Carvalho. A Juventude Na Educação de Jovens e Adultos
Carvalho. A Juventude Na Educação de Jovens e Adultos
Carvalho. A Juventude Na Educação de Jovens e Adultos
Resumo
Introdução
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O ingresso cada vez mais antecipado dos jovens no mercado de trabalho, a esperança
de conseguir um emprego, principalmente das camadas de baixa renda, tem provocado uma
grande demanda nos programas de EJA, inicialmente destinados a adultos, em virtude da
minoria jovem. Para esse contingente de jovens, a busca pela elevação da escolaridade está
articulada ao mercado de trabalho, cujas expectativas estão direcionadas às novas exigências
do mundo moderno, à ascensão e à mobilidade social. Estes fatos têm provocado demandas de
novas formas de atuação metodológica e de conteúdos, com base em necessidades formativas
desses alunos.
A Lei de Diretrizes e Bases, Lei no 9.394/96, no Art. 38, § 1º, ao reduzir a idade para a
realização de exames de 18 anos para 15 anos no Ensino Fundamental e de 21 anos para 18
anos no Ensino Médio, vem contribuindo para o aumento significativo do número de jovens
que passam a incorporar o quadro de alunos da EJA e, por conseguinte, demandando novos
professores, espaços físicos e a reestruturação de sua metodologia de trabalho (SOARES,
2002).
Para Rummert (2007), tal dispositivo expulsou da escola regular diurna – Ensino
Fundamental – os jovens com idade a partir de 14 anos, evidenciando a ênfase atribuída à
certificação em detrimento da vivência plena dos processos pedagógicos necessários ao
efetivo domínio das bases do conhecimento científico tecnológico.
Muitas pesquisas têm evidenciado que os jovens e adultos têm sido vistos sob o
enfoque das carências escolares, com trajetórias incompletas, condição que coaduna com a
visão arraigada de lhes possibilitar uma nova oportunidade de escolarização por meio da EJA.
Para Arroyo, essa concepção precisa ser revista, quando evidencia a necessidade de
um novo olhar,
Um novo olhar deverá ser construído, que os reconheça como jovens e adultos em
tempos e percursos de jovens e adultos. Percursos sociais onde se revelam os limites
de ser reconhecidos como sujeitos dos direitos humanos. Vistos nessa pluralidade de
direitos, se destacam ainda mais as possibilidades e limites da garantia de seu direito
a educação (ARROYO, 2005, p. 23).
Para Dayrell (2005), muitos professores da EJA têm uma visão rotulada do jovem
aluno, ao observar que:
O que se constata é que boa parte dos professores de EJA tendem a ver o jovem
aluno a partir de um conjunto de modelos e estereótipos socialmente construídos e,
com esse olhar, correm o risco de analisá-los de forma negativa, o que os impede de
conhecer o jovem real que ali freqüenta (DAYRELL, 2005, p. 54).
A juventude é abordada nesta pesquisa como construção social, que significa entendê-
la como uma categoria heterogênea, envolvendo a diversidade do universo social dos jovens
tais como: estilos; comportamentos; interesses; posturas; necessidades; ocupações e que
segundo Bourdieu “seria um abuso de linguagem subsumir, no mesmo conceito, universos
sociais que praticamente nada têm em comum” (2003, p.153).
As regras sociais enquadram os jovens em “duas juventudes”. Na primeira, a idade
biológica se constitui como direito a estudar; a irresponsabilidade; lazer; tempo; sonhar,
enfim, às regalias proporcionadas por essa fase da vida. A segunda, compreendendo a mesma
idade biológica, contrária à primeira, compreende a idade social (Idem, 2003); coloca os
jovens prematuramente na disputa pelo mercado de trabalho, com responsabilidades de suprir
suas necessidades existenciais, sem tempo para sonhar.
Os jovens são adultos no enfrentamento de algumas realidades como o trabalho, a
família, o desemprego, assumindo, assim, responsabilidades que, de acordo com as normas
sociais, são pertencentes aos adultos; na outra juventude, há possibilidade de ser criança para
essas atividades, como diz Bourdieu configurando “a irresponsabilidade provisória” (2003, p.
153).
Para Pais (2003), “[...] a juventude é uma categoria socialmente construída, formulada
no contexto de particulares circunstâncias econômicas, sociais ou políticas; uma categoria
sujeita, pois, a modificar-se ao longo do tempo” (PAIS, 2003, p.37).
Para Dayrell, a juventude precisa ser vista como um processo, envolvendo a
diversidade de contextos, sem estar fixada a critérios de etapas determinadas, como
[...] parte de um processo mais amplo de constituição de sujeitos, mas que tem
especificidades que marcam a vida de cada um. A juventude constitui um momento
determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela assume uma importância em si
mesma. Todo o processo é influenciado pelo meio social concreto no qual se
desenvolve e pela qualidade das trocas que este proporciona (DAYRELL, 2003, p.
3).
7807
25%
Trabalha
Ñ trabalha
75%
Este prolongamento da juventude pode ser observado atualmente, pois a maioria dos
jovens entrevistados (cento e quatro) que estão matriculados na EJA nesta instituição
permanece na condição de solteiros.
Os perfis dos jovens que buscam, por meio da EJA, a elevação da escolaridade, são
daqueles que acreditam que ela poderá assegurar um futuro melhor. Vêem como resultado, ao
retorno aos estudos, o melhorar de vida, acreditando que o mundo do trabalho exige tal
qualificação. Alguns alunos pararam de estudar por mais período de tempo, outros menos,
mas todos tendo como justificativa a dinâmica social e econômica que compreenderam cada
caminho (Questionário respondido pelos alunos).
Estes jovens têm em comum a crença de que a escola os recebe sem rotulação, sem
discriminação, como a qualquer outro aluno que nela está; que estão recebendo uma nova
oportunidade de estudar, são agradecidos por isso, não se vêem como possuidores deste
direito. Esse sentimento permanece arraigado em função da forma como a grande parcela das
esferas governamental e civil tem visto os jovens, bem como alguns professores que atuam na
EJA (Questionário respondido pelos alunos).
Para maior compreensão sobre os jovens traz-se o perfil dos alunos do Centro Estadual
de Educação de Jovens e Adultos – CEEBJA-, com o intuito de ter-se a visão total de quem
são estes jovens, que profissão exerce; se residem com a família; se trabalham e qual a
profissão que exercem; o que faz com o tempo livre; se pararam de estudar alguma vez na
escola escolar e em que série; o motivo de interrupção dos estudos; o estado civil; o lugar de
origem; o número de pessoas na família; a renda pessoal mensal; e outras questões que
possibilitam conhecer o jovem.
Com relação ao estado civil, tomando por base 104 alunos, o maior percentual é de
solteiros com 82%, havendo 13% de casados e 5% de outros, compreendendo os que vivem
juntos. Dentre estes, 23 jovens têm filhos.
Identificou-se que grande parte destes jovens é natural do Estado do Paraná, sendo a
maioria, 56, nascido na cidade de Curitiba, 33 nasceram em cidades do interior do Paraná, e
14 nasceram fora do Estado, vindos de outros Estados como São Paulo, Rio Grande de Sul,
Santa Catarina, Roraima, Ceará, Alagoas, Mato Grosso e Rio de Janeiro.
7809
Com relação à questão sobre se pararam de estudar alguma vez no sistema regular de
ensino, fato que mais evidencia sua presença na EJA, obteve-se o resultado de 91 alunos
pararam de estudar e 13 alunos não. Ainda, procurou-se averiguar em que série eles haviam
para de estudar no ensino regular e quais as causas que os levaram a parar de estudar. Dados
que podem ser observados na tabela 1 e no gráfico 2.
13% 1% 4%
Esc./longe
22% P/trabalhar
Mudança
Outros
Ñ Parou
55% Ñ Resp.
5%
Pode-se observar-se que a maioria dos jovens parou de estudar no Ensino Fundamental
e Ensino Médio, sendo apontado como causa a necessidade de trabalhar, o que caracteriza
grande parcela dos alunos de EJA.
Procurou-se também saber como estava composta a estrutura familiar, isto é, se
moravam sozinhos ou com a família. Assim, questionou-se sobre o número de pessoas
residentes na casa onde moravam. Os resultados obtidos demonstram que para grande parte
dos alunos, 56, o número de pessoas residentes na casa onde moram indicam que são famílias
7810
26
25%
Sim
Não
58 Ñ trab.
56%
20
19%
Renda Nº
1 salário mínimo 38
2 salários mínimo 27
3 salários mínimo 7
Menos/1 salário
mínimo 3
Mais/3 salários 3
7811
mínimos
Não trabalha 26
Constata-se que 37% dos jovens têm como renda mensal um salário mínimo, seguido
de 26% que recebem dois salários mínimos. Estes dados podem sinalizar a justificativa de um
prolongamento da juventude, um maior tempo na com a família, pois a renda mensal não
subsidia os gastos necessários para viver independente.
Buscou-se conhecer as profissões ou funções exercidas pelos que trabalhavam. As
respostas podem ser observar na tabela 4.
Funções Nº.
Servente 1
Vendedor 13
Atendente 5
Recepcionista 3
Motorista 1
Autônomo 3
Bar Man 2
Babá 6
Carga/Descarga 2
Auxiliar Administrativo 6
Estofador 1
Estoquista 3
Costureira 2
Caixa de Supermercado 2
Almoxarife 1
Manicure 1
Inspetor 1
Moto boy 2
Pedreiro 2
Funileiro 1
Cozinheira 2
Caseiro 1
Encostada 1
Operador de Máquina 3
Serigrafista 2
Diarista 3
Serviços Gerais 1
Carpinteiro 1
Vigilante 1
7812
Auxiliar de Produção 3
Conferente 1
Tabela 3 – Profissões Exercidas
E por fim, a última pergunta realizada, foi sobre o que faziam nos finais de semana.
Como eram questões fechadas, alguns marcaram mais de uma resposta. Desta forma,
trouxeram-se as atividades mais marcadas, que evidenciavam representações a cerca da forma
como distribuem o tempo nos finais de semana. Para os jovens na faixa etária entre 15anos a
19 anos, o tempo de lazer é distribuído entre atividades físicas (futebol); participação em
grupos de jovens; Igreja; passeio no parque; assistir programas e filmes na televisão;
conversas com amigos; ir a balada (festas noturnas); namorar e estudar. Os jovens entre as
idades de 20 anos a 24 anos, a distribuição do tempo livre é realizada com menos atividades,
mas verifica-se certa similaridade com a da faixa etária mais jovem, como atividade física
(futebol); conversas com amigos; passeio no parque; Igreja; e constata-se uma proximidade
maior com a família, em reuniões e visitas familiares. Já o grupo pertencente às idades entre
25 anos a 29 anos, se diferencia do grupo anterior por não realizar atividade física e por
trabalhar, às vezes, nos finais de semana, mas com relação a amigos; Igreja e família mantêm
similaridades.
Com base no perfil traçado dos alunos do CEEBJA, pode-se definir que: o jovem que
freqüenta a EJA pertence à cidade (urbano); a maioria trabalha na economia formal; possui
baixa renda; deixou de ir à escola por que necessitava trabalhar; convive com a família; são
solteiros, e buscam a elevação da escolaridade para que por meio do trabalho consigam
melhorar a qualidade de vida. Constata-se a presença da religiosidade, e a presença do jovem
que migrou da escola regular para EJA, sem ter reprovado ou parado de estudar, cujo motivo
saber-se-á na próxima etapa da pesquisa de campo que compreende a entrevista.
A caracterização do jovem, isto é, conhecer o jovem que freqüenta a sala de aula da
Educação de Jovens e Adultos é de extrema relevância, pois auxilia o professor no
reconhecimento do estágio de aprendizagem, mais precisamente, para saber qual é o
conhecimento real que o aluno possui desenvolvendo assim práticas pedagógicas que o
conduzam a zona de desenvolvimento proximal.
Para Vigotski o professor é o elemento central no processo de ensino e aprendizagem,
pois é o mediador das interações entre o aluno e o objeto do conhecimento. É pelos
procedimentos e recursos pedagógicos utilizados por ele que o individuo se apropriará
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15 a 19 anos
5% 4%
7% 26% 20 a 24 anos
10% 25 a 29 anos
30 a 34 anos
35 a 39 anos
13% 40 a 44 anos
21% 45 a 49 anos
14%
50 anos ou mais
38%
15 a 29
30 a 50/+
62%
Considerações Preliminares
A demanda desses adolescentes não deve ser vista apenas como fato, mas como a
oportunidade da educação escolar responder a alguns questionamentos.
- Como reverter a cultura do “aligeiramento” da escolarização ou de uma pedagogia
da reprovação por uma pedagogia da aprendizagem?
- Que prática pedagógica temos desenvolvido em nossas escolas?
- Em que medida o tempo/espaço de escolarização tem sido adequado? (GOVERNO
DO ESTADO DO PARANÁ, SECRETÁRIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO,
2006).
REFERENCIAS
DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito Social. Revista Brasileira de Educação, n. 24, Rio
de Janeiro, set./dez. 2003.
HADDAD, Sérgio. Novos Caminhos em Educação de Jovens e Adultos – EJA. São Paulo:
Global, 2007.
PAIS, José Machado. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003.