Romantizacao Da Maternidade e A Saude Psiquica Da Mae
Romantizacao Da Maternidade e A Saude Psiquica Da Mae
Romantizacao Da Maternidade e A Saude Psiquica Da Mae
1
Flaviana Ferreira Da Silva
2
Nicolli Bellotti de Souza
RESUMO
ABSTRACT
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Acadêmica do curso de Psicologia – UniAtenas
2
Docente e Orientadora científica – UniAtenas
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Revista Científica Online ISSN 1980-6957 v13, n1, 2021
research question was answered, the objectives were achieved and the hypothesis
raised was confirmed.
Keywords: Romanticization of Maternity. Consequences of Maternity.
Postpartum Depression. Performance of the Psychologist.
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
original, símbolo do mal (ANDRADE, 2015). Sendo as crianças mal vistas, e quando
adquiriam certo entendimento e desenvolvimento físico eram colocadas junto aos
adultos nas atividades produtivas (RESENDE, 2017).
Na família aristocrática as esposas eram figuras cujos papéis consistiam
em somente ter filhos e organizar a vida social, mas sem nenhuma responsabilidade
com a criação destas crianças. Neste contexto familiar não existia nenhuma
identificação parental, devido às crianças conviverem o tempo todo em meio a
diversos adultos, que moravam com elas, fazendo com que suas experiências
emocionais fossem independentes das dos seus pais, ou seja, por estes não
fazerem parte de nenhum momento da vida dos filhos, não havia nenhum vínculo
entre eles, sendo assim todo o processo emocional desta criança não tinha relação
com os seus pais, devido os filhos não os terem como referência (RESENDE, 2017;
ARTEIRO, 2017).
Em vários momentos eram evidenciadas a indiferença dos pais,
especialmente das mães em relação aos filhos. As crianças, ao nascerem, antes
mesmo de serem amamentadas pelas mães, já eram entregues às amas-de-leite,
que ficavam responsáveis por todos os cuidados para com essa criança, sendo
estas atitudes muito comuns entre as mulheres pertencentes a classes
socioeconômicas mais altas Andrade (2015, p. 18). Essas atitudes talvez
ocorressem em razão da alta taxa de mortalidade infantil, como aduz Andrade
(2015), “como seria possível interessar-se por um pequeno ser que tinha tantas
possibilidades de morrer antes de um ano?”. A mesma autora responde “não é
porque as crianças morriam como moscas que as mães se interessavam pouco por
elas. Mas é, em grande parte, porque elas não se interessavam que as crianças
morriam em tão grande número”, isso ocorria porque as crianças nesta época eram
consideradas como símbolo do mal (ANDRADE, 2015, p. 18). A autora ainda
salienta no momento em que as crianças morriam e as mães eram informadas, se
consolavam dizendo que “mais um anjo no paraíso” e nem compareciam aos
enterros (ANDRADE, 2015, p. 18).
Para Andrade (2015); Arteiro (2017), neste período era observado três
atos de abandono em três fases diferentes na criação dos filhos:
a) ao nascer o filho eram entregue às mães-de-leite;
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fosse instaurado o mito do amor materno na memória dos indivíduos das famílias,
esta ideia seria transmitida por gerações como uma crença irrefutável.
Percebe-se que desde o fim do século XVIII, quando o mito do amor
materno atuou como um fator organizador das sociedades, possibilitou o
estabelecimento de normas de comportamento às mulheres mães por meio das
crenças no amor materno inato, o que era de interesse dos Estados, pertinentes
(RESENDE, 2017).
Por volta do século XIX, a literatura começa a entender a importância de
cuidar das crianças para fortalecer as famílias. Como aduz Resende (2017) foi no
período moderno que passam a admitir que as crianças ainda não fossem maduras
o suficientes para se unirem aos adultos e, principalmente, para a vida, percebendo
que era importante a submissão delas a um regime especial, que seria o regime da
educação.
Ainda no século XIX se instaura um novo modelo de família que se
associa ao modelo burguês, no qual os filhos se tornam seres importantes para os
pais, surgindo então um novo grau de profundidade emocional e de intimidade que
caracteriza as relações entre pais e filhos (TAKEI, 2012; RESENDE, 2017).
A família burguesa diferente dos outros modelos de família era
organizada em núcleos em que existia a divisão dos papéis parentais. Para Takei
(2012) no Brasil no decorrer do século XIX, surge uma nova mulher com o modelo
da família burguesa, que é marcado pela valorização da maternidade e da
intimidade. Resende (2017); Takei, (2012) enfatizam que neste momento foi
considerado natural o amor materno nas mulheres, pois teria de zelar pela
sobrevivência dos filhos, construir um ambiente familiar sólido, se dedicar aos
maridos, educar os filhos para serem bons cidadãos para conseguir um lugar
responsável na sociedade, pois nesse período, já tinha iniciado o cuidado com a
educação institucional, em um movimento em que a mulher passa a se dedicar
completamente à vida doméstica.
Resende (2017, p. 170) afirma que ou “as mulheres tentavam imitar o
melhor possível o modelo imposto, reforçando com isso sua autoridade, ou tentavam
distanciar-se dele, e tinham de pagar caro por isso”. Andrade (2015) afirma que,
enclausurada em casa e em seu papel de mãe, as mulheres não mais poderiam
evita-lo, pois não deveriam ser primeiro comerciantes, camponesas, operárias ou
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mulher da sociedade, e sim antes de tudo isso, mães. Caso fossem contra, sofreriam
pena de condenação moral “da responsabilidade à culpa, foi apenas um passo,
rapidamente dado ao aparecimento da menor dificuldade infantil” (RESENDE, 2017,
p. 180). Essa visão perpetua até os dias atuais, refletindo nas dificuldades
relacionadas ao trabalho da mulher fora de casa (ARTEIRO, 2017).
Já no século XX, acontece uma transformação que provoca uma nova
maneira de pensar sobre o posicionamento no que se refere ao lugar e vivências da
maternidade na vida das mulheres (CORDEIRO, 2013). Andrade (2015) enfatiza
que as mulheres depois de um longo período sem se pronunciarem, finalmente
tomam a palavra, começando a dar voz a seus desejos ocultos e passam a ir
trabalhar fora de casa e viverem em sociedade. A autora aduz que “à medida que as
mulheres adquiriram um nível mais elevado de instrução e puderam, assim, aspirar a
situações profissionais mais interessantes, maior foi o número de mulheres que
optavam por abandonar as tarefas domésticas” (ANDRADE, 2015, p. 20).
Surge então, um novo discurso no que diz respeito às mulheres, que
destruiria assim o mito de que elas deviam ser passivas, morrendo a teoria da mãe
voluntariamente dedicada e sacrificada. Mesmo trabalhando fora, ainda cuidavam da
casa e dos filhos. Contudo, as mulheres do século XX ainda eram consideradas a
geração da insatisfação e da culpa, uma vez que eram vistas pela sociedade como
aquelas que não conseguiam conciliar as duplas jornadas casa/trabalho (ARTEIRO,
2017; CORDEIRO, 2013). Para Andrade (2015, p. 21) esta culpa e insatisfação das
mulheres seriam “sentimentos que emergiam tanto por abandonarem o filho para
poderem trabalhar, quanto por perderem espaço no mercado de trabalho,
dedicando-se à criação do filho”.
Para Resende (2017, p. 184) a maternidade era vista como “um lugar
sagrado, interditado de conversação”, sendo algo instintivo da mulher, no que a mãe
se realizaria inteiramente. A autora entende ainda o amor materno como “dogma
inquestionável da subjetividade daquela que não desejaria nada mais do que ser a
mãe perfeita. E que o bebê seria construído como objeto da suposta natureza
maternal da mulher” (RESENDE, 2017, p 184).
Nesse período do século XX, as mulheres começaram de forma gradativa
a romper com os tabus e a se impor mesmo que de maneira tímida, nos diversos
setores da vida social. Todavia, somente no fim do século XX é que as mulheres,
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Kalil e Costa (2013); Carvalho et al. (2013) enfatizam que a ideia do amor
materno como uma tendência inata da mulher e como um instinto começou a ser
descontruído a partir da publicação da obra da filósofa Elisabeth Badinter (1985)
“Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno”, na qual aponta o amor materno
como uma construção social, que passa por várias transformações conforme as
diferentes épocas e seus costumes, afirmando que “o amor materno não se dá
institivamente, nem está presente em todas as mulheres como um dom natural e
espontâneo” (ARTEIRO, 2017, p. 46).
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Para os autores, diante essas alterações no humor da mulher pode ser a depressão
pós-parto de difícil identificação, sendo bastante tênue a linha que divide o que é
típico do que é patológico (SCHWOCHOW, et al., 2019).
Ainda no entendimento dos mesmos autores, no período após o
nascimento do bebê, a depressão pós-parto é considerada a complicação
psiquiátrica mais comum, a qual atinge os “índices de prevalência de 5% e de 10 a
15%” (SCHWOCHOW, et al., 2019, p. 407).
É sabido que a chegada de um bebê na vida da mulher e da família
provoca várias transformações e adaptações, sendo estas consideradas como
fatores de risco para a depressão, para algumas mães. Nesse sentido, Sousa et al.
(2011, p. 336) enfatiza, “o fato de as mães apresentarem sintomas depressivos pode
refletir em transformações do processo de construção da maternidade”. Contudo,
tanto a qualidade de vida dos membros desta família quanto a dinâmica familiar irá
sofrer alterações, uma vez que o humor deprimido das mães gera impacto no
desenvolvimento das crianças (SCHWOCHOW, et al., 2019).
De acordo com Corrêa e Serralha (2015), as mulheres com depressão
puerperal sofrem por sentirem que são influenciadas pelo modelo enraizado de suas
próprias mães, não tendo suporte, afeto ou outra forma de manifestação de
sentimentos positivos. Segundo os autores as mulheres pesquisadas relataram que
em seus relacionamentos com suas mães foram muito difíceis – principalmente no
que referia a dificuldade dessas mães em demonstrar seu amor, as imposições do
modelo social de mulher e da cultura familiar imposta por suas mães, a falta de
apoio, entre outros – e poderia levar a uma tendência em reproduzir essa relação
com os seus próprios filhos, o que para as os autores comprometeria a percepção,
por elas, da dependência de seus bebês. Neste sentido, a maternidade se torna algo
que gera sofrimento nessas mulheres-mães, sendo permeado por transformações
que são percebidas como perdas, encadeando ou intensificando o processo de
depressão pós-parto (SCHULTE, 2016).
Diante o relacionamento complicado com as mães, as mulheres que vão
se tornar mães podem ser motivadas a evitar ter a mesma experiência com seus
filhos. Os autores afirmam que “o relacionamento com suas mães é também modelo
para sua maternagem, entretanto, o sofrimento causado por suas mães são
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acima de tudo, os pessoais (NETO E ALVARES, 2013; CUNHA et al., 2012). Nesta
fase, é muito comum terem as mulheres o humor instável, o que pode resultar no
aparecimento de sentimentos conflituosos em relação ao bebê e a própria vida da
gestante (ALMEIDA E ARRAIS, 2016).
Os avanços na área da obstetrícia referentes ao conhecimento científico
no que diz respeito ao conceito de abordagem total da mulher proporcionaram aos
médicos e enfermeiros habilidades fundamentais que contribuíram para o
atendimento das necessidades mais específicas das gestantes no período gravídico-
puerperal. Deste modo, é impossível pensar somente nos aspectos biológicos ao
discutir sobre a depressão puerperal (NETO E ALVARES, 2013).
É importante a gestante realizar o pré-natal, pois assim, podem prevenir
os problemas gestacionais e controlar os agravantes psicológicos. Uma vez que
nesse processo já ocorre preparação física e psicológica da mulher para o parto e
para a maternidade. Neste sentido o psicólogo é o profissional mais indicado para
trabalhar essas questões relacionadas a alterações emocionais que provocam
angustias próprias desta fase, considerando também todos os aspectos que
envolvem este período, as quais utilizam de recursos psicológicos para prevenir as
enfermidades (ALMEIDA E ARRAIS, 2016; CUNHA, et al., 2012).
O diagnóstico precoce de uma suposta depressão durante a gestação e a
orientação adequada é de extrema importância, pois permite uma abordagem
multidisciplinar com obstetras, pediatras, enfermeiros, psiquiatras e psicólogos,
auxiliando para que os quadros de depressão leves não evoluam para quadros mais
graves, possibilitando assim, uma possível intervenção terapêutica (NETO E
ALVARES, 2013; CUNHA et al., 2012).
O reconhecimento prévio dos transtornos psicoafetivos e o diagnóstico
precoce da depressão na gestante ou puérpera possibilita uma intervenção como
meio de ajuda no enfrentamento desse adoecimento psíquico (ALMEIDA E ARRAIS,
2016). Conforme Sousa et al. (2011) a intervenção precoce dos psicoterapeutas e os
demais profissionais da saúde possibilitará a elaboração das representações
maternas por meio da escuta como uma estratégia de prevenção e planejamento
frente ao nascimento do filho.
O psicólogo contribuirá de uma maneira complementar e diferenciada
para o tratamento oferecido pela equipe multidisciplinar, como salienta Neto e
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
SOUSA, Daniela Delias de; PRADO, Luiz Carlos; PICCININI, Cesar Augusto.
Representações acerca da maternidade no contexto da depressão pós-parto.
Psicol. Reflex. Crit., v. 24, n. 2, Porto Alegre, 2011. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010279722011000200015&lng=en&nrm
=iso>. Acesso em: 16 out 2019.