Comentario de Efesios - Robert Govett
Comentario de Efesios - Robert Govett
Comentario de Efesios - Robert Govett
Robert Govett
Escriba do Reino
Título do original em inglês: What is the Church? Or The Argument of Ephesians.
Publicado originalmente em Londres, 1889. Domínio público.
Salvo indicação específica, as referências bíblicas citadas neste livro foram extraídas
da Almeida Revista e Atualizada, edição de 1993 (Barueri: SBB, 1993).
1. - Comentários"
data-codigo-assunto="614957">Bíblia. N.T. Efésios -
Comentários I. Título.
22-137555
CDD-227.507
Sumário
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
Romeu Bornelli
APRESENTAÇÃO
Delcio Meireles
CAPÍTULO UM
O Cabeça
CAPÍTULO DOIS
O Corpo
CAPÍTULO TRÊS
A Mensagem
CAPÍTULO QUATRO
Os Dons que Edificam o Corpo
CAPÍTULO CINCO
A Conduta Apropriada
CAPÍTULO SEIS
Relacionamento e Armadura
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
Robert Govett (1813-1901) foi um erudito bíblico britânico e um
pastor independente, denominacionalmente falando, em Norwich,
Norfolk, Inglaterra.
Esse renomado mestre das Escrituras sagradas entendia que elas
deviam ser constantemente examinadas e estudadas, e, quando
houvesse nova luz, nossa responsabilidade seria “andar de acordo
com o que alcançamos” (Filipenses 3.16).
Sua dedicação ao estudo das Escrituras e seu desejo de
conhecer e servir a Deus integralmente foram tão completos que ele
decidiu não se casar; e assim viveu até que o Senhor, a quem ele se
devotou com tanto amor, o levou para a Sua casa.
Ele exerceu um ministério grandemente reconhecido, na segunda
metade do século XIX, e foi sucedido em seu pastorado na Surrey
Chapel, em Norwich, por D. M. Panton. Alguns nomes conhecidos
como Evan Hopkins e Margaret Barber também estavam entre os
que frequentaram essa congregação durante o pastorado de Govett.
Govett parece ter sido realmente o “cabeça de escola”, quando se
trata de questões como o arrebatamento parcial dos santos antes da
grande tribulação e o tribunal de Cristo com suas implicações
relativas ao reino milenar e à herança, ou galardão, que seria o
prêmio dado aos santos que forem fiéis em viver uma vida
agradável a Deus e um serviço que honre o nome do Senhor. Estes
aspectos são os mais relevantes em seus escritos.
Neste notável Comentário de Efésios, os traços de originalidade,
dedução lógica, revelação e percepção espiritual aguçada são
claramente observados em sua exposição.
O capítulo 3, que trata da mensagem central da epístola, é de
especial importância no desvendar do “mistério oculto dos séculos e
das gerações”, ou, como Paulo o denomina em Romanos, “o
mistério guardado em silêncio nos tempos eternos” (Romanos
16.25).
Ali, Govett expõe o que ele chama de “riquezas não rastreáveis
de Cristo” e a “economia do mistério” em dois aspectos (um deles
relacionado à terra e o outro relacionado ao céu), como sendo um
“grande sistema planejado por Deus”, sendo Paulo o vaso
especialmente escolhido para expô-lo!
Ao expor a segunda oração de Paulo nesta carta (3.14-21),
Govett a chama de “a porção mais difícil desta profunda epístola”, e
ele o faz como tendo o motivo de destacar “a igreja de Cristo como
a herança eterna de Deus”.
Finalmente, a contribuição de Govett, especialmente ligada ao
assunto do reino vindouro e à necessidade que os santos têm de
serem transformados à imagem de Cristo, avançando em direção à
maturidade espiritual, foi realmente singular, não apenas em seu
tempo, mas estabeleceu uma base sólida que continua a impactar e
instigar as almas dos redimidos do Cordeiro para que vivam uma
vida santa e agradável a Deus, e para que juntos alcancem a
estatura do varão perfeito.
Que nosso amado Deus, Aquele que é “o galardoador dos que o
buscam”, possa em sua fidelidade e misericórdia usar esta obra,
agora traduzida ao português, para o aperfeiçoamento dos santos a
fim de que desempenhem o seu serviço para a edificação do corpo
de Cristo.
Delcio Meireles
Jaguariúna – SP, novembro de 2022
CAPÍTULO UM
O CABEÇA
É
É “o Espírito Santo da promessa” (Efésios 1.13). Foi prometido
para Israel por meio de Isaías: “Porque derramarei água sobre o
sedento e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito
sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus
descendentes” (Isaías 44.3). Foi amplamente prometido para Israel
e para os servos de Deus desta dispensação, por meio de Joel,
como citado por Pedro: “E acontecerá nos últimos dias, diz o
Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e
sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as
minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e
profetizarão” (Atos 2.17-18).
2. Ele foi prometido pelo nosso Senhor mais de uma vez (João
7.37-39). Quando estava deixando a terra, Jesus testificou sobre o
Espírito para os Onze (Lucas 24.49; Atos 1.4). Eles só deveriam
espalhar a mensagem do evangelho depois que o Espírito Santo,
como o espírito de poder e de sabedoria, viesse sobre eles. Ele foi
apresentado como prêmio e sinal de perdão para aqueles que foram
tirados da incredulidade do mundo. Não sendo mais seus inimigos,
Ele se lembraria deles no seu reino.
Finalmente, Paulo não somente ensinava como apóstolo, mas, na
realidade, e como questão de história, ele o transmitia aos crentes
através da imposição de mãos.
2. Mas a Escritura também fala muito da era que virá. Será o dia
da glória para Cristo e para o seu povo, se aprovado por ele. É a era
dos mil anos, a manifestação do Filho de Deus e seus amigos, que
vêm com ele. Depois dos sofrimentos de Cristo, virá o tempo das
glórias.
“Por causa do grande amor com que nos amou” (Efésios 2.4).
Compaixão diz respeito à remoção da aflição. E que grande
benefício seria se o sofrimento fosse removido e sua existência
fosse removida com ele.
Mas Deus tem amor também. Ele não está satisfeito com a
remoção da aflição. Ele concede bênção positiva e eterna aos
objetos de sua compaixão e favor. Quão grande é o amor que faz
dos escravos rebeldes, filhos, ligados por Ele ao seu divino Filho, o
Cabeça de toda a dignidade, mérito e exaltação.
“Do grande amor com que nos amou” (Efésios 2.4). Não foi o
amor genérico da compaixão de Deus pelo mundo culpado que
enviou a mensagem do Evangelho. Os homens podem tolerar o
amor de Deus por todos os homens igualmente, e a escolha de
alguns por causa da bondade deles. Mas a eleição da graça, por
meio da qual alguns, não sendo possuidores de qualquer
recomendação em si mesmos, são escolhidos para a vida eterna, é
odiosa aos olhos deles.
Aqui Paulo coloca os eleitos das nações, tanto judeus quanto
gentios, no mesmo patamar. Ele amou, não a vocês, como se só os
gentios precisassem, mas a nós. Nós estávamos mortos em nossas
transgressões.
Como uma vida espiritual pode vir para aqueles que estão
espiritualmente mortos? Apenas de fora. Ela vem do Deus da
misericórdia, não por merecimento, mas como dádiva. Ela não
encontrou em nós nenhum movimento em direção ao que é bom.
Ela vem através da união com o Cristo, “Filho do Homem e Filho de
Deus”. Deus deu vida a Cristo, enquanto Ele estava entre os mortos
no Hades. Nós obtemos vida ao sermos unidos a Ele, que é a
ressurreição e a vida.
Aqui, encontramos três palavras compostas com “juntamente”: (1)
juntamente com Cristo, Ele nos deu vida (Efésios 2.5); (2)
juntamente com Cristo, Ele nos deu a ressurreição (Efésios 2.6a); e
(3) juntamente com Cristo, Ele nos deu um assento nos lugares
celestiais (Efésios 2.6b). Como a nossa primeira posição é morte em
relação a Deus, Ele, em misericórdia, primeiro nos concede vida. E
onde há vida espiritual, há salvação; não meramente um novo
julgamento com uma boa chance. Como dotados de vida espiritual
para com Deus em Cristo, a salvação já é nossa. Aqueles que estão
vivos para Deus viverão para sempre com Deus.
Muitos são lentos para crer em coisas grandiosas tais como o
amor de Deus para conosco. Eles acham que os homens são
somente colocados em um julgamento vantajoso, para ganhar a
salvação por meio de boas obras. Citam com aprovação, como que
expressando suas opiniões, o versículo: “Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”
(Atos 2.47). “É o particípio presente”, dizem eles. Mas o que você
diz dos dois particípios presentes em Efésios? “Pela graça sois
salvos [e vós continuais assim]” (Efésios 2.5). “Pela graça sois
salvos, mediante a fé” (Efésios 2.8). Que os salvos deem toda a
glória à graça! À graça de Deus! A carne do homem não tem
nenhum proveito.
Observemos que não diz “no século vindouro”, mas “nos séculos
vindouros”. Isto teria mostrado que a glória milenar foi algo
concedido a todos os crentes. Mas o dia milenar é de recompensa
pelas obras, enquanto os séculos seguintes são da graça. Deste
modo, testifica o livro da vida, produzido depois que o milênio tiver
terminado, quando o restante dos mortos, não considerados dignos
do reino, ressuscitarem. Haverá mudanças nos tempos da
eternidade, mas nenhuma variação na misericórdia e no amor de
Deus para com aqueles amados por Deus em Cristo. Nós somos
estabelecidos em Cristo por meio da graça e do amor de Deus. Há
um tempo omitido, o milênio, no qual Cristo recompensa cada um
“conforme as suas obras” (Mateus 16.27; Apocalipse 22.12).
Mas, os tempos sem fim da eternidade, ondas de um mar infinito
fluirão para nós em graça. Pertencemos ao céu e a Cristo, não mais
a Adão nem à sua terra ou à busca do “dia do homem”. Somos
homens de fé, aguardando o cumprimento da Palavra de Deus; e,
em consequência, somos rejeitados pelo mundo e pelos homens
racionais.
“O dom gratuito de Deus é a vida eterna” (Romanos 6.23). E a
eternidade será um campo grande o suficiente para mostrar os
tesouros da graça. Tudo isto se volta para nossa união com Cristo,
seu Amado Filho. O amor de Deus para com o Cabeça fluirá em
novas visitações de bondade aos membros do seu corpo, a igreja.
A IGREJA EM
RELAÇÃO À LEI
Mas, como alguém pode se livrar da obra anterior de Deus sob
Moisés, tendo escolhido um povo para si dentre as nações e ligado
consigo por meio de aliança? Como pode a doutrina da “sem
diferença” ser estabelecida, enquanto permanecem as diferenças
que a lei fez entre Israel e as nações em geral?
A próxima seção da epístola trata desta grave questão.
CONSEQUÊNCIAS DA
NOVA CRIAÇÃO
As antigas promessas para a carne e para a terra ainda
pertencem a Israel, e será deles no milênio, quando retornarão o
antigo templo e os antigos ritos de Moisés.
AS DUAS DIMENSÕES
DE EFÉSIOS 2
No final deste capítulo 2, eu apresento algumas visões
interessantes relativas às suas duas principais divisões. A primeira
parte ocupa-se dos dez primeiros versículos; a segunda, do restante
do capítulo. O encerramento do capítulo 1 ocupa-se do descortinar
para nós da elevação de Cristo Jesus acima de todo dignitário e de
todo nome. Isto corresponde ao cenário do primeiro homem acima
de toda a terra e suas criaturas. A supremacia de Cristo, o Ungido,
deve durar nesta era atual e no tempo do milênio (ou o sétimo dia).
Como Adão deveria ter domínio sobre toda a terra e subjugá-la,
assim também Deus “pôs todas as coisas debaixo dos pés” de
Cristo. Deste modo, Deus deu-o, “o cabeça sobre todas as coisas”,
“à igreja, a qual é o seu corpo” (Efésios 1.22-23a). A união vitalícia
entre esse Cabeça e seu Corpo é indissolúvel.
Depois que a glória de Cristo, o Cabeça, foi assim declarada, o
Espírito Santo entra no estado do corpo. Qual era o estado daquela
igreja (ou assembleia), a quem tão grande honra e glória são
concedidas? Elas estavam espiritualmente mortas; permanecendo
exatamente onde o homem foi deixado quando expulso do Éden sob
o poder do pecado, e da sentença de morte, guiado pela carne e
pela antiga serpente que os havia enganado.
O amor de Deus irrompeu nesse estado sombrio de coisas. Ele,
em suas riquezas de misericórdia, nos deu vida espiritual
“juntamente com Cristo” (Efésios 2.5). A vida do grandioso Cabeça
fluiu para o corpo. Isto é vida eterna! Pois o corpo vive enquanto o
Cabeça vive! E o Salvador subiu para Deus no poder de uma vida
sem fim. “Porque eu vivo, vós também vivereis” (João 14.19b). Por
isso, o apóstolo acrescenta: “Pela graça sois salvos” (Efésios 2.8). A
vida em Cristo que nos foi concedida é a vida eterna; e ela nos é
dada sem que nada de bom haja que a mereça, pois somos “filhos
da ira, como também os demais” (Efésios 2.3b). Portanto, nada
poderá separar da vida eterna aqueles que foram uma vez, em vida,
unidos a Cristo.
Deste modo, o apóstolo, depois de falar sobre a comunicação da
vida espiritual aos membros do corpo, se detém por um instante
para afirmar o exclusivo ato da graça de Deus nesta questão. A
concessão da vida espiritual corresponde ao que lemos em Gênesis
2.7: “Formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra”, umedecido
pela neblina que fazia as vezes da chuva (2.6). Ele “lhe soprou nas
narinas o fôlego de vida” (2.7a). Agora, porém, Cristo é a nossa
vida, e isto é salvação (Colossenses 3.1-4). Com esta obra de Deus,
Adão “passou a ser alma vivente” (Gênesis 2.7b). Entretanto, nós já
estamos muito à frente disso, porque somos almas salvas em
Cristo. “Porque pela graça sois salvos” (Efésios 2.8a).
Em seguida, o apóstolo diz que Deus, “juntamente com ele nos
ressuscitou e nos fez assentar em lugares celestiais em Cristo
Jesus” (Efésios 2.6). Temos três vezes a palavra “juntamente”,
porque tudo se volta para a união entre o Cabeça e o corpo. O lugar
apropriado para o corpo é onde o Cabeça está. Assim, a
ressurreição e a ascensão do Senhor Jesus são, em princípio,
também nossas. Sobre Adão, lemos: “E plantou o Senhor Deus um
jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que
havia formado” (Gênesis 2.8). Assim que a vida lhe foi concedida,
Adão foi colocado em um campo adequado a ele; também nós, pela
natureza da terra, somos, na doação da vida espiritual, feitos para
pertencer ao céu, onde o nosso Cabeça está, à direita de Deus. O
céu é o novo Éden, onde Deus habitará para sempre. E Cristo,
nosso Cabeça, virá do alto para nos levar para lá.
Por que o Altíssimo trabalhou assim em nós? “Para mostrar, nos
séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade
para conosco, em Cristo Jesus” (Efésios 2.7). O Criador mostrou
sua bondade à criatura que ele havia acabado de formar, dando-lhe
árvores formosas à vista, boas para servir de alimento. Havia
também duas árvores especiais para as quais a história posterior do
homem se voltou: (1) a árvore da vida e (2) a árvore da consciência.
A nós, por toda a eternidade, Deus tratará em Graça — riquezas de
graça e bondade — considerando que somos membros do seu
Filho.
Assim sendo, embora grande fosse a bondade de Deus para com
Adão na dádiva das árvores e do rio, dos animais e das terras
adjacentes, com seu ouro e pedras preciosas, sujeitados a ele, sim;
mas, mesmo assim, ele o colocou debaixo da lei e das penalidades.
A lei para a criatura suscita a ira, como constatou Adão e como nós
constatamos nele.
Ao homem foi dada permissão para comer de todas as árvores,
exceto de uma, que lhe foi proibida. A criatura deve aprender a
obedecer ao grande Mestre de todos. A penalidade por comer da
árvore da consciência (ou árvore do conhecimento do bem e do mal)
foi a morte (Gênesis 2.16-17). Aquela não era a posição de um filho,
mas de um servo e um súdito. Porém, quanto a nós, filhos em Cristo
Jesus, a graça será, por toda a eternidade, o único princípio
permanente da obra de Deus para conosco. Isto porque, pela graça,
somos tão unidos ao seu Filho que ele [o Pai] nos ama assim como
ama a Cristo!
Há uma exceção implícita. Os “séculos vindouros” (Efésios 2.7) ou
o Dia do Senhor” é um tempo de recompensa de acordo com as
obras e este se aplica à igreja e a todos os servos de Cristo.
As mudanças resultantes.
da Promessa em Cristo
Promessa de quem? De Deus.
A que a promessa faz referência? Faz referência ao que foi
anunciado por João Batista como o complemento da imersão em
água, confiado a ele. “Ele [Cristo] vos batizará com o Espírito Santo
e com fogo” (Mateus 3.11). “Eis que envio sobre vós a promessa de
meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais
revestidos de poder” (Lucas 24.49). O Espírito Santo desce e Pedro
promete aos arrependidos e batizados os dons espirituais: “Pois
para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os
que ainda estão longe [gentios], isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar” (Atos 2.38-39).
Em Samaria, Pedro e João impuseram as mãos sobre os crentes
ali “para que recebessem o Espírito Santo” e “recebiam estes” (Atos
8.15, 17).
Quando Pedro prega a Cornélio, em Cesareia, o Espírito Santo
desce sobre todos os presentes, para assombro dos judeus que
haviam vindo com Pedro (Atos 10).
Sob o ministério de Paulo, e este em Éfeso, lemos sobre sua
imposição de mãos sobre os doze discípulos; e eles receberam
dons de línguas e de profecia. Em Gálatas, Paulo celebra a glória do
evangelho acima da lei, como outorgando os dons sobrenaturais do
Espírito (Gálatas 3). Os dons sobrenaturais do Cristo eram o selo
colocado sobre cada crente, uma prova de que pertenciam a Cristo.
Ele era um “cristão”, um ungido, pertencia a Cristo, o grande
Ungido. Era uma marca do acolhimento por Deus daqueles que
haviam recebido seu Filho. O selo de Israel foi colocado sobre a
carne e era o símbolo de uma herança na terra. Esse novo selo
indicava uma pessoa preparada para o “dia da redenção”, para fora
da terra e para dentro do céu.
A promessa já não é mais uma aliança da promessa, como as
alianças feitas com Israel. Era um dom vinculado ao evangelho de
Cristo, do qual as nações não tinham nenhum conhecimento prévio.
Os privilégios inferiores concedidos a Israel sob Moisés despertaram
a inveja por parte das nações. Agora, privilégios muito superiores
são oferecidos a todas as nações.
Será que meu leitor os aceitará? Ou já aceitou? Ele pertencerá a
Cristo no dia da rejeição a ele? Para ser unido a ele na glória
eternamente? Esta é a atual mensagem do mistério, ou seja, do
evangelho de Paulo. “Os últimos serão primeiros” (Mateus 20.16).
Os privilégios do Cristo rejeitado são surpreendentes! Se você crê
na mensagem do reino, você será um daqueles fortes que
enfrentam todos os obstáculos para obtê-los (Mateus 11.12; Lucas
16.16). A oportunidade é de ouro, mas é breve. Ela não tornará a
acontecer.
Os dons não estavam debaixo da lei, concedidos a Israel em
geral. Moisés não ficou enciumado por Jeová separar setenta de
Israel para serem profetas, mas teria se alegrado se o Espírito em
poder tivesse sido derramado sobre todo o Israel.
Os profetas prometem os dons do Espírito Santo como privilégio
perpétuo a Israel (Isaías 44.3; 59.21; Ezequiel 39.29). Estes dons
nós não temos mais, e grande é a perda.
Em 1Coríntios 12, Paulo fala de um só corpo e, depois, de seus
dons sobrenaturais. “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos,
quer livres” (1Coríntios 12.13).
Em Efésios, depois de falar sobre esses dons como o selo de
Deus colocado sobre os salvos, Paulo fala sobre os dons de Cristo.
Ele “concedeu dons aos homens” (Efésios 4.8). Não meramente a
Israel.
Então, as duas condições do mistério são: (1) “Em Cristo Jesus, e
(2) “por meio do evangelho” (Efésios 3.6). A igreja cessará sua
existência na terra quando Cristo descer do alto; e quando o Espírito
Santo subir, do modo como Ele desceu.
Muitas são as Escrituras que falam sobre a esperança dos judeus,
esperança que pertence exclusivamente a eles (Salmos 72; Isaías
11.24; Ezequiel 36). As três características aqui especificadas
pertencem somente ao presente tempo do evangelho, acessíveis
apenas àqueles que estão “em Cristo”, membros de seu corpo, a
assembleia de Deus. Essa porta aberta logo se fechará e as coisas
voltarão à sua posição anterior sob a lei. Porém, aquele período que
segue imediatamente à proclamação da misericórdia será “o dia da
vingança”. O Salvador, ao citar Isaías 61.1-2, parou antes de “o dia
da vingança do nosso Deus” (Lucas 4.19).
NA IGREJA E EM CRISTO[30]
Aqui, o apóstolo segue adiante a partir da obra santificadora
agora em andamento internamente em cada um dos eleitos de
Deus, para o resultado conclusivo da dispensação: “A igreja, o corpo
de Cristo”, completo em glória! O mistério acabou, a manifestação
chegou! Nossa herança, da qual o Espírito Santo é o penhor,
chegou (Efésios 1.14). Mas as riquezas da glória da herança de
Deus nos santos chegaram também! (Efésios 1.18). A igreja, que foi
objeto dos desígnios de Deus na eternidade, a manifestação de sua
sabedoria na terra durante o tempo do mistério, agora é o objeto no
qual o brilho da glória dele no céu irá resplandecer.
Edificam o Corpo
Por natureza, Jesus Cristo era por toda eternidade Jeová. Mas,
Ele adquiriu como homem, por seus serviços a Deus, os títulos de
“Senhor e Cristo” (Atos 2.36). O reconhecimento dessas verdades,
os espíritos malignos não darão. Consequentemente, é feito um
teste sobre a origem de cada espírito, se ele vem de Deus ou de
Satanás (1Coríntios 12.3).
Quando o evangelho foi pregado no Pentecostes, a invocação do
nome do Senhor foi exigida daqueles que desejavam ser salvos, de
acordo com a promessa mencionada pelo profeta Joel. “O sol se
converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o
grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo” (Atos 2.20-21). Sobre isto,
Pedro insistiu com Cornélio: “Este é o Senhor de todos” (Atos
10.36). E Paulo conclama o carcereiro de Filipos para crer: “Crê no
Senhor Jesus e serás salvo” (Atos 16.31). Isto ele afirma em geral:
“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o
mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.
Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”
(Romanos 10.9, 12-13).
Quão notável é que todas as pessoas da santíssima Trindade
sejam mencionadas como guardando de sete maneiras a unidade
do corpo de Cristo, sendo eles mesmos os motivadores principais
nessa questão.
“Uma fé” (Efésios 4.5). Isto fala não de uma fé interior, mas das
doutrinas da fé cristã procedentes do único Senhor (Marcos 16.15-
16, 19).
5. “Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do
velho homem com os seus feitos” (Colossenses 3.9).
A CONDUTA ADEQUADA
AO EVANGELHO
(Efésios 4.25-32)
[1] Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade
com o seu próximo, porque somos membros uns dos
outros. [2] Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre
a vossa ira, nem deis lugar ao diabo. [3] Aquele que furtava
não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias
mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao
necessitado. [4] Não saia da vossa boca nenhuma palavra
torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação,
conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que
ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda
amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem
assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros
benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus, em Cristo, vos perdoou (Efésios 4.25-
32).
APROPRIADA
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e
andai em amor, como também Cristo nos amou e se
entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a
Deus, em aroma suave. Mas a impudicícia e toda sorte de
impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós,
como convém a santos; nem conversação torpe, nem
palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes;
antes, pelo contrário, ações de graças. Sabei, pois, isto:
nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é
idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus.
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas
coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.
Portanto, não sejais participantes com eles (Efésios 5.1-7).
RELACIONAMENTOS ESPECIAIS
O APOGEU DO AMOR
Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se
unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne.
Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja.
Não obstante, vós, cada um de per si também ame a
própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao
marido (Efésios 5.31-33).
e Armadura
1. “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais
debaixo da lei, e sim da graça. E daí? Havemos de pecar porque
não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!”
(Romanos 6.14-15).
2. “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a
Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a
fé, já não permanecemos subordinados ao aio” (Gálatas 3.24-25).
NOSSA GUERRA
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força
do seu poder (Efésios 6.10).
“No dia mau” (Efésios 6.13). Muita coisa gira em torno de uma
interpretação correta desta expressão. Paulo não está visualizando
o dia mau como algo que possa sobrevir ao discípulo
inesperadamente. O dia mau já está aqui. Por isso, vista sua
armadura e use-a sempre. O adversário quer você! Permaneça
firme!
O que faz dele o dia mau? A maldade prolifera a despeito de se
tentar suprimi-la. Deus está atrasado ou foi posto de lado.
“Quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez,
mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho”
(1Tessalonicenses 2.18).
Os tempos são maus e Cristo nos livraria deles. Temos que
testificar contra o mundo que suas obras são más. Satanás
peculiarmente molesta a igreja, porque ela é Amada de Deus. Israel
está na incredulidade, as nações são dirigidas pelo Maligno. A
guerra é algo ruim e perdura por todo o tempo da igreja. O dia da
igreja é a Grande Tribulação, da qual a igreja escapará somente por
meio da ressurreição e ascensão até o trono de Deus (Apocalipse
7.9; 12; João 16.33).
Agora, o mundo busca, por meio de agrados e esquemas
plausíveis, seduzir a igreja para fora das bases em que Cristo a
estabeleceu; e agora, por meio de alarmes e aflições, tenta intimidá-
la. É o tempo da eleição da graça, e apenas alguns vêm das nações
para se unir às fileiras de Cristo.
É inútil imaginar que a igreja pode transformar “o dia mau” em “o
dia bom”. O dia da misericórdia não derrotará a maldade por meio
da força. “Deixai-os [o trigo e o joio] crescer juntos” (Mateus 13.29).
E a questão é que, tanto os cristãos como os simuladores, estão
amadurecendo: uns, para o celeiro; os outros para a fornalha.
Os inimigos mantêm nossa herança no alto, como os cananeus
mantiveram a terra da promessa contra Israel. E nós não
conseguimos expulsá-los. Cristo terá que fazer isso. O presente é “o
dia do homem” (1Coríntios 4.3). Aguardamos “o Dia do Senhor”, que
sozinho destruirá o inimigo.