Comentario de Efesios - Robert Govett

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Comentário de Efésios

Robert Govett

Escriba do Reino
 
Título do original em inglês: What is the Church? Or The Argument of Ephesians.
Publicado originalmente em Londres, 1889. Domínio público.

Copyright © 2022 por Editora Escriba do Reino.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998.

Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada, reproduzida ou armazenada em


qualquer forma ou meio, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc., sem prévia
permissão, por escrito, da Editora Escriba do Reino.

Tradução: Cleide Camargo


Revisão: Adriano Rodrigues
Diagramação: Gian Felipe Design
Capa: Caique Augusto Queiroz Vicentim

Salvo indicação específica, as referências bíblicas citadas neste livro foram extraídas
da Almeida Revista e Atualizada, edição de 1993 (Barueri: SBB, 1993).

Abreviações de versões bíblicas: ARC – Almeida Revista e Corrigida; ACF - Almeida


Corrigida Fiel; KJV - King James Version; NTLH - Nova Tradução na Língua de Hoje; TB -
Tradução Brasileira.

Publicado no Brasil com todos os direitos reservados pela


Editora Escriba do Reino
Rua Giácomo Paro, 55 – Centro
16300-069 Penápolis, SP

1ª Edição – Dezembro de 2022


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Govett, Robert, 1813-1901


Comentário de Efésios / Robert Govett ; tradução Cleide
Camargo. -- 1. ed. -- São Paulo : Perse Editora, 2022.

Título original: What is the church? : or the argument of


Ephesians
ISBN 978-65-5879-286-4

1. - Comentários"
data-codigo-assunto="614957">Bíblia. N.T. Efésios -
Comentários I. Título.

22-137555

CDD-227.507
Sumário
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
Romeu Bornelli

APRESENTAÇÃO
Delcio Meireles

CAPÍTULO UM
O Cabeça

CAPÍTULO DOIS
O Corpo

CAPÍTULO TRÊS
A Mensagem

CAPÍTULO QUATRO
Os Dons que Edificam o Corpo

CAPÍTULO CINCO
A Conduta Apropriada

CAPÍTULO SEIS
Relacionamento e Armadura
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
Robert Govett (1813-1901) foi um erudito bíblico britânico e um
pastor independente, denominacionalmente falando, em Norwich,
Norfolk, Inglaterra.
Esse renomado mestre das Escrituras sagradas entendia que elas
deviam ser constantemente examinadas e estudadas, e, quando
houvesse nova luz, nossa responsabilidade seria “andar de acordo
com o que alcançamos” (Filipenses 3.16).
Sua dedicação ao estudo das Escrituras e seu desejo de
conhecer e servir a Deus integralmente foram tão completos que ele
decidiu não se casar; e assim viveu até que o Senhor, a quem ele se
devotou com tanto amor, o levou para a Sua casa.
Ele exerceu um ministério grandemente reconhecido, na segunda
metade do século XIX, e foi sucedido em seu pastorado na Surrey
Chapel, em Norwich, por D. M. Panton. Alguns nomes conhecidos
como Evan Hopkins e Margaret Barber também estavam entre os
que frequentaram essa congregação durante o pastorado de Govett.
Govett parece ter sido realmente o “cabeça de escola”, quando se
trata de questões como o arrebatamento parcial dos santos antes da
grande tribulação e o tribunal de Cristo com suas implicações
relativas ao reino milenar e à herança, ou galardão, que seria o
prêmio dado aos santos que forem fiéis em viver uma vida
agradável a Deus e um serviço que honre o nome do Senhor. Estes
aspectos são os mais relevantes em seus escritos.
Neste notável Comentário de Efésios, os traços de originalidade,
dedução lógica, revelação e percepção espiritual aguçada são
claramente observados em sua exposição.
O capítulo 3, que trata da mensagem central da epístola, é de
especial importância no desvendar do “mistério oculto dos séculos e
das gerações”, ou, como Paulo o denomina em Romanos, “o
mistério guardado em silêncio nos tempos eternos” (Romanos
16.25).
Ali, Govett expõe o que ele chama de “riquezas não rastreáveis
de Cristo” e a “economia do mistério” em dois aspectos (um deles
relacionado à terra e o outro relacionado ao céu), como sendo um
“grande sistema planejado por Deus”, sendo Paulo o vaso
especialmente escolhido para expô-lo!
Ao expor a segunda oração de Paulo nesta carta (3.14-21),
Govett a chama de “a porção mais difícil desta profunda epístola”, e
ele o faz como tendo o motivo de destacar “a igreja de Cristo como
a herança eterna de Deus”.
Finalmente, a contribuição de Govett, especialmente ligada ao
assunto do reino vindouro e à necessidade que os santos têm de
serem transformados à imagem de Cristo, avançando em direção à
maturidade espiritual, foi realmente singular, não apenas em seu
tempo, mas estabeleceu uma base sólida que continua a impactar e
instigar as almas dos redimidos do Cordeiro para que vivam uma
vida santa e agradável a Deus, e para que juntos alcancem a
estatura do varão perfeito.
Que nosso amado Deus, Aquele que é “o galardoador dos que o
buscam”, possa em sua fidelidade e misericórdia usar esta obra,
agora traduzida ao português, para o aperfeiçoamento dos santos a
fim de que desempenhem o seu serviço para a edificação do corpo
de Cristo.

Romeu Bornelli Cordeiro


São Lourenço – MG, novembro de 2022
APRESENTAÇÃO
Mais uma vez, sou convidado pela Editora Escriba do Reino para
escrever algumas palavras de apresentação sobre o escritor deste
livro, Robert Govett. Repito o que já disse em outras publicações:
“Não sou a pessoa adequada para realizar tal tarefa”. Porém, não
tenho como deixar de atender esse pedido que tanto me honra.
O autor, Robert Govett, foi um servo de Deus agraciado com
muitos dons concedidos pelo Espírito Santo. A profundidade do seu
conhecimento da Palavra de Deus foi notificada pelo grande
pregador batista, Charles Haddon Spurgeon, com as seguintes
palavras: “Robert Govett viveu um século à frente do seu tempo”.
Isso quer dizer que só depois de cem anos os seus escritos seriam
verdadeiramente apreciados e entendidos. Nosso irmão Govett
dormiu em Cristo há cento e vinte e um anos; será que as palavras
de Spurgeon encontraram resposta em nossos dias? Sugiro, então,
ao prezado leitor que leia na dependência do Espírito Santo este
precioso livro, para depois chegar a uma conclusão sobre a
declaração de Spurgeon.
A profunda erudição de Robert Govett não impediu que ele nos
oferecesse um comentário extremamente prático e esclarecedor.
Alguém já disse que a Epístola aos Efésios é o escrito mais elevado
do Novo Testamento, porém a maneira como o autor aborda o
conteúdo destes seis capítulos nos deixa maravilhados. Ao concluir
a leitura, você só poderá dar graças a Deus e louvá-lo por tão rica
dádiva através do seu servo fiel, Robert Govett.
Durante os meus mais de cinquenta anos de caminhada com o
Bom Pastor das ovelhas, pude ler vários comentários sobre esta
Epístola de Paulo aos Efésios. Por ter condições de ler em inglês,
tive acesso a inúmeros escritos preciosos de outros autores, mas
confesso que este comentário de Govett é inigualável.
Repito que escrever qualquer coisa sobre um escritor do calibre
espiritual desse autor é uma tarefa que ultrapassa em muito os
meus pobres recursos.
Com certeza o Senhor Jesus, Cabeça do Corpo, abençoará
ricamente este serviço da Editora Escriba do Reino, e a todos os
que se dispuserem a conhecer esta joia tão preciosa.

Delcio Meireles
Jaguariúna – SP, novembro de 2022
CAPÍTULO UM
O CABEÇA

Nossa mais sagrada fé pode nos ser apresentada, como observa


John Nelson Darby, a partir de dois diferentes pontos de vista. (1)
Pode começar com o homem, seus pecados e sua pecaminosidade;
e com a lei, seus deveres para com Deus e sua condenação. Então,
podem vir os passos, dos quais Deus se agradou, para remover
estes obstáculos para a nossa salvação. Este é o caminho do
apóstolo na epístola aos Romanos, que descortina para nós o
homem em diferentes circunstâncias, condenado em todas; ou
controlado pelos padrões da natureza somente ou dirigido pela lei
de Moisés. Na sequência, temos os passos através dos quais a
salvação é obtida para ele.
(2) Mas, em Efésios, começamos com Deus. Seu evangelho é
iniciado com a revelação de seus desígnios, seu amor, sua graça,
seu poder, seu grande propósito de glorificar seu Filho, o amado de
seu coração, e dar a ele companheiros eternos na glória, tomados
dentre os filhos perdidos dos homens, de acordo com sua escolha
de graça.

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus,


aos santos que vivem em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus,
graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do
Senhor Jesus Cristo (Efésios 1.1-2).

“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus”


(Efésios 1.1). Muita coisa gira em torno do apostolado
independente de Paulo. Os homens naturalmente consideram
razoável que ele fosse comissionado para sua tarefa especial pelos
Doze apóstolos em Jerusalém. Mas esta não era a mente de Deus.
Ele foi capturado por Cristo fora da terra da Judeia. Recebeu sua
missão para o apostolado diretamente de Cristo no céu. Os Doze
foram testemunhas de um Messias na terra em carne e sangue,
imolado, ressurreto dos mortos e elevado ao céu. Paulo foi feito
testemunha de um Cristo que habita nos céus, na glória de Deus.
Ele foi chamado para testificar, como apóstolo do “mistério”, acerca
da unidade com o Salvador, que é dada gratuitamente aos crentes
desta dispensação. “Por que me persegues?” (Atos 9.4) foi o ponto
fundamental do evangelho de Paulo.
De tal importância é o comissionamento de Paulo que é três
vezes narrado em Atos, a saber, uma vez por Lucas, no desenrolar
da narrativa, e duas vezes por Paulo: primeiro para os judeus em
Jerusalém (Atos 22.7), e depois para os judeus e gentios em
Cesareia (Atos 26.14).
Esse apostolado concedido por Jesus Cristo foi de acordo com a
vontade de Deus, pois o Pai, o Filho e o Espírito estão totalmente
em harmonia entre si.

“Aos santos” (Efésios 1.1). Este é o nome do novo povo de


Deus que, a partir de seu lugar anterior, durante a dispensação
presente, colocou de lado a nação de Israel.
Parece-me claro que a epístola não tenha sido principalmente ou
somente dirigida aos crentes de Éfeso. Foi, como creio e outros
também, uma epístola circular; nós a encontramos com outro nome,
como a Epístola aos Laodicenses. Observe-se que não está escrito
“à igreja de Éfeso”, como Paulo geralmente escreve. Temos “à igreja
de Deus que está em Corinto”, tanto em 1Coríntios quanto em
2Coríntios; “às igrejas da Galácia”; “à igreja dos Tessalonicenses” é
a inscrição em ambas as epístolas.
Se não estou errado, as palavras “que vivem em Éfeso” deveriam
ser omitidas. “Paulo [...] aos santos e fiéis que estão em Cristo”.
Assim, seria uma epístola geral, escrita para os santos da
dispensação. Paulo era o “apóstolo para as nações”. Não há nada
na epístola que a limite à Éfeso em particular. A assim chamada
“Epístola aos Efésios” é a carta do apóstolo para os crentes que
haviam visto sua face; enquanto Colossenses é especialmente
designada para aqueles que ele não havia visitado.
Santidade verdadeira, e não somente santidade da carne,
pertence aos membros de Cristo. “Os santos” são também os fiéis
ou os crentes. Ninguém é cristão sem ter fé em Cristo. Nenhum rito
pode, por si mesmo, fazer de alguém um cristão. Santidade começa
com arrependimento ou por afastamento do pecado. É
arrependimento em direção a Deus, intimamente ligado à herança
eterna e à temporária. Devemos entrar no milênio, se assim for, não
como simples crentes, mas como justos ou praticantes do bem
(Mateus 3; 13.43; 25.37-46).
Nem todos os moradores de Éfeso eram santos ou integrantes da
igreja. Jesus, em Apocalipse 1, dirige-se ao anjo da igreja em Éfeso.

“Em Cristo Jesus” (Efésios 1.1). Isto se coloca em oposição ao


nosso nascimento natural. Ali, nós estamos em Adão e, portanto,
debaixo do pecado e da morte. “Porque, assim como, em Adão,
todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo”
(1Coríntios 15.22). Todos são chamados a deixar sua posição
original e ser transportados para dentro de Cristo. A transição visível
de Adão para Cristo é efetuada pela imersão do crente.
Israel é considerado por Deus como estando em Abraão (Hebreus
7.9-10) ou como em Isaque: “Em Isaque será chamada a tua
descendência” (Romanos 9.7; Hebreus 11.18). Depois do pecado do
bezerro, eles se mantiveram diante de Jeová em Moisés, o único
mediador e representante da aliança renovada. “Disse mais o
Senhor a Moisés: Escreve estas palavras, porque, segundo o teor
destas palavras, fiz aliança contigo e com Israel” (Êxodo 34.27). Até
antes disso, eles foram “todos batizados, assim na nuvem como no
mar, com respeito a Moisés” (1Coríntios 10.2).
Os crentes de hoje estão verdadeiramente em Cristo e, assim,
são justificados em seu nome. Há somente um Justo, e eles estão
unidos a ele. “Mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas
fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito
do nosso Deus” (1Coríntios 6.11).
“Graça” é o fundamento da igreja. É a única fonte de paz com
Deus. A lei aplicada ao homem pecador coloca-o imediatamente em
guerra contra Deus. Quarenta dias após a aliança feita em Horebe,
Moisés manda a espada sobre Israel e três mil são mortos. “Porque
a lei suscita a ira” (Romanos 4.15). Israel está debaixo da lei e da
maldição. Uma vez que o perverso não tem a graça, também não
tem a paz com Deus. Eles são como o mar turbulento que não pode
descansar (Isaías 57.20).

“Paz, da parte de Deus, nosso Pai” (Efésios 1.2). Deus não é o


Pai de todos os homens. Criação e paternidade são duas coisas
muito diferentes. Ele é o Pai somente daqueles que estão em Cristo.
Quando Israel afirmou ter Deus como seu Pai, Jesus respondeu
que, se isso fosse verdade, eles o amariam, pois era o Filho enviado
em graça. Ele acrescentou: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e
quereis satisfazer-lhe os desejos” (João 8.44; cf. 8.39-44).
Mas Deus gerou outra vez, pelo Espírito Santo, aqueles que estão
em Cristo e, se obedientes, nasceram da água (João 3.5). Em
Deuteronômio, o manual dos judeus debaixo da lei, Jeová é
chamado de Pai uma única vez, no cântico que foi escrito para ser
testemunha contra eles; e isso depois que Deus os chamou de
“geração perversa e deformada” (Deuteronômio 32.5-6).

“E do Senhor Jesus Cristo” (Efésios 1.2). Jesus é Senhor e


não somente Salvador. Ele é um Senhor que espera por obediência.
“Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos
mando?” (Lucas 6.46; 12.46-47).

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que


nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual
nas regiões celestiais em Cristo (Efésios 1.3).

Grande parte da estrutura da epístola gira em torno desses dois


nomes de Deus. (1) Ele é “o Deus [...] de nosso Senhor Jesus
Cristo” e (2) também é o “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Depois de assumir a carne, o Salvador coloca-se como homem
diante de Deus. Como tal, ele toma sua posição contra Satanás,
quando este o tentou a agir de modo estranho ao Filho de Deus. “Se
és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em
pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá
o homem” (Mateus 4.3-4).
Na primeira parte da epístola, Paulo oferece sua oração a Deus,
como o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo (Efésios 1.17). O fato
de que o Salvador tem Deus como seu Pai nos coloca como filhos
em íntimo relacionamento com o Pai; pois nós estamos nele, que é
o Filho. A segunda oração é apresentada ao “Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo” (Efésios 3.14, ARC). Nossa bênção é:

“Com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais”


(Efésios 1.3). Nisto, estamos colocados em uma base muito
diferente da de Israel. Eles pertenciam a uma aliança na carne, e o
selo de Deus foi colocado na carne deles. Eles seriam abençoados
com toda bênção da carne nas regiões terrenas (Levítico 26;
Deuteronômio 28). Mas tudo dependia da perfeita obediência deles
à lei (Deuteronômio 11.26-32). O céu da lei de Moisés é a
atmosfera; e a bênção deveria alcançar Israel de um modo notável.
“O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua
terra no seu tempo” (Deuteronômio 28.12).
Mas nosso céu, como aqui mencionado, está muito acima
daquele da lei; o Espírito Santo o chama de supercelestial.[1] Isso se
refere à região onde nossas bênçãos devem ser encontradas.
Em si mesmas, nossas bênçãos são espirituais, tornando-se
conhecidas através do Espírito Santo e por ele concedidas ao nosso
espírito ou homem interior. Elas são nossas “em Cristo”. Moisés
morreu e aquela condição fundamental da segunda aliança com
Israel foi removida por sua morte. Nosso Cristo vive para sempre
para fazer intercessão por nós. Nosso direito a essas bênçãos não
pode ser perdido, pois estamos vitalmente associados a ele, de
quem elas fluem. Moisés pecou antes de morrer. Nosso Cristo
morreu como o Justo, pois os pecados não eram dele, e, em vista
deste fato, a morte não pode tocá-lo. “Eis que estou vivo pelos
séculos dos séculos” (Apocalipse 1.18).
Debaixo da lei, cada um permanecia ou caía de acordo com a sua
própria obediência. “Aquele que observar os seus preceitos por eles
viverá” (Gálatas 3.12). Mas nós nos firmamos na expiação e na
justiça de outro. Cristo é o “Senhor, Justiça Nossa” (Jeremias 23.6),
a justiça de todos os que creem.

Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do


mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e
em amor (Efésios 1.4).
Nossas bênçãos em Cristo são em consequência do ato da
eleição de Deus. Ele nos escolheu para sermos membros do
segundo Adão, estando nós debaixo da morte em Adão. Era o
propósito do Pai tornar seu Filho “o primogênito entre muitos irmãos”
(Romanos 8.29).
Ele nos escolheu “de” e nos escolheu “em”. Ele nos escolheu “de”
nosso velho lugar no mundo, porque “não sois do mundo, pelo
contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (João
15.19). Ele nos escolheu “em” Cristo, de cujo corpo espiritual
nenhum membro se perderá.
O tempo em que Deus escolheu o homem não foi o momento em
que o homem escolheu a Cristo. Eleição é escolha de Deus por um
homem, antes que ele escolha a Deus. Se ele não nos tivesse
escolhido primeiro, jamais poderíamos tê-lo escolhido.
Foi uma escolha, não para o uso de meios para a salvação, mas
uma escolha de pessoas individuais da humanidade para a
salvação. A escolha de Deus aconteceu antes que o mundo fosse
formado. Como, por natureza em inimizade com Deus (Romanos
8.7), os homens, por si mesmos, escolheriam a Deus? A eleição
começou na eternidade atrás de nós, e alcança a eternidade que
está por vir. O que pode ser comparado em valor com aquilo que
Deus escolheu na eternidade, muito antes que a criação tivesse
início?
Israel foi escolhido por Jeová para ser sua nação (nunca sua
igreja) uns dois mil anos após a criação e a queda, dentre todas as
outras nações da terra e de todos os outros filhos de Abraão. “Em
Isaque será chamada a tua descendência” (Hebreus 11.18). A
eleição é de indivíduos para eterna glória em Cristo com vistas à
santidade e filiação, antes que o bem e o mal fossem feitos por
alguém; sim, antes da queda. É a escolha soberana daqueles em
quem nenhum bem deve ser encontrado, mas somente inimizade.
Deus soberanamente escolheu companheiros para seu Filho.

Fomos escolhidos “para sermos santos” (Efésios 1.4). Então,


não foi porque éramos santos, mas para que pudéssemos assim
nos tornar. Não é dito que Deus previu que nos tornaríamos santos
por nossa própria escolha. Como isso seria possível? “Em mim, isto
é, na minha carne, não habita bem nenhum” (Romanos 7.18). Deus
somente podia prever, desde a queda, nossa falta de santidade e
condenação. Como poderiam aqueles em inimizade com Deus ser
santos ou se tornarem santos? A santidade de alguém acontece
muito tempo depois da escolha de Deus, e é a consequência dessa
escolha.
A despeito da queda, o desígnio de Deus permaneceu. Somos
escolhidos para salvação no final, através da santidade como o
meio. Mas o Senhor tem que nos criar de novo, a fim de que
possamos ser santos.

“Perante ele; e em amor” (Efésios 1.4). Deus quer dizer que


seus eleitos finalmente habitarão com ele, reunidos perante seu
trono (Apocalipse 7.9). Nosso privilégio e glória, como filhos, serão
para sempre vermos a face do Pai (Apocalipse 22.4). A fim de
alegremente habitarmos com Deus, os filhos devem ser como seu
Pai, santos. E, portanto, devemos ser transformados da inimizade
para o amor. A lei justamente exige dos homens o amor; amor para
com Deus e para com o homem. Quando, entretanto, o homem é
deixado por si mesmo, a exigência nunca é cumprida. A carne não
está sujeita à lei de Deus, nem, na realidade, pode estar (Romanos
8.7).

Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por


meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade (Efésios 1.5).

Deus, tendo determinado, a respeito do fim, sermos feitos seus


filhos, também estabeleceu os meios para tanto. Esses meios foram
adaptados à condição em que os caídos estavam confinados. Deus
decidiu o destino de multidões incontáveis, antes que tivessem
nascido; antes mesmo que o mundo em que eles fossem viver
tivesse sido criado.
Alguns admitirão que não é injusto da parte de Deus conceder
meios especiais de graça para algumas nações sobre outras,
enquanto ele deixa outros povos na escuridão do paganismo. Mas,
se Deus, como benfeitor, pode não ter escolhido alguns para a vida
eterna, porque (dizem eles) seria injusto para os outros, então ele
também não pode fazer distinção entre uma nação e outra quanto
aos meios da graça. Se uma estivesse em injustiça, também a outra
estaria. Mas, que direito têm as criaturas sobre seu Criador? Que
direito têm as criaturas caídas sobre o seu Governante, a não ser
direito à condenação e à punição de seus pecados?
A Escritura nos fala de nomes dos salvos escritos no livro da vida
(Filipenses 4.3). Eles são filhos de Deus, seguros da salvação.
Agora, não é tanto o que eu sou, mas o que Deus é.
Três motivos são estabelecidos neste versículo: (1) A causa
eficiente: Deus Pai; (2) às causas mediadoras: Cristo e o Espírito
Santo; (3) a causa final: a glória de Deus. A glória de Deus, nas
coisas e seres que ele criou, é o propósito principal e o mais
legítimo. Como poderia Deus tornar inimigos em filhos? “Por meio
de Jesus Cristo”. Ele é o verdadeiro Mediador, de quem Moisés foi
um tipo. Quando Israel, através de seu ídolo, atraiu a ira de Deus,
quem pode permanecer diante de Jeová e implorar por
misericórdia? Somente Moisés! Arão, irmão de Moisés, era o
principal ofensor. Mas até por Arão, Moisés intercedeu, e ele foi
perdoado.
Os israelitas nunca foram filhos. Os homens da lei eram somente
escravos, esforçando-se em vão através de obras para se livrarem
da condenação que, de modo justo, caía sobre eles como
transgressores (João 8.34-35). De Israel é dito: “O Senhor, teu
Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos
os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7.6; 14.2; 28.9). Mas
os filhos estão em mais alta posição do que o povo. O príncipe de
Gales significa mais para Sua Majestade do que qualquer um de
seus súditos. Filhos “para si mesmo” (Efésios 1.4, ARC). Filhos de
Deus para morar com o Altíssimo e à vontade, em casa, com ele.
Isso é um avanço na parte da herança até dos anjos não caídos.
Eles são filhos por criação; nós, por adoção. “Adoção” significa tirar
alguém da família em que nasceu, para introduzi-lo a outra família,
tornando-o membro dela. Este é um direito capaz de ser exercido
por qualquer homem. E não terá o Altíssimo direito de adotar e
salvar quem lhe agrada? Somos retirados da raça caída de Adão
para sermos colocados na mais alta filiação, acima dos anjos que
nunca caíram!
Mas a Escritura diz que Israel teve “a adoção” (Romanos 9.4).
Sim, para ser a principal nação da terra. “Israel é meu filho, meu
primogênito” (Êxodo 4.22), diz Deus para o grande rei pagão da
terra. Mas nós somos filhos adotivos do Deus do céu, membros do
Filho do próprio Deus. O Filho desceu até nós, para que pudesse
nos elevar até ele. O grande desígnio de Deus requeria que o Filho
de Deus se tornasse homem a fim de libertar o homem, a quem
Satanás havia arruinado ao entrar na serpente.
Quatro vezes neste capítulo a vontade de Deus é demonstrada,
pois tudo gira em torno da sua escolha: (1) Paulo foi apóstolo pela
vontade de Deus (Efésios 1.1); (2) somos filhos predestinados de
acordo com a vontade de Deus (1.5); (3) a primazia de todas as
coisas em Cristo é o mistério da vontade de Deus (1.9); (4) depois
vem a afirmativa de grande alcance, que Deus “faz todas as coisas
segundo o conselho da sua vontade” (1.11). É bom para nós que
seja assim! Embora ele não nos apresente nenhum relatório de seus
motivos, tudo é ditado por sua sabedoria infalível.
“O beneplácito da sua vontade” (Efésios 1.5) parece significar a
escolha daquilo que para ele é o melhor. Assim sendo, ele decide.
Sermos santos diante de Deus é uma necessidade que se origina
na natureza de Deus. Mas muitas coisas são arranjadas de acordo
com seu benevolente prazer em abençoar. Sua decisão brota dele
mesmo. Sua escolha não é de acordo com nosso mérito. A
reprovação ou omissão de alguns não é mencionada aqui.

Para louvor da glória de sua graça, que ele nos


concedeu gratuitamente no Amado (Efésios 1.6).

Os atos do Altíssimo são designados para afetar não somente os


salvos, mas outros seres, quer anjos ou homens. Diz Jesus: “Eu
lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam
um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam
aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me
enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (João 17.22-
23). Quando os eleitos da igreja brilharem com o mesmo fulgor do
próprio Filho e forem amados pelo Pai como ele ama o Filho, todos
os espectadores, comovidos em perplexidade, dirão: “Que graça
maravilhosa!”. “Que glória admirável!”. “É digna da majestade e
bondade de nosso Deus!”. Então, o louvor fluirá para Deus como o
Doador gracioso, através da bênção visivelmente concedida aos
membros da igreja, o corpo do Senhor Jesus.
A graça nos estabeleceu como crentes no Filho. Mas o Espírito
Santo diversifica a expressão, mais para evocar nossa gratidão e
alegria. Somos aceitos “no Amado”. Jesus, o Senhor, não é somente
o mais sublime de todos os seres, mas o amado de Deus acima de
todos. E nós somos colocados nele para que o amor do Pai possa
finalmente ser derramado sem impedimento sobre nós para sempre.
Jacó, vestido com as vestes de primogênito, obtém a bênção do pai;
uma bênção prometida, mas a qual ele estava longe de merecer.
Desse modo, nossas bênçãos: (1) são da ordem mais alta; (2) estão
nas regiões mais elevadas; (3) estão na Pessoa mais exaltada!

No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão


dos pecados, segundo a riqueza da sua graça (Efésios 1.7).

“Redenção” implica em que nosso estado original foi de servidão.


Nós somente poderíamos ser resgatados por determinado preço.
Esse preço foi o sangue de Cristo.
Éramos merecidamente prisioneiros de Deus, debaixo de culpa e
da penalidade da lei, por causa de nossas transgressões a ela.
Cristo é verdadeiramente homem; isto deve ser mantido contra o
falso ensino de alguns, tanto em tempos remotos como nos tempos
modernos. Isso é provado por seu sangue derramado na cruz, como
João viu e testificou.
A redenção realiza-se em duas partes: (1) em épocas diferentes e
(2) a partir de diferentes princípios. Nós já temos a redenção da
alma, pelo preço que o Senhor pagou, seu sangue. Estamos
aguardando a redenção do corpo pelo poder de Cristo na sua volta
(Romanos 8.11, 23). Cristo nos redime, não em virtude de sua
encarnação; nem pela sua vida de santidade; nem pela força de sua
oração no Getsêmani. Pois “sem derramamento de sangue não há
remissão” (Hebreus 9.22).
Nosso caso é como o de Israel no Egito, debaixo da escravidão
de Faraó. O povo de Israel era incapaz de se libertar. Mas quando
colocado sob o abrigo do sangue do cordeiro, o próprio Jeová os
resgatou. Libertos do justo julgamento do Senhor, eles foram libertos
dos grilhões de Faraó.
A glória da graça de Deus não poderia ser demonstrada a não ser
por meio da queda do homem. Sua bondade demonstrada aos não
caídos seria bastante fácil. Mas como agiria o Senhor quando a
rebelião entrasse? Esta era a ocasião para a demonstração da
sabedoria e misericórdia de Deus.
Não é glória à criatura, muito menos à criatura caída. Mas a graça
brilha ao beneficiar os indignos ou aqueles merecedores da ira.
O crente tem o perdão de suas próprias transgressões. Ele não
tem que se fazer santo e praticar boas obras a fim de que seja
perdoado. Ele não consegue fazer nenhuma boa obra, aceitável na
visão de Deus, até que tenha sido perdoado através do sangue do
Filho de Deus.
Para aqueles debaixo da lei, há somente o domínio do pecado e a
sentença de condenação. A promessa de Israel para Jeová, no
Sinai, foi de que eles não pecariam (Êxodo 24.7). Eles foram
advertidos a não desobedecer, porque não seriam perdoados se
assim o fizessem (Êxodo 28.20-21). Consequentemente, após a
idolatria ao bezerro, apesar da tentativa de Moisés de reconciliação,
Jeová fala que eles ainda estão debaixo do pecado, e que o seu
pecado será punido no vindouro Dia da vingança sobre os vivos e
os mortos (Êxodo 34.10; 32.34).

Que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda


a sabedoria e prudência (Efésios 1.8).

Amor sem sabedoria frequentemente opera muito dano naqueles


que seriam os beneficiados. Thomas John Barnardo, fundador de
orfanatos em Londres, está totalmente ciente de que não bastaria
tirar, de uma vez, as crianças moradoras de rua, que vêm da
ignorância e do pecado, da pobreza e da sujeira, e colocá-las em
uma mansão de fartura, onde cada desejo fosse atendido. Este
seria o caminho para arruiná-las; para fazê-las crescer egoístas,
insensatas, negligentes, impetuosas, ingratas. Muito tem ele que
ensiná-las no caminho da obediência, paciência, trabalho e
autocontrole, antes que possam ser confiáveis e colocadas na
ampla vereda disponível da abundância e do progresso.
Assim também Jeová teve que agir com respeito a Israel. Ele não
conduziria imediatamente à terra da promessa uma nação de
idólatras. Muito tinham eles que ser ensinados, muito a
desaprender, muito a aprender a respeito de si mesmos e de seu
Deus, antes que pudessem, sem danos, ser estabelecidos na terra
da promessa.
Como naturalmente desejamos, se o Senhor nos levasse à glória,
de imediato, em nossa conversão, haveria muitas rebeliões de
independência e impaciência com o governo de nosso Deus. Por
esta razão, ele nos coloca sob várias formas de teste por muitos
anos. A lição de nossas fraquezas e do mal que se adere a nós, não
é aprendida em um dia. Tempo e paciência são exigidos para despir
o velho Adão e vestir o novo.
Esta foi a razão pela qual quatro mil anos seriam necessários, nos
desígnios de Deus, para estender-se entre a queda e a vinda de
Cristo. Por dois mil anos, o homem teve que demonstrar sua
ilegalidade, apesar das advertências de sua consciência. Por dois
mil anos, Israel foi colocado debaixo da lei para provar que na carne
não habita bem algum. E os homens são lentos para crer na
verdade, até em nossos dias.
Se o Salvador tivesse chegado antes do tempo previsto, o homem
não teria crido que ele próprio era tão cheio do mal, tão destituído
de bem, tão incapaz de salvar-se a si mesmo. Apesar de todas as
longas experiências humanas do passado, os homens não estão
persuadidos de que neles não há nem remédio, nem esperança. A
transição de lei para graça, de Moisés para Cristo, não poderia, de
modo sábio, ter sido efetuada antecipadamente na história do
mundo.

Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o


seu beneplácito que propusera em Cristo (Efésios 1.9).
Esta revelação dos propósitos de Deus é um grande ato de
generosidade; quão pouco os cristãos em geral o consideram. “O
servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado
amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a
conhecer” (João 15.15). Ser alguém do conselho de autoridades e
dignitários de uma nação é considerado uma grande honra. É sinal
de amizade pessoal, quando alguém fala para outro de seus planos.
“O mistério da sua vontade” (Efésios 1.9). Deus revelou muito
para Moisés, como seu servo, durante a lei. Mas Moisés bem sabia
que havia segredos de Deus não revelados a ele (Deuteronômio
29.29). Mistério é um segredo e não algo ininteligível. Como a
natureza de Deus é santa, nós também devemos ser feitos santos,
de modo que nossa habitação com ele possa estar em paz e
alegria. Mas não havia nenhuma necessidade de conhecermos seus
planos para o futuro. Isso tem origem na sua bondade para
conosco. Valorizemos a lâmpada da profecia que nosso Deus fez
brilhar para nós. Em seus ensinos, nossa própria felicidade e glória
estão grandemente mescladas. Deus é livre para escolher e
executar seus planos; e esta liberdade, ele exerce totalmente; e
ninguém impedirá a conclusão de seus propósitos.
Há uma diferença de opinião a respeito da pessoa referida nas
palavras “que propusera em si mesmo” (Efésios 1.9, ARC). Alguns
entendem que as palavras se referem ao Pai, outros, ao Filho. A
diferença na explicação é mínima. Nossa esperança como cristãos
se volta para o nosso conhecimento deste segredo de Deus no que
se refere ao dia do milênio. Fazer parte desse governo perfeito é o
prêmio de nosso chamamento. E, para consegui-lo, um caminho
especial de obediência é exigido.

De fazer convergir nele, na dispensação da plenitude


dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da
terra (Efésios 1.10).

Deus deu-nos a conhecer, em nossos dias, uma intenção secreta


dele, a qual não foi desvendada no Antigo Testamento. O Antigo
Testamento nos desvenda o colapso de um plano de Deus após
outro. Os anjos pecam, e o homem, que ele criou para governar a
terra, fracassa; e a terra é devastada pelo dilúvio destruidor. Deus
levanta Noé como novo líder, que também rapidamente fracassa.
Em sua graça, o Senhor chama para si mesmo uma família, e
Abraão é circundado por alianças de misericórdia. Sua posteridade
é testada sob Moisés, o servo de Deus; a idolatria irrompe e aquela
geração e seu líder são ceifados no deserto. Israel é posto à prova
em sua terra, e o sumo sacerdote fracassa e é condenado. Um rei é
estabelecido e é ceifado pela ira de Deus. Finalmente, Israel é
expulso, como transgressor, da terra da promessa. Um
remanescente retorna; e estes, postos à prova pela vinda do Filho
de Deus, pecam gravemente ao matá-lo. A igreja é, então,
levantada, um novo corpo, e seu fracasso é tão completo como o
daqueles que a precederam.
O propósito de Deus não foi o de restaurar uma parte de seu
plano quando este ruísse, mas, em sua sabedoria, o de promover
um novo projeto. E agora fica claro o motivo pelo qual ele assim fez.
Seu desígnio era, depois de mostrar a incompetência do homem
caído em sustentar o que lhe foi confiado, submeter a uma
autoridade em um dia que virá todas as porções destruídas de seu
grande projeto. Aquela autoridade não falhará; mas irá restaurar ao
seu devido lugar a unidade, beleza e função de todas as partes
arruinadas, em uma dispensação que ainda virá.
O que é “dispensação” ou economia?
É a organização de uma família. Por ocasião do nascimento da
princesa e do príncipe de Gales, ocorreram mudanças no palácio da
Inglaterra. Quando o príncipe de Gales se casou, teve início uma
nova economia ou organização de uma família.
A dispensação aqui mencionada é a “da plenitude dos tempos”
(Efésios 1.10).

1. Esta expressão parece ser geralmente considerada como o


atual tempo de misericórdia. Aqueles que sustentam esta visão,
apontam para Gálatas 4.4-5: “Vindo, porém, a plenitude do tempo,[2]
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, [...] a
fim de que recebêssemos a adoção de filhos”. Mas as duas
dispensações diferem entre si, tanto em sua descrição como em sua
intenção. Somente a dispensação vindoura pode convergir todas as
coisas em Cristo. O Salvador, em sua primeira vinda, não foi
enviado para reunir e concentrar em si mesmo todas as partes
destruídas do grande projeto de Deus. Ao contrário, nosso Senhor
nos fala que ele não veio para paz, mas para espada; para dividir
até as famílias, como efeito da verdade que ele trazia (Mateus
10.21; Lc 12.49). Hoje é o dia da paciência e da graça, quando Deus
está solicitando aos homens que aceitem o seu Filho. Mas o fim
deste processo é a divisão. “Não queremos que este reine sobre
nós” (Lucas 19.14). Alguns se desviarão da fé. “Mas importa que
primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração”
(Lucas 17.25). Israel, como resultado de sua descrença, não foi
reunido, mas espalhado; e novamente expulso de sua terra.
O que é, então, a “plenitude dos tempos”? (Efésios 1.10).

2. A palavra “plenitude” em hebraico também significa o número


sete. Este foi o número que Deus tão livremente usou na lei como o
tempo de descansar e de se alegrar, no sétimo dia, no sétimo mês,
no sétimo ano, nas sete vezes do sétimo ano do jubileu. O homem
debaixo da lei estava obrigado a proporcionar para Jeová, em
resposta à sua ordem, descanso e alegria. Mas Israel não
descansou em Deus, nem Deus descansou ou se alegrou em Israel.
Nossa esperança está no dia em que o Senhor nos proverá o tempo
de descanso e júbilo na primeira ressurreição e no reino de glória.
O governo mundial de Deus é elaborado com base em um modelo
perfeito, de acordo com qual ele trabalha. Em sete dias de vinte e
quatro horas cada, a criação foi gerada em sua primeira beleza. Em
sete dias de mil anos cada, a obra de redenção de Deus será
efetuada; depois disso vem o oitavo dia, ou o eterno de uma nova
série. O sétimo será “a plenitude dos tempos”.
A presente fase difere daquela em Gálatas, tanto na palavra
usada para “tempos” como no uso do plural. A referência é à
conclusão dos tempos do ano, como era observado sob a lei. O
sétimo mês era o tempo natural de descanso, depois do tempo de
muito trabalho que Israel havia tido colhendo e armazenando a
produção do ano. E Deus conectou o sétimo mês à principal
apresentação das tribos, perante ele, em riquezas, descanso e
júbilo, em Jerusalém e em seu templo. Eram, ao todo, sete festas no
ano, como está apresentado em Levítico 23: (1) o sábado; (2) a
Páscoa; (3) os Pães Asmos; (4) as Primícias. Depois, as três festas
do sétimo mês: (5) as Trombetas; (6) a Expiação; e (7) os
Tabernáculos. “Porém, aos quinze dias do mês sétimo, quando
tiverdes recolhido os produtos da terra, celebrareis a festa do
Senhor, por sete dias; ao primeiro dia e também ao oitavo, haverá
descanso solene. No primeiro dia, tomareis para vós outros frutos
de árvores formosas, ramos de palmeiras, ramos de árvores
frondosas e salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis
perante o Senhor, vosso Deus”[3] (Levítico 23.39-40). “A Festa dos
Tabernáculos, celebrá-la-ás por sete dias, quando houveres
recolhido da tua eira e do teu lagar. Alegrar-te-ás, na tua festa”
(Deuteronômio 16.13-14a).
Três vezes ao ano, eles deveriam se apresentar diante de Jeová
em sua cidade eleita: (1) na Festa dos Pães Asmos; (2) na Festa da
Sega, “dos primeiros frutos do trabalho”; e (3) na Festa da Colheita,
“à saída do ano, quando recolheres do campo o fruto do teu
trabalho” (Êxodo 23.14-16).
Este tempo ainda não chegou. Ainda é tempo de trabalhar no
campo: de semear e colher. “O semeador semeia a palavra”
(Marcos 4.14). “Aquilo que o homem semear, isso também ceifará”
(Gálatas 6.7). A colheita de almas também está em ação, e o Mestre
está enviando segadores à sua colheita (Mateus 9.37-38). O tempo
de plenitude observado por Paulo é aquele de que o Salvador fala
quando menciona o dia em que “se alegram tanto o semeador como
o ceifeiro” (João 4.36). Então Israel será reunido ao som da
trombeta de Deus (Mateus 24.31). Depois, virá a vez das nações
existentes na terra, que serão reunidas diante de Cristo; e os
aprovados entrarão no reino, para eles preparado (Mateus 25.32-
34). A festa não pode começar até que o último convidado esteja
presente, e o rei tenha entrado para inspecionar os convidados
antes que seu Filho apareça (Mateus 22).
É o dia que Deus vai convergir nele, debaixo de um único
Cabeça, “todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra”
(Efésios 1.10). O primeiro cabeça da criação de Deus na terra pecou
e desintegrou o plano de Deus. Mas aqui está o segundo Cabeça,
que vai reunir as partes despedaçadas e divididas. Esta palavra
implica na ruína e nas rupturas que ocorreram no céu e na terra. O
pecado se imiscuiu entre os anjos para dividir e destruir.
O pecado dos anjos do céu desceu à terra e arruinou a beleza e a
alegria da criação. Mas Cristo é o grande restaurador de Deus. Ele
será o Cabeça visível e o Governante de todas as coisas.
(1) Como Filho do Homem, ele restaura o domínio perdido de
Adão; sim, todas as coisas serão colocadas debaixo de seus pés.
(2) Ele é o Filho de Abraão, e será o Cabeça da dupla semente de
Abraão, que é como as areias do mar e as estrelas do céu. (3)
Como Filho de Davi e chefe da tribo de Judá, ele reunirá as tribos
espalhadas e se mostrará como o Pastor e o Rei de Israel. O
Senhor lhe dará o governo sobre todas as nações da terra (Salmo
8). O pecado do desobediente primeiro Adão arruinou tanto o reino
vegetal como o animal. A justiça daquele que é obediente restaurará
ambos, com a única exceção da espécie pela qual o pecado entrou:
“Comerás pó todos os dias da tua vida” (Gênesis 3.14). (4) Como o
primogênito dos ressurretos, e Cabeça da igreja, ele congregará
para si os filhos da ressurreição, “os herdeiros de Deus”. (5) Como o
Arcanjo, o Anjo-Jeová[4] do Antigo Testamento, Ele será o Senhor
dos anjos eleitos, que obedecerão ao seu comando e expandirão o
séquito de sua glória. O nome “Rei dos reis e Senhor dos senhores”
(Apocalipse 19.16) não será, em sua mão, um título sem valor.
Do mesmo modo que a transgressão começou pela
desobediência, Ele, como o Obediente e o Justo, receberá de Deus
um reino que nunca lhe será tirado por força nem perdido por má
conduta.
Mas isso não prova que todos serão salvos? De modo nenhum!
(1) Refere-se somente aos aprovados que entram no dia milenar. (2)
Os anjos rebeldes serão lançados no abismo; os homens maus da
humanidade são extirpados da terra por julgamentos terríveis, antes
que o Salvador visivelmente tome o cetro sobre todos. O poder Dele
estará em execução, não somente para recompensar os amigos,
mas para punir os inimigos. O propósito singular daquela
dispensação é o de subjugar todos os poderes hostis a Deus; e o
último, como sabemos, é a própria morte (1Coríntios 15.26). (3) A
expressão usada “no céu e na terra” não está abrangendo os
espíritos que partiram, ou aqueles que foram confinados como
inimigos nas masmorras de Deus. Há uma terceira divisão de seres
mencionada em Filipenses 2.10: “Ao nome de Jesus se dobre todo
joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra”. Esta última divisão
está omitida do texto de Efésios. Em Apocalipse 20, aqueles não
encontrados no Livro da Vida são lançados no lado de fogo.
Naquele dia de galardão, nem mesmo todos os salvos entre os
homens irão então comparecer (Apocalipse 2.5). E acerca de uma
categoria de homens é declarado: “Quanto, porém, a esses meus
inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os
aqui e executai-os na minha presença” (Lucas 19.27).
Enquanto o Salvador não voltar, aquele dia não pode chegar, pois
Satanás ainda está livre, e cada vez mais poderoso, e nenhum
poder, senão o de Cristo, pode arremessá-lo dos lugares celestiais,
ou confiná-lo, juntamente com seus anjos, no abismo de tormento.
Até então, a restauração de todas as coisas falada pelos profetas
não pode ocorrer (Atos 3.21).
Este é o dia predeterminado por Deus para glorificar o Cristo, o
Filho do Homem, o Filho de Deus. Quando os reis ungidos pelo
Senhor, Davi e Salomão, reinaram em Jerusalém, houve um
vislumbre da glória vindoura. Jerusalém era a cidade central da
terra, a eleita de Jeová, o lugar do templo, do altar e da glória, para
a qual as tribos subiam para adorar, enquanto sua fama atraía
nobres e reis, que vinham visitá-la. O reino e a adoração foram, por
um breve espaço de tempo, uma coisa só.
Cristo é o Cabeça escolhido de Deus e centro de todas as coisas.
Leitor, ele é o seu centro? Ou você está lutando para tornar-se um
centro independente? Tais tentativas são insensatas e malignas.
Elas provam que uma vida inteira está errada em seus princípios; e
que essa pessoa é o tempo todo um rebelde perante Deus. “Beijai o
Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho” (Salmo
2.12). “Este é o meu Filho amado; a ele ouvi” (Marcos 9.7).
Todas as dispensações de Deus anteriores são uma preparação
para a futura. Então, os danos e a contenda vistos antes entre os
judeus, gentios e a igreja de Deus se tornarão em perfeição e união,
na autoridade do Senhor Jesus. Deus constituiu Cristo, Cabeça
sobre todas as coisas, para ser Cabeça da igreja, que é o seu corpo
(Efésios 1.22-23).
Agora é o tempo atarefado e penoso das dores de parto e do
arrependimento; mas o tempo de descanso e júbilo está próximo.
Mais adiante, nesta epístola, o dia milenar é mencionado como o
tempo do “reino de Cristo e de Deus”, o qual se deve ter cuidado
para não perder (Efésios 5.5-7). Será o tempo de Deus no governo,
dando a cada um de acordo com as suas obras; o tempo da
recompensa, de buscar aquilo para o que fomos chamados.

Ele, digo, no qual fomos também feitos herança,


predestinados segundo o propósito daquele que faz todas
as coisas conforme o conselho da sua vontade (Efésios
1.11).

Israel teve a sua herança sobre a terra concedida por sortes, na


época de Josué, depois que Moisés morreu. A área de terra era
realmente a designação de Deus das porções para cada tribo e para
cada indivíduo. Israel também era a herança escolhida de Deus
depois da redenção deles do Egito (Deuteronômio 9.26, 29; 32.9).

“Predestinados” (Efésios 1.11). Nossa herança final, como


aqueles escolhidos em Cristo, é certa. (1) Nossa filiação é dom de
Deus; (2) “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros”
(Romanos 8.17).
Mas, observe que há dois aspectos da herança: (1) há o dom do
eterno, dependente da nossa retenção da graça (Hebreus12.28); (2)
há “a recompensa da herança” (Colossenses 3.24). E somos
advertidos a não nos assemelharmos a Esaú em sua má conduta e
consequente perda da bênção, sem recuperação. Esta lição nos é
ensinada no mesmo capítulo da mesma epístola (Hebreus 12.16-
17). Portanto, Deus quer glorificar tanto a sua justiça ao distribuir
galardão no dia milenar, a cada um, de acordo com seus
merecimentos, como também sua bondade e graça, em dar a cada
crente, no fim, a herança eterna, independentemente dos seus
merecimentos, depois que os mil anos de recompensa terminarem.
Rendamos graças a Deus por sua copiosa graça para com os
indignos. Sejamos diligentes e cuidadosos, pois muito depende, no
dia que está próximo, de nossa diligência e obediência. O que diz a
Parábola dos Talentos?
Estamos no meio do plano perfeito de Deus, com o qual ele está
trabalhando em consumada sabedoria e poder. Ele nos revelou seu
projeto e deste modo nos mostrou como devemos trabalhar com ele,
para a glória dele e nossa. Não é um projeto arbitrário, como dizem
os homens, pois é fundamentado na sabedoria, e não é forjado de
modo extravagante ou desordenado.
É o “conselho da sua vontade [de Deus]” (Efésios 1.11). Deus tem
uma vontade realizada na sabedoria. Ela prevalecerá. Ela merece
ser estabelecida. É a mais sábia e a mais benéfica. Não poderia ser
alterada sem causar dano. O Altíssimo irá levá-la a cabo, a despeito
das artimanhas e da força dos demônios e dos homens.
Quatro vezes, nestes primeiros onze versículos, a vontade de
Deus é mencionada.

A fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que


de antemão esperamos em Cristo (Efésios 1.12).

Antes, no versículo 6, foi para “louvor da glória da sua graça;”


agora é para “louvor da sua glória”. A graça vem antes da glória. A
graça prepara o guerreiro para a batalha; a glória coroa o vitorioso.
A glória que Deus nos dará desta dispensação se reverterá para o
seu louvor. É apropriado que, aquele que ele designou, e com tal
custo e com tal paciência consumou seus grandes planos até o fim,
em completa glória, deva ter a honra que lhe é devida, tanto na
concepção, como na execução. Todas as coisas pertencem
primeiramente a Deus; quando os justos brilharem como o sol no
reino de seu Pai, eles e outros, os espectadores, deverão rastrear a
glória até sua origem. A grande multidão clama em alta voz: “Ao
nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a
salvação” (Apocalipse 7.10). Houve louvor a Deus, irrompendo dos
lábios angélicos, na criação, “quando as estrelas da alva, juntas,
alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus” (Jó
38.7). Muito mais louvor se levantará na redenção completada; na
redenção, que não será dilacerada, como se deu com a criação, por
astúcia de Satanás. Houve louvor a Deus, com música e dança, no
afogamento do exército do inimigo no mar Vermelho (Êxodo 15.20-
21)? Mais arrebatador será o louvor pelos milhões de almas
resgatadas, trazidas à existência triunfalmente das trevas, da
perdição e da maldição, para serem Filhos de Deus e herdeiros de
uma herança eterna e imaculada.
Então, desponta a nossa situação atual a caminho da glória.
Esperançosos em Cristo. Várias palavras associadas, tanto no
Antigo Testamento como no Novo Testamento, expressam esta
disposição da alma que descansa nas promessas de Deus para
Cristo. A elas é dito para esperar, confiar e aguardar. Nós nunca
vimos Aquele em quem temos esperança. Israel viu, mas não creu.
Eles zombaram do reino do Salvador e deixaram de ter esperança.
“Não temos rei, senão César!” (João 19.15). Somos abençoados
porque cremos sem ver, e esperamos, como consequência de
nossa confiança. O mundo está correndo atrás de coisas visíveis e
transitórias. Seu lema é: Um pássaro na mão! Ele tem que ter as
suas boas coisas, aqui e agora. Nós confiamos em Deus e no seu
Cristo. Esperamos pela volta e pelo reino do Salvador.
Foi profetizado que alguns teriam esta esperança durante o dia da
misericórdia. “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a
torcida que fumega, até que faça vencedor o juízo. E, no seu nome,
esperarão os gentios” (Mateus 12.20-21). E Paulo, em Romanos
15.12, menciona o Senhor Jesus como Aquele que se levanta para
governar os gentios, e os gentios, como os que esperam nele.
Também ele deseja que sejamos cheios de esperança, que traz
gozo e paz, através do poder do Espírito Santo.
De fato, nós, que cremos, necessitamos de algo para sustentar a
nossa fé. Pois seguir as palavras de Cristo e buscar o seu reino em
nossos dias é, no momento, um jogo cuja derrota é tida como certa.
Precisamos da paciência da fé para nos sustentar contra o escárnio
dos ímpios e a opressão dos maus.
Temos que esperar pelo reino, quando as almas no nome de
Cristo serão recompensadas, e os sofrimentos pelo Filho do Homem
se transformarão em honra. Quanto mais tivermos esta esperança,
mais seguro será o percurso da nossa embarcação pelas ondas
tempestuosas do momento. A esperança de nosso chamamento
repousa sobre Cristo. Agora é o momento da Sua graça e da fé nele
como o Sumo Sacerdote, perdoando e intercedendo no templo lá de
cima. É o dia da paciência de Deus e da paciência de seu povo
também. Cristo é paciente, esperando a hora do seu chamado para
reinar sobre o céu e a terra. Naquela hora e naquela volta se
apoiam a nossa esperança.
Israel a recusou. Sua incredulidade tomou muitas formas. Uma
delas merece ser observada. Eles se comprometeram com o
sábado de descanso, o descanso que eles foram constrangidos a
prover para Jeová, e que eles nunca haviam oferecido. Eles nem
descansaram em Jeová; nem Jeová, neles. Jesus veio com as
novas de um melhor sábado de descanso, a ser provido por Deus
para aqueles que cressem em seu Filho. Mas eles recusaram a
promessa e o dom pela graça. Não eram justos diante de Deus?
Não precisavam de um Salvador? Jesus lhes mostrou o egoísmo
deles. Eles criticaram os discípulos famintos quando estavam
comendo as espigas de trigo que haviam ceifado e debulhado. Mas
eles não as deram para comer, embora os Doze fossem os
seguidores da comitiva do Filho de Davi, o Senhor de Davi. Se
dependesse deles, eles violariam o sábado até se apenas uma
ovelha tivesse caído em um buraco.
Jesus prova a legitimidade da cura de um filho de Abraão em um
sábado, tanto por argumentos, como pelo poder do milagre operado
para curar. Mas, embora contestados, eles se apegam à lei e à
maldição. Eles não se curvarão à verdade. Em seu furor, tramam
contra o Filho de Deus para condená-lo à morte. Então ele se
mostra como o Senhor vindo em graça. Na situação em que Moisés
e Elias suplicaram por justiça sobre seus inimigos, ele simplesmente
se retira da presença deles. Aqui está a graça; nisto o Pai pode ter
prazer. Sobre este sustentáculo, o reino da glória pode vir!
Somos os primeiros esperançosos em Cristo. Depois que a igreja
for removida de seu lugar de testemunha, os discípulos de Cristo no
meio de Israel terão que confiar e esperar por Cristo. Pois severos
serão seus testes de fé nos dias da vingança, e nos dias de
blasfêmia e transgressão totalmente manifestas entre os homens.
Satanás, lançado para a terra, torna manifesta toda a sua
malignidade, porque ele sabe que seu tempo é curto (Apocalipse
12.12). Os Salmos e os Profetas estão cheios de testemunho
concernente àquele período sombrio. Então, ninguém, a não ser os
esperançosos em Cristo, poderão resistir. Ninguém, a não ser
Cristo, poderá livrar da fúria do furacão. Somente José, a quem
seus irmãos venderam e mataram, poderá livrar naqueles dias
perigosos. Duas vezes, nos Profetas, José é chamado “Esperança
de Israel” (Jeremias 14.8; 17.13). Meu leitor, você necessita de uma
esperança! Uma esperança que o guiará para fora do mundo e para
o serviço a Deus! Você já tem uma? O reino de Deus é a verdadeira
esperança.
Cristãos, que suas esperanças estejam em Cristo! Não nos
poderes do homem, não em suas promessas ou em seus
desempenhos! Não na grandiosidade, na bondade, no zelo, na
estabilidade da igreja! Satanás é o governante do mundo. E até que
ele seja colocado na prisão, vãs são as esperanças de felicidade,
segurança e santidade aqui na terra.
Até Cristo aparecer, seus servos serão rejeitados, exatamente na
proporção de sua fidelidade e semelhança com seu mestre. Esta
esperança, peça ao Espírito Santo para suprir em você, para
aprofundá-la e fazê-la dar frutos.
Meu leitor, tudo se refere à atitude de sua alma com respeito a
Cristo. Há, na realidade, somente dois estados de espírito a respeito
dele: “Hosana ao Filho de Davi!” ou “Crucifica-o!” (Mateus 21.15;
Marcos 15.13). Qual é o seu? Você é inimigo da cruz de Cristo?
Você não confessará Cristo com receio de ser lançado fora da
sinagoga?

Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da


verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele
também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa (Efésios 1.13).

Alguns acham que a doutrina da Trindade é um assunto distante e


abstrato; mais propriamente especulativo do que abstrato. Como
colocado nos Credos e Catecismos, pode assim parecer; mas, na fé
cristã, não se pode dar um passo sem ela. Em nome de quem é o
crente batizado? O evangelho é o plano do Pai, a execução é do
Filho e a administração aqui na terra é do Espírito Santo.
“Em quem” (Efésios 1.13). Com que frequência, meu leitor, você
supõe que as referências a Cristo ocorrem neste capítulo de vinte e
três versículos? E se eu lhe contasse que há mais referências do
que versículos? Localize-as.

“Depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da


vossa salvação” (Efésios 1.13). Paulo e Apolo foram os primeiros
a falar a palavra de Cristo em Éfeso. A palavra de Deus era falada
por inspiração. Agora não temos homens inspirados, mas um livro
inspirado. Por ele, devemos ser guiados. Contudo, com as palavras
escritas inspiradas e as palavras faladas não inspiradas são
suficientes para tornar conhecida a salvação.
O Espírito Santo, que inspirou os escritores a nos dar este livro,
conserva-o em nossas mãos e o aplica para a salvação dos eleitos
de Deus. Você crê nisso? Se não, você está crendo em alguma
falsidade de Satanás. Por que os homens que ouviram o evangelho
serão condenados no fim? Porque não creram na Palavra da
verdade. Se ela é verdadeira, se é o testemunho de Deus, por que
não crer nela? É Deus mentiroso para que os homens não possam
confiar em sua Palavra?

“O evangelho da vossa salvação” (Efésios 1.13). Muitos


compreendem que esta frase significa que o evangelho mostra
como ser salvo. É verdade. Mas onde existe a fé, já há a salvação.
Pois é uma palavra sobre a Pessoa do Salvador. Por duas vezes, o
capítulo seguinte assegura claramente a salvação dos que nele
creem. “[Deus] nos deu vida juntamente com Cristo — pela graça
sois salvos” (Efésios 2.5). O verbo alude ao passado. Não está
escrito: “Vós sereis salvos no dia do julgamento”. E novamente, no
versículo 8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé”.
É algo abençoado que a Palavra da verdade e o Espírito da
verdade testemunhem que nós crentes somos salvos. Mas, muitos,
enquanto dizem que creem, se lhes perguntassem: “Então, você é
salvo?”. Responderiam: “Ah, não! Eu não poderia ser tão
presunçoso para dizer tal coisa!”. Você quer dizer, então, que a
Salvação não é dom de Deus, mas uma compra; e você não pagou
uma soma suficiente de boas obras para assegurar que a comprou.
Isso demonstra que você está sobre terreno falso! Para você, a
salvação não é um dom de Deus superior e independentemente de
você merecer, o qual você aceitou; mas algo dependente de seus
méritos debaixo da lei. Muitos não têm a segurança da salvação,
porque não dão o passo evidente que Deus ordena como
consequência da fé. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo” (Mateus 28.19). “Quem crer e for batizado será salvo”
(Marcos 16.16). Eles creem, mas não dão o passo que assegura a
sua fé.
Deixem-me alertar, meus leitores, contra uma difamação
ritualística do evangelho. Um tratado, que tenho em minha posse,
escrito por um desses, diz que o evangelho que os evangélicos
pregam é: “Creia que você está salvo e você está salvo!”. Isso é
completamente falso! Nós, os evangélicos, afirmamos os pecados
de todos indistintamente; pecados que merecem condenação; e que
o único modo de salvação é através do perdão do pecado pelo
sangue de Jesus. Vá então a Cristo, o Salvador, e busca do perdão,
e ele lhe dará. “Vinde a mim, [...] e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28).
Muitos confiam em sua igreja, como a ela se referem. Mas Deus
não disse: “Depois que vocês ouviram a voz do sacerdote, vocês
entraram na verdadeira igreja, a igreja da sua salvação”. Não! Ele
diz: “A palavra da verdade [a Palavra de Deus], o evangelho da
vossa salvação” (Efésios 1.13).
Que grande misericórdia! Essa é a palavra da verdade que diz ao
crente que ele está salvo! Satanás, ao contrário, mentiu para Eva
quando lhe assegurou que a morte não viria após a ameaça de
Deus, e que somente a exaltação de si mesma viria depois de sua
desobediência. Preste atenção em quem você crê!

“Tendo nele também crido, fostes selados” (Efésios 1.13). A


fé vem primeiro; o selo (a autenticação), em seguida. Até que haja
fé, não há nenhuma verdade para selar o homem ou no homem.
Qual é o selo de Deus? Muitos o entendem como um sentimento
interior de certeza, ou algo parecido, alguma coisa conhecida
somente pelo próprio homem.
Ora, isso é da natureza de um selo? Quando você sela uma carta,
onde o selo é colocado? Dentro? E depois o cobre com o envelope?
Não; o selo é algo visível, é algo externo.
Tomemos como exemplo o proprietário de algum medicamento
valioso. Ele tem medo de imitações, de preparações enganosas. Ele
sela o frasco com seu selo. Onde ele o coloca? Dentro do frasco?
Não! Do lado de fora! Cuidado com imitações! Os dons milagrosos
do Espírito Santo foram concedidos depois do batismo, através da
imposição das mãos dos apóstolos.
Alguns falam que o batismo e a ceia são o selo. Não! Eles não
deixam nenhum vestígio. É possível, só de olhar para alguém, saber
se ele foi batizado ou recebeu a ceia?
Depois que Abraão creu e foi justificado, Deus colocou nele o
sinal e selo da circuncisão. Aquilo o marcou como o homem que foi
justificado perante Deus, o homem que vai possuir, na ressurreição,
a terra da Palestina.[5]
Os dons do Espírito Santo foram a assinatura de Deus colocada
sobre os crentes em Jesus, seu Filho. A isto, Pedro apela diante dos
incrédulos: “Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim
o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem” (Atos
5.32). Eles foram os recebedores de Deus e do seu Cristo,
esperançosos pelo dia de sua vinda. Já salvos (Romanos 5.1-2).
A história de Paulo em Éfeso, como contada em Atos 19, foi
projetada para confirmar esta visão. No versículo 1, Paulo encontra-
se com alguns discípulos, mas eles estão sem o dom do Espírito
Santo. Ele fica surpreso e pergunta como isso era possível. Eles
haviam crido? Eles haviam recebido o batismo de água, mas não o
batismo do Espírito? Sim; eles haviam apenas sido batizados por
imersão por João Batista. Ora, João confessou que ele não tinha
nenhum poder para conceder este selo de Deus ao crente. Mas o
Cristo, que viria depois dele, o faria. Tudo então estava explicado.
Então Paulo os estabeleceria em Cristo como Senhor. Eles
deveriam entender que João Batista era somente o precursor
enviado para preparar o caminho para Cristo. Eles, por essa razão,
confessaram Jesus, como Senhor, para Paulo. Por isso, ele os levou
a serem imersos em água. “E, impondo-lhe Paulo as mãos, veio
sobre eles o Espírito Santo” (Atos 19.6a). Ele já estava habitando
neles. Mas agora receberiam poder, junto com o selo do Deus vivo.
Como eles ou os outros sabiam disso? “E tanto falavam em línguas
como profetizavam” (Atos 19.6b). Este selo foi colocado sobre os
crentes daquela época após a fé. Era a promessa de Pedro para
aqueles que reconhecessem o senhorio de Cristo, por submeterem-
se ao batismo. Pois a promessa em Joel, que ele citou, foi dada a
todos os crentes, tanto judeus como gentios (Atos 2.38-39).

“Selados com o Espírito Santo da promessa” (Efésios 1.13).


1. O Pai fez esta promessa: “E, comendo com eles, determinou-
lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a
promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes” (Atos 1.4).
2. O Filho de Deus prometeu: “Mas recebereis poder, ao descer
sobre vós o Espírito Santo” (Atos 1.8). Isto foi prenunciado, também,
por nosso Senhor no final de Lucas 24.49: “Eis que envio sobre vós
a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do
alto sejais revestidos de poder”.
3. O Espírito Santo desceu no Pentecostes para este propósito.
Foi a primeira grande promessa que veio depois da mensagem de
João Batista a respeito da chegada do reino milenar: “Ele [não eu]
vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3.11). Isto se
cumpriu no Pentecostes. Foi o sinal da esperança deles na volta de
Cristo e no seu reino. No ensino de João (Mateus 3), o batismo de
água e do Espírito Santo estabelecem a diferença entre as árvores e
o eirado do Messias. As árvores são Israel e os gentios; o eirado,
uma mistura de trigo e palha, é a igreja de Cristo em sua presente
condição.
O Espírito Santo ainda dá testemunho do reino vindouro; mas,
naquele tempo, um selo foi colocado sobre os crentes, selo este que
não temos agora. Estamos agora, na melhor das hipóteses,
exatamente na condição dos santos em Samaria, quando foram
deixados por Filipe. Nós cremos e fomos batizados por imersão.
Mas o Espírito Santo não “caiu sobre nós”. E não há apóstolo para
enviar, que possa impor as mãos sobre nós, a fim de que
recebamos os dons de milagre. O Espírito que transmite esses
“poderes do tempo vindouro” (Hebreus 6.5) é o “Espírito Santo”.
Muitos espíritos do mal estão andando por aí, e alguns deles são
conselheiros de falsos profetas. Deles, recebemos advertência de
inúmeras maneiras na história do trabalho de Paulo em Éfeso. Muito
poderosos, também, eram alguns deles! Alguém, possuído por um
espírito maligno, espancou e expulsou da casa, nus e feridos, sete
homens! (Atos 19.16).
O Espírito Santo é também o Espírito da verdade. Ele sela “a
palavra da verdade [...] e [...] da salvação” (Efésios 1.13). Os
espíritos do engano são espíritos imundos, que levam os homens à
destruição e à perdição. “Pois todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus” (Romanos 8.14).
O dom veio após a fé e como consequência dela, mas não uma
consequência necessária, não uma consequência universal. Isto é
demonstrado pela pergunta de Paulo para os doze homens em
Éfeso: “Recebestes, porventura, [um][6] Espírito Santo quando
crestes?” (Atos 19.2). Ele se referia aos dons de milagre. Assim
também as respostas desses homens. João Batista prometeu os
dons como concessão de Cristo para aqueles batizados em água.
Mas estes não tinham nem ouvido falar da descida do Espírito
Santo, nem da comunicação desses dons em cumprimento à
palavra de João. Então Paulo, depois de ter requerido deles a fé em
Jesus como Senhor, como prova de submissão à autoridade divina,
administrou-lhes o batismo de imersão em água e depois concedeu-
lhes os dons como a bênção testificada por João, resultado da
ascensão do Salvador ao céu.
Esses dons eram geralmente concedidos por meio dos apóstolos.
Como não temos apóstolos em nossos dias, não temos este selo de
Deus. Você pode estar casado e, ainda assim, não ter uma certidão
de casamento! Neste particular, tomemos como exemplo uma colher
de prata. Mas está faltando a marca registrada, o selo colocado
sobre ela pela empresa autorizada Goldsmiths’ Company,[7] que
atesta que é prata.
Do que era que este selo de Deus testemunhava? Era o
testemunho de Deus. Este é um dos meus filhos. Este é um membro
de Cristo. Ele é um herdeiro da glória.
Era, como foi observado, a promessa do Pai (Lucas 24.49; Atos
1.4; 2.23), a aquisição do Filho; e o Espírito Santo afixou a marca. A
totalidade da Trindade santa está envolvida em cada passo da
nossa salvação.
Era uma prova da habitação de Deus no crente (1João 3.24; 4.1-
6, 13). A prova deve ser mais evidente do que o ponto principal a
ser provado.
A posse dos dons de milagre e de inspiração foi algo conhecido
pelo mundo, bem como pelo crente individual e pela assembleia da
qual ele era membro. Era uma prova para o mundo de que esta
religião não era obra da imaginação. Com a fé, veio o poder da
palavra ou da ação, ou ambos, que o homem não havia possuído
antes, enquanto era meramente filho de Adão nascido no mundo.
Ele obteve tal poder somente quando creu em Jesus, o segundo
Adão. Mas o mundo em geral, sim, e até Israel, estava cada vez
mais agitado contra os cristãos por causa deste seu poder. Veja o
aprisionamento dos Doze, pelos governantes, por causa dos seus
milagres (Atos 5.13-18). Exasperados pelo testemunho do Espírito
Santo através de Estevão, eles o mataram. Paulo é colocado na
prisão entre os gentios e sofre muitos açoites, porque interferiu
expulsando o demônio da escrava adivinhadora.
O dom era um encorajamento e uma certeza para a alma que o
recebia. É nisto que Pedro confia, quando os cristãos da circuncisão
contenderam com ele por quebrar a tradição da lei e por receber os
gentios, nas pessoas de Cornélio e seus amigos, através do
batismo. Seu argumento era: “Porventura, pode alguém recusar a
água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós,
receberam o Espírito Santo?” (Atos 10.47). Ele lhes deu, sem
circuncisão, o mesmo óleo de unção celestial do qual nos
orgulhamos. Ele veio para eles do alto, sobre a fé em Cristo, do
mesmo modo que veio para nós. Veja também seu testemunho:
“Havendo grande debate, Pedro tomou a palavra e lhes disse:
Irmãos, vós sabeis que, desde há muito, Deus me escolheu dentre
vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do
evangelho e cressem. Ora, Deus, que conhece os corações, lhes
deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também
a nós nos concedera” (Atos 15.7-8).

É
É “o Espírito Santo da promessa” (Efésios 1.13). Foi prometido
para Israel por meio de Isaías: “Porque derramarei água sobre o
sedento e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito
sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus
descendentes” (Isaías 44.3). Foi amplamente prometido para Israel
e para os servos de Deus desta dispensação, por meio de Joel,
como citado por Pedro: “E acontecerá nos últimos dias, diz o
Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e
sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as
minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e
profetizarão” (Atos 2.17-18).

1. No Novo Testamento, o Espírito Santo é prometido assim que


João Batista começa a proclamar o vindouro reino milenar de glória
(Mateus 3.11; Marcos 1.8; Lucas 3.16). Ele seria dado pelo Messias,
o Filho, quem unicamente tinha poder sobre o Espírito; e, portanto,
até que Jesus subisse aos céus, nenhum dom foi concedido aos
crentes.

2. Ele foi prometido pelo nosso Senhor mais de uma vez (João
7.37-39). Quando estava deixando a terra, Jesus testificou sobre o
Espírito para os Onze (Lucas 24.49; Atos 1.4). Eles só deveriam
espalhar a mensagem do evangelho depois que o Espírito Santo,
como o espírito de poder e de sabedoria, viesse sobre eles. Ele foi
apresentado como prêmio e sinal de perdão para aqueles que foram
tirados da incredulidade do mundo. Não sendo mais seus inimigos,
Ele se lembraria deles no seu reino.
Finalmente, Paulo não somente ensinava como apóstolo, mas, na
realidade, e como questão de história, ele o transmitia aos crentes
através da imposição de mãos.

O qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua


propriedade, em louvor da sua glória (Efésios 1.14).

A habitação do Espírito Santo está aqui declarada. Sem ela, não


há cristão (Romanos 8.9). Essa habitação faz com que o corpo do
crente se torne o templo do Espírito Santo (1Coríntios 6.19; 3.16-
17). Tome cuidado ao falar das influências do Espírito, como se ele
estivesse acima no céu e distante de nós, enviando sobre nós
somente alguns de seus raios, como faz o sol.
Há, então, duas operações do Espírito Santo: uma dentro e outra
sobre. (1) Devemos ter o Espírito Santo dentro de nós para sermos
filhos de Deus. Ele é o espírito de santificação. (2) Mas, no passado,
houve um espírito de poder sobrenatural enviado sobre aqueles que
já eram filhos de Deus, que tornava o homem um profeta, ou alguém
que curava, ou um agradável cantor para Deus. Esta segunda ação
nós não temos; deveríamos ter.
As duas juntas completam a mente de Deus. Um general tomou a
fortaleza do inimigo. Dentro, ele coloca uma guarnição para
defendê-la. Mas fora, ele também iça a bandeira de seu rei, para
que o mundo todo saiba da conquista.

“O penhor” (Efésios 1.14). O que é isso? É uma primeira


prestação de uma soma a ser paga. É oferecida por parte do
comprador. É aceita pelo vendedor. Traduzindo em palavras
simples, ela amarra a compra. Depois disso, o pagamento completo
deve se seguir ou a lei pode obtê-lo à força. A quantia de dinheiro
que o sargento de recrutamento dá ao recruta testifica que ele
concordou em se tornar soldado da rainha. Ele não pode, depois
disso, retirar-se e se recusar a cumprir sua parte do contrato. A
rainha, também, por sua vez, deve continuar a equipá-lo para a
guerra e dar-lhe alimento e salário. O homem pode recuar, mas o
Deus da verdade, não. Assim, a circuncisão fez do homem um
devedor que tem que cumprir toda a lei.
O penhor é parte do pagamento; de modo geral, da mesma
natureza daquele que virá. Uma propriedade é comprada. O
comprador apresenta uma nota de cinco libras. O vendedor aceita.
O contrato é feito e deve ser cumprido. Nosso penhor é algo divino
da herança celestial que está por vir. Mas, com frequência, há um
tempo a esperar antes que o comprador possa dar entrada na sua
compra. “Com posse imediata”, como você às vezes vê no anúncio
de uma propriedade, como recomendação especial ao comprador.
Mas conosco, vocês têm necessidade de paciência. Você tem a
promessa de Deus; mas, por enquanto, tem somente “o penhor da
[...] herança”.
Nós somos, através da fé em Cristo, “filhos de Deus”. Mas o
domínio de nosso Pai é imenso, e Ele o dividirá entre seus filhos.
“Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus
e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele
seremos glorificados” (Romanos 8.17).
Israel, ao aceitar a mensagem de Deus através de Moisés,
tornou-se, por direito, herdeiro da boa terra e da grande promessa
de Deus. Cada um tinha uma porção marcada para si, por sorte,
assim que a terra foi conquistada. Aqueles que saíram do Egito com
Moisés esperavam por esta promessa, como vemos em Números
16.14, embora a reivindicação tivesse depois fracassado. Eles
reprovaram Moisés, como não tendo cumprido sua palavra: “Nem
tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos
deste campos e vinhas em herança” (Números 16.14). Eles
convenientemente se esqueceram de que, por causa de sua própria
recusa em entrar, perderam o direito à sua propriedade e morreriam
no deserto, de modo que o erro não estava em Moisés, mas neles
próprios.
Há duas partes na herança do crente: (1) o dom da herança, que
é certo e é eterno (Mateus 19–20; Marcos 10, 17); (2) “o penhor da
[...] herança” ou o prêmio do reino milenar, pelo qual Cristo e seus
apóstolos constrangem-nos a trabalhar arduamente, e nos colocam
em temor de perder. “Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor
segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão
somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo
ao Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como
para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do
Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais
servindo; pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça
feita; e nisto não há acepção de pessoas” (Colossenses 3.22-25).
“Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino” (Mateus
25.34). E também em Efésios 5.5: “Sabei, pois, isto: nenhum
incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no
reino de Cristo e de Deus”.
Nós vamos herdar na ressurreição. Estes nossos corpos,
meramente mortais ou depositados na sepultura, são inadequados
para o reino da glória de Deus. Eles devem ser transformados.
Carne e sangue, como somos agora, não podem viver mil anos em
glória (1Coríntios 15).
Nossa herança não está na terra, mas é uma herança
incorruptível e imaculada, a qual não desvanece, mas está
reservada no céu (fora de nossa visão) para nós, que somos
mantidos pelo poder de Deus através da fé para a salvação, pronta
para ser revelada no último tempo.
É uma cidadania na cidade celestial, com nomes listados no “livro
da vida do Cordeiro”. Não pertencemos a Jerusalém, a escrava mãe
da terra, em servidão com seus filhos; mas à Jerusalém que está no
alto, a livre, e para sempre habitando na luz do sol do favor de
Deus.
Somos também herdeiros de seu novo Paraíso, o Éden do seu
presente ao segundo Adão, o Filho do seu amor. Nossos primeiros
pais fizeram-nos perder o Éden desta terra arruinada, e nenhum de
seus trabalhos árduos ou méritos poderia comprá-lo de volta. Mas o
segundo Adão o recuperou para sempre, trouxe de volta a árvore da
vida perdida, tirou da nova terra a maldição da esterilidade e a carga
de trabalho árduo imposto sobre Adão, o rebelde. O fruto da árvore
está disponível outra vez, para ser nosso alimento; e nós podemos
morar na presença de Deus sem medo, filhos aceitos para nunca
mais cair. Ali não haverá mais maldição.
O Espírito é o penhor do “resgate da sua propriedade” (Efésios
1.14).
Paulo poderia ter dito “o resgate da herança”. Mas, ao alterar a
frase, ele nos deu mais luz. Tudo é resumido nesta breve, mas
extremamente significativa epístola. O que é, então, “a
propriedade?”. Céu e terra. A herança vem livremente até nós. Mas
custou caro para Cristo. Era uma propriedade confiscada, perdida
pela desobediência de Adão, o primeiro arrendatário, que foi
colocado sob sentença de prisão perpétua. Por esta razão, aquele
que quisesse restaurar a propriedade perdida teria que comprá-la de
volta, teria que pagar o preço. E foi muito alto: “Havendo feito a paz
pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo
mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus”
(Colossenses 1.20).
Mas nós, diz o Espírito Santo, já somos reconciliados por meio do
corpo da carne de Cristo através da morte. O Salvador desceu à
morte com nossos pecados sobre si. Ele entrou na prisão designada
para os perdidos, depois de obedecer à lei na sua totalidade, de
acordo com suas exigências. Mas a morte não poderia reter o Justo.
Na terceira manhã, ele ressuscitou. O grande Parente Resgatador
pagou a dívida! Ele saiu da prisão em que foi lançado. O
comandante da corte do céu, descendo em seu esplendor, rompe o
selo da sentença da terra, remove a pedra da morte e coloca a
morte nos rebeldes que guardam a sepultura e que o deteriam lá!
Não, Cristo também ascende visivelmente ao céu! Deus deve estar
bem satisfeito com ele. Nenhum pecador pode habitar com o Santo.
Mas o Senhor Jesus está assentado à destra de Deus! Um homem
é o mais elevado de todos os seres, muito acima dos nobres do céu!
Ele é manifesto como o Filho de Deus na ressurreição e está
prestes a se revelar como o Cabeça e Rei sobre todas as coisas.
Mas, se é assim, como é que nós não entramos imediatamente na
herança, na propriedade?
Há duas razões principais: (1) uma, da parte de Deus; (2) outra,
tendo como referência Satanás.

1. Da parte de Deus, o tempo designado para a posse ainda não


chegou. Os herdeiros são menores de idade; eles estão sendo
educados antes de entrarem na propriedade. Alguns dos herdeiros
ainda não nasceram. O próprio Salvador é paciente. Ele sabe que o
reino será dele, mas espera pelo tempo do Pai.

2. A outra razão principal é que a propriedade caiu nas mãos de


inimigos, que mais prontamente lutarão do que desistirão dela. E o
fechamento da epístola nos fala que a igreja está e deve estar
sempre em guerra com esses inimigos, por todo o presente tempo
do mal. Satanás, como usurpador, ocupa a terra, e, como o anjo que
preside sobre os anjos caídos, mantém um lugar no céu. Então, a
herança, tanto a do céu como a da terra, deve ser arrancada com
força de suas mãos. Satanás é o grande inimigo de nosso Parente
Resgatador. Ele resistiu ao Senhor quando este apareceu como
homem e lutou para afastá-lo do Pai e de seus planos de redenção;
primeiro, por meio de subornos e depois através de ameaças. Mas
fracassou em ambos. Contudo, ele liderou tanto os judeus como os
gentios, levando o Redentor à morte em sua “hora e o poder das
trevas” (Lucas 22.53). E agora, como nosso adversário no céu, ele
aparece como o acusador do povo do Senhor. Sim, e se não fosse a
defesa de Cristo, nosso advogado, não prevaleceríamos.
Mas, finalmente, o tempo chega, a fim de que o Salvador receba o
comissionamento para reunir seus herdeiros para a herança deles.
O Filho de Deus, com um chamado em voz alta, acorda os que
dormem e convida-os a subir até o trono de Deus.
Satanás, então, vê que a crise é chegada. Estes que sobem não
serão autorizados a entrar pacificamente na herança dos lugares
celestiais, nem a mover o cetro sobre as nações abaixo. Ele resiste
através da força. Os anjos e seu arcanjo (há somente um) defendem
os filhos da ressurreição, os herdeiros legítimos. A batalha é
apertada, e é perdida por nosso adversário. Ele e seus anjos são
expulsos do céu, onde nunca mais entrarão (Apocalipse 12).
Então, segue-se uma explosão de júbilo dos anjos no reino de
Cristo, agora finalmente chegado em poder do céu, e depois de três
anos e meio de terrível pecado e aflição, determinado a triunfar
também na terra.
Há duas redenções:

1. A redenção da compra, o direito à propriedade. Esta foi há


muito tempo executada por Cristo. O preço foi seu sangue; o
alcance da herança, o céu e a terra.

2. Mas a redenção da posse, no caso em questão, somente


poderá ser realizada pela justiça em poder. E hoje é o dia de
misericórdia e da paciência de Deus para com os iníquos. Então,
Ele, que agora “não esmagará a cana quebrada” (Mateus 12.20),
enviará a justiça equipada em poder para a vitória.
Mais ainda, e nós mesmos estamos esperando pela plenitude da
filiação antes que possamos ser apresentados a Deus. Somos filhos
em espírito, mas ainda temos somente a velha roupa da prisão
sobre nós, “o nosso corpo de humilhação” (Filipenses 3.21). “O
corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito
é vida, por causa da justiça” (Romanos 8.10). Por isso, o Salvador
deve transformar-nos “num momento, num abrir e fechar de olhos,
ao ressoar da última trombeta” (1Coríntios 15.52). Estamos
“aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”
(Romanos 8.23). A vinda do Salvador produzirá os dois resultados
da bênção. A batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso nos
estabelecerá em nossa propriedade adquirida.

“Em louvor da sua glória” (Efésios 1.14). Deus foi tremendo


quando sentenciou a raça caída à morte, e ainda a mantém nessa
condição. Os mortos são seus prisioneiros. Somente seu poder
pode lhes dar vida. Esta será a sua glória. (1) Foi a glória de Deus
Pai, que foi mostrada ao ressuscitar seu Filho (Romanos 6). Foi pela
glória manifestada do Filho de Deus que Ele ressuscitou Lázaro da
sepultura. “Esta enfermidade não é para a morte, e sim para a glória
de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado” (João
11.4). E quando Marta teria impedido os passos daquela glória,
Jesus a repreende: “Não te disse eu que, se creres, verás a glória
de Deus?” (João 11.40).
Uma pequena extensão do brilho daquela luz na qual Deus habita
será colocada sobre nós, tão gloriosamente resgatados. “Eu lhes
tenho transmitido a glória que me tens dado” (João 17.22).
Estaremos para sempre brilhando, para a glória do amor e poder de
Deus, na eterna bem-aventurança que pertence ao Filho de Deus. E
todos nós veremos que somos amados como o próprio Filho de
Deus é (João 17). Nesta fantástica cena, Deus finalmente entrará
para o louvor e a glória que lhe são devidos: louvor e glória por tanto
tempo retidos.
Será também glória para Deus eliminar seus inimigos
blasfemadores. Eles foram muito longe em seus caminhos do mal,
por muito tempo insultaram a paciência divina. Mas a glória de Deus
finalmente os aprisionará e os derrotará para sempre. A paz
habitará em seu domínio por tanto tempo perturbado com guerras.
Seus filhos estarão em paz, livres do medo do mal. E o louvor
irromperá de seus lábios, e dos lábios dos anjos eleitos. “Glória a
Deus nas alturas, e paz na terra” (Lucas 2.14). O louvor, não nosso,
mas Dele. Deus não deixaria esquecido de quem é o desígnio e
pelo poder de quem a herança dos abençoados é alcançada.
O rei Henrique VIII, da Inglaterra, casou uma filha da família real
com um de seus favoritos, o duque de Brandon. O duque, após o
casamento, escreveu algumas linhas sobre a união inesperada e
gloriosa, reconhecendo sua indignidade para tal, e endereçando à
sua esposa também uma palavra de advertência.

“Brocado de ouro, não menosprezes,


Embora estejas unido ao tecido de lã rústica,
Tecido de lã rústica, não sejas por demais audacioso,
Embora estejas unido ao brocado de ouro!”.

Por isso, também eu, tendo ouvido da fé que há entre


vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos,
não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós
nas minhas orações (Efésios 1.15-16).

Novamente, observo que esta epístola, comumente intitulada “Aos


Efésios”, foi uma epístola circular endereçada não somente a Éfeso,
mas às assembleias de Cristo por todo o mundo. Além dos pontos
apresentados como prova, tanto externos como internos, eu
mencionaria que João foi instruído, em um tempo posterior, a enviar
epístolas para várias igrejas da Ásia; a primeira delas foi Éfeso, e a
última, Laodiceia, que está citada na epístola aos Colossenses.
Aquela epístola também trata da igreja.
Paulo, tendo ouvido da fé que eles tinham (Efésios 1.15), parece
deixar provável que ele não foi o fundador de algumas das igrejas a
quem esta carta foi enviada. Deste modo, Paulo diz aos crentes
colossenses, a quem ele não havia visto e de cuja assembleia
Epafras parece ter sido o fundador: “Quando oramos por vós, desde
que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus” (Colossenses 1.3b-4a).
Certamente, parece inexplicável que Paulo, que morou três anos em
Éfeso, devesse falar somente sobre ouvir de sua fé e amor. Mas ele
havia estado longe por vários anos. Mesmo assim, ele acrescentaria
à palavra “ouvimos” alguma palavra para explicar que não foi pela
primeira vez.
A fé não deve ser separada de seu objeto, Cristo Jesus. Ele é o
centro também do amor e da esperança, enquanto os santos são o
objeto do amor somente. Mas o amor cristão a todos envolve, pois
são eles membros de Cristo, quaisquer que sejam seus erros ou
defeitos. É a restrição das afeições, de modo a excluir alguns dos
escolhidos de Deus, que é o sectarismo. Paulo não fala da
esperança deles do modo como ele fala aos crentes
tessalonicenses: “Damos, sempre, graças a Deus por todos vós;
mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar, recordando-
nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da
abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em
nosso Senhor Jesus Cristo” (1Tessalonicenses 1.2-3). E isto pode
confirmar a nossa convicção a respeito do objeto da esperança
cristã. É aquele que ocorre tão visivelmente nas epístolas aos
Tessalonicenses: a vinda e o reino de nosso Senhor.
O amor do qual o apóstolo fala não é mera filantropia, os homens
que promovem o bem-estar como tal e para este presente mundo. É
uma nova afeição formada com esmero na alma dos regenerados
pelo Espírito Santo, uma prova de vida espiritual.
Paulo regozijou-se com a graça que lhes foi dada, e a localiza em
Deus como o Doador, ao contrário do agente do qual ele poderia ter
feito uso para conduzi-los a Cristo. Depois dos agradecimentos pela
graça concedida, ele também ora. Há uma contínua necessidade de
graça adicional no caminho para a glória.
Leitor, você dá graças? Ou murmura (resmunga) quando tem
provas? E se esquece de dar graças a Deus pelas muitas
misericórdias? Você ora? Para quem você ora?

Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da


glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no
pleno conhecimento dele (Efésios 1.17).

Deus seleciona dois aspectos sobre o Senhor Jesus, dependendo


como o consideramos, como o Filho do Homem ou como o Filho de
Deus. Como ele é o Filho do Homem, Jeová é o seu Deus. O
Salvador, por toda a sua história de vida, reconheceu-o como tal:
buscou seu direcionamento, foi guiado por sua Palavra, orou a Ele e
deu-lhe graças, submetendo-se à sua vontade. Ele brevemente, e
de modo visível, receberá glória e o reino das mãos de seu Deus.

“O Pai da glória” (Efésios 1.17). A expressão é singular. A


relação de Pai, adequadamente se vincula apenas aos filhos e
filhas. Mas glória não é um filho. Deus é, contudo, o original
possuidor da glória. Ele habita na luz, da qual nenhum filho do
homem pode se aproximar. Ele, graciosamente, confere glória sobre
quem ele deseja. Há dois tipos de glória: (1) Glória visível,
especialmente do corpo, quando os justos brilharão como o sol; e
(2) glória moral e espiritual, como, por exemplo, quando é escrito:
“Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa” (Lucas
14.10, ACF, que está mais de acordo com o original grego). É neste
último sentido que a expressão deve ser entendida aqui: como
quando diz que Deus é “o Pai das luzes” e “de toda consolação”
(Tiago 1.17; 2Coríntios 1.3). Nós estamos sendo convidados “para o
seu reino e glória” (1Tessalonicenses 2.12). Sim, para possuir um
pouco da glória que habitará em nosso Senhor Jesus Cristo
(2Tessalonicenses 2.14).
Paulo suplicou por estes crentes, para que Deus lhes desse, por
seu Espírito, sabedoria nas coisas de Deus e a descoberta de
verdades ainda não conhecidas por eles. O cristão, dotado de vida
em Cristo, deve buscar crescer tanto em graça como em
conhecimento. O Altíssimo faria de seus filhos pessoas inteligentes.
Não é de Deus que alguns digam: “Eu somente me interesso por
saber o tanto que é necessário para obter minha salvação; não
preciso de mais nada”. Isto está muito abaixo da meta que os filhos
de Deus deveriam almejar. A glória de Deus não representa nada
para nós? Não desejamos um lugar no reino milenar do Salvador?

“No pleno conhecimento dele” (Efésios 1.17). Há, na fé cristã,


dois grandes campos de conhecimento.

1. Aquele conhecimento de Deus que é exigido para sair do


mundo e de suas trevas e entrar na igreja de Cristo. O homem ouve
e crê na mensagem de Deus concernente ao perdão de pecados.
Ele a recebe e é batizado. Então, passa da “geração má”, ou do
mundo, para dentro da igreja de Cristo.

2. Mas, em seguida, começa o segundo grau de ensino, ou o


pleno conhecimento, apropriado ao crente. Após o dom de Deus ser
recebido, o crente deve avançar de modo inteligente, desejoso de
receber a aprovação de Cristo e de entrar no seu reino, que é o
prêmio colocado diante dele.
Nosso Senhor, portanto, distingue as duas partes de
conhecimento em sua comissão para os discípulos. “Ide, portanto,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os”. (Mateus 28.19a).
Em seguida, vem o segundo campo de instrução: “Ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28.20a).
E esta comissão começa a circular como resultado da ressurreição
de Jesus e da sua presente posse de toda a autoridade no céu e na
terra. Esta autoridade será brevemente manifestada na glória de seu
reino, e na recompensa de seus servos de acordo com suas obras.
O conhecimento da salvação é nosso ponto de partida. Você, que
tem a salvação, busca pelo reino?
De modo semelhante, fala o apóstolo aos crentes colossenses.
Ele havia ouvido falar de sua fé e de seu amor. Ele não estava
satisfeito? Não! Ele orava seriamente para que o Senhor lhes desse
“toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para
compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo”
(Colossenses 2.2b).
Assim também Pedro escreveu em sua Segunda Epístola.
Aqueles a quem ele escreveu tinham uma preciosa fé na justiça de
Cristo (2Pedro 1.1). Mas ele desejava que eles acrescentassem
todas as graças e boas obras à sua fé, no pleno conhecimento, para
que estas coisas pudessem ser abundantemente ministradas a eles
para a entrada naquele reino, do qual a transfiguração era a
amostra.
A graça vem primeiro, mas não é tudo. O tempo da graça é a
oportunidade de buscar a “glória” que está próxima, à mão.
Iluminados os olhos do vosso coração,[8] para saberdes
[1] qual é a esperança do seu chamamento, [2] qual a
riqueza da glória da sua herança nos santos; e [3] qual a
suprema grandeza do seu poder para com os que cremos
(Efésios 1.18-19a).

A autoridade suficiente do manuscrito comprova que deveríamos


ler “olhos do [...] coração”. As afeições do homem dominam sobre
seu entendimento. Do modo como seu coração está posicionado,
assim também sua vida será dirigida. Por natureza, os homens
estão cegos para Deus. Eles não veem aquele grande propósito que
deveria guiar toda a sua vida. Seu olhar não é exclusivamente
atento. Está colocado sobre as coisas do mundo. Está confinado por
objetos que desaparecem. E alguns, no fim, somente são
iluminados de maneira a perceber que toda a sua vida foi um erro,
gasta em vão e com coisas más.
Israel também, a despeito da superintendência de Deus em
ensiná-la, e de sua visível e diária presença de poder e de graça,
depois da miraculosa libertação do Egito, ficou como Moisés disse,
cego: “Porém o Senhor não vos deu coração para entender, nem
olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até o dia de hoje”
(Deuteronômio 29.4). E o próprio Jeová lamenta sua cegueira de
coração. “Quem dera que eles tivessem tal coração, que me
temessem e guardassem em todo o tempo todos os meus
mandamentos” (Deuteronômio 5.29).
Mas Deus dá, ao olhar atento, abundância de luz, de acordo com
a sua promessa.

Primeiro ponto: “Para saberdes qual é a esperança do seu


chamamento” (Ef 1.18). Do modo como há duas esferas de
entendimento, há também dois propósitos colocados diante de cada
cristão. A primeira instrução liga a posse da salvação, ou a vida
eterna, ao dom de Deus. Em seguida, vem a instrução própria do
crente, a esperança do reino de glória milenar. Portanto, Deus, em
sua sabedoria, trabalhou contra as tendências más, que são
encontradas até mesmo nos regenerados. Se a salvação é um dom
recebido imediatamente pela fé, então podemos viver como o
mundo e a carne nos ensinam. A resposta a isso é: Se você assim
fizer, perderá a esperança do seu chamamento, o prêmio colocado
diante de você.
O prêmio é algo que depende de nossa obediência e esforços. E
Paulo nos fala (Filipenses 3) sobre o fervor com que se moveu em
direção à meta colocada diante dele, à obtenção da primeira
ressurreição, ao reino de mil anos. Este homem intenso não ficou
paralisado com dificuldades, necessidades ou ferimentos pelo
caminho, não, nem com a própria morte, se ele pudesse somente
ganhar o prêmio do chamamento celestial.
Para isso, Deus está nos chamando (1Tessalonicenses 2.12). Isso
é o que Deus nos ordena buscar acima de todas as coisas (Mateus
6.33). Como uma esperança e como um prêmio podem ser perdidos
por conduta imprópria! Assim foi com Israel. Deus lhes deu a
esperança de boa terra e de abundância, prometida a seus pais;
mas por suas frequentes provocações, eles foram mortos no deserto
e nunca entraram na promessa (Hebreus 3.4; 1Coríntios 10).
O apóstolo, nesta epístola, ora pelos crentes, para que eles
possam saber qual é a esperança do seu chamamento. Ele fala
disso, também, aos crentes colossenses, como algo armazenado
em lugar elevado e olhando adiante, para outro tempo que não este,
até o “Dia de Cristo”, ainda por vir. Através do esquecimento desta
ordem de Deus, a maioria dos cristãos está fazendo da salvação a
sua esperança, ao invés de uma posse já existente. E, deste modo,
sem perceber o que Deus estabeleceria diante deles como o grande
propósito de vida, eles estão adotando o mundo como seu prêmio.
Eles estão buscando, com toda a sua força, ficar ricos, enquanto
nosso Senhor ensinou ao jovem rico a abrir mão da riqueza que
tinha e buscar a glória do reino que virá, em companhia de Cristo
mesmo (Mateus 19).
Portanto, a perda da esperança do reino enclausurou o significado
de porção apreciável do Novo Testamento. A esperança é
necessária para manter e aumentar as graças-irmãs da fé e do
amor. Com a esperança de Deus deixada de lado, muitos da igreja
de Cristo se enchem com presunçosas expectativas, as quais os
discípulos de Cristo estão perto de produzir; expectativas que, diária
e visivelmente, estão se afastando cada vez mais de serem
cumpridas.
Esta esperança do crente, já detentor da vida eterna em Cristo, é
de tanta importância que vou discorrer mais longamente sobre ela.
Ela nos é apresentada, então, de várias formas.

1. Em Filipenses 2, Paulo apresenta a glória que Cristo


conquistou através da humildade e obediência, e nos ordena a ter a
mesma mente que o Senhor. No capítulo 3, Paulo fala da sua
rejeição à sua antiga justiça própria como homem debaixo da lei,
para receber em seu lugar a justiça de Cristo, concedida por Deus
para ele, como a veste da ceia nupcial. E ele manda que os cristãos
filipenses trilhem em seus passos, do modo como ele estava
correndo pelo prêmio. “Todos, pois que somos perfeitos, tenhamos
este sentimento” (Filipenses 3.15). Pois Cristo está vindo do céu
para transformar o corpo da nossa humilhação em semelhança do
seu próprio corpo de glória.

2. Em Hebreus, o escritor nos exorta a agarrarmos firmemente a


esperança do nosso chamamento, e a aguardarmos o longo dia de
descanso do sábado que ainda chegará. Guardem-se de provocar a
Deus como fez Israel, caso contrário receberão o mesmo tratamento
daqueles que caíram no deserto debaixo do desagrado do Altíssimo
(Hebreus 3.4).

3. Em Apocalipse, o Salvador faz, aos vencedores entre os


crentes, promessas de se sentarem com ele em seu trono, e de
participarem no reinado sobre as nações, as quais o Pai lhe
designou. “Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu
lhe darei autoridade sobre as nações” (Apocalipse 2.26).
No reino vindouro de Cristo, as duas heranças, a da terra e a do
céu, serão igualmente vistas. A Velha Jerusalém e seu templo serão
o centro da herança terrena; a Nova Jerusalém do alto será o centro
da herança celestial. Haverá júbilo de glória, uma glória visível e
espiritual, uma morada na cidade da luz e de Deus, em corpos que
brilham acima do brilho do sol.
Todos os três pontos essenciais da oração referem-se ao nosso
entendimento das diferentes partes da obra de Deus, visto que
afetam Cristo e nós nele: (1) a esperança que Deus vinculou ao seu
chamamento celestial para nós; (2) a glória da sua herança nos
santos; (3) o poder que vem dele, tornado manifesto sobre as almas
mortas, para tirá-las de Adão, e para conceder-lhes vida e uma nova
herança no céu. Isto se refere ao nosso quinhão eterno, enquanto o
outro se relaciona com o prêmio temporário do nosso chamamento.
É Deus quem está nos chamando para uma pátria, uma cidade e
uma glória celestiais, como antes Ele chamou Israel do Egito para
Canaã, a boa região da terra (Hebreus 3.1). Nossa esperança,
então, se encontra além deste tempo e deste cenário. É a glória
com o Filho de Deus, exaltado a fim de subjugar todas as coisas
para seu Pai (2Timóteo 2). A redenção de Cristo está chamando um
povo peculiar, que está buscando a abençoada esperança, a
manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador Jesus
Cristo (Tito 2.13-14).

Segundo ponto: “Qual a riqueza da glória da sua herança nos


santos” (Efésios 1.18). A primeira pergunta aqui é: Paulo está
falando de (1) nossa herança em Deus ou (2) da herança de Deus
em nós? Deve-se responder da herança de Deus em nós.[9] É,
contudo, uma verdade irmã, que nós teremos e desfrutaremos de
uma herança. Podemos ilustrar a questão com as palavras de Deus
sobre o povo terreno.

1. Israel foi a nação de Deus, escolhida entre todas as nações, a


sua herança: “Mas o Senhor vos tomou e vos tirou da fornalha de
ferro do Egito, para que lhe sejais povo de herança, como hoje se
vê” (Deuteronômio 4.20; cf. 9.26; 32.9).

2. Mas Israel também teria a terra de Canaã por sua herança: “E a


terra que nos deste, como juraste a nossos pais” (Deuteronômio
26.15). “A estes se repartirá a terra em herança, segundo o censo”
(Números 26.53).

3. E, além disso, Levi não tinha herança na terra, porque “Deus é


a sua herança” (Deuteronômio 10.9). Ele foi sustentado pelos
impostos do povo de Deus. “Eu sou a tua porção e a tua herança no
meio dos filhos de Israel” (Números 18.20). Portanto, os crentes,
agora, são a herança de Deus, na qual estão as riquezas da glória
somente a serem conhecidas na ressurreição e na eternidade; não
somente a glória, mas as “riquezas da glória” (Efésios 1.18),
multiplicidade, abundância e continuidade. Portanto, esta palavra
está falando do quinhão eterno daqueles em Cristo. A glória estará
sobre nós e ao nosso redor. Nós também teremos uma herança. “O
vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será
filho” (Apocalipse 21.7). O Espírito é “o penhor da nossa herança,
até ao resgate da sua propriedade” (Efésios 1.14). “A palavra da sua
graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os
que são santificados” (Atos 20.32).
Observe aqui uma confirmação do outro ponto deste testamento.
Estas riquezas da herança gloriosa são para os santos, ou para
aqueles tirados do mundo profano da impiedade e injustiça, para
viver para Deus e seu Cristo. A justificação, ou a obra de Cristo,
está ligada à vida eterna e à sua herança eterna. A santificação, ou
a obra do Espírito Santo dentro de nós, está conectada com o reino
milenar e com a recompensa de sua herança.
Deus escolheu Israel para ser sua herança, como uma nação na
terra, possuidora de todas as bênçãos da carne (Deuteronômio
32.9). A igreja é um novo corpo, escolhido dentre Israel e as nações,
para ser o povo celestial de Deus, recebendo sua porção do alto,
como filhos de Deus; e se sofredores com Cristo, recebendo uma
porção, como “coerdeiros com Cristo”. Levi não teria herança na
terra como tinha o restante das tribos. Eles teriam Deus como sua
herança. Nisso, eles eram um tipo de nós. (1) Nós somos tanto a
herança de Deus nos céus quanto (2) Deus é a nossa herança.
“Ora, se somos filhos, somos também herdeiros” (Romanos 8.17).

E qual a suprema grandeza do seu poder para com os


que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o
qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os
mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares
celestiais (Efésios 1.19-20).
Terceiro ponto: “E qual a suprema grandeza do seu poder para
com os que cremos” (Efésios 1.19a). Este é o terceiro ponto da
oração do apóstolo ao Deus do Senhor Jesus, o Pai da glória. A
duplicação dos treze primeiros versículos deste capítulo é notável;
ela começa, creio, a partir dos dois nomes de Deus aqui
apresentados, e a partir da visão do Espírito Santo relativamente à
nossa posição, tanto da que é apresentada hoje no dia da graça
quanto do nosso lugar no futuro dia da glória.
Paulo queria que observássemos a grandeza do poder de Deus
ao produzir fé em nós, que por natureza éramos incrédulos e
inimigos de Deus, cativos da mentira de Satanás e cegos quanto ao
nosso lugar de condenação e ira. Nossos primeiros pais caíram
facilmente em incredulidade e inimizade. Mas depois de dar crédito
à mentira de Satanás com o coração, não é fácil crer na verdade de
Deus, que humilha e condena. Ora, a fé é o primeiro vínculo
necessário com Cristo. E isto, vemos aqui declarado, é produzido
por Deus.
Foi o poder do Altíssimo que deu a encarnação do Filho, mas isto
vai ser omitido aqui, agora que a igreja é o objeto. Ele é considerado
não como era em vida, o judeu circuncidado, o ministro da
circuncisão, mas o primeiro que ressuscitou dos mortos (Romanos
1.4; Atos 26.23; Mateus 27.52-53). Todos os que já haviam
ressuscitado viveram por um tempo e tornaram à sepultura. Grande
foi a fé do Salvador nos propósitos, poder e amor do seu Pai para
com ele, uma vez que ele deveria encontrar obstáculos que nunca
haviam sido vencidos antes, e em uma época em que tudo parecia
estar contra ele.
Ele conhecia a hora escura e a prenuncia aos discípulos
incrédulos. Mas Ele está confiante na glória que vai além da sua
ressurreição. “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu
Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as
suas obras” (Mateus 16.27). “Eles o matarão; mas, ao terceiro dia,
ressuscitará” (Mateus 17.23). “E digo-vos que, desta hora em diante,
não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de
beber, novo, convosco no reino de meu Pai” (Mateus 26.29; Lucas
22.15-30). “O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará
em meu nome” (João 14.26). Depois que o Pai realizar tudo isto, ele
nos chama para crermos nos grandes passos de sua salvação em
Cristo. Crer que Deus ressuscitou a Cristo dos mortos é essencial
para a salvação (Romanos 10.9). É o ponto no qual os crentes
diferem da geração perversa de incredulidade (Mateus 12.39, 45).
Israel, os maometanos e os infiéis geralmente negam este fato.
A fé nesta obra de Deus em Cristo é feita em nós pelo poder do
Todo-Poderoso. Todos os que são deixados aos cuidados da
natureza ou negligenciam ou recusam esse fato. É sobre o
fundamento da ressurreição do Senhor Jesus que a igreja é
edificada (Mateus 16). Cristo, como Aquele que obedeceu e se
humilhou, foi ressurreto da assembleia dos mortos para uma vida
indissolúvel e exaltada, para ocupar durante o milênio o lugar de
Deus. Enquanto Adão a si mesmo se exaltou e foi desobediente,
tem seu domínio invalidado, é lançado de volta para o pó do qual ele
veio.
Vamos comparar o caso do Salvador com o de Moisés? Moisés
nasceu sob a sentença de morte, e é colocado na água, o elemento
da destruição do mundo, de onde é resgatado para ser elevado na
casa do rei, como filho da filha de Faraó, o rei do Egito. Pela fé, ele
desiste daquela posição, mas é rejeitado por seus irmãos. Depois
de anos de teste, Deus o escolhe, o rejeitado, para ser governante
do povo que ele redimiu da escravidão.
Na segunda vez da apresentação de Moisés a Israel, e depois da
demonstração dos seus três milagres, a nação crê. Imediatamente
Deus interfere e resgata a nação, e ela se torna a assembleia de
Deus na terra, a mais importante das nações.[10] A assembleia
inteira das tribos sacrifica o cordeiro, celebra a Páscoa, é liberta e
se torna, no Sinai, o povo da aliança de Deus. Como consequência,
Jeová habita com eles em seu pavilhão real, construído para ele, de
acordo com seu projeto. O encontro com Deus no dia que a aliança
foi feita é chamado o dia da assembleia (Deuteronômio 9.10; 18.16).
Ela foi convocada por meio da trombeta de Deus na terra, como a
outra e melhor assembleia de Deus, que será reunida nos ares para
aquele que é maior do que Moisés (1Tessalonicenses 4).

E fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais,


acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio,
e de todo nome que se possa referir, não só no presente
século, mas também no vindouro. E pôs todas as coisas
debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as coisas (Efésios
1.20b-23).

A glória dada a Cristo lhe é devida. Ele ocupa o lugar de


eminência como aquele que foi imolado e que ressurgiu dentre os
mortos, acima da mais alta das dignidades angelicais.

1. Mas este é um teste dos anjos. Há dois grupos entre eles: os


desleais, que resistem e odeiam, são Satanás e seus anjos. Aquele
que tentou o homem no Éden tenta o Filho de Deus no deserto, até
querendo adoração para si; e é derrotado. Mas ele ainda guarda seu
ódio e incita judeus e gentios a matar o Senhor Jesus.

2. Há também os anjos eleitos, que conservaram sua lealdade e


prontamente se sujeitaram ao Senhor Jesus como superior a eles,
tanto pela natureza quanto por mérito. Esta é a cena que
encontramos em Apocalipse 5. Os vinte e quatro principais dos
anjos se prostram diante do Redentor. “Digno és de tomar o livro e
de abrir-lhe os selos, porque foste morto” (Apocalipse 5.9).
Os leais são encarregados por Cristo para, no instante presente,
ajudarem o seu povo (Hebreus 1), e eles vêm com ele como Rei dos
reis, para executarem as ordens dele.
Os merecimentos de Cristo por natureza e por seu mérito como
Filho do Homem são os fundamentos da dupla distinção aqui feita.
Como Filho do Homem, ele adquiriu um nome que é sobre todo
nome. (1) Assim, quando Faraó libertou o pobre e depressivo José
da masmorra para fazer dele o segundo homem em importância
daquele reino, Faraó deu-lhe um nome especial de honra, Zafenate-
Paneia. (2) Quando Nabucodonosor exaltou Daniel acima de todos
os seus servos, deu-lhe o nome de Beltessazar. (3) Deus deu a Davi
um nome como os grandes da terra, e pôs fim aos seus inimigos
diante de sua face.
Mas muito maior é a honra do Filho de Davi. Um Homem é agora
exaltado, não somente acima dos maiores dentre os grandes da
terra, mas acima dos resplandecentes imortais nas alturas. Aquele
que foi um dia o carpinteiro de Nazaré, o rejeitado e imolado na
cruz, é exaltado acima de todos; a Ele, em breve, todos os anjos de
Deus adorarão (Hebreus 1).
O apóstolo divide em duas partes o período durante o qual essa
glória será manifesta. O nome de Cristo é superior a qualquer outro.

“No presente século” (Efésios 1.21). Isto é, durante o tempo do


mistério, enquanto o Salvador, ocultado nas alturas, está reunindo a
igreja, seu corpo. Ele nos deu seu nome, proclamado publicamente
pelos crentes no batismo deles. Seu nome nos é dado como a
súplica por meio da qual nos aproximamos do Pai em oração. Ele
também nos concede seu nome como arma contra espíritos
desleais. “Em meu nome, expelirão demônios” (Marcos 16.17).
Portanto, quando José foi exaltado, o tempo do seu governo
naturalmente aconteceu em dois períodos: (1) os anos de
abundância, durante os quais ele estava colhendo e armazenando
os cereais; (2) os anos de fome, durante os quais ele estava
distribuindo os cereais para suprir as necessidades da nação.

1. Os sete anos de abundância se referem ao tempo presente, o


tempo aceitável, o dia da salvação, o ano aceitável do Senhor. Esta
era é maligna, como é em si mesma, ainda é o tempo das boas
novas, o tempo da obra do Espírito sobre a terra, e da reunião
daquela amada assembleia, a igreja de Deus.

2. Mas a Escritura também fala muito da era que virá. Será o dia
da glória para Cristo e para o seu povo, se aprovado por ele. É a era
dos mil anos, a manifestação do Filho de Deus e seus amigos, que
vêm com ele. Depois dos sofrimentos de Cristo, virá o tempo das
glórias.

“E pôs todas as coisas debaixo dos pés” (Efésios 1.22). O


poder do Altíssimo é necessário para Aquele que irá restaurar o que
está decaído, e derrubar pela força os poderosos que, como
inimigos de Deus e do seu povo, se opõem e resistem por tanto
tempo quanto for possível. Satanás e seus anjos precisam ser
expulsos do céu, antes que nós entremos em nossa habitação
celestial e nossa herança.
Em Apocalipse 12, vemos Satanás, depois que perdeu a batalha
contra os anjos eleitos, ser lançado do céu para a terra. Ali ele incita
as nações a entrarem em batalha contra Israel e os exércitos do
céu; isso depois que ele fez surgir o Anticristo, seu rei, para ser o
seu cabeça. O Salvador desce à terra, dá os filhos rebeldes dos
homens aos pássaros para que se banqueteiem com seus
cadáveres e aprisiona Satanás no abismo (Apocalipse 19.20).
No final, o diabo, solto por um breve tempo, levanta uma nova
rebelião entre os filhos dos homens. Mas o fogo, de um golpe,
consome os ímpios atacantes de Jerusalém, a cidade do Filho de
Davi. Satanás é, então, lançado para sempre no lago de fogo, onde,
durante os mil anos, o Falso Cristo e o Falso Profeta estiveram
antes de Satanás. Então, o fogo consome a habitação do homem, e
sua história é encerrada por uma sentença final para os perdidos e a
herança eterna para os salvos.

“E para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja”


(Efésios 1.22). Aqui está a nossa esperança, a dos salvos em
Cristo. Depois do dom da vida eterna, devemos buscar alcançar o
prêmio, a glória milenar.
Deus, como o Pai da glória, deu o Salvador para ser Cabeça
sobre todos. Esta recompensa ainda não é vista, mas somos
chamados para dar crédito a ela, conforme o desígnio de Deus,
antes que ela ocorra.
Isto foi mencionado para nós mais de uma vez no Livro de Deus
— a Bíblia.
Jeová Elohim formou o homem do pó da terra, soprou nele vida,
colocou-o no lindo Jardim, fez dele o governante sobre a terra e
seus animais. Mas uma coisa ainda estava faltando, uma
companheira para ajudá-lo e desfrutar com ele das bênçãos
concedidas. As criaturas da terra são trazidas diante dele para que
lhes dê nomes; mas entre elas nenhuma companheira adequada
para Adão é encontrada. Então, enquanto Adão está mergulhado
em profundo sono, o Altíssimo cria Eva de uma porção do próprio
Adão. Quando ela lhe é apresentada, Adão imediatamente discerne
sua superioridade sobre os animais e sua adequação a ele mesmo;
e dá a ela um nome descritivo da sua origem, que foi ele próprio.
Desta forma, vimos a glória de Cristo aqui apresentada como “o
cabeça sobre todas as coisas” (Efésios 1.22). Mas uma cabeça não
está completa sem um corpo. A igreja, assim, a assembleia, é a
nova Eva. Deus destinou seu Filho para ser “o primogênito entre
muitos irmãos” (Romanos 8.29). Outros, feitos como o Filho de
Deus, desfrutarão na ressurreição-glória da herança e da cidade de
Deus, em cujo domínio Cristo é o centro.
Esta é a primeira vez na epístola que a igreja é mencionada. É um
nome coletivo para os santos da presente dispensação. É a
consequência da fé na pregação das boas novas especiais, pelo
poder do Espírito Santo. Em Efésios 1.19, há uma observação sobre
a fé de indivíduos que, de tempos em tempos, são levados por Deus
a crer. Finalmente, apresentamos a grande questão do Evangelho, a
soma daqueles unidos a Cristo como membros do seu corpo e
colocados em sua eterna posição de glória em Cristo.

“A qual [i.e., a igreja] é o seu corpo” (Efésios 1.23). Em


consequência desse relacionamento íntimo com Cristo, a igreja
ocupa um lugar, glória e nome peculiares. A igreja nunca significa a
assembleia geral dos salvos. Israel nunca é mencionado como
estando em Cristo, nunca como o corpo do Messias. “O Senhor
reinará sobre eles no monte Sião” (Miqueias 4.7). A igreja não é
nominada até que o Salvador nos seja mostrado, exaltado na
ressureição, à destra de Deus, acima de todas as honras e glórias.
O Cabeça é ressurreto e celestial. A igreja participa agora do
chamamento celestial; e, da rejeição e aflições que sobrevieram ao
Salvador. Não há nenhum cabeça terreno para a igreja; ela é um
corpo celestial. Cristo, como o Cabeça, deve governar; a igreja deve
obedecer.

“O complemento[11] daquele que enche tudo em todas as


coisas” (Efésios 1.23, TB). Quem deverá formar o corpo do grande
Cabeça de todos? Esta foi a pergunta na mente de Deus. E ele
soberanamente escolheu dentro da abundância de sua graça.
Ignorou os anjos decaídos, seres muito superiores ao homem, para
formar, dos filhos decaídos de Adão, um corpo para seu Filho.

1. Assim, Eva foi o complemento de Adão, o último e o melhor dos


dons de Deus para sua criatura, uma associada no domínio sobre a
terra, sua companheira no Paraíso do plantio de Deus.

2. Desta forma, embora Isaque fosse herdeiro de todos os bens


de Abraão, seu pai viu por bem escolher para ele uma esposa, e
ignorou todas as filhas dos heteus que estavam à sua porta, para
tomar Rebeca de um lugar distante.

3. Também, quando Faraó elevou a autoridade de José acima de


todos os cortesãos e seus oficiais, ele completa seus favores, dando
a ele Asenate por esposa.
Em lugar elevado, como Eva estava acima dos animais que Adão
iria governar, assim também estará a igreja acima da criação. Ela
será o eterno objeto do amor do Filho de Deus. A criação foi
grandiosa, mas a glória da redenção a excede como o brilho do sol
excede o da lua.

“A plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”


(Efésios 1.23). Enquanto grande é a glória da igreja, o dom
soberano de Deus em vez de sua merecida ira, a glória do Filho
envolve o todo. Da plenitude do Filho, ela deve receber. Sua glória
brota do seu relacionamento com ele.
Enquanto vemos com admiração e adoração a graça de Deus
aqui demonstrada, não deixemos que uma verdade engula a outra.
A graça tem sua parte bendita, mas a recompensa de acordo com
as obras também tem seu lugar na mente de Deus e nos
ensinamentos do Novo Testamento. Quando aparecerá a glória da
igreja como corpo de Cristo?
A maioria concorda que a sua glória irromperá no advento do
Salvador. Ele vem, dizem eles, como o Noivo, e ele e a igreja juntos
reinarão a terra durante o milênio. Mas isto, tenho certeza, é um
equívoco. O milênio é o tempo da recompensa segundo as obras
(Apocalipse 22.12; 2.23, 26-27). O reino com Cristo é um prêmio a
ser dado àqueles, dentre os crentes, que são vencedores.
Muitos morrem e somente em seu leito de morte têm um olhar de
fé para Cristo. Muitos são servos inúteis; muitos estão buscando,
em oposição ao conselho do Salvador, os prêmios e riquezas do
mundo. Muitos nunca são batizados, muitos se casam com
incrédulos. Somente depois dos mil anos é que o livro da vida será
aberto. Então, muitos não considerados dignos de obter aquele
período de tempo e a primeira ressurreição entram, pela graça, na
vida eterna e na cidade eterna de Deus através dos nomes no livro
da vida.
CAPÍTULO DOIS
O CORPO

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos


delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o
curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar,
do espírito que agora atua nos filhos da desobediência
(Efésios 2.1-2).

O capítulo anterior nos mostrou o grande plano do Pai para dar ao


seu Filho eternos companheiros em sua glória e domínio. Eles se
tornariam filhos de Deus por adoção, para glorificar a graça e a
glória de Deus, perdoados, salvos, herdeiros do Altíssimo, selados
pelo seu Espírito, detentores de uma herança celestial e eterna.
Além disso, um prêmio a ser ganho foi colocado diante deles, sendo
eles exaltados acima das mais altas dignidades do céu e ligados ao
Filho de Deus, o governante de todos, por um laço peculiar, tal como
existe entre a cabeça e os membros do nosso corpo.
Em que lugar e condição, quando diante de Deus, foram
encontrados estes tão altamente favorecidos? O quadro, visto que
diz respeito a todos, tanto judeus como gentios, é terrível, ampliando
a graça do Altíssimo para com os salvos.

“Estando vós mortos nos vossos [...] pecados” (Efésios 2.1).


Mortos no que diz respeito a todos os sentimentos corretos para
com Deus. Amor a ele, de todo coração, é devido ao Criador e
Preservador de cada filho dos homens, feitos à sua imagem. Ao
invés disso, há não apenas a ausência de amor, como o princípio
condutor da vida, mas a inimizade. Não há gratidão a Deus pelas
misericórdias, nem obediência aos seus mandamentos, mas
desobediência vitalícia como resultado da inimizade. A inclinação de
cada um está de contínuo se mostrando em uma vida de pecado.
O ódio a Deus é a morte habitando para sempre na alma
(Romanos 8.7). É a condição de todo aquele que não é nascido de
novo. Esta morte espiritual manifesta-se externamente através de
obras más.
Deus considera inocentes os homens que estão espiritualmente
mortos? Não! Ele lhes ordena: Arrependam-se! Salvem-se! “Criai
em vós coração novo e espírito novo; pois, por que morreríeis?”
(Ezequiel 18.31). Isto é, se vocês continuarem em seus pecados e
morrerem neles, serei obrigado a derramar sobre vocês, como
criminosos, toda a minha ira! Eu não mudarei. Se quiserem ser
salvos, vocês devem mudar.
Como o Senhor descreve os homens aqui? Como filhos da
desobediência e, portanto, filhos da ira, merecendo receber o
julgamento de fogo do inferno. Não objetos de compaixão, como
pessoas simplesmente doentes. Que descrição breve e terrível é
dada aos pecadores? Mortos para Deus; vivos para o pecado,
sendo levados pela correnteza do tempo com o mundo, e guiados
pelo Maligno! Debaixo da condenação de Deus, somente poupados
por algum tempo, para ver se eles buscarão o perdão por meio de
Cristo. Os salvos da igreja são encontrados onde a sentença do
Éden e o domínio da consciência sob a lei os haviam deixado. Eles
se encontram sob o poder da serpente; culpados de atos de
transgressão; e, em lugar do amor, governados pelo ódio e se
encontrando debaixo da penalidade de uma lei violada. Por esta
razão, todos são condenados pela lei, sob a sentença de morte
como vassalos culpados.
Pela lei, um homem é condenado à morte por assassinato. Mas,
além disso, ele está (supõe-se) sob o poder de uma doença mortal
que rapidamente atingiu suas partes vitais. Tanto externa quanto
internamente, ele está morto: (1) morto por dentro e (2) morto pela
lei. Os homens são ativos e suficientemente vívidos no pecado,
embora para Deus estejam mortos, eles andam de acordo com o
mundo.

“Andastes outrora, segundo o curso deste mundo” (Efésios


2.2). Esta é a acusação de Deus contra eles. Filhos decaídos de
Adão estão todos se movendo na larga estrada da desobediência.
Cada homem no mundo confirma o outro em sua ansiedade pelas
coisas desta vida, e por sua negligência em relação aos
mandamentos, as promessas e as ameaças de Deus. Esta é a
condenação de qualquer um, que é um homem do mundo, vivendo
como milhões vivem, que por toda sua vida buscam agradar a si
mesmos, negligentes com o que Deus ameaça: vivem como se não
houvesse Deus e como se eles tivessem permissão para satisfazer
seu próprio prazer, habitar na terra para sempre sem qualquer
julgamento futuro.
O curso do mundo é contra Deus. Ele está excluído dos
pensamentos do mundo, dos seus compromissos com a literatura,
os negócios, o prazer. Os fazendeiros e os comerciantes não se
importam com o convite para as glórias do reino vindouro e
desafiam as ameaças de ira contra os rebeldes.
Muitos se consolam com aquilo que é aqui demonstrado como
acusação de Deus. Eles são tão bons quanto seus vizinhos. Nunca
tiveram o trabalho de perguntar se Deus se agrada de seus vizinhos
e se ele considera suficiente ser honesto e respeitável como a
maioria.
Mas, na visão de Deus, o mundo é mau. Se alguém deseja ser de
Cristo, deve sair do mundo. O mundo viu e odiou em Cristo tanto o
Pai como o Filho. O mundo não aceitará o Espírito Santo. Nos dias
de Noé, o mundo inteiro era mau e foi destruído por julgamento. O
mundo ainda é mau, e Cristo vem para julgar os vivos e os mortos.
Deus, embora nos trate com indulgência, nos diz que o homem é
totalmente mau.

“Segundo o príncipe da potestade do ar” (Efésios 2.2). Esse é


Satanás. Ele tem poder tanto sobre algumas partes da natureza
quanto também poder espiritual sobre os homens. (1) Seu poder
sobre o ar é visto na história de Jó. Quando Deus deu poder a
Satanás para tocar no que pertencia ao patriarca, imediatamente ele
enviou um redemoinho vindo do deserto, que atingiu os quatro
cantos da casa, derrubou-a sobre eles e matou todos os sete. (2)
Quando a tempestade atinge a embarcação em que Cristo estava
dormindo, para alarme dos marinheiros, pois a vida deles estava em
perigo, Jesus levanta-se e repreende os ventos e o mar. A mesma
palavra é usada pelos três evangelistas, a mesma que foi
empregada quando Jesus repreende o espírito mau que possuía o
jovem quando Jesus descia do monte da Transfiguração. (3) Paulo
deu testemunho de Cristo em Jerusalém, e ali Satanás levantou a
multidão contra ele, de modo que foi um milagre que ele escapasse
da fúria deles e dos quarenta conspiradores jurados contra a vida do
apóstolo. Jesus fala ao seu digno servo que ele deve dar
testemunho também em Roma. Como resultado de seu testemunho
em Jerusalém, Paulo é aprisionado e deve apelar para César em
Roma. Mas, entre Cesareia e Palestina e Roma, há uma extensa
travessia oceânica.
O que Satanás faz então para impedir uma visita apostólica tão
perigosa para seu império em Roma, o principal trono do seu
domínio na terra? Ele mostra rapidamente. Por toda a primeira parte
da viagem, o vento é contrário. Quando ele muda de direção, é uma
tempestade que, se não fosse pelo governo de Deus, teria lançado
todos os ocupantes do navio para o fundo do mar.
Assim, o curso deste mundo está em sintonia com a mente de
Satanás. No Apocalipse, ele é frequentemente mencionado como
aquele que está dirigindo as nações de acordo com a sua vontade
até que Cristo e seus aprovados — o Filho Varão — tirem dele à
força o cetro. Satanás é o principal inimigo do nosso Senhor. Cristo
foi manifestado a primeira vez para sofrer de modo preeminente
como a “semente da mulher”, nas mãos do diabo e do mundo,
levantado para ser ferido em seu calcanhar na cruz e na morte. E
agora está chegando o momento em que ele esmagará a cabeça da
serpente e golpeará o mundo que está sob a liderança de Satanás e
aliado contra ele.
As operações de Satanás sobre os decaídos correspondem às do
Espírito Santo sobre os regenerados. As concupiscências da carne
e dos olhos e a soberba da vida estão agora atuando como foi no
Éden. Israel, circuncidado na carne, era incircunciso no coração.
Seu poder espiritual sobre os homens logo será assegurado.

“O espírito que agora atua nos filhos da desobediência”


(Efésios 2.2). Atualmente, é costume entre muitos negar a
existência do diabo. Isso geralmente traz em si a negação da
personalidade e da ação do Espírito Santo. Se Satanás é somente a
personificação do princípio do mal, segue-se naturalmente que o
Espírito Santo é somente a personificação do princípio do bem.
Além disso, seria um pensamento desanimador para os homens do
mundo admitirem que seu líder, na busca de todas as vantagens do
momento, fosse apenas o diabo. Estão eles trabalhando na oficina
de Satanás? E debaixo de seus olhos? O quê? Terão eles que
receber sua paga finalmente?
Se Deus é verdadeiro e seu Filho e o Espírito Santo são mestres
da verdade, então há um poderoso espírito impedindo, com toda a
sua força, a verdade de Deus, cegando os olhos daqueles diante
dos quais Cristo está sendo apresentado, e endurecendo seus
corações para que eles não se voltem e creiam. Ou é o Espírito
Santo ou é o espírito maligno, meu caro leitor, que está agindo em
sua mente. Qual deles está?
O inimigo está agindo ininterruptamente nos “filhos da
desobediência” (Efésios 2.2). Satanás foi o líder da desobediência.
Ele é o pai de incontáveis filhos. Todos os que não obedecem a
Deus obedecem ao diabo. A desobediência é considerada
figurativamente o pai dos ímpios. “Vós sois do diabo, que é vosso
pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos” (João 8.44).
Mas os homens são lentos para crer em tais informações
malignas sobre eles mesmos e seus companheiros. E são
impacientes, e chamam o quadro de exagerado. Você não tem um
lado mais favorável para esse quadro escuro? Eu, alguém diria, sou
um bom marido, bom pai, bom cidadão, pago honestamente as
minhas contas. E tudo isso não vale nada?
Meu amigo, a verdade de Deus dá total acolhimento à integridade
de caráter de muitos dos não convertidos diante dos homens; eles
podem ser cordiais, bondosos, corretos, amados por suas famílias,
buscando o bem temporal de seus próximos com sincera
benevolência.
Mas, como eles estão diante de Deus?
O que você diz ao atual testemunho de Deus? É vacilante e
obscuro? Ou claro e sério?
“Filhos da desobediência”, em relação a Deus, estão mortos; em
sua atividade de vida, transgressores contra o Altíssimo, decidida e
continuamente, de manhã até à noite, da noite até à manhã.
Vamos tomar outro quadro de Deus sobre os filhos dos homens?
Então, vamos a Romanos 3.10-19:

Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há


quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se
extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem,
não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto;
com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus
lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura;
são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus
caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho
da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora,
sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz
para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável
perante Deus.

Você permite uma terceira descrição feita pela mão do próprio


Redentor dos homens? Então que seja Marcos 7.20-23:

E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina.


Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os
maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os
adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a
blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de
dentro e contaminam o homem.

Ele resume tudo em uma de Suas poderosas palavras: “Se vós,


que sois maus” (Mateus 7.11). Mas não há alguns que por natureza
são bons, Senhor? Jesus, que conhece o coração dos homens, não
conhece nenhum que seja bom. Somente aqueles que não formam
suas ideias a partir das aparências é que podem pensar assim. Não
há um justo que busque a Deus; não, nem um sequer!
Os homens imaginam que haja uma parte boa em cada homem,
na qual se pode trabalhar para levá-lo a vencer o mal; e com
educação, persuasão etc., trazê-lo à perfeição. A Palavra de Deus
não reconhece tal coisa. Ele tem que dizer ao mais legítimo exemplo
do próprio povo de Deus, Israel: “Se alguém não nascer do alto [e,
portanto, não nascer de novo], não pode ver o reino de Deus” (João
3.3). Cada um, por nascimento, filho do caído Adão, é semelhante a
seu pai, desobediente. Veja o quadro feito por Paulo em Romanos
5. (1) Seu testemunho confirma, pelo golpe do inflexível carrasco,
que prende suas correntes em cada filho do homem, como sendo
um criminoso. A morte, que não poupa nem mesmo a criança de
berço; morte, a sentença de uma lei violada. (2) E a vida de cada
um, até que o Filho de Deus seja recebido, dá testemunho da
verdade desse testemunho. Os homens estão cada vez mais sem
lei e prontos para culpar Deus, mais do que a si mesmos. A vida
deles, de oposição ao Senhor, mostra o coração da inimizade. Será
que os inimigos de Deus finalmente habitarão com ele e seus filhos?

Entre os quais também todos nós andamos outrora,


segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade
da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos
da ira, como também os demais (Efésios 2.3).

Nos versículos anteriores, o apóstolo está descrevendo a posição


dos gentios perante Deus. Os judeus eram superiores em alguns
pontos, em consequência dos graciosos arranjos de Deus. Eles não
estavam “sem Deus no mundo” (Efésios 2.12). Ao Altíssimo agradou
ensiná-los o que Lhe era agradável e o que Lhe era desagradável;
em reconhecê-los como seu povo, dizendo-lhes como servi-lo
diariamente; e em dar muitas promessas aos obedientes.
Mas este grande favor a Israel apenas mostrou maior pecado, de
um tipo diferente daquele dos gentios, é verdade, mas
profundamente detestável a ele. Deus pôs à prova a aparente
integridade do caráter religioso de Israel por meio de seu Filho, o
Amado do seu coração, e o ódio e a carnificina dirigidos por eles a
Ele demonstraram que eram filhos do Maligno. O próprio Paulo,
escritor da epístola, foi um dos mais ferozes contra o Amado de
Deus e contra os filhos de Deus. E ele reconhece isto absoluta e
sinceramente, como verdadeiro a seu respeito, bem como a respeito
dos gentios.
Ele, embora tão íntegro aparentemente, seguia os desejos do seu
coração caído e do seu entendimento obscurecido. Esta última
palavra chama particularmente a atenção para as atividades
reprovadas, com as quais muitos pensam não apenas que não há
problema, mas que os homens que delas se ocupam têm méritos
positivos.
O que você acha do homem da ciência? E da devoção da vida
dele em descobrir as perfeições da obra de Deus? E os homens das
artes? O músico, o escultor, o poeta? As ocupações deles são
malignas?
Em si mesmas, não! Mas como são ocupações de uma alma que
deu as costas para Deus, elas são más. As árvores do Éden eram
bonitas em si mesmas; mas, quando Adão e Eva buscaram se
abrigar debaixo delas, longe dos olhos de Deus, o ato foi errado; o
uso que eles fizeram do que era bom foi mau. A arte do ferreiro
Tubalcaim era má? A harpa e o órgão de Jubal eram pecado? Na
medida em que buscavam tornar o mundo feliz sem Deus, sim!

“Por natureza, filhos da ira” (Efésios 2.3). Isto é, (1) essencial e


regularmente oposto daquilo que é acidental; (2) o que trazemos ao
mundo no nascimento, não o que adquirimos em nossa passagem
por ele. A jovem perdiz e a jovem serpente vêm ao mundo com uma
natureza já definida. Essa natureza se manifesta à medida que a
vida se desenvolve, mas não muda. Assim, cada criança traz ao
mundo a natureza decaída derivada do Adão decaído. Deus criou o
primeiro homem à sua própria imagem (Gênesis 1.2; 5.1). Mas,
depois da queda, Adão “gerou um filho à sua semelhança, conforme
à sua imagem” (Gênesis 5.3). Paulo foi guiado à cidade dos
filósofos, amigos da sabedoria, a Atenas, e foi colocado em contato
com várias escolas de filosofia. Eles aceitaram imediatamente a
mensagem de Deus, descartando como sonhos seus inúteis
raciocínios? Claro que não! Olharam com desprezo para essa fala
ininteligível. Rejeitaram friamente os seus ensinamentos. A cidade
em que moravam era, mais do que qualquer outra, totalmente
entregue à idolatria (Atos 17.16). Eles confessam que Deus para
eles era desconhecido.

“Por natureza, filhos da ira” (Efésios 2.3). Por natureza, isto é,


assim que eles nascem, são simplesmente objetos do desagrado
divino. Quantos recusam esse testemunho de Deus! Eles imaginam
que as crianças são inocentes ao nascer, e que somente à medida
que crescem e são levadas para fora do caminho por ensino
impróprio e mau exemplo é que se tornam más e merecedoras da
condenação eterna. Podem muito bem dizer que os filhotes do lobo
têm uma natureza inofensiva e que seria injusto matá-los; que é
somente por verem o resto do bando caçar e devorar é que são
levados a fazer o mesmo.
Deus diz que a inimizade da natureza contra ele pertence sempre
ao homem decaído (Romanos 8.7). Ela não está sempre em
condição de se mostrar, mas, dê-lhe tempo e oportunidade e, em
tudo, ela é a mesma. Crianças criadas por pais piedosos, ensinadas
por preceitos da Escritura e por exemplos, vendo somente o que é
bom e protegidas do mal, mostram aversão a Deus e ao seu Cristo,
mau humor e más ações. Muitos, em vez de permanecerem em um
lar piedoso, correm para companheiros como eles mesmos.

“Filhos da ira” (Efésios 2.3). Merecendo a sentença de Deus de


serem expulsos de sua presença. Assim diz o Nono Artigo da Igreja
da Inglaterra e o Sexto Capítulo da Confissão de Westminster. Estes
são citados apenas para mostrar que esse é um artigo da crença
cristã comum.

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do


grande amor com que nos amou (Efésios 2.4).

Ora, se os homens são desobedientes, sim, mortos em pecado e


inimigos de Deus, de onde pode surgir a esperança? Somente de
Deus! Ele é rico em misericórdia. Ele olhou para os perdidos com
compaixão e, além de dar o seu Filho em favor do mundo, Ele
escolheu alguns que certamente seriam salvos. A compaixão de
Deus teve dois aspectos.

1. A presente infelicidade dos homens em pecado, e distância e


alienação do seu coração para com Deus, a fonte de bênçãos, em
vão buscando felicidade nas coisas criadas, é uma das causas de
sua compaixão.
2. A ira eterna vindoura, depois de pronunciado o julgamento, é a
segunda e pior. Deus deve defender a lei e a retidão, seja o que for
que os pecadores devam sofrer. Autor de leis, Ele deve impor a
penalidade. Ele deve manter a sua palavra e as ameaças dela, pois
Ele é o Deus da verdade.

Os transgressores das boas leis merecem a penalidade. E por


quanto tempo a penalidade de uma lei boa deve ser imposta? Ela
não pode cessar de maneira justa, até que, no mínimo, ela tenha
produzido o que a lei busca, a obediência. E a obediência não pode
ser aceita se não brotar do amor sincero a Deus. Mas, como podem
amá-Lo aqueles que estão mortos de coração, em inimizade com
Deus? Eles o odeiam mesmo agora, a despeito de todas as
misericórdias Dele, a despeito da oferta de perdão. “O pendor da
carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8.7).
Como, então, amá-Lo, quando estão nas chamas do inferno?
Quando a maldição agarrar o culpado, que não crê na aflição
vindoura? Deus sente compaixão, porque Ele vai executar os
terrores da sua justiça sobre os impenitentes e transgressores. Ele
os exorta, porque existe um escape; mas Ele exorta também,
porque, se não houver recepção de sua exortação agora, o final
eterno será terrível e sem escape. Ele é soberano e deve vingar as
leis justas e aplicar a penalidade ameaçada sobre os culpados,
porque Ele é o Deus da verdade. O que Ele falou, Ele há de cumprir.
O meu leitor não é perdoado? Seja persuadido a mudar enquanto
pode!

“Por causa do grande amor com que nos amou” (Efésios 2.4).
Compaixão diz respeito à remoção da aflição. E que grande
benefício seria se o sofrimento fosse removido e sua existência
fosse removida com ele.
Mas Deus tem amor também. Ele não está satisfeito com a
remoção da aflição. Ele concede bênção positiva e eterna aos
objetos de sua compaixão e favor. Quão grande é o amor que faz
dos escravos rebeldes, filhos, ligados por Ele ao seu divino Filho, o
Cabeça de toda a dignidade, mérito e exaltação.
“Do grande amor com que nos amou” (Efésios 2.4). Não foi o
amor genérico da compaixão de Deus pelo mundo culpado que
enviou a mensagem do Evangelho. Os homens podem tolerar o
amor de Deus por todos os homens igualmente, e a escolha de
alguns por causa da bondade deles. Mas a eleição da graça, por
meio da qual alguns, não sendo possuidores de qualquer
recomendação em si mesmos, são escolhidos para a vida eterna, é
odiosa aos olhos deles.
Aqui Paulo coloca os eleitos das nações, tanto judeus quanto
gentios, no mesmo patamar. Ele amou, não a vocês, como se só os
gentios precisassem, mas a nós. Nós estávamos mortos em nossas
transgressões.

E estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida


juntamente com Cristo — pela graça sois salvos (Efésios
2.5).

Como uma vida espiritual pode vir para aqueles que estão
espiritualmente mortos? Apenas de fora. Ela vem do Deus da
misericórdia, não por merecimento, mas como dádiva. Ela não
encontrou em nós nenhum movimento em direção ao que é bom.
Ela vem através da união com o Cristo, “Filho do Homem e Filho de
Deus”. Deus deu vida a Cristo, enquanto Ele estava entre os mortos
no Hades. Nós obtemos vida ao sermos unidos a Ele, que é a
ressurreição e a vida.
Aqui, encontramos três palavras compostas com “juntamente”: (1)
juntamente com Cristo, Ele nos deu vida (Efésios 2.5); (2)
juntamente com Cristo, Ele nos deu a ressurreição (Efésios 2.6a); e
(3) juntamente com Cristo, Ele nos deu um assento nos lugares
celestiais (Efésios 2.6b). Como a nossa primeira posição é morte em
relação a Deus, Ele, em misericórdia, primeiro nos concede vida. E
onde há vida espiritual, há salvação; não meramente um novo
julgamento com uma boa chance. Como dotados de vida espiritual
para com Deus em Cristo, a salvação já é nossa. Aqueles que estão
vivos para Deus viverão para sempre com Deus.
Muitos são lentos para crer em coisas grandiosas tais como o
amor de Deus para conosco. Eles acham que os homens são
somente colocados em um julgamento vantajoso, para ganhar a
salvação por meio de boas obras. Citam com aprovação, como que
expressando suas opiniões, o versículo: “Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”
(Atos 2.47). “É o particípio presente”, dizem eles. Mas o que você
diz dos dois particípios presentes em Efésios? “Pela graça sois
salvos [e vós continuais assim]” (Efésios 2.5). “Pela graça sois
salvos, mediante a fé” (Efésios 2.8). Que os salvos deem toda a
glória à graça! À graça de Deus! A carne do homem não tem
nenhum proveito.

E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez


assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Efésios
2.6).

A ressurreição do Salvador é agora considerada como a


ressurreição do Cristo místico, Cabeça e corpo juntos, vistos como
um só, por Aquele que “vivifica os mortos e chama à existência as
coisas que não existem” (Romanos 4.17). Quando Pedro restaura a
vida de Tabita, ela abre os olhos, embora ainda em atitude de morte.
Em seguida, ela se senta. Então, Pedro lhe dá a mão e a levanta.
Não foi assim com Israel. Eles eram carne caída, testados na
terra sob Moisés e pela lei. Um grande livramento lhes foi concedido
por Deus para ver se seriam movidos pelo amor. Uma terrível visão
da solenidade de Jeová como Juiz da lei foi então dada para fazê-
los ter medo de pecar. Mas o coração mau deles, a despeito da
misericórdia e do julgamento, mostrou-se em idolatria; e foi
condenado por seus atos públicos, desobedientes às primeiras leis
que deveriam refrear uma criatura. São os gentios melhores do que
os judeus? Não! Todos são da mesma massa.
Em Adão, fomos feitos para a morte e para o pó e escravidão da
sepultura. Em Cristo, os crentes ressuscitam dos mortos e estão
caminhando para a ressurreição e para a glória eterna na presença
de Deus.
Os passos estão aqui delineados para nós. Estávamos deitados
como na sepultura, em posição de morte; o ato de nos levantarmos
é resultado da vida transmitida. Assim, em Ezequiel 37, lemos sobre
a grande quantidade de ossos secos jazendo no vale. O Senhor diz:
“Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. [...] O espírito
entrou neles, e viveram e se puseram em pé. [...] Porei em vós o
meu Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria terra”
(Ezequiel 37.5, 10, 14). Aqui está a ressurreição da maneira que ela
afeta os mortos de Israel. Porém, não os coloca nos lugares
celestiais, mas em sua própria terra do mundo (Mateus 27.52-53).
Nossa sessão com Cristo nos lugares celestiais é a grandiosa
peculiaridade da epístola aos Efésios. Em Cristo, nosso Cabeça,
nós, crentes, membros do seu corpo, estamos assentados com Ele
nas alturas. Um tipo dessa posição foi apresentado no Antigo
Testamento quando, depois que a aliança foi feita com Israel,
Moisés, como Mediador, guiou, pelo comando de Deus, setenta
anciãos à presença de Jeová no monte Horebe. Eles se assentaram
à mesa diante de Deus (Êxodo 24) e receberam a ordem de
permanecer ali. Este nível mais elevado, concedido pela graça, era
algo que eles deveriam reter; mas logo eles fugiram e voltaram para
suas tendas no vale abaixo.
Nós estamos assentados nos lugares celestiais em Cristo Jesus,
ainda não assentados com Abraão, Isaque e Jacó no reino; nem
com Cristo, de acordo com a sua promessa.

Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza


da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus
(Efésios 2.7).

Observemos que não diz “no século vindouro”, mas “nos séculos
vindouros”. Isto teria mostrado que a glória milenar foi algo
concedido a todos os crentes. Mas o dia milenar é de recompensa
pelas obras, enquanto os séculos seguintes são da graça. Deste
modo, testifica o livro da vida, produzido depois que o milênio tiver
terminado, quando o restante dos mortos, não considerados dignos
do reino, ressuscitarem. Haverá mudanças nos tempos da
eternidade, mas nenhuma variação na misericórdia e no amor de
Deus para com aqueles amados por Deus em Cristo. Nós somos
estabelecidos em Cristo por meio da graça e do amor de Deus. Há
um tempo omitido, o milênio, no qual Cristo recompensa cada um
“conforme as suas obras” (Mateus 16.27; Apocalipse 22.12).
Mas, os tempos sem fim da eternidade, ondas de um mar infinito
fluirão para nós em graça. Pertencemos ao céu e a Cristo, não mais
a Adão nem à sua terra ou à busca do “dia do homem”. Somos
homens de fé, aguardando o cumprimento da Palavra de Deus; e,
em consequência, somos rejeitados pelo mundo e pelos homens
racionais.
“O dom gratuito de Deus é a vida eterna” (Romanos 6.23). E a
eternidade será um campo grande o suficiente para mostrar os
tesouros da graça. Tudo isto se volta para nossa união com Cristo,
seu Amado Filho. O amor de Deus para com o Cabeça fluirá em
novas visitações de bondade aos membros do seu corpo, a igreja.

“Em Cristo Jesus” (Efésios 2.7). Este é o canal aberto através


do qual a graça flui continuamente. Meu leitor, você já entrou nesse
canal?

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não


vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que
ninguém se glorie (Efésios 2.8-9).

“Pela graça” (Efésios 2.8). Da parte de Deus, em oposição a


qualquer necessidade que se encontre nele, e oposta a qualquer
mérito da parte do homem. Os pecadores merecem sofrer e jamais
deixarão de merecer sofrer. Deus pode deixar o pecador por conta
de sua própria escolha, isto é, perecer em seus pecados. A perdição
é o resultado justo da violação da lei de Deus, exatamente como o
roubo é punido com prisão e algemas. O homem não tem nenhum
direito à salvação vinda de Deus. Deus tem fortes alegações contra
o homem.
A graça de Deus não salva universalmente, onde quer que as
boas novas cheguem. O homem aceitará o perdão? Ou não lhe dará
crédito? A fé é o meio para a salvação. Ela crê no que Deus diz. A
incredulidade insulta a Deus, como se ele não fosse fazer o que
disse que faria.
Nem a fé, nem o seu resultado, a salvação, vêm de vocês. Ela
está (1) em sua origem, dentro da bondade de Deus; (2) o meio
para recebê-la é a fé; (3) em sua natureza, ela não é merecimento
do homem, mas dom de Deus.
O homem é o rebelde culpado? É adequado que ele se orgulhe
da sua bondade e poder? Deus cuidou para que não fosse assim.
Para aquele que está salvo, ele deve aprender (1) humildade
através de uma visão de seus deméritos; (2) gratidão ao Deus que
salva. “Mas, pela graça de Deus, ali vai John Bradford”, falou um
dos mártires da rainha Mary ao ver um criminoso ser conduzido para
a execução.[12]
A salvação é contrária ao nosso demérito, pois tanto as obras das
mãos, quanto o espírito interior do homem, são maus. Portanto, a
graça é o princípio da parte de Deus; a fé é o princípio da nossa
parte.
Então, não é o mérito da fé que nos salva? Não há nenhum mérito
na fé. A fé é o meio da salvação; não o seu preço. Não é a mão
cheia que paga a Deus tudo o que Lhe é devido; mas a mão vazia
que recebe de Deus a salvação, contra seus merecimentos. Existe
algum mérito em se estender a mão para pegar uma nota de dez
libras?
Mas será que não podemos, pelo menos, tomar para nós o crédito
da fé como algo suprido por nós no chamado de Deus? Não! A
incredulidade é a única erva daninha que brota, por natureza, de um
solo estéril de inimizade contra o Senhor. Onde pode estar a
bondade de alguém que está morto para Deus? A própria fé é uma
dádiva de Deus.
Há muita necessidade de que este ensino seja ministrado aos
escolhidos de Deus. O orgulho é uma planta que se autopropaga e
que facilmente brota no solo nativo de um coração decaído. Deste
modo, Moisés teve que ensinar os primeiros dentre o povo de Deus.
Eles tiveram que aprender dos lábios de Moisés, recitando seus
pecados, que não seria nenhuma virtude de sua parte dar a terra
prometida para a nação de dura cerviz. “Rebeldes fostes contra o
Senhor, desde o dia em que vos conheci” (Deuteronômio 9.24).
Apesar da dura revelação do pecado e da ira com os quais o
segundo capítulo dessa epístola se inicia, a alma de cada homem é
inclinada a se exaltar com pensamentos de sua própria excelência.
Esta disposição para vangloriar-se é propósito de Deus subjugar. A
criatura não decaída não deve se vangloriar na presença Dele,
quanto mais a natureza humana que se encontra sob sentença de
morte!

Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para


boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas (Efésios 2.10).

Anteriormente, nos versículos 8 e 9, tivemos “[vós] sois salvos” e


“não vem de vós”. Mas agora Paulo coloca a si mesmo e os gentios
em igual nível. “Nós” estamos olhando para a salvação como vinda
totalmente da parte de Deus e, portanto, concluída.

“Somos feitura dele” (Efésios 2.10). Aqui há uma referência à


história de Adão. “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea” (Gênesis 2.18). “E a costela que o
Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher”
(Gênesis 2.22). Há também uma referência em Jeremias 18.4:
“Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão,
tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu”.
Tão gravemente caído é o homem que nenhuma obra parcial,
nenhum meio de graça exterior a ele será suficiente. Ele deve ser
gerado de novo, criado de novo. Racionalidade e persuasão e a
pretensão à justiça de Deus não têm eficácia.
Até que o Senhor nos tenha feito de novo, nenhuma obra nossa é
boa diante Dele. O que nós precisamos é de nova criação. Quão
mais profundos são os pensamentos de Deus do que os nossos,
sobre nossa total pecaminosidade e completa ruína! Boas obras não
salvam; elas somente brotam de alguém que já é salvo.
Aqui temos o lugar que Deus dá às boas obras. Os homens
esperam ser salvos por meio das boas obras. É um pensamento
tolo! Tão sem fundamento quanto produzir abacaxi de um pinheiro!
Você tem que mudar a árvore por dentro antes que o fruto seja
alterado.
“Criados em Cristo Jesus” (Efésios 2.10). Aqui está a primeira
nota na epístola sobre a nova criação. Se alguém está em Cristo, é
nova criação (2Coríntios 5.17; Gálatas 6.15). O velho homem foi
moldado do pó (Gênesis 2.7). A nova criatura está em Cristo, o
ressurreto. O primeiro Adão foi colocado no jardim do Éden para
cultivá-lo e guardá-lo. Nós somos criados para as boas obras de
uma classe nova. Elas não se iniciam enquanto não formos
regenerados pelo Espírito Santo.
É uma nova criação em Cristo Jesus. Este é um grande avanço
sobre a velha. “Então formou [moldou] o Senhor Deus ao homem do
pó da terra” (Gênesis 2.7). Lá, o material do qual o homem foi
moldado é apresentado. Aqui, novamente temos um lembrete sobre
a única fonte do bem para o homem perdido. Não pode haver boas
obras enquanto a alma estiver morta para Deus.
O plano para a nova criação de Deus é a produção de boas
obras. Embora a salvação não seja obtida por meio de troca, ainda
assim Deus deseja e projeta boas obras. A lei as exigia do homem
caído, mas nenhuma delas era futura. Agora Ele dá aquilo que Ele
exigiu antes; ou melhor, como o Doador da graça, Ele requer que as
boas obras sigam a graça concedida.
Mas isto não prova que o Altíssimo não tem nenhuma justa
reivindicação por boas obras daqueles mortos em pecado? Eles
apenas brotam da graça, como então poderão resultar dos não
regenerados? Que elas não surgirão a não ser daqueles renovados
pelo Espírito Santo, é verdade. Mas as reivindicações de Deus por
obediência não se apoiam nas suas dádivas para o homem, as
quais ele pode reter ou conceder, como lhe aprouver.
Ló, depois que soube que Sodoma seria queimada, ainda hesitou
em deixar a cidade culpada, relutante em abandonar sua riqueza
condenada. Os anjos foram obrigados a tomá-lo pela mão e
conduzi-lo para fora. Sua santidade e sua fuga foram atribuídas à
graça, mas Jeová considerou os homens pecaminosos de Sodoma
como inocentes? Por causa de sua total iniquidade, Ele os
considerou como objetos inadequados para sua vingança? Aqueles
resgatados da cidade do pecado escaparam contra aquilo que
mereciam. Os que foram consumidos na cidade receberam de
acordo com a justa penalidade por seu pecado.
“Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”
(Efésios 2.10). Este versículo anuncia que o estilo das boas obras
de acordo com o evangelho é diferente daquele orientado por
Moisés. É a verdade. O Salvador, no Sermão do Monte, faz
distinção entre as obras de justiça debaixo da lei e as obras de
misericórdia debaixo do evangelho. Cada crente tem uma esfera de
ação para serviço, e as direções nas quais ele deve se mover já
foram delineadas para ele.
Consideremos agora o paralelo entre o final do capítulo 1,
versículos 19-23, e o começo do capítulo 2, versículos 1-10.
Na primeira dessas passagens, temos a obra de Deus a respeito
de Cristo; na segunda, a sua obra em nós.

1. Ele manifestou seu poder onipotente sobre o Cristo para


ressuscitá-Lo dentre os mortos, para quem Cristo havia descido
quando o pecado veio sobre Ele. É notável que o Salvador não seja
mencionado nesta epístola como vivo na terra, mas é encontrado
entre os mortos. Sua morte foi a separação do corpo e da alma por
julgamento: a morte, de onde os santos são agora levantados, é a
morte espiritual por causa de terem se alienado de Deus. A morte
do Salvador teve como origem o pecado dos homens imputados a
Ele. Ele se humilhou para suportar a morte que nós merecíamos
para que Ele pudesse nos elevar aos céus de acordo com os
merecimentos Dele. Foi um notável passo Deus ter elevado o Filho
daquele lugar dos mortos e tê-Lo transportado para a terra
novamente.

2. “Fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais” (Efésios


1.20). Ele o fez sair da terra para o céu e ali ocupar o lugar mais
elevado. Ele O exaltou acima daqueles que ocupavam as mais altas
posições entre os anjos não caídos; sim, acima “de todo nome que
se possa referir, não só no presente século, mas também no
vindouro” (Efésios 1.21). Como devemos entender isso? Creio que
se refere à promoção alcançada por qualquer pessoa. Assim lemos
sobre Davi: “Ganhou Davi renome, quando, ao voltar de ferir os
siros, matou dezoito mil homens no vale do Sal” (2Samuel 8.13). E
Deus disse: “E fiz grande o teu poder, como só os grandes têm na
terra” (2Samuel 7.9). “Pelo que também Deus o exaltou [Cristo]
sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome”
(Filipenses 2.9). Foi, como está declarado, a recompensa pelos
méritos de Cristo.
A duração desse nome supereminente estende-se através desta
era e da era milenar. Nesta era, Cristo está sustentando seu povo
quanto às necessidades deles, por sua intercessão nas alturas. Na
era vindoura, Ele deverá recompensar cada um de acordo com suas
obras. Ele aparecerá como o Filho do Homem, debaixo de cujos pés
todas as coisas se sujeitarão. A era presente, como se a nós, seu
povo, é o tempo de ganhar conhecimento e de fazer boas obras
para as quais ele nos chama. A era milenar vindoura é a esperança
do nosso chamamento, o tempo da recompensa. Reinar com Cristo
naquele dia da glória Dele é o prêmio que está colocado diante de
nós.
Todos os inimigos, naquele dia, serão colocados com violência
debaixo dos pés do Salvador. Nesta perspectiva, vemos o
significado daquela extraordinária frase “o Pai da glória” (Efésios
1.17). O nome “pai” diz respeito estrita e adequadamente somente
ao “filho” ou “filha”, que nasce dele. Mas é figurativamente usado,
como observei, em relação à glória. Sobre o rei, diz-se que ele é a
“fonte de honra” em seu reino. Deus, então, como a fonte de toda a
glória, colocou-a merecidamente sobre seu valoroso Filho. Ele é o
Cabeça sobre todas as coisas. O título é Dele agora; a manifestação
do mesmo ainda tem que ser esperada.
Como o Deus de Cristo, Ele dá a igreja a Cristo; uma bênção a
ele, um superior e excelente benefício para aqueles que pertencem
a ela. A igreja é o corpo Dele. A Cabeça estava incompleta sem o
corpo. A igreja, então, como seu corpo, é o complemento ou o
suplemento Dele que enche tudo em todos.
Em Efésios 1.20, lemos sobre a obra que Deus fez “em Cristo”.
Devemos nós entender o Cristo pessoal? Ou o Cristo místico, feito
de Cabeça e membros? Estou inclinado a achar que o Espírito
Santo está falando do Cristo místico, dando assim uma menção
daquilo que é mais amplamente afirmado a respeito das duas
partes, a Cabeça e os membros, em Efésios 1.23.
Neste lado do paralelo (Efésios 1), temos a glória de Cristo, o
Cabeça. Em Efésios 2, temos primeiro o estado imperfeito da igreja,
seu corpo, morta em seus delitos e pecados.[13] Eles eram
merecedores do inferno, filhos da desobediência, filhos da ira.
Eles, como gentios, eram efetivamente pecadores, guiados por
Satanás, seguindo o curso deste mundo. Estas eram as principais
características dos pecadores gentios.
Mas tanto os judeus como os gentios eram, por natureza, da
carne, cujas luxúrias eles seguiam como princípio motivador da vida.
Pelos três laços, o mundo, o diabo e a carne estavam ligados à
morte. Israel, como nação, foi chamado para fora do mundo, e sob o
governo de Deus, ainda incircuncisa no coração e nos ouvidos; e o
merecimento da ira, da parte do Altíssimo, recaía igualmente,
embora em diferentes medidas, sobre todos.
Mas Deus resgatou, por compaixão, aqueles merecedores da ira.
Sim, em amor, Ele os uniu ao seu Filho. Ele nos deu vida espiritual.
Isto já era posse de Cristo, portanto, não está nomeado em seu
lado. O elo de ligação entre eles e Cristo é a fé. Esta fé é dom de
Deus (Efésios 2.8). O apóstolo a descreve manifestação de poder,
poder tão poderoso quanto aquele que ressuscitou Cristo de entre
os mortos, elevou-o ao céu e a todos subjugou debaixo dos seus
pés. É um dom aos eleitos somente; não algo como agora é
ensinado, em que todos os homens têm parte, em virtude da
encarnação de Cristo: (1) Esta vida espiritual nos foi dada
“juntamente com Cristo”, quando ele estava na morte; e ela traz
consigo a salvação, a vida eterna; em seguida (2) Cristo “nos
ressuscitou [...] juntamente com ele”; e (3) somos assentados “nos
lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2.5-6).
Somos elevados de nossa velha posição no mundo e na carne,
libertos das correntes de Satanás e livres da ira de Deus. Somos
elevados acima da atmosfera, nosso horizonte natural, sobre o qual
Satanás tem poder, para os lugares celestiais, onde Cristo está
assentado.
O lugar correto de Israel é “com Deus no mundo”. Nós estamos
assentados nas alturas em Cristo Jesus, mas não ainda com ele.
Observe a diferença em relação a Israel. No fim, Deus vai
circuncidar o coração de Israel para amá-Lo. Mas Ele não os fará
assentar em lugares celestiais, mas “te introduzirá na terra que teus
pais possuíram, e a possuirás” (Deuteronômio 30.5-6). O apóstolo
impõe sobre nós o merecer a perdição e a ausência de mérito
próprio; enquanto, ao contrário, quando fala de Cristo, ele testifica
da exaltação com a qual o Pai exaltou o Filho por seus méritos.
Paulo afirmou os três “juntamente com” (1) nossa vida, (2) nossa
ressurreição e (3) nossa reunião com Cristo, como resultado da obra
do Salvador a nós creditada. Mas nesse ponto o paralelo termina.

1. Cristo elevado em pessoa está assentado à direita de Deus,


nos lugares celestiais (Efésios 1.20). Sobre nós, é mencionado
apenas que estamos assentados em lugares celestiais em Cristo
Jesus (Efésios 2.6).

2. Então, o apóstolo prossegue nos falando sobre sua elevação


acima de todos os graus de honra e classes de mérito, e da sujeição
que Deus impôs a todos sob os pés do Filho (Efésios 1.22). Este foi
o mérito de Cristo.

3. Mas, como ele explica o assunto do nosso lado do paralelo?


“Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua
graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Efésios 2.7).

Paulo fala, então, não da elevação de todos os crentes para reinar


com Cristo no dia milenar, mas da graça de Deus demonstrada a
todos os crentes depois daquele dia, através dos tempos da
eternidade. O dia milenar é da recompensa conforme as obras. Mas
a graça aparece depois que esse dia termina. O Apocalipse fala dos
vencedores que são contados dignos de reinar com Cristo pelos mil
anos, enquanto o restante dos mortos não obtém essa glória e
alegria. Multidões serão salvas que não terão nenhuma
recompensa! E no Julgamento do Grande Trono Branco, o livro da
vida aberto apresenta muitos nomes daqueles escolhidos para a
vida eterna a quem, por várias razões, não foi concedido viver e
reinar com o Cristo pelos mil anos.
Muitos têm o hábito de falar da volta de Cristo como o Noivo que
vem para tomar a igreja como sua noiva, para reinar com Ele sobre
o céu e a terra no dia milenar. Eu não conheço tal passagem. Onde
o Salvador é mencionado nesta epístola como o Noivo, o milênio
não é mencionado como o dia da apresentação da igreja para Ele.
A Noiva das epístolas de Paulo e a do Apocalipse de João não
são a mesma. A Noiva do Apocalipse é a cidade, a morada dos
salvos (Apocalipse 21.9-10).
Mateus 9.15, enquanto fala da ausência do Noivo, refere-se a
esses dias como dias de jejum. Mas não fala do seu retorno nem da
alegria da Noiva.
A era vindoura é aquela de recompensas de acordo com as
obras, não da graça (Mateus 16.27; Romanos 2.6; 1Coríntios 3.13;
Apocalipse 2.23, 26-27; 22.12).
Quando o Salvador é descrito como o Noivo que está retornando
em Mateus (capítulos 24 e 25) não é a graça. O desatento dono da
casa fica triste por sua casa ter sido arrombada e suas joias levadas
pelo ladrão. O mordomo infiel é castigado e sua sorte é designada
com os hipócritas. As virgens néscias, a metade de dez, são
excluídas da ceia das bodas pelo Noivo. O servo inútil é lançado nas
trevas, fora da sala do banquete. É Cristo tratando com “servos” de
acordo com os méritos deles (Mateus 24.45-50; 25.14-30).

A IGREJA EM

RELAÇÃO À LEI
Mas, como alguém pode se livrar da obra anterior de Deus sob
Moisés, tendo escolhido um povo para si dentre as nações e ligado
consigo por meio de aliança? Como pode a doutrina da “sem
diferença” ser estabelecida, enquanto permanecem as diferenças
que a lei fez entre Israel e as nações em geral?
A próxima seção da epístola trata desta grave questão.

Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na


carne, chamados incircuncisão por aqueles que se
intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas
(Efésios 2.11).

É importante lembrar, aquilo que rapidamente esquecemos, da


condição de perdidos, da qual os gentios foram tirados pelo
evangelho. Vocês não são mais assim. Os cristãos são lentos para
perceber e admitir que os crentes em Cristo perdem sua posição
anterior na carne. Um judeu, ao crer, está em Cristo; e em Cristo
não há nem judeu nem grego. Deus possui agora três organismos:
“Não vos torneis causa de tropeço nem para [1] judeus, nem para [2]
gentios, nem tampouco para a [3] igreja de Deus (1Coríntios 1.32).
“Sabeis que, outrora, quando éreis gentios” (1Coríntios 12.2). “Que
não mais andeis como também andam os gentios” (Efésios 4.17).
“Não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?”
(1Coríntios 3.3).
A graça os havia retirado do lugar onde nasceram. Uma vez, parte
das nações na carne, agora eram membros em espírito do Cristo
ressuscitado. A lei tinha como base a carne. O evangelho tira o
homem desse lugar. Desse fato, a imersão do crente é a prova
visível. É morte e sepultamento do seu antigo lugar como filho de
Adão; é ressurreição ao novo nascido, sendo agora filho de Deus.

Eles eram “chamados incircuncisão por aqueles que se


intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas” (Efésios
2.11). Isto dá a perspectiva na qual aqueles que permaneceram
homens da lei de Moisés, incrédulos em Cristo, os consideravam; e
assim ainda hoje os judeus consideram os gentios. Os homens de
carne circuncidada reprovavam os de carne incircuncisa. Isto estava
certo quando a lei e a carne eram princípios de Deus para tratar
com o mundo. “Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos”,
disse Jônatas (1Samuel 14.6). “Quem é, pois, esse incircunciso
filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?” falou Davi
(1Samuel 17.26).
Mas aquela posição havia agora sido eliminada por Deus. Israel
não era mais seu povo. Rejeitando seu Filho e seu Espírito, eles se
encontram debaixo da ira; há muito foram expulsos de sua terra e
seu templo foi destruído. E os ritos de Moisés não são mais
celebrados lá, pela nação.
Uma nova circuncisão teve início, não realizada por mãos
humanas em uma parte da carne, mas aquela feita sem as mãos
humanas, mas pelo Cristo (Colossenses 2.11). É o despojamento de
todo o corpo da carne. É a verdadeira circuncisão; a realidade que
Moisés, em vão, buscou na carne sob a lei. “Incircuncisos” eram
eles “de coração e de ouvidos” (Atos 7.51). “Nós é que somos a
circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos
em Cristo Jesus, e não confiamos na carne” (Filipenses 3.3). A
carne não é mais a base sobre a qual Deus está trabalhando. “Se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João
3.3). O nascimento, então, da linhagem de Abraão de nada
aproveita. Israel foi primeiramente redimido e sua carne
circuncidada foi colocada sob o julgamento da lei e da justiça, para
ver se eles poderiam, por obediência, livrar-se da maldição do Éden
e ganhar para eles mesmos a vida eterna. Aquele teste terminou;
claramente estabelecido contra eles por terem assassinado o Filho
de Deus e terem apedrejado o inspirado Estêvão. A lei, aplicada aos
homens na carne, a qual está em inimizade contra Deus e contra a
sua lei, só poderia levar a esse resultado (Romanos 8.6-8).
E agora, se os gentios tomarem sobre si a circuncisão, eles
abandonam a Cristo e se colocam imediatamente sob a maldição da
lei transgredida (Gálatas 5).
Com estas verdades, aprendemos que não é a natureza, como
visto nos gentios incircuncisos, que está mais próxima de Deus.
Aquele que deseja estar em paz com Deus deve estar debaixo da
graça e “em Cristo”. Algum tempo atrás, era moda imaginar, e
ensinar, que a civilização, com suas muitas complexidades,
formalidades e refinamentos, era a causa da pecaminosidade tão
manifestada no mundo; e que seguir a natureza era o caminho para
a verdade e a bondade. Mas os missionários, em todas as nações,
dão ininterrupto testemunho de que, se a civilização tem os seus
males, a vida selvagem tem horrores abomináveis.

Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da


comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa,
não tendo esperança e sem Deus no mundo (Efésios 2.12).

“O Cristo” era a vida de toda a obra de Deus em Israel. E


ninguém, a não ser os circuncidados na carne, conhecia ou se
importava com Aquele que viria, a semente da mulher, o herdeiro
individual de Abraão, o profeta como Moisés, o sacerdote da ordem
de Melquisedeque, o rei da linhagem de Davi. Para a semente de
Abraão, as promessas foram feitas. E todo o julgamento anterior de
Israel tinha a intenção de mostrar para as nações a incompetência
delas para ganhar bênçãos por meio da obediência.
Sobre o Cristo que viria, Emanuel, Deus Conosco, apoiava-se
toda a esperança de cumprimento das promessas da lei. Jesus, por
meio da sua circuncisão, “está obrigado a guardar toda a lei”
(Gálatas 5.3). Ele a guardou. Ele somente. Aqui está a justiça e, na
morte dele, a expiação.

“Separados da comunidade de Israel” (Efésios 2.12). O povo


foi criado e regulamentado por Deus para sua glória. Todas as
outras nações foram excluídas. Elas eram, em si, hostis a Israel.
Foram acusadas por Deus como idólatras; não eram somente
ímpias, mas certamente corromperiam Israel. Portanto, Jeová
advertiu seu povo para não ter associação com elas. Aqueles povos
eram “estranhos” (Efésios 2.12) a serem comprados por dinheiro,
visto que não eram da semente de Abraão (Gênesis 17.12).
Nenhum integrante dessas nações poderia participar da Páscoa, a
não ser os circuncidados (Êxodo 12.43, 45).
“Filhos sois do Senhor, vosso Deus; não vos dareis golpes, nem
sobre a testa fareis calva por causa de algum morto. Porque sois
povo santo ao Senhor, vosso Deus, e o Senhor vos escolheu de
todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu
povo próprio” (Deuteronômio 14.1-2).

“Estranhos às alianças da promessa” (Efésios 2.12). As


alianças pertenciam a Israel. Assim diz Romanos 9.4. Mas elas
eram de duas classes: (1) as que eram condicionadas à obediência
deles; e (2) as que eram da graça, especialmente aquelas feitas
com Abraão. Estas últimas, não é preciso dizer, eram de muito
maior valor do que as promessas de Israel para Deus. Nestas
circunstâncias, se as nações tivessem tido uma disposição correta,
assim que souberam a história de Israel, eles teriam buscado unir-
se a esse povo único de Deus, para que tivessem o verdadeiro
conhecimento de Jeová, e andar de acordo com os mandamentos
dele.
“Não tendo esperança” (Efésios 2.12). As nações tinham
apenas o horizonte da terra, e somente durante esta vida; e
nenhuma promessa. Mesmo em relação a isso, Israel nunca esteve
sem promessa. (1) No deserto, a esperança deles era a terra de
onde fluía leite e mel. (2) Quando se estabeleceram na terra, sua
esperança estava nas promessas ligadas à obediência à lei. (3)
Quando eles fracassaram em obedecer, os profetas testificaram do
reino vindouro e do advento do Messias.

“E sem Deus no mundo” (Efésios 2.12). Na abertura do


capítulo, o mundo foi descrito como a corrente dos filhos do mal, em
quem Satanás e a carne reinam, a região escura, hostil a Deus. Mas
Israel era o povo de Jeová, sua propriedade. Ele mesmo se
chamava “o Deus de Israel” e se revelou no Horebe às testemunhas
escolhidas, assim que a aliança foi feita. Israel o proclamou como
“nosso Deus”.
O Altíssimo possuía a Palestina como sua terra, e Jerusalém
como a cidade de sua morada.  Não seria melhor colocar a terra de
Israel? Lá também estava o templo no qual ele tinha prazer em
habitar. Os deuses das nações não eram deuses; eram ídolos e
demônios.

Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis


longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo (Efésios
2.13).

O apóstolo, tendo mostrado o lugar das nações fora de Cristo,


agora descobre a transformação realizada pelo evangelho às
pessoas que o receberam. Os crentes, ao aceitarem a Cristo, estão
Nele. A invisível passagem da alma e do espírito para fora de Adão
e para dentro de Cristo acontece pela fé; a transição visível e que foi
ordenada acontece pelo batismo.
O Cristo veio; Jesus é o seu nome. Nós o confessamos como
Senhor. Ele deixou a terra e, com sua morte, ressurreição e
ascensão ao céu, a carne, a terra e a lei são destituídas. A
circuncisão agora é sem valor, assim como a incircuncisão. É o
estado do espírito agora diante de Deus que importa. Você é uma
nova criatura? Você guarda os novos mandamentos de Deus por
Cristo?  (Gálatas 5.1; 1Coríntios 7).
Você, como gentio, esteve outrora distante tanto de Deus quanto
de Israel. Deus, sob a lei, morava sobre a terra e com Israel, na
terra e metrópole deles. A distância era calculada em quilômetros a
partir do centro. E as nações estavam longe.
Aqueles que desejassem adorar e encontrar sabedoria deviam
deixar suas casas e viajar até esse ponto central. A rainha de Sabá
teve que deixar o seu palácio nos confins da terra, a fim de ouvir a
sabedoria de Salomão. O eunuco da rainha Candace foi obrigado a
viajar da Etiópia a Jerusalém para adorar diante de Jeová.

1. Havia, na realidade, diferentes graus de proximidade de Jeová,


até mesmo entre seu próprio povo. Os levitas estavam mais
próximos de Deus do que Israel. Os sacerdotes eram ainda mais
próximos; e era a morte se, mesmo que fosse um israelita,
chegasse mais perto do que o limite estabelecido (Números 3.6;
16.9).

2. Mas, além das distâncias territoriais da terra, havia também


uma distância moral e espiritual. Havia a distância da aceitação, da
justiça e da salvação. “Ouvi-me vós, os que sois de obstinado
coração, que estais longe da justiça. Faço chegar a minha justiça, e
não está longe; a minha salvação não tardará; mas estabelecerei
em Sião o livramento e em Israel, a minha glória” (Isaías 46.12-13).
Moralmente, a maior distância é o ódio.

“Fostes aproximados pelo sangue de Cristo” (Efésios 2.13).


Nós estamos próximos moral e espiritualmente. A distância física
não tem mais significado, pois Deus não está agora habitando na
terra em templos feitos por mãos. Ele é adorado em espírito, pelos
crentes, como o Pai no céu. Há paz onde outrora havia inimizade.
Há união onde outrora havia separação. Logo que o Espírito de
Deus desceu do céu para elevar os que creem a um lugar mais alto,
em espírito, a proximidade verdadeira do eleito de Deus é
mencionada por Pedro, quando ele promete os dons do Espírito
“para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar” (Atos 2.39). E o Salvador, em Jerusalém, diz
ao seu apóstolo escolhido, Paulo: “Eu te enviarei para longe, aos
gentios” (Atos 22.21).
Os crentes, visto que estão espiritualmente unidos a Cristo,
encontram-se tão próximos de Deus quanto o próprio Cristo. Eles
são justos, ressurretos e ascenderam em Cristo ressuscitado; e são
bem-vindos ao Lugar Santíssimo pelo sangue de Jesus.
Dois grandes passos foram dados, e ambos através do sangue,
na aproximação de Israel a Jeová. (1) Nós os encontramos
primeiramente no Egito, sob escravidão e como os egípcios. Eles se
encontram em uma região também distante do monte de Deus,
onde a aliança será feita. De uma condição de escravidão e de
aflição, eles são resgatados pelo sangue do cordeiro sobre a verga
de suas portas. Eles então são guiados através do mar Vermelho,
enquanto seus inimigos são tragados. Isto, como nos diz Paulo,
corresponde ao batismo daquele que crê (1Coríntios 10). (2) Ao
chegar ao monte de Deus, eles devem se santificar para se
encontrarem com Jeová e fazerem aliança com ele. O encontro, a
despeito de toda sua preparação, é terrível, e eles permanecem a
distância. Mas, em seguida, um mediador é designado e os
reconcilia com o Deus deles, pelo sangue da aliança. Então, um
grupo de setenta anciãos, especialmente favorecido, subiu até
Jeová com o Mediador e celebraram diante do seu Deus e Rei. Nós
ocupamos esse lugar agora. Através do sangue da melhor aliança,
somos comandados a nos aproximar. “Por outro lado, se introduz
esperança superior, pela qual nos achegamos a Deus” (Hebreus
7.19). E depois da descoberta, em Hebreus 9 e 10, do Sumo
Sacerdote celestial e de seu sacrifício único, lemos sobre a nossa
ousadia para entrar no Santíssimo Lugar nas alturas, por meio do
sangue de Jesus. “Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena
certeza de fé, tendo o coração purificado [com o sangue da aliança]
de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hebreus
10.19-22).
A nossa condição alterada é devida, não a nós mesmos e à nossa
consciência, mas a Outro. Fomos aproximados, não pela
encarnação de Cristo, tampouco por seus ensinamentos fomos
levados a reconhecer a proximidade espiritual de todos os homens
pelo nascimento; mas por meio do seu sangue. Paulo reconheceu
todos os homens como estando debaixo de pecado, culpa e morte,
maldição e ira de Deus. O Cristo, imolado e ressurreto, nos dá uma
nova posição no céu; não é uma promoção na terra. Fomos
“aproximados”; não nascemos assim. O novo corpo, a igreja, tirado
da terra, carne e lei, ocupa o lugar do Cristo, diante de Deus, nas
alturas.
O “sangue de Jesus”, derramado por judeus e gentios, fala-nos da
inveterada perversidade da carne, seja circuncidada ou incircuncisa.
Deus reconhece como seu somente o novo corpo em Cristo. A
circuncisão dividiu o mundo da carne em “distante” e “próximo”,
medido a partir de Jerusalém como centro. Mas Cristo, elevado ao
céu, criou um novo centro, do qual todos os crentes em todas as
partes da terra estão igualmente “próximos”.

“O sangue de Cristo” (Efésios 2.13). O sangue de Cristo é


especificado, porque foi o traço essencial na expiação sacrificial. “O
sacerdote, com o dedo, tomará do sangue [...] e todo o restante do
sangue derramará à base do altar” (Levítico 4.34). “O sacerdote fará
expiação pela pessoa; e lhe será perdoado” (Levítico 4.31b).
Mas essa proximidade, de fato, vincula-se unicamente àqueles
que têm fé. Deus fez completa provisão para a recepção de todo e
qualquer um em Cristo. Mas os judeus e os gentios, insensíveis à
graça, ainda permanecem em inimizade uns com os outros e com
Deus.

Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e,


tendo derribado a parede da separação que estava no meio,
a inimizade (Efésios 2.14).

Este versículo, quando ligado ao anterior, nos diz que tanto a


distância quanto a proximidade do versículo 13 eram morais. O
Salvador não alterou o lugar das terras dos judeus e dos gentios,
mas ele removeu as inimizades, promovendo a paz. A palavra “paz”
aqui é o contrário de inimizade. Desta forma, diz-se de Raabe, a
meretriz, que, pela fé, “acolheu com paz aos espias” (Hebreus
11.31). Seus concidadãos a teriam feito entregar os espias à morte.
Mas a fé a levou a acolhê-los e a salvá-los.
A afirmação em grego é enfática. “Ele”, e somente ele, é. Ele é a
nossa paz; não meramente ele fez a paz imediatamente, mas desde
então ela foi quebrada, como os sacrifícios da lei têm que ser
repetidos todos os anos. Ele mantém a paz intacta. Sua posição,
nas alturas, assentado à destra de Deus, é a certeza de paz. Ele
está completamente em paz com Deus, e assim também acontece
com aqueles que estão “em Cristo”. Ele removeu o pecado e
produziu a justiça. O princípio fundamental da paz está garantido,
tanto negativa quanto positivamente.
Há uma passagem em Miqueias 5.5, que muito se parece com
isto, embora haja diferenças características. “Este [nascido em
Belém] será a nossa paz. Quando a Assíria vier à nossa terra”
(Miqueias 5.5). Isto pertence ao futuro. Ele não é, no momento, a
paz de Israel. O território de Israel está na terra, mas “a nossa pátria
está nos céus” (Filipenses 3.20). As inimizades que o Senhor
removeu foram duas: (1) uma entre os judeus e os gentios; (2) outra
entre os homens e Deus. Primeiramente, Paulo trata daquela
inimizade entre carne circuncidada e carne incircuncisa. Ele
menciona Cristo como “a nossa paz”; visto que isto o afetou
também, pois outrora ele era um judeu separado, pelo ódio, dos
gentios.
A inimizade é removida pela união. Das duas foi feito um homem
novo. Desta maneira, cada homem, por natureza, é formado de
duas metades iguais, a direita e a esquerda; sobre elas uma cabeça
preside e governa.
A igreja (ou assembleia) de Deus está estabelecida sobre um
novo fundamento. Da parte do homem, não é mais a carne, quer
circuncidada, quer incircuncisa, mas o homem gerado novamente
no espírito. A divisão em circunciso e incircunciso foi da criação de
Deus. Essa divisão foi removida por Cristo. Da parte de Deus, seu
princípio de ação não é mais a justiça, mas a misericórdia. A
transposição do velho para o novo é apresentada a ambas as partes
por imersão; ou a morte e sepultamento da carne, com a
ressurreição do espírito.
“E, tendo derribado a parede de separação” (Efésios 2.14). A
parede de separação entre os homens era a circuncisão. Ela dividia
a carne, já no tempo de Abraão, em circuncisa ou incircuncisa. Este
foi o aspecto em relação ao homem: Deus planejou com isso
separar o homem em judeus e gentios. Era uma barreira e uma
distinção exterior entre o povo de Deus escolhido em Isaque e as
nações abandonadas aos seus próprios planos.
Por esta razão, Paulo inicia seu apelo aos cristãos, solicitando-
lhes que se lembrem do lugar que eles ocupavam como o das
nações, antes de estar em Cristo. A circuncisão precedeu a lei sob
Moisés. Contudo, a circuncisão, mesmo no tempo de Abraão, era,
em princípio, a lei para todos os filhos de Abraão, embora não para
o próprio patriarca. Era uma aliança e uma marca na carne. Era o
direito de posse da terra da Palestina.[14] Ela implicava na perda de
direitos pela desobediência. O filho de nove dias, se não tivesse
circuncidado, seria excluído da aliança (Gênesis 17.14). “Porque a
lei suscita a ira” (Romanos 4.15). Isaque ainda não havia nascido;
Agar e Ismael moravam na casa de Abraão. Esta parede, então, de
separação, deveria ser removida, se as nações fossem instituídas
como o povo de Deus.
Deus colocou uma parede ao redor de sua vinha de Israel (Isaías
5). No templo, uma parede separava o adorador judeu do adorador
gentio: um símbolo do desígnio de Deus para manter sua nação
separada de todas as outras. Isso tinha validade, enquanto os
homens estavam sob o julgamento da lei, e esperando até que
viesse a semente de Abraão, para quem as promessas haviam sido
feitas.
Visto que Deus edificou a separação, ninguém a não ser Ele
mesmo poderia desfazê-la. Agora a semente é chegada, a quem as
promessas foram feitas; e a temporária separação entre judeus e
gentios é retirada. Por esta razão, a igreja é um corpo especial, que
só poderia começar a ser realidade quando o Salvador tivesse
deixado a terra para o céu, e tivesse enviado o Espírito Santo para
proclamar a salvação em igual condição para judeus e gentios.
“Sobre esta pedra” — Jesus em ressurreição — “edificarei a minha
igreja” (Mateus 16.18).
Qualquer tentativa hoje para manter ou restaurar a lei é um
pecado contra a mente de Deus. Mas Satanás logo instigou os
crentes de Israel para assim fazerem. Foi nesse terreno que o
próprio Pedro escorregou. Foram necessários a graça, a sabedoria
e o poder apostólico de Paulo para manter esta verdade.
Deve-se observar que a lei, depois que esta dispensação do
evangelho acabar, será restaurada a Israel. “Lembrai-vos da Lei de
Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o
Israel, a saber, estatutos e juízos” (Malaquias 4.4). Porém, ela vai
ser estabelecida sobre outra condição. Pela nova aliança, Deus irá
escrevê-la no coração e na memória de Israel e de sua semente
(Jeremias 31.33).

Aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma


de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo,
um novo homem, fazendo [assim] a paz (Efésios 2.15).

Havia duas coisas a serem retiradas: (1) a inimizade; e (2) a fonte


da inimizade: a lei. Mas a lei, em todas as suas partes, foi
estabelecida por Deus. Como, então, poderia ser removida
legalmente? Antes que sua força fosse removida, toda a honra lhe
foi dada. O Filho de Deus nasceu sob ela, foi circuncidado e a
obedeceu completamente.
E, porque a raça a ser redimida era de pecadores, Ele recebeu a
penalidade da morte que acusava o transgressor. Por esta razão, é
afirmado: “Na sua carne”, como antes, “pelo seu sangue” (Efésios
2.15; 1.7). Deus não estava errado, mas o homem estava. O homem
merecia a penalidade e a maldição. O Salvador justificou seu Pai
pela obediência e pela perseverança. Desde seu nascimento, a
carne decaída está em inimizade contra a lei de Deus (Romanos
8.7). Consequentemente, Jesus concedeu à lei tanto a obediência
quanto a penalidade que ela demandava. Então, quando ela o
imolou, seu poder terminou.
A lei de Moisés, como sua esfera, tem vida apenas na terra. E o
Salvador, subindo ao céu, saiu da esfera da lei; e nós também,
juntamente com Ele (Romanos 7.1-6; Gálatas 3.22-27). Como a
anulação da lei era necessária à simples ideia de igreja, Cristo
retirou sua validade. A circuncisão de Moisés e a lei separam a
carne em seis divisões, e estabelecem uma nação sobre todas as
outras. A imersão, o primeiro mandamento de Cristo, sepulta todas
estas em uma sepultura comum (Gálatas 3.26-28).
A sentença que estamos agora considerando é, no original, muito
peculiar em sua construção, e sobre ela há muitas críticas
divergentes. Deixe-me tentar dar uma ideia de sua ordem ao leitor
dos dias atuais: “Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um” — “e,
tendo derribado a parede da separação que estava no meio” — “a
inimizade” — “na sua carne” — “a lei dos mandamentos na forma de
ordenanças” — “aboliu” (Efésios 2.14-15).
Desse modo, a posição intermediária que a inimizade ocupa na
sentença é peculiar. Não há nenhum “e”. Ela está colocada entre
dois obstáculos e está intimamente relacionada a cada um deles: (1)
“a parede de separação;” e (2) “a lei dos mandamentos”. A primeira
diz respeito essencialmente ao homem; a segunda, a Deus.
Estou persuadido que isto é significativo. (1) A inimizade de
judeus e gentios começou com a circuncisão dada a Abraão. (2) Ela
alcançou um nível mais alto quando evoluiu para a lei de Moisés,
em Horebe. O fato de que Jeová fez de Israel seu povo por meio de
aliança, e assegurando-lhes, mediante a obediência deles, a
superioridade em relação às outras nações, provocou a inveja e
uma atitude hostil por parte dos gentios.
Isso deu origem a um sentimento hostil em Israel também. “Nós
somos o povo de Deu; vocês são cães”. A inimizade era mútua.
Aqui estava um segundo e interior obstáculo.
Mas “inimizade” é o oposto exato à demanda de “amor” feita pela
lei. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.39). As
exigências da lei produziram na mente de Israel, ou melhor,
desenvolveram, por meio de irritação, inimizade contra Deus. Era
um jugo que eles não conseguiam suportar (Romanos 8.7). Como,
então, poderia a lei salvar? Ela só poderia condenar e amaldiçoar. A
carne não pode agradar a Deus. A inimizade é sua condição mental
enraizada, mesmo quando não é visível em ato.
Havia, então, dois obstáculos para a proximidade exigida e ambos
deveriam ser removidos.
“A lei dos mandamentos na forma de ordenanças” (Efésios
2.15). A lei, como objeto de estudo, é convenientemente separada
(1) nos Dez Mandamentos falados por Deus no Sinai, e (2) nas
ordenanças dadas mais tarde através de Moisés. Mas elas
constituíam um grande todo, e não poderiam, na realidade, ser
separadas. Qualquer um que não cumprisse cada letra da lei era
amaldiçoado. A autoridade que as decreta é a mesma do princípio
ao fim. Eles deveriam usar uma borla azul em volta das vestimentas.
Por quê? “Eu sou o Senhor, vosso Deus” (Números 15.38-39, 41).
Os mandamentos morais ou cerimoniais eram o resultado dos
grandes princípios fundamentais: a carne colocada em julgamento
debaixo da justiça, com a terra e seus benefícios como
recompensas durante a vida, se obedientes.
Quão pouco até o mais esclarecido dos homens cumpre a Palavra
de Deus é curiosamente apresentado aqui. Com a fundação da
assembleia de Deus, Cristo aboliu a lei de Moisés. Mas quando
Paulo vem a Jerusalém pela segunda vez, lemos: “Insurgiram-se,
entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo:
É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de
Moisés” (Atos 15.5). Pela misericórdia de Deus, os cristãos gentios
estão livres desse jugo.
Mas o que lemos na última visita de Paulo a Jerusalém? E aquela
palavra vinda a ele por meio dos lábios dos apóstolos? “Bem vês,
irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram,
e todos são zelosos da lei” (Atos 21.20). Além disso, Paulo é
persuadido a tomar medidas para provar ser um guardião da lei
(Atos 24).
A obra anterior de Deus sobre o velho homem debaixo da lei
permaneceu como obstáculo ao evangelho da graça. Não
proporcionou a aproximação a Deus, pois não podia tirar o pecado;
mas instigou a inimizade entre o circunciso e o incircunciso. Até
para aqueles que haviam se voltado para Deus em Cristo, a lei agia
como um impedimento para o evangelho. Os apóstolos não se
afastaram para disciplinar as nações, porque ainda mantinham “as
ordenanças” de Moisés e moravam em sua terra. Depois que Pedro
foi, sob pressão do alto, até Cornélio, e o Espírito Santo foi
derramado sobre os discípulos em Cesareia, “os que eram da
circuncisão” — que significativo! —, “o arguiram” (Atos 11.2). E,
nesse contexto, o próprio Pedro erra em Antioquia, e a repreensão
que Paulo lhe fez está registrada em Gálatas 2.
Cristo anulou a lei “na sua carne” (Efésios 2.15). Tendo vindo em
carne humana debaixo da lei, ele foi circuncidado; e, portanto, feito
devedor para cumprir toda a lei. A obediência é a primeira
reivindicação da lei, e Jesus a obedeceu. Como Ele estava para
libertar todos aqueles colocados sob a sentença da lei, Ele
graciosamente se humilhou para suportar a penalidade da lei.
Depois, Ele ressuscitou dos mortos. Ele havia recebido seu prêmio,
a vida eterna. Na ressurreição, Ele havia passado por uma região
fora do alcance das reivindicações, pois a lei tem poder sobre o
homem somente até a morte dele (Romanos 7.1-4). Tendo subido
ao céu, Ele está completamente fora do alcance da lei.
A lei foi anulada com relação a Cristo, tendo Ele pago totalmente
a sua dívida. Mas isto é verdadeiro somente para Ele. Ele não está
debaixo da lei, nem aqueles que são um com Ele. A lei, com sua
vara de ferro, durante o milênio terá plena ação novamente, e o
transgressor será excluído. Quando, durante o milênio, a lei estiver
novamente em vigor, a inimizade das nações contra ela e contra a
nação que a lei exalta produz, assim que Satanás for solto da
prisão, a última grande rebelião, atacando o próprio Cristo e sua
cidade, templo e trono (Apocalipse 20). Em Cristo, a lei é suprimida
para aqueles que estão nele. Está Cristo debaixo da lei? Não! A lei
não tem força no céu. E os crentes estão agora assentados em
lugares celestiais nele. Eles podem, então, viver segundo a carne?
De modo algum! Os homens do espírito deverão obedecer aos
novos mandamentos de Cristo. “A ele ouvi”, é a palavra do Pai
(Mateus 17.10).
A igreja é uma “nova criação”, a formação de um “novo homem”,
no qual as antigas distinções da carne sob a lei estão suprimidas.
“Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo
a carne” (2Coríntios 5.16).

E reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por


intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade (Efésios
2.16).
O duplo propósito do Salvador em sua obra é apresentado: “Para
que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem” (Efésios
2.15).
O velho homem foi testado por Deus, provou ser irremediável e foi
colocado de lado. Suas promessas foram quebradas, e a religião do
homem é incapaz de fazer paz com ele, e muito menos com Deus.
Uma nova criação, proveniente da morte, era necessária e foi
realizada em Cristo.
Há somente “um novo homem” (Efésios 2.16). É Cristo Jesus, e
aqueles que, pela fé, estão unidos a Ele.  Somente Um atingiu tal
lugar como Ele; ou poderia ganhar a paz e concedê-la a outros.
Para termos estes privilégios, devemos nos achegar a Cristo e
habitar com Ele. A carne, em ambas as formas, cincuncisa ou
incircuncisa, está fora dele e se encontra debaixo da lei e da
maldição.
O novo homem é criado Nele mesmo. Está Nele, o Cabeça, e
naqueles que o Espírito de Deus uniu a Ele.
Vã havia sido a remoção da discórdia dos judeus e gentios, uns
contra os outros, se eles não tivessem também sido reconciliados a
Deus.
Na questão da salvação, quem foi o primeiro reconciliado? O
homem com Deus? Ou Deus com o homem?
Deus deve ser reconciliado primeiro. Sua ira deve ser aplacada
em primeiro lugar, pois seu desprazer é justo. A expiação deve ser
feita ao Deus justo, o autor da lei e da penalidade da lei, contra
quem o homem está em rebelião. A culpa deve ser suprimida
através de um sacrifício perfeito e de um perfeito sacerdote. Assim,
a inimizade do homem contra Deus pode ser removida. Essa
inimizade é pecaminosa. Foi ela que tornou sem efeito todas as
tentativas de levar o homem à obediência. A lei requeria, e
justamente, amor a Deus, seu Criador, Protetor e Senhor, de todo o
seu coração. Mas o coração da natureza é inimizade contra Deus,
como foi demonstrado por sua desobediência à lei de Deus
(Romanos 8.7).

“E reconciliasse [...]. com Deus” (Efésios 2.16). Não é mais


dito com “Jeová”, mas com “Deus”. Não é mais dito “com o Pai”,
mas toda a Trindade está incluída: “Pai, Filho e Espírito Santo”.

“Ambos em um só corpo” (Efésios 2.16). Surge então a


pergunta: Que corpo? (1) O corpo da carne de Cristo? (2) Ou a
igreja, o corpo místico?
O corpo da carne do Salvador foi apresentado a Deus na cruz,
como o sacrifício perfeito. O corpo de Cristo não poderia existir até
que esse sacrifício perfeito tivesse sido oferecido e recebido. A cruz
é o meio e a causa meritória da união aqui tratada. Ela deve,
portanto, preceder o resultado. Os sacrifícios da lei eram
expressamente para Israel. O Sumo Sacerdote, no Dia da Expiação,
oferecia por Israel somente (Levítico 16.33-34). Se os gentios
fossem oferecer sacrifício, deveriam fazer isso individualmente por
meio do sacerdote. Isso tendia apenas a manter a superioridade de
Israel e a inimizade entre eles e os gentios.

1. Aqui temos a primeira informação sobre a segunda


característica do mistério (Efésios 3.6): “Um só corpo”.

2. Mas o Salvador, na cruz, representando para Deus tanto os


pecadores judeus quanto gentios, em Seu corpo, como substituto
deles, lançou o fundamento da unidade deles diante de Deus, e um
com o outro. No Dia da Expiação sob a lei, havia dois tipos de
sacrifício: um, pelos sacerdotes; e um por Israel. Os dois tipos de
sacrifício oferecidos a Deus no mesmo dia mostravam a intenção de
Deus de manter o corpo sacerdotal separado das tribos (Levítico
16.6, 11, 17). Agora, pelo contrário, o sacrifício único de Cristo
mostra o planejamento do Altíssimo de que aqueles divididos pela
lei deveriam ser unidos no único evangelho-sacrifício. Ambos, como
culpados, igualmente necessitavam da grande expiação. A oferta a
Deus aceita por ele é a causa da aceitação de ambos, judeus e
gentios.
A superioridade de Israel diante de Jeová era a causa da
contenda entre a circuncisão e a incircuncisão. Cristo morrendo
igualmente por ambos era a causa meritória, que removeu a
contenda e trouxe a paz. Esta visão é confirmada completamente
através de uma passagem na epístola semelhante a esta, aos
Colossenses: “E que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz,
por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer
sobre a terra, quer nos céus. E a vós outros também que, outrora,
éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras
malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne,
mediante a sua morte” (Colossenses 1.20-22; veja também Hebreus
10.12, 14).
Os dois significados de “um só corpo” se harmonizam aqui;
ambos são admitidos. “Quando inimigos, fomos reconciliados com
Deus mediante a morte do seu Filho” (Romanos 5.10). “Ora, tudo
provém de Deus, que nos reconciliou [judeus e gentios] consigo
mesmo” (2Coríntios 5.18). Ambos, perante a cruz, eram igualmente
pecadores condenados; ambos depois da cruz, ao crerem, foram
reconciliados.

3. Portanto, também, o paralelo com Efésios 2.18 é efetuado. No


próprio corpo de Cristo na cruz, ambos foram reconciliados com
Deus. No mesmo Espírito de Deus, obtido por aquele sacrifício,
ambos se aproximam de Deus. Assim como o mesmo espírito é o
Espírito Santo, o mesmo corpo é o próprio corpo de Cristo.
A cruz foi o altar, sobre o qual foi feito o grande sacrifício. Esta
grande e única oferta acolhe tanto judeus como gentios, sendo
igualmente oferecida por ambos, e nenhuma outra poderia acolhê-
los. Ademais, a morte do Justo na cruz, portanto, sob a maldição,
anulou a lei no tempo do evangelho. O Senhor Jesus dissipa a
maldição para trazer a bênção (Gálatas 3.13-14). A cruz pôs fim à
lei para Cristo. Ela impôs a morte e a maldição sobre ele, que era
bendito para sempre. Mas o Senhor da vida levantou-se acima dela.
Judeus e gentios, quando renovados pelo Espírito Santo, veem na
cruz sua reconciliação com Deus e sentem a unidade resultante do
pecado que foi expiado, da lei que foi satisfeita e da paz que foi feita
com Deus. Jesus, nosso Senhor, “foi entregue por causa das nossas
transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”
(Romanos 4.25).

“Destruindo por ela a inimizade” (Efésios 2.16). Bem, que a


inimizade entre judeus e gentios seja afastada, quando o mesmo
sacrifício do Filho de Deus é oferecido por ambos, e ambos são
perdoados e feitos próximos de Deus.
Isto é verdade somente para aqueles que creem. A oferta é, de
fato, feita a todos, mas onde a incredulidade habita, ou em judeus
ou em gentios, a inimizade permanece, tanto em relação a Deus
quanto em relação ao homem. Essas inimizades entre Deus e os
homens chegam ao ápice antes do milênio, e as nações buscam
destruir Israel através do ódio contra seu povo e contra seu Deus
(Salmos 80.1–83.4). “Vinde, risquemo-los de entre as nações; e não
haja mais memória do nome de Israel” (Salmo 83.4). Também,
durante o milênio, a diferença entre Israel e os gentios torna-se mais
visível. Satanás vai usá-la para levantar a última rebelião das
nações contra Deus e o seu Cristo (Apocalipse 20.7-10).

E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis


longe e paz também aos que estavam perto (Efésios 2.17).

A “vinda” do Salvador aponta para sua partida pessoal anterior da


terra por meio de sua morte, e seu retorno a ela em ressurreição e
em vitória, com seu aparecimento entre seus discípulos.
O reaparecimento do Senhor Jesus na terra foi a prova de sua
aceitação por Deus. Ele pregou “paz”. O Salvador encontrou as
mulheres retornando do sepulcro com a palavra “Salve!” (Mateus
28.9).
Para os discípulos, naquela mesma noite, ele vem, coloca-se no
meio deles, e diz: “Paz seja convosco” (João 20.19). Uma segunda
vez e uma terceira vez, ele os encontra com a mesma saudação
(João 20.21, 26).
Mas, pode-se dizer que isto foi dito para os judeus que estavam
perto. Como foi isto proclamado para os que estavam longe?
O Senhor encaminhou os discípulos para uma reunião marcada
na Galileia. Lá, Ele lhes ordena: “Ide por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo”
(Marcos 16.15-16). Esta comissão não foi cumprida pelos Onze a
quem foi primeiramente dada. Portanto, o Senhor, em sua graça
para com as nações, levantou e comissionou Paulo para fazer o
trabalho.
Que contraste existe entre Efésios 2.17 e Mateus 10.5-6. “A estes
doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis
rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de
preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel”.
A construção da paz era o grande objetivo; e para tal Jesus foi o
agente. Mas, para que nós pudéssemos ter a alegria da paz, seria
necessário que, por uma proclamação autorizada, oficial,
tomássemos consciência daquela grande bênção. Por isso, o
próprio Salvador vem e proclama: “Paz”. Esta é confirmada pela
descida do Espírito Santo e a transmissão dos seus dons espirituais.
Esta paz foi profetizada. “Como fruto dos seus lábios criei a paz, paz
para os que estão longe e para os que estão perto, diz o Senhor, e
eu o sararei. Mas os perversos são como o mar agitado, que não se
pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo. Para os
perversos, diz o meu Deus, não há paz” (Isaías 57.19-21).

Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um


Espírito (Efésios 2.18).

O resultado produzido permanentemente é a prova da paz feita


por Cristo, tanto para com o homem como para com Deus. Judeus e
gentios, por nascimento, agora juntos, se aproximam de Deus.
Saulo, outrora fariseu, se aproxima exatamente como qualquer
pecador dos gentios, e de nenhuma outra maneira.
Agora temos acesso a Deus. Isto é contrário a Deus guardar com
zelo a aproximação de si, quando Ele foi manifesto como o Deus da
lei e da justiça, exigindo a carne circuncidada para pagar-lhe o que
lhe é devido; e como o Deus de santidade, retirando-se das
contaminações do pecador. Então, disse Deus: “Guardai-vos de
subir ao monte, nem toqueis o seu limite; todo aquele que tocar o
monte será morto” (Êxodo 19.12). Então Coré e seus príncipes,
aproximando-se de Deus como sacerdotes, são castigados com
morte por fogo. Depois Uzias, ousando oferecer incenso, é atacado
por lepra. Até mesmo o ungido sumo sacerdote, no dia designado,
só pode se aproximar por meio das sombras da justiça (no incenso)
e da expiação (no sangue apresentado). Nossa aproximação é com
confiança, como iremos aprender no próximo capítulo, Efésios 3.12.
É um acesso contínuo, pois o Filho nos tornou livres. Por ele, como
Sacerdote e sacrifício, nos apresentamos a Deus.

“Em um Espírito” (Efésios 2.18). O Espírito Santo desperta nos


crentes o clamor: “Aba, Pai” (Romanos 8.15). Habitando em todos
os regenerados, Ele é a testemunha da nossa filiação em Cristo, o
Filho. Ele habita em nós, como nossa preparação para a glória. O
sumo sacerdote do passado devia equipar-se com apliques externos
de vestimenta, com sacrifício e com incenso. Agora, judeus e
gentios, como filhos de Deus, aproximam-se em um espírito, em
oposição à inimizade anterior que tinham um com o outro. Agora há
unidade, onde antes havia, não apenas diversidade, mas ódio.
Antes disso, Satanás, o espírito maligno da desobediência, afastou-
os de Deus; agora, eles se aproximam em amor.

“Ao Pai” (Efésios 2.18). Observe que em Efésios 2.16 temos


Cristo reconciliando pecadores “com Deus”. A paz tendo sido feita,
temos “acesso ao Pai” (v. 18).
O Espírito Santo desceu e habita com a igreja, como o bendito
benefício decorrente do sacrifício aceito do Salvador. Debaixo da lei,
os sacerdotes tinham permissão para se aproximar de Jeová até
onde estava o véu. Mas até o sumo sacerdote era advertido para
não entrar no Santíssimo além do véu, exceto uma vez por ano.
Essa era uma precaução que foi dada depois da morte de Nadabe e
Abiú, por causa do ato de desobediência deles. E duas vezes nos
regulamentos do Dia da Expiação, o sumo sacerdote era advertido a
obedecer a todos os pormenores da regulamentação para que não
morresse (Levítico 16.2, 13).
O véu sendo mantido e o sumo sacerdote não conseguindo ficar
no Santíssimo da terra eram as provas de que o caminho de acesso
a Deus ainda não havia sido aberto. O véu rasgado e nosso Sumo
Sacerdote assentado no Santíssimo de cima são provas de uma
contínua aproximação e acolhimento a Deus como Pai, por meio do
Sumo Sacerdote, que agora é o Filho de Deus. A posição
permanente de Cristo diante de Deus também é nossa, que
estamos Nele.
O novo nome de Deus é introduzido pelo Filho Expiador ou
resgatador e é invocado sobre nós no batismo. É o testemunho de
um novo fundamento para os homens que estão debaixo do
evangelho, do modo como foi com o nome de Jeová debaixo da lei.
Jesus, assim que ressuscita, prontamente ensina o novo e bendito
fundamento sobre o qual Ele nos estabelece. “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28.19). “Recomendou-lhe Jesus:
Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter
com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai,
para meu Deus e vosso Deus” (João 20.17).
A lei sendo abolida, o lugar de reunião dos adoradores é alterado,
já não é mais este monte ou Jerusalém. O templo está no céu; e os
adoradores do Pai, em espírito, sobem até lá (João 4).
Neste versículo, temos o lugar especial e os atos da santíssima
Trindade. Nós nos aproximamos do Pai, através do Filho e por meio
do Espírito Santo. A Trindade, como foi definida nos credos, pode
parecer um assunto árido e abstrato. Mas, visto na prática, é uma
questão de exercício constante e de nossa aproximação diária de
Deus para sermos abençoados.
Aqui também aprendemos que nem todos são filhos de Deus.
Aqueles que são da carne, andando conforme o mundo e forjados
pelo Maligno, têm este como seu pai e se encontram banidos da
presença de Deus e debaixo de sua ira. Deus é o Pai somente
daqueles que recebem Cristo como o Filho.

CONSEQUÊNCIAS DA

NOVA CRIAÇÃO
As antigas promessas para a carne e para a terra ainda
pertencem a Israel, e será deles no milênio, quando retornarão o
antigo templo e os antigos ritos de Moisés.

Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas


concidadãos dos santos, e sois da família de Deus (Efésios
2.19).
A distância e a inimizade produzidas e alimentadas pela lei são
abolidas pela obra de Cristo. A mais elevada unidade acontece
entre aqueles que antes estavam separados. Aqui temos a
indicação do contraste com as quatro inabilidades mencionadas no
versículo 12 como existentes entre judeus e gentios. Temos aqui
uma referência a elas. Se judeus e gentios agora podem, com
corações unidos, se aproximarem de Deus como Pai, eles não
podem estar distantes e serem hostis no coração. A distância e a
inimizade sob a lei são substituídas pela proximidade e paz do
evangelho compradas e forjadas pelo Filho e pelo Espírito.

“Os santos” (Efésios 2.19. Este é o nome do novo povo de


Deus, que, durante a incredulidade de Israel, são testemunhas do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Já não estamos mais sem Deus no
mundo. Cristo é o nosso Emanuel, “Deus conosco”. Somos da
família de Deus, filhos, mais próximos de Deus do que os anjos.
Nossa santidade é de um tipo diferente da de Israel, e é legítima.
A de Israel era santidade da carne. “Ser-me-eis homens
consagrados; portanto, não comereis carne dilacerada no campo”
(Êxodo 22.31; Deuteronômio 14.1-3, 21). A nossa santidade é
individual, que surge a partir da regeneração e da habitação do
Espírito Santo.
Somos um novo corpo, membros de Cristo, o Filho de Deus;
pertencemos ao Homem ressurreto, que ascendeu em vitória sobre
os mortos, e estamos arrolados na cidade eterna dos céus.
Que contraste é que aqueles anteriormente “sem Deus” agora
sejam da casa dele! Tão perto dele e tão amados quanto Isaque foi
para Abraão. Agora os santos são, em relação uns com os outros,
concidadãos. Os judeus eram chamados três vezes por ano para
subir à cidade de Deus e adorar em seu templo. Era o centro das
doze tribos. Na cidade escolhida por Deus, era para habitarem os
reis e os sacerdotes de Deus (Deuteronômio 12). Nossa cidade,
morada dos novos reis e sacerdotes, é a “Jerusalém lá do alto”. Lá
estamos nós arrolados no Livro da Vida do Cordeiro (Hebreus
12.23; Apocalipse 21.27). A nossa é a Jerusalém santa, uma cidade
real com muros, portas e fundamentos (Apocalipse 21). No
momento presente, como Abraão nosso Pai, somos apenas
habitantes em tendas, esperando por nossas mansões na cidade
(Hebreus 11). Nossa cidadania e nossa política não são da terra,
mas dos céus. Somos como o povo novo, regenerado, amados de
Deus antes que as alianças tivessem começado.
A antiga distinção entre estrangeiros e forasteiros tornou-se forte
quando Israel celebrou a festa de sua redenção das nações do
mundo. “Toda a congregação de Israel o fará [a Páscoa]. Porém, se
algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Páscoa
do Senhor, seja-lhe circuncidado todo macho; e, então, se chegará,
e a observará, e será como o natural da terra; mas nenhum
incircunciso comerá dela. A mesma lei haja para o natural e para o
forasteiro que peregrinar entre vós” (Êxodo 12.47-49).
Mas os crentes, agora circuncidados pelo Espírito com a
circuncisão de Cristo, estão mais próximos uns dos outros e de
Deus do que estavam as tribos de Israel da antiguidade. Os crentes
pertencem à sua casa; como os levitas e os sacerdotes, os filhos de
Arão. Eles habitam na casa de Deus nas alturas, feitos sacerdotes e
reis para Deus através do sangue do seu Filho. São chamados a se
aproximar, por si mesmos e por outros; intercessores para todos os
homens e especialmente para os santos (1Timóteo 2; 3.15; Hebreus
3.6).

Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e


profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular
(Efésios 2.20).

No versículo anterior, estabelecemos diante de nós a obra de


Cristo na remoção dos obstáculos. Agora temos a visão do efeito da
fé da parte dos santos. Eles aceitaram a verdade de Deus, entregue
através dos seus inspirados, especialmente a verdade relativa à
suprema Pessoa e obra do Senhor Jesus.
Deus é o construtor. Cristo é a Pedra que ele colocou, em quem
os homens devem descansar. Pedro, confessando a Cristo como o
Filho do Deus vivo, é proclamado como a primeira Pedra do edifício
que o Salvador iria construir (Mateus 16; 1Pedro 2).
“O fundamento dos apóstolos e profetas” (Efésios 2.20). Mas,
há no original grego um artigo entre “apóstolos” e “profetas. Isto
mostra, então, uma ligação bem próxima: apóstolos são a ordem
superior, embora ambos fossem inspirados; profetas são aqueles do
Novo Testamento. O mistério revelado a eles havia estado
escondido de todos anteriormente. Teria sido imprudente e
prematuro testificar aos judeus debaixo da lei a respeito de um povo
mais numeroso do que eles, a ser chamado quando a lei fosse
posta de lado. A estes novos profetas, os dons do Cristo que
ascendeu aos céus (Efésios 4.11), foram revelados os princípios da
fé e que Jesus é o Messias, em quem reside toda a bênção. Essas
duas ordens testificam juntas a respeito dos dois edifícios, os quais
Paulo agora menciona. Neste versículo, Paulo não se isola dos
outros apóstolos do modo como faz depois quando trata do seu
evangelho. Aqui, temos os aspectos revelados a todos os
inspirados.

“Sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios


2.20). Cristo deve, em todos os aspectos, ter preeminência, e Ele foi
o objeto de seu principal testemunho. “Porque ninguém pode lançar
outro fundamento, além do que já foi posto, o qual é Jesus Cristo”
(1Coríntios 3.11). Cristo não apenas nos leva a Deus, mas nos une
Nele mesmo. “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada,
sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também
vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo. [...] Eis que ponho em Sião
uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de
modo algum, envergonhado” (1Pedro 2.4-6).
Ele é a pedra angular (1) da presente habitação de Deus, que é
edificada onde quer que dois ou três se reúnam em seu nome.
“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali
estou no meio deles” (Mateus 18.20). (2) Ele é também “o Cordeiro”
no grandioso lugar final da habitação de Deus. “Nela, não vi
santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-
Poderoso, e o Cordeiro” (Apocalipse 21.22).
No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para
santuário dedicado ao Senhor (Efésios 2.21).

Parece que deveríamos ler “todo edifício” e não “todo o edifício”.


O artigo é rejeitado pela maior parte dos críticos, até por aqueles
que o interpretam como “todo o edifício”. Mas como poderia tal
tradução fazer sentido?
Ela é limitada pelas palavras “no qual” todo o edifício. Então, ela
significará que as várias assembleias de crentes que o Altíssimo
pode reconhecer estão sendo montadas por Deus para tomar seus
lugares finalmente no grande templo que ele está levantando para
sua própria glória. Muitas são as igrejas da terra; mas a unidade
delas é dada por Cristo, que é o centro delas. Está escrito a respeito
do Salvador, que Ele morreu para “reunir em um só corpo os filhos
de Deus, que andam dispersos” (João 11.52).
Cada assembleia está tomando o lugar a ela designado, e
crescendo pelo acréscimo dos crentes ou pelo avanço na graça.
O objetivo e o fim do todo são, então, apresentados.

“Cresce para santuário dedicado ao Senhor” (Efésios 2.21).


Aqui está o único objetivo final do grande Arquiteto que, a despeito
de todos os obstáculos, não falhará em seu resultado. Um longo
tempo tem sido necessário, mas finalmente será completado. Cristo
lhe dará sua unidade e sua santidade. Será um templo e sua
santidade será do e no Senhor Jesus. Ele nunca será visto em sua
completude na terra. Será visto somente quando os santos vivos e
mortos forem reunidos depois do Julgamento do Grande Trono
Branco, na nova terra e na nova Jerusalém, a cidade santa de Deus.
Sua santidade será da mais alta qualidade. O templo de Israel foi
destruído, porque eles eram um povo santo somente na carne; eram
frequentemente transgressores; e seu templo deveria ser a morada
de Deus, apenas com a condição da obediência do povo. Jeová o
deixou e ele foi destruído pelos caldeus, por causa dos seus muitos
pecados. Esse templo deve permanecer para sempre, pois sua
santidade está no Senhor Cristo.
Nós, como indivíduos, já somos a casa de Deus, e como sua
família, devemos estar ativos a seu serviço. Mas, como ainda
iremos morar com Deus em uma habitação construída por Ele para
nós, também somos, sem resistência, formados pelo Espírito Santo,
para finalmente nos constituir um edifício místico ou figurado, no
qual nosso Deus habitará para sempre. Isto fala, então, da igreja
invisível, como ela é chamada, a grande assembleia dos salvos
desta dispensação, conhecida somente por Deus. Os membros
vivos de Cristo serão finalmente unidos em um corpo, na Nova
Jerusalém da nova terra.

No qual também vós juntamente estais sendo edificados


para habitação de Deus no Espírito (Efésios 2.22).

Isto se refere à atual posição agora ocupada na terra por cada


igreja de crentes. “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em
breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve
proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e
baluarte da verdade” (1Timóteo 3.14-15).
Será de muita ajuda neste ponto lembrarmos das duas formas
das moradas de Jeová em Israel. Logo que seu povo é redimido, Ele
lhes ordena construir uma habitação para que Ele possa habitar
entre eles. Foi um grande passo da graça. Deus não habitou com
Adão, ou Enoque, ou Noé, ou Abraão. Mas tão logo a redenção é
efetuada no mar Vermelho, Moisés canta: “O Senhor é a minha
força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus;
portanto, lhe farei uma habitação” (Êxodo 15.2, ARC). Prosseguindo
no cântico, Moisés fala sobre Deus conduzir os israelitas para a
habitação Dele: “Tu o introduzirás e o plantarás no monte da tua
herança” (Êxodo 15.17).
Em cumprimento a isso, que era a mente de Deus, Israel, depois
do direcionamento de Jeová, construiu o tabernáculo, a saber, uma
tenda móvel adequada às suas peregrinações pelo deserto. Mas
quando a terra foi alcançada e o reino do Senhor foi estabelecido na
cidade e na casa de Davi, o templo de magnificência permanente foi
erigido, a maravilha de todas as terras.
Duas vezes temos “no qual” para referir-se a Cristo; no primeiro
caso, precedendo a visão do templo eterno; no segundo,
precedendo a visão da atual habitação de Deus entre seus santos
vivos na terra (Efésios 2.21a, 22a). Assim, a arca do Senhor foi o
grande centro, do mesmo modo que o tabernáculo de Moisés e o
templo de Salomão.

“Vós juntamente estais sendo edificados” (Efésios 2.22). O


Espírito Santo enviado do alto está se movendo em cada
assembleia de crentes para produzir unidade de coração e de
julgamento em cada igreja. Alguns estão sendo acrescentados,
alguns estão adormecendo, alguns sendo guiados, alguns
colocados em disciplina. O trabalho está avançando, mas em
nenhum lugar está completo.

“Para habitação de Deus no Espírito” (Efésios 2.22).


Gramaticalmente, deveríamos traduzir do grego “para habitação de
Deus em espírito”. Deste modo, isto se coloca em contraste com a
habitação de Deus sob a lei feita por homens a partir de materiais
mortos fornecidos pela terra, um santuário terreno. Assim, Pedro
fala da igreja como uma casa espiritual (1Pedro 2.5). Mas, se
chegarmos ao significado real e interior, deve-se dizer que Deus
habita no santuário através do Espírito Santo vindo do alto. “Nós
somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei
e andarei entre eles” (2Coríntios 6.16). “Não sabeis que sois
santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”
(1Coríntios 3.16).
É, na verdade, um templo temporário. Ele deixará de existir na
terra quando Cristo descer e o Espírito Santo subir. Como pela
descida do Espírito Santo, a igreja teve início; com a subida Dele,
ela terá seu fim.
A igreja corresponde ao tabernáculo no deserto. Ela chegará ao
fim quando o Filho de Deus chamar para si aqueles que o esperam,
antes que o grande e terrível dia do Senhor castigue a terra
pecaminosa. Então, o dia da longa aflição da igreja terá acabado, e
a grande multidão se reunirá no alto diante do trono e diante do
Cordeiro (Apocalipse 7.9). Desse modo, então, juntamente com o
novo nome de Deus, ocorrerão grandes mudanças com relação (1)
ao homem, (2) a Deus, (3) à nossa morada e herança, (4) à nossa
redenção da terra para o céu (5) e ao nosso templo e modo de
adoração.
Até que a lei fosse perfeitamente removida, Paulo, como o
homem da lei, não poderia pregar, nem pregaria seu evangelho às
nações, um evangelho fundamentado em uma nova circuncisão em
Cristo. Agora que Cristo está no céu, o país, a cidade e o templo de
Deus não estão mais neste mundo. A união com Cristo é a
proximidade de Deus. E na epístola aos Hebreus, os crentes de
Israel são chamados a deixar aquela nação, a cidade, os sacerdotes
e o templo para buscar seus correspondentes espirituais. “Na
verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que
há de vir” (Hebreus 13.14).
Contudo, isto se refere somente à presente dispensação do
evangelho, e ao tempo da ausência do Salvador no céu. Durante o
milênio, Israel será de novo o povo de Deus; a terra será devolvida a
eles, e as cidades serão reconstruídas, Jerusalém sendo novamente
o centro do governo de Deus na terra, e o templo reconstruído será
o centro da adoração a Deus, tanto para Israel como para as
nações. Então, Deus é chamado de “o Santo de Israel” (Isaías
30.11). “Estrangeiros edificarão os teus muros” (60.10). “Porque a
nação e o reino que não te servirem [Israel] perecerão” (60.12). Os
gentios “chamar-te-ão Cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel”
(60.14). “Estranhos se apresentarão e apascentarão os vossos
rebanhos; estrangeiros serão os vossos lavradores e os vossos
vinhateiros. Mas vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos
chamarão ministros de nosso Deus; comereis as riquezas das
nações e na sua glória vos gloriareis” (61.5-6; cf. 66.19-20).
Foi apropriado demonstrar que, para todas as coisas em que a lei
poderia gloriar-se, nós, crentes, temos algo melhor. Ora, a morada
de Jeová em seu meio era um dos motivos legítimos de orgulho dos
filhos de Jacó. Temos algo que corresponde a isto? Sim, algo muito
melhor. A antiga casa de Deus foi destruída pelos inimigos por
causa do pecado. Deus tem agora uma casa feita de pedras vivas,
de crentes descansando suas almas em Cristo e na sua salvação
(1Pedro 2.5). A casa de Deus, então, nesse lugar, é figurativa, uma
casa espiritual de crentes. Mas isto não coloca de lado a verdade
que nos espera, de que o Salvador e seus salvos, ressuscitados dos
mortos, precisarão de uma morada visível. O Apocalipse se ocupa
desse aspecto da questão; e descreve para nós a cidade literal com
suas dimensões, seus muros, suas portas e seus materiais.
Não é acidental que Paulo, o grande apóstolo do templo celestial,
é duas vezes colocado em perigo através do contato com os dois
grandes templos daquela época sobre a terra.

1. Ele edifica uma igreja de santos na cidade de Éfeso, onde


Ártemis[15] tem o seu grande templo, seus mistérios e sua
assembleia. A cidade tem orgulho de ser a guardiã do templo de tão
grandiosa deusa a quem toda a Ásia Consular e a terra habitável
estavam adorando. Os principais ídolos da cidade, como o escrivão
da própria cidade afirma, eram dois: (1) Ártemis e (2) Diopetes; o
segundo era provavelmente uma pedra meteórica, caída do céu
(como também a pedra negra adorada em Meca). Ártemis significa
mãe terra.[16] O ídolo era representado por uma mulher com muitos
seios. Portanto, a religião daquela cidade estava em direta oposição
a Deus, o Pai, e seu Filho, que desceu dos céus.
Um tanto do poder daquela cidade era devido a encantamentos
mágicos, como aprendemos com a história de Paulo. Seus feitiços
não eram dons; mas tanto o templo de prata de Diana quanto os
encantamentos deveriam ser comprados por dinheiro. Que completo
contraste com os dons do Espírito Santo, para quem era um insulto
tentar comprar com dinheiro (Atos 8)!
O tumulto que colocou a vida de Paulo em extremo perigo foi
levantado pelos fabricantes de modelos de prata do templo de sua
deusa. As palavras e os atos de Paulo tinham feito diminuir a glória
da tal deusa e os lucros do seu comércio. A vida de Paulo, então,
estava em perigo, porque ele era um conhecido inimigo de ídolos, e
em algumas palavras, ele expôs a loucura que era adorá-los. Deve-
se observar que o apóstolo não fez nenhuma agressão física, como
fizeram alguns reformadores suíços e outros, em quaisquer dos
ídolos pagãos. Um ídolo quebrado suscita a ira e logo é reparado.
Mas Paulo, instruído pelo Senhor, tirou a base sobre a qual a
idolatria repousava. “Paulo [...] afirmando não serem deuses os que
são feitos por mãos humanas” (Atos 19.26). Portanto, a hóstia
consagrada de Roma não deve ser adorada!
Do iminente perigo a que Paulo estava exposto, ele foi liberto por
causa de algumas palavras do escrivão da cidade por temor do
reino que estava naquela época governando a terra, o de Roma.

2. Após deixar Éfeso, Paulo viaja para Jerusalém, a despeito das


advertências do Espírito Santo. Ele é persuadido a tomar parte no
nazireado e nos sacrifícios da lei, nos quais, como ele nos conta
mais tarde, Deus não teve nenhum prazer (Hebreus 10.8).
Construtor do verdadeiro templo, ele, ainda assim, entra na “casa”
de Israel abandonada por Deus. É veementemente atacado, como
alguém que se opunha a Israel, à lei de Moisés e ao templo, no
exato momento em que ele pensava estar lhes demonstrando toda
honra. Paulo é acusado de ter profanado o templo, por haver
introduzido nele um gentio e um efésio. A cidade toda é incitada à
fúria pela mentira. Israel havia destruído o verdadeiro templo em sua
incredulidade (João 2.19-21). Mas eles estão cheios de zelo por
aquele que podem ver, como testemunhas também da morte de
Estêvão. Paulo, um entre as testemunhas falsas naquele martírio,
agora é o alvo contra quem pessoas estão testemunhando
falsamente. Ele é levado perante a assembleia dos judeus, ou o
Sinédrio, e somente é libertado pelo poder do reino de Roma,
professando ele mesmo ser cidadão romano e pedindo permissão
para se defender diante do rei. Parece-me que, intenso e sustentado
como era o zelo de Paulo pelo Senhor Jesus e sua superioridade
para conosco, ele nunca é visto com menor vantagem do que aqui.
O homem precisa tanto da cidade, como a grande reunião dos
cidadãos e sede de governo do rei, quanto do templo, como centro
da adoração do seu Deus. Por esta razão, encontramos ambas as
coisas nas Escrituras; eles se encontram entre os pagãos e sob o
governo de Deus em Israel. Sob o império dos Césares, Roma era a
cidade; o templo pode-se dizer que era em Éfeso, cuja Diana todo o
mundo adorava.
Sob a lei, tanto o templo de Deus quanto a cidade do Rei estavam
unidos em Jerusalém. Este será o caso, de modo ainda mais
perfeito, na Nova Jerusalém.
“Também vós” (Efésios 2.22). Essa expressão denota outro
aspecto da eficácia da obra de Cristo. A igreja cristã é vista como:
(1) o futuro templo eterno na Nova Jerusalém, e (2) como a presente
habitação de Deus na terra durante o tempo do evangelho. O
Senhor não abandonou completamente a terra.
Deus agora é o grande construtor; Cristo e o Espírito são o
Bezalel e Aoliabe do novo tabernáculo. A igreja na terra
corresponde ao tabernáculo no deserto. No passado, os homens
construíram um com materiais terrenos. Agora Cristo e seu Espírito
estão reunindo, em íntima união, os homens realmente vivos para
Deus.
Esta união em Cristo é o aspecto principal. Mas é esquecido por
aqueles que perguntam: “Não havia homens santos antes da lei e
durante a lei?”. Respondemos: “Sim, mas eles se encontravam
sozinhos!”. Israel era uma nação, não uma igreja, que se formou
com os circuncidados e filhos de Abraão na carne. Embora tivesse
pessoas santas entre eles, a maioria era má. Mas Cristo veio para
reunir para si mesmo os filhos de Deus anteriormente espalhados
pelas nações (João 11.52). Até que ele ressuscitou e subiu ao céu,
não houve realmente um corpo santo de homens. A igreja é a
habitação de Deus, visível apenas aos homens de fé. O tabernáculo
de Moisés foi algo feito e visto pelos homens na carne. Mas a
habitação de Deus agora é para o mundo somente uma reunião de
tolos.
Se o templo se refere à habitação futura eterna de Deus em seus
santos, por que ela é colocada antes da habitação temporária de
Deus agora? Por uma razão: porque Paulo imediatamente
prossegue tratando dos princípios do evangelho e seu mistério
ainda em andamento, e não com o estado eterno. A ordem do
tempo nem sempre é da maior importância na mente do Senhor.
Observo que, no templo, o Senhor é proeminente. Um templo
santo no Senhor. No tabernáculo temos uma habitação de Deus em
espírito.

AS DUAS DIMENSÕES

DE EFÉSIOS 2
No final deste capítulo 2, eu apresento algumas visões
interessantes relativas às suas duas principais divisões. A primeira
parte ocupa-se dos dez primeiros versículos; a segunda, do restante
do capítulo. O encerramento do capítulo 1 ocupa-se do descortinar
para nós da elevação de Cristo Jesus acima de todo dignitário e de
todo nome. Isto corresponde ao cenário do primeiro homem acima
de toda a terra e suas criaturas. A supremacia de Cristo, o Ungido,
deve durar nesta era atual e no tempo do milênio (ou o sétimo dia).
Como Adão deveria ter domínio sobre toda a terra e subjugá-la,
assim também Deus “pôs todas as coisas debaixo dos pés” de
Cristo. Deste modo, Deus deu-o, “o cabeça sobre todas as coisas”,
“à igreja, a qual é o seu corpo” (Efésios 1.22-23a). A união vitalícia
entre esse Cabeça e seu Corpo é indissolúvel.
Depois que a glória de Cristo, o Cabeça, foi assim declarada, o
Espírito Santo entra no estado do corpo. Qual era o estado daquela
igreja (ou assembleia), a quem tão grande honra e glória são
concedidas? Elas estavam espiritualmente mortas; permanecendo
exatamente onde o homem foi deixado quando expulso do Éden sob
o poder do pecado, e da sentença de morte, guiado pela carne e
pela antiga serpente que os havia enganado.
O amor de Deus irrompeu nesse estado sombrio de coisas. Ele,
em suas riquezas de misericórdia, nos deu vida espiritual
“juntamente com Cristo” (Efésios 2.5). A vida do grandioso Cabeça
fluiu para o corpo. Isto é vida eterna! Pois o corpo vive enquanto o
Cabeça vive! E o Salvador subiu para Deus no poder de uma vida
sem fim. “Porque eu vivo, vós também vivereis” (João 14.19b). Por
isso, o apóstolo acrescenta: “Pela graça sois salvos” (Efésios 2.8). A
vida em Cristo que nos foi concedida é a vida eterna; e ela nos é
dada sem que nada de bom haja que a mereça, pois somos “filhos
da ira, como também os demais” (Efésios 2.3b). Portanto, nada
poderá separar da vida eterna aqueles que foram uma vez, em vida,
unidos a Cristo.
Deste modo, o apóstolo, depois de falar sobre a comunicação da
vida espiritual aos membros do corpo, se detém por um instante
para afirmar o exclusivo ato da graça de Deus nesta questão. A
concessão da vida espiritual corresponde ao que lemos em Gênesis
2.7: “Formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra”, umedecido
pela neblina que fazia as vezes da chuva (2.6). Ele “lhe soprou nas
narinas o fôlego de vida” (2.7a). Agora, porém, Cristo é a nossa
vida, e isto é salvação (Colossenses 3.1-4). Com esta obra de Deus,
Adão “passou a ser alma vivente” (Gênesis 2.7b). Entretanto, nós já
estamos muito à frente disso, porque somos almas salvas em
Cristo. “Porque pela graça sois salvos” (Efésios 2.8a).
Em seguida, o apóstolo diz que Deus, “juntamente com ele nos
ressuscitou e nos fez assentar em lugares celestiais em Cristo
Jesus” (Efésios 2.6). Temos três vezes a palavra “juntamente”,
porque tudo se volta para a união entre o Cabeça e o corpo. O lugar
apropriado para o corpo é onde o Cabeça está. Assim, a
ressurreição e a ascensão do Senhor Jesus são, em princípio,
também nossas. Sobre Adão, lemos: “E plantou o Senhor Deus um
jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que
havia formado” (Gênesis 2.8). Assim que a vida lhe foi concedida,
Adão foi colocado em um campo adequado a ele; também nós, pela
natureza da terra, somos, na doação da vida espiritual, feitos para
pertencer ao céu, onde o nosso Cabeça está, à direita de Deus. O
céu é o novo Éden, onde Deus habitará para sempre. E Cristo,
nosso Cabeça, virá do alto para nos levar para lá.
Por que o Altíssimo trabalhou assim em nós? “Para mostrar, nos
séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade
para conosco, em Cristo Jesus” (Efésios 2.7). O Criador mostrou
sua bondade à criatura que ele havia acabado de formar, dando-lhe
árvores formosas à vista, boas para servir de alimento. Havia
também duas árvores especiais para as quais a história posterior do
homem se voltou: (1) a árvore da vida e (2) a árvore da consciência.
A nós, por toda a eternidade, Deus tratará em Graça — riquezas de
graça e bondade — considerando que somos membros do seu
Filho.
Assim sendo, embora grande fosse a bondade de Deus para com
Adão na dádiva das árvores e do rio, dos animais e das terras
adjacentes, com seu ouro e pedras preciosas, sujeitados a ele, sim;
mas, mesmo assim, ele o colocou debaixo da lei e das penalidades.
A lei para a criatura suscita a ira, como constatou Adão e como nós
constatamos nele.
Ao homem foi dada permissão para comer de todas as árvores,
exceto de uma, que lhe foi proibida. A criatura deve aprender a
obedecer ao grande Mestre de todos. A penalidade por comer da
árvore da consciência (ou árvore do conhecimento do bem e do mal)
foi a morte (Gênesis 2.16-17). Aquela não era a posição de um filho,
mas de um servo e um súdito. Porém, quanto a nós, filhos em Cristo
Jesus, a graça será, por toda a eternidade, o único princípio
permanente da obra de Deus para conosco. Isto porque, pela graça,
somos tão unidos ao seu Filho que ele [o Pai] nos ama assim como
ama a Cristo!
Há uma exceção implícita. Os “séculos vindouros” (Efésios 2.7) ou
o Dia do Senhor” é um tempo de recompensa de acordo com as
obras e este se aplica à igreja e a todos os servos de Cristo.

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé” (Efésios 2.8a).


A fé é o elo que nos une a Cristo. “E isto não vem de vós; é dom de
Deus” (Efésios 2.8b). Aqueles que ocupam lugares elevados não
têm nenhuma base para se vangloriar, a não ser somente no
Senhor. Por esta razão, a corrente dourada da fé que nos liga a tal
misericórdia, maravilhosa e infindável, não é proporcionada, nem foi
criada, por nós, mas por Deus. Esta é a instrução repetida do
apóstolo sobre nossa união com Cristo, ponto que já foi
estabelecido no capítulo 1. Ali somos informados que a fé foi a
manifestação do grande e gracioso Deus por fazer-nos crer com
uma intensidade de força igual àquela exercida sobre Cristo,
ressurreto da sepultura e elevado à direita de Deus (Efésios 1.19-
20).
Essa é, evidentemente, a força do argumento do apóstolo. Deus
deve ter a glória; nós, rebeldes culpados, não tomaremos nada dela.
Portanto, toda a nossa grandeza será de Deus, em contraste com
nossos deméritos. A graça é de Deus. O mérito é de Cristo. O
vínculo que nos une é da própria forja e ligadura de Deus, caso
contrário, teríamos pretexto para nos vangloriar.
Consequentemente, para nossa alegria, o fracasso não chega a
esses assuntos. A vida eterna é nossa, o dom da graça de Deus em
seu Filho. Por natureza, nós odiamos Deus; e o ódio é suspeita e
desconfiança, enquanto a consciência às vezes seja alarmada pelos
temores que surgem das más ações e o que estas merecem.
Embora a trajetória das Escrituras pareça simples, ela é produto
de profunda sabedoria. Um ponto se encaixa perfeitamente a outro
ponto, como se encaixavam o gancho e a argola da cortina do
tabernáculo. Observou-se que o apóstolo divide a obra de Deus, ao
ajustar cada membro em sua união com Cristo, em duas partes.
Primeiro, Paulo fala da comunicação da vida a nós. Depois ele
interpõe uma palavra relativa à graça antes que dê nome aos outros
dois passos que também são da graça, e para sempre.
Respondendo a isto, há um “porque” e um “pois” explicativos: o
primeiro, no início do versículo 8; e o segundo, no versículo 10 de
Efésios 2. Estas são declarações que confirmam a asserção da
graça de Deus para conosco. “E estando nós mortos em nossos
delitos, nos deu vida juntamente com Cristo”; “porque pela graça
sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”
(Efésios 2.5, 8).
No versículo 10, temos o “pois”, e o versículo é o seguinte: “Pois
somos [1] feitura dele, [2] criados em Cristo Jesus para boas obras,
as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.
Esse “pois” admite e sustenta o testemunho do versículo 6, que nos
fala que ele “nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus”. E o fato de Deus colocar-nos nele nos
lugares celestiais é melhor do que o fato de Deus colocar Adão no
jardim do Éden da terra.
Através de duas palavras, a nossa nova criação é ratificada.

1. Somos feitura de Deus (Efésios 2.10) assim como o oleiro faz o


vaso com o barro. De modo correspondente, em Gênesis, há duas
visões de Adão vindo à existência. Em Gênesis 2.7, temos que
Deus “formou [...] ao homem do pó da terra”, sendo esse pó
preexistente.
E, assim como o oleiro comunica beleza de forma e cor à massa
disforme de barro, assim também Deus, o nosso Deus, nos dá graça
agora, e um dia nos dará glória. “Somos feitura dele”. Somos a obra
do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ela está em andamento.
2. Mas a Palavra também diz “criados em Cristo Jesus” (Efésios
2.10). Isto corresponde a outro relato da formação de Adão, que se
encontra em Gênesis 1.26-27: “Também disse Deus: Façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele
domínio [...]. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem
de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Três vezes este único
versículo diz “criou”. Isto não está falando a mesma coisa
repetidamente? Não! Isto está mostrando, não o Adão individual,
mas a sua raça. A primeira declaração apresenta a visão geral; a
segunda observa que o primeiro homem, Adão, foi criação de Deus;
a terceira afirma a criação igual de Adão e de Eva. Deus primeiro
criou, isto é, deu existência à matéria da qual ele formou e moldou
Adão e sua mulher.
A velha criação era bonita e boa, como que para arrancar o
aplauso dos anjos que os observavam. Mas sua glória não iria durar,
enquanto aquela da nova criação em Cristo Jesus permanecerá
para sempre.

O que Jeová planejou que fosse o serviço de Adão? Foi algo


intimamente relacionado com o jardim no qual ele o colocara.
“Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou [palavra
originalmente diferente daquela usada no v. 8: “pôs”][17] no jardim do
Éden para o cultivar e o guardar” (Gênesis 2.15). O gado e os
animais selvagens do Éden não deveriam pisar as plantas ou
quebrar as árvores, belas e boas para alimento do seu dono. Mas,
nessa brecha, a sutileza de Satanás, através da serpente, introduziu
o pecado e a morte. Adão deveria guardar o Éden, mas ele não
discerniu o perigo espiritual que Satanás representava.
Nosso destino é muito mais alto do que o do primeiro Adão.
Fomos criados, não para revolver o solo ou colocar cercas, mas
para uma nova classe de boas obras, segundo o exemplo dele, que
“andou por toda parte, fazendo o bem” (Atos 10.38). Nós, tendo sido
feitos novos à imagem de Cristo, devemos fazer as obras da graça,
como as dele. O Adão não caído não deveria ser indolente; muito
menos nós devemos ser. Cristo é o nosso Senhor tanto quanto é o
nosso Salvador. Ele, como Senhor, dá “a cada um a sua obrigação,
e ao porteiro ordena que vigie” (Marcos 13.34). “Depois de muito
tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles”
(Mateus 25.19). Mas quanto ao servo inútil e infiel, “lançai-o para
fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mateus
25.30).
Vemos que as obras seguem após a vida ser concedida. O
homem morto não deve se empenhar em fazer boas obras com a
finalidade de obter vida. Boas obras devem ser nosso emprego
atual; nossa recompensa deverá ser-nos dada na era por vir. E
apenas as obras da fé e do amor são boas. Obras da incredulidade
são obras mortas.
As obras com as quais devemos nos envolver são aquelas “que
Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios
2.10). Nosso velho andar foi suficientemente ruim; seu pagamento,
a morte. Com a nova vida deve vir um novo andar. E o caminho ao
longo do qual esse novo andar deve se mover foi antes traçado por
Deus; exatamente como as árvores, os animais e o rio do Éden,
criados e preparados para Ele, apontavam para o plano de sua
ocupação.

COMO OS CRENTES POSICIONAM-SE

COM RELAÇÃO À LEI


Nesta segunda parte de Efésios 2 (vv. 11-22), é tratada uma
questão que segue imediatamente a anterior. Pode-se dizer: “Você
nos mostrou o caminho para fora da ira e da sentença do Éden,
para uma vida melhor e para o Éden do alto. Mas como você pode
ignorar a obra de Deus sob a direção de Moisés e dos profetas? Por
que você não é circuncidado? Por que você não se une ao povo de
Deus da antiguidade?”. Isso, devo admitir, é questão de muita
importância e interesse.
Os judeus crentes esperavam que os gentios crentes aceitassem
a circuncisão e se tornassem judeus; eles próprios, mesmo depois
da fé, ainda estavam sendo zelosos pela lei.
O apóstolo, então, começa por convidar os cristãos a voltar os
olhos para sua posição como a das nações, no tempo de Moisés.
Eles estavam, pela própria incircuncisão de seu corpo, em tempos
passados, separados do povo de Deus redimido através de Moisés.
Eles se encontravam sob uma reprovação especial, estavam fora de
todas as bênçãos prometidas à posteridade de Abraão, tanto antes
da lei como debaixo dela. Eles estavam “sem Cristo” (Efésios 2.12),
que era a vida das promessas a Israel. E mesmo quando Cristo
apareceu, durante toda a sua vida, Ele manteve a posição de
circuncidado cumpridor da lei. “Não tomeis rumo aos gentios, nem
entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as
ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus 10.5-6; veja também
Romanos 9.4-5).
Mas o Salvador é o novo Moisés e Ele atrai seu povo a si mesmo,
como sendo um deles. Ele morreu; Ele ressuscitou. A velha aliança
do Sinai foi colocada de lado. O sangue de bois e cabritos não podia
apagar pecados; não podia dar aos homens a verdadeira
aproximação do Deus de santidade. Por isso, no grande encontro
em Horebe, os homens foram isolados do escabelo dos pés de
Deus, e, quando ele desceu na nuvem e no fogo, esses se
afastaram em um temor mortal. “Chega-te, e ouve”, disseram ao
mediador, pois, segundo eles, eles morreriam se outra vez tivessem
“ouvido a voz do Deus vivo falar do meio do fogo” (Deuteronômio
5.27; cf. 5.26).
O sangue de Cristo, como sacrifício, nos traz para perto de Deus,
não em carne, como Israel se aproximou, mas ele nos coloca em
espírito em Cristo. Não somos colocados sob a direção de Moisés,
para penosamente aprendermos com os homens da lei as rigorosas
exigências de Deus, e para vermos nossas frequentes
transgressões. Todavia, somos colocados naquele que obedece e é
reconhecido por Deus como o seu Justo.
Observemos que não está escrito que nos aproximamos pela
carne de Cristo, como seria se a encarnação de Cristo fosse
suficiente; mas fomos aproximados “pelo seu sangue” (Efésios1.7).
Israel foi, de duas maneiras, aproximado de Jeová através do
sangue.

1. Eles foram tirados do Egito e da escravidão pelo sangue do


cordeiro, portanto escaparam da avalanche das águas que caíram
com força tal que fizeram submergir aqueles que não estavam sob o
sangue da redenção.
2. Eles se aproximaram do monte de Deus no deserto, e agora
serão para sempre o seu povo, através do sangue da aliança que foi
aspergido sobre eles. Quão melhor é esta palavra para nós! “Porque
isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança,[18] derramado em
favor de muitos, para remissão de pecados” (Mateus 26.28). “Para
pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu
próprio sangue” (Atos 20.28b).
Os setenta anciãos, depois da aspersão sobre o povo, por
especial convite de Deus, subiram a encosta do monte Horebe. Lá,
comeram e beberam diante do Senhor da aliança. A presença de
Deus estava encoberta de Israel por nuvens e escuridão. Mas estes
setenta “viram o Deus de Israel” (Êxodo 24.10). Nosso lugar de
aproximação na ceia do Senhor é semelhante ao deles, mas muito
superior. Moisés deixa os anciãos, ele mesmo convidado a subir o
pico do Sinai, ordenando-lhes que permanecessem no cume do
Horebe até que ele voltasse. Semelhante é o chamado do nosso
Mediador. “Anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”
(1Coríntios 11.26; Hebreus 10.35-39).
Para nós, Cristo fez a paz por meio de sua morte; mas na
ressurreição, Ele é e permanece no alto como “a nossa paz”
(Efésios 2.14). Depois do bezerro, Moisés tentou fazer a pazes com
Jeová, por causa da idolatria do seu povo; porém, foi recusado.
“Sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hebreus
9.22). Moisés morreu e seu sucessor deveria ser escolhido. Jesus,
entretanto, vive para sempre.
Jesus faz um novo homem a partir de duas divisões do velho
homem. Moisés foi escolhido para a separação entre a carne
circuncidada e a carne incircuncisa. E a sua lei, em vez de trazer a
paz a Israel, trouxe a espada, por meio da qual três mil foram
mortos.
Cristo é “a nossa paz” (Efésios 2.14). Há apenas um Pacificador
para Paulo e para nós, e em sua paz nós habitamos. Mas a
intercessão de Moisés somente protelou a justa ira de Jeová para o
futuro dia da vingança, quando Deus visitará tanto judeus quanto
gentios pelos pecados há muito existentes. Moisés e seu sucessor
foram enviados como guerreiros de Deus para pôr fim, pela guerra,
às sete nações de amadurecida maldade.
Efésios 2.14-16 é uma passagem muito difícil, singularmente
dividida, mas cheia de verdade.

Porque ele é a nossa paz, [1] o qual de ambos fez um; e,


[2] tendo derribado a parede da separação que estava no
meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças, [1] para que dos
dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo
[assim] a paz, e [2] reconciliasse ambos em um só corpo
com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a
inimizade (Efésios 2.14-16).

O que é “a parede de separação que estava no meio”? Era a


circuncisão, juntamente com a lei que brotou dela e se tornou seu
pleno desenvolvimento. As esposas de Abraão eram tipos das duas
alianças e a circuncisão foi dada a Abraão depois do nascimento de
seu filho inferior, o filho da escrava (Gálatas 4). O efeito do ritual de
separar os judeus dos gentios é demonstrado na história de Jacó e
no esquema maligno de Simeão e Levi (Gênesis 34).
É bastante perceptível que o apóstolo dá duas descrições da lei
em dois versículos associados entre si.
A lei de Moisés é (1) a “parede de separação que estava no meio”
(Efésios 2.14). Este é o ponto de vista dela em relação às nações:
separando-as de Israel e projetada para fazer isso mesmo. A parede
e o muro foram derribados pelo Salvador a fim de que judeus e
gentios possam se encontrar nele. Ou toda a lei é derrubada ou
nenhuma é. Porque a lei amaldiçoa todos que infringem até uma
mínima parte dela.
Depois vem “a inimizade” (Efésios 2.14), o ódio mútuo entre
judeus e gentios, que surge a partir da circuncisão e sua lei. Esta é,
portanto, colocada no meio — entre as duas descrições da lei.
A seguir, temos o anúncio de que Cristo “aboliu, na sua carne, a
lei”; ou “tirou, em sua pessoa, a força da lei”[19] (Efésios 2.15). A
pessoa do Salvador é, deste modo, colocada ao lado da lei que diz
respeito a Israel. Ele, como circunciso, tornou-se obrigado a
obedecer toda a lei; e ele a cumpriu para a satisfação de seu Pai.
Mas a lei demandava vingança contra seus transgressores.
Portanto, o Senhor Jesus suportou a penalidade da lei. Assim, a lei
foi destituída de seus braços: ela demandava perfeita obediência, e
perfeita obediência lhe foi conferida. Ela exigia a morte como
pagamento pelo pecado, e o Mediador morreu. A lei tem domínio
sobre um homem somente enquanto ele vive (Romanos 6.7). Jesus,
então, na ressurreição, fica livre da lei. Ele é o Justo, e aqueles que
estão nele são justos e libertos de Moisés, a fim de obedecerem ao
próprio Jesus.
A segunda descrição da lei é (2) “a lei dos mandamentos na forma
de ordenanças” (Efésios 2.15). Isto coloca diante de nós a aliança
mosaica, em seus dois principais compartimentos, como foi
apresentada em Êxodo. Temos, primeiramente, os Dez
Mandamentos, a base da antiga aliança de obras, falados pelo
próprio Deus a todo o Israel; depois, os mandamentos cerimoniais e
judiciais, dados através de Moisés. Nosso Senhor cumpriu ambos e
a distinção dessas duas partes da lei é dada em suas duas
descrições.
Embora naquele tempo fosse ofício de Moisés separar os judeus
dos gentios e colocar Israel debaixo de uma lei sob a qual a carne
caída “não está sujeit[a] à lei de Deus, nem mesmo pode estar”
(Romanos 8.7), a obra mais louvada de Cristo foi trazer os crentes
Nele, não importando se das nações ou da casa de Jacó, para
unidade em si mesmo, o perfeito observador da lei.
Embora Israel se vangloriasse, em contraste com os gentios
incircuncisos, a lei, a lei deles, não obstante, era a sua própria
condenação diante de Deus! Ela amaldiçoava como transgressores
até o seu próprio povo, os homens circuncisos da lei! Portanto, a
morte do Salvador e a nova aliança foram, diante de Deus,
necessárias a Israel, como igualmente aos gentios.
Moisés colocou a carne circuncisa em seu julgamento e uma
montanha de transgressões foi o resultado! Isto o Salvador eliminou
por meio de sua morte na cruz. Ele realizou a paz em um corpo. Isto
deve significar o próprio corpo do Salvador, pois judeus e gentios só
foram tecidos em um corpo depois da morte do Salvador e em
ressurreição. Ora, como apenas uma oferta foi apresentada a Deus
por judeus e gentios, e é aceita por Deus em favor deles, eles estão
estabelecidos em uma única e mesma condição de aceitação diante
dele. Somente quando as exigências de Deus contra as nações e
Israel foram satisfeitas, pode o Altíssimo revelar-se como “o Pai”.
Uma vez que há dois aspectos da lei, também há duas diferentes
palavras que marcam o relacionamento do Salvador com ela: uma
(1) durante sua vida, e outra (2) quando pregado na cruz, sob o
poder das trevas. Da primeira, lemos que Ele, “na sua carne”,
reduziu a lei à impotência; e na outra, lemos que Ele, em um corpo,
reconciliou ambos a Deus no madeiro.

“Por intermédio da cruz” (Efésios 2.16). O madeiro carregou


tanto a morte quanto a maldição. (1) A maldição do Éden e (2) a
maldição da lei. Pois a dispensação de Moisés foi o julgamento do
homem caído sob a lei, como o jardim foi o julgamento do homem
sob a lei antes da queda. Assim, nosso Senhor carregou o pecado
que a lei não pode tirar, e seu amor aos judeus e aos gentios,
igualmente, suscita o amor de ambos para com o Redentor, que se
fez maldição, para que eles possam permanecer em bem-
aventurança para sempre.[20] A cruz, como é descrita pelos
evangelistas, foi o centro de uma feroz e amarga explosão de
incredulidade de judeus bem como de gentios. Mas, para os
homens de fé, homens em Cristo, a cruz é o grande centro de
admiração, amor e unidade.
Desta forma, a lei, que era contra nós, contrária a nós, como disse
Paulo, foi removida. Ela é duplamente contra nós: (1) por causa dos
atos de transgressão, e (2) por causa da natureza má da carne que
não se sujeita a ela, nem mesmo pode se sujeitar (cf. Romanos 8.7).
Com a remoção da lei e com a regeneração, vem a remoção dos
sentimentos de dupla inimizade. Esses sentimentos, em si, e
mesmo antes de sua manifestação em ação visível, foram a
violação de dois importantes princípios de amor para com Deus e
para com os homens. A inimizade terminou na cruz. O novo homem
e o amor começam do outro lado da cruz e com a descida do
Espírito Santo em Pentecostes. A morte é o fim da circuncisão e da
lei. E a imersão de Cristo fala-nos da criação do novo homem pela
regeneração realizada pelo Espírito Santo. A inimizade é destruída,
pois o Espírito Santo é o espírito de unidade: o Um Espírito do Um
Corpo.
Assim como, pelo sofrimento da cruz, o Salvador foi para o meio
dos mortos, criando lá um “Paraíso” para os seus que haviam
partido;[21] assim também, pela ressurreição, Ele retornou para os
vivos. Ele veio como nenhum outro já havia vindo, da sepultura, em
seu corpo reconstruído para a eternidade.
Para esse retorno à superfície da terra em seu corpo, que era
visivelmente a vitória sobre a morte, Cristo acrescentou palavras
que declaravam sua obra completada, e isto em referência tanto aos
judeus quanto aos gentios.
“E, vindo, evangelizou paz”[22] (Efésios 2.17). Aqui há uma
referência às subidas e descidas de Moisés no Sinai. Mas Moisés
não pregou a paz. Ele primeiramente ordenou a santificação, porque
Jeová estava prestes a visitá-los. A visita de Jeová não significava
paz, mas terror. E Moisés desceu do monte, durante a festa do
bezerro, e convocou Israel para guerra e espada. Ele teve que falar
a Israel que eles deveriam se despir dos seus ornamentos para que
a ira de Deus não os consumisse repentinamente. Tão ofendido foi
o Altíssimo que, se não fosse a intercessão de Moisés, todo o povo
teria sido eliminado. Quando o grande líder desce finalmente, com
as tábuas da lei restauradas, e seu rosto brilha, há terror; e isto é
apenas uma trégua preparada entre Jeová e Moisés. Coisas
terríveis estão reservadas para as doze tribos, quando o dia, há
tanto esperado, vier.
Mas Cristo nos levou a ter acesso ao Santíssimo Lugar, com
acolhimento a judeus e gentios. O Espírito desceu à terra para
testificar a todos que ouvissem que, enquanto o judaísmo podia
somente servir ao Jeová velado, a distância, Cristo introduz seu
povo ao Santíssimo dos céus, através do véu rasgado. O perdão
dos pecados altera até mesmo o nome de Deus. Agora ele é nosso
Pai. Ele se revela ao longo de toda esta dispensação como Pai,
Filho e Espírito Santo. Além disso, a concessão de dons de milagre
do Espírito, não sobre Israel somente, mas também àqueles que
estão longe, tantos quantos Deus eleger, foi a prova da paz
alcançada completamente. E, assim como Deus tomou um novo
nome, assim também, através de Cristo, seu Filho, Ele concede a
todos os membros de Cristo o novo nome de “cristãos”.[23]
A nova criação e a nova aliança alteram tudo para melhor. Nós,
que antes estávamos fora da nação santa, somos agora
concidadãos da Nova Jerusalém. Somos salvos em Cristo para
habitar eternamente no novo Paraíso: uma cidade melhor e um
Éden melhor do que Israel e o mundo conheceram. Os homens da
circuncisão podem se autoproclamar pertencentes à Cidade Santa,
mas nós somos os primogênitos arrolados no céu, cidadãos eternos
no Livro da Vida do Cordeiro (Hebreus 12).
A Israel foi prometido que, se fossem obedientes, seriam “um
reino de sacerdotes e nação santa” (Êxodo 19.6). Mas Cristo nos
consagrou por meio do seu sangue e “nos constituiu reino,
sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Apocalipse 1.6), em graça, em
contraste com as nossas obras.
Moisés erigiu o tabernáculo do deserto; Davi e Salomão, sob o
direcionamento dos profetas, prepararam e construíram o templo.
Nós, tendo dado crédito ao testemunho de Cristo apresentado pelos
profetas e apóstolos do Novo Testamento, somos ativamente
sacerdotes espirituais da casa de Deus e, forjados por ele,
formamos um organismo novo e eterno a ser um dia manifestado na
Cidade Eterna dos ressurretos. Seremos o completo templo de
Deus.
Sobre a pedra rejeitada pelos construtores de Israel nos
apoiamos, e o Espírito de Cristo está fazendo de nós, sempre que
nos reunimos no nome do Salvador, um tabernáculo no qual Ele
entra e o qual Ele está moldando para adoração e cooperação por
meio do poder divino. “E me farão um santuário, para que eu possa
habitar no meio deles” (Êxodo 25.8), foi a mensagem de graça por
meio de Moisés. Mas agora, o grande Bazalel e Aoliabe são o Filho
e o Espírito. A terra e Jerusalém sendo colocadas de lado, o Pai é o
objeto de adoração (João 4).
Após ser dado a Cristo o nome de “a pedra angular” (Efésios
2.20), temos duas vezes a expressão “no qual”, comunicando-nos a
diferença entre nós, considerados como (1) o templo santo da
eternidade, e nós, considerados como o atual (2) tabernáculo no
deserto, respectivamente (Efésios 2.21-22). Pela fé na Palavra, não
por meio de Moisés e dos profetas, somos edificados com base em
Cristo como a principal pedra angular.
Mas, os profetas judeus, antes disso, não falaram do Cristo como
“a pedra que os construtores rejeitaram”, que “veio a ser a principal
pedra, angular”? (Salmos 118.22).
Sim, onde o inspirado escritor estava falando da misericórdia para
com Israel e com a casa de Arão, nos dias por vir. Todavia, observe
o belo acréscimo feito aqui. Jesus, o Messias, sendo a principal
pedra angular. Aqui, Israel tropeça e é arruinado. Nós edificamos e
somos edificados, e somos salvos.
Deste modo, a primeira metade do capítulo 2 de Efésios
apresenta-nos Cristo como o novo Adão, autor de uma nova
criação. Mostra a obra de Deus realizada em nós, em Cristo, até
entrarmos no Paraíso de Deus em ressurreição, para servirmos em
interminável bênção e em novas ocupações adequadas aos
redimidos.
A segunda metade revela-nos Cristo como o novo Moisés,
removendo a lei, sob a qual não havia salvação nem para os judeus
nem para os gentios. Em vez do jardim do Éden, temos a cidade da
terra celestial e o templo do reino, com nosso lugar ali como reis e
sacerdotes consagrados da melhor aliança.
CAPÍTULO TRÊS
A Mensagem

A mensagem de Paulo às nações.

A lei e a carne colocadas de lado.

O novo homem criado em Cristo.

As mudanças resultantes.

Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo


Jesus, por amor de vós, gentios (Efésios 3.1).

Em consequência do desígnio de Deus em remover a lei e edificar


para Cristo esse novo corpo, a igreja, a graça foi aberta a todas as
nações. Mas um novo servo de Deus, conhecedor do seu plano e
desejoso de levá-lo a cabo, era necessário, alguém que desejasse
também sofrer pela causa de Deus e para o benefício das nações.
Pois os salvos desta dispensação são de peculiar valor aos olhos de
Deus.

“Paulo, [...] o prisioneiro de Cristo Jesus” (Efésios 3.1). Como


o Senhor removeu a inimizade completamente, neste caso, quando
Paulo, como zeloso pela lei, estava disposto a pregar Cristo aos
gentios, e sofrer por causa de Israel e por causa das nações, por
amor à igreja! Onde qualquer outro teria dito “o prisioneiro de Nero”,
Paulo diz “o prisioneiro de Cristo”. Diante de todos os outros
interesses, ele olha para a mão de Cristo como governante de tudo.
É importante que nós façamos o mesmo! Assim diz o nosso Senhor
Jesus: “Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?” (João
18.11). Era por amor a Jesus Cristo que Paulo estava na prisão.
Mas, visto pelo lado dos homens, isso mostrava a maldade tanto
dos judeus como dos gentios. Paulo era odiado pelos judeus por ser
o mensageiro do Altíssimo para os gentios. Ele estava detido como
prisioneiro dos romanos para agradar os judeus, embora
confessassem que Paulo era inocente de qualquer ofensa às leis de
Roma.
Quando Jeová estava se manifestando como o Deus de Israel, o
construtor do seu templo era um rei ilustre. Agora o construtor do
seu melhor templo é um prisioneiro desprezado e injuriado, sob as
mãos do rei de Roma e em perigo de vida. Foi realmente um tempo
de mistério! Quando Coré e Datã levantaram-se contra Moisés e
Arão, a terra se abriu e engoliu os insurgentes, e fogo do
tabernáculo matou os rivais de Arão. Quando o rei de Israel enviou
alguns de seus soldados para prender Elias, fogo do céu desceu e
os eliminou. Quando os embaixadores de Davi foram tratados com
indignidade, ele vingou o insulto com a guerra (2Samuel 10). Mas
agora, nem Paulo clama por vingança, nem o Salvador ergue seu
braço em favor dele. É o tempo de misericórdia! Mas, quando o
tempo da recompensa chegar, o injuriado Paulo será realmente um
rei!
Qual foi a causa do seu aprisionamento? Foi o ódio dos judeus.
Paulo foi falsamente acusado como profanador do templo. Sua vida
foi perseguida, porque em Jerusalém ele se proclamou mensageiro
enviado às nações, em consequência da rejeição de Israel ao
Senhor Jesus.

Paulo era o “prisioneiro de Cristo Jesus” para os “gentios”,


ou seja, para as nações (Efésios 3.1). A missão de Paulo era
exclusivamente para as nações, inclusive para a nação de Israel.
Ele estava colocando em prática a palavra do nosso Senhor: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28.19). O
Cristo havia de padecer até à morte e ressuscitar, “e que em seu
nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a
todas as nações, começando de Jerusalém” (Lucas 24.47).
Seria demorado demais que eu apresentasse um esboço da
história dos procedimentos do Senhor com as nações, tanto no
passado quanto no futuro. Mas o leitor das Escrituras achará o
estudo muito proveitoso. Apenas mencionarei que a expressão “as
nações” em Apocalipse tem o mesmo significado dado aqui, até
mesmo quando fala sobre o estado eterno dos salvos (Apocalipse
21.24, 26; 22.2).
Esta carta de Paulo é seu manifesto, não somente aos efésios,
nem somente para a Ásia, mas para as muitas nações do mundo
inteiro. Cristo pretendia que a epístola iluminasse os lugares e
tempos distantes daqueles visitados por Paulo. Era uma mensagem
para eles, para seu benefício e sua salvação, de modo tão real
quanto a lei era contra eles e contrária a eles.
Os crentes referidos aqui foram outrora “das nações”. Haviam
saído delas pela fé e pelo batismo, e agora estavam “em Cristo”.
Aqui Paulo fala àqueles que lerem sua epístola sobre o objetivo de
sua missão para o mundo. Ele pregava às nações a fim de ganhar
homens do mundo para Cristo. “Porque todos quantos fostes
batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode
haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem
mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.27-
28).
Um apóstolo especial era necessário para levar aos gentios as
boas novas relativas a Cristo. Aos primeiros doze foi ordenado que
fossem às nações e fizessem discípulos de todas elas. Contudo,
lemos que debaixo da perseguição de Saulo, quando a assembleia
de Jerusalém foi dissolvida, “todos, exceto os apóstolos, foram
dispersos pelas regiões de Judeia e Samaria” (Atos 8.1). Quando
Pedro é, por fim, especialmente comissionado para pregar a
Cornélio, vemos que ele é objeto de reprovação de seus irmãos,
que são descritos como “os da circuncisão”. Pedro primeiramente se
recusa a obedecer à visão do lençol baixado do céu, porque ele
nunca havia transgredido as leis mosaicas quanto às refeições.
Deus, então, em sua graça, levantou Paulo para transmitir esta
mensagem, que é tão preciosa para nós. Nenhum outro apóstolo
senão ele teve a ousadia de experimentar o ódio que surgiu devido
a essa missão para as nações, e ao ensino para os gentios acerca
da aceitação deles por Deus, tendo total liberdade da lei de Moisés.
A missão de Paulo foi, de fato, para benefício das nações. Ele
proclamou em sua plenitude a liberdade dos que estão em Cristo.
O objeto da missão de Paulo, como ele mesmo diz, são as
nações. Israel é agora considerado somente uma entre as nações;
sua posição distintiva foi outrora perdida por causa do pecado. “Na
tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra.
Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a
vós outros para vos abençoar” (Atos 3.25-26). Esta é parte do último
discurso de Pedro a Israel. “Ora, tendo a Escritura previsto que
Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o
evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em
ti” (Gálatas 3.8, ARC). “As nações”, então, incluem todo o mundo.
Esse evangelho está em vigor somente enquanto Cristo está no
céu. Quando Ele retornar, será para Jerusalém e seu templo, e a
supremacia de Israel sobre os gentios será declarada e
estabelecida, como vimos em Isaías. Porém, agora os crentes de
todas as nações, sendo aceitos em Cristo, ocupam uma única e
mesma posição diante de Deus.
A resistência voluntária de Paulo quanto a seus esforços pelas
nações evidenciou seu forte senso da profunda importância de sua
mensagem, e somos extremamente devedores a ele. De fato,
aquele que está em Cristo está colocado em uma posição muito
mais elevada do que Israel, agora, na era vindoura, e para sempre.

Se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da


graça de Deus a mim confiada para vós outros (Efésios
3.2).

Este versículo diz respeito ao destino da carta do apóstolo. “Se é


que tendes ouvido” parece estar em desacordo com a inscrição “Aos
Efésios”, pois Paulo os trata como um estranho os trataria, embora
ele tivesse permanecido em Éfeso por três anos.
Todavia, a expressão não deixa dúvida. O apóstolo pressupõe
que todos haviam ouvido.
Disso devo discordar fortemente.
Primeiro, “se” é uma partícula limitante e expressa dúvida. Mas a
expressão usada aqui enfatiza fortemente a dúvida: “se é que”. Nem
todas as nações para as quais Paulo fora enviado teriam ouvido
falar sobre ele, sobre sua missão por Cristo, seu aprisionamento e
sobre a revelação feita a ele pelo Salvador.
Então, ele não esperava que todos a quem ele estava escrevendo
tivessem ouvido falar sobre seu nome e missão. Para os crentes
colossenses, Paulo diz: “Para apresentar-vos perante ele [Cristo]
santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que [ou, como eles dizem
na lei, “contanto que sempre”] permaneceis na fé, [...] não vos
deixando afastar da esperança do evangelho” (Colossenses 1.22-
23). Multidões de crentes não conhecem a esperança ligada ao seu
chamado, e multidões a abandonaram. Portanto, não é um “se”
retórico, colocado antes de algum sentimento que seja considerado
como certo.
Mas surge aí uma outra pergunta: Será que essa epístola foi
enviada primeiramente a Éfeso, sendo uma epístola circular? A
evidência deste versículo e do versículo 4, juntamente com alguns
outros pontos, é favorável à ideia. Algumas cópias omitem as
palavras “em Éfeso” (Efésios 1.1). Foi uma carta designada às
nações distantes, tão verdadeiramente quanto eram as visitas
pessoais do apóstolo (Atos 22.21). Enquanto todos em Éfeso ou em
sua vizinhança podem ter ouvido falar sobre Paulo, a dúvida se
aplica às pessoas e tempos distantes.
Foi de importância fundamental que a autoridade independente do
apostolado de Paulo fosse conhecida pelas nações, pois sobre isso
a importância de seu evangelho se volta. Contudo, ao mesmo
tempo, o comissionamento que foi dado a Paulo era tão amplo que
nem todos, ao ler a carta pela primeira vez ou de imediato, estariam
cientes dele. O evangelho de Paulo foi designado às multidões
distantes no espaço e no tempo. Além do mais, nem todos que
haviam ouvido falar sobre Paulo e sobre seu trabalho para Cristo
estariam cientes do fato de que ele possuía aquele entendimento do
mistério, ao qual ele imediatamente se sujeita.
Esta questão é comumente tratada como se a expressão “se é
que” se referisse apenas aos efésios. Mas, da forma que está na
epístola, um raio de ação muito mais amplo é apresentado
previamente. Então, esse particípio impõe um limite. “Paulo, [...]
prisioneiro [...] por amor vós”, as nações, “se é que tendes ouvido...”
(Efésios 3.1-2). Embora ele pudesse esperar que todos os efésios e
suas circunvizinhanças tivessem ouvido falar em seu nome e seu
apostolado, Paulo certamente não esperava que todas as nações
tivessem ouvido. Muito menos que teriam ouvido todos aqueles em
épocas distantes, a quem sua epístola pudesse alcançar. E não
foram poucos os que rejeitaram seu ministério independente (veja
Gálatas).
A missão de Paulo era principalmente da graça, pois as nações
não tinham nenhum direito a Deus. Como está escrito: “Digo, pois,
que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da
verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos
pais; e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua
misericórdia” (Romanos 15.8-9).

“A mim confiada para vós outros” (Efésios 3.2). Foi em


consequência do fracasso dos primeiros apóstolos em executar
esse plano que Paulo foi promovido. É como se ele quisesse nos
levar a entender, através dos termos empregados, que ele estava,
como apóstolo das nações, cumprindo os termos do
comissionamento feito pelo Salvador, como apresentado nos três
primeiros Evangelhos.

1. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus


28.19); “e que em seu nome se pregasse arrependimento para
remissão de pecados a todas as nações” (Lucas 24.47). “Disse o
Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a
que os tenho chamado. Enviados, pois, pelo Espírito Santo,
desceram a Selêucia” (Atos 13.2, 4). “Desde Jerusalém e
circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de
Cristo” (Romanos 15.19). Paulo testifica que, por escrituras
proféticas que procediam de sua escrita, o conhecimento de Cristo
foi proclamado, “para a obediência por fé, entre todas as nações”
(Romanos 16.25-27).

2. “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”


(Marcos 16.15). “O evangelho, que chegou até vós; como também
em todo o mundo” (Colossenses 1.5-6). “Não vos deixando afastar
da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda
criatura debaixo do céu, e do qual, eu, Paulo, me tornei ministro”
(Colossenses 1.23).
A missão de Paulo era a prova do amor de Deus para com o
mundo. Posteriormente, é descrito como “o mistério de Cristo”, “as
insondáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3.4, 8).

Pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o


mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo
que, quando ledes, podeis compreender o meu
discernimento do mistério de Cristo (Efésios 3.3-4).

A igreja, o novo homem, o corpo de Cristo, não foi uma


descoberta de Paulo, feita por meio do examinar as Escrituras.
Todas as suas convicções anteriores estavam em oposição à
doutrina que ele disseminou como apóstolo de Cristo e à linha de
conduta na qual, como apóstolo, ele se moveu.
Seu grande testemunho é “o mistério” (Efésios 3.3), o tempo da
presente dispensação da misericórdia, durante a qual a igreja está
se formando.
“Mistério” não significa algo que não pode ser entendido, como,
por exemplo, o mistério do homem da máscara de ferro, mas um
segredo de Deus; um segredo agora revelado pelo Altíssimo. Ele
terminará com a vinda do julgamento, a manifestação de Cristo em
glória e o reino milenar.
“O mistério” consiste na atual incredulidade dos judeus e do
mundo, enquanto Cristo está ausente e Israel está distante de Deus.
O apostolado de Paulo e seu conhecimento eram independentes
dos primeiros doze. Cristo em pessoa deu-lhe a conhecer tudo que
era necessário para sua missão. Esta é uma verdade da maior
importância para as igrejas das nações.
Ao tratar de doutrina em suas outras epístolas, ele comprova seu
propósito com passagens das Escrituras do Antigo Testamento.
Mas, ao tratar do mistério, ele se cala. Em Romanos, lemos umas
vinte vezes a expressão “está escrito”. Mas, em Efésios e
Colossenses, nenhuma vez; pois o mistério foi mantido em segredo
para Moisés e os profetas. Por isso, devem ser rejeitados os títulos
e subtítulos de vários capítulos em Isaías, em várias versões da
Bíblia, pois confundem as promessas milenares para Israel com a
graça de Deus para a igreja. Em algumas versões, lemos o título de
Isaías 60: “A glória da igreja no abundante acesso dos gentios”. Em
Isaías 62, algumas versões bíblicas dizem: “O ardente desejo do
profeta em confirmar para a igreja as promessas de Deus”.
Não é assim! A igreja era um corpo cujos privilégios somente
viriam à luz depois que a lei fosse colocada de lado e as promessas
para Israel e para a terra estivessem suspensas.
“O mistério”, como período, são os dois mil anos da espera de
Deus para ver que resposta Israel e as nações darão ao seu
chamado para obedecer ao seu Filho. É o senhor na parábola do
Trigo e do Joio, permitindo que ambos amadureçam para o
julgamento. No final da era, a misericórdia terá fim e a justiça
conferirá a cada um sua colocação certa. Esse tempo está
estabelecido em Isaías 6, que é tão frequentemente citado no Novo
Testamento, comprovando a presciência de Deus quanto à
incredulidade de Israel.

“Conforme escrevi há pouco, resumidamente” (Efésios 3.3).


Temos a epístola aqui mencionada? Ou está perdida? Temos a
epístola. Ela não está perdida! Tampouco está perdida qualquer
referência a quaisquer palavras anteriores à Epístola aos Efésios
(1.9), como pensou Alford.[24] (1) Essa passagem já havia sido lida;
a escrita da que Paulo está falando ainda estava por ser lida. (2)
Efésios 1.9 trata da manifestação do Cristo. Aquilo a que Paulo se
refere trata do tempo do mistério. (3) Aqui, Paulo está falando da
mensagem do evangelho. O encabeçamento de todas as coisas em
Cristo vem apenas depois que o tempo da misericórdia tiver
passado.
Na verdade, é à Epístola aos Colossenses que Paulo se refere.

1. Ela foi escrita antes da Epístola aos Efésios. Muitos chegaram


a esta conclusão através do estudo das circunstâncias. A epístola
para Colossos foi de necessidade imediata por causa do engano e
do erro.

2. Ela seria composta de poucas palavras. A Epístola aos


Colossenses é mais curta que a Epístola aos Efésios. Ela trata do
“corpo de Cristo”, mas muito brevemente.
3. Entretanto, ela descortinou o conhecimento de Paulo sobre o
grande segredo e Deus. Ela torna conhecido seu evangelho para as
nações e a igreja como o corpo místico de Cristo. Fala da remoção
da lei com o propósito de que espaço deveria ser dado a esse
inesperado arranjo da graça de Deus. Contém a mesma expressão
encontrada em Efésios 3.4: “O mistério de Cristo”. “Suplicai, ao
mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à
palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo” (Colossenses 4.3).

4. A epístola foi levada por Tíquico, o mesmo mensageiro


transportou as duas cartas simultaneamente. A pequena alusão aos
Efésios sobre a segunda carta que ele tinha parece designada a
despertar a curiosidade deles e levá-los a fazer cópias da Epístola
aos Colossenses.

5. Somente duas epístolas tratam do “mistério”. O assunto é de


suma importância, pois é a base da atual dispensação do
evangelho. É como se pudéssemos contar com um segundo tratado
sobre o assunto, tendo em vista o princípio que “Por boca de duas
ou três testemunhas, toda questão será decidida” (2Coríntios 13.1;
1Timóteo 5.19; Hebreus 10.28).

6. Há, portanto, evidência de que a conhecida Epístola aos


Efésios foi uma carta circular. Ela assim parece para aqueles que
não identificaram a carta a que Paulo se refere em Efésios 3 como
sendo a Epístola aos Colossenses. Se assim for, como suponho que
seja, a Epístola aos Laodicenses foi a epístola agora chamada “aos
Efésios”. Consideramos que o nome da carta fora mudado. A
chamada Epístola aos Efésios, quando foi deixada em Laodiceia,
estava mais próxima de Colossos do que de Éfeso. Portanto, eles
são instruídos a procurá-la a partir do ponto mais próximo a eles e
não a mandar buscá-la em Éfeso. E a carta de Paulo a Éfeso e
outras igrejas seria lida em Colossos. Cada uma das duas cartas
apresenta suas dificuldades; uma esclarece e confirma a outra. A
Epístola aos Laodicenses não deveria se restringir àquela cidade.
Tampouco a Epístola aos Colossenses.
O terceiro testemunho sobre “o mistério” é ainda mais breve. “Ora,
àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu
evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do
mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se
tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras
proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a
obediência por fé, entre todas as nações, ao Deus único e sábio
seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos
séculos. Amém!” (Romanos 16.25-27).

“Pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu


discernimento” (Efésios 3.4). Os cristãos efésios ainda não
haviam lido a carta, mas ela estava disponibilizada a eles. Deus
tinha em mente que as epístolas de Paulo fossem lidas não apenas
pelos líderes e pelos eruditos da igreja, mas pelos discípulos de
Cristo em todos os lugares. Roma poderia impedir os discípulos de
Cristo de lerem as Escrituras, mas o Senhor promete ensinar todo o
seu povo. Até mesmo os mais profundos segredos do Altíssimo
podem ser entendidos por cristãos individualmente, por meio da
leitura.

“Do mistério de Cristo” (Efésios 3.4). Visto que Colossenses


responde claramente às alusões aqui lançadas, ela é a epístola à
qual Paulo se refere. É o tempo das boas novas de um Cristo que
subiu ao céu, testificado às nações. Através desse testemunho, os
eleitos da igreja de Cristo são reunidos, enquanto Cristo, o Cabeça,
está fora, escondido nas alturas. Ela corresponde ao tempo sobre o
qual lemos em Gênesis, quando um profundo sono veio de Deus
sobre Adão e do seu lado uma costela foi retirada, da qual foi feita
uma ajudadora idônea para ele.
Parece provável, conforme estas palavras do apóstolo, que havia
alguns opositores à verdade de Deus, que negavam que Paulo
tivesse esse discernimento. Por isso, ele apela para um documento
na forma escrita, redigido por ele anteriormente, como o fundamento
da prova contra a depreciação sobre ele feita pelos falsos mestres.
“O meu discernimento do mistério de Cristo” (Efésios 3.4). Os
profetas judeus falavam claramente sobre a glória manifestada e o
reinado do Messias. Jerusalém[25] seria sua metrópole; ele se
sentaria no trono de Davi, Rei dos reis; todos os inimigos de Israel
seriam destruídos ou subjugados, e Israel seria obediente, santo, o
principal dentre as nações, detentor de todas as bênçãos terrenas
em um tempo de paz e prosperidade nunca visto anteriormente.

1. O mistério de Cristo é o oposto de tudo isso: que Israel se


uniria, em sua cegueira, com os gentios para matar o Messias e
seria levado de sua terra para o exílio por causa do seu pecado;
seria oprimido pelas nações; o povo estaria longe da sua cidade,
seu templo seria destruído; o Messias estaria distante, no céu,
invisível, mas seria pregado entre as nações; somente os eleitos
acreditariam nele. Este era, e é, “o mistério de Cristo”.

2. O Messias deveria ter um corpo obtido dentre judeus e gentios,


cada crente sendo considerado um de seus membros, uma
multidão, pela fé e o desígnio de Deus, constituindo um novo
homem em Cristo. Isto era algo completamente novo e
surpreendente para um judeu. “Cristo” ou “Messias” era considerado
um homem individualmente, nascido da linhagem de Davi, e
somente nessa perspectiva, os profetas do Antigo Testamento o
consideravam.
Na cruz do Messias, Israel tropeçou, como havia sido profetizado.
Ao blasfemarem contra Cristo e contra o Espírito Santo, eles se
entregaram à orgulhosa cegueira da carne. A culpa pelo
derramamento do sangue de Cristo, pela imprecação do povo, está
sobre eles para condenação. O discurso de Estêvão é um apelo a
Israel de que Jesus é o Cristo, em oposição aos argumentos deles
de que, se ele fosse o Messias, não poderia ter sido morto, e ele e
seus seguidores deveriam ter sido vingados. Lido de acordo com
essa luz, podemos ver o motivo pelo qual o discurso de Estêvão
motivou seus ouvintes até a ranger os dentes.

O qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer


aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus
santos apóstolos e profetas, no Espírito (Efésios 3.5).

O segredo de Deus foi ocultado até à ascensão do Salvador e à


descida do Espírito vindo do alto. Não somente isto, mas, embora os
alicerces da igreja tivessem sido assentados no Pentecostes, o
movimento estava tão envolvido com Israel e a lei, que só depois da
conversão de Saulo e sua instrução como apóstolo de Cristo foi o
segredo totalmente revelado.
Uma vez que o segredo fora mantido rigorosamente oculto por
Deus antes daquele tempo, assim, desde então, é desígnio de Deus
que ele seja tão amplamente conhecido quanto o próprio mundo. E
isto Paulo menciona várias vezes, tanto aqui quanto em
Colossenses.
Foi ocultado desde antes das gerações dos filhos dos homens. Os
homens se multiplicam através da sucessão; e, desses homens,
este segredo de Deus permaneceu encoberto. Essa observação
esclarece uma passagem difícil desta epístola, a única outra desta
epístola, na qual a palavra “gerações” ocorre novamente. “A ele seja
a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para
todo o sempre. Amém!” (Efésios 3.21). Para mim, então, parece que
o apóstolo indica que, embora as eras vão se desenvolver para
sempre, ainda haverá intermináveis “gerações” de homens na
carne. Isto é o que encontramos em Apocalipse 21 e 22.
Há duas grandes divisões dos salvos: os ressurretos habitantes
da cidade de Deus, que não se casam nem se dão em casamento,
enquanto fora dela estão as nações ou homens na carne, sobre
quem os cidadãos da Nova Jerusalém governam. As nações sobem
em peregrinação à cidade do Altíssimo, como a lei de Moisés
previamente ordenou a Israel.

“Como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e


profetas” (Efésios 3.5). Os profetas aqui mencionados são
novamente os do Novo Testamento. Onde os profetas do Antigo
Testamento são mencionados, são contrastados com Moisés.
“Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga
mandaram dizer-lhes” (Atos 13.15). “Acreditando em todas as coisas
que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos profetas” (Atos
24.14). “Nada dizendo senão que os profetas e Moisés disseram
haver de acontecer” (Atos 26.22).
Alguns explicariam isto como se significasse que o sigilo em
tempos passados não estivesse completo, mas que descobertas
parciais dele haviam sido previamente apresentadas. Não é assim!
A ocultação foi absoluta até que Cristo subiu ao céu e o Espírito
desceu à terra. Até então não havia santos apóstolos e profetas do
Novo Testamento. No epíteto “santo” há a sugestão de que Deus, no
Novo Testamento, não faria revelação dos seus planos a não ser
para os santos. Contudo, não afirmamos que Deus, na história e nos
tipos do Antigo Testamento, não tivesse deixado sinais que queriam
mostrar, depois que a revelação do mistério foi feita, que a igreja e
sua glória estavam na mente de Deus desde o princípio.
Mas não havia luz sobre isto enquanto não aconteceu a descida e
inspiração do Espírito Santo para decifrar o segredo. Sinais desse
plano oculto de Deus agora podem ser encontrados na história de
Adão e Eva e nos casamentos de Abraão, José e Moisés, que
aconteceram enquanto eles eram rejeitados por Israel. Até nosso
Senhor, enquanto em pessoa na terra, “foi constituído ministro da
circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as
promessas feitas aos nossos pais” (Romanos 15.8). Mas o mistério
é algo de outro caráter, juntamente com “as insondáveis riquezas de
Cristo” (Efésios 3.8).
Depois que a revelação direta desse desígnio do Altíssimo tinha
sido dada aos apóstolos e profetas, o conhecimento é transmitido e
fica acessível a todos os não inspirados. A bênção da inspiração
direta dos segredos de Deus nos mostra que aos inspirados foi
concedida uma honra maior do que a dos próprios anjos. Isto
aparecerá em um versículo subsequente. Os próprios anjos tomam
conhecimento dos desígnios de Deus, ouvindo o que havia sido
primeiramente anunciado aos homens inspirados.
Os profetas e apóstolos aqui são os do Novo Testamento. Nisto
vemos o poder do anúncio prévio de sermos edificados sobre eles
como o fundamento. Eles são o dom de Cristo depois de sua
ascensão (Efésios 4.11). Dos profetas judeus e de Moisés, esse
corpo, tão superior às tribos e até a Arão, foi ocultado e, isso, em
sabedoria.
Os inspirados do Novo Testamento são inspirados pelo Espírito
Santo. E esse segredo, que foi dado a Paulo para que o
proclamasse, embora conhecido dos outros apóstolos, não foi
pregado por eles, pelo que sabemos, nem em Atos, nem nas
epístolas escritas por eles. De fato, como seria enquanto a igreja em
Jerusalém era zelosa pela lei de Moisés? A lei foi projetada para
dividir Israel e os gentios. A igreja é feita de judeus e gentios em
Cristo, depois que a lei foi colocada de lado nele e para aqueles que
são dele.
Como essa revelação do grande segredo de Deus afetou o
mundo? Os homens apressaram-se para inquirir sobre ele e para
recebê-lo com ações de graça? Longe disso! Para os homens em
geral, isso é bobagem. A fazenda e as lojas oferecem muito maiores
atrações aos homens da carne. Para o cão e os porcos, as pérolas
de Deus não têm valor; eles as pisam e elas se voltam contra o
mensageiro.

A saber, que os gentios são [1] coerdeiros, [2] membros


do mesmo corpo e [3] coparticipantes da promessa em
Cristo Jesus por meio do evangelho (Efésios 3.6).

As três características de Efésios 3.6 são, como já foi observado,


o contraste para as quatro desvantagens de Efésios 2.12, sob as
quais se encontram nações, em consequência de estarem fora de
Cristo.

1. Não pertenciam à nação escolhida por Deus, a nação de Israel.


Agora, como crentes, pertencem ao corpo de Cristo.

2. Não tinham parte nas alianças da promessa. Agora, estão


diante e além das alianças, escolhidos para todas as bênçãos
espirituais em Cristo nas regiões celestiais, e as promessas de Deus
em Cristo são deles.

3. Antes não tinham esperança. Agora, como crentes, Cristo está


neles, “a esperança da glória” (Colossenses 1.27). Estão sendo
convidados para o próprio reino de Deus e para a sua glória.
4. Eram “sem Deus no mundo” (Efésios 2.12). Como estão em
Cristo, serão “tomados de toda a plenitude de Deus” (3.19). Agora,
são “a casa de Deus”.

Nesta conexão, é melhor traduzir a palavra grega por “nações” em


vez de “gentios”. Pois a expressão “os gentios” requer o suplemento
aberto e tácito “os judeus”. E o Espírito Santo não diz que “os
gentios são coerdeiros com os judeus de um único corpo com
Israel”. Isto não seria verdadeiro. Os crentes em Cristo não são
dotados da mesma herança que os judeus, nem são um único corpo
com Israel. A palavra “nações” inclui Israel e os gentios, como em
Gênesis 10. Ela remete à Grande Comissão feita por Jesus, que
não foi cumprida pelos Onze, mas foi realizada por Paulo.

As Nações são Coerdeiras


Isto deve ser considerado juntamente com a qualificação final:
“em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Efésios 3.6), que se
aplica às três características do mistério, ou então não são
verdadeiras.
A herança dos santos agora não é a terra da Palestina, que foi
especialmente prometida para Israel. Aquela terra foi especialmente
prometida para Abraão e sua semente (Êxodo 6.8; Isaías 58.14). O
rei Josafá fundamenta seu apelo a Jeová contra as nações que
estavam vindo com a intenção de tomar de Israel a sua herança
dada por Deus. “Eis que nos dão o pago, vindo para lançar-nos fora
da tua possessão, que nos deste em herança. Ah! Nosso Deus,
acaso, não executarás tu o teu julgamento contra eles?” (2 Crônicas
20.11-12). E Deus ouviu aquele apelo e, sem que Israel lutasse,
derrotou completamente o inimigo.
Depois que a igreja for posta de lado, e durante o milênio, o apelo
de Josafá é ensinado por Deus às tribos, e Israel é vingado. “Ó
Deus, as nações invadiram a tua herança. Derrama o teu furor sobre
as nações que te não conhecem. Seja, à nossa vista, manifesta
entre as nações a vingança do sangue que dos teus servos é
derramado” (Salmo 79.1, 6, 10). Israel, no dia por vir, desfrutará das
“riquezas dos gentios [nações]” (Isaías 60.5, 11; 66). Nós iremos
participar das “riquezas de Cristo” (Efésios 3.8).
Estas três características nos apresentam o evangelho de Paulo
proclamado às nações, a fim de que possam crer e entrar na igreja
de Cristo. Mencionadas primeiramente como “nações”, eles se
tornam, pela fé, “santos”. Um prisioneiro para vós, as nações. Agora
“[sois] concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Efésios
2.19). A Deus “seja a glória, na igreja em Cristo Jesus” (Efésios
3.21).
Na seção anterior (Efésios 2.11-22), o apóstolo estava mostrando
o resultado da obra de Cristo sobre aqueles que já eram crentes.
Em Efésios 3 3, ele descobre para nós a bem-aventurança presente
e futura proposta aos recebedores da sua mensagem. A seção
anterior tornou conhecida a completa destituição atual das
promessas especiais feitas a Israel como o povo de Deus. O
evangelho de Paulo continua por todo o tempo do mistério. Não
haveria espaço para a mensagem às nações até que a anulação da
lei tivesse sido efetivada pelo Senhor e anunciada por seu apóstolo.
As primeiras promessas e alianças feitas com Israel não foram, de
forma alguma, abolidas; mas estão suspensas durante o dia do
evangelho. O evangelho é o resultado da grande obra do Salvador e
do lugar especial ocupado agora por ele. O evangelho cessa com a
mudança dele de lugar e manifestação. Então, não será mais um
andar pela fé, mas pela vista. “Em Cristo Jesus por meio do
evangelho” é o oposto de “sob Moisés através da lei”.
Israel será restaurado; a igreja, jamais. Pois Cristo não pode
nunca mais ser humilhado e ocultado, tampouco deve Israel ser
deixado na cegueira. O milênio é o tempo de recompensada justiça
de acordo com as obras. Depois do milênio, vem a eterna
identificação de cada um, e nenhuma provação posterior. Mas todos
que estão em Cristo durante esse dia do evangelho têm uma
herança no céu; eles pertencem a uma pátria melhor, a celestial. A
cidade deles é a Nova Jerusalém, da qual todos os crentes são
cidadãos. Assim, não há conflito entre Israel e a igreja (Efésios
1.18). Se filhos, somos herdeiros de uma herança eterna (Romanos
8.17).
Paulo, em Gálatas, insiste na distinção entre as duas heranças e
desaconselha seriamente os crentes em Cristo a se colocarem
debaixo da circuncisão e da lei. Se circuncidados, eles acolheriam a
posição da carne e seriam desapossados da herança dos livres.
Pois, “que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque
de modo algum o filho da escrava será herdeiro com o filho da livre.
E, assim, irmãos, somos filhos não da escrava, e sim da livre”
(Gálatas 4.30-31; Juízes 11.24).
A herança dos santos é dividida em duas partes.

1. A herança eterna é um dom ligado à fé em Cristo. “Para lhes


abrires os olhos [...] a fim de que recebam eles remissão de
pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim”
(Atos 26.18). “Herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tito
3.7; Hebreus 9.15). A morada do Espírito Santo é o penhor dessa
herança (Efésios 1.14).

2. Existe a glória milenar ou “a recompensa da herança”


(Colossenses 3.24). É também conhecida como a herança terrena
(Mateus 5.5). Esta é uma recompensa, ou prêmio, concedida por
Deus àqueles “considerados dignos” (1Tessalonicenses 1.5). É
também chamada “reino de Cristo e de Deus” (Efésios 5.5), e somos
advertidos a não perdê-la. “Ou não sabeis que os santos hão de
julgar o mundo?” (1Coríntios 6.2). E poucos versículos adiante,
encontramos: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino
de Deus?” (6.9).
Em Romanos 8.17, as duas porções sobre a herança são
reconhecidas, mas cada uma está colocada sobre um fundamento
diferente. “Se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de
Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com
ele seremos glorificados”.
A força desse testamento será mais bem vista se compararmos
brevemente os arranjos de Deus relativos às nações durante
diferentes dispensações.

1. Nos dias dos patriarcas, as nações de Canaã estavam afligindo


os servos de Deus e completando as suas iniquidades.
2. Debaixo da lei de Moisés, as sete nações tinham enchido o seu
cálice e Israel foi enviado, como vingador de Deus, para excluí-las.
Elas eram idólatras e pervertidas, e Israel não deveria ter comunhão
com elas, pois elas o poluiriam e trariam a ira de Deus sobre a sua
própria nação (Êxodo 34).

3. Sob o evangelho, suplica-se às nações que não sigam o mundo


e seus prêmios transitórios, mas que busquem o reino de Deus e a
sua glória. Mas elas não ouvirão; finalmente, rejeitarão o próprio
nome de Cristo e se prepararão para o combate contra o Senhor
Jesus na sua vinda.

4. Durante o milênio, a antiga diferenciação entre judeus e gentios


volta à cena. Israel torna-se a nação exaltada e suprema, e os
gentios tornam-se seus servos, ou são eliminados, como já foi
observado.

5. Na eternidade que segue a destruição da terra pelo fogo, os


habitantes da terra são divididos em (1) os cidadãos da cidade de
Deus, os ressurretos dos mortos, que habitam para sempre no dia
eterno da presença de Deus, e em (2) as nações habitam ao redor
da cidade e fora dela, vindo de tempos em tempos em peregrinação
à Jerusalém celestial, como foi ordenado a Israel sob a lei. Elas
trazem presentes para a casa do Senhor, de modo que possam ter o
privilégio de entrar no Paraíso do novo Éden, e levam de volta as
folhas da árvore da vida (Apocalipse 21–22). Mas as duas heranças
são completamente separadas.

As Nações são Membros


do Mesmo Corpo
Antes, isso nunca foi verdadeiro, uma vez que Deus levantou a
diferenciação entre carne circuncisa e carne incircuncisa. A
distinção foi ciosamente guardada. Jeová impôs a total separação
entre Israel e as nações. Nenhuma aliança deveria ser feita com
elas; casamentos entre eles não eram permitidos, pois os gentios
eram impuros e idólatras e a associação com eles levaria à idolatria
e à ira de Deus (Deuteronômio 7).
Em obediência a isso, quando alguns do povo santo retornam
após o cativeiro e começam a reconstruir o templo, eles se
recusaram a permitir que os gentios trabalhassem com eles. “Nada
tendes conosco na edificação da casa a nosso Deus” (Esdras 4.3).
Por “igreja” não se quer dizer todos os salvos. A igreja é um corpo
especial. Não poderia começar a existir enquanto a lei de Moisés
estivesse em vigor, ou antes que o Espírito descesse para suscitar a
Deus filhos sob a graça. O Espírito Santo habita na terra, morando
em cada membro de Cristo e tecendo simultaneamente toda a
assembleia.
Não é apenas o tempo da criação da igreja que é peculiar, mas a
regra segundo a qual os santos devem agora caminhar também é
peculiar, ensinada por Cristo e seus apóstolos, somente. Ela é
misericórdia, suportando com paciência as iniquidades do Maligno.
Assim como as promessas para Israel são da terra, as promessas
para a igreja são celestiais. Faça o bem e serás exaltado e
aprovado é o estilo da lei. Praticar o bem e sofrer por ele é o nosso
estranho chamamento (1Pedro 2.20-21).
Mas alguém pode dizer: Você fala da igreja como sendo na terra.
Se ela é um corpo celestial, por que ela não é considerada como
sendo no céu?
Enquanto ela está treinando e se preparando para sua herança no
alto, ainda está situada na terra, e é a testemunha de Deus de que
Ele não abandonou os homens completamente. Consideremos
algumas das afirmações sobre o assunto em Romanos:
“Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de
Cencreia” (Romanos 16.1). Cencreia está sobre a terra, não está?
“E isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as
igrejas dos gentios” (16.4). Paulo estava na terra e também nas
igrejas dos gentios. “Todas as igrejas de Cristo vos saúdam” (16.16).
Tanto os que saúdam quanto os que são saudados estavam na
terra, não estavam?
Paulo agora está falando sobre o nosso dia do evangelho e sobre
a eternidade da glória por vir para aqueles que estão em Cristo. “O
Cristo” é o novo corpo, distinto dos judeus e dos gentios. Esse corpo
não poderia começar a existir até que o Cabeça tivesse
ressuscitado dos mortos e, na sua ascensão, tivesse enviado o
Espírito Santo para criar um corpo para ele. Israel consiste daqueles
gerados de Isaque, através de Abraão, e circuncidados. A igreja
consiste daqueles gerados de novo pelo Espírito Santo. Ela só pode
continuar em processo de criação enquanto Cristo está nas alturas,
e o Espírito Santo está trabalhando aqui embaixo. Esta posição se
estende somente durante os tempos do evangelho. Tal estado de
coisas nunca mais ocorrerá por toda a eternidade.
O “um só corpo” é algo que pode ser proclamado a todo o mundo.
Mas ninguém, salvo os eleitos de Deus, aceitam a mensagem. O
“um só corpo” é o místico “corpo de Cristo”. Ninguém pode estar
nesse corpo, exceto aqueles que foram feitos vivos no Senhor,
santos, amados de Deus, certos da salvação. Um exército é
formado de soldados; a igreja de Deus é formada de santos. Ela não
consiste em homens na carne, colocados sob a lei para expiar seus
pecados e realizar sua própria justiça. Essa posição é uma negação
do evangelho, que é alicerçado, não em rituais e cerimônias, mas na
renovação interior pelo Espírito Santo e pela participação, pela fé
em Cristo, da sua obra de expiação e justiça.
A força e a beleza do argumento do apóstolo estão perdidas para
a maioria dos cristãos, por não perceberem a oposição entre o lugar
dado a (1) Israel debaixo da lei, e aquele agora concedido ao (2)
cristão por meio do evangelho.
Pergunte a várias pessoas: Qual é a bênção que Paulo descreve
em Efésios? Elas responderão: A união de judeus e gentios na
igreja. Mas essa resposta omite as principais características da
glória colocadas diante de nós. Israel é mencionado como a igreja
do Antigo Testamento. Supõe-se que a igreja ainda está em parte
debaixo da lei. E os princípios do judaísmo têm entrado de várias
formas para obscurecer a bem-aventurança do evangelho.
Em quase todos os pontos, a posição e o governo da igreja são
diferentes, não, são opostos aos da lei. Israel foi uma nação na
carne; a igreja é a eleição de Deus em graça de pessoas de todas
as nações. Israel deveria realizar uma justiça para si mesmo através
de sua própria obediência, enquanto, pelos pecados na ignorância,
uma expiação deveria ser feita pelos sacrifícios especificados,
através dos sacerdotes, os filhos de Arão.
Mas ninguém pode ser membro da igreja de Deus e do corpo de
Cristo sem ter sido tirado da lei e colocado nele sob a graça. Na
verdade, a conduta que se requer de cada crente está
fundamentada no perdão recebido. “Perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Efésios 4.32).
“Perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa
contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também
perdoai vós” (Colossenses 3.13).
Os crentes agora são membros de Cristo, prestes a brilhar na
mesma glória que o Filho de Deus; assim reconhecidos como
particularmente amados de Deus, amados assim como Cristo, o
Filho, é amado pelo Pai (João 17.22-23). Encontramos hinos sendo
cantados que expressam o desejo de que homens sejam feitos
anjos. O mais elevado dos anjos estará muito abaixo dos redimidos
desta dispensação. Em lugar alto como Cristo, o Cabeça, está
acima dos anjos e assim será com aqueles que são um com Cristo.
O anjo não decaído possui sua própria justiça; o crente tem, como
seu manto, a justiça de Deus (2Pedro 1.1; Romanos 10.3-4;
2Coríntios 5.21).
A posição daqueles que estão em Cristo, membros do seu Corpo,
a igreja, é completamente nova; contém uma glória futura nunca
encontrada antes e que nunca será realizada novamente.

As Nações são Participantes

da Promessa em Cristo
Promessa de quem? De Deus.
A que a promessa faz referência? Faz referência ao que foi
anunciado por João Batista como o complemento da imersão em
água, confiado a ele. “Ele [Cristo] vos batizará com o Espírito Santo
e com fogo” (Mateus 3.11). “Eis que envio sobre vós a promessa de
meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais
revestidos de poder” (Lucas 24.49). O Espírito Santo desce e Pedro
promete aos arrependidos e batizados os dons espirituais: “Pois
para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os
que ainda estão longe [gentios], isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar” (Atos 2.38-39).
Em Samaria, Pedro e João impuseram as mãos sobre os crentes
ali “para que recebessem o Espírito Santo” e “recebiam estes” (Atos
8.15, 17).
Quando Pedro prega a Cornélio, em Cesareia, o Espírito Santo
desce sobre todos os presentes, para assombro dos judeus que
haviam vindo com Pedro (Atos 10).
Sob o ministério de Paulo, e este em Éfeso, lemos sobre sua
imposição de mãos sobre os doze discípulos; e eles receberam
dons de línguas e de profecia. Em Gálatas, Paulo celebra a glória do
evangelho acima da lei, como outorgando os dons sobrenaturais do
Espírito (Gálatas 3). Os dons sobrenaturais do Cristo eram o selo
colocado sobre cada crente, uma prova de que pertenciam a Cristo.
Ele era um “cristão”, um ungido, pertencia a Cristo, o grande
Ungido. Era uma marca do acolhimento por Deus daqueles que
haviam recebido seu Filho. O selo de Israel foi colocado sobre a
carne e era o símbolo de uma herança na terra. Esse novo selo
indicava uma pessoa preparada para o “dia da redenção”, para fora
da terra e para dentro do céu.
A promessa já não é mais uma aliança da promessa, como as
alianças feitas com Israel. Era um dom vinculado ao evangelho de
Cristo, do qual as nações não tinham nenhum conhecimento prévio.
Os privilégios inferiores concedidos a Israel sob Moisés despertaram
a inveja por parte das nações. Agora, privilégios muito superiores
são oferecidos a todas as nações.
Será que meu leitor os aceitará? Ou já aceitou? Ele pertencerá a
Cristo no dia da rejeição a ele? Para ser unido a ele na glória
eternamente? Esta é a atual mensagem do mistério, ou seja, do
evangelho de Paulo. “Os últimos serão primeiros” (Mateus 20.16).
Os privilégios do Cristo rejeitado são surpreendentes! Se você crê
na mensagem do reino, você será um daqueles fortes que
enfrentam todos os obstáculos para obtê-los (Mateus 11.12; Lucas
16.16). A oportunidade é de ouro, mas é breve. Ela não tornará a
acontecer.
Os dons não estavam debaixo da lei, concedidos a Israel em
geral. Moisés não ficou enciumado por Jeová separar setenta de
Israel para serem profetas, mas teria se alegrado se o Espírito em
poder tivesse sido derramado sobre todo o Israel.
Os profetas prometem os dons do Espírito Santo como privilégio
perpétuo a Israel (Isaías 44.3; 59.21; Ezequiel 39.29). Estes dons
nós não temos mais, e grande é a perda.
Em 1Coríntios 12, Paulo fala de um só corpo e, depois, de seus
dons sobrenaturais. “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos,
quer livres” (1Coríntios 12.13).
Em Efésios, depois de falar sobre esses dons como o selo de
Deus colocado sobre os salvos, Paulo fala sobre os dons de Cristo.
Ele “concedeu dons aos homens” (Efésios 4.8). Não meramente a
Israel.
Então, as duas condições do mistério são: (1) “Em Cristo Jesus, e
(2) “por meio do evangelho” (Efésios 3.6). A igreja cessará sua
existência na terra quando Cristo descer do alto; e quando o Espírito
Santo subir, do modo como Ele desceu.
Muitas são as Escrituras que falam sobre a esperança dos judeus,
esperança que pertence exclusivamente a eles (Salmos 72; Isaías
11.24; Ezequiel 36). As três características aqui especificadas
pertencem somente ao presente tempo do evangelho, acessíveis
apenas àqueles que estão “em Cristo”, membros de seu corpo, a
assembleia de Deus. Essa porta aberta logo se fechará e as coisas
voltarão à sua posição anterior sob a lei. Porém, aquele período que
segue imediatamente à proclamação da misericórdia será “o dia da
vingança”. O Salvador, ao citar Isaías 61.1-2, parou antes de “o dia
da vingança do nosso Deus” (Lucas 4.19).

Do qual fui constituído ministro conforme o dom da


graça de Deus a mim concedida segundo a força operante
do seu poder (Efésios 3.7).

Paulo não foi somente um arauto do evangelho; ele foi


comissionado a organizar, a levantar igrejas e comunicar os dons
sobrenaturais para cada crente.
1. A graça de Deus e seu poder refletem a luz na escolha de
Paulo e no encorajamento para seu difícil caminho. Maravilhosa foi
a graça que fez de um assassino, perseguidor, insultador e
blasfemador do Filho de Deus, um amigo, um servo, um apóstolo,
para propagar a glória dAquele que ele havia desafiado. Como
exemplo singular de misericórdia, ele foi o mais adequado para
proclamar misericórdia aos outros.

2. O poder de Cristo foi demonstrado ao capturar o perseguidor


em seu caminho e desviá-lo para uma trajetória de vida totalmente
oposta à sua educação e inclinação inicial. Que ele, fariseu zeloso
pela lei e por Israel, viajasse até os gentios, a quem ele havia
ensinado a desprezar e odiar; que ele os instruísse em sua
independência de Moisés; e que, em Cristo, sua posição e
privilégios eram maiores do que os de Israel; tudo isso foi
maravilhoso! Que ele mesmo seguiria um Messias rejeitado,
crucificado, e o ensinaria a outros, sabendo que tal trajetória o
exporia a desprezo, perseguição e perigo de morte; que ele se
manteria firme onde os primeiros apóstolos cederam, depois de
severa experiência dos sofrimentos de seu chamamento; tudo isso
foi maravilhoso!
Vemos a mão do Senhor operando quando os soberanos dos
filisteus colocaram a arca de Deus em um carro puxado por vacas
leiteiras, deixando seus bezerros para trás, ainda assim, contra as
tendências da natureza, elas subiram pelo caminho direto para a
terra de Israel, mugindo enquanto andavam. Elas eram vacas,
sentindo falta de seus bezerros, mas a mão do Senhor estava sobre
elas, para obter glória para si mesmo, como o Deus de Israel. Mas
aqui está um exemplo maior e mais abençoado. Aqui estão
combinados graça e poder. Os chineses têm um provérbio: “Creia
que a água poderá correr morro acima, mas não creia que um
homem mudou sua própria natureza”. Grandioso também foi o poder
de Deus demonstrado através de Paulo, que era considerado um
orador fraco, na conversão de almas a Cristo.

A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta


graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis
riquezas de Cristo (Efésios 3.8).

Paulo já não deveria continuar ensinando as tradições dos


patriarcas a Israel nas escolas rabínicas. Ele se torna instrutor dos
gentios a respeito de Cristo, e Cristo em uma glória desconhecida a
Israel. Os judeus criam que o Messias pertencia somente a eles.
Mas Deus adotou este plano para provar sua própria liberdade e
soberania e para provocar Israel, como ele os havia prevenido, por
causa da provocação de Israel a Jeová.
Esse lugar elevado de confiança não o envaideceu. Embora maior
do que qualquer outro apóstolo em conhecimento, trabalho, poder,
sofrimento e sucesso, Paulo não se eleva acima deles. Na verdade,
coloca-se em lugar muito inferior. Ele não merecia ser chamado
“apóstolo”. Não era nem mesmo igual a qualquer santo
desconhecido que nunca havia perseguido a igreja de Deus. Um
senso de suas transgressões passadas o mantém humilde. De sua
posição debaixo da lei, ele pode se vangloriar. “Da tribo de
Benjamin, hebreus de hebreus” (Filipenses 3.5). Agora que ele se
tornou santo, é o menor deles.
Enquanto os outros apóstolos eram impedidos de ir adiante como
missionários às nações. Paulo, em completa liberdade, discursava
aos gentios em toda parte. Vemos na história de Jonas como era
detestável para um judeu levar uma mensagem aos gentios, mesmo
que ela fosse uma ameaça. Mas Paulo, sabendo que a mensagem
de Cristo era uma oferta direta de misericórdia, e que seria bem
recebida pelos gentios, enquanto Israel a recusava, seguia adiante
sem medo, em amor e zelo.

“As insondáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3.8). Tudo gira


em torno da pessoa e obra do grande libertador, Cristo.
A palavra traduzida por “insondáveis” é mais bem traduzida por
“não rastreáveis”. É uma palavra baseada no rastreamento que o
caçador faz por meio das pegadas da caça, ou da fera, em seu
esconderijo.
Há, então, duas classes de riquezas do Messias: (1) as
rastreáveis e (2) as não rastreáveis.
1. As riquezas rastreáveis são aquelas que os profetas do Antigo
Testamento tornaram conhecidas. Elas falam de um Cristo visível e
reinante. Estão ligadas a Israel e à terra, com Israel reconhecendo e
obedecendo ao Messias.

2. As riquezas não rastreáveis são aquelas que têm origem na


rejeição de Israel ao Cristo. A rejeição a um Messias na carne, visto
e ouvido por Israel, foi preanunciada em Isaías 6. Mas as
consequências para Israel e para o mundo, em Deus ter enviado as
boas novas de Cristo para serem proclamadas às nações, e
recebidas pelos eleitos, estas não foram preanunciadas.

A ocultação do Messias foi anunciada em Isaías 49. Mas não foi


dito que aqueles que acreditassem na pregação teriam um lugar, no
dia por vir, mais elevado que o lugar de Israel, sim, mais elevado
que anjos, sendo uma parte do próprio Messias. Os profetas judeus
tratam principalmente dos terrores do “dia da vingança” sobre Israel
e as nações, com visões da futura exaltação do Cristo em seu reino.
Mas o evangelho de Paulo revela a graça para as nações. Nas
riquezas aqui mencionadas acham-se incluídas as três grandes
características. Essas riquezas foram não rastreáveis em relação (1)
às pessoas que seriam enriquecidas, (2) às condições para obtê-las
e (3) à glória que brotaria delas.
A proclamação dessas riquezas não rastreáveis tem lugar
somente no tempo em que Cristo está oculto da terra e habita nos
céus. Os profetas de Israel nunca falaram sobre estar em Cristo, ou
do Messias como um novo homem constituído de um Cabeça que
ascendeu ao céu, e de milhões de salvos, unidos para formar o
corpo dele.
Passagens como a mencionada nos mostram que, contrário às
Escrituras, é o sonho de que todos os homens são filhos de Deus
por natureza, e seguramente salvos no final, pelo fato de serem
filhos. O testemunho de Deus é que todos, tanto judeus quanto
gentios, estão sujeitos à condenação por nascimento e pela lei;
enquanto somente aqueles que confiam na salvação concedida por
Deus e proporcionada em Cristo é que serão salvos.
E manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde
os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas
(Efésios 3.9).

Do modo como este segredo foi antes ocultado de todos, assim


também é revelado a todos agora. Alguns são expectadores do
mistério, observando-o à distância, como os anjos, tanto os bons
quanto os maus. Ele é proclamado a todos os homens, quer eles
desejem ouvir, quer não; quer eles aceitem, quer recusem. O
alcance de seus efeitos vai muito além da terra e dos eleitos. Teve
influência, e ainda tem, até muito além dos lugares que Paulo
alcançou em suas viagens. Foi assim designado por Deus.
Com esta visão, como ele nos fala em Colossenses, Paulo foi
inspirado a escrever sobre o mistério para aqueles que não haviam
visto a sua face. E a sublime providência de Deus preservou para
nós essa verdade por meio dos escritos de Paulo.

“A dispensação [economia][26] do mistério” (Efésios 3.9). É


um grandioso sistema planejado por Deus. E Paulo foi levantado
para expô-lo; a alguns, oralmente; à maioria, por meio da escrita.
Ele foi instruído sobre como ensinar e como administrar o evangelho
da graça de Deus. Tão peculiar quanto é o novo corpo, é também a
sua administração. Somente Paulo nos ministrou a respeito da
“igreja” como “o corpo de Cristo”. É ao corpo que devemos recorrer,
respeitando suas doutrinas e rituais, sua disciplina e adoração, seus
privilégios, seus ministros, sua conduta, suas esperanças. Paulo fala
dessas coisas como “seus caminhos em Cristo” (2Coríntios 4.17),
como ele ensinou em todas as igrejas.
Esse segredo de Deus havia ficado oculto desde as eras
passadas. Anteriormente, o mistério era mencionado como algo
escondido dos filhos dos homens. Mas era segredo não apenas
desde a criação, mas antes dela; por isso era desconhecido dos
anjos.

“Em Deus, que criou todas as coisas”[27] (Efésios 3.9). Por


que o ato de criação de Deus é mencionado?
Porque o céu e a terra juntos constituem a criação, e ambos são
designados para a glória do Filho de Deus. Eles, um dia, serão
visivelmente governados por ele. Esta é a recompensa concedida
ao Salvador por seus sofrimentos e, por meio dele, àqueles que
forem considerados dignos. “Entra no gozo do teu senhor” (Mateus
25.21, 23). Aqui são vistos juntos o Senhor e os considerados
dignos de reinar com ele no reino milenar. “O qual, em troca da
alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso
da ignomínia” (Hebreus 12.2; compare com Isaías 53.10-12; Salmo
22). Os que negam o milênio e seu projeto, como a recompensa
concedida por Deus pelos sofrimentos e serviços, perderam a chave
para porção considerável do Novo Testamento.
A revolta entrou tanto no céu como na terra. E a glória é confiada
à autoridade de Cristo, a fim de curar as ofensas, punir os
impenitentes e restaurar a criação visível à sujeição a Deus. O
mistério é designado, como um dos seus fins, para dar a Cristo
filhos de homens aptos a reinar com ele como companheiros
(Apocalipse 20.4-6). Porque Deus tem dois povos: Israel, para a
terra; e a igreja, destinada ao céu.
Este desígnio de Deus, assim revelado, afeta tanto a terra quanto
o céu. Apocalipse 5 revela-nos o afastamento dos antigos senhores
dos anjos. Seus vinte e quatro líderes confessam a superioridade do
Cordeiro e seu direito a introduzir no governo, juntamente com ele
mesmo, alguns dos filhos dos homens a quem Ele redimiu.
Esse projeto de Deus não pode ser chamado “arbitrário” ou
“caprichoso”. É um desígnio fundamentado na sabedoria de Deus,
que aquele que obedeceu e serviu bem será promovido para
governar. Essa descoberta abre, para todos os ouvintes da
humanidade, um prospecto de glória e alegria. Paulo foi instruído a
falar sobre o reino por vir, sobre a ceia do casamento do grande rei,
proporcionada para todo aquele que aceitar o chamado (Mateus 22).
O lugar que isso dá a Deus como Criador de todas as coisas está
em contraste direto com as especulações gnósticas de que
afirmavam que a matéria é maligna, e que o Criador não foi o Deus
supremo, mas algum ser inferior. Segundo os gnósticos, o Filho de
Deus não poderia atribuir-se um corpo humano, morrer, ou
ressuscitar dos mortos. A principal visão fundamentalmente falsa
deles era relativa à natureza do pecado. Eles não o viam nem o
reconheciam como essencialmente resultado da rebelião do
homem, contrário à lei de Deus. Para eles, o pecado é
simplesmente uma doença a ser removida por meio da
benevolência divina. Não reconheciam que o pecado é culpa de
uma alma decaída, sob o desprazer do Deus da lei. Nós vemos o
contrário: que a obra de Cristo deve ter precedência a fim de
reconciliar o culpado com a lei violada; e depois deve vir a obra do
Espírito Santo para remover a poluição do pecado e adequar o que
fora perdoado, para viver em paz e alegria com um Deus santo.

Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se


torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos
lugares celestiais (Efésios 3.10).

O resultado, no céu, da proclamação do mistério e suas conexões


é a divisão em dois grupos dos que estão nas alturas.

1. Há anjos que aceitam fielmente os desígnios do grande


Governador de todos. Eles reconhecem a superioridade do mérito
em Cristo e sua merecida apresentação de uma multidão incontável,
que ocupará uma posição e glória nas alturas. Estes se regozijam
por todo pecador da humanidade que é conduzido à salvação em
Cristo. E eles são empregados como espíritos ministradores para
satisfazerem a necessidade dos salvos (Hebreus 1).

2. Mas também há outros no céu que se rebelaram contra esse


plano desde o início e têm resistido e agido contra ele com todas as
suas forças, a saber, Satanás e suas hostes. Se lermos
corretamente a intimação de Apocalipse 12.4, perceberemos que
esses seres foram um terço dos anjos. Seu orgulho se incendiou
com a intenção de Deus de elevar os filhos do pó acima dos anjos,
os nobres dos céus! Por esta razão surgiu a tentação e queda de
Adão.
Contra esses anjos, a igreja está, e deve estar mesmo, em guerra
durante todo o tempo do mistério. Nossas bênçãos estão “nos
lugares celestiais” (Efésios 3.10). Lá está o grande Capitão da
nossa salvação, mas também estão os nossos inimigos, como nos
instrui Paulo no final de sua epístola.
Portanto, o mistério possui dois aspectos: (1) em relação à terra: é
um apelo e uma oferta aos filhos dos homens para que aceitem o
Salvador e participem de suas riquezas em glória; (2) em relação ao
céu: é dado aos anjos ver algumas das futuras glórias do Filho e dos
santos desta dispensação, seu corpo.
“A igreja” (Efésios 3.10), o novo corpo unido a Cristo, o Cabeça, é
a grande instrução, através da qual o Altíssimo está mostrando aos
expectadores atentos das alturas sua própria e amplamente variada
sabedoria. A igreja é o produto do evangelho do mistério. A igreja,
agora rejeitada, com Cristo por Cabeça, toma seu lugar no alto em
virtude da obra de Cristo. Ela não poderia ter começado a existir
antes que Cristo tivesse subido ao céu, tivesse posto de lado a lei e
derramado do seu Espírito. Ela não pode continuar a existir na terra
tão logo comece o dia do julgamento. Pois a sua propagação é: “Eis,
agora, o tempo sobremodo oportuno; eis, agora, o dia da salvação”
(2Coríntios 6.2).
Quando o julgamento começar, vem o dia da manifestação. A
seguir, uma parte da igreja é arrebatada, os que dormem e os vivos,
para o trono de Deus. Como eles são rejeitados com Cristo, também
com Cristo os aprovados reinarão. Eles estão destinados a tirar as
nações, à força, do poder de Satanás (Apocalipse 12.5). Portanto,
ele busca afastá-los do céu pela força. Isto põe em ordem de
batalha os anjos protetores, e uma batalha é o resultado: força
contra força. Satanás perde a batalha e é expulso para a terra para
nunca mais ascender ao céu. Haverá, então, júbilo nas alturas! O
reino do Cristo começa no céu, embora seja o dia do maior
infortúnio na terra, pois ela será o palco das breves atuações de
Satanás contra Deus e o homem.
A velha criação glorificou a Deus aos olhos dos anjos. O mesmo
aconteceu com o julgamento feito por Deus aos caídos, o dilúvio, a
eleição de Abraão e até mesmo os pecados de Israel.
Mas agora uma nova criação surgiu das mãos de Deus, e, aos
olhos inteligentes, ela glorifica o Altíssimo mais do que a velha
criação. Debaixo da lei, poder-se-ia dizer que Deus glorificou os
anjos. O anjo do Senhor desceu na sarça ardente e manifestou sua
sabedoria e poder para libertar o povo de Deus. Também através de
anjos foi dada a aliança do Sinai.
A igreja, para olhos instruídos, evidencia, de uma multidão de
formas, a sabedoria suprema de Deus.
Longe de mim supor que eu mesmo estou ciente de todas as
sábias razões de Deus, aquelas preciosas abundâncias da glória
dele. Mas alguns pontos podem ser mencionados.
O tempo do aparecimento da igreja foi notavelmente adequado
para intensificar o valor da sabedoria de Deus. O aparecimento
aconteceu quando, aparentemente, os planos de Deus relativos a
Cristo, os judeus e os gentios tinham sido subvertidos pela astúcia e
poder de Satanás e pela incredulidade dos homens.
(1) O Cristo havia surgido, sido rejeitado e morto. (2) Israel odiara
o Nazareno e suas doutrinas e blasfemara contra seu Espírito. (3)
Os gentios oprimiram Israel.  O que havia acontecido, então, com as
muitas promessas feitas ao Messias e a Israel, seu povo? O que
Deus poderia fazer agora? Esse estado de coisas, em seu caráter
crítico e seu efeito desconcertante, foi muito além do que havia
acontecido a Ai, que deixou Josué tão perplexo; e muito além do
que havia acontecido na captura da arca de Jeová, que provocou a
morte de Eli.
Este era o tempo apropriado para tirar do coração de Deus o
projeto de graça e poder há tanto tempo oculto, por meio do qual Ele
levantaria para seu Filho companheiros eternos na glória e no reino
sobre a terra e os céus. De idólatras e inimigos, ele faz membros do
Santo; dos praticantes de abominações, ele faz filhos de Deus! A lei,
a justa barreira que separava judeus de gentios, depois de ter todas
as suas demandas totalmente satisfeitas, é posta de lado, para
produzir um novo homem, nem judeu nem gentio, mas morto e
sepultado para a velha posição e moldado em Cristo. Os judeus,
julgados com base em seus desertos medidos pela lei, perderam
tudo. Na verdade, um dia eles terão todas as promessas realizadas,
mas somente, como os gentios, recebendo tudo com base na graça,
fundamento da nova aliança com Israel e Judá (Hebreus 8.8).
Os meios que Satanás usou para destruir o homem somente
fizeram nascer, pela misericórdia de Deus, o Salvador, Filho, que irá
desfazer as obras do diabo. Satanás teve permissão para golpeá-lo
até à morte. Mas a questão era a destruição do diabo e suas hostes,
através da ressurreição e ascensão ao trono de Deus dAquele que
havia sido morto.
Nenhuma carne pode se vangloriar na presença de Deus. A glória
dos filhos de Deus em Cristo deve ser atribuída à livre graça. A
queda não derrotou o plano de Deus para a salvação. A cada passo,
seu plano, aparentemente arruinado, avança em direção ao seu
cumprimento. Nenhum artifício ou poder de homens ou de anjos terá
eficácia para derrotar os desígnios do Onipotente relativamente ao
Cristo e seus redimidos, cujo principal corpo se chama “a igreja de
Deus”.
Aqui Deus é visto desfazendo sua anterior obra da lei para
produzir uma obra maior, a da graça. Contudo, a recompensa das
obras também terá sua esfera, repartindo os postos de glória para a
obra de cada um dos fiéis em Cristo. A antiga casa de Deus é
colocada de lado para que outra, mais nobre e eterna, possa tomar
seu lugar.

Segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo


Jesus, nosso Senhor (Efésios 3.11).

Há uma certa dúvida sobre a tradução deste versículo, se


deveríamos traduzi-lo: “o eterno propósito que ele projetou” ou “que
ele estabeleceu”. A diferença, entretanto, que surge não é grande.
O ponto de vista deste versículo é muito importante. A igreja de
Deus não foi um dispositivo súbito adotado como o melhor plano
para restaurar, tão logo quanto possível, os planos derrotados. Ela
apenas extraiu do coração do Altíssimo um segredo há muito tempo
oculto, concebido desde a eternidade, para alegria e glória de seu
Filho, em quem todos os seus propósitos estão centrados.
A aparente interrupção de seus planos e a dificuldade em
conjecturar de que maneira o Soberano do céu e da terra agiria,
somente tornou mais esplêndida aos olhos dos anjos a nova criação
em Cristo, um corpo tal que os anjos nunca haviam visto e nunca
verão novamente. Eles haviam contemplado as brilhantes cenas da
criação e as belezas de um mundo chamado das trevas e do caos.
Eles haviam visto o julgamento, com suas ondas vingadoras,
engolirem os rebeldes do dilúvio, e o fogo que consumiu as cidades
culpadas. Eles haviam contemplado Israel ser tirado da escravidão,
do açoite e da olaria para se tornar o povo do Deus vivo.
Todos esses feitos de Jeová expressaram sua sabedoria divina,
mas a igreja despertou nos anjos uma admiração mais excelente do
que qualquer atuação anterior que o Senhor havia realizado; e deve
ter infligido em Satanás e suas hostes surpresa e desânimo.
Há apenas uma Pedra que pode suportar a tensão e o peso de
todas as deliberações de Deus sem ceder à pressão. Vemos como
Moisés enfraqueceu e falhou sob os problemas relacionados com a
sua liderança à frente de Israel. “Por que fizeste mal a teu servo, e
por que não achei favor aos teus olhos, visto que puseste sobre mim
a carga de todo este povo?” (Números 11.11).
O Filho de Deus é o grande centro de todos os desígnios do Pai.
Os que caíram teriam feito de si mesmos o centro. Mas é loucura e
pecado agir desse modo. A glória do Filho é o mais brilhante projeto
de Deus; o Cabeça merece o lugar mais elevado do universo em
consequência de sua maravilhosa obediência e sacrifício até à
morte. E seus méritos levantam da morte e da maldição um corpo
de eleitos que, pela eternidade, ofuscarão as mais elevadas
potestades não caídas do céu!

Pelo qual temos ousadia e acesso com confiança,


mediante a fé nele (Efésios 3.12).

Ao lado da glória que irá irromper um dia na manifestação de


Cristo, há também um abençoado e atual efeito do projeto, ao
governar nossos sentimentos para com Deus e sua adoração. Isto
se apresenta em completo contraste com o modo de conduta de
Jeová para com Israel. Eles foram convocados a se aproximar de
Jeová, o Deus da lei, a partir da sua prometida obediência e
tentativas de purificação. E todo o povo tremeu quando meramente
os termos do pacto foram expostos. Eles se retiraram do monte
fumegante em temor, com os mandamentos emergindo do fogo.
Mesmo assim, a aliança foi rapidamente quebrada; então, em um
dia do ano, o sumo sacerdote sozinho poderia se aproximar, por
alguns momentos, do Deus de Israel, com incenso e com sangue,
em perigo de vida se ele transgredisse qualquer uma das
ordenanças.
Nós nos aproximamos “com confiança” (Efésios 3.12), cientes de
que fomos chamados para assim fazer, uma vez que nos
achegamos, não pelos nossos próprios merecimentos, prometidos
ou realizados, mas com base nos méritos imputados ao Filho de
Deus. A lei poderia apenas gerar escravidão, mas a graça faz filhos
já em Cristo, assentados nos lugares celestiais! O céu será a nossa
residência na ressurreição; mas mesmo agora, nos aproximamos de
Deus como filhos, amados do Pai, da mesma forma que Ele ama
seu Filho. Nos achegamos, não meramente com esperança, como
fez Ester ao rei, com jejum e temor, em perigo de vida, como se
estivesse agindo contrariamente à lei. “Aproximemo-nos, com
sincero coração, em plena certeza de fé” (Hebreus 10.20). Pois não
é baseado em nossos méritos que tomamos uma posição, mas com
base na aceita e glorificada obra do Filho.
Não é a presunção da nossa bondade que nos traz para perto,
mas a nossa fé, olhando para o Sumo Sacerdote sentado no trono
de Deus, nós mesmos revestidos em sua justiça. Todavia, não
devemos nos esquecer que ele é “nosso Senhor” (Efésios 3.11), a
quem devemos obedecer.
Esta visão de Cristo, nosso Cabeça, a nós concedida por Deus,
nosso Pai, e nossa união com Cristo, nos inspiram com a confiança
de filhos. Os méritos dele e a expiação a nós imputada, juntamente
com o chamado para nos aproximarmos, nos dão uma base
permanente e segura de acesso. A presença de José, governador
de todo o Egito, deu coragem aos filhos de Jacó para que se
aproximassem de Faraó.
A partir destas coisas, segue que os incrédulos em Cristo e na
sua obra estão em inimizade com Deus e não são bem-vindos à
Majestade nas alturas, visto que eles são criminosos condenados e
estão debaixo da maldição de uma lei que foi violada. Não há
aproximação a Deus exceto através de Cristo.

Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas


tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória (Efésios
3.13).
Foi algo maravilhoso que um judeu pregasse às nações, e
também que essa salvação fosse superior à de Moisés! Que ele
sofresse por proceder em favor das nações, e que sofresse nas
mãos de Israel. Quão marcante é a mão de Deus em que alguém,
por seu nascimento, educação, preconceitos, orgulho e desejo de
sucesso na vida, se voltasse na direção oposta, disposto a perder
todo o avanço alcançado e a paz. Isto mostrou o grande valor que
Paulo deu ao evangelho confiado ao seu cuidado; agora ele se acha
feliz por ser um dos menores dentre os santos, a quem ele, antes,
perseguiu até à morte.

A SEGUNDA ORAÇÃO DE PAULO


(Efésios 3.14-21)
Esta é a porção mais difícil desta profunda epístola. Um estudo
sobre a primeira oração (Efésios 1.16-23) em conexão com esta
será esclarecedor ao estudante. Vou agora afirmar o que considero
seu principal teor. Ela é planejada, creio eu, para nos mostrar a
igreja de Cristo como a herança eterna de Deus.

1. Isto eu deduzo como segue. Na primeira oração, Paulo pede a


Deus que conceda aos seus santos serem iluminados em três
pontos: (1) a esperança do chamamento de Deus (Efésios 1.18); (2)
a riqueza da glória da herança de Deus nos santos (Efésios 1.18);
(3) o poder anunciado nos santos e em Cristo (Efésios 1.19). É este
último dos três pontos que é tomado primeiro e levado até a metade
de Efésios 2. Creio, então, que a segunda oração está ligada ao
segundo dos três pontos. (1) A esperança do nosso chamamento é
mencionada em Efésios 4.4. (2) A glória da herança eterna de Deus
nos santos é, creio eu, o assunto da segunda oração.

2. Novamente, depois que o apóstolo nos ensina que a lei foi


posta de lado por Cristo, Aquele que a cumpre, ele prossegue para
nos revelar (capítulo 3) seu evangelho para as nações. As três
grandes características disto são afirmadas em Efésios 3.6. As
nações são (1) coerdeiras (2) do mesmo corpo e (3) coparticipantes
da promessa de Deus. As duas últimas dessas bênçãos são
desenvolvidas no capítulo 4. A herança de Deus, a primeira delas, é,
estou persuadido, revelada na segunda oração de Paulo, que
precede o tratamento que ele dá às duas outras características: o
corpo e os dons. Agora Paulo nos ensina as atuais preparações e
atividades de Deus para nos fazer a sua herança, e termina com a
glória eterna e especial que resulta para a igreja.
Sobre as outras evidências ligadas a esta conclusão, mencionarei
apenas dois pontos. Na primeira oração, temos: “Para saberdes
qual é [...] (1) a riqueza da glória da sua herança (2) nos santos”
(Efésios 1.18). Na segunda oração, temos: (1) “Para que, segundo a
riqueza da sua glória, [ele] vos conceda” (Efésios 3.16), sendo que a
expressão “segundo a riqueza da sua glória” ocorre somente aqui.
(2) Como na primeira oração, encontramos: “Sua herança nos
santos” (Efésios 1.18), na segunda, encontramos a petição de Paulo
para que “todos os santos” possam vir a compreender.

Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai


(Efésios 3.14).

A melhor atitude para uma oração solene é “de joelhos”, como


está indicado aqui, mas não é uma ordem.

“Por esta causa” (Efésios 3.14). Como servo da dispensação


que Deus confiara a ele, Paulo ora para que aqueles que aceitaram
o evangelho possam ver a vontade e a mente de Deus nele.
Agora ele se dirige ao “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”
(Efésios 3.14, ARC). Esse título do Deus Altíssimo é uma chave
para a segunda porção da epístola. Ele começa com: “Bendito o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 1.3). Deus é o
Deus de Cristo, pois este é um Homem; ele é o Pai de Cristo, pois
este é o Filho eterno. Como nós estamos em Cristo, esses dois
títulos de Deus produzem dois resultados correspondentes para
nós. Nós somos tanto servos quanto filhos de Deus. Na primeira
oração, Paulo se dirige ao “Deus de nosso Senhor Jesus Cristo”
(1.17).
Assim que a lei, que estabeleceu uma nação como sendo de
Deus e excluiu todas as outras, é mencionada como sendo deixada
de lado (Efésios 2.11-18), Deus é mencionado como o Pai daqueles
que estão em Cristo. “Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai
em um Espírito” (2.18). Depois que foi feita a recepção da verdade
pela igreja, o apóstolo retorna novamente para o título duplo. “Um só
[1] Deus e [2] Pai de todos” (Efésios 4.6).
Alguns manuscritos omitem, depois de “Pai”, as palavras “de
nosso Senhor Jesus Cristo”, o que é claramente um erro. O motivo
da omissão não é difícil de se verificar. Mas nossas bênçãos devem
ser creditadas ao nosso relacionamento com o Senhor Jesus e,
através dele, ao Pai. Só assim somos, ou podemos ser, filhos.
Contudo, é facilmente observável que, das duas palavras gregas
que significam filiação, a mais elevada não é nenhuma vez aplicada
a nós, nem nesta epístola, nem na epístola aliada a esta,
Colossenses.[28] O próprio Salvador é somente uma vez chamado “o
Filho de Deus” em Efésios (4.13). Imagino que a razão seja a
encontrada em Romanos 8.23: “[Nós] igualmente gememos em
nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso
corpo”. Até então, os filhos de Deus não são manifestados; Jesus,
pelo contrário, é chamado “o Filho de Deus”, como ressurreto dentre
os mortos.
Na primeira oração, Deus é descrito como “o Pai da glória” (1.17).
Esta palavra na segunda é um considerável avanço. Deus é o Pai
de todos os crentes, que estão em Cristo pela regeneração do seu
Espírito, e assim será eternamente. Aqueles que negam a
perseverança dos santos não têm bem esclarecida a mudança de
natureza transmitida pela regeneração do Espírito Santo.

De quem toma o nome toda família, tanto no céu como


sobre a terra (Efésios 3.15).

As palavras “toda a família” (ARC) não são traduzidas


corretamente. O artigo está ausente e a ideia importada é contrária
ao grande argumento da epístola, o qual é a elevada preeminência
concedida à igreja acima de todas as outras fileiras dos salvos. Há
várias “famílias” no céu e na terra reconhecidas por Deus. (1) As
nações: “São estas as famílias dos filhos de Noé” (Gênesis 10.32).
(2) Finalmente, depois de sua rejeição a Cristo, Israel é classificado
entre as nações: “Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que
Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência
serão benditas todas as famílias da terra” (Atos 3.25, ARC).
Outra das famílias da terra é encontrada nos levitas; outra é a
casa de Davi; outra é dos ressuscitados salvos debaixo da lei; além
das várias famílias dos anjos.
Há um trocadilho com as duas palavras gregas para referir-se a
“Pai” e “família”, que não podem ser perfeitamente traduzidas. “Pai”
e “paternidade” são os equivalentes mais próximos.
O sentimento geral do versículo (Efésios 3.15) parece ser que o
celestial é a fonte do terreno. Assim, o tabernáculo de Moisés era
uma cópia dos originais celestiais que ele havia visto no monte. O
relacionamento divino de paternidade e filiação entre Deus Pai e
Deus Filho é o relacionamento grandioso e verdadeiro, do qual os
semelhantes da terra tomam seu nome.
A criação é aqui dividida em duas grandes partes, o céu e a terra.
O desígnio do Altíssimo no evangelho abrange ambas. No reino
vindouro, ambas o glorificarão. O Salmo 148 anuncia esse estado
de coisas, dando no encerramento um lugar para Israel, como “povo
que lhe é chegado” (Salmo 148.14).
Toda família tem seu nome. Dar o nome a todas as criaturas foi,
segundo as Escrituras, atribuição de Adão. Mas Deus primeiro deu
nome aos grandes objetos da criação. “Chamou Deus à luz Dia e às
trevas, Noite” (Gênesis 1.5). Ele também deu nomes às categorias
do céu, que Adão não podia visitar: principados e potestades. E
lemos que Ele deu ao Salvador um nome que é sobre todo nome.
A primeira oração fala “de todo nome que se possa referir, não só
no presente século, mas também no vindouro” (Efésios 1.21). A
segunda nos fala sobre todas as famílias do céu e da terra, tomando
seus nomes do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda


que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito
no homem interior (Efésios 3.16).

Debaixo da lei, o Altíssimo estava exigindo do homem os seus


direitos. Mas debaixo do evangelho, Ele está mostrando sua graça
para os filhos destituídos dos homens, através de Cristo.

“Segundo a riqueza da sua glória” (Efésios 3.16). O evangelho


mostra “as riquezas da sua glória”. E eles tinham que ir antes e
preparar o caminho para as riquezas da sua graça. “No qual temos
a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a
riqueza da sua graça” (Efésios 1.7). A graça não cessará até que ela
termine para seu eleito na glória eternal. É ao longo dessa linha que
leva àquele fim que Deus está trabalhando. A ressurreição do crente
é a glória de Deus mostrada nele. “Teu irmão há de ressurgir” (João
11.23). “Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?”
(João 11.40). E a ressurreição vindoura mostrará as riquezas da
glória de Deus. Por “riquezas” queremos dizer variedade e
abundância.
“Que tipo de corpo os ressurretos terão?”, foi a pergunta que
Paulo julgou ser adequada para a situação. E ele responde que
Deus não tem perdas. Vários são os tipos de carne na terra.
“Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida,
uma é a glória dos celestiais, e outra, a dos terrestres” (1Coríntios
15.40). Há diferenças nos tipos de brilho aparente nos corpos
celestiais. “Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a
das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de
esplendor. Pois assim também é a ressurreição dos mortos” (15.41-
42).
A “glória” é a eterna herança chegada e feita nossa. Como a
incredulidade e o desprazer de Deus arruinaram a criação recém
organizada, e trouxeram o homem de volta ao pó, assim também a
fé e o bom prazer de Deus através de Jesus Cristo ressuscitarão os
crentes que dormem em suas sepulturas e os vestirão com um
brilho como o do sol.

“Que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito


no homem interior” (Efésios 3.16). Eles terão apenas o poder do
Espírito, que foi, por Ele, gerado novamente.
Na primeira oração, Paulo falou de algo fora de nós, como algo
que ilumina os olhos. Agora ele fala da comunicação do poder, pelo
Espírito Santo interior. O poder divino é necessário, especialmente
em duas direções.

1. Como poderemos nós, filhos frágeis da terra, habitar para


sempre na presença da divina Majestade? Moisés não foi capaz de
suportar o esplendor da presença de Deus e foi obrigado a se
retirar, quando o Senhor entrou em seu tabernáculo. Às vezes, as
comunicações do ato têm sido concedidas a alguns santos, de um
caráter tão tremendo que eles são levados a clamar: Senhor,
contém a tua mão senão eu morro! “Quando o vi, caí aos seus pés,
como morto” (Apocalipse 1.17).

2. O poder interior é necessário também para a guerra para a qual


fomos chamados. Sob a lei e suas batalhas na terra, força na carne
era necessária, e foi dada. Por ela, Sansão arrebentou as cordas
que estavam sobre ele e matou mil filisteus. Mas, com que facilidade
ele foi vencido por seus adversários! Sobre uma de suas vitórias de
poder, lemos: “Eis que um leão novo, bramando, lhe saiu ao
encontro. Então o Espírito do Senhor de tal maneira se apossou
dele, que ele o rasgou como quem rasga um cabrito, sem nada ter
na mão” (Juízes 14.5-6). Mas o que Paulo deseja aqui para os
membros de Cristo é o Espírito entrando no nosso homem interior.
Paulo, diferentemente de Sansão, era fraco na carne, mas poderoso
em espírito. É muito importante a diferença entre “sobre” e “‘dentro”.
O homem interior da consciência não foi purificado pela lei; e a
câmara interior da habitação de Deus não estava aberta nem para
os sacerdotes. Eles serviam a um Deus que cobria a sua glória para
que não a vissem e fossem destruídos.

E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé


(Efésios 3.17a).

A obra do Espírito Santo é preparatória para a habitação do


Cristo. Ele regenera o homem.
Sob a lei, Jeová, o Redentor de Israel, habitava entre eles, como
seus redimidos por sangue. Como bem observa Darby, Deus não
habitou com Adão, ou com Noé, ou com Abraão; mas tão logo Ele
havia resgatado para si um povo para fora do Egito. Sob o Novo
Testamento, uma melhor redenção pelo sangue do Cordeiro de
Deus é satisfeita por uma melhor habitação do Altíssimo.
No tempo de Salomão, o Senhor disse da casa que o rei estava
construindo: “E habitarei no meio dos filhos de Israel” (Êxodo 29.45).
Mas a habitação do Senhor naquele templo era condicionada à
obediência de Israel. Se eles trouxessem a adoração a outros
deuses, Jeová abandonaria aquele lugar. Mas agora somos filhos, e
o nosso Deus se apoia no fato de nos ter escolhido em Cristo para a
vida eterna.
Geralmente, o Novo Testamento fala do crente como sendo “o
templo do Espírito”, não de Cristo. Mas, os dois são aliados de
perto. “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de
fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8.9). No versículo
seguinte, há uma mudança de expressão. “Se, porém, Cristo está
em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas
o espírito é vida, por causa da justiça” (Romanos 8.10). O próximo
versículo afirma novamente: “Se habita em vós o Espírito daquele
que ressuscitou a Jesus dentre os mortos [...]” (Romanos 8.11).

“Habite [...] pela fé” (Efésios 1.17). A fé é o princípio


fundamental de toda comunicação amistosa entre Deus e o homem.
A incredulidade no Éden fechou o coração contra Deus; e na
inimizade produzida pela incredulidade, o homem ainda habita.
Deus habita apenas naqueles que têm fé em seu Filho. E nossa
herança eterna está condicionada à nossa fé, como diz Pedro.
“Deus [...] nos regenerou para uma viva esperança, mediante a
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança
incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para
vós outros, que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé,
para a salvação” (1Pedro 1.3-5).
Há quatro lugares ou habitações em que, sob a lei, foi dito que
Deus habitaria.

1. O povo que também é herança dele. “Mas o Senhor vos tomou


[...] para que lhe sejais povo de herança, como hoje se vê”
(Deuteronômio 4.20). “Eles são o teu povo e a tua herança”, disse
Moisés (Deuteronômio 9.29).

2. A terra, que também é herança de Deus. Davi reclama por ter


sido expulso da Cidade Santa. “Pois eles me expulsaram hoje, para
que eu não tenha parte na herança do Senhor” (1Samuel 26.19).

3. O campo, que, finalmente, com a entrada deles na terra,


tornou-se a cidade. Judá e Jerusalém por fim serão a herança do
Senhor. “Então, o Senhor herdará a Judá como sua porção na terra
santa e, de novo, escolherá a Jerusalém” (Zacarias 2.12).

4. O tabernáculo, por ser estabelecido na terra sob o rei de Deus,


tornou-se o templo. E o templo restaurado em dias do milênio
deverá ser a morada perpétua de Jeová. “Filho do homem, este é o
lugar do meu trono, e o lugar das plantas dos meus pés, onde
habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre” (Ezequiel 43.7).

Sem fé não há entendimento de Deus e do seu amor. E o notável


egoísmo dos infiéis mostra que, sem fé, não há amor espiritual para
Deus ou para o seu povo.

“Habite Cristo em vosso coração” (Efésios 3.17). Esta era uma


ideia nova para um judeu. “Como poderia uma pessoa habitar em
cem mil?”. Era incompreensível, para a ideia deles, que o Messias
fosse apenas um homem.
A primeira oração falou: “Iluminados os olhos do vosso coração”
(Efésios 1.18), para conhecer o plano de Deus. Isto agora é a
habitação de Cristo em nosso coração, para dar o conhecimento do
seu amor. A luz é boa, mas a abundância de poder e o
conhecimento do amor de Cristo são melhores.
Diz-se que Deus, debaixo da lei, habita no coração do povo de
Israel? Nunca. Ele habitava em uma tenda do lado de fora das
tendas deles. E do seu tabernáculo era para eles manterem
distância.
O templo aqui não deve ser confundido com os dois anteriores em
Efésios 2.19-20. Ali, cada um é uma unidade composta por muitas.
O “templo santo do Senhor [em Cristo]” (Efésios 2.21, ARC)
corresponde aproximadamente ao que é chamado de “a igreja
invisível”, a saber, a igreja como um corpo completo predestinado
por Deus.
Ela nunca foi vista completa em nenhum aspecto. Muitos partiram
da terra; alguns ainda têm que ser levados a Cristo e depois a ela.
Os constituintes vivos dela estão espalhados por toda a terra. (1) O
templo deverá ser erigido de forma completa nas alturas. (2) A
“habitação de Deus no espírito” (Efésios 2.22) está sendo erigida e
construída aqui embaixo. É um edifício temporário, enquanto que o
outro é eterno; é a prova de Deus de que Ele não deixou a terra; ela
suplanta a velha habitação de Jeová debaixo da lei. Por isso, o
primeiro desses dois edifícios é colocado antes daquele do capítulo
3. Ambos correspondem às operações e resultados de Deus
debaixo da lei; ou ao templo na terra e debaixo do reino; e ao
tabernáculo no deserto, respectivamente. “A habitação de Deus no
espírito” é colocada em último lugar das duas, uma vez que ela está
mais perto do que se relaciona ao “mistério”, o assunto do capítulo
3.
As igrejas de Cristo aqui debaixo são muitas; em Cristo, elas são
uma. A Escritura nunca fala de uma igreja a que todas as outras têm
que obedecer. Tampouco Paulo fala sobre alguma “igreja-mãe”, que
deve instruir seus filhos. A igreja é uma virgem casta, aguardando
por Cristo. Se ela for mãe, será a Grande Prostituta de Apocalipse
17, não para ser obedecida pelos santos, mas para ser destruída
por Deus em sua ira.
A atual assembleia de Deus não habita em casas feitas por mãos
de homens na terra. Deus não possui agora nenhum prédio feito
com as mãos. Assim Estêvão ensinou (Atos 7.48). Assim diz Paulo
em Atenas (Atos 17.24).
Compare aquelas duas habitações de Deus com esta de Efésios
3. Aqui, o templo é o homem interior de cada santo. Sobre isso
Paulo fala em 1Coríntios 6.19-20. Nos edifícios anteriores, o
fundamento era doutrinário dos apóstolos e profetas. Aqui, o
fundamento é fé e amor. Nos anteriores, Cristo era a principal pedra
angular. Aqui ele é a divindade habitando em nosso interior por meio
do Espírito Santo. Nos casos anteriores, o fim seria alcançado
quando os muitos fossem feitos um. Isto é com a visão futura de
obter entendimento. Antes, os santos eram edificados de maneira
unida, em Cristo; aqui, Cristo habita em cada um deles.

Estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de


poderdes compreender, com todos os santos, qual é a
largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e
conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento,
para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus
(Efésios 3.17b-19).

A fé e o amor são os dois princípios sobre os quais toda a epístola


é fundamentada. “Também eu, tendo ouvido da fé que há entre vós
no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos” (Efésios 1.15).
Assim, em Colossenses: “Desde que ouvimos da vossa fé em Cristo
Jesus e do amor que tendes para com todos os santos”
(Colossenses 1.4).
Os dois particípios que falam do amor deles estão no tempo
perfeito. Eles já estavam “arraigados” e “alicerçados” em amor e
continuavam ali. É em base imediata da fé e do amor deles que a
primeira oração é feita. Estes são a preparação para certas
realizações futuras. A fé é um dom de Deus. O amor é o efeito da fé.
Através da fé e do amor, os crentes deveriam conhecer o amor de
Cristo para com eles. Já eram salvos, e deveriam estar envolvidos
com os graciosos desígnios de Deus relativo a eles.
Eles haviam sido “arraigados” em amor, como as árvores no solo.
Pela regeneração do Espírito Santo, eles foram feitos vivos. E, como
a semente no solo se divide em duas partes, a raiz que cresce para
baixo e o caule que cresce para cima, no ar, assim eles haviam se
unido à expiação e perdão passados de Cristo e estavam olhando
para a frente e para cima, aguardando pelo cumprimento de suas
promessas. Eles estavam a caminho de se tornar “carvalhos de
justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória” (Isaías 61.3). O
batismo deles era o plantar visível como sementes pelo Senhor; o
dia por vir deveria mostrá-los como “carvalhos de justiça” do Senhor.
Eles também haviam sido “alicerçados” ou fundados em amor. A
figura aqui é o alicerce de um prédio. Em Efésios 2.20, o
fundamento havia sido mencionado como sendo uma questão de
doutrina; haviam sido edificados sobre o fundamento dos apóstolos
e profetas. Mas agora temos o amor como fundamento, que está
com vantagem sobre a doutrina, embora o amor seja a
consequência genuína da verdade recebida de Cristo.
Onde nem fé nem amor são encontrados, o Cristo não pode fazer
sua morada. No capítulo 2, o Espírito Santo descreveu a figura
daqueles afundados em incredulidade e ódio, feitos pelo espírito das
trevas, “filhos da desobediência” e “filhos da ira” (Efésios 2.2-3). Os
não regenerados odeiam a Deus. “Mas, agora, não somente têm
eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai” (João
15.24). Homens de incredulidade não recebem o testemunho do
amor de Cristo. Em vão cai o brilho do meio-dia, onde as cortinas da
alma estão firmadas. “E nós conhecemos e cremos no amor que
Deus tem por nós” (1João 4.16).
Israel deveria ser alicerçado e fundado na justiça; e essa justiça
eles deveriam fornecer através dos poderes da natureza. “A justiça
seguirás, somente a justiça, para que vivas e possuas em herança a
terra que te dá o Senhor, teu Deus” (Deuteronômio 16.20).

“A fim de poderdes compreender, com todos os santos”


(Efésios 3.18). O entendimento e o coração do homem precisam de
ampla mudança para abrir-lhe o grande conselho de Deus,
elevando-se tão vastamente acima das pequenas preocupações
com a vida e o tempo. Poder do alto é necessário para aceitarmos o
sistema de Deus. Na estrutura do tabernáculo de Jeová, poucos de
Israel estavam conscientes dos detalhes da estrutura. Eles se
fizeram conhecidos por Moisés a Bezalel e Aoliabe; mas o grupo
principal do povo não estava envolvido com eles, nem ensinava
sobre eles. Agora Deus teria todos os seus santos que formam seu
novo corpo podendo ter acesso à sua mente. Eles juntos formam o
povo da sua herança. Mas como são poucos os que compreendem
as coisas profundas dessa epístola! Como são poucos os que se
ocupam em pesquisar nas suas verdades! Ou que as saibam
quando são anunciadas!

“Os santos”? (Efésios 3.18). Este é um termo de reprovação e


ridículo empregado por muitos que se chamam cristãos. Entretanto,
somente os santos têm parte na herança de Deus. Os ímpios e os
perdidos terão “a parte que lhes cabe será no lago que arde com
fogo e enxofre, a saber, a segunda morte” (Apocalipse 21.8). E a
que grupo eles pertencem, a quem a santidade é ridícula?

“Compreender [...] qual é a largura, e o comprimento, e a


altura, e a profundidade” (Efésios 3.18). Chegamos agora a um
ponto de especial dificuldade, que tem arrebatado multidões de
mentes; contudo, tão pouca evidência de seu verdadeiro significado
tem sido dada a ponto de não dar convicção de ser a mente do
apóstolo. Por que Paulo parou tão logo? Por que não preencher a
lacuna, coisa que tantos têm tentado, inutilmente, fazer?
Em comum acordo com muitos, a princípio, pensei que as quatro
dimensões tratassem do amor “de” Cristo, que é mencionado na
sentença seguinte. Então, deveríamos entender como se o apóstolo
tivesse escrito: “A fim de podermos compreender as dimensões do
amor de Cristo e conhecer sua extensão interminável”. Mas esta
ideia é colocada de lado, se ouvirmos os críticos, que, penso, estão
certos, e que nos asseguram que a conjunção na próxima sentença
para aquela que contém as dimensões não é uma simples
copulativa, unindo partes do mesmo todo, mas que está anexando
outra característica. Está certo que a partícula usada é algo
incomum, e que pode muito bem ser traduzida pela palavra
“também”. “A fim de poderdes compreender [...] a largura, e o
comprimento [...] e conhecer [também] o amor de Cristo” (Efésios
3.18-19).
Como, então, devemos apreender a questão?
Parece-me, como tenho observado, que o apóstolo está nos
explicando aquela parte do nosso glorioso destino que ele já
mencionou duas vezes antes desta.

1. Em sua primeira oração, ele desejava que os cristãos


soubessem “qual é a riqueza da glória da sua herança nos santos”
(Efésios 1.18).

2. Quando afirmando as grandes características do mistério, ele


novamente apresenta o assunto. Às nações, ele testificou que elas
são “coerdeiras”. E que a herança eterna é uma. Como oficial
comissionado para explicar a economia do mistério, ele agora revela
seus três ramos principais. Está aberto a todos os santos, e deseja-
se que todos o entendam.

São quatro as dimensões em que Jeová estabelece diante de


Abraão a herança deste. “Ergue os olhos e olha desde onde estás
para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque
toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência para
sempre. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na
sua largura; porque eu ta darei” (Gênesis 13.14-15, 17). Em Gênesis
15, o Senhor faz uma aliança formal com Abraão de dar-lhe a terra,
desde o rio do Egito, até o grande rio, o rio Eufrates.
As duas figuras da árvore e do edifício parecem dividir as quatro
dimensões em duas diferentes direções. O arraigamento diz
respeito à árvore, e nela as principais direções são a profundidade e
a altura. O fundamento diz respeito ao edifício; e ali o comprimento,
a largura e a altura são os pontos proeminentes. Mas observemos
que apenas um artigo é usado, unindo assim em um todo as quatro
dimensões.
Profundidade e altura, associando-se com o amor do Cristo, são
mencionadas no próximo capítulo (Efésios 4). Ele desceu às
profundezas da terra; ele subiu, em seu amor e poder, além dos
céus. Podemos notar também que o comissionamento de Paulo
relativo à salvação se estende ao comprimento, e largura da terra,
sendo pregado a toda criatura debaixo do céu.
Os santos um dia serão a herança de Deus, habitando em meio
às riquezas da sua glória. O Altíssimo está acostumado a preparar o
caminho para seus grandes desígnios através de atos e palavras,
olhando na direção daquilo que ele pretende finalmente estabelecer.

1. O anjo da aliança “habitava na sarça” (Deuteronômio 33.16,


ARC). Temos aqui uma dica da figura do crente sendo enraizado?

2. O Senhor morava em meio do seu povo. Eles eram para ele um


povo de herança.
3. Ele habitava na terra deles. A terra era herança dele: “Também
a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha”
(Levítico 25.23).

4. Ele escolheu Jerusalém como sua cidade. “Cantai louvores ao


Senhor, que habita em Sião” (Salmos 9.11). “Desde Sião, bendito
seja o Senhor, que habita em Jerusalém!” (Salmos 135.21).

5. Ele habitou no tabernáculo e no templo (Êxodo 25.8; 29.45).

6. E, no tabernáculo, seu lugar especial era entre os querubins


(Êxodo 25.22; Números 7.89. “A arca do Senhor dos Exércitos,
entronizado entre os querubins” (1Samuel 4.4). Quando Davi ia
trazer a arca para Jerusalém, ela é chamada “a arca de Deus, sobre
a qual se invoca o Nome, o nome do Senhor dos Exércitos, que se
assenta acima dos querubins” (2Samuel 6.2). Essas habitações de
Deus eram prova de seu cuidado por Israel, e do seu amor por seu
povo.

Ora, enquanto homens podem morar em casas e ocupar terras,


que não pertencem a eles, o lugar da morada de Deus é parte da
herança dele. Os santos, então, em quem Deus habita, são sua
herança.
Algumas dessas moradas de Deus eram medidas. O comprimento
do tabernáculo era de côvados, a largura e a altura eram de dez
côvados. Ele não tinha profundidade, pois era simplesmente uma
tenda. E enquanto as dimensões do templo de Salomão são dadas
em comprimento, largura e altura, a profundidade dos alicerces não
é mencionada, creio eu.
Na oração de Paulo, não há números ligados às quatro
dimensões. Como poderia ele especificar em côvados o tamanho do
“homem interior”, formando o templo de Deus em todo crente? Ou
se vemos as dimensões como relativas à nossa herança, como
serão colocados seus limites?

E conhecer o amor de Cristo, que excede todo


entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude
de Deus (Efésios 3.19).
Na sentença que se estende dos versículos 16 ao 19, uma
partícula grega que significa “a fim de” ou “para que” ocorre três
vezes. (1) Uma vez ela aparece antes do conteúdo da oração de
Paulo: “para que, segundo a riqueza da sua glória...” (v. 16). (2)
Depois, ele fala sobre o amor do crente, como que olhando para
frente, para um futuro resultado: “alicerçados em amor, a fim de
poderdes compreender” (vv. 17-18). (3) E a terceira nos apresenta a
questão final. O conhecimento do amor de Cristo é “para que”
sejamos tomados de toda a plenitude de Deus (v. 19). Isto obtido, a
alma pode descansar.
Jeová se agradava de mostrar seu poder, para o bem de Israel e
contra seus inimigos. Era prova do seu amor. Aquele amor foi
direcionado primeiramente aos pais; depois, através deles a Israel,
sua posteridade (Deuteronômio 4.37; 7.7-8). Não era a grandeza
deles nem a bondade deles que o moveram a resgatá-los do Egito,
fazer deles o seu povo e dar-lhes a terra.
Quão maior é para nós “o amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8.39).
Israel falhou em entender o poder de Deus; até Moisés duvidou
que Jeová conseguisse cumprir sua palavra com relação às
codornizes.
Os meios através dos quais entramos no conhecimento do amor
do Cristo são fé e amor. A fé é dom de Deus. O amor brota da fé na
bondade de Deus, como revelada na sua grandiosa salvação.
Nosso amor por Cristo abre a porta para admitir e desfrutar do
infinito amor de Cristo fora de nós. Onde não há amor, a maldição
habita. “Se alguém não ama o Senhor, seja anátema. Maranata!”
(1Coríntios 16.22).
A incredulidade é o pai do ódio. O amor do Cristo pode ser
parcialmente conhecido e apreciado. Podemos ser totalmente
persuadidos dos grandes atos através dos quais o Redentor nos
mostrou seu amor. Mas sobre a profundidade desse amor devemos
ser ignorantes. Para poderem morar no mar, os peixes devem ser
peculiarmente organizados, e em posse da vida. Um cavalo não
consegue viver debaixo das ondas. Mas, enquanto o peixe sabe o
que é o mar por cada experiência vivenciada, e pode se mover para
cima e para baixo, para a direita e para a esquerda, dentro do mar,
ele não consegue jamais nadar em seu comprimento nem penetrar
em suas maiores profundezas.

“Para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus”


(Efésios 3.19). Maravilhosas palavras! Quem ousaria usá-las com
relação a nós mesmos, se elas não tivessem sido escritas para nós
pelo Espírito Santo? Nossa fé e amor estão se preparando para o
grande resultado final. Não devemos supor que o apóstolo
afirmasse que essa plenitude de Deus é encontrada em qualquer
crente agora. Aquele que é perfeito ainda terá que vir. Nossa filiação
não está completa enquanto não vier a redenção do corpo. Não é a
plenitude que tem que seguir a partir de nós; ela deve ser concedida
a nós. O tabernáculo não ficou cheio da nuvem e da glória até que
tudo estava completo em execução e arranjos (Êxodo 40). Então,
Moisés não foi capaz de entrar na morada do Senhor, porque a
nuvem permanecia sobre o tabernáculo e a glória do Senhor encheu
o tabernáculo.
Mas o Senhor logo entrará no santo e um dia o encherá de glória.
O apóstolo fala sobre sermos “tomados de toda a plenitude de
Deus” (Efésios 3.19). Não surpreende que tenhamos que ser
fortalecidos no interior para suportamos tão grande “peso de glória”!
Mas, o apóstolo fala mais de conhecermos o amor de Cristo do que
a glória. É o amor que nos dá o brilho e a satisfação até mesmo
para a glória eterna do santo.

Mas, oh, o pensamento de compartilhar, Senhor,


De teu glorioso trono nas alturas,
O que é isso diante da mais fulgurante esperança
De habitar em teu amor?[29]

Ou como disse Salomão: “Melhor é um prato de hortaliças onde


há amor do que o boi cevado e, com ele, o ódio” (Provérbios 15.17).
Como deveremos conhecer o amor de Cristo? Pela experiência!
Deus faria o homem inteiro se engajar em Cristo; a inteligência
ainda crescente, mas não somente a inteligência; a emoção e os
afetos colocados em cena pela fé em um amor tão divino.
O amor de Cristo é dirigido ao seu corpo, a igreja (Efésios 1.22).
O poder de Deus foi anunciado em Cristo juntamente conosco; em
Cristo, para exaltá-lo ao céu muito acima de qualquer outro; e para
dá-lo à igreja como seu corpo.
Ali, em Efésios 1.22-23, era a igreja enchendo o Cabeça. Aqui,
Efésios 3.14-21, é Deus Pai enchendo-nos com toda a plenitude de
Deus. Isso não nos faz iguais a Deus; mas nos é adequado porque
habitaremos com Deus; para estarmos em completa afinidade com
Deus. É através da humanidade unida à Trindade na Pessoa do
Filho que todos os recursos de Deus fluem para dentro de nós.
Muitos falam muito sobre a “união com Deus”. A Escritura, não. A
Escritura fala da união com Cristo. Podemos ter uma doce
comunhão com Deus; mas união com Ele não pertence à criatura.

Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente


mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme
o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja
e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o
sempre. Amém! (Efésios 3.20-21).

Nossa ignorância e fraqueza, que precisam de suprimentos


perpétuos de sabedoria e poder do alto, são agora contrastadas
com as qualidades do Altíssimo, que se comprometeu em glorificar
seu Filho, e a igreja nele. Antes, era: Oro para que Deus lhes dê
poder para que vocês sejam capazes. E isso tem seu lugar
apropriado em nossa posição agora. É a bondade de Deus, não
exigindo de nós, como debaixo da lei, poder de acordo com os
direitos dele; mas suprindo com poder em graça através de Jesus,
nosso Senhor. O poder dele começou a execução do grande
sistema, unindo-nos a Cristo quando sob a morte; fazendo-nos
perdoados por ele e tendo vida espiritual, um corpo (Efésios 1.19-
23). Seu poder realizará a obra até seu término. Seu poder é infinito;
seu amor para com aqueles que Ele escolheu não será confundido.
Parece-nos que a oração é um pouco alta demais, que sejamos
“tomados de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3.19). Mas o
Espírito Santo através de Paulo fala-nos para não limitarmos a
bondade de Deus por causa do nosso frágil conhecimento ou
orações fracas. O amor e o poder de Deus alcançam muito além da
nossa escala de conhecimento e nossas petições. Ele, que nos
estabeleceu em graça no Amado, certamente também nos
estabelecerá em glória com Ele. Pois a glória será dele.
A segunda oração de Paulo pede inteligência para nós. Mas, além
de toda oração e qualquer medida de inteligência que possamos ter,
estende-se o vasto horizonte do poder de Deus. Quatro diferentes
substantivos que expressam o poder de Deus são usados para
descrever as operações do Altíssimo sobre a igreja (Efésios 1.19-
20). As quatro diferentes palavras são combinadas para nos dar
alguma ideia da virtude divina em funcionamento para nós, sobre
nós e em nós (Efésios 3.7, 16, 20; 4.16; 6.10). Assim também
acontece na epístola aos Colossenses, que traça a mesma obra
gloriosa sobre a igreja de Cristo. Mas, como a força é espiritual, o
mundo, e até mesmo a igreja, não nota. O grande Deus está
trabalhando agora contra as forças de oposição, durante o tempo
em que sua paciência está permitindo que o mal aumente a sua
força. Mas logo esses poderes da malignidade serão derrotados, e o
poder de Deus para o bem se move irresistivelmente.
É necessário poder divino para trazer à vida os espiritualmente
mortos, e trazê-los para a glória, contra a tremenda corrente tripla
do mundo, da carne e do diabo.
Observemos que agora, depois que a atividade especial de cada
Pessoa da Trindade foi estabelecida, a unidade da divindade
aparece. “Àquele que é poderoso” (Efésios 3.20).

“Conforme o seu poder que opera em nós” (Efésios 3.20). O


poder está atuando por nós e fora de nós. Mas o poder que
prevalecerá já está em funcionamento e opera dentro de nós.
(Romanos 8). Acople uma carroça a um motor; a carroça, que
estava imóvel, começa a se mover; primeiro devagar, depois, com a
força do motor funcionando, a velocidade vai aumentando.
Precisamos e pedimos poder nesses dias maus. Um poder já está
em atividade em nós. Mas ele ainda tem que provar, como de fato
provará, ser vitorioso sobre todos os obstáculos.
“A ele seja a glória” (Efésios 3.21). A adoração pertence a
Deus, não a nós. Portanto, o Espírito Santo traçou em linhas tão
profundas nosso estado original de pecado e ira (Efésios 2.1-3). E
nós veremos e reconheceremos totalmente que a glória é dele. A
oração sendo inspirada pelo Espírito da verdade, a resposta em
glória certamente acontecerá.

NA IGREJA E EM CRISTO[30]
Aqui, o apóstolo segue adiante a partir da obra santificadora
agora em andamento internamente em cada um dos eleitos de
Deus, para o resultado conclusivo da dispensação: “A igreja, o corpo
de Cristo”, completo em glória! O mistério acabou, a manifestação
chegou! Nossa herança, da qual o Espírito Santo é o penhor,
chegou (Efésios 1.14). Mas as riquezas da glória da herança de
Deus nos santos chegaram também! (Efésios 1.18). A igreja, que foi
objeto dos desígnios de Deus na eternidade, a manifestação de sua
sabedoria na terra durante o tempo do mistério, agora é o objeto no
qual o brilho da glória dele no céu irá resplandecer.

É “a igreja [...] em Cristo Jesus” (Efésios 3.21). O Cabeça e os


membros, agora tão distantes quanto a terra e o céu, são finalmente
reunidos, em unidade. O Noivo e a noiva há tempo separados, longe
um do outro, por fim chegam ao seu lar! O templo, do qual Cristo era
a pedra angular, finalmente está terminado! E daquele templo, o
louvor prosseguirá cada vez mais. Os sacerdotes e os levitas da
antiguidade deveriam oferecer a Deus louvores sob a lei.
A nossa porção é como a deles, porém ainda mais elevada.
Quando o rei de Deus entrou em seu reino e sentou-se em sua
metrópole, louvor perpétuo dos sacerdotes foi ordenado por Ele (1
Crônicas 16,11, 35; 2 Crônicas 30.21). E o Senhor Jesus, o nosso
Davi, será o líder da adoração que fluirá quando o melhor reino for
estabelecido. “A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei
louvores no meio da congregação” (Hebreus 2.12).
Louvor também será feito pelos anjos, regozijando-se com a glória
da nova criação. Se a glória do que é terreno, que logo se perde,
suscitou admiração e adoração, quanto mais a glória eternal e
permanente da nova criação, descansando sobre o valor imutável
do Filho de Deus!
E a criação, que tanto sofreu sob o pecado do primeiro Adão e
aguardando há tanto tempo a redenção do segundo Adão, regozijar-
se-á com a brilhante manifestação dos filhos de Deus (Romanos 8).
Deveremos traçar alguns passos no caminho desse glorioso
resultado? Deus nos tem dado vida com Cristo, nos elevado e
assentado (pela fé) nas alturas celestiais em Cristo Jesus. E mesmo
quando ainda na terra, já somos habitação de Deus em Cristo pelo
Espírito Santo. Cristo está pela fé habitando em nós como Seus
templos; o Espírito Santo está nos santificando o interior. Estamos
em Cristo, como a principal pedra angular do novo templo. Cristo
habita em nós, em nossos corpos mortais, a esperança da glória.
Fomos criados para as boas obras em Cristo. Nós nos aproximamos
de Deus, através de Cristo, em um Espírito para o Pai. Ao nosso
redor e em nós há muitos perigos; estamos em meio a uma guerra
e, a menos que permaneçamos com a armadura celestial de Deus,
certamente cairemos e seremos feridos. Mas, no final, a igreja, em
Cristo, pousará na glória eterna: Ele em nós e nós nele!

“Glória [...] por todas as gerações, para todo o sempre.


Amém!” (Efésios 3.21). Esta extraordinária conclusão pareceu aos
nossos tradutores anteriores uma expressão incapaz de ser
traduzida. Como pode haver gerações por toda a eternidade,
quando o Salvador nos assegura, que “os que são havidos por
dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos
não se casam, nem se dão em casamento. Pois não podem mais
morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo
filhos da ressurreição” (Lucas 20.35-36).
A resposta a esta dificuldade deriva-se da divisão dos salvos em
dois grupos, como foi apresentado a nós nos dois últimos capítulos
do Apocalipse. Ali temos “as nações”[31] da nova terra habitando
fora da cidade de Deus. Eles ainda estão na carne; tão
verdadeiramente quanto “as nações” a quem Paulo e seu evangelho
foram enviados. Eles vão em uma peregrinação pela cidade
celestial, como as tribos de Israel subiram outrora para Jerusalém. A
eternidade, no que diz respeito a eles, é medida pelas gerações.
Não existe morte entre eles.
Mas, além das nações, sobre as quais os ressurretos dentre os
mortos governam, há os cidadãos de Deus, que habitam na
metrópole dele, de luz e dia eternos. Como são ressurretos dentre
os mortos, não precisam, nem têm, noite. Eles contam a eternidade
pelas eras; ali não se casarão nem se darão em casamento. E
essas eras infindáveis formam a eternidade, a era das eras.
Leitor, o que você pensa sobre a nossa herança? Pode a herança
de Israel, em seu melhor estado, comparar-se a ela?
CAPÍTULO QUATRO
Os Dons que

Edificam o Corpo

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis


de modo digno da vocação a que fostes chamados (Efésios
4.1).

O apóstolo agora está ampliando a segunda característica do


mistério: um corpo, agora juntando de todas as nações. Ele mostra
o valor que Deus dá à unidade da igreja, através de uma visão dos
sete meios da unidade dada por Deus; e as operações em conjunto
do Espírito Santo, do Senhor e do Pai sobre o mesmo assunto.
O capítulo 3, que trata da igreja como o mistério, é um grande
parêntese. A igreja, como tem frequentemente sido observado,
também é um parêntese. Um parêntese é uma inesperada quebra
da sentença já começada, por outra inserida. Mas quando a
sentença interior é completada, o falante toma o significado
novamente, no mesmo ponto em que ele havia deixado. Portanto,
quando a igreja é empurrada para o lado, saindo do seu presente
local de testemunha, o Senhor pega novamente seu antigo povo de
Israel e o julgamento começa.
Aqui, em Efésios 4.1, temos Paulo pegando de novo o argumento
onde ele havia deixado. Muitos consideram duvidoso onde o
parêntese do capítulo 3 termina; é igualmente duvidoso onde o
tempo do parêntese de Deus, a igreja, terminará.
Deus foi primeiramente trabalhar com Israel. Ele deixou Israel
para agir em graça na igreja; e isso ele vai levar adiante até que
seja completado. Mas, quando a carreira da igreja na terra tiver
terminado, Ele toma Israel de novo onde ele havia deixado. A súbita
quebra de Jeová com Israel é o tempo da misericórdia e do mistério
de Deus. A obra do Senhor em Israel é justiça; e justiça é
manifestação.
O apóstolo, uma segunda vez, nota que ele está sendo
aprisionado como se fosse um criminoso. Isso merece consideração
por vários motivos.

1. Ele falou de sofrimento como se designado para ser suportado


pelo Cristo místico, tanto Cabeça como membros. Como ele era o
ministro principal da doutrina da igreja, era também o exemplo
principal dos sofrimentos designados aos membros do Cristo.

2. Que mundo mau! Tratar assim o mensageiro de Deus, enviado


a todo o mundo a convite deles para a glória do reino de Deus!

3. Mas a sabedoria de Deus foi demonstrada na face dessa


malignidade do inimigo. Paulo foi comissionado para proclamar o
mistério ao mundo. Então, ele foi impedido de realizar qualquer
atividade de viagem. Mas agora que sua disseminação da verdade,
de boca em boca, foi impedida, sua pena é empregada para
entregar às multidões, que não podiam ver a face dele, nem ouvir o
som da sua voz, a grande mensagem de Deus, por escrito. E assim,
depois de um lapso de dezoito séculos, a doutrina do mistério do
Cristo, com as glórias ligadas a ela, é mais uma vez ensinada. Que
os santos não fiquem desanimados, nem estejam prontos para
achar falhas com Deus por causa da doutrina. Essas dificuldades
surgiram pelo ciúme dos judeus pela proclamação do Cristo aos
gentios feita por Paulo. Esse sentimento pode ser vividamente
notado no discurso de Paulo ao povo de Jerusalém. Paulo em pé na
escadaria do castelo. Eles ouviram até que ele lhes disse sobre o
Cristo tê-lo enviado para falar às nações distantes. Aí a ira furiosa
deles explodiu; e as mãos de Roma foram postas sobre o
mensageiro de Deus, fazendo-o e mantendo-o prisioneiro, até que
sua causa fosse julgada em Roma.
Os sofrimentos de Paulo foram, à primeira vista, o preço que ele
pagou por trazer as novas da salvação e a glória aos gentios. Em
outro ponto de vista, eles falavam do amor de Deus aos gentios.
Deus valorizava tanto os gentios que ele preferiria que seu
mensageiro sofresse a que eles se perdessem.
O chamado de Israel foi enviado a eles através de Moisés, a partir
de Jeová, que desceu e falou em uma sarça ardente no deserto.
Eles deveriam sair do Egito. Eles deveriam se mover para a terra da
promessa, como esperavam. Nós somos chamados por Paulo,
comissionados pelo Senhor Jesus, a partir da glória nos céus, para
buscar e desfrutar de uma glória como a dele. Nós, que cremos,
somos proclamados “membros de Cristo”.
Portanto, devemos andar de acordo com o maravilhoso
comissionamento, para o qual nós, desta dispensação, somos
chamados.
Qual é esse chamado?

1. É um chamado vindo do mundo e de Satanás, mas de serviço a


Cristo e à igreja.

2. É um chamado para uma vida de liberdade, oposto à lei de


Moisés (Gálatas 5.13). É um chamado para fazer o bem e para
sofrer. Isto é contrário às promessas da lei (1Pedro 2.21).

3. Não somos, todavia, chamados para licença, mas para a


santidade (1Pedro 1.15; 2Timóteo 1.9).

4. É um chamado para uma herança eterna, que está assegurada


para todos os que são chamados (Hebreus 9.15). Mais elevado do
que o de Israel e até o dos anjos.

5. Os que recebem o chamado se tornam filhos de Deus, unidos


ao Cristo, Filho de Deus; membros do Seu corpo (Romanos 8.29;
1João 3.1; 1Coríntios 1.9). Eles têm a habitação do Espírito e
desfrutam do amor do Pai e do Filho.

6. Deles é uma esperança de brilhar no reino milenar, tendo a


mesma glória que o Rei dos reis e Filho de Deus. Deus está nos
convidando para o Seu reino e para obtermos a glória do nosso
Senhor Jesus Cristo (1Tessalonicenses 2.12; 2Tessalonicenses
2.14; 1Pedro 5.10). Este é o prêmio colocado para aqueles que,
pela fé, receberam o dom de Deus, a vida eterna (Filipenses 3.14).
Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade,
suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos
diligentemente por preservar a unidade do Espírito no
vínculo da paz (Efésios 4.2-3).

Qual é o temperamento adequado para uma vocação tão


gloriosa? Não orgulho do deserto! Pois nós éramos criminosos
condenados, aliados de Satanás, inimigos de Deus e incapazes de
escaparmos da justa ira de Deus. A todos, então, foi atribuído um
favor imerecido. E isto é para nos manter humildes. Um senso de
maior conhecimento do que os outros não deve nos orgulhar. Disso
Paulo é um exemplo. Ele não se vangloria, insistindo em seus
direitos, como oficial chefe designado por Cristo a uma embaixada
mundial, onde apóstolos anteriores falharam. Ele trabalhava com
suas próprias mãos para seu sustento e de outros. Não se exalta
quando em contato com outros apóstolos. Ele era como se fosse um
aborto; os outros estavam em Cristo antes dele. Ele foi um
perseguidor, blasfemador, insultou a Cristo, não merecia ser
chamado apóstolo, menos que o menor de todos os santos.
A mansidão convém a nós; esse é o espírito oposto ao que a lei
permitia. Aquele que paga a Deus o que lhe é devido, como a lei
supunha que Israel faria, pode exigir seus justos direitos de seus
próximos. “Olho por olho, dente por dente”! (Êxodo 21.24). Mas os
pecadores que confessam suas faltas devem perdoar como
desejam ser perdoados.

“Mansidão” (Efésios 4.2). Não se vanglorie do conhecimento.


“Quanto eu sei mais do que os outros!”. O cristão não deve se gabar
de sua dignidade no mundo, nem na igreja, ciumento de que se
intrometam em seus direitos, ressentindo-se de que alguém o
supervisione, supervisão real ou imaginária.

“Suportando-vos uns aos outros em amor” (Efésios 4.2). Na


conversação de um cristão com outro, há sempre alguma coisa para
tentar um ao outro, mesmo que não seja proposital. O cristão não
deve se agarrar a tal acontecimento para mostrar seu desprazer.
Como você precisa que Deus e seus companheiros o suportem,
assim também você deve suportar os outros. O mundo às vezes
suporta com um espírito de orgulho; o homem está abaixo de
desprezo. Mas o suportar o cristão é algo feito em amor.

“Esforçando-vos diligentemente por preservar” (Efésios 4.3).


Preservar, ou manter, ou guardar. Palavra de ocorrência frequente
sob a lei. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e
guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade
peculiar dentre todos os povos” (Êxodo 19.5). Isto não temos que
fazer, mas como receptores do Espírito Santo por meio da graça de
Deus, devemos preservar a unidade do Espírito. A habitação do
Espírito Santo é característica desta dispensação, mas não da lei,
em que a carne era convocada a juntar todos os seus poderes de
obediência. O Espírito veio sobre a igreja e habita conosco, como
resultado da obra de Cristo. Grande foi o desejo do Salvador por
unidade em sua igreja; e agora o Espírito Santo, através do ensino
de Paulo, mostra-nos os sete meios concedidos por Deus para
preservar essa unidade.

1. Observe que não é a unidade do corpo que somos chamados a


manter. Essa é uma questão que está nas mãos de Deus. O corpo é
algo invisível, cujos membros são conhecidos apenas por Deus. “O
Senhor conhece os que lhe pertencem” (2Timóteo 2.19).

2. Observe novamente que não é a unidade na forma que Deus


deseja. Esse era o objetivo da lei. Israel era uma nação na carne,
em sua circuncisão, festas, metrópole, templo e seu serviço do
templo. Deus agora deixou para trás a unidade da forma. Mas o que
Deus abandona, Satanás e o homem pegam. A carne pode
entender a unidade da forma e aprová-la. Roma e suas filhas
reforçam a unidade da forma. Debaixo disso, pode haver, e há,
grande hostilidade entre as partes componentes, como vemos na
Igreja Alta, Igreja Ampla e Igreja Baixa.[32]

“A unidade do Espírito” (Efésios 4.3). Deus não permite que


ninguém entre no corpo do Cristo, exceto os renovados pelo Espírito
Santo e os escritos no Livro da Vida; tem, portanto, a regeneração
do alto. Mas nós podemos mostrar nosso desejo de manter o povo
de Deus unido, em verdade e em amor. A paz e a solidariedade
entre os membros do nosso corpo natural enquanto ele está
saudável são uma indicação do que Deus teria para reinar no corpo
espiritual.
Quando, como consequência do orgulho e a superestima do ego
do homem, irrompem os conflitos, o grupo que deveria manter os
membros de Cristo unidos para a bênção se quebra; e outro
espírito, o espírito do mundo, de Satanás, da carne, entra. Com que
ânimo ficam os (1) indivíduos que lideraram o conflito; (2) os
restantes da assembleia, que foram partidos sobre a questão; (3)
aqueles em quem o Espírito de Deus estava agindo, com vistas a
liderá-los para saírem da incredulidade e se voltarem para o Senhor.
Alguns são confrontados e, às vezes, voltam atrás, porque os
cristãos são muito diferentes do que eles deveriam ser e do que se
espera que sejam, como é descrito no Novo Testamento. A obra do
Espírito de Deus fica parada ou se quebra.
Quanto cuidado o Salvador manifestou quando estava a caminho
da morte por nós, para que seu povo fosse um! “Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros” (João 13.35). Podemos contender pelas verdades da
Palavra de Deus com aqueles que as pervertem ou negam, mas
mesmo nessas ocasiões, com espírito manso. Caminhe no Espírito
de Cristo que não haverá divisão.
Os conflitos também lançam (4) obstáculos no caminho de se
obter a esperança que está diante de nós. A respeito de
“prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades,
porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissenções, facções, invejas,
bebedices, glutonarias”, as “obras da carne”, o Espírito Santo diz
que “não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam”
(Gálatas 5.19-21).

“No vínculo da paz” (Efésios 4.3). Devemos buscar a


disposição de paz em geral, e usar meios para preservar a paz entre
os crentes, de modo que a verdade não seja sacrificada por causa
da paz. Deus é agora “o Deus da paz;” não mais, como debaixo da
lei, “o Senhor dos Exércitos”. A paz é feita entre Deus e você;
busque preservá-la entre vocês. O mundo tropeça quando os santos
caem. E com conflitos, a alma e Satanás entram como em uma
inundação. Desfaça os grupos e o feixe cai aos pedaços.

Há somente um corpo e um Espírito, como também


fostes chamados numa só esperança da vossa vocação
(Efésios 4.4).

Os próximos versículos desenvolvem a segunda característica do


mistério, a saber, a unidade do corpo reunido dentre as nações.
Essa é a glória da igreja de Cristo; reunindo-se em seu seio todas
as variedades da carne, onde há uma unidade de espírito. Não é
unidade de inteligência e obtenção de conhecimento. É a posse de
um espírito entre aqueles renovados através do Espírito Santo.
O Espírito Santo desceu dos altos para criar um corpo para Cristo,
o Cabeça que subiu às alturas, o Autor da unidade. O Corpo de
Cristo, ou a igreja, não poderia começar a existir até a descida do
Espírito Santo, a bênção consequente da ascensão do Senhor
Jesus, em virtude de sua obra terminada. O Espírito único produz o
corpo único. Ubi Spiritus, ibi Ecclesia (onde o Espírito habita, aí está
a igreja).
Vemos quão severamente o Senhor Deus vingou a divisão
introduzida por Corá contra Arão, e por Datã e Abirão contra Moisés.
Os conspiradores se levantaram contra os líderes designados por
Deus, que estavam conduzindo Israel para a terra de suas
esperanças. Imediatamente a conspiração foi reprimida por terem os
conspiradores sido eliminados!

“Como também fostes chamados numa só esperança da


vossa vocação” (Efésios 4.4). Israel tinha respondido a cada uma
das três características de Efésios 3.6, mas em outras linhas.

1. Ele tinha uma herança e esperança, a terra da promessa na


terra.

2. Ele era um corpo, e uma assembleia no deserto, partindo de


um pai, Abraão.
3. Seus dons da promessa foram recebidos dos egípcios (Êxodo
3.21-22).

A esperança da nossa vocação é participarmos do reino milenar


de Cristo. É o prêmio posto diante de nós, o qual somos chamados
para buscar; e buscar antes e além de tudo o mais.
Essa esperança depende da iluminação e força do Espírito na
igreja. É fundamentada na profecia. E quando a força da igreja
falhou, como aconteceu logo depois da morte dos apóstolos, a
esperança de um novo chamado ficou fora de vista. Não há nada no
mundo para nos fazer lembrar dele. Ele deve vir subitamente, e com
o desânimo por parte dos que dormem espiritualmente na
incredulidade. Ele será cumprido outro dia, totalmente diferente
deste; um dia de julgamento; de recompensa aos fiéis e de
destruição ao mundo. Manter essa esperança atualmente traz
problemas, e poucos conseguem suportar. Multidões de crentes
estão pressionando para ganhar o mundo. E então as trevas vêm
sobre o espírito; e a Palavra de Deus e seus conselhos sobre a
glória do seu Filho se perderam de vista. “Nele os gentios
esperarão. E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz
no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do
Espírito Santo” (Romanos 15.12-13).

Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo (Efésios


4.5).

Por natureza, Jesus Cristo era por toda eternidade Jeová. Mas,
Ele adquiriu como homem, por seus serviços a Deus, os títulos de
“Senhor e Cristo” (Atos 2.36). O reconhecimento dessas verdades,
os espíritos malignos não darão. Consequentemente, é feito um
teste sobre a origem de cada espírito, se ele vem de Deus ou de
Satanás (1Coríntios 12.3).
Quando o evangelho foi pregado no Pentecostes, a invocação do
nome do Senhor foi exigida daqueles que desejavam ser salvos, de
acordo com a promessa mencionada pelo profeta Joel. “O sol se
converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o
grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo” (Atos 2.20-21). Sobre isto,
Pedro insistiu com Cornélio: “Este é o Senhor de todos” (Atos
10.36). E Paulo conclama o carcereiro de Filipos para crer: “Crê no
Senhor Jesus e serás salvo” (Atos 16.31). Isto ele afirma em geral:
“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o
mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.
Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”
(Romanos 10.9, 12-13).
Quão notável é que todas as pessoas da santíssima Trindade
sejam mencionadas como guardando de sete maneiras a unidade
do corpo de Cristo, sendo eles mesmos os motivadores principais
nessa questão.

“Uma fé” (Efésios 4.5). Isto fala não de uma fé interior, mas das
doutrinas da fé cristã procedentes do único Senhor (Marcos 16.15-
16, 19).

“Um batismo” (Efésios 4.5). Seremos capazes de deixar de ser


os inimigos de Cristo, o Senhor que subiu aos céus? Foi a pergunta
sincera daqueles que despertaram em Pentecostes. E Pedro exigiu
daqueles que tinham o senhorio do Cristo que fossem imersos no
nome dele. Era a prova que eles deveriam prover, de sua aceitação
da verdade sobre Aquele Jesus que eles tinham acabado de matar
tão perversamente. Assim também Paulo saiu das categorias dos
inimigos de Cristo. “Quem és tu, Senhor?”, “Que farei, Senhor?”, “E
agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os
teus pecados, invocando o nome dele” (Atos 22.8, 10, 16).
Primeiro a fé, depois o batismo; desta forma, fazendo um “culto
racional”. O batismo não vai primeiro a fim de produzir a fé; mas ele
vem depois para manifestar a fé. O batismo é algo destinado a todo
cristão; diferentemente da circuncisão, que fazia separação entre
judeus e gentios, homens e mulheres.
Há outro ritual da invenção do homem, sem precisar da fé. É com
água aplicada por aspersão ou por derramamento, a crianças; que
chamam de batismo. Mas como o batismo é um só, a aspersão de
crianças é outro princípio, é um segundo batismo, uma tradição de
homens desconhecida nas Escrituras, e não para ser realizado por
crentes.

“Um Senhor” (Efésios 4.5). Com este sentimento, Paulo


repreende aqueles que faziam um partido até em nome dos
apóstolos, na igreja de Corinto. “Acaso, Cristo está dividido? Foi
Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, batizados
em nome de Paulo?” (1Coríntios 1.13). Diante do “Senhor de todos”
temos que comparecer e prestar contas. Sejamos cuidadosos para
não o desagradarmos!
A fé é uma. Este é um grande vínculo de unidade. Um é seu
objeto de adoração; nossas esperanças e nossos medos são das
mesmas coisas. Estas deveriam nos levar pelo mesmo caminho. O
estabelecimento de erros na doutrina ou práticas não escriturais
ofende essa unidade.

“Um batismo” (Efésios 4.5). A aspersão de água em crianças


como tradição de homens é vã e empurra para o lado o
mandamento de Cristo, que é a imersão de crentes. Por meio dessa
falsidade, o incrédulo é encorajado a se destacar contra os
chamados de Deus. “Já sou crente! Fui batizado quando criança!”.
Se as crianças podem ser batizadas, dê-lhes também a ceia do
Senhor! Isso era feito quando começaram a fazer batismo infantil. O
que imaginavam era que a vida espiritual era transmitida no
batismo. Dê-lhes o pão e o vinho para darem apoio à vida que lhes
foi concedida!
Você diria que o batismo não é importante e nem necessário para
a salvação? Eu admito que não é necessário para a salvação. E
daí? Por acaso a única coisa de que você tem que cuidar é a sua
salvação? É esta a sua resposta Àquele que deixou a glória do trono
para suportar a ignomínia e a angústia da cruz por você? E se sua
resposta for sim, desista também da única esperança do seu
chamado. Isto só será dado aos obedientes. Apenas os servos bons
e fiéis entrarão no gozo do seu Senhor.
A ordenança do batismo é a maneira de Deus através da qual
cada um deve mostrar sua obediência a Cristo como seu Senhor.
Cristo é nosso Senhor? Os que recusam o batismo colocam de lado
o senhorio de Cristo, ao entrarem na igreja sem guardarem o
mandamento dele. “Que farei, Senhor?”. O Senhor enviou Ananias.
“Por que te demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus
pecados, invocando o nome dele” (Atos 22.10, 16).

Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age


por meio de todos e está em todos (Efésios 4.6).

A criação é um ato da Trindade, não da paternidade. Porventura,


Deus é Pai do leão e da baleia? Em todo o livro de Gênesis, que
trata da criação, Jeová é frequentemente mencionado como Senhor,
nunca é chamado de Pai. A paternidade supõe que o filho possui a
mesma natureza que o pai. O homem foi desde o princípio tratado
como o súdito de Deus, porque foi colocado debaixo da lei e sob a
penalidade da morte e da desobediência. O pecado anulou qualquer
reivindicação imaginada de Deus como Criador. “Vós sois do diabo,
que é vosso pai” (João 8.44), disse o Senhor a homens
circuncidados e que se orgulhavam do seu conhecimento de Deus.
O Altíssimo é o Pai apenas daqueles que estão em Cristo.

“O qual é sobre todos”: é o Governante e Senhor supremo.


“Age por meio de todos”: preservando todos os crentes.
“Está em todos”: o apóstolo está falando de crentes.

“Um só Deus e Pai de todos” (Efésios 4.5). Esta frase não


ocorre como algo que se sustenta por si só, mas é parte da epístola
para a igreja de Deus. E isto, desde o começo, tece a graça e a paz
de Deus como posse somente daqueles que confessam Deus como
Pai e reconhecem Jesus como seu Filho (Efésios 1.2). O que diz o
versículo seguinte? “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo” (Efésios 1.3).
Os homens da natureza, ou “as nações”, são declarados por
Paulo nesta epístola, longe de serem filhos de Deus, mas “sem
Deus no mundo”. Ele não chama Deus como Pai de ninguém, a não
ser daqueles que se aproximam Dele por meio de Cristo, e por seu
Espírito (Efésios 2.12, 18). E, finalmente, “dando sempre graças por
tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”
(Efésios 5.20).

E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a


proporção do dom de Cristo (Efésios 4.7).

O dom da graça é para “cada um de nós”. Isso se relaciona à


terceira característica do mistério. As nações são participantes da
promessa dele em Cristo através do evangelho. Paulo e Israel
entram na igreja apenas pela fé como uma das nações. Paulo então
prossegue para provar que a graça mencionada era o dom do
Cristo.

1. Não diz “é concedida”, mas “foi concedida” (Efésios 4.7). Foi


algo que surgiu do aparecimento e da obra do novo homem, o
último Adão. “Se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito
mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus
Cristo, foram abundantes sobre muitos. [...] Muito mais os que
recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida
por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Romanos 5.15, 17).

2. Isto é um avanço na lei. Paulo afirma isto em seu argumento


com os gálatas relativamente à superioridade do evangelho sobre a
lei. “Recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da
fé? Aquele, pois, que vos concede o Espírito[33] e que opera
milagres entre vós, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?”
(Gálatas 3.2, 5).

3. É uma promessa feita e um dom concedido assim que o


evangelho foi proclamado pelo Espírito Santo enviado dos céus
(Atos 2.18). “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e
recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros [judeus] é
a promessa [de Joel e de Cristo], para vossos filhos e para todos os
que ainda estão longe [gentios], isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar” (Atos 2.38-39).
Mas, se for assim, por que não temos hoje esses dons? Não sei
dizer. Nossa posição é boa (Atos 8.21). Somos ordenados a orar por
eles (1Coríntios 12.31; 14.12, 13). Os dons são necessários tanto
agora como quando foi concedido pela primeira vez. Eram dons,
não apenas de poder e testemunho para o mundo, mas de
edificação para a igreja. Eu não posso, portanto, ir além destas duas
afirmativas decepcionantes: (1) temos que tê-los; (2) não os temos.
Eles não são retidos por causa do deserto da igreja?
Essa alegação está errada pelo fato de que os dons foram
concedidos na graça. Isso é o que diz o versículo sobre o qual
estamos meditando. “A graça [...] segundo a proporção do dom de
Cristo” (Efésios 4.7). “Até mesmo rebeldes, para que o Senhor
habite no meio deles” (Salmo 68.18).
Paulo fala muito sobre o Espírito Santo nesta epístola dirigida
àqueles que haviam visto a sua face, e sobre quem ele impôs as
mãos depois da fé e do batismo. Mas o Espírito não é mencionado
na Epístola aos Colossenses, dirigidas àqueles que não haviam
visto a face dele.
Os dons eram o selo de Deus ou a marca da habitação. A lei
colocava seu selo na carne, pela circuncisão. O evangelho coloca
seu selo no espírito. O velho selo era adequado para a aliança na
carne; o novo selo, para a mais elevada dispensação, que põe de
lado a carne.

“Segundo a proporção do dom de Cristo” (Efésios 4.7). Sobre


Cristo, o Espírito desceu sem medida. Sobre seus membros, os
dons deveriam ser concedidos em medida, segundo o bom prazer
dele. Como membros do Cristo, eles foram marcados. Quando
pareceu que Simão, o mágico, não era realmente um membro de
Cristo, o suprimento foi retirado. “Não tens parte nem sorte neste
ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus” (Atos
8.21). Os dons sobrenaturais, ou o batismo do Espírito, eram o
complemento projetado do batismo nas águas.
A medida é mencionada duas vezes depois deste capítulo. “Até
que todos cheguemos [...] à medida da estatura da plenitude de
Cristo” (Efésios 4.13).

1. O Cristo místico tem uma certa estatura, um limite conhecido


por Deus e fixado por Ele. Depois disso, quando o último membro
for acrescentado e a estatura obtida, cessam os dons ligados à
promessa de Cristo através do evangelho.

2. Os poderes concedidos pelo Espírito Santo devem ser


exercidos durante esta dispensação em cada crente, “segundo a
justa cooperação de cada parte” (Efésios 4.16). O polegar não é
comissionado para fazer tanta força quanto o braço. Enquanto em
uma visão os dons eram do Espírito, em outra, eles eram do Cristo,
obtidos por Ele.

Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo


o cativeiro e concedeu dons aos homens[34] (Efésios 4.8).

Qual é a conexão deste versículo com o precedente? O apóstolo


está retomando as últimas palavras do versículo 7, “o dom de
Cristo”. Paulo provará pelas Escrituras que Ele é o Doador, e
também que esses dons foram projetados para os homens. Assim,
ele mostra que a terceira característica do mistério foi predita. Ela foi
projetada para “as nações”.
A citação vem do Salmo 68.18. É uma canção de vitória a ser
usada por Israel quando o Salvador voltar a eles e as promessas a
Israel forem cumpridas. Começa com as palavras de Moisés,
quando a arca, depois de um tempo incerto de repouso, seguia
adiante. Agora Cristo é a nossa arca, e ele está em descanso nas
alturas no presente momento. “Assenta-te à minha direita” (Salmos
110.1; Mateus 22.44).
Enquanto este for o caso, nossa dispensação da graça continua.
Mas quando, ao sinal dado por Deus, Cristo surge, seus inimigos e
os inimigos de Israel são derrotados pelo poder e em julgamento.
Assim também, Sansão em Gaza continuou dormindo até à meia-
noite. Os inimigos o cercaram e esperavam matá-lo pela manhã.
Mas, quando ele se levantou, eles não apareceram, e ele
arrebentou as portas da sua prisão. As obras de poder de Jeová em
favor de Israel serão reproduzidas com interesse quando Cristo
voltar a Israel, e as nações, suas opressoras, forem derrotadas. Ele
vem com miríades de anjos, como foi no Sinai (Salmos 68.17).
Então segue a passagem que Paulo cita. Depois, vem “Bendito seja
o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa
salvação. O nosso Deus é o Deus libertador; com Deus, o Senhor,
está o escaparmos da morte” (Salmos 68.19-20). Aqui é a
ressurreição!
Salmo 68.18 denota a obra anterior de Cristo em favor da igreja
antes que ele liberte Israel.
O Salmo é uma canção de triunfo nas vitórias de Cristo em favor
deles. Ele, somente Ele, pode cumprir as palavras citadas. Ele, o
Cristo, o Homem Ungido, o Filho de Davi e Filho de Deus, que subiu
ao céu.

“Levou cativo o cativeiro” (Efésios 4.8). Quando Deus redimiu


a Israel, Ele libertou os cativos e destruiu seus captores.
Essa frase do meio da citação não é, posso ver, retomada pelos
comentários posteriores feitos pelo apóstolo.[35] Mas é ilustrada para
nós pelos atos de poder anteriores de Deus em favor de Israel e de
Abraão. Vamos verificar.

1. Nos dias de Abraão, os reis desceram a Sodoma e levaram


muitos cativos e também Ló. Abraão ouviu sobre isso e saiu em
viagem de perseguição, retornando vitorioso com os cativos
resgatados. Melquisedeque, sacerdote e rei ungido de Deus,
encontra-se com Abraão, que levava presentes de pão e vinho, e
abençoa o sacerdote em um novo nome de Deus. O rei de Sodoma
iria dar todo o espólio a Abraão, mas este o recusa, como homem
de fé. Observe que, enquanto Ló é trazido de volta do cativeiro, ele
não é nenhuma vez mencionado diante de Melquisedeque. Ló
buscava riquezas do mundo; estas não eram do interesse de
Abraão (Gênesis 14).

2. Davi é o Cristo ungido de Jeová. Em seu título verdadeiro, rei


de Israel, embora Saul ainda estivesse reinando. Mas sua paciência
e fé fraquejam por um momento, e Davi foge para os filisteus. Saul e
os filisteus entram em guerra. Jeová poupa Davi de ferir o povo de
Deus, mas ele é despedido em desgraça.
Retornando no terceiro dia, ele é novamente humilhado. Ziclague,
sua cidade, é tomada; e todos os homens e mulheres são levados
cativos (1Samuel 30). Seus homens se desesperam e querem
apedrejá-lo, como autor dessa calamidade. Nunca Davi esteve tão
deprimido. Mas ele confia em Deus e em suas promessas. Depois
de matar os captores, Davi traz de volta os cativos, sem ferimentos,
e ninguém estava faltando. Ele não somente recupera sua
propriedade, como o despojo é seu. Então, ele designa uma parte
para cada um de seus seguidores. E envia um tanto para seus
amigos no Sul; estas são provas da vitória dele sobre os inimigos do
Senhor. Seu pé está no primeiro degrau para o trono.
Em Hebrom, ele reina por sete anos, antes de reinar sobre todo o
Israel em Jerusalém. “Hebrom” significa “irmandade”, e Cristo é de
Deus o primogênito entre muitos irmãos, antes que Ele apareça
como governante dos céus e da terra. O leitor encontrará muito mais
do que é típico do futuro em 2Samuel 5.

“Levou cativo o cativeiro” (Efésios 4.8). Quem eram os cativos


de Cristo? Devemos distinguir entre:

1. Os cativos que ele encontra: ele encontra seu povo cativo à


morte e a Satanás. Estes não entregarão seus prisioneiros por
nada, a não ser à força. O conflito com os captores acontece; como
consequência, os primeiros prisioneiros são libertados.

2. Os cativos que ele faz: “As portas do inferno”, o qual antes


mantinha seus prisioneiros, estão abertas; os guardas foram
levados prisioneiros.

Esses dois grupos adornam a procissão de vitória do Vencedor.


Eles mostram abertamente os inimigos que resistiram; o poder deles
foi quebrado, e os cativos que Ele resgatou cantam louvores a Ele.
Ambos são objeto de interesse dos habitantes do céu, diante de
quem Ele os revela. Para uma descrição do Vencedor e seu triunfo,
veja o Salmos 24.
Há, além disso, a distribuição do despojo aos que são seus
amigos na terra.
Existem almas resgatadas do inferno, ou Hades, por sua morte e
ressurreição. Quando o Salvador morreu, “tremeu a terra, fenderam-
se as rochas, abriram-se os sepulcros,[36] e muitos corpos de
santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois
da ressureição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a
muitos” (Mateus 27.51-53). Assim Zacarias anuncia relativamente à
entrada do Salvador em Jerusalém montado em um jumentinho
(Zacarias 9.9). Depois de prenunciar a vinda do Rei para sua cidade
e sua humildade, o profeta prediz seu domínio sobre a terra. Então,
vem a palavra do Pai para ele: “Quanto a ti, Sião, por causa do
sangue da tua aliança, tirei os teus cativos da cova em que não
havia água” (Zacarias 9.11).
Mas deve também haver um cativeiro (Davi matou seus inimigos;
os nossos não podem ser mortos) daqueles que os levaram cativos.
Os que estavam para ser resgatados estavam na prisão; e às
prisões pertencem os guardas, que devem morar lá para deter os
prisioneiros em custódia. (1) Pedro foi entregue a quatro escoltas de
quatro soldados cada uma para guardá-lo; e o surpreendente foi que
ele escapou das mãos deles sem que eles vissem sua saída, ou
sendo incapazes de impedi-lo, enquanto os guardas em frente à
porta do cárcere de Pedro estavam guardando a cela do condenado
(Atos 12). (2) Guardando a sepultura do nosso Senhor foram
colocados guardas, que foram incapazes de impedir a saída do
prisioneiro, ou o acesso de seus amigos, através do poder do anjo
de Deus. A esta visão, temos uma paralela em Colossenses. O
apóstolo está falando da remoção da lei pela cruz e morte de Cristo.
A seguir, ele acrescenta: “E, despojando os principados e as
potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na
cruz” (Colossenses 2.15).
Aqui temos, não o resgate dos cativos, mas a captura dos
captores, e a exibição deles como prova da vitória do Salvador.
Devemos supor que, quando o Salvador desceu com os nossos
pecados ao inferno, Ele caiu no poder dos guardas da prisão. Eles
foram capazes de detê-lo até ao terceiro dia. Mas, então, Ele veio
adiante. Devemos concluir, portanto, que eles resistiram à saída
dele. Quem era esse prisioneiro que sozinho, dentre milhões de
confinados, conseguisse se libertar? Pedro faz alusão a isso, depois
de ter falado que o Salvador foi entregue até a morte. “Ao qual,
porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte [o lugar];
porquanto não era possível fosse ele retido por ela” (Atos 2.24).
Davi havia previsto a saída do espírito de Cristo do Hades, bem
como a ressurreição do corpo dele da sepultura, sem ter passado
por corrupção. “Prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo,
que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo viu corrupção” (Atos
2.31).
O Pai e nosso Senhor exercem seu poder contra aqueles que
faziam impedimento; a estes, eles levaram cativos e resgataram
uma multidão dos que estavam em custódia. Está implícito mais
adiante que Cristo fez sua entrada triunfal com os cativos
resgatados e os captores dos cativos, no céu, em sua ascensão.
Sobre a entrada triunfal do Vencedor, temos um sinal na última
entrada do Salvador em Jerusalém. Duas multidões estavam
presentes: uma de Betânia, acompanhando Cristo a Jerusalém;
outra da cidade, vindo para se encontrar com Ele. A cidade toda
estava sensibilizada. “Quem é este?”. E o que foi que motivou os
corações dessa dupla multidão? Jesus Nazareno havia ressuscitado
um homem da sepultura, que já estava morto havia quatro dias.
Muitos vieram a Betânia, não apenas para ver Jesus, mas o homem
que havia saído da sepultura! “Dava, pois, testemunho disto a
multidão que estivera com ele, quando chamara a Lázaro do túmulo
e o levantara dentre os mortos. Por causa disso, também, a
multidão lhe saiu ao encontro, pois ouviu que ele fizera este sinal”
(João 12.17). Tão forte era o fluxo que seus muitos inimigos ficaram
desencorajados. “Vede que nada aproveitais! Eis aí vai o mundo
após ele” (João 12.19). Mas ninguém levantou a mão contra eles
nessa ocasião.
Sim, a maré imediatamente mudou. Jesus, rejeitado pelos
construtores, deve morrer. Ele mesmo é colocado em uma
sepultura. Uma grande pedra é posta como porta. Um selo de
autoridade é posto sobre a pedra. Soldados guardam todas as
saídas da sepultura e todas as entradas. Como será que o recluso
sairá? Mas, no horário marcado, o Salvador vem para fora. Os
guardas não veem sua saída; muito menos podem eles impedi-la.
Um mensageiro do alto quebra o selo e rola a pedra para que as
mulheres, discípulas dele, entrassem. Aqui na terra há pinturas de
coisas maiores não vistas pelo homem.
“E concedeu dons” (Efésios 4.8). Esta é a ordem dos fatos.
Enquanto o Salvador não ressuscitou dos mortos e subiu ao céu, os
dons do Cristo não puderam ser concedidos. A luta deve preceder a
vitória. O que aconteceu na ascensão manifesta que a luta
aconteceu previamente nos lugares mais baixos. Não foi uma
batalha do guerreiro no campo da terra.
Parece implícito que esses dons foram despojos do inimigo
derrotado. Assim foi com Abraão; assim foi com Davi.
A isto pertence àquela palavra em Hebreus: “Visto, pois, que os
filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também
ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse
aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos
que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a
vida” (Hebreus 2.14-15). Na última frase, a vitória de Cristo sobre a
morte é estendida aos seus efeitos sobre a alma dos que estão
vivos.
Compare essa passagem com Efésios 1.19-23. Lá temos o poder
de Deus demonstrado em favor do Salvador: (1) para ressuscitá-lo
dentre os mortos; (2) para fazê-lo sentar-se à sua direita, acima de
todos os poderes e de todo nome nesta era e na vindoura; (3) para
colocar todas as coisas debaixo de seus pés; e (4) para fazer dele o
Cabeça sobre todos, deu-o à igreja, seu corpo.
No nosso presente capítulo, o próprio Cristo nos é mostrado como
o Vencedor. Seu calcanhar foi ferido na morte; mas Ele vem adiante
levando cativo o cativeiro e concedendo dons de seu triunfo aos
homens. E neste capítulo vemos que esses dons são doações do
Espírito, a fim de preparar o corpo de Cristo. Esses dons eram os
selos de Deus como prova de que seu possuidor era um membro de
Cristo, preparando para a glória vindoura e já aperfeiçoando o corpo
espiritual, a igreja, para seu glorioso Cabeça.
Observe que os cativos resgatados da sepultura e levados em
corpo para o céu por Cristo como frutos de sua vitória não são o
corpo dele; não é dito que eles tenham, como nós temos, qualquer
relacionamento com a pessoa de Cristo. Tudo o que lemos sobre
eles é: “muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e,
saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na
cidade santa e apareceram a muitos” (Mateus 27.52-53). Nós, pelo
contrário, que pertencemos à igreja, e não existíamos naquela
época, fomos ressuscitados juntamente com Cristo e nos
assentamos com ele nos lugares celestiais. Nós estamos em Cristo.
Isso não é dito deles, nem para qualquer outro, além do corpo de
Cristo, que está se preparando; e os dons de Pentecostes foram
dados a fim de começar a formação da igreja, seu corpo.
Deus, sujeitando tudo aos pés de Cristo, tem (no capítulo 4) seu
eco nas palavras: “Levou cativo o cativeiro”. Sua ascensão triunfal
foi os primeiros frutos do triunfo maior que ainda está por vir, pois
ainda uma parte do céu e a maior parte da terra se posicionam
contra o Filho de Deus.

“E concedeu dons aos homens” (Efésios 4.8). Esses dons do


Cristo, de onde ele os comprou? Como diz o Salmo, de sua vitória.
Onde ele estava quando ganhou a vitória? Ele desceu ao lugar dos
mortos. Lá, Ele encontrou as portas guardadas do Hades
prevalecendo contra aqueles que ele veio resgatar. Ao terceiro dia,
Ele, que estava aprisionado, veio à frente e prevaleceu contra as
portas da prisão e os guardas que as guardavam.
Isso é em cumprimento à palavra “foi concedida a cada um de
nós” o dom do Cristo (Efésios 4.7). Assim foi cumprida a terceira
característica do mistério. “As nações” foram feitas participantes da
“promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Efésios 3.6).
Em geral, os profetas predisseram os dons do Espírito como se
aplicando apenas a Israel. “Agora, pois, ouve, ó Jacó, servo meu, ó
Israel, a quem escolhi. [...] Derramarei o meu Espírito sobre a tua
posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes” (Isaías
44.1,3). “Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o
Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que
pus na tua boca, não se apartarão dela, nem da de teus filhos, nem
da dos filhos de teus filhos, não se apartarão desde agora e para
todo o sempre, diz o Senhor” (Isaías 59.21; veja também Ezequiel
36.26; 29.27; Joel 2.28.)
Aqui há uma referência aos dons ou presentes do rei Davi.

1. Quando resgatou os cativos de Ziclague, Davi obteve grande


quantidade de despojo. Parte ele deu para seus companheiros de
armas; parte ele enviou para seus amigos no sul de Judá, como foi
mencionado.

2. Depois que ele foi estabelecido rei em Jerusalém e havia obtido


vitórias sobre as nações, suas inimigas, ele mandou trazer a arca
para si, para morar na tenda que ele havia armado para ela em
Jerusalém. Quando a arca entrou na tenda, depois de regozijos e
sacrifícios, o rei distribuiu presentes a todo o seu povo, tanto
mulheres quanto homens. A mesma palavra traduzida por
“concedeu” é usada ali e empregada no Salmo 68.18. (Veja também
2Samuel 6.19; 1Crônicas 16.3.) Assim, os ganhadores dos dons ou
presentes eram visivelmente os amigos do ungido do Senhor.
Os dons (ou a imersão no Espírito) eram o suplemento da
imersão na água, que foi observado acima relativamente ao
senhorio de Cristo. “Cristo” é o “Ungido;” “cristão” é o nome
divinamente dado[37] àqueles unidos e ungidos por ele (Atos 11.26).
E Pedro diz o seguinte: “A este Jesus Deus ressuscitou, do que
todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois, à destra de Deus,
tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto
que vedes e ouvis” (Atos 2.32-33). “Arrependei-vos, e cada um de
vós seja batizado [imerso] em nome de Jesus Cristo [...] e
recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2.38). Apenas depois da
ressurreição e da ascensão de Jesus foi que o dom do Espírito foi
concedido (João 7.37-39).

Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia


descido até às regiões inferiores da terra?[38] (Efésios 4.9).

O apóstolo está dando prova de que as palavras da profecia


podem apenas ser cumpridas em Cristo. Elas estão em conexão
muito próxima com “o dom de Cristo” no versículo 7 acima.
Ninguém, a não ser Cristo, desceu primeiro ao lugar mais baixo da
terra, e depois ascendeu acima de todos os céus, ao ponto mais
elevado. Somente Ele é o doador dos dons. Os sofrimentos e a
vitória foram dele somente.
Mas como é que a palavra “subiu” prova uma descida anterior?
1. Isto não é verdadeiro sobre o homem. A subida deles ao céu
não envolve uma descida anterior.

2. Mas é verdadeiro sobre Cristo, o Deus-Homem. Antes que


descesse à terra, Ele estava no mais alto céu. Ele habitava no céu
dos céus, lugar da habitação e manifestação de Deus. Aquele que
estava no lugar mais alto não poderia subir mais, salvo se houvesse
uma descida anterior. Aquela descida à terra, Ele realizou na
encarnação. Se Ele fosse salvar, deveria ir abaixo na terra, onde
aqueles que seriam resgatados estavam habitando. Mas a descida à
terra não foi suficiente para libertar. Pois aqueles que Ele vai redimir
são pecadores debaixo de sentença de morte.
Se Ele tem que suportar sobre si a penalidade deles, Ele tem que
morrer. Se Ele morrer, Ele deve ir para o inferno, ou Hades, para os
lugares mais baixos da terra. Disse Jacó: “Chorando, descerei a
meu filho até à sepultura [Hades]” (Gênesis 37.35). “Eles e todos os
que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo [Hades]; a terra os
cobriu, e pereceram no meio da congregação”. Isto é dito dos
rebeldes Corá, Datã, e Abirão e suas famílias (Números 16.33).
Essa descida às profundezas da terra é mencionada como resultado
do desprazer de Deus contra o pecado e contra uma lei quebrada
(Jó 21.13; Salmo 28.1; 63.9; Provérbios 5.5; Ezequiel 26).
Aquele que esmagaria a cabeça da serpente deve primeiro se
submeter ao ferimento do seu próprio calcanhar. O Salvador, então,
se Ele vai libertar o homem perdido, deve descer, como José, que
foi lançado “no lugar onde os presos do rei estavam encarcerados”
(Gênesis 39.20). O chefe dos homens valentes de Davi demonstrou
sua coragem quando “desceu numa cova e nela matou um leão no
tempo da neve” (1Crônicas 11.22).
O Salmo 68 nos dá uma visão da vitória e do triunfo nas alturas.
Mas aqui, e em Filipenses 2, temos um vislumbre da humilhação
prévia: “A si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte
e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e
lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e
toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus
Pai” (Filipenses 2.8-11).
O Salmo 88 descreve a alma de Cristo nas regiões inferiores:
“Pois minha alma está farta de males, e a minha vida já se abeira da
morte. Sou contado como os que baixam à cova. Puseste-me na
mais profunda cova, nos lugares tenebrosos, nos abismos.
Mostrarás tu prodígios aos mortos ou os finados se levantarão para
te louvar?” (Salmo 88.3-4, 6, 10).
O paralelo com Efésios 1.19-23 confirma fortemente essa visão.
Deus operou com força ao ressuscitar o Cristo dentre os mortos,
estabelecendo-o à sua destra em lugares celestiais. Aqui você tem o
descer e o subir. Depois Deus colocou tudo debaixo dos pés dele,
cuja plenitude enche todas as coisas. Há a vitória dele e o poder da
sua divindade.
O poder está demonstrado em duas direções: (1) contra os
inimigos e (2) em favor dos amigos. Os guardas anteriores da prisão
sendo removidos, a sepultura para nós é cheia de luz. O caminho
está aberto tanto para a descida do Salvador, quanto para sua
ascensão, quer estejamos nós com os vivos ou com os mortos
(1Tessalonicenses 4). Apenas o brado do Salvador e a convocação
da trombeta de Deus são necessários.
Jesus sobe em dois estágios: (1) Ele ascende até à superfície da
terra; (2) Ele dali sobe até o céu dos céus. Portanto, seus santos
que dormem serão acordados por seu brado e ressuscitarão das
sepulturas. Então, os vivos e os mortos juntos subirão para se
encontrarem com o Senhor nos ares.
No caso de Israel sob a liderança de Moisés, primeiro houve a
batalha para se livrar do Faraó; depois, o afogamento do exército no
mar Vermelho; e, então, Israel ficou livre para se reunir com Deus ao
som da trombeta diante do Sinai.
Os cativos são libertos de debaixo da terra e são mostrados
juntamente com os inimigos derrotados, nas alturas. Os dons que
eles ganharam em cima são enviados para baixo. Os cativos não
estavam no céu; esse é o lugar de segurança para o qual Cristo
trouxe seus resgatados. Ali, Ele mostrou os inimigos derrotados a
quem Ele fizera prisioneiros, e os cativos a quem Ele havia
resgatado das mãos dos inimigos.
Seu conflito anterior foi na hora da fraqueza e humilhação dele
debaixo dos pecados, nas regiões inferiores da terra. Sua ascensão
ao céu foi a consequência de sua vitória embaixo. Seus dons para o
seu corpo foram as consequências da sua vitoriosa ascensão. Elas
foram as provas na terra da ascensão nas alturas: joias do céu
colocadas sobre os membros da Cabeça vitoriosa.
Esta necessidade, o Salvador apontou. “Quando o valente, bem
armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os
seus bens. Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele, vence-
o, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos”
(Lucas 11.21-22).
A ressurreição do Salvador e seu despertamento dos mortos em
Jerusalém são provas da vitória sobre Satanás, como aquele que
detém o poder da morte. Como os prisioneiros poderão vir para fora,
prisioneiros que estão ali há eras, a menos que os guardas sejam
amarrados e as porta da prisão se abram?
Jonas, o profeta desobediente e fugitivo, é preso e enviado em
humilhação para a barriga do peixe e às profundezas da terra. “Do
ventre do abismo [Hades], gritei, e tu me ouviste a voz. Desci até
aos fundamentos dos montes, desci até à terra, cujos ferrolhos se
correram sobre mim” (Jonas 2.2, 6). E Jonas era do tipo que se
acha mais do que é, que deveria estar por três dias no ventre no
coração da terra. Jonas foi devolvido à superfície da terra após sua
oração. Mas ele não sobe ao céu, tampouco sobe vitorioso para o
céu dos céus, pois ele não era o Obediente. Seu coração não
estava cheio de graça para com os gentios, como estava do
Redentor. Pelo contrário, resistindo à bondade do Altíssimo, ele cai
no desprazer de Deus.
Tomemos, para mais profunda confirmação, Hebreus 1 e 2. Cristo
limpou nossos pecados e, tendo completado a grandiosa obra,
sentou-se à destra de Deus, recebendo do Pai o nome supremo do
Filho. A esse respeito, Ele deverá se manifestar na era que está às
portas. O Pai irá apresentá-lo pela segunda vez à terra habitável do
Primogênito, e todos os anjos o adorarão. Ele tomará o reino como
o Justo, por causa do seu amor pela justiça e ódio pela iniquidade; e
será ungido com alegria. Não os anjos, mas o Filho do Homem
governará no dia do milênio. O reino dele não é um reino invisível no
coração de seus amigos, mas será um reino que, pelo poder e em
julgamento, porá seus inimigos por estrado dos seus pés (Lucas
20.43). Isso ainda não aconteceu, mas tudo já está pronto para que
aconteça. Em Cristo, estava o favor de Deus estabelecido em glória
no monte da transfiguração, o qual, disse o Salvador, era uma figura
do seu reino. Foi uma confirmação da declaração dele, a qual Pedro
rejeitou, de que ele deveria morrer e ressuscitar. Nosso Senhor
disse que seus membros devem sofrer com Ele; e, grande como Ele
é nas alturas (Hebreus 2.11), Ele chama os filhos dos homens, seus
irmãos, uma vez que Ele se assemelhou a eles ao assumir carne e
sangue e ao morrer.
Em sua ressurreição, Ele declarou o nome do seu “Pai” aos seus
irmãos. Sua canção de vitória em meio à igreja ainda terá que ser
cantada. Mas, Ele finalmente apresentará diante de Deus nas
alturas os filhos escolhidos antes da fundação do mundo. A glória
dada a Ele no monte foi a fim de confortá-lo em seu caminho para a
morte pelos nossos pecados. Ele assumiu carne e sangue para que
pudesse morrer e destruir “aquele que tem o poder da morte, a
saber, o diabo” (Hebreus 2.14). Como consequência de sua vitória,
as almas dos santos vivos são libertas do medo da morte. Ele
destruiu o veneno da morte, que é o pecado; e da lei, que é a força
do pecado. Portanto, a alma do que acredita no testemunho de
Deus é mantida em paz (1Coríntios 15.55-57).
Isso está em acordo com aquela passagem tão importante em
Mateus 16. Como Cristo, o Filho do Homem, Ele tinha curado os
oprimidos pelo diabo. Como Filho de Deus, pela confissão de Pedro,
Ele estava lutando contra a morte, o último inimigo; e provando ser o
Vencedor. Ele deveria morrer, em ressurreição para provar ser a
Rocha eterna! Com base nele ressurreto dentre os mortos, Ele
deveria edificar a sua igreja. E as portas do Hades, que, como
espírito de quem passara pela morte, Ele teve que entrar, não
prevalecerão nem sobre Ele, nem sobre os dele. Ele deveria ser
morto e ressuscitar ao terceiro dia; depois disso, e como
consequência disso, deve vir o reino de glória, cujas chaves Ele
entregou a Pedro e à igreja para serem usadas agora na disciplina
dos ofensivos e dos insubmissos.
Os discípulos, o corpo do Cabeça ressurreto, devem sofrer como
Ele. Seria tolice e um erro tentar escapar disso, quando Deus
estivesse mandando. Porque nada ganho na terra pode provar ser
um resgate para a alma. E Cristo retribuirá com glória, no vindouro
reino milenar, todos os que sofrem com Ele.

Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima


de todos os céus, para encher todas as coisas (Efésios
4.10).

A mesma pessoa é Aquele que desceu, Aquele que subiu e


Aquele que dá os dons. “Quem a si mesmo se humilhar será
exaltado” (Mateus 23.12) foi cumprido então, e será mais
gloriosamente no dia do reino. Nosso Senhor desceu, como o
portador do pecado. E subiu, como o justificado do pecado
(Romanos 4).
Na libertação que Jeová concedeu a Israel sob a liderança de
Moisés, temos uma observação sobre sua decida. “Desci a fim de
livrá-lo” (Êxodo 3.8). E “Moisés subiu a Deus” (Êxodo 19.3). Mas,
então, Deus e o homem se distanciaram. Agora, Cristo é tanto Deus
como homem, e sua descida é aos lugares inferiores da depressão
do homem, como culpado. E sua subida é aos lugares do mais alto
mérito vencido por Cristo.
Sua descida à terra não foi uma vitória. Ele teve que morrer e
descer às partes mais baixas da terra para vencer. A condição da
vitória foi o calcanhar previamente ferido na morte. Então vieram as
primícias do ferimento à cabeça de Satanás, por ter seu poder da
morte sido superado por Cristo, e o resgate de alguns dos seus
prisioneiros.
Observo, novamente, que os cativos levados para o céu são
diferentes grupos dos homens que estavam vivos nas partes
inferiores da terra e receberam os dons de Cristo, como membros
do seu corpo. “Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao
céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo; ou: Quem descerá ao
abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos” (Romanos
10.6-7).
Não podemos descrever essa descida das alturas, ou reascensão
a elas, a não ser admitindo que ambas foram preditas sobre Aquele
que esteve primeiro nas alturas das alturas, isto é, habitando no céu
com Deus, que desceu como homem para o lugar dos mortos, os
prisioneiros do grande Rei. E essas coisas podem ser apenas
relacionadas ao Cristo, o Homem-Deus, o Segundo Adão, o Justo
vencedor da morte. Como o primeiro Adão, por desobediência,
rebaixou-se à prisão e seus guardas, assim o segundo Adão subiu
como o Homem justo, o Filho de Deus (Salmo 15). Adequado era
que Aquele que glorificou a Deus pela obediência sobre a morte e
redimiu os homens devesse subir em triunfo. Profunda como foi sua
descida, sua subida é ainda mais alta. Sua subida foi a prova da sua
justificação, da sua libertação da penalidade da morte, como o
Justo. Mas não foi somente para si próprio que Ele desceu ou subiu.
Enoque e Elias subiram sem ter primeiro descido, pois não
haviam morrido, nem sido feitos sacrifícios pelo pecado. Mas eles
subiram ao céu e não acima do céu. Muito menos com vistas a
encher todas as coisas (Efésios 1.23; 4.10). Se um deles tivesse
descido, teria sido detido lá embaixo como prisioneiro, como
pecador. Foi por isso que a subida deles aconteceu antes que
morressem.

“Para encher todas as coisas” (Efésios 4.10). José, como o


grande tipo do Salvador, é primeiro o governante justo da casa;
depois, é jogado na prisão onde estão os prisioneiros do rei. Para lá,
ele desce antes que suba para governar todo o Egito. Mas em todos
os lugares, ele é um mestre. “E ele fazia tudo quanto se devia fazer
ali” (Gênesis 39.22).
O encher todas as coisas pertence à divindade do Salvador.
Começou com a ascensão aos mais altos céus. Mas, em sua forma
completa, isto é ainda futuro. Ele “subiu acima de todos os céus,
para encher todas as coisas”. Mas agora o diabo é o príncipe da
potestade dos lugares inferiores e trabalha com prevalecente
energia na terra, em todos, exceto os eleitos. A fé, entretanto, vê no
que foi feito a garantia de que tudo seja completo na glória.
Isso leva a uma nova visão da questão. É algo peculiar ao Cristo,
pois Ele é Deus. Tivemos uma visão sobre sua humilhação por
causa de sua redenção dos perdidos por meio de sua morte como
homem. Mas Ele está se mudando para o reino acima de todo o
universo, designado pelo Pai. Consequentemente, Ele visitou, como
o Justo e o Triunfante, terra, Hades e céu: “Foi precisamente para
esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de
mortos como de vivos” (Romanos 14.9).
Isso é uma alegria para nós! A morte foi vencida! A sepultura não
segurará o justo eternamente! As portas do Hades não
prevaleceram contra Cristo; nem prevalecerão contra a igreja
(Mateus 16). Além disso, Cristo enche o Hades! Partir é “estar com
Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Filipenses 1.23).
“Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem
os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do
porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem
qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus [por
nós], que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8.38-39).
O Cabeça e os membros estão separados por ora, por vastas
distâncias e profundidade, mas Cristo os reunirá consigo na glória
para sempre.
“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23.43). A morte, que era
um terror até para o bom rei Ezequias, agora ia receber com alegria
um assassino e ladrão. Ao lado dele está Um que pode transformar
uma prisão em jardim, fazer do lugar das trevas e da morte um Éden
para as almas dos seus amigos.[39] Paulo foi levado para lá para nos
ensinar que aquela palavra não foi apenas para o ladrão, ou
somente para aquela hora; mas é para nós também.
“Conheço um homem que [...] foi arrebatado ao paraíso e ouviu
palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir”
(2Coríntios 12.2, 4). Portanto, “estamos em plena confiança,
preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2Coríntios 5.8).
“Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de
partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”
(Filipenses 1.23).
O lugar da custódia dos justos mortos pertence por direito ao
Cristo, o Vencedor. Ele tem “as chaves da morte e do inferno”
(Apocalipse 1.18). Ele visitou a terra e o inferno. Ele habita no céu.
Ele enche o lugar da morte com sua presença. É melhor estar lá do
que na terra. Que grande conforto há nessas visões para os
cristãos, na probabilidade de partir! O Cabeça prevaleceu no inferno
(Hades) para o conforto do seu corpo. Ele ocupa a região e faz dela
um Paraíso!
Mas, o que acontecerá com a sorte daqueles que recusam esse
único Redentor? “Morrereis nos vossos pecados” (João 8.24). E tais
habitarão na prisão da morte! As duas últimas ocorrências de morte
no último livro da Escritura impressionaram-me muito. A respeito
dos habitantes do novo mundo está escrito: “A morte já não existirá”
(Apocalipse 21.4). “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos
[...], a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e
enxofre, a saber, a segunda morte” (21.8).
Estas coisas apontam para Cristo, o Filho de Deus, o Filho do
Homem, como o único que poderia descer tão baixo e depois subir
tão alto, com a vitória sobre a morte e seus comandados,
conduzindo para o céu uma multidão de cativos e enviando
presentes para os homens, sua maneira de encher todas as coisas!
Aqui está a profundidade do amor, que pode descer às partes mais
inferiores da terra e subir aos mais altos céus por nós.

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para


profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres (Efésios 4.11).

Primeiro, tivemos uma nota dos dons sobrenaturais concedidos a


cada membro do Cristo. Agora temos uma segunda visão dos
trabalhadores construtivos e combinados da igreja. Os dons não
eram somente o selo de Deus, eram também uma concessão do
Cristo, projetada para combinar e edificar seu corpo.
Assim, depois que muitos haviam trazido seu presente para a
construção do tabernáculo para o Senhor, Jeová levantou Bezalel e
Aoliabe para ensinar os outros como preparar peças especiais da
obra. Esses dois, como chefes, deveriam combinar as partes em um
todo.
Paulo está mostrando agora a conexão entre o “corpo único” e a
“promessa” de Deus em Cristo pelo evangelho.
Não temos nem “apóstolos” nem “profetas” agora. Ambos eram
inspirados; ambos cumpriam ordens na igreja (1Coríntios 12.28;
2Pedro 1.21). Os “apóstolos” erguiam igrejas; os “profetas” previam
o futuro. Temos hoje, em um sentido mais simples, os outros três
trabalhadores.
Por “evangelistas” podemos entender aqueles como Filipe, que,
pela pregação do evangelho, ganha almas para Cristo. Os
“pastores” são homens que cuidam de modo especial das almas
daqueles que se juntam no aprisco. Os “mestres”, aqueles que
conduzem o conhecimento posterior adequado para os crentes.
Estes são os dons do Cristo que ascendeu ao céu. O “ele mesmo”
(Efésios 4.11) é enfático e de muita importância. Por causa da
negligência ou do uso exagerado desta verdade, o ministério tornou-
se uma das “profissões” do mundo. Cristo é o que concede o
ministério adequado para sua igreja e deve haver prestação de
contas para ele.
Aqueles que receberam o dom concedido por Cristo são
independentes de todo o controle? E projetados para mostrar sua
liberdade recusando todo tipo de regra? De modo algum! Se a
independência uns dos outros for a ordem do dia, a própria
aparência de um corpo está no fim. A mente de Deus, então, não
poderia ser a unidade da igreja e de cada assembleia de crentes.
Qual é o último estado da ordem para a igreja aprovado por Cristo?
Não é que todos em uma assembleia de Deus sejam iguais e
independentes de todo o controle, mas “ao anjo da igreja, escreve”
(Apocalipse 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14). “As sete estrelas são os anjos
das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas” (1.20).
A verdade está entre dois princípios aparentemente opostos.
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis
da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos
outros, pelo amor” (Gálatas 5.13). Serviço na igreja não é oposto à
liberdade. “Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser
tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem
quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo” (Mateus 20.26-27).
Mas por que não encontramos algo assim: “Ele concedeu uns
para anjos, outros para anciãos, e outros para diáconos”? Porque
esta é uma ordem de coisas bastante diferente, pertencente ao
sistema da igreja. É tratada separadamente, nas epístolas a Timóteo
e a Tito. A concessão dos dons de Cristo pelas mãos dos apóstolos
estava disponível por todas as igrejas. Um profeta em Jerusalém era
profeta em Antioquia. Seu dom tinha sua própria evidência, e ele
deveria usá-lo para o bem da igreja. Mas anciãos e diáconos eram
cargos locais, levantados por apóstolos, como governantes da
igreja, ou por delegados apostólicos. Um ancião em Éfeso não era
ancião em Esmirna.

Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o


desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do
pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo
(Efésios 4.12-13).

Todos esses arranjos têm um olhar para frente, para a completude


da igreja. Os membros de Cristo primeiro devem ser recolhidos do
mundo; depois, aperfeiçoados tanto individualmente quanto como
corpo.
Muitas são as formas de ministério: não há apenas o serviço da
Palavra de Deus; mas o ministério de servir a mesas e o de suprir
as necessidades dos santos pobres e enfermos.
Nesta passagem, todos os dons para o corpo são concedidos
pelo Cristo que subiu. Portanto, os originais Doze, na visão desta
epístola, não eram apóstolos da igreja, por virtude da escolha deles
pelo Salvador durante os dias da sua carne. Eles foram feitos, nessa
época, testemunhas para Israel. Mas se tornaram apóstolos da
igreja em Pentecostes, quando o Espírito Santo veio sobre eles. E,
acima deles, Paulo era ministro chefe da igreja universal. O corpo
do Cristo não começou a existir até que o Cabeça houvesse subido
e o Espírito houvesse descido para renuir um corpo para ele.
Todos os cristãos são feitos reis e sacerdotes para Deus
(Apocalipse 1.5-6). Mas eles não são agora dotados como eram os
daquele tempo, porque não temos apóstolos para impor as mãos. E
não houve mais um fluir direto do Espírito. Mas o Salvador ainda
supre as necessidades da sua igreja levantando pastores,
evangelistas e mestres. Porém, seja isto observado, nem todas que
se chamam “a igreja” são igrejas aos olhos do Senhor Jesus.
Numa parte anterior da epístola, igreja era considerada o prédio,
do qual Cristo era a pedra angular. Aqui, Cristo é o Cabeça, e Ele
está empregando dons para convocar, instruir e desenvolver seu
corpo místico. Deus colocou um limite a esta dispensação, tanto por
dentro quanto por fora. Assim que o Salvador descer do alto nos
ares, a posição atual da igreja se foi! O dia da graça passou! O dia
do julgamento dos vivos e dos mortos chegou! Assim que todos os
membros eleitos de Cristo forem chamados e estiverem completos
em conhecimento e vida, a igreja é retirada da terra. O corpo de
Cristo estará completo!
Toda unidade gira em torno das visões verdadeiras do Cristo, aqui
chamado, a única vez nesta epístola, “o Filho de Deus”. Uma vez,
em Colossenses, Ele é chamado “o Filho do seu amor”. Em
nenhuma epístola somos chamados “filhos”, mas “criancinhas”. No
Evangelho de João, nosso Senhor toma o título de “Filho de Deus”
em conexão com a ressurreição de Lázaro. Cristo é “ressurreição” e
“vida”, e ele não pertence ao corpo, que não crê corretamente a
respeito do Cabeça. “Este é meu Filho amado”, diz o Pai. Mas
Satanás questiona isto. “Se tu és o Filho de Deus”. A palavra de
Deus não é suficiente. Dá-me mais provas ou eu não acreditarei.
Assim também os filhos de Satanás. “Se és Filho de Deus, desce da
cruz” (Mateus 27.40).
Primeiro vem o conhecimento, que faz o discípulo; depois, o pleno
conhecimento, que edifica o crente.

“À perfeita varonilidade” (Efésios 4.13). A perfeição da


masculinidade é conhecimento e força! Mas este é o Homem
místico dos profundos conselhos de Deus. Cristo e seus membros
juntos fazem o segundo Adão, que nunca cairá, mas que habita em
sua perfeição diante dele para sempre.

“À medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.13).


Essa medida tem dois limites: (1) um desses é conhecido apenas
por Deus. Quantos são e quem são os membros eleitos de Cristo?
(2) Então vem a instrução e a disciplina deles. E Deus apenas sabe
quando o limite for obtido. Mas, assim que estiver completa, a
dispensação, ou a igreja, é passada.

Para que não mais sejamos como meninos, agitados de


um lado para outro e levados ao redor por todo vento de
doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que
induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de
quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo
auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada
parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si
mesmo em amor (Efésios 4.14-16).

Os dons do Espírito foram projetados tanto para benefícios


internos do corpo, a igreja, como para resistir à entrada da doutrina
maligna e da prática maligna de fora. Os regenerados, a princípio,
são bebês em Cristo e, como crianças, tendem a ser atraídos sem
nada suspeitar. Luz e força divinas são necessárias para crentes
firmes em sua jornada. Eles devem ser constantes e bem
fundamentados na fé, ou não haverá progresso. Além disso, somos
advertidos quanto às dificuldades e os perigos especiais dos últimos
tempos.
Visões verdadeiras da grandeza e glória de Cristo são
necessárias para nos manter firmes. Falsas doutrinas, ensinadas e
apressadas por Satanás através de seus instrumentos humanos,
estarão com tudo.
Homens à caça das coisas do mundo, inescrupulosos em
palavras e atos para obtê-las, vão criar outros cabeças que não
Cristo. A mentira e o assassinato são os desejos do diabo e
cooperam para criar sistemas de erros. Os decretos e a doação de
Constantino, as falsidades de Roma, consolidadas finalmente pelo
último concílio ecumênico, estabeleceram o papa como supremo e
colocaram de lado Cristo e sua Palavra.
Em oposição à “artimanha” e à “astúcia”, o “amor” e a “verdade”
devem edificar o corpo de Cristo. Os homens buscam desviar
aqueles que são de Cristo para outros cabeças e sistemas. É sobre
este perigo que as diferenças entre esta epístola e a de
Colossenses[40] são fundamentadas. Cristo é o Cabeça único da
provisão, para quem os olhos do seu povo devem estar voltados.
Dele vem toda a graça e o poder necessários. O corpo na terra deve
olhar para o Cabeça nas alturas. O erro arrasta para baixo os
homens e a terra. A verdade eleva ao Filho de Deus e ao céu.
Os dons do Espírito, dons obtidos por Cristo, foram concedidos
para unir os muitos membros em um todo. Cristo distribui, segundo
Lhe apraz, a luz e o poder necessários.
Seus ministros e servos são “juntas de provisão”. Cada junta tem
seu ofício e sua esfera, e é de muita utilidade se mantiver sua
posição e não se colocar onde não deve.
Agindo corretamente, ela contribui para o crescimento do todo. O
princípio do crescimento na igreja é o amor (Colossenses 2.2).
Agora é tempo de crescimento em luz, poder e graça. Assim que o
corpo de Cristo chega à sua estatura plena, esta dispensação
termina. Este é o ponto visto somente por Deus.

PORÇÃO EXORTATÓRIA DA EPÍSTOLA


NÃO VIVAM COMO AS NAÇÕES
(Efésios 4.17-19)
Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais
andeis como também andam os gentios, na vaidade dos
seus próprios pensamentos, obscurecidos de
entendimento, alheios à vida de Deus por causa da
ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os
quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à
dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de
impureza (Efésios 4.17-19).

As nações, embora tendo sido visitadas pelo evangelho da graça,


ainda são consideradas impuras (Efésios 5.3). Consequentemente,
o batismo ou “o banho” é proporcionado como o primeiro passo para
aqueles que estão deixando o mundo de lado.
Não devemos ler “como também andam os outros gentios
[nações]” (Efésios 4.17). Essa leitura é fundamentada na ignorância
ou na incredulidade quanto ao testemunho das Escrituras, de que
quem está em Cristo saiu do mundo e, portanto, não pertence às
nações. “Não vos torneis pedra de tropeço nem para judeus, nem
para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus (1Coríntios
10.32). Ali pode-se ver que a igreja é algo distinto tanto dos judeus
quanto dos gentios. “Vós, gentios na carne” (Efésios 2.11).
Não andemos como as nações! Paulo está seguindo as palavras
do nosso Senhor no Sermão do Monte. “Portanto, não vos
inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com
que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas
coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas”
(Mateus 6.31-32).
Somente os eleitos de Deus aceitam o Evangelho. Todos os
outros preferem a morte em pecado à vida de Deus. Finalmente,
diante do trono acima, aparece uma multidão de todas as nações
(Apocalipse 7.9). Os mundanos demonstram, por meio de seu
entendimento, julgamento, buscas e afetos, ser bastante ativos na
obra do pecado. Eles trabalham com esforços em vão por algo que,
se obtido, não trará satisfação. Eles dão as costas a Deus em
ignorância e inimizade. Suas atividades são cheias de pecado e, por
causa dos pecados, como veremos no capítulo a seguir, a ira de
Deus está vindo. Portanto, é em vão que uma pessoa faça
inferência, a partir da expressão “mortos nos vossos delitos e
pecados” (Efésios 2.1), de que eles não são responsáveis. Eles
estão terrivelmente vivos para pecar, filhos da desobediência e filhos
da ira.

CRISTO, O NOVO HOMEM


(Efésios 4.20-24)
Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que,
de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é
a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato
passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe
segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no
espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo
homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade (Efésios 4.20-24).

Aqueles que vêm das nações pela fé pertencem a Cristo e devem


aprender os princípios e as práticas do novo homem com Ele. Deus
se agrada sempre do Senhor Jesus, e seu corpo deve ser um com
Ele.
Mas nem todos os crentes ouviram ou aceitaram o todo da mente
de Cristo no tocante a eles. Por isso, o apóstolo afirma aquelas
verdades que se relacionam particularmente com o novo caminhar
designado para o novo corpo. A verdade da maior importância é que
os crentes, imediatamente após crerem, têm uma nova posição em
se tratando do mundo. Eles deixam o velho homem, vão para junto
de Jesus Cristo para estar com ele para sempre. Isto é tipificado
pela imersão, que Deus estabeleceu como o próximo passo da fé.
Vejamos algumas passagens bíblicas que afirmam isto.

1. “Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele


morremos? Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos
batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos,
pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim
também andemos nós em novidade de vida” (Romanos 6.2-4).

2. “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo


Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo
vos revestistes” (Gálatas 3.26-27).

3. “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as


suas paixões e concupiscências” (Gálatas 5.24).

4. “e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida


juntamente com Cristo — pela graça sois salvos, e, juntamente com
ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em
Cristo Jesus” (Efésios 2.5-6).

5. “Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do
velho homem com os seus feitos” (Colossenses 3.9).

A imersão com Cristo testifica que o crente deixa sua antiga


posição de condenação e morte em Adão para tomar nova posição
de filiação e graça em Jesus Cristo.

“Vos despojeis do velho homem” (Efésios 4.22). Muitos, em


incredulidade, estão tentando melhorar o velho homem. Deus
desistiu dele como incurável, desde a morte do seu Filho, e agora
ordena que o velho homem seja enterrado. Ele está ficando cada
vez pior, corrompendo-se quanto mais as concupiscências da carne
agem. Enquanto a carne vai ficando cada vez mais antagonista de
Deus, o novo homem deve continuamente se renovar e se
fortalecer. Nós devemos nos revestir do novo homem.
Ele está avançando segundo um novo padrão. As próximas
palavras referem-se à criação de Adão. “Também disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança” (Gênesis 1.26).
Mas ele, no princípio, estava sem consciência, ou sem o
conhecimento do certo e do errado; e compreendeu e ganhou esse
conhecimento através da desobediência contra Deus; portanto, os
homens caídos são “filhos da desobediência”, pecando contra a
consciência e debaixo da ira de Deus.
Mas os renovados vão sendo criados segundo a nova imagem de
Deus, “em justiça e retidão procedentes da verdade” (Efésios 4.24).
Não é a intenção do Altíssimo remover a consciência que Adão
roubou de si mesmo e de sua posteridade. Não há retorno à
ignorância da inocência. Mas os salvos devem ter a consciência
iluminada e ser levados a obedecê-la.
Os homens caídos agora estão vivendo debaixo de uma
consciência obscurecida e pervertida, conhecendo o bom e certo,
seguindo o mau e errado. Eles vivem sob a injustiça e a falta de
santidade da mentira de Satanás. São pecadores contra Deus;
ofensores contra os homens. Satanás fez com que Eva cresse: (1)
que Deus não era bom (nem gracioso); (2) e também que Ele não
era verdadeiro e que não cumpriria sua ameaça. Sob essas duas
falsidades, os homens habitam em inimizade com Deus e uns com
os outros. Quanto à verdade, a ela pertencem (1) a santidade para
com Deus e (2) a justiça para com os homens. Assim também à
falsidade pertencem (1) a falta de santidade e (2) a falta de retidão.

A CONDUTA ADEQUADA

AO EVANGELHO
(Efésios 4.25-32)
[1] Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade
com o seu próximo, porque somos membros uns dos
outros. [2] Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre
a vossa ira, nem deis lugar ao diabo. [3] Aquele que furtava
não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias
mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao
necessitado. [4] Não saia da vossa boca nenhuma palavra
torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação,
conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que
ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda
amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem
assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros
benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus, em Cristo, vos perdoou (Efésios 4.25-
32).

Nesta passagem são encontradas várias ofensas proibidas pelos


Dez Mandamentos de Moisés. Mas os novos mandamentos não
estão organizados na ordem dada no Sinai. Agora eles não estão
sendo ministrados para os que estão debaixo da lei, mas para os
que estão debaixo da graça. Não há uma palavra a respeito da
“observação do sabbath”. O sabbath (ou sábado) pertence à
sinagoga. (1) “Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos
antigos, os que o pregam [nós pregamos a Cristo] nas sinagogas,
onde é lido todos os sábados” (Atos 15.21). (2) “Chegaram a
Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. Paulo, segundo o
seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles
acerca das Escrituras” (17.1-2). “E todos os sábados discorria na
sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos” (18.4). O primeiro
mandamento da segunda tábua da lei aqui ocorre por último.
Uma seção desta epístola (Efésios 2.11-22) é ocupada em
mostrar que Cristo colocou a lei de lado a fim de que o evangelho
pudesse entrar.[41] Os colossenses afirmam a mesma coisa e falam
do sábado como uma das instituições da lei, bem como as festas e
novas luas de Moisés. “Tendo cancelado o escrito de dívida, que era
contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz.
Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de
festa, ou lua nova, ou sábado” (Colossenses 2.14, 16).
Em que novo princípio, estão colocadas essas proibições morais
de Efésios, que também são encontradas nos Dez Mandamentos?
Se não me engano, elas são vistas como os contrastes das cenas
no Éden, onde aparecem a serpente e o velho homem.

1. A mentira é mencionada primeiro; através dela, o diabo


prevaleceu contra nossos primeiros pais. É vista em Caim, o
primogênito de Satanás. Ele ousa mentir para o próprio Deus.

2. A raiva pode acontecer sem pecado, como no caso do nosso


Senhor e os impenitentes (Marcos 3.5). Mas a raiva que se permite
ficar guardada no coração vira ódio. Isto é visto em Caim. Quando
seu esquema de adoração na incredulidade é recusado por Deus,
ele fica muito irado. “Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-
lhe o semblante” (Gênesis 4.5). Ele está bravo com Deus, e com
seu irmão, e odeia o irmão. Ele abre a porta para Satanás entrar, e
mata Abel, seu irmão.

3. A seguir, somos advertidos contra o roubo e furto. A lei proíbe a


maldade. Mas o evangelho da graça levaria o crente a fazer o bem.
A lei pune até à morte. A graça leva a vida nova; e a dar aos outros
em vez de roubá-los.

4. A proibição é estabelecida contra o falar mal dos outros. Esse


pecado foi encontrado em Satanás e em nossos primeiros pais. No
Novo Testamento, Judas, o ladrão, é visto e isto provoca
sentimentos maus no meio dos discípulos por falarem mal dele
(João 12.4-8).

“E não entristeçais o Espírito de Deus” (Efésios 4.30). O


Espírito Santo não é uma “influência”; é uma Pessoa. A eletricidade
não pode ser entristecida. Só uma pessoa pode ser entristecida.
Aos santos daquele tempo eram selados pelo Espírito Santo. Era
uma testemunha exterior, percebida pelo mundo e pela igreja. Não
era um sentimento interior. Ele olha para frente, para o dia em que
Cristo resgatará o seu corpo da terra para si mesmo por meio do
seu poder. O lenhador marca as árvores da floresta que estão para
ser cortadas. O machado já foi posto à raiz. Esta marca de Cristo,
pelo contrário, é para bênção. Aqui estava alguém que deveria ser
levado para a vida e para a presença do Senhor Jesus nas alturas.
O Espírito Santo de Deus é um autor positivo da santidade. As
nações, aquele corpo que já mencionamos antes, estão apenas na
carne, e a carne é ímpia. Tampouco pode a lei, que testa a carne,
produzir santidade. Mas com a vinda do Espírito, a nova vida e
poder entram. Os julgamentos de Deus estão para cair sobre as
nações. O selo do Espírito Santo colocado nos crentes foi a
testemunha de uma escapada provida por eles. Isto, observe, deve
ser notado em conexão com os discípulos terem aprendido a orar
para sua escapada (Lucas 21.36).
Pelo Espírito de Deus, os santos deveriam livrar-se de outras
formas de maldade além daquelas já mencionadas, formas de mal
que surgem principalmente da ira e da inveja, perversidade
espiritual interior que finalmente é posta para fora pela língua. É
algo ofensivo à celestial pomba da paz. Estes males terminam na
malignidade; um ódio sedimentado pronto para dizer e fazer todos
os tipos de maldade, a iniquidade fixada no próprio Satanás. Isto
tinha sido citado antes (Efésios 4.26), com uma olhada significativa
no Maligno. O Espírito Santo é Aquele que primeiro detém o
sentimento do velho homem, o qual o Espírito encontra bem
desenvolvido nos regenerados, mas que Ele, por nossa oração e
com nosso esforço, transformará em temperamento oposto.
Há alguém que esteja possesso de um espírito de ódio
sedimentado? Não há perdão para essa pessoa enquanto ela não
perdoar seu irmão. O perdão imediato e completo é o padrão para
nós. A “benignidade” é o oposto da “amargura”; a “compassividade”
é o oposto da “malícia” em todas as suas formas.
Nós não somos perdoados por causa do nosso merecimento, mas
em Cristo. Muitos não têm confiança no perdão, porque eles nunca
saíram para fora do mundo através do batismo, como Cristo ordena.
Uma série de sentimentos e atos maus é denunciada aqui.
Verdade e amor são as duas principais características dos salvos, e
do novo homem. Mas, do velho homem, são ódio e falsidade.
Os santos, então, devem se tornar graciosos e amorosos. Devem
se perdoar uns aos outros. Isto não era enfatizado sob a lei. Aquele
que pagava suas dívidas a Deus poderia requerer pagamento do
seu vizinho. Mas a graça agora alterou seus fundamentos. Agora
todos os salvos confessam sua pecaminosidade diante de Deus,
precisando ou desejando seu perdão. Por isso, eles devem perdoar
os outros. O Salvador insiste fortemente nesse ponto. Em sua grave
parábola do Credor Incompassivo, ele nos diz qual será a terrível
consequência da falta de perdão (Mateus 18.34-35; 6.14-15).

“Perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em


Cristo, vos perdoou” (Efésios 4.32). Muitos dizem: “Nós não
cremos que alguém possa dizer agora se está perdoado ou não”.
Ele não pode, se não crer na Palavra de Deus. O que ela diz? Que
ninguém pode ser, em todas as áreas, cristão sem crer no perdão
que já lhe foi dado por Deus. “Sede uns para com os outros
benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como
também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Efésios 4.32). Este ponto
da conduta cristã, então, não pode ser realizado sem a confiança do
perdão prévio de Deus. Não é que Deus vai nos perdoar; ele já nos
perdoou. Mateus 5.43-48 nos dá a Palavra do Salvador sobre isto.
CAPÍTULO CINCO
A CONDUTA

APROPRIADA
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e
andai em amor, como também Cristo nos amou e se
entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a
Deus, em aroma suave. Mas a impudicícia e toda sorte de
impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós,
como convém a santos; nem conversação torpe, nem
palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes;
antes, pelo contrário, ações de graças. Sabei, pois, isto:
nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é
idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus.
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas
coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.
Portanto, não sejais participantes com eles (Efésios 5.1-7).

“Imitadores de Deus” (Efésios 5.1). Os cristãos, por natureza


egoísta, como o restante dos homens, são chamados a mudar de
conduta e a tornar-se como Deus, seu Pai. É um chamado ligado de
perto com o versículo anterior (Efésios 4.32). O perdoar os outros
como se é perdoado. Sim, e recebemos o perdão e somos amados
de Deus (veja Mateus 5.48).
Como devemos imitar Deus? Naqueles dois princípios especiais,
que a nós foram dados quando da descrição daquilo que Deus é: (1)
Deus é amor (1João 4.8); e (2) Deus é luz (1João 1.5).
As nações são sombrias, odiosas e odiando umas às outras. Não
seja como elas! “Eles têm odiado, tanto a mim como a meu Pai”
(João 15.24b). O poder de Satanás é das trevas e o mundo jaz
debaixo dele.

“Como filhos [τεκνα] amados” (Efésios 5.1). O nome de “Filho”


é dado uma vez a Cristo, e não é aplicado aos crentes nesta
epístola.
Filhos de Deus, em quem, como regenerados, o Espírito Santo
habita, se assemelha ao Pai no céu. Você foi perdoado, você é
amado de Deus! Ame os outros e perdoe. O Espírito de Deus é
Todo-Poderoso para transformar você de mau para bom!
Como a sua posição é mais alta do que o povo anterior de Deus!
Apenas uma vez, eu creio, enquanto sob a liderança de Moisés, os
israelitas foram chamados “Filhos sois do Senhor, vosso Deus”
(Deuteronômio 14.1). Em conexão com quem? Eles deveriam
expulsar imediatamente os idólatras encontrados na terra, para que
Deus se volte da sua ira e tenha compaixão de Israel, e os
multiplique, se forem obedientes. Como filhos do Deus vivo, Jeová,
eles não deveriam se associar com os mortos, aqueles que foram
cortados por Deus como transgressores. Israel era a nação
escolhida por Deus, portanto, não deveriam comer nada que fosse
impuro. Aqui, vemos que os israelitas não eram nem perdoados,
nem amados de Deus; eles ficam em pé ou caem de acordo com
seu próprio mérito.
Qual é a ligação que há entre coisas aparentemente tão
separadas como fornicação e cobiça?
Ambas estão em forte oposição ao mandamento de imitar a Deus.

1. Existe um amor não santo que está em contraste com a


santidade do amor de Deus, e que não é apropriado para a sua
presença.

2. Existe um egoísmo que está em contraste com o caráter


generoso de Deus. Deus é bom, é liberal. Esse é um dos seus
atributos. Mas Ele está mostrando expressamente esse atributo na
atual dispensação. Ele entregou o seu Filho por amor a nós todos.
Seu Filho entregou-se a si mesmo. A cobiça é o oposto do amor
entre irmãos. Ela quer tudo para si em não dá nada a ninguém. E
João chama isso de pretenso amor, no qual não há sacrifício do
bem deste mundo para os santos (1João 3.17; 4.11, 20). Isso tem
uma força especial, uma vez que estamos instruídos que as
riquezas são um obstáculo para se entrar no reino milenar, e que
devemos lutar primeiro e mais por um lugar naquele dia de glória
(Mateus 6.33; 19).
Não é por acaso que há aqui um novo chamado para o amor. Mas
também há o dom de uma nova natureza, a pressão de novas
motivações e o poder do Espírito Santo para produzir amor.
Como os crentes têm que imitar a Deus? O Salvador resumiu
para nós os grandes princípios, no Sermão do Monte.

1. Deus está agora destruindo seus inimigos? Ou Ele está


suplicando para eles se reconciliarem? Se o cristão quisesse ser
semelhante a Deus, ele não deveria ser um soldado. O soldado
puxa a espada e extermina os inimigos do seu país. Mas Cristo
estabelece princípios bem contrários à guerra: o fazer o bem para
os inimigos: alimentá-los, se estiverem com fome; dar-lhes de beber,
se estiverem com sede. A guerra é o espírito do mundo, permitido
sob a liderança de Moisés, porque a herança de Israel era de guerra
e para serem defendidas pelos poderes e armas da carne. Mas a
herança e o país do cristão não são aqui embaixo. E os homens do
mundo não podem tomá-los dele. Deus, em sua misericórdia, os
está preservando para Ele nas alturas. O cristão não deve puxar a
espada, mas ser homem de paz, filho do Deus da paz.

2. Deus está tratando conosco por meio de juramentos e de


obrigação e de promessas, com as penalidades da lei? Não, mas
em graça e misericórdia. Então, o cristão não deveria ser um
homem da lei, com juramentos e penalidades para suas armas?
“Não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como
eu também me compadeci de ti?” (Mateus 18.33).

O amor deve ser o princípio orientador da vida cristã, como foi de


Cristo. Ele é o nosso padrão de perfeição. Nós também somos
“filhos amados”, pelo simples fato de sermos aceitos por Ele, o
Amado.
Ele é o padrão de amor, entregando-se à morte por amor a nós,
para nos livrar da justa penalidade da lei. Isso nos é mostrado no
Evangelho de João. As forças dos judeus e dos gentios vieram por
cima dele no jardim do Getsêmani. Mas, antecipadamente, Ele se
colocou nas mãos deles, para que se eles o prendessem, pudessem
deixar ir livres os seus discípulos. “Se é a mim, pois, que buscais,
deixai ir estes” (João 18.8; Romanos 4.25; Gálatas 2.20; Efésios
5.25; Romanos 8.32).

“Andai em amor” (Efésios 5.2). Este é o novo princípio de nossa


vida, como era de Cristo. Como perdoados e amados de Deus,
devemos perdoar e amar. Temos o ato especial de Cristo em
manifestação desse amor, ele dar a si mesmo e enfrentar a morte,
depois de ter ganhado a vida eterna nos termos da lei.

“E se entregou a si mesmo” (Efésios 5.2). O fato de Ele


entregar a sua vida foi a superioridade dele aos sacrifícios de touros
e cabritos. Estes são levados e mortos, ignorantes da intenção pela
qual eles foram levados ali. Aqui está uma das falhas, a
consequência sendo que eles não podiam tirar o pecado. Tampouco
podia o homem, como filho de Adão, entregar a sua vida. Ele era um
dos culpados e não podia fazer expiação por outras pessoas, nem
por si mesmo. Também nenhum anjo poderia, mesmo sendo grande
o seu amor. Ele é servo de Deus e não é livre para dispor de si
mesmo.
A si mesmo Ele se entregou. Este é o sacrifício, dado em toda sua
perfeição por Ele, aceito por Deus, e por nós. Existe um rito da
oferta: Cristo nos encontrou debaixo de pecado, morte e maldição.
Ele deu sua vida para exterminar estes. E Deus aceitou o sacrifício
para nossa salvação.

“Como oferta” (Efésios 5.2). Esse é o termo geral. A oferta era


de dois tipos: ofertas de agradecimento e ofertas de paz, em que
não havia derramamento de sangue. Isto responde à vida de
perfeição, que foi em primeiro lugar na ordem do tempo, para que a
obediência dele e a nossa justiça sejam nominadas primeiro. A
justiça da vida deve vir antes ou Cristo não poderia expiar. As
ofertas de expiação deveriam provar ser perfeitas; ou não seriam
aceitas.

“Sacrifício a Deus” (Efésios 5.2). Isto se refere aos seres


viventes apresentados como ofertas pelo pecado, ou ofertas
queimadas no altar.
Era oferecido a Deus, justamente indignado contra os pecados
dos homens. Pelo derramamento de sangue, o perdão foi dado. Isso
é reconhecido um pouco antes: “Também Deus, em Cristo, vos
perdoou” (Efésios 4.32).
Em nome dele, nós somos justificados (1Coríntios 6.11). A lei,
quebrada pelo homem, deve receber honra de Cristo, ou não há
perdão. O Salvador honrou a lei através da sua vida de obediência,
por ter Ele recebido a penalidade sobre si, e por ter expiado o
pecado do homem.

“Em aroma suave” (Efésios 5.2). Não é apenas que a ira é


posta de lado, mas que o favor é concedido. A esse respeito, os
tipos do Antigo Testamento falam.

1. Veja o dilúvio e sua destruição dos maus na justa indignação de


Deus contra o pecado deles. Mas Noé e os seus, que eram poucos,
vieram para um novo mundo. Noé oferece um sacrifício. Deus se
arrepende da sua ira. Ele até mesmo sente um sabor de descanso.
Em quê? O homem estará melhor no novo mundo? Noé e sua
família oferecem a Deus seus votos e promessas de serem
obedientes e nunca pecarem? Não! Deus testifica, quando Ele
aceita o sacrifício, que o homem é tão mau quanto sempre (Gênesis
8.21). Mas o sacrifício que ele oferece fala de um homem melhor
que está por vir; e aí Deus pode descansar.

2. O Altíssimo toma Israel, que estava sob a liderança de Moisés,


como seu povo e irá habitar no acampamento deles. Eles prometem
obediência, mas, nessa base, o bezerro de ouro e a adoração a ele
acabam com toda a esperança. Como, então, pode o Santo habitar
em um acampamento de pecadores contra sua lei e sua santidade?
Apenas através da expiação dos pecados. Ele escolhe os
sacerdotes, seus servos, através de quem, e com os sacrifícios, Ele
pode dar um perdão parcial, até que o verdadeiro sacerdote e
sacrifício venham. (1) Os pecados por ignorância podem ser
perdoados pela oferta pelo pecado e o sangue, sua alma,
apresentado no altar. “Sem derramamento de sangue não há
remissão [de pecados]” (Hebreus 9.22). Mas, pelo sacrifício
designado, “o sacerdote fará expiação pela pessoa e lhe será
perdoado” (Levítico 4.31).
Mas havia outro sacrifício: o holocausto. O animal inteiro era
colocado sobre o fogo do altar. Ele proporcionaria ao Senhor um
sabor de descanso. Era para nos ensinar que Cristo é a nossa
oferta pelos defeitos do nosso serviço, mesmo nas melhores
pessoas de Deus. “Porque todos tropeçamos em muitas coisas”
(Tiago 3.2). “De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou
escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne [eu sou um ser
dividido: parte boa, parte má], da lei do pecado” (Romanos 7.25).

3. Ou veja os sacrifícios do Dia da Expiação, revelando a Israel,


todo ano, a inabilidade de sua nação permanecer diante de Deus
como perfeitos observadores da aliança do Sinai. Somente pelo
sacerdote, pelo sangue e pelo incenso, oferecidos diante de Jeová,
é que eles podiam permanecer. Os sacerdotes e o povo,
igualmente, precisavam de perdão. Os sacrifícios de bois e bodes
podiam apenas afastar o julgamento e a ira por um ano. E o sumo
sacerdote ofertante deveria tomar cuidado para não romper o
cerimonial, ou sua vida, ao comparecer diante de Deus, estaria
perdida. Se tudo fosse realizado corretamente, a nação seria
sustentada por mais um ano. Mas agora o verdadeiro Sacerdote
veio, seu perfeito sacrifício trouxe perfeita paz. É privilégio do cristão
estar sempre em descanso diante de Deus.
Será que meu leitor tem isto? Será que ele se achegou ao
exaltado Sumo Sacerdote agora à destra de Deus? Será que ele,
por uma oferta, aperfeiçoou os adoradores para uma continuidade, e
os capacitou para se aproximarem com intrepidez do trono de
graça? Você estabeleceu a paz? Você tem certeza de ser objeto do
favor de Deus, de fato aceito diante de Deus como foi Cristo, seu
Sumo Sacerdote, em descanso e assentado diante da Majestade
nas alturas?
A maioria dos cristãos não tem essa paz. Eles sempre veem tanto
pecado neles mesmos que, às vezes, um ato de transgressão
destrói sua paz. Eles acham que ocupam apenas o mesmo lugar
diante de Deus que ocupavam antes, quando haviam crido.
Segundo pensam, eles precisam, então, voltar e ser aspergidos com
o sangue do sacrifício feito por Cristo.
De modo algum! O quê? O sangue de Cristo não é de mais
utilidade do que o sangue de bois? Até o sangue de bois ou bodes
era somente uma vez aspergido sobre Israel. E o argumento de
Paulo em Hebreus 9 e 10 é que o perfeito perdão que a lei não
podia dar, a graça, sob o Sacerdote que subiu ao céu, trouxe!
Mas eu pequei ontem. Que devo fazer?
Depois que confessar o seu pecado, o perdão é seu (1João 1.9).
Você não perdeu seu lugar de aceitação. Os israelitas contaminados
poderiam ser purificados todas as semanas. Mas, depois do Sinai, a
purificação não era mais pelo sangue, mas pela água da purificação.
Assim nos diz o Senhor. Em sua imersão e fé, todos os pecados são
perdoados ao crente. Mas e se ele pecar? Se o pó se apegar ao seu
pé, ele deve lavá-lo e ficará limpo (João 8).
Jesus, nosso Senhor, neste ato da sua graça, é recomendado a
nós por cumprir, em nosso favor, tudo o que era, em figura, exigido
de nós pela lei de Moisés.
Cristo é maior do que Jonas. O profeta desobediente não amava
os gentios, ou a mensagem de misericórdia a eles; e ficou irado com
a graça de Deus demonstrada pelos culpados. Mas o Cristo deu-se
à morte por nós. E sua recompensa está chegando, o reino da sua
glória, e os cristãos são convidados.
Mas há duas classes de pecado, o contraste com o caráter de
Deus, que incluirá até mesmo crentes do reino milenar: (1) pecados
de amor profano ou impureza; e (2) a busca pela riqueza. Quão
pouco o cristão percebe que a tentativa de fazer fortuna aqui é a
maneira de perder a bênção no reino milenar! Os ricos nesta era
serão excluídos naquela era. Eles estão tendo sua consolação aqui
e agora (Lucas 1.53; 6.12; Mateus 19.20-24).
Os ofensores em ambos os tipos perderão o reino de glória
vindouro. Assim como a vida eterna se baseia em nossa
justificação; assim também a glória milenar, na nossa santificação.
Há também temperamentos e linhas de conduta inapropriados
para o tempo atual, para o chamado dos cristãos, e diferentes do
padrão de nosso Senhor. “Ai de vós, os que estais agora fartos!
Porque haveis de ter fome” (Lucas 6.25). “Está alguém alegre?
Cante louvores” (Tiago 5.13). O louvor e a ação de graças são
adequados em alguém remido por tão grande salvação, mas a
tolice, não.

“Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou


avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de
Deus” (Efésios 5.5). Esta é a expressão solene a ser um dia
cumprida sobre os ofensores da igreja (1Tessalonicenses 4.3-8;
1Coríntios 6.1-11).
O dom de Deus é a vida eterna. O prêmio de Deus é o reino
milenar (Filipenses 3). Enquanto o primeiro é seguro para nós
através dos méritos de Cristo, o outro é uma recompensa somente
para os que forem “contados por dignos”. Isso é tão claro e
estabeleceu um princípio; Paulo está surpreso de que o cristão não
tenha consciência disso. “Ou não sabeis que os injustos não
herdarão [não terão parte no] o reino de Deus? Não vos enganeis:
nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem
sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes
alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas
fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito
do nosso Deus” (1Coríntios 6.9-11).[42]
Seria proveitoso se meus leitores investigassem o seguinte:
Quanto é feito do reino milenar e sob quais variadas formas isto é
recomendado a eles no Novo Testamento?
A imaginação de que “o reino de Deus” significa apenas o
presente tempo da graça e não o dia da recompensa e da glória de
Cristo tem impedido uma grande porção do Novo Testamento de ter
seu intencional poder sobre o crente.
Aqui, ele é chamado “o reino do Cristo e de Deus” (Efésios 5.5).
Isso fala de uma única pessoa. Jesus é tanto o Cristo quanto Deus.
É o reino também do Filho do Homem, quando Deus, de acordo
com sua promessa, colocará tudo debaixo dos pés do obediente
segundo Adão.

“Cristo e Deus” (Efésios 5.5). Em Colossenses, lemos sobre “a


compreensão retrospectiva do mistério de Deus, Cristo”[43]
(Colossenses 2.2). O presente mistério de Cristo terminará em sua
manifestação. E sua manifestação acontece em seu reino. Então, o
povo dele será recompensado de acordo com as obras; e todos os
seus inimigos serão subjugados a ele. Em Efésios, “Cristo” precede
“Deus”, pois essa epístola nos revela os conselhos do Altíssimo
através do seu Ungido. Em Colossenses, “Deus” precede “Cristo”
(Colossenses 2.2). Porque o perigo era grande de que os cristãos
colossenses fossem conduzidos para longe de Cristo. Por isso,
aquela epístola afirma vigorosamente a supremacia do Cristo em
virtude de sua divindade. Ela o anuncia como Criador e preservador,
depois como Cabeça da redenção. Assim, será que Paulo nos
ensinaria, através da plenitude do Salvador, a tolice e o pecado de
se buscar qualquer ajuda ou poder em outro lugar?
Várias serão as desculpas e “palavras vãs” de incredulidade,
colocando as palavras de Satanás: “É certo que não morrereis”
contra o “Certamente morrerás” de Deus (Gênesis 2.17; 3.4). Mas
não se deixe enganar! Os santos são admoestados previamente
que eles podem perder a recompensa do dia por vir da
manifestação do justo julgamento de Deus, que acontecerá não
segundo os rostos, mas segundo as obras.
Alguns imaginaram que, como os maus são mencionados como
“mortos”, eles não são responsáveis. Mas isso é ignorar
apressadamente os futuros testemunhos da mesma epístola que os
descreve como “andando” nos modos do mundo e de Satanás, e
entregues “à dissolução, para, com avidez, cometerem toda sorte de
impureza” (Efésios 4.19). Aí segue o testemunho da “ira de Deus”
vindo sobre eles. No dia da recompensa, assim como a glória cobre
os obedientes, a ira cobre os desobedientes.
Aquele, seja eleito ou não, que participa do pecado participará no
pesar. O Deus justo enviará ira sobre as obras más, seja quem for
que as tenha realizado. “E todas as igrejas conhecerão que eu sou
aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um
segundo as vossas obras” (Apocalipse 2.23; Romanos 2.1-11).
O exemplo do povo de Deus, Israel, tirado do Egito pela graça,
mas perecendo no deserto por causa de sua desobediência, é três
vezes recomendado à solene consideração pelo povo de Deus que
veio mais tarde (Judas 5; 1Coríntios 9-10; Hebreus 3.4).
IMITAR A DEUS COMO LUZ
Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no
Senhor; andai como filhos da luz (porque o fruto da luz[44]
consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), provando
sempre o que é agradável ao Senhor. E não sejais
cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém,
reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir
é vergonha. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela
luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é
luz. Pelo que diz: Desperta, [ó tu que dormes], levanta-te
[de entre os mortos], e Cristo te iluminará (Efésios 5.8-14;
acréscimos de colchetes meus).

Os homens estão, por natureza, nas trevas, habitando em um


mundo de trevas e governados por Satanás, o príncipe das trevas.
Mas a transformação realizada pelo Espírito de Deus é real. O
regenerado é agora luz no Senhor. Ele vê a luz de Cristo; ele
mesmo leva luz aos outros. Na doutrina e na vida, ele agora é luz.
Ele deve viver de acordo com a luz que lhe foi concedida.
Boas obras devem ser o fruto da transformação. Um fruto precisa
da luz e do calor do sol. O brilho do sol dá sabor ao fruto.
Três tipos de resultado das boas obras são:

1. “Bondade” (Efésios 5.9). liberalidade e amabilidade, em


oposição a egoísmo;

2. “Justiça” (Efésios 5.9). O ego pisa nos direitos dos outros


para se apropriar deles. Isso se vê na cobiça, que tende para fazer
dinheiro a qualquer custo;

3. “Verdade” (Efésios 5.9). O ego falsifica o direito para que


possa se apropriar de mais do que lhe é devido. Ele faz promessas,
mas não as cumpre.

Enquanto aquele que anda na luz dá frutos, aquele que anda em


trevas não produz bons frutos, não produz nada que será aceito por
Deus no grande dia (Romanos 6.21-22; Filipenses 1.11; 4.17).
Em vez de participar dos pecados de outros, que o cristão possa
repreendê-los. João Batista repreendeu Herodes, e, embora tenha
recebido o resultado da sua coragem na inimizade de Herodes e na
sua própria morte, João Batista será recompensado na ressurreição
dos justos.
Todo aquele que manifesta o mal como sendo o mal é luz.
O sentido da tradução de Efésios 5.13: “Porque tudo que se
manifesta é luz” é este: enquanto aquilo que é mal se esconde,
aquilo que é de Deus se manifesta abertamente. Então, temos um
sentimento como o que João expressa em seu Evangelho: “Pois
todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a
luz, a fim de não serem arguidas as suas obras. Quem pratica a
verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam
manifestas, porque feitas em Deus” (João 3.20-21).
Efésios 5.14 apresenta muita dificuldade.

1. A quem o versículo se refere? Creio que não aos do mundo,


mas ao crente que erra. A pessoa a quem se refere é alguém que
está dormindo, embora se ache entre os mortos. Se não estou
errado, a pessoa é Jonas. Ele foi desobediente e fugiu do Senhor.
Foi para a escuridão do porão de um navio. Havendo “se deitado; e
dormia profundamente” (Jonas 1.5). Ele é repreendido e depois vem
para a luz. “Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se
passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus;
talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não
pereçamos” (1.6). O pagão não sabia que Cristo daria luz. Para ele
era uma incerteza se uma resposta viria ou não a uma oração. Mas
para nós uma promessa é feita. Porém, o capitão escapou do
julgamento que veio sobre o profeta desobediente.

2. A que se refere a Escritura? As palavras que precedem essa


porção parecem mostrar a que se refere. Estou inclinado a pensar
que é a Isaías 60.1. E que devemos colocar algumas palavras entre
colchetes, como fiz. Então, em Romanos 10.6-7: “Quem subirá ao
céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo; ou: Quem descerá ao
abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos”.
“Pelo que diz: Desperta, [ó tu que dormes], levanta-te [de
entre os mortos], e Cristo te iluminará” (Efésios 5.14). Isto vem
como o contraste com Isaías 59.9-10: “Andamos na escuridão”. A
seguir, temos a vinda do Redentor a Sião, e ele dando do seu
espírito àqueles a quem está se dirigindo (59.16-21). Depois, vem:
“Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor
nasce sobre ti” (Isaías 60.1).[45]
Agora, o Redentor que está chegando para afastar a transgressão
de Israel é Cristo. Ele é Jeová, o Senhor, cuja luz brilhará naqueles
que virão adiante dentre os mortos em pecados. E o Dia é o do
reino: “o reino de Cristo e de Deus” (Efésios 5.5), como já foi
anunciado.

Portanto, vede prudentemente como andais, não como


néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os
dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos,
mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. E
não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução,
mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos,
entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e
cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a
nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo (Efésios
5.15-21).

Nestes versículos, não há muito que necessite explicação. Eles


parecem uma próxima realização da imitação que o cristão faz de
Deus como luz.
Os dias nos quais a igreja é colocada são, todos, maus. Mas
oferecem oportunidades preciosas para o serviço a Cristo e para
enriquecer o obediente. Corretamente dedicados, eles trarão seus
feixes de gloriosa colheita no reino. Os dias do mistério são dias de
misericórdia, e a misericórdia só desenvolve a perversidade.
“Deixai-os crescer juntos até à colheita” (Mateus 13.30).
O vinho sobre o qual o apóstolo está falando era intoxicante, só
fazia mal quando ingerido em excesso. Nunca ouvi falar em excesso
quando se toma suco. Existe um pensamento solene para o
abstêmio. O reino por vir deverá ser celebrado com vinho com álcool
(Isaías 25.6; Lucas 22.22, 29-30).
Não são os cânticos do mundo, mas os de louvor a Deus que
deverão proceder de lábios cristãos.
Não devemos murmurar, mas ser gratos. Foi depois que Satanás
havia gerado insatisfação a Deus que a desobediência entrou.
Teremos que nos apresentar a Deus como nosso Pai em Cristo, pois
vimos em nome dele e não em nosso próprio nome.

“Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em


nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 5.20). Os
ministros protestantes na França começam os cultos em nome do
Deus Criador: “Em nome de Deus que fez o céu e a terra”. Isto é
claramente um erro. É na qualidade de remidos pelo Senhor Jesus e
em seu nome que nos aproximamos, como crentes, de Deus, como
nosso Pai.
Cristo deve ser temido bem como amado. “No temor de Cristo”
(Efésios 5.11) é tradução corretamente feita.

RELACIONAMENTOS ESPECIAIS

As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido,


como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher,
como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este
mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está
sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo
submissas ao seu marido (Efésios 5.20-24).

A passagem que estamos vendo é dividida em três partes. Ela


celebra o amor de Cristo para com a igreja, nos aspectos: (1)
passado; (2) presente; (3) futuro. Podemos intitulá-las,
respectivamente: (1) o amor da santificação; (2) o amor do sustento;
(3) o apogeu do amor.
A lição da esposa é a da contínua submissão. Este foi o seu
destino, criada para ser uma ajudadora para Adão. Foi a sentença
de Deus como juiz para ela, depois de sua preeminência na queda.
Em Efésios 5.24, o mandamento é dado, não para o sacerdote
instruí-la, nem para os anciãos fazerem isso, mas o mandamento é
dado em uma palavra entregue diretamente para as mulheres da
igreja. A igreja deve ser “sujeita a Cristo”, não aos sacerdotes, que
não são mencionados nesta epístola nem na de Colossenses. Não
está escrito: Todos devem ser ensinados pela igreja e submissos a
ela, como filhos à mãe. A mãe dos cristãos é a Jerusalém lá do alto
(Gálatas 4.26). A igreja não deve ensinar, mas os mais dotados,
levantados por Cristo, devem ensiná-la. Deus escolheu alguns para
serem pastores e mestres. Barnabé e Paulo, “e, por todo um ano, se
reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão. Em
Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, [divinamente]
chamados[46] cristãos” (Atos 11.26).

“O marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o


cabeça da igreja” (Efésios 5.23). Roma não é mencionada. Se o
papa fosse o cabeça da igreja universal designado por Deus, aqui
seria o lugar para mencioná-lo. Mas Cristo ocupa o lugar do
Cabeça, e encerra toda supremacia, exceto a sua própria.
O relacionamento entre a igreja e Cristo, sendo como o de marido
e mulher, é exclusivo. A igreja é uma unidade mística constituída por
Deus; é feita de muitos. Nenhum indivíduo pode ser corretamente
chamado de “a Noiva de Cristo”.

“Sendo este mesmo [e nenhum outro] o salvador do corpo”


(Efésios 5.23). O artigo é enfático. Muitos entendem o corpo aqui
como a igreja de Cristo, o corpo místico. Se fosse assim, deveria
estar “do seu corpo”. Primeiramente, devemos entender cada
sentimento literalmente, se possível. Este princípio, então, nos dá a
entender que a ressurreição da estrutura mortal é contemplada por
Deus como o estado da habitação dos salvos, e não o estado do
espírito. O Salvador primeiro entregou seu corpo à sepultura antes
que chamasse Seus discípulos de “irmãos”. Seu trabalho não está
terminado até que ele desfaça a obra da morte em separar corpo e
alma. Ele é a ressurreição e a vida.
A recuperação ou transformação do corpo é o passo necessário
para nossa entrada no reino da glória de Deus. “Isto afirmo, irmãos,
que a carne e o sangue [nossos corpos como vivos] não podem
herdar [não têm parte no] o reino de Deus, nem a corrupção [o
estado dos corpos dos mortos] herdar a incorrupção [que é o estado
necessário no qual desfrutaremos a eternidade de bênçãos.
Consequentemente, eis que vos digo um mistério: nem todos
dormiremos, mas transformados seremos todos [os santos vivos e
os mortos]” (1Coríntios 15.50-51).
Foi como ressuscitado que Deus concedeu a Cristo para ser o
Cabeça da igreja como seu corpo. Não podemos comparecer diante
de Deus enquanto formos espíritos que não estão revestidos
(2Coríntios 5.4). A igreja deve ser estabelecida, neste aspecto,
como o próprio Cristo. Um corpo mortal, ou um corpo corruptível,
não seria adequado para uma Cabeça ressurreta e glorificada. O
novo homem visto em Cristo é incorruptível no corpo, assim como é
santo no espírito. O reino da glória foi colocado diante de nós no
versículo 15.
Essa salvação do corpo se tornou necessária por causa do
pecado de Adão e da sentença de Deus ao Éden. Os culpados não
deveriam apenas morrer, mas voltar ao pó de onde vieram.

“Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo” (Efésios 5.24).


Muito questionamento surgiu com relação à força desse “porém”.
Ele parece designar, neste particular, a diferença entre o marido e
Cristo. O marido não pode salvar o corpo de sua esposa da morte,
nem restaurar o seu próprio da sepultura. Mas Cristo fará isso.
A submissão e obediência são o lugar da mulher. A queda
aconteceu, porque ela agiu independentemente.

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou


a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a
santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de
água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante,
porém santa e sem defeito (Efésios 5.25-27).

Efésios 5.25 celebra o amor passado de Cristo, manifesto em dar-


se a si mesmo até à morte, a fim de salvar a igreja. Isso considera
os homens e as mulheres, por natureza, filhos da ira, debaixo da
sentença do Éden. Nossa salvação vem da substituição feita por
Cristo. A cena do seu dar-se a si mesmo até à morte é mostrada
para nós em João 18. Ali o Salvador sai do jardim do Getsêmani
para encontrar os ministros da justiça e apresenta-se a eles, em vez
dos seus discípulos. “Se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes”
(Jo 18.8). Primeiro, precisavam ser satisfeitas as justas exigências
da lei, antes que o culpado seja entregue ou comece a santificação.
Adão, diante de Deus, buscou escapar do julgamento, colocando
a culpa em Deus e em sua esposa, Eva. O Salvador, perfeito em
obediência, obedece a lei e paga a penalidade da culpa. Ele coloca
a culpa do pecado, não em Deus, mas no homem. Ele justifica a
Deus em sua legislação, tanto no mandamento quanto na
penalidade.
Eva estava em falta no obedecer a Deus e no submeter-se ao seu
marido. Adão era deficiente no amor a sua mulher. Portanto, o
mandamento especial aqui tratou os dois, respectivamente.
“Deus amou o mundo” (João 3.16). “Cristo amou a igreja” (Efésios
5.25).
Ele se entregou como o sacrifício para expiar os nossos pecados.
A oferta pelo pecado primeiramente deve provar ser perfeita, e
depois ser entregue à faca e ao fogo, a fim de que a culpa do
transgressor seja perdoada. “O sacerdote fará expiação pela
pessoa, e lhe será perdoado” (Levítico 4.31).
Este entregar-se foi a fim de que Ele santificasse a igreja. A
justificação deve resolver as exigências da lei sobre o réu e depois
uma transformação responsável deve acontecer no seu interior.
Além da penalidade da lei sobre o pecado, há ainda a contaminação
que ela ocasiona ao transgressor, não adequando-o para habitar
com o Deus santo.
Esta intenção de Cristo de efetuar a santidade de sua igreja é
inalterável. “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”
(Mateus 7.23). O povo dele é de santos pelo chamado de Deus e
pela habitação do Espírito. Eles são chamados para fora de um
mundo de pecado para se adequarem a habitar com Deus para
sempre. A lei não consegue santificar assim como não pode
justificar; portanto, os crentes estão estabelecidos debaixo do
princípio oposto à graça (Romanos 5.20; 7.8-9; 1Coríntios 15.56).
“Tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela
palavra” (Efésios 5.26). Como devemos entender “água” aqui?
Observe primeiro que os tradutores deixaram de fora o artigo antes
de “água”, artigo esse que é de capital importância neste exemplo;
deixaram de fora porque olharam a versão em latim em vez da
versão em grego.
Alguns diriam que “a água” significaria a Palavra. Mas isso é
derrotado pelo fato de que duas coisas são mencionadas. “A
lavagem de água” aliou-se com “a palavra”, que ocupa um lugar
mais distante. Novamente, o que neste esquema é “a lavagem da
palavra”? Significa ouvir um sermão evangélico? Todos os que o
ouvem são lavados na palavra? Todos os ouvintes dos sermões
feitos pelos apóstolos estavam inspirados pelo Espírito Santo,
lavados na Palavra e purificados? De modo algum! Muitos ouviram
Pedro e Paulo e morreram em seus pecados. Além disso, Pedro,
depois da grande “lavagem na Palavra” no Pentecostes, convoca os
que receberam o Espírito a serem imersos na água. “Arrependei-
vos”, disse Pedro a investigadores sinceros, “e cada um de vós seja
batizado” (Atos 2.38). “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram”
imersos na água (Atos 2.41). Quando Jesus falou aos seus
discípulos que eles já estavam limpos, Ele primeiro observa que
eles já haviam sido imersos e, com base nisso, ele diz: “Quem já se
banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está
todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos” (João 13.10).
A água então deve ser vista literalmente. O artigo antes dela
significa “a [bastante conhecida] água”, e esta deve significar
batismo. Não é bastante conhecido que “água” significa a Palavra
de Deus.

“A lavagem de água” (Efésios 5.26). Aqui a prova de significar


batismo é duplicada em força. É a bem conhecida lavagem na bem
conhecida água do mandamento de Cristo.
As palavras “a lavagem” também respondem a uma importante
pergunta: Quanto dos corpos de eleitos de Cristo deve ser lavado ou
imerso? Quanto do homem precisa ser purificado da corrupção? O
rosto somente? Não, o homem todo. “Lavai-vos, purificai-vos”
(Isaías 1.16). “Que farei, Senhor?” foi a pergunta de Saulo a Cristo
(Atos 22.10).
O Salvador envia seu servo Ananias para respondê-la. “E agora,
por que te demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus
pecados, invocando o nome dele [Jesus]” (Atos 22.16). Aquele foi
realizado imediatamente, naquele que por três dias não comia nem
bebia nada, em preparação para ser testemunha de Cristo.
“Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé,
tendo o coração purificado [pelo sangue de Jesus, Hb 12.24] de má
consciência e lavado o corpo com água pura” (Hebreus 10.22). Pois,
“quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de
Deus” (João 3.5).
Mas o que significa “pela palavra” (Efésios 5.26)? No grego é “na
[εν] palavra”. Assim, no Novo Testamento, o instrumento
característico é definido. “Que preferis? Irei a vós outros com [em]
vara?” (1Coríntios 4.21).
“A palavra” (Efésios 5.26) se referem às palavras do batismo: “Em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Essas palavras são
dirigidas ao candidato, que entrou na água, em sua imersão. A
expressão no grego aqui usada geralmente denota um dizer distinto
e definido.
O Salvador derrotou Satanás com a Palavra de Deus, pelo uso de
dizeres distintos e definidos, aplicáveis ao caso em questão. Assim,
nessa epístola, nós mesmos somos ensinados a provar
vitoriosamente “a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”
(Efésios 6.17).
É pela adição, segundo o mandamento de Deus, desta forma de
palavras para a imersão, que o batismo cristão se distingue de
qualquer outra lavagem comum.

“Tendo-a purificado” (Efésios 5.26). Um tipo definido de


purificação, agora já no passado, e que deve ser usado uma só vez,
eu suponho. É uma passagem visível saindo da corrupção do
pecado e do mundo para pertencer a Cristo, o Santo. “Salvai-vos
desta geração perversa. Então, os que lhe aceitaram a palavra
foram batizados” (Atos 2.40-41).
A imersão veio depois de terem recebido a Palavra e marcou a
escolha obediente feita pela pessoa batizada. Foi o passo após a fé.
Cristo terá apenas um povo purificado habitando com Ele. E o
batismo, a imersão completa, fala do grande objeto do Salvador,
santificar aqueles que ele salva. O homem inteiro deve ser de
Cristo. O pecador recebe a palavra da verdade, o evangelho da sua
salvação em seu espírito.
A seguir, seu corpo também é entregue a Cristo. Ele deve passar
por morte emblemática e sepultamento para andar em novidade de
vida, aguardando o dia em que, na primeira ressurreição, aqueles
considerados dignos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Isto
fala da remoção do pecado como caminho para a santidade e para
a vida eterna.
A vida eterna se torna nossa justificação pelos méritos de Cristo.
A recompensa, o prêmio, o reino milenar, torna-se santidade, que
deve seguir a justificação.
Esse mandamento de Cristo traz à consideração a diferença entre
a apresentação de Eva a Adão e a apresentação da igreja a Cristo.
O Senhor Deus conduziu a mulher ao homem antes da Queda e
nenhum ritual de purificação foi necessário. Mas o pecado e sua
sentença, o pecado e sua corrupção, necessitaram purificação para
nos capacitar a habitar com o Altíssimo.

“Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula,


nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”
(Efésios 5.27). Aqui entra a pergunta mais importante: Todos os
crentes da igreja serão encontrados agradáveis ao Senhor na sua
vinda? Todos os crentes serão por Cristo considerados dignos de
entrar no reino milenar?
A maioria parece ter decidido que todos, simplesmente como
crentes, irão entrar. Mas eles são lentos para sustentar suas
opiniões, talvez devamos dizer seus desejos, por meio das
Escrituras. Vamos, então, olhar um pouco as evidências para o
oposto, que são claras, múltiplas e decisivas.
Vemos que o Salvador é determinado a que a igreja deva ser
santificada; ao ser apresentada a Ele, ela deve ser gloriosa. Agora,
estão todos os crentes em sintonia com essa determinação de
Cristo? Não há muitas máculas e rugas na igreja hoje?
Foi perguntado a muitos: O que você acha do atual estado da
igreja? E você obterá geralmente um reconhecimento claro de
incredulidade, mundanismo etc., males tanto positivos quanto
negativos, obscurecendo o estado da igreja. Mas pressione com a
pergunta: Quais devem ser as consequências aos crentes dos
fracassos, até mesmo visíveis aos nossos olhos, na vinda do
Senhor Jesus? Então tudo fica arrastado, ou é respondido com
firmeza, que todos esses males serão anulados, ou esquecidos, no
aparecimento do Salvador.
Alguns estão ensinando que o Salvador vem como o Noivo,
portanto, não notará as máculas e as rugas da Noiva. Mas mesmo a
Parábola das Dez Virgens dá testemunho contra tal ideia. A metade
delas não está pronta no advento e são trancadas para fora da ceia
nupcial.[47] Geralmente o Salvador é descrito como o Mestre,
fazendo uma consideração sobre seus servos. Ele não virá no atual
Dia da graça, mas depois que o trono do julgamento for
estabelecido e comece o Dia da recompensa por obras. O Redentor
irá, de fato, tornar a igreja gloriosa finalmente. Mas a santidade deve
preceder a glória.
As máculas e rugas e coisas como estas existirão até o dia da
vinda dele, como fica claro nas sete cartas do nosso Senhor
(Apocalipse 2–3). Todas as igrejas e quatro dentre os sete anjos das
igrejas entram para receber completa ou parcial culpa.[48]
Podemos dividir os defeitos aqui em duas classes: (1) Manchas
ou máculas. Estas são removíveis com água. “Levanta-te, recebe o
batismo e lava os teus pecados” (Atos 22.16). (2) Rugas ou
verrugas. Estas não são removidas pela lavagem. O que podemos
dizer agora sobre uma purificação perfeita de todos os crentes já
realizada no advento de Cristo?

1. Sujeição deve ser a atitude da igreja em relação a Cristo.


Ninguém, a não ser os obedientes a Cristo, deverá receber o louvor
e a recompensa dele. Não é verdade que a maioria dos crentes se
recusa àquele ritual de batismo de purificação que é mencionado
duas vezes nesta epístola? Não é necessário; já fomos batizados na
infância! Se “os fariseus e os intérpretes da Lei rejeitaram, quanto a
si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele”,
não estão multidões dos salvos fazendo a mesma coisa hoje?
(Lucas 7.30; 12.47).

2. Além disso, há muitos pecados contra os mandamentos


dispensacionais de Cristo. Muitos cristãos são soldados, fazem
juramentos, acumulam tesouros, casam-se com os ímpios etc.

3. Muitas também são as ofensas morais dos crentes. Quantos


pedem emprestado e nunca pagam? Quantos são colocados para
fora da igreja por causa de ofensas especificadas por Cristo? E ele
nos assegura que tal sentença dada pelas igrejas ele confirmará. Se
manchas permanecerem, não haverá glorificação. Se não houver
glória, não haverá apresentação.

Assim também os maridos devem amar a sua mulher


como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se
ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes,
a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a
igreja; porque somos membros do seu corpo (Efésios 5.28-
30).

Chegamos agora à segunda divisão deste assunto: o amor de


sustento. É um chamado ao marido, por amor, para proporcionar o
necessário para suprir as necessidades da esposa. E nesta parte,
os verbos estão no tempo presente: ama, alimenta, cuida, somos,
como mostra o original grego.
A base declarada para esse dever está lá atrás na formação do
corpo de Adão e Eva. Também se refere a Adão reconhecer o fato e
acolhê-la bem. “E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus
ossos e carne da minha carne” (Gênesis 2.23). Adão olha para trás,
para os tratamentos anteriores de Deus com ele. O Altíssimo
projetou uma companheira para Adão. Mas antes Ele traz para Adão
as feras do campo e os pássaros dos céus. Adão dá nome a cada
um. Mas nenhum era adequado como parceira para ele. Então,
Deus lhe faz uma companheira, tirando parte de uma costela do
homem. Agora, com alegria, Adão nota as diferenças desta ocasião.
Ele dá nome a ela também, indicando a proximidade do
relacionamento entre eles. “Chamar-se-á Ishah, porquanto do Ish foi
tirada” (Gênesis 2.23). Assim, o Senhor Jesus, o Cristo, impõe
divinamente um nome aos membros do seu corpo: “cristãos”, como
retirado do Cristo (Atos 11.26).
Os homens gostam do seu próprio corpo, dá-lhe abrigo, alimento
e roupas. Deus implantou o sentimento. Quando encontramos o
contrário disso, dizemos que um inimigo fez aquilo. Quando lemos
sobre alguém que não está habitando em uma casa, mas nas
sepulturas, que não usa roupas, que grita e se corta com pedras,
temos a prova de que o inimigo está dominando esse alguém e os
espíritos maus estão habitando nele (Lucas 8; Marcos 5).
Em parte, este cuidado com o corpo surgiu do pecado. Roupas
eram necessárias para o homem assim que a consciência lhe foi
roubada. Era preciso um abrigo, assim que as estações ficaram
muito frias ou muito quentes.
Portanto, o Salvador satisfaz as necessidades presentes da sua
igreja na terra. Na ceia, ele entrega-se a si mesmo como nosso
alimento. Concede-nos sua justiça como nossas vestes. Essa é a
única vestimenta adequada para as bodas do Filho do Rei.

“Porque somos membros do seu corpo” (Efésios 5.30). Pela


graça de Deus, já somos membros de Cristo. É nisso que o
presente amor de Cristo está fundamentado.
“Somos” é característica desta segunda divisão na seção. Na
primeira, tivemos “Cristo amou a igreja e por ela se entregou” =
verbos no tempo passado, com a visão de preparar o
desenvolvimento do seu plano. “Para que a santificasse”, “para a
apresentar” (Efésios 5.25-27). Na terceira divisão, teremos “deixará,
se unirá, se tornarão” (Efésios 5.31).
Jesus, nosso Senhor, está consciente do atual clima de crueldade
contra sua igreja, a quem Ele escolheu fora do mundo. Ela é odiada,
mas pertence a Ele.
Porém, como ele proverá para miríades incontáveis? É o Senhor
que está cuidando da igreja.
Ele, como o Cabeça, zela pelo seu corpo, a igreja, para o bem
dela. Nós somos apenas membros distintos e distantes dele. Um a
um, os obedientes a Cristo visivelmente deixam sua antiga posição
em Adão e debaixo da lei para tomarem seu novo lugar com Ele no
batismo; mortos para o antigo, surgindo para o novo.

“Da sua carne e dos seus ossos” (Efésios 5.30).[49]


E como
estamos nós? Isso é algo difícil. É parte do que Paulo descreve
como “um grande mistério”. Afirma que nós, seus membros, somos
criados da substância de Cristo. Isso é evidentemente necessário a
fim de tornar a companheira do Salvador como a ajudadora
concedida a Adão. A mesma coisa é afirmada, embora mais
obscuramente, em dois textos anteriores. Deus em amor, “estando
nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo
[...], e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos
lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2.5-6; 1.19-20). Nossa
vida espiritual começa na ressurreição e com a ressurreição dele.
Vários pontos podem ser observados aqui. Primeiro, não está
escrito “somos da sua carne e seus ossos”. Jesus revestiu-se de
carne e sangue para que pudesse tornar-se um “Filho do Homem”
vivente. Mas o sangue dele foi nosso resgate, e foi afastado do seu
corpo em sua morte. Por isso, Ele diz aos discípulos: “Um espírito
não tem carne nem ossos, como vede que eu tenho” (Lucas 24.39).
Carne e sangue não podem ter parte no reino eterno de Deus
(1Coríntios 15.50). É importante notar que, em relação a Eva, Deus
fala apenas de costela, carne e osso, mas não fala de sangue.
Nessas afirmativas, veja como os pensamentos dos homens são
diferentes dos de Deus! Muitos agora estão dizendo que Cristo
pegou nossa carne e sangue, e inferem a partir daí que a salvação
é, finalmente, para todos os homens. Eles consideram a redenção
como tendo sido realizada pelo fato de o Salvador revestir-se de
carne, coisa que a Escritura não fala. Deus jamais se esquecerá da
fenda que o pecado causou e ainda mantém, entre ele e o homem.
E a sentença dele é afirmada da mesma forma no Antigo
Testamento que no Novo, quando diz: “Sem derramamento de
sangue, não há remissão” (Hebreus 9.22).
Temos, na verdade, uma passagem, em Hebreus 2.13-14, que
pode ocorrer a alguns como sendo favorável a opiniões opostas.
“Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu. Visto, pois, que os
filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também
ele [Jesus], igualmente, participou”. Mas isto está falando, não dos
homens em geral, mas dos filhos eleitos de Deus, que não são do
mundo, mas foram escolhidos fora do mundo. E “carne e sangue”
são aqui atribuídos ao Salvador antes de sua morte, enquanto que
“carne e ossos” são características dele depois da sua ressurreição.

O APOGEU DO AMOR
Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se
unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne.
Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja.
Não obstante, vós, cada um de per si também ame a
própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao
marido (Efésios 5.31-33).

Aqui os verbos estão no tempo futuro, e a passagem está


relacionada a algo ainda por vir. “Deixará o homem”, “se unirá”, “se
tornarão uma só carne”.
Esta é uma aplicação mais recente da história de Gênesis para
Cristo e a sua igreja. O amor presente de Cristo pela igreja como
seu corpo tomará a forma final do amor dele pela igreja como sua
Noiva.
Adão, observando Eva, e notando que a origem dela era dele
mesmo, profetiza: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à
sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gênesis 2.24).
Mudança de residência para o par casado é a consequência
comum de um casamento. O marido, em preparação, procura uma
casa para ele e sua esposa. Ele, que até aquele momento morava
na casa de seu pai, muda-se dali para se estabelecer em um lugar
separado para ele. E assim também acontece com a noiva; ela
também sai da casa do pai e da mãe para ir morar com seu marido.
Fica claro aqui que esse traço de semelhança será aplicado à
futura união de Cristo e a igreja. O segundo Adão realizará, em um
sentido mais elevado e eterno, o que foi dito pelo primeiro Adão.
1. Cristo, que pela eternidade habitava no “seio do Pai”, e que
voltou para ele, retornará à terra para tomar a igreja para si e
deixará seu lugar no céu.

2. Ele deixará também sua mãe. O Salvador na cruz separou-se


de Maria, entregando-a aos cuidados do seu discípulo amado. Mas
eu creio que aqui Israel é considerado a mãe do Salvador. Enquanto
estava na terra, ele não só era submisso aos seus pais, como filho,
mas era obediente à lei, e defendeu os direitos de Israel como a
nação escolhida por Deus. E o nosso apóstolo diz sobre Israel:
“Deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo,
segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o
sempre” (Romanos 9.5).
Uma nova morada está sendo construída para ele e a igreja na
cidade eterna, a Nova Jerusalém. Para lá, Ele levará a igreja; ali
será sua morada para sempre.

“E se unirá à sua mulher” (Efésios 5.31). Assim como cada um


tem apenas um só pai e uma só mãe, assim também uma só
esposa.
O casamento é uma nova fase da vida para o casal. E assim será
para Cristo. “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e
ficará satisfeito” (Isaías 53.11). “Os dois serão um”. O
relacionamento é exclusivo e permanente. Ninguém mais pode
ocupar um lugar como o da igreja. É um corpo peculiar, especial.

“Grande é este mistério” (Efésios 5.32). Como é que uma


multidão que não se pode contar será uma pessoa e ocupará o
lugar de Eva com Adão é algo que está muito além de nós. Roma
fala da freira que acaba de ganhar o véu como sendo a “noiva de
Cristo”. Esse pensamento é estranho à Escritura.
Este novo movimento começou apenas na ressurreição. O casal
culpado foi posto para fora do Éden, para não mais voltar, seja por
astúcia ou por mérito. A posteridade deles também não conseguiu
encontrar uma entrada. Mas o segundo Adão levará a nova Eva
para o Paraíso de Deus.
Posso dizer que nesta epístola há três mistérios, dos quais este é
o maior?

1. O primeiro é “o mistério da vontade de Deus” em reunir, nos


dias do milênio, todas as coisas no céu e na terra (Efésios 1.9).

2. O segundo é “o mistério do evangelho”. A mensagem de Deus


para as nações no tempo em que estamos vivendo (Efésios 3).

3. O terceiro é “o mistério da união da igreja e Cristo”, que


começará quando os outros dois tiverem terminado (Efésios 5.32).

O apóstolo deixa uma palavra de precaução neste ponto. Ele quer


que você observe que ele não está falando sobre o casamento em
geral; que seja um grande mistério. Mistério é apenas o caso que
está em nossas mãos agora. Roma, traduzindo errado mistério por
sacramento, faz do casamento em geral um sacramento.
Em se tratando do último versículo, uma segunda precaução é
apresentada. A igreja, corpo de Cristo e sua Noiva, é uma
assembleia, um corpo plural, feito de muitas pessoas. Para que não
se suponha que o amor à igreja seja a única coisa ensinada, o
Espírito Santo repete as lições acima dadas aplicadas a cada
cristão, marido e mulher. A obediência e a reverência é a parte da
esposa; o amor é a do marido.
Permita-me acrescentar algumas observações sobre o tipo de
Adão e Eva, segundo nos são apresentados pelo lado de Gênesis.
A base de todo argumento de Adão a Cristo é aquela palavra
“Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir” (Romanos 5.14).

1. Em Gênesis 1.26 e 2.2, temos a história da obra de Deus no


sexto dia, com a especial criação do homem. Há uma consulta da
Trindade relativa à criação do homem à imagem e semelhança de
Deus, e seu domínio sobre a terra. Em nossa epístola temos a obra
da Trindade na restauração dos decaídos.
O homem é primeiramente visto em Gênesis como plural. “Eles
terão poder” (NTLH). “Homem e mulher os criou” (Gênesis 1.26-27).
A imagem segundo a qual o homem é criado é a do Filho. “[Ele]
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”
(Romanos 8.29). “E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como
pelo Senhor, o Espírito” (2Coríntios 3.18; Colossenses 1.15).
No fechamento do sexto dia, Deus contempla tudo e acha muito
bom. No sétimo dia, Deus aprecia a obra que Ele havia criado. O
descanso de Jeová no sétimo dia como Deus da redenção está
chegando. É o dia do reino milenar e só entrarão nele aqueles com
quem Deus está satisfeito. Então, o Filho de Deus governará, vendo
o fruto do seu trabalho e sofrimentos.

2. Em Gênesis 2.3 até o final, temos outra visão da criação do


homem, terminando não em descanso, mas em julgamento e morte.
Ali, vemos que Adão foi o primeiro criado e Eva, dele. Na nova
criação de Deus, Cristo e a igreja, tendo descido juntos à morte, são
ressuscitados juntos (Efésios 1.18-21; 2.5-6).
Em Gênesis 2.8-14, uma visão nos é dada sobre a habitação de
Adão, o jardim do Éden e as duas árvores do seu destino. A árvore
da vida foi a primeira no desígnio de Deus, mas a árvore da
responsabilidade foi a primeira na mão do homem, e depois a árvore
da vida foi excluída da vida dele e removida completamente da
terra. A criatura aprende vagarosamente como ele certamente cai
quando é deixado sozinho. O casal culpado é colocado fora do
Éden, nunca mais podendo retornar.
Mas o segundo Adão restaurou-nos o Paraíso. Mesmo na hora da
morte e antes da ressurreição, o Salvador pode dizer ao ladrão que
estava morrendo: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
paraíso” (Lucas 23.43). E Paulo foi levado para lá (2Coríntios 12.4).
Mas o Salvador apresentará seus resgatados ao Éden eterno, na
ressurreição. E lá estará a “árvore da vida” restaurada. “Ao
vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se
encontra no paraíso de Deus” (Apocalipse 2.7). O Senhor Jesus
comprou o direito de trazer de volta a bênção da árvore da vida,
tendo ele suportado a maldição na árvore da morte (Gálatas 3.13;
Apocalipse 22.2, 14, 19).
Adão foi colocado debaixo da lei com a penalidade da morte por
desobediência. Cristo suportou até à morte a penalidade da lei,
colocando aqueles que creem nele debaixo da graça, e fazendo-os
filhos, trazidos da lei, dando-nos vida em si mesmo.
Adão está sozinho e Deus considera que isso não é bom. Em sua
graça, Ele fará para Adão uma companheira, uma ajudadora. Mas
primeiro, Ele mostrará que nenhum dos animais da terra, nem dos
pássaros do céu, seria adequado ao homem. Eles são trazidos a
ele, como já vimos; e ele dá-lhes nomes de acordo com o caráter de
cada um. Mas nenhum é adequado a ele.
Também é uma questão para o Pai celestial, quem serão os
companheiros do Filho do seu amor. Ele passa pelos anjos e por
Israel. Ele dá a Cristo, o Cabeça de todos, a igreja, para ser a sua
Eva, “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”
(Efésios 1.23).
Adão é lançado em profundo sono, de uma costela do seu lado é
construída a mulher. Esta é a raiz daquelas expressões sobre a
igreja estar sendo edificada como um edifício, e de nós sermos
edificados como o corpo de Cristo (1Pedro 2.5). “Edifício de Deus
sois vós” (1Coríntios 3.9; 14.5, 12, 26; Efésios 2.21; 4.12, 16).
Ao sono de Adão e à edificação de Eva, respondem o mistério do
Cristo na morte e ascensão, e a edificação da igreja. Cristo está
silente e não é visto, aparentemente não se movendo, como se
estivesse adormecido. Ele está aguardando até que sua Eva seja
formada.
Então, aconteceu a apresentação que Jeová fez da mulher a
Adão. Adão percebe que a origem dela é ele mesmo, e nota a
diferença, como já vimos, entre ela ser levada a ele e os animais
que foram trazidos diante dele.
O Salvador já deu nome aos seus membros. Ele é o Cristo, o
Ungido. Os discípulos foram divinamente chamados cristãos (Atos
11.26). Ele já os reconhece como “osso dos meus ossos e carne da
minha carne”. Os discípulos já estão vestidos com a justiça dele;
eles precisam dela, porque a lavagem do batismo os deixou nus.
A igreja, entretanto, ainda está para ser apresentada a Cristo
como gloriosa. Aqui há um longo passo de avanço da criação
anterior. E como Cristo é tanto Jeová quanto o Filho do Homem, Ele
apresentará a igreja a si mesmo.
A maldição e a sentença de Gênesis 3, então, serão retiradas. Em
vez de corpos destinados ao pó, os justos brilharão como o sol no
reino de seu Pai.
Adão impõe um segundo e novo nome para a mulher, depois do
pecado e da sentença de morte. Ela é Heevah,[50] Vida, o nome do
destino dela. E assim o Cristo ressurreto apresenta uma nova
cidade, a Nova Jerusalém, a morada da vida. Há o Livro da Vida, a
água da vida, a árvore da vida, a coroa da vida; e a morte não
entrará ali. Somente os que estão fora da graça agora estarão fora
da vida; então serão chamados “malditos”, pelo segundo Adão, e
habitante da segunda morte.
CAPÍTULO SEIS
Relacionamento

e Armadura

Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é


justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro
mandamento com promessa, para que te vá bem, e sejas de
longa vida sobre a terra. (Efésios 6.1-3).

Nesta passagem, aprendemos que as crianças formavam uma


parte da igreja, como santos e crentes em Cristo Jesus. Com que
idade eram admitidas? Não é mencionado. Mas está implícito. As
crianças entravam para a igreja de Cristo na mesma condição que
os outros, isto é, assim que cressem. O ingresso na igreja (ou
assembleia) de Cristo fica na mesma condição para os jovens na
carne e para os adultos.
Filhos cristãos, vocês devem obedecer aos seus pais; obedeçam
como ao Senhor. Aqui está a diferença entre as ordenanças da lei e
do evangelho. Os homens da lei devem obedecer na carne. Eles
prometem e têm que cumprir a promessa com base nos poderes da
natureza. E como eles não obedecem, caem na maldição
pronunciada contra todos os que desobedecem em qualquer ponto
(Gálatas 3.10). Mas os crentes em Cristo são abençoados nele e
estão debaixo da graça, para obedecer na força do Espírito de
Deus. Eles devem obedecer “no Senhor”, como foi ordenado por
Cristo e é sustentado por seu poder.
Não são poucos os pais cristãos que desobedecem neste ponto.
Quando seus filhos creem, eles não os trazem para dentro da igreja
ou assembleia de Cristo. Por que não? “Há esta ou aquela falha nas
igrejas.” Você, pai, está na igreja? Não existem falhas em você?
“Mas eles são tão pequenos.” Verdade; e, se você os trouxer cedo
para o aprisco, eles provavelmente crescerão e serão mais fortes
em Cristo, e mais úteis do que você. “Mas e se eles tropeçarem?”.
Nosso caminhar, meu amigo, não é decidido pelas nossas
suposições sobre o que acontecerá, mas pelo mandamento
presente de Cristo. Não temos profetas para predizer o que
acontecerá com cada um. E mesmo que tivéssemos, e se um
profeta predissesse que, num dia futuro, seu filho iria pecar
flagrantemente, isso não alteraria seu dever atual. Onde
provavelmente uma criança vai viver uma vida cristã? Quando
levada a lugares cristãos e cuidada pelos oficiais e membros de
Cristo? Ou quando cuidadas por incrédulos? Isto é um grande
desencorajamento para a fé dos pequeninos. Obedeça, pai! Os
deveres são nossos, os acontecimentos são de Deus.

“Pois isto é justo” (Efésios 6.1). O curso comum da vida cristã


está na graça. Mas a obediência de um filho a seus pais não é
graça. O filho está debaixo das mais fortes obrigações de obedecer.
Obedecendo, o filho está, em determinada medida, apenas pagando
um débito justo.

“Honra a teu pai e a tua mãe” (Efésios 6.2). Aqui o quinto


mandamento da lei é citado. Não temos nós na passagem
mencionada uma prova de que o cristão está debaixo da lei? Não!
As mais claras Escrituras provam o contrário.

1. “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais
debaixo da lei, e sim da graça. E daí? Havemos de pecar porque
não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!”
(Romanos 6.14-15).

2. “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a
Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a
fé, já não permanecemos subordinados ao aio” (Gálatas 3.24-25).

3. “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei”


(Gálatas 5.18). Se obedecermos, já morremos e fomos sepultados
para Moisés e Adão, na imersão que Deus nos ordenou; e estamos
libertos da lei (Gálatas 2.19; Romanos 7.4-6).
Este é o ensinamento das duas epístolas que tratam
especialmente da igreja. Tome o testemunho da epístola que
estamos considerando. Em Efésios 2.11-22, o apóstolo está
descrevendo a atitude do crente gentio com relação à lei de Moisés.
Ele estava, na ocasião, sem Cristo e fora das promessas de Deus e
de sua graça. Mas agora, em Cristo, tudo é alterado. Cristo, “tendo
derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade,
aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de
ordenanças” (Efésios 2.14-15).

O que diz Colossenses? “Tendo cancelado o escrito da dívida,


que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz”
(Colossenses 2.14).
Por que então a lei foi citada se não estamos debaixo dela? (1)
Primeiro, porque a lei é o padrão da justiça e a obediência aos pais
é uma questão de justiça. Obedeçam, porque é justo! (2) Segundo,
por causa do que vem a seguir. “Para que te vá bem, e sejas de
longa vida sobre a terra” (Efésios 6.3).
Aqui está o encorajamento de Deus aos filhos obedientes em
Cristo. A recompensa deles é certa. A eles também está aberta a
esperança do gozo milenar. Se a lei severa pode dar promessa aos
obedientes, quanto mais pode Deus, na graça do evangelho! Era a
primeira promessa debaixo da lei, ligada aos filhos obedientes.
Agora, ninguém debaixo da lei poderia reivindicar tal promessa
como de direito de acordo com a carne. Mas, para o discípulo
justificado, justificado pela fé em Cristo, a corrida e a coroa da
recompensa estão disponíveis.
O versículo diz: “Para que se prolonguem os teus dias na terra
que o Senhor, teu Deus, te dá” (Êxodo 20.12).
Sim! Pois tanto o céu quanto a terra pertencerão a Cristo. E
muitos em corpo ressurreto obterão lugar em ambos. A promessa
aqui aproxima, tanto em princípio quanto em afirmação, aquela
palavra: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”
(Mateus 5.5). Essa palavra não impede o Salvador de dizer um
pouco mais adiante: “Grande é o vosso galardão nos céus” (v. 12). A
respeito do milênio, Paulo testificou nessa epístola que Deus faria
convergir em Cristo, “na dispensação da plenitude dos tempos,
todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Efésios 1.10).
Filhos, se vocês quiserem uma vida curta e cheia de problemas,
andem conforme queiram e desprezem as ordens dos seus pais!

E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas


criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor (Efésios
6.4).

Espera-se que os pais deem aos seus filhos as instruções na fé; e


que os admoestem e castiguem pelo que há de mal neles. Pais que
não ensinam nem controlam seus filhos estão preparando um açoite
para as costas deles.
Quão pesadamente Jeová culpa Eli pela incredulidade de seus
filhos! Quão severamente Ele puniu Eli por não refrear seus filhos!
Qual foi a taça mais amarga da vida de Davi? A perversidade de
Absalão e Adonias. A maneira que eles acabam a vida foi um golpe
ao coração do seu pai. No caso de Adonias, nós aprendemos o
segredo da injúria (1Reis 1.6). Por acaso, o filho amou mais seu pai
porque este não o contrariava? Não, ele se levantou contra seu pai
e o empurrou para fora do trono! Aprendam, pais, que a maneira de
vocês ganharem seus filhos, serem amados por eles agora e terem
sua memória abençoada é não permitindo que eles façam o que
bem entendem.

Quanto a vós outros, servos [escravos], obedecei a


vosso senhor segundo a carne com temor e tremor, na
sinceridade do vosso coração, como a Cristo, não servindo
à vista, como para agradar a homens, mas como servos de
Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus; servindo
de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens,
certos de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá
isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre
(Efésios 6.5-8).

Aqui há pouca coisa que necessite de explicação. O cristianismo


não exigia que os patrões libertassem seus escravos, mas impunha
um novo espírito de ambos os lados. Cada um era individualmente
responsável a Cristo, como Senhor de todos, e ele recompensaria a
obediência de cada um deles, fosse escravo ou fosse livre.

E vós, senhores, de igual modo procedei para com eles,


deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles
como vosso, está nos céus e que para com ele não há
acepção de pessoas (Efésios 6.9).

Temos que tratar com Aquele para quem as diferenças de


posicionamento na sociedade não têm a menor importância. Ele
julgará cada caso com justiça.
Gostaria apenas de observar que as duas últimas categorias de
relacionamentos especiais se aplicam geralmente aos cristãos,
como diante de Deus. Pois os cristãos são tanto filhos quanto
servos. Os princípios aqui enunciados se aplicam ao nosso serviço,
como filhos de Deus e como servos de Deus.
Não! Os princípios se aplicam ao nosso Senhor. Como homem,
Ele foi tanto Filho quanto Servo. Ele ainda é Servo, como Sumo
Sacerdote nos lugares celestiais; é como entendo a partir de
Apocalipse 1 a 3. Ele deverá também receber recompensa das
mãos do Pai, como o Servo bom e fiel (Hebreus 1.9).

NOSSA GUERRA
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força
do seu poder (Efésios 6.10).

Esta é a parte de conclusão da epístola. Ela representa a porção


do mistério. Por que Deus, há muitos anos, não deu vitória ao seu
povo? Ele é sábio e um dia irá se vingar. Quando Ele se levantar em
poder, o evangelho estará no fim. E é por meio dessa batalha que
Ele está testando e disciplinando sua igreja. Por que Deus não levou
Israel para a terra prometida pelo caminho mais curto? Veja o que
diz Êxodo 13.17: “Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não o levou
pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse:
Para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e
torne ao Egito”.
Esta última parte da epístola fica ligada à parte que a precede
imediatamente. Na seção dos Relacionamentos Especiais, temos
Cristo e a igreja como os novos Adão e Eva. A nova Eva agora não
está ouvindo o tentador, mas está ouvindo Cristo. Da mesma forma,
temos a inimizade da serpente e sua semente contra a mulher, a
igreja. A nova Eva não crê nas falsidades da serpente contra Deus e
resiste a ela. Por isso, ela ainda tem que manter a guerra contra a
serpente e a geração de víboras.
A força da carne não leva vantagem nessa guerra. Sansão
certamente seria derrotado aqui. A guerra suscita a força; mas esta
é uma batalha peculiar e precisa da força proporcionada por Cristo,
o Senhor, que já provou ser vitorioso no conflito com Satanás;
primeiro, contra a sedução dele; depois, no Getsêmani e na cruz,
permanecendo firme contra todo o ataque do poder do inimigo.
Cristo é o grande antagonista de Satanás. “Para isto se manifestou
o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (1João 3.8b).
Cristo, então, deve nos prover com a força interior necessária
para enfrentarmos o adversário. Assim, esta passagem é tecida na
segunda oração de Paulo, para que o Pai “vos conceda que sejais
fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior”
(Efésios 3.16).

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes


ficar firmes contra as ciladas do diabo (Efésios 6.11).

O soldado precisa de força interior e da armadura exterior. Deus


sabe disso e fornece ambas.
É a armadura de Deus, não aquela que Deus usa, mas aquela
que Ele nos concede. Portanto, “a salvação de Deus” significa, não
a salvação com a qual Deus foi salvo, mas aquela que Ele
proporcionou a Israel (Êxodo 14.14). Desta forma, a justiça de Deus
significa, não a justiça com a qual Deus é justo, mas aquela que Ele
proporciona aos culpados. A armadura de aço dos homens não é de
nenhum proveito aqui, mas sim “toda a armadura de Deus”,
defendendo o homem da cabeça aos pés. É manufaturada e
presenteada por Deus.
Três pontos são necessários em uma armadura.
1. Ela deve estar exterior ao homem para afastar ataques. Em
consequência, nossa armadura espiritual não deve ser os
sentimentos interiores do nosso variável eu. “Revesti-vos de toda a
armadura”.

2. Ela deve ser perfeita em sua textura e deve assentar


perfeitamente no guerreiro, porque nosso inimigo é hábil em
discernir qualquer lacuna na armadura e nos derrotará a menos que
nossa defesa seja completa.

3. Ela deve estar em nossa posse antes que a guerra comece. Os


soldados numa guerra não podem estar na forja fabricando sua
armadura quando o inimigo vem vindo para cima deles. Os
apetrechos deles já estão prontos no arsenal e foram destinados a
cada um dos soldados.

Paulo, no acampamento pretoriano em Roma, sabia muito bem


disso! Quanto a nós, a armadura é sempre necessária. Nada forjado
e fornecido por nós mesmos será adequado. Não será perfeito. Aqui
encontramos uma nova vestimenta de Deus, apropriada para a
guerra contra nossos adversários espirituais, para a qual Ele está
nos chamando. É o resultado de nossa paz com Deus. Portanto,
quando o rei de Canaã ouviu que os moradores de Gibeão haviam
feito paz com Israel e estavam entre os israelitas, o rei de Jerusalém
envia mensageiro aos seus companheiros, dizendo: “Subi a mim e
ajudai-me; firamos Gibeão, porquanto fez paz com Josué e com os
filhos de Israel” (Josué 10.4).
Esta panóplia é necessária para que possamos “ficar firmes
contra as ciladas do diabo” (Efésios 6.11b). O Salvador quebrou o
poder de Satanás e não permite que ele solte contra nós toda a sua
força. As táticas dele agora são geralmente o engano; como os de
Gibeão, que fizeram paz com Israel sob falsas pretensões. Desta
forma, o inimigo levou os crentes gálatas à circuncisão e à lei, não
como algo oposto ao evangelho da graça, mas como seu
suplemento e aperfeiçoamento. Os cristãos coríntios, ele conduziu
às festas de ídolos e aos templos, porque assim eles mostrariam um
espírito liberal e provariam quão fortes eles eram contra as loucuras
da idolatria. ‘Porque um ídolo não era nada, e as carnes oferecidas
a ele não eram piores do que outras coisas.’ E Paulo nos fala com
mansidão para instruir nossos oponentes, “na expectativa de que
Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem
plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-
se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para
cumprirem a sua vontade” (2Timóteo 2.25-26).
Satanás usa homens maus também em seus esquemas, assim
como Deus usa o seu povo. Em Efésios 4, Paulo nos instrui: “Para
que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para
outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha
dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Efésios 4.14).

Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e


sim contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes (Efésios 6.12).

A paz com Deus imediatamente traz guerra contra o diabo. E o


Senhor Jesus nos adverte para calcularmos os custos. “Qual é o rei
que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para
calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra
ele com vinte mil?” (Lucas 14.31). Nós, por meio da misericórdia,
estamos em paz com Deus, através de nosso Senhor Jesus Cristo.
“Ele é a nossa paz”, que veio e pregou a paz para nós, para nos
aproximar com total aceitação a Deus como nosso Pai (Efésios
2.14).
Então, somos chamados a resistir a Satanás, para que ele fuja de
nós. As guerras da carne são más. Somente esta é a boa batalha da
fé! Disse Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira,
guardei a fé” (2Timóteo 4.7). Em um dia vindouro, o Senhor irá,
certamente, coroar seus guerreiros bravos, firmes, marcados e com
cicatrizes. “Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque trago no
corpo as marcas [cicatrizes] de Jesus” (Gálatas 6.18).
O apóstolo, neste ponto, chama o conflito de “luta livre”. Pois o
combate é peculiar, diferentemente daqueles dos homens em geral,
ou das guerras de Israel. Eles tinham que lidar com homens de
carne e sangue. E suas espadas iriam derramar, na morte, o sangue
de seus inimigos. Mas nossos inimigos não têm carne para ser
ferida; nem sangue para ser vertido. Nós precisamos de alimento e
sono; logo somos feridos e ficamos cansados dos esforços feitos.
É uma batalha de sentinelas e postos avançados; não é uma luta
regular de milhares ordenados e reunidos em um campo de batalha.
É uma guerra de mão a mão; qual lado fará o outro cair? Nossos
adversários não podem ser mortos.
Nossos inimigos não são comuns, mas são “principados e
potestades”. Quando os espias de Israel entraram em Canaã,
ficaram alarmados com a estatura e prodigiosa força de alguns dos
seus inimigos. “Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque[51]
são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios
olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos”
(Números 13.33). Mas nossos adversários são os anaquins, maiores
em dignidade antes que caíssem e mais formidáveis como
guerreiros; eles estão certos de prevalecer; mas a força do nosso
Deus agia do nosso lado.

“Dominadores deste mundo tenebroso” (Efésios 6.12). Há


dois campos nos quais eles têm poder: (1) na terra; e (2) no céu.
Grande é o seu poderio e prevalência sobre as nações durante
esses dias maus. Satanás manipula os governantes dos filhos dos
homens. Em Apocalipse 12, o dragão tem “sete cabeças e dez
chifres e, nas cabeças, sete diademas” (12.3). Dele são os reis de
reis, os grandes imperadores; dele os reis da terra são aliados. Sua
cauda arrasta consigo a terça parte das estrelas do céu. Ele engana
toda a terra. Ele estabelece os governadores do mundo para
perseguir a igreja de Deus. “Não temas as coisas que tens que
sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós,
para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel
até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2.10). Como
foram maravilhosos os passos da providência de Satanás contra Jó,
assim que Jeová permitiu que seu servo fosse tentado!
Nesta época de trevas, esses malignos governam. O poder de
Satanás é o das trevas, no qual antes éramos prisioneiros, mas
agora fomos transferidos para o reino de luz de Cristo.
“Contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”
(Efésios 6.12). Isto está em contraste com carne e sangue na terra,
e com os governadores da terra. Satanás e seus anjos estão lá em
cima, no céu. Lá eles estão maquinando e agindo contra a igreja de
Cristo. Lá eles planejam com toda a esperteza do intelecto e do
ódio. Dali eles lançam contínuas acusações contra os santos, dia e
noite (Apocalipse 12.10). A história de Paulo, como apóstolo
enviado pelo Espírito Santo, ilustra isto. Que turbilhão de fúria se
desencadeou sobre ele por ter expulsado um espírito mau de uma
escrava adivinhadora! Que tumulto foi levantado em Éfeso por
causa de seus ensinamentos contra a idolatria!
Mas alguns podem dizer: Satanás nos céus? Satanás está no
inferno!
Nossos tradutores evidentemente ficaram amedrontados com a
afirmação clara de Paulo aqui; por isso, traduziram para o grego
como “nas regiões celestes”. Mas a expressão já ocorreu quatro
vezes, e todas as vezes foi traduzida por “nos lugares celestiais”. Na
verdade, essa é uma das palavras-chave da epístola.
(1) Lá estão as nossas bênçãos (Efésios 1.3); (2) Lá Cristo, nosso
Senhor, está assentado à destra de Deus (1.20); (3) Lá estamos nós
assentados em Cristo (2.6); e (4) Diante dos poderes angelicais nos
céus, a igreja está estabelecida como objeto de Deus, para ensinar-
lhe a sua sabedoria (3.10).
O “Paraíso Perdido”, de Milton, deu total aceitação à ideia de que
Satanás já foi jogado no inferno. Mas, estranhamente, ele supõe
que o demônio tinha e tem poder para escapar da prisão! Será que
as prisões de Deus são menos seguras que as da terra?
Mas, pode ser dito, lemos: “Ora, se Deus não poupou anjos
quando pecaram, antes, precipitou-os no inferno, os entregou a
abismos de trevas” (2Pedro 2.4). E novamente: “E a anjos, os que
não guardaram seu estado original, mas abandonaram o seu próprio
domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o
juízo do Grande Dia” (Judas 6).
É verdade. Mas estes são uma segunda classe de anjos, que
pecaram depois da tentação de Satanás para Eva; e o pecado deles
foi muito diferente.[52]
O céu é o lugar nativo de Satanás, como anjo. Nas Escrituras, ele
é encontrado em apenas dois lugares: (1) no céu; e (2) na terra, até
que chegue o dia em que ele será lançado fora do céu. E isso é
apenas 1.260 dias antes de seu aprisionamento no abismo sem fim
(veja Apocalipse 12.20). Assim que essa ejeção para fora do céu
acontecer, a guerra contra a igreja acaba.
Mas, no momento ele está à solta, como o leão à vontade para
pegar suas presas. Como ele poderia tentar o Filho de Deus e levá-
lo de um lugar para outro, exceto se estivesse livre? De que outra
forma ele poderia peneirar os Doze? Como poderia lançar o anjo de
Esmirna na prisão? Como poderia entrar em Judas? Como poderia
aparecer diante de Deus como o acusador de Jó?
Enquanto Satanás está lá em cima, governando o mundo
invisivelmente, e enquanto tanto Cristo quanto Satanás não sejam
vistos, a guerra não é visível como são as da terra; mas é tão real
quanto. E Satanás está nas regiões celestes enquanto durar a
misericórdia de Deus, que é o testemunho da igreja.

Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que


possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido
tudo, permanecer inabaláveis (Efésios 6.13).

“Tomai a armadura” (Efésios 6.13). Você não tem que fazer a


armadura; ela é manufaturada por Deus e tem a garantia dele. O
imperador de Roma fornecia as armaduras para suas tropas? Deus
muito mais!
É a mesma panóplia para todos; para Paulo assim como para
nós. A panóplia de Deus é mencionada duas vezes. Uma vez como
sendo necessária para enfrentar as manobras de guerra de
Satanás; e a segunda vez para capacitar você a permanecer firme.
Você é chamado para resistir ao Maligno. E ele está sempre
alerta. Seis vezes ele é mencionado por nosso Senhor nas sete
epístolas do Apocalipse (2.9, 10, 12, 13, 24; 3.9).

“No dia mau” (Efésios 6.13). Muita coisa gira em torno de uma
interpretação correta desta expressão. Paulo não está visualizando
o dia mau como algo que possa sobrevir ao discípulo
inesperadamente. O dia mau já está aqui. Por isso, vista sua
armadura e use-a sempre. O adversário quer você! Permaneça
firme!
O que faz dele o dia mau? A maldade prolifera a despeito de se
tentar suprimi-la. Deus está atrasado ou foi posto de lado.
“Quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez,
mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho”
(1Tessalonicenses 2.18).
Os tempos são maus e Cristo nos livraria deles. Temos que
testificar contra o mundo que suas obras são más. Satanás
peculiarmente molesta a igreja, porque ela é Amada de Deus. Israel
está na incredulidade, as nações são dirigidas pelo Maligno. A
guerra é algo ruim e perdura por todo o tempo da igreja. O dia da
igreja é a Grande Tribulação, da qual a igreja escapará somente por
meio da ressurreição e ascensão até o trono de Deus (Apocalipse
7.9; 12; João 16.33).
Agora, o mundo busca, por meio de agrados e esquemas
plausíveis, seduzir a igreja para fora das bases em que Cristo a
estabeleceu; e agora, por meio de alarmes e aflições, tenta intimidá-
la. É o tempo da eleição da graça, e apenas alguns vêm das nações
para se unir às fileiras de Cristo.
É inútil imaginar que a igreja pode transformar “o dia mau” em “o
dia bom”. O dia da misericórdia não derrotará a maldade por meio
da força. “Deixai-os [o trigo e o joio] crescer juntos” (Mateus 13.29).
E a questão é que, tanto os cristãos como os simuladores, estão
amadurecendo: uns, para o celeiro; os outros para a fornalha.
Os inimigos mantêm nossa herança no alto, como os cananeus
mantiveram a terra da promessa contra Israel. E nós não
conseguimos expulsá-los. Cristo terá que fazer isso. O presente é “o
dia do homem” (1Coríntios 4.3). Aguardamos “o Dia do Senhor”, que
sozinho destruirá o inimigo.

“E, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”


(Efésios 6.13). Temos que nos revestir da armadura para podermos
resistir a Satanás, e não podemos ser seduzidos em nossas bases
por pretensões especiais; não podemos ser levados por elas. Tendo
feito nosso melhor para afastar os ataques, ainda devemos manter a
posição a nós designada pelo General da nossa salvação. A força e
a fraude são as grandes táticas de Satanás; contra estas devemos
nos defender. Não podemos, como fez Israel, empurrar a batalha
até os portões, ou tomar as cidades do inimigo. É uma batalha de
Waterloo. Aguardamos a chegada do grande General, e não
podemos obter a vitória enquanto Ele não tiver chegado. Ele nos
tirará dessa cena de conflito para si mesmo nas alturas.
Na história da igreja de Cristo, vemos como, pela força e por
artimanhas, a igreja tem, por séculos, sido levada para fora das
bases em que Cristo a estabeleceu; verdade após verdade tem sido
deixada de lado; erro após erro tem sido aceito!
O Salvador no Getsêmani chama os discípulos para vigiar e orar;
mas eles caem no sono. Quando o inimigo vem sobre eles, eles se
espalham, fogem e negam. O Salvador sozinho mantém suas
bases, contra o ridículo, as ameaças e a força.
É notável que o apóstolo não nos conduza para além do dia do
conflito para o glorioso dia no final.
Suponho que a razão seja que essa epístola trata do mistério, e a
vitória vem com o dia do julgamento, que é o tempo da
manifestação; vem em pânico para o pecador e em recompensa
para o santo. O Apocalipse nos diz que a sétima trombeta anunciará
o reino da glória e a recompensa.

Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e


vestindo-vos da couraça da justiça (Efésios 6.14).

Pela terceira vez neste capítulo somos chamados a estar firmes,


ou a permanecer firmes (Efésios 6.11, 13, 14). Nossa posição é
perfeita; não devemos nem avançar para além dela, nem retroceder.

“A verdade” (Efésios 6.14). A primeira peça da armadura é “a


verdade”. Isto não quer dizer a nossa veracidade, embora sejamos
chamados a “falar a verdade;” é a verdade de Deus, como nos é
apresentada em sua Palavra.
Que grande misericórdia podermos saber que a verdade agora
está do nosso lado, e é nossa salvação, uma vez que antes era
nossa condenação! A batalha, como no Éden, está entre a palavra
da verdade de Deus mantida e a palavra da falsidade de Satanás
recebida.

“A couraça da justiça” (Efésios 6.14). A justiça aqui não é a


nossa própria, pois essa está longe de ser perfeita, e Satanás
conhece muito bem os buracos na armadura e as articulações do
cinturão. Devemos, realmente, manter uma boa consciência ou não
conseguiremos permanecer firmes, como vemos no exemplo de
Israel na questão de Acã.
A justiça é a de Deus. Não significa a justiça de Deus como a
aplicada ao culpado em sua perdição. Significa a justiça que Deus
tem na obra perfeita de Cristo em nosso favor.
A justiça de Deus é perfeita; quando cingidos, ela cobre nosso
coração no dia da batalha. “Pois não me envergonho do evangelho,
porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê
[...]; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé,
como está escrito: O justo viverá pela fé. A ira de Deus [não a sua
justiça] se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos
homens” (Romanos 1.16-18).[53]
A que é nossa vestimenta como sacerdotes diante do Deus da
santidade torna-se nossa armadura, como soldados de Deus, contra
os ataques de Satanás. Não estamos nus agora, nem somos
inocentes, como estavam e eram nossos primeiros pais. A
consciência entrou em nós e exige justiça como nossa veste diante
de Deus. A nudez diante de Deus é a morte (Êxodo 20.26; 28.42;
32.25). Nossa justiça própria significa sermos expulsos do banquete
(veja Mateus 22.1-14).

Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz


(Efésios 6.15).

O cristão é chamado para ficar firme e manter sua base como em


oposição à novidade do pensamento moderno. “Todo aquele que
ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem
Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o
Filho” (2João 9).
Devemos primeiro receber o evangelho de Cristo, que nos traz
paz com Deus. O homem não pode trazer paz aos outros se ainda
não a encontrou em si mesmo. Mas, quando o evangelho é
recebido, ele faz com que o homem esteja disposto a transmiti-lo
aos outros.
Assim Davi, embora não tendo morada fixa na terra sobre a qual
fora ungido para reinar, foi enviado à Queila contra os filisteus
(1Samuel 23).
Assim que o Salvador foi proclamado Filho de Deus, Ele teve que
ir para o deserto para lutar contra o diabo. Depois da vitória obtida
ali, ele muda de um lugar para outro na terra. Quando está pronto
para sua ascensão, ele dá aos onze discípulos aquilo que o Duque
de Wellington chamou de “ordens para a marcha” (Mateus 28;
Marcos 16).
E Pedro é enviado a Cornélio; Paulo e Barnabé, às nações (veja
Atos 13). “Por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o
evangelho também a vós outros, em Roma” (Romanos 1.15).
As viagens de Paulo eram marchas ordenadas pelo Senhor Jesus
e eram projetadas para libertar os cativos de Satanás. Os servos de
Cristo não estão livres da batalha; consequentemente, não lhes é
permitido, como Israel depois de sete anos de guerra, ficar
acomodados sobre suas heranças.
Há uma dificuldade aqui, que eu menciono porque agora entendo.
(1) Os calçados militares eram parte do equipamento do soldado
romano. Napoleão, em suas campanhas iniciais disse aos seus
soldados que, porque eram poucos, eles deveriam ganhar as
vitórias por meio de suas pernas, em marchas forçadas. (2) Mas
como o entusiasmo interior responde ao calçado militar exterior ao
soldado? Como é a armadura entusiasta? É ataque em vez de
defesa.
A resposta é que a armadura, ou a parte exterior, é o “evangelho
da paz”, a paz que Cristo fez através da sua obra. O efeito interior
no crente é o entusiasmo para servir ao Senhor Jesus.

Embraçando sempre o escudo da fé, com o qual


podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno
(Efésios 6.16).
Esta peça da armadura são as doutrinas da fé cristã. Não é fé
interior, embora não haja paz com Deus nem batalha contra Satanás
até que as verdades sejam recebidas no interior. Mas a fé do cristão
está longe de ser completa. Esta é a verdade completa de Deus
proporcionada ao cristão nessa batalha. O escudo é uma defesa
móvel, acima das outras peças da armadura.

“Dardos inflamados” (Efésios 6.16). O objetivo de Satanás é


colocar nossa alma em fogo contra Deus e contra nossa própria
batalha. Ele gerou em Eva o desejo de desobedecer. Deus não foi
um tanto irracional ao colocá-los no Éden e depois proibir-lhes os
frutos? Assim, ele tenta nosso Senhor a ficar descontente com seu
Pai. ‘Como você pode ser o Filho de Deus e ser deixado aqui no
deserto entre as bestas feras sem nada para comer ou beber? Esta
é a conduta de um Pai para com seu Filho?’
Depois, ele tenta o Senhor a se afastar do seu Pai a fim de
ganhar, sem a cruz, as glórias da terra. Jesus replica por meio do
primeiro princípio de que a adoração e o serviço a Deus deveriam
ser prestados a Ele somente e de todo o coração.

Tomai também o capacete da salvação e a espada do


Espírito, que é a palavra de Deus (Efésios 6.17).

“Tomai” (Efésios 6.17). Aqui, uma palavra diferente é usada. Se


supusermos que há sete peças na armadura, esta distingue as três
últimas das quatro primeiras.
O capacete não deve ser forjado por você mesmo, mas a
salvação deve ser aceita como um presente de Deus para você. “O
dom [presente] gratuito de Deus é a vida eterna” (Romanos 6.23). A
segurança da salvação é um bom começo para a batalha. “Pela
graça sois salvos, mediante a fé” (Efésios 2.8).
Israel estava temeroso até que eles viram “a salvação de Deus” e
seus adversários afogados. Foi um bom presságio com o qual
começar a jornada deles no deserto.
Assim, cristão, é com você. Você tem o dom; vá e ganhe a coroa!
(Apocalipse 3.11). Embora muito possa se perder por causa da
desobediência, Deus certamente dará a você a vida eterna. A
salvação, como dom de Deus, é uma peça usada na cabeça nesta
guerra. Tão logo o ungido Davi ficou abatido — “Um dia destes
perecerei nas mãos de Saul” —, ele rompe com sua ancoragem na
Palavra de Deus e mergulha em dificuldades e problemas.

“E a espada do Espírito” (Efésios 6.17). Esta é a peça principal


da armadura ofensiva. É forjada pelo Espírito; é uma armadura
espiritual, oposta às armas do guerreiro da carne. Foi com essa
arma que nosso Senhor venceu a luta contra Satanás. Aquele que
duvida ou que nega a inspiração das Escrituras não pode lutar
contra o Maligno. O que pode um guerreiro fazer quando ele
derrubou sua espada ou alguém a arrancou da sua mão? Eva a
princípio respondeu a Satanás: “Do fruto da árvore que está no meio
do jardim, disse Deus, dele não comereis, nem tocareis nele, para
que não morrais” (Gênesis 3.3). Ela tanto acrescentou à Palavra
quanto a reduziu. No próximo ataque, o inimigo deturpou o que fora
dito, insinuando: “É certo que não morrereis” (v. 4). Imediatamente
Eva começou a procurar o fruto proibido e perdeu a batalha. Cristo
se apega fortemente à Palavra de Deus escrita e o dragão foi
obrigado a fugir.

“Que é a palavra de Deus” (Efésios 6.17). Alguns foram tão


longe em sua incredulidade a ponto de negar que a Escritura é a
Palavra de Deus. Há palavras de Deus nela, mas, no todo, ela não é
a Palavra de Deus. A porta está aberta para cada um escolher ou
rejeitar tanto quanto desejar. Sobre o que contenderemos? Com
qual arma devemos contender? Em que devemos nos embasar
como padrão da verdade? “Toda a Escritura é inspirada por Deus e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Timóteo 3.16).
A Escritura tem dois serviços nessa guerra: (1) confirmar para nós
que estamos descansando em Deus; (2) vencer Satanás, que nos
levaria à rebelião e perdição.

“A palavra [ρημα] de Deus” (Efésios 6.17). A expressão usada


significa porções destacadas da Escritura, tais como os textos
empregados pelo Salvador, partindo do que tinha em mãos e
resolvendo-o.
Mas quando a Escritura como um todo é mencionada, outra
palavra grega é utilizada.
Ao batismo pertence o texto breve “No nome do Pai” (Aí é usado
ρημα). Mas, onde a Escritura é vista em sua inteireza, a outra
palavra é utilizada. “De acordo com a dispensação da parte de
Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno
cumprimento à palavra de Deus” (Colossenses 1.25).
A Palavra de Deus pode ser falada ou escrita, mas em cada caso
deve ser anunciada por um homem inspirado. “E lhe pregaram [ao
carcereiro] a palavra de Deus e a todos os de sua casa” (Atos
16.32). “Aconteceu que, ao apertá-lo [a Cristo] a multidão para ouvir
a palavra de Deus [falada]” (Lucas 5.1; 1Tessalonicenses 2.13). “E
não pensemos que a palavra de Deus [escrita] tenha falhado”
(Romanos 9.6; Marcos 7.13).

Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no


Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e
súplica por todos os santos e também por mim; para que
me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com
intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho
(Efésios 6.18-19).

A oração é um discurso para Alguém lá em cima, formulado por


nosso senso de fraqueza. Assim, trazemos a força de Deus para
nós mesmos e contra o inimigo. A oração é necessária o tempo
todo, pois a guerra se desenrola durante todo o dia mau.
Vários são os tipos de oração, em particular ou em público, a sós
ou com companhia, com palavra falada ou o levantar silencioso do
coração. Oração para o que é necessário neste momento; e súplica
por alguma coisa que pode não acontecer até daqui a anos.
A oração deve ser “por todos os santos” (Efésios 6.17). Nós
conseguimos ser egoístas na oração, pensando somente em nossas
necessidades ou nas necessidades daqueles ao nosso redor. Mas
Deus nos lembra de toda a igreja dele. Um é o corpo, um é o
Espírito, uma é a esperança da nossa dispensação.
Deveria haver oração especial também por aquele que o Senhor
havia escolhido para levar essa importante mensagem. Ele
precisava de intrepidez. Agora ele foi aprisionado pelo governador
do mundo, que foi rápido para se ressentir de qualquer invasão
imaginada do seu reino e dos seus direitos. Ele foi observado. Uma
sentinela foi designada para ficar de olho nele noite e dia. E uma
única palavra descuidada poderia enfurecer o imperador, quando,
falando humanamente, não havia nenhuma proteção contra a morte
imediata. Portanto, havia perigo, a não ser que, por causa do medo,
ele se mantivesse recuado, ou reservasse parte da sua mensagem.
Paulo tinha que falar sobre o mistério do evangelho, um segredo
de Deus, o único caminho para a paz para os judeus e os gentios.
Era um tema particularmente detestável para os judeus. Dessa
forma, ele estava entre dois fogos, como nosso Senhor entre os
fariseus e os herodianos na questão do pagamento do tributo. Por
isso, ele desejava a sabedoria de Deus bem clara para testificar,
com a habilidade de responder às inquirições e derrubar as
objeções.

Pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em


Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo
(Efésios 6.20).

O cristão não deve esperar grandes coisas neste mundo. O


Principal Embaixador de Deus para as nações foi tratado como um
criminoso por aqueles para quem ele fora enviado com as boas
novas de tanta graça; e ele mesmo era inocente de todo e qualquer
crime.
Como Deus foi paciente, sim, e é, em permitir tamanha
provocação e não punir os culpados imediatamente! Era uma
mostra da graça de Deus no evangelho. Não era assim debaixo da
lei. Quando Corá, Datã e Abirão se levantaram contra Moisés e
Arão, e Moisés clamou a Deus contra eles, a defesa desses oficiais
de Deus, junto com a destruição dos seus oponentes, veio
imediatamente.
Grande também foi a graça de Paulo para suportar as tribulações
em sua embaixada. Forte era a tentação de desistir de um negócio
tão cheio de sofrimentos; ou, se ele ainda resistisse, como lhe seria
difícil falar obscuramente, ou para omitir aqueles pontos contra os
quais o estresse do desprazer do mundo estava pulsando!
Ele deveria, como embaixador, falar francamente, e o dever o
guiaria: (1) dever para com os pecadores das nações, e para com
os governantes delas; (2) dever para com a igreja; (3) dever para
com o Filho de Deus, que o havia comissionado.

E, para que saibais também a meu respeito e o que faço,


de tudo vos informará Tíquico, o irmão amado e fiel
ministro do Senhor. Foi para isso que eu vo-lo enviei, para
que saibais a nosso respeito, e ele console o vosso
coração (Efésios 6.21-22).

A crença de que essa epístola era uma circular cresceu dentro de


mim com o estudo realizado de Efésios e também de Colossenses.
As palavras “para que saibais” não têm uma designação especial
de pessoas aqui, da forma que Paulo costumava fazer. “Para vós
outros, ó coríntios, abrem-se os nossos lábios e alarga-se o nosso
coração” (2Coríntios 6.11). “Ó gálatas insensatos! Quem vos
fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto
como crucificado?” (Gálatas 3.1). “E sabeis também vós, ó
filipenses, que no início do evangelho...” (Filipenses 4.15).
O estado de coisas era provavelmente o seguinte: Tíquico era o
portador de duas cartas, uma era para Colossos e a outra era uma
circular. Uma estava diretamente endereçada aos colossenses; a
outra deveria ser lida em vários lugares antes que fosse entregue ao
portador, com a ordem em que as igrejas deveriam ser visitadas. A
Epístola aos Colossenses foi escrita primeiro, uma vez que a
emergência era forte. Isto também a levaria a ser entregue primeiro.
Mas, alguém dirá, a outra epístola, se não se perdeu, já estava
em Laodiceia antes que a dos colossenses tivesse chegado.
Eu explico isso através de uma olhada no mapa. Se Tíquico
desembarcou em Mileto, parece que Laodiceia ficava na rota para
Colossos. Ele pode ter sido instruído a deixar ali a circular no seu
caminho para Colossos, pois aos colossenses é solicitado que deem
as saudações do apóstolo para a assembleia em Laodiceia, embora
a circular tenha chegado a Laodiceia antes que a Epístola aos
Colossenses chegasse a Colossos. Isto é muito fácil de explicar se
a Epístola aos Efésios, assim chamada, for a carta deixada em
Laodiceia, porque não há saudações enviadas a nenhuma igreja na
circular (ou na Carta aos Efésios).
Suponho, então, que Tíquico, depois de cumprir as ordens do
apóstolo, como mencionado em Colossenses 4.7-8, iria adiante para
as igrejas cujos nomes haviam sido passados para ele, terminando
provavelmente em Éfeso. Lá, finalmente, a carta original, tendo sido
copiada em cada uma das igrejas intermediárias, seria deixada.
Esta seria a razão por que é chamada “Epístola aos Efésios”. E, se
não me engano, a presente inscrição, se você remover as palavras
“em Éfeso”, tem a marca de ser uma circular. As palavras “em
Éfeso” são omitidas em dois importantes manuscritos. Vários dos
pais testificam que, no tempo deles, algumas cópias omitiam as
palavras de designação a Éfeso.
Ora, quando as palavras são deixadas fora, temos, creio eu, a
verdadeira inscrição da epístola. “Paulo, [...] aos santos e fiéis em
Cristo Jesus”. Ou seja, é uma epístola geral, com o objetivo de
abraçar todos os crentes desta dispensação. Nessa epístola geral,
ficamos sabendo que Tíquico deveria dar aos recebedores da
circular, oralmente, todas as notícias sobre Paulo. Mas, na Epístola
aos Colossenses, o apóstolo afirma que o portador deveria também
saber trazer notícias deles para o apóstolo, pois, nesse ponto, o
apóstolo, ciente dos perigos que os estavam ameaçando, sentia um
vívido interesse.

Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus


Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os
que amam sinceramente a nosso Senhor Jesus Cristo
(Efésios 6.23-24).

Como o apóstolo não estava ciente dos diferentes estados das


igrejas, ele deseja que Deus as mantenha em paz.
Na abertura da epístola, ele fala da fé e do amor deles. Agora, ele
deseja para eles “amor com fé” da parte do Pai e do Filho.
Paulo conclui com um sentimento que pode ser entendido de
duas maneiras diferentes.

“Sinceramente” (Efésios 6.24). Algumas versões bíblicas trazem


no lugar de “sinceramente” as palavras “com incorrupção” (cf. NVI;
TB: “com amor incorruptível”) em referência aos crentes. Mas, não é
um verdadeiro princípio de tradução que, quando dois modos de
traduzir são igualmente adequados aos princípios da gramática, a
ordem do grego deve decidir qual modo foi a intenção do autor?
A tradução que resulta desse princípio será “com incorrupção”, ao
Senhor Jesus. E este sentimento parece-me ter evidente
superioridade ao outro. Como o amor a Cristo pode ser de outro
modo que não sincero, não vejo. Não há vantagens temporais nem
sinistras a serem derivadas do Senhor Jesus. Os homens podem
amar as pessoas não sinceramente, quando estão interessados em
tirar proveito delas na terra. Mas Cristo está nas alturas, e o amor a
ele não conhece a falta de sinceridade derivada de considerações
mais baixas e mundanas.
Se for assim, então o sentimento será: “A graça seja com todos
aqueles que amam o Senhor Jesus Cristo ressuscitado, nos céus,
vivendo a vida eterna em um corpo imortal; já não mais em carne e
sangue, como foi em seu primeiro aparecimento”. Ele é “com
incorrupção”. O significado é paralelo às palavras de Paulo em
Antioquia da Pisídia: “Deus o ressuscitou dentre os mortos para que
jamais voltasse à corrupção” (Atos 13.34). E novamente: Ele foi
constituído sacerdote “não conforme a lei de mandamento carnal,
mas segundo o poder da vida indissolúvel” (Hebreus 7.16).

Louvado seja o Senhor pelos ricos tesouros de sua graça


mostrados a nós, gentios, nessa epístola! Nós pertencemos à igreja,
a assembleia de Deus; e a igreja, o corpo de Cristo, nos tempos de
glória que estão por vir, não possui quem se iguale em suas
bênçãos, todos estes dons da graça de Deus para nós, em seu
Filho! Vamos, continuamente, agradecer e andar nos caminhos de
Cristo!
 
 
[1]​No original grego, επουρανιοις.
[2]​Não é
a mesma palavra grega: Lá é χρονου e aqui é καιρων.
[3]​Esta festa era, se não me engano, um passo em direção à restauração do Éden
perdido — no fruto das árvores, abundância, a habitação não em uma casa, mas debaixo
de árvores, descanso, segurança e regozijo (Ez 34.25).
[4]​É claro que ao nomear Cristo como “o Arcanjo” e “o Anjo-Jeová”, o autor não está
se referindo a Cristo como arcanjo ou anjo criado. Ele o nomeia assim pelo fato de a
palavra “anjo”, tanto em hebraico quanto em grego, não designar a natureza, mas sim o
ofício que um ser está ocupando. Pelo fato de trazerem mensagens de Deus, os espíritos
ministradores são chamados de anjos, ou seja, mensageiros. E muitas vezes, no Antigo
Testamento, Cristo, a segunda Pessoa da santíssima Trindade, era chamado de Anjo de
Jeová (Gn 22.11; Êx 3.2, 6; Jz 2.1; 13.16-18 etc.), ou até de Anjo-Jeová (Malakh Yehovah,
Zc 1.11-12, lit. hebraico). Devido ao fato de, nas suas chamadas “aparições teofânicas”,
Cristo estar no ofício de mensageiro divino, sendo o mais excelente representante da
vontade e da mensagem ordenada pelo Seu Pai e por ser o Logos divino que sempre
esteve com o Pai, sendo a expressão exata do Pai (cf. Hb 1.3), Ele, mais do que qualquer
anjo criado, pode revelar o Pai e Sua vontade com exatidão nunca alcançada por nenhum
outro anjo. E é só por conta disso que Ele é devidamente chamado de “Anjo”. Mas nunca
por tratar-se de um anjo criado. (N. E.)
[5]​
N. da T.: Ou seja, terra de Israel.
[6]​Não há o artigo defino no original grego.
[7]​
N. da T.: Empresa de ourivesaria fundada em Londres em 1327.
[8]​Esta leitura: “os olhos do vosso coração” é mesmo a melhor.
[9]​ Isto está confirmado pelo versículo 11: “Nele, digo, no qual fomos também feitos
herança”.
[10]​Atos 7.38: “Na congregação [assembleia] no deserto”, termo traduzido por “igreja”,
por isso muitos falam da igreja do Antigo Testamento. Não era uma igreja, uma eleição
entre muitas nações, mas uma nação na carne, enquanto que no deserto era a assembleia
de Deus na terra.
[11]​“Complemento”, segundo o dicionário Webster, é “quantidade completa ou número
completo, quantidade ou número limitado, como uma empresa tem seu complemento de
homens, um navio tem seu complemento de provisões”. [N. da T.: Na ARA consta
“plenitude”.]
[12]​
N. da T.: John Bradford (1510-1555), reformador inglês, foi preso por supostos
crimes contra Mary Tudor. Foi queimado em 1555. Há uma tradição do século XIX que
atribui a Bradford a expressão supracitada, significando que ele sabia que os mesmos
princípios do mal estavam em seu próprio coração e que os mesmos levaram o criminoso a
um fim vergonhoso.
[13]​ Como o artigo ocorre duas vezes no original grego, não deveríamos traduzir
“mortos nos delitos e nos pecados, nos quais andastes outrora” (Efésios 2.1b-2a)?
[14]​
N. da T.: Ou seja, terra de Israel.
[15]​Traduzido por “Diana”, o equivalente na língua romana da palavra grega “Ártemis”.
[16]​

ארץ‬areyz, significa “terra”; e ‫
אם‬am, significa “mãe”, por conseguinte,
Art-am.
[17]​Várias palavras no hebraico são usadas para referir-se a esta criação, traduzidas
nas diferentes versões bíblicas por: “fez”, “criou”, “formou”, “modelou”.
[18]​ Pode a palavra διαθηκη ser traduzida por “aliança” ou “testamento”? Pode,
dependendo do contexto. Uma aliança é a obediência do homem atestada pela justiça. Um
testamento é a distribuição que o homem faz dos seus bens, em graça. Por conseguinte, a
tradução aqui deveria ser “testamento” (cf. ARC), visto que é a determinação final de
Cristo.
[19]​ Diferentes, todavia bem adequados em seus lugares são os dois particípios
gregos λυσας e καταργησας, respectivamente. A lei, no dia por vir, será restaurada à sua
atividade (Malaquias 4.4-6; os capítulos finais de Ezequiel).
[20]​ Observemos novamente que a afirmativa “em um só corpo com Deus, por
intermédio da cruz” está entre (1) “reconciliasse ambos” e (2) “destruindo por ela a
inimizade” (Efésios 2.16).
[21]​ A libertação dos santos que partiram é mencionada de outra maneira e em
conexão com a cruz do Salvador, em Colossenses 2.14-15.
[22]​Observemos que em Efésios 2.18 temos a mesma notável divisão de blocos de
palavras, embora em posição diferente. “Por ele, ambos temos acesso”, depois, no meio,
“em um Espírito”, e, no fim, “ao Pai”, que é o nosso objetivo.
[23]​
A expressão grega claramente confirma que o nome “cristãos” (Atos 11.26) foi
concedido divinamente. Foi concedido por um oráculo de Deus.
[24]​
N. da T.: H. Alford (1810-1871) foi teólogo, erudito, poeta, hinógrafo e escritor
inglês.
[25]​ Como provas disso, leia os salmos e os profetas do Antigo Testamento. Veja o
final do Salmo 22 e do Salmo 72; veja Isaías 11, 24, 60 e 61.
[26]​Não é a “comunhão” do mistério.
[27]​As palavras “por Jesus Cristo” (constam na ACF) não são genuínas, creio eu. Elas
têm um ar de explicação, projetado para conciliar outras declarações.
[28]​É τεκνα e não ηιοι. Υιοθεσια é a abordagem mais próxima a isso (Efésios 1.5).
[29]​
N. da T.: Trecho de um hino de um hinário antigo.
[30]​Esta é uma leitura variante: “Na igreja e em Cristo Jesus” (ARA). Este é um dos
exemplos em que a incredulidade do homem embota, até onde ele ousa, o gume afiado
das fortes afirmativas da graça de Deus. A incredulidade do homem faz separação entre
Cristo e o seu corpo, a igreja; enquanto que o objetivo de Deus é mostrar-nos a união
perfeita e eterna entre o Cabeça e o corpo do Cristo místico. “Serão os dois uma só carne”
(Marcos 10.8).
[31]​A frase “as nações dos salvos” (Apocalipse 21.24, ACF) não é expressão genuína
no original grego.
[32]​
N. da T.:
A High
Church (Igreja Alta) refere-se a crenças e práticas de eclesiologia,
liturgia e teologia, com ênfase na formalidade e resistência à “modernização”. É o oposto
da Low
Church (Igreja Baixa), que diz respeito aos anglicanos que dão relativamente pouca
ênfase aos rituais, sacramentos e, às vezes, à autoridade do clero; é termo mais
frequentemente usado em contexto litúrgico. A
Broad
Church (Igreja Ampla) é uma tradição
ou grupo na Igreja da Inglaterra, em particular, e no anglicanismo, em geral. O termo
descreve os anglicanos que opinam por seguir a Via media (o caminho do meio), afirmando
ter uma posição intermediária entre protestantes e católicos em relação à doutrina e
comunhão. (Fonte: Wikipédia.)
[33]​Como em Atos 8 e 19.
[34]​Muito tem sido escrito sobre esta frase, por ela não estar justificada em hebraico.
Deveríamos ler, por transposição das letras ‫הלקת‬. A prova de que assim estava no original
é que ‫ בארם‬não dá um bom sentido agora, então seria lido como deveria ser. “Tu
distribuíste dons entre os homens”. Suponho que ελαχες era a leitura original da
Septuaginta. Portanto, no tipo, ‫ הלק‬é usada duas vezes (2Samuel 6.19; 1Crônicas 16.3).
[35]​
A frase “levou cativo o cativeiro” é vista de relance, creio eu, em Colossenses
2.15.
[36]​A palavra grega usada μυημειον não significa sepultura, mas algum monumento
testificando dos mortos ali depositados.
[37]​Χρηματισαι.
[38]​Essa descida
às regiões inferiores da terra e a subida às alturas (Efésios 4.8-9)
referem-se à profundidade e a altura mencionadas em Efésios 3.18. Ambas mostram
simultaneamente o amor de Cristo e a nossa herança. Remete-nos, talvez, a Josué 1.3.
[39]​“Paraíso” é a palavra grega traduzida do hebraico “Éden”.
[40]​Proponho ainda dar o nome de Efésios à epístola usualmente assim chamada, a
despeito da convicção de que esta era uma epístola geral.
[41]​Veja também Gálatas 3.25; 4.5; 5.18.
[42]​Os que forem continuar o assunto devem recorrer ao meu livro
Entrance into the
Kingdom, or The Christian Doctrine of Good Works (A Entrada no Reino ou A Doutrina
Cristã das Boas Obras).
[43]​Creio que essa é a verdadeira leitura dessa difícil passagem.
[44]​ Esta certamente é a leitura correta. Em vez de “fruto do Espírito” (ARC), as
melhores autoridades leem “fruto da luz” [como já consta na ARA]. Há certa dificuldade
gramatical sobre considerar φανερουμενον como voz ativa; mas há dificuldade maior
quanto ao sentido, se for considerada como voz passiva.
[45]​Talvez haja uma referência posterior a Salmo 118.27; Isaías 51.17; 52.1-2.
[46]​Χρηματισαι.
[47]​ Veja o assunto tratado completamente no meu livro “A Profecia no Monte das
Oliveiras”.
[48]​
O leitor que tem dúvidas, leia os Evangelhos de Mateus e Marcos. Existe ali
alguma descrição da vinda de Cristo sem que haja um sentença para os servos ofensores?
(Mateus 5, 7, 8, 16, 17, 18; e o meu livro “A Profecia no Monte das Oliveiras”).
[49]​Esta parte é omitida no Manuscrito do Sinai, como em muitos outros exemplos,
quando ocorrem declarações que exigem fé especial, omitem-na; e, assim, supera-se a
dificuldade.
[50]​ Daí veio a Heebee dos pagãos. Ela derramou para os deuses o néctar, “o
perfumado”.
‫גקטר‬.
[51]​Dos “anaquins”, com o artigo egípcio prefixado, vêm Fenícia, “a terra dos gigantes,
filhos de Anaque”. Daí também vem “Agamenon, um Anaque de homens”, de Homero. Um
αναξ, rei.
[52]​Para mais informações, veja o meu tratado “Os Espíritos em Prisão”.
[53]​ Aqueles que quiserem saber mais sobre este assunto (obscurecido nos últimos
anos pela falsa doutrina de Darby) estão convidados a ler o meu tratado “The Gospel’s
Righteousness of God” (A Justiça de Deus no Evangelho).

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