In Disciplina
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INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
COMISSÃO DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PRÁTICA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO
Porto Alegre
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
COMISSÃO DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PRÁTICA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO
Porto Alegre
2013
Agradecimentos
Obrigada!
Resumo
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................7
2. INDISCIPLINA.........................................................................................11
2.1 POSSÍVEIS CAUSAS.......................................................................13
2.2 EVITANDO A INDISCIPLINA.............................................................15
2.3 NEM AUTORITARISMO NEM ABANDONO......................................18
3. AGITAÇÃO.............................................................................................22
4. AGITE ANTES DE USAR.......................................................................25
4.2 OFICINA............................................................................................26
4.3 AGITANDO OS RÓTULOS...............................................................34
5. CONCLUSÃO.........................................................................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................42
1. INTRODUÇÃO
10
2. Indisciplina
12
2.1 POSSÍVEIS CAUSAS
13
A indisciplina pode ser também uma consequência da atitude do
professor em sala de aula. Um professor desmotivado, que não busca
atividades diferentes, que não planeja suas aulas, que pede aos alunos para
abrirem seus livros e ficarem cada um trabalhando na sua classe, em seu
caderno, cortando qualquer interação com os demais, acaba contagiando-os e
desmotivando a turma (TREVISOL, 2007). O rendimento dessa sala vê-se
comprometido por essas atitudes do professor. A indisciplina parece ser uma
resposta clara ao abandono à habilidade das funções docentes em sala de
aula, porque é só a partir do seu papel evidenciado corretamente na ação em
sala de aula que os alunos podem ter clareza quanto ao seu próprio papel, que
é complementar ao do professor (AQUINO, 1998, p.8).
Outra causa levantada por Trevisol (2007) seria a maneira como é
formulada a escola, que se mantém com a mesma estrutura de sempre. A
autora salienta: “a sociedade mudou, a família também, o aluno de hoje é
diferente, mas a escola continua com seus métodos de ensino como a décadas
atrás (p. 5)”. Então, o comportamento indisciplinado do aluno poderia estar
sinalizando que algo na escola não está ocorrendo de acordo com as
expectativas principalmente dos alunos, e mais, estes estariam reivindicando
mudanças necessárias para que se realize o objetivo da escola: uma educação
de qualidade, que desperte o interesse do aluno pelo aprendizado e pelo
ambiente escolar. "Estamos em outro tempo e precisamos estabelecer outras
relações" (AQUINO, 1996, p.12).
Além disso, a indisciplina pode ser uma consequência do
comportamento familiar. Nesse sentido, quando os pais possuem dificuldades
em exercer sua responsabilidade de estabelecer limites, transmitir valores para
seus filhos, ou isentando-se desses papéis, podem ser considerados como
indisciplinados. (TREVISOL, 2007). Os pais, principalmente atualmente, às
vezes por não saberem como agir em determinados momentos, e não
quererem assumir uma posição autoritária, acabam permitindo que os filhos
façam de tudo, tentando evitar que este venha a sofrer algum trauma ou
alguma frustração. Assim, acabam gerando a indisciplina, já que não fornecem
subsídios para que a criança tenha comportamentos adequados no convívio
14
com outras pessoas, independente do contexto envolvido: familiar, escolar,
social, entre outros. Ainda segundo Trevisol (2007), se observarmos crianças
em que os pais não impõem nenhum tipo de limite identificaremos crianças que
são, geralmente, rejeitadas pelos colegas, pois não conseguem respeitar
ninguém. Para que a criança saiba aceitar e respeitar os limites impostos pelos
professores, colegas ou amigos com que convive, é preciso que ela tenha
aprendido, exercitado, desde o início de sua vida este tipo de comportamento
em sua família.
De acordo com Aquino (1998), escola e família exercem papéis distintos
no processo educativo, evidenciando-se uma confusão de papéis. A principal
função da família é a transmissão de valores morais às crianças. Já à escola
cabe a missão de recriar e sistematizar o conhecimento histórico, social, moral
Essa discussão será retomada mais tarde.
Shäffer (2003), fazendo uma pesquisa com alunos que estavam sendo
encaminhados à orientação pedagógica, notou que na maioria das vezes as
ocorrências denominadas “dificuldades de aprendizagem”, na verdade estavam
relacionadas com distúrbios de ordem, ou questões de comportamento.
Diversos alunos com boas notas estavam sendo encaminhados por
apresentarem um comportamento considerado impróprio. Enquanto isso,
diversos problemas de aprendizagem (alunos que realmente têm dificuldade
em se apropriar dos conteúdos) são acobertados pelo fato de esses alunos
serem quietos e não chamarem muito a atenção do professor.
17
2.3 NEM AUTORITARISMO, NEM ABANDONO
18
apenas enumerar atitudes que não poderiam ser tomadas. Como La Taille
(1996, p.9) analisa,
as crianças precisam aderir a regras e estas somente podem vir de
seus educadores, pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por
estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido
negativo: o que não poderia ser feito ou ultrapassado. Devem
também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá
consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social – a
família, a escola, e a sociedade como um todo.
19
Segundo Pereira (2009), quando o professor se dá conta de que os
conflitos vão sempre existir, independente da sua vontade, e de que a sala de
aula é um espaço complexo e heterogêneo, ele consegue, juntamente com os
alunos, e não mais de forma autoritária, construir um espaço de tolerância e
respeito às diferenças, em que todos possam participar e contribuir para um
ambiente saudável. Segundo Guimarães (1996):
Isso não significa que a paz reinará na escola, mas que alunos e
professores, por força das circunstâncias, serão obrigados a se
ajustar e a formular regras comuns (...). Portanto, nem autoritarismo e
nem abandono (GUIMARÃES, 1996, p. 79).
21
3. AGITAÇÃO
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Um outro aluno havia me chamado a atenção durante o período de
observações. Ele era bem bonito, e imaginei que deveria atrair as meninas, ter
muitos amigos, enfim, ser popular, no auge dos seus 15 anos. No entanto,
percebi que ele sempre se sentava sozinho, e que quando havia alguém
sentado ao seu lado pedia para que ele mudasse de lugar. As meninas o
chamavam de estranho, e os meninos usavam adjetivos chulos para se
dirigirem a ele. Durante as aulas, ele se limitava a copiar a matéria e resolver
os exercícios, sem conversar com ninguém, sem fazer nenhuma pergunta.
Perguntei certa vez o porquê dessa dificuldade, e ele me respondeu que era
tímido. No entanto, seu comportamento “quieto” era considerado exemplar
pelos demais professores, mesmo que suas notas estivessem sempre no limite
da média exigida. Podemos avaliar o comportamento dele e dos demais
colegas “quietos” e taxá-los como tímidos, mas será que é só isso?
24
4. AGITE ANTES DE USAR
25
4.1 OFICINA
26
Figura 1. Imagem retirada do filme Escritores da Liberdade
27
em uma escola, com os estudantes correndo pelo pátio, conversando e
jogando futebol. Pedi para que a turma olhasse para as fotos e novamente
identificasse os pontos de indisciplina presentes nas mesmas (três destas fotos
estão indicadas nas Figuras 2, 3 e 4).
Figura 3: Imagem mostrando alunos prestando atenção ao professor durante uma aula.
Fonte: http://www.vitoria.es.gov.br/secom.php?pagina=noticias&idNoticia=9089
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Figura 4: Imagem mostrando alunos durante o período de recreio.
Fonte: http://www.portalrcr.com.br/radios/jovempan/noticias-regionais/51397-projeto-
viabiliza-sincronismo-na-hora-do-recreio
Sou visto como um aluno que conversa muito durante a aula, mas
queria que visse que eu só converso quando acabei tudo
Eu acho que como crianção, mas queria que vissem que sou
inteligente
Me veem como bagunceiro, mas queria que vissem que faço
todas as tarefas
Como MUITO inteligente (diferenciação maiúsculas/minúsculas do
aluno), mas preferia ser um simples aluno
Os outros acham que eu fico rindo demais, mas eu faço quase
tudo, queria que eles vissem.
Eu gostaria que eles (os professores) vissem que eu estudo
bastante, mas só alguns veem isso.
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Um aluno somente escreveu que era visto da mesma maneira de que
gostaria, pois era quieto e estudioso. Outras duas falas dos alunos me fizeram
refletir mais sobre o tema:
Eu gostaria de ser visto como comportado, mas o professor só me
vê quando eu estou bagunçando.
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4.2 AGITANDO OS RÓTULOS
1
Nota: o conteúdo dos rótulos será transcrito a cada página, devido à falta de visibilidade da
imagem.
Figura 5 - rótulo do aluno: “inteligente, sábio, ágil e um bom atleta! (produto concentrado).”
Rótulo dos professores: “calmo e inteligente”
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Começo minha análise por aquele mesmo aluno que disse não gostar de
ser visto apenas como o mais inteligente da turma. Em seu iogurte (Figura 5),
ele diz gostar de ser visto como inteligente, mas também como um bom atleta.
Conversando com ele durante a atividade, soube que nas aulas de educação
física normalmente os outros meninos da turma não o escolhiam para os times,
pois achavam que, por ser um aluno tão inteligente, deveria jogar mal. Em um
trocadilho com o lema da oficina, ele acrescentou no iogurte que se sentia
como um produto concentrado, que deveria ser diluído entre os demais e
agitado para que tivesse seu melhor aproveitamento.
2
Nota: Figura 6 – rótulo do aluno: “estudioso”
Rótulo dos professores: “Eles só percebem quando estou incomodando e nunca quando estou
concentrado.”
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muito mais fácil prestarmos atenção em algo que fuja do que se é esperado
para um determinado momento. Então, em uma sala de aula em que o
professor deseja que todos os alunos permaneçam quietos em seus lugares,
ouvindo atentamente às explicações, qualquer estudante que esteja
“bagunçando” ou conversando será rapidamente notado e repreendido.
3
Nota: Figura 7 – rótulo do aluno: “eu queria que os professores soubessem que eu não sou
mandona, mas sim que quando eles estão dando uma explicação, e os alunos estão bagunçando, eu apenas
tento organizar a aula pra eles!!”
Rótulo dos professores: “eu sou a “Mandona” da sala! Ao olhar dos professores e alunos”.
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ajuda não é notada pelos professores, que também a xingam por perturbar a
aula.
4
Nota: Figura 8 – rótulo do aluno: “uma aluna que é da bagunça, mas quando se concentra é uma
aluna exemplar”.
Rótulo dos professores: “eles acham que eu sou inteligente, mas que eu sou muito da bagunça”.
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estaria sujeito a mudanças - e não pelo que os demais pensassem sobre ela.
Foi a única pessoa na turma que não concordou com a ocorrência dos rótulos,
e disse ainda que não deveríamos ser taxados com um comportamento,
mesmo que este nos agradasse, e sim deveríamos ser notados como resultado
de nossas ações e pensamentos. Achei muito interessante, pois corrobora com
a ideia de que mesmo os rótulos devem ser agitados e constantemente
modificados. 5
38
CONCLUSÃO
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FORTUNA, Tânia Ramos. Indisciplina Escolar: da Compreensão à Intervenção.
In: XAVIER, Maria Luisa. Disciplina na Escola – Enfrentamentos e
Reflexões. Porto Alegre: Mediação, 2002. P. 87-104.
42
REGO, T. C. R. A indisciplina e o processo educativo; uma análise na
perspectiva vygotskiana. In: AQUINO, Júlio Groppa (Org.) Indisciplina na
escola: alternativas teóricas e práticas. 13. ed. São Paulo: Summus, 1996.
P. 83-103.
ZENTI, L. Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo: motivação é a
chave para ensinar a importância do estudo na vida de cada um de nós. Nova
Escola, São Paulo, v. 134, ago. 2000.
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