Dissertação - Gadiego Cararo Ribeiro - 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

GADIEGO CARARO RIBEIRO

O CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:


UTILIZAÇÃO DE ARRANJOS COMO FERRAMENTA PARA
AMPLIAÇÃO DO REPERTÓRIO E MATERIAL DIDÁTICO

Goiânia
2014
ii

GADIEGO CARARO RIBEIRO

O CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:


UTILIZAÇÃO DE ARRANJOS COMO FERRAMENTA PARA
AMPLIAÇÃO DO REPERTÓRIO E MATERIAL DIDÁTICO

Produto Final (produção artística e artigo) apresentado


ao Curso de Mestrado em Música da Escola de Música e
Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, como
requisito parcial para obtenção do título de MESTRE
EM MÚSICA.
Área de Concentração: Música na Contemporaneidade
Linha de Pesquisa: Música, Criação e Expressão
(Performance Instrumento Musical - Contrabaixo)
Orientadora: Profª. Drª. Sonia Ray

Goiânia
2014
iii

“Ao músico brasileiro, e a riqueza


da música popular brasileira”
iv

“Somos o que repetidamente fazemos.


A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”

Aristóteles
v

AGRADECIMENTOS

À professora e orientadora, Sonia Ray, pela confiança, estímulo e críticas sempre


pertinentes com relação ao trabalho escrito e estudo do contrabaixo.

À CAPES, pelo apoio a pesquisa durante o mestrado.

Aos professores Antonio Cardoso e Valerie Albright, por aceitarem fazer parte da
banca examinadora da minha defesa.

Aos colegas e amigos músicos, que se dispuseram a fazer parte do meu recital
dividindo o palco comigo: Daniel V. Junior, Jayana Paiva, Everson bastos e Diego Amaral.

Aos professores Fabio Oliveira, Antonio Cardoso, Wolney Unes, Carlos Costa,
Cláudia Zanini, Johnson Machado, Werner Aguiar, pelo apoio e valorosos ensinamentos ao
longo desta jornada.

Aos amigos e grandes músicos com quem tive a oportunidade de compartilhar


música, Diones Correntino, Fabiano Chagas, Johnson Machado, Jader Gomes, Ricardo de
Pina, Foka Sax, Werley Silva, Alex Teixeira.

À Anileide Silva Barros, secretária do mestrado, pela prestatividade e amizade.

Ao amigo Sérgio Veiga (Serginho) pela prontidão em filmar e editar nossos


recitais.

À minha família, pelo apoio incondicional em todos os momentos da minha vida.

À minha irmã Tamires Carraro Ribeiro, pela revisão do texto.

À minha filha Ana Caroline, minha maior inspiração.

À Cinara Nazari, pela compreensão e apoio em mais essa etapa.

Aos colegas de mestrado, pelo convívio em sala de aula e conversas informais


que muito contribuíram para o meu crescimento.

A todos os funcionários e demais professores da EMAC/UFG.


vi

RESUMO

Este trabalho é o Produto Final do curso de Mestrado em Música – Performance Musical


Contrabaixo, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade
Federal de Goiás e, está dividido em duas partes. Parte A: produção artística, que inclui os
dois recitais relacionados à pesquisa desenvolvida e que são pré-requisitos para a conclusão
do curso, e Parte B: o artigo científico. O recital de defesa conta com obras que evidenciam o
caráter camerístico e solista do instrumento, e integra diferentes formações instrumentais
além de obras solo, com ênfase na música popular brasileira. Os arranjos que compõem o
programa de defesa abordam a atuação do instrumento em gêneros fronteiriços como a
Milonga, a Chacarera e o Chamamé, além de outros gêneros mais conhecidos da música
popular brasileira como o samba. O artigo trata da utilização de arranjos para grupos
camerísticos com contrabaixo em obras populares brasileiras. Para isso apresenta alternativas
para a ampliação do repertório popular brasileiro em câmara e do material didático, através
da discussão de recursos técnico/expressivos do contrabaixo aplicados em arranjos para
formações instrumentais variadas. O objetivo central foi realizar um estudo sobre a utilização
de arranjos para formações camerísticas com contrabaixo, demonstrando funcionalidades
pedagógicas e de possibilidades de aumento do repertório. O processo metodológico baseou-
se na revisão de literatura sobre a atuação do instrumento em gêneros da música popular, em
especial o jazz, bem como na música de câmara e dos principais métodos de ensino utilizados
no país. Para isso discutiu-se a utilização de recursos técnicos advindo desses dois universos
musicais, aplicados em obras da música popular brasileira. O trabalho procurou evidenciar
que a utilização de arranjos camerísticos de obras da música popular brasileira pode servir
como alternativa para a ampliação do repertório para contrabaixo e material didático para o
aprendizado do instrumento.

Palavras-chave: arranjo de obras populares brasileiras; formações camerísticas com


contrabaixo; repertório para contrabaixo, pedagogia da performance.
vii

ABSTRACT

This paper is the final product of the Master of Music course – Performance of Musical
Double Bass, Graduate School of Music of the Federal University of Goiás and is divided
into two parts. Part A: artistic production which includes two recitals with program related to
the developed research and there are also mandatory for the conclusion of the course, and
Part B: an scholar paper. The final recital has works that highlight chamber music and the
Double Bass, and integrates different instrumental combinations of solo works, with
emphasis on Brazilian popular music. The recital program is composed of arrangements that
addresses the performance of instrument genres such as Milonga, the Chacarera and
Chamamé, and other genres of Brazilian popular music like samba. The scientific article
deals with the use of arrangements for chamber music with bass in popular Brazilian works.
It presents alternatives for expanding the Brazilian popular chamber repertoire, through the
discussion of expressive/technical resources applied to bass arrangements for various
instrumental combinations. The main objective was to conduct a study on the use of
arrangements for chamber groups with bass, demonstrating possibilities for increasing the
repertoire and teaching materials. The methodological process was based on the literature
review of the performance of the instrument in genres of popular music, particularly jazz, as
well as chamber music and the main teaching methods used in the country. For that the use of
technical resources from these two musical universes was discussed, applied in works of
Brazilian popular music. The study sought to demonstrate that the use of arrangements of
Brazilian popular music for chamber groups can serve as an alternative to expanding the
repertoire and didactic material for teaching the instrument the bass.

Keywords: arrangement of Brazilian popular works; chamber groups with double bass;
repertoire for the doublebass, performance pedagogy.
viii

LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS

Exemplo 1: Prelúdio das Cinco Miniaturas Brasileiras de E. Villani Côrtes......................39


Exemplo 2: Estrela, Estrela de Vitor Ramil........................................................................40
Exemplo 3: Milonga Nova de Gadiego Carraro...................................................................41
Exemplo 4: Outra Campereada de Pirisca Grecco..............................................................41
Exemplo 5: Merceditas de Ramon Sixtos Rios...................................................................43
Exemplo 6: Ode D’Spagne de François Rabbath................................................................44
Exemplo 7: Manhã de Carnaval de Luiz Bonfá e Antônio Maria.......................................45
Exemplo 8: Jongo de Santino Parpinelli..............................................................................46
Exemplo 9 : Triste de Tom Jobim.........................................................................................47
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................... vi
ABSTRACT................................................................................................................ vii
LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS.................................................................... viii
SUMÁRIO.................................................................................................................. ix

PARTE A: PRODUÇÃO ARTÍSTICA 10


RECITAL DE DEFESA.............................................................................................. 11
ENCARTE COM O DVD - RECITAL DE DEFESA ................................................ 13
RECITAL I DE MESTRADO .................................................................................... 14
CAPA DVD - RECITAL I DE MESTRADO............................................................. 15
RECITAL IX CONPEEX............................................................................................ 17
CONCERTO TEATRO SESI (show de lançamento cd influências).......................... 18
RECITAL MÚSICA E CENA..................................................................................... 10
PARTE B: ARTIGO
O CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:
UTILIZAÇÃO DE ARRANJOS COMO FERRAMENTA PARA
AMPLIAÇÃO DO REPERTÓRIO E MATERIAL DIDÁTICO......................... 20

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 21
2 ATUAÇÃO DO CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR, 24
MÚSICA DE CÂMARA E SEU ENSINO NO BRASIL: UMA BREVE
REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................
2.1 ASPECTOS DA EXECUÇÃO DO CONTRABAIXO ACÚSTICO EM MÚSICA 23
POPULAR E JAZZ......................................................................................................
2.2 CONTRABAIXISTAS SOLISTAS/CAMERISTAS: SEUS MÉTODOS DE 23
ENSINO.......................................................................................................................
2.3 MATERIAIS SOBRE ENSINO E PERFORMANCE DO CONTRABAIXO MAIS 24
UTILIZADOS NO BRASIL ....................................................................................
3 ARRANJOS CAMERÍSTICOS EM FORMAÇÕES POPULARES COM 28
CONTRABAIXO.......................................................................................................
3.1 UTILIZAÇÃO DO CONTRABAIXO EM ARRANJOS NA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA ............................................................................................................. 31
3.2 ASPECTOS IDIOMÁTICOS DO CONTRABAIXO EM ARRANJOS..................... 32
4 POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO PEDAGÓGICA DE ARRANJOS
COM CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA........................................................................................................... 36
4.1 USO NOTAS LONGAS COM ARCO........................................................................ 37
4.2 USO DE PIZZICATO SOBRE OSTINATO RÍTMICO.............................................. 39
4.3 ABORDAGEM HARMÔNICA EM TRECHOS COM ARCO.................................. 40
4.4 USO DE PALM-SLAP E DE ARCO .......................................................................... 41
4.5 USO DE NOTAS DUPLAS COM PIZZICATO......................................................... 42
4.6 PLANEJAMENTO DO ARCO NA EXECUÇÃO DE VARIAÇÕES DE GRUPOS
RÍTMICOS COM 4 SEMICOLCHEIAS ................................................................... 44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 48
6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 49
ANEXO I – Arranjos Completos ............................................................................... 54
ANEXO II – Recitais Opcionais (participação) ......................................................... 77
ANEXO III – Relato de Experiência (estágio e docência) ........................................ 79
10

PARTE A: PRODUÇÃO ARTÍSTICA


11

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu – Mestrado em Música
Mini Auditório 1 - EMAC
Goiânia, 28/03/2014 – 14h00
Recital de Mestrado - Defesa
Gadiego Carraro: contrabaixo acústico
(candidato)
Programa

Pedro Cameron (n.1948) Reinvenção


Sonia Ray (n.1963) Ondas

Contrabaixo acústico solo: Gadiego Carraro

Estércio Marquez Cunha (n. 1941) Canto lamentoso

Contrabaixo acústico: Gadiego Carraro


Voz: Jayana Paiva

Ramon Sixtos Rios (1913-1994) Merceditas


Pirisca Grecco (n.1971) Outra Campereada

Contrabaixo acústico e arranjos: Gadiego Carraro


Violão: Daniel V. Junior

Gadiego Carraro (n. 1979) Temporal


Tom Jobim (1927-1994) Triste
Egberto Gismonti (n. 1947) Salvador

Contrabaixo acústico e arranjos: Gadiego Carraro


Piano: Everson Bastos
Pandeiro: Diego Amaral

Banca Examinadora:
Profª. Drª. Sonia Ray (UFG - orientadora)
Profª. Drª. Valerie Albright (UNESP)
Prof. Dr. Antonio Cardoso (UFG)

Recital de Defesa, apresentado por Gadiego Carraro ao curso de Mestrado em Música da


Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, como requisito parcial
para a obtenção do título de MESTRE EM MÚSICA. Área de Concentração: Música na
Contemporaneidade. Linha de Pesquisa: Música, criação e expressão – contrabaixo acústico.
Orientadora: Profª. Drª. Sonia Ray.
12

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu – Mestrado em Música
Mini Auditório 1 - EMAC
Goiânia, 28/03/2014 – 14h00
Recital de Mestrado - Defesa

Notas de Programa

As duas primeiras obras integram a parte solo do programa. Reinvenção de Pedro Cameron
foi dedicada a contrabaixista da OSESP Ana Valéria Poles. Explora o idiomatismo do
instrumento apoiado em cromatismos e momentos líricos. Ondas, de Sonia Ray vislumbra a
utilização do registro total do instrumento a partir de desdobramentos intervalares, e busca
relacionar os sons musicais com ondas das mais variadas formas.
Na performance em câmara aparece o Canto lamentoso, de Estércio Marquez Cunha, o
mesmo desenvolve-se em camadas sonoras que exploram o caráter lírico, por vezes denso, no
diálogo entre contrabaixo e voz. Na sequência, Merceditas de Ramon Sixtos Rios, uma das
obras mais expressivas do repertório fronteiriço. Chamamé, um ritmo tradicionalmente
ternário, faz parte dos gêneros musicais mais tocados na região sul do país. Outra
Campereada, de Pirisca Grecco é outra obra do pampa gaúcho que explora os ritmos do sul
do país; a chacarera. Um gênero também escrito em compasso ternário, porém diferencia-se
do chamamé por concentrar a sua acentuação rítmica no segundo e terceiro tempo do
compasso. Essas duas últimas obras recebem arranjos que exploram o contrabaixo acústico
como solista e acompanhante e evidenciam o diálogo do instrumento com a guitarra acústica,
alternado a atenção do ouvinte pelas variações na exposição do tema e solos. Temporal de
minha autoria foi composta inicialmente para o meu primeiro disco chamado Influências
(2010) e enfatiza momentos de tensão e calmaria.
Por fim, dois clássicos da música popular brasileira, Triste de Tom Jobim e Salvador de
Egberto Gismonti, obras que exploram fortemente a rítmica tradicional do samba. Destaca-se
o caráter harmônico que nos arranjos propostos fundem-se a ostinatos rítmicos e a momentos
improvisativos.
13

ENCARTE COM O DVD - Recital de Defesa

MESTRANDO
Gadiego Carraro: contrabaixo acústico,
arranjos e composição

PARTICIPAÇÕES
Jayana Paiva: Voz
Daniel V. Junior: guitarra
Everson Bastos: Piano
Diego Amaral: Pandeiro
14

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu – Mestrado em Música
Teatro Belkiss Spencieri de Mendonça
Goiânia, 18/02/2013 – 12h00
Recital de Mestrado

Gadiego Carraro: contrabaixo acústico


(candidato)

Programa

Gadiego Carraro (n.1979) Milonga Nova (2010)


Contrabaixo acústico: Gadiego Carraro
Violão: Nery Borges

Estrada de Tropa (2010)


Contrabaixo acústico: Gadiego Carraro
Guitarra: Daniel V. Junior
Bateria: Jader Gomes

Balance Bass (2010)


Contrabaixo acústico: Gadiego Carraro
Guitarra: Daniel V. Junior
Bateria: Jader Gomes

Victor Young (1900-1956) Stella by Star Light (1944)


Contrabaixo acústico: Gadiego Carraro
Guitarra: Daniel V. Junior

John Coltrane (1926-1967) Mr. Pc (1959)


Contrabaixo acústico: Gadiego Carraro

François Rabbath (n. 1931) Ode D'Espagne


(1963)
Contrabaixo acústico: Gadiego Carraro

Jaco Pastorius (1951-1987) Portrait of Tracy/Continuum (1976)


Contrabaixo fretless: Gadiego Carraro

Banca Examinadora:
Profª. Drª. Sonia Ray (UFG - orientadora)
Prof. Dr. Fabio Oliveira (UFG)
Prof. Dr. Antonio Cardoso (UFG)

Recital apresentado por Gadiego Carraro ao curso de Mestrado em Música da Escola de Música e
Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás como requisito parcial para a obtenção do título
de MESTRE. Área de Concentração: Música na Contemporaneidade. Linha de Pesquisa: Música,
criação e expressão – contrabaixo acústico. Orientadora: Profª. Drª. Sonia Ray.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu – Mestrado em Música
Teatro Belkiss Spencieri de Mendonça
Goiânia, 18/02/2013 – 12h00
Recital de Mestrado

Notas de programa

As primeiras três obras do programa são de autoria do próprio intérprete, demonstram sua
faceta composicional e de arranjador. Abordam a participação do contrabaixo e seu diálogo
camerístico com o violão, a guitarra semi-acústica e a bateria, em obras cujo foco está na
improvisação e interação musical, além de incursões interpretativas ao contrabaixo que
mesclam a utilização do arco e pizzicato.

Posteriormente e ainda com o formato em câmara, surge à interpretação do Standard Stella by


Star Light (1944) do compositor americano Victor Young (1900-1956) em arranjo para
contrabaixo acústico e guitarra semi-acústica, mescla a linguagem harmônica do jazz com a
rítmica de acompanhamento e improvisação da MPB.

O momento seguinte contempla o repertório solo para contrabaixo, transitando inicialmente


pela obra Mr. PC (1959), presente no álbum Giant Steps (1960) do saxofonista americano
John Coltrane (1926-1967), obra que dedicou ao contrabaixista Paul Chambers com quem
Coltrane tocou por muito tempo e sempre expressou profunda admiração. Surge na
sequência à obra Ode D'Espagne, presente no álbum The Sound Of a Bass (1963) de François
Rabbath (n. 1931) e elucida a influência musical e da guitarra espanhola na música do
contrabaixista, que além do exímio trabalho como intérprete do repertório de concerto, tem
desenvolvido pesquisas com estéticas e sonoridades de diversas partes do mundo, além do
jazz, ampliando o leque solista do contrabaixo. Finalizando, duas obras ímpares do genial
contrabaixista Jaco Pastorius (1951-1987), Portrait of Tracy e Continuum, ambas presentes
no primeiro disco do contrabaixista de 1976. A primeira construída quase que totalmente com
a utilização de harmônicos em diferentes partes do braço do instrumento e a segunda
demonstrando enorme complexidade harmônica, melódica e diversidade de timbres, um
marco do Jazz-fusion.
16

Capa DVD – Recital I

MESTRANDO
Gadiego Carraro: contrabaixo acústico/elétrico,
arranjos e composição

PARTICIPAÇÕES

Daniel V. Junior: guitarra

Jader Gomes: bateria

Nery Borges: violão


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu – Mestrado em Música
IX CONPEEX – Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFG
Teatro Belkiss Spencieri de Mendonça
Goiânia, 23/10/2012 – 12:30h

Programa

Pat Metheny (n. 1954) Bright Size life (1976)

Gadiego Carraro (n. 1979) Estrada de Tropa (2010)

Balance Bass (2010)

Roberto Menescal (n. 1937) O Barquinho (1961)


Ronaldo Bôscoli (1928-1994)

Charlie Parker (1920-1955) Billie’s Bounce (1945)

Herbie Hancock (n. 1940) Cantaloup Island (1964)

João Bosco (n. 1946) Incompatibilidade de Gênios (1976)


Aldir Blanc (n. 1946)

Músicos:
Gadiego Carraro: Contrabaixo, composições e arranjos
Daniel V. Junior : Guitarra
Cleber Ferreira da Silva: Bateria
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SISTEMA SESI/FIEG - GOIÂNIA


Série de Concertos Sesi – Programação Mês de Setembro
Show Cd Influências – Gadiego Carraro
Teatro Sesi/Santa Genoveva
Goiânia, 19/09/2013 – 21h

Programa

Daniel Sá Passo Fundo

Raul Boeira/Alegre Corrêa Negro Coração

Gadiego Carraro Carol

Estrada de Tropa

Balance Bass

Milonga Nova

Temporal

Músicos:
Gadiego Carraro: Contrabaixo acústico/elétrico, composições e arranjos
Jader Gomes: Bateria
Johnson Machado: Sax soprano e clarinete
Diones Correntino: Piano
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Projeto Música e Cena – EMAC/UFG
Teatro Belkiss Spencieri de Mendonça
Goiânia, 16/10/2013 – 9:15h

Programa

Sonny Rollins Óleo

Victor Young Stella By Star Light

Frank Churchill Someday My Prince Will Come

Gadiego Carraro Improvisação Livre (free jazz)


Fabiano Chagas
Alex Teixeira
Joaquin De La Montagna

Músicos:
Fabiano Chagas: Guitarra semi-acústica
Alex Teixeira: Bateria
Joaquin De La Montagna: Sax tenor
Gadiego Carraro: Contrabaixo acústico e elétrico
20

PARTE B: ARTIGO

O CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA:


UTILIZAÇÃO DE ARRANJOS COMO FERRAMENTA PARA
AMPLIAÇÃO DO REPERTÓRIO E MATERIAL DIDÁTICO
21

1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta recursos do contrabaixo aplicáveis em arranjos de
música popular brasileira (canções de caráter regional e cancioneiro urbano, entre outras). O
conceito de música popular aqui utilizado é bastante amplo e corroborado por Severiano
(2008). Este trabalho considera que a música popular brasileira compreende toda a produção
musical popular feita no país e, para melhor abordá-la esta foi organizada em quatro
momentos principais: formação (1770-1920), consolidação (1929-1945), transição (1946-
1957) e modernização a partir de 1958 com a Bossa Nova. O objetivo principal é apontar
possibilidades de ampliação do repertório existente para o instrumento com indicações de
arranjos e ao mesmo tempo aumentar a oferta de material didático disponível.
Entre as motivações que levaram à realização desta pesquisa estão a experiência do
autor em trabalhar com música popular, o desejo de explorar a atuação do contrabaixo
acústico com maior destaque na execução de música popular em formações camerísticas, a
pouca oferta de arranjos que deem destaque ao instrumento como solista e não só como
acompanhante, e a intenção de explorar a criação de arranjos como opção de repertório,
atividade que sempre esteve presente na carreira musical do autor.
Em seus amplos recursos, o contrabaixo permite aplicação em vários gêneros
facilitando a mescla de recursos predominantemente utilizados em acompanhamentos e solos
em música popular (como o pizzicato) com recursos mais explorados na música de câmara
(como golpes variados de arco). Autores que se dedicam ao estudo do contrabaixo em
diferentes formações na execução de música popular destacam formas de estudar o
instrumento de modo a valorizar seus aspectos idiomáticos com precisão e clareza na sua
execução como acompanhante e solista. Alguns destes autores são contrabaixistas que
utilizam o instrumento acústico com prioridade tais como, Adriano Giffoni (1997, 2002),
Dave Holland (2010), James Aebersold (1992), John Clayton (1983, 2005), John Patitucci
(2005, 2006), Luis Chaves (1983), Lynn Seaton (1997, 2009), Ray Brown (1963), Ron Carter
(1998), Rufus Reid (1977, 2000), Mark Dresser (2010), entre outros. Seus trabalhos ajudam a
entender o uso do instrumento em formações populares. Igualmente importantes são as
publicações de contrabaixistas que atuam também como cameristas como Bertran Turetzky
(1989, 2000), Gary Karr (1987,1988), Jeff Bradetich (2009), Diana Gannett (2011), Barry
Green (1976) e François Rabbath (1977, 2005). As experiências de todos estes
contrabaixistas documentadas em suas publicações impressas e/ou em audiovisual são
fundamentais para estudos de aspectos técnicos que refinam a execução do instrumento
executado em pizzicato e com o uso do arco.
22

No Brasil, publicações dos pesquisadores Sonia Ray (1996, 2000, 2005, 2006, 2007,
2011, 2013) e Fausto Borém (1998, 1999, 2003, 2006, 2011, 2012, 2013), lideram as
pesquisas sobre o instrumento e estimulam o desenvolvimento de mais pesquisas, com o
contrabaixo como objeto central. Grande parte do material utilizado para a formação de
instrumentistas no Brasil está alicerçada em referências europeias e norte-americanas (RAY;
NEGREIROS, 2004) refletindo a, ainda necessária, atenção de pesquisadores para gerar
material didático que explore a realidade de ensino e o uso de repertórios brasileiros. Para
Borém (2006) o problema vai além do contrabaixo. O autor destaca o hábito de
instrumentistas, cantores e regentes de não registrarem suas práticas de atuação artística e
procedimentos didáticos, sendo os detalhes e sutilezas de suas atuações repassadas ainda na
maioria das vezes por meio da tradição oral.
Contudo, apesar de o repertório brasileiro para contrabaixo ter aumentado
significativamente nos últimos anos, o material didático em língua portuguesa tem recebido
pouca atenção por pesquisadores (RAY; NEGREIROS, 2004). Esta realidade vem sendo
lentamente modificada com edições ininterruptas de congressos na área de música que abrem
espaço para relatos de experiência e performance (ANPPOM, SEMPEM e SINCAM) e pelo
surgimento de novos eventos, como o congresso da recém fundada ABRAPEM (Associação
Brasileira de Performance Musical) e com a inclusão de relatos de experiência no Festival
Internacional de Música da EMAC-UFG.
Os procedimentos metodológicos utilizados para esta pesquisa foram: a) Revisão da
literatura mais relevante sobre técnica de execução do contrabaixo acústico na prática popular
e na prática solista de câmara e de música de concerto; b) Revisão da literatura mais relevante
sobre o ensino do contrabaixo no Brasil; c) Escolha de obras do repertório tradicionalmente
utilizado no país para ensino do instrumento baseado no extenso trabalho de Negreiros
(2003), que mapeou o ensino do instrumento no Brasil; d) Confecção de três ou mais arranjos
de música popular brasileira pelo autor que sejam correlatas de obras do repertório tradicional
levantado; e) Indicação de equivalência técnica de arranjos de música popular elaborados
pelo autor e por outros contrabaixistas brasileiros que também apresentem equivalência nos
recursos técnicos utilizados no repertório tradicional levantado; e f) Indicação de uso dos
arranjos de música popular brasileira selecionados como complementares para a formação do
contrabaixista, aliado ao repertório tradicionalmente usado.
Assim, o presente artigo está dividido em três partes principais. 1) Breve revisão de
literatura; 2) Seleção e confecção de arranjos, e 3) Aplicação pedagógica dos arranjos, partes
estas precedidas por uma introdução e sucedidas das considerações finais.
23

2. ATUAÇÃO DO CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR,


MÚSICA DE CÂMARA E SEU ENSINO NO BRASIL: UMA BREVE
REVISÃO DE LITERATURA

Esta revisão de literatura discute a atuação do contrabaixo acústico em diferentes


formações musicais e seu ensino, e está dividida em 3 partes: Parte 1: trata da participação do
contrabaixo acústico na música popular, especialmente das formas de execução do
instrumento no Jazz e da abordagem dada por contrabaixistas do gênero; Parte 2: aponta a
atuação de instrumentistas solistas/cameristas e os materiais pedagógicos aplicados por eles
no ensino do contrabaixo; Parte 3: apresenta um panorama do ensino e performance do
contrabaixo no Brasil e principais pesquisas sobre o instrumento.

2.1 Aspectos da execução do contrabaixo acústico em música popular e jazz

Diferentes abordagens podem ser apreciadas nos trabalhos de respeitados


contrabaixistas desde Paul Chambers (1957), passando por Dave Holland (2006), e até
trabalhos mais recentes como o de Mark Dresser (2010). Tais abordagens mostram aplicações
do instrumento no jazz, seja no acompanhamento, seja como solista e improvisador.
Trabalhos de contrabaixistas de várias gerações como Paul Chambers (1935-1969), Ray
Brown (1926-2002), Niels-Henning Orsted Pedersen (1946-2005), Charlie Haden (n. 1937),
Ron Carter (n. 1937), Eddie Gomez (n. 1944), Rufus Reid (n. 1944), Dave Holland (n. 1946),
John Clayton (n. 1952), contribuíram para a construção e valorização da linguagem do
instrumento na prática da música popular, não somente por sua atuação como artistas, mas
alguns deles também pelo trabalho como pedagogos. Publicações educacionais de Brown
(1963), Carter (1998), Clayton (1983) e Reid (1977, 2000), por exemplo, apresentam
caminhos variados e de grande contribuição na formação técnica de contrabaixistas,
sobretudo nas formas de utilização do pizzicato e atuação do instrumento em formações
populares, tais como grupos de jazz, big bands, entre outros. Além do estudo de escalas,
arpejos e padrões rítmicos mais utilizados no contrabaixo como acompanhador, aliados a
exploração de progressões de acordes em campos harmônicos pré-definidos direcionados
também para o estudo da improvisação.
Alguns destes expoentes do contrabaixo popular têm também formação básica de
músico de orquestra e se dedicam ao estudo do arco em suas performances e em seu trabalho
24

pedagógico. Lynn Seaton (2009) utiliza o arco em sua prática com o repertório jazzístico e
incentiva seus alunos a fazerem o mesmo direcionando-os a assistir pelo menos um semestre
de aulas com um professor de contrabaixo erudito em seu trabalho regular na North Texas
University. Em sua atividade como contrabaixista, compositor e professor da Universidade da
California em San Diego (EUA), Mark Dresser (2010) explora o uso do arco como elemento
de criação timbrística em improvisações de jazz, de forma a ampliar as possibilidades das
técnicas estendidas tanto em sua prática como jazzista quanto em sua atuação camerista.
Os autores acima demonstram a pertinência da atuação do contrabaixo na música
popular. Além dos métodos tradicionais de contrabaixistas de jazz, que transmitem os
principais ensinamentos sobre o comportamento do instrumento nessas formações, estão
algumas inovações, dentre as quais, a utilização mais acentuada do arco no repertório
jazzístico e, arranjos e composições que privilegiam o diálogo camerístico do instrumento,
demonstrando possibilidades passíveis de serem também aplicadas no repertório da música
popular brasileira.

2.2 Contrabaixistas solistas/cameristas e materiais pedagógicos

O contrabaixo acústico passou a se destacar como instrumento solista em todo o


mundo a partir da década de 1970 quando contrabaixistas como Gary Karr, Jean Mark Rollez,
Ludwig Streicher e François Rabbath, entre outros, começaram a atuar como solistas frente a
grandes orquestras mostrando as possibilidades sonoras do contrabaixo moderno. Muito do
crescimento da atuação do contrabaixo ocorreu pelos avanços de lutheria na construção de
instrumentos, além do desenvolvimento das principais escolas e métodos de ensino do
contrabaixo mundiais, entre elas: Tcheca e Austro-Alemã, Italiana e Francesa e Norte-
Americana (DOURADO, 2009, p. 49-51).
No ambiente camerístico, podemos observar alguns exemplos da utilização do
contrabaixo em diferentes formações musicais. Ao longo do século XX e XXI, compositores
direcionaram suas composições para a valorização timbrística na busca por sonoridades
distintas e muitos constataram no contrabaixo uma oportunidade explorar esta busca tanto em
sua atuação como instrumento solista quanto camerista. Alguns exemplos dessa exploração
podem ser observados em obras, como os Quinteto para cordas Opus 77 (1875) de A.
Dvorak (1841-1904), Quinteto Opus 39 (1924) de S. Prokofiev (1891-1953), Sonata para
Contrabaixo e piano (1949) de P. Hindemith (1895-1963), Serenata para contrabaixo
25

(1977) de H. W. Henze (b.1926) inicialmente composta para cello em 1949, bem como as
orquestrações de K. Penderecki (b. 1933), O Castelo do Barba Azul de B. Bártok (1881-
1945), História do Soldado (1918) I. Stravinsky (1882-1971), Contrabajeando e Kicho de
Astor Piazzola (1921-1992), além de composições de Frank Proto (b. 1941) Duets and
Sonatas for Bass e Nine Variations on Paganini, e Poucha Dass, Ode D’ Spagne, de François
Rabbath (b. 1931), entre outras. As obras citadas promovem e exploram amplamente os
recursos dos instrumentos, valorizando a sua extensão e linguagem idiomática,
principalmente voltados à remodelagem sonora, ou novas formas de gerar o som. Observa-se
o uso de diversas técnicas de execução do contrabaixo voltadas ao uso do arco, novas
maneiras de executar pizzicato com atenção às possibilidades de articulação, timbre e
intensidade, além da exploração de vibratos, harmônicos naturais/artificiais e tessitura do
instrumento. Entre outros fatores que evidenciaram o contrabaixo a partir do século XX,
inclusive no repertório camerístico, está o surgimento de notáveis contrabaixistas, como
François Rabbath que além de interpretes, atuam como compositores de obras idiomáticas
para o instrumento. Estes instrumentistas renovam e dão continuidade à trajetória de
Domenico Dragonetti (1763-1846) e Giovanni Bottesini (1821-1889), entre outros, na
divulgação e de valorização do contrabaixo como instrumento solista.
Atualmente, muitos contrabaixistas, além de atuarem como interpretes-solistas, têm
construído uma carreira sólida no ensino da técnica e do repertório contrabaixo orquestral, camerístico
e solista do instrumento. O contrabaixista norte-americano Gary Karr, além de solista internacional
tornou-se referência no ensino do instrumento. Seu pensamento pedagógico foi difundido por seus
ilustres estudantes, atuais solistas e docentes universitários como David Murray, Diana Gannett,
Robert Black entre outros bem como em seus livros The Gary Karr Doublebass Book I (1987), II
(1988). Nos livros Karr aborda o ensino e execução do contrabaixo do nível iniciante ao avançado.
Karr dedica especial atenção a postura do aluno ao instrumento, ponto de contato do arco, execução
do pizzicato (dedilhando as cordas com os dedos) e aplicação da técnica ao repertório solista,
camerista e orquestras. Dos exercícios de classe manuscritos esenvolvidos pro Karr surgiram seus
livros e também materiais pedagógicos de seus ex-alunos, como foi o caso da origem das “Fases” de
Diana Gannett.
No pensamento de Diana Gannett (2011) é importante valorizar o trabalho de
preparação para o estudo técnico e para a performance com exercícios específicos para cada
etapa diária de estudo visando o desenvolvimento técnico e artístico do contrabaixista.
Segundo a autora um aquecimento bem estruturado tem grande importância no processo de
aprendizagem do músico principalmente por manter a concentração do músico em “como”
tocar. Em sua proposta de exercícios de aquecimento chamados Warm-up Phases Exercises,
26

ela explora aspectos como memória musical, ouvido interno, fortalecimento muscular,
resistência e agilidade muscular. Para a contrabaixista “o desejo de tocar musicalmente deve
ser a razão para que se estude técnica, não o inverso!” (GANNETT apud RAY, 2011)
Jeff Bradetich aponta a importância de o aluno saber estabelecer metas para o seu
desenvolvimento musical. No seu livro Double Bass: the ultimate challenge (2009), o
contrabaixista ressalta a relevância de estudar repertórios distintos no contrabaixo, além de
prática de variados golpes de arco, afinação, vibrato e escolha de dedilhado. O trabalho de
resistência e articulação são bastante enfatizados e o livro traz um encarte com exercícios
diários para este fim.
Em seu método Nouvelle Technique de La Contrabasse (1977) François Rabbath
discute-se a versatilidade do contrabaixo uma vez que este pode ser utilizado como
instrumento camerista e solista além de sua tradicional atuação na orquestra sinfônica.
Rabbath acredita que os métodos tradicionais tendem a concentrar o treinamento do
contrabaixista para a formação orquestral e destaca a importância do contrabaixista
vislumbrar também outros planos de carreira como camerista ou concertista, mesmo
compreendendo que este seja um caminho mais seleto e com menos oferta no mercado de
trabalho. Nesse sentido, a proposta de seu método é a de propiciar ao contrabaixista uma
formação que lhe assegure condições de atuar como solista. Rabbath tem também um
trabalho pedagógico importante documentado em vídeo (organizado pelo contrabaisita e
pedagogo do instrumento Hans Sturm) chamado The Art of the Bow (RABBATH; STURM,
2005). Neste primeiro volume do vídeo são demonstrados, com ajuda de equipamentos de
biomotricidade, vários ângulos do uso do arco e do braço direito e da mão direita. Os
princípios técnicos que caracterizam a execução do arco do contrabaixista são explorados
quando se aborda como segurar o arco, como articular golpes de arco diferentes tipos de
golpes, como desenvolver uma boa sonoridade e aspectos do ponto de contato.
Outro trabalho importante é o livro The Contemporary Contrabass de Bertram
Turetzky (1989) que trata da exploração de técnicas estendidas no contrabaixo. O autor
exemplifica graficamente dezenas de recursos possíveis na técnica tradicional e com uso de
recursos percussivos e não-tradicionais do arco (como tocá-lo sobre a madeira do estandarte)
bem como formas de preparação do contrabaixo (fazendo alusão a técnicas de preparo do
instrumento com elementos externos ao instrumentos como papel, plástico, madeira...). O
livro apresenta exemplos de técnicas do contrabaixo principalmente a luz do repertório
contemporâneo (TURETZKY, 2000).
27

Advanced Techniques of Double Bass Playing (1976) do contrabaixista e educador


Barry Green segue tratando da atuação do contrabaixo também com uso de técnicas
alternativas, diferentes formas de produção sonoras e notação para o instrumento. Tanto
Turetzky (1986), como Green (1976) procuram fornecer ao contrabaixista um olhar para o
repertório contemporâneo e de novas possibilidades de utilização do instrumento, inclusive
com relação as seus recursos técnicos aliando o emprego do arco e pizzicato em uma
abordagem ampliada e menos convencional.
Na revisão do material pedagógico supra citado foi possível observar a maior que as
publicações mais recentes tendem a contemplar técnicas não tradicionais bem como atuação
do contrabaixista para carreira camerista e solista, além do tradicional trabalho em grupos
sinfônicos. Observa-se também a tendência do uso de tecnologia e recursos audiovisuais em
materiais de pedagógicos.
A aplicação pedagógica aqui proposta entra neste grupo de referências com o
diferencial de abordar material pedagógico para o contrabaixo dentro do ambiente
camerístico na música popular brasileira. O trabalho também acrescenta por oferecer a
estudantes, profissionais e pesquisadores da performance material de referência para a
ampliação de seus estudos.
28

2.3 Materiais sobre ensino e performance do contrabaixo mais utilizados no


Brasil de acordo com Negreiros (2003)

O ensino e performance do contrabaixo no país tem sido objeto de constante reflexão


acadêmica principalmente a partir da década 1990. Grande parte desses estudos tem sido feito
por pesquisadores como Sonia Ray – UFG e Fausto Borém – UFMG, com pesquisas
precursoras para a área. Esses autores tem discutido diferentes aspectos do métier do
instrumento, tais como a formação do contrabaixista, aspectos cognitivos, uso do repertório
tradicional e de novas possibilidades, preparação e práticas de performance, além de estudos
voltados a execução e linguagem idiomática no contrabaixo, como consta nas publicações
Ray (1996, 2000, 2005, 2006, 2007, 2011, 2013), Borém (1998, 1999, 2003, 2006, 2011,
2012, 2013), entre outras. Pesquisas como essas ajudam a esclarecer a realidade do estudo e
performance do contrabaixo, principalmente voltados ao contexto brasileiro e servem de base
para que ainda mais estudos sejam realizados.
Com base no estudo de Negreiros (2003) foi possível identificar alguns momentos que
tem marcado o ensino do instrumento no país e dos principais métodos de ensino utilizados.
O autor esclarece que dentro do ensino do contrabaixo as maiores dificuldades, ainda, são a
falta de material didático em língua portuguesa, carência de professores especializados em
trabalhar com alunos iniciantes e alto custo do instrumento (NEGREIROS, 2003).
Professores entrevistados pelo autor apontaram que entre as maiores dificuldades encontradas
para ensinar o instrumento está a falta de materiais que ofereçam uma base técnica
segmentada, além de repertório para iniciantes. Com relação ao repertório, Negreiros (2003)
esclarece que o mesmo deveria ser criado com atenção à evolução das técnicas de execução
do contrabaixo e direcionado a realidade dos alunos brasileiros, além de indicação da faixa
etária específica.
Segundo o estudo realizado pelo autor, a maioria do material didático utilizado no
país, alicerça-se em métodos europeus e norte-americanos que surgiram no final do século
XVIII e meados do século XIX. Segundo o levantamento de Negreiros, dentre os principais
materiais de ensino do contrabaixo utilizados segundo ordem de utilização, estão: Billé
(1922), Simandl (1964), Zimermman (1985), Streicher (1977), todos, métodos que apesar da
relevância abordam o instrumento com vista no repertório tradicional de concerto. Outros
métodos como Petracchi, Rabbath, Karr, Montanari, Suzuki, Portnoi, Vance, também
aparecem na lista, porém segundo o autor, adotados em menor percentagem; um cenário que
29

reflete a grande carência de material didático atualizado no país, principalmente valorizando


o repertório brasileiro.
Algumas publicações como o Catálogo de Obras Brasileiras para Contrabaixo
(1996), Música Brasileira para Contrabaixo (2005), elaborados pela professora e
pesquisadora Sonia Ray, buscam contribuir com informações e divulgação do repertório
nacional para o contrabaixo. Principalmente pelo fato de que muitos profissionais do
instrumento desconhecem, ou mesmo conhecendo, não fazem uso de materiais mais
atualizados e do repertório nacional existente para o instrumento, acarretando em um atraso
para o desenvolvimento do repertório brasileiro, principalmente voltado a obras populares.
Negreiros (2003) ainda salienta que apesar das dificuldades de exploração e criação de
repertório em língua portuguesa para contrabaixo, o acesso a revistas e publicações
especializadas tem se tornado mais aberto no Brasil. Isso tem aos poucos possibilitado a
maior reflexão sobre o assunto, e propiciado aos profissionais envolvidos com o ensino e
performance do instrumento a atualização no âmbito de suas práticas e metodologias.
Aliados aos métodos tradicionais de ensino do contrabaixo no país estão algumas
pesquisas que se interessam pela atuação do contrabaixo na música popular, em especial do
seu uso no repertório brasileiro. Neste contexto alguns trabalhos como Chaves (1983),
Giffoni (1997, 2002), Montanhaur; Silos (2003), Guedes (2003), Carvalho (2006, 2011),
abordam desde exercícios e estudos rítmicos da música popular brasileira a pesquisas de
gêneros e de como o contrabaixo atua especificamente em cada um desses gêneros, até
propostas metodológicas de ensino da música popular brasileira como consta na recente tese
de Carvalho (2011).
Trabalhos como de Danjas (2007), levantam estudos sobre os aspectos interpretativos
voltados ao repertório erudito brasileiro para contrabaixo, ao passo que, Dantas (2010)
apresenta um estudo sobre o uso do arco no repertório da música popular brasileira
instrumental, principalmente apontando estratégias para a improvisação. Para isso o autor faz
referência à atuação do contrabaixo no jazz e na sua extensa bibliografia de ensino, que é
associada ao estudo e preparo técnico do arco com apoio no seu ensino no repertório da
música de concerto.
Até o presente momento, procurou-se esclarecer e levantar algumas questões
referentes a atuação do contrabaixo na música popular em especial o jazz e na música de
câmara, e da abordagem dada por esses pedagogos em seus métodos de ensino. Por fim foi
apresentado um panorama do ensino do contrabaixo no Brasil e das principais pesquisas
ocorrentes até o momento, com ênfase nos principais métodos de ensino utilizados,
30

necessidades e apontamentos com relação à utilização do repertório brasileiro para ensino e


performance no instrumento.
31

3. ARRANJOS CAMERÍSTICOS EM FORMAÇÕES POPULARES COM


CONTRABAIXO

É relevante observar que nas formações musicais populares, habilidades como


arranjo, composição e improvisação dialogam fortemente entre si e conduzem a prática da
performance musical. Entre músicos e contrabaixistas de jazz essa prática é bastante
acentuada, a exemplo de Charles Mingus (1922-1979) já na década de 1950-60 e 1970,
passando John Clayton (n. 1952), John Patitucci (n. 1959), Mark Dresser (2010), Lynn
Seaton (1997), até contrabaixistas da nova geração, como Avishai Cohen (n. 1970) e
Christian McBride (n. 1972), para citar alguns. Ambos construíram suas carreiras apoiados
nesse tripé, sendo o contrabaixo o pivô central de suas criações artísticas, como podemos
observar nos álbuns Mingus Ah Um (MINGUS – 1959), Super Bass (BROWN; CLAYTON;
MCBRIDE, 1997), Songs, Stories and Spirituals (PATITUCCI, 2003), Aurora, (COHEN,
2009). Normalmente essa abordagem é feita através de arranjos escritos que preservam a sua
integridade e proporcionam maior cunho camerístico a performance. Neste contexto é
possível observar a utilização do contrabaixo com maior alcance expressivo e diálogo com os
demais instrumentos, com uso de arco, trechos em pizzicato, passagens solísticas e de
exposição de melodias, além de espaços abertos a improvisação. Essa abordagem vem
crescendo consideravelmente entre músicos populares atualmente, principalmente devido ao
conhecimento e estudo formal que muitos deles tiveram, inclusive com formação
clássica/erudita em seus instrumentos. Com isso, o interesse de valorizar o repertório no qual
atuam, refinando suas performances através de arranjos e composições totalmente grafadas na
partitura, porém sem perder a espontaneidade criativa da improvisação em suas obras.
O conceito de arranjo adotado nesta pesquisa baseia-se na ideia de Lima Junior
(2003), que refere-se ao termo como a recriação de uma obra, que se diferencia da
composição apenas pela ideia inicial (insight) que parte do compositor. Não obstante, as
demais ações de manipulação da matéria sonora são desempenhadas tanto pelo arranjador
como pelo compositor. No processo de reestruturação e recriação da obra musical, podem-se
atingir diferentes contrastes com relação aos aspectos presentes na obra original. Esse
contraste pode ser de grande magnitude, através de uma nova abordagem instrumental,
estilística e estrutural, ou mais brando, elucidando pequenas nuances melódico-harmônicas e
timbrísticas. Outros autores como Fernandes (1995), Guest (1996), Almada (2000), também
corroboram sobre a importância do conhecimento de técnicas de arranjo específicas voltadas
à escrita para formações populares e a linguagem característica de cada instrumento. Os
32

autores ainda discutem sobre as funcionalidades harmônicas e melódicas do repertório


popular, além de escalas e modos característicos dos gêneros brasileiros e do Jazz, assuntos
que são também aprofundados no livro Harmonia: fundamentos de arranjo e improvisação
do professor Paulo Tiné (2011), e nas respectivas pesquisas de mestrado e doutorado do
professor da UDESC Sérgio Freitas (1995, 2010).
Após a breve revisão de literatura sobre atuação do contrabaixo na música popular,
contrabaixistas que atuam na música de câmara e ensino e performance do instrumento no
país, pretende-se nesta segunda parte do trabalho, apontar para as contribuições de arranjos
camerísticos com contrabaixo em formações musicais populares. Em seguida será
apresentado um panorama da atuação do instrumento no repertório popular brasileiro, e por
fim, refletindo sobre o uso de recursos idiomáticos do instrumento e sua aplicação em
arranjos.

3.1 Utilização do contrabaixo em arranjos na música popular brasileira

A utilização de arranjos que dialogam com diferentes tipos de repertório ao


contrabaixo integrando obras da música popular brasileira e de concerto, propicia ao
estudante um leque maior de informações e possibilidades de aquisição de um conjunto de
habilidades técnicas que se complementam. Isso fornece uma base segmentada e coerente às
situações musicais da atualidade, que exigem domínios múltiplos e conexos ao instrumento,
e, portanto, são enriquecidos se construídas experiências que possam concatenar o trato do
repertório tradicional de concerto com o popular.
Borém e Santos (2003) afirmam que ao longo de 450 anos o contrabaixo acústico teve
um desenvolvimento irregular quanto ao seu repertório, prevaleceram na música de concerto
a escrita para o contrabaixo com arco e na música popular a utilização do instrumento em
pizzicato, prática muito comum ainda hoje. Sendo os arranjos uma possibilidade a contribuir
para que o instrumento seja explorado de maneira ampla (uso variado do arco e diferentes
formas de realizar pizzicato) no repertório popular brasileiro. Os autores ainda apontam para
a crescente demanda de pesquisas voltadas a música popular, estando hoje em dia entre as
sete principais tendências de estudo da performance musical na pós-graduação brasileira.
Na música popular brasileira, estima-se que até meados dos anos de 1920 o
contrabaixo não era utilizado, os baixos (linhas melódicas de tessitura mais grave) eram
executados por formações instrumentais que não contemplavam o instrumento, normalmente
33

essas linhas melódicas eram feitas pelo violão ou por algum instrumento de sopro. “A
novidade do baixo surgido nas Américas está nos novos padrões rítmicos” (CARVALHO,
2006, p. 14). Apesar de o contrabaixo ser utilizado assiduamente já na década de 1920 na
Europa, em conjuntos de música de salão e, sendo esta prática também trazida para o Brasil
(GUEDES, 2003), é provável que uma participação mais efetiva do instrumento na música
popular brasileira ocorreria por volta da década de 1930, onde o contrabaixo acústico
começaria a ser utilizado de maneira mais assídua como instrumento de base
(acompanhamento) em gravações, formações instrumentais e grupos regionais. Segundo
Borém e Santos (2002), na formação da maioria dos grupos de música popular, o contrabaixo
acústico ainda é utilizado como instrumento de acompanhamento.
Compositores como Heitor Villa Lobos (1887 - 1959) e Astor Piazzolla (1921-1992)
exemplificaram a quebra de alguns paradigmas em suas épocas, pois almejaram em suas
criações, uma linguagem que além de nacional, pudesse dialogar com elementos da música
de concerto e popular. Sendo que, ambos demonstraram uma proximidade muito grande com
os gêneros populares, explorando novas sonoridades em suas composições e arranjos para
formações instrumentais variadas em câmara e solo. Exemplos que podem ser evidenciados
nas obras dos referidos compositores, como o ciclo de choros (1924-29), as Bachianas
Brasileiras (1930-45), Adios Nonino (1969), Libertango (1974), contrabajeando, entre outras
obras.
Esse diálogo também pode ser visto no Jazz, onde é comum a criação de arranjos e
adaptações de obras populares e do repertório de concerto. Como nas Sete Canções
Populares -1912 de Manuel de Falla (1876-1946), originalmente escrita para violão e voz,
mas que no V movimento “Nana”, aparece no álbum Line by Line - 2006 do contrabaixista
John Patitucci, em um arranjo para contrabaixo acústico solista e violão.
No Brasil, alguns compositores como Ernst Mahle (n. 1929), Edmundo Villani Côrtes
(n. 1930), Pedro Cameron (n. 1948), têm valorizado o contrabaixo em suas composições,
arranjos e transcrições, vislumbrando potencialidades possíveis de sua atuação do
instrumento. O primeiro com obras como Sonatina, Duos Modais, 60 Duos Fáceis, Melodias
da Cecília, quarteto e octeto para contrabaixos. Já o segundo em Choron (1981), e as Cinco
Miniaturas Brasileiras (1993), Ponteio e o último com Reinvenção, Solóquio e Conciliação,
são alguns exemplos que demonstram a pertinência do instrumento atualmente, e inspiram
novas discussões sobre o assunto.
Embora nos últimos anos compositores e pesquisadores tenham dedicado mais
atenção ao repertório brasileiro, o campo ainda é vasto e carece de mais estudos,
34

principalmente quando voltado à música popular, onde o repertório que privilegia o


contrabaixo e sua gama de recursos é pouco representativo. Neste sentido os arranjos,
constituem uma ferramenta importante para mudança desse quadro, e podem ser ainda mais
explorados, tendo em vista o grande número de contrabaixistas, arranjadores e compositores
que atuam neste segmento.

3.2 Aspectos idiomáticos do contrabaixo em arranjos

Já há alguns anos a escrita idiomática para contrabaixo tem sido objeto de reflexão
entre performers e compositores, principalmente no sentido de alcançar melhores resultados
na exploração ampla do instrumento. Para Fausto Borém (1998), isso tem ocorrido pela
revolução técnico-musical que o contrabaixo tem atravessado desde o final de década de
1950. O autor ainda esclarece que a partir da segunda metade do século XX a maioria das
grandes obras escritas para contrabaixo surgiu da colaboração entre compositores e
intérpretes, dentre algumas estão, Sir. Peter Maxwell Davies-Duncan Mac Tier (Inglaterra),
Jean Françaix-Francesco Petracchi (França-Itália), Gian Carlo Menotti-James van Demark
(EUA), Gunther Schuller-Gary Karr (EUA), Hans Werner Henze-Gary Karr (Alemanha),
Frank Proto-François Rabbath (EUA-França) e, no Brasil, Ernst Mahle-Antônio Arzolla
(Escola de Música de Piracicaba-UNIRIO) e Ernst Widmer-Pino Onnis (UFBA). Isso tem
revertido em importantes avanços para o desenvolvimento da linguagem idiomática do
contrabaixo, principalmente pela discussão de particularidades do instrumento, que são
enriquecidas pela troca de experiências composicionais e de performance.
Ainda no século XIX e início do século XX, a linha de baixo era definida, no
repertório orquestral, a partir da dobra em oitava abaixo da escrita para violoncelo, salvo
algumas iniciativas de intérpretes-compositores como Dragonetti, Bottesini, Koussevitzky
(BORÉM, RAY, ROSA, 2011). Porém, nessa época ainda não existia um consenso por parte
da grande maioria dos compositores, sobre as reais possibilidades de atuação do contrabaixo,
cenário que começou a ser modificado mais efetivamente, nos repertórios orquestral e solista,
a partir do século XX.
A escrita idiomática em arranjos favorece a abertura do leque de atuação do
instrumento em obras que originalmente atua como acompanhante. Borém, Ray e Rosa
(2011), comentam que no processo de construção de arranjos para o contrabaixo, algumas
dificuldades encontradas por arranjadores e compositores está relacionada à escrita em
regiões graves, de modo, a manter a inteligibilidade do texto musical, além da exploração da
35

tessitura, dinâmicas e articulação. Isso pode ocorrer, entre outros fatores, pela inexperiência e
falta de conhecimento específico quanto à escrita para o contrabaixo, onde o estreitamento
com o idiomatismo e resposta sonora do instrumento se fazem necessários.
É perceptível que em muitos casos o ato de arranjar surge da necessidade de muitos
instrumentistas em melhor comunicar questões musicais do seu instrumento. De fato os
arranjos quando construídos a partir do diálogo entre arranjador e interprete, ou em alguns
casos, pelo próprio interprete que também atua como arranjador, pode oferecer resultados
bastante positivos para a valorização da linguagem idiomática, pois ambos constituem um
meio claro de evidenciar muitos aspectos peculiares e específicos do instrumento, muitas
vezes negligenciados quando elaborados por compositores e arranjadores com pouca
experiência ou que não atuam diretamente com o instrumento em questão. Neste âmbito,
contribuições de instrumentistas, compositores e arranjadores experientes que conhecem as
particularidades e especificidades dos instrumentos, favorecem o seu desenvolvimento e
exploração.
36

4. POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO PEDAGÓGICA DE ARRANJOS PARA


O CONTRABAIXO ACÚSTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Com intuito de contribuir para a ampliação do repertório e material didático para


contrabaixo na música popular brasileira, esta parte do trabalho irá se concentrar na discussão
de exemplos musicais que possam dialogar com repertório de concerto e popular,
principalmente com relação à contribuição dos arranjos. Desta forma serão demonstradas
possibilidades expressivas do contrabaixo acústico com vista na utilização de recursos
técnicos que explorem amplamente o instrumento, tais como escolhas de arcadas e golpes de
arco, sonoridade, afinação, articulação, escolha de dedilhados, formas de tocar pizzicato e
trechos abertos improvisação.
Dentre algumas vantagens da utilização de arranjos para o contrabaixo na música
popular brasileira, está o desenvolvimento e exploração da linguagem idiomática do
instrumento nesse gênero, principalmente em obras que originalmente não foram escritas para
que atuasse além do acompanhamento. Pedagogicamente os ganhos são inúmeros, pois é
possível explorar recursos do instrumento que estão normalmente restritos ao repertório
orquestral, de modo, a promover aos estudantes brasileiros a experiência prática de
performance também com obras do repertório popular. Considerando como aponta Negreiros
(2003), que a maioria dos métodos de ensino utilizados no país ainda são europeus ou
americanos e abordam na sua maioria obras do repertório tradicional de concerto.
Neste sentido os arranjos contribuem para o desenvolvimento de habilidades técnicas
equivalentes, não de maneira a obter o mesmo resultado sonoro e interpretativo nos diferentes
repertórios, mas sim de discutir ferramentas de performance que enriqueçam a experiência
dos estudantes com repertório popular. Os arranjos quando grafados na partitura de forma
minuciosa, preservam um maior número de intenções musicais pretendidas, isso possibilita
um ganho considerável de escolhas interpretativas a serem utilizadas pelo interprete, e,
consequentemente um planejamento mais criterioso de sua performance. Com isso, subsidia-
se o aprendizado com propriedade desse tipo de repertório, que salvo algumas exceções,
ainda na maioria das vezes é repassado oralmente ou por meio de partituras simplificadas
(standarts). Essas por sua vez favorecem músicos experientes que conhecem bem os gêneros,
mas deixam a desejar como ferramenta pedagógica a estudantes e músicos que possam ter
menos contato com esse universo musical.
37

Aos profissionais, oferece-se a possibilidade de explorarem ainda mais obras


brasileiras em seus programas de recitais através do contato com o repertório popular e obras
devidamente arranjadas para o instrumento.
Sendo assim, serão explicitadas potencialidades do contrabaixo que normalmente
estão associadas ao repertório tradicional, mas que podem ser exploradas também através da
utilização do repertório brasileiro inspirado na música popular. Os trechos apresentados
fazem menção a obras de compositores e performers que atuam no repertório camerístico e
solista, a exemplo dos trabalhos de Edmundo Villani Côrtes, François Rabbath, Santino
Parpinelli, Fausto Borém, Sônia Ray, Alexandre Rosa, paralelamente a obras populares de
compositores, em especial advindos do pampa gaúcho, dentre os quais aparecem os gêneros
musicais brasileiros ainda pouco conhecidos como a milonga, o chamamé, a chacarera, além
de outros gêneros da música popular brasileira.
Os exemplos a seguir demonstram a equivalência técnica no estudo e preparo do arco,
pizzicato e demais possibilidades expressivas do contrabaixo, e, assumem características
semelhantes de cuidado e preparação, embora em diferentes repertórios. Habilidades essas
que necessitam ser absorvidas pelo estudante, e que, podem ser assimiladas pela prática de
diferentes repertórios, desde que trabalhem o mesmo princípio técnico.
Assim sendo, alguns trechos de arranjos de obras populares brasileiras são aqui
apresentados e indicados como equivalentes, tecnicamente, a obras tradicionalmente usadas
no ensino do contrabaixo no Brasil. Porém, não se determina que sejam utilizados da mesma
maneira, tendo em vista que diferentes repertórios refletem em diferentes resultados sonoro-
interpretativos, mas, antes disso, procura-se discutir esses princípios, com foco nas suas
contribuições, diferenças e semelhanças para o aprendizado do instrumento. E com isso
espera-se propiciar novas alternativas de inclusão do repertório brasileiro para o estudo do
contrabaixo e desenvolvimento de material didático em língua portuguesa.

4.1 Uso de Notas Longas com Arco

O Prelúdio presente nas Cinco Miniaturas Brasileiras - 1993 de Edmundo Villani


Cortês é bastante conhecido no repertório em câmara, composta originalmente para flauta,
porém recebeu várias transcrições do próprio compositor, inclusive para contrabaixo. Entre
algumas dificuldades que o contrabaixista (de nível iniciante a intermediário) enfrenta na
execução deste movimento, estão à manutenção do arco e a sonoridade. Isso ocorre em geral
38

pela necessidade de manter o som do arco homogêneo do talão até a ponta na execução das
notas longas, com atenção ao controle de volume e timbre. O aprendizado do arco apoia-se
em grande parte inicialmente, no estudo de cordas soltas, principalmente para que o aluno
compreenda como manter uma sonoridade uniforme, controlando e equilibrando o peso do
arco e do braço (FERREIRA, RAY, 2006). Streicher (1977) considera o ponto de contato do
arco outro fator fundamental para manter essa uniformidade sonora, além do treinamento de
mudanças de ângulos do arco na troca de cordas, para que não obstrua a sua vibração.
Alguns trechos do prelúdio exigem do aluno o domínio do arco, de forma a manter o
som consistente ao longo de algumas passagens, como demonstra o exemplo 1.

Exemplo 1 – Prelúdio das Cinco Miniaturas Brasileiras de E. Villani Côrtes (1993). Transcrição
Gadiego Carraro.

Neste trecho especificamente, o compositor sugere a exposição da melodia em caráter


cantabile, de forma clara e sonora. Isso requer um controle e planejamento do arco para que o
som se mantenha com a mesma intensidade do talão a ponta, sendo necessário que haja uma
compensação de peso do braço, à medida que o arco avança para a ponta. Outro ponto
importante diz respeito ao controle da velocidade com que o arco se movimenta, para que
seja possível manter o valor das notas longas com clareza na sua duração, sem modificar a
sonoridade requerida em todo o trecho. Ferreira e Ray (2006) afirmam que a velocidade e o
peso do arco estão diretamente ligados a qualidade sonora das cordas. O planejamento da
arcada neste trecho valoriza a escolha do arco para baixo nos tempos fortes aliando golpes de
arco que remetem um caráter interpretativo em legato, principalmente nos tempos fracos,
como indica a ligadura de expressão.
O exemplo 2 demonstra uma passagem onde o contrabaixo atua com uso do arco em
contraponto com o piano, com ênfase também em notas longas, e que, pode ser incluído ao
repertório que enfatiza e explora habilidades de manutenção da sonoridade do arco ao
contrabaixo acústico. Assim como no Prelúdio de Villani Côrtes, Estrela, Estrela de Vitor
Ramil, possui trechos que exigem a exposição clara da melodia, apesar de serem mais
39

fragmentados, ainda assim valorizam as notas longas e, constituem um exemplo de


equivalência deste tipo de recurso no estudo do contrabaixo.

Exemplo 2: Estrela, Estrela (RAMIL, 1981). Arranjo Gadiego Carraro (2013).

Os procedimentos articulativos presentes nas obras, diferem-se em alguns momentos,


principalmente com relação à presença de notas curtas do segundo exemplo, e que, nesse caso
devem receber um tratamento diferenciado do arco, para que as notas sejam precisas, rítmica
e melodicamente. Dantas (2010) acrescenta que em obras do repertório popular, o estudo de
golpes de arco associado a síncopes deve fazer parte do treinamento prévio do aluno, com
posterior aplicação nas escalas, até ser empregado em um trecho musical específico. O
dedilhado proposto neste trecho de Estrela, Estrela está construído entre a meia e primeira
posição do contrabaixo, salvo o final do trecho que sugere um salto entre a primeira e quinta
posição.

4.2 Uso de pizzicato sobre ostinato rítmico

O exemplo 3 mostra um trecho do primeiro arranjo elaborado para essa pesquisa,


apresenta a passagem do contrabaixo solista em pizzicato na região médio/aguda em
contraponto com o violão em acordes executados em ostinato rítmico. Em trechos como esse,
que requerem um som definido e encorpado na exposição da melodia, uma forma eficiente de
gerar o pizzicato pode ser atingida articulando com a parte de fora do dedo indicador
(CARTER, 1998), além de posicionar a mão direita próxima ao final do espelho do
instrumento. Reid (2000) em seu método voltado a atuação do contrabaixo no jazz, sugere o
estudo das formas de pizzicato com atenção ao movimento de dedo, pulso, braço para uma
boa projeção sonora. Esses estudos devem ser praticados em escalas e arpejos, com diferentes
dinâmicas.
40

Em situações como essa, o violão deve manter a sustentação harmônica e rítmica


necessária para que a melodia seja exposta sem prejuízo de dinâmica. A própria natureza das
cordas dedilhadas (fase de queda do envelope de som do instrumento) faz com que o volume
do violão diminua gradualmente logo após o ataque, enfatizando o ritmo, sem no entanto,
sobrepor à melodia executada em pizzicato, contudo, os sons tendem a se fundir e a se
complementarem amenizando a queda sonora.

Exemplo 3: Milonga Nova (CARRARO, 2010). Arranjo Gadiego Carraro (2012).

O som do pizzicato, apesar de ter característica de diminuição de volume semelhante


ao violão, pode ser prolongado pelo performer com o uso de vibrato e ataque do dedo na
corda, destacando a linha melódica. A indicação de digitação e da corda em cada trecho
facilitam as escolhas interpretativas e a afinação, principalmente nas mudanças de posições,
além de valorizar o idiomatismo do instrumento.

4. 3 Abordagem harmônica em trechos com arco

Exemplo 4, violão e contrabaixo assumem características de complementação


harmônica. A sustentação da harmonia e a manutenção da sonoridade são garantidas pelos
acordes do violão e pela atuação do contrabaixo, mesclando pizzicato e uso do arco com
cordas duplas ou Double Stops.

Exemplo 4: Outra Campereada (GRECCO, 2003). Arranjo Gadiego Carraro (2013).


41

Apesar do planejamento do arco ser um dos aspectos principais do estudo da música


de concerto, ainda não é claro no estudo do contrabaixo aplicado à música popular
(DANTAS, 2009). Contudo, o uso de detaché em passagens como essa que utiliza cordas
duplas, proporciona maior estabilidade sonora e clareza na articulação (RAY, 2006), salvo os
primeiros três compassos onde o uso do spiccatto proporcionará o resultado esperado, tendo
em vista o caráter vigoroso do trecho. O controle de dinâmica pode ser igualmente
beneficiado através do uso e controle do ponto de contato do arco (RAY e BORÉM, 2013).
No trecho de cordas duplas destacam-se os intervalos de quarta justa e quinta diminuta que
podem ser executados apenas com duas mudanças de posições. Salles (1998) reforça que as
conquistas sonoras por parte do instrumentista de arco resultam da sua vontade de dominá-lo
e julga importante ao estudante o conhecimento dos principais golpes de arco e estudo
constante do mesmo. Zimmermann (1985) sugere desmembramentos das arcadas como forma
de estruturar as situações com que o estudante irá se deparar no estudo do repertório de
concerto, que pode ser acrescentado com êxito também em obras do repertório popular.

4.4 Uso de thumb-slap e de arco

O exemplo 5, mostra o uso de thumb-slap, técnica de se percutir diretamente a corda


contra o espelho, de forma parecida com o que se faz no contrabaixo elétrico. A técnica é
utilizada também no contrabaixo acústico em grupos de jazz, música cubana e no tango
argentino, uma mescla de pizzicato e ação percutida na corda, que proporciona um resultado
misto de notas reais e ghost notes (notas parcialmente projetadas “ofuscadas” pelo ruído
gerado pela ação no espelho) e é aplicada aqui nos dois últimos compassos do trecho.
Exemplo que também pode ser observado em performances instrumentais do contrabaixista
de jazz, Eddie Gomez (1987).
42

Exemplo 5: Merceditas (RIOS, 1940). Arranjo Gadiego Carraro (2013).

O arranjo em questão demonstra para fins pedagógicos a mescla de dois princípios


técnicos que são referência no estudo do repertório de concerto e popular. O uso de arco,
além de mais uma forma de desenvolver o pizzicato, dessa vez utilizando elementos
percussivos e alternando os dedos indicador e médio com ênfase na projeção sonora. Com
relação à abordagem do arco neste exemplo, sugere-se o spiccato, pois o mesmo garante a
manutenção do groove (principalmente pela execução das notas com destaque), mantendo a
função melódica da linha e direcionamento harmônico. O estudante ao se deparar com uma
situação onde tenha que percutir as cordas em pizzicato, deve procurar fazê-lo sem que para
isso tenha que largar o arco da mão. Uma abordagem não muito comum no repertório de
concerto onde a forma de executar o pizzicato ocorre principalmente com um dos dedos,
normalmente o indicador (BORÉM, 2006).

4.5 Uso de Notas Duplas com Pizzicato

É possível observar que as formas de executar pizzicato no contrabaixo são diversas, e


seguem direcionamentos diferentes conforme o tipo de repertório. Borém (2006) esclarece
sobre a grande variedade de formas de execução deste recurso, seja com relação a estilo,
articulação, timbre e intensidade. O autor comenta que nas orquestras a maneira de executar o
pizzicato, a torna menos precisa principalmente em trechos mais longos, e alerta que a mesma
pode ser mais bem aproveitada quando considerada a forma utilizada pelos músicos
populares.
43

O uso do pizzicato em cordas duplas é mais uma das formas possíveis de exploração
deste recurso. Ode D’ Spagne é considerada uma peça tradicional e bastante conhecida entre
os músicos de concerto. Esta obra explora o uso do pizzicato inspirado nos rasgueados da
guitarra flamenca, porém possui uma abordagem próxima a adotada por contrabaixistas
populares de execução deste recurso. Esta obra exige do interprete, que mantenha a afinação
precisa dos intervalos presentes (quinta, terça, quarta e quarta aumentada), bem como
intensidade e definição sonora nas mudanças de posições. Apesar de não ser uma obra
extremamente difícil em termos técnicos, exige muito do performer principalmente em
termos expressivos e uso de diferentes formas de executar o pizzicato, como mostra o
exemplo 6.

Exemplo 6 – Ode D’ Spagne (RABBATH, 1963). Transcrição Gadiego Carraro.

Ainda com relação ao exemplo 6, é possível realizar diferentes formas de pizzicato,


com referência em como o mesmo é executado na música popular, nesse caso considerando a
sua abordagem na música espanhola. Com relação às figuras rítmicas mais rápidas (fusas e
semifusas) é possível realizá-las através do rasgueado com os quatro dedos da mão direita,
iniciando no dedo anular até o indicador. Além disso, é necessário em alguns momentos
utilizar o polegar para a execução das acentuações indicadas, simulando a forma de executar
acompanhamentos característicos da guitarra espanhola. Além disso, outros trechos da obra
exigem ainda a execução do pizzicato com dedos indicador e médio, com e sem apoio.
O exemplo 7 foi elaborado pelo contrabaixista, arranjador e professor de contrabaixo
da UFMG Fausto Borém, com vista à exploração camerística do contrabaixo na música
popular brasileira. Explora a rítmica e harmonia da música brasileira e foi estreado na
Convenção Internacional de Contrabaixistas da International Bass Socyety of Bassist em São
Francisco – EUA, pelos instrumentistas Sonia Ray, Fausto Borém e Alexandre Rosa. Manhã
de Carnaval (Luis Bonfá; Antonio Maria) recebeu neste arranjo para trios de contrabaixos
uma abordagem bastante significativa no âmbito da música de câmara, pois além de explorar
muitos recursos do contrabaixo, o arranjo promove a igualdade de atuação dos instrumentos
na execução da obra. Exemplos como esse, demonstram a pertinência da exploração de
44

arranjos para a ampliação do repertório brasileiro para contrabaixo, seja dentro de formações
com instrumentos diversos, ou como nesse caso, para grupos de contrabaixos apenas.

Exemplo 7 – Manhã de Carnaval (BONFÁ; MARIA, 1959). Arranjo Fausto Borém (2011).

O uso do pizzicato neste exemplo também explora cordas duplas, porém abrange uma
gama maior de intervalos que vão desde segundas, terças e sextas, além de quartas e quintas,
expandindo ainda mais em termos sonoros o uso desde recurso. Carter (1998) esclarece que
quando se trata de executar trechos musicais em pizzicato, o mais importante é a qualidade
sonora, que deve ser mantida e idealizada desde os primeiros exercícios. Para Dantas (2010),
o estudo das células rítmicas características da música popular brasileira, requer do estudante
bastante atenção às subdivisões rítmicas, para que as características do gênero sejam
preservadas, isso vale tanto para o estudo do pizzicato como também do arco.

4.6 Planejamento do Arco na Execução de Variações de Grupos Rítmicos com 4


Semicolcheias

O planejamento do arco em grupos de semicolcheias deve fazer parte também do


estudo de base do arco na música popular. Isso ocorre principalmente devido às variações
rítmicas com síncopes, contratempos e pausas, que caracterizam a formação dos principais
grupos rítmicos existentes na música popular brasileira. Segundo Dantas (2010), no
repertório da música popular, o músico deve planejar os movimentos do arco e conjuntos de
arcadas com ênfase nos diferentes grupos rítmicos, estudando-os separadamente e com
diferentes articulações.
45

Jongo de Santino Parpinelli é uma das obras que fazem parte do repertório do
contrabaixo que valoriza a rítmica brasileira e, como podemos observar no exemplo 8 abaixo,
explora fortemente os grupos de semicolcheias. Em obras como essa que possuem diferentes
grupos rítmicos, normalmente prioriza-se o arco com movimento para baixo nos tempos
fortes e para cima nos tempos fracos, salvo algumas exceções. Outro fator importante diz
respeito à quantidade de arco empregado, esse deve ser subdivido de acordo com a duração
das notas. No caso de grupos de semicolcheias o movimento deve se curto, priorizando
golpes de arco que valorizem as características expressivas de cada trecho musical, a exemplo
da discussão do arco nas cordas friccionadas realizada por Ferreira e Ray (2006), que
refletem sobre as implicações dos tipos de golpes de arco, ponto de contato, arcadas, entre
outros no repertório orquestral, atentando para as diferenças de sonoridade e resultados
interpretativos.

Exemplo 8 – Jongo (PARPINELLI, 1985).

Dantas (2010) comenta que não existe uma escola propriamente dita de estudo do
arco na música popular, principalmente porque a grande parte da literatura existente com
relação ao tópico advém de métodos do repertório de concerto, de modo que, as bases
formativas do arco são as mesmas para ambos os repertórios. Porém no repertório popular
tem se discutido algumas especificidades do uso do arco principalmente no Jazz apontando
diferenças e semelhanças com relação ao seu preparo em relação ao repertório de concerto.
Entre alguns aspectos estão às intenções de manter as características articulativas de cada
gênero, que revelam outro panorama de aplicação do arco e consequentemente a diferentes
resultados sonoros e interpretativos.
Para Reid (2000) um dos aspectos mais importantes do estudo do arco no jazz,
relaciona-se a sonoridade, essa por sua vez, deve estar aplicada ao estudo de mudanças de
corda, principalmente voltado a diferentes grupos rítmicos. Seaton (1997) aponta para a
importância do estudo prévio de grupos de arcadas voltados a articulação jazzística, de modo,
46

a facilitar a expressão e criatividade do músico em suas performances ao vivo. Com relação à


formação do músico brasileiro, é importante que o estudante desde as primeiras lições no
instrumento, tenha contato com estudos e obras que explorem o caráter e articulação da
música brasileira.
O exemplo 9 aborda um trecho do arranjo de Triste de Tom Jobim, que demonstra a
utilização do arco em uma sequência melódica característica da música popular brasileira. O
planejamento das arcadas neste exemplo foram escolhidos com base no resultado sonoro e
expressivo típicos do gênero. Nos compassos (7 e 8), a arcada inicia com arco para cima na
segunda semicolcheia do primeiro tempo, seguidas com o arco para baixo nas notas dó e ré,
sendo sucedida pelas notas si bemol e dó com movimento de arco para cima e finalizada com
arco para baixo na nota si bemol finalizando a frase. Já entre os compassos (9 a 13), o
conjunto de arcadas não obedece na íntegra à regra de tempos fortes e fracos, pois é
organizada de acordo com os diferentes grupos de semicolcheias e planejada com ênfase nos
saltos de cordas e na busca de uma sonoridade de arco voltada ao acompanhamento rítmico e
melódico.

Exemplo 9 – Triste (JOBIM, 1967). Arranjo Gadiego Carraro (2014).

Dantas (2009) afirma que muitos instrumentistas que utilizam o arco na música
popular, principalmente para a improvisação, o fazem sem preocupar-se em como inicia ou
termina o movimento do arco em uma frase musical, pois segundo o autor para esses
performers a indeterminação das arcadas, aliados ao fraseado jazzístico proporcionam a
instabilidade na frase e o sentido de swing. Já Rabbath (1977), incentiva o estudo e
planejamento de arco com ênfase em padrões rítmicos que incluam síncopes e diferentes
exercícios de acentuação, que são aplicados em peças didáticas que exploram aspectos
articulativos e expressivos do contrabaixo desde as primeiras lições.
47

A utilização do arco na música popular requer além do estudo básico de formação do


arco, a prática prévia de padrões rítmicos, escalas e pequenas frases com diferentes
articulações e arcadas típicas dos gêneros, principalmente para que se consiga atingir o
resultado sonoro esperado e consequentemente uma performance satisfatória. No caso de
arranjos de obras populares brasileiras é importante que o arranjador conheça os princípios
básicos de organização do arco nas cordas friccionadas, e reflita sobre o tipo de sonoridade
desejada, para que a utilização deste recurso não se torne descontextualizada em relação a
como deve soar no gênero.
48

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação do contrabaixo como um instrumento capaz de desempenhar inúmeras


funções dentro das formações musicais tem sido amplamente discutida já há algum tempo por
instrumentistas, compositores e pedagogos no mundo todo. Principalmente depois da metade
do século XX, foi possível vislumbrar possibilidades ainda mais atraentes para o contrabaixo
moderno dentro de formações em câmera e solo. Esta pesquisa procurou colaborar de alguma
forma com esse assunto, concentrando-se na atuação solista e camerista do contrabaixo
dentro da música popular brasileira. A forma escolhida para evidenciarmos a participação do
instrumento neste ambiente, foi através da utilização de arranjos como ferramenta para a
ampliação do repertório e material didático em língua portuguesa. Para isso foram discutidas
possibilidades de atuação do contrabaixo em arranjos de obras que normalmente o
instrumento não atua como protagonista, salientando a importância do estudo do repertório
popular brasileiro em contraponto ao estudo do repertório tradicional.
Com base na revisão de literatura, foi possível compreender aspectos que evidenciam
a participação do contrabaixo em diferentes formações musicais, e também, de como o seu
ensino está sendo abordado no Brasil na atualidade. Também foram discutidos aspectos da
utilização de arranjos para formações com instrumentos mais utilizados na música popular
com o foco no contrabaixo. Nesse sentido foram demonstradas aplicações de recursos
idiomáticos do contrabaixo em arranjos camerísticos que buscam promover um diálogo
equilibrado entre os instrumentos. Por fim, foram sugeridas possibilidades de aplicações
pedagógicas dos arranjos de obras da música popular brasileira explorando recursos
técnico/expressivos do contrabaixo advindos tanto da prática da música de concerto e quanto
da prática popular.
A pesquisa concluiu que arranjos de música popular, quando elaborados com atenção
a questões idiomáticas dos instrumentos envolvidos oferecem uma ferramenta importante
para a ampliação do material didático para performance instrumental. Com isso, também se
dá a ampliação do repertório tão importante na formação do músico brasileiro que carece de
material pedagógico que explore diferentes repertórios, incluindo-se música popular
brasileira.
Espera-se que este trabalho, possa estimular novas pesquisas no país sobre a atuação
do contrabaixo na música popular brasileira, principalmente com ênfase na ampliação do
repertório e material pedagógico para o instrumento e de novas possibilidades de ensino.
49

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RAY, Sonia . Aspectos Cognitivos da Iniciação ao Contrabaixo: uma análise dos materiais e
processos pedagógicos utilizados no Brasil. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE
COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 3., Salvador, 2007, Anais... Salvador: UFBA, 2007. v.
1. p. 135-141

______________. Música Brasileira para Contrabaixo: coleta e disponibilização do repertório


disponível. Per Musi, Belo Horizonte, v. 13, p. 1-9, 2006.
53

RAY, Sonia; ROSA, Alexandre. Considerations on the Use of the Body of the Double Bassist
in Daily Routine. In: ENCONTROS DE INVESTIGAÇÃO EM PERFORMANCE, 2.,
Anais... CDRom, 2011. Aveiro, PT: Universidade de Aveiro, 2011.

RAY, Sonia; BORÉM, Fausto. Bow Placement on The Double Bass: a notational proposal of
bow regions and string contact points. Art Review, v. 24, p. 1-13-13, 2013.

REID, Rufus. The envolving bassist: milllenium edition. Myrriad Limited, 2000.

______________. Evolving Upward. Na Aid Developing Thumb Position Techniche for


The Double Bass. Book II, Miriad Limited, 1977.

SALLES, Mariana Isdebsky. (1998). Arcadas e Golpes de Arco. Brasília: Thesaurus.

SEATON, Lynn. Jazz Solos for Bass: volume 1. New York: Kendor Music, 1997.

______________. Arco Techniques for Jazz Bass. Disponível em


<http://www.youtube.com/watch?v= 62toqJMD8c>. Acesso em 02/12/2013.

SEVERIANO, Jairo. Uma história da Música Popular Brasileira: das origens a


modernidade. São Paulo: Editora 34, 2008. 504p.

SMANDL, F. Method for the Double Bass. Vols. 1 e 2. New York: Fisher, 1964.

STREICHER, Ludwing. My Way of Playing the Double Bass: instruction and advice for
the beginning and advanced double bassist. Vol 1. Áustria: Ludwing Doblinger, 1977. 42 p.

TINÉ, Paulo José de Siqueira. Harmonia: Fundamentos de Arranjo e Improvisação. São


Paulo: Rondó, 2011.

TURETZKY, Bertram. The Contemporary Contrabass. Berkeley: University of California


Press, 1989.

________________. Bertram Turetzky and Friends: Music for Contrabass. Disponível em


<http://www.youtube.com/watch?v=J-bZkp-K6k8>. Acesso em 04/12/2013.

ZIMMERMANN, Frederick. A Contemporary Concept of Bowing Techniche for de


Double Bass. Hal Leonard, 1985. 144 p.
54

ANEXO I

ARRANJOS COMPLETOS
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ANEXO II

RECITAL XII SEMPEM (PARTICIPAÇÃO)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Programa de Pós-Graduação em Música
XII SEMPEM – Seminário Nacional de Pesquisa em Música da UFG
Teatro Belkiss Spencieri de Mendonça
Goiânia, 04/10/2012 – 9:15h

Programa

Gadiego Carraro (n. 1979) Milonga Nova (2010)

Balance Bass (2010)

Duo Sem Fronteira:


Gadiego Carraro: contrabaixo acústico
Nery Borges: violão

Estércio Marquez Cunha (1941) Quatro Cantos de Fé (2011)


para soprano, clarineta e piano
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV

Carlos Costa: piano


Johnson Machado: clarineta
Mábia Felipe: soprano

Leo Brouwer (1939) Elogio de La Danza

Lento
Obstinato

F. M. Torroba (1891-1982) Nocturno

E. Krieger (1928) Ritmata

L. Berkeley (1903-1989) Sonatina


Allegreto

Marcelo Brombilla: violão


78

RECITAL XIII SEMPEM (PARTICIPAÇÃO)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


Escola de Música e Artes Cênicas
Programa de Pós-Graduação em Música
XIII SEMPEM – Seminário Nacional de Pesquisa em Música da UFG
Teatro Belkiss Spencieri de Mendonça
Goiânia, 04/10/2013 – 9:15h

Programa

François Rabbath (n. 1931) Ode D'Espagne (1963)

Jonh Coltrane (1926-1967) Mr Pc (1959)


Gadiego Carraro: Contrabaixo acústico solo

Dimas Sedícias (1930-2001) Mutreta para Duas Clarinetas (1986)

Mauricio Murcia (n. 1976) Mauro’s Latin (2006)

Osvaldo lichtenzveig (n. 1976) La minon-ga (2010)


Rosa Barros e Taís Villar: Clarinetas

Estércio Marquez Cunha (1941) Música para Trombone n. 4 (2013)

I - Movimento
Jackes Douglas: Trombone

Edmundo Villani-Côrtes (1930) Oito peças para piano

Casulo (1990)
Baile imaginário (1989)
Valsinha de Roda (1979)
O passarinho da praça da matriz (1994)
A fonte eterna (1974)
Balada dos 15 minutos (1987)
Canção de Carolina (1990)
Sem nome (2012)
Rúbia Santos: piano

Sérgio de Alencastro Veiga Filho (1977) Música para Theremin Giroscópio e Granulações
Harmônicas (2013)

I- Vênus
II- Marte
Sérgio Veiga: interface interativa
79

ANEXO III

RELATO DE EXPERIÊNCIA (Estágio e Docência)

O CONTRABAIXO ACOMPANHADOR: WALKING BASS

Este texto constitui-se de um breve relato de experiência do estágio docência


realizado com os alunos de licenciatura e bacharelado em contrabaixo acústico da Escola de
Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás. O estágio é requisito obrigatório
para alunos bolsistas CAPES e CNPQ dos Programas de Pós Graduação em universidades
brasileiras. As aulas ocorreram durante o segundo semestre de 2013, no laboratório de
contrabaixos da Universidade Federal de Goiás (EMAC). Foram ministradas aulas semanais
individuais e em grupo, com ênfase na atuação do contrabaixo na música popular,
principalmente discutindo princípios de acompanhamento (walking bass) do contrabaixo no
jazz.
As aulas foram calçadas no estudo da prática interpretativa e criativa do ponto de vista
do contrabaixo acústico acompanhador. Pretendeu-se apresentar alguns procedimentos que
caracterizam a atuação do contrabaixo em gêneros populares como o jazz. Para isso, foi
proposto um itinerário sobre como construir linhas de baixo (walking Bass) sobre a ótica do
contrabaixo acústico em pizzicato. Por fim foram sugeridas ferramentas para a aplicação
desses conhecimentos vistos em standarts jazzísticos.
O objetivo principal foi apresentar alguns elementos básicos para a construção de
walking bass, com ênfase na leitura de cifras, acentuação rítmica, contorno e direção
melódica no acompanhamento e harmonia. Os aspectos metodológicos consistiram em aulas
expositivas voltadas a exercícios e a reflexão da prática no instrumento.
Dos cinco alunos matriculados nos respectivos cursos de licenciatura e bacharelado
em contrabaixo, apenas três compareceram regularmente as aulas. Partiu-se do pressuposto
de aulas realmente práticas que abordassem o fazer musical propriamente dito. Os
referenciais teóricos consultados foram AEBERSOLD (1992), PASTORIUS (1985),
PATITUCCI (2005), REID (1977), BROWN (1963). Os mesmos serviram de base para o
entendimento da atuação do instrumento no Jazz, porém foi dado maior atenção a exercícios
práticos, onde os alunos tiveram a oportunidade de realizar, criar e perceber como o
instrumento se insere nesse ambiente musical.
80

Os conteúdos foram organizados e distribuídos da seguinte maneira, como mostra a


tabela a seguir:

1 semana 2 semana 3 semana 4 semana


Setembro/2013 Walking Bass; Leitura de Cifras; Acorde Aplicação em
maior, trechos musicais;
menor, e
dominante;

Outubro/2013 Acentuação rítmica Contorno melódico e Direção Aplicação em


característica no transição entre melódica da trechos musicais;
acompanhamento do acordes; linha de
walking bass; baixo;

Novembro/2013 Construindo a linha Walking Bass Forma Aplicação do


de Walking Bass; com inversões: Blues: Blue walking bass na
aberta e Monk; obra;
fechada;

Dezembro/2013 Execução do arranjo


para trio de
contrabaixos – Blue -------------------- ------------ ---------------------
Monk

As atividades de ensino realizadas junto aos alunos de contrabaixo da Universidade


Federal de Goiás demonstraram-se muito positivas, principalmente porque foi possível
apresentar aos alunos do instrumento, outras formas de atuação do contrabaixo com
referencias aos gêneros populares. Com isso pode-se alcançar junto com os alunos novos
horizontes formativos na prática do instrumento, que muito positivamente irão ser uteis na
carreira musical desses estudantes, tendo em vista que o mercado de trabalho atualmente
exige conhecimentos e domínios conexos com relação a cada área de atuação.
Apesar do desafio inicial de apresentar e atrair a atenção dos estudantes a outro
panorama de atuação e performance do contrabaixo, que é um pouco distante do repertório
com que estão habituados, passada essa impressão, as aulas correram bem. Em um clima
descontraído, de participação e curiosidade, pode-se observar um avanço positivo dos alunos
no aprendizado do tema proposto, superando as expectativas.
81

Peça de encerramento Estágio Docência. Blue Monk (MONK, 1969). Arr. Gadiego Carraro (2013).

Referências

AEBERSOLD, Jamey. Como improvisar e tocar jazz. 6. Ed. Estados unidos: Aebersold,
1992. 103 p.

PASTORIUS, Jaco. Modern Electric Bass. Estados Unidos: DCI,1985. 32 p.

PATITUCCI, Jonh. 60 Melodic Estudes for Acoustic and Electric Bass. New York: Carl
Ficher, 2005. 128 p.

REID, Rufus. Evolving Upward Bass Book, vol. I & II. New Jersey: Myriad Limited, 1977.

BROWN, Ray. Ray’s Brown Bass Method, vol. I. California: Ray Brown Music, 1963.

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