ESOPO Fabulas Completas Traducao de Mari
ESOPO Fabulas Completas Traducao de Mari
ESOPO Fabulas Completas Traducao de Mari
Recibido: 30/09/2014
Evaluado:04/10/2014
Aceptado:10/10/2014
“Agora uma fábula falo aos reis mesmo que isso saibam”
Há registros que nos revelam que as fábulas nem mesmo nasceram no mundo grego, visto
que temos fábulas já Babilônia antiga, escrita em acádico, mas com a finalidade de
exercitar o aluno na arte retórica. A mais famosa delas é a da “Águia e a cobra” que foi
incorporado no poema épico sumério que versa sobre o mito de Etana. De qualquer forma,
as fábulas utilizam um discurso tradicional popular para expressar ensinamentos que
colaboram para a padronização de um comportamento.
Por se tratar de um gênero literário mais popular, a fábula não é tratada como um gênero
nobre, daí não ter sido muito estudada e entre os autores antigos e ainda em nosso tempo,
pois não vemos estudos abundantes sobre esse gênero na academia. No Brasil, a professora
Maria Celeste Consolin Dezotti, Universidade Estadual Paulista – Campus Araraquara,
destaca-se por ser a grande estudiosa das fábulas de Esopo, com vários livros publicados
sobre o tema. Dessa maneira, a tradução das 383 fábulas esópicas realizada pela referida
professora não somente revelam o seu conhecimento da língua grega, como também
espelha o seu conhecimento teórico sobre o gênero. O volume traz ainda ricas ilustrações
de Eduardo Berliner, o que torna o conjunto da obra singular, um projeto gráfico de muito
estilo, agradável ao leitor.
Apresento então três fábulas traduzidas pela autora para ilustrar certas particularidades do
gênero fabular e ainda o cuidadoso trabalho de tradução exposto no livro, que teve como
base a edição crítica de Émile Chambry.
Eis a primeira:
O corvo e a raposa
Nota-se que o conteúdo da fábula esópica aplica-se também ao gênero literário conhecido
como sapiencial, uma vez que a parábola é um elemento constitutivo desse tipo de
literatura. A segunda fábula selecionada:
O náufrago e Atena
Outro aspecto presente nas duas fábulas acima é o uso do relato fantástico que vem
acompanhado de uma anedota, e destacamos que ambos os gêneros literários se mostram
recorrentes na composição das fábulas esópicas. E por fim:
Zeus juiz
Percebe-se que mais dois gêneros literários, a saber, o provérbio e a alegoria, aparecem
nessas fábulas esópicas selecionadas, o que nos leva a concluir que o gênero fabular agrega
diferentes gêneros na sua composição. Por esse conteúdo e por sua finalidade didática, a
fábula traz essa marca de ser um relato breve, de fácil memorização e de rápida
compreensão. A fábula desempenha assim a função de um ensinamento acompanhado de
um exemplo, uma alegoria ocorrida no passado mítico e atemporal, também relacionada ao
presente, com lições que têm validade no tempo futuro. Talvez essa intersecção temporal
do relato fabular explique a permanência e a atemporalidade dos seus episódios e
ensinamentos.
Por todas as razões enumeradas acima e por aquelas que o meu texto não abrange, a leitura
dessas fábulas de Esopo, traduzidas por Maria Celeste Consolin Dezotti, são
imprescindíveis à reflexão e ao conhecimento de aspectos importantes da cultura grega
antiga. Além disso, a leitura desse volume acresce pela acurada e acessível tradução de
Dezotti, pois se mostra claramente preocupada em transmitir o texto grego ao leitor do
nosso idioma, sem a perda da erudição e do seu conteúdo original, o que requer engenho e
arte.