Introdução À Projeção Estereográfica Aplicada A Problemas de Análise de Estruturas: Proposta para Material Didático

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 90

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ENGENHARIA DE MINAS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

INTRODUÇÃO À PROJEÇÃO ESTEREOGRÁFICA APLICADA A


PROBLEMAS DE ANÁLISE DE ESTRUTURAS: PROPOSTA PARA
MATERIAL DIDÁTICO

ALUNA: VIVIANE DA SILVA BORGES

ORIENTADOR: PROFESSOR CLÁUDIO PINTO

BELO HORIZONTE

JANEIRO 2013
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos Professores Engenheiros Alexandre Leite e José Cardoso
Guedes, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que me despertaram
para a relevância desse assunto por meio de suas excelentes aulas.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, imensamente, a todos que incentivaram e ajudaram na síntese desse


trabalho. Em especial, eu não poderia deixar de mencionar:

O Professor Cláudio Lúcio, meu orientador, que já na fase inicial sugeriu o conteúdo,
muito acertadamente, a tempo de ser desenvolvido;

O meu Amor, Engenheiro Rodrigo Correia Barbosa, pela revisão, desenhos realizados,
auxílio teórico em todas as fases e pelo apoio durante o curso de Engenharia de Minas;

O meu amigo Gilberto Silva Rodrigues, pela contribuição espontânea à qualidade desse
trabalho, à minha vida pessoal e acadêmica, através de relevantes conversas e
sugestões;

O meu amigo e colega de sala, Francisco Leite, da Faculdade de Engenharia da


Universidade do Porto, co-autor do estudo de caso aqui apresentado, cujas lições de
companheirismo e trabalho em grupo jamais serão esquecidas.
Descubro as minhas fraquezas e construo a minha fortaleza.

Antoine Lavoisier
SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.2 – Motivações Para o Estudo ................................................................................... 1
1.2 – A Importância dos Trabalhos Manuais ................................................................ 3
1.2.1 – Marcação de Planos na Rede de Projeção .................................................... 5
1.2.2 – Marcação de Retas na Rede de Projeção ...................................................... 6
1.2.3 – Medição do Ângulo entre Duas Retas ........................................................... 7
1.2.4 – Medição do Ângulo entre Dois Planos .......................................................... 8
1.2.5 – Medição do Ângulo entre Uma Reta e um Plano.......................................... 8
1.2.6 – Contadores da Rede de Dimitrijevic .............................................................. 9
2 – BÚSSOLA DE GEÓLOGO ............................................................................................ 12
3 – PROJEÇÃO ESTEREOGRÁFICA PARA GEOLOGIA ESTRUTURAL ............................... 14
3.1 – Premissas Básicas ............................................................................................... 14
3.2 – Redes de Schmidt e de Wulff ............................................................................. 16
3.3 – Notação de Coordenadas................................................................................... 19
3.3.1 – Notação Quadrante ..................................................................................... 20
3.3.2 – Notação Regra da Mão Direita .................................................................... 21
3.3.3 – Notação Direção-Inclinação ........................................................................ 22
3.3.4 – Comparação entre as notações................................................................... 23
3.4 – Ângulos............................................................................................................... 23
3.4.1 – Ângulo Formado Entre Duas Retas ............................................................. 24
3.4.2 – Ângulo Formado Entre Dois Planos ............................................................. 25
3.4.3 – Ângulo Formado Entre Uma Reta e Um Plano ............................................ 25
3.5 – Outras Construções ............................................................................................ 26
3.6 – Lugares Geométricos ......................................................................................... 28
3.7 – Operações de Rotação de Pólo no Estereograma ............................................. 30
4 – DIAGRAMAS DE CONTORNO ................................................................................... 34
4.1 – Traçados dos Contornos de um Conjunto de Dados ......................................... 35
4.1.1 – Exemplo Didático......................................................................................... 35
4.1.2 – Outras considerações .................................................................................. 38
4.2 – Estruturas Dominantes ...................................................................................... 39
4.1.1 – Diagrama com um único máximo ............................................................... 39
4.1.2 – Diagrama com dois máximos ...................................................................... 40
4.1.3 – Diagrama com distribuição ao longo de um círculo máximo...................... 43

i
4.1.4 – Diagrama com distribuição ao longo de um círculo mínimo ...................... 45
5 – ANÁLISE CINEMÁTICA .............................................................................................. 46
5.1 – Efeitos das Descontinuidades na Estabilidade do Corte .................................... 47
5.2 – Identificação de Falhas....................................................................................... 48
5.2.1 – Falha em Cunha ........................................................................................... 50
5.2.2 – Falha Planar ................................................................................................. 52
5.2.3 – Falha por Tombamento ............................................................................... 53
5.2.4 – Falha Circular ............................................................................................... 54
6 – ESTUDO DE CASO ..................................................................................................... 55
6.1 - Introdução........................................................................................................... 55
6.2 – Breve Contexto Histórico ................................................................................... 59
6.3 – Resultados e Discussões..................................................................................... 60
6.4 – Considerações Finais .......................................................................................... 65
7 – ANEXOS..................................................................................................................... 68
7.1 – A ......................................................................................................................... 68
7.2 – B ......................................................................................................................... 72
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 75

ii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Possíveis cortes em um maciço hipotético...................................................... 1

Figura 2 – A projeção é feita com uma rede (no caso, de Schmidt) e com o auxílio de
uma folha de papel vegetal. Os limites da rede e a posição do Norte são demarcados
na folha que pode girar livremente em torno de um eixo vertical imaginário. ............... 4

Figura 3 – Plano com atitude N30E / 50SE. ...................................................................... 5

Figura 4 – Procedimento de (a) a (d) para a marcação da atitude de um plano dado na


rede de projeção de igual-área. ....................................................................................... 5

Figura 5 – Procedimento de (a) a (d) para a marcação do pólo de um plano.................. 6

Figura 6 – Procedimento de (a) a (d) para a marcação da atitude de uma reta na rede
de projeção de igual-área. ................................................................................................ 7

Figura 7 – Os pólos das retas são colocados sobre um mesmo meridiano e o ângulo
entre elas é contabilizado por meio do número de paralelos que cortam o arco
delimitado por esses dois pontos. .................................................................................... 8

Figura 8 – Procedimento de (a) a (d) para determinação do ângulo formado entre um


plano e uma reta na rede de projeção. ............................................................................ 9

Figura 9 – Contadores da rede de Dimitrijevic – note que são diferentes pelo


posicionamento das elipses centrais. (a) Contador A; (b) contador B. ............................ 9

Figura 10 – (Superior) Rede de pólos; (à esquerda) elipses do contador A e (à direita)


elipses do contador B que contem pelo menos um pólo. A quantidade de pólos deve
ser anotada perto do centro da elipse. .......................................................................... 10

Figura 11 – (a) Direção (strike) e mergulho (dip) de um plano; (b) direção (trend) e
mergulho (plunge) de uma reta. .................................................................................... 13

Figura 12 – Ilustração de uma bússola tipo CLAR, retirada do site de busca “Google”. 13

Figura 13 – (a) Visão tridimensional da projeção estereográfia de T; (b) visão


bidimensional segundo a circunferência que contêm P e T........................................... 14

Figura 14 – Representação tridimensional dos pólos de uma reta. Os pólos fazem 180o
entre si. ........................................................................................................................... 15

Figura 15– (a) A reta é representada, de maneira única, pelo pólo T’; (b) representação
usual da primitiva e do pólo. .......................................................................................... 15

iii
Figura 16 – (a) A reta r é perpendicular ao plano que intercepta a esfera. T’ é o pólo do
plano; (b) o arco de círculo é o ciclograma que representa o plano na primitiva. ........ 16

Figura 17 – Planos que contêm a direção Norte-Sul, distanciados de 10 em 10o.


Usualmente, as redes apresentam planos distanciados de 2 em 2o, tanto à esquerda
como à direita da direção Norte-Sul. ............................................................................. 17

Figura 18 – A primitiva e os círculos máximos distanciados de 10 em 10o. Os círculos


máximos representam o mergulho do plano. ................................................................ 17

Figura 19 – Em destaque, um cone duplo e seu correspondente círculo mínimo ao Sul.


........................................................................................................................................ 18

Figura 20 – A primitiva e os círculos mínimos distanciados de 15 em 15 graus. Os


círculos mínimos estão associados com a direção de retas e planos. ........................... 18

Figura 21 – Comparação de áreas em diversos locais da rede: (a) em projeção na rede


de Schmidt; (b) na rede de Wulff. .................................................................................. 19

Figura 22 – Orientação da primitiva segundo os pontos cardiais. ................................. 20

Figura 23 – Possíveis representações do pólo de uma reta que tem direção igual a 30o e
mergulho igual a 50o. Note que o ponto é a interseção do segmento de reta com o
círculo máximo de 50o rotacionado. .............................................................................. 21

Figura 24 – Possíveis representações de um ciclograma de um plano que tem direção


igual a 30o e mergulho igual a 50o. Note que o ciclograma é o círculo máximo de 50o
rotacionado. ................................................................................................................... 21

Figura 25 – Notação Regra da Mão Direita: 210 / 50. .................................................... 22

Figura 26 – Notação Regra da Mão Direita: 30 /50. ....................................................... 22

Figura 27 – Notação Direção Inclinação: 30 / 50............................................................ 22

Figura 28 – Notação Direção Inclinação: 120 / 50.......................................................... 23

Figura 29 – (a) Duas retas formando um ângulo no espaço; (b) as retas são
rotacionadas até que T’ e Q’ estejam contidos no mesmo círculo máximo. ................. 24

Figura 30 – À esquerda, posição inicial dos pólos. À direita, rotação das retas até que P
e Q estejam contidos em um círculo máximo. O arco compreendido entre eles é a
projeção do ângulo formado entre as retas. .................................................................. 24

Figura 31 – (a) Plano α e a reta r; (b) o plano auxiliar β é construído para determinar a
interseção t. Note que o plano β é perpendicular a α e contêm r. O ângulo formado
entre r e α (θ) está em destaque. A reta s está contida no plano β, é perpendicular ao
plano α e também é uma construção auxiliar para a determinação do valor de θ. ...... 25

iv
Figura 32 – Ciclograma determinado pelos pólos P e Q. ............................................... 26

Figura 33 – Pólo determinado pelos ciclogramas α e β. ................................................ 26

Figura 34 – Projeção ortogonal (s) de r em α. ................................................................ 27

Figura 35 – Bissetriz S de P e Q. ...................................................................................... 28

Figura 36 – Lugar geométrico das retas que fazem ângulo θ com a reta r (eixo do cone
duplo).............................................................................................................................. 28

Figura 37 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com o eixo vertical. ................ 29

Figura 38 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com o eixo r. .......................... 29

Figura 39 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com P. .................................... 29

Figura 40 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com P. .................................... 30

Figura 41 – Determinação da reta s que faz 30o com r1, 30o com r2 e 40o com r3. ........ 30

Figura 42 – Rotação de P em torno do eixo vertical. ..................................................... 31

Figura 43 – (a) Rotação de θ graus de P em torno do eixo Norte-Sul. A posição final de


P é P’; (b) rotação de θ graus de P em torno do eixo a. A posição final de P é P’. Note
que o círculo mínimo está rotacionado.......................................................................... 31

Figura 44 – (a) Se a contagem de graus atingir a borda, deve-se continuar no círculo


mínimo simétrico até que se totalize a quantindade necessária. Nesse caso, a posição
final de P é P’. (b) Visão tridimensional do movimento de P a P’. P corresponde a I1 e P’
a I3. .................................................................................................................................. 32

Figura 45 – (1) Rotação do eixo E e de P; (2) horizontalização do eixo E, que passa a ser
E’. Movimento solidário de P a P’; (3) P’ gira em torno de E’, até P’’; (4) E’ retorna a E e
P’’ movendo-se solidariamente até P1; (5) o estereograma volta a posição original. .. 33

Figura 46 – Projeção dos pólos em folha de papel vegetal sobre a Rede de Schmidt. .. 35

Figura 47 – Todas as elipses do contador B que possuem pelo menos um pólo são
marcadas e, em seu centro, anota-se a quantidade de pólos que ela contêm. ............ 36

Figura 48 – (a) À esquerda, elipses do contador A, à direita, elipses do contador B; (b) a


união dos centros das elipses, provenientes do contador A e B gera uma nova nuvem
de pontos. À esquerda, os pólos iniciais e à direita, os centros das elipses. ................. 36

Figura 49 – Exemplo de uma triangulação feita à mão-livre. Os pontos viram vértices de


triângulos e as arestas são subdivididas em ordem de grandeza compatível às
porcentagens indicadas pelos pontos. A curva de 20% é, então, traçada. .................... 37

v
Figura 50 – Traçado do contorno do conjunto de dados com destaque para a curva
zero. ................................................................................................................................ 37

Figura 51 – (a) No contador A, o centro da mesma elipse é representado duas vezes,


em pontos diametralmente opostos; (b) no contador B, parte da elipse encontra-se
diametralmente oposta, porém o centro está em apenas uma das partes. ................. 38

Figura 52 – Diagrama de contorno cruzando o estereograma. No ponto A, a curva


também poderia cruzar a rede mas foi simplificada. ..................................................... 39

Figura 53 – Diagrama de um único máximo. .................................................................. 40

Figura 54 – (a) Elipsóide triaxial de tensões com eixos de tensões principais máxima
(σ1), intermediária (σ2) e mínima (σ3); (b) no plano definido por σ1 e σ3, indica-se a
direção das tensões cisalhantes máximas. ..................................................................... 40

Figura 55 – As tensões anulam-se nas faces opostas na condição de equilíbrio. .......... 40

Figura 56 – A e B representam duas famílias de planos de fraturas devido às tensões


cisalhantes. As tensões σmáx e σmín são ortogonais entre si e estão contidas em um
plano perpendicular ao plano A e B. A tensão σint está contida na reta-interseção de A e
B. A σmáx divide o ângulo de A e B em duas partes iguais. ............................................. 41

Figura 57 – (1) Determinação da atitude da tensão intermediária; (2) determinação da


atitude da tensão máxima; (3) determinação da atitude da tensão mínima. ............... 42

Figura 58 – (a) Fraturas de extensão; (b) fraturas de alívio. .......................................... 42

Figura 59 – (a)Dobra representada apenas pelas retas de máximo declive dos planos;
(b) possível representação da situação em a; (c) minerais formados segundo um plano;
(d) possível representação da lineação desses minerais. .............................................. 43

Figura 60 – O ângulo interflanquial é determinado pelo ângulo formado entre os dois


eixos médios das famílias de atitudes. ........................................................................... 44

Figura 61 – Procedimento de 1 a 3 para determinação do ângulo interflanquial. ........ 44

Figura 62 – O pólo médio está afastado 30o dos outros pólos que formam o círculo
mínimo rotacionado. ...................................................................................................... 45

Figura 63 – Corte teórico realizado em um maciço para construção de uma estrada. Do


lado esquerdo há a possibilidade de escorregamento de blocos segundo a orientação
das descontinuidades e do lado direito há o risco de tombamento.............................. 46

Figura 64 – O comprimento e espaçamento entre as descontinuidades influenciam o


deslizamento. ................................................................................................................. 48

Figura 65 – Estereogramas associados com o tipo de falhas que potencialmente podem


ser geradas. A seta mostra o sentido de escorregamento............................................. 49

vi
Figura 66 – Diagrama para análise cinemática. Ψf é o mergulho aparente na face
segundo a direção de máximo declive do máximo da família; φ é o ângulo de atrito
entre as superfícies em contato e αf é a direção da face. .............................................. 50

Figura 67 – O plano A e B determinam uma interseção cujo sentido de escorregamento


situa-se para fora da face do talude. O mergulho aparente (ψf) é maior que o mergulho
da interseção (ψi). A direção da reta de máximo declive da face do talude (dip
direction) também foi representada. ............................................................................. 51

Figura 68 – A falha em cunha tem maior probabilidade de acontecer porque a direção


de máximo declive dos planos A e B não está contida no arco delimitado por αi e αf. . 51

Figura 69 – A área hachurada é a região dos pólos dos planos das descontinuidades
associada à formação de cunha. .................................................................................... 52

Figura 70 – O plano A é mais suscetível de escorregar segundo a direção αA. A falha em


cunha não é favorecida nessa configuração. ................................................................. 53

Figura 71 – A área hachurada é a região dos pólos dos planos das descontinuidades
associada à formação de falha planar. Como esse tipo de formação é um caso especial
da falha em cunha, a área hachurada é mais restritiva. ................................................ 53

Figura 72 – A área hachurada é a região dos pólos dos planos das descontinuidades
associada à formação de falha por tombamento. ......................................................... 54

Figura 73 – Talude no maciço de São Bento, em toda a sua extensão. ......................... 55

Figura 74 – Detalhe do lado direito do maciço – note que existe orientação preferencial
das descontinuidades. .................................................................................................... 55

Figura 75 – Aos pés do talude, cunha que se desprendeu do maciço. A superfície


exposta pelo abatimento é mais clara devido ao menor tempo de exposição aos
agentes atmosféricos. .................................................................................................... 56

Figura 76 – Ilustrações, sem escala e legenda, a título informativo com destaque à


região onde se encontra o maciço de São Bento. (a) Carta Geotécnica; (b) Carta das
Condicionantes do Subsolo. ........................................................................................... 57

Figura 77 – Cimentação de fraturas e fendas................................................................. 57

Figura 78 – Agentes que colaboram para a instabilidade do maciço de São Bento. ..... 58

Figura 79 – Abertura da Avenida da Ponte, anos 50. À direita, o maciço de São Bento.
........................................................................................................................................ 59

Figura 80 – As adjacências do talude foram utilizadas como estacionamento, em 1969.


À direita, o maciço de São Bento.................................................................................... 59

Figura 81 – Avenida Vilmara Peres, em 2012. À direita, o maciço de São Bento. ......... 60

vii
Figura 82 – (a) Representação das retas de máximo declive dos planos das
descontinuidades recolhidos em trabalho de campo; (b) representação densitária. ... 60

Figura 83 – (a) Pólos dos planos das descontinuidades; (b) os pólos e a atitude do
talude (N14W/85SW); (c) representação densitária; (d) reconhecimento de famílias. 61

Figura 84 – Os máximos de cada família e a orientação planar que eles representam. A


direção de máximo declive está representa pela letra α. .............................................. 62

Figura 85 – Destaque para a interseção entre os planos α12, α23 e α31. ........................ 62

Figura 86 – Representação esquemática das zonas de perigo iminente (1), perigo


médio (2) e de risco baixo (3) de um talude................................................................... 64

Figura 87 – (a) Representação densitária das 8640 direções de interseções dos planos;
(b) Círculo de atrito, direção e mergulho do talude de São Bento projetados em (a). Os
triângulos amarelos representam as interseções dos planos expostos devido a queda
recente do bloco. ............................................................................................................ 65

Figura 88 – Os planos expostos pela cunha no talude se interseptam em A, B e C. O


escorregamento da cunha se deu segundo a direção B, como verificado em campo... 66

viii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Divisão dos assuntos abordados em capítulos. .............................................. 2

Tabela 2 – Representação de 3 planos e 3 retas segundo 3 notações de atitudes. ...... 23

Tabela 3 – Pólos de planos. ............................................................................................ 35

Tabela 4 – Máximos das Famílias e seus planos correspondentes. Α letra αi designa a


inclinação de máximo declive do plano que corresponde à família e αT é a direção da
reta de máximo declive (dip direction) do talude de São Bento. O valor de αT é 256. A
notação utilizada é a Clar. .............................................................................................. 63

Tabela 5 – Atitudes das interseções (notação clar) entre os planos que correspondem
às famílias, com referência às cores utilizadas na Figura 85. ......................................... 63

ix
RESUMO

A projeção estereográfica é um assunto de fundamental importância para análise de


estruturas rochosas cujos dados podem ser recolhidos por bússola de geólogo. A sua
principal virtude é facilitar o entendimento de situações geológicas complexas. Dados
tridimensionais de estruturas, das mais variadas naturezas, podem ser reduzidos a
conjuntos de planos e retas para fins de análise e lançamento em mapas e perfis.

O estudo da estabilidade de um maciço rochoso de granito foi o alvo inicial para a


realização desse trabalho – as coordenadas dos planos expostos foram coletadas em
campo e os dados tratados no software STEREONET. Mesmo que as análises tenham
caráter qualitativo, importantes parâmetros puderam ser medidos como o grau de
propensão do maciço para formação de cunhas.

Um levantamento realizado no segundo semestre de 2012, entre alunos do 9o e 10o do


curso de Engenharia de Minas da UFMG, mostrou que 31% ainda desconheciam as
técnicas de projeção estereográfica e 76% julgavam não entender o assunto. Portanto,
justificava-se a elaboração de um material didático que desse ênfase às premissas
básicas e às construções auxiliares necessárias para o entendimento elementar das
projeções.

Portanto, esse material tem como principal objetivo desenvolver as técnicas


elementares, tanto abstratas como as de construção manual, para a compreensão da
relevância das projeções estereográficas em geologia estrutural.

x
ABSTRACT

The stereographic projection is a subject of fundamental importance to the analysis of


rock structures for which data can be collected with a geology compass. Its main
feature is to ease the understanding of complex geologic situations. Three-dimensional
structural data, of varied nature, can be reduced to a set of planes and lines for
analysis and plotting in maps and profiles.

The study of the stability of a granite body was the initial target for this work – the
exposed planes’ coordinates were gathered during the field phase of this study and
were analyzed with STEREONET software. Even though the analyses were of qualitative
character, important parameters could be measured as the degree to which the body
was likely to create wedges.

A study conducted during the second semester of 2012, with students of the 9th and
10th semesters of the Mining Engineering course at UFMG, shown that 31% of them
still didn’t know the stereographic projection techniques and 76% believed not having
an understanding of the matter. Therefore, it was justified to create teaching material
regarding the basic premises and the auxiliary constructions required for the basic
understanding of projections.

Thus, this material has as its main purpose to develop the basic techniques, both the
abstract ones as well as the manual construction ones, for the comprehension of the
relevance of stereographic projections in structural geology.

xi
1 – INTRODUÇÃO
1.2 – Motivações Para o Estudo

O objetivo desse trabalho é estudar a estabilidade de taludes e para isso serão


utilizados duas ferramentas importantes: a bússola de geólogo e as projeções
estereográficas. O problema fundamental, como ilustra a Figura 1, trata-se de uma
simples pergunta: se é possível escolher, para que lado deve-se fazer um talude?

Figura 1 – Possíveis cortes em um maciço hipotético.

A projeção estereográfica é utilizada para estudar as relações entre planos e retas que
contêm um mesmo ponto – mesmo que, em casos reais, esses elementos, que
representam falhas, fraturas, charneiras, lineações, taludes, planos de estratificação ou
faces em maciços, não tenham um ponto em comum. A projeção estereográfica os
visualiza sobre essa premissa básica. De fato, esse ponto de partida não é incoerente
porque em uma estrutura real que contem segmentos de planos e retas, os seus
prolongamentos ou a simples operação de translação deles no espaço podem gerar
interseções em comum.

Um maciço rochoso é constituído por água, rocha e solo e uma observação mais
apurada leva à identificação de “planos” (faces, foliações, falhas e fraturas presentes
na sua parte exposta), assim como “retas” (mergulho, possíveis lineações
mineralizadas, direções preferenciais de escorregamento de blocos). Elementos como
esses, serão aproximados pelas entidades geométricas mencionadas, sendo essa
aproximação o objeto de estudo desse trabalho.

Em um estudo de caso real, a projeção estereográfica vai se valer, a todo momento, da


operação de translação das retas e planos, para que esses elementos contenham um
ponto em comum – é importante ter em mente que uma operação de translação
preserva as relações de ângulos e por isso ela é válida para os objetivos propostos. A
distribuição estatística de um conjunto de retas e planos também será importante,

1
porém, essa não é uma distribuição espacial ou cartesiana desses elementos, e sim a
distribuição das atitudes desses elementos.

É relevante a percepção da distribuição estatística da direção de retas ou orientação


de planos, assim como as interseções desses elementos principais em maciços
rochosos. Forças de tensão nos maciços, aliadas com o vetor da gravidade, podem, por
exemplo, criar planos de ruptura segundo uma orientação principal visualizada em
projeção estereográfica – o que será estudado em análise cinemática. Situações
complexas e dificilmente representadas por perspectiva 3D são facilmente entendidas
quando a projeção estereográfica é utilizada e mais, parâmetros como ângulos
formados entre faces ou direções que não se interceptam na realidade podem ser
facilmente medidos.

Esse trabalho propõe apresentar as projeções estereográficas ao iniciante, além da


aplicação desse conhecimento na análise cinemática – portanto, é um trabalho de
caráter introdutório e simplista. Entretanto, é extremamente enriquecedor entender
como uma ferramenta simples, usada com propriedade, pode avaliar a estabilidade de
taludes diversos.

Para isso, são necessários dois requisitos básicos, já mencionados: conhecer a bússola
de geólogo e as definições básicas que constituem a projeção estereográfica. Esse será
o ponto de partida desse trabalho.

Por fim, a aplicação desse conhecimento será utilizada no desenvolvimento de técnicas


com o intuito de avaliar a estabilidade de talude em um estudo de caso.

A Tabela 1 mostra a lógica de divisão desse trabalho nos capítulos apresentados no


Sumário.

Tabela 1 – Divisão dos assuntos abordados em capítulos.

Capítulo Objetivos Conteúdo


1 – Introdução -Introduzir o assunto; -Explicitar os objetivos
-Apresentar motivação desse trabalho;
para o estudo. -Explicar como se dá a
utilização da rede de
projeção, folha de papel
vegetal e percevejo para as
construções manuais. A
leitura da Seção 1.2 desse
Capítulo pode se dar
concomitantemente à
leitura do Capítulo 3 e 4,
na medida que são feitas
referências à essa Seção.
2 – Bússola de Geólogo -Explicitar, brevemente, a -Principais regras aplicadas
importância da bússola nos à utilização da bússola;
trabalhos de campo. -Definição de atitude.

2
3 – Projeção Estereográfica -A partir das definições -Definições;
para Geologia Estrutural básicas de projeção -Projeções básicas;
estereográfica, -Medição de ângulos;
desenvolver todos os -Construções auxiliares.
elementos para a
compreensão e projeção
de dados recolhidos em
campo pela bússola de
geólogo;
4 – Diagramas de Contorno -Desenvolver o tratamento -Traçado de contornos;
de dezenas de dados -Tratamento e compreensão
recolhidos em campo pela de diagramas com
bússola de geólogo; concentração de pontos.
5 –Análise Cinemática -Associar cada tipo de -Falhas planar, em cunha, em
falha apresentada a um tombamento, circular e seus
perfil de estereograma. respectivos estereogramas.
6 – Estudo de Caso -Apresentar como a teoria -Estudo de caso
pode ser aplicada na desenvolvido através da
prática. coleta de dados de um
maciço de granito e
tratamento desses dados
em software para avaliar a
propensão para formação
de falhas em cunha.
7 – Referências Bibliográficas -Explicitar as fontes em -Livros, sites, apostilas,
que se basearam as aulas.
afirmações desse trabalho.

1.2 – A Importância dos Trabalhos Manuais

Esta Seção tem o objetivo de mostrar como o trabalho manual de plotagem é feito,
mesmo que, nesse momento, as ferramentas para compreensão das construções não
tenham sido explicitadas. A leitura dessa Seção pode ser feita concomitantemente com
a leitura dos Capítulos 3 e 4, onde as técnicas de visualização dos elementos serão
desenvolvidas e “chamadas” para a leitura dessa Seção ou seus subitens serão
recorrentes.

Os trabalhos manuais, para projeção estereográfica, são de extrema importância para


a compreensão das definições e para o entendimento da operação dos softwares de
tratamento de dados. Os exercícios deixam claro a correspondência entre a posição de
retas e planos no espaço e os seus posicionamentos no estereograma, além de
possibilitar um breve esboço da situação real em uma prancheta de campo. Uma vez
que a projeção está clara, a utilização de qualquer software torna-se conseqüência
direta do aprendizado.

A projeção estereográfica é geralmente ensinada com a utilização de uma rede de


projeção, folha de papel vegetal e percevejo, como mostra a Figura 2. A folha de papel
3
vegetal deve ser presa pelo percevejo que passa pelo centro da rede e cobrir toda a
área de projeção. Sobre ela devem ser desenhados os limites da rede assim como a
posição do Norte.

Figura 2 – A projeção é feita com uma rede (no caso, de Schmidt) e com o auxílio de
uma folha de papel vegetal. Os limites da rede e a posição do Norte são demarcados
na folha que pode girar livremente em torno de um eixo vertical imaginário.

A direção é contabilizada nas bordas da rede de projeção em relação ao Norte e o


mergulho é contabilizado no eixo Leste-Oeste na rede de Schmidt. Usualmente,
existem marcações de 2 em 2 graus para facilitar a contagem do ângulo a ser plotado.

O objetivo do arranjo mostrado na Figura 2 é girar a folha de papel vegetal sobre a


rede de projeção de forma que os limites (tanto da rede como o que foi copiado)
sempre coincidam. A posição do Norte é marcada para que, sempre que for
necessário, a folha de papel vegetal possa voltar a sua posição inicial.

A necessidade de rotacionar a folha de papel vegetal é conseqüência da utilização de


redes de projeção de igual-área, como será discutido no Capítulo 3. Nessas redes, os
ângulos de caimento não são deformados ao longo da direção Leste-Oeste e, assim,
para que se possa marcar o mergulho de um plano ou reta, deve-se sobrepor a direção
no sentido Norte-Sul (para planos) ou Leste-Oeste (para retas) para depois contabilizar
o ângulo de mergulho.

Os subitens a seguir aplicarão as regras de projeção para casos particulares no intuito


da técnica ser melhor compreendida. Todas as marcações são realizadas na folha de
papel vegetal que se posicionará sobre a rede de projeção de igual-área de Schmidt.

4
1.2.1 – Marcação de Planos na Rede de Projeção
Será marcado o plano que faz 30o com a direção Norte, sentido Leste, e que tem
mergulho igual a 50o com caimento para Sudeste. O plano está ilustrado na Figura 3.

Figura 3 – Plano com atitude N30E / 50SE.

Para marcá-lo na rede de projeção de igual-área, adota-se o seguinte procedimento (a


folha de papel vegetal deve estar sobreposta à rede de projeção), ilustrado na Figura 4:
(a) A direção do plano é marcada e, em seguida, é traçado o seguimento de reta
que passa pelo centro e tem extremidades no limite da rede de projeção;
(b) A folha de papel vegetal é rotacionada para que a direção traçada no item (a)
coincida com a direção Norte-Sul;
(c) O mergulho é contabilizado de “fora para dentro”, levando-se em consideração
o sentido do seu caimento;
(d) A folha de papel vegetal retorna à posição inicial.

Figura 4 – Procedimento de (a) a (d) para a marcação da atitude de um plano dado na


rede de projeção de igual-área.

5
Dessa forma, o plano é representado na rede de projeção como um ciclograma.

Os planos também podem ser representados por pontos denominados pólos. O pólo
corresponde à reta que é perpendicular ao plano no centro da projeção. Para marcá-lo
na rede de projeção de igual-área, a partir do ciclograma, pode-se seguir o
procedimento ilustrado na Figura 5:
(a) Representa-se o plano através de seu ciclograma;
(b) Rotaciona-se a folha de papel vegetal até que a direção do plano ocupe a
direção Norte-Sul da rede de projeção;
(c) A partir do ponto do ciclograma que intercepta a direção Leste-Oeste,
contabiliza-se 90o e marca-se esse novo ponto que representa o pólo
procurado;
(d) Rotaciona-se a folha de papel vegetal para a posição inicial.

Figura 5 – Procedimento de (a) a (d) para a marcação do pólo de um plano.

Logo, se um plano é dado pelo seu pólo, o procedimento inverso ao descrito


anteriormente leva ao ciclograma.

1.2.2 – Marcação de Retas na Rede de Projeção


Da mesma forma, será adotado um exemplo para facilitar a compreensão. Será
marcada a reta que faz 60o com a direção Norte, sentido Oeste, e que tem mergulho
igual a 50o com caimento para Sudeste. A reta foi ilustrada na Figura 3 porque é a reta
de máximo declive do plano – a reta de máximo declive do plano é a reta contida no
plano que apresenta a maior inclinação (mergulho) possível.

O seguinte procedimento é adotado, ilustrado na Figura 6.

6
(a) A direção da reta é marcada e um segmento tracejado é feito nessa direção
apenas no quadrante SE, com extremidades no centro e na borda da rede;
(b) A folha de papel vegetal é rotacionada para que o tracejado do item (a)
coincida com a direção Leste-Oeste;
(c) O mergulho é contabilizado de “fora para dentro” e marca-se um ponto;
(d) A folha de papel vegetal retorna à posição inicial.

Figura 6 – Procedimento de (a) a (d) para a marcação da atitude de uma reta na rede
de projeção de igual-área.

Dessa forma, a reta é representada na rede de projeção como um ponto também


denominado por pólo.

1.2.3 – Medição do Ângulo entre Duas Retas


Sejam duas retas representadas na rede de projeção. Para determinar o ângulo
formado por elas, basta rotacionar a folha de papel até que os pólos estejam contidos
sobre o mesmo meridiano. O ângulo é contabilizado através do número de paralelos
que cortam esse meridiano – geralmente, tanto os paralelos, como os meridianos, são
distanciados de 2 em 2 graus. A Figura 7 ilustra esse procedimento.

7
Figura 7 – Os pólos das retas são colocados sobre um mesmo meridiano e o ângulo
entre elas é contabilizado por meio do número de paralelos que cortam o arco
delimitado por esses dois pontos.

Se o ângulo contabilizado for obtuso, basta subtrair o valor de 180o para encontrar o
ângulo agudo formado entre as duas retas. No exemplo apresentado na Figura 7, o
ângulo formado entre as retas é igual a 84o.

1.2.4 – Medição do Ângulo entre Dois Planos


O ângulo entre dois planos pode ser contabilizado por meio dos pólos dos planos.
Determina-se o ângulo formado pelos dois pólos (conforme descrito na Seção 1.2.3)
que também corresponde ao ângulo formado pelos dois planos.

Se o ângulo contabilizado for obtuso, basta subtrair o valor de 180o para encontrar o
ângulo agudo formado entre os dois planos.

1.2.5 – Medição do Ângulo entre Uma Reta e um Plano


Seja um plano dado pelo seu ciclograma e a reta dada pelo seu pólo na rede de
projeção como mostra a Figura 8. O seguinte procedimento pode ser adotado na
determinação do ângulo formado entre o plano e a reta:

(a) Determina-se o pólo do plano;


(b) Determina-se o ângulo formado entre os dois pólos;
(c) O ângulo formado entre a reta e o plano é o valor complementar ao ângulo
formado entre os dois pólos;
(d) A folha de papel vegetal retorna à posição inicial.

8
Figura 8 – Procedimento de (a) a (d) para determinação do ângulo formado entre um
plano e uma reta na rede de projeção.

Note que o ângulo encontrado no exemplo ilustrado pela Figura 8 é o ângulo obtuso
entre os dois pólos. Logo, o ângulo formado entre eles é 74o. Portanto, o ângulo
formado entre a reta e o plano iniciais é de 16o.

1.2.6 – Contadores da Rede de Dimitrijevic


A rede de Dimitrijevic é construída com a mesma formulação da rede de Schmidt e é
utilizada para a construção de linhas de contorno, que ligam regiões do plano que
possuem a mesma densidade de pólos. Ela é composta por elipses que contêm 1% da
área total da rede de projeção. A rede de Dimitrijevic é dada por 2 contadores – A e B –
para evitar a sobrecarga em uma única rede, conforme mostra a Figura 9.

(a)
(b)
Figura 9 – Contadores da rede de Dimitrijevic – note que são diferentes pelo
posicionamento das elipses centrais. (a) Contador A; (b) contador B.

9
Para o traçado das linhas de contorno de acordo com essa técnica, os dois contadores
devem ser utilizados. Como já mencionado, eles não são postos na mesma rede para
trabalhos manuais devido à dificuldade de distinção entre as elipses quando estão
todas sobre a mesma rede.

Para a construção de uma linha de isodensidade, são necessários: os contadores, a


rede de projeção que contêm os pólos e uma nova folha de papel vegetal, onde será
anotada os centros das elipses que contêm pelo menos um ponto.

Cada elipse pode conter nenhum, um ou mais de um pólo – para as elipses que
contiverem pelo menos um ponto, seu centro é marcado sobre a folha de papel
vegetal e é anotado, próximo ao seu centro, a quantidade de pólos que aquela elipse
possui. O processo se repete para todas as elipses da rede de Dimitrijevic. O contador
A possui elipses com centros no limite da rede e esses centros são duplamente
representados em pontos diametralmente opostos – a Figura 10 ilustra a contagem de
pólos através dos dois contadores.

Figura 10 – (Superior) Rede de pólos; (à esquerda) elipses do contador A e (à direita)


elipses do contador B que contem pelo menos um pólo. A quantidade de pólos deve
ser anotada perto do centro da elipse.

Se a elipse possui “dois” centros, como é o caso das elipses da borda do contador A, a
quantidade de pólos que ela contêm deve ser anotada duas vezes, para cada um dos
centros diametralmente opostos.

10
Dessa forma, o contorno se processará com a nova nuvem de pontos composta pelos
centros das elipses. O traçado da curva se dá de maneira equivalente ao traçado de
curvas de nível.

11
2 – BÚSSOLA DE GEÓLOGO

A bússola de geólogo é um instrumento importante para o entendimento desse


trabalho. Ela será o equipamento essencial para o trabalho de campo e fornecedora
dos dados a serem trabalhados manualmente ou por auxílio de software, sendo que a
compreensão do seu funcionamento é o cerne para o desenvolvimento de todas as
páginas que virão pela frente. É a bússola que estará em contato (literalmente direto)
com a atitude das feições a serem estudadas, objetos-chave para o estudo da
estabilidade que almeja esse trabalho. As principais bússolas de geólogo disponíveis no
mercado são aquelas denominadas tipo BRUTON e tipo CLAR.

A bússola, de maneira geral, é composta por uma agulha magnetizada, sensível ao


campo magnético da terra. A agulha fica suspensa pelo seu centro de gravidade, de
forma que pode girar livremente em torno do seu eixo, e alinha-se segundo o campo
magnético presente – a agulha sempre aponta para o pólo norte magnético, que
corresponde ao pólo sul geográfico da Terra. O pólo norte magnético descreve um
movimento lento e irregular em torno do pólo norte geográfico considerado fixo
porque é definido segundo meridianos geográficos – existe, portanto, um desvio
angular entre o Norte da bússola e o Norte Geográfico. A correção varia com a latitude
do observador – em geral, plantas topográficas e mapas de cidades mostram a
diferença de localização em ângulos que devem ser adicionados ou subtraídos do valor
apontado pela bússola. O Norte Magnético sofre perturbações de várias naturezas, sua
direção é imprecisa e é comum bússolas fornecerem medidas com erro superior a
meio grau.

A bússola será o equipamento a fornecer a direção dos planos inclinados, lineações,


fraturas, falhas, foliações, feições em rochas ou qualquer outro elemento (que pode
ser aproximado por plano ou reta) de interesse nesse estudo. Como as relações a
serem estudadas dizem respeito à posições relativas, não é necessário fazer qualquer
tipo de correção no valor apontado pela bússola.

Direção de planos (strike): é o ângulo formado entre o norte geográfico e a interseção


entre o plano horizontal e o plano de interesse.
Direção de retas (trend): é o ângulo formado entre o norte geográfico e a interseção
entre o plano horizontal e o plano vertical que contem a reta.

Para fazer a medição da direção, mantêm-se a bússola no plano horizontal e posiciona-


se a sua lateral paralelamente à direção do elemento de interesse. A seguir, é feita a
leitura da direção do elemento.

As bússolas de geólogo possuem um dispositivo sensível à inclinação. No caso da


bússola tipo CLAR, há uma agulha e um mostrador que varia de 0 a 90o segundo à
inclinação da própria bússola. Portanto, mede-se o mergulho posicionando,
paralelamente, a lateral da bússola de forma que a agulha sobre o mostrador possa
girar.

12
Mergulho de planos (dip): é o ângulo formado entre o plano horizontal e o plano de
interesse.
Mergulho de retas (plunge): é o ângulo formado entre a reta e a interseção do plano
horizontal e o plano vertical que contem a reta.

Atitude: é a orientação espacial de uma entidade geológica que pode ser aproximada
por plano ou reta, definida pela direção e mergulho.

Note que as terminologias em inglês para direção e mergulho são diferentes se o


elemento trata-se de um plano ou reta. Existe ainda o termo “dip direction” que é a
direção da reta de máximo declive do plano. A Figura 11 ilustra as definições descritas
anteriormente.

(a) (b)
Figura 11 – (a) Direção (strike) e mergulho (dip) de um plano; (b) direção (trend) e
mergulho (plunge) de uma reta.

A Figura 12 é um modelo de bússola tipo CLAR que pode ser utilizada na medição de
direções e mergulhos das entidades geológicas aproximadas por planos ou retas.

Figura 12 – Ilustração de uma bússola tipo CLAR, retirada do site de busca “Google”.

O conhecimento do manuseio de uma bússola de geólogo e a identificação da atitute


da feição geológica, descontinuidade, foliação, lineação, etc, são requisitos básicos
para a recolha de dados em campo.

13
3 – PROJEÇÃO ESTEREOGRÁFICA PARA GEOLOGIA ESTRUTURAL

3.1 – Premissas Básicas

A etimologia da palavra indica que estereografia significa a “grafia em um sólido fixo”


(o significado para os radicais gregos estereo e grafia são, respectivamente, sólido fixo
e ortografia, caligrafia). Entende-se que grafia em um sólido fixo é a interseção de um
objeto qualquer na superfície desse sólido. Para a projeção estereográfica utilizada em
problemas de geologia estrutural, a esfera é tomada como o sólido fixo.

Seja E uma esfera arbitrária e α um plano que contém o centro dessa esfera. Sejam P e
Q os pólos da esfera, cuja projeção ortogonal desses pólos no plano α é o centro da
esfera. Tome P ou Q, e apenas um desses pontos, e defina-o como zênite ou centro de
perspectiva da projeção.

“A projeção estereográfica de um ponto na superfície da esfera será a interseção


formada no plano α pelo segmento de reta com extremidade no ponto dado e no
zênite.”

(a) (b)

Figura 13 – (a) Visão tridimensional da projeção estereográfia de T; (b) visão


bidimensional segundo a circunferência que contêm P e T.

A interseção entre o plano α e a esfera de referência é chamada de primitiva ou


círculo-base. O interesse desse trabalho é estudar as relações de orientação e
caimento (atitudes) de um conjunto de retas e planos no espaço e, para fazer essa
análise, é necessário que esses elementos contenham o centro da esfera. Note que, é
possível obter a projeção estereográfica de um objeto que não contenha,
necessariamente, o centro da esfera. Entretanto, esse trabalho vai se ater às retas e
planos que passam pelo centro da esfera.

Seja a reta r, que passa pelo centro da esfera e intercepta a esfera em dois pontos, S e
T. A projeção estereográfica do ponto T, que está no hemisfério inferior é tomada a
partir de P e a projeção estereográfica do ponto S, que está no hemisfério superior é
tomada a partir de Q, conforme mostra a Figura 14. T’ e S’ são os pólos da reta r. Note
que, a reta que passa por PS e por QT não possuem projeções contidas na primitiva
(circunferência).

14
Figura 14 – Representação tridimensional dos pólos de uma reta. Os pólos fazem 180o
entre si.

A palavra pólo refere-se tanto para um ponto contido na superfície da esfera como
para a projeção estereográfica desse ponto contida na primitiva.

Uma vez que o nosso objeto de estudo será as relações angulares relativas entre retas
e planos no espaço que passam por um mesmo ponto (centro da circunferência de
referência), estamos interessados apenas nas projeções contidas na primitiva. É
convenção, em Geologia Estrutural, adotar o hemisfério inferior e o zênite no
hemisfério superior para produzir as projeções na primitiva. Adotando essas
premissas, é necessário e suficiente representar a reta por apenas um pólo. Esse pólo
define unicamente uma reta no espaço.

(a) (b)
Figura 15– (a) A reta é representada, de maneira única, pelo pólo T’; (b) representação
usual da primitiva e do pólo.

Se uma reta for perpendicular ao plano, sua projeção estereográfica será o centro da
circunferência. Se a reta for horizontal ao plano, sua projeção estará contida no traço
da primitiva. Adota-se apenas um ponto para representar o pólo da reta horizontal.

Os planos também devem conter o centro da esfera. Eles podem ser representados de
duas formas na primitiva:
a) Pelo pólo da reta que é perpendicular a esse plano e que passa pelo centro da
esfera – esse ponto é denominado pólo do plano;
b) Por um arco de círculo (ciclograma) que é a projeção estereográfica da
interseção do plano com a esfera de referência.

15
(a) (b)
Figura 16 – (a) A reta r é perpendicular ao plano que intercepta a esfera. T’ é o pólo do
plano; (b) o arco de círculo é o ciclograma que representa o plano na primitiva.

Dessa maneira, os ciclogramas de planos verticais serão segmentos que passam pelo
centro com extremidades na borda da primitiva e de planos horizontais serão a própria
borda da primitiva. E, de maneira inversa, os pólos de planos verticais se localizam na
borda da primitiva e os pólos de planos horizontais coincidirão com o centro da
primitiva.

Uma grande quantidade de planos, geralmente, é representada pelos seus pólos, por
ser uma representação menos densa. Outra razão para se usarem pólos no lugar de
ciclogramas, é discretizar famílias de planos muito verticais – por meio dos pólos, fica
mais fácil reconhecer essas famílias, como será visto no Capítulo 6, Estudo de Caso.
Porém, para uma atitude em especial e importante para a resolução do problema,
como a atitude de um talude, recorre-se à representação por meio de ciclograma,
dando maior destaque no estereograma à atitude em questão.

A unicidade das representações de retas e planos decorre das premissas básicas que
foram adotadas para a construção das projeções. São elas:

a) A esfera fixa;
b) O plano que determina a primitiva;
c) O zênite situado acima da primitiva cuja projeção ortogonal é o centro da
primitiva;
d) O hemisfério abaixo da primitiva que constitui nosso sólido de referência;
e) Planos e retas que passam pelo centro da esfera.

Uma vez obedecidos esses cinco itens, retas, planos, pólos e ciclogramas são
relacionados de maneira biunívoca pela operação de projeção. É bom frisar que, a
partir desse momento, a palavra elementos refere-se, indiscriminadamente, à retas e
planos que contêm o centro da primitiva.

3.2 – Redes de Schmidt e de Wulff

A primitiva pode ser setorizada segundo as projeções de meridianos e paralelos na


esfera de referência. Essa divisão será importante para, posteriormente, estabelecer
um sistema de coordenadas que vai identificar cada ponto por uma notação única.

16
Seja plα um plano vertical que divide o hemisfério inferior em duas partes iguais –
portanto, a projeção estereográfica da interseção do plα e a esfera é um diâmetro da
primitiva. Denote esse diâmetro como “direção Norte-Sul”, denotação que fará mais
sentido quando for introduzido o sistema de coordenadas. Conseqüentemente, a
direção Leste-Oeste fica bem definida.

Os meridianos são as interseções entre a esfera e os planos que contêm a direção


Norte-Sul e que fazem um ângulo dado com o plano da primitiva. A projeção dessas
interseções dá origem aos círculos máximos. Usualmente, são tomados planos de 2 em
2 graus, tanto para a esquerda quanto para a direita da direção Norte-Sul, como
mostra a Figura 17 e a Figura 18.

Figura 17 – Planos que contêm a direção Norte-Sul, distanciados de 10 em 10o.


Usualmente, as redes apresentam planos distanciados de 2 em 2o, tanto à esquerda
como à direita da direção Norte-Sul.

Figura 18 – A primitiva e os círculos máximos distanciados de 10 em 10o. Os círculos


máximos representam o mergulho do plano.

Os paralelos são as interseções produzidas na esfera por cones duplos regulares, que
compartilham o mesmo vértice e eixo. O eixo é a direção Norte-Sul e o vértice é o
centro da esfera. A projeção dessas interseções na primitiva dá origem aos círculos
mínimos. Usualmente, esses cones duplos também são tomados de 2 em 2 graus,

17
como mostra a Figura 19 e a Figura 20. A interseção de um cone duplo produz na
primitiva círculos mínimos simétricos - um deles fica localizado à norte e o outro à sul
em relação à direção Leste-Oeste.

Figura 19 – Em destaque, um cone duplo e seu correspondente círculo mínimo ao Sul.

Figura 20 – A primitiva e os círculos mínimos distanciados de 15 em 15 graus. Os


círculos mínimos estão associados com a direção de retas e planos.

Dessa forma, os círculos máximos e mínimos compõem o aspecto geral de uma rede
de projeção. O diagrama de Wulff não apresenta nenhuma distorção com relação à
projeção dos meridianos e paralelos e é conhecido como diagrama de igual-ângulo
porque o ângulo entre planos e retas pode ser medido sob qualquer direção. Porém,
planos e retas aleatórios plotados na rede de Wulff podem levar à falsa interpretação
que estão concentrados no centro do diagrama. A rede de Schmidt é conhecida como
diagrama de igual-área porque distorce a projeção de paralelos e meridianos para que
a mesma área seja distribuída entre meridianos ou paralelos igualmente espaçados,
como mostra a Figura 21. Como, em Geologia Estrutural, a resolução de muitos
problemas envolve o conhecimento da distribuição estatística das atitudes de planos e
retas, a rede de Schmidt será a mais utilizada. Nesse trabalho, a rede de Wulff será
utilizada somente para operar rotações de pontos no estereograma segundo um eixo
qualquer (Seção 3.7).

18
(a) (b)
Figura 21 – Comparação de áreas em diversos locais da rede: (a) em projeção na rede
de Schmidt; (b) na rede de Wulff.

Devido à construção da rede de Schmidt, as relações angulares se mantêm,


exclusivamente, ao longo dos círculos máximos (primitiva, diâmetros N-S, meridianos)
e da direção E-W e, por isso, os ângulos formados entre retas e planos só podem
sersão medidos ao longo dos círculos máximos ou da direção E-W.

A operação de medida de um ângulo na rede de Schmidt é feita por meio de rotação,


em torno do eixo vertical, dos elementos que se pretendem obter a medida do ângulo
até a posição que esse ângulo esteja contido no plano que define um meridiano. Essa
operação manual é explicada no Capítulo 1, Seção 1.2, que orienta o passo-a-passo na
utilização da rede de Schmidt, papel vegetal e percevejo para a marcação de retas,
planos e medidas de ângulos. É sugerida a leitura da Seção 1.2 para a realização de
trabalhos manuais envolvendo estereogramas.

Por convenção, a utilização de um estereograma deve deixar clara:

• O círculo do equador (primitiva);


• O Norte;
• A legenda dos símbolos usados;
• A indicação do tipo de estereograma (Schmidt, Wulff ou outros);
• A indicação do hemisfério considerado (inferior, por convenção, para a
aplicação em problemas de Geologia Estrutural).

A divisão da primitiva por meio de círculos máximos e mínimos é base dos três
sistemas de notações de coordenadas estabelecidos na Seção 3.3.

3.3 – Notação de Coordenadas

As coordenadas são importantes porque atribuem símbolos à todas posições da


projeção e, dessa forma, é possível descrever a orientação do elemento no espaço
tendo em mente apenas a disposição dos símbolos na primitiva. Essa é a principal
função da utilização de coordenadas: descrever a orientação de objetos. Os círculos

19
máximos estão associados com o mergulho e os círculos mínimos com a direção de
retas e planos.

São utilizados os pontos cardiais para a base do sistema de orientação da primitiva,


como mostra a Figura 22.

Figura 22 – Orientação da primitiva segundo os pontos cardiais.

Em Geologia Estrutural, a primitiva é orientada, usualmente, segundo um dos três


sistemas de coordenadas:

1) Quadrante;
2) Regra da mão direita;
3) Direção-inclinação.

Os três sistemas de coordenadas objetivam representar a atitude de um plano ou reta.


Para qualquer um deles, o mergulho sempre será dado por um mesmo número, o que
não é verdade para a direção.

Será adotado o sistema quadrante na maior parte do texto deste trabalho por ser o
mais usado na literatura geral e o mais fácil de ser medido com a utilização da bússola
em um trabalho de campo, apesar de ser o mais difícil quando é preciso operar
matematicamente com as coordenadas. Serão apresentados as três notações
mencionadas: a transformação de uma coordenada para o outro tipo será
conseqüência direta da definição.

3.3.1 – Notação Quadrante


A notação quadrante tem como referência básica a direção do plano ou reta com a
direção Norte-Sul. Dessa forma, a direção é dada por um valor entre 0 e 90o, seguido
de uma orientação Leste (E) ou Oeste (W). O mergulho é dado por um valor, entre 0 e
90o, seguido do quadrante em que está contido (para retas) ou seguido do sentido de
caimento (para planos).

Assim, por exemplo, a reta que faz 30o com a direção Norte-Sul e que tem o mergulho
igual a 50o, tem uma das quatro possibilidades abaixo. Veja a Figura 23 a seguir.
1. Direção: N30W – Mergulho: 50SE ou N30W/50SE
2. Direção: N30W – Mergulho: 50NW ou N30W/50NW
3. Direção: N30E – Mergulho: 50SW ou N30E/50SW
20
4. Direção: N30E – Mergulho: 50NE ou N30E/50NE

Figura 23 – Possíveis representações do pólo de uma reta que tem direção igual a 30o e
mergulho igual a 50o. Note que o ponto é a interseção do segmento de reta com o
círculo máximo de 50o rotacionado.

E um plano que tem direção igual a 30o e mergulho igual a 50o, tem, também, uma das
quatro possibilidades. Veja a Figura 24 a seguir.
1. Direção: N30E – Mergulho: 50SE ou N30E/50SE
2. Direção: N30E – Mergulho: 50NW ou N30E/50NW
3. Direção: N30W – Mergulho: 50NE ou N30W/50NE
4. Direção: N30W – Mergulho: 50SW ou N30W/50SW

Figura 24 – Possíveis representações de um ciclograma de um plano que tem direção


igual a 30o e mergulho igual a 50o. Note que o ciclograma é o círculo máximo de 50o
rotacionado.

3.3.2 – Notação Regra da Mão Direita


A notação da regra da mão direita considera a direção de plano ou reta tendo
unicamente como referência a posição 0 (Norte) e o rumo do mergulho não precisa ser
referido por meio de quadrantes ou caimentos, uma vez que fica bem determinado.
Então, a direção ficará entre 0 e 360o, com relação à posição 0. Na prática, pode-se
usar o braço direito como auxílio para a determinação de coordenadas.

No caso de retas, o braço direito projeta-se sobre o mergulho da reta e o braço


esquerdo apontará para o valor da direção. Assim, uma reta que tem como
coordenadas na notação quadrante N30E/50NE, terá na notação regra da mão direita
210/50, como mostra a Figura 25.

21
Figura 25 – Notação Regra da Mão Direita: 210 / 50.

No caso de planos, o braço direito projeta-se sobre o mergulho do plano e a visão


estará apontada para o valor da direção. Assim, um plano que tem como coordenadas
na notação quadrante N30E/50SE, terá na notação regra da mão direita 30/50, como
mostra a Figura 26.

Figura 26 – Notação Regra da Mão Direita: 30 /50.

3.3.3 – Notação Direção-Inclinação


Como a notação regra da mão direita, a notação direção inclinação (ou notação Clar)
tem como referência básica a posição 0 (Norte). A notação será definida segundo a
atitude da reta de máximo decline.

No caso de retas, a reta de máximo declive será a própria reta e a direção é definida
pela posição em relação à posição 0. Assim, uma reta que tem como coordenadas na
notação quadrante N30E/50NE, terá notação Clar 30/50, como mostra a Figura 27.

Figura 27 – Notação Direção Inclinação: 30 / 50.

22
No caso de planos, a projeção da reta de máximo declive do plano é aquela que faz 90o
com a direção. A direção do plano é representada por um diâmetro da primitiva e a
projeção da reta de máximo declive é a interseção entre o seguimento perpendicular
ao diâmetro e o ciclograma. Assim, um plano que tem como coordenadas na notação
quadrante N30E/50SE, terá notação Clar 120/50, como mostra a Figura 28. Note que
30+90=120.

Figura 28 – Notação Direção Inclinação: 120 / 50.

3.3.4 – Comparação entre as notações


Na Tabela 2, três retas e três planos são representados pelos três sistemas de
coordenadas apresentados: notação quadrante, regra da mão direita (RMD) e direção-
inclinação (DI).

Tabela 2 – Representação de 3 planos e 3 retas segundo 3 notações de atitudes.

ELEMENTO NOTAÇÃO DA ATITUDE


QUADRANTE RMD DI
Reta 1 N20W/54NW 160/54 340/54
Reta 2 N15W/67SE 345/67 165/67
Reta 3 N16E/55NE 196/55 16/55
Plano 1 N17E/60NW 197/60 287/60
Plano 2 N23W/65NE 337/65 67/65
Plano 3 N13E/73SE 13/73 103/73

A plotagem de planos e retas segundo a notação quadrante na Rede de Schmidt é um


tema abordado na Seção 1.2.

3.4 – Ângulos

Uma operação elementar em projeção estereográfica é a medida de um ângulo


formado entre retas ou entre planos ou entre retas e planos. Esses elementos, devido
às premissas básicas, são concorrentes no centro da primitiva. A rede de projeção a ser
considerada é a rede de isoárea de Schmidt.

Como o ângulo terá vértice no centro da primitiva, a operação de rotação objetiva


rotacionar os elementos até que o ângulo formado esteja contido em um dos planos
que determina um círculo máximo. Dessa forma, o ângulo formado pode ser medido e

23
é proporcional ao comprimento do arco delimitado pelos pólos. A Figura 29 ilustra a
rotação de duas retas para que o ângulo entre elas possa ser medido na primitiva.

(a) (b)
Figura 29 – (a) Duas retas formando um ângulo no espaço; (b) as retas são
rotacionadas até que T’ e Q’ estejam contidos no mesmo círculo máximo.

Geralmente, toma-se o ângulo agudo para representar o ângulo formado entre planos
e retas, porém, a forma a ser apresentada pode levar à medida do ângulo obtuso dos
elementos em questão – se esse for o caso, basta subtrair o valor encontrado de 1800.

O problema fundamental é medir o ângulo formado por duas retas. Para problemas
que envolvem planos, através de construções auxiliares, produz-se retas que
correspondem ao ângulo a ser medido e recorre-se à resolução do problema
fundamental.

A Seção 1.2 do Capítulo 1 possui um exemplo de como medir ângulos para cada um
dos casos explicitados nos itens a seguir, a partir da rede de Schmidt e da utilização do
papel vegetal.

3.4.1 – Ângulo Formado Entre Duas Retas


Sejam duas retas representadas pelos seus pólos P e Q, como mostra a Figura 30. Para
medir o ângulo formado por essas duas retas, é necessário rotacioná-las até que esses
dois pólos estejam contidos em um círculo máximo. Quanto maior o ângulo, maior
será o arco determinado pelos dois pólos.

Figura 30 – À esquerda, posição inicial dos pólos. À direita, rotação das retas até que P
e Q estejam contidos em um círculo máximo. O arco compreendido entre eles é a
projeção do ângulo formado entre as retas.

24
Para chegar ao número que representa o valor do ângulo, conta-se a quantidade de
círculos mínimos que cortam o arco do ciclograma determinado pelos dois pólos. Na
rede de Schmidt, os círculos mínimos são representados de 2 em 2o.

3.4.2 – Ângulo Formado Entre Dois Planos

Há duas formas de medir:

a) Através de tangentes;
b) Através dos pólos dos planos.

O método das tangentes só é aplicável ao diagrama de Wulff e, por isso, não será aqui
apresentado.

Sejam dois planos determinados pelos seus pólos P e Q. Mede-se o valor do ângulo
formado pelos pólos, conforme descrito no item 3.4.1. Esse valor é igual a um dos
ângulos formados pelos planos.

3.4.3 – Ângulo Formado Entre Uma Reta e Um Plano


Dados um plano α e uma reta r qualquer, que sejam concorrentes, o ângulo formado
será igual àquele entre a reta dada e a interseção entre o plano dado e o plano
perpendicular que contem a reta dada. Como mostra a Figura 31, o ângulo formado
entre o plano α e a reta r é θ.

(a)

(b)
Figura 31 – (a) Plano α e a reta r; (b) o plano auxiliar β é construído para determinar a
interseção t. Note que o plano β é perpendicular a α e contêm r. O ângulo formado
entre r e α (θ) está em destaque. A reta s está contida no plano β, é perpendicular ao
plano α e também é uma construção auxiliar para a determinação do valor de θ.

25
A reta s é facilmente construída porque é representa pelo pólo do plano α. Assim,
determina-se o ângulo formado entre os pólos das retas r e s. O valor do ângulo
formado entre a reta e o plano iniciais será o valor complementar, ou seja, a diferença
entre 900 e o valor do ângulo formado entre r e s.

Resumindo:
1. Marca-se os pólos da reta e do plano dados na rede de Schmidt;
2. Mede-se o ângulo formado por esses pólos;
3. O valor complementar é o valor procurado.

Se a reta e o plano não são concorrentes, a reta está contida no plano e, portanto, o
ângulo entre eles é igual a zero. Isso acontece quando o pólo da reta está contido no
ciclograma do plano.

3.5 – Outras Construções

Há todo momento, foi aplicado os postulados da geometria plana. Deve ficar clara a
correspondência desses axiomas com a nomenclatura utilizada em projeções
estereográficas, devido às premissas básicas de construção explicitadas no item 3.1.

Postulado 1 – “Duas retas determinam unicamente um plano”.


Correspondência: dois pólos determinam unicamente um ciclograma, como mostra a
Figura 32.

Figura 32 – Ciclograma determinado pelos pólos P e Q.

Postulado 2 – “A interseção de dois planos determina unicamente uma reta”.


Correspondência: a interseção de dois ciclogramas determina unicamente um pólo,
como mostra a Figura 33.

Figura 33 – Pólo determinado pelos ciclogramas α e β.

26
Lembre-se que o ciclograma, por meio de uma operação de rotação adequada,
corresponde a um círculo máximo.

Outra construção fundamental é construir a projeção ortogonal de uma reta segundo


um plano. Em geologia estrutural, é comum a necessidade de correlacionar lineações
com planos estruturais e, daí, vem a aplicação da projeção ortogonal.

A projeção ortogonal de uma reta r em um plano α é a interseção formada pelo plano


perpendicular à α que contêm r.

Seja um plano α e uma reta r concorrentes e representados, respectivamente, pelo seu


ciclograma e pólo. A projeção de r em α é encontrada da seguinte forma:

1. Marca-se o ciclograma do plano α e o pólo (P) da reta r;


2. Marca-se o pólo (Q) do plano α;
3. Rotacionam-se os pólos P e Q até que fiquem contidos em um círculo máximo.
Marca-se o círculo máximo encontrado que representa o ciclograma formado
pelos pólos P e Q;
4. A interseção entre os ciclogramas é a projeção de r em α, como mostra a
Figura 34.

Figura 34 – Projeção ortogonal (s) de r em α.

A determinação de bissetrizes é importante para análise de regimes de esforços ou


planos de simetria. Dados P e Q, pólos de duas retas, a bissetriz estará localizada na
posição que divide o ângulo formado pelos dois pólos em duas partes iguais.

1. Marca-se a posição dos pólos P e Q na primitiva;


2. Rotacionam-se os pólos até que estejam contidos no mesmo círculo máximo;
3. Marca-se o ponto médio do arco delimitado pelos pólos P e Q. Esse ponto é a
reta bissetriz procurada, conforme mostra a Figura 35.

27
Figura 35 – Bissetriz S de P e Q.

3.6 – Lugares Geométricos

Seja uma reta r no espaço que passa pelo centro da esfera. Considere todas as retas
que também passam pelo centro da esfera e formam com r um ângulo θ. O conjunto
de todas essa retas é o lugar geométrico das retas do espaço que passam pelo centro
da esfera e que formam um ângulo θ com r – logo, esse lugar geométrico é um cone
duplo com vértice no centro da esfera. Serão estudados três casos: quando o eixo
(reta r) do cone duplo é vertical, horizontal ou inclinado.

Figura 36 – Lugar geométrico das retas que fazem ângulo θ com a reta r (eixo do cone
duplo).

Se o eixo é vertical, o pólo do eixo é o próprio centro da primitiva. O lugar geométrico


dos pólos na primitiva que fazem o ângulo θ com o eixo vertical é dado por um círculo
centrado no centro da primitiva na Rede de Wulff, cujo raio é tangente ao círculo
máximo que demarca θo. A Figura 37 mostra o lugar geométrico dos pólos que fazem
30o com o eixo vertical. Como a Rede de Schmidt é deformada, a circunferência
também deverá ser deformada, entretanto, esse procedimento resulta em boa
aproximação.

28
Figura 37 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com o eixo vertical.

Se o eixo é horizontal, o pólo do eixo está localizado nas bordas da primitiva. O lugar
geométrico dos pólos na primitiva que fazem o ângulo θ com o eixo horizontal será um
círculo mínimo rotacionado. Por definição, um círculo mínimo é o lugar geométrico dos
pólos que fazem determinado ângulo com a direção Norte-Sul.

Sendo assim, rotaciona-se o pólo do eixo horizontal até que coincida com o Norte ou
Sul da rede de Schmidt. Marca-se, então, os círculos mínimos correspondentes a θo. A
Figura 38 mostra o lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com o eixo horizontal r
(representado pelo pólo P).

Figura 38 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com o eixo r.

Se o eixo é inclinado, demarca-se o pólo correspondente ao eixo. Ao longo do círculo


máximo, demarcam-se mais dois pólos (um para o Norte e outro para o Sul) que fazem
ângulo θ com o eixo dado. Rotaciona-se até que o pólo do eixo se encontre em um
novo círculo máximo e demarcam-se mais dois pólos distanciados de θo do eixo. E
assim, sucessivamente, demarca-se uma quantidade suficiente de pólos até que possa
ser visualizada a figura fechada em torno do eixo inclinado. A Figura 39 mostra o lugar
geométrico dos pólos que fazem 30o com o eixo inclinado r (representado pelo pólo P)
e a Figura 36 é a visualização tridimensional desse problema.

Figura 39 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com P.

29
Caso se atinja a borda do estereograma, é necessário continuar a contagem pelo lado
oposto como mostra a Figura 40.

Figura 40 – Lugar geométrico dos pólos que fazem 30o com P.

Pode ser de interesse determinar a reta que faz determinados ângulos com duas ou
mais retas dadas e, para isso, será necessário a determinação de lugares geométricos
dois a dois. A interseção dos lugares geométricos será a reta procurada. A Figura 41
mostra um exemplo deste tipo de problema.

Figura 41 – Determinação da reta s que faz 30o com r1, 30o com r2 e 40o com r3.

3.7 – Operações de Rotação de Pólo no Estereograma

Para a operação de rotação de pólos em um estereograma, o ideal é utilizar a rede de


Wulff porque redes de igual-ângulo possibilitam medição de ângulos ao longo de
círculos mínimos e outros arcos. Entretanto, a rede de Schmidt permite boas
aproximações se os procedimentos descritos a seguir forem aplicados. Será analisado o
comportamento de um pólo P no estereograma segundo a rotação de θ graus em
torno de um eixo vertical, um horizontal e um inclinado. O eixo vertical tem projeção
estereográfica no centro da primitiva, o eixo horizontal na borda e o eixo inclinado em
qualquer outro pólo que não esteja nos conjuntos citados anteriormente.

Se no estereograma o ponto P é rotacionado θ graus até P’ em torno do eixo vertical, o


ponto P descreverá uma trajetória segundo um arco de circunferência centrado no
centro da primitiva, conforme mostra a Figura 42.

30
Figura 42 – Rotação de P em torno do eixo vertical.

Se no estereograma o ponto P é rotacionado θ graus até P’ em torno de um eixo


horizontal, o ponto P descreverá uma trajetória segundo um círculo mínimo, a menos
de uma rotação desse círculo. De fato, se o eixo de rotação fosse a direção Norte-Sul, a
trajetória de P se daria sobre um círculo mínimo – portanto, se o eixo não estiver nessa
direção, rotaciona-se até que a posição do eixo coincida com a direção Norte-Sul e
gira-se P em θ graus até sua nova posição P’, conforme mostra a Figura 43.

(a) (b)
Figura 43 – (a) Rotação de θ graus de P em torno do eixo Norte-Sul. A posição final de
P é P’; (b) rotação de θ graus de P em torno do eixo a. A posição final de P é P’. Note
que o círculo mínimo está rotacionado.

Resumidamente, tem-se:
1. Marca-se o pólo do eixo horizontal no estereograma;
2. Rotaciona-se até que o pólo coincida com o Norte ou com o Sul da rede de
Wulff;
3. Marcam-se os dois círculos mínimos que passam por P;
4. Caminha-se sobre o traçado a quantidade de graus que P gira em torno desse
eixo.

Se a quantidade de graus a contar atingir a borda da primitiva, a contagem deve


continuar no círculo mínimo simétrico até totalizar o número desejado. Quando isso
acontece, significa que, devido à rotação em torno do eixo horizontal, a interseção da
reta na esfera de referência que estava localizada no hemisfério inferior (I1) passou
para o hemisfério superior (I2), como mostra a Figura 44. Assim, deve-se representar a
outra extremidade da reta rotacionada, que terá interseção no hemisfério inferior (I3).
As interseções I1 e I3 possuem projeções estereográficas situadas em círculos mínimos
simétricos.

31
(a) (b)
Figura 44 – (a) Se a contagem de graus atingir a borda, deve-se continuar no círculo
mínimo simétrico até que se totalize a quantindade necessária. Nesse caso, a posição
final de P é P’. (b) Visão tridimensional do movimento de P a P’. P corresponde a I1 e P’
a I3.

Se o eixo é inclinado, “verticaliza-se” ou “horizontaliza-se” o eixo para operar como em


um dos casos descritos anteriormente. Como exemplo, seja o eixo E inclinado e o pólo
P que gira θ graus em torno de E. O eixo E será horizontalizado. O passo-a-passo dessa
operação está descrito a seguir, relacionando os números dos itens abaixo com os
números da Figura 45.

1. Dados o eixo E e o pólo P marcados sobre a rede de Wulff, rotaciona-se a folha


até que E esteja sobre a direção Leste-Oeste;
2. E é horizontalizado quando passa para a posição E’, na borda do estereograma.
P descreve a mesma quantidade de graus (β) solidariamente a E e sua trajetória
se dá segundo um círculo mínimo;
3. Gira-se até que E’ ocupe a posição do Norte ou Sul da rede de Wulff. Assim, P’
que situa-se sobre um novo círculo mínimo, pode girar a quantidade de graus
prevista (θ) para o problema. Portanto, P’ passa para a posição P’’;
4. Gira-se novamente até E’ voltar para a posição que estava no passo 2, ou seja,
E’ retorna para a posição E. Solidariamente, P’’ descreve a mesma quantidade
de graus (β) segundo um círculo mínimo, passando para a posição P1;
5. Retorna-se E para a posição original. P1 é a posição procurada: resultado da
rotação de P em torno de E.

2
1

32
3 4

5
Figura 45 – (1) Rotação do eixo E e de P; (2) horizontalização do eixo E, que passa a ser
E’. Movimento solidário de P a P’; (3) P’ gira em torno de E’, até P’’; (4) E’ retorna a E e
P’’ movendo-se solidariamente até P1; (5) o estereograma volta a posição original.

Se, ao invés de horizontalizar, o eixo E fosse verticalizado, no passo 2 teria-se que levar
E ao centro da rede de projeção e P giraria solidariamente em sentido contrário. Dessa
maneira, P variaria θ graus sobre um arco de circunferência centrada no centro da
primitiva, que corresponde à rotação em torno de um eixo vertical.

33
4 – DIAGRAMAS DE CONTORNO

A determinação de atitudes de um conjunto grande de planos ou retas e a


transferência desses dados para a rede de Schmidt pode ficar demasiadamente
concentrada em alguma região – essa concentração é ainda mais interessante do
ponto de vista estrutural se puder ser quantificada.

Existem alguns padrões de distribuição (análise cinemática) que são característicos de


certos tipos de falhas e os diagramas de contorno tem aplicação direta nessa análise.
Neste capítulo, a rede de Schmidt será utilizada, pois o estudo de distribuições
estatísticas das atitudes só pode ser realizado em redes de igual-área.

A priori, um conjunto de pontos em um estereograma pode ser um conjunto de retas


no espaço ou um conjunto de planos (representados pelos seus pólos). No sentido das
bordas para o centro, o ângulo cresce para lineações e decresce quando se trata de
pólos de planos – por isso, é essencial saber se os pólos representam retas ou planos.
O objetivo é agrupar, por meio de curvas de isodensidade, planos ou retas que tenham
atitude semelhante. Para que esse agrupamento seja válido em um caso real, é
necessário que se tenha uma amostra representativa desses elementos – na prática,
isso significa um número superior a 200 medidas. A função primordial desse estudo é
transformar observações qualitativas em observações quantitativas, providas de
significado estatístico: ou seja, uma quantidade cada vez maior de dados levará a um
aumento significativo na segurança das conclusões.

O procedimento para a determinação densitária dos pontos (contorno) em um


estereograma, dar-se-á através dos seguintes passos:

1o) Transferência dos dados para a rede de Schmidt;


2o) Cálculo da densidade através de um contador;
3o) Cálculo da porcentagem;
4o) Traçado das curvas de isodensidade.

O contador utilizado será a rede de contagem de Dimitrijevic (Seção 1.2.6) – “contruída


a partir da rede estereográfica de Schmidt, esta rede de contagem é composta por
elipses que exibem formas variadas, de acordo com a sua posição em relação ao
centro da rede. Cada elipse sempre ocupa 1% da área total do estereograma. As redes
de contagem são apresentadas em par, para evitar a sobrecarga de desenho que
certamente ocorreria, caso todas as elipses necessárias fossem lançadas em uma única
rede, e diferem entre si pela posição e forma das elipses.” – (CELSO DAL RÉ
CARNEIRO). As redes de contagem de Dimitrijevic foram denominadas, nesse trabalho,
como contador A e contador B, apresentadas na Seção 1.2.6.

O procedimento para o traçado de curvas de isodensidade será explicado por meio de


um exemplo. Porém, por razões didáticas, será utilizado um pequeno conjunto teórico
de dados. Na prática, não se aplicaria o estudo à tal conjunto por se tratar de uma
amostra não-representativa do problema.

34
4.1 – Traçados dos Contornos de um Conjunto de Dados
4.1.1 – Exemplo Didático
Seja um conjunto de pólos de planos que representam fraturas em um maciço de
granito. Os treze dados da Tabela 3 determinam as atitudes dos planos no espaço. A
Figura 46 é a transferência dos pólos para a rede de Schmidt. Note que, se os pólos
têm mergulho para SW, significa que no problema real os planos mergulham para NE.

Tabela 3 – Pólos de planos.

Pólos de Planos
N70E 40SW N60E 40SW N50E 50SW N40E 60SW
N70E 50SW N60E 50SW N50E 70SW
N70E 60SW N60E 60SW N40E 40SW
N70E 70SW N50E 40SW N40E 50SW

Figura 46 – Projeção dos pólos em folha de papel vegetal sobre a Rede de Schmidt.

Coloca-se a folha de papel vegetal sobre a rede de contagem A de Dimitrijevic,


marcam-se todas as elipses que possuem pelo menos um pólo em seu interior e no
centro dessa elipse, anota-se a quantidade de pólos contabilizados. Deve-se percorrer
todos os centros de elipses e, se necessário, um pólo pode ser mais de uma vez
contabilizado, caso ele pertença à interseção de área. Procede-se da mesma forma
para a rede de contagem B, que produzirá uma malha parecida, mas diferente, de
centros de elipses na mesma folha vegetal. A Figura 47 e Figura 48 mostram o
resultado dessa contagem e mais alguns detalhes, utilizando os dois contadores.

35
Figura 47 – Todas as elipses do contador B que possuem pelo menos um pólo são
marcadas e, em seu centro, anota-se a quantidade de pólos que ela contêm.

(a)

(b)
Figura 48 – (a) À esquerda, elipses do contador A, à direita, elipses do contador B; (b) a
união dos centros das elipses, provenientes do contador A e B gera uma nova nuvem
de pontos. À esquerda, os pólos iniciais e à direita, os centros das elipses.

Considere, apenas, essa malha de pontos, onde cada ponto é o centro de uma elipse.
Então, “triangula-se” a malha e divide-se cada aresta do triângulo em função do
número apresentado em suas extremidades conforme mostra a Figura 49.

36
Figura 49 – Exemplo de uma triangulação feita à mão-livre. Os pontos viram vértices de
triângulos e as arestas são subdivididas em ordem de grandeza compatível às
porcentagens indicadas pelos pontos. A curva de 20% é, então, traçada.

Para melhor apresentação da distribuição como um todo, utilizamos valores


percentuais para a quantidade de pólos contidos em cada elipse. Assim é mais fácil
perceber a distribuição estatística das atitudes. Para o caso didático que está sendo
estudado, se uma elipse apresentar 4 pólos em seu interior, significa que 31% dos
pólos estão concentrados naquele 1% de área.

A subdivisão das arestas é uma decisão arbitrária, pois depende do bom senso de
quem está executando o desenho. Deve ser tal que as curvas de isodensidade não
fiquem demasiadamente afastadas nem próximas umas das outras. Em suma, o
número de curvas deve atender às necessidades de apresentação do problema.

O contorno é realizado segundo as curvas de isodensidade, que obedecem às mesmas


regras de traçado de curvas de nível. Para uma melhor visualização dos máximos de
densidades, preenche-se os vários domínios com densidades diferenciadas de pontos –
o domínio de densidade mais elevada é completamente pintado de preto. É válido
também usar um leque de cores que reserva seus tons mais fortes e escuros para os
domínios de alta densidade e tons quão mais claros quanto menor for a densidade de
pontos.

Figura 50 – Traçado do contorno do conjunto de dados com destaque para a curva


zero.

37
Dessa forma, um conjunto de pólos pode ser representado por um único pólo,
localizado no ponto central da área limitada pela curva fechada de maior densidade –
esse pólo será o representante (ou o máximo) dessa concentração que é denominada
como família de planos.

4.1.2 – Outras considerações


A contagem de pólos perto da borda da primitiva se dá da mesma forma como descrito
anteriormente, atentando-se ao fato que parte da elipse pode estar situada na parte
diametralmente oposta do estereograma. Dessa maneira, todos os pólos que
estiverem contidos em qualquer uma das partes devem ser contabilizados e a
quantidade anotada no centro da elipse. Se o centro de uma elipse estiver
representado duas vezes (como é o caso da rede de contagem A), deve-se anotar o
valor encontrado nos dois centros. A Figura 51 ilustra a contagem de pólos adjacentes
aos limites, utilizando-se os dois contadores de Dimitrijevic.

(a) (b)
Figura 51 – (a) No contador A, o centro da mesma elipse é representado duas vezes,
em pontos diametralmente opostos; (b) no contador B, parte da elipse encontra-se
diametralmente oposta, porém o centro está em apenas uma das partes.

Em um estereograma, é necessário fazer a curva zero, a curva que separa a região que
possui pólos daquela em que nenhum pólo foi contabilizado porque é de importância
fundamental para entender a dispersão dos dados. Ela é traçada rente à curva de
menor densidade e, apesar de ser necessária, parte de um critério arbitrário: do bom
senso do desenhista. Não deve estar nem demasiadamente afastada ou próxima da
curva de menor densidade, mantendo uma distância equivalente à distância entre as
curvas de isodensidade.

As curvas que terminam na borda da primitiva devem aparecer no lado


diametralmente oposto pois as curvas de isodensidade devem ser fechadas. Utilizam-
se marcações de diâmetros para determinar o ponto de reaparecimento da curva.
Porém, existem situações em que o bom senso manda que a curva de densidade
apenas tangencie o equador, não sendo necessário, portanto, o reaparecimento da
curva no ponto diametralmente oposto. Alguns exemplos de situações são indicadas
na Figura 52.

38
Figura 52 – Diagrama de contorno cruzando o estereograma. No ponto A, a curva
também poderia cruzar a rede mas foi simplificada.

É bom frisar que existem vários tipos de contadores que servem igualmente para os
propósitos de contagem como a rede de Kalsbeek que utiliza, no lugar de elipses,
hexágonos regulares e distorcidos. Os resultados produzidos pelas diferentes redes são
equivalentes entre si.

4.2 – Estruturas Dominantes

Dados recolhidos em maciços podem apresentar configurações facilmente associadas


aos esforços que sofreram no passado geológico e mais, indicar direções de
falhamento ou tipos de ruptura. Primeiramente, serão apresentadas algumas
configurações produzidas por esforços externos e no próximo capítulo quatro tipos de
falhas serão abordados.

Para que isso seja possível a visualização de esforços no estereograma, é necessário


que haja concentração de pólos ou formação de famílias – se a nuvem estiver dispersa
por todo diagrama, a direção dos esforços que atuaram naquela região não será
facilmente reconhecida.

4.1.1 – Diagrama com um único máximo


Os diagramas com um único máximo podem representar uma superfície de
acamamento, eixo de dobras, foliações, esforços unidirecionais que existiram na
região, etc. São caracterizados por apresentarem um único máximo representativo.

Na Figura 53, o acamamento regional foi determinado a partir de um diagrama de


máximo único. O caso é hipotético.

39
Figura 53 – Diagrama de um único máximo.

4.1.2 – Diagrama com dois máximos


Os diagramas com dois máximos podem representar sistemas cisalhantes de fraturas e
flancos de dobras angulares. São caracterizados por apresentarem dois máximos
representativos. O caso mais geral de interpretação é na determinação do elipsóide de
esforços. A Figura 54 mostra um elipsóide triaxial de tensões, formado por vetores de
módulos diferentes entre si.

(a) (b)
Figura 54 – (a) Elipsóide triaxial de tensões com eixos de tensões principais máxima
(σ1), intermediária (σ2) e mínima (σ3); (b) no plano definido por σ1 e σ3, indica-se a
direção das tensões cisalhantes máximas.

Pode-se supor que um maciço é composto por elementos infinitesimais em forma de


cubos e que os esforços atuam em suas faces. A tensão atuante pode ser decomposta
em tensões normais ao longo de três eixos ortogonais. Se o elemento cúbico encontra-
se em equilíbrio, as tensões anulam-se entre si. As tensões normais são
perpendiculares ao plano de referência enquanto que as cisalhantes são paralelas,
como mostra a Figura 55.

Figura 55 – As tensões anulam-se nas faces opostas na condição de equilíbrio.

40
Para a condição de equilíbrio ser alterada, é necessário uma força atuante. Qualquer
força atuante na área infinitesimal (portanto, tensão), pode ser decomposta em um
sistema ortogonal de coordenadas. A força decomposta origina as tensões máxima,
intermediária e mínima, representadas, respectivamente, por σmáx, σint e σmín.

Qualquer plano cuja atitude for paralela a dois dos três eixos principais será solicitado
apenas por uma tensão normal σ, idêntica à terceira, porque a projeção ortogonal
(tensão cisalhante) dessa tensão normal no plano é nula. Por outro lado, qualquer
outro plano arbitrário, as solicitações incluirão uma tensão normal e uma tensão
cisalhante.

A tensão máxima cisalhante (τmáx) sucede-se ao longo de duas superfícies que fazem
um ângulo teórico de 45o com a direção de tensão normal máxima e mínima,
conforme mostrou a Figura 54(b). Entretanto, devido às características de composição
e resistência distribuídas nos maciços, nem sempre o rompimento cisalhante se dá ao
longo da direção de tensão máxima (τmáx).

A determinação do elipsóide de tensões para o diagrama de dois máximos será


explicada através de um exemplo teórico. O que está sendo procurado, na resolução
desse problema, são as atitudes de σmax, σint e σmin e não a magnitude destas tensões.
Como teremos duas famílias principais de falhamento, a disposição das tensões
normais pode ser visualizada, como mostra a Figura 56 e, portanto, a determinação
das atitudes das tensões é conseqüência direta.

Figura 56 – A e B representam duas famílias de planos de fraturas devido às tensões


cisalhantes. As tensões σmáx e σmín são ortogonais entre si e estão contidas em um
plano perpendicular ao plano A e B. A tensão σint está contida na reta-interseção de A e
B. A σmáx divide o ângulo de A e B em duas partes iguais.

Sejam os pólos, pA e pB, representantes dos dois máximos cujas coordenadas são,
respectivamente, N40E/40NE e N70W/20NW. Portanto, as famílias de planos
relacionadas à esses máximos tem atitude N50W/50SW (plano A) e N20E/70SE (plano
B). Seguem-se os passos para a determinação das atitudes das tensões normais:

1. Desenha-se os ciclogramas correspondentes aos planos A e B. A interseção


entre os arcos desses ciclogramas é a atitude de σint , cuja as coordenadas são
N01E/42SW;

41
2. As tensões máximas e mínimas encontram-se no plano perpendicular aos dois
planos e, por isso, esse plano é determinado pelo ciclograma que passa por pA
e pB. Determina-se o ângulo formado pelos dois planos (88o) e o ponto que
determina a metade desse ângulo será σmax, cuja coordenadas é N22W/46NW;
3. A tensão mínima está afastada da tensão máxima em 90o. Portanto, as
coordenadas da σmin é N78E/12NE.

2 3
Figura 57 – (1) Determinação da atitude da tensão intermediária; (2) determinação da
atitude da tensão máxima; (3) determinação da atitude da tensão mínima.

Note que os planos de cisalhamento fazem 88o entre si, situação que é possível em um
caso real conforme já foi discutido. Quando se formam esses tipos de fratura,
geralmente desenvolvem-se mais dois tipos: fraturas de extensão – Figura 58(a) – e
fraturas de alívio – Figura 58(b). As primeiras são paralelas e as segundas normais em
relação à σmax.

(a) (b)
Figura 58 – (a) Fraturas de extensão; (b) fraturas de alívio.

42
4.1.3 – Diagrama com distribuição ao longo de um círculo máximo
Quando os pólos de um conjunto de planos situam-se ao longo de um círculo máximo,
dizemos que o diagrama é do tipo guirlanda e que os pólos estão dispostos segundo
uma guirlanda. Estruturas planares dispostas paralelamente a um certo eixo ou
estruturas lineares que tendem a se situar sobre um mesmo plano exibem diagramas
do tipo guirlanda, como mostra a Figura 59.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 59 – (a)Dobra representada apenas pelas retas de máximo declive dos planos;
(b) possível representação da situação em a; (c) minerais formados segundo um plano;
(d) possível representação da lineação desses minerais.

Quando tratamos de planos que apresentam diagrama do tipo guirlanda, o eixo da


guirlanda representa o eixo médio daquele conjunto em sentido estereográfico, não
em sentido físico – ou seja, no problema real, pode acontecer de nenhum plano de
falha ou fratura apresentar a atitude do eixo médio.

No estudo de lineações e foliações de uma rocha, duas ou mais atitudes podem


apresentar concentrações de medidas, o que vai gerar o aparecimento de duas ou
mais guirlandas.

A partir de um diagrama tipo guirlanda para planos, é possível determinar o ângulo


interflanquial α, conforme mostra a Figura 60, entre duas famílias de planos. É
importante salientar que a determinação do ângulo interflanquial só é possível se
existirem duas famílias distintas e bem marcadas sobre o estereograma.

43
Figura 60 – O ângulo interflanquial é determinado pelo ângulo formado entre os dois
eixos médios das famílias de atitudes.

A determinação do ângulo interflanquial será explicada através de um exemplo


teórico. Seja um conjunto de planos cujo seus pólos situam-se sobre um círculo
máximo – as medidas foram tomadas ao longo de flancos de dobras cilíndricas
inclinadas. Procede-se, então, da seguinte forma para a determinação do ângulo:

1) Determina-se o ciclograma (guirlanda) que melhor se assenta aos pólos dos


planos de fratura e marcam-se as duas famílias (A e B) situadas sobre essa
guirlanda;
2) A partir do máximo que representa cada uma das famílias, determina-se o
plano associado à esse pólo e, assim, o plano que representa a Família A e o
plano que representa a Família B;
3) O ângulo interflanquial, que é o ângulo entre os dois planos determinados
anteriormente, é medido sobre a guirlanda que, por construção, é
perpendicular a esses planos.

A Figura 61 ilustra o procedimento para a determinação do ângulo interflanquial.

2 3
Figura 61 – Procedimento de 1 a 3 para determinação do ângulo interflanquial.

44
4.1.4 – Diagrama com distribuição ao longo de um círculo mínimo
Quando a distribuição dos pólos de planos se dá ao longo de um círculo mínimo, a
disposição espacial dos elementos estruturais se faz segundo superfícies cônicas. O
círculo mínimo surge da projeção estereográfica de um cone duplo, conforme foi
discutido na Seção 3.2. Portanto, as geratrizes do cone serão as retas perpendiculares
aos planos estruturais que, em conjunto, formam a imagem a ser visualizada.

Não é fácil a visualização da superfície cônica, ainda mais se atentarmos ao fato que
em um caso real a superfície não será uma cônica perfeita e pode estar disposta sobre
uma grande área. Entretanto, pode-se determinar o “alinhamento” dessa superfície
cônica que nada mais é que o eixo do cone que determinou o círculo mínimo. O
alinhamento, por mais complicada que seja a superfície cônica, é de fácil visualização.

A partir do círculo mínimo que melhor se assenta aos pólos dos planos, situamos dois
pólos nele contidos que interceptam um mesmo círculo máximo e determinamos a sua
bissetriz. Fazemos isso quantas vezes forem necessárias para determinar o pólo médio,
que representa a bissetriz média dos pólos ou o eixo do cone em questão, conforme
mostra a Figura 62.

Figura 62 – O pólo médio está afastado 30o dos outros pólos que formam o círculo
mínimo rotacionado.

Se o círculo mínimo não tiver rotacionado, o eixo procurado será o pólo Norte ou Sul.

45
5 – ANÁLISE CINEMÁTICA

A análise cinemática é a interpretação da relação entre as descontinuidades existentes


em um maciço e a face livre gerada devido ao corte de um talude. Portanto, o objetivo
desse estudo é identificar os possíveis tipos de escorregameto de blocos, assim como o
grau de estabilidade associado à eles, através da relação de orientação entre as
descontinuidades e a face do talude.

A estabilidade de um maciço rochoso está intimamente ligada à sua natureza e à


atitude da face do talude escavada nesse maciço. Estruturas geológicas como falhas e
fraturas, denominadas genericamente como descontinuidades, são pontos de fraqueza
em uma rocha, pontos onde a energia confinada pode ser mais facilmente liberada
provocando a movimentação de toda a estrutura. As descontinuidades são, ainda,
canais para percolação de fluidos e superfícies de contato direto com a atmosfera,
fatores esses que sujeitarão ao intemperismo mais pronunciado daquela região do
maciço. Assim, quando uma face é exposta, ou seja, quando um maciço é cortado
segundo uma determinada direção e mergulho, haverá uma nova interação entre as
descontinuidades presentes e a nova face livre gerada. A combinação entre esses
fatores poderá deixar o escorregamento de blocos mais suscetível de acontecer ou,
simplesmente, não alterar significantemente a natureza desses escorregamentos.

Figura 63 – Corte teórico realizado em um maciço para construção de uma estrada. Do


lado esquerdo há a possibilidade de escorregamento de blocos segundo a orientação
das descontinuidades e do lado direito há o risco de tombamento.

As principais características de interesse das descontinuidades para o estudo da


estabilidade são atitude, rugosidade, comprimento, espaçamento e enchimento. Nesse
estudo, a atitude da descontinuidade é o parâmetro de maior peso na determinação
da estabilidade porque ela será plotada na projeção estereográfica e, a partir da
relação entre a sua orientação e a orientação do corte do talude, poderá ser
compreendido o tipo e a possibilidade de escorregamento. A rugosidade e enchimento
contribuirão para a aceleração, ou não, do processo de escorregamento. Enquanto que
a rugosidade poderá interagir com os dados através do círculo de atrito (veja Capítulo
6), o enchimento, comprimento e espaçamento são parâmetros que devem ser
avaliados em campo porque contribuem diretamente para o desenvolvimento das
falhas ou fraturas. O enchimento pode ser constituído apenas por água de percolação,
como pode conter particulados, ter caráter ácido ou algum agente que pode
potencialmente lixiviar a rocha. O comprimento da falha e fratura, com relação ao
corte realizado, influenciará o tamanho de bloco formado no deslizamento, assim
46
como o espaçamento entre as descontinuidades existentes. Por todas essas
características apresentadas, as descontinuidades representam os planos de fraqueza
da rocha e a movimentação se dará ao longo desses planos. Entretanto, as
descontinuidades influenciarão indiretamente na estabilidade do maciço quando a sua
dimensão for pequena se comparada às dimensões do talude, apesar das
características anteriormente mencionadas influenciarem na competência do maciço
como um todo.

Serão analisadas quatro tipos possíveis de falhas através da análise cinemática:


i. Falha planar;
ii. Falha em cunha;
iii. Falha por tombamento;
iv. Falha circular.

Em muitos casos que a rocha é aflorante, é possível identificar a olho nu a


descontinuidade ou o conjunto de descontinuidades que controlam a estabilidade de
um escorregamento em particular segundo o corte artificial. Como foi ilustrado na
Figura 63, a interação entre as descontinuidades e o corte realizado gera, do lado
esquerdo, falhas planares e, do lado direito, falha por tombamento. É de extrema
importância, nesse estudo, o reconhecimento e o mapeamento de estruturas falhadas,
dobradas e os contatos entre diferentes tipos de litologias.

O conhecimento geológico das descontinuidades que dominam a estrutura, o acesso à


informação (que pode se dar apenas por furos de sondas, quando o maciço não é
aflorante) e o tamanho da área a ser estudada determinam a quantidade de dados que
devem ser coletados para a realização da análise cinemática. Segundo Wyllie, Duncan
C. e Mah, Christopher W., para rochas aflorantes de boa competência e estrutura
uniforme, 20 medidas devem identificar o conjunto de descontinuidades dominantes.
Para a análise da estabilidade do maciço de granito de São Bento, apresentado como
Estudo de Caso, foram coletados 134 orientações de falhamentos presentes. Para
efeitos estatísticos, segundo Celso Dal Ré Carneiro, 200 a 400 dados é uma faixa
aceitável para a realização de conclusões.

5.1 – Efeitos das Descontinuidades na Estabilidade do Corte

Apesar da orientação das descontinuidades, juntamente com a orientação do talude


ser o fator primordial na estabilidade do maciço e o foco de estudo deste trabalho,
deve-se atentar para características como comprimento e espaçamento que, apesar de
não poderem ser identificadas em um estereograma, são também fatores
determinantes na estabilidade e precisam ser avaliadas em campo.

Para o melhor entendimento da importância de características como comprimento e


espaçamento, será dado o seguinte exemplo ilustrado na Figura 64.

47
(a) (b) (c)
Figura 64 – O comprimento e espaçamento entre as descontinuidades influenciam o
deslizamento.

Nesse exemplo, são identificadas duas famílias de fraturas: F1, que apresenta
mergulho igual a 60o e orientada para dentro do talude e F2, com mergulho igual a 30o
e orientada para fora do talude. O corte nos três taludes é igual a 45o.

Na Figura 64(a), a família F2 tem maior influência na estabilidade do maciço, porque


apresenta fraturas com maior comprimento e menos espaçadas, propiciando a
formação de blocos que deslizarão segundo um plano (falha planar). Na Figura 64(b),
as descontinuidades apresentam comprimentos pequenos e afastamento pouco
pronunciado, favorecendo a formação de pequenos blocos que se desprenderão do
maciço. Na Figura 64(c), a família F1 é que controla a estabilidade, possibilitando a
formação da falha por tombamento, devido ao comprimento e espaçamento das
fraturas que compõem a estrutura..

Descontinuidades apresentadas no exemplo da Figura 64 originam estereogramas


equivalentes e por isso a identificação preliminar dos elementos que controlam a
estabilidade no campo é essencial para a utilização da análise cinemática.

5.2 – Identificação de Falhas

Neste trabalho, serão identificados 4 tipos de falhas decorrentes das descontinuidades


existentes e do corte aplicado ao maciço, como mostra a Figura 65. Nessa análise, a
atitude do corte assim como os pólos dos planos das descontinuidades devem ser
representados no estereograma pois a movimentação relativa, quando houver, se dará
a partir da face livre exposta do talude.

i
i

48
ii
ii

iii
iii

iv iv
Figura 65 – Estereogramas associados com o tipo de falhas que potencialmente podem
ser geradas. A seta mostra o sentido de escorregamento.

i. Falha em cunha: desenvolve-se segundo a interseção de dois planos que


representam as descontinuidades. É uma movimentação típica de estruturas
competentes que apresentam falhas cisalhantes devido à esforços de
compressão que foram submetidas no passado geológico. A falha acontece
quando o mergulho da interseção é menos íngreme do que o mergulho
aparente na face exposta (segundo a direção dessa interseção);
ii. Falha planar: é um caso particular da falha em cunha e desenvolve-se ao longo
de um plano de descontinuidade. É uma movimentação típica de estruturas
sedimentares inclinadas ou em contatos de litologias diferentes. A falha
acontece quando o talude é mais íngreme que o mergulho da descontinuidade;
iii. Falha por tombamento: desenvolve-se segundo descontinuidades de
comprimento da ordem da altura do talude orientadas para dentro do maciço;
iv. Falha circular: desenvolve-se por apresentar descontinuidades de pequeno
comprimento e orientadas randomicamente.

49
Uma vez que uma família de descontinuidades é identificada no estereograma, o
mesmo diagrama é utilizado para reconhecer a falha mais provável e examinar a
direção de escorregamento do bloco formado, assim como as condições de
estabilidade. Esse procedimento é conhecido como análise cinemática e seu diagrama
está ilustrado na Figura 66.

Figura 66 – Diagrama para análise cinemática. Ψf é o mergulho aparente na face


segundo a direção de máximo declive do máximo da família; φ é o ângulo de atrito
entre as superfícies em contato e αf é a direção da face.

Nas seções a seguir, o diagrama para análise cinemática será melhor explorado.
Mergulhos de retas tomadas sobre uma direçao serão representados pela letra grega
ψ enquanto que a direção de máximo declive do plano pela letra α. Lembre-se que
uma família de planos pode ser representada pelo máximo da família, ou seja, por um
plano médio que representa um conjunto de planos.

5.2.1 – Falha em Cunha


As falhas em cunha desenvolvem-se segundo a reta-interseção de dois planos, se essa
reta estiver orientada para fora da face do talude, e o contato de escorregamento é
mantido nos dois planos de descontinuidade. Para esse tipo de falha, é fundamental
que o mergulho na face (ψf) do talude seja mais íngreme que o mergulho da interseção
(ψi) entre os dois planos de descontinuidade. O mergulho na face ψf deve ser tomado
na direção da interseção, ou seja, quando a interseção não estiver orientada no
sentido de máximo declive do talude, ψf tratar-se-á de um mergulho aparente.

𝜓𝜓𝑖𝑖 < 𝜓𝜓𝑓𝑓


Condição necessária para falha em cunha

A Figura 67 ilustra a condição necessária no estereograma para que haja falha em


cunha. Foram representados dois planos de descontinuidades (planos A e B) e o plano
da face do talude.

50
Figura 67 – O plano A e B determinam uma interseção cujo sentido de escorregamento
situa-se para fora da face do talude. O mergulho aparente (ψf) é maior que o mergulho
da interseção (ψi). A direção da reta de máximo declive da face do talude (dip
direction) também foi representada.

Para que a falha em cunha possa acontecer, as direções de máximo declive dos planos
que definem a interseção não devem “estar dentro” do ângulo formado entre a
direção da interseção e a da reta de máximo declive da face, como mostra a Figura 68.
Se isso acontecer, a falha planar que será favorecida pelas condições geométricas. No
fundo, essa análise leva à resposta de qual mergulho é mais inclinado na direção de
escorregamento e, por isso, a falha nessa direção será mais susceptível.

Figura 68 – A falha em cunha tem maior probabilidade de acontecer porque a direção


de máximo declive dos planos A e B não está contida no arco delimitado por αi e αf.

Na coleta das descontinuidades em campo, o banco de dados será formado por um


conjunto de planos e não pelas interseções desses planos, que é o objeto de análise da
falha em cunha. Por isso, será preciso tomar a interseção dois a dois desse conjunto de
planos, realizando-se todas as combinações possíveis e obtendo uma nova nuvem de
dados no estereograma. Para o Estudo de Caso apresentado no Capítulo 6, onde foram
coletados 134 planos de descontinuidades em um maciço de granito, foi obtido um
conjunto de, aproximadamente, 8911 interseções (combinação de 134, 2 a 2 – como
haviam várias descontinuidades com a mesma atitude no maciço, o conjunto de
interseções foi ligeiramente menor).

Entretanto, é possível analisar a possibilidade de falha em cunha tendo por base


apenas o posicionamento dos pólos dos planos. Um detalhe da Figura 66 foi enfatizado
na Figura 69 para mostrar a área hachurada associada ao falhamento em cunha. Essa é
uma área em que devem estar localicados os pólos dos planos das descontinuidades

51
onde a intereseção deles dois a dois levará à uma situação de instabilidade e formação
da cunha.

Figura 69 – A área hachurada é a região dos pólos dos planos das descontinuidades
associada à formação de cunha.

5.2.2 – Falha Planar


A falha planar desenvolve-se segundo um plano de descontinuidade orientado para
fora da face do talude. É condição necessária que o mergulho da face do talude (ψf)
seja mais íngreme que o mergulho do plano de descontinuidade (ψp), assim como era
condição para a falha em cunha. Na realidade, a falha planar é um caso especial da
falha em cunha.

𝜓𝜓𝑝𝑝 < 𝜓𝜓𝑓𝑓


Condição necessária para falha planar

Se o mergulho de um plano, em relação a face livre do talude, estiver orientado para


dentro do talude pode-se afirmar que as condições geométricas não favorecem o
escorregamento de blocos.

O mergulho do conjunto de descontinuidades orientado para fora do talude


influenciará a estabilidade. Como regra geral, as falhas planares não são possíveis se a
diferença entre o mergulho da descontinuidade (αA) e o mergulho da face (αf) for
maior que 20o. Ou seja, o bloco estará estável se o módulo dessa diferença for maior
que 20o porque, sob essas condições, haverá contato suficiente entre as superfícies
rochosas que proporcione uma força normal capaz de impedir o movimento relativo.

�𝛼𝛼𝐴𝐴 − 𝛼𝛼𝑓𝑓 � > 20𝑜𝑜


Condição de estabilidade para falha planar

Ao contrário da falha em cunha, a falha planar acontece com mais probabilidade


quando a direção de máximo declive de um dos planos cai dentro do arco delimitado
por αi e αf, conforme ilustra a Figura 70. A falha planar é mais suscetível de acontecer
nesse caso porque tem maior inclinação que ψi e, portanto, está submetida à uma
força normal menor. Esse é um critério simples para ser levado em consideração
quando duas ou mais famílias de planos de descontinuidades são expressivos no
maciço.

52
Figura 70 – O plano A é mais suscetível de escorregar segundo a direção αA. A falha em
cunha não é favorecida nessa configuração.

No estereograma onde deve ser plotado os pólos dos planos das descontinuidades,
essa condição está limitada pelas duas linhas tracejadas definindo as regiões (αf + 20o)
e (αf - 20o) como mostra a Figura 71. A região é mais restritiva se comparada com a
região da falha em cunha pela própria natureza do problema: para a falha em cunha
existem dois planos cuja a interseção entre eles deve se situar para fora do talude
enquanto que para a falha planar um único plano deve obedecer à condição necessária
para que a falha aconteça.

Figura 71 – A área hachurada é a região dos pólos dos planos das descontinuidades
associada à formação de falha planar. Como esse tipo de formação é um caso especial
da falha em cunha, a área hachurada é mais restritiva.

5.2.3 – Falha por Tombamento


Para a falha por tombamento acontecer, a direção dos planos das descontinuidades
não podem diferir em mais de 10o em relação à direção da face do talude pois, caso
contrário, não haverá a formação de lages paralelas. Além disso, o mergulho das
descontinuidades deve ser suficientemente profundo para que o tombamento possa
acontecer.

O mergulho suficientemente profundo está associado ao coeficiente de atrito, φ, entre


as superfícies – para que haja o tombamento das lages, o mergulho associado a elas
deve vencer a coesão existente entre as superfícies em contato. A Figura 72 mostra
como as condições de direção e mergulho dos pólos dos planos das descontinuidades
podem ser visualizadas no estereograma.

�90𝑜𝑜 − 𝜓𝜓𝑓𝑓 � + 𝜙𝜙𝑗𝑗 < 𝜓𝜓𝑝𝑝


Condição necessária para que a falha em tombamento aconteça.

53
Figura 72 – A área hachurada é a região dos pólos dos planos das descontinuidades
associada à formação de falha por tombamento.

Note que se os pólos dos planos estão localizados rente à superfície do estereograma
significa que representam, de fato, descontinuidades muito verticais.

5.2.4 – Falha Circular


As falhas circulares acontecem em solos friáveis, rochas muito intemperizadas e
estruturas características pela formação de microdiscontinuidades orientadas
randômicamente. Dessa forma, não haverá um conjunto de descontinuidades que
exercerá um controle sobre o deslizamento.

A falha circular desenvolve-se quando as partículas que constituem a rocha ou o solo


são muito pequenas se comparadas com a dimensão do talude. Por isso, rochas
fragmentadas em uma pilha terão tendência em formar falhas circulares devido às
dimensões de faces livres se comparadas aos tamanhos individuais das partículas. Da
mesma forma, areias, siltes e qualquer outro conjunto de pequenas partículas, irão
desenvolver falhas circulares, mesmo que as pilhas desses elementos tenham poucos
metros.

As falhas circulares são relativamente fáceis de serem observadas em climas tropicais,


como é o caso do Brasil. Existem em pequenas ou grandes dimensões, como em
taludes construídos rentes às estradas ou em épocas de chuvas em que o fenômeno da
erosão devido ao escoamento do solo é mais pronunciado.

No estereograma, as falha circular é caracterizada pela orientação aleatória dos pólos


dos planos das descontinuidades.

54
6 – ESTUDO DE CASO
6.1 - Introdução

O maciço de São Bento está localizado na cidade do Porto, Portugal, nas proximidades
da estação de metrô São Bento, próximo à calçada por onde circulam dezenas de
pessoas diariamente. E exatamente por isso, a avaliação da estabilidade do talude é de
extrema importância. Um maciço que está afastado de qualquer estrutura civil da qual
esta não dependa dele, não terá uma avaliação tão exaustiva que um maciço que
possa interferir na segurança das pessoas.

Figura 73 – Talude no maciço de São Bento, em toda a sua extensão.

Figura 74 – Detalhe do lado direito do maciço – note que existe orientação preferencial
das descontinuidades.

O maciço de São Bento, com 102 metros no ponto mais alto e pouco alterado,
apresenta intervenções que visam assegurar sua estabilidade em alguns pontos,
entretanto, um escorregamento na forma de cunha, de um bloco com dimensões
130x95x145cm foi identificado em uma parte desprotegida e, na época do estudo, o
bloco se situava aos pés do maciço. Apesar de acidentes com vítimas nunca terem
sidos registrados na área, blocos já atingiram veículos e o desprendimento recente
aponta para a necessidade de novas intervenções. O talude encontra-se em área
contida dentro da Zona Potencialmente Instável, segundo a Carta Geotécnica do Porto,
classificado pela existência de “fendas, fraturação desfavorável, percolação de água,

55
existência de raízes e plantas expostas, bem como blocos soltos na base do talude”.
Todas estas situações são observáveis no talude em estudo.

Figura 75 – Aos pés do talude, cunha que se desprendeu do maciço. A superfície


exposta pelo abatimento é mais clara devido ao menor tempo de exposição aos
agentes atmosféricos.

A título informativo, a Carta Geotécnica do Porto evidencia uma falha sobre a zona do
talude da Avenida da Ponte, sendo esta uma área que apresenta maciços graníticos
rochosos de fraca a excelente qualidade: os granitos existentes no Porto, em geral, são
“alcalinos, de grão médio a grosseiro, leucrocatas de duas micas.” No entanto, a
respeito de sua composição mineralógica, o granito característico da zona envolvente
do Rio Douro, que contem o Maciço de São Bento, é considerado “muito muscovítico,
com abundante microclina-pertita, com alguma albita e biotita e rico em halos
pleocróicos”. Na Carta das Condicionantes do Subsolo do Porto, é apresentado como
presente em uma zona de maior vulnerabilidade de contaminação de aquíferos e mais
uma vez, em uma zona de taludes ou encostas instáveis ou potencialmente instáveis.

(a)

56
(b)
Figura 76 – Ilustrações, sem escala e legenda, a título informativo com destaque à
região onde se encontra o maciço de São Bento. (a) Carta Geotécnica; (b) Carta das
Condicionantes do Subsolo.

Através de uma simples análise do talude é possível perceber se tratar de estrutura


que apresenta riscos em termos de estabilidade. Foram aplicadas técnicas de
contenção, facilmente visualizadas, para que o corte se tornasse uma estrutura estável
e segura. Observa-se fendas e fraturas preenchidas por cimento, aplicação de cable-
bolt e projeção de cimento. Entretanto, evidências no maciço colaboram para o
enfraquecimento da técnica utilizada, como os itens listados a seguir:
• Camada de cimento apresentando sinais de intemperismo;
• Vazios entre a camada de cimento e a frente aberta;
• Lixiviação total da camada em pontos localizados;
• Crescimento de plantas.

O fato do talude se localizar em zona de maior vulnerabilidade de contaminação de


aqüíferos, intensifica os fatores ligados ao intemperismo químico e,
conseqüêntemente, para a degradação mais rápida das técnicas de contenção. As
plantas presentes por toda a usa extensão são agentes na produção de ácidos e,
portanto, também atuam para a instabilidade do maciço.

Figura 77 – Cimentação de fraturas e fendas.

57
Camada de cimento com intemperismo. Camada superficial com destaque para as
áreas onde o cimento foi lixiviado.

Vazio entre a camada superficial de Plantas sobre a camada de cimento.


cimento e o talude.

Plantas de médio porte na parte superior


Ocupação das fendas e fraturas por do maciço.
plantas.

Figura 78 – Agentes que colaboram para a instabilidade do maciço de São Bento.

Para o estudo, foram coletados 134 planos que correspondem à falhas e fraturas ao
longo de todo maciço e que estão discriminados no Anexo A deste trabalho. O
tratamento desses dados foi feito pelo programa STEREONET. O objetivo dessa
abordagem, de maneira geral, é verificar a existência de famílias de planos, estruturas
com orientação preferencial e o grau de estabilidade do talude para formação de
cunhas. Os dados foram recolhidos de maneira aleatória e representativa, por todo o
talude, usando-se marcações na rocha (para identificar os planos recolhidos) e bússola
de geólogo tipo CLAR (para obter as coordenadas de interesse). A direção de cada
plano foi tomada a partir da interseção de um plano horizontal imaginário e o
mergulho foi marcado pelo percurso de um filete de água que se deixava cair sobre o
plano e, de acordo com as medidas apontadas pela bússola, obtinham-se os dados
para tratá-los na projeção estereográfica.
58
6.2 – Breve Contexto Histórico

O Centro Histórico do Porto, classificado como Patrimônio Cultural da Humanidade, é


o mais antigo da cidade e ocupa a área da freguesia da Sé, São Nicola, Vitória e
Miragaia.

A partir de 1940 apareceram propostas urbanísticas de demolição, literalmente, das


áreas mais degradadas desta cidade. Umas dessas áreas foi o chamado Morro da
Cividade que, com o objetivo de alargar o largo da Sé, foi destruído para dar origem à
Avenida da Ponte (hoje, Avenida Vimara Peres).

Figura 79 – Abertura da Avenida da Ponte, anos 50. À direita, o maciço de São Bento.

Figura 80 – As adjacências do talude foram utilizadas como estacionamento, em 1969.


À direita, o maciço de São Bento.

59
Figura 81 – Avenida Vilmara Peres, em 2012. À direita, o maciço de São Bento.

6.3 – Resultados e Discussões

Características visuais do maciço mostraram que a formação de cunhas é o tipo de


falha mais comum propiciado pelo corte do talude de atitude N14W / 85SW. Por isso,
a proposta é avaliar a estabilidade segundo esse tipo de falha. O gráfico 1, obtido pela
compilação dos dados no STEREONET, mostra as retas de máximo declive dos planos
de descontinuidade coletados em trabalho de campo. Nota-se que a maior parte dos
pólos está concentrada no centro do estereograma evidenciando a formação de planos
muito verticais.

Para todos os estereogramas a seguir é adotado o hemisfério sul e rede de isoárea


para as projeções.

(a) (b)
Figura 82 – (a) Representação das retas de máximo declive dos planos das
descontinuidades recolhidos em trabalho de campo; (b) representação densitária.

60
Os pólos dos planos são representações importantes quando não é possível perceber o
agrupamento de pontos (famílias) a partir dos ciclogramas. O talude de São Bento
apresentou planos muito verticais como mostra a concentração de mais de 63% dos
pontos na parte central da Figura 82. O gráfico dos pólos dos planos obtidos permite
discretizar as aglomerações e evidenciar as famílias presentes no maciço de granito,
além de possibilitar a análise cinemática.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 83 – (a) Pólos dos planos das descontinuidades; (b) os pólos e a atitude do
talude (N14W/85SW); (c) representação densitária; (d) reconhecimento de famílias.

61
Figura 84 – Os máximos de cada família e a orientação planar que eles representam. A
direção de máximo declive está representa pela letra α.

Figura 85 – Destaque para a interseção entre os planos α12, α23 e α31.

62
A partir da análise cinemática dos estereogramas, as intereseções entre as 3 famílias
evidenciam a tendência para formação de cunhas no maciço de São Bento. As Tabela 4
e 5 explicitam as informações das Figura 84 e 85 por meio de coordenadas.

Tabela 4 – Máximos das Famílias e seus planos correspondentes. Α letra αi designa a


inclinação de máximo declive do plano que corresponde à família e αT é a direção da
reta de máximo declive (dip direction) do talude de São Bento. O valor de αT é 256. A
notação utilizada é a Clar.

Atitude Planos
Família Δ = І αi – αT І
do Máximo Descrição Atitude
Planos verticais e sub-
1 137 / 6 317 / 84 І317 – 256І = 61
verticais.
2 18 / 76 Planos sub-horizontais. 198 / 14 І198 – 256І = 58
Planos com inclinação
3 108 / 43 288 / 47 І288 – 256І = 32
moderada.

Tabela 5 – Atitudes das interseções (notação clar) entre os planos que correspondem
às famílias, com referência às cores utilizadas na Figura 85.

INTERSEÇÕES ENTRE PLANOS


Planos Atitude da Interseção Δ = І αij – αT І
2 e 3 (preto e azul) 211 / 14 І 211 – 256 І = 45
2 e 1 (preto e vermelho) 232 / 12 І 232 – 256 І = 24
3 e 1 (azul e vermelho) 235 / 32 І 235 – 256 І = 21

As interseções α12 e α13 de direção igual a, respectivamente, 232 e 235 são direções de
maior susceptibilidade de ocorrer a falha em cunha, devido à menor diferença
apresentada com relação à direção de máximo declive do talude (igual a 256). A falha
planar segundo o plano do máximo 3 (plano azul) também é possível, apesar de no
gráfico da Figura 85 apresentar-se pouco menos favorável que a formação de cunha.
Fica evidente pelo método de análise empregado que as afirmações são qualitativas e
que os valores apresentados são médios.

As interseções dois a dois entre os planos representam direções comuns que eles
compartilham, mesmo que na prática não se interceptem – entretanto, o
prolongamento desse planos, devido aos agentes intempéricos, pode gerar as
interseções calculadas. As interseções de todos os planos mostram as direções para
qual a cunha formada por dois planos poderá se desprender pela ação da gravidade e
atrito insuficiente entre as superfícies.

O atrito é refletido pela superfície rugosa apresentada entre os contatos no maciço. Os


granitos apresentam círculo de atrito na ordem de 25 a 35o. Isso significa que se for
feito um corte menos inclinado que 25o em um testemunho de granito e as duas
partes forem postas novamente em contato, o atrito existente nas superfícies de corte
é suficiente para manter o conjunto estabilizado, ou seja, não haverá movimento
relativo entre as duas partes após o corte. Vários fatores podem influenciar o grau de
atrito no maciço rochoso como a presença de vegetação, água, argilas ou associações

63
litológicas. O crescimento de plantas e conseqüente aumento do solo, assim como a
percolação de água e a presença de argilominerais sempre contribuirão de forma a
diminuir o grau de atrito por diminuírem a rugosidade entre as superfícies.

Para este trabalho, não foram realizados testes de laboratório: optando-se por
apresentar resultados mais conservadores, considerou-se que o grau de atrito é igual a
35o para o maciço de São Bento.

A estabilidade de taludes pode ser avaliada de acordo com a posição relativa das
interseções dos planos recolhidos com relação ao círculo de atrito, já que o
escorregamento da cunha, quando acontece, se dá nessa direção. Uma vez que a
direção do talude, mergulho e grau de atrito estão definidos, três regiões no
semicírculo podem ser distinguidas: zona de perigo iminente (1), zona de perigo médio
(2) e zona de risco baixo (3), como mostra a Figura 86.

Figura 86 – Representação esquemática das zonas de perigo iminente (1), perigo


médio (2) e de risco baixo (3) de um talude.

A zona de perigo iminente, indicada pela região 1 da Figura 86, não favorece a
formação da cunha de acordo com a análise cinemática porque ψinterseção > ψface .
Entretanto, é uma zona marcada pela presença de planos muitos verticais
(conseqüência do fato da interseção entre eles ser muito vertical) com ângulo superior
ao ângulo de atrito – portanto, o desprendimento de blocos pode se dar a qualquer
momento uma vez que as forças de coesão não são suficientes para impedir o
movimento. Note que, nesse caso, acontecerá um desplacamento súbito de pequenos
ou grandes blocos.

A zona de perigo médio, indicada pela região 2 da Figura 86, favorece a formação da
cunha (Ψinterseção < Ψface) e o escorregamento segundo a interseção dos planos pois o
mergulho da interseção é maior que o ângulo de atrito existente entre as superfícies. É
classificada como uma zona de perigo médio porque o deslizamento pode ser
perceptível ao longo do tempo se a direção de escorregamento for próxima aos limites
do círculo de atrito.

A zona de baixo risco, indicada pela região 3 da Figura 86, não favorece a formação da
cunha pelo mesmo motivo que a zona de alto risco, entretanto, o escorregamento

64
pode acontecer se efeitos externos diminuírem o atrito entre as superfícies como, por
exemplo, a percolação da água em dias chuvosos. Note que os planos que originam as
interseções dessa zona são horizontalizados e, por isso, a tendência natural é não
haver escorregamentos apesar desse fato ser possível.

Todas as direções com mergulho para SW são projetadas para a região externa do
talude. Direções com mergulho para NE não apresentam risco de queda porque estão
projetadas para o interior do maciço rochoso e não foram verificadas em campo
descontinuidades com comprimento e espaçamento que possibilitem falha por
tombamento.

Avalia-se a propensão de escorregamento em cunha através do diagrama de contorno


das interseções de todos os planos de descontinuidades recolhidos em trabalho de
campo. Os 134 dados originaram 8640 retas de interseção que estão representadas a
seguir, em estereograma feito no STEREONET.

(a) (b)

Figura 87 – (a) Representação densitária das 8640 direções de interseções dos planos;
(b) Círculo de atrito, direção e mergulho do talude de São Bento projetados em (a). Os
triângulos amarelos representam as interseções dos planos expostos devido a queda
recente do bloco.

6.4 – Considerações Finais

A partir da análise qualitativa dos estereogramas da Figura 87, pode-se concluir que o
talude de São Bento não é estável e possui uma densidade de interseções
preocupantes na zona de perigo médio. Na área dessa zona, com maior densidade de
pólos, entre 3 a 4% das interseções formam cunhas cuja a direção de escorregamento
se aproxima do ângulo de atrito entre as superfícies e, portanto, podem ser
monitoradas. Cerca de 1 a 2% dos pólos correspondem à interseções mais inclinadas, o
que significa que a cunha formada terá maior propensão a escorregar e não poderá ser
monitorada.

65
A direção de escorregamento da cunha formada e que se localizava aos pés do maciço
quando foi realizado este estudo localiza-se dentro da área de perigo médio. Como
verificado em campo, a direção de escorregamento corresponde ao ponto B conforme
mostra a Figura 88, pólo de interseção dos planos expostos no talude N44W/48SW
(226 / 48) e N77W/62SW (193 /62).

(a) (b)

Figura 88 – Os planos expostos pela cunha no talude se interseptam em A, B e C. O


escorregamento da cunha se deu segundo a direção B, como verificado em campo.

A atitude do escorregamento real (notação clar: 250 / 45) ocorreu com boa
aproximação à atitude de escorregamento com maior tendência de acontecer
(notação clar: 235 / 32) de acordo com a análise cinemática. É claro que
escorregamentos segundo outras direções também são cabíveis de ocorrerem.

Existe uma densidade de interseções na zona de perigo iminente, de 2,6 a 3,1% dos
pólos, onde blocos do maciço podem vir a se soltar inesperadamente. Essas
interseções correspondem àquelas mais verticalizadas e por isso blocos que
apresentam esse tipo de diáclase ou falha devem ser imediatamente abatidos afim de
se evitar acidentes.

Nota-se também que se o corte do talude tivesse sido feito para NE e fosse menos
inclinado, haveria menos interseções na zona de perigo médio e, portanto, propensão
menor para a formação de cunhas, apesar da densidade de pólos na zona de perigo
iminente ser maior. Esse problema poderia ser contornado com o abatimento
imediato desse blocos e, dessa maneira, o talude verificaria um grau de estabilidade
maior.

Resumidamente, este estudo de caso aponta para os seguintes fatos, à respeito da


estabilidade:
• De todas as interseções possíveis representadas pelos planos das
descontinuidades, em média, 3,5% formam cunhas que podem ser
monitoradas;
• Em média, 2,0% das interseções formam cunhas onde o escorregamento não
pode ser monitorado;

66
• Em média, 3% das interseções estão em área de perigo iminente, onde o
desplacamento pode acontecer a qualquer momento.

Por tratar-se de área adjacente à circulação de civis, as condições de estabilidade não


são satisfatórias: 8,5% das interseções formadas apresentam risco de alto a médio
grau para propiciarem escorregamentos. Os resultados ainda são conservadores, uma
vez que o maior círculo de atrito teórico (35o) foi empregado, apesar do maciço de São
Bento possuir características que podem potencialmente diminuir esse valor.

Um estudo mais aprofundado sobre falhas e de técnicas de contenção é sugerido com


o objetivo de elevar a segurança das pessoas que circulam pela área.

67
7 – ANEXOS
7.1 – A

Coordenadas dos planos das descontinuidades recolhidos no maciço de São Bento. Os


pontos 101, 102 e 103 são referentes aos planos expostos do bloco abatido.

#Pontos Notação Quadrante Notação Clar


1 N 65 E 80 NW -25,00 80,00
2 N 20 E 79 NW -70,00 79,00
3 N 180 E 42 W 270,00 42,00
4 N 80 E 70 NW -10,00 70,00
5 N 52 E 88 NW -38,00 88,00
6 N 59 E 75 NW -31,00 75,00
7 N 48 E 60 NW -42,00 60,00
8 N 18 E 87 NW -72,00 87,00
9 N 58 E 85 NW -32,00 85,00
10 N 45 E 83 NW -45,00 83,00
11 N 42 E 80 NW -48,00 80,00
12 N 55 E 80 NW -35,00 80,00
13 N 50 E 75 NW -40,00 75,00
14 N 50 E 80 NW -40,00 80,00
15 N 120 E 60 NE 30,00 60,00
16 N 140 E 28 NE 50,00 28,00
17 N 98 E 59 NE 8,00 59,00
18 N 140 E 62 NE 50,00 62,00
19 N 100 E 49 NE 10,00 49,00
20 N 125 E 80 NE 35,00 80,00
21 N 95 E 50 NE 5,00 50,00
22 N 10 E 41 NW -80,00 41,00
23 N 22 E 57 NW -68,00 57,00
24 N 2 E 79 NW -88,00 79,00
25 N 19 E 56 NW -71,00 56,00
26 N 10 E 48 NW -80,00 48,00
27 N 112 E 80 NE 22,00 80,00
28 N 112 E 80 NE 22,00 80,00
29 N 30 E 66 NW -60,00 66,00
30 N 30 E 60 NW -60,00 60,00
31 N 26 E 70 NW -64,00 70,00
32 N 12 E 64 NW -78,00 64,00
33 N 22 E 26 NW -68,00 26,00
34 N 26 E 40 NW -64,00 40,00
35 N 118 E 82 NE 28,00 82,00
36 N 126 E 84 NE 36,00 84,00
37 N 38 E 74 NW -52,00 74,00
38 N 2 E 28 NW -88,00 28,00

68
39 N 50 E 88 NW -40,00 88,00
40 N 25 E 44 NW -65,00 44,00
41 N 20 E 50 NW -70,00 50,00
42 N 16 E 50 NW -74,00 50,00
43 N 32 E 12 NW -58,00 12,00
44 N 32 E 76 NW -58,00 76,00
45 N 42 E 53 NW -48,00 53,00
46 N 42 E 44 NW -48,00 44,00
47 N 18 E 38 NW -72,00 38,00
48 N 16 E 60 NW -74,00 60,00
49 N 128 E 72 SW 218,00 72,00
50 N 42 E 82 NW -48,00 82,00
51 N 29 E 42 NW -61,00 42,00
52 N 48 E 68 NW -42,00 68,00
53 N 128 E 84 NE 38,00 84,00
54 N 124 E 18 NE 34,00 18,00
55 N 146 E 82 NE 56,00 82,00
56 N 30 E 72 SE 120,00 72,00
57 N 20 E 90 110,00 90,00
58 N 25 E 90 115,00 90,00
59 N 55 E 80 SE 145,00 80,00
60 N 60 E 80 SE 150,00 80,00
61 N 50 E 82 SE 140,00 82,00
62 N 50 E 85 SE 140,00 85,00
63 N 10 E 75 SE 100,00 75,00
64 N 25 E 90 115,00 90,00
65 N 38 E 80 SE 128,00 80,00
66 N 28 E 90 118,00 90,00
67 N 30 E 68 SE 120,00 68,00
68 N 40 E 82 SE 130,00 82,00
69 N 38 E 80 SE 128,00 80,00
70 N 60 E 89 SE 150,00 89,00
71 N 155 E 58 SW 245,00 58,00
72 N 109 E 58 SW 199,00 58,00
73 N 110 E 68 SW 200,00 68,00
74 N 112 E 48 SW 202,00 48,00
75 N 103 E 80 SW 193,00 80,00
76 N 116 E 81 SW 206,00 81,00
77 N 178 E 70 SW 268,00 70,00
78 N 164 E 66 SW 254,00 66,00
79 N 100 E 26 SW 190,00 26,00
80 N 20 E 10 SE 110,00 10,00
81 N 20 E 90 110,00 90,00
82 N 88 E 12 SE 178,00 12,00
83 N 88 E 12 SE 178,00 12,00
84 N 170 E 82 SW 260,00 82,00

69
85 N 100 E 20 SW 190,00 20,00
86 N 119 E 80 SW 209,00 80,00
87 N 98 E 14 SW 188,00 14,00
88 N 100 E 90 190,00 90,00
89 N 44 E 90 134,00 90,00
90 N 152 E 90 242,00 90,00
91 N 16 E 90 106,00 90,00
92 N 64 E 77 SE 154,00 77,00
93 N 62 E 62 SE 152,00 62,00
94 N 60 E 66 SE 150,00 66,00
95 N 174 E 40 SE 264,00 40,00
96 N 65 E 72 SE 155,00 72,00
97 N 62 E 84 SE 152,00 84,00
98 N 124 E 20 SW 214,00 20,00
99 N 156 E 25 SW 246,00 25,00
100 N 138 E 70 SW 228,00 70,00
101 N 103 E 62 SW 193,00 62,00
102 N 136 E 48 SW 226,00 48,00
103 N 122 E 66 SW 212,00 66,00
104 N 144 E 18 SW 234,00 18,00
105 N 148 E 10 SW 238,00 10,00
106 N 138 E 26 SW 228,00 26,00
107 N 118 E 12 SW 208,00 12,00
108 N 170 E 49 SW 260,00 49,00
109 N 172 E 73 SW 262,00 73,00
110 N 47 E 85 NW -43,00 85,00
111 N 109 E 14 SW 199,00 14,00
112 N 18 E 56 NW -72,00 56,00
113 N 40 E 83 NW -50,00 83,00
114 N 26 E 64 NW -64,00 64,00
115 N 28 E 60 W 118,00 60,00
116 N 117 E 32 SW 207,00 32,00
117 N 120 E 76 NE 30,00 76,00
118 N 46 E 50 SE 136,00 50,00
119 N 180 E 50 E 270,00 50,00
120 N 56 E 54 SE 146,00 54,00
121 N 172 E 70 SW 262,00 70,00
122 N 54 E 60 NW -36,00 60,00
123 N 56 E 76 NW -34,00 76,00
124 N 50 E 84 SE 140,00 84,00
125 N 58 E 56 NW -32,00 56,00
126 N 12 E 40 NW -78,00 40,00
127 N 156 E 82 NE 66,00 82,00
128 N 44 E 90 _ 134,00 90,00
129 N 161 E 62 SW 251,00 62,00
130 N 130 E 38 SW 220,00 38,00

70
131 N 178 E 86 SW 268,00 86,00
132 N 120 E 14 SW 210,00 14,00
133 N 38 E 56 NW -52,00 56,00
134 N 44 E 80 NW -46,00 80,00

71
7.2 – B

Formulário entregue para 23 alunos do 9o e 19 alunos do 10o períodos do curso de


Engenharia de Minas da UFMG, no segundo semestre de 2012.

Esse questionário faz parte de um levantamento para o TCC da aluna Viviane da Silva
Borges, 10º período. NÃO É NECESSÁRIO SE IDENTIFICAR. O objetivo é avaliar a
necessidade, ou não, da produção de um material didático sobre Projeção
Estereográfica.

Período:

1. Você já estudou projeção estereográfica? Se sim, em qual disciplina ou em qual


atividade (estágio, estudos individuais, algum interesse específico…)?
Sim Não
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

2. Você se julga capaz de compreender ou interpretar um estereograma?


Sim Não

3. Você pensa que esse assunto é relevante para ensino no curso de Engenharia
de Minas? Por que?
Sim Não
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

4. Em algum momento do curso, você se deparou com alguma situação em que


deveria compreender e/ou analisar um estereograma?
Sim Não

Obrigada!
Viviane

72
Estatísticas
Lengeda: S – Sim; N – Não.

Pessoas que estudaram

N
31%

S
69%

Pessoas que julgam que aprenderam

S
24%

N
76%

Relevância do Assunto para o Curso

N
8%

S
92%

73
Situações que Envolvem PG

S
45%
N
55%

PM
Ensino 2%

Mec. Rochas Outros


5% 14%

Geo Geral
Não Est. 50%
29%

Legenda: PM – Pesquisa Mineral; Geo Geral – Geologia Geral e Estrutural; Não Est. –
Não estudaram; Mec. Rochas – Mecânica das Rochas; Outros – Outros.

74
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Revisão Bibliográfica:

i. DAL RÉ CARNEIRO, Celso. Projeção Estereográfica para Análise de Estruturas.


Editora UNICAMP: São Paulo, 1996. Capítulos II e III;

ii. LOCZY, Louis de, LADEIRA, Eduardo A. Geologia Estrutural e Introdução à


Geotectônica. Editora EDGARD BLÜCHER Ltda: São Paulo, 1981;

iii. WYLLIE, Duncan C., MAH, Christopher W. Rock Slope Engineering – Civil and
Mining, 4th edition. Spon Press Taylor & Francis Group: 2004.

Estudo de Caso:

iv. Carta Geotécnica do Porto, 1994. Câmara Municipal do Porto;

v. Nota Explicativa da Carta Geotécnica do Porto;

vi. Análise de Estabilidade do Talude Rochoso da Av. Vimara Peres, Porto. Autores:
Aislan Paiva, Francisco Leite, Viviane Borges. Estudo realizado para a disciplina
“Exploração de Massas Minerais” da Universidade do Porto, Porto, Portugal;

vii. Software para tratamento dos dados: STEREONET;

Imagens:

viii. Foto da bússola tipo CLAR (Figura 12) retirada do site website de busca Google:
www.google.com.br. Disponível em:
http://www.maserafi.com/produto/2065/bussola-de-estrato-bussola-para-
geologo-cocla;

ix. Fotos do Maciço de São Bento, anos 50 e 80 (Figuras 79 e 80) retiradas do


website Wikipédia: www.wikipedia.org;

x. Fotos atuais do maciço de São Bento: Francisco Leite;

xi. Imagens produzidas no Cabri Geomètrie, STEREONET, Paint e fotos dos


estereogramas: Viviane Borges;

Edição das fotos dos estereogramas e imagens em AUTO CAD: Rodrigo Correia
Barbosa.

75

Você também pode gostar