Ensaios de Campo e Aplicações
Ensaios de Campo e Aplicações
Ensaios de Campo e Aplicações
PROPÓSITO
Ensaios de campo são recursos utilizados na engenharia geotécnica para se reconhecer e
identificar os horizontes que compõem um terreno. Assim, serão expostos os principais ensaios
utilizados no Brasil e no mundo para esse fim, seus procedimentos, interpretações e
aplicações.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Reconhecer o ensaio de penetração do cone (CPT)
MÓDULO 4
01:09
MÓDULO 1
Descrever os conceitos básicos e a importância das investigações geotécnicas
07:58
IMPORTÂNCIA E OBJETIVOS
Em qualquer obra civil que envolva o solo, como fundações, contenções, aterros ou encostas,
faz-se necessário reconhecer o tipo de solo que está presente no terreno, bem como as suas
características físicas e de resistência.
Logo, trata-se de um material natural e milenar, que não necessariamente seguiu regras
durante a sua disposição na natureza. Sendo assim, pode-se esperar que os solos sejam
variáveis, e não é raro encontrar um subsolo extremamente heterogêneo.
Essas informações podem ser obtidas por meio de investigação geotécnica, ensaios e
técnicas de prospecção no solo capazes de caracterizar aspectos como de granulometria,
compacidade, consistência, resistência, compressibilidade, posição do nível d’água, entre
outras propriedades dos solos.
No Brasil e no mundo, os ensaios mais comuns para esse fim são o ensaio de simples
reconhecimento (SPT) e o ensaio de penetração do cone (CPT), cujas siglas vêm do inglês
para standard penetration test e cone penetration test, respectivamente. Outros ensaios dignos
de nota são o ensaio de palheta (ou vane test – VST), ensaio dilatométrico (DMT) e o
pressiométrico (PMT).
Nesses ensaios, força-se a entrada de um equipamento no solo (motivo pelo qual diz-se que
são executados furos de prospecção), que dará diferentes informações a depender da
técnica utilizada e do nível de sofisticação do equipamento. Em alguns tipos de investigação,
além das medidas diretas realizadas durante o ensaio, é possível a recuperação de amostras
em profundidade para posterior ensaio em laboratório.
EXEMPLO
Imagine ser responsável pelo dimensionamento das fundações de um edifício. Você já sabe
que esse tipo de elemento estrutural é responsável por receber a carga da superestrutura e
transferir para o solo.
Mas será que o solo é competente o suficiente para receber essa carga que deseja
aplicar?
Se o solo é heterogêneo em planta e em profundidade, como é possível representar essa
variabilidade e considerá-la em projeto?
Reconhecimento
Exploratória
Detalhada
Nessa etapa, também é possível que se obtenham resultados de ensaios de campo e até a
experiência adquirida em construções vizinhas. Imagine que logo ao lado de onde se deseja
construir um empreendimento já exista um similar: pode ser que o vizinho já tenha dados de
sondagem, registros dos materiais que foram encontrados durante a execução, entre outros.
ATENÇÃO
Por fim, a terceira etapa é chamada de investigação detalhada. Nessa fase, o engenheiro
pode prescrever novas sondagens para complementar a campanha da fase anterior. Em obras
de grande porte, em áreas em que há a ocorrência de bolsões de solos moles ou em solos
sedimentares, por exemplo, é comum que essa nova campanha seja realizada em
complementação à investigação exploratória.
Diante de tantos tipos diferentes de ensaios que podem ser empregados em uma campanha de
investigação geotécnica, com a finalidade de auxiliar na escolha de um ensaio, alguns pontos
podem ser levados em consideração:
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
PARTICULARIDADES DO TERRENO
DISPONIBILIDADE
CUSTO
EXPERIÊNCIA
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
A investigação deve ser focada no tipo de informação que se deseja obter para a elaboração
do projeto. Por exemplo, a construção de uma barragem requer que seja conhecida a
permeabilidade da fundação, mas em um projeto de fundação de um edifício esse parâmetro
poderia não ser estritamente necessário.
PARTICULARIDADES DO TERRENO
Algumas técnicas exigem equipamentos robustos que nem sempre serão aplicáveis em um
dado terreno. No caso de uma encosta muito íngreme, por exemplo, pode não ser possível o
acesso de um tripé de SPT.
DISPONIBILIDADE
O ensaio SPT é sem dúvida o mais comum e mais realizado em todo o mundo. Ainda que
ensaios mais sofisticados como o SPT possam dar informações mais assertivas para um
projeto, pode ser que não se encontre uma empresa qualificada para executá-lo.
CUSTO
Estima-se que as investigações representem apenas cerca de 0,2% a 0,5% do custo total de
uma obra convencional, valor que deverá ser considerado no estudo de viabilidade do
empreendimento. Ensaios mais incomuns e mais robustos serão mais custosos e, por isso,
geralmente não são executados.
EXPERIÊNCIA
Embora tenha sido elaborada para o SPT, as diretrizes dadas nessa norma podem ser
utilizadas para qualquer outro ensaio e em qualquer tipo de obra. Sobre o número de
sondagens a ser executada, pode-se dizer que a quantidade ideal de furos é aquela em que o
terreno passaria a ser 100% conhecido.
No entanto, lembre-se de que isso só seria possível caso todo o solo fosse removido, estudado
e reconstituído em campo. Sendo assim, trabalha-se por amostragem e, de acordo com a NBR
8036, o número mínimo de sondagens pode ser estabelecido a partir da área projetada da
edificação:
A < 200m² 2
1.200 < A < 2.400m² 6+1 para cada 400m² ou fração que exceder 1.200m²
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Em obras sem projeto de implantação, onde ainda está sendo realizado o estudo de viabilidade
preliminar e não se tem a área de projeção, essa norma indica que sejam realizadas no mínimo
três sondagens, a uma distância máxima de 100m.
ATENÇÃO
É importante salientar que essa orientação é para o número mínimo de sondagens e, a critério
do projetista, mais sondagens podem (e devem) ser solicitadas.
Em casos especiais, em que se sabe que pode haver a ocorrência de solos de baixa
competência, como argilas moles, e suspeita-se da existência de cavidades naturais, ou se
sabe que o solo vai receber uma carga considerável, como em elevadores ou piscinas, as
sondagens devem ser especificamente locadas, a fim de se obter a caracterização dessas
regiões.
Estradas 60-600
Edifícios 15-30
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
A imagem a seguir exemplifica como poderiam ser locados furos de sondagem, considerando
as discussões apresentadas: na região dos elevadores e da piscina, são previstos alguns furos,
enquanto nas demais áreas os furos são distribuídos aleatoriamente.
No entanto, deve-se saber se atingir o maciço rochoso será importante para o projeto em
questão. Se o solo for espesso e de boa resistência, provavelmente será uma perda de tempo
e de dinheiro seguir com o furo até a rocha. Furos de sondagem são comumente cobrados por
metro, e o orçamento da obra dificilmente prioriza a investigação geotécnica.
(Δσ)
Uma orientação dada por Sowers (1979) indica que a profundidade típica das sondagens (z)
pode ser dada pelas equações descritas a seguir, seja para um edifício: leve e estreito, ou
pesado e largo, com S números de pavimentos. Infelizmente, essa abordagem é um tanto
subjetiva, já que o que pode ser leve para um engenheiro poderia ser considerado pesado por
outro. Logo, deve ser utilizado apenas como diretriz preliminar.
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Você deve se lembrar de que o acréscimo de tensões para uma dada profundidade é calculado
na mecânica dos solos, principalmente por métodos baseados na teoria da elasticidade, como
Boussinesq, Newmark e Love. Esses métodos podem ser utilizados para conhecer a
profundidade em que o acréscimo de tensões alcança o bulbo de 10% da tensão efetiva inicial.
Ou mais simplificadamente, pode ser utilizado o ábaco disponível na NBR 8036.
Calcular o acréscimo de tensões que será aplicado sobre o terreno, dado pelo peso do
edifício dividido pela área em planta.
Estimar o peso específico médio efetivo (ou submerso) para os solos ao longo da
profundidade que será sondada. Como os solos geralmente possuem pesos específicos
variando de 14 a 22kN/m³, o peso específico médio efetivo deve ser em torno de 4 a
12kN/m³, já que o peso específico da água é padronizado em 10kN/m³.
Calcula-se L/B, cujo resultado será utilizado para escolher a curva que varia de 1 a infinito
do eixo × superior do ábaco.
Calcula-se q/γMB e pega-se o valor encontrado no eixo y até encontrar a curva
determinada no passo 4. O valor de M é padrão e vale 0,1, correspondente aos 10% da
tensão efetiva vertical existente.
Projeta-se o ponto encontrado nesses dois eixos para o x inferior, determinando-se D/B.
ATENÇÃO
Uma situação em que a sondagem deveria ser continuada, mesmo atingida a profundidade
especificada, é no caso de, nessa profundidade, o equipamento ainda estiver prospectando em
um solo mole ou de baixa competência. Nessa situação, sugere-se que o furo seja continuado
até atravessar essa camada e se encontre um solo mais firme.
No entanto, pode ser que o equipamento encontre um material tão duro que não seja capaz de
prospectar sem a ajuda de sondas auxiliares mais robustas, como as sondas rotativas,
capazes de prospectar em materiais resistentes e coletar amostras em profundidade.
SAIBA MAIS
A imagem adiante ilustra algumas particularidades que podem ser encontradas em campo e
limitar ou ampliar as profundidades de sondagem: os furos 1 e 2 seriam paralisados antes da
profundidade programada, enquanto o furo 3 chegaria ao programado, mas sem atingir um solo
de melhor resistência. Nos três casos, possivelmente o terreno não seria caracterizado
adequadamente.
Caso essas particularidades não sejam identificadas, seus problemas associados podem
aparecer apenas durante a execução da obra ou até mesmo na fase pós-obra. Por esse
motivo, é extremamente importante que em todas as sondagens executadas as motivações
para a paralisação das sondagens sejam explicitamente documentadas.
RESULTADO DE UMA CAMPANHA
GEOTÉCNICA
A maneira mais visual de representar os horizontes é por meio de uma seção ou perfil
geológico-geotécnico, no qual deve-se apresentar a profundidade do nível d’água (NA) e
identificar cada espessura de solo, apresentando características principais de textura, cor,
compacidade e consistência. Como só é possível obter essas seções a partir de ensaios, é
comum apresentar também o resultado principal da sondagem, chamado também de minilog.
Seção geológico-geotécnica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Reconhecer o ensaio de simples reconhecimento (SPT)
ENSAIO DE SIMPLES RECONHECIMENTO – SPT
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O ensaio de simples reconhecimento, conhecido como SPT (standard penetration test), é o
mais empregado para investigação geotécnica em todo mundo, principalmente para
reconhecimento de características de solos granulares e da consistência de solos argilosos.
VOCÊ SABIA
Estima-se que cerca de 90% das campanhas geotécnicas para obras convencionais utilizem o
ensaio de simples reconhecimento. Sua popularidade pode ser dada por sua simplicidade, seu
baixo custo e sua alta experiência acumulada.
AVANÇO DA SONDAGEM
Inicia-se o furo com uso de trado ou trépano de lavagem com circulação de água.
Caso seja de interesse realizar ensaios de laboratório para caracterização física, a amostra
retirada do SPT deve ser prontamente acondicionada em sacos plásticos ou recipiente
hermético que mantenha o teor de umidade do solo.
ATENÇÃO
É importante que o ensaio seja realizado com a estabilidade das paredes do furo. Caso o
material constituinte seja pouco resistente, para evitar deslizamentos e manter o furo aberto,
podem ser utilizados tubos de revestimento ou material estabilizante, como lama bentonítica e
polímeros.
APARELHAGEM
Trado manual.
Geralmente, o avanço com trado é realizado quando o nível freático não foi atingido (solo
seco). Quando for atingido, utiliza-se o avanço com circulação de água, que é bombeada no
interior das hastes até a extremidade inferior do furo.
O martelo do SPT é o elemento largado em queda livre da altura de 75cm, que aplica os
golpes sobre o barrilete. É um sistema constituído pela cabeça de bater, haste e amostrador,
fazendo com que o conjunto avance no furo de sondagem.
VOCÊ SABIA
As hastes são tubos rosqueáveis nas extremidades em luvas, que aumentam o alcance do
amostrador em profundidade, até o fundo do furo. Segundo a NBR 6484, as hastes devem
possuir 3,23kg por metro linear e ser livres de empenamentos para garantir a boa execução do
SPT.
O amostrador é um tubo oco bipartido, constituído de cabeça, corpo e sapata. No seu interior,
é possível a passagem de água e retenção de solo. É importante que o amostrador esteja
limpo e íntegro, para evitar que os resultados dos ensaios sejam mascarados.
Amostra retirada do ensaio SPT.
CRITÉRIOS DE PARADA
Embora o SPT atravesse solos consideravelmente resistentes, pode ser que no campo o
operador encontre um material no qual o barrilete não consiga mais avançar, mesmo com a
insistência dos golpes do martelo.
Nesses casos, para evitar avariar o equipamento, a NBR 6484 estabelece que um ensaio
de SPT pode ser paralisado quando:
Após atingir os 7m, obter 3m sucessivos com penetração igual ou superior a vinte golpes
para a cravação dos 30cm finais e respeitando o máximo de cinquenta golpes em um
mesmo ensaio.
ATENÇÃO
EXEMPLO
Os motivos para a paralização da sondagem podem ser descritos como “parada por
solicitação do cliente”, “atingido a profundidade especificada” ou simplesmente “fim do
furo”.
Caso seja de interesse, o impenetrável pode ser vencido por meio de uma sonda rotativa, que
permite o avanço em rocha. Nesse tipo de ensaio, recuperam-se amostras da rocha, chamadas
de testemunhos, e a sondagem passa a ser chamada de sondagem mista, já que utiliza a
técnica do SPT juntamente com a rotativa.
Durante a etapa do SPT propriamente dito, conta-se o número de golpes necessários para
cravar os últimos 45cm do metro ensaiado, em três etapas de 15cm. O resultado direto do SPT
é dado pela soma dos golpes necessários para cravar apenas os últimos 30cm, chamado de
Nₛₚₜ e dado em golpes/300mm.
Os números de golpes contabilizados a cada 15cm dos últimos 45cm ensaiados são então
representados para cada metro em um boletim de sondagem. Em geral, a empresa de
sondagem apresenta apenas o número de golpes para cada 15cm, sem apresentar o valor
direto de Nₛₚₜ.
Existem casos especiais em que o solo é muito mole ou muito duro, no qual não é possível
prospectar a profundidade padronizada em ensaio. Nesses casos, a representação no boletim
é dada por uma fração entre o número de golpes e a profundidade executada.
EXEMPLO
Um boletim no qual para dado metro a contagem de golpes é dada por uma fração 7/8 significa
que o operador deu sete golpes, mas só conseguiu andar 8cm. Já uma fração 1/48 significa
que o operador deu apenas um golpe, mas o barrilete avançou 48cm, ultrapassando a
profundidade especificada em norma.
A partir da caracterização táctil-visual dada pelo técnico da sondagem para cada amostra
recuperada, apresentam-se no boletim aspectos como cor, textura e presença de matéria
orgânica, conchas e mica no solo. Nesse documento, é desejável também identificar dados
gerais da sondagem, como locação, cota de topo, posição no qual o nível d’água foi
encontrado e profundidade do furo executado.
O BOLETIM DE SONDAGEM É DE
RESPONSABILIDADE TÉCNICA DA EMPRESA QUE
EXECUTA A SONDAGEM. O DOCUMENTO DEVE SER
DISPONIBILIZADO PARA A EMPRESA PROJETISTA,
QUE INTERPRETARÁ OS RESULTADOS E OS
APLICARÁ EM PROJETOS DE ENGENHARIA.
INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS
A partir de vários furos de SPT, será possível elaborar perfis geológico-geotécnicos para o
terreno. Os substratos são geralmente estabelecidos de acordo com o comportamento diante o
número de golpes, e da caracterização táctil-visual documentada no boletim.
Perfil Geológico-geotécnico a partir do SPT.
O valor de Nₛₚₜ pode ser utilizado para designar a consistência de solos finos e a compacidade
de solos grossos, conforme a tabela 4.
≤4 Fofa(o)
19 a 40 Compacta(o)
3a5 Mole
Índice de resistência à penetração
Solo Designação
(Nₛₚₜ)
6 a 10 Média(o)
11 a 19 Rija(o)
˃19 Dura(o)
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
O valor de Nₛₚₜ pode ser adotado em métodos semiempíricos para dimensionamento de obras
de terra, como na previsão de recalques e estimativa da capacidade de carga de fundações.
Quando esses métodos utilizam Nₛₚₜ diretamente, chama-se método direto. Caso contrário, se
o Nₛₚₜ é utilizado para obter outros parâmetros geotécnicos, diz-se que são métodos indiretos.
o peso específico;
o coeficiente de compressibilidade; e
∘
∅ = 15 + √24 NSPT
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
E, sempre que possível, ensaios de laboratório devem ser realizados para estimar os
parâmetros geotécnicos do solo, já que fornecem parâmetros mais confiáveis. Ainda assim, o
uso responsável das correlações permite o reconhecimento preliminar das características do
solo em estudo, que podem ser aplicáveis em estudos de viabilidade de um projeto, por
exemplo.
Em solos moles, o resultado do SPT deve servir apenas como uma indicação da baixa
consistência do material, não sendo recomendado o uso de correlações para obtenção de
parâmetros geotécnicos, nem mesmo a utilização de métodos diretos de dimensionamento.
EM TERMOS PRÁTICOS, SOLOS COM VALORES DE
Nₛₚₜ INFERIORES A 8 SÃO CONSIDERADOS DE BAIXA
CAPACIDADE DE SUPORTE. CASO ESSA CAMADA
NÃO SEJA ESPESSA E SEJA RASA, O PROJETO DE
ENGENHARIA PODERÁ CONSIDERAR A SUA
REMOÇÃO. CONTUDO, SOLOS COM Nₛₚₜ SUPERIORES
A 30 SÃO CONSIDERADOS RESISTENTES E
ESTÁVEIS, SENDO DESEJÁVEIS EM PROJETOS DE
OBRAS DE TERRA.
LIMITAÇÕES
No caso do martelo manual, o operador é responsável por levantar a massa até a altura
especificada e depois soltar o conjunto em queda livre. Não é incomum o operador se cansar e
depois de um tempo passar a levantar a uma altura menor, o que causará uma energia de
impacto menor do que aquela esperada no procedimento padrão.
SAIBA MAIS
O desvio na energia do ensaio pode ser uma consequência não só da ação do operador, mas
também da padronização diversa para o SPT no mundo, que estabelece diferentes tipos de
martelo de bater e procedimentos de ensaio. Com a finalidade de unificar a energia do SPT em
nível mundial, a Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações
(International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering – ISSMGE) estabelece
que a energia-padrão do SPT seja de 60%.
Estima-se que a energia do SPT brasileiro varie entre 70% a 80%. Ou seja, para a
padronização, os valores de Nₛₚₜ devem ser corrigidos, de modo a obter Nₛₚₜ,₆₀. Infelizmente,
com exceção de pesquisas científicas, no Brasil não é comum a medição da energia de ensaio,
nem a correção da energia do ensaio.
Uma crítica ao SPT é que ele obtenha resultados para 30% do metro ensaiado, já que o Nₛₚₜ é o
número de golpes necessários para prospectar os amostrados nos últimos 30cm do metro.
Outros ensaios de investigação geotécnica permitem o registro contínuo de características
geotécnicas com a profundidade.
Por fim, embora seja uma vantagem o amostrador do SPT obter o solo em profundidade, as
amostras obtidas são amolgadas. Existem técnicas mais sofisticadas de amostragem que
obtêm amostras menos perturbadas e que, quando levadas para o laboratório, possibilitam a
estimativa de parâmetros mais confiáveis.
ATENÇÃO
Ainda diante dessas limitações, ressalta-se que o SPT é um ensaio muito popular, e que
dificilmente será abandonado da rotina de investigação geológico-geotécnica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Ensaio de penetração de cone - CPT
ENSAIO DE PENETRAÇÃO DE CONE - CPT
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O ensaio de penetração do cone, conhecido como CPT (cone penetration test), é
considerado um dos melhores métodos de investigação geotécnica devido à qualidade e
quantidade de leituras possíveis de ser obtidas, além da possibilidade de ser executado
onshore ou offshore (em terra ou fora dela).
SAIBA MAIS
Esse ensaio chegou ao Brasil por volta de 1950 para investigação offshore em plataformas de
petróleo. A partir de 1990, o método sofreu expansão nacional, e atualmente o CPT consiste no
segundo método mais empregado na investigação geotécnica no país.
O ensaio consiste na cravação de uma ponteira cônica de 60° de ápice, e seção variando de
5cm² a 15cm², sendo o mais comum o de área de 10cm². O cone deve ser cravado a uma
velocidade constante de 20mm/s e, dependendo do tipo de equipamento, pode obter leituras a
cada 10cm prospectados. Por esse motivo, o CPT é também chamado de ensaio estático, de
velocidade controlada e medição quase contínua.
APARELHAGEM
Existem diversos tipos de cones para ensaio CPT, que se diferenciam principalmente quanto à
seção transversal, ao método de aquisição de dados e ao tipo de parâmetro obtido.
Diante dessas variações, os cones podem ser classificados em três grandes grupos, de acordo
com a forma no qual o esforço necessário para a cravação do cone é medido.
MECÂNICOS (CPT)
ELÉTRICO
É o cone elétrico acoplado a um transdutor de tensão que mede a poropressão gerada durante
o processo de cravação.
CONES PRESSIOMÉTRICOS
Com uma sonda pressiométrica acoplada no fuste do cone em uma profundidade específica, o
módulo é expandido, sendo possível determinar parâmetros de deformabilidade do solo.
Seja qual for o tipo de CPT empregado, a aparelhagem básica para execução do ensaio
envolve os elementos relacionados a seguir.
EQUIPAMENTO DE CRAVAÇÃO
Constituído de sistema hidráulico capaz de fornecer reação para a cravação do cone.
PONTEIRA
De seções transversais usualmente variando de 5cm² a 15cm², em que as mais robustas são
utilizadas na prospecção em solos mais resistentes que possuam pedregulhos ou cimentação.
A ponteira mais comum é a de 10cm² de seção transversal.
APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
Os resultados básicos obtidos do CPT são a resistência de ponta (q꜀) e o atrito lateral (fₛ). O
primeiro consiste no esforço necessário para cravar a ponta do cone, enquanto o segundo
mede o atrito no contato fuste do cone e o solo.
INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS
A partir do resultado de vários furos de CPT, o engenheiro ou geólogo pode elaborar perfil
geotécnico. Ressalta-se que como a obtenção de q꜀, fₛ e u é contínua, a estratigrafia é obtida
com alta precisão e as seções podem ser mais detalhadas se comparadas àquelas obtidas
apenas de ensaios de simples reconhecimento (SPT).
No caso do CPTU, o detalhamento é ainda mais refinado, uma vez que a avaliação da geração
de poropressão durante a cravação possibilita a identificação de camadas pouco espessas,
como de lentes de areia. A partir da resistência de ponta obtida, uma classificação da
compacidade de solos granulares pode ser expedida:
q꜀ (MPa) Designação
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Além dessas informações, a partir dos resultados do ensaio de cone é possível obter:
coeficiente de adensamento.
CPT CPTU
Moderada a
Estrutura do solo Baixa
alta
Moderada a
História de tensões Baixa
alta
Moderada a Moderada a
Propriedades mecânicas
alta alta
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Rf
) dada por:
Rf = f s/q
c
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Rf
Rf
Rf
indicam solos argilosos. Outro parâmetro utilizado para classificar solos a partir das medidas do
ensaio de cone é o parâmetro
Bq
, dado por:
u2 − u0
Bq =
qt − σv0
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Onde
u2
u0
σv0
a tensão vertical in situ. A imagem a seguir apresenta a variação desses parâmetros com a
profundidade.
Rf
eo
Bq
também podem ser utilizados para classificar solos segundo o sistema de classificação de
Robertson et al. (1986) chamado Soil Behavior Type Classification (SBT). A vantagem desse
método é que a classificação é feita a partir do comportamento do solo in situ, em vez de
parâmetros obtidos em laboratório, como granulometria e limites de consistência, obtidos de
amostras deformadas. Além disso, o SBT pode ser utilizado para avaliar a susceptibilidade à
liquefação dos materiais.
Zona Tipos de Solos
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Ábaco de identificação do comportamento típico de solos.
LIMITAÇÕES
ANCORAGEM
Dependendo do sistema hidráulico disponível, pode não ser possível prospectar em solos
resistentes, sendo necessário aplicar a técnica de pré-furo com trado, no qual as informações
geotécnicas dessa região serão perdidas.
AMOSTRAS
Não há coleta de amostras durante o ensaio para a classificação táctil-visual em campo e
posterior caracterização em laboratório.
SISTEMA DE CRAVAÇÃO
Deve ser inspecionado periodicamente, para garantir que não haja perdas na pressão aplicada
(vazamentos) e que a velocidade de cravação seja constante.
SENSORES ELÉTRICOS
Devem ser calibrados e exigem manutenção periódica, preferencialmente sempre que se
iniciar uma campanha de investigação.
INTERPRETAÇÃO
Pode ser complexa em solos naturais heterogêneos.
Além desses pontos, a integridade de todo o equipamento deve ser verificada, a fim de não
mascarar os resultados do ensaio. As ponteiras não devem apresentar desgastes e avarias, e
as hastes devem ser lineares, livres de empenamentos.
Os valores de q꜀ e fₛ devem ser corrigidos no ensaio CPTU, devido às variações nas seções da
ponteira e à variabilidade em relação à posição do elemento filtrante. Estima-se que, em
argilas, encontram-se variações de 10% a 30% nos resultados que não foram adequadamente
corrigidos. As equações a seguir apresentam as correções de q꜀ para qₜ ,e fₛ para fₜ:
q = q + (1 − a)u2
t c
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Onde:
AN
a =
AT
AN
AT
u2
u2 Ast u3 Ast
ft = fs − +
AL AL
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Onde
Ast
AL
u3
a poropressão medida na posição 3 do cone. Apesar dessas limitações, é importante frisar que
o ensaio de come tem pouca influência do operador, é econômico e sensível às variações do
solo. Em solos homogêneos, como em aterros, a campanha de sondagem pode ser suficiente
apenas com ensaios de CPT ou CPTU.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
Reconhecer outros ensaios de investigação geotécnica (VST, DMT, PMT)
Com
NSPT ≤ 2
Com
q ≤ 1000kPa
c
EQUIPAMENTO TIPO A
Não utiliza a perfuração prévia (pré-furo), pois a palheta é cravada estaticamente em solos de
baixa resistência, protegida por uma sapata. Ao se atingir a profundidade na qual se deve
realizar o ensaio, o torque é aplicado. Os resultados obtidos por essa técnica são mais
confiáveis, uma vez que se minimiza o efeito do amolgamento durante a instalação da palheta
e se reduz a variabilidade dos torques medidos.
EQUIPAMENTO TIPO B
Utiliza a perfuração prévia (pré-furo). As leituras são suscetíveis a erros, mas podem ser
minimizadas com uso de espaçadores com rolamentos.
A interpretação dos resultados é dada pela curva torque × rotação, a partir da qual é capaz
de obter parâmetros geotécnicos como a resistência não drenada de argilas (Su) e a razão de
pré-adensamento (RSA ou OCR).
A equação abaixo evidencia como calcular a resistência não drenada, onde M é o torque
máximo medido (kNm) e D é o diâmetro da palheta (m). Quando se calcula a resistência
amolgada (Sur) deve-se utilizar o torque medido após as dez revoluções da palheta.
0, 86M
Su =
3
πD
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
A razão entre a resistência não drenada Su e a amolgada Sur é dada pela sensibilidade da
argila (St):
Su
St =
Sur
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Sensibilidade St
Baixa 2-4
Média 4-8
Alta 8-16
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Tabela 7: Sensibilidade das argilas.
Uma drenagem parcial do solo durante o ensaio, obtendo-se uma resistência que não
pode ser considerada não drenada.
A anisotropia do material.
Para esses efeitos, pode-se aplicar correções aos resultados obtidos, a fim de garantir a
qualidade dos parâmetros estimados.
VOCÊ SABIA
O ensaio dilatométrico foi desenvolvido na década de 1970 pelo professor italiano Silvano
Marchetti, motivo pelo qual o equipamento é conhecido também como dilatômetro de
Marchetti. O ensaio é considerado vantajoso, uma vez que parte da hipótese de que as
perturbações geradas pela cravação do dilatômetro são inferiores àquelas imprimidas em
outros ensaios de campo de penetração.
O ensaio consiste na cravação de uma lâmina no solo, com a medição do esforço necessário
para essa penetração. Ao atingir a profundidade especificada para a realização do ensaio,
aplica-se uma pressão de gás no diafragma de aço, que expande a membrana e empurra o
solo.
O EQUIPAMENTO DO ENSAIO É COMPOSTO PELA
CAIXA DE CONTROLE, NA QUAL SÃO ACOPLADOS
OS MANÔMETROS, AS VÁLVULAS DE CONTROLE DE
PRESSÃO E DE DRENAGEM, AS CONEXÕES PARA
ALIMENTAÇÃO DE PRESSÃO DE GÁS E OS CABOS
ELÉTRICOS DE ATERRAMENTO; ALÉM DO CILINDRO
DE GÁS, DE ONDE VIRÁ O FLUIDO PARA APLICAR A
PRESSÃO, AS HASTES E A LÂMINA, ONDE É FIXADO
O DIAFRAGMA.
ATENÇÃO
K0
).
).
O ensaio pressiométrico foi idealizado em 1955 pelo engenheiro francês Louis Ménard,
motivo pelo qual também é conhecido como pressiômetro de Ménard. O equipamento do
pressiômetro é composto, principalmente, pela sonda pressiométrica e pelo painel onde são
controlados a pressão e o volume.
SAIBA MAIS
ENSAIO EM PRÉ-FURO
AUTOPERFURANTE (SBPM)
CRAVADO
ENSAIO EM PRÉ-FURO
AUTOPERFURANTE (SBPM)
O furo é executado por um tubo de parede fina, que aloja a sonda pressiométrica. Quando se
atinge a profundidade especificada para o ensaio, aplica-se a pressão e mede-se a deformação
por sensores elétricos.
CRAVADO
Um cone pressiométrico (CPMT) é cravado no solo com auxílio de sistema hidráulico. Nesse
ensaio, além das medidas pressiométricas, são obtidos os parâmetros medidos no ensaio de
cone (atrito lateral e resistência de ponta).
).
).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo, vimos os aspectos mais importantes sobre as investigações geológico-
geotécnicas de campo, explorando seus objetivos, etapas, principais ensaios, aplicações,
interpretação de resultados, procedimentos e suas limitações.
PODCAST
Confira o conteúdo preparado especialmente para enriquecer o seu conhecimento.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM. D3441: standard test method
for mechanical cone penetration tests of soil. West Conshohocken, PA: ASTM, 1998.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM. D5778: Standard test method
for electronic friction cone and piezocone penetration testing of soils. West Conshohocken, PA:
ASTM, 2012.
DANZIGER, B. R. et al. Estudo de caso de obra com análise da interação solo estrutura.
Revista Engenharia Civil, n. 23, 2005.
EUROCODE 7. EN 1997-2: geotechnical design – part 2: ground investigation and testing. The
European Union: Bruxelas, 1997.
MAYNE, P. W. Integrated ground behavior: in-situ and lab tests. In: DIBENEDETTO, H. et al.
Deformation characteristics of geomaterials. Londres: CRC Press, 2005.
ROBERTSON, P. K. et al. Use of piezometer cone data. use of in situ tests in geomechanical
engineering. ASCE SPECIALTY CONFERENCE, 1986. Proceedings… [s.l.]: ASCE: 1986. p.
1263-1280.
CONTEUDISTA
Mirella Dalvi dos Santos