Erisvaldo Souza

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ROCK, JUVENTUDE
E PRODUÇÃO CULTURAL (1950-1960)
Erisvaldo Souza1

Resumo2

Este artigo desenvolve uma análise sobre rock, juventude e a produção


cultural nas décadas de 1950 e 1960, tendo por base algumas obras que
são fundamentais para o entendimento do tema neste período. A relação
entre rock e juventude pode ser um bom ponto de partida para
entendermos não só a produção cultural de uma época, mas também a
mentalidade de uma determinada sociedade, principalmente a juventude
da década de 50 e 60 e seu estilo de vida, pois o rock em sua origem
esteve fortemente ligado à juventude norte-americana. Desta forma,
torna-se importante entender a origem e a formação do rock na
sociedade norte americana e sua relação com a juventude.

Palavras-chave: rock, sociedade, juventude, produção cultural.

1
Aluno do Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal de
Goiás. (UFG) Mestrando. Bolsista (Capes) Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior.
2
Trabalho desenvolvido sob a orientação do Prof Dr. Nildo Viana.
2

Em meados do século XX, a sociedade norte-americana enquanto


economia, já estava consolidada como sendo a principal potência do
capitalismo mundial, juntamente com outros países da Europa, como por
exemplo, a Inglaterra e a França, tendo por base o consumo de produtos
em todos os campos da sociedade, bem como os produtos culturais.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria, os
Estados Unidos, passam a dominar grande parte das economias do
mundo, definindo assim sua forma de organização e todo o seu poder
político, cultural e econômico de um Estado imperialista, pois grande
parte dos países da Europa estava em crise pela guerra, isto quer dizer
que os norte-americanos sofreram perdas pouco significativas com a
guerra e sua economia continuava se desenvolvendo.

É neste contexto dos anos 50, que o senador do partido democrata


Joseph McCarthy, denunciava a presença de 205 comunistas no
departamento de estado norte-americano, sob o slogan “antes morto do
que comunista”, onde este senador promoveu uma verdadeira
“inquisição”, levando pânico a todos os setores da vida norte-americana.
O desempenho da economia americana possibilitou desde meados dos
anos 40, a elaboração e a difusão de uma cultura de consumo para uma
classe média urbana e branca. Com o país perto do pleno emprego e
com uma economia voltada para o apoio material aos seus aliados da
Segunda Guerra Mundial, milhões de norte-americanos se viram livres
da condição de subsistência em que se encontravam na crise de 29, ou
seja, a economia americana vive um momento de euforia, onde grande
parte da população pode consumir os novos produtos idealizados pelo
capitalismo.

Desta forma, terminado o conflito, restava aos fabricantes e as


agências de publicidade encorajar os cidadãos a consumir cada vez
mais, para que a economia do país não deixasse de crescer. Para
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Brandão e Duarte (1990), o consumismo era o melhor antídoto contra o


comunismo, servindo até mesmo como propaganda e

mostrando ao mundo toda a abundância e superioridade material do


povo norte americano fato este que faz da juventude o seu principal
consumidor.

O nosso ponto de partida para desenvolver este trabalho é a


sociedade norte americana, onde o rock irá emergir como estilo musical
em meados dos anos 50 e que vai se desenvolver na década seguinte
abrindo espaço para outras manifestações culturais, assim, nossa
análise parte de uma compreensão do rock como estilo musical e que
neste primeiro momento esteve fortemente ligado à juventude e que este
estilo musical passou a ser vinculado à outros meios tecnológicos de
comunicação, como o cinema, o rádio, a televisão, revistas, jornais, com
o objetivo além de divulgar, vender esse produto que passou a ser um
forte aliado da economia dos Estados Unidos.

Para Muggiati (1983), o rock nasceu de um grito, o primeiro grito


de escravos negros ao pisar no solo em sua nova terra a América. A
palavra rock tem conotações múltiplas, que quer dizer: rocha, balanço,
acalanto, embalo. Assim, a palavra rock pode englobar na verdade uma
variedade de formas musicais, que vão desde o berro e a batida
primitiva do folclore, até os sons eletrônicos mais apurados.

Em meados dos anos 50 já existiam diversos outros estilos


musicais nos Estados Unidos, onde o rock irá surgir da junção de alguns
desses ritmos musicais como é apontado por Chacon (2001). O rock
emergiu nos Estados Unidos da fusão de três ritmos musicais. O
primeiro deles e o de maior influência para o rock foi o rhythm blues,
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musica produzida por negros como forma de protesto. O segundo foi a


pop music, que representava a vertente branca e conservadora da
música. O terceiro ritmo foi o country ligado aos pequenos camponeses
norte americanos, que apresentavam seu sofrimento através da música.

É a partir desse contexto que surgiram os primeiros nomes do


rock, como: Seguindo as ideias de Muggiati (1984), Bill Halley, Litle
Richard, Chuck Berry e Elvis Presley, sendo que com este último o rock
adquire seu status de mercadoria, seu

consumo passa a ser disseminado após a classe média ter assimilado o


estilo. Neste sentido que as produções culturais, principalmente a
música tem seu consumo difundido, onde temos agora um modo de vida
específico, que é o “american way of life”, ou seja, o estilo de vida norte
americano, onde essa cultura passa a ser mercantilizada não só nos
Estados Unidos, mas também em outros países como é o caso do Brasil
nos anos 60 e a formação de um mercado de bens culturais que começa
a se formar a partir da organização do Estado Militar, como é analisado
por Ortiz (1994).

E o que de fato acontece do ponto de vista estritamente musical


em relação ao rock enquanto estilo musical? Na primeira geração do
rock americano, vai haver um encontro das duas grandes correntes
populares deste país: a branca e a negra

Desta forma, observa Muggiati (1984), que seus vários estilos


incluíam o velho blues rural, o rhythm e blues urbano, o country que era
uma música das zonas rurais produzida por brancos, o western, que era
um tipo de música de vaqueiros do oeste do país e a tradição folclórica
tanto negra que chamamos de work songs. Elvis Presley, principal
representante do rock na sua primeira geração, juntou o rhythm e blues
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ao country e western e Chuck Berry, o blues e o country e assim o


resultado foi chamado de rock’n’roll.

Com isso podemos observar como foram os primeiros anos do


rock nos Estados Unidos que posteriormente irá imergir em várias
outras regiões do mundo, como é o caso da Europa na década de 60,
que será um dos grandes centros do novo estilo musical. Quem irá
chamar esse novo estilo musical de rock’n’roll será um disc jóquei
branco, que posteriormente ficará conhecido na história do rock como
sendo o “pai do rock’n’roll, apesar de não ser um músico ou compositor
de rock.

Nos anos 60 rock consegue sua expansão para outros países, e a


Inglaterra é onde irão surgir vários grupos de rock e que estavam
fortemente influenciados pela

primeira geração do rock americano, um produto voltado para o


consumo e que já estava sendo produzido e difundido desde meados dos
anos 50. Muggiati (1985) defende que a década de 60 começara em meio
a uma intensa movimentação e a política saíra às ruas para protestar
contra a corrida armamentista nuclear.

O Rock esteve fortemente ligado a juventude americana e que


posteriormente este estilo musical vai surgir em outros países bem como
a sua ligação com a juventude.

Quando finalmente toda aquela música made in USA


chegou embalada rock’n’roll, rhythm e blues, calipso,
dôo-wop, rockabilly, country rock, motown, etc, a
juventude inglesa já estava embarcando na grande
aventura dos grupos musicais, para formar o som que
depois ficaria conhecido como simplesmente rock.
(Muggiati, 1985, p. 72).

A partir daí podemos perceber que o rock inglês passa a formar


suas próprias bandas, e seus primeiros grupos começam aparecer,
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grupos como Beatles e Rolling Stones, começam a produzir músicas


com o mesmo objetivo do rock americano, isto quer dizer, música para o
consumo das diversas classes sociais, principalmente a juventude.

Apesar da divergência entre a visão de mundo dos


adultos e a dos jovens, estes com seu sistema de valores
próprios, só acabaram se manifestando mais
declaradamente a partir dos anos 50, quando surgiu a
chamada “cultura da juventude” dentro e fora dos
Estados Unidos, reflexo da expansão do capitalismo em
busca de novos mercados consumidores (Brandão &
Duarte, 1990, p. 06).

É neste mesmo contexto dos anos 60 que surgem nos Estados Unidos e
na Europa os primeiros movimentos de contracultura, que são movimentos
sociais de juventude que tinham como objetivo contestar os valores da
sociedade vigente e ao mesmo tempo rompê-los, dentre estes movimentos,
podemos citar: o movimento hippie, que buscava produzir algo diferente em
relação a cultura oficial, temos também alguns festivais de música,
principalmente de música que estava voltada para a juventude, pois o rock
estava voltado principalmente para o consumo da juventude.

Ao longo deste artigo, buscamos de forma inicial, desenvolver uma


análise sobre o rock, sua ligação com a juventude e a produção cultural
que estava sendo difundida pela indústria cultural que tinha nos Estados
Unidos seu grande produtor e difusor de uma cultura de massa ligada à
juventude norte americana e posteriormente na Inglaterra e que a partir
daí passa a se expandir para os países de capitalismo subordinado, ou
seja, trata-se de um momento importante de domínio e expansão não só
da cultura, mas do capitalismo enquanto modo de produção de
mercadorias em geral, mas neste caso específico as mercadorias
culturais.

Referências Bibliográficas.
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BRANDÃO, Antônio Carlos & DUARTE, Milton Fernandes.


Movimentos culturais de juventude. São Paulo, Moderna, 1990.

CHACON, Paulo. O Que é rock. São Paulo, Brasiliense, 2001.

MUGGIATI, Roberto. Rock, de Elvis a beatlemania (1954-1966).


São Paulo, Brasiliense, 1985.

MUGGIATI, Roberto. Rock o grito e o mito. Petrópolis, Vozes, 1983.

ORTIZ, Renato. A Moderna tradição brasileira: cultura brasileira e


indústria cultural. São Paulo, Brasiliense, 1994.

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