola tenha um currículo voltado
para as comunidades quilombolas, mas na prática isso não
acontece. Os professores são todos da cidade, o PPP da escola
não é discutido com a comunidade e nem com os pais dos
alunos, porque no PPP é discutido todos os conteúdos que
serão repassados para os alunos.
Comecei meus estudos aos 7 anos de idade, começando na
pré escola, até a quarta série, meus estudos foram muito
precário, porque não tinha sala de aula adequada para todas
as turmas e nisso muitas das vezes estudei embaixo de uma
árvore e em tempo de chuva os alunos se apertava na sala
maior.
Outro desafio enfrentado foi no meu fundamental II, onde
os estudos eram só na cidade e que tinha que trabalhar ajudar
os pais na agricultura e estudar a tarde. Muitas das vezes
chegava à escala o primeiro horário já tinha terminado e a
volta pra casa era de difícil acesso, na estrada de barra o carro
se atolava e para sair era difícil e nisso os alunos subiam a pé
e chegavam em casa tarde da noite.
Em 2004, foi concluída a escola Firmo Santino da Silva,
onde todos os alunos que estavam matriculados na cidade iam
ser transferido para a comunidade e nisso já estava no último
ano do ensino fundamental II, e nessa escola havia salas de
aula para toda turma. Mas por ser uma escola quilombola os
professores, não tem uma formação voltada pra educação
quilombola, sendo assim, o ensino não é voltado para nossas
tradições quilombolas e nesse sentido o ensino fica muito a
desejar. Mas com todos os esforços, às vezes desistência, mas
sempre tinha vontade, desejo de terminar meus estudos.
Casei em 2005, comecei meu estudo no colégio Padre
Hildon Bandeira, a dificuldade era tão grande que desisti na
primeira semana, o tempo foi passando tive minha primeira
filha mais aquele desejo de terminar meus estudos continuava
em mim. E nisso minha mãe me deu um grande empurrão,
lembro como se fosse hoje, “vai que eu fico com ela” e nisso foi
me fortalecendo e no ano seguinte renovei minha matrícula
no colégio Estadual, passei apenas uma semana, não aguentei
os jovens com aquele gás e começava as gritarias, e nisso me
desanimou, pedi a transferência para outra escola Estadual,
onde se formava para a docência. Pensei comigo, aqui é meu
lugar, com muita força e dedicação terminei o Magistério e
com duas filhas para tomar de conta.
Onde tive muita ajuda de meus pais, minha comadre
Maria que devo todos meus estudos a elas, por elas sempre
me ajudando na hora de ficar com minhas filhas enquanto
estudava. Com todos os esforços, enfrentando barreiras,
terminei meu ensino médio e posso dizer ainda não venci,
mais se Deus quiser conquistarei meu objetivo.
Em 2019, passei a cursar Educação do Campo na
Universidade Federal de Campina Grande, no Campus Sumé e
já estou no 5° período do curso, é um curso de formação de
professores pra atuar no campo mais também não nos impede
de atuar na cidade. É um curso que forma por áreas de
conhecimento, ou seja, você se forma em três áreas de
conhecimento, onde você faz as opções: Linguagens, Humanas
e Exatas.
E nessa escolha, me senti muito desafiada e escolhi a área
de exatas, onde estarei apta para dar aulas de Química, Física ,
Biologia e Matemática. Os jovens quilombolas enfrentam
muitos desafios para chegar à uma universidade, muitas das
vezes por falta de interesse dos próprios jovens e até mesmo
falta de iniciativa dos pais. Sabemos que precisamos lutar
muito para conseguir ocupar nossos espaços na comunidade
quilombola, onde precisamos estar preparados
psicologicamente e principalmente profissionalmente para
ser os futuros professores da comunidade quilombola Caiana
dos Crioulos.
Nesse sentido, estaríamos ofertando uma educação do
campo e quilombola para todos os alunos. Portanto, não se
pode desenvolver uma educação do campo e quilombola,
onde os professores, não conhecem a realidade dos alunos e
nem da comunidade e tendo profissionais da própria
comunidade o ensino será voltado para as tradições
quilombolas e sempre respeitando as diretrizes e bases da
educação.
Portanto, para se ter uma boa educação quilombola, os
professores têm que estar preparados para esse ofício, tendo
uma formação de qualidade voltada para a realidade do
campo e quilombola, e os jovens que estão se preparando na
Universidade Federal de Campina Grande, cursando Educação
do Campo, estão se preparando profissionalmente para essa
função.
Sabemos que muitas dificuldades existem no nosso
caminho, mas podemos persistir sempre para alcançar nosso
objetivo e assim poder contribuir com a educação quilombola
na nossa comunidade, onde não somos visto como capazes, e
sim, como incapaz de realizar certos trabalhos na comunidade
e também os poderes públicos não nos dar essas
oportunidades.
E com essa preparação, penso que será diferente, pois
temos como lutar pelos nossos direitos, para atuar na própria
comunidade quilombola, tendo como professores formados
da própria comunidade quilombola”.
13. SAÚDE NO QUILOMBO
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, o
acesso à saúde é um direito de todos e dever do Estado. A luta
em defesa do SUS e contra a privatização da saúde é um
desafio histórico para a classe trabalhadora brasileira,
incluindo o povo negro das periferias das cidades e das
comunidades quilombolas.

Na Comunidade Quilombola de Caiana dos Crioulos as


principais doenças constatadas são as seguintes: hipertensão,
diabetes tipo II, anemia falciforme, glaucoma, miomas
uterinos, alcoolismo e problemas relacionados à saúde
mental.
As residências que, juntas, somam 128 casas, geralmente
construídas com diversos tipos de materiais, desde tijolos a
taipa (embora forneçam um bom conforto térmico, por reter
maior nível de umidade, aumentam as chances de ocorrência
de fungos e insetos que podem provocar doenças). Não há
coleta de lixo, nem água encanada, de modo que a
comunidade consome água derivada de barragens, açudes,
poços, cisternas e tanques. Pelo fato da procedência da água
não ser de rede pública, os habitantes do Quilombo Caiana dos
Crioulos optam por tratarem sua própria água, sendo o meio
mais comum a cloração, que consiste na adição de cloro na
água como forma de destruir micróbios causadores de
doenças. O ato de clorar a água é simples, pois utiliza
produtos de baixo custo. No entanto, pode acontecer desse
cloro se unir a matéria orgânica presente na água, gerando
subprodutos com os trialometanos, que são prejudiciais à
saúde, excepcionalmente para grávidas, podendo gerar
malformações e prematuridade no feto. Algumas casas não
dispõem de banheiros e outras utilizam fossas sépticas, já
que não existe rede de esgoto. Apesar do Quilombo Caiana
dos Crioulos não possuir rede de água encanada e tratamento
do esgoto, nenhuma doença relacionada à água foi observada
na comunidade.
Dados do SIAB (Sistema de Informações de Atenção
Básica) trazem informações relacionadas ao tratamento que a
população faz da água da seguinte forma: coloração 82,81%,
filtração 1,56%, não tratam a água 15%. A respeito do lixo
produzido por eles 86% dos quilombolas jogam em terrenos
baldios dentro da comunidade, 8% queimam e 6,25% não
responderam o que faziam.
Vários fatores contribuem para o acesso aos meios de
comunicação, como informações provenientes de
propagandas que chegam até essas comunidades por meio de
rádios e televisões, juntamente a unidade de UBSF (Unidade
Básica de Saúde da Família) e CRAS (Centro de Referência de
Assistência Social), e da medicina ancestral passada de
geração em geração pelas mulheres do quilombo como cita
Luciene em sua entrevista concedida a Lúcia de Fátima Júlio:
“... foi um conhecimento muito gratificante né,
porque muitas de nós mais jovens tinha
conhecimento de algumas ervas, mas as
mulheres que são nossas matriarcas né? que já
tem um conhecimento maior; as mulheres
acima dos seus 70 anos, elas trouxeram ervas e
assim com a propriedade do que aquela erva
servia que a gente não tinha esse
conhecimento…”

Esses são fatores que podem explicar o baixo índice de


crianças com diarreia proveniente da falta de saneamento.

UBSF IX- DAMIÃO NUNES FERREIRA

Fotografia feita por Lúcia de Fátima Júlio.

A UBSF IX Caiana dos Crioulos que tem como objetivo o


nível de atenção básica para comunidade, foi instaurada em
____ funcionando de segunda a sexta nos horários entre as
8:00 até às 17:00 onde dispõe de 03 agentes de saúde, 01
técnico em saúde bucal, 01 cirurgião dentista, 01 técnico de
enfermagem, 01 enfermeiro e 01 médico.

SEDE DO CRAS

Imagem feita por Lúcia de Fátima Júlio.

O quilombo dispõe também de um CRAS, criado com o


objetivo de fornecer apoio e proteção assistencial a pessoas
que residem em áreas consideradas de vulnerabilidade social.
Facilitando o acesso em projetos e benefícios governamentais,
às famílias em condição de risco recebem orientação para
fazer a inscrição no Cadastro Único, item necessário para o
ingresso em programas de transferência de renda como o
Auxílio Brasil. Dentro dos serviços que o CRAS oferece estão o
de PAIF (Proteção e Atendimento Integral à família) e SCFV
(Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos) com
vários profissionais como assistentes sociais, psicólogos e
pedagogos.
14. ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DA
COMUNIDADE QUILOMBOLA CAIANA DOS
CRIOULOS

Como podemos perceber do documento acima, a


Associação dos Moradores de Caiana dos Crioulos foi fundada
em 3 de março de 1986. Foi criada, inicialmente, com a
finalidade de das apoio ao “Projeto São Vicente, colaborando
com as atividades produtivas de alimentos básicos”.
A primeira diretoria ficou assim constituída: José Luís da
Silva (presidente), João Manuel do Nascimento (vice-
presidente), Maria Augusta Benvinda (secretária), José João
da Silva (tesoureiro) e José Francisco da Silva (conselheiro).
Arquivo de Ednalva Rita do Nascimento (Nalva)
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Quilombolas e novas etnias. Manaus: UEA
Edições, 2011.
ARAGÃO, Patrícia C. de. LIMA, Luciene T. d. S. "Mulheres em rede de saberes
vivenciando a comunidade caiana dos crioulos e reexistindo na luta". In:
Revista Internacional de Apoyo a la Inclusión, Logopedia, Sociedad y
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BANAL, Alberto. A Paraíba dos Quilombos. In: Solange P. Rocha, Matheus Silveira
Guimarães (Organizadores)- A Paraíba no pós-abolição e no tempo presente:
racismos e trajetórias de resistência. João Pessoa: Editora UFPB, 2018.

BANAL, Alberto e FORTES, Maria Ester (org.) Quilombos da Paraíba: a realidade


de hoje e os desafios para o futuro. João Pessoa: Editora Imprell, 2013.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. In:
Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da
Educação Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria
de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. p. 424-495.

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9394/96. Brasília: 1996.

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DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos


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Fontes Orais:
SILVA, Edite José da [78 anos]. [dez. 2021]. Entrevistador: Lúcia de Fátima Júlio.
Alagoa Grande, PB. 21 dez. 2021
LIMA, Luciene T. d. S [xx anos]; NASCIMENTO, Elza U. d. [48 anos]. [jan. 2022].
Entrevistador: Lúcia de Fátima Júlio. Alagoa Grande, PB. XX jan. 2022
ORGANIZADORES (AS)/AUTORES (AS)

José Luciano de
Queiroz Aires é
professor de História
da UFCG. Tutor do PET
História.

Lúcia de Fátima Júlio é professora


de Geografia na Escola do distrito
de Zumbi, em Alagoa Grande.
Agrônoma de formação e já foi
gestora da Escola Firmo Santino
da Silva no Quilombo Caiana dos
Crioulos.

Maria das Dôres da Silva Lima é


quilombola da Comunidade
Caiana dos Crioulos – Alagoa
Grande - PB, graduada em Letras
Português (FAMA – RJ) e Letras
Espanhol (UFPB – PB),
atualmente professora de
Espanhol na ECIT (Escola Cidadã
Integral no município de Alagoa
Grande).
Mãe, Empreendedora, Técnica
Agrícola em Agropecuária,
Técnica em Agronegócio, Líder do
Coletivo Cultural Caiana dos
Crioulos, militante do movimento
Negro, membro da AACADE.

Quilombola de Caiana,
estudou na Escola
Firmo Santino da Silva
e hoje cursa Educação
do Campo no CDSA/
UFCG, campus de Sumé.

Érica é graduanda em
História e integrante do
PET História UFCG.
Vitória é graduanda em
História e integrante do PET
História UFCG.

João Pedro Henriques é


graduando em História e
integrante do PET História
UFCG.

Carolina é graduando em
História e integrante do PET
História UFCG.
Lucas Silva Lira é graduando
em História e integrante do
PET História UFCG.

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