Apostila

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APOSTILA DE EVANGELISMO

Dando a razão da esperança que há em nós

JONATHAN PHILIP

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APOSTILA DE EVANGELISMO
Dando a razão da esperança que há em nós

Introdução
1. Deus em Missão ........................................................ 06
2. Igreja em Missão ....................................................... 10
3. O que é o evangelho? ............................................ 21
4. Atuação do Espírito Santo ...................................... 28
5. Evangelização e a Soberania de Deus ................ 32
6. Obstáculos à Evangelização Bíblica ..................... 37
7. Importância da Oração ........................................ 47
8. Métodos e Estratégias ............................................ 52
9. Discipulado .............................................................. 73
10. Características do Evangelista ............................ 91
Indo Mais Fundo ...................................................... 99
Bibliografia ............................................................... 129

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INTRODUÇÃO

Não há como seguirmos ao Senhor Jesus sem nos envolvermos com a sua missão,
essa é uma verdade incontestável. Ser um discípulo de Jesus tem profunda
relação com o fato de fazer outros discípulos de Jesus. E é disso que se trata o
evangelismo: pecadores alcançados pelo amor impactante de Cristo se
dispondo a ir ao mundo impactar outros pecadores com esse mesmo amor.
Essa é a vontade do Senhor para nós que somos a sua igreja. Somos convocados,
como embaixadores do reino, a usarmos nossas vidas para proclamar a graça e
o amor de Deus.
Você, no esforço de ser um discípulo fiel de Jesus, certamente enfrentará muitos
obstáculos no cumprimento dessa missão; haverá medo, motiv ações incorretas,
falta de entendimento, pouco preparo bíblico e teológico, desânimo,
perseguição, falta de sabedoria, falta de apoio de outros irmãos da igreja e
algumas outras dificuldades. São muitas barreiras que podem te atrapalhar, mas
nenhuma delas deve te impedir de ser um instrumento usado por Deus.
Se você, meu irmão, est á lendo esta apostila é porque no seu coração arde o
anseio de ser um instrumento nas mãos do Senhor para, quando surgirem as
oportunidades – e elas surgirão a todo instante –, compartilhar as boas novas de
salvação em Cristo Jesus. Para isso, você precisa ter uma boa base bíblica para
estar minimamente preparado.
A ideia deste material é te ajudar a entender melhor a missão que o Senhor nos
deu, te capacitar a apresentar de forma bíblica o evangelho e te mostrar na
Palavra o que Deus espera de nós como cristãos evangelistas.
Serão 10 capítulos que abordarão aspectos diversos, mas profundamente
relacionados à evangelização. Nos capítulos 1 e 2, falaremos sobre a missão de
Deus e a missão da igreja, dois temas intimamente ligados, que são o ponto de
partida de toda a nossa conversa. No capítulo 3, talvez o mais importante da
apostila, estudaremos qual é a mensagem do evangelho, já que queremos
anunciá-la. Nos capítulos 4 e 5 veremos algo sobre a atuação do Espírito Santo
e a soberania de Deus na salvação do homem. Sem um entendimento claro
desses pontos, cometeremos muitos erros na obra evangelística, que é o assunto
do capítulo 6, em que falaremos sobre os obstáculos à evangelização bíblica.
No capítulo 7, conversaremos sobre uma prática que deve acontecer antes,
durante e depois da evangelização, que é a oração. E, no capítulo 8, falaremos
sobre os métodos e estratégias evangelísticas que podemos usar na
proclamação da Palavra; recomendo que você não pule os demais capítulos
para ir diretamente a esse.

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No penúltimo capítulo dessa apostila, passaremos um tempo estudando sobre
discipulado e aquilo que acontece depois da tarefa da evangelização. Muitos
livros e apostilas de evangelismo não tratam sobre essa segunda etapa da
missão e os desafios que ela apresenta, porém, conduzir alguém a fé em Cristo
por meio da pregação é só uma das partes do que pede a Grande Comissão.
Por fim, no capítulo 10, veremos dez características do cristão evangelista, por
meio de dez textos devocionais, que servirão de resumo e conclusão de tudo o
que foi falado. Espero em Deus que essas reflexões te desafiem a ser um cristão
mais comprometido com o Senhor.
No final da apostila temos uma sessão chamada “Indo Mais fundo”, com as
definições de alguns termos usados no contexto da evangelização e o
acréscimo de textos complementares aos assuntos tratados na apostila.
Não é a ideia deste material ser profundo em todos os assuntos, mas sim, oferecer
um preparo básico para a obra evangelística. Que cada versículo bíblico, cada
conceito explicado e as ideias propostas possam transformar sua forma de servir
a Deus e te impulsionar a fazer parte do avanço do reino. Que este material te
motive a estudar mais os temas abordados e a se aprimorar como evangelista a
serviço do Senhor Jesus.
Que o Senhor te abençoe nessa leitura e que o evangelho de Cristo Jesus te
empolgue e te transforme mais e mais.

Missionário Jonathan Philip


São Paulo, 2021

“...estando sempre preparados para responder a t odo aquele que vos pedir
razão da esperança que há em vós”
1 Pedro 3:15

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DEUS EM MISSÃO

1. DEUS EM MISSÃO

“Disse-lhes, pois, Jesus out ra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me
enviou, eu t ambém vos envio.”
João 20:21

Antes de falarmos sobre qualquer outra coisa, precisamos ir para o começo de


tudo: o próprio Deus. Evangelismo tem a ver primeiramente com o Senhor. É Deus
quem chama sua igreja para essa missão e a guia e capacita para que de fat o
ela a cumpra. É Deus quem abre os corações e transforma a vida das pessoas.
Todas essas coisas acontecem para a sua glória. A salvação do mundo, antes
de ser do interesse da igreja, é do interesse de Deus. Antes da nossa missão vem
a missão de Deus.
É importante entendermos isso para que não exista dúvida sobre qual é
exatamente nosso papel nessa obra. Não somos nós que fazemos, pelo
contrário, somos instrumentos para algo que Deus está fazendo. Nas palavras de
Christopher Wright: “não é que Deus tem uma missão para sua igreja no mundo;
em vez disso, Deus tem uma igreja para a sua missão” (LOGAN, Reformado Quer
Dizer Missional; p. 11).

VAMOS ENTENDER
A bíblia é um livro incrível que revela para nós o Deus Trino, Pai, Filho e Espírito
Santo. De Genesis a Apocalipse lemos e aprendemos sobre seus atributos (suas
perfeições e qualidades), seus decretos, feitos e propósitos. Toda a Escritura nos
aponta para um Deus em ação, realizando tudo em perfeição e de forma
soberana, fazendo tudo para sua própria glória em cumprimento da sua
vontade.
Com um olhar a partir das Escrituras descobrimos que o Senhor é o grande
arquiteto por detrás de tudo o que acontece na história. Nada foge do seu
controle e da forma como Ele determinou que seja, o que para nós é uma
realidade grande demais para entender. Deus é tão soberano que até a
entrada do pecado no mundo e a queda do homem só aconteceram com a
sua soberana permissão. Deus é o autor de toda a criação e é Senhor sobre
todas as coisas. Faz todo sentido, então, concluirmos que a salvação da
humanidade também é um ato da graça e da soberania do Senhor.

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DEUS EM MISSÃO

Nosso Deus faz tudo para sua própria glória, esse é o propósito último de todas
as suas obras. Romanos 11:33-36 é um texto que nos ensina sobre isso. Ninguém
pode questionar a Deus sobre o porquê de ele fazer o que faz. A única coisa que
podemos saber é o que diz o versículo 36, que “dele, e por meio dele, e para ele
são t odas as coisas. A ele, pois, a glória et ernamente. Amém!”. Esse é o nosso
Deus.
Dentro dos seus planos eternos, Deus decidiu realizar um grande projeto: a
restauração de sua criação perdida e deformada pelo pecado. Esse projeto se
dá unicamente por iniciativa de Deus que, em seus decretos e em sua graça,
decidiu reverter os efeitos do pecado em sua criação. É como se Deus apertasse
o botão de reset e revertesse tudo o que o pecado do homem causou. É isso
que Deus está fazendo ao longo da história; Deus está redimindo a sua Criação
para sua própria glória.
É interessante lembrarmos que toda a Trindade está envolvida nesse projeto de
redenção, em que cada pessoa da Trindade assume um papel especial. Um
texto bíblico que mostra essa atividade da Trindade é o de Efésios 1:3-14:
“Bendit o o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos t em abençoado
com t oda sort e de bênção espiritual nas regiões celest iais em Cristo, assim como
nos escolheu, nele, ant es da fundação do mundo, para sermos sant os e
irrepreensíveis perant e ele; e em amor nos predest inou para ele, para a adoção
de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácit o de sua vont ade, para
louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu grat uitamente no Amado,
no qual t emos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo
a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundant emente sobre nós em
t oda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vont ade,
segundo o seu beneplácit o que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na
dispensação da plenitude dos t empos, t odas as coisas, t anto as do céu como
as da t erra; nele, digo, no qual fomos t ambém feitos herança, predest inados
segundo o propósit o daquele que faz t odas as coisas conf orme o conselho da
sua vont ade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de ant emão
esperamos em Cristo; em quem t ambém vós, depois que ouvist es a palavra da
verdade, o evangelho da vossa salvação, t endo nele t ambém crido, fostes
selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança,
at é ao resgat e da sua propriedade, em louvor da sua glória.”
Efésios 1:3-14 (dest aque nosso)

Nesse texto observamos o papel de cada pessoa da Trindade na salvação do


homem. O Pai é quem decreta e estabelece seus propósitos (v. 3 ao 6); o Filho
executa, por meio de sua obra de encarnação, morte e ressurreição, esses

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DEUS EM MISSÃO

propósitos do Pai (v. 7 ao 12); e o Espírito Santo aplica toda essa obra em nossas
vidas (v. 13 e 14).
Deus não tinha nenhum compromisso em oferecer salvação pois fomos nós que
pecamos e desobedecemos. É só abrir sua bíblia no capítulo 3 de Genesis e ler
sobre a rebeldia de Adão e Eva que trouxe condenação para t oda a
humanidade (Gênesis 3; Romanos 5:12,18). Mas, quando Jesus derramou seu
sangue na cruz, tornou possível a redenção e o resgate de pecadores que
estavam caminhando para a condenação eterna (Mateus 20:28; Efésios 1:7;
Colossenses 1:14).
É justamente aqui que encontramos nosso lugar em meio a tudo isso. Aprouve
ao Senhor usar, ao longo da história, seu povo e sua igreja como instrumentos
para esse projeto. Nossa função é bem clara: somos aqueles que anunciam a
redenção que há somente em Jesus. Por isso dizemos que nossa missão vem da
missão de Deus. Deus está em ação e nós somos seus cooperadores; ele é o
grande protagonista e nós os seus coadjuvantes (1 Coríntios 3:6-9).

O TEXTO DE JOÃO 20:21


Uma passagem bíblica que explica bem toda essa questão é a de João 20:21,
em que Jesus diz:
“...Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu t ambém vos envio”.
Jesus foi enviado pelo Pai a este mundo para cumprir uma missão e um
propósito. Qual seria esse propósito divino para o qual Jesus Cristo se encarnou ?
Vimos anteriormente que Deus faz tudo para sua glória; a vinda de Cristo ao
mundo certamente também tem essa finalidade. Também sabemos que a
salvação da humanidade só poderia ser realizada por meio de um sacrifício
perfeito, algo que só o próprio Deus poderia fazer. Por isso, Jesus, sendo Deus, se
entregou na cruz por nós, o que, sem dúvidas, foi uma imensa demonstração de
amor (João 3:16). Jesus venceu o pecado por meio da sua morte e da sua
ressurreição, e é justamente essa obra realizada por ele o centro de todo o plano
redentivo de Deus.
Toda a Escritura apontava para a vinda de Cristo, que, no momento certo, viria
e cumpriria todos os propósitos estabelecidos pelo Pai, o que, de fat o, já
aconteceu (Lucas 24:44-47; Atos 2:23). A missão de Cristo de carregar a cruz e
vencer a morte foi concluída e perfeitamente executada (João 19:30). Porém,
na sequência do versículo de João 20:21, Jesus se dirige aos seus discípulos
atribuindo-lhes também uma missão. Agora, a próxima missão a ser cumprida
seria a dos discípulos, a qual sabemos ser a nossa hoje também.

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DEUS EM MISSÃO

Como se dá essa missão atribuída por Jesus a toda sua igreja estudaremos no
próximo capítulo da apostila. Por hora, precisamos olhar para João 20:21 e
entender que tudo o que fazemos enquanto discípulos neste mundo deve ser
um reflexo da própria missão de Cristo. Estamos unidos a Cristo e, assim como ele
foi enviado, também somos, com a missão de anunciar a salvação.
Neste capítulo, pensamos sobre o fat o de Deus estar em ação, executando uma
obra de redenção em sua criação manchada pelo pecado. No próximo
capítulo, iremos estudar de forma mais detalhada a missão que nos foi
designada dentro desse grande plano de Deus.

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IGREJA EM MISSÃO

2. IGREJA EM MISSÃO

“e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a


t odas as nações... Vós sois t estemunhas dest as coisas”

Lucas 24:47-48

Até aqui já estudamos que o nosso Deus é um Deus em missão. Ele faz tudo para
manifestar a sua glória e está redimindo toda a criação através da obra de seu
Filho Jesus. Foi importante entendermos isso para agora, enfim,
compreendermos qual é a missão da igreja.

AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE JESUS


Depois de exercer um ministério de aproximadamente três anos, manifestando
o reino através de pregação, de ensino e de curas, Jesus caminhou até a cruz
para oferecer sua própria vida como sacrifício pelos pecados. Três dias depois,
em conformidade com as Escrituras, Cristo ressuscitou dos mortos e se encontrou
com seus discípulos, cumprindo tudo o que ele mesmo tinha predito que iria
acontecer (Mateus 16:21; Mateus 20:17-19; Lucas 24:6-8). Nesses encontros pós-
ressurreição, Jesus fala aos discípulos sobre coisas relacionadas ao reino de Deus,
os confronta pela incredulidade, lhes abre o entendimento para
compreenderem as Escrituras e proporciona momentos de restauração, como
no caso de Pedro. Porém, nesse momento pós-ressurreição, antes de subir aos
céus, Jesus ainda dirige aos seus discípulos mandamentos e instruções especiais
com relação a pregação do evangelho.

Nas últimas palavras do Senhor Jesus aqui na terra existe uma atenção com
relação a missão que seus discípulos teriam de executar. Uma tarefa especial é
dada e ela deveria ser cumprida. Essa tarefa especial dada por Cristo aos seus
discípulos recebe o nome de A Grande Comissão; a ordem do Senhor de que
seu evangelho fosse proclamado a todas as nações.

Essa Grande Comissão ter sido dada nas últimas palavras de Cristo é um fat o que
não pode ser ignorado por nós. Claramente demonstra a relevância que o
cumprimento dessa comissão teria nos próximos passos que seriam dados pelos
discípulos; passos que são dados até hoje. O lugar da Grande Comissão dentro
do ensino de Cristo não implica em maior importância quando comparada com

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IGREJA EM MISSÃO

todos os outros ensinamentos e mandamentos que o Senhor deu, pois todos são
valorosos e devem ser guardados. A ntes, o lugar da Grande Comissão
estabelece um novo propósito para todo o restante, pois, agora, todos os ensinos
de Jesus não deveriam ser somente obedecidos, mas também proclamados.
Kevin DeYoung, no livro “Qual a Missão da Igreja?”, afirma que:

“... a missão da igreja é resumida nas passagens da Grande Comissão – as últimas


ordens de Jesus comunicadas no final dos evangelhos e no começo de Atos dos
Apóstolos. Cremos que a igreja é env iada ao mundo para testemunhar de Jesus,
por proclamar o evangelho e fazer discípulos de todas as nações. Esta é a nossa
tarefa. Esta é a nossa chamada, única e central. ” (DEYOUNG, Qual a Missão da
Igreja?; p. 31)

É no conteúdo da Grande Comissão que encontramos a missão da igreja, por


isso, vamos dedicar boa parte desse capítulo estudando os relatos das últimas
palavras de Jesus com o objetivo de compreender essa tarefa especial que o
Senhor deixou para nós.

OS TEXTOS DA GRANDE COMISSÃO


Foi da vontade de Deus que o ministério de Jesus fosse registrado por mais de
um autor bíblico. Quatro autores neotestamentários se propuseram a dar um
relato cuidadoso da obra realizada pelo Senhor Jesus; cada um deles com
estilos, ênfases, destinatários, fontes e propósitos diferentes. Porém, todos os
quatro evangelistas escreveram com o mesmo objetivo de apresentar a pessoa
de Jesus como o Cristo que veio da parte de Deus manifestar o reino e realizar a
salvação através da sua morte e ressurreição.

Lemos os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, e descobrimos como se


deu o nascimento de Jesus, o início do seu ministério, os seus milagres, seus
ensinamentos às multidões e seu relacionamento com os discípulos. Sobretudo,
encontramos nos evangelhos o ponto focal de t oda a história da redenção na
morte e na ressurreição do Senhor, onde ele ofereceu um sacrifício perfeito ao
Pai, entregando a própria vida na cruz para estabelecer perfeita redenção em
seu sangue.

Porém, a história não termina na ressurreição. Todos os evangelistas relat am o


momento em que Jesus, antes da sua ascensão aos céus, envia seus discípulos
para cumprirem uma tarefa especial: a grande comissão. Encontramos esses
textos em Mateus 28:18-20, Marcos 16:14-16, Lucas 24:44-49 e João 20:21.
Também encontramos o relato dessa passagem no livro de Atos, em Atos 1:8;

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IGREJA EM MISSÃO

que foi escrito por Lucas, o mesmo autor do Evangelho de Lucas. Não existe lugar
melhor nas Escrituras para compreendermos, de forma essencial, qual é a missão
da igreja senão nesses 5 textos bíblicos.

Sendo assim, nossa tarefa é: analisarmos o conteúdo desses versículos,


estabelecermos uma relação entre eles, uma vez que são textos correlatos (ou
seja, textos diferentes que abordam o mesmo momento e episódio do ministério
de Jesus), e chegarmos a uma conclusão sobre o ensino da Grande Comissão.

TEXTO 1: JOÃO 20:21


“Disse-lhes, pois, Jesus out ra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou,
eu t ambém vos envio. ”

Esse é o menor de todos os relatos da comissão, mas traz explicações muito


preciosas para o nosso entendimento e prática. Após a ressurreição de Cristo, os
discípulos estavam reunidos numa casa com as portas trancadas e Jesus
aparece no meio deles e lhes saúda com a paz. Depois, Jesus diz aos discípulos
que, assim como Deus Pai o havia enviado, ele agora também enviaria os seus
discípulos.

O propósito do envio de Cristo ao mundo nós entendemos quando lemos nas


Escrituras versículos como João 3:16-17:

“Porque Deus amou ao mundo de t al maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que t odo o que nele crê não pereça, mas t enha a vida et erna.
Porquant o Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo,
mas para que o mundo fosse salvo por ele. “
João 3:16-17

Em João 6, a partir do verso 38, Jesus disse:

“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vont ade, e sim a
vont ade daquele que me enviou.

E a vont ade de quem me enviou é est a: que nenhum eu perca de t odos os que
me deu; pelo cont rário, eu o ressuscit arei no últ imo dia.

De fat o, a vont ade de meu Pai é que t odo homem que vir o Filho e nele crer
t enha a vida et erna; e eu o ressuscit arei no últ imo dia. “

João 6:38-40

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IGREJA EM MISSÃO

Ainda em João 12:44-47, o Senhor disse:

“E Jesus clamou, dizendo: Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que
me enviou.

E quem me vê a mim vê aquele que me enviou.

Eu vim como luz para o mundo, a fim de que t odo aquele que crê em mim não
permaneça nas t revas.

Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu


não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. “

João 12:44-47

Esses versículos nos mostram que o propósito do envio de Cristo ao mundo está
relacionado com a salvação. Jesus se fez homem e morreu em obediência aos
planos de Deus. Entendemos que o motivo do envio de Jesus foi esse e que essa
era a sua missão.

Agora, o significado do envio dos discípulos (da igreja) não pode ter relação
com outra realidade senão com a obra que Jesus realizou no mundo e para o
mundo. Nesse sentido que afirmamos que a missão da igreja está relacionada
com a missão de Deus; e, se a missão de Deus envolve a redenção da criação,
a nossa missão enquanto igreja também será nesse sentido.

Mas calma, nossa missão enquanto igreja não é fazer tudo o que Jesus fez. Não
fomos chamados para morrer na cruz e redimir todas as coisas com o nosso
poder. Não temos a missão de salvar as pessoas. Na realidade, nossa missão se
relaciona com a missão de Jesus em outro sentido; é o que vamos compreender
lendo Mateus 28:19 e Marcos 16:15.

TEXTO 2: MATEUS 28:19-20


“Ide, port anto, fazei discípulos de t odas as nações, bat izando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Sant o; ensinando-os a guardar t odas as coisas que
vos t enho ordenado...”

Olhamos para o relato de Mateus 28 e encontramos a passagem mais completa


em relação à Grande Comissão. Observando por hora o versículo 19 e parte do
20, encontramos o cerne da missão da igreja que é FAZER DÍSCIPULOS. É sobre

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IGREJA EM MISSÃO

isso que se trata a comissão do Senhor Jesus; isso cumpre uma parte especial do
que significa ser um servo de Deus neste mundo.

Porém, o versículo começa com outro imperativo importante que nos mostra
que, para fazer discípulos, é necessário “IR”; sem disposição e deslocamento
geográfico é impossível cumprir a missão.

Jesus complementa apresentando a necessidade de um sinal visível que


distingue aqueles que fazem parte da igreja e são discípulos de Jesus. Esse sinal
visível é o Batismo, que aponta para a aliança do povo de Deus com Deus.

Além do sinal do batismo, Jesus revela a realidade do discipulado dizendo que


esses novos discípulos deveriam ser ensinados a guardar tudo o que Jesus tinha
ordenado. Não podemos esquecer que discipular pessoas também faz parte da
missão.

Em suma, o que Mateus 28:19-20 nos ensina é que fazer discípulos é a essência
da missão de Jesus para a igreja. E a pergunta “como fazer discípulos?” é
respondida e repetida no relato de Marcos 16:15.

TEXTO 3: MARCOS 16:15


Temos em Marcos 16:15 o seguinte versículo:

“E disse-lhes: Ide por t odo o mundo e pregai o evangelho a t oda criat ura.

Quem crer e for bat izado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. ”

Na ordem de fazer discípulos está implícita a ideia de pregar o evangelho e


anunciar uma mensagem que será crida ou não por aqueles que a ouvem. A
missão da igreja tem total relação com o testemunho verbal da mensagem do
evangelho de Cristo. Como Paulo diz em Romanos 10, “a fé vem pela pregação,
e a pregação pela palavra de Cristo” (Romanos 10:17).

Caminhando mais um pouco no entendimento da missão de Jesus para os seus


discípulos, Lucas nos ajuda ao explicar de forma resumida o que é o evangelho,
além de repetir outras ideias presentes nos demais relatos.

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IGREJA EM MISSÃO

TEXTO 4: LUCAS 24:44-49


“A seguir, Jesus lhes disse: São est as as palavras que eu vos falei, est ando ainda
convosco: importava se cumprisse t udo o que de mim est á escrit o na Lei de
Moisés, nos Profet as e nos Salmos.

Ent ão, lhes abriu o ent endiment o para compreenderem as Escrit uras;
e lhes disse: Assim est á escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre
os mortos no terceiro dia

e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a


todas as nações, começando de Jerusalém.

Vós sois t est emunhas dest as coisas.

Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade,
at é que do alt o sejais revest idos de poder. ”

Lucas 24:44-49

Algumas questões importantes aparecem aqui em Lucas, como o envio da


promessa do Espírito Santo que revestiria os discípulos de poder para
testemunhar; mas, falaremos disso a seguir.

O que ressalto aqui é o conteúdo da mensagem que deve ser anunciada e


testemunhada. Jesus aparece ressurreto aos discípulos e lhes abre o
entendimento para entenderem que toda a bíblia (até então, a porção da
Escritura que já havia sido escrita – Genesis à Malaquias) apontava para a obra
que Cristo iria realizar. Na Lei dada por meio de Moisés, nas profecias, como de
Isaías e Daniel, e nos Salmos e escritos históricos do Antigo Testamento, constava
que “o Crist o havia de padecer e ressuscit ar dent re os mortos no t erceiro dia e
que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a
t odas as nações”.

A mensagem do evangelho anuncia a boa notícia de que Jesus é o Filho de


Deus enviado do céu, que morreu na cruz e ressuscitou ao terceiro dia,
vencendo a morte e, pelo seu poder, oferecendo o perdão dos pecados para
aqueles que, em qualquer lugar do mundo, verdadeiramente se arrependem de
seus pecados e creem no Senhor Jesus como salvador e redentor.

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IGREJA EM MISSÃO

TEXTO 5: ATOS 1:8


Lucas em Atos 1:8 repete e explica a ideia do alcance global da mensagem do
evangelho. Como já foi dito em Mateus e em Lucas, a pregação do evangelho
de Cristo deve ser feita para “t odas as nações”.

Em Atos 1:8 lemos assim:

“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírit o Sant o, e sereis minhas
t estemunhas t anto em Jerusalém como em t oda a Judeia e Samaria e at é os
confins da t erra. “

O sentido do texto é claro em nos mostrar que, na fala de Jesus, o alcance da


missão contempla o lugar onde estamos inseridos (Jerusalém), os lugares
próximos de nós (Judeia), os lugares um pouco mais afastados e muitas vezes
até indesejados (Samaria), e os lugares mais distantes, os quais mal conhecemos
(Confins da terra). Todas essas esferas geográficas devem ser alcançadas pela
pregação do evangelho de salvação. A igreja não pode se esquecer de
nenhuma delas.

Esse verso de Atos 1:8 prenuncia os eventos do livro de Atos em que os discípulos
se esforçam para cumprir com a Grande Comissão e levam a palavra a essas 4
esferas. O evangelho se espalhou a Jerusalém – Atos 2:1 a Atos 8:1; na Judeia e
Samaria – Atos 8:1 a Atos 12:25; e até os confins da terra no ministério de Paulo –
Atos 13:1 a Atos 28:31.

Atos 1:8 ainda nos conta sobre a capacitação dada por Deus para que a igreja
cumpra a missão. Jesus havia dito em Lucas 24:49 que os discípulos deveriam
permanecer na cidade até que do alto eles fossem revestidos de poder. Essa
promessa se cumpriu na pessoa divina do Espírito Santo. O Espírito é o
combustível da missão e o poder de Deus para a pregação da Palavra. Através
dele Jesus se faz presente conosco todos os dias até a consumação do século.

RESUMINDO TUDO
Analisando esses 5 textos correlatos que retratam o momento da grande
comissão do Senhor, percebemos os elementos que compõe o ensino em
relação a missão da igreja. Esses textos nos ensinam que:

- a missão da igreja deriva da missão de Jesus;

- a igreja é enviada por Jesus para realizar sua parte na obra de redenção;

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IGREJA EM MISSÃO

- a parte da igreja na obra de redenção é a missão de fazer discípulos e pregar


o evangelho;

- deve acontecer o batismo e o ensino daqueles que se tornam discípulos de


Jesus;

- discípulos são feitos através da pregação do evangelho a todas as criaturas;

- o evangelho é a mensagem que anuncia que era necessário que o Cristo


morresse e ressuscitasse ao terceiro dia, e que, em seu nome, se pregasse o
arrependimento para remissão e perdão de pecados;

- pecadores são perdoados de seus pecados quando creem em Jesus como o


Filho de Deus que verteu seu sangue para nos salvar;

- a pregação do evangelho é de alcance global – todas as nações devem ouvir


o evangelho;

- o evangelho deve ser pregado aonde estamos, em lugares pertos, um pouco


distantes e nos confins da terra;

- a pregação do evangelho é possível pela capacitação do Espírito Santo que


reveste os discípulos de Jesus com poder para testemunhar.

Até aqui são esses os elementos presentes no relato da grande comissão quando
analisado a partir desses 5 textos bíblicos - Mt28:19-20; Mc16:15-16; Lc24:45-49;
Jo20:21 e At1:8.

A AUTORIDADE DE CRISTO
Porém, existe mais um elemento que ocupa um lugar primordial no ensino da
grande comissão, do qual todas as outras realidades da missão dependem.
Em Mateus 28:18 o texto nos diz:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no


céu e na t erra. ”

A missão da igreja só é possível por causa da autoridade total sobre o universo


que o Senhor Jesus recebeu. Jesus ter recebido tal autoridade é a parte mais
relevante não só para entendermos a grande comissão, mas para enxergarmos
toda a bíblia.

Como já vimos anteriormente, inclusive na fala de Jesus em Lucas 24:44, a bíblia


conta a história da redenção em Cristo Jesus. Tudo se resume na realidade de
um Deus criador, numa criação que se corrompeu, e na ação final de um Deus

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IGREJA EM MISSÃO

que está reestabelecendo todas as coisas. É nesse sentido que a obra de Jesus
ocupa um lugar tão central, pois é por sua morte e ressurreição que todas as
coisas voltam ao lugar. Só há salvação de pecadores por causa da obra de
Jesus; só há a realidade de um Novo Céu e uma Nova Terra por causa da obra
de Jesus; os planos de redenção são concretizados pela obra de Jesus.

O evangelho de Mateus é recheado de referências ao Reino de Deus. Mateus


escreve aos seus destinatários com o propósito de mostrar que Jesus é o Rei
prometido em toda Escritura e que seu reino já se manifesta entre nós (Mateus
4:17; 6:10; 9:35; 12:28; 24:14; 24:29-31; 25:31-34; 26:29).

O reinado de Jesus acontece de acordo com Daniel 7:13 e 14:

“Eu est ava olhando nas minhas visões da noit e, e eis que vinha com as nuvens
do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram
chegar at é ele.

Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens
de t odas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não
passará, e o seu reino jamais será destruído. “

Daniel 7:13-14

Outros textos, como os de 1 Coríntios 15:20-28 e Filipenses 2:9-11, nos apresentam


a realidade do governo de Jesus e do seu atual estado de glória e poder. A
imagem de Jesus pobre e humilhado é substituída pela realidade de que o nosso
Senhor reina em glória e poder, e que todas as coisas estão sob o seu domínio.

Só podemos pregar o evangelho porque Jesus recebeu do Pai toda a


autoridade sobre o céu e sobre a terra. Só podemos fazer discípulos dentre todas
as nações porque Jesus é Senhor sobre t odas as coisas. Se hoje celebramos a
alegria das boas novas é porque Jesus ressuscitou e nos oferece perdão e
remissão de pecados pelo poder do seu sangue. Só temos o Espírito Santo
agindo poderosamente em nós por causa dos méritos do Filho, que enviou, da
parte do Pai, o Consolador bendito.

Mais uma vez, DeYoung nos ajuda dizendo: “Deus não envia sua igreja a
conquistar. Ele a envia em nome daquele que já conquistou. Nós vamos somente
por que Jesus reina. ” (DEYOUNG, Qual a Missão da Igreja?; p. 59)

O ent endimento da Grande Comissão precisa passar pela autoridade de Jesus


porque dela derivam todas as coisas. Como é dito em João 15:5, sem Jesus nada
podemos fazer.

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IGREJA EM MISSÃO

A MISSÃO DA IGREJA É:
Agora sim, incluindo a realidade da autoridade de Jesus sobre todas as coisas,
vamos tentar, numa frase, expressar o que os relatos da grande comissão
ensinam sobre a missão da igreja.

Definição: Pela autoridade de Jesus e a presença capacitadora do Espírito


Santo, a missão da igreja é pregar o evangelho e fazer discípulos em todas as
nações, anunciando a morte, a ressurreição e a remissão de pecados para
aqueles que se arrependem e creem em Jesus; esses que creem são inseridos na
igreja através do batismo, e são ensinados a guardar todas as coisas que o
Senhor Jesus ordenou; essa proclamação do evangelho deve acontecer tanto
nos lugares mais distantes, quanto no lugar onde estamos inseridos, cumprindo
assim o nosso papel como cooperadores na missão de Deus de restaurar todas
as coisas para sua própria glória.

A MISSÃO DE PREGAR NÃO É A ÚNICA TAREFA DA IGREJA


A preocupação desse capítulo foi pontuar biblicamente do que se trata a
missão da igreja do Senhor Jesus. Evangelizar é a tarefa especial que Jesus deu
aos seus discípulos antes de subir aos céus. Anunciar a salvação ao mundo é
questão de obediência e não de conveniência; disso depende nossa saúde
como igreja e como cristãos. Nisso demonstramos também nosso amor ao
Senhor e o desejo que temos de que o seu nome seja glorificado por toda a
terra.

Mas é claro que pregar o evangelho não é a única tarefa que a igreja de Cristo
deve realizar. Também somos chamados e ordenados pelo Grande
Mandamento a demostrar amor a Deus e ao nosso próximo.

O mesmo evangelho de Mateus, que nos ensina sobre a missão de evangelizar,


também registra a fala de Jesus em Mateus 22:37-40 sobre o mandamento de
adorar a Deus acima de todas as coisas (Deuteronômio 5:7; Mateus 6:33), e amar
o nosso próximo como a nós mesmos (Mateus 5:16; Mateus 5:43-48; Mateus 25:35-
40).

Tanto a Grande Comissão (evangelização) quanto o Grande Mandamento


(adoração e amor) são realidades que norteiam nossa vida cristã e estabelecem
propósitos que temos enquanto igreja no mundo. Só precisamos diferenciar a
missão de pregar o evangelho das demais tarefas da igreja, pois ela cumpre
aspectos que as demais tarefas não o cumprem. Por exemplo, a pregação
cumpre um papel escatológico (Mateus 24:14) que o amor ao próximo não

19
IGREJA EM MISSÃO

cumpre (nos mesmos termos). A capacitação do Espírito (Atos 1:8) veio num
contexto de missão, possibilitando o testemunho, embora o Espírito também
frutifique em nossas vidas para a glória de Deus (Gálatas 5:22-23). É pela
pregação do evangelho que as pessoas são salvas (Atos 4:19-20; Atos 13:48;
Romanos 10:13-17). Também é pela pregação do evangelho que a ira de Deus
se manifestará para com aqueles que rejeitaram Jesus (Mateus 10:14-15). A
realidade do amor a Deus e ao próximo se estenderá para a eternidade,
enquanto que o evangelismo cumpre seus propósit os apenas na era presente.

Mark Driscoll estabelece uma boa relação entre essas tarefas da igreja quando
defini igreja nos seguintes termos:

“A igreja local é uma comunidade de cristãos regenerados que confessam Jesus


como Senhor e em obediência as Escrituras eles se constituem sob uma liderança
qualificada, reúnem-se regularmente para pregação e adoração, observam os
sacramentos bíblicos como o batismo e a ceia, estão unidos pelo Espírito, são
disciplinados para a santidade, e se espalham pelo mundo para cumprir o
grande mandamento, que é demonstrar amor, e a grande comissão , proclamar
o evangelho como missionários ao mundo, para a glória de Deus e para a nossa
própria alegria”

Deus está em missão e usa sua igreja para cumprir seus eternos propósitos, apesar
de não precisar dela. Somos privilegiados por ver o Deus Todo Poderoso agindo
em nós, através de nós e apesar de nós para o avanço do seu reino. Toda glória
seja dada ao Senhor. Em nome de Jesus, Amém!

20
O QUE É O EVANGELHO?

3. O QUE É O EVANGELHO?

“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a


salvação de t odo aquele que crê, primeiro do judeu e t ambém do grego”
Romanos 1:16

Lendo o Novo Testamento encontramos no apóstolo Paulo o seu exemplar amor


por Jesus. Ele mesmo afirmou que não se envergonhava do evangelho, pelo
contrário, estava disposto a investir toda sua vida para anunciá-lo (Romanos
1:15).
Nós também precisamos ter essa disposição, mas, antes de anunciar o
evangelho, precisamos conhecê-lo. Se alguém te procurasse e perguntasse o
que é o evangelho, o que exatamente você responderia? Será que sua resposta
seria completa e biblicamente fundamentada?
Esse é um ponto muito importante para nós. Pior do que não entregar a
mensagem é entregá-la de forma errada, incompleta e distorcendo as palavras
do Autor. Por isso, precisamos gastar um bom tempo indo à Palavra de Deus para
descobrir, ou, se necessário, redescobrir, o significado da mensagem do
evangelho.

ENTENDENDO MELHOR
Para entendermos melhor o evangelho que devemos pregar, vamos passar por
alguns textos da Palavra de Deus. Começaremos por Gênesis 1, 2 e 3 com o
relato da criação e a entrada do pecado no mundo, terminando com os
capítulos 3 e 5 da carta aos Romanos, sobre a obra de Cristo.

NO LIVRO DE GÊNESIS
Em Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, encontramos o relato da criação de Deus.
Gênesis 1:1 nos diz: “No princípio, criou Deus os céus e a t erra”. Os versículos que
se seguem até o final do capítulo 1 nos contam que em seis dias Deus criou todo
o universo e que, ao findar da sua criação, Deus olhou e viu que tudo o que
havia feito era muito bom (Gênesis 1:31).

21
O QUE É O EVANGELHO?

Lendo essa passagem, percebemos o destaque especial que é dado no relato


da criação do homem quando é dito, no versículo 27, que Deus criou o homem
e a mulher à sua imagem. Além de portar a imagem de Deus, ao homem é dada
a tarefa de sujeitar e dominar a criação de Deus (Gênesis 1:28-30).
No capítulo 2 de Gênesis, mais detalhes nos são dados e descobrimos que o
próprio Senhor foi quem soprou nas narinas do homem o folego da vida,
tornando-o uma alma vivente (Gênesis 2:7). O relato continua e no versículo 17
vemos que ao homem também é dada uma ordem:
“E o Senhor lhe deu est a ordem: De t oda árvore do jardim comerás livremente,
mas da árvore do conheciment o do bem e do mal não comerás; porque, no dia
em que dela comeres, cert ament e morrerás”
Gênesis 2:16-17
Como sabemos, é no capítulo 3 que a história do homem e da mulher, e, por
consequência, a história de toda a humanidade, toma um rumo drástico, pois
ali nos é relatada a entrada do pecado no mundo. Adão e Eva cedem à
tentação da serpente, tomam do fruto que o Senhor os havia proibido de comer,
e, em desobediência e rebeldia, comem do fruto da árvore do conhecimento
do bem e do mal (Gênesis 3:1-7). Um dos primeiros efeitos dessa desobediência
relatados no texto foi a tentativa do homem e da mulher de se esconderem da
presença de Deus, o que já aponta para o desejo profundo de fuga da presença
de Deus que o pecado trouxe ao coração humano.
Esse momento da história é o que denominamos de “Queda”, pois o homem
caiu do seu estado de santidade e perfeito relacionamento com Deus, e passou
a experimentar a morte e todas as consequências do seu pecado.
O pecado é o protagonista da tragédia humana. Como está escrito em Isaías
59:2-3, o nosso pecado causa separação entre nós e o nosso Criador. Um abismo
foi formado entre Deus e os homens e uma imensa inimizade foi instaurada nessa
relação. O coração do homem, que antes andava em retidão e pureza, se
tornou totalmente depravado e contrário à vontade de Deus (Gênesis 6:5; Salmo
14:1-3; Salmo 51:5; Marcos 7:21-23; Efésios 4:17-19).
A consequência dessa desobediência de Adão e Eva foi a morte. A morte
espiritual, a partir da qual nosso coração se tornou contrário à vontade de Deus
e passamos a nos esconder do Criador; a morte física, pois o pecado afetou
nosso corpo e matéria e passamos a experimentar a limitação da vida; e a morte
eterna, pois, como inimigos de Deus, fomos todos sentenciados a uma
eternidade em condenação.
Nosso pecado ofende a santidade de Deus e nos torna alvos da ira do Senhor.
O custo da desobediência é a eterna condenação no inferno (Mateus 25:41;
Marcos 16:16; João 3:36; Apocalipse 21:8).

22
O QUE É O EVANGELHO?

Essa certamente é uma má notícia. Porém, precisávamos entender o nível da


tragédia e da miséria humana para enfim compreendermos a glória que há na
salvação que Jesus nos trouxe.
O próprio relato de Gênesis já nos aponta para uma salvação vinda da parte de
Deus. Gênesis 3:15 diz:
“Porei inimizade ent re t i e a mulher, ent re a t ua descendência e o seu
descendent e. Est e t e ferirá a cabeça, e t u lhe ferirás o calcanhar”.
Junto com o relato da queda, nos é apresentado o plano de Deus de redenção,
em que o descendente da mulher vencerá a serpente que induziu a
humanidade ao pecado.
Sob a perspectiva de Gênesis 3:15, olhamos para todo o desenrolar da história
bíblica, na qual Deus chama um povo para si (o povo hebreu) para, a partir
desse povo, nos dar um redentor, que é Jesus. Ao longo de todo o Antigo
Testamento encontramos diversas referências que apontam para a vinda de
Jesus, que é o autor da salvação. Em Lucas 24, após a sua ressurreição, Jesus
abre o entendimento dos discípulos para compreenderem que toda a Escritura
ensinava que o Cristo havia de padecer e ressuscitar ao terceiro dia, e que em
seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados (Lucas 24:44-
47). O evangelho é a vitória de Jesus sobre a serpente (o inimigo de nossas almas)
e a morte. O evangelho é Jesus devolvendo ao homem a capacidade de ter
comunhão eterna com o seu Criador.

NA CARTA AOS ROMANOS


Em Romanos, o apóstolo Paulo descreve o evangelho de uma forma
espetacular. Lemos, do capítulo 1 ao 3, o retrato da pecaminosidade do homem
e da sua corrupção. Como é dito a partir do versículo 10 do capítulo 3:
“como est á escrit o: Não há just o, nem um sequer, não há quem ent enda, não
há quem busque a Deus; t odos se ext raviaram, à uma se fizeram inúteis; não há
quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto;
com a língua, urdem engano, veneno de víbora est á nos seus lábios, a boca,
eles a t êm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para
derramar sangue, nos seus caminhos, há dest ruição e miséria; desconheceram
o caminho da paz. Não há t emor de Deus diant e de seus olhos”.
Romanos 3:10-18
Diante dessa realidade, somos convencidos de que não temos justiça própria
para oferecer a Deus em troca da nossa salvação. Nossa única chance é confiar
na justiça perfeita do Filho de Deus.

23
O QUE É O EVANGELHO?

É o que aprendemos em Romanos 3:21 ao 26:


“Mas agora, sem lei, se manifestou a just iça de Deus t est emunhada pela lei e
pelos profet as; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Crist o, para t odos [e sobre
t odos] os que creem; porque não há dist inção, pois t odos pecaram e carecem
da glória de Deus, sendo just ificados grat uitamente, por sua graça, mediante a
redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como
propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua just iça, por t er Deus, na sua
t olerância, deixado impunes os pecados ant eriormente comet idos; t endo em
vist a a manifestação da sua just iça no t empo presente, para ele mesmo ser justo
e o just ificador daquele que t em fé em Jesus.”
Romanos 3:21-26
Somos justificados pela fé e ganhamos paz com Deus por meio do Senhor Jesus.
A mensagem do evangelho diz que Cristo morreu por nós (que cremos nele)
quando ainda éramos pecadores e que Deus prova o seu amor por nós antes
mesmo que pudéssemos manifestar amor a ele (Romanos 5:1, 6-8).
No capítulo 5 de Romanos, Paulo faz um paralelo entre Adão e Jesus. O versículo
12 nos diz que o pecado e a morte entraram no mundo por um só homem, que
em sua transgressão e desobediência nos trouxe condenação e juízo. Esse
homem foi Adão, nosso primeiro representante, que nos ensinou a não amarmos
a Deus. Porém, o que Adão não conseguiu fazer Cristo fez. A graça e a
justificação entraram no mundo também por meio de um só homem, que foi
plenamente obediente. Esse homem é Jesus Cristo, nosso novo representante.
Ele ofereceu um sacrifício perfeito e recebeu a ira de Deus em nosso lugar. Cristo
é o segundo Adão, que nos ensina a amar a Deus. Isso é o evangelho!
Por fim, a mensagem do evangelho convoca o pecador ao arrependimento e
à fé em Jesus. Essa grandiosa obra realizada por Jesus só é aplicada em nossa
vida quando cremos e colocamos nossa confiança no que Jesus fez na cruz. O
evangelho convida o homem a uma conversão; ou seja, um pleno
reconhecimento de sua pecaminosidade e rebeldia contra Deus, de sua
necessidade de um salvador e mudança de coração, e, ao mesmo tempo, o
reconhecimento de que somente Jesus tem poder para salvar e perdoar
pecados. A partir da conversão, deixamos de ser escravos do pecado e
passamos e a ser servos da justiça, mortificando o pecado que ainda habita em
nós e, a cada dia, nos tornando mais parecidos com Cristo, até sermos
totalmente transformados na eternidade, onde estaremos com Cristo para
sempre (Romanos 6:17-18,22).
Essa é a boa notícia do evangelho que precisamos anunciar; a notícia de que
Deus manifesta graça aos pecadores oferecendo eterna salvação por meio da
morte de seu Filho Jesus, que se ofereceu na cruz para resgatar aqueles que
creem em seu nome.

24
O QUE É O EVANGELHO?

PROPÓSITO PRINCIPAL DO EVANGELHO


Vimos qual é a mensagem do evangelho, mas não podemos esquecer qual seu
principal propósito. Como aprendemos antes, Deus está salvando o mundo e
redimindo a criação para sua glória. A finalidade principal do evangelho não é
a salvação do homem e, sim, a glória de Deus (Efésios 1:11-12). Devemos nos
alegrar imensamente quando pregamos a mensagem do evangelho e
conversões acontecem, porém nos alegramos sobremaneira com a glória que
é dada a Deus, pois ele é o autor da salvação e é para ele que somos
resgatados do pecado.

EXEMPLO DE UMA RESPOSTA COMPLETA


Mais uma vez, voltamos à pergunta: será que estamos prontos para responder
de forma bíblica o que é o evangelho? Temos a seguir a elaboração de uma
resposta completa.
Pergunta:
O que é o evangelho?
Resposta:
A mensagem do evangelho começa com o fato de t oda a humanidade estar
caída em PECADO por causa da desobediência de Adão e Eva lá no Jardim do
Éden. Por causa dessa desobediência o pecado ent rou no mundo, afet ou toda
a criação e nos separou de DEUS, uma vez que nos t ornou alvos da sua ira e
condenação. Caídos no pecado, nada podemos fazer para rest aurar nossa
condição, mas DEUS, em sua imensa graça e misericórdia, de acordo com seus
planos et ernos, preparou para nós uma forma de redenção por meio de seu
único Filho, Jesus, que se encarnou e morreu na CRUZ por amor, para oferecer a
DEUS Pai um sacrifício pelos pecados. Esse sacrifício se t orna válido e eficaz na
vida daqueles que CREEM no que Jesus fez na CRUZ e se ARREPENDEM dos seus
pecados. Pela fé em Jesus, esses são just ificados e perdoados, t endo seu
relacionamento com Deus rest aurado e seus corações pouco a pouco
t ransformados pela ação do Espírit o Santo. Por fim, esses que se t ornam discípulos
de Jesus t em como promessa a VIDA ETERNA, promessa t al que já se inicia nesta
vida e cont inuará para a et ernidade. Isso é o evangelho.
Essa seria uma resposta completa (e bastante teológica também) para essa
pergunta. Nem sempre nossa apresentação sobre o evangelho será tão
elaborada como essa; mas, certamente, nossa resposta sobre o evangelho
sempre será carregada de versículos e de conceitos bíblicos.
Precisamos falar algo sobre quem Deus é, algo sobre o pecado do homem e
suas consequências presentes e eternas, algo sobre a obra que Jesus realizou na

25
O QUE É O EVANGELHO?

cruz e sua ressurreição, algo sobre a necessidade que temos de crer em Cristo e
de nos arrependermos dos nossos pecados para sermos salvos, e algo sobre a
vida eterna. Podemos falar sobre muitas coisas, mas se não falarmos, mesmo que
de forma simples, desses aspectos da mensagem, ainda não pregamos o
evangelho de forma completa.
Porém, mais do que informação, doutrina e versículos decorados, devemos
apresentar o evangelho como alguém que fala de algo que vive, experimenta
e ama. O evangelho é mais do que uma filosofia, ele é o poder de Deus que
transforma nossas vidas e nos devolve a plena comunhão com Deus.
Deus pretende nos usar, independente da forma como a gente fala, do estilo da
nossa abordagem ou da estratégia que usamos; o que importa é que a
mensagem precisa ser fielmente apresentada e o mensageiro precisa ser fiel à
mensagem (1 Coríntios 4:2).

CONCLUSÃO
Depois de todas essas explicações, conseguimos esclarecer e reafirmar, de
forma simples, o que é o evangelho. É na Palavra que aprendemos sobre a
salvação que vem de Deus, por isso não podemos deixar nenhuma parte de
lado ou mudar seu conteúdo. Somos mensageiros que carregam as boas
notícias, e, como bons mensageiros, nos esforçamos para entregar a mensagem
sem nenhuma alteração.
Certamente, o poder e a realidade do evangelho vão muito além do que se
pode descrever em uma única frase. Crer em Cristo é só o começo do que
significa ser alvo da graça de Deus e se tornar um discípulo de Jesus. É uma
incrível caminhada que começa na conversão mas continua para toda a
eternidade.
Termino este capítulo citando o missionário Ronaldo Lidório, que resume: “o
evangelho é o Senhor Jesus; por isso, falar do evangelho é falar de Jesus; crer no
evangelho é crer em Jesus; rejeitar o evangelho é rejeitar Jesus; viver o
evangelho é viver Jesus; e amar o evangelho é amar Jesus”.

26
O QUE É O EVANGELHO?

VAMOS MERGULHAR NA PALAVRA


Listamos abaixo alguns versículos bíblicos que ajudam a aprofundar em nossa
mente e coração o entendimento sobre a mensagem do evangelho. São
versículos que também podemos usar numa conversa para explicar mais sobre
o evangelho. Gaste um tempo lendo esses textos, principalmente os que estão
destacados.
Versículos: Gênesis 3:15; Gênesis 12:3 (cf. Gálatas 3:8-9,14,22); Isaías 53:4-5;
Daniel 7:13-14(cf. 1 Coríntios 15:20-28); Mateus 1:20-21; Mateus 20:28; Marcos
10:45; Marcos 16:15-16; Lucas 24:44-47; João 1:12; João 3:16; João 6:35; João
8:12; João 11:25-26; João 14:6; Atos 2:38; Atos 3:12-26; Atos 4:12; Atos 10:43;
Atos 20:21; Romanos 1:16-17; Romanos 3:21-26; Romanos 5:6-8; Romanos 5:12-
21; Romanos 6:23; Romanos 8:1; Romanos 10:9-10,17; 2 Coríntios 5:15,17; 2
Coríntios 5:21; Gálatas 1:3-5; Gálatas 3:13; Efésios 2:4-5; Colossenses 1:13-23;
1 Timóteo 2:5-6; Hebreus 2:14-18; Hebreus 5:7-10; Hebreus 9:27-28; 1 Pedro 2:21-
25; 1 João 2:1-2; 1 João 3:4-5, 8; 1 João 4:9-10; 1 João 4:14-15; 1 João 5:11-12;
Apocalipse 1:5-6; Apocalipse 5:1-14.

27
ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

4. ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
t estemunhas tanto em Jerusalém como em t oda a Judeia e Samaria e at é aos
confins da t erra”
At os 1:8

É impossível pensarmos em evangelização sem pensarmos no Espírito Santo. É a


sua ação na vida daqueles que evangelizam que permite que a igreja cumpra
sua missão, e é sua ação na vida de quem é evangelizado que possibilita que
os eleitos creiam no evangelho. Neste capítulo, vamos estudar um pouco sobre
a importante at uação do Espírito Santo na obra da evangelização.

O ESPÍRITO SANTO NO MINISTÉRIO DE JESUS


Lendo os evangelhos, percebemos a presença do Espírito Santo em todo o
ministério de Jesus. Em Lucas 3:16, João Batista, ao explicar a superioridade de
Cristo em relação a si mesmo, diz:
“...Eu, na verdade, vos bat izo com agua, mas vem o que é mais poderoso do
que eu, do qual não sou digno de desat ar-lhe as correias das sandálias; ele vos
bat izará com o Espírit o Sant o e com fogo”
Lucas 3:16

Com essa fala, João Batista prenunciou o cumprimento de muitas profecias do


Antigo Testamento, como a de Joel 2:28-32, que dizia que nos últimos dias o
Espírito Santo seria derramado sobre toda carne. Isso fez Jesus quando, depois
de sua ressurreição, enviou o Espírito Santo aos seus discípulos e garantiu que o
selo do Espírito seria posto em todos aqueles que cressem em seu nome (Atos
2:1-4; Atos 2:38; Efésios 1:13-14).
O Espírito Santo acompanhou e capacitou Jesus em todo o seu ministério
terreno. No seu batismo (Lucas 3:22), na tentação no deserto (Lucas 4:1), na
realização dos milagres (Mateus 12:28; Atos 10:38) e na pregação do evangelho.
Jesus havia sido ungido pelo Espírito para cumprir sua missão (Lucas 4:18-21).

28
ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

A presença do Espírito Santo foi tão central no ministério de Cristo que até mesmo
a sua ressurreição ocorreu pela ação do Espírito Santo. Sobre isso, o reverendo
José João, em seu livro O Poder do Alt o, diz:
“Quem operou a ressurreição de Jesus foi Deus, mas pela ação do Espírito Santo.
O Espírito habitava a pessoa de Jesus, e pela ação poderosa dele, como a fonte
e promotor da vida, operou no corpo de Jesus, ressuscitando-o dentre os mortos.
Isso mostra a interdependência entre Jesus e a pessoa e obra do Espírito. Jesus
não ressuscitou pelo poder próprio. Dependeu do Espírito para que fosse
levantado de entre os mortos” (DE PAULA, O Poder do Alt o; p. 17).
Lucas nos conta, em seu evangelho e no livro de Atos, que nos últimos momentos
de Jesus aqui na terra o Senhor assegurou aos seus discípulos que eles
receberiam o Espírito Santo e que seriam do alto revestidos de poder para
testemunhar (Lucas 24:49; Atos 1:4). A promessa do Pai descrita pelos profetas
(Isaias 44:3-5; Ezequiel 36:26-27; Joel 2:28-29) e assegurada por Jesus (João 14:16-
17, 25-26; João 16:7-14) agora seria cumprida.
Na mesma ocasião em que o Senhor Jesus comissionou os seus discípulos a
pregarem o evangelho e fazerem outros discípulos por todas as nações, ele lhes
assegurou um poder vindo do alto que os capacitaria para cumprir a missão.
Esse poder seria dado por meio do Espírito Santo. Lemos em Atos 2 como
aconteceu a descida do Espírito Santo e como os apóstolos ficaram cheios do
Espírito e passaram a pregar sobre as grandezas de Deus para aqueles que
estavam presentes. Agora, o mesmo poder que est ava sobre o Mestre havia sido
colocado sobre os seus discípulos para o cumprimento da missão.
O livro de Atos continua e a igreja, no poder do Espírito, segue testemunhando
da salvação em Cristo. Vemos a atuação de Pedro e João perante o Sinédrio e
a conversão de milhares; o testemunho poderoso de Estevão e seu martírio pelo
nome de Jesus; a disposição de Filipe, que anunciava Jesus às multidões em
Samaria, mas também a um único Eunuco no deserto; e o exemplo de Paulo que
de perseguidor da Igreja foi transformado em um pregador, plantando muitas
igrejas e testemunhando da obra de Cristo perante os tribunais e as autoridades.
Todos esses só puderam atuar assim conforme a capacidade do Espírito Santo
(Atos 2:4; 4:8; 4:31; 6:8-10; 7:55; 8:29; 9:15-17; 13:9).

O PODER DO ESPÍRITO SANTO EM NÓS


O mesmo Espírito que estava sobre Jesus e sobre os apóstolos está sobre nós. No
momento da nossa conversão, fomos selados com o Espírito Santo e nos
tornamos sua habitação (Romanos 8:11; 1 Coríntios 6:19). A mesma promessa
que vimos se cumprir na vida dos apóstolos vemos se cumprir em nós, pela fé
que depositamos em Jesus. Este selo do Espírito, como é denominado por Paulo
em Efésios 1:13-14 e em 2 Coríntios 1:20-21, é irrevogável e nos acompanhará em

29
ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

toda nossa caminhada cristã, nos conduzindo, dentre outras coisas, à firme
esperança em Cristo, à santificação e à proclamação do evangelho.
Todo verdadeiro cristão tem o Espírito Santo (Romanos 8:9) e dele depende para
realizar todas as coisas. Porém, possuir o selo do Espírito não significa o mesmo
que ser cheio do Espírito Santo.
Paulo, em Efésios 4:30, nos exorta a não entristecermos o Espírito de Deus, com o
qual fomos selados. Se assim nos ensina o apóstolo Paulo é porque, certamente,
é possível entristecer o Espírito Santo.
Entristecemos o Espírito Santo com nossos pecados e com as velhas práticas que
seguíamos quando não conhecíamos a Cristo. Entristecemos ao Espírito Santo
quando ele nos fala por meio da Palavra e nós não damos atenção.
Entristecemos e apagamos o Espírito quando ignoramos as verdades que ele nos
ensina para vivermos de acordo com nossa própria vontade. Nada é mais
poderoso para tornar-se um cristão vazio do Espírito Santo do que um
desinteresse pelo estudo da bíblia e uma insensibilidade em confessar e
abandonar os seus pecados.
Estevão, cheio do Espírito Santo, confrontou seus perseguidores por serem
homens de dura cerviz e sempre resistirem ao Espírito Santo. Esse foi o pecado
cometido pelo povo em muitos momentos da história de Israel, e não pode ser
o nosso. Como cristãos comprometidos com a evangelização, precisamos
buscar o enchimento do Espírito.
Mais uma vez o reverendo José João nos ajuda, ao comentar sobre o
enchimento do Espírito:
“O que precisamos para sermos equipados e instrumentalizados por Deus para
essa grande obra também hoje? Do poder do Espírito Santo [...]. Esse poder é
para todos os que creem e buscam o enchimento dele, a fim de contemplarem
a glória que o Senhor Jesus exaltado manifesta [...]. Será que cremos, de fat o, no
Espírito Santo, como a grande certeza de que podermos ser poderosos na obra
de e no testemunho de Jesus Cristo? Quando crermos, de fat o, investiremos na
busca do enchimento do Espírito e na pregação do nome de Cristo através do
testemunho pessoal, na evangelização e ação missionária no lugar onde
estamos, no Brasil e também no mundo” (DE PAULA, O Poder do Alt o; p. 125).
Se, de fat o, crermos na importância da missão e no poder do Espírito Santo,
iremos ser extremamente comprometidos com a busca dessa capacitação que
o Senhor mesmo nos preparou.

30
ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

PRECISAMOS PEDIR POR MAIS DO ESPÍRITO SANTO


Em Lucas 11:9-13, Jesus diz:
“Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; bat ei, e abrir-se-vos-
á. Pois t odo o que pede recebe; o que busca encont ra; e a quem bat e, abrir-
se-lhe-á. Qual dent re vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma
pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe
pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós que sois maus, sabeis dar boas
dádivas aos vossos filhos, quant o mais o Pai celest ial dará o Espírito Santo àqueles
que lho pedirem?”
Lucas 11:9-13

De todas as coisas boas que podemos pedir ao Pai, o Espírito Santo é a melhor.
Deve fazer parte das nossas orações diárias a petição por mais do Espírito. Mais
da sua presença, do seu poder, do seu convencimento interno, da sua
iluminação para conhecimento da Palavra, da sua obra santificadora e de sua
capacitação para a obra evangelística.
O mesmo Espírito que atua em nós, também atua através de nós, alcançando
os perdidos e trazendo glória para o nome de Cristo Jesus. Como cristãos,
dependemos em tudo do Consolador; que ele continue nos guiando a toda
verdade.
Nesse capítulo, estudamos a ação do Espírito na vida do cristão, capacitando-
o para o anúncio do evangelho. No próximo capítulo, estudaremos um pouco
sobre a ação do Espírito Santo na vida daqueles que ouvem o evangelho. Por
melhor que seja nossa pregação, não temos o poder de converter ninguém, essa
é uma tarefa que só o Espírito Santo pode fazer quando convence o ser humano
do seu pecado. Nossa tarefa é anunciarmos o evangelho no poder do Espírito,
na certeza de que seremos instrumentos nas mãos de Deus para alcançar quem
ele quer chamar.

31
SOBERANIA DE DEUS E A EVANGELIZAÇÃO

5. SOBERANIA DE DEUS E A EVANGELIZAÇÃO

“...e creram t odos os que haviam sido dest inados para a vida et erna”

At os 13:48

Como já sabemos, a evangelização é uma tarefa que Deus deu ao seu povo e,
enquanto estivermos aqui nessa terra, devemos trabalhar em prol da missão de
anunciar as boas novas do reino de Deus. Sabemos também que nosso papel
nessa missão se limita apenas à proclamação fiel do evangelho e que não temos
poder para convencer as pessoas acerca dessas verdades, pois essa é uma obra
exclusiva do Espírito Santo, que é quem convence o ser humano do seu pecado
e de sua necessidade de Cristo. É o Espírito que converte os corações; nós
servimos apenas como instrumentos para a comunicação da Palavra de Deus.
A bíblia nos ensina que Deus é soberano sobre a salvação e que o homem, por
causa do seu pecado, se tornou incapaz de livremente buscar a Deus e fazer a
vontade divina. Somente quando Deus toca o coração do pecador e ali opera
uma transformação é que o homem se torna sensível para ouvir e entender a
palavra de Deus, e, assim, começar a abandonar o seu pecado. Essa ação que
Deus realiza no coração do homem se chama regeneração, que é o momento
em que o Espírito Santo transforma um coração de pedra em um coração de
carne (Ezequiel 36:26-27; Efésios 2:1-3; 2 Tessalonicenses 2:13-14; Tito 3:5).

O capítulo 2 de Efésios chama o ser humano de alguém que está “mort o em


delitos e pecados”. Um morto não anda, não fala, não ouve e não sente nada
pois é incapaz de reagir a qualquer coisa. O homem sem Cristo está morto
espiritualmente e só quando o Espírito Santo o faz nascer novamente ele se torna
capaz de ouvir a voz de Deus. Essa é uma obra que o Espírito Santo faz sem a
nossa ajuda e em quem ele quiser, de acordo com a sua vontade.

UM POUCO SOBRE A PREDESTINAÇÃO


Aqui entramos em uma doutrina que é ensinada claramente nas Escrituras,
chamada de Predestinação ou Eleição Incondicional. Essa doutrina bíblica nos
ensina que Deus, antes da criação do mundo, escolheu dentre os seres humanos
caídos aqueles que seriam redimidos, justificados, santificados e glorificados em
Jesus. Ou seja, Deus em sua soberania, elegeu alguns para a salvação. Muitos
textos ensinam essa verdade, como Mateus 24:22 e 31; Atos 13:48; Romanos 8:29-

32
SOBERANIA DE DEUS E A EVANGELIZAÇÃO

30; Efésios 1:3-14; 1 Tessalonicenses 1:4-5; 1 Tessalonicenses 5:9; 2 Tessalonicenses


2:13; 2 Timóteo 1:9 e Tito 2:1-2.

Encontramos nas Escrituras muitos outros textos que nos mostram que Deus
escolheu para si um povo e elegeu para a salv ação aqueles que ele quis. O
apóstolo Paulo, em Romanos 9, citando o livro de Êxodo, relembra a fala de Deus
a Moisés, dizendo:

“Terei misericórdia de quem me aprouver t er misericórdia e compadecer-me-ei


de quem me aprouver t er compaixão”
Êxodo 33:19 e Romanos 9:15.

Um pouco antes dessa passagem, no mesmo texto de Romanos 9, encontramos,


no versículo 11, a explicação de que Deus havia escolhido Jacó e rejeitado Esaú
antes mesmo de eles terem nascido. Deus escolhe soberanamente a quem ele
estenderá sua misericórdia (Romanos 9:18).

Essa doutrina traz dúvidas e questionamentos ao coração de muitos, que a


entendem como uma apresentação do Senhor sendo um Deus não amoroso e
tirano em suas determinações. Muitos afirmam que não conseguem conceber a
ideia de um Deus que manifesta misericórdia só para alguns, enquanto permite
que outros sigam para a condenação eterna. Porém, todos esses
questionamentos partem de uma tentativa humana de enquadrar Deus em
nossas próprias preferências e definições, em vez de aceitar e exultar com o que
a bíblia (a revelação que Deus deu de si mesmo para nós) claramente diz.

Ao contrário do que é dito, o fat o de Deus ter elegido alguns e não todos para
a salvação não anula a sua bondade e nem o torna menos amoroso. Diante da
pecaminosidade humana, Deus não tinha o dever de salvar ninguém. Sofrer a
condenação eterna é o que pecadores como eu e você merecemos. Ainda
assim, Deus, em sua imensa misericórdia, sacrificou o seu próprio Filho para nos
perdoar. Se Deus tivesse escolhido apenas um ser humano para a salvação, isso
já seria uma manifestação imensa de sua misericórdia. E se Deus não tivesse
elegido ninguém e permitido que todos os homens fossem para a condenação
eterna, isso não o tornaria menos amoroso, pois, como é dito em 1 João 4:8, Deus
é amor e seu amor está presente em tudo o que faz. Dizer que Deus é injusto ou
que não é gracioso é dizer que o nosso conceito de amor é melhor que o de
Deus, e pior, é se considerar mais misericordioso do que Deus.

Além disso, também ao contrário do que é dito, o fat o de Deus ter escolhido
alguns para a salvação não o torna um Deus tirano, antes, só reafirma a
soberania que ele tem.

33
SOBERANIA DE DEUS E A EVANGELIZAÇÃO

Uma mentalidade centrada no homem se esforça por defender o direito a uma


liberdade, que na verdade o homem não tem, em detrimento da liberdade e
do poder que Deus de fat o tem. Deus é o criador e o Senhor de todo o universo
e na condição de criador tem o direito de fazer com a sua criação o que ele
quiser (Romanos 9:20-21). Muitos podem pensar que Deus não tem o direito de
determinar o destino eterno das pessoas, pois isso seria uma violação da
liberdade humana. Pensar assim é colocar a liberdade humana acima da
vontade de Deus; em outras palavras, é tornar o criador refém de suas criaturas.

A verdade é que só existe salvação porque houve uma eleição divina. O homem
entregue a sua própria vontade e refém da sua própria liberdade cativa ao
pecado nunca encontraria a salvação. Glória a Deus pela eleição!

DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO E A EVANGELIZAÇÃO


Precisávamos passar um tempo conhecendo um pouco dessa doutrina para
chegarmos à questão central deste capítulo, que é o questionamento que
muitas vezes fazemos sobre a relação entre Deus já ter elegido aqueles que
serão salvos e a nossa missão de pregar o evangelho.

Afinal, se Deus já escolheu os que serão salvos, e esses que foram escolhidos de
fat o serão salvos, qual a necessidade de pregarmos o evangelho? Para
respondermos essa questão, vamos nos apoiar nas respostas que J.I. Packer deu
em seu livro Evangelização e a Soberania Divina.

Deus é soberano. Essa é uma verdade que aprendemos nas Escrituras (1 Crônicas
29:11; Salmo 95:3; Salmo 99:1-5; Romanos 11:36). Tudo acontece de acordo com
a sua vontade e todos os seus decretos serão realizados. Porém, diante dessa
realidade, podemos cometer dois erros: ignorar a soberania de Deus e passar a
agir como se tudo dependesse das nossas escolhas e decisões; ou agir de forma
leviana e imprudente, como se nossas decisões não tivessem importância, por
achar que a soberania de Deus nos isenta de responsabilidades. Esses são erros
comuns que cometemos em certos momentos de nossa vida cristã. Ou
assumimos toda a responsabilidade em nossos ombros, a ponto de não
confiarmos na soberania de Deus; ou responsabilizamos Deus por tudo, a ponto
de não fazermos a nossa parte.

Na evangelização esses erros podem nos levar a sermos desesperados na


pregação, como se a conversão das pessoas dependesse de nós e do nosso
esforço; ou, numa situação inversa, pode nos levar a sermos relaxados e
acomodados em relação a tarefa evangelística, na perspectiva de que Deus irá
salvar as pessoas independentemente da nossa ação.

34
SOBERANIA DE DEUS E A EVANGELIZAÇÃO

Cristãos reformados que afirmam a soberania de Deus na salvação e que creem


na doutrina bíblica da predestinação correm maior risco de cometerem o
segundo erro. O que está por detrás dessa acomodação é a ideia de que Deus
tem os seus eleitos e que, no final, todos eles irão crer em Cristo e serão salvos (o
que até aqui é verdade); sendo assim, na prática, eles creem que nossa
participação não é tão importante e que não precisamos nos esforçar em
relação à evangelização (o que é uma mentira que o inimigo tem usado para
minimizar a missão da igreja, sobretudo das igrejas reformadas). Essa é uma
postura que não agrada a Deus.

TRÊS RESPOSTAS
Basicamente três respostas são dadas a esse questionamento: (1) a soberania
de Deus na salvação não anula o mandamento dado para que preguemos o
evangelho; (2) a soberania de Deus na salvação não diminui a sinceridade do
convite do evangelho; e (3) a soberania de Deus na salvação é a única coisa
que nos garante que haverá respostas positivas à pregação.

Como já foi dito muitas vezes até aqui, e explorado de forma mais intensa no
capitulo 2, o Senhor Jesus comissionou a sua igreja e lhe entregou a tarefa de
pregar o evangelho e fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28:18-20). Essa
ordem de Jesus para nós não perde força quando é relacionada com a
soberania divina sobre a salvação do homem.

Por mais que Deus tenha os seus eleitos, ainda é nossa missão pregar o
evangelho a todas as criaturas (Marcos 16:15-16). Nossa motivação para cumprir
a missão não é a resposta positiva da parte das pessoas ou a existência de uma
suposta maior ou menor possibilidade de que ela venha a crer; nossa motivação
para cumprir a missão deve ser obedecer ao mandamento do Senhor. Deus não
nos revelou quem irá crer ou quem são os seus eleitos espalhados pelo mundo,
isso é mistério (Deuteronômio 29:29); mas Deus nos revelou em sua Palavra a sua
vontade de que a igreja testemunhasse do evangelho.

A evangelização é necessária porque nenhum ser humano pode ser salvo sem
o evangelho. Em Romanos 10, a parir do verso 13, está escrito:

“Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém,
invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem
nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?”

Romanos 10:13-14

35
SOBERANIA DE DEUS E A EVANGELIZAÇÃO

É da vontade do Senhor chamar os seus eleitos à fé por meio do nosso


testemunho.

J.I. Packer diz: “Não devemos ser impedidos pelo pensamento de que, se eles
não são eleitos, não irão crer em nós e todos os nossos esforços por convertê-los
acabarão falhando. Isso é verdade; mas não é problema nosso e não deveria
fazer nenhuma diferença para a nossa forma de agir” (PACKER, Evangelização
e a Soberania de Deus; p. 89).

Além disso, a soberania de Deus na salvação não diminui a sinceridade do


convite do evangelho. Não precisamos ter o receio de afirmar para as pessoas
que Cristo oferece salvação e que o amor de Deus se faz presente. Por mais que
Jesus tenha morrido apenas pelos eleitos (Mateus 26:28), o seu sangue tem poder
para salvar a todos e a oferta do evangelho deve ser dirigida a todos (Marcos
2:17; 1 Timóteo 2:5-6). Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo
(Joel 2:32). A soberania de Deus na salvação não muda essa verdade. Qualquer
pessoa que ouvir a palavra, se arrepender de seus pecados e colocar sua fé em
Jesus Cristo será salva porque o convite do evangelho é verdadeiro e é sincero.

Por fim, a única garantia de que alguém ouvirá e aceitará a mensagem do


evangelho é o fat o de Deus ter elegido pecadores para a salvação. Como já
vimos, se não for uma ação do Espírito Santo dentro do coração do homem o
tornando sensível para a pregação, ele jamais será salvo. Porque Deus tem
eleitos podemos ter expectativas enquanto pregamos o evangelho para
alguém, pois sabemos que o Espírito Santo age nos corações e faz a semente do
evangelho germinar. Crer na doutrina da predestinação não deve nos
desestimular, pelo contrário, ela é que nos dá a certeza de que a mensagem do
evangelho pode gerar frutos, assim como gerou em nossas vidas.

Deus é soberano e não precisa de nós para executar os seus propósitos, mas de
forma graciosa nos dá o privilégio de participarmos do avanço do seu reino por
meio da pregação do evangelho. Que nossa resposta à soberania de Deus na
salvação seja o empenho na missão.

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OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

6. OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

“Procura apresent ar-te a Deus aprovado, como obreiro que não t em de que
se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. “
2 Timót eo 2:15

Muitas são as barreiras que surgem quando o povo de Deus se propõe a


testemunhar do evangelho. São barreiras que encontramos em nós,
relacionadas as nossas fraquezas e dificuldades, tais como a insegurança, a
timidez ou a falta de disposição para a obra. Também existem barreiras que
surgem de forma externa e que dificultam a pregação do evangelho, como
algumas situações onde há perseguição e hostilidade em relação à religião
cristã.

Porém, há um certo tipo de barreira à evangelização, que iremos tratar aqui,


que nasce de compreensões erradas da parte dos próprios cristãos. Esses erros,
quando não são corrigidos e abandonados, nos conduzem a um tipo de
evangelização que não agrada a Deus. Precisamos ter muito zelo e atenção
com o conteúdo da nossa pregação e a postura que assumimos no processo,
uma vez que estamos anunciando a Palavra de Deus.

Nesse capítulo, vamos observar seis erros que tem atrapalhado a igreja em sua
missão, levando-a muitas vezes a realizar uma evangelização não bíblica. Na
primeira parte, vamos observar 3 erros relacionados com o conteúdo da
mensagem (Sincretismo, Superficialidade e Legalismo), e na segunda parte, 3
erros relacionados com a postura dos mensageiros (Pragmatismo, Atitude de
Gueto e Mal Testemunho).

PARTE 1: ERROS RELACIONADOS AO CONTEÚDO DA MENSAGEM

A) SINCRETISMO
Definição: No sincretismo, caímos no erro de acrescentarmos ao evangelho de
Cristo ideias e ensinamentos que não são de origem bíblica e que não fazem
parte da mensagem. O sincretismo acontece também quando definimos algum
conceito de forma errada, nos baseando em outras fontes, e não nas Escrituras.

37
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

O sincretismo, especialmente, o sincretismo religioso, é entendido como uma


mistura ou fusão de doutrinas e conceitos de religiões e ideologias diferentes. No
momento da história em que vivemos, onde o relativismo é afirmado e
defendido, a ideia de abraçar pressupostos diferentes, e até conflitantes, em
nome da conveniência, tem sido aceita e até incentivada.

Pessoas afirmam crer no evangelho de Cristo, mas, ao mesmo tempo, possuem


concepções que são totalmente estranhas à Palavra de Deus. Frequentam
alguma igreja cristã protestante, mas participam de reuniões espíritas. Em suas
orações, se dirigem a Deus, mas clamam pela intercessão dos santos católicos,
crendo que esses tem poder para atender as suas petições. Afirmam crer no
evangelho, mas mantem a crença na reencarnação após a morte. Assumem a
bíblia como a Palavra de Deus, mas defendem que o mundo surgiu a partir de
uma explosão e que a vida terrestre é fruto do acaso, contradizendo claramente
o que ensina as Escrituras.

Pessoas que possuem uma fé sincrética muitas vezes não partem de uma
percepção bíblica para definir conceitos como “pecado”, “inferno” e “morte”.
Na verdade, se baseiam mais em concepções vindas de outras religiões ou do
senso comum. Ou então, não reconhecem a pessoa de Jesus como é descrito
nos evangelhos, como o Filho de Deus e o Salvador do mundo, mas o limitam a
apenas mais um grande pensador e uma pessoa iluminada que nos trouxe
conhecimento e bons princípios.

A verdade é que a fé sincrética não é poderosa para salvar, pois, uma vez que
acrescenta ao evangelho ideias estranhas, ela esvazia a cruz de Cristo e
contradiz com o que a bíblia ensina; ora, a bíblia ensina que “a fé vem pela
pregação, e a pregação, pela palavra de Crist o” (Romanos 10:17).

Porém, o motivo de preocupação se dá também no fat o de que pessoas


possuem uma fé sincrética porque um dia ouviram um evangelho sincrético.
Infelizmente, a fé cristã tem sido muitas vezes adulterada e muito engano tem
sido disseminado. Vivemos num país onde a grande maioria da população
afirma conhecer o evangelho e amar a Jesus, embora o seu entendimento seja
falso pois não se baseia nas Escrituras.

A pregação sincrética afasta as pessoas da verdade e promove o engano.


Entregar um evangelho misturado é tão ruim quanto não entregar nada. Por isso,
precisamos ser cautelosos e zelosos no anúncio da verdade.

Jesus afirma em João 14:6:

“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.

38
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

Ou seja, nenhum outro caminho, além de Jesus, tem validade e deve ser
ensinado. Muitas vezes, quando nos deparamos com pessoas que possuem uma
fé sincrética e, por isso, pensam já conhecer o evangelho, é necessário algo
além da exposição do verdadeiro evangelho. Nesses casos, também é
necessário confrontar o falso evangelho, deixando claro para as pessoas que o
entendimento delas acerca da verdade está errado e que é necessário
abandonar o engano e ficar com o que é dito na Palavra de Deus.

Não cair no erro do sincretismo é um grande desafio para nós; mas que, assim
como Paulo em Gálatas 1:6-9, sejamos assertivos na pregação do evangelho e
tenhamos um sério compromisso com a verdade. Que o Senhor assim nos
capacite.

B) SUPERFICIALIDADE
Definição: Na superficialidade, caímos no erro de omitirmos partes da
mensagem do evangelho, assumindo uma abordagem simplista e rasa.
Acontece quando não pregamos toda a mensagem do evangelho ou quando
suavizamos as partes mais ofensivas da pregação, como a realidade do pecado
e da condenação, ou, a necessidade de um profundo arrependimento e de
uma fé exclusiva em Cristo para a salvação.

A superficialidade na pregação, junto com o legalismo que estudaremos a


seguir, é uma das realidades mais poderosas para conduzir alguém a um
cristianismo nominal. Pessoas escutam apenas uma parte do ensino cristão e
nisso baseiam a sua fé. O resultado é que encontramos pessoas dentro das
igrejas que nunca foram confrontadas em seu pecado e convidas ao
arrependimento, ou nunca ouviram sobre a realidade do inferno e da
condenação eterna, ou até mesmo, nunca foram ensinadas sobre a segunda
vinda de Cristo e a vida eterna. Além do nominalismo cristão, a superficialidade
também conduz ao sincretismo que observamos anteriormente, pois, quando a
mensagem é dada em parte, as lacunas são preenchidas com outras
concepções.

A superficialidade na evangelização acontece principalmente por dois motivos:


(1) por causa da falta de conhecimento bíblico de muitos cristãos e (2) por causa
do erro que existe em tentar suavizar o evangelho. O primeiro erro corrigimos
buscando mais instrução na Palavra de Deus, e o segundo, buscando ter em
tudo compromisso em apresentar o evangelho como ele é.

O evangelho é uma mensagem de alegria, que nos diz que Deus demonstra seu
amor enviando seu único Filho para morrer em nosso lugar para nos dar a vida

39
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

eterna e a salvação. O texto de Efésios 2:4 nos ensina que Deus, sendo rico em
misericórdia e grande em amor, nos dá vida em Cristo Jesus, sem que nós
precisemos fazer alguma coisa para ganhar isso. A salvação nos é dada de
graça porque Deus nos ama e nos quer bem. Porém, contar toda essa boa
notícia do amor de Deus sem explicar a má notícia do pecado e da
condenação é pregar o evangelho pela metade e fazer um recorte da
mensagem, omitindo uma parte que também é central no testemunho do amor
de Deus

Paulo, antes de falar da graça e da misericórdia de Deus, fala também em


Efésios 2, a partir do verso 1:

“Ele vos deu vida, est ando vós mortos nos vossos delitos e pecados,

nos quais andast es out rora, segundo o curso dest e mundo, segundo o príncipe
da pot est ade do ar, do espírit o que agora at ua nos f ilhos da desobediência;

ent re os quais t ambém t odos nós andamos out rora, segundo as inclinações da
nossa carne, fazendo a vont ade da carne e dos pensament os; e éramos, por
natureza, filhos da ira, como também os demais.”

Efésios 2:1-3

A boa notícia só faz sentido quando, junto dela, é explicada a má notícia.

Se formos superficiais em nossa evangelização, omitindo alguma parte que é


central à pregação, conduziremos as pessoas a um entendimento superficial da
Palavra de Deus, o que por consequência resulta em uma fé superficial em Cristo
e um relacionamento superficial com Deus.

Infelizmente, pessoas com um envolvimento superficial com o evangelho muitas


vezes são tratadas como se fossem realmente crentes, embora não deem fruto
algum de uma verdadeira conversão. Por serem tratadas como crentes,
raramente elas são convidadas a questionarem a sua própria conversão. O
resultado que vem disso é o fat o de termos pessoas que frequentam as igrejas a
muitos anos, mas que nunca tiveram uma experiência real de conversão. Além
disso, essas pessoas que possuem uma fé superficial irão promover o evangelismo
superficial. Sermos superficiais não é nada interessante.

Por isso, precisamos ter a ousadia e o compromisso de anunciar todo o desígnio


de Deus as pessoas (Atos 20:27). Precisamos também investir tempo para
conhecer melhor a nossa fé; muitas pessoas pregam um evangelho raso porque
se relacionam de forma rasa com o evangelho. Deus em sua graça nos deu sua

40
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

revelação escrita, que é a Palavra de Deus. Podemos lê-la em nossa própria


língua, em diferentes versões e com o auxílio de grandes servos de Deus que
estudam e escrevem livros para nos auxiliar. Na parte final da apostila, tem uma
lista de indicação de livros que nos auxiliam nesse sentido.

C) LEGALISMO
Definição: No legalismo, caímos no erro de realizarmos uma pregação que trata
apenas do bom comportamento e da ética cristã. É dado uma grande ênfase
na necessidade da realização de boas obras, deixando de lado o ensino da
salvação que vem pela graça.

Acontece quando exortamos as pessoas a abandonarem suas práticas


pecaminosas, mas não as ensinamos que a verdadeira santificação é uma
consequência da fé em Cristo e da ação do Espírito Santo (Romanos 6:22). Se
na superficialidade deixamos de pregar sobre o pecado para falar soment e do
amor de Deus, no legalismo deixamos de falar do amor de Deus para falar
apenas sobre o pecado.

Muitas vezes assumimos que alguém é um cristão com base em sua boa ética
de vida e pela sua aparente capacidade de cumprir certos aspectos da lei de
Deus. Exemplo: não mentir, não roubar, não falar palavrão, não trapacear, não
usar drogas, etc. Mas a verdade é que pessoas podem apresentar uma boa
conduta de vida, mesmo que não sejam crentes.

Em nossos relacionamentos, conhecemos pessoas éticas, honestas, gentis e


dedicadas no trabalho que nunca professaram a fé em Jesus. Porém, por mais
que essas pessoas apresentem um caráter ilibado, o fat o delas não crerem em
Jesus faz com que elas estejam debaixo da ira santa de Deus, assim como
qualquer outra pessoa que ainda não foi salva.

Um dos ensinamentos centrais do Novo Testamento (e do A.T. também, quando


compreendido à luz do N.T.) é o de que a salvação (justificação) é dada ao
homem pela fé, independente das obras que ele realiza. Muitos textos abordam
esse ensino de forma clara:

Romanos 3:20-24

“vist o que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que
pela lei vem o pleno conheciment o do pecado.

41
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

Mas agora, sem lei, se manifestou a just iça de Deus t estemunhada pela lei e
pelos profet as; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Crist o, para t odos [e sobre
t odos] os que creem; porque não há dist inção,

pois t odos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados


gratuitamente, por sua graça, mediant e a redenção que há em Crist o Jesus”

Gálatas 2:16

“sabendo, cont udo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim
mediante a fé em Cristo Jesus, t ambém temos crido em Crist o Jesus, para que
fôssemos just ificados pela fé em Crist o e não por obras da lei, pois, por obras da
lei, ninguém será justificado”

A pregação legalista propõe e impõe comportamentos e a realização de obras,


como se fossem sinônimo de salvação. Porém, o que nos torna limpos perante
Deus é o sangue de Cristo posto em nós pela fé que depositamos nele, e não o
nosso esforço pessoal.

Evangelistas que são legalistas tendem a ser muito intensos no anúncio dos
ensinamentos bíblicos que tratam sobre santidade, mas não apresentam a
mesma intensidade no anúncio da obra de Jesus em prol dos pecadores. Como
consequência, as pessoas alcançadas por essa pregação chegam a conclusão
de que a salvação é dada pelo esforço em não pecar. Como dito
anteriormente, a pregação legalista e moralista também conduz ao
nominalismo, pois produz frequentadores de igreja que se apresentam com uma
boa conduta ética e uma santidade aparente, mas que nunca professaram
verdadeiramente a fé em Cristo Jesus como seu Salvador.

Boa parte do que significa ser um discípulo de Jesus tem relação com a busca
por pureza e santidade. A bíblia ensina muito sobre a luta contra o pecado e a
vontade de Deus de que sejamos santos como ele é (Romanos 6:15-23;1 Coríntios
6:12-20; Gálatas 5:16-25; 1 Tessalonicenses 4:3-5; 1 Pedro 1:14-16). O texto de
Hebreus 12:14 nos exorta dizendo que sem santidade ninguém verá o Senhor.
Paulo, escrevendo aos Gálatas, diz que quem pratica as obras da carne não irá
herdar o reino de Deus (Gálatas 5:21).

É claro que boas obra são importantes no processo de salvação, mas,


pecadores só podem frutificar para a glória de Deus com boas obras e santidade
depois que eles colocaram sua fé em Jesus e foram tocados pelo Espírito Santo.
Nesse sentido, afirmamos que as obras são uma consequência da conversão e

42
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

que a verdadeira fé é evidenciada com as obras, como afirma Tiago em sua


carta, no capít ulo 2:14-26.

Como cristãos evangelistas, precisamos falar da necessidade de


arrependimento e de abandono de pecados, mas não podemos deixar de
anunciar que isso só pode acontecer quando a nossa fé é posta na obra de
Jesus.

PARTE 2: ERROS RELACIONADOS À POSTURA DOS MENSAGEIROS

D) PRAGMATISMO
Definição: Com o pragmatismo, caímos no erro de avaliar o sucesso da nossa
evangelização pelo número de pessoas que aceitaram a mensagem. Somos
pragmáticos quando sacrificamos princípios em prol dos resultados. O
pragmatismo prioriza a quantidade em detrimento da qualidade e, muitas vezes,
age de forma desesperada, ignorando a soberania de Deus no avanço do reino.
A atitude pragmática se esquece que nem tudo o que funciona e dá certo
agrada a Deus; nem tudo o que impressiona os homens impressiona a Deus.

Somos pragmáticos quando não julgamos com base na verdade ( e a Palavra


de Deus é a verdade) a conversão das pessoas, mas rapidamente as
consideramos como crentes para colocarmos em nosso relatório que mais uma
pessoa foi salva. A verdadeira conversão é manifestada em verdadeira fé em
Cristo (Atos 8:35-37; 13:38-39) e em verdadeiro arrependimento (Atos 2:37-38;
3:19; 26:18). Evangelistas pragmáticos não avaliam os frutos de fé e
arrependimento, apenas se contentam com uma aparente conversão.

Somos pragmáticos quando, na evangelização, agimos como se tudo


dependesse de nós e do nosso esforço. Pensando assim, concluímos que as
pessoas não crerem em Jesus porque nossa pregação não foi boa, nosso poder
de convencimento não foi eficiente, nossos argumentos em favor da fé cristã
não foram os melhores, a estratégia que escolhemos usar não deu certo, etc.
Porém, se pregamos fielmente o evangelho, no poder do Espírito Santo,
podemos ter a certeza de que os frutos não vieram porque Deus, em sua
soberania, escolheu agir dessa forma.

Também somos pragmáticos quando confiamos de forma excessiva em certo


método ou estratégia, considerando que se seguirmos todos os passos do

43
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

processo os resultados virão. O que precisamos entender é que evangelização


tem mais relação com uma mensagem a ser pregada e vivida do que com um
método a ser executado. Boas metodologias de evangelização nos dão uma
direção e nos auxiliam, assim como as boas estratégias servem de ferramenta
para comunicar a Palavra. Mas, apesar disso, nossa expectativa deve estar
posta na ação do Espírito Santo, que age nos corações por meio da Palavra.

Não podemos ignorar a importância dos resultados e dos frutos. Trabalhamos


para isso e esperamos que grandes coisas aconteçam. É bem verdade que a
falta de frutos na evangelização muitas vezes aponta para algo que está sendo
feito errado no processo. O evangelho é o poder de Deus! Quando o evangelho
é pregado, grandes coisas acontecem. Deus usa aqueles que se dispõe para
serem usados por ele. Mas, um princípio central deve preencher nossa mente e
coração: na evangelização, somos movidos por obediência e nunca pelos
resultados. Pregamos o evangelho porque recebemos uma ordem do Senhor
Jesus, e obedecer a essa ordem é o que nos motiva na missão. Queremos tornar
o nome do Senhor conhecido em nossa família, no nosso bairro, em nossa cidade
e nas nações.

Usamos os métodos de Deus para trabalhar na obra de Deus, de acordo com a


capacitação que vem de Deus, cumprindo os decretos de Deus. Na
evangelização, nos esforçamos para anunciar a salvação em Cristo confiando
na ação soberana do Senhor.

E) ATITUDE DE GUETO (alienação)


Definição: Com a atitude de gueto, caímos no erro de nos ocuparmos apenas
com as atividades internas da igreja, a ponto de sermos omissos e ausentes na
sociedade onde estamos inseridos. Acontece quando nos cercamos apenas de
relacionamentos cristãos e não nos atentamos às necessidades das pessoas
(não cristãs) que estão ao nosso redor.

Nossa igreja promove apenas eventos internos que servem para a edificação do
corpo e para a comunhão dos irmãos. Em nossas casas só recebemos amigos
da igreja e irmãos em Cristo. Não nos envolvemos de forma ativa nos problemas
da cidade e do bairro (seja individualmente, como cristãos, ou coletivamente,
como igreja local). Nossa fé é vivida apenas no privado; nossas igrejas não são
receptivas; não há muitas pontes de contato para que não crentes se
aproximarem; criamos uma subcultura cristã e vivemos em nossa própria “mini
sociedade”.

44
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

É bem verdade que o mundo onde estamos inseridos promove uma cultura de
pecado e desobediência a Deus. Como a bíblia diz: “... o mundo int eiro jaz no
Maligno” (1 João 5:19). A sociedade se mostra afundada em impureza,
corrupção e engano; e as pessoas, como diz Paulo em Efésios 4:17 e 18, andam
na vaidade dos seus próprios pensamentos e alheias à vida com Deus.

É normal diante de um contexto assim surgir o desejo de se retirar desse mundo


na tentativa de não ser influenciado ou contaminado com tudo o que o
ambiente propõe. É muito mais prazeroso e seguro convivermos com aqueles
que professam a mesma fé que a nossa e que compartilham dos mesmos valores
do reino.

Porém, é da vontade do Senhor que sejamos crentes no mundo. Jesus orou, em


João 17, pedindo ao Pai que não nos tirasse do mundo, mas que aqui fôssemos
guardados do mal (João 17:15). Perceba, Jesus não exclui a necessidade de
sermos preservados e guardados da influência do mundo e do Inimigo; para isso
somos santificados pela Palavra e guiados pelo Espírito Santo. Mas ainda assim,
somos enviados por Jesus ao mundo para cumprir nossa missão.

Em Mateus 5:13-16, Jesus chama sua igreja de o Sal da Terra e a Luz do Mundo.
O sal salga, trazendo sabor, e a luz ilumina, trazendo claridade; ambas as
comparações expressam o impacto e mudança que o cristão deve causar no
ambiente onde está inserido. Porém, se o sal perde o sabor e se a luz é escondida
ou abafada, eles perdem os seus propósitos e se tornam inúteis. A igreja não
deve se tornar igual ao mundo, porque isso seria perder o seu sabor. Mas, a igreja
também não pode se alienar e se isolar do mundo, pois isso seria esconder e
abafar a sua luz.

Se assumirmos uma atitude de gueto, nos relacionando apenas com outros


cristãos, e nos ausentarmos do mundo não brilharemos a luz de Cristo para
aqueles que vivem na escuridão do pecado. Por isso, precisamos tornar a nossa
fé pública e viver o evangelho no mundo, onde as pessoas que não conhecem
do evangelho estão.

Precisamos achar um equilíbrio; nem sermos alienados, deixando de ter


envolvimento com a cultura, nem sermos mundanos, nos envolvendo demais a
ponto de vivermos como eles vivem. O que Deus deseja de nós é que nos
envolvamos com o mundo e vivemos no mundo, para que, no mundo, de fat o,
resplandeçamos como luzeiros (Filipenses 2:15-16).

45
OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA

F) MAL TESTEMUNHO
Definição: Com o mal testemunho, caímos no erro de pregarmos uma
mensagem que não vivemos. As verdades do evangelho que professamos
muitas vezes não são acompanhadas de um verdadeiro viver cristão. As ideias
que eles ouvem de nós não combinam com as práticas que eles veem em nós.
No ambiente familiar, escolar e profissional oportunidades são perdidas e portas
são fechadas porque não somos vigilantes em praticarmos a Palavra de Deus.

Jesus, em seu ministério, confrontou muitas vezes os fariseus por serem hipócrit as
e colocarem nas pessoas um fardo que nem eles conseguiam carregar. Em
Mateus 23, Jesus censura fortemente os escribas e fariseus dizendo:

“Na cadeira de Moisés est ão assent ados os escribas e fariseus.

Todas as coisas, pois, que vos disserem que observei s, observai-as e fazei-as; mas
não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem;

Pois at am fardos pesados e difíceis de suport ar, e os põem aos ombros dos
homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los; e fazem t odas as
obras a fim de serem vist os pelos homens [...]

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, pois que sois semelhantes aos sepulcros
caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão
cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.

Assim t ambém vós ext eriormente pareceis just os aos homens, mas int eriormente
est ais cheios de hipocrisia e de iniquidade”.
Mat eus 23:1-5, 27-28

A mera religiosidade empobrece o nosso testemunho, tira a nossa autoridade e


nos impede de sermos uma benção no reino de Deus. A bíblia nos exorta a
sermos praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes (Mateus 7:24-27; Tiago
1:22-25).

Se nos envolvermos na evangelização mantendo uma postura hipócrita e


repreensível em nossas vidas, traremos descrédito para o evangelho e o nome
de Deus será blasfemado por nossa causa (Romanos 2:21-24).

Por isso, precisamos nos esforçar para manter exemplar o nosso procedimento
no meio dos não crentes. Precisamos vigiar o nosso comportamento, cuidando
bem das nossas palavras e atitudes. Não somos perfeitos e iremos falhar em
alguns momentos da caminhada, mas em tudo a graça de Deus será manifesta
nos perdoando e nos capacitando sermos boas testemunhas de Cristo.

46
IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

7. IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. Suplicai, ao mesmo


t empo, também por nós, para que Deus nos abra port a à palavra, a fim de
falarmos do mistério de Crist o...”

Colossenses 4:3

Orar sempre deve ser a nossa primeira estratégia evangelística. Podemos ter as
melhores ideias e passar horas estudando a melhor forma de explicar a bíblia
para alguém; porém, todo esse esforço sem oração não contará com o
elemento principal: a dependência e a direção de Deus.

Aprendemos no primeiro capítulo que nós, enquanto discípulos de Jesus,


fazemos parte da grande missão de Deus, e que nossa função dentro dela é
sermos instrumentos para a proclamação da graça. O que se espera de um
instrumento ou de uma ferramenta é o seu bom funcionamento. Ninguém
compra um celular quebrado ou uma caneta sem tinta, da mesma forma que
não se usa um violão sem cordas ou um relógio sem pilha. Todos esses objetos
quando estão incompletos perdem a sua utilidade principal. O que preenche a
vida do cristão é a oração; se queremos ser instrumentos úteis nas mãos de Deus
precisamos t er uma vida de oração.

O Pastor José João nos ensina sobre a oração ao dizer que:

“O Senhor não unge planos, não unge métodos, não unge organizações e nem
maquinismos. Deus unge pessoas que o buscam. Estamos sempre buscando
métodos novos, planos estratégicos, mas, como os apóstolos, que eram tão
poderosos, o que precisamos mais é de oração para que o Espírito Santo nos
encha de seu poder. ” (DE PAULA, Poder do Alt o; p. 94)

O texto de 1 Tessalonicenses nos exorta a orarmos sem cessar; isso se relaciona


com a evangelização também, pois precisamos orar antes, durante e depois dos
momentos em que compartilhamos o evangelho.

Oramos antes colocando todas as coisas diante de Deus e pedindo por


oportunidades, sabedoria, disposição, fidelidade às Escrituras e transformação
na vida dos que nos cercam. Oramos durante a evangelização – seja numa
conversa de 5 minutos ou num processo de evangelização de 5 anos – pedindo
ao Senhor as palavras certas, coragem para perseverar e discernimento para

47
IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

entender os próximos passos que iremos tomar. E oramos depois da


evangelização agradecendo pelas oportunidades que o Senhor concede e
pedindo que a palavra semeada produza frutos, tanto para a salvação das
pessoas quanto para a glorificação do nome de Deus.

JESUS FOI UM HOMEM DE ORAÇÃO


Jesus, no tempo em que esteve na terra, foi um homem de oração. Os
evangelhos nos contam de momentos em que o Senhor se retirava para lugares
solitários e passava instantes na presença do Pai em oração (Mateus 14:23; Lucas
6:12; Lucas 22:39-46).

Em Mateus 6:9-13, vemos Jesus ensinar sobre a oração, mostrando que a oração
é um momento de intimidade e adoração, pois chamamos a Deus de Pai e
desejamos que o seu nome seja santificado. Também é um momento de
reconhecimento da soberania de Deus e de busca pela sua vontade. Na oração
apresentamos nossas necessidades e expressamos nossa dependência de Deus
ao pedir o pão de cada dia. Além disso, na oração confessamos nossos pecados
e transgressões e pedimos por livramento e força contra as tentações.

Mas, Jesus também nos ensina a colocarmos os desafios do avanço da obra de


Deus em oração. Em Mateus 9:36-38, Jesus disse aos seus discípulos:

“Vendo ele as mult idões, compadeceu-se delas, porque est avam aflitas e
exaust as como ovelhas que não t em past or.

E, ent ão, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, [e grande, mas os


t rabalhadores são poucos.
Rogais, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara . “

Mat eus 9:36-38


Precisamos nos dispor a trabalhar na obra, e, ao mesmo tempo, clamar a Deus
que desperte outros dos seus filhos para também cooperarem com o avanço do
reino.

TEMOS ORADO COM EXPECTATIVA?


Muitas vezes nos colocamos diante de Deus em oração e apresentamos nossos
motivos sem uma real expectativa de que, a partir daquele momento, grandes
coisas irão acontecer. De fat o, percebemos momentos da nossa vida cristã em
que a oração se apresenta apenas como mais uma formalidade e nos
48
IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

esquecemos de que um Deus real realmente ouve nossas orações e, de acordo


com a sua vontade, transforma a nossa realidade.

O apóstolo Paulo, que é exemplo para nós em diversas questões, entendia muito
bem o poder da oração. Em suas cartas às igrejas ele pede oração para que o
evangelho do reino continuasse avançando.

Dois textos nos exemplificam isso: Efésios 6:18-20 e Colossenses 4:2-4.

EFÉSIOS 6:18-20

“com t oda oração e súplica, orando em t odo t empo no Espírito e para isto
vigiando com t oda perseverança e súplica por t odos os sant os

e t ambém por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra,
para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho,

pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Crist o, eu seja ousado para
falar, como me cumpre fazê-lo. “

COLOSSENSES 4:2-4
“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças.

Suplicai, ao mesmo t empo, t ambém por nós, para que Deus nos abra porta à
palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual t ambém est ou
algemado; para que eu o manifest e, como devo fazer. “

Paulo orava e contava com as orações dos irmãos para que a palavra lhe fosse
concedida e as oportunidades surgissem para fazer conhecido o mistério do
evangelho de Cristo.

Paulo tinha expectativas de que, a partir da oração, Deus haveria de abrir as


portas, conceder a intrepidez e viabilizar todas as coisas para que o evangelho
fosse anunciado. Precisamos urgentemente ter essa mesma expectativa em
nossa vida de oração, colocando em prática a nossa fé no Deus Todo Poderoso.

49
IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

NO CUMPRIMENTO DA MISSÃO, PRECISAMOS ORAR POR:

1) Intrepidez e ousadia no anúncio

“Senhor, eu peço por int repidez e ousadia no anúncio. Que o Senhor nos dê
coragem para t estemunharmos do evangelho e int repidez em nossa fala, para
que a gent e comunique com clareza as verdades do t eu reino. E que a gent e
não t enha medo das sit uações, oh Pai! Que não t enhamos t emor de homens.
Que o Senhor nos leve a ent ender que est amos pregando a verdade, que é
Crist o, e a gent e não deve t er nenhum t ipo de receio e proclamar as boas
novas do Senhor.”

2) Sabedoria para discernir as situações

“Deus, peço por sabedoria para discernir as sit uações. Que o Senhor nos dê
inteligência para ent endermos a melhor form a e o melhor momento para falar;
assim como mat uridade para saber a forma cert a de agir. Que o Senhor nos
permit a t er sabedoria na forma como conversarmos com as pessoas e em
nossa post ura. Muit as vezes, Pai, nós somos precipit ados ou indelicados em
nossa abordagem. Precisamos de mais sabedoria.”
3) Proteção e livramento contra os ataques do inimigo

“Oro por prot eção e livramento cont ra os at aques que o inimigo realiza cont ra
o t eu povo. Que o Senhor nos livre do mal e nos prot eja daquilo que possa
acont ecer enquant o anunciamos a t ua Palavra. Cert ament e, perseguições e
dificuldades surgem quando nos propomos a obedecer ao Senhor, mas
sabemos que obedecer ao Senhor é o melhor a se fazer. E, se for para
acont ecer alguma coisa conosco, que a gent e ent enda que é algo que o
Senhor est á permit indo acont ecer para a glória do Senhor e para o nosso
cresciment o.”

4) Oportunidades e portas abertas à pregação do evangelho

“Pai, gost aria de pedir por oport unidades e port as abert as à pregação do t eu
evangelho. Que t eu Espírit o nos conduza nas oport unidades que surgem. Que
corações sejam abert os e que sit uações sejam favoráveis para que a gent e
possa pregar o evangelho. Ensina-nos a aproveit ar as oport unidades e os links
que aparecem.”

5) Fidelidade às Escrituras e aos ensinamentos bíblicos

“Senhor Deus, t ambém gostaria de orar pedindo por fidelidade à t ua Palavra e


aos ensinament os que o Senhor ali nos dá. Que o Senhor nos capacit e a

50
IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

pregarmos a t ua Palavra e a anunciarmos o t eu evangelho como ele de fato é;


sem dist orcê-lo, colocando ideias a mais ou a menos. Não podemos barat ear
ou cust ear o evangelho. Precisamos pregar o evangelho da graça como nos
ensina a t ua Palavra. Que o senhor t ambém nos dê dedicação nos est udos
t eológicos e na leit ura bíblica diária, para que sejamos apt os a responder as
pessoas que pergunt arem a razão da nossa esperança.”

6) Bom testemunho de vida da parte daqueles que anunciam o evangelho

“Que o Senhor nos permit a t er um bom t est emunho de vida crist ã, para que
aquilo que a gent e prega não seja diferent e daquilo que nós vivemos no
Senhor. Precisamos que o Senhor nos fort aleça para vivermos uma vida ínt egra
que agrade a Ti, Deus. Precisamos ser mais vigilantes em relação a forma como
nos comport ament os no mundo. Que os nossos pecados não at rapalhem o
avanço do t eu reino e que as nossas falhas não t ragam vergonha para o
evangelho. Mas que as pessoas possam ver as nossas boas obras e glorificar ao
Senhor.”

7) Conversão e transformação de vidas

“Oro, Senhor, por conversões e t ransformação de vidas. Essa é uma obra que o
Senhor faz de forma soberana. Mas peço que pessoas se convert am e que
possamos ver os frut os da evangelização. Gost aríamos de ver o efeit o da t ua
Palavra na vida das pessoas, quebrant ando os corações, conduzindo os
pecadores ao arrependiment o, levando pessoas a confessarem o nome do t eu
Filho Jesus. Que pessoas sejam convert idas enquant o nós pregamos o
evangelho, de acordo com a t ua vont ade.”

8) Glória e exaltação do nome do Senhor Jesus

“Pai, peço que em t udo o seu nome seja glorificado e exalt ado sobre t odas as
coisas. O Senhor é digno de honra e gloria. Que at ravés da nossa part icipação
na missão o Senhor seja louvado. Que o t eu povo agrade o t eu coração,
fazendo a t ua vont ade. Essa é a minha oração; em nome do Senhor Jesus,
Amém!”

51
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

8. MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

“... Fiz-me t udo para com t odos, com o fim de, por t odos os modos, salvar
alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me t ornar
cooperador com ele.”

1 Corínt ios 9:22-23

Não é à toa que deixamos para falar sobre os métodos e estratégias já nessa
altura da apostila. Fizemos isso porque, antes de nos lançarmos na obra da
evangelização, precisamos entender algumas coisas. Vale aqui então uma
breve recapitulação do que já foi trabalhado.

Ant es de nos envolvermos com a evangelização precisamos:


1. Entender que Deus está em ação transformando e restaurando a sua criação
caída em pecado e que, desde o Éden, um projeto de redenção vem sendo
realizado.

2. Entender que Deus chama o seu povo para participar dessa redenção e que
a nossa parte nessa obra é o anúncio fiel do evangelho de salvação em Cristo
a todas as nações; somos instrumentos para proclamar ao mundo a mesma
redenção que um dia chegou até nós; anunciar o evangelho é a nossa missão.

3. Conhecer e definir biblicamente a mensagem do evangelho que fomos


chamados a anunciar.

4. Entender que o Espírito Santo de Deus é quem nos capacita no cumprimento


da missão ao mesmo tempo que é ele quem convence as pessoas a crerem em
Jesus.

5. Saber que Deus tem os seus eleitos a quem ele quer alcançar, mas que essa
verdade não deve, de forma alguma, diminuir nossa dedicação na
evangelização.

6. Perceber que há alguns riscos à saúde da nossa ação evangelística, pois


podemos cair em alguns erros como o pragmatismo, a alienação, o mal
testemunho, o sincretismo, o nominalismo e o legalismo.

7. Aprender sobre a importância da oração na obra evangelística, já que


dependemos de Deus para todas as coisas.

52
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Nosso desafio é observar todas essas questões que a bíblia nos ensina. Creio que
essa é a forma correta para andarmos em obediência ao Senhor no nosso
cumprimento da missão.

O ESFORÇO DE PAULO EM 1 CORÍNTIOS 9:19-23


O texto bíblico de 1 Coríntios 9:19-23, que também está present e no título desse
capít ulo, nos mostra o esforço do apóstolo Paulo por pregar o evangelho e se
tornar um cooperador com ele. Ali Paulo diz:

“Porque, sendo livre de t odos, fiz-me escravo de t odos, a fim de ganhar o maior
número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os
judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse,
para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não est eja eu debaixo da lei.
Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não est ando sem lei para com Deus,
mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei.
Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me t udo para
com t odos, com o fim de, por t odos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa
do evangelho, com o fim de me t ornar cooperador com ele. ”

1 Corínt ios 9:19-23

No versículo 16 desse mesmo capítulo, Paulo diz que sobre ele pesava a
obrigação de anunciar o evangelho e que ele o fazia por ser essa a sua
responsabilidade. Precisamos desse mesmo compromisso e entendimento que
observamos no apóstolo Paulo. Usar dos vários meios e possibilidades para
alcançar com a mensagem do evangelho aqueles que estão ao nosso redor.

Agora, nesse capítulo, a ideia é olharmos para várias formas práticas de como
podemos cumprir a Grande Comissão do Senhor Jesus. Vamos mencionar
estratégias, ideias, métodos, exemplos e princípios que podem nos dar
ferramentas para a ação evangelística. Certamente, quando se trata da obra
do Senhor, não existem fórmulas prontas ou passos mágicos para se chegar a
um resultado, pois Deus age da forma como lhe apraz. O que temos na verdade
é: a mensagem do evangelho que precisa ser anunciada de forma fiel, princípios
da Palavra de Deus que regulamentam a nossa ação e ideias que podem ser
muito úteis na missão.

Confiamos em Deus, agimos de acordo com a capacitação de Deus,


observamos os princípios da Palavra de Deus, e usamos de estratégias com o
desejo de que Deus seja glorificado.

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MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

NOSSA PRIMEIRA ESTRATÉGIA: ORAR


Como vimos no capítulo anterior da apostila, evangelização e oração andam
sempre juntas. Dependemos totalmente de Deus, por isso, orar é a nossa primeira
estratégia evangelística. Jesus disse em João 15:5 que sem ele não poderíamos
fazer nada por ser ele a videira e nós os seus ramos. Portanto, se queremos ser
frutíferos em nossa vida cristã precisamos levar todas as coisas diante de Deus
em oração.

Na sua prática evangelística, não se esqueça de colocar sua vida, a vida de


outras pessoas e todas as coisas em oração. Ore agradecendo a Deus pela
salvação e pelo sustento em todos os momentos; louve a Deus pelo seu poder e
pela sua bondade, e expresse a Deus a sua alegria na salvação em Cristo Jesus.
Ore a Deus pedindo por oportunidades e por capacitação vinda da parte do
Espírito Santo; interceda por situações; cite o nome de pessoas em específico,
clame a Deus por conversões e consagre sua vida ao Senhor como um servo
disposto a ser usado.

Não podemos cometer o erro de nos lançarmos para a ação sem antes
alinharmos o nosso coração em oração. Na oração, expressamos nossa
dependência de Deus e nosso desejo de que ele seja glorificado.

Se sem Jesus não podemos fazer nada, com Jesus todas as coisas são possíveis
(Mateus 19:26). Sejamos ousados na oração e, certamente, também seremos
ousados na pregação.

SEJA INTENCIONAL, APROVEITE AS OPORTUNIDADES


Ser um cristão intencional na evangelização é ser alguém que acorda de manhã
e ora pedindo a Deus por oportunidades para testemunhar de Jesus. Pessoas
passarão por você durante seu dia. A questão é qual a influência e a marca que
você deixará na vida delas. Muitos cristãos evangelizam pouco porque são
pouco intencionais em relação a evangelização.

Em alguns momentos, as oportunidades para a pregação do evangelho


acontecem de forma natural, porém, em outros momentos, nós precisamos
“criar” essas oportunidades. Essa é a ideia expressa por Paulo em 2 Timóteo 4:2,
quando ele ensina a Timóteo que a pregação deveria ser feita tanto em tempos
oportunos, quanto em tempos inoportunos. Ser intencional é perceber as
oportunidades que surgem no dia a dia de falar de Cristo, sejam elas mais claras
e naturais, ou em situações um pouco mais desafiadoras com necessidade de
uma iniciativa maior.

54
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Precisamos aprender a aproveitar os links que surgem e estarmos atentos para,


de forma natural, começarmos uma conversa sobre o evangelho.

Alguns exemplos:

Tema: t raição e perdão

- Uma pessoa está muito triste porque alguém traiu a confiança dela e a
decepcionou. A partir disso, você pode compartilhar uma experiência sua
semelhante à dela e contar como conseguiu perdoar tal pessoa a semelhança
de Cristo, que perdoou a nossa traição.

Tema: medo da mort e

- Uma pessoa te conta sobre o medo que ela tem da morte e você aproveita
essa fala para contar da vida eterna em Cristo. Contar que a morte é um mal
inevitável (por causa do pecado), mas que, aquele que conhece a Cristo tem
esperança de vida eterna com Deus e não precisa ter mais medo da morte.

Tema: a beleza da nat ureza

- Algumas pessoas estão comentando sobre a beleza de paisagens que estão


vendo em fotos num site. Você aproveita esse tema da conversa e comenta que
a bíblia ensina que o universo tem um Criador que fez tudo de forma perfeita,
por isso a natureza é tão bonita.

Tema: desobediência do filho

- Um colega que é pai de primeira viagem está desabafando que seu filho de 1
ano e alguns meses tem sido muito desobediente e que ele está surpreso com a
capacidade do bebê, mesmo sendo pequeno, ser tão malcriado. A partir dessa
fala, poderíamos comentar com esse pai que, infelizmente, as crianças já
nascem sabendo fazer coisas erradas e que isso acontece porque o coração do
ser humano é mal desde o seu nascimento. Comentaríamos que o mesmo
pecado que existe nos adultos também existe nas crianças e que somente Jesus
pode nos transformar e nos ensinar a sermos melhores.

Esses links propícios para uma conversa sobre o evangelho aparecem


constantemente, só precisamos estar atentos. Bom, só ficaremos atentos a essas
coisas quando formos intencionais em relação à evangelização. Não
precisamos forçar as coisas ou agirmos de forma inadequada, pois nem sempre
o tema da conversa ou o momento é o mais apropriado. Mas certamente Deus
pode nos usar nas pequenas e nas grandes oportunidades que surgem diante
de nós, só precisamos usar de sabedoria e estarmos atentos.

55
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

SEJA CRENTE, DÊ UM BOM TESTEMUNHO!


Além da intencionalidade, precisamos cuidar muito bem do nosso testemunho.
O testemunho de vida é extremamente poderoso para comunicar a mensagem
do evangelho aos que estão ao nosso redor. Nossa forma crist ã de viver levanta
perguntas sobre nós e sobre nossa fé, e são essas perguntas que nos dão o direito
de sermos ouvidos.

Bom testemunho não tem relação com ser perfeito ou até mesmo fingir
perfeição. Da mesma forma, dar um bom testemunho vai muito além de ser uma
pessoa certinha que não faz nada de errado. Na realidade, dar um bom
testemunho cristão é evidenciar na prática de vida que, em todas as coisas,
Jesus Cristo é o Senhor das nossas vidas e que somos alvos da sua graça e do
seu poder.

Não precisamos ter vergonha de viver nossa espiritualidade diante daqueles que
não tem a Cristo, pelo contrário, Deus quer que sejamos intensos e intencionais
em nossa vida cristã diante dos homens. O apóstolo Pedro, em sua carta, exorta
os crentes a apresentarem um procedimento exemplar no meio daqueles que
não servem a Deus, para que eles vissem as boas obras dos crentes e, assim,
glorificassem a Deus (1 Pedro 2:12). Esse princípio reverbera o ensino de Jesus em
Mateus 5:16 sobre ser luz perante os homens.

Nossa espiritualidade não deve ser vivida e manifestada apenas nos momentos
de culto com a igreja ou na nossa individualidade, mas, ela deve ser explícita no
nosso dia a dia perante as pessoas. Por isso, não tenha timidez para orar no
trabalho, citar um versículo numa conversa, se posicionar de forma bíblica numa
discussão, explicar o porquê de não cometer tais atos ilícitos e pecaminosos,
contar o que você faz no final de semana na igreja ou mencionar o nome de
Deus ao dizer “Deus abençoe”, “glória a Deus” ou “isso não agrada a Deus”. As
pessoas sem Cristo são explícitas no pecado delas; devemos ser explícitos em
nossa santidade. O mundo não se envergonha de viver a mentira; não podemos
nos envergonhar de viver a verdade (Romanos 1:16).

Na prática, dar bom testemunho é ser ético em suas relações, respeitando as


pessoas e prezando pela verdade. É se esforçar por ter um linguajar santo e
atitudes de pureza. É ser amoroso, perdoador e servir as pessoas em suas
necessidades. É ser dedicado nas tarefas e não viver reclamando de tudo. É
assumir os próprios erros e ser paciente com os erros dos outros. É ser equilibrado
nas emoções e sábios nas escolhas. É respeitar as diferenças sem ser tolerante
com os pecados das pessoas (o que é um imenso desafio). É se posicionar de
forma bíblica nos debates e nas conversas, sem abrir mão dos valores e princípios
da Palavra de Deus. É dizer “não” diante das ofertas e dos convites que te levam

56
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

a pecar, mesmo que isso te prejudique de alguma forma. É ser crente de


verdade de segunda a sábado, e não apenas no domingo.

Dar um bom testemunho alegra o coração de Deus e traz glória ao seu nome
(Mateus 5:16). Esse tipo de postura nos dá autoridade para pregar o evangelho,
pois, as pessoas podem ver em nós a realidade do que elas ouvem na pregação.
Busque viver Jesus na prática e você verá que naturalmente oportunidades para
evangelizar irão aparecer.

Meu irmão, pare a leitura agora e coloque sua vida diante de Deus em oração.
Peça a Deus que te capacite a dar um bom testemunho nos lugares por onde
você passa, e que ele te dê mais intencionalidade para a evangelização.

...

Que Deus assim nos abençoe. Em nome de Jesus, amém!

Depois de falarmos desses 3 princípios chaves: ORAÇÃO, INTENCIONALIDADE e


TESTEMUNHO; vamos enfim conversar sobre algumas estratégias evangelísticas.
Tratam-se de estratégias de aproximação para a possibilidade de uma conversa
sobre o evangelho. Em muitos sentidos, uma estratégia muitas vezes sobrepõe a
outra, mas vamos olhá-las de forma separada com a finalidade de estudar.

Falaremos aqui das grandes estratégias como: Evangelismo a partir dos


Relacionamentos, Evangelismo a partir da Igreja Local, Evangelismo a partir da
Profissão, Evangelismo de Impacto e Evangelismo nas Redes Sociais. Vamos
também mencionar algumas pequenas ideias que abrem portas para a
evangelização.

EVANGELISMO A PARTIR DOS RELACIONAMENTOS


Podemos e devemos falar de Cristo para pessoas que mal conhecemos e que,
por vezes, nunca mais veremos em nossas vidas. Podemos nos aproximar de
alguém e sermos diretos na pregação; talvez seja essa a oportunidade que irá
se abrir para nós e, sendo assim, a forma como Deus nos conduzirá na
evangelização em certos momentos. Porém, esse tipo de abordagem – que
podemos chamar de “evangelismo de impacto” -, quando possível, deve dar
lugar à evangelização a partir de um relacionamento. O princípio é criar vínculos
para ent ão falar de Crist o ou falar de Crist o dent ro dos vínculos que já t emos.
Umas das melhores estratégias evangelísticas é se relacionar com pessoas que

57
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

não são crentes, e, dentro desses relacionamentos, apresentarmos o evangelho


de Jesus.

Pesquisas mostram que a maioria dos cristãos vieram a fé em Jesus através da


vida de alguém que fazia parte do seu círculo de relacionamentos. Pessoas
conhecem o evangelho e vem a Cristo por meio de amigos, parentes, vizinhos e
colegas próximos.

Os relacionamentos são poderosos para a comunicação do evangelho por pelo


menos dois motivos: (1) nos relacionamentos há maior abert ura e liberdade para
conversas sobre a fé em Crist o Jesus; (2) nos relacionamentos a pregação do
evangelho vem acompanhada de um bom t estemunho que t estifica e
exemplifica o que est á sendo dit o.

Pessoas ouvem mais e entendem melhor quando é alguém próximo a elas que
está compartilhando uma ideia. E, além disso, no relacionamento, mais
oportunidades surgem, tornando possível uma evangelização a longo prazo, em
que as verdades do evangelho são apresentadas de forma gradativa e em
repetidas vezes. Por outro lado, pessoas procuram em nossas vidas a
legitimidade das verdades que estamos apresentando. Como foi dito
anteriormente, o bom testemunho tem poder para abrir portas e é no
relacionamento próximo que o viver cristão verdadeiro traz mais impacto.

Deus nos cercou de pessoas com as quais nos relacionamos e elas não estão
perto de nós por acaso. Com a graça de Deus, elas serão as primeiras com as
quais compartilharemos do evangelho. Além dessas, Deus irá colocar outras
pessoas em nosso caminho. Precisamos orar pedindo que o Senhor nos dê a
oportunidade de nos relacionarmos com as pessoas; a capacidade de nos
importarmos de verdade com a condição espiritual daqueles que ainda não
tem a Cristo; e a integridade de vida para sermos benção na vida dos que nos
cercam.

TESTEMUNHO EM CASA

Um dos maiores desafios da vida cristã é testemunharmos de Cristo em nossas


casas. Muitas vezes parece ser mais fácil falar das Escrituras com um
desconhecido do que com alguém que é da nossa família. Nossos familiares são
as pessoas que estão mais próximas de nós e, por isso, são os que mais nos
observam, conhecendo nossos defeitos e falhas. Até podemos manter uma falsa
reputação para com os de fora, mas é em casa, no dia a dia, que a nossa
verdadeira piedade cristã é revelada.

É da vontade de Deus que nos esforcemos por levar um parente ou um amigo a


Cristo (Marcos 5:15-20), mas, para isso, é necessário: (1) coragem para pregar o

58
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

evangelho (Romanos 1:15-16); (2) disposição para amar a Cristo mais do que a
todos (Mateus 10:34-39); compromisso com o bom testemunho cristão (1 Pedro
2:11-12; 3:1-2); e perseverança para continuar testemunhando (Atos 20:18-21, 26-
27, 31).

Na parte final da apostila (Indo Mais Fundo) colocamos um texto complementar


sobre a importância de os pais evangelizarem e discipularem seus filhos. Nesse
texto, John MacArthur nos mostra como podemos preparar o solo do coração
dos filhos para receberem a semente do evangelho.

Na esfera dos relacionamentos próximos também encontramos aquelas pessoas


com quem convivemos em nossa rotina. Seja no trabalho, nos estudos, na
vizinhança, nas práticas de lazer, nos serviços que usamos ou até nas nossas
atividades com a igreja; em todos esses ambientes conhecemos e nos
relacionamos com pessoas que não são cristãs.

TESTEMUNHO NO TRABALHO

É esperado que todo cristão use sua profissão para a glória de Deus. Nesse
sentido, também podemos usá-la para a pregação do evangelho. Um
comerciante que realiza uma oração com seus funcionários antes de abrir a loja;
um músico ou pintor que aproveita da sua arte para falar sobre a redenção; um
professor que de forma sensata manifesta sua opinião pessoal acerca de alguns
temas que giram em torno da fé; um motorista de Uber que, com educação,
conta aos seus passageiros as bênçãos que Deus tem feito em sua vida; uma
confeiteira que na embalagem dos seus produtos coloca um versículo sobre a
salvação, etc. Os exemplos são diversos e as ideias de como usar a profissão
para evangelizar são variadas. O próprio ato de trabalhar com o objetivo de
glorificar a Deus já aponta para uma obra de salvação que está sendo operada
dentro de nós.

Devemos usar as oportunidades que nossas profissões fornecem para verbalizar


o evangelho e abençoar a vida dos que nos cercam. Nisso está a importância
dos cristãos se fazerem presentes nas diversas áreas e esferas da sociedade.
Imagine o impacto para a cidade ou para a nação de termos profissionais
cristãos atuando e testemunhando do evangelho na política, economia, saúde,
ciência, educação, comércio, meios de comunicação, esport es, negócios, artes
e nos cargos públicos. Parte do propósito de Deus nos permitir estar na profissão
que estamos hoje, é para que ali brilhemos a luz de Cristo e aproveitemos as
oportunidades para pregarmos o evangelho (Mateus 5:16).

59
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

TESTEMUNHO NA ESCOLA OU NA FACULDADE

Da mesma forma, o jovem cristão tem a tarefa de ser um missionário “infiltrado”


em sua escola ou faculdade para alcançar os demais alunos com o evangelho
de Jesus. O desafio é grande e o jovem cristão que faz a escolha de falar de
Cristo será provado em diversos momentos. Mas, poucas coisas são tão
impactantes do que um jovem cristão cheio do Espírito Santo comprometido
com Jesus e disposto a testemunhar do amor de Jesus.

EXEMPLOS PRÁTICOS

- Realização de cultos domésticos com a família (oração, louvor, leitura e


explicação da Palavra de Deus);

- passar tempo junto com novos amigos não crentes e trazer respostas cristã às
necessidades e preocupações que eles têm;
- tirar dúvidas que os seus amigos tem sobre a bíblia e sobre o cristianismo;

- orar junto com um colega de trabalho;

- organizar um grupo de estudo bíblico na escola ou na faculdade;

- dentro de um processo de evangelização, convidar seu colega para participar


de uma atividade da igreja;

- aproveitar as reuniões de família (Aniversários, comemoração do Natal, etc)


para compartilhar da mensagem do evangelho;

- presentear seus vizinhos com uma bíblia ou um livro cristão sobre algum tema
em específico.

Independente das pequenas estratégias e ideias que podemos usar, a grande


ferramenta será o relacionamento que criamos com as pessoas. Um
relacionamento é alimentado quando investimos tempo nele, tornando
possível experiências novas em mais intimidade, e quando nos dispomos a servir
as pessoas com o coração sincero.

Se queremos contar do evangelho para as pessoas, e se a melhor estratégia é


o relacionemos, precisamos passar tempo com as pessoas, construindo vínculos
mais profundos, e precisamos pedir a Deus em oração que nos capacite a
servir as pessoas no amor de Cristo.

60
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

EVANGELISMO A PARTIR DA IGREJA LOCAL


Pregar o evangelho é um esforço individual nosso como cristãos e filhos de Deus,
por isso que aproveitamos as oportunidades que surgem em nossas rotinas e
durante nossas vidas. Porém, esse aspecto do evangelismo feito por cada crente
não anula a necessidade que temos de, como igreja local, nos organizarmos
para evangelizarmos juntos também.

Mack Stiles comenta sobre isso em seu livro: “Aprecio a evangelização pessoal,
e precisamos estar prontos para isso. Mas, como credito na igreja como a
engrenagem, da evangelização, precisamos desenvolver culturas de
evangelização também em nossa igreja local. Queremos igrejas inteiras que
falem de Jesus.” (STILES, Evangelização; p.49).

Podemos criar o hábito de compartilhar nossas experiências evangelísticas com


nossos irmãos. Podemos elaborar projetos e ações a serem feitas por parte da
igreja. Infelizmente, algumas igrejas se ocupam apenas em atividades internas e
não se mobilizam para realizar trabalhos evangelísticos.

Mas, graças a Deus, muitas pessoas conhecem do evangelho através da


participação em um acampamento, uma EBF (Escola Bíblica de Férias), uma
cantata especial de Natal, um bazar beneficente, um futebol de sexta feira a
noite na quadra da igreja, um curso de violão ministrado por algum irmão ou
uma reunião de pequenos grupos nos lares. Essas são ocasiões onde pessoas não
crentes ouvem a mensagem do evangelho a partir de iniciativas da igreja local.

Além disso, existe o importante papel dos pais e dos líderes de evangelizarem as
próximas gerações que “nascem” dentro da própria igreja. O trabalho com
crianças e adolescentes deve ter uma abordagem intensamente evangelística.
Pensar que nossas crianças e adolescentes já são salvas, somente pelo fat o de
estarem crescendo na igreja é um erro terrível. Precisamos apresentar o
evangelho da salvação a elas assim como fazemos com os de fora.

EVANGELISMO NO CULTO

Não creio que convidar alguém para ir a um culto seja uma estratégia
evangelística em si, pois o culto não tem essa finalidade. O culto cristão é um
momento em que o povo de Deus se ajunta ao redor da Palavra de Deus para
adorar a Deus, em espírito e em verdade. Não crentes não adoram a Deus, pois
ainda não nasceram de novo, por isso, mesmo que estejam presentes em um
culto cristão, eles não estão cultuando. Porém, um descrente que esteja
presente no culto certamente será impactado pelo evangelho nos cânticos, nas

61
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

orações, na celebração dos sacramentos e, principalmente, na pregação


cristocêntrica da Palavra. Nesse sentido, podemos convidar um não crente para
participar de uma atividade da igreja ou de um culto, desde que não estejamos
delegando ao pastor e aos líderes da igreja a responsabilidade de evangelizar
nosso conhecido. Ou seja, o correto é iniciarmos com alguém um processo de
evangelização e dentro desse processo, em que já estamos falando de Cristo,
convidarmos a pessoa para participar de um culto em nossa igreja. Com a graça
de Deus, a participação dessa pessoa no culto poderá servir para acrescentar
algo no conhecimento dela sobre a verdade do evangelho.

OS MINISTÉRIOS PARAECLESIÁSTICOS

Aqui vale uma breve palavra sobre a ação dos ministérios paraeclesiásticos. É
motivo de louvor a Deus observar que, através desses projetos e iniciativas, o
evangelho tem sido amplamente divulgado e muitas pessoas têm sido
alcançadas. Os trabalhos de Capelania Hospitalar, Escolar, Social, Militar,
Esportiva, Empresarial e Carcerária; a existência dos Institutos Bíblicos e
Seminários Teológicos; os ministérios com Acampamentos Cristãos; e a atuação
das Agências Missionárias. Essas são algumas frentes evangelísticas que v em
sendo dirigidas por crentes comprometidos com a pregação do evangelho, mas
que atuam de forma paralela à igreja. Glória a Deus pelo trabalho que é feito a
partir desses projetos e que mais pessoas se envolvam e sejam alcançadas.

Porém, também é necessário pontuarmos algo sobre um perigo existente. Em


algumas situações, os ministérios paraeclesiásticos tem ofuscado o dever
evangelísticos da igreja (nesse caso, as igrejas locais) quando atuam de forma
independente. E, em outras situações, as igrejas locais têm deixado de
evangelizar por terem delegado aos ministérios paraeclesiásticos o dever de
anunciar do evangelho. O evangelismo deve acontecer com a igreja e pela
igreja, mas nunca sem a igreja ou em detrimento da igreja.

EVANGELISMOS DE IMPACTO
Dissemos anteriormente que é preferível criarmos relacionamentos para o
evangelismo, mas não podemos descartar os evangelismos de impacto. Esses
evangelismos são aqueles que realizamos nas praças, parques, ruas, escolas e
outros lugares públicos. Normalmente, compartilhando o evangelho com
pessoas que não conhecemos ou que não fazem parte do nosso convívio. Na
maioria das vezes são abordagens rápidas e diretas, mas que são poderosas
para semear o evangelho no solo dos corações.

62
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Por serem abordagens diretas com pessoas que não conhecemos, muitas vezes
não observamos os resultados e os frutos que aquela pregação irá gerar na vida
da pessoa. Porém, isso não impede de sermos aqueles a quem Deus vai usar
para darmos uma palavra e vermos na nossa frente o milagre da salvação
acontecer.

Infelizmente, uma tendência pragmática por busca incessante de resultados


tem influenciado a forma como esse tipo de evangelismo acontece, levando
muitos cristãos a apelarem ou forçarem alguém a tomar uma decisão por Cristo
a partir de uma abordagem rápida e simplista. O evangelho é pregado em 5
minutos e a pessoa é induzida a decidir entregar sua a vida a Cristo. O resultado
dessa prática tem sido uma grande ilusão. Ilusão para a pessoa que acha que
foi evangelizada e que agora é uma pessoa salva com base numa fé
meramente emotiva; e ilusão para o evangelista, que pensa ter presenciado
uma conversão verdadeira, sem perceber que no processo omitiu partes da
mensagem do evangelho e que a pessoa evangelizada mal entendeu o
evangelho que afirma crer.

Sem dúvidas, alguém pode crer em Cristo e se arrepender dos seus pecados
após uma abordagem única e rápida; temos na bíblia o exemplo do Eunuco
que se converteu no caminho de volta para casa após uma única conversa com
Filipe (Atos 8:26-38). Não há limites para o que Deus, em sua vontade, pode fazer.

Porém, em primeiro lugar, o anúncio do evangelho precisa ser completo e sem


a omissão de nenhuma parte (mais a frente estudaremos sobre isso). Dificilmente
conseguiríamos explicar o evangelho para alguém em menos de 5 minutos. O
próprio Filipe precisou de tempo para explicar as Escrituras e anunciar sobre Jesus
para o Eunuco (Atos 8:34-35).

Em segundo lugar, não devemos manipular ou forçar a decisão das pessoas por
Cristo; nosso papel é apresentar a mensagem e convidar a pessoa a crer em
Jesus e a se arrepender de seus pecados (Atos 8:37).

E, em terceiro lugar, não podemos afirmar a salvação de alguém sem primeiro


ver os frutos de entendimento da mensagem e conversão verdadeira. Na
passagem de Atos, Filipe só batizou o Eunuco porque este demonstrou ter
entendido a mensagem – “Eis aqui água; que impede que seja eu bat izado?” –
e demostrou ter realmente crido na mensagem – “... É lícit o, se crês de t odo o
coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Crist o é o Filho de Deus”.

A verdade é que as abordagens de impacto são necessárias e podem gerar


frutos para a glória de Deus. Porém, nem sempre veremos esses frutos, mas nos
contentamos em saber que participamos do anúncio do evangelho.

63
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

ALGUNS EXEMPLOS

Realizar uma apresentação teatral ou musical numa praça; entregar um folheto


evangelístico ou uma bíblia na porta das casas das pessoas; ler uma porção das
Escrituras em um hospital, escola ou presídio; presentear com uma bíblia os
comerciantes que trabalham na região da sua igreja; conversar sobre o
evangelho com alguém no transporte público; realizar momentos de louvor e
pregação numa rua movimentada; orar com um morador de rua; entregar um
doce com um versículo para a pessoa ler; fazer uma pergunta existencial (Ex:
Qual é o propósito maior da sua vida? Se você morresse agora, para onde você
iria?) e a partir disso conversar sobre o evangelho, etc.

PEQUENAS IDEIAS CRIATIVAS PARA O DIA A DIA

- Dar uma bíblia ou um livro cristão de presente de aniversário;

- Em um transporte público ou em outro local com pessoas ao redor, conversar


com outro amigo cristão sobre o evangelho em voz audível enquanto outras
pessoas escutam (sem ser mal educado e inconveniente, é claro);

- Usar camisetas, pulseiras ou outros objetos com mensagens evangelísticas para


que pessoas perguntem o significado e surja oportunidade de explicar;

- Se prontificar a ajudar uma pessoa e caso ela pergunte quanto você cobra ou
demonstre gratidão, você diz que o valor do serviço é uma oração pela vida
dela;

- Orar com pessoas (ou perguntar se tem algum motivo de oração) que passam
por nós no dia a dia. Ex: motorista do uber, caixa do supermercado, porteiro do
prédio, segurança do trabalho, morador de rua...);

- Fazer uma pergunta para a pessoa (ex: você sabe o nome da cidade onde
Jesus nasceu? Em quantos dias Deus criou o mundo?) e depois explicar;

- Contar para alguém o seu testemunho pessoal de vida. Como você vivia antes
de conhecer a Jesus, como foi a sua conversão e como é a sua vida hoje como
um discípulo de Cristo;

- Perguntar o nome da pessoas e caso seja um nome bíblico explicar quem foi
aquele personagem na bíblia (ex: Qual seu nome? R: Davi. Você sabe quem foi
Davi? Ele foi um rei muito importante, o homem segundo o coração de Deus...);

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MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

- Perguntar para a pessoa como foram as férias ou o feriado e quando for sua
vez de compartilhar, contar que pôde descansar, estar com amigos e parentes...
mas também que pode ter um momento com Deus de oração e leitura;

- Aborde a pessoa com frases criativas (ex: “Se eu te contasse que eu fui no
mercado e comprei ovo, farinha, leite, achocolatado, manteiga e fermento;
coloquei tudo no porta malas, e que, quando eu cheguei em casa e abri o carro
tinha um bolo de chocolate prontinho dentro do porta malas. Você ia acreditar?
Não né! Da mesma forma não faz sentido acreditar que o mundo surgiu de uma
explosão. Na verdade, o mundo foi criado por Deus...).

EVANGELISMO A PARTIR DAS REDES SOCIAIS


Uma forma de evangelização que tem ganhado cada vez mais intensidade é o
evangelismo por meio das plataformas virtuais. A internet ganhou um espaço
muito grande em nossas vidas, influenciando a forma como temos acesso às
informações e também a forma como nos comunicamos. Como toda boa
ferramenta, a internet pode ser usada para promover coisas boas, mas também
para promover o mal; isso vai depender de quem está usando.

Nós, como igreja do Senhor, precisamos estar presentes nos meios digitais,
compartilhando do evangelho e dos princípios do reino de Deus. Pessoas que
nunca entrariam em uma igreja podem ouvir a pregação fiel das escrituras em
seu próprio computador. Colegas com os quais nunca tivemos a oportunidade
de conversar mais intimamente nos acompanham em nossas redes sociais e
podem ser impactados pelo conteúdo que ali colocamos. Pessoas que moram
em países onde a igreja é perseguida podem conhecer sobre Jesus pela internet.
Podemos usar a internet para abençoar muita gente.

Por isso, faça das suas redes sociais um lugar estratégico para anunciar o
evangelho aos seus amigos, parentes e conhecidos. Uma simples postagem de
um versículo, de uma música, de uma reflexão, uma foto ou de um áudio pode
ser o que leve alguém a desejar conhecer mais do Senhor. Seja intencional na
forma como você usa as suas redes sociais e aproveite as oportunidades.

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MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

COMO APRESENTAR O EVANGELHO

Nessa parte do capítulo vamos observar algumas formas estruturadas de


apresentar a mensagem do evangelho. Como foi dito anteriormente, não existe
uma única maneira de contarmos a mensagem do evangelho. Nossa
explicação pode variar de acordo com a pessoa, com o momento, com as
circunstâncias e o tempo que temos. I ndependente da forma e do estilo que
cada um tem, o que mais import e na evangelização é que a mensagem do
evangelho precisa ser apresentada de forma completa e fiel. Alguns elementos
da história bíblica não podem ser deixados de lado e é necessário a explicação
de certos pontos.

É importante entender também que, em muitas situações em que estaremos


anunciando do evangelho, nós não teremos a oportunidade de explicar toda a
mensagem do evangelho em um único momento. As vezes a quantidade de
tempo e o nível de abertura que temos nos direciona a sermos resumidos ou
introdutórios em nossa abordagem evangelística.

Na realidade, em muitos casos, o que acontece é uma espécie de


“evangelismo a longo prazo”, em que explicaremos os aspectos da mensagem
bíblica à pessoa de uma forma gradativa. É possível até que não sejamos os
únicos a quem Deus vai usar para evangelizar a pessoa. Nesse sentido, em muitas
situações explicaremos parte da mensagem e outro cristão, em outro momento,
será usado para explicar o restante. Ou seremos aquele que irá complementar
para a pessoa aquilo que outro cristão já havia dito. Muitas vezes seremos usados
apenas para levar a pessoa a ter o desejo de conhecer mais de Jesus. Nem
sempre é clara a forma como Deus irá nos usar no processo de evangelização
de uma certa pessoa.

Porém, precisamos estar aptos para explicar a mensagem toda, do começo ao


fim. Não há a necessidade de sermos grandes teólogos e exímios apologetas
para nos lançarmos à evangelização; Deus nos usa de acordo com a nossa
capacidade e conhecimento. Mas é necessário que saibamos os principais
conceitos que fazem parte da mensagem do evangelho.

ESQUEMAS E MODELOS DE APRESENTAÇÃO


Existem alguns esquemas de divisão que nos ajudam a apresentar o evangelho.
Eles apresentam pontos que explicam bem o plano de salvação em Cristo.

66
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Vamos conhecer alguns e estudar de forma mais profunda um deles que


chamamos de “5 PONTOS”.

5 PONTOS
Os 5 pontos são: Deus, Pecado, Cruz, Fé e Arrependiment o e Vida Et erna.

1.DEUS: nesse ponto vamos apresentar o ser de Deus. Contar sobre a sua
existência e sobre os seus atributos (poder, justiça, santidade, amor, soberania,
independência, sabedoria, bondade, etc). Contar sobre a criação e o propósito
dela. Contar que esse Deus Criador merece das suas criaturas toda a glória e
toda a adoração.

Versículos: Gn 1:1, 26-27; Jo 1:3; Atos 4:24 (criador); Dt 6:4 (único); 1 Sm 2:2; Is 6:3;
1 Pe 1:15-16; Ap 4:8 (santo); Jr 3:22-23; Jo 3:16; Ef 2:4; 1 Jo 3:16, 4:8 (amor); Ne 9:32-
33; Sl 9:8 (justiça); Atos 17:24-25 (independência); Sl 99:1; Sl 150:6;Rm 11:36; Cl 1:16-
17 (digno de glória).

2.PECADO: nesse ponto, vamos explicar como se deu a entrada do pecado no


mundo, através da desobediência de Adão e Eva. Afirmar a realidade da
depravação humana. E explicar as consequências do pecado humano, que
trouxe a mote física (o corpo humano se tornou limitado, ele alvo de
enfermidade que resultam na morte), a morte espiritual (coração rebelde e
indisposto a fazer a vontade de Deus, o homem nasce não sabendo amar a
Deus) e, por fim, o juízo de Deus que nos leva a morte eterna (condenação
eterna no inferno).

Versículos: Gn 3:1-24; Rm 5:12,18-19 (entrada do pecado); Sl 51:4; Rm 3:10-18; Ef


2:1-3; Gl 5:19-21 (realidade do pecado); Gn 6:5; Is 1:4; Is 6:5; Is 59:2; Jr 17:9; Rm
3:23; Rm 5:12; Rm 6:23 (consequência do pecado); Jo 3:36; Rm 1:18; Rm 2:6-8; Ef
2:3 (ira de Deus).

3.CRUZ: nesse ponto, então, iremos falar sobre a necessidade que o homem tem
de um salvador que o liberte do pecado, o livre da ira de Deus e restaure a sua
comunhão com Deus. Contar que Deus, sendo rico em graça e misericórdia,
enviou ao mundo um salvador perfeito. Anunciar que esse salvador é Jesus, o
próprio Filho de Deus, que se encarnou para trazer salvação. Explicar que Jesus
morreu na cruz para levar os nossos pecados e oferecer um sacrifício perfeito a
Deus Pai. Explicar que, na cruz, Jesus foi condenado, recebendo a ira santa de
Deus; proporcionando redenção e salvação eterna. Explicar que Jesus não

67
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

permaneceu morto, mas que ele ressuscitou dos mortos, demostrando assim que
a obra que ele realizou é verdadeira e tem poder para salvar.

Versículos: Gn 3:15 (promessa); Mt 20:28; Lc 24:20; Rm 5:8; 2 Co 5:14-17,21; Gl 3:13-


14; Ef 5:2; Fp 2:8; Cl 1:20; Cl 2:13-15; Hb 10:12; Hb 12:2

4.FÉ e ARREPENDIMENTO: nesse ponto, nós explicamos que é necessário que o


homem reconheça os seus pecados, tenha tristeza pelas obras que realiza e que
ofendem a Deus, e que perceba a sua incapacidade de trazer uma solução
própria para a sua situação. Contamos também que, a salvação vem somente
pela fé em Jesus, o Filho de Deus; e que fé significa confiar na obra que Jesus
realizou (morte e ressurreição) e se tornar um discípulo de Jesus, obedecendo a
sua Palavra, andando em comunhão com Deus, sendo santificado a cada dia
pelo poder do Espírito Santo, cumprindo a missão no mundo e caminhando
juntos com outros cristãos (igreja).

Versículos: Mt 4:17; Mt 9:13; Jo 3:16; At 2:38; At 3:19; At 8:37; At 17:30; Rm 3:28; Rm


5:1; Rm 10:17; Ef 2:8 (necessidade de fé e arrependimento);

Centralidade da Fé no Ev. De João: Jo 1:12; Jo 2:11; Jo 3:16,18; Jo 3:36; Jo 5:24;


Jo 6:29; Jo 6:40; Jo 9:35-38; Jo 11:25-26; Jo 12:46; Jo 17:20; Jo 20:31.

O Custo do Discipulado: Mateus 10:34-39; Lucas 9:23-24; Lucas 14:25-33

5.VIDA ETERNA: Nesse ponto, nós anunciamos a realidade da eternidade.


Contamos que um dia haverá um Juízo Final (quando Jesus voltar). Explicamos
que os crentes em Jesus passarão a eternidade junto com Deus no Novo Céu e
na Nova Terra, onde não há pecado, nem dor, nem sofrimento; mas justiça, paz
e alegria. E aqueles que não creram em Jesus irão para a condenação eterna
(inferno), onde sofrerão eternamente por causa do pecado.

Versículos: Mt 25:46; Jo 3:16; Jo 5:24; Jo 6:39-40; Jo 11:25-26; Jo 17:3; Rm 6:23; 1


Co 15:42-44; Gl 6:7-8; 1 Ts 4:16-18; 1 Jo 2:25; 1 Jo 5:11-13; Apocalipse 21:1-8 (novo
céu e nova terra).

Nesse esquema de apresentação do evangelho passamos pelos principais


temas do plano de salvação. Falamos o essencial sobre o ser de Deus, a criação,
a entrada do pecado, a condenação do homem, a vinda de Cristo, a obra de
Jesus, a conversão, a esperança de vida eterna e as coisas que acontecem
depois da morte. Não há a necessidade de se seguir essa sequência. Talvez você
inicie a explicação falando sobre a vida eterna, ou sobre a cruz. Porém, eu creio
que esses 5 pontos contemplam o essencial da fé cristã.

Existem outros esquemas de apresentação que irei mencionar a seguir; todos


passam pelas mesmas ideias, dando ênfases diferentes.

68
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Má Notícia vs Boa Notícia

Nesse esquema, explicamos primeiro a Má Not ícia da condenação por causa


do pecado e depois anunciamos a Boa Not ícia da salvação em Jesus por causa
do amor de Deus.

Lendo e explicando um versículo

Aqui explicamos o evangelho a partir de algum versículo bíblico que ensine de


forma clara o evangelho. Versículos como João 3:16; Romanos 6:23; Atos 4:12;
João 14:6. São versículos que apontam para a obra de Jesus e mostram a
necessidade de se crer em Jesus para a salvação. Podemos evangelizar alguém
ao explicar um desses versículos.

CRIAÇÃO / QUEDA / REDENÇÃO

Semelhante com o esquema de 5 ponto, nessa sequência vamos dar um breve


resumo da história da redenção, contando que tudo foi criado por Deus no início
com um propósito perfeito. Houve uma queda quando o homem desobedeceu
a Deus e trouxe o pecado para a criação. Porém, Deus em sua graça enviou seu
Filho Jesus para trazer a redenção.

OBRA DE JESUS: Encarnação, Ensino, Mort e, Ressurreição, Ascenção e Segunda


Vinda

Temos uma explicação melhor desse esquema de apresentação na parte final


da apostila (Indo Mais Fundo). Mas, basicamente, consiste em contar como se
dá a obra de Jesus, desde a sua encanação como homem, até o seu retorno.

4 LEIS ESPIRITUAIS:

Um modelo muito conhecido de apresentação do evangelho são as 4 leis


espirituais. Esse modelo está organizado em 4 pontos:

Deus é Sant o

Homem é pecador e merece condenação

Jesus é a solução para o pecado

É preciso receber Jesus como Senhor e Salvador

69
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Mais uma vez, esse modelo se assemelha muit o com o de 5 pontos ou com o de
Criação, Queda e Redenção. São os mesmos elementos da mensagem do
evangelho, mas organizados e apresentados de formas diferentes.

Podemos usar a criatividade e criar outras formas de apresentar o evangelho.


Certamente, cada cristão se identifica mais com algum modelo e consegue
explicar melhor o evangelho usando alguma estratégia. O que importa é que
apresentemos todo o evangelho e convidemos as pessoas a crerem
verdadeiramente em Cristo.

O QUE TODA EVANGELIZAÇÃO PRECISA TER


Como temos dito até aqui, a mensagem do evangelho é apresentada
afirmando alguns pontos que as Escrituras nos ensinam. A verdade central de
que Jesus salva está acompanhada de outras verdades.

1. Apresentação fiel e completa da mensagem do evangelho:


- a existência de um único Deus; o Criador de todas as coisas, o Deus revelado
nas Escrituras;

- a realidade do pecado humano como um ato de rebeldia e transgressão da


vontade de Deus; pecado como ofensa a santidade de Deus;

- a explicação sobre a consequência do pecado: morte espiritual, morte física e


a morte eterna (eterna condenação);

- a apresentação de Jesus como o Filho de Deus encarnado;

- a explicação sobre a morte de Jesus na cruz como um ato de sacrifício feito ao


Pai em prol da salvação de pecadores;

- o esclarecimento sobre o sacrifício de Jesus como sendo o momento em que


Jesus recebeu a ira de Deus no lugar daqueles que seriam salvos;

- a realidade do amor e da graça salvadora de Deus que enviou seu único Filho
para nos dar vida eterna;

- a realidade do Céu e da vida eterna com Deus, reservada somente para os


discípulos de Jesus (povo de Deus); bem como a realidade do Inferno, reservado
para aqueles que viveram em pecado e desobediência a Deus;

70
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

- falar da necessidade de se crer em Jesus Cristo para a salvação


(reconhecimento de que Jesus é Senhor e Salvador, o Filho de Deus);

- falar da necessidade da fé em Jesus ser acompanhada de um verdadeiro


arrependimento de pecados (reconhecimento de que sou um pecador e que
minha vida não tem agradado a Deus);

Resumo: dizemos quem é Deus, quem somos nós, quem é Jesus e o que ele nos
oferece.

2. Explicação sobre a necessidade e o custo do discipulado:


- crer unicamente em Jesus, se tornar parte da igreja, começar uma jornada de
busca por santidade, disposição a renúncia, crescer em intimidade com o
Senhor, viver sob a perspectiva do seu retorno, viver em comunhão com outros
cristãos, pregar o evangelho a outras pessoas, viver para a glória de Deus.

Resumo: basicamente contamos o que significa ser um cristão.

3. Convite ao arrependimento e à fé em Cristo Jesus:


- após apresentação do evangelho e do custo do discipulado, se percebemos
um entendimento do que foi falado, chegou o momento de convidarmos a
pessoa a crerem em Jesus.

O QUE IMPEDE MUITOS CRISTÃOS DE EVANGELIZAREM


Falta de intencionalidade: muitos cristãos não tem a evangelização como
prioridade em suas vidas. Talvez ainda não compreenderam o lugar da Grande
Comissão na vida cristã; ou talvez estejam preocupados com outras coisas que
também são importantes, mas sempre em detrimento da evangelização. Para
esses é necessária uma correção teológica em sua visão sobre a vida cristã.

Falta de maturidade espiritual: outros crentes não evangelizam por falta de


intimidade e vida com Deus. Raramente pessoas que estão mornas na fé se
envolvem com o avanço do reino de Deus. Para esses é necessário um
despertamento e um renovo do amor a Cristo Jesus e do compromisso com
Deus.

Falta de conhecimento bíblico teológico: Alguns cristãos não compartilham da


fé porque não sabem exatamente o que falar. Eles têm medo de falar algo
errado ou medo de não saber responder os questionamentos. Para esses é
necessária uma dedicação maior ao estudo da Palavra de Deus.

71
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS

Falta de ousadia e temor de homens: Ainda há aqueles cristãos que não


evangelizam por timidez. Muitas vezes a insegurança vem pela falta de
conhecimento bíblico, mas algumas vezes vem pelo temor. Damos muito valor
para a opinião das pessoas sobre nós e temos o receio de sermos perseguidos
ou rejeitados por falar de Cristo. Esses cristãos precisam reafirmar a identidade
deles como filhos de Deus e peregrinos nesse mundo.

Todos nós temos as nossas dificuldades em relação a evangelização, seja em


questão de comunicação ou em questão de conhecimento, ou até mesmo em
questão de espiritualidade. O que precisamos entender é que Deus nos ama e
quer nos aperfeiçoar enquanto o servimos. Muitas vezes o que nos falta não são
estratégias e métodos melhores. Às vezes, o que nos falta é uma vida de intensa
comunhão com o Senhor. Falar do evangelho é falar do amor de Deus que um
dia nos tocou e quebrantou o nosso coração. Que o Senhor sempre renove a
nossa alegria na salvação, e que assim possamos servi-lo mais e melhor.

72
DISCIPULADO

9. DISCIPULADO

“Ide, port anto, fazei discípulos de t odas as nações, bat izando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírit o Santo; ensinando-os a guardar t odas as coisas que
vos t enho ordenado...”

Mat eus 28:19-20

Até aqui falamos muito sobre a tarefa que todo cristão tem de pregar o
evangelho e anunciar as boas novas do reino de Deus. Agora, chegou o
momento de falarmos sobre o que vem logo depois do evangelismo. Na jornada
de tornar alguém um discípulo de Jesus, começamos com o evangelismo, mas
continuamos com o discipulado.

VAMOS FALAR SOBRE DISCIPULADO


Para estudarmos um pouco sobre a realidade do discipulado cristão iremos nos
basear no livro Discipulado, de Mark Dever. Esse livro faz parte da série 9 Marcas
de uma igreja saudável. Nessa série de livros, Mark Dever e outros autores se
propõe a expor o ensino bíblico sobre nove aspectos centrais para a vida da
igreja.

A título de curiosidade, as nove marcas propostas são: Pregação Expositiva;


Teologia Bíblica; Entendimento Bíblico do Evangelho; Entendimento Bíblico da
Conversão; Entendimento Bíblico da Evangelização; Entendimento Bíblico da
Membresia na Igreja; Disciplina na Igreja; Discipulado Bíblico e Liderança Bíblica
na Igreja.

Esses autores consideraram o discipulado como um aspecto central na vida da


igreja e certamente o fizeram muito bem. Infelizmente, essa tem sido uma das
áreas mais negligenciadas em nosso meio e talvez um dos grandes fat ores da
falta de maturidade espiritual que por vezes observamos na vida dos nossos
irmãos em Cristo. Além disso, a falta de discipulado tem proporcionado a
formação de novas lideranças defeituosas e despreparadas. Paulo, escrevendo
aos Colossenses, os exorta no capitulo 3 a que a palavra de Cristo habitasse
ricamente neles e que eles se instruíssem e se aconselhassem mutuamente, com
toda sabedoria (Colossenses 3:16).

73
DISCIPULADO

Essa exortação também é dirigida para nós hoje como igreja do Senhor;
precisamos que nossas igrejas sejam ambientes de inst rução e de
aconselhamento na Palavra de Deus, e que cada membro seja apto para
edificar seus irmãos em Cristo, em toda a sabedoria, cumprindo o seu papel para
o benefício de todo o corpo. Nesse capitulo vamos tentar definir o que é o
discipulado e entender como ele funciona na prática.

SER UM DISCIPULO DE JESUS


Ser discípulo de alguém é, em essência, ser um aluno e um aprendiz; seguir os
passos e imitar tudo o que o mestre faz. É ter alguém em máxima estima a ponto
de considera-lo um modelo para tudo; somos discípulos de quem mais
admiramos e amamos.

É esse tipo de relacionamento que observamos nos evangelhos entre o Senhor


Jesus e os apóstolos. Cristo, no início do seu ministério terreno, convocou dentre
muitos doze homens para serem seus seguidores mais íntimos (Marcos 3:13-19).
Esses homens andaram com Jesus durante aproximadamente 3 anos, sendo
instruídos, ensinados, corrigidos, treinados, impactados e transformados na
convivência com ele.

Aqueles homens se tornaram discípulos de Jesus e aceitaram o convite para se


arrependerem de sua vida de pecados. Eles foram convidados para uma
caminhada de autonegação onde Jesus passaria a ser a pessoa mais
importante de suas vidas e o centro de todas as coisas (Lucas 9:23-24; Lucas
14:26-27).

Muitos outros também foram chamados para seguir o Senhor, mas não
aceitaram o convite pois não estavam dispostos a ter Jesus como Senhor e
Salvador de suas vidas (Lucas 9:57-62).

Seguir a Cristo tem um custo muito alto pois requer uma total devoção. Jesus
mesmo alertava as multidões que o acompanhavam sobre impossibilidade de
um discipulado dividido.

Capítulo 14 do evangelho de Lucas registra a advertência de Jesus:

“Grandes mult idões o acompanhavam, e ele, volt ando-se, lhes disse: Se alguém
vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs
e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.

74
DISCIPULADO

E qualquer que não t omar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.
Pois qual de vós, pret endendo const ruir uma t orre, não se assent a primeiro para
calcular a despesa e verificar se t em os meios para a concluir?

Para não suceder que, t endo lançado os alicerces e não a podendo acabar,
t odos os que a virem zombem dele, dizendo: Est e homem começou a const ruir
e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo para combat er out ro rei, não se
assent a primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que
vem cont ra ele com vinte mil? Caso cont rário, est ando o out ro ainda longe,
envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz.

Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não
pode ser meu discípulo. ”

Lucas 14:25-33

Renúncia, desprendimento e devoção. Esse é o custo do discipulado que Jesus


exige daqueles que querem ser seus seguidores. Ganhar a salvação não nos
custa nada, pois somos salvos pela graça, mediante a fé em Cristo. Mas viver a
salvação nos custará tudo, pois uma vez salvos em Cristo precisamos abrir mão
de tudo para realizar somente a vontade do Senhor.

Um dia também fomos convidados para sermos discípulos de Jesus. Pela fé em


Cristo aceitamos o convite e começamos uma caminhada junto com o Senhor
Jesus e nela somos ensinados, corrigidos, transformados e enviados para o
mundo para fazer outros discípulos de Jesus.

O QUE É DISCIPULADO?
Se nos lembrarmos das palavras de Jesus registradas no capítulo 28 do
evangelho de Mateus iremos perceber que o esforço por fazer alguém um
discípulo de Jesus faz parte da Grande Comissão do Senhor para a Igreja. Lá nos
é dito:

“...Toda a aut oridade me foi dada no céu e na t erra. Ide, port anto, fazei
discípulos de t odas as nações, bat izando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Sant o; ensinando-os a guardar t odas as coisas que vos t enho ordenado.
E eis que est ou convosco t odos os dias at é a consumação do século”
Mat eus 28:18-20

A conclusão que precisamos chegar é que faz part e do at o de seguir Jesus


t ornar out ras pessoas discípulas de Jesus. Sendo um discípulo também tenho
dever de ajudar outros a seguirem a Cristo.

75
DISCIPULADO

Uma primeira definição que podemos dar é essa: discipular é exercer uma boa
influência espiritual sobre alguém, de modo deliberado (intencional), de forma
que essa pessoa se torne mais parecida com Cristo (DEVER, Discipulado; p. 15).
Resumindo, a ideia é sermos instrumentos para que outros conheçam e se
tornem mais parecidos com Jesus.

Porém, precisamos entender antes de tudo que o discipulado não tem tanto a
ver com o que nós fazemos, e sim com o que Jesus está fazendo. Tudo tem início
e significado na ação do próprio Deus.

Nós não temos o poder de transformar ninguém num discípulo de Jesus, essa é
uma obra do Espírito Santo que opera dentro dos corações e conduz as pessoas
a fé em Cristo e ao arrependimento. Mas, o Espírito Santo nos usa para a
comunicação da Palavra, pois é pela Palavra que as pessoas vêm à fé
(Romanos 10:13-17). E não somente nos usa para que pessoas cheguem a fé
(evangelismo), mas também nos usa para que outros cristãos, assim como nós,
permaneçam, cresçam e frutifiquem na fé (discipulado).

Outra questão que precisamos pensar antes de qualquer coisa é a verdade de


que ninguém pode fazer de alguém um discípulo de Jesus se ele mesmo não for
um discípulo de Jesus. Como seria ensinar uma verdade que nem nós mesmos
acreditamos? Só pode fazer discípulos quem já é um discípulo!

Nesse sentido, quanto mais intenso for o seu discipulado pessoal, mais intensa
será a sua influência na vida de outros. Ou seja, a forma como nos relacionamos
com Deus interfere na forma como o apresentamos.

Muitas são as marcas de uma espiritualidade cristã madura: intensa vida de


oração, prontidão ao serviço, vitória sobre o pecado, dependência de Deus, um
caráter ensinável, firmeza na fé, alegria na vida eterna, pureza nas palavras e
outras coisas. Precisamos frequentemente, a luz da Palavra de Deus, analisar
como estão algumas dessas marcas em nossas vidas e clamar ao Senhor que
nos capacite, pelo poder do Espírito Santo, a apresentarmos uma maior
maturidade em nossa caminhada cristã. Precisamos buscar cada dia sermos
discípulos melhores, para a glória de Deus.

A maturidade cristã impacta diretamente nossa influência na vida dos que nos
cercam e saiba que influenciar os outros é algo inevitável. Influenciamos e somos
influenciados o tempo todo. A questão é como temos aproveitado essas
oportunidades. Temos influenciado pessoas para Cristo e para sua Palavra?
Aproximamos as pessoas de Deus ou criamos obstáculos para que elas se
aproximem do Senhor? Como cristãos somos observados por aqueles que não

76
DISCIPULADO

tem o evangelho e em tudo damos um testemunho, seja ele positivo ou


negativo.

Contudo, não pense que discipular é uma questão de mostrar perfeições. Pelo
contrário, mostramos também nossas fraquezas e falhas. Até nesse aspecto Deus
nos usa para ensinar e formar Cristo nos outros. Essa é uma oportunidade de
evidenciar a graça de Deus e apontar para Cristo, e não para nós mesmos.

ENSINAR A GUARDAR TODAS AS COISAS

Voltando ao texto de Mateus 28:19-20 encontramos a questão central do que


significa discipular.

“Ide, port anto, fazei discípulos de t odas as nações, bat izando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Sant o; ensinando-os a guardar todas as coisas que
vos tenho ordenado...”.

Discipular significa, em essência, ensinar aquilo que Jesus ensinou. Esses versículos
nos apresentam um passo a passo muito claro. (1) Os discípulos de Jesus devem
se dispor a ir fazer outros discípulos através da pregação do evangelho. (2)
Aqueles que creem na pregação são introduzidos na igreja através do batismo
e (3) partir desse momento começam uma jornada de aprendizado acerca do
ensino de Jesus, aprendizado este que se estenderá até a eternidade. Esse
aprendizado acontece pela mediação de outros discípulos que serão
instrumentos de instrução e ensino.

O ensino de todas as coisas não se limita apenas ao ensino de Jesus registrado


nos evangelhos, mas compreende tudo o que Jesus nos fala por meio de sua
Palavra. Toda a Escritura é inspirada por Deus e de Gênesis a Apocalipse
encontramos o ensino de todas as coisas (2 Timóteo 3:16-17, 2 Pedro 1:20-21).

A semelhança do que Paulo diz em Atos 20:27, precisamos anunciar e ensinar


t odo o desígnio de Deus revelado a nós nas Escrituras. Além da pregação do
evangelho, é missão da igreja e de cada cristão ensinar a Palavra de Deus. É
para esse objetivo que precisamos usar nossa influência.

RESUMINDO TUDO, DISCIPULADO É...

Como forma de resumo dessas ideias que vimos até aqui temos outra definição
que Mark Dever traz em seu livro.

77
DISCIPULADO

Dever diz que: O discipulado equivale a iniciar um relacionamento no qual o


discipuldor ensina, corrige, serve de modelo e ama (DEVER, Discipulado; p. 42).

Ensinar: nosso principal ensino é o da Palavra de Deus e da doutrina bíblica,


embora também compartilhemos sobre muitas outras coisas que fazem parte
desse processo. Se o nosso discipulado for fora da Palavra deixou de ser
discipulado e se tornou outra coisa. Nosso desafio é ensinar a outros tudo aquilo
que Jesus nos ensinou (Atos 20:18-21; Colossenses 3:16; 2 Timóteo 4:1-14).

Corrigir: precisamos em amor mostrar os erros. Não podemos ser complacentes


e tolerantes com práticas e ideias equivocadas que não agradam a Deus.
Corrigir e exortar em amor, a luz da Palavra de Deus, é extremamente importante
(Gálatas 6:1; 1 Tessalonicenses 5:11; Hebreus 3:13).

Servir de Modelo: por mais que não sejamos perfeitos, pois somos pecadores e
falhos também, precisamos em tudo dar exemplo e exercer boa influência.
Nosso testemunho também é poderoso para ensinar (1 Timóteo 4:12; 2 Timóteo
4:10).

Amar: devemos manifestar amor em tudo; no ensinar, no exortar, na correção,


na paciência e na dedicação. Discipular é realmente se importar com alguém
e desejar profundamente ver Cristo formado nela (João 13:34-35; Romanos
12:10,15; Efésios 4:1-2)

Discipular é ensinar a Palavra de Deus, corrigir os erros, servir de modelo e amar


sinceramente a vida de alguém.

O QUE NÃO É DISCIPULADO


Precisamos apontar alguns aspectos que não fazem parte do discipulado e
algumas atitudes que não respeitam o ensino bíblico sobre o que é discipular.

1) Discipular não é most rar perfeição. O discipulador nunca será perfeito, tanto
em sua abordagem, quanto em seu exemplo. Discipulado nada mais é do que
dois pecadores se auxiliando no propósito de servir a Deus. Espera-se do
discipulador maturidade cristã, conhecimento das Escrituras, piedade e um
postura exemplar; mas mesmo assim, esperar de um discipulador perfeição é um
equívoco muito grande.

2) Discipular não é exercer domínio sobre a out ra pessoa. Como discipuladores


não fazemos seguidores nossos, fazemos seguidores de Jesus. Mesmo sendo um
ambiente de influência e de exercício de autoridade, discipulado não é sobre
imitar o discipulador e sim sobre imitar a Cristo. É claro que no discipulado é

78
DISCIPULADO

construído um relacionamento e dentro desse relacionamento compartilhamos


nossos gostos, pensamentos e estilo de vida. Mas aquilo que foge do aspecto
cristão e adentra em aspectos culturais (ou seja, de preferências pessoais) deve
ser tratado como algo secundário (menos importante).

O foco é conhecer e se aproximar do Senhor Jesus. Precisamos ensinar as


pessoas a amarem a Deus, a lerem a Palavra de Deus, a se dedicarem no serviço
do Senhor, a abandonarem seus pecados e manterem firme sua esperança em
Cristo Jesus. O discipulado é sobre Jesus e não sobre nós.

3) Discipular não é se impor de forma indelicada sobre out ras pessoas. A bíblia
nos ensina que a Igreja é um lugar de ensino e cuidado e que nesse sentido
temos o dever de instruir e até corrigir nossos irmãos. Porém, toda instrução deve
ser feita com amor e sabedoria. Precisamos tomar cuidado para não sermos
arrogantes ou impulsivos na forma como cuidamos dos nossos irmãos, seja no
relacionamento com todos da igreja ou no discipulado individual.

De forma especial, o discipulado individual não deve ser algo forçado e sem
consentimento mútuo. Por mais visionário e bem-intencionado que um
discipulador seja, ele sempre deve contar com a aprovação da pessoa para
iniciar um discipulado, se a intenção é realizar um acompanhamento individual.
Algo diferente disso pode gerar complicações e confusão.

O ERRO DE SE FOCAR APENAS NO COMPORTAMENTO

Muitos caem no erro de tornar o discipulado uma tentativa de mudança de


comportamento. Embora esse aspecto faça parte do currículo do discipulado e
seja muito importante, essa mudança vem como consequência do ensino e da
transformação operada pelo Espírito Santo. Se não equilibrarmos essa questão
o nosso discipulado se tornará apenas um ensino de princípios morais e de
padrões de comportamentos. No discipulado, corrigimos posturas pecaminosas,
práticas maliciosas, hábitos inconvenientes e uma conduta que não
corresponde ao evangelho; porém, nos esforçamos para não sermos legalistas,
cobrando regras e padrões.

O LUGAR DA IGREJA LOCAL


Todo esse universo do discipulado em que cristãos ajudam outros cristãos em sua
caminhada deve acontecer, principalmente, no contexto da igreja local. O
discipulado foi feito para a igreja e está relacionado com ela. Mark Dever
aponta a importância dos movimentos e projetos paraeclesiásticos (trabalhos
79
DISCIPULADO

que funcionam de forma paralela a igreja. Exemplo: escolas cristãs, agências


missionárias, trabalho de capelania, projetos sociais, etc), mas reconhece que,
muitas vezes, a tarefa de discipular tem sido assumida por eles, quando na
verdade deveria ser parte da agenda da igreja. Qualquer trabalho cristão que
é feito de forma ext erna deve em algum momento convergir com a igreja local.

Infelizmente, muitas igrejas se tornaram insensíveis ao dever da instrução mútua


dentro da comunidade; são igrejas sem uma cultura de discipulado. Mark Dever
cita alguns erros que comumente vêm sendo cometidos:

“Cristãos se unem às igrejas e ninguém se aproxima deles. Não há uma cultura


em que as pessoas solteiras convivem com famílias para aprenderem a servir a
Cristo. Nenhuma cultura de partilha do evangelho com imigrantes. Pouca
hospitalidade; apenas convites esporádicos para um almoço de domingo ou um
jantar na quinta. Nenhum homem pastoreia sua mulher; e nenhuma mulher
casada ou mais velha discípula as mais jovens. Inexiste aconselhamento bíblico
entre os próprios membros; o aconselhamento ocorre apenas nos gabinetes
pastorais.... Não se pensa em ajudar uma família ou um casamento em apuros.
Pouca aproximação das pessoas com cor de pele e sotaque diferentes. São
poucos – se é que existem – os jovens que se encontram com outros jovens para
estudar a Escritura”. (DEVER, Discipulado; p. 63)

Alguns desses erros que cometemos tornam nossas igrejas ambientes vazios de
discipulado e cuidado mútuo entre os membros. Diante disso, muitos preferem
procurar fora da igreja oportunidades para conhecer mais de Cristo e serem
pastoreados. A bíblia mostra que a Igreja deve ser um local de ensino
(principalmente a partir do púlpito, mas não só dele), de comunhão, de
amadurecimento na piedade e de amor.

Temos visto na igreja uma tendência ao individualismo em que cada cristão


serve a Deus em sua intimidade, mas não se sente responsável pela vida
espiritual do outro. Cada vez menos a igreja se mostra como um local de
prestação de contas onde cada membro tem uma responsabilidade em
relação a condição espiritual do seu irmão. Perdemos o entendimento bíblico
de cuidado mutuo na igreja pois nos tornamos inaptos a ensinar e sermos
também ensinados, a corrigir e sermos também corrigidos, a consolar e sermos
também consolados. Precisamos resgatar na igreja a prática da cultura do “uns
aos out ros” que a bíblia nos ensina.

Versículos sobre “uns aos outros”: João 13:34-35; Romanos 12:10; Romanos 14:13;
Romanos 15:14; 1 Coríntios 12:25-26; Gálatas 5:13; Efésios 4:2; Efésios 4:32; Efésios
5:21; Colossenses 3:13-16; 1 Tessalonicenses 5:11, 14; Hebreus 3:13; 1 João 3:23.

80
DISCIPULADO

O PAPEL DOS PASTORES E LÍDERES

Os pastores têm um papel fundamental no discipulado que acontece na igreja,


uma vez que são eles os responsáveis pelo ensino da Palavra na Igreja, embora
não sejam os únicos a ensinarem na igreja. Os pastores e presbíteros são os
principais responsáveis por existir ou não essa cultura de discipulado na igreja
local. Os líderes da igreja devem ser exemplos de discipuladores, discipulando
pessoas e ensinando outros a também discipularem. Paulo, escrevendo sua
segunda carta a Timóteo, exorta aquele jovem pastor:

“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que est á em Crist o Jesus. E o que de
minha part e ouvist e at ravés de muit as t estemunhas, isso mesmo transmite a
homens fiéis e também idôneos para instruir a outros. ”

2 Timót eo 2:1-2

A recomendação dada a Timóteo era para que o que lhe foi ensinado fosse
transmitido a um grupo de homens para que esses posteriormente instruíssem a
outros. A função dos pastores e presbíteros não é discipular todo mundo, mas
capacitar outros a discipularem. Os líderes precisam ensinar os membros e a
congregação como um todo sobre sua responsabilidade e dever de cuidar da
vida espiritual dos demais irmãos.

Mark Dever nos apresenta em seu livro um breve exemplo de uma igreja com
uma cultura de discipulado:

“Lemos a Palavra e falamos dela uns aos outros. Passamos tempo uns com os
outros. Oramos pelos presbíteros e uns pelos outros. Amamos. Contribuímos.
Frequentamos as reuniões semanais debaixo de muita oração e expectat iva.
Chegamos preparados. Aramos nosso coração de antemão, prontos para
receber a Palavra de Deus. Seguimos o exemplo dos nossos líderes que nos
mostram como seguir a Cristo. Submetemo-nos à liderança sábia dos presbíteros
a menos que eles estejam nos conduzindo na direção errada. Respeitamos a
mordomia que a congregação exerce sobre nós. Aconselhamo-nos,
encorajamo-nos e advertimo-nos uns aos outros. ” (DEVER, Discipulado; p. 77).

PARTINDO PARA A PRÁTICA


Até aqui já observamos alguns aspectos sobre o discipulado e apontamos para
o discipulado como, basicamente, uma relação de ensino cristão. Agora,
partiremos para uma parte mais prática desse capitulo sobre a tarefa do
discipulado onde veremos princípios e sugestões que nos auxiliarão no
desenvolvimento de um discipulado com alguém. Quem devo discipular? Como

81
DISCIPULADO

realizo um discipulado? O que ensino no discipulado? O que se espera de um


discipulador? São perguntas que merecem respostas mais elaboradas, mas
iremos começar a respondê-las na expectativa de oferecer um ponto de
partida.

QUEM DEVO DISCIPULAR?

Tudo começa então pela escolha de alguém para discipular. Mark Dever
levanta uma escala de critérios que nos norteiam na escolha de alguém para
investir nossa atenção. Esses critérios propostos por Dever não precisam ser
encarados como regras. Muitas vezes Deus nos dirigirá a pessoas improváveis
para cumprir na vida delas, e na nossa, propósitos que, num primeiro momento,
nos são ocultos. Por isso, assim como Filipe em Atos 8:26-40, esteja sensível aos
direcionamentos do Espírito Santo e se disponha a ser um instrumento nas mãos
de Deus.

1º Escolha, preferencialmente, alguém da sua família: cônjuge, filhos, irmãos,


sobrinhos... O ambiente familiar deve ser o primeiro lugar de investimento. Assim
como temos uma maior responsabilidade de proteger e sustentar nossos filhos
do que em relação aos filhos de outra pessoa, também temos um maior dever
de instruir na fé em Cristo nossos familiares, antes de nos lançarmos ao
discipulado dos de fora.

Especialmente, se tratando dos homens, existe uma tarefa dada pelo Senhor de
que pastoreiem e discipulem suas esposas e seus filhos (Deuteronômio 6:4-9;
Josué 24:14-15; Efésios 5:22-25; 6:4). Disso depende a saúde das famílias e
também a saúde de toda a igreja.

2º Escolha, preferencialmente, alguém que seja membro da sua igreja local:


alguém que faça parte da sua comunidade de fé tem o mesmo pastor, está sob
a tutela da mesma liderança, ouve as mesmas pregações, compartilha a
mesma membresia, enfrenta os mesmos desafios como igreja e caminha nos
mesmos propósitos de Deus para aquela congregação. Andar com alguém que
faz parte da sua própria igreja é ter todos os fat ores favoráveis para um bom
discipulado.

3º Escolha, preferencialmente, alguém que seja do seu gênero: homens


discipulando homens e mulheres discipulando mulheres. Esse é um aspecto de
sabedoria (evitar intimidades equivocadas) e de proximidade. Como o
discipulado é um profundo relacionamento onde assuntos e aspectos diversos
da vida são abordados, pessoas do mesmo gênero possuem mais empatia e
liberdade para discutir tais assuntos. Porém, se formos discipular pessoas do

82
DISCIPULADO

gênero diferente do nosso, precisamos nos portar com muita sabedoria e


santidade, discernindo e respeitando os limites dentre desse relacionamento de
discipulado cristão.

4º Escolha, preferencialmente, alguém com idade próxima a sua e de


preferência, mais novo: não que seja errado ou ruim investir em pessoas mais
velhas, mas o fat o de ter idades próximas traz inúmeras vantagens para o
relacionamento de discipulado: uma linguagem mais próxima, facilitando a
comunicação, e a vivencia da mesma fase da vida, com preocupações e
desafios semelhantes. Naturalmente, comunicamos e influenciamos melhor
aqueles que são nossos pares. Mas se houver a oportunidade, discipule também
pessoas mais velhas, apenas se certifique de que possuiu a maturidade
necessária.

5º Escolha, preferencialmente, alguém dispost o a aprender: como já foi dito, o


relacionamento de discipulado parte de um acordo mútuo. Invista em alguém
que queira aprender e crescer. Se observarmos bem, existem pessoas ao nosso
redor, em nossa igreja local, que são carentes de instrução e de alguém que
invista nelas de forma especial. Irmãos nossos que, mesmo sem falar, estão
pedindo ajuda para conhecer mais das Escrituras, desenvolver seus dons e
talentos, vencer seus pecados e falhas de caráter, encontrar solução e direção
para seus problemas profissionais, emocionais e familiares, aprofundar seu
relacionamento com Deus. Procure por essas pessoas e seja benção na vida
delas.

6º Escolha, preferencialmente, alguém que tenha a agenda próxima da sua: por


mais que o discipulado não dependa só de encontros marcados, o fat o dos
horários se encaixarem facilita muito as coisas. E, além dos horários, o fat o de
morar próximo também permite mais interação e amizade. Discipular, além de
sentar para conversar sobre a Palavra, é permitir que a pessoa faça parte da sua
rotina, o que é mais fácil quando as agendas são parecidas.

Talvez olhando esses critérios de escolha passou pela sua mente a dúvida de
como que se inicia um discipulado individual. O discipulado pode se iniciar tanto
por iniciativa de quem é discipulado quanto pelo discipulador, embora seja mais
frequente que se inicie pelo discipulador.

Nossa igreja pode receber um novo convertido ou novo membro. Essas pessoas
precisam ser prioridade em relação ao discipulado. O que se espera é que os
pastores e líderes direcionem esses irmãos a algum cristão mais experiente para
um acompanhamento mais especial. De forma semelhante, um líder da igreja
pode observar a carência que existe na vida de certo membro, mesmo que mais
antigo na igreja, e direciona-lo ao discipulado.

83
DISCIPULADO

Outro caso é o de um membro da igreja que, por conta própria, percebe sua
necessidade de um acompanhamento mais individual e procura alguém a
quem ele tem como referência com a intenção de um discipulado.

Muitas vezes também, o discipulado começa de forma totalmente informal,


quando alguém, de forma natural, exerce boa influência sobre a vida de outra
pessoa e se torna para ela uma ótima referência. Movida pela admiração e pela
boa influência exercida, a pessoa se aproxima e começa a seguir a liderança
desse irmão. Ali surge uma amizade e, caso haja a intencionalidade, um
discipulado individual é oficializado.

Queira Deus que sejamos esse cristão que transmite boa influência cristã e gera
admiração. Assim como Timóteo, somos desafiados a nos tornarmos padrão
para os fiéis, na palavra, no amor, na fé, na pureza e no procedimento (1 Timóteo
4:12). Creio que Deus, em sua sabedoria e providência, prepara o momento
certo e usa de situações para conduzir seus filhos a um relacionamento de
discipulado.

Observação: Esses critérios de escolha se aplicam mais no caso do discipulado


individual. Logo veremos que o discipulado na igreja também acontece de
forma geral.

PROPOSTA DE UM MÉTODO
Proponho aqui a sugestão de um método simples de abordagem para o
discipulado individualizado. Essa abordagem consiste simplesmente em realizar
a leitura da bíblia juntamente com outra pessoa. O autor David Helm, em seu
livro Discipulando com a Bíblia, desenvolve bem esse assunto.

David Helm propõe os seguintes passos para a realização dessa leitura bíblica:

1º Oração: o primeiro passo deve ser orar a Deus. O próprio Senhor Jesus, ao
longo do seu ministério, buscava constantemente ao Pai em oração (Lucas 6:12).
Orar é demonstração de dependência de Deus. Devemos orar para que Deus
nos capacite e que nos envie a pessoa certa para discipular.

2º Convite: depois de orar a Deus, devemos tomar a iniciativa e fazer o convite


àquele que Deus nos mostrar para a realização da leitura de um livro da bíblia.
Helm nos encoraja dizendo: “Tenha coragem! Convide alguém para ler a bíblia
com você. Descanse no poder do evangelho que está em sua palavra. E saiba

84
DISCIPULADO

que, no poder do Espírito e através da instrumentalidade de sua palavra, Deus


honrará seu compromisso de discutir com alguém a mensagem do evangelho”
(HELM, Discipulando com a Bíblia; p. 40).

3º Marque o encontro: depois que a pessoa aceitar o convit e planeje um primeiro


encontro de acordo com as agendas.

Na reunião,

 Faça uma oração com a pessoa ant es de começar e realize a leitura do


t exto bíblico: essa leitura deve ser feita em voz alta e pode ser realizada
de forma alternada (cada um lê um versículo) ou cada um lê uma parte
do texto bíblico.
 Após a leit ura, converse sobre o t exto: esse é o momento de compartilhar
as impressões, falar sobre os pontos que chamaram atenção, explicar
algumas informações sobre o que o texto está ensinando. É importante
que o discipulador não monopolize a conversa, mas dê abertura para a
pessoa falar. Nessa leitura é muito provável que a pessoa levante algumas
dúvidas sobre o texto; responda as perguntas que você tiver segurança
para responder e se disponha a buscar posteriormente as respostas das
que você não conseguir responder na hora. Por fim, cuidado para que
esse momento de conversa não perca o foco do texto que está sendo
estudado. Se esforce para que o discipulado seja sempre em torno da
Palavra.
 Elabore algumas aplicações daquela passagem bíblica à vida cot idiana:
pense com a pessoa como os ensinamentos observados na leitura se
aplicam na vida prática. Quais as mudanças que o texto bíblico nos
convida a fazer? Como essa história bíblica se relaciona com algo que
está acontecendo em nossa família? Quais são os pecados que o texto
me exorta a abandonar? Através da leitura da Palavra, o Espírito Santo
sempre incomoda nosso coração e nos leva a uma reflexão.
 Faça uma oração final: nessa oração final lembre dos ensinamentos que
o texto trouxe e dos pontos que foram discutidos na conversa. Essa oração
é também uma oportunidade de orar um pelo outro e de colocar motivos
de oração diante de Deus.
 Ao final, marque o próximo encont ro.

Antes da realização da reunião, são necessárias duas coisas: a escolha do livro


bíblico que será lido, e, após essa escolha, que o discipulador gaste um tempo
se preparando.

85
DISCIPULADO

Precisamos nos preparar estudando e conhecendo um pouco sobre o livro que


vamos ler com a pessoa. Saber quem é o autor do livro bíblico, qual o propósito
da escrita, a qual gênero literário o livro pertence, a qual período da história
bíblica o livro faz parte e os principais temas que o livro aborda. Para isso,
contamos com bons livros de introdução bíblica, comentários bíblicos,
dicionários e concordâncias que nos auxiliam nesses estudos.

É preferível começar a leitura a partir de um dos Evangelhos (Mateus, Marcos,


Lucas e João) pela facilidade do texto e pela centralidade na pessoa do Senhor
Jesus, que é o personagem principal de toda a Escritura.

A ideia de iniciar a leitura de um livro da bíblia junto com a pessoa é muito


proveitosa, porque nessa leitura, além do aprendizado do que o texto bíblico em
específico aborda, existe o aprendizado de como se ler e interpretar
corretamente as Escrituras, levando em consideração a harmonia dos textos
bíblicos, o contexto das passagens, os propósitos dos autores ao escreverem os
livros bíblicos e outras coisas mais.

Muitos preferem utilizar algum material de apoio como um livro ou algum


document o de fé para guiar as discussões e o ensino. Não há nada de errado.
O que importa é que nosso discipulado aconteça ao redor do ensino das
Escrituras, seja através da leitura de um livro ou através da leitura da própria
bíblia. Precisamos trabalhar para que seja formado no coração daqueles a
quem discipulamos um profundo carinho e respeito para com a Palavra de Deus.

Cristo Jesus, a quem seguimos, nos fala por meio de sua Palavra, e é nela que
encontramos o ensino de todas as coisas. Paulo fala em 2 Timóteo 3:16-17:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e út il para o ensino, para a repreensão,


para a correção, para a educação na just iça, a fim de que o homem de Deus
seja perfeit o e perfeit ament e habilit ado para t oda boa obra”.
2 Timót eo 3:16-17

Em cada momento do discipulado que nos voltamos para a Palavra de Deus


estamos afirmando que a bíblia é a nossa única regra de fé e prática.

Realizamos momentos de leitura bíblica e nessas leituras surgirão oportunidades


de pontuar e explicar aspectos importantes acerca da doutrina cristã. Porém,
nesse momento do discipulado é importante levar em consideração o nível de
compreensão que a pessoa apresenta. Muitas vezes a escolha dos aspectos a
serem tratados surgirão a partir das dúvidas que a pessoa traz. Nosso cuidado é
de não ensinar além ou aquém do que é necessário para aquele momento do

86
DISCIPULADO

discipulado. Porém, creio existir alguns temas centrais que precisam ser
apresentados logo de início.

ALGUNS TEMAS AS SEREM ENSINADOS

Algumas temáticas que entendo serem centrais para a vida cristã e que
precisam ser abordadas no discipulado, especialmente no início são:

- Quem é Jesus e os seus ensinamentos descritos nos evangelhos

- A obra realizada na cruz por Jesus e sua necessidade para a nossa salvação
- Os atributos de Deus

- A importância da vida devocional de leitura bíblica e oração diária

- A obra do Espírito Santo no processo de santificação do cristão

- O caráter das Escrituras (a Bíblia como Palavra de Deus inspirada, inerrante,


infalível, harmônica, poderosa e autoritária)

- A missão da igreja e sua tarefa no mundo (evangelismo, missões transculturais)

- O culto cristão e seus elementos (adoração, confissão, ações de graças,


pregação, dízimos e ofertas, batismo, ceia do Senhor)

Acredito que esses 8 temas devem permear de forma enfát ica e intencional as
primeiras conversas, dada a centralidade deles na fé e na vida cristã. O ensino
dessas temáticas centrais na vida cristã deve, entretanto, acontecer de forma
muito natural e espontânea, sem a preocupação de expor cada ponto em sua
totalidade e de uma única vez. Na leitura bíblica, nas conversas, nas situações
práticas e nas dúvidas que a pessoa apresenta estão oportunidades para se
ensinar esses pontos.

É NECESSÁRIO PAGAR O PREÇO


Precisamos estar dispostos a pagar o preço para cumprir essa tarefa. O
discipulado requer uma autonegação muito grande uma vez que abrimos mão
de coisas que são nossas para poder investir na vida de outros. Renúncia de
preferências, de tempo, de conforto e também da nossa privacidade.

87
DISCIPULADO

- Discipular consome tempo

Por semana, algumas horas serão dedicadas àquela pessoa em conversas,


encontros, estudos bíblicos, oração, etc. Se nós não investimos tempo na vida
de quem estamos discipulando algo está errado. Dedicar tempo com alguém
requer a renúncia de um tempo que gastaríamos com nós mesmos.

- Discipular demanda estudo

Para essa tarefa precisaremos passar algumas horas estudando as Escrituras e


nos aprofundando em doutrinas para poder ensinar com exatidão e clareza.
Não podemos oferecer algo que nós não temos. Precisamos ser profundos em
nossa relação com a boa teologia, pois estamos ensinando as lições mais
preciosas que existem.

- Discipular demanda oração


Discipular é ter um filho na fé que lhe trará preocupação sobre seu estado
espiritual, seu desenvolvimento como cristão, suas vitórias e derrotas em relação
ao pecado e seu relacionamento com Deus. Talvez a oração seja a parte mais
importante do discipulado e demande do discipulador compromisso e
perseverança.

- Discipular demanda um bom exemplo

Quem está sendo discipulado precisa ver e observar na vida do discipulador a


aplicação do que tem sido ensinado e pregado (mesmo que de forma
imperfeita). Por isso, o discipulado vai além de encontros e estudos bíblicos e
pede do discipulador a disposição para abrir a sua vida e permitir que o
discipulando veja o discipulador se esforçando para imitar Cristo em todos os
aspectos de sua vida. Um exemplo disso é convidar a pessoa para ir a sua casa
e ali observar a forma como você trata seus familiares, usa o seu tempo e lida
com seus desafios pessoais.

- Discipular demanda amor

Na bíblia, amar é posto em paralelo com a ideia de sacrifício e a escolha de


sofrer o dano em prol de algo ou alguém. No discipulado não seria diferente,
uma vez que consiste num relacionamento com alguém que é diferente de nós
e se encontra em um outro ponto de sua maturidade espiritual. Certamente
surgirá decepções e atritos que dificultarão em muito todo esse processo. É Deus
que dá a capacidade para que o discipulado seja regado com amor e
comunhão.

88
DISCIPULADO

Para servir ao Senhor e servir ao próximo precisamos de um amor que nem


sempre estamos dispostos a manifestar. Glória a Deus que nos sustenta em nossas
fraquezas e nos usa apesar de nossas imperfeições. Glória a Deus porque o
avanço do seu reino e a edificação de sua igreja dependem, sobretudo, dele
mesmo.

DISCIPULADO GERAL E INDIVIDUAL


Nas Escrituras encontramos textos como Colossenses 3:16, 1 Tessalonicenses 5:11
e Hebreus 3:13, que falam da necessidade do ensino, do aconselhamento e da
exortação mútua entre os cristãos na igreja de forma geral; aqui todos cristãos
são chamados a instruir seus irmãos na fé. Porém, também encontramos textos
como 2 Timóteo 2:1-2, Efésios 6:4, Tito 2:3-5, 2 Tessalonicenses 2:15 e 2 Timóteo
3:10, que falam sobre um relacionamento de ensino e instrução mais pessoal e
delimitado entre dois cristãos.

A ideia aqui é de que alguns versículos apontam para o ensino de todos para
todos, enquanto outros apontam para o ensino de poucos para poucos.
Perceba que todos esses versículos estão de acordo com o que lemos em
Mateus 28:19 acerca da missão dada por Jesus de ir e fazer discípulos de todas
as nações. O ponto é que ato de fazer discípulos acontece tanto de forma geral
quanto de forma individual.

Discipulado Geral: esse é o discipulado que acontece de forma orgânica e


natural entre cristãos, onde todos ajudam todos a seguirem a Jesus. Ele
acontece de forma geral e permeia todas as atividades e relações na igreja.
Irmãos se edificam mutuamente, ajudando uns aos outros a serem bons
discípulos de Jesus.

Discipulado Individual: já esse discipulado é aquele que acontece de forma


mais individualizada, onde um discipulador estabelece uma relação de cuidado
e ensino com uma pessoa. Nesse formato, o discipulador se torna uma referência
especial na vida de quem é discipulado.

Essas duas realidades acontecem simultaneamente e se complementam dentro


de uma igreja. A pregação nos cultos, os momentos de estudo doutrinário, as
reuniões dos departamentos, as atividades de serviço, a convivência com os
irmãos e tantas outras atividades de uma igreja, fornecem a um seguidor de
Jesus a oportunidade de amadurecimento (discipulado geral); e da mesma
forma, alinhado a tudo isso, o acompanhamento individual com um discipulador
dentro de um relacionamento de cuidado e ensino (discipulado individual).

89
DISCIPULADO

Se tratando do discipulado individual, embora todo crente possa se tornar um


discipulador, nem todo cristão se mostra apto para discipular alguém por não
possuir as qualidades necessárias que observamos nesse capítulo.

Precisamos ser discipulados pela igreja na qual o Senhor nos inseriu, seja de forma
geral ou de forma individual. Precisamos ser cuidados, motivados e instruídos por
outros discípulos de Jesus com quem dividimos a caminhada cristã. E, da mesma
forma (geral e individualmente), precisamos nos tornar aptos para cuidar,
motivar e instruir nossos irmãos.

Que Deus mesmo nos abençoe e nos torne discípulos empolgados com a missão
de fazer outros discípulos de Jesus aonde quer que ele nos mandar.

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CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

10. CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

“Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que
complet e a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para
t estemunhar o evangelho da graça de Deus.”

At os 20:24

1) Amor a Deus
Tudo o que fazemos é para a glória de Deus. Essa é a motivação que devemos
perseguir. O primeiro mandamento é justamente o que mais quebramos pois
alimentamos em nossos corações vários ídolos que nos afastam do Senhor. Em
Romanos 11:36 Paulo diz: “ Porque dele, e por meio dele, e para ele são t odas
as coisas. A ele, pois, a glória et ernamente. Amém!”. Nossa missão é proclamar
o evangelho! Porém, nossa primeira razão de existir é adorar a Deus por tudo o
que ele é e por tudo o que ele faz. Tentar se envolver com a missão de espalhar
o evangelho sem antes estar tomada por um intenso amor a Deus só nos levará
a sermos frios e mecânicos em tudo o que fizermos. Você deve conhecer muitos
cristãos que não mostram em suas vidas alegria e zelo pelas coisas do Senhor;
irmãos que em algum momento da caminhada perderam sua paixão e agora
vivem uma mera religiosidade. Essa não é a vontade de Deus para os seus filhos.
Nosso desafio enquanto evangelistas é buscarmos a todo instante alimentar o
fogo da nossa devoção. Como filhos de Deus pregamos o evangelho pois
queremos que outros amem a Deus também.

Versículos: Êxodo 20:2-3; Salmo 27:4; Marcos 12:28-30; 1 João 4:19

2) Amor as pessoas
O Senhor Jesus disse em João 13:34-35 que o amor é a grande marca daqueles
que o seguem e são seus discípulos. Ele sendo o Mestre nos deu exemplo ao lavar
os pés dos seus discípulos estabelecendo para nós um perfeito referencial de
como devemos viver. Na forma de lidar com as pessoas, de sentir suas dores, de
manifestar misericórdia e de se preocupar de fat o com sua condição espiritual,

91
CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

Jesus demostrou profundo amor por aqueles que estavam ao seu redor. Se
queremos ser evangelistas de verdade precisamos nos aperfeiçoar neste amor.
Pregação e anúncio da mensagem da cruz implica em relacionamento, e se
relacionar requer de nós muita compreensão, empatia, autonegação e
maturidade.

Além disso, o discurso que pregamos não pode ser diferente da prática que
vivemos; nosso testemunho serve de plano de fundo para nossa missão. Amar
como Cristo amou é sempre a melhor resposta. Estamos em um mundo que é
contrário a vontade de Deus (Romanos 1:28-32) e assumir uma postura de amor
e serviço significa refletir nesse mundo a luz de Cristo.

Há ainda outro aspecto desse amor as pessoas que diz respeito ao fat o de
sabermos que elas estão perdidas sem Cristo. Jesus afirmou ser o único caminho,
a única verdade e a única fonte de vida (João 14:6). À parte dele não há
salvação, o que significa que muitas pessoas ao nosso redor estão sobre o alvo
da ira de Deus caminhando para a condenação eterna. Precisamos nos
importar com isso e orar por aqueles que ainda não creem em Jesus.
Certamente, nossos atos de amor e o caráter de Cristo em nós abrirão muitas
portas para a evangelização e, assim, seguimos sendo luzeiros e impactando o
mundo com o amor de Jesus.

Versículos: Mateus 5:16; Mateus 5:43-45; Romanos 12:9-21; Gálatas 5:22-23

3) Alegria na Vida Eterna


Paulo ao escrever aos colossenses os convocou a pensar nas coisas do alto e
não nas da terra. O motivo para essa mudança de direção de pensamento era
o fat o de que em Cristo eles haviam morrido para as coisas daqui e ressuscitado
para as coisas do céu.

Essas verdades que Paulo escreveu aos Colossenses (Colossenses 3:1-4) se


aplicam a todos os que creem em Cristo. Nosso pensamento deve estar nas
coisas do alto e na expectativa que temos em relação a vida eterna com Cristo.

Saber da realidade futura de um novo céu e uma nova terra nos faz entender
que não somos daqui, pelo contrário, vivemos neste mundo como peregrinos (1
Pedro 2:11-12). Essa visão da eternidade é poderosa para produzir no coração
do discípulo de Jesus uma disposição à renúncia, ao abandono do pecado, a
inconformidade com o que é deste mundo. Mas, ao mesmo tempo, uma
disposição à pregação ousada da esperança que há somente em Jesus.

92
CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

Sabemos que Jesus reina e que breve voltará para levar a sua igreja amada.
Viveremos e reinaremos com o Senhor por toda eternidade e nisso está a nossa
alegria. É essa alegria na vida eterna que nos impulsiona a, enquanto estivermos
aqui, cumprirmos nossa missão.
Versículos: João 3:16; 2 Coríntios 4:17-18; Apocalipse 21:3-4

4) Prontidão ao Sofrimento
Iremos sofrer por Cristo e pelo evangelho. Isso não é uma possibilidade, mas é
uma certeza que o próprio Senhor nos assegurou quando disse que neste mundo
teríamos aflições (João 16:33).

Seja pela perseguição, pelas consequências de obedecer a Deus, pela luta


constante contra o nosso próprio pecado ou demais adversidades que a
caminhada nos propõe, seguir a Jesus tem o seu custo. É por amor a Cristo e do
evangelho que abrimos mão do nosso conforto e abraçamos o sofrimento,
sabedores de que em tudo estamos agradando a Deus.

Se para viver o evangelho passamos pelo sofrimento, para anuncia-lo não seria
diferente. Isso é o que vemos na vida do apóstolo Paulo que em 2 Coríntios 11:23-
28 nos apresenta uma lista dos sofrimentos que passou por causa da pregação
do evangelho. Porém, não poderia ser diferente pois o próprio Senhor advertiu
que tais coisas aconteceriam com Paulo no cumprimento da sua missão (Atos
9:15-16).

Penso que a mesma advertência nos é feita hoje. Se desejamos ser cristãos
envolvido com a pregação do evangelho devemos estar prontos ao sofrimento.
E o que nos permitirá viver assim será uma convicção vinda da parte do Espírito
Santo de que não há prazer maior do que sofrer por amor a Cristo.

Versículos: Mateus 5:10-12; Lucas 9:23-24; Atos 5:41; Atos 20:24; Filipenses 4:4;
2 Timóteo 3:12; 1 Pedro 4:12-16

5) Conhecimento das Escrituras


Pregar o evangelho é pregar a Palavra de Deus, e não as nossas opiniões e
experiências pessoais. É anunciar a verdade de Deus sobre as coisas, mesmo que
o mundo diga o contrário. É se deleitar em toda a Escritura sabendo que de
93
CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

Genesis a Apocalipse a salvação em Cristo está presente. É saber dar a razão


da esperança que há em nós, esperança essa que está fundamentada nas
promessas de Deus. Como evangelistas precisamos conhecer e prosseguir em
conhecer a Palavra de Deus.

Paulo, em sua segunda carta a Timóteo diz no capitulo 3, versículo 16 que toda
a Escritura é inspirada por Deus e útil para aperfeiçoar os seus servos. Porém, nos
versículos anteriores, Paulo exorta Timóteo a permanecer nas sagradas letras pois
elas apontam para a salvação pela fé em Cristo Jesus. O Senhor nos chama
para dar a resposta que o mundo tanto procura, contudo, essa resposta não
está em nós, ela está em Cristo que fala por meio das Escrituras.

Precisamos passar tempo com nossas bíblias em mãos, estudar e memorizar


versículos, ouvir boas pregações e estudos e nos preparar para conduzir outros à
fé por meio da pregação (Romanos 10:17).

Que o Espírito Santo nos dê da sua iluminação para compreendermos, amarmos


e testemunharmos do evangelho descrito em sua Palavra.

Versículos: Salmo 19:7-10; Salmo 119:1-16; Atos 8:30-35; 1 Coríntios 2:1-5; 2


Timóteo 2:15

6) Ousadia e Convicção
A convicção com que Pedro e os demais apóstolos deram testemunho do
evangelho e da obra de Cristo, conforme nos é relatado no livro de Atos, nos
inspira a sermos cristãos mais ousados em nossa pregação.

Nos capítulos 4 e 5 de Atos os discípulos de Jesus são levados para o Sinédrio e


ali são obrigados a não mais ensinarem acerca do nome de Jesus. No poder do
Espírito Santo e inflamados de amor pelo evangelho, Pedro e os demais se
mostram resolutos a não deixarem de falar das coisas que haviam visto e ouvido
o Senhor Jesus fazer e ensinar (Atos 4:18-20). Tomados de apego pela verdade
do evangelho, aqueles discípulos estavam dispostos a entregar a própria vida.

Da mesma forma, nós somos constantemente tentados a assumir uma postura


mais branda em relação a nossa fé em Jesus. Somos forçados pela conveniência
e pela opinião da maioria a não sermos radicais em nosso testemunho das
verdades da Palavra de Deus. Erramos quando, muitas vezes, cedemos a essa
tentação e nos envergonhamos de Jesus e do evangelho (Lucas 9:26; Romanos
1:16).

94
CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

Porém, somos convocados pela Palavra a obedecer a Deus antes do que aos
homens, e, se necessário, sofrer o dano por não abrir mão do que nos foi
revelado.

Que nossa oração seja, assim como a de Paulo, para que nos seja dada, no abrir
de nossas bocas, a palavra, para que, com intrepidez, façamos conhecido aos
homens o mistério do evangelho (Efésios 6:19-20). Que Deus nos use
poderosament e como testemunhas do seu amor.

Versículos: Atos 23:11; 1 Coríntios 4:1-2; 2 Timóteo 1:6-14

7) Inconformidade com o Mundo


Antes de conhecermos a Cristo vivíamos na vaidade dos nossos próprios
pensamentos, nos entregando a depravação e cometendo todo tipo de
impureza. A partir do momento que Cristo veio ao nosso encontro fomos libertos
desse mundo e recebemos da parte do Espírito Santo um novo coração e uma
nova forma de pensar. Como Paulo diz em Colossenses 1:13, fomos transportados
do Império das Trevas para o Reino de Deus, a partir da obra de redenção que
Jesus começou a fazer em nós.

Como pessoas alcançadas pela graça de Deus em Cristo, nos esforçamos todos
os dias para mortificar o pecado que ainda habita em nós e andar em santidade
conforme o Espírito Santo nos capacita. Essa é uma guerra incansável que
travamos dentro do nosso coração e que só terá fim quando formos plenamente
transformados pelo Senhor (Romanos 8:1-14; Gálatas 5:16-24).

Pregamos o evangelho por obediência ao mandato do Senhor; mas t ambém


pregamos o evangelho como forma de rebeldia contra o pecado que está
presente no mundo, pois é o mesmo pecado que vemos dentro de nós. Não
pertencemos mais a este mundo, pois fomos desarraigados daqui para vivermos
para o Senhor, mas atuamos aqui como luzeiros para este mundo, apontando
para o poder do evangelho de Cristo (Gálatas 1:4; Filipenses 2:15).

Não nos conformamos com este mundo e nem somos indiferentes com a
tragédia que o pecado aqui causou. Pelo contrário, como filhos de Deus,
odiamos o pecado assim como o nosso Pai o odeia. Odiamos o pecado que
está nas pessoas assim como também odiamos o pecado que está em nós; por
isso, voltamos os nossos olhos para Jesus e pregamos a salvação que só ele pode
realizar.

95
CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

O mundo carece de uma transformação profunda e completa. Carece do


poder de Cristo para reverter todos os efeitos que a queda do homem causou.
Que sejamos ousados em nossa luta contra o pecado, e assim, instrumentos que
apontam para a redenção que há no evangelho.
Versículos: Romanos 12:1-2; Efésios 4:17-24; 1 Pedro 2:9-12

8) Intimidade com Jesus


Olhando para a vida dos apóstolos, percebemos que antes mesmo deles serem
enviados para cumprir a missão, eles haviam sido chamados para um
relacionamento íntimo e pessoal com Jesus. O testemunho que os apóstolos
posteriormente começaram a dar perante o povo e as autoridades acerca de
Jesus era, em boa parte, baseado na experiência que eles haviam tido com o
Senhor, de tal forma que, os que os ouviam reconheciam que aqueles homens
de fat o haviam estado com Jesus (Atos 4:13).

Na vida cristã, lidamos com o desafio de não permitir que a rotina, as


preocupações dessa vida e os muitos afazeres roubem o tempo que separarmos
para buscar a intimidade do Senhor. Até mesmo as atividades e as
responsabilidades do trabalho na igreja podem se tornar pesadas demais a
ponto de atrapalhar nossa vida com Deus.

Porém, o que cada discípulo de Jesus precisa entender é que, antes mesmo dele
ser um missionário e cooperador com o avanço do reino, ele é um filho de Deus
salvo pela obra de Cristo, chamado para a comunhão. O que somos vem antes
de qualquer coisa que fazemos. Priorizar a vida devocional de leitura da Palavra,
oração, comunhão com irmãos e participação nos cultos é uma urgência para
nós. Disso depende a saúde da nossa evangelização.

A qualidade do nosso relacionamento com Jesus impacta profundamente a


forma com falamos dele para os outros. Sendo assim, pare um pouco e se
pergunte “como est á o meu relacionamento com Deus?”, ou “o quant o t enho
me alegrado no evangelho de Jesus?”, ou ainda “quão cheio do Espírito Santo
eu est ou?”. Que o Senhor em sua graça nos dê mais de sua intimidade.

Versículos: Salmo 25:14; Salmo 26:4-5; Lucas 10:38-42; João 15:13-16; Tiago 4:7-8

96
CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

9) Poder do Espírito Santo


Se o Senhor Jesus e também os apóstolos dependeram do poder do Espírito
Santo para realizar todas as coisas, conosco hoje não poderia ser diferente. Umas
das expressões que mais marcam o livro de Atos é “cheio(s) do Espírit o Santo”;
ela aparece pelo menos 10 vezes - Atos 2:4; Atos 4:8; Atos 4:31; Atos 6:5; Atos 7:55;
Atos 9:17; Atos 11:24; Atos 13:9-10; Atos 13:52.

Discípulos cheios do Espírito Santo são tomados por um profundo desejo de


glorificar a Deus com suas vidas e viver uma vida de intensa devoção. Esse
enchimento do Espírito é poderoso para gerar no coração o senso de
compromisso e obediência a vontade de Deus. Crentes guiados pelo poder do
Espírito são comprometidos com as Escrituras, conhecem o prazer da oração, se
movem em santidade e amor, além de se dedicarem na proclamação do
evangelho de Cristo.

Precisamos do poder do Espírito Santo para sermos crentes melhores, precisamos


desse poder para sermos evangelistas melhores. Precisamos do Espírito de Deus
em nossas vidas mais do que qualquer outra coisa.

Que sejamos cheios do Espírito Santo através da prática de leitura e estudo da


Palavra de Deus. Que sejamos cheios do Espírito por meio da frequente
participação nos cultos públicos. Que sejamos cheios do Espírito de Deus como
resposta e consequência das nossas constantes orações. Que o poder do Espírito
de Deus nos capacite no cumprimento da missão. Em nome de Jesus, amém!
Versículos: Lucas 4:1; Lucas 11:9-13; Atos 1:8; 1 Tessalonicenses 1:5

10) Experiência real e profunda de Conversão


A vida cristã começa na conv ersão – no dia que fomos poderosamente
convencidos pelo Espírito Santo da gravidade do nosso pecado e da
profundidade do amor de Deus. Fé na cruz de Cristo e arrependimento de
pecados são as marcas da verdadeira conversão.

Meu irmão, você não pode se entregar a pregação do evangelho se ainda não
rendeu todo seu coração a ele. Infelizmente, por causa do nominalismo e da
superficialidade presentes nas igrejas e nas pregações que muitos líderes cristãos
trazem, encontramos frequentadores de igreja que conhecem muito bem a
religiosidade cristã, mas nunca tiveram um conhecimento verdadeiro do
evangelho de Cristo Jesus.

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CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA

A morte de Jesus na cruz é a solução de Deus para o problema do ser humano.


É a forma de recebermos o que mais precisamos nessa vida: o perdão de Deus.
Deus é gracioso em chamar pecadores rebeldes e desobedientes para
participarem da alegria do seu reino; a prova dessa graça é o sacrifício do
Senhor Jesus na cruz. É graça porque não depende de obras ou realizações, é
graça porque outra pessoa - O Filho de Deus – já pagou o preço em nosso lugar;
é graça porque é um presente do céu ao nosso favor.

Evangelistas, antes de tudo, creem no evangelho e tem na cruz a fonte de sua


alegria. A boa notícia do amor de Deus muda as nossas vidas e nos conquista
por completo. Por isso, se você ainda não teve uma experiência real e profunda
de conversão, olhe para a obra de Jesus na cruz, reconheça que só ele tem
poder para te salvar do pecado e faça de Cristo a pessoa mais importante da
sua vida.

Pessoas salvas são instrumentos para levar salvação; pessoas transformadas são
instrumentos para levar transformação. Falamos de Jesus por ser ele a razão a
da nossa esperança e o Senhor das nossas vidas.

Versículos: Marcos 5:15-20; 2 Coríntios 5:14-15,17; Gálatas 2:19-20

CONCLUSÃO
Amar a Deus acima de todas as coisas, amar as pessoas, alegrar-se na realidade
da vida eterna, abraçar o sofrimento por servir a Cristo, conhecer e estudar as
Escrituras, não abrir mão da verdade do evangelho, não se conformar com o
presente século, desfrutar de intimidade com Jesus, ser cheio do Espírito Santo e
dar frutos de uma verdadeira conversão. Antes de serem qualidades dos
evangelistas, essas são realidades que fazem parte da identidade do verdadeiro
cristão. “Como ser um bom evangelista?”, alguém poderia perguntar. Bom!
Comece se esforçando para ser um bom cristão. Creio verdadeiramente que
não exista outro “método” melhor do que este. A mensagem que pregamos
para o mundo é a mesma que cremos e vivemos em nossas vidas. Por isso, cada
dia mais, vivamos intensamente o evangelho de Jesus; dessa forma, logo
veremos que falar do evangelho é uma doce consequência da graciosa fé que
temos nele.

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INDO MAIS FUNDO

INDO MAIS FUNDO

GLOSSÁRIO
A m ensagem do evangelho é sim ples, porém , ela carrega conceitos extremamente profundos e, às vezes,
com plexos. Algum as perguntas podem surgir durante um a conversa e precisam os estar minimamente
preparados para respondê-las. Aqui vai um a breve definição de alguns tem as presentes na evangelização.

Batismo: sinal que simboliza a introdução de alguém ao pov o de Deus. O batismo que a igreja realiza nas
pessoas que professam a fé em Jesus é um reconhecimento de que essa pessoa faz parte da comunidade
dos crentes. O batismo não é uma condição para a salv ação; a salv ação é dada pela fé em Jesus. Mas,
ele é um sacramento e um símbolo que marca o início de uma caminhada com Deus e o compromisso
com a fé cristã. Há um outro batismo que é realizado na v ida daquele que crê, que, diferente daquele que
é feito com agua, é realmente eficaz para a salv ação. Esse é o batismo com o Espírito Santo que somente
Jesus pode realizar (Mt 3:11-12). Todo aquele que crê em Cristo é selado com o Espírito Santo da promessa
e recebe a benção de se tornar um filho de Deus (Ef 1:13-14).

Bíblia : ela é a Palav ra de Deus. A união de 66 liv ros escritos por diferentes autores, em diferentes épocas e
diferentes línguas (Hebraico, no Antigo Testamento, e Grego, no Nov o Testamento), mas perfeita e
harmônica, sem erros e contradições. Podemos dizer com toda a certeza que a Bíblia não contém erros,
pois nela mesmo é afirmado que “Toda Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm3:16-17). Isso significa que os
autores bíblicos escrev eram sob influência e capacitação do Espírito Santo, de tal forma que os resultados
de seus escritos podem ser considerados as palav ras do próprio Deus, cumprindo todo os propósitos do
Senhor (2 Pe 1:20-21). É atrav és da Bíblia que Deus quis se rev elar de uma forma mais especial ao homem,
rev elando ali a sua v ontade e o seu caráter. Mesmo com tantos assuntos e tantas histórias, percebemos
que toda a Bíblia aponta para Jesus e fala acerca da sua obra de redenção. Se não fosse o conteúdo das
Escrituras nunca teríamos o conhecimento acerca da salv ação em Jesus Cristo. Ainda assim, é necessário
fé e uma ação do Espírito Santo para que o homem entenda e considere de forma v erdadeira os
ensinamentos da Palav ra de Deus; sem a iluminação v inda do Espírito, a Bíblia é apenas mais um livro
contando histórias e princípios legais. Porém, para aqueles que fazem part e do pov o de Deus a Bíblia a
única regra de fé e prática; a lâmpada que ilumina e nos mostra o caminho (Salmo 119:105).

Conversão: diz respeito a duas realidades: fé e arrependimento. Diante de tão grande salv ação e obra
realizada por Cristo, existe uma necessidade da nossa parte. A mensagem do ev angelho pede do ser
humano arrependimento e fé. Arrependimento é a profunda tristeza e o real conv encimento v indo do
Espírito Santo a respeito de quem nós somos e do nosso pecado (Jo 16:9-11). Reconhecimento do nosso
mal e de que estamos em dív ida para com o Criador. Arrependimento é mudança de mente e v ontade
de mudar de direção (Atos 3:19-20). Unido a isso v em a fé que é muito mais do que acreditar que algo
exista, mas, depositar total confiança; mais do que acreditar que Jesus existiu, fé é confiar plenamente no
que ele fez na cruz e entender que tal obra tem poder para nos salv ar (Jo 11:25-26). Reconhecimento de
que Jesus é o Filho de Deus e que seu sacrifício é real e eficaz para nossa salv ação. Conv ersão é
reconhecimento de quem Jesus é e de quem nós somos.

Criação: A bíblia nos ensina que foi Deus quem criou todas as coisas. No relato dos primeiros capítulos de
Gênesis está claro que o Senhor criou tudo em seis dias e no sétimo descansou (descansar significa
contemplar a sua própria criação que ele fez para sua glória – Gn 2:1-3). Tudo o que Deus fez foi para o seu
próprio agrado e foi criado de forma boa (Gn 1:31), rev elando o seu poder, sua majestade e sua sabedoria.
No primeiro dia criou a luz; no segundo, os céus e as águas; no terceiro, a porção seca, ou seja, a terra, as
rochas, a v egetação; no quarto, os luzeiros (o sol, a lua e as estrelas); no quinto, os animais que v oam e os

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INDO MAIS FUNDO

animais aquáticos; e no sexto dia criou os animais terrestres e o homem (humanidade). Toda essa criação
não existe em si mesma mas depende do Criador para se manter (At 17:24-25). O homem é a coroa da
criação, ou seja, a parte mais importante e mais especial, sendo o único da criação feito à imagem e
semelhança de Deus. Dessa forma a humanidade foi criada para se relacionar com o Criador e encontrar
seu maior prazer na adoração.

Cruz: Na cruz do calv ário, Cristo ofereceu um perfeito sacrifício ao Pai para nos tornar justos e liv res da ira
do Senhor, tomando essa ira em nosso lugar (Gl 3:13). Esse sacrifício só Jesus poderia realizar por ser ele
plenamente homem e, ao mesmo tempo, plenamente Deus (Hb 2:14-18). A cruz é muito mais que um
símbolo, é o ponto central da história. Ali Cristo v enceu a morte e transformou todas as coisas, i nclusive
nosso destino. Mais que um ev ento histórico isolado onde um judeu foi morto por suas ideias; a cruz é o
marco da nov a criação de Deus. Sinônimo de dor, mas também de v itória; de sacrifício, mas também de
v ida. Ao mesmo tempo, um símbolo de humilhação e glória (Fp 2:5-11).

Deus: umas melhores formas de falarmos sobre o ser de Deus é olhando para os seus atributos. A bíblia nos
ensina que Deus é o criador de todas as coisas e que tudo o que existe foi criado para sua glória e seu
louv or. De forma especial, criou o homem à sua imagem e semelhança para estabelecer um
relacionamento com ele. Além Criador, Deus é santo, nele não há imperfeição ou pecado, pois ele é
totalmente separado e puro. Deus é auto existente e independente, não precisando de nada ou ninguém.
Deus é um único ser que subsiste em três pessoas distintas, porém unidas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito
Santo. Deus é gracioso, misericordioso, cheio de bondade e amor. Deus é justo e manifesta ira contra
pecado e tudo aquilo que não está de acordo com seus preceitos. Deus faz tudo para sua própria glória e
gov erna soberano sobre todas as coisas. Onipotente, onisciente e onipresente. Deus dev e ser o alvo
exclusiv o da nossa adoração e é digno de todo nosso amor. É um Deus que se rev ela a nós em sua Palav ra,
nos redime dos nossos pecados por meio de seu Filho e faz todas as coisas para sua própria glória.

Discípulo/Discipulado: significa seguir alguém e tê-lo como mestre e instrutor para a v ida. Um discípulo é
um aluno dedicado e um seguidor apaixonado. Somos conv idados por Cristo para sermos seus discípulos.
O discipulado cristão começa com a fé. Crer em Jesus como o Filho de Deus que salv a o mundo é o início
do discipulado. Porém, o discipulado com Jesus tem um custo; Jesus pede daqueles que desejam segui-lo
total dev oção e amor (Lucas 14:25-33). Dev oção e amor que são guiadas pelo entendimento (de que Jesus
é o próprio Deus e, por isso, Senhor) e que resultam em renúncia e em serv iço. Aprender com Cristo, imitar
a Cristo, pregar a Cristo, renunciar por Cristo, andar com Cristo, amar a Cristo, priorizar a Cristo e v iver por
Cristo. Discipulado é dizer que “o v iv er é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1:21).

Espírito Santo: é a pessoa da Trindade responsáv el por aplicar a salv ação em nossas v idas. É pelo Espírito
que nós entendemos quem Jesus é, e é pelo seu poder que a mensagem do ev angelho ganha doçura em
nossos ouv idos (Jo 16:13-14). É ele quem nos lev a a um profundo e v erdadeiro arrependimento de pecados
depois de ouv irmos o ensino da Palav ra de Deus. É ele que nos faz crer em Jesus e santifica nossa v ida,
transformando nossa mente e coração de acordo com a sua v ontade (Rm 8:1-17). O Espírito Santo é Deus!
Igual em honra, glória e poder com o Pai e com o Filho. Digno de adoração e louv or. Espíri to Santo é o
nosso Consolador e melhor amigo, que ilumina o nosso entendimento e direciona as nossas v idas. No
momento da conv ersão, o Espírito estabelece residência permanente na v ida do cristão como um selo
irrev ogável (Ef 1:13-14). É a sua operação em nossas v idas que nos conduz a glorificar a Deus com frutos de
amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade e domínio próprio
(Gálatas 5:22-23). É o Espírito quem dá talentos aos homens e dons aos serv os de Deus, capacitando a igreja
para cumprir a missão e trabalhar para a sua própria edificação (1 Co 12:4-11). Louv ado seja o Deus Espírito
Santo pela marav ilhosa obra que ele realiza em nossas v idas.

Glória de Deus: é o propósito de todas as coisas existirem; desde a criação, até a consumação final. Tudo
o que Deus faz ele faz para a sua própria glória (Rm 11:36). Sendo assim, tudo o que nós fazemos dev e ser
primeiramente para trazer glória ao nome do Senhor. A glória de Deus é a manifestação dos seus perfeitos
atributos: justiça, bondade, amor, santidade, poder, imutabilidade, pureza, sabedoria, independência,
eternidade, soberania, etc. É a manifestação de quem Deus é! Por isso, glorificar a Deus signific a louva-lo
por tudo aquilo que ele é e reconhecer a grandiosidade do seu ser. Criaturas foram criadas para glorificar

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INDO MAIS FUNDO

o Criador; essa é a ordem correta de como a realidade dev e acontecer (Rm 1:25). O Deus Todo Poderoso
– Pai, Filho e Espírito Santo – possui em si toda a glória e merece toda a glória. Só atrav és de Cristo realmente
podemos v iv er para a glória de Deus; só aquele que experimentou da salv ação poder reconhecer a glória
que Deus tem (Ef 1:12-14). O pecado nos separa da glória de Deus (Romanos 3:23); ou seja, o pecado nos
atrapalha em reconhecer a glória que Deus tem (a beleza de seus atributos e feitos) e de dar glória a Deus.
Mas, pela graça de Deus, o sacrifício de Cristo e o poder do Espírito Santo, pecadores podem v oltar a dar
glória a Deus.

Heresia: significa desv io e entendimento falso da v erdade. Jesus e os apóstolos av isaram sobre a realidade
de que muitos falsos profetas se fariam presentes no decorrer dos tempos (Mt 24:11). Entendemos que a
Bíblia é a Palav ra de Deus inspirada pelo Espírito de Deus e, por isso, inerrante e normativ a. Qual quer ensino,
ideia, doutrina, prática ou crença que v á além ou fique aquém do que está na bíblia não merece a nossa
atenção, pois se trata de uma heresia (Gl 1:6-9). Até mesmo a leitura e interpretação dos textos bíblicos
dev em ser feitas com cautela, observando os textos dentro dos seus contextos. A Palav ra de Deus não pede
licença a nossa opinião pessoal; nosso pensamento que dev e ser moldado pelo ensino bíblico. A Palav ra é
a v erdade e a v erdade rege a nossa fé e a nossa prática de v ida; o que passar disso lev a ao engano e não
glorifica a Deus.

Igreja : é a união daqueles que foram chamados para serv ir a Deus. Curiosamente, “igreja” possuiu
significados div ersos. Pode se referir ao lugar físico onde acontecem as reuniões e cultos, como pode se
referir ao grupo de pessoas que professam a fé no Senhor Jesus. Alguns usam para apontar para as div ersas
denominações cristãs que existem (exemplo, Igreja Presbiteriana, Igreja Batista, Igreja Católica, etc) ou até
para mencionar o cristianismo como um todo. Mas em um sentido mais especial, igreja se refere as pessoas
que foram salv as pela obra de Jesus na cruz e o amam como o Senhor de suas v idas (o que podemos
chamar também de “A Igreja Inv isível”). É esse grupo de pessoas salv as pela graça que um dia Jesus vem
buscar para estar com ele por toda a eternidade; porém, enquanto o Senhor da igreja não retorna, ela
segue adorando a Deus e cumprindo a missão que a ela foi designada.

Imagem e Semelhança : o ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus; por isso afirmamos
que ele é a coroa da criação (o desfecho, a parte mais importante, etc). A forma como Deus criou o ser
humano é totalmente distinta da forma como Ele criou as demais coisas. Deus imprimiu no homem e na
mulher mais de sua identidade e comunicou a eles parte de seus atributos (Sl 8:4-8). Não dev emos pensar
que “imagem e semelhança” se referem aos aspectos físicos. A bíblia ensina que Deus é espírito; ou seja,
Deus não tem braço, pernas, olhos ou orelhas (Jo 4:24). A semelhança se dá na retidão, na santidade, na
pureza, na capacidade criacional, no raciocínio, no domínio e regência da criação. O homem foi criado
para se relacionar (bem) com Deus e com a criação (incluindo outros seres humanos). E, diferente do
restante da criação, o homem e a mulheres foram criados como seres espirituais.

Jesus Cristo: Segunda pessoa da Trindade encarnada. O Filho de Deus que se fez homem e v eio a este
mundo com propósito de salv ação e cumprimento dos planos do Pai (Mt 1:21). Autor da salv ação e da
redenção de todas as coisas (Hb 2:10-11; Hb 5:9). Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas (Cl 116). Jesus
é o autor da criação e a bíblia ensina que tudo que existe foi criado atrav és dele. Ele é perfeito e santo, e,
mesmo quando foi tentado, não pecou (Mt 4:1-11). Realizou seu ministério aqui na terra com muito ensino,
demonstração de poder em seus milagres e glória. É o padrão do que dev emos ser e de como dev emos
v iv er. Jesus possui duas naturezas, uma div ina e outra humana, e assim permanece até hoje e para sempre.
Jesus é o cabeça da igreja, o motiv o da alegria dos que o seguem (Ef 4:15-16). Senhor de todas as coisas
a quem foi entregue toda a autoridade, por isso, toda língua irá confessar seu nome e todo joelho se
dobrará perante Ele. Viv e e reina sobre nós (1 Co 15:20-28).

Justificação: Esse é o ato de Deus declarar que alguém é justo perante os seus olhos. A carta de Paulo
aos Romanos aborda bastante essa temática. Romanos 1:17 diz que “o justo viverá pela fé”. Pecadores só
podem ser considerados justos quando são rev estidos da justiça de Cristo (Rm 3:21-26). O homem não tem
justiça própria para alcançar a aprov ação de Deus, por isso, perante o tribunal de Deus , ele se encontra
condenado. Mas, quando alguém coloca sua fé em Jesus e no sacrifício que ele realizou, essa pessoa é
coberta com o sangue de Jesus e não é mais condenada (Rm 8:1). Pela fé, os créditos do Filho de Deus são

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INDO MAIS FUNDO

colocados em nossa conta. Algo incrív el acontece, um Deus santo, perfeito e justo olha para pecadores
impuros que diariamente transgridem a sua Lei e não os puni, porque v ê neles a justiça de Cristo que lhe foi
imputada. Justificados pela fé em Jesus carregamos em nós a sua santidade e perfeição (Colossenses 1:22).
Aquele que é justificado por Cristo deixa de ser inimigo de Deus e passa a ter paz com o Senhor (Rm 5:1).
Essa é uma obra que nós nunca poderíamos realizar por esforço próprio e é um presente que nós não
merecemos. Não somos justificados por algo que nós fazemos, somos justificados por algo que Cristo já fez
na cruz!

Pecado: sobre isso a bíblia nos conta que o homem e a mulher foram criados de forma perfeita e em
retidão, mas, dev ido a uma escolha feita no jardim do éden de tomar do fruto proibido por Deus , o pecado
entrou na história da humanidade (Gn 3:1-7). Pecado é tudo aquilo que não agrada a Deus e não está de
acordo com a lei que o Senhor estabeleceu para nós (1 Jo 3:4). O pecado ofende os atributos de Deus e
rev ela nossa rebeldia e corrupção. Essa rebeldia que começou no jardim do éden se estende a toda a
humanidade e está presente em todos os seres humanos. Adão como nosso representante nos legou essa
condição pecaminosa, por isso todos nascem em pecado e v ivem como escrav os desse mal (Rm 5:12-21).
Por esse motiv o o pecado está presente em todas as nossas ações e nos influencia em tudo o que fazemos,
de forma tão trágica que até as boas ações que fazemos são impuras e contaminadas aos olhos do Senhor
(Gn 6:5). Essa total deprav ação nos torna culpados e, sendo assim, destinados a condenação e a punição
que v em de Deus. Para nossa tristeza a consequência do pecado é a morte e a separação de Deus (Rm
6:23). Sozinhos nunca conseguiremos nos liv rar da presença, do poder e da condenação do pecado. Já
que estamos mortos, só alguém capaz de nos ressuscitar pode nos ajudar e nos libertar de tudo aquilo que
o nosso pecado causou. Esse alguém é Cristo! (Ef 2:4-6).

Queda: tem total relação com o pecado e com o fato do homem ter se afastado de Deus. O homem caiu
da sua posição de intimidade com o Senhor, onde perdeu a capacidade de amar a Deus, e passou para
uma posição de inimigo de Deus amando a si mesmo. A queda aconteceu no exato momento em que
Adão e Ev a tomaram do fruto e obedeceram à tentação proposta pelo Diabo (Gn 3:1-7). Nessa condição
caída, o coração do ser humano se tornou inclinado para o mal. Porém, aqueles que são alcançados por
Cristo são libertos do Império das Trev as e lev ados para o Reino de Cristo (Cl 1:13-14). Só Jesus, atrav és do
seu sacrifício, pode nos lev antar e nos redimir para v oltarmos ao estado em que estáv amos no início de
intimidade com Deus.

Reino de Deus: é a expressão da soberania de Deus sobre todas as coisas (Sl 99:1). É a realidade de que
Deus gov erna e dirige a história de acordo com os seus planos e decretos. Na oração do Senhor, somos
ensinados a pedir que “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade” (Mt 6:10); o reino de Deus se torna v isível
na v ida daqueles que fazem a v ontade de Deus. Por mais que o pecado não tenha mudado o fato de que
Deus gov erna sobre o mundo, ele trouxe rebeldia para o coração humano e corrupção para t oda a
criação. Porém, foi na primeira v inda de Jesus que o reino começou a ser inaugurado na terra (Mt 12:28).
Aqueles que creem em Jesus são introduzidos no reino e se tornam embaixadores do reino no mundo. Nesse
sentido, o “Reino de Deus” já se faz presente no mundo, sobretudo, na v ida da igreja; porém, a realidade
do reino ainda não chegou em sua totalidade sobre a terra. Na segunda v inda de Jesus (O Rei), o reino de
Deus v irá em sua totalidade e será implantado sobre todas as coisas para a glória de Deus e a alegria do
seu pov o (1 Co 15:20-28).

Santificação: é o processo que todo cristão passa ao longo de toda a sua v ida ao ser transformado, de
pouco em pouco, à semelhança de Jesus (Rm 8:28-29). Santificação é se tornar santo (1 Pe 1:15-16). Essa é
uma obra que depende da ação do Espírito Santo e do esforço do cristão. Abandonar os v ícios, mortificar
a carne, corrigir o uso das palav ras, purificar os olhos, aprender a obediência, resistir aos impulsos, perdoar
a ofensa alheia, diminuir o ego, prezar pela v erdade, fugir da imoralidade, v encer as tentações, etc.
Santificação é crescer espiritualmente e v iv er um estilo de v ida que agrada a Deus (1 Ts 4:3-7). A nossa
santificação glorifica a Deus.

Satanás: é o chefe dos anjos caídos e o adv ersário de Deus e da igreja do Senhor. Também chamado de
Diabo, Maligno ou Tentador. Jesus o chama de o “pai da mentira” e de “príncipe deste século”, que usa
do engano e do pecado para afrontar a Deus e conduzir todos a rebeldia (Jo 8:44). Satanás é identificado

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INDO MAIS FUNDO

como a serpente que enganou Adão e Ev a no jardim do éden e como o tentador que tentou fazer Jesus
pecar. O destino eterno de Satanás e seus anjos é a condenação eterna, junto com aqueles que não
creram no Senhor Jesus (Ap 12:9). A ação do inimigo é delimitada pela soberania de Deus e o poder do
diabo é facilmente superado pelo poder do Senhor, pois ele também é uma criatura de Deus e no final
estará de joelhos perante o senhorio de Cristo (Fp 2:9-11).

Trindade: esse é o termo usado para se referir ao ensino bíblico de que o ser de Deus é constituído por 3
pessoas: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Não se trata de 3 deuses, mas sim de um único Deus. Não há
hierarquia de poder ou v alor na Trindade, pois as três pessoas são iguais em poder, glória eternidade;
também não há conflitos entre as pessoas da Trindade, porque os três são um. A realidade da Trindade
Div ina é um grande mistério que nem mesmo a bíblia se propõe a explicar com mais detalhes.

Vida Eterna: é a razão da nossa esperança e da nossa alegria (Tt 1:1-2). Por causa do poder de Cristo
podemos experimentar da v ida eterna (Jo 3:15-16). Ela tem relação com a redenção e a consumação de
todas as coisas, mas tem a v er com o que v iv emos em Cristo hoje. Vida eterna é muito mais do que um
lugar para onde os crentes v ão; também se refere ao estado de comunhão com Deus. Em João 17:3, Jesus
fala que a v ida eterna é conhecer a Deus e ao Filho; pela graça de Deus isso já uma realidade para os
cristãos, pois estes podem chamar a Deus de “Pai” e a Jesus de “Senhor”. Se “mor te” significa separação,
condenação e ruptura; “v ida” significa união, comunhão, conhecimento em amor. “Vida Eterna” é
comunhão plena, perfeita e eterna com Deus. Porém, v ida eterna também tem relação com a realidade
de um lugar físico. Nesse sentido, seria meio que um sinônimo do que a bíblia chama de “Nov o Céu e Nova
Terra” (Apocalipse 21:1-8). Um nov o lugar onde o pecado e os seus efeitos não se fazem mais presentes. Um
lugar onde o pov o de Deus é totalmente transformado em seu corpo e coração. É a perfe ição que vem
depois da segunda v inda de Jesus. Eterna v ida para a glória de Deus.

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INDO MAIS FUNDO

TEXTOS COMPLEMENTARES

Capítulo 1 - DEUS EM MISSÃO


SOBRE A MISSÃO DE DEUS
Liv ro A Missão de Deus; Christopher W right

“Fundamentalmente, nossa missão (se esta for biblicamente definida e validada) designa nossa
participação ativa como povo de Deus, a convite de Deus, segundo o mandamento de Deus,
na missão do próprio Deus, realizada na história do mundo de Deus, para a redenção da criação
de Deus. Nossa missão flui da missão de Deus e dela participa [...]

A verdade é que, assim como “a salvação pertence ao nosso Deus (Ap 7:10), o mesmo acontece
com a missão. A bíblia retrata e revela um Deus cuja obra criadora e redentora está permeada,
do começo ao fim, da sua grande missão, da sua intencionalidade soberana. Toda missão ou
quaisquer missões que empreendemos, e nas quais invistamos a nossa vocação, dons e energias,
fluem da realidade anterior e mais abrangente da missão de Deus. Deus tem uma missão; nós,
na maravilhosa expressão de Paulo, somos “cooperadores de Deus” (1 Co 3:9)”.

(p.20)

Capítulo 2 - IGREJA EM MISSÃO


SOBRE A GRANDE COMISSÃO

Liv ro Evangelism o; John MacArthur

“O evangelho não consiste no fato de que Jesus é o Messias; se assim fosse, Jesus teria enviado
seus discípulos muito antes. O evangelho consiste na mensagem de que Jesus é o Messias que
foi crucificado em lugar dos pecadores e ressurgiu dentre os mortos ao terceiro dia. Assim, após
a crucificação e a ressurreição, as restrições aos discípul os foram retiradas. Eles foram instruídos
a aguardar a autorização por parte do Espírito Santo e, então, iniciaram um movimento global
que seria difundido por todas as nações. Não há palavras para expressar como o conceito desta
comissão na história da redenção é radical.

Ilustrando a importância da ordem para evangelismo, todos os quatro evangelhos terminam


com alguma variação da grande comissão (Mateus 28:18-20; Marcos 16:15; Lucas 24:46-47; João
20:21). As próprias palavras finais de Jesus na terra, foram, mais uma vez, sobre a incumbência
aos discípulos: “e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até
os confins da terra” (Atos 1:8).

Nunca antes Deus ordenara a todos seus seguidores que vivessem uma vida voltada à
propagação das novas da redenção aos confins do mundo. Os discípulos estavam esperando
que Jesus restaurasse o reino a Israel (Atos 1:6), e, contudo, foi -lhes dito para esperar por isso.
Todavia, enquanto aguardavam, deveriam levar o Reino de Deus a todas as criatu ras.

Em lugar de chamar os cristãos a construir uma nação por meio da obediência à aliança com o
propósito de atrair as nações do mundo a Deus, seguindo sua lei com sabedoria, o Novo

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INDO MAIS FUNDO

Testamento dá a seguinte ordem aos cristãos: “Vão pelo mundo todo e preg uem o evangelho
a todas as pessoas” (Marcos 16:15). Em contraposição ao mandamento de Deus para a nação
de Israel de ficar e obedecer, Cristo mandou que a Igreja saísse para o mundo e proclamasse,
com a finalidade de formar um novo corpo composto por pesso as de todas as nações.

Em lugar de usar a obediência de uma nação como meio para atrair o mundo a Deus, a Igreja
é chamada a atrair pessoas a Deus por meio do evangelho. Por este motivo, Paulo diz que não
enviado para batizar, “mas para pregar o evangelho” (1 Coríntio 1:17). Ele não considerava uma
mensagem de obediência a um conjunto de leis como um meio de transformação global, como
Moisés em Deuteronômio 4. Antes, Paulo saiu pregando apenas a Cristo e o significado de sua
crucificação (1 Coríntios 1:23; 2:2).

Israel devia usar a obediência à Torá para criar uma bela cultura que atraísse pessoas à salvação
pela fé Yahweh e sua glória. A Igreja, em contrapartida, devia usar o viver sacrificial para custear
uma invasão global de proclamadores do belo evangel ho que atrai pessoas à salvação pela fé
no Deus glorioso. O fim é mesmo, mas o método da missão é diferente.

Esse era o plano de Deus desde o começo (1 Pedro 1:20). Desde a promessa inicial no jardim, de
que Adão e Eva teriam uma descendência que esmagari a Satanás, passando pela dispersão
das nações em Babel, pelo chamado de Abraão e pela odisseia de Israel, Deus estava
direcionando a história redentora para o momento em que enviaria seu Filho como a luz do
mundo. Agora, seu povo deve tomar tal luz e levá-la a todos os incrédulos do planeta.

A apatia quanto ao evangelismo é inexplicável pela seguinte razão: a grande comissão não é
apenas um dos muitos mandamentos, mas assinala uma mudança na história redentora. Dizer
que a morte e a ressurreição de Jesus são o ponto focal de toda a história está correto, mas é
apenas metade da verdade. O corolário é que o propósito da vida, daquele momento em
diante, é glorificar a Deus contando ao maior número de pessoas possível a verdade sobre seu
Filho.

É exatamente essa a paixão descrita no Novo testamento. Tão logo a Igreja é inaugurada, a
narrativa de Atos traça o curso de seu crescimento e expansão. Cristãos em todo lugar cresciam
na fé e tornam-se ávidos por disseminar o evangelho. Após Paulo se converter, ele e Ba rnabé
viram-se pregando em Antioquia para quase a cidade inteira, incluindo gentios e judeus. Lucas
escreve que Paulo e Barnabé tomaram coragem e disseram à multidão: “Pois assim o Senhor nos
ordenou: ‘Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da
terra’” (Atos 13:47). Paulo enxergava a si mesmo como destinatário da grande comissão e
também via o lugar dela na história redentora. O resultado deste ousado evangelismo é
impressionante: “Ouvindo isso, os gentios alegraram -se e bendisseram a palavra do Senhor; e
creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna” (Atos 13:48).

Em outro lugar, Paulo descreve o cristão como alguém que é “constrangido” pelo amor de Cristo
a exortar outros a ter fé em Jesus (2 Coríntios 5:14-20). Paulo toma emprestada a linguagem de
Babel e compara-se a um embaixador, enviado por Deus, com o propósito de reconciliar nações
alienadas (2 Coríntios 5:18-20). Ele passou a vida suportando sofrimentos e aflições, tudo com o
propósito de levar o nome de Jesus a lugares onde este ainda precisava ir (Romanos 15:20).

O impulso evangelístico evidente em Paulo não era exclusividade dele; é uma marca de
qualquer cristão que entende corretamente seu lugar na obra redentora de Deus. Por este
motivo, Pedro explicou que o propósito da santificação é que o cristão esteja pronto para
evangelizar a qualquer momento. Ele escreve: “Santifiquem Cristo como Senhor em seu coração.

105
INDO MAIS FUNDO

Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da
esperança que há em vocês” (1 Pedro 3:15).

Saber que toda a história redentora é voltada à grande comissão resulta em um entendimento
de como a proclamação do evangelho é imperativa e de como deve haver paixão pelo
evangelismo. Somente quando os crentes são obedientes às ordens para evangelizar é que
verdadeiramente imitam o coração de Deus em relação ao mundo.”

(p.41-44)

SOBRE A PALAVRA “MISSÃO”


Liv ro Qual a Missão da Igreja?; Kev in DeYoung e Greg Gilbert

Uma das discussões atuais que dentro dos estudos sobre ev angelismo e missões é sobre a definição exata
de qual é a missão da Igreja. Infelizmente muita confusão tem surgido em torno dessa questão e não são
poucos que têm caminhado para um entendimento não bíblico sobre a missão da Igreja. Os autores aqui
tratam um pouco dessa questão quando apontam sobre o significado da palav ra “missão”.

“Uma grande parte do problema em definir a missão da igreja é definirmos a palavra missão.
Visto que missão não é uma palavra bíblica como aliança, justificação ou evangelho, determinar
seu significado para os crentes é especialmente difícil... Por um lado, o verbo latim mittere
corresponde com a palavra grega apostellein, que ocorre 137 vezes no Novo Testamento.
Portanto, missão não é exatamente extra bíblica. Mas, co mo substantivo, missão não aparece a
Bíblia, e isso torna o assunto deste livro mais difícil.

A resposta à pergunta “Qual é a missão da igreja?” depende, em grande parte, do que significa
“missão”. Alguém poderia argumentar que glorificar a Deus e gozá-lo para sempre é a missão a
igreja, porque esse é o nosso principal objetivo como crentes redimidos... Se missão é apenas um
sinônimo de viver uma vida cristã fiel, há inúmeras maneiras de responder à pergunta “Qual é a
missão da igreja? ”.

É verdade que o significado das palavras pode mudar, e talvez não seja possível reter p
significado de “missão” depois de 50 anos de expansão. Mas nos parece que uma definição
mais precisa é necessária, ao menos pela convicção de que o gracejo de Stephen Neill é
correto: “Se tudo é missão, nada é missão”.

Costumava acontecer que a palavra missão se referia muito restritamente a cristão enviados a
outras culturas a fim de converter os não cristãos e plantar igrejas. Agora, porém, missão é
entendido muitos mais amplamente. Administração do ambiente é missão. Renovação da
comunidade é missão. Abençoar a vizinhança é missão. Missão é aqui. Missão é lá. Missão é em
todo lugar... A ambiguidade do termo “missão” é aumentada pela recente proliferação de
termos como “missional” e “missio Dei”.

Antes de apresentar uma definição, Bosch reconhece que “missão”, pelo menos no uso
tradicional, “pressupõe alguém que envia, uma pessoa ou pessoas enviadas por ele, aqueles aos
quais a pessoa é enviada e uma tarefa”... Em seu aspecto mais elem entar, o termo “missão”
implica dois aspectos para muitas pessoas: (1) ser enviado e (2) receber uma tarefa. A primeira
ideia é coerente porque a palavra missão vem de uma palavra latina (mittere) que significa
“enviar”. A segunda ideia está implícita na primeira. Quando somos enviados em uma missão,
somos enviados para fazer alguma coisa – e não tudo; recebemos uma tarefa específica.

106
INDO MAIS FUNDO

Em seu estudo de missão no evangelho de João, Andreas Kostenberger propõe uma definição
neste mesmo sentido: “missão é a tarefa ou propósito específico que uma pessoa ou grupo de
pessoas procura realizar”. Observe novamente os conceitos fundamentais de ser enviado e de
receber uma tarefa. De modo semelhante, John Stott argumentou que missão não é tudo que a
igreja faz, mas, antes, missão descreve “tudo que a igreja é enviada a fazer no mundo”.

Qual é a missão da igreja? Deixamos você em suspense por muito tempo. Em resumo,
argumentaremos que a missão da igreja é resumida nas passagens da Grande Comissão (Mt
28:16-20; Mc 13:10; 14:9; 16:15-16; Lc 24:44-49; Jo 20:21; At 1:8) – as últimas ordens de Jesus
comunicadas no final dos evangelhos e no começo de Atos dos Apóstolos. Cremos que a igreja
é enviada ao mundo para testemunhar de Jesus, por proclamar o evangelho e fazer discípul os
de todas as nações. Esta é a nossa tarefa. Esta é a nossa chamada, única e central.”

(p.17-22; 31)

Capítulo 3 - O QUE É O EVANGELHO?


SOBRE O ENSINO DO EVANGELHO

Liv ro Evangelização; Mack Stiles

“Em primeiro lugar, não há evangelização sem palavras. Afinal, Jesus é a Palavra, e a Palavra
estava com Deus (João 1:1).

A utilização mais importante das palavras na evangelização está no ato de ensinar. Se pensar a
respeito, isso faz sentido para a razão. Nós, humanos, somos incapazes de descobrir o caminho
da salvação por nós mesmos. Portanto, a salvação deve ser revelada a nós por Deus por meio
de suas palavras.

O ensino também é o padrão da Bíblia. A Bíblia é um livro de ensinamentos. Ela nos ensina de
Gênesis a Apocalipse. E manda ensinarmos outras pessoas: filhos, vizinhos, estrangeiros em nosso
meio. As mulheres mais velhas devem ensinar as mais novas. A única qualificação do presbítero,
além de ser um seguidor dedicado de Jesus, é que seja capaz de ensinar.

Talvez pelo fato de o ensino permear toda a Escritura, possamos deixar escapar seu valor. Jesus
observou que as multidões eram como ovelhas sem pastor; por isso alimentou milhares com
poucos pães e peixes (Mc 6:34-44; Lc 9:10-17). Esses milagres, como não podia deixar de ser, nos
surpreendem. Mas o aspecto mais interessante é que, em cada caso, o primeiro ato compassivo
de Jesus era ensinar.

Muitos de nós pensam, corretamente, em pregação quando pensam em evangelização.


Quanto a mim, desejo que todos os sermões que eu pregar contenham o evangelho. Paulo
certamente realizou sua parcela de pregação evangelística. No entanto, quando ele descrev e
seu ministério, muitas vezes afirma que se trata de um ministério de ensino (1 Tm 2:7; 2 Tm 1:11).
J.I. Packer, em sua pesquisa sobre a prática evangelística de Paulo, afirma que o método de
evangelização empregado por ele era primeiramente um método de ensino.

Isso são boas notícias para aqueles de nós que não pregam todos os domingos. Nem todos
podemos ser pregadores, mas todos podemos ensinar o evangelho quando oportunidade surgir.
Muitas vezes e pergunto se mais pessoas se da fé durante o almoço quando alguém pergunta

107
INDO MAIS FUNDO

“O que você achou do sermão de hoje?” do que que durante o próprio sermão. Coisas incríveis
acontecem quando podemos ensinar o evangelho.

Ser capaz de ensinar o evangelho beneficia nossa vida espiritual, por isso requer que vivamos de
acordo com as verdades do evangelho. Uma das primeiras coisas que devemos fazer junto à
mesa da comunhão é verificar se nossa vida está alinhada ao evangelho. Pergunte-se a si
mesmo: “Estou tendo uma vida de fé na obra de Cristo? Aplico a graça do evangelho aos que
estão à minha volta? Concedo perdão sacrificial a quem pecou contra mim?”.

Se você não sabe ensinar o evangelho, pode ser que não o tenha entendido de verda de. E, se
não o entendeu, talvez não seja um cristão de verdade. Conheço várias pessoas que se
consideravam crentes, mas, quando começaram a estudar o evangelho a fim de ensiná -lo,
perceberam que nunca haviam realmente se arrependido de seu pecado e deposi tado a fé
em Jesus.

O mais importante, no entanto, é lembrar-se de que o evangelho precisa ser ensinado antes que
alguém possa se tornar cristão.

De modo geral, eu conduzi pessoas a Cristo ao longo dos anos porque um não cristão desejava
estudar as Escrituras comigo: um grupo de estudantes analisando o Evangelho de Marcos num
acampamento ou conferência, duas pessoas numa cafeteria ou apenas uma pessoa com quem
estamos, o processo é simples: lemos a passagem e conversamos sobre seu significado. Aos
poucos, as pessoas vêm a Jesus porque o evangelho foi ensinado a elas. Essa situação pode não
ser tão emocionante quanto um avivamento em massa, mas, se todo cristão fizesse isso com
amigos não cristãos, o alcance e a autenticidade seriam muito maiores.”

(p.33-35)

3 PASSOS NA EVANGELIZAÇÃO
Jonathan Philip

1. Apresentação fiel e completa da mensagem do evangelho com os seguintes pontos:

- a existência de um único Deus; o Criador de todas as coisas, o Deus revelado nas Escrituras;

- a realidade do pecado humano com o um ato de rebeldia e transgressão da vontade de Deus;


pecado como ofensa a santidade de Deus;

- a explicação sobre a consequência do pecado: morte espiritual, morte física e a morte eterna
(eterna condenação);

- a apresentação de Jesus como o Filho de Deus encarnado;

- a explicação sobre a morte de Jesus na cruz como um ato de sacrifício feito ao Pai em prol da
salvação de pecadores;

- o esclarecimento sobre o sacrifício de Jesus como sendo o momento em que Jesus recebeu a
ira de Deus no lugar daqueles que seriam salvos;

- a realidade do amor e da graça salvadora de Deus que enviou seu único Filho para nos dar
vida eterna;

108
INDO MAIS FUNDO

- a realidade do Céu e da vida eterna com Deus, reservada somente para os discípulos de Jesus
(povo de Deus); bem como a realidade do Inferno, reservado para aqueles que viveram em
pecado e desobediência a Deus;

- falar da necessidade de se crer em Jesus Cristo para a salvação (reconhecimento de que Jesus
é Senhor e Salvador, o Filho de Deus);

- falar da necessidade da fé em Jesus ser acompanhada de um verdadeiro arrependimento de


pecados (reconhecimento de que sou um pecador e que minha vida não tem agradado a
Deus);

Resumo: dizemos quem é Deus, quem somos nós, quem é Jesus e o que ele nos oferece.

2. Explicação sobre a necessidade e o custo do discipulado:

- crer unicamente em Jesus, se tornar parte da igreja, começar uma jornada de busca por
santidade, disposição a renúncia, crescer em intimidade com o Senhor, viver sob a perspectiva
do seu retorno, viver em comunhão com outros cristãos, pregar o evangelho a outras pessoas,
viver para a glória de Deus.

Resumo: basicamente contamos o que significa ser um cristão.

3. Convite ao arrependimento e à fé em Cristo Jesus:

- após apresentação do evangelho e do custo do discipulado, se percebemo s um entendimento


do que foi falado, chegou o momento de convidarmos a pessoa.

Capítulo 4 - ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO


O PENTECOSTES: O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO (AT 2:1-47)
Liv ro de Comentário Bíblico Expositiv o de Atos; por Hernandes Dias Lopes

“Lucas é o evangelista que mais enfatiza a obra do Espírito Santo na vida de Jesus e da Igreja. O
mesmo Espírito que desceu sobre Jesus no Jordão, guiou-o no deserto e revestiu-o com poder
para salvar, libertar e curar (Lc 3:222; 4:1,14,18) agora vem sobre os discípulos de Jesus (At 1:5,8;
2:33). Nos capítulos inicias de Atos, Lucas refere-se à promessa, à dádiva, ao batismo, ao poder
e à plenitude do Espírito na experiência do povo de Deus.

O Pentecoste não foi um acontecimento casual, mas uma agenda estabel ecida por Deus desde
a eternidade. Como o Calvário, o Pentecoste foi um acontecimento único e irrepetível. O Espírito
Santo foi enviado a fim de estar para sempre com a igreja. Temos outros derramamentos do
Espírito registrados em Atos e no decurso da hist ória, mas todos eles decorreram deste
Pentecostes. Concordo com John Stott quando diz que devemos cuidar para não diminuir nossas
expectativas ou relegar à categoria do excepcional aquilo que Deus talvez queira que seja a
experiência normal da igreja. O vento e o fogo eram extraordinários, e provavelmente também
as línguas; mas a nova vida e a alegria, a comunhão e o culto, a liberdade e o poder, não.”

(p.49-50)

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INDO MAIS FUNDO

PRECURSORES DO PENTECOSTES
Liv ro A Beleza e a Glória do Espírito Santo; Joel R. Beeke e Joseph A. Pipa

“Numa manhã de primavera no Dia do Senhor em Jerusalém, cerca de 2000 anos atrás,
enquanto 120 cristãos estavam reunidos dentro ou perto do complexo do templo, Deus, o Espírito
Santo desceu e “encheu toda a casa onde estavam assentados” (At 2:2). Esses cristãos estavam
perseverando na oração desde quando seu Salvador havia ascendido ao céu. Eles os havia
instruído a esperar até o poder descer sobre eles do alto. A oração conjunta deles os uniu; lemos
que eles estavam “todos reunidos” (At 2:1). Matthew Henry escreveu:

“Ultimamente, eles hav iam orado juntos mais do que o usual (At 1:14) e isso os fez se amarem mais uns aos
outros. Pela sua graça, ele assim os preparou para a dádiv a do Espírito Santo [...] porquanto é onde os
irmãos v iv em em união que o Senhor ordena a sua benção”.

A benção ordenada por Deus aconteceu na ocasião da Festa de Pentecostes e é conhecida


agora como Pentecostes. George Smeaton descreve o Pentecostes do seguinte modo: “o maior
acontecimento de toda a História, ao lado da encarnação e da expiação, foi a missão do
Consolador; por isso, enquanto o mundo existir, ela continuará a difundir entre os homens o jorro
da vida divina.”

Lucas ressalta essa verdade pelo destaque que dá ao derramamento do Espírito. Ele relata o
acontecimento praticamente no cabeçalho do seu segundo livro (At 2), exatamente como
descreve a descida do Filho de Deus no cabeçalho do seu primeiro livro (Lc 2).

Lucas inicia seu relato a respeito da vinda do Espírito escrevendo sobre os sinais incomuns que o
acompanharam. Ele faz uma observação quanto ao vento e ao fogo: “De repente, veio do céu
um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E
apareceu, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles ”
(At 2:2-3).

De modo miraculoso, representantes das nações vizinhas, cada um na sua própria língua,
ouviram a mesma mensagem: as grandezas de Deus (At 2:11). Esse acontecimento foi muito
diferente daquele que aconteceu na torre de Babel (Gn 11:1-9), cerca de 160 quilômetros a
oeste desse mesmo local. Lá, na terra de Sinar na Mesopotâmia, em vão as pessoas tentaram
evitar serem “espalhadas por toda a terra” (Gn 11:4) ao edificar algo com a esperança de que
alcançariam o céu. Então, uma maldição desceu – a maldição da confusão e da separação.
Porém, na ocasião do Pentecostes, a bênção da iluminação e salvação desceu. Ao final desse
dia, milhares de convertidos – de diversas nações como eram – desfrutaram juntos da comunhão
(At 2:42). De maneira miraculosa, não se tratava de um tipo de comunhão que estaria ligada a
um lugar geográfico. A bênção, cujo início foi em Jerusalém, seria transmitida e disseminada por
todo o mundo, até mesmo aos confins da terra. Alcançaria todas as extremidades do mundo
atingidas pela maldição, pois tal seria a magnitude de seu poder. Deus estava cumprindo sua
promessa feita a Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3).

Próximo do fim desse mesmo capítulo, Lucas prossegue para descrever os efeitos da vinda do
Espírito: conversão, batismo, comunhão, temor e louvor (At 2:37-47). As pessoas que haviam
chegado pela manhã como estranhas à graça partiram aquela noite tendo passado pelas
águas do batismo. Deus dividiu para elas o mar de impossibilidades em suas vidas q ue as
mantinham presas ao pecado e à morte (cf. Rm 8:1-4) e, pela sua graça simbolizada no batismo,
as conduziu ao reino da graça, liberdade, paz e vida.

110
INDO MAIS FUNDO

Entre os sinais da vinda do Espírito e dos efeitos dela, Lucas descreve os discípulos sendo enchidos
como vasos vazios. Ele utiliza uma locução verbal: “todos ficaram cheios” (At 2:4). Por trás desse
enchimento está a obra ativa de Jesus Cristo. Pedro cita Joel 2:28: “[...] derramarei do meu
Espírito” (At 2:17), mostrando que, por intermédio de Cristo, Deus está prosseguindo com sua obra
entre os seus discípulos. A vinda do Espírito é a obra de Cristo de encher profusamente o vazio
dos discípulos que estavam aguardando que essa promessa fosse cumprida. É assim que o
Espírito entendeu ser o modo apropriado de registrar o notável acontecimento relacionado à
sua própria vinda para a igreja 50 dias depois da ressurreição de Cristo.

Obviamente, o Pentecostes não foi um acontecimento de menor importância – apenas um


dentre os muitos reavivamento acontecidos na História. Afinal, a plenitude dos tempos havia
chegado e Cristo havia aparecido “ao se cumprirem os tempos [...] uma vez por todas” (Hb 9:26)
para aniquilar o pecado. Um acontecimento comum acompanharia a dádiva do Espírito Santo?
Qualquer expectativa entre os cristãos relacionada a um acontecimento singular e supremo não
ficava sem recompensa; até mesmo as repercussões foram notáveis.

Se devemos interpretar os derramamentos posteriores como repercussões, como devemos


entender os derramamentos anteriores e out ros acontecimentos que têm certa relação com o
Pentecostes ao longo do cenário da história da redenção? Houve quaisquer acontecimentos na
história de Israel que indicavam o modo de se entender o Pentecostes que tenha ajudado a
cultivar uma expectativa e anseio pelo derramamento do Espírito? Alguns acreditam que o fato
de dizer que qualquer acontecimento anterior foi semelhante ao derramamento do Espírito retira
o caráter único do Pentecostes. No entanto, assim como o Espírito Santo, por intermédio de
escritores inspirados, nos concedeu pequenos vislumbres dos acontecimentos extraordinários da
vida, da morte e da ressurreição de Jesus antes que esses acontecimentos ocorressem, o Espírito
Santo também nos concedeu pequenas antecipações de Cristo derramando o s eu Espírito no
dia de Pentecostes.

De acordo com o entendimento bíblico reformado, há uma concordância considerável de que


a vinda de Cristo no Novo Testamento foi prefigurada no Antigo Testamento em tipos e antítipos.
A hermenêutica reformada reconhece o fato de as Escrituras frequentemente prepararem e
anteciparem determinados acontecimento histórico -redentores por meio de acontecimentos
que refletem ou prefiguram acontecimentos posteriores. O mesmo pressuposto é válido quanto
ao acontecimento do Pentecostes. Talvez o Pentecostes tenha sido a entrada oficial do Espírito
no mundo na economia da redenção. Pode ter sido, como diz Thomas Goodwin, “sua vinda em
grande pompa, de maneira solene e visível, acompanhada de resultados visíveis, assim como a
de Cristo, e sobre a qual todos os judeus deveriam ser, e foram, testemunhas”. No entanto, ao
longo de todo o Antigo Testamento, houve visitas do Espírito de maneira menos visível que
apontavam diretamente para a sua vinda gloriosa durante o Pentecostes, colaborand o tanto
na formação da expectativa quanto a tal acontecimento como ajudando a explicar o
Pentecostes quando ele ocorreu. Pode-se dizer que por amor a nós o Senhor desenhou, de
antemão, um esboço a lápis do Pentecostes em outros acontecimentos antes de pint ar a versão
final – o acontecimento em si – na tela da história do mundo. No entanto, nada disso foi em
benefício próprio, mas, pelo contrário, por meio dela a igreja conheceria as riquezas infindáveis
em Deus por amor de Cristo e intermédio do Espírito, bem como teria algo delas (veja Ef 1:13-
14).”

(p.59-63)

111
INDO MAIS FUNDO

Capítulo 5 - EVANGELIZAÇÃO E A SOBERANIA DE DEUS


O QUE A PREDESTINAÇÃO FAZ COM A TAREFA DA EVANGELIZAÇÃO?

Liv ro Eleitos de Deus; R.C. Sproul

“Esta pergunta levanta graves preocupações a respeito da mi ssão da igreja. É particularmente


pesada para cristãos. Se a salvação pessoal é decidida anteriormente, por um imutável decreto
divino, qual é o sentido ou urgência do trabalho de evangelização?

Nunca esqueci da terrível experiência de ser interrogado nesse ponto pelo Dr. John Gerstner
numa aula do seminário. Éramos vinte sentados em semicírculo. Ele formulou a pergunta: “Muito
bem, cavalheiros, se Deus soberanamente decretou a eleição e a reprovação desde toda a
eternidade, por que estaríamos preocupados a respeito da evangelização?”. Dei um suspiro de
alívio quando Gerstner começou seu interrogatório pela ponta esquerda do semicírculo, uma
vez que eu estava sentado na última cadeira à direita. Confortei -me com a esperança de que
a pergunta nunca chegaria perto de mim.

O conforto foi de curta duração. O primeiro aluno replicou a pergunta de Gerstner: “Não sei,
senhor. Essa pergunta sempre me perturbou”. O segundo estudante disse: “Desisto”. O terceiro
estudante somente moveu a cabeça a baixo e baixou eu olhar para o chão. Em rápida
sucessão, os estudantes todos passaram adiante a questão. As pedras do domínio estavam
caindo em minha direção.

“Bem, Sr. Sproul, como responderia? ”. Eu queria desaparecer no ar, ou encontrar um lugar para
me esconder nas tábuas do chão, mas não havia escapatória. Hesitei e balbuciei uma resposta.
O Dr. Gerstner disse: “fale”. Tentando me exprimir, eu disse: “Bem, Dr. Gerstner, sei que esta não
é a resposta que o senhor está procurando, mas uma pequena razão pela qual devemos ain da
estar preocupados com a evangelização é que, bem, o senhor sabe, apresar de tudo, Jesus nos
ordena que evangelizemos”.

Os olhos de Gerstner começaram a inflamar-se. Ele disse: “Ah, entendo, Sr. Sproul! Uma pequena
razão é que o seu Salvador, o Senhor da Glória, o Rei dos reis, ordenou isso. Uma pequena razão,
Sr. Sproul? É quase insignificante para você que o mesmo Deus soberano, que soberanamente
decreta sua eleição, também ordena soberanamente seu envolvimento na tarefa de
evangelização? ”. Como eu desejaria nunca ter usado a palavra pequena! Entendi o ponto de
Gerstner.

Evangelização é nosso dever. Deus ordenou, isso deveria ser suficiente para encerra a questão.
Mas há mais. Evangelização não é somente um dever; é também um privilégio. Deus nos per mite
participar da maior obra da história humana, a obra da redenção. Ouça o que Paulo diz sobre
isso. Ele acrescenta o capítulo 10 ao seu famoso capítulo 9 de Romanos.

“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em
quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há
quem pregue? E como pregarão, se não foram enviados? Como está escrito: Quão formosos
são os pés dos que anunciam coisas boas! (Rm 10:13-15).”

Notamos a lógica da progressão de Paulo aqui. Ele lista uma série de condições necessárias para
as pessoas serem alvas. Sem que se envie, não há pregadores. Sem pregadores, não há
pregação. Sem pregação, ninguém ouve o evangelho. Sem ouvir o evangelho, ninguém crê no

112
INDO MAIS FUNDO

evangelho. Sem crer no evangelho ninguém invocará a Deus por salvação. Sem invocar a Deus
por salvação, não há salvação.

Deus somente preordena o fim da salvação para os eleitos, ele também preordena o meio para
esse fim. Deus escolheu a loucura da pregação como o meio para obter a redenção. Suponho
que ele poderia ter estabelecido seu propósito divino sem nós. Ele poderia ter publicado seu
evangelho nas nuvens, usando seu santo dedo para escrever no céu. Poderia ele mesmo pregar
o evangelho, com a própria voz, gritando do céu. Mas essa não é sua escolha. É um privilégio
maravilhoso ser usado por Deus em seu plano de redenção. Paulo apela para uma passagem
do Antigo testamento, em que fala da beleza dos pés que trazem boas-novas e publicam a paz.

“Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz,
que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! Eis o grito
dos teus atalaias! Eles erguem a voz, juntamente exultem; porque com seus próprios olhos
distintamente veem o retorno do Senhor a Sião. Rompei em júbilo, exultai à uma, ó ruinas de
Jerusalém; porque consolou o seu povo, remiu a Jerusalém (Is 52:7-9).” [...]

Levar pessoas a Cristo é uma das maiores bênçãos pessoais de que desfrutamos. Ser um cal vinista
não tira a alegria dessa experiência. Historicamente, os calvinistas têm sido fortemente ativos na
evangelização e nas missões mundiais. Temos somente que mencionar Edwards e Whitefield e o
Grande Avivamento para ilustrar esse ponto.

Temos um papel significativo a desempenhar na evangelização. Pregamos e proclamamos o


evangelho. Esse é o nosso dever e nosso privilégio. Mas é Deus quem traz o crescimento. Ele não
precisa de nós para cumprir seu propósito, mas ele se agrada de nos usar nessa tarefa.

Uma vez encontrei um evangelista viajante que me disse: “Dê=me um homem sozinho por quinze
minutos, e eu conseguirei uma decisão por Cristão”. Tristemente, o homem cria realmente nas
próprias palavras. Ele estava convencido de que o poder da conversão est ava somente em seu
poder de persuasão.

Não duvido de que o homem estava baseando sua alegação em seu registro do passado. Ele
era tão arrogante que estou certo de que houve multidões que fizeram decisão por Cristo nos
quinze minutos que ficaram sozinhos com ele. É claro, ele podia cumprir sua promessa de produzir
uma decisão em quinze minutos. O que ele não poderia garantir é que houvesse conversão em
quinze minutos. As pessoas tomavam decisão só para ficarem livres dele

Nunca devemos subestimar a importância de nosso papel na evangelização. Também não


podemos superestimá-lo. Nós pregamos. Damos testemunho. Fornecemos o chamado exterior.
Mas só Deus tem o poder de chamar uma pessoa para si mesmo interiormente. Não me sinto
traído por isso. Ao contrário, sinto-me confortado. Precisamos fazer nosso trabalho confiando que
Deus fará o dele.”

(p.155-158)

113
INDO MAIS FUNDO

Capítulo 6 - OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO BÍBLICA


DEFININDO LEGALISMO

Site Voltem os ao Evangelho; Nicholas Batzig

“O legalismo é, por definição, uma tentativa de acrescentar algo à obra completa de Cristo. É
confiar em outra coisa senão em Cristo e em sua obra completa e permanente diante de Deus.
A refutação do legalismo no Novo Testamento é primariamente uma resposta às perversões da
doutrina da justificação som ente pela fé. A maioria dos oponentes do Salvador eram aqueles
que acreditavam que eles eram justos em si e por si mesmos, com base em seu zelo e
compromisso com a lei de Deus. Os fariseus, saduceus e escribas exemplificavam, por suas
palavras e ações, o legalismo doutrinário nos dias de Cristo e dos Apóstolos. Enquanto eles faziam
apelos ocasionais à graça, eles se auto justificavam, truncavam e distorciam o significado bíblico
da graça. O apóstolo Paulo resumiu a natureza do legalismo judaico quando escre veu:
“Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se
sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê”
(Rm 10. 3,4).

Compreender a relação entre a lei e o evangelho para nossa justificação é fundamental para
aprender a evitar o legalismo doutrinário. As Escrituras ensinam que somos justificados pelas obras
do Salvador, não pelas nossas. O último Adão veio para fazer tudo o que o primeiro Adão deixou
de fazer (Rm 5. 12-21; 1Co 15. 47-49). Cristo nasceu “sob da lei, para remir os que estavam sob
da lei” (Gl 4. 4,5). Ele veio para ser nosso representante a fim de cumprir as exigências legais da
aliança de Deus, a saber, prestar a Deus obediência perfeita, pessoal e contínu a em nome de
seu povo. Jesus mereceu perfeita justiça para todos aqueles que o Pai lhe havia dado. Nós,
através da união de fé com ele, recebemos um status de justiça em virtude da justiça de Cristo
imputada a nós. Em Cristo, Deus provê o que ele próprio exige. As boas obras pelas quais Deus
redimiu os crentes, para que pudéssemos caminhar nelas, de modo algum contribuem para
nossa justificação. Elas são apenas a evidência de que Deus nos perdoou e nos aceitou em
Cristo.

No entanto, o legalismo doutrinário também pode penetrar em nossas mentes pela porta dos
fundos da santificação. O apóstolo Paulo deixou claro em Gálatas 3. 1–4, que os membros da
igreja na Galácia se deixaram enganar e acreditaram que sua posição diante de Deus
dependia, em última análise, do que eles alcançaram “na carne”, na continuação de sua vida
cristã. É possível, para nós, começarmos a vida cristã crendo em Cristo e em sua obra salvadora
e, então, cairmos na armadilha de imaginar que é inteiramente nossa responsabilidade
terminarmos o que ele começou. Na santificação, não menos do que na justificação, as palavras
de Jesus são verdadeiras: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5).

O legalismo doutrinário na santificação é as vezes alimentado por pregadores apaixonados que


enfatizam o ensinamento de Jesus sobre as exigências do discipulado cristão ao mesmo tempo
em que se divorciam deles ou minimizam o ensino apostólico sobre a natureza da obra salvadora
de Cristo pelos pecadores. O renomado teólogo reformado, Geerhardus Vos, explicou a
natureza dessa forma sutil de legalismo quando escreveu: “Prevalece ainda uma forma sutil de
legalismo que roubaria do Salvador a sua coroa de glória, conquistada pela cruz, e faria dele
um segundo Moisés, oferecendo-nos as pedras da lei em vez do pão da vida do Evangelho. . .
[legalismo é] impotente para salvar”.

114
INDO MAIS FUNDO

Em Colossenses 2.20–23, o apóstolo Paulo toca em mais uma forma de legalismo doutrinário que
entra pela porta dos fundos da santificação. Ele escreve:

“Se morrestes com Cristo para os rudimentos do m undo, por que, como se vivêsseis no mundo,
vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro,
segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se
destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de
falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade”.

Aqueles que abraçaram essa forma de legalismo doutrinário proíbem o que Deus não proibiu e
ordenam o que ele não ordenou. Eles impõem a si mesmos e aos outros um padrão de santidade
externa, ao qual Deus não estabeleceu em Sua Palavra. Essa é uma das formas mais
predominantes e perniciosas de legalismo na igreja hoje. Muitas vezes vem na forma de
proibições contra comer certos alimentos e beber álcool. Às vezes, insinua-se através de
convicções pessoais sobre paternidade e educação.

Existe outro tipo de legalismo contra o qual devemos estar atentos – o legalismo prático que
pode, imperceptivelmente, assumir o controle de nossos corações. Por natureza, a aliança das
obras está gravada em nossas consciências. Ainda que os crentes se tornaram novas criaturas
em Cristo, eles ainda carregam consigo o velho homem – a velha natureza pecaminosa de
Adão. O comportamento padrão da velha natureza é o de mentalmente se colocar novamente
sob o pacto das obras. Estamos sempre em perigo de nos tornarmos legalistas práticos
alimentando ou negligenciando o espírito legalista.

É totalmente possível para um homem ou uma mulher ter um a mente cheia de doutrina
ortodoxa, ao mesmo tempo que tem um coração cheio de autojustiça e orgulho. Podemos estar
intelectualmente comprometidos com as doutrinas da graça e ter um “discurso vazio” quanto à
liberdade que Cristo comprou para os crentes, ao mesmo tempo em que negamos isso por meio
de nossas palavras e ações. Um espírito legalista é fomentado pelo orgulho espiritual. Quando
um crente experimenta crescimento ou força no conhecimento espiritual, ele está em perigo de
começar a confiar somente em sua experiência espiritual. Quando isso acontece, os legalistas
práticos começam a desprezar os outros e julgar pecaminosamente aqueles que não
experimentaram o que eles experimentam. Em seu sermão “Trazendo a Arca para Sião uma
segunda vez”, Jonathan Edwards explicou que havia observado a realidade do orgulho espiritual
e do legalismo prático entre aqueles que haviam experimentado o reavivamento durante o
“Grande Despertamento”:

“Há uma disposição excessiva nos homens, enquanto vivem, para fazer justiça ao que são em si
mesmos, e uma disposição excessiva nos homens para fazer uma justiça de experiênci as
espirituais, bem como outras coisas. . . um convertido é capaz de ser exaltado com altos
pensamentos de sua própria eminência na graça”.

Talvez o mais prejudicial de todos seja o modo pelo qual um espírito legalista pode se manifestar
no púlpito. Um ministro pode pregar a graça de Deus no evangelho sem experimentar essa graça
em sua própria vida. Isso, por sua vez, tende a alimentar um espírito legalista en tre certos
membros da igreja.

A graça de Deus no evangelho é a única cura para o legalismo doutrinário e prático. Quando
reconhecemos o legalismo doutrinário ou prático em nossas vidas, devemos fugir para o Cristo
crucificado. Ao fazê-lo, novamente começaremos a crescer em nosso amor por aquele que
morreu para nos curar de nossa propensão a confiar em nossas próprias obras ou realizações.

115
INDO MAIS FUNDO

Precisamos diariamente ser lembrados da graça que cobriu todos os nossos pecados, nos proveu
com a justiça que vem de fora de nós mesmos e nos libertou do poder do pecado. Só então
poderemos seguir com alegria a santidade. Só então amaremos a lei de Deus sem tentar guardá -
la para nossa justificação diante dele. O grito de um coração libertado do legalismo é este:

“Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse
viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se
entregou por mim. Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei , segue-se que
morreu Cristo em vão”. (Gl 2. 20–21).”

Link do site: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2019/01/definindo-legalismo/

O PROBLEMA DO PRAGMATISMO

Liv ro Marcas de Um Evangelista; Mack Stiles

“Há muitos obstáculos para nos tornamos evangelistas saudáveis. Mais estou convencido de que
o maior obstáculo a evangelização saudável é o pragmatismo: “fazer evangelização” antes de
pensarmos quem devemos ser como evangelistas. O resultado é uma evangelização distorcida
e deformada.

O sucesso impele a evangelização pragmática. A evangelização pragmática nunca pergunta:


“Quem devemos ser como evangelistas? ”. Pergunta apenas: “O que funciona? ”.

A evangelização pragmática é “fazer” evangelização de uma maneira que eleva o sucesso e o


método, mais do que qualquer outra coisa. Torna-se o negócio da evangelização. Isto pode
parecer bacana ou não, pode parecer relevante ou não, mas, quando a evangelização é
desvinculada de quem devemos ser como pessoa de fé, a prática de evangelizar se torna, por
fim, distorcida e deformada. Torna-se pragmática e não pessoal, torna-se sucesso a qualquer
custo, embora o custo seja manipulação ou mesmo prática antiética. E infelizmente, porque o
sucesso é sempre bem aceito, frequentemente ele não é questionado na comunidade cristã.

A evangelização pragmática se preocupa com a promoção. Raramente se preocupa com a


integridade da mensagem, visto que lida mais com estilo e método do que com substância e
autenticidade. Jesus disse com regularidade a seus discípulos que não falassem sobre ele. Parte
da razão porque tantos ficam desconcertados com este mandamento é o nosso compromisso
pragmático com evangelização promocional. Jesus percebeu isso no desejo de promoção dos
discípulos, eles queriam promover as coisas erradas da maneira errada.

Depois que Pedro fez a sua impressionante confissão de que Jesus era o Filho de Deus vivo (Mt
16), ele os advertiu estritamente a que não falassem a seu respeito. Por qu ê? Embora soubessem
um pouco a respeito de quem era Jesus, os discípulos não tinham a mensagem correta. Por isso,
quando Jesus começou ensinar sobre o seu sofrimento e crucificação vindouros, Pedro
repreendeu a Jesus por essa ideia horrível, provando que não entendera a mensagem – e isso
aconteceu poucos minutos depois de Pedro haver falado corretamente sobre a verdadeira
identidade de Jesus. Jesus repreendeu Pedro e disse que seus pensamentos eram pensamentos
de homens e de Satanás, não de Deus. Pedro pode ter sido o primeiro evangelista pragmático,
mas não o último.

116
INDO MAIS FUNDO

Você percebe a semelhança conosco? Podemos falar magnificamente a respeito da gloriosa


revelação de Jesus ser o Cristo e, quase no mesmo fôlego, proferir “versos satânicos” que negam
a cruz de Cristo.

A evangelização pragmática oferece métodos. Prateleiras de livrarias cristãs estão cheias de


livros sobre métodos de evangelização – tanto métodos pessoais quanto métodos para
crescimento de igreja. Quando esses métodos se tornam improdutivos, reb eldes ridicularizam os
métodos do ano passado e oferecem métodos mais aceitáveis e eficazes no lugar daqueles, o
que não é muito diferente de colocar no mercado o mesmo produto numa embalagem nova e
melhor.

A evangelização pragmática leva em conta números, membros, programas, mas raramente


leva em conta a fidelidade para com a mensagem ou a fidelidade do mensageiro.

Como resultado, muitas pessoas, ao considerarem a evangelização, pensam em perguntas que


levam as pessoas a alguma conclusão espiritual, ou em programas de culto que conquistam o
aplauso da comunidade, ou numa maneira de reformular os cultos da igreja para serem mais
atraentes. Não me oponho às sopas beneficentes ou a jazz no saguão da igreja, contanto que
não pensemos que estas coisas são o mesm o que evangelização. Mas se tornarão
evangelização enferma se forem realizados sobre uma base enferma, ou seja, se não tivermos
feito e respondido a pergunta de Roger.

Além disso, quando retiramos este produto da prateleira, atraídos primeiramente pelo bri lho
encantador e pela promessa de resultado, e o examinamos de perto, não gostamos do que
vemos. Há apenas o senso de que a mensagem da fé cristã exige muito esforço humano para
ser comunicada ou, pior, que a mensagem essencial se perdeu totalmente. Precis amos
realmente entreter as pessoas para que consigamos que elas ouçam o evangelho? Esse tem sido
um método eficiente para atrair milhares de pessoas, mas tem produzido evangelização robusta
ou fé robusta? Toque jazz, se você quiser, mas toque para glorificar a Deus e não para fazer
evangelização.

Recentemente, liderei um seminário sobre evangelização. Porque creio que evangelização é


uma questão de conhecer e viver o evangelho – e ambos incluem, quando apropriado, falar o
evangelho –, este foi o assunto que abordamos no seminário. No final do seminário, um homem
se aproximou de mim e disse: “Mack, sou muito grato por este tempo. Confesso que quase não
vim ao seminário – geralmente estes seminários me fazem sentir como se estivesse recebendo
treinamento para me tornar vendedor de seguros”.

Ora, não tenho nada contra vendedores de seguros – ou contra qualquer outro tipo de
vendedor, mas sabia o que ele estava dizendo. De algum modo, há este sentimento de que,
como evangelistas, devemos aprender como:

· Apresentar a mensagem com um apelo cuidadoso ao autointeresse.

· Promover um programa com animação.

· Vencer hesitações com um comportamento agradável.

· Evitar quaisquer ofensas ou problemas.

· Responder a objeções.

117
INDO MAIS FUNDO

· Instilar medo de se perder.

· Manipular a conversa para chegar ao ponto de decisão.

· Assinar a linha pontuada com uma oração de pecador e

· Aprimorar nossa habilidade de conseguir uma decisão.

O que é excelente para dar segurança, senão Jesus?

Primeiramente, Jesus é precioso demais para ser trivializado dessa maneira. E conheço corretores
de seguro cristãos que concordam com isso. Então, por que continuamos tentando dar outra
aparência ao evangelho e mercadejá-lo?

Bem, porque funciona, pelo menos se você acredita em estatísticas. George Barna relatou que
45% dos americanos afirmavam ser nascidos de novo em 2006. Isso correspondia a 130 milhões
de pessoas. No entanto, algo parece terrivelmente errado, visto que Barna também observou
que somente 9% pareciam levar a sério, em sua vida, o que Jesus disse. Muitos afirmam Jesus
como Senhor, mas, se não fazem o que ele diz, isso indica – de acordo com Jesus – que não são
verdadeiramente seus seguidores (Lc 6:46).

Pode ser que pessoas fizeram uma oração de compromisso com o Deus errado e concordaram
em seguir algo que não seja Jesus? Talvez elas foram levadas a pensar que podem pegar Jesus
e misturá-lo com sua própria maneira de pensar?

Pode ser que pessoas foram persuadidas a abraçar uma ilusão que não lhes conta toda a história
de Jesus? Talvez aconteça o mesmo que acontece, quando uma pessoa compra uma apólice
de seguro sem saber realmente o que ela diz?

Pode apostar. Isso acontece o tempo todo, com seguros e com Jesus.

Assim, porque as pessoas são tão interessadas em resultados e números, seus convertidos oram
frequentemente a um Deus diferente, seguem outro Jesus, misturam -no com a maneira de
pensar humana, sem conhecerem toda a história.

Mas é isso o que queremos ser como portadores das boas novas? Queremos mercadejar o
evangelho (2 Co 2:17)?

Não, como evangelistas queremos ser pessoas que se preocupam mais com a fidelidade em
apresentar claramente a Cristo do que com resultados. Queremos ser o tipo de evangelistas que
levam mais a sério as pessoas do que o manipulá-las para fazerem uma oração de compromisso.
E queremos ser o tipo de pessoa que apresenta o evangelho com cuidado, reconhecendo que
vidas espirituais estão em jogo.

Portanto, tornar-nos evangelistas saudáveis não diz respeito ao que fazemos e sim ao que somos.
Percebemos como a evangelização pragmática pode ser perigosa à fé genuína. [...]”

(p.20-25)

118
INDO MAIS FUNDO

Capítulo 7 - IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO


ORAÇÃO COMO ESTRATÉGIA MISSIONÁRIA

Liv ro Plantando Igreja; Ronaldo Lidório

“Patrick Johnstone, um dos maiores missiólogos dos nossos dias, afirma que quando o homem
trabalha, o homem trabalha. Quando o homem ora, Deus trabalha [...] Os grupos étnicos, bairros,
ruas e cidades que são alvos de oração são justamente os povos e lugares nos quais o evangelho
tem se enraizado com mais afinco. Esta afirmação não deveria ser, para nós, uma surpresa, pois
cremos que Deus responde s orações.

O Senhor Jesus nos ensinou que a oração associada à fé, promove uma resposta do Pai (Mt
21:22). Também nos lembrou de que nos embates mais difíceis no reino de Deus devemos nos
preparar com oração e jejum (Mt 17:21). O Mestre também associou a oração à vida diária com
Deus, necessidade de todo homem (Lc 6:12), e se entristeceu porque os seus discípulos dormiam
quando precisavam vigiar (Lc 22:45). Depois da sua morte, vemos estes discípulos unanimes na
oração (At 1:14). Pedro e João saíam juntos para orar (At 3:1) e os apóstolos se reservaram ao
ensino da Palavra e a oração (At 6:4) para a edificação da igreja. Paulo nos diz que opera pelas
igrejas plantadas (Ef 6:18) e Pedro nos exorta a vigiar em oração (1P e 4:7). A oração permeia a
Palavra como ensino para nós, par a igreja e para a sinalização do reino na terra. Há uma clara
associação entre a oração e as respostas de Deus.“

(p.83-84)

Capítulo 8 - MÉTODOS E ESTRATÉGIAS


PREPARE O SOLO DO CORAÇÃO DE SEU FILHO

Liv ro Evangelism o; John MacArthur

“Como pais, devemos fornecer solo para que nossos filhos cresçam. Um fator que muito
influencia a produtividade de qualquer planta é o solo em que está plantada [...] Em Mateus 13,
Jesus ensina que, embora semente do evangelho seja pura, nem todos os solos são igualmente
receptivos e frutíferos. Assim, como pais cristãos, nosso objetivo é preparar o solo do coração de
nossos filhos. Queremos produzir o melhor ambiente possível para que eles sejam receptivos ao
evangelho.

O solo do coração de seu filho é o ambiente de relacionamento em casa. Da mesma forma que
a hortênsia é influenciada pelo solo em que é plantada, nossos filhos são moldados pelos
relacionamentos no lar. Assim como a presença de veneno no solo pode mata r uma planta, a
hipocrisia em casa pode afetar negativamente o coração de seu filho. Em contrapartida,
quando o lar é caracterizado por integridade e amor, os filhos veem a autenticidade do
evangelho. No cerne de um relacionamento voltado a Deus está o amo r, o verdadeiro amor
bíblico. Esse tipo de amor deve encher o lar e pode ser cultivado por meio da disciplina,
encorajamento, humildade e prazer.

Disciplina

Uma maneira prática de demonstrar o amor pelos filhos é a disciplina. Embora possa parecer
contraintuitivo demonstrar amor a um filho por meio da disciplina, o fato é que ela é uma forma

119
INDO MAIS FUNDO

de proteção para as crianças. Ensinando-lhes o certo e o errado desde a tenra idade, nós as
preparamos para reconhecer o próprio pecado.

Uma casa sem disciplina produz filhos que não reconhecem que certas coisas são simplesmente
erradas. A mentira, a desobediência e o egoísmo são erros básicos que as crianças devem não
apenas aprender a reconhecer, como também associar a punição. Quando elas veem que o
padrão é a verdade, a obediência prazerosa e o altruísmo, podem reconhecer a própria
incapacidade de comportar-se adequadamente.

O objetivo da disciplina não é meramente a correção. O pai poderia treinar os filhos como treina
os cães – pode manda-los vir, ficar e deitar. Mas, evidentemente, esse não é o objetivo. A meta
da disciplina é preparar a criança para perceber que, quando pecar, receberá punição. Essa
associação básica estabelece na mente os conceitos de certo e errado, de pecado e de dor
associada ao pecado. Estes conceitos rudimentares são elementos críticos na preparação do
solo do coração de uma criança. Além disso, a disciplina prepara-a para perceber que o padrão
está além de seu alcance. As crianças não apenas precisam obedecer completamente na
primeira vez em que recebem a ordem, como também precisam fazê-lo com alegria. À medida
em que elas aprendem isso, seu coração é preparado para entender como deixam a desejar
em relação aos mandamentos de Deus.

Sem dúvida, a disciplina voltada a Deus é equilibrada com mi sericórdia. Tiago escreve: “Será
exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o
juízo!” (Tiago 2:13). O argumento de Tiago é claro: nas condutas de Deus com seus filhos amados,
sua misericórdia sobrepõe-se ao juízo. Ao equilibrar juízo com misericórdia, nós também
preparamos o coração de nossos filhos para compreender que, embora estejam aquém do
padrão divino, Deus também está preparado para oferecer-lhes misericórdia.

Os pais que relutam em mostrar misericórdia aos filhos correm o risco de criar um ambiente
familiar não apenas severo para a criança, mas também antagônico ao evangelho. J.C. Ryle
explicou assim: “É perigoso fazer com que seus filhos tenham medo de você. O medo põe fim às
posturas abertas; o medo conduz a ocultações; o medo espalha a semente da hipocrisia e
conduz a muitas mentiras”.

Tal como Paulo cuidava de seus filhos espirituais com ternura, os pais devem ser ternos com os
próprios filhos (1 Tessalonicenses 2:7).

Certamente, a disciplina é um aspecto integral da paternidade fiel (Provérbios 23:13-14; Hebreus


12:4-11). A disciplina, entretanto, deve ser praticada em um ambiente compassivo e
misericordioso. Para mais dicas sobre a disciplina dos filhos, recomendo fortemente o livro
Pastoreando o coração da criança, de Tedd Tripp.

Encorajamento

Assim como a flor não desabrocha sob um céu escuro, o coração da criança não floresce sob
circunstâncias desagradáveis. Nossos filhos precisam de calor, cuidado e encorajamento para
ter coragem de se abrir. Queremos que o solo de seu coração seja ricamente fertilizado por
incentivos frequentes que engrandeçam a Cristo, pois isto mostra amor de maneira poderosa.
Paulo destaca a importância do encorajamento paterno em seu próprio ministério ao escrever:
“vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos” (1 Tessalonicenses 2:11).

Considere Colossenses 3:12-13: “Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado,
revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Supor tem-se

120
INDO MAIS FUNDO

uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros”. Aqui, Paulo dá corpo à
noção de encorajamento. É o tipo de incentivo que deve encher os lares cristãos tal como
aroma agradável, pois a generosidade e o amor são motivadores poderosos. Reforce o que é
positivo. As crianças reagem intensamente à afirmação; então, ame-as encorajando-as. [...]

Humildade

O orgulho inibe o crescimento do evangelho no coração dos filhos e constitui um caminho certo
para a destruição. Ele é o oposto do caminho seguro para a salvação (Provérbios 16:18) porque
Deus resiste à pessoa orgulhosa (1 Pedro 5:5), mas se aproxima das humildes (Salmos 138:6).
Sabendo disso, talvez a única maneira pela qual você poderá preparar o solo do coração de
seus filhos seja demonstrando humildade.

Jesus deu-nos o exemplo. Em Mateus 11:29, ele disse: “Tomem sobre vocês o meu jugo e
aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para
as suas almas”. Particularmente, esta é a única vez nos Evangelhos que Jesus atribuiu adjetivos a
si mesmo. O manso e humilde Mestre manda-nos aprender com ele porque ele é humilde.
Devemos seguir seu exemplo e ensinar nossos filhos com humildade, desejando que “aceitem
humildemente a palavra implantada” neles, “a qual é poderosa para salvá-los” (Tiago 1:21). [...]

Prazer

Cristo gostava da presença de crianças (Mateus 18:1-6; 19:13-15). Você consegue imaginá-lo
abençoando os pequeninos de cara amarrada? Não. Ele amava a presença deles.

Criar filhos deve ser divertido. Quando nos deleitamos em ser pais, preparamos o solo do coração
de nossos filhos demonstrando alegria que Deus dá àqueles que lhe são obedientes.

O que significa desfrutar a paternidade? Significa divertir-se com os filhos. Role no chão com eles
enquanto são pequenos. Participe daquilo que lhes interessa à medida em que amadurecem.
Participe do mundo deles com alegria, apreciando com entusiasmo suas atividades e
brincadeiras.

Preparar o solo é crucial para a futura frutificação. Os pais evangelistas devem fertilizar o solo do
coração dos filhos com disciplina, encorajamento, humildade e prazer. Toda essa árdua
preparação visa a criar o melhor ambiente possível para a semente da verdade.”

(p. 218-222)

APRESENTAÇÃO DO EVANGELHO

Existem muitas formas de apresentar a mensagem do evangelho para alguém. A forma e o estilo
vão de acordo com a situação e com as preferências de quem está comunicando a
mensagem. O que precisamos em todas as coisas é sermos completamente fieis ao ensino
bíblico, pois, como mencionamos no capítulo 3 da apostila, tão ruim quanto não anunciar a
mensagem é anuncia-la errada.

Aqui vão algumas sugestões de como apresentar a mensagem do evangelho de uma forma
mais sistemática.

121
INDO MAIS FUNDO

1. A GRANDE NARRATIVA BÍBLICA RESUMIDA EM 3 PALAVRAS:

CRIAÇÃO – QUEDA – REDENÇÃO


Texto retirado do site Voltem os ao Evangelho

Na criação, vemos o Deus trino todo-poderoso, transcendente, auto existente, suficiente em si


mesmo, eterno, santo e perfeito em todos os seus atributos, criando todas as coisas que existem,
desde as mais remotas e distantes galáxias até a terra e tudo o que nela há. Vemos a criação
do homem imago Dei, segundo a imagem do próprio Deus, em estado de inocência e liberdade,
debaixo do governo moral de Deus, ordenado a ser responsável e obediente e a governar sobre
todas as coisas criadas, para a glória do criador.

Na queda, vemos o homem transgredindo a lei de Deus e se afastando dele, caindo de seu
estado de inocência e felicidade e legando para a humanidade esta condição de
condenação, aprisionando sua liberdade às inclinações do pecado, sendo tanto responsável
por ele como vítima de sua poluição. Vemos o efeito da queda na criação, trazendo maldição
para este mundo e resultando na grande tragédia da história do homem.

Na redenção, vemos ainda que Deus resolveu oferecer salvação ao homem – e o fez de modo
que sua justiça, ofendida pela transgressão da lei causada pelo pecado do homem, fosse
satisfeita. Em amor, desde os tempos eternos, Deus o Pai resolveu salvar pecadores em seu Filho,
Jesus Cristo, o qual, sendo um com Deus o Pai, entrou na história, assumiu a natureza humana e
viveu como homem, obedecendo toda a lei e cumprindo toda a justiça de Deus o Pai, a ponto
de oferecer-se a si mesmo como sacrifício e propiciação a Deus em favor dos homens,
justificando os pecadores que se achegam a ele, movidos pela ação do Espírito de Deus que os
regenera, em arrependimento e fé, sendo reconciliados com Deus e adotados em sua família.

Vemos finalmente a consumação de todas as coisas – como o cristão é preparado nesta vida
para a vida porvir; sendo santificado e perseverando em sua peregrinação. Vemos o que
acontece após a morte do homem, seja do justo ou do injusto, sobre o céu e o inferno, o
julgamento final, a ressurreição do corpo e a redenção final e defi nitiva da criação: novos céus
e nova terra – todas essas coisas operando segundo o propósito e decretos de Deus e para glória
dele.

Link do site: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2013/04/quatro-grandes-realidades-da-teologia-


tiago-santos/

2. AS ETAPAS DA OBRA DE CRISTO

ENCARNAÇÃO/NASCIMENTO: Mateus 1:21; Lucas 2:1-21; João 1:14; João 3:16; Gálatas 4:4;
Filipenses 2:5-8; 1Timóteo 3:16

ENSINO: Mateus 4:23-25; Mateus 7:28-29; Marcos 1:21-22; Marcos 2:13; Marcos 4:2; Marcos 9:30-
32; Lucas 5:3; Lucas 19:47-48; Lucas 24:27,32; Lucas 24:44-48; João 7:14-19

MORTE: Mateus 26:1-5; Mateus 26:14-16; Mateus 26:47-27:66; Marcos 3:6; Marcos 14:1; Marcos 15:1-
47; Lucas 22 e 23; João 19:17-42; Atos 3:18; Atos 10:39; Atos 13:28

122
INDO MAIS FUNDO

RESSURREIÇÃO: Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-13; Lucas 24:1-43; João 20:1-29; Atos 1:3; Atos 3:15;
Atos 10:40-41; Atos 13:30-37; 1 Coríntios 15:3-8, 20-23

GLORIFICAÇÃO: Mateus 28:18; Filipenses 2:9-11; Apocalipse 1:9-18

ASCENSÃO: Marcos 16:19; João 6:62; João 16:5, 28; João 17:5; Atos 1:11; Atos 2: 33; Atos 7:55-56;
Efésios 4:10; 1 Timóteo 3:16; Hebreus 10:12-13

RETORNO DE CRISTO/SEGUNDA VINDA: Mateus 24 e 25; Marcos 13:26-27; Lucas 21:27; João 14:1-3;
Atos 1:11; 1 Ts 4:16-18; Hebreus 9:28

*Semelhante a essa forma de síntese é o olhar para os dois estados de Jesus:

ESTADO DE HUMILHAÇÃO e o ESTADO DE EXALTAÇÃO (Filipenses 2:5-11)

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,

pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;

antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando -se em semelhança de


homens; e, reconhecido em figura humana,

a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo
nome,

para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,

e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”

Filipenses 2:5-11

ESTADO DE HUMILHAÇÃO: com base na referida passagem de Filipenses, pode-se dizer que o
elemento essencial e central do estado de humilhação acha-se no fato de que ele, que era o
Senhor de toda a terra, o supremo Legislador, colocou-se debaixo da lei para desincumbir-se das
suas obrigações federais e penais a favor do seu povo. Ao fazê-lo, ele se tornou legalmente
responsável por nossos pecados e sujeito à maldição da lei. Este estado do Salvador,
concisamente expresso nas palavras de Gálatas 4:4, “nascido sob a lei”, reflete-se na condição
que lhe é correspondente e que é descrita nos vários estágios de humilhação: encarnação ,
sofrimento, morte, sepultamento e descida ao hades. (BERKHOF, “Teologia Sistemática”; p. 306)

ESTADO DE EXALTAÇÃO: a narrativa dos evangelhos nos mostra claramente que a humilhação
de Cristo foi seguida por sua exaltação. A passagem clássica que prova a última acha -se em Fp
2:9-11: “pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de
todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da
terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai”[...] Há um a
estreita relação entre os dois estados. O estado de exaltação deve ser considerado como
resultado judicial do estado de humilhação. Em sua capacidade d e mediador, Cristo satisfez as
exigências da lei, em seus aspectos federal e penal, cumprindo a pena do pecado e merecendo
vida eterna. Portanto, tinha de seguir-se a sua justificação e tinha que lhe ser dada posse da
recompensa. Visto que ele foi uma pessoa pública e realizou a sua obra publicamente, a justiça
exigia que a exaltação também fosse matéria pública. A exaltação de Cristo tem tríplice

123
INDO MAIS FUNDO

significação. Cada um dos estágios foi uma virtual declaração de Deus, que que Cristo satisfez
as exigências da lei e, portanto, fez jus a sua recompensa. Os dois primeiros estágios tiveram
ainda um sentido exemplar, visto que simbolizavam o que sucederia na vida dos crentes. E,
finalmente, todos os quatro estágios (ressurreição, ascensão, sentar-se à destra do pai, e sua
segunda vinda em corpo glorificado) estavam destinados a serem usados na perfeit a
glorificação dos crentes. (BERKHOF, “Teologia Sistemática”; p. 317-318)

3. O ESTUDO DA ORDEM DA SALAVAÇÃO (ORDUS SALUTIS)

Textos tirados do site da Monergism o

1) regeneração: O chamado geral do Evangelho é feito eficaz quando o Espírito Santo faz com
que a Palavra de Deus seja entendida, apreciada e crida no coração de um indivíduo. Por causa
da natureza caída e pecaminosa do homem, ele está em inimizade contra Deus e recusa
reconhecer a veracidade do Evangelho. Deus envia Seu Espírito aos Seus eleitos para mudar esta
rebelião espiritual, regenerando, renovando e transformando a condição interna de depravado
para uma de amor pelo Senhor. Na realidade, estes corações e naturezas foram nascidos de
novo, e seus olhos e ouvidos foram abertos para ver as gloriosas verdades da salvação de Deus.

Versículos: Ezequiel 36.26-27, Mateus 16.17, 1 Coríntios 2.12-14, 2 Coríntios 3.3,6, 2 Tessalonicenses
2.13-14, Tito 3.5

2) vocação: O Pai determinou que o caminho normativo de salvação deveria ser através de Sua
Palavra. A Bíblia coloca uma ênfase muito grande sobre a leitura e pregação de Sua Palavra,
assim como sobre a transmissão deste Evangelho a todas pessoas. Este chamado geral do
Evangelho, contém a supremacia de Deus, Sua ira contra o pecado, e a promessa de salvação
através de Seu Filho, exorta o homem caído a se arrepender de seus pecados e crer na redenção
de Cristo Jesus.

Versículos: Isaías 55.7, Mateus 28.19-20, Romanos 10.14,17, 2 Timóteo 1.9-10, 3.15

3) conversão: O coração regenerado que ouve o Evangelho é confrontado com a culpa de sua
condição pecaminosa e a certeza de um justo julgamento contra ele. Desesperando -se por
causa de seu estado, ele vê sua única esperança de escape através de Cristo e tanto confia na
promessa de salvação como também se arrepende de seus pecados. Pela fé, ele reconhece a
si mesmo como um pecador necessitado da graça, e implora a Deus por Seu poder e amor para
salvá-lo através do sangue e da justiça de Cristo. Através do arrependimento, ele odeia sua
pecaminosidade e se volta para Deus como a única fonte de justiça e bondade, esforçando -se
para viver obedientemente para Ele. Aqueles que se arrependem e creem são convertidos de
seguidores de Satanás para seguidores de Deus.

Versículos: Isaías 55.11, Oséias 14.2,4, Atos 17.30-31, 20.21, Romanos 1.17, Efésios. 1.17-18, 2.8

4) justificação: A promessa no Evangelho é que aqueles que confiam no Senhor serão salvos. O
perdão para os pecados do povo de Deus, e a justiça que permite ao pecador estar na
presença de um Deus santo, vêm da perfeita obediência e do sacrifício expiatório de Cristo.
Como um substituto para o eleito, duas coisas acontecem: 1) Cristo obtém sua salvação e o seu
estar diante de Deus, por cumprir a lei de Deus e o pacto no lugar dele, e 2) ele carrega o castigo
pelos seus pecados. Como Cristo cumpriu esta tarefa, Deus promete que aqueles que confiam

124
INDO MAIS FUNDO

nEle terão a justiça de Cristo imputada (ou dada) a eles, assim como os seus pecados s erão
imputados a Cristo.

Assim, como um santo Juiz, Deus legalmente declara que o Seu povo é “justo”, ou “sem culpa”.
O pecador é justificado diante do Senhor quando, em fé, Ele descansa não sobre sua própria
bondade e/ou boas obras (as quais ele não tem nenhuma), mas sobre a magnificente obra do
Filho de Deus.

Versículos: Jeremias 23.6, Romanos 3.24-26, 4.5-8, 5.17-19, Gálatas 2.16

5) adoção: A graça de Deus converte pecadores de servos de Satanás em servos de Cristo,


todavia, Deus promete mais do que isso. Ele manifesta seu amor paternal para com os pecadores
perdidos, adotando-os como seus próprios filhos. Através da adoção, Ele lhes dá todos os direitos,
privilégios e proteção, como pertencendo a sua família e tendo Seu nome. Eles se tornam filhos
e filhos adotivos do Pai, e irmãos, irmãs, e co-herdeiros com Cristo.

Versículos: Salmos 103.13, João 1.12, Romanos 8.15-17, Gálatas 4.5-7, Efésios 1.5

6) santificação: O próximo passo neste processo de salvação é a obra purificadora do Espírito


Santo no andar diário do crente. Não somente os eleitos são apresentados como inocentes
através da imputação da justiça de Cristo, mas eles também se desenvolvem espiritualmente na
justiça pela Palavra e pelo Espírito. Como o Espírito habita o crente, Ele opera neles o cr escer na
graça e no conhecimento, e produz neles fruto e boas obras espirituais. Os crentes são
especialmente santificados quando envolvidos numa igreja onde a Bíblia é ensinada e os
sacramentos são ministrados. Embora ninguém possa se tornar perfeito nest a vida, e embora esta
santificação pode ser uma obra muito longa e demorada, os eleitos são fortalecidos eficazmente
para que eles perseverem na santidade.

Versículos: 2 Coríntios 7.1, Efésios 2.10, 5.26, 2 Tessalonicenses 2.13, Hebreus 13.20-21

7) glorificação: Quando um crente morre, sua alma vai para a presença de Deus enquanto Ele
espera pela ressurreição e redenção do seu corpo físico, e ali é confortado e contempla a glória
de Deus. A realização final da salvação acontecerá quando Cristo retornar, reu nir Seu povo, e
glorificá-los junto dEle. Quando a Nova Jerusalém for estabelecida, que é comumente uma
referência ao céu, a Bíblia promete que a maldição do pecado não mais existirá e que os eleitos
habitarão no céu com o Senhor eternamente, em perfeita paz, amor e alegria.

Versículo: Eclesiastes 12.7, João 5.28-29, Atos 24.15, Romanos 8.30, 1 Coríntios 15, 2 Coríntios 5.1,6,8,
Filipenses 1.23

Link do site Monergismo: http://www.m onergismo.com/textos/ordo_salutis/ordo.htm

4. O RESUMO DO EVANGELHO A PARTIR DE 5 PALAVRAS:

DEUS/PECADO/CRUZ/CONVERSÃO/VIDA TERNA

Numa apresentação do evangelho precisamos falar algo sobre quem DEUS é (seus atributos, sua
criação, seu governo sobre tudo); algo sobre o PECADO do homem e suas consequências
presentes e eternas (morte física, perda da comunhão com Deus, corrupção do coração,
castigo eterno no inferno sendo alvo da ira de Deus), algo sobre a obra que Jesus realizou na
CRUZ e sua ressurreição (a morte de Cristo, o Filho de Deus, que pagou o preço do pecado com
a própria vida, mas ressuscitou ao 3º dia); algo sobre a necessidade que temos de crer em Cristo

125
INDO MAIS FUNDO

e de nos arrependermos dos nossos pecados para sermos salvos (crer em Jesus e se arrepender
dos pecados é o que significa CONVERSÃO); e algo sobre a VIDA ETERNA (a realidade do Novo
Céu e da Nova Terra e a perfeita comunhão com Deus). Podemos falar sobre muitas coisas, mas
se não falarmos mesmo que de forma simples desses aspectos da mensagem, ainda nã o
pregamos o evangelho de forma completa.

Capítulo 9 - DISCIPULADO
SER UM DISCIPULO DE JESUS
Jonathan Philip

Ser discípulo de alguém é, em essência, ser um aluno e um aprendiz; seguir os passos e imitar
tudo o que o mestre faz. É ter alguém em máxima est ima a ponto de considera-lo um modelo
para tudo; somos discípulos de quem mais admiramos e amamos.

É esse tipo de relacionamento que observamos nos evangelhos entre o Senhor Jesus e os
apóstolos. Cristo, no início do seu ministério terreno, convocou dentr e muitos doze homens para
serem seus seguidores mais íntimos (Marcos 3:13-19). Esses homens andaram com Jesus durante
aproximadamente 3 anos, sendo instruídos, ensinados, corrigidos, treinados, impactados e
transformados na convivência com ele. No final do seu tempo neste mundo, após a sua
ressurreição, Jesus chama esses seus discípulos e os envia para fazerem outros discípulos. Em
Mateus 28:19, Jesus diz: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando -os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”.

Alguém se torna um discípulo de Jesus depois que ouve e aceita o convite para se arrepender
de sua vida de pecados. Quando aceita a convocação para a negação do próprio eu e das
paixões do coração (Lucas 9:23-24). Quando realmente existe a disposição de tornar Jesus a
pessoa mais importante de sua vida; ter Jesus como o Senhor de toda a sua vida (Lucas 14:26 -
27).

Porém, ninguém é capaz de aceitar esse convite sem que primeiro o próprio Deus o atraia para
Jesus. É a ação do Espírito Santo em nosso coração que nos torna sensíveis ao convite de Jesus
para sermos seus discípulos (João 3:3; João 6:44).

Um dia esse convite também foi feito a nós e, pela graça, nós o aceitamos. Pela fé, começamos
uma caminhada junto com o Senhor Jesus, e assim como os apóstolos, somos pelo Mestre
ensinados, instruídos, corrigidos, impactados, transformados e enviados para o mundo para fazer
outros discípulos de Jesus.

Não temos o poder de transformar ninguém num discípulo de Jesus, essa é uma obra do Espírito
Santo, que opera dentro dos corações e conduz as pessoas a fé em Cristo e ao arrependimento.
Mas, o Espírito nos usa para a comunicação da Palavra, pois é pela Palavra que as pessoas vêm
à fé (Romanos 10:13-17). E não somente nos usa para que pessoas cheguem a fé (evangelismo),
mas também nos usa para que outros cristãos, assim como nós, permaneçam, cresçam e
frutifiquem na fé (discipulado).

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INDO MAIS FUNDO

ENSINO NO DISCIPULADO

Alguns conceitos e doutrinas bíblicas a serem aprendidos logo no início da cam inhada cristã.

>O caráter das Escrituras (inspiração, inerrância, harmonia, poder, autoridade e beleza);

>Quem é Jesus (o Filho de Deus encarnado) e os seus ensinamentos descritos nos evangelhos;

>A necessidade da obra que Jesus realizou na cruz (realidade da queda humana e a obra de
redenção na encarnação, morte e ressurreição do Senhor Jesus);

>Os atributos de Deus (santidade, justiça, soberania, providencia, independência, eternidade,


amor, bondade, misericórdia, majestade, sabedoria, imutabilidade e poder);

>A importância da vida devocional de leitura bíblica e oração diária (tempo diário com Deus
como algo central na vida cristã);

>A obra do Espírito Santo na regeneração e no processo de santificação ;

>A Missão da Igreja (a grande comissão de Cristo, o evangelismo, discipulado, missões


transculturais);

>O culto cristão e suas partes: adoração, confissão, ações de graças, pregação, sacramentos,
dízimos e ofertas.

Capítulo 10 - CARACTERÍSTICAS DO EVANGELISTA


UM MANIFESTO EM FAVOR DA EVANGELIZAÇÃO SAUDÁVEL
Liv ro Marcas de Um Evangelista; Mack Stiles

Nesses 10 tópicos, Mack Stiles faz um resumo do seu liv ro reafirmando a importância de algumas
características que precisam estar presentes na forma com que nós v iv emos a ev angelização.

- A evangelização saudável está arraigada em nosso compromisso de fé em Cristo e não em


qualquer método pragmático de evangelização. Portanto, em primeiro lugar, nos tornamos
pessoas de fé por colocar toda a nossa fé e confiança em Jesus. Visto que cremos, de todo o
coração, que o evangelho é verdadeiro, desejamos compartilhar o evangelho com base em
nossa fidelidade e não em técnica.

- Nós nos tornamos estudantes do evangelho . Nós o conhecemos totalmente. Resistimos à


tendência natural para ajustar o evangelho aos nossos gostos naturais e aos gostos da cultura,
por fazermos acréscimos ou subtrações à mensagem do evangelho.

- O evangelista saudável guarda o evangelho. Porque sabemos que o evangelho pode ser
perdido, nunca presumimos o evangelho; antes, enfatizamos o evangelho em nossa comunhão
e liderança cristã.

- A primeira aplicação de nosso entendimento do evangelho não é necessariament e


compartilharmos nossa fé, e sim vivermos uma vida centrada no evangelho. Por isso, sentamos
aos pés da cruz quando há diferenças com outros irmãos e irmãs. Lembramos nosso próprio
pecado e falhas quando disciplinamos nossos filhos. Aplicamos os princípios da graça em nosso
casamento e com nossos colegas de trabalho. Refletimos especialmente em como os temas do

127
INDO MAIS FUNDO

evangelho influenciam nossas apresentações do evangelho, para assegurar -nos de que a


mensagem que possuímos é a mesma que pregamos.

- Sempre lembramos que a evangelização é um ato de ação social e produz, em e por si mesma,
mudança social. Não é uma categoria separada de ação social.

- Visto que muitas coisas imitam a verdadeira conversão cristã, procuramos ter um entendimento
bíblico e mais claro sobre a conversão. O evangelista saudável sabe que o ouvinte precisa
entender a mensagem do evangelho antes que a conversão aconteça. A verdadeira
conversão, quando acontece, é marcada por uma vida mudada radicalmente. Entendemos
que somos apenas instrumentos nas mãos de Deus e que ele é o único que opera a conversão.

- O evangelista saudável busca ousadia no testemunho e trabalha para aniquilar o “temor do


homem”, um dos maiores obstáculos que nos impede de compartilhar a fé.

- Visto que o amor é a marca de um cristão, nos esforçamos para ter um ponto de vista bíblico
do amor, enquanto rejeitamos pontos de vista corrosivos e mundanos sobre o amor.

- O evangelista saudável sabe, à luz dos mandamentos de Jesus em João 13 e 17, que o amor
bíblico, aplicado de maneira prática na igreja, é a maior i magem do evangelho que oferecemo s
ao mundo.

- Quando compartilhamos o evangelho com aqueles que não o conhecem, avaliamos três
desafios fundamentais em nossa mente: eu conheço o evangelho? Eu vivo o evangelho? Eu
comunico o evangelho?

(p. 132-134)

128
INDO MAIS FUNDO

INDICAÇÃO DE BIBLIOGRAFIA
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Steve LAWSON. O Zelo Evangelístico de George Whitefield; Ed. Fiel, 2014

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“Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo,
contanto que complete a minha carreira e o minist ério que recebi
do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”
Atos 20:24

Toda glória seja dada a Deus!

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