Carvalho. A Juventude Na Educação de Jovens e Adultos

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A JUVENTUDE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA

CATEGORIA PROVISÓRIA OU PERMANENTE?

CARVALHO, Roseli Vaz – UTP


[email protected]

Área Temática: Diversidade e Inclusão


Agência Financiadora: CNPq

Resumo

Este artigo apresenta resultados preliminares de investigação que integra a pesquisa de


Mestrado em Educação, em andamento, “A Juvenilização da Educação de Jovens e Adultos:
Estudo das Práticas Pedagógicas”. Tem como interrogação de estudo compreender como
estão organizadas as práticas pedagógicas na EJA, em vista à juvenilização. Quais práticas
pedagógicas estão sendo utilizadas no processo de ensino e aprendizagem para atender
equitativamente jovens e adultos presentes no mesmo espaço de sala de aula, que além da
diferença etária apresentam ritmos de aprendizagem, comportamentos e interesses
diferenciados. O processo de juvenilização da EJA começa a ser observado na década de
1990, e vários fatores vêm contribuindo para o aumento significativo da presença dos jovens
nesta modalidade de ensino. A juventude é abordada como construção social, como uma
categoria heterogênea, envolvendo a diversidade do universo social dos jovens, com base no
aporte teórico de Bourdieu (2003); Pais (2003); Dayrell (2003). Esse novo perfil de aluno
passa a exigir demandas de novas formas de atuação metodológica e de conteúdos. Fatos que
evidenciam a necessidade de um olhar sobre as práticas pedagógicas. Trata-se de uma
pesquisa de abordagem qualitativa, com técnicas da observação participante. Os dados
apresentados caracterizam-se pelo seu caráter inicial, dos primeiros questionários aplicados
aos alunos jovens e da análise de documentos como o registro de matrícula, com o objetivo de
traçar-se o perfil do aluno dessa instituição. A faixa etária dos jovens investigados
compreende as idades entre 15 anos a 29 anos. Os dados apontam preliminarmente para a
confirmação da juventude como uma categoria permanente na instituição investigada.

Palavras-chave: Juventude; Educação de Jovens e Adultos; Perfil do Aluno; Faixa Etária;


EJA.

Introdução
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Este artigo apresenta resultados preliminares de investigação que integra a pesquisa de


Mestrado em Educação, em andamento, “A Juvenilização da Educação de Jovens e Adultos:
Estudo das Práticas Pedagógicas”, que tem como interrogação de estudo: Que práticas
pedagógicas estão sendo utilizadas no processo de ensino e aprendizagem para atender
equitativamente jovens e adultos presentes no mesmo espaço de sala de aula, que além da
diferença etária apresentam ritmos de aprendizagem, comportamentos e interesses
diferenciados.
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa em desenvolvimento junto ao
Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos – CEEBJA de Campo Comprido –
instituição de ensino público estadual de Curitiba, que oferece Ensino Fundamental, Fase II
(5ª. a 8ª. série) e Ensino Médio, na forma presencial.
Os dados apresentados caracterizam-se pelo seu caráter inicial, retirados dos primeiros
questionários aplicados, a centro e quatro jovens, com o objetivo de traçar-se o perfil do aluno
dessa instituição e da análise de documentos como o registro de matrícula para saber-se o
número de alunos da instituição. A faixa etária dos jovens investigados compreende as idades
entre 15 anos a 29 anos, esta seleção partiu da compreensão da dimensão de inserção do
jovem na EJA, tendo como base o entendimento do conceito de juventude como uma
construção social, assim como, no Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE – órgão
governamental que tem por objetivo propor políticas públicas para a juventude, e que
considera jovens os indivíduos que compreendem essa faixa etária.
Em seu percurso histórico, a Educação de Jovens e Adultos – EJA - vem sofrendo um
processo de renovação na faixa etária de seu alunado, isto é, um processo de juvenilização,
apontado por autores como Vera Masagão Ribeiro (2001) e Sergio Haddad (2007), verificado
desde a década de 1990, em função da dinâmica escolar brasileira e das pressões oriundas do
mercado do trabalho.
Muitos fatores vêm contribuindo para que esse fenômeno de juvenilização venha a se
tornar uma categoria permanente na EJA.
As deficiências do sistema de ensino regular público, como a evasão, repetência, que
ocasionam a defasagem entre a idade/série, a possibilidade de aceleração de estudos (como o
fato de concluir em menor tempo o Ensino Fundamental e Médio) e a necessidade do
emprego, contribuem para a migração dos jovens à EJA.
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O ingresso cada vez mais antecipado dos jovens no mercado de trabalho, a esperança
de conseguir um emprego, principalmente das camadas de baixa renda, tem provocado uma
grande demanda nos programas de EJA, inicialmente destinados a adultos, em virtude da
minoria jovem. Para esse contingente de jovens, a busca pela elevação da escolaridade está
articulada ao mercado de trabalho, cujas expectativas estão direcionadas às novas exigências
do mundo moderno, à ascensão e à mobilidade social. Estes fatos têm provocado demandas de
novas formas de atuação metodológica e de conteúdos, com base em necessidades formativas
desses alunos.
A Lei de Diretrizes e Bases, Lei no 9.394/96, no Art. 38, § 1º, ao reduzir a idade para a
realização de exames de 18 anos para 15 anos no Ensino Fundamental e de 21 anos para 18
anos no Ensino Médio, vem contribuindo para o aumento significativo do número de jovens
que passam a incorporar o quadro de alunos da EJA e, por conseguinte, demandando novos
professores, espaços físicos e a reestruturação de sua metodologia de trabalho (SOARES,
2002).
Para Rummert (2007), tal dispositivo expulsou da escola regular diurna – Ensino
Fundamental – os jovens com idade a partir de 14 anos, evidenciando a ênfase atribuída à
certificação em detrimento da vivência plena dos processos pedagógicos necessários ao
efetivo domínio das bases do conhecimento científico tecnológico.
Muitas pesquisas têm evidenciado que os jovens e adultos têm sido vistos sob o
enfoque das carências escolares, com trajetórias incompletas, condição que coaduna com a
visão arraigada de lhes possibilitar uma nova oportunidade de escolarização por meio da EJA.
Para Arroyo, essa concepção precisa ser revista, quando evidencia a necessidade de
um novo olhar,

Um novo olhar deverá ser construído, que os reconheça como jovens e adultos em
tempos e percursos de jovens e adultos. Percursos sociais onde se revelam os limites
de ser reconhecidos como sujeitos dos direitos humanos. Vistos nessa pluralidade de
direitos, se destacam ainda mais as possibilidades e limites da garantia de seu direito
a educação (ARROYO, 2005, p. 23).

Os jovens e adultos também são vistos sob o estereótipo de aluno-problema que, ao


não se ajustar ao ensino regular, é, conseqüentemente, encaminhado a EJA. Assim, esta
modalidade de ensino passa a receber todos aqueles que não conseguiram fazer seu percurso
na escola regular, os quais acabam por se tornar vítimas do caráter pouco público do sistema
escolar.
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Para Dayrell (2005), muitos professores da EJA têm uma visão rotulada do jovem
aluno, ao observar que:

O que se constata é que boa parte dos professores de EJA tendem a ver o jovem
aluno a partir de um conjunto de modelos e estereótipos socialmente construídos e,
com esse olhar, correm o risco de analisá-los de forma negativa, o que os impede de
conhecer o jovem real que ali freqüenta (DAYRELL, 2005, p. 54).

A juventude é abordada nesta pesquisa como construção social, que significa entendê-
la como uma categoria heterogênea, envolvendo a diversidade do universo social dos jovens
tais como: estilos; comportamentos; interesses; posturas; necessidades; ocupações e que
segundo Bourdieu “seria um abuso de linguagem subsumir, no mesmo conceito, universos
sociais que praticamente nada têm em comum” (2003, p.153).
As regras sociais enquadram os jovens em “duas juventudes”. Na primeira, a idade
biológica se constitui como direito a estudar; a irresponsabilidade; lazer; tempo; sonhar,
enfim, às regalias proporcionadas por essa fase da vida. A segunda, compreendendo a mesma
idade biológica, contrária à primeira, compreende a idade social (Idem, 2003); coloca os
jovens prematuramente na disputa pelo mercado de trabalho, com responsabilidades de suprir
suas necessidades existenciais, sem tempo para sonhar.
Os jovens são adultos no enfrentamento de algumas realidades como o trabalho, a
família, o desemprego, assumindo, assim, responsabilidades que, de acordo com as normas
sociais, são pertencentes aos adultos; na outra juventude, há possibilidade de ser criança para
essas atividades, como diz Bourdieu configurando “a irresponsabilidade provisória” (2003, p.
153).
Para Pais (2003), “[...] a juventude é uma categoria socialmente construída, formulada
no contexto de particulares circunstâncias econômicas, sociais ou políticas; uma categoria
sujeita, pois, a modificar-se ao longo do tempo” (PAIS, 2003, p.37).
Para Dayrell, a juventude precisa ser vista como um processo, envolvendo a
diversidade de contextos, sem estar fixada a critérios de etapas determinadas, como

[...] parte de um processo mais amplo de constituição de sujeitos, mas que tem
especificidades que marcam a vida de cada um. A juventude constitui um momento
determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela assume uma importância em si
mesma. Todo o processo é influenciado pelo meio social concreto no qual se
desenvolve e pela qualidade das trocas que este proporciona (DAYRELL, 2003, p.
3).
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Os jovens são configurados como adultos em função da forma concreta como


vivenciam seu tempo de juventude. Jovens na idade, mas tornados adultos pelas regras sociais
que não lhes oportunizou viver seus direitos: direito à educação, à identidade, ao
desenvolvimento pleno e à juventude.
As duas juventudes evidenciadas por Bourdieu podem ser observadas na EJA
atualmente, especificamente no CEEBJA, pois verifica-se a presença de jovens que não
trabalham, que não reprovaram no sistema regular de ensino e a presença do jovem que
trabalha que foi excluído do ensino regular, ambos freqüentam a EJA, conforme demonstra-se
no gráfico 1.

Índice de jovens que trabalham

25%

Trabalha
Ñ trabalha

75%

Gráfico 1 − distribuição da população jovem, conforme atividade de trabalho.

Pode-se, também, sinalizar na instituição investigada, um prolongamento da juventude


em virtude da dificuldade dos jovens conseguirem se auto-sustentarem, sendo conveniente o
prolongamento na casa dos pais, ou seja, uma maior permanência com a família devido aos
baixos salários ofertados pelo mercado de trabalho que inviabiliza a manutenção de suas
necessidades.
Para Pais, o prolongamento da juventude começa a ser observado quando a juventude
adquire relevância social, ao evidenciar que,

A partir do momento em que, entre a infância e a idade adulta, se começou a


verificar o prolongamento – com os conseqüentes problemas sociais daí derivados –
dos tempos de passagem que hoje em dia continuam a caracterizar a juventude,
quando aparece referida a uma fase da vida (PAIS, 2003, p. 40).
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Este prolongamento da juventude pode ser observado atualmente, pois a maioria dos
jovens entrevistados (cento e quatro) que estão matriculados na EJA nesta instituição
permanece na condição de solteiros.
Os perfis dos jovens que buscam, por meio da EJA, a elevação da escolaridade, são
daqueles que acreditam que ela poderá assegurar um futuro melhor. Vêem como resultado, ao
retorno aos estudos, o melhorar de vida, acreditando que o mundo do trabalho exige tal
qualificação. Alguns alunos pararam de estudar por mais período de tempo, outros menos,
mas todos tendo como justificativa a dinâmica social e econômica que compreenderam cada
caminho (Questionário respondido pelos alunos).
Estes jovens têm em comum a crença de que a escola os recebe sem rotulação, sem
discriminação, como a qualquer outro aluno que nela está; que estão recebendo uma nova
oportunidade de estudar, são agradecidos por isso, não se vêem como possuidores deste
direito. Esse sentimento permanece arraigado em função da forma como a grande parcela das
esferas governamental e civil tem visto os jovens, bem como alguns professores que atuam na
EJA (Questionário respondido pelos alunos).

O Perfil do Jovem Aluno do CEEBJA

Para maior compreensão sobre os jovens traz-se o perfil dos alunos do Centro Estadual
de Educação de Jovens e Adultos – CEEBJA-, com o intuito de ter-se a visão total de quem
são estes jovens, que profissão exerce; se residem com a família; se trabalham e qual a
profissão que exercem; o que faz com o tempo livre; se pararam de estudar alguma vez na
escola escolar e em que série; o motivo de interrupção dos estudos; o estado civil; o lugar de
origem; o número de pessoas na família; a renda pessoal mensal; e outras questões que
possibilitam conhecer o jovem.
Com relação ao estado civil, tomando por base 104 alunos, o maior percentual é de
solteiros com 82%, havendo 13% de casados e 5% de outros, compreendendo os que vivem
juntos. Dentre estes, 23 jovens têm filhos.
Identificou-se que grande parte destes jovens é natural do Estado do Paraná, sendo a
maioria, 56, nascido na cidade de Curitiba, 33 nasceram em cidades do interior do Paraná, e
14 nasceram fora do Estado, vindos de outros Estados como São Paulo, Rio Grande de Sul,
Santa Catarina, Roraima, Ceará, Alagoas, Mato Grosso e Rio de Janeiro.
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Com relação à questão sobre se pararam de estudar alguma vez no sistema regular de
ensino, fato que mais evidencia sua presença na EJA, obteve-se o resultado de 91 alunos
pararam de estudar e 13 alunos não. Ainda, procurou-se averiguar em que série eles haviam
para de estudar no ensino regular e quais as causas que os levaram a parar de estudar. Dados
que podem ser observados na tabela 1 e no gráfico 2.

Série Parou/Estudar Nº. Alunos


4ª.série – Ens. Fund. 0,5% 5
5ª.série – Ens. Fund. 0,10% 11
6ª.série – Ens. Fund. 0,10% 11
7ª.série – Ens. Fund. 0,7% 7
8ª.série – Ens. Fund. 0,16% 17
1º.Ensino Médio 0,22% 23
2º.Ensino Médio 0,12% 12
3º.Ensino Médio 0,4% 4
Não lembra 0,1% 1
Não Parou 0,13% 13
Tabela 1 – Série de interrupção de Estudos

Porque ficou s/ir a escola

13% 1% 4%

Esc./longe
22% P/trabalhar
Mudança
Outros
Ñ Parou
55% Ñ Resp.
5%

Gráfico 2 – Demonstração da interrupção de Estudos


.

Pode-se observar-se que a maioria dos jovens parou de estudar no Ensino Fundamental
e Ensino Médio, sendo apontado como causa a necessidade de trabalhar, o que caracteriza
grande parcela dos alunos de EJA.
Procurou-se também saber como estava composta a estrutura familiar, isto é, se
moravam sozinhos ou com a família. Assim, questionou-se sobre o número de pessoas
residentes na casa onde moravam. Os resultados obtidos demonstram que para grande parte
dos alunos, 56, o número de pessoas residentes na casa onde moram indicam que são famílias
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de composição pequena de 3 a 4 pessoas, seguido de que 22 alunos que residem em famílias


de 5 a 6 pessoas, 8 alunos com mais de 6 pessoas família, 17 alunos residem com 2 pessoas na
família e somente 1 mora sozinho.
Nas questões ligadas ao trabalho, objetivou-se averiguar quantos estavam atuando na
economia formal e informal, para isso, perguntou-se se trabalhavam de carteira assinada ou
não. Constatou-se que a maioria trabalha na formalidade, 58 jovens trabalham com carteira
assinada e 26 jovens não trabalham carteira assinada, e a surpresa foi que 25% destes jovens
não trabalhavam, apenas estudavam. Fato que pode dar indícios de a EJA não estar sendo
composta somente pelo aluno trabalhador e excluído do ensino regular. O gráfico 3 demonstra
a situação dos jovens.

Carteira de trabalho assinada

26
25%

Sim
Não
58 Ñ trab.
56%
20
19%

Gráfico 3 – Carteira de Trabalho Assinada

Em termos de faixa salarial, os dados revelam que a maioria recebe um salário


mínimo. Apontando-se a faixa de dois salários mínimos como segunda maior renda e em
terceiro aparece o número de alunos que não trabalham e freqüentam a EJA. Estes dados
podem ser visualizados na tabela 3 em números absolutos.

Renda Nº
1 salário mínimo 38
2 salários mínimo 27
3 salários mínimo 7
Menos/1 salário
mínimo 3
Mais/3 salários 3
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mínimos
Não trabalha 26

Tabela 2 – Renda Pessoal

Constata-se que 37% dos jovens têm como renda mensal um salário mínimo, seguido
de 26% que recebem dois salários mínimos. Estes dados podem sinalizar a justificativa de um
prolongamento da juventude, um maior tempo na com a família, pois a renda mensal não
subsidia os gastos necessários para viver independente.
Buscou-se conhecer as profissões ou funções exercidas pelos que trabalhavam. As
respostas podem ser observar na tabela 4.

Funções Nº.
Servente 1
Vendedor 13
Atendente 5
Recepcionista 3
Motorista 1
Autônomo 3
Bar Man 2
Babá 6
Carga/Descarga 2
Auxiliar Administrativo 6
Estofador 1
Estoquista 3
Costureira 2
Caixa de Supermercado 2
Almoxarife 1
Manicure 1
Inspetor 1
Moto boy 2
Pedreiro 2
Funileiro 1
Cozinheira 2
Caseiro 1
Encostada 1
Operador de Máquina 3
Serigrafista 2
Diarista 3
Serviços Gerais 1
Carpinteiro 1
Vigilante 1
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Auxiliar de Produção 3
Conferente 1
Tabela 3 – Profissões Exercidas

E por fim, a última pergunta realizada, foi sobre o que faziam nos finais de semana.
Como eram questões fechadas, alguns marcaram mais de uma resposta. Desta forma,
trouxeram-se as atividades mais marcadas, que evidenciavam representações a cerca da forma
como distribuem o tempo nos finais de semana. Para os jovens na faixa etária entre 15anos a
19 anos, o tempo de lazer é distribuído entre atividades físicas (futebol); participação em
grupos de jovens; Igreja; passeio no parque; assistir programas e filmes na televisão;
conversas com amigos; ir a balada (festas noturnas); namorar e estudar. Os jovens entre as
idades de 20 anos a 24 anos, a distribuição do tempo livre é realizada com menos atividades,
mas verifica-se certa similaridade com a da faixa etária mais jovem, como atividade física
(futebol); conversas com amigos; passeio no parque; Igreja; e constata-se uma proximidade
maior com a família, em reuniões e visitas familiares. Já o grupo pertencente às idades entre
25 anos a 29 anos, se diferencia do grupo anterior por não realizar atividade física e por
trabalhar, às vezes, nos finais de semana, mas com relação a amigos; Igreja e família mantêm
similaridades.
Com base no perfil traçado dos alunos do CEEBJA, pode-se definir que: o jovem que
freqüenta a EJA pertence à cidade (urbano); a maioria trabalha na economia formal; possui
baixa renda; deixou de ir à escola por que necessitava trabalhar; convive com a família; são
solteiros, e buscam a elevação da escolaridade para que por meio do trabalho consigam
melhorar a qualidade de vida. Constata-se a presença da religiosidade, e a presença do jovem
que migrou da escola regular para EJA, sem ter reprovado ou parado de estudar, cujo motivo
saber-se-á na próxima etapa da pesquisa de campo que compreende a entrevista.
A caracterização do jovem, isto é, conhecer o jovem que freqüenta a sala de aula da
Educação de Jovens e Adultos é de extrema relevância, pois auxilia o professor no
reconhecimento do estágio de aprendizagem, mais precisamente, para saber qual é o
conhecimento real que o aluno possui desenvolvendo assim práticas pedagógicas que o
conduzam a zona de desenvolvimento proximal.
Para Vigotski o professor é o elemento central no processo de ensino e aprendizagem,
pois é o mediador das interações entre o aluno e o objeto do conhecimento. É pelos
procedimentos e recursos pedagógicos utilizados por ele que o individuo se apropriará
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paulatinamente dos conceitos produzidos pela humanidade, pois a apropriação do


conhecimento se dá de fora para dentro com a intervenção direta do professor mediada pela
palavra (VIGOTSKI, 1998).
Situando-se o lugar da pesquisa, o Centro Estadual Básica para Educação de Jovens e
Adultos, tomando por base o registro total de alunos matriculados na instituição, cujo
universo é compreendido por 1942 alunos, que estão distribuídos entre as organizações
coletivas e individuais, a maioria se insere na faixa etária compreendida entre os 15 anos e 29
anos, conforme observa-se na tabela 4.

Faixa Etária Número de alunos


15 a 19 anos 513
20 a 24 anos 406
25 a 29 anos 280
30 a 34 anos 259
35 a 39 anos 186
40 a 44 anos 132
45 a 49 anos 96
50 anos ou mais 70
TOTAL 1.942
Tabela 4 – Faixa Etária dos Alunos
Fonte: CEEBJA. Org. por Roseli Carvalho, 2009.

Estes dados podem ser observados nos gráficos 8 e 9, em termos de percentuais,


permitindo uma maior visualização do número de jovens na EJA. Cuja intenção é causar
impacto visual chamando a atenção para o fato de que a educação de jovens e adultos não é
mais a mesma de décadas passadas, a qual tinha como cenário de sala de aula a maioria de
alunos adultos e um número mínimo de jovens.

Faixa Etária dos Alunos Matriculados

15 a 19 anos
5% 4%
7% 26% 20 a 24 anos
10% 25 a 29 anos
30 a 34 anos
35 a 39 anos
13% 40 a 44 anos
21% 45 a 49 anos
14%
50 anos ou mais

Gráfico 4 – Representação por Faixa Etária


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FONTE: CEEBJA, 2009. org. por Roseli Carvalho, 2009.

Jovens e Adultos Matriculados

38%

15 a 29
30 a 50/+
62%

Gráfico 9 – Representação por Categoria Jovem/Adulto


FONTE: CEEBJA. Org. por Roseli Carvalho, 2009.

Na atualidade, verifica-se a inversão deste contexto, a presença significativa em


termos de número de alunos jovens e mínima de adultos, nesta instituição.

Considerações Preliminares

Assim, trouxe-se o perfil do jovem que está matriculado na instituição pesquisada, a


partir de questionário respondido por 104 alunos e pelo registro de matrículas. Os dados
evidenciam que a juventude pode estar se tornando uma categoria permanente na EJA. Tais
possibilidades advêm dos dados constatados no levantamento, indicam que no total de
matrículas da instituição, a maioria dos alunos matriculados na EJA nesta instituição,
pertencem a categoria da juventude.
No Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos a juventude pode ser
considerada uma categoria permanente. Para a comprovação de que a juventude, na Educação
de Jovens e Adultos, é uma categoria permanente faz-se relevante que outras pesquisas
realizem o mapeamento em outras instituições para com base na totalidade comprovar-se a
afirmação deste processo. O que resultaria em grande avanço para esta modalidade de ensino
no processo de elaboração de políticas públicas, no sentido de reverter essa demanda, de
verificar quais dispositivos estão favorecendo para que jovens saiam da escola regular, assim
como, para a reavaliação da prática pedagógica e de recursos pedagógicos disponíveis para o
processo de ensino e aprendizagem.
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Para concluir, traz-se uma passagem das Diretrizes Curriculares da Educação de


Jovens e Adultos do Estado do Paraná objetivando a reflexão sobre a presença do jovem nesta
modalidade de ensino evidenciando que,

A demanda desses adolescentes não deve ser vista apenas como fato, mas como a
oportunidade da educação escolar responder a alguns questionamentos.
- Como reverter a cultura do “aligeiramento” da escolarização ou de uma pedagogia
da reprovação por uma pedagogia da aprendizagem?
- Que prática pedagógica temos desenvolvido em nossas escolas?
- Em que medida o tempo/espaço de escolarização tem sido adequado? (GOVERNO
DO ESTADO DO PARANÁ, SECRETÁRIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO,
2006).

REFERENCIAS

ARROYO, Miguel González. Educação de jovens-adultos: um campo de direitos e de


responsabilidade pública. In: SOARES, Leôncio; GIOVANETTI, Maria Amélia; GOMES,
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2000. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e
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BOURDIEU, Pierre. A Juventude é só uma palavra. In: _____. Questões de Sociologia.


Lisboa: Fim de Século Edições, Sociedade Unipessoal Ltda., 2003. p. 151-162.

HADDAD, Sérgio. Novos Caminhos em Educação de Jovens e Adultos – EJA. São Paulo:
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PAIS, José Machado. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003.

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Cadernos CEDES, v. 21, n. 55, Campinas, nov. 2001. Disponível em:
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RUMMERT, Sonia Maria. A educação de jovens e adultos trabalhadores brasileiros no


século XXI. O novo que reitera a antiga destituição de direitos. Sísifo – Revista de Ciências
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SOARES, Leôncio. Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

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