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Transitório Cap 1

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO
1.1 – Funções Singulares ................................................................................................ 1

1.1.1 – Função Degrau Unitário ....................................................................................... 1


1.1.2 – Função Rampa Unitária ........................................................................................ 7
1.1.3 – Função Parábola Unitária ..................................................................................... 8
1.1.4 – Função Impulso Unitário ...................................................................................... 9
1.1.5 – Função Doublet Unitário ...................................................................................... 12
1.1.6 – Diferenciação de Funções com Descontinuidades Finitas ................................... 13
1.1.7 – Decomposição de Sinais ...................................................................................... 15
1.1.8 – Representação Aproximada de Funções Arbitrárias por Trem de Degraus ......... 20

1.2 – Revisão sobre Equações Diferenciais .................................................................. 22

1.2.1 – Definições Gerais ................................................................................................. 22


1.2.2 – Propriedades ......................................................................................................... 23
1.2.3 – Solução da Equação Diferencial Homogênea ...................................................... 23
1.2.4 – Solução da Equação Diferencial Não Homogênea .............................................. 24
1.2.5 – Determinação das Constantes Arbitrárias ............................................................ 26
1

1.1 – FUNÇÕES SINGULARES

A seguir, apresentam-se algumas funções especiais denominadas funções singulares, que são
muito importantes para a representação matemática de sinais de corrente e tensão usados co-
mo entradas de circuitos lineares.

1.1.1 – Função Degrau Unitário

A função degrau unitário é definida por:

0, t  0
u 1 ( t )  
1, t  0

Graficamente, tem-se:

Note que a função degrau é descontínua em t = 0, pois:

Lim u 1 (t)  0  Lim u 1 (t)  1


t 0 t 0

Para exemplificar uma aplicação desta função, considere que a chave se fecha em t = 0 no
circuito abaixo, conectando uma fonte de 1 V à resistência R:

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2

Neste caso:

0, t  0
v( t )  
1, t  0

Assim, pode-se modelar matematicamente a tensão sobre a resistência como:

v(t )  u 1 (t )
____________________

A função degrau unitário pode ser multiplicada por uma constante “A”, permitindo obter de-
graus com amplitude diferente de 1. Observe:

0, t  0
A  u --1( t )  
A, t  0

Admitindo A > 0, tem-se:

Também é possível incluir um atraso “a” na função, i.e., deslocar o ponto de descontinuidade
para um instante “a” qualquer. Observe:

 T
0, T  0  t  a  0  t  a 0, t  a
u 1 ( t  a )    u 1 ( t  a )  
1, T  0  t  a  0  t  a 1, t  a

Admitindo a > 0, tem-se graficamente:

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3

Para se chegar à expressão mais geral da função degrau, pode-se combinar a multiplicação por
uma constante “A” com um atraso “a”, de forma a obter:

0, t  a
A  u 1 ( t  a )  
A, t  a

Graficamente:

Exemplo 1

Determine uma expressão para a corrente i1(t) no circuito abaixo:

 Antes de t = 2:

O circuito está desenergizado, portanto:

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4

i1 ( t )  0 , para t < 2

 Depois de t = 2:

Ao fechar a chave, o circuito assume a seguinte configuração:

A corrente total pode ser obtida dividindo a tensão da fonte pela resistência equivalente:

2 4 8 14 7
R E  1  2 // 4  1   1    []
24 6 6 3

14 14 14  3
IT     6 [A]
RE 7 / 3 7

Por divisor de corrente:

4 4
I1   I T   6  4 [A]
24 6

i1 ( t )  4 , para t > 2

 Graficamente:

 Matematicamente, tem-se então:

i1 (t )  4  u 1 (t  2) [A]

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5

Exemplo 2

No circuito abaixo, a chave A se fecha em t = 3 segundos e a chave B se fecha em t = 7 se-


gundos. Determine uma expressão para a tensão v(t).

 Para t < 3:

O circuito está com as duas chaves abertas e desenergizado, portanto:

v(t )  0 , para t < 3

 Entre 3 < t < 7:

Com a chave A fechada e a B aberta, tem-se a seguinte configuração:

Por divisor de tensão:

4
V  20  8 [V]
64

Assim:

v(t )  8 , para 3 < t < 7

 Para t > 7

Com as chaves A e B fechadas o circuito admite a seguinte forma:

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6

Neste caso, o fechamento de B coloca o resistor de 4  em curto-circuito. Assim:

v(t )  0 , para t > 7

 Graficamente, tem-se:

Este sinal, denominado pulso retangular, pode ser escrito como a soma de 2 degraus:

 Matematicamente, tem-se:

v(t )  8  u 1 (t  3)  8  u 1 (t  7)  8  u 1 (t  3)  u 1 (t  7) [V]

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7

Exercício

Resolva o exemplo anterior, mas desta vez calculando a tensão sobre o resistor de 6 .

1.1.2 – Função Rampa Unitária

A função rampa unitária é a integral do degrau unitário. Matematicamente, tem-se:


d
u 2 ( t )  u 1 ()  d  u 1 ( t )  u 2 ( t )
dt


Logo, a rampa indica a área sob a curva do degrau até o instante t. Graficamente:

Matematicamente:

0, t  0
u 2 ( t )  
t , t  0

Assim como feito para o degrau, é possível incluir um atraso “a” e multiplicar a função rampa
unitária por uma constante “A” não nula. Ao incluir o atraso, tem-se:

 T
0, T  0 0, t  a  0 0, t  a
u  2 (t  a )    
T, T  0 t  a, t  a  0 t  a , t  a
Ou seja:

0, t  a
u 2 ( t  a )  
t  a , t  a

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8

Graficamente:

Multiplicando agora por uma constante não nula, obtém-se o caso geral da função rampa:

0, t  a
A  u 2 ( t  a )  
A  ( t  a ), t  a

Observe que alterando o valor de “A” podem ser obtidas rampas com inclinações diferentes
de 45º, i.e.:

1.1.3 – Função Parábola Unitária

Matematicamente, a função parábola unitária é definida como a integral da rampa unitária:

t
u 3 ( t ) 
u

2 ()  d

d
u 2 ( t )  u 3 ( t )
dt

Assim, a função parábola unitária representa a área sob a curva da função rampa unitária até o
instante t. Graficamente:

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Assim, matematicamente:

0, t  0

u 3 (t )   t 2
 ,t 0
2

No caso mais geral, com o produto por uma constante “A” e a inclusão de um atraso “a”, tem-
se a função:

0, t  a

A  u 3 ( t  a )   (t  a ) 2
A  ,t a
 2

1.1.4 – Função Impulso Unitário

Até o momento, foram estudadas as funções degrau, rampa e parábola unitária. Note que:

De acordo com a notação utilizada, a cada vez que se integra, reduz-se o índice da função em
1 unidade. E, a cada vez que se deriva, o índice é acrescido de 1 unidade. Deste modo, a fun-
ção impulso unitário, designada por u0(t), é tal que:

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u
d
u 0 ( t )  u 1 ( t )  u 1 ( t )  0 ()  d
dt


Analisando o impulso como derivada do degrau, tem-se:

 A função u0(t) deve ser nula para t < 0 e nula para t > 0, já que nestes intervalos de tempo
a função u–1(t) é constante, e derivada de constante vale 0!
 Em t = 0, a derivada de u–1(t) tende a infinito, pois a variação do degrau neste ponto vale
1, enquanto a variação do tempo tende a zero. Com isso, u0(t) tende para infinito em t = 0:

u 1 (0  t )  u 1 (0) 1  0
u 0 (0)  Lim  
t 0 t 0

Graficamente, a função impulso é representada como no primeiro gráfico abaixo:

Por outro lado, analisando o degrau como integral do impulso, observa-se que a área total sob
a curva de u0(t) deve ser igual a 1, e tal área tem que estar exatamente em t = 0, que é o ponto
onde a mesma tende a infinito. Note que se trata, de fato, de uma função especial!

Deste modo, o impulso unitário tem as seguintes características:

0, t  0

u 0 ( t )  0, t  0
, t  0

Onde:



 u (t)  dt  1

0

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Em resumo, pode-se definir o impulso unitário como uma função que tem:

 Base zero;
 Altura infinita;
 Área unitária.

Para facilitar a compreensão do impulso unitário, considere a corrente p(t) de valor 1/d ampe-
res, onde d é a sua duração em segundos, como ilustra a curva em preto na figura abaixo:

A área sob a curva de p(t) é igual a 1, o que corresponde a uma carga de 1 coulomb. Observe
que a mesma carga pode ser transportada em menos tempo se o valor da corrente for aumen-
tando, como mostram as curvas em azul e vermelho acima.

Fazendo d  0, tem-se 1/d  , mas a área sob a curva continua valendo 1. Portanto, o im-
pulso unitário pode ser entendido como um pulso retangular de duração muito pequena, am-
plitude muito alta e área unitária. Matematicamente:

 u 1 ( t  0)  u 1 ( t  d)
1
u 0 ( t )  Lim
d 0 d

Da mesma forma que as funções degrau, rampa e parábola unitária, a função impulso unitário
pode ser atrasada e multiplicada por uma constante, obtendo-se o caso mais geral:

0, t  a

A  u 0 ( t  a )  0, t  a
, t  a

Contudo, nesta situação:



 A  u (t  a)  dt  A

0

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Ou seja, um impulso unitário multiplicado por uma constante “A” possui:

 Base zero;
 Altura infinita;
 Área “A”.

1.1.5 – Função Doublet Unitário

A função doublet unitário, u1(t), é definida como a derivada do impulso unitário. Assim:

d
u1 ( t )  u 0 (t )
dt

t
u 0 (t) 
 u ()  d

1

Para facilitar o entendimento, considere a função f0(t) abaixo e sua derivada f1(t).

Note que quando “a” tende a 0, f0(t) se aproxima da função impulso unitário u0(t). Com isso,
f1(t), que é a derivada de f0(t), se aproxima de u1(t), i.e., a função doublet unitário.

A função doublet unitário é mostrada na figura a seguir:

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Contudo, é mais comum representar a mesma como:

1.1.6 – Diferenciação de Funções com Descontinuidades Finitas

Nas seções 1.1.1 a 1.1.5 foram apresentadas as funções degrau, rampa, parábola, impulso e
doublet unitário, além de estudada a relação entre elas por integração e diferenciação. A pró-
xima seção tem como objetivo fazer a decomposição de sinais, o que torna possível escrever
um sinal de tensão ou corrente como uma soma de funções singulares (degraus, rampas, pará-
bolas etc.).

Mas antes disso, é importante conhecer como é possível derivar funções com descontinuida-
des finitas, i.e., funções que apresentam “saltos” em alguns instantes de tempo.

Considere por exemplo as seguintes funções, que possuem descontinuidades finitas:

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Escrevendo em termos de funções singulares, tem-se:

d
f (t )  3u 1 (t  1)  f ( t )  3u 0 ( t  1)
dt

d
g(t )  3  u 1 (t  2)  g( t )  0  u 0 (t  2)  u 0 (t  2)
dt

Graficamente, têm-se as derivadas:

Pelos exemplos apresentados, pode-se observar que:

Sempre que se deriva uma função com uma descontinuidade finita em um ponto, neste apare-
cerá um impulso com área numericamente igual ao valor da descontinuidade. Logo, a área do
impulso é igual ao “tamanho do salto”.

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1.1.7 – Decomposição de Sinais

A decomposição de sinais é importante na solução de circuitos, pois, como será visto mais
adiante, a resposta de um circuito linear a qualquer sinal formado por degraus e rampas pode
ser obtida pela superposição dos efeitos individuais dos seus componentes.

Considere o exemplo:

O método gráfico para a decomposição de sinais consiste em adicionar as componentes singu-


lares da esquerda para a direita, i.e., em ordem cronológica, de modo a reproduzir o compor-
tamento do sinal no próximo intervalo de tempo.

Por exemplo, para t < 1 o sinal f(t) acima corresponde exatamente a um degrau unitário. As-
sim, a primeira componente de f(t) será um degrau unitário. Logo, até o momento tem-se:

f (t )  u 1(t )

Graficamente, o sinal formado apenas pela primeira componente fica assim:

No intervalo 1 < t < 2, f(t) deve ser linear crescente com taxa +1:1, i.e., ela deve crescer 1
unidade no eixo vertical, a cada unidade do eixo horizontal. Logo, a segunda componente do
sinal deve ser uma rampa com coeficiente angular +1. A rampa deve iniciar em t = 1, para não
modificar o sinal já construído no intervalo anterior, que já está corretamente representado
pela primeira componente. Assim, o sinal até o momento será:

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f (t )  u 1(t )  1 u  2 (t  1)

Graficamente, o sinal formado pelas duas primeiras componentes fica assim:

No intervalo 2 < t < 3, f(t) deve ser linear decrescente com taxa –1:1. Como o sinal resultante
até o momento (só com as duas primeiras componentes) é crescente com taxa +1:1, deve-se
adicionar a terceira componente, que será uma rampa com coeficiente angular –2, para que,
em vez de continuar crescendo com taxa +1:1, ele passe a decrescer com taxa –1:1. Note que
a terceira componente deve começar em t = 2, para não modificar o comportamento do sinal
para t < 2, que já está corretamente representado pelas duas componentes anteriores.

Adicionando a terceira componente, vem então:

f (t )  u 1(t )  1 u  2 (t  1)  2  u  2 (t  2)

Com isso, tem-se graficamente:

Agora, deve-se adicionar a quarta componente para corrigir o comportamento da função no


intervalo 3 < t < 4. Note que a resultante atual (com as 3 componentes anteriores) é decrescen-
te com taxa –1:1. Assim, para que a nova resultante fique constante, deve-se adicionar uma
rampa com coeficiente angular +1, iniciando em t = 3. Neste caso, o sinal fica:

f (t )  u 1(t )  1 u  2 (t  1)  2  u  2 (t  2)  1 u  2 (t  3)

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Graficamente:

Por fim, deve-se corrigir o comportamento da função para t > 4. Até o momento, a resultante
é constante e igual a 1. Para que ela fique constante e igual a zero, basta adicionar um degrau
unitário com amplitude –1, iniciando em t = 4. Assim, a expressão final para o sinal f(t) é:

f (t )  u 1(t )  1 u 2 (t  1)  2  u 2 (t  2)  1 u 2 (t  3)  1 u 1(t  4)

O gráfico final fica assim, idêntico ao original:

Exercício

Decomponha o sinal g(t) da figura abaixo em funções singulares.

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Além do método gráfico, apresentado neste exemplo, pode-se fazer a decomposição de um


sinal com base no seguinte procedimento sistemático:

1) Derivar graficamente f(t) n vezes, até que a derivada de ordem n possua apenas compo-
nentes impulsivas, i.e., impulso e doublet;
2) Integrar analiticamente n vezes a expressão da derivada de ordem n obtida no passo ante-
rior, recuperando assim a expressão de f(t).

Obs.: Se f(t) apresentar um valor constante k para t < 0, deve-se adicionar k à expressão obti-
da. Para ilustrar, reconsidere sinal do exemplo anterior:

Tomando a primeira derivada deste sinal, obtém-se:

Observe que:

a) Nos intervalos t < 0, 0 < t < 1, 3 < t < 4 e t > 4, a derivada é nula, pois f(t) é constante;
b) No intervalo 1 < t < 2, f(t) cresce linearmente de 1 até 2. Logo, sua derivada f(t)/t vale
(2–1)/(2–1) = 1;
c) No intervalo 2 < t < 3, f(t) diminui linearmente de 2 até 1. Portanto, sua derivada f(t)/t
vale (1–2)/(3–2) = –1;
d) Surgem impulsos em t = 0 e t = 4, pois f(t) tem descontinuidades finitas nesses instantes.
 Em t = 0, o impulso tem área +1, pois f(t) cresce instantaneamente de 0 para 1.
 Em t = 4, o impulso tem área –1, pois f(t) decresce instantaneamente de 1 para 0.

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e) Como não restaram somente componentes impulsivas na primeira derivada, será necessá-
rio continuar derivando.

Derivando então a primeira derivada de f(t), obtêm-se a segunda derivada de f(t), mostrada na
figura a seguir:

Observe que:

a) Em t = 0 e t = 4, aparecem funções doublet, pois são derivadas dos impulsos que já existi-
am nestes instantes na primeira derivada;
b) Nos intervalos 1 < t < 2 e 2 < t < 3, a primeira derivada era constante e, com isso, ao se
derivar novamente, obtêm-se valores nulos;
c) Os impulsos que aparecem em t = 1, t = 2 e t = 3 se devem às descontinuidades finitas
existentes na primeira derivada.
d) Como agora restaram somente componentes impulsivas, não é mais necessário continuar
derivando.

Deste modo, a expressão da segunda derivada de f(t) é:

d2
f ( t )  u1 ( t )  1 u 0 ( t  1)  2  u 0 ( t  2)  1 u 0 ( t  3)  1 u1 ( t  4)
dt 2

Então, para se chegar à expressão de f(t), basta integrar analiticamente duas vezes a expressão
da segunda derivada. Para isso, basta subtrair 2 dos índices das funções, obtendo-se:

f (t )  u 1(t )  1 u 2 (t  1)  2  u 2 (t  2)  1 u 2 (t  3)  1 u 1(t  4)

Note que este resultado é idêntico ao obtido pelo método gráfico.

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1.1.8 – Representação Aproximada de Funções Arbitrárias por Trem de Degraus

Um trem de degraus é uma soma de funções do tipo degrau, defasadas entre si de um incre-
mento de tempo , especialmente útil na representação aproximada de uma função não linear
qualquer.

Para exemplificar, considere a função f(t) ilustrada na figura abaixo:

Note que f(t) pode ser aproximada pelo trem de degraus dado por:

f ( t )  f (0)  u 1 ( t ) 
f ()  f (0) u 1 (t  ) 
f (2)  f () u 1 (t  2) 
f (3)  f (2) u 1(t  3)  ...

Exemplo

Aproxime a função f(t) = sen(t) para 0  t  , usando  = /6 radianos.

Solução

Deve-se tabelar a função seno nos pontos de interesse e determinar os degraus conforme a
expressão apresentada acima. Deste modo:

t sen(t) Componentes
0 0 0,000 0,000 × u–1(t)
1 /6 0,500 (0,500 – 0,000) × u–1(t – /6)
2 /3 0,866 (0,866 – 0,500) × u–1(t – /3)
3 /2 1,000 (1,000 – 0,866) × u–1(t – /2)
4 2/3 0,866 (0,866 – 1,000) × u–1(t – 2/3)
5 5/6 0,500 (0,500 – 0,866) × u–1(t – 5/6)
6  0,000 (0,000 – 0,500) × u–1(t – )

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Portanto, tem-se:

f (t )  0  u 1(t )  0,5  u 1( t   / 6)  0,366  u 1(t   / 3)  0,134  u 1( t   / 2) 


0,134  u 1(t  2 / 3)  0,366  u 1( t  5 / 6)  0,5  u 1( t  )

Representando a função sen(t) e o trem de degraus com o auxílio do Matlab, obtém-se:

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1.2 – REVISÃO SOBRE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Esta seção apresenta uma revisão de conceitos sobre solução analítica de equações diferenci-
ais de 1ª e 2ª ordens. O conteúdo tratado é bastante resumido, e foca apenas na sistemática de
solução, que representa um ferramental matemático básico para a análise de transitórios.

1.2.1 – Definições Gerais

Qualquer circuito linear e invariante no tempo pode ser descrito por uma equação diferencial
ordinária (EDO) com coeficientes constantes, que tem a forma geral:

dn d n 1 d
y ( t )  a  y ( t )    a y( t )  a 0 y( t ) 
dt n 1
n 1 1
dt n dt
dm d m 1 d
b m m x ( t )  b m 1 m 1 x ( t )    b1 x ( t )  b0 x ( t )
dt dt dt

Onde:
 x(t) = entrada (efeito das fontes que alimentam o circuito);
 y(t) = saída (tensão ou corrente em algum elemento do circuito);
 ai e bj = coeficientes constantes (que dependem dos parâmetros do circuito).

Como a entrada x(t) é conhecida, o lado direito da equação diferencial é uma função do tempo
conhecida, denominada função forçante, que será denotada por f(t). Assim:

dn d n 1 d
n
y ( t )  a n 1 n 1
y( t )    a 1 y( t )  a 0 y( t )  f ( t )
dt dt dt

Neste curso, são estudados circuitos descritos por EDO’s de 1ª e 2ª ordens, i.e.:

d
1ª ordem: y( t )  a 0 y( t )  f ( t )
dt

d2 d
2ª ordem: y ( t )  a1 y( t )  a 0 y( t )  f ( t )
dt 2 dt

 Quando f(t) = 0 tem-se que a equação diferencial é homogênea, i.e.:

d
1ª ordem: y( t )  a 0 y( t )  0
dt
d2 d
2ª ordem: 2
y( t )  a1 y( t )  a 0 y( t )  0
dt dt

 Quando f(t) ≠ 0 a equação diferencial é dita não homogênea.

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1.2.2 – Propriedades

1) Uma equação diferencial homogênea de ordem n possui n soluções linearmente indepen-


dentes y1(t), y2(t), ..., yn(t), que formam a solução mais geral por:

yh (t )  k1y1 (t )  k 2 y2 (t )    k n yn (t )

onde k1, k2,..., kn são constantes arbitrárias.

Assim, para equações diferenciais homogêneas de 1ª e 2ª ordens, têm-se:

1ª ordem: yh (t )  k1y1 (t )

2ª ordem: yh (t )  k1y1 (t )  k 2 y2 (t )

2) A solução da equação diferencial não homogênea, ou solução completa, é dada por:

y(t )  yh (t )  y p (t )

onde y(t) é a solução da equação diferencial homogênea correspondente (basta fazer a


função forçante igual a zero), e yp(t) é uma solução particular da equação não homogênea,
que não possui constantes arbitrárias.

1.2.3 – Solução da Equação Diferencial Homogênea

Seja, por exemplo, determinar a solução da equação diferencial homogênea:

d2 d
2
y( t )  3 y ( t )  2 y( t )  0
dt dt

 1º Passo – Obter a Equação Característica (EC) usando o operador D = d/dt:

(D2  3D  2) y(t )  0

Assim, a EC é:

D2  3D  2  0

 2º Passo – Determinar as raízes da EC1:

 3  9  8  3 1
D2  3D  2  0  D 
2 2

D1 = –2 e D2 = –1

1
As raízes reais da EC são sempre negativas. Caso sejam complexas, sua parte real será negativa. Deste modo,
as funções exponenciais resultantes serão sempre decrescentes, i.e., tendem a desaparecer com o tempo.

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 3º Passo – Determinar a solução geral da equação diferencial homogênea:

yh (t )  k1 eD1t  k 2 eD 2 t

yh (t )  k1 e2t  k 2 e t

onde k1 e k2 são constantes quaisquer.

Em resumo, para equações diferenciais de 1ª e 2ª ordens, tem-se:

Ordem da EDO Raízes da EC Forma da Solução Homogênea

1ª D yh (t )  k eD t

D1 ≠ D2 yh (t )  k1 eD1t  k 2 eD2 t

2ª D1 = D2 = D yh (t )  k1  k 2 t  eD t

D1 =  + j e D2 =  – j yh (t )  et k1 cost  k 2 sent 

1.2.4 – Solução da Equação Diferencial Não Homogênea

Como já foi visto:

y(t )  yh (t )  yp (t )

A solução particular pode ser obtida pelo método dos coeficientes a determinar, que consiste
em examinar a função forçante f(t) e propor uma solução yp(t), cujos coeficientes devem ser
ajustados de modo que a equação diferencial não homogênea seja satisfeita. Assim:

Forma de f(t) Forma da Solução Particular


f (t )  a y p (t)  A

f (t )  at  b y p (t )  At  B

f (t)  a eb t y p (t )  A eb t

f (t )  a sen(t  ) y p (t )  A cos(t  )  B sen(t  )

onde a, b,  e  são constantes conhecidas e A e B são os coeficientes a serem determinados.

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Exemplo

Obter a solução geral da equação diferencial:

d2 d
2
y( t )  2 y ( t )  5 y( t )  t
dt dt

 Passo 1 – Solução Homogênea:

Tomando a equação diferencial homogênea correspondente, aplicando o operador D =


d/dt, e encontrando as raízes da equação característica, vem:

(D2  2D  5) y(t )  0  D2  2D  5  0

D1  1  j2
D2  1  j2

Note que:  = –1 e  = 2. Assim, a solução homogênea terá a forma:

y h (t )  e1t k1 cos2t  k 2 sen 2t 

onde k1 e k2 são constantes arbitrárias.

 Passo 2 – Solução Particular:

Neste exemplo, f(t) = t, que é do tipo at + b. Logo, deve-se propor:

y p (t )  At  B

Fazendo então y = yp(t) na equação diferencial não homogênea, vem:

d2
2
At  B  2 d (At  B)  5(At  B)  t
dt dt

(0  0)  2  (A  0)  5At  5B  t

Igualando os termos correspondentes de ambos os lados da equação, vem:

5A  1

2A  5B  0

Resolvendo, tem-se: A = 1/5 e B = –2/25, de modo que:

t 2
y p (t)  
5 25

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 Passo 3 – Solução Geral:

Agora, basta somar a solução homogênea e a particular, obtendo então a solução geral:

y( t )  e 1t  k1 cos2t  k 2 sen 2t   


t 2
5 25

Note que a solução geral acima satisfaz à equação diferencial não homogênea indepen-
dentemente dos valores de k1 e k2, que continuam arbitrários!

1.2.5 – Determinação das Constantes Arbitrárias

O número de constantes arbitrárias a serem determinadas corresponde à ordem da equação


diferencial, e seu cálculo é feito a partir do conhecimento de condições iniciais. Para Proble-
mas de Valor Inicial (PVI) de 1ª e 2ª ordens, tem-se:

Ordem da EDO Condições Necessárias

1ª y (0  )

2ª y(0 ) e y' (0 )

No caso específico do estudo de circuitos elétricos, as condições iniciais são resultantes da


análise de tensões e correntes no instante t = 0+, que devem obedecer às Leis de Kirchhoff,
bem como a um conjunto de teoremas que será apresentado no início do Capítulo 2.

Exemplo

Obter a solução da equação diferencial:

d2 d
y ( t )  3 y ( t )  2 y( t )  4
dt 2 dt

com as condições iniciais:

y(0)  0 e y' (0 )  1

 Passo 1 – Solução Homogênea:

Aplicando o operador D = d/dt, e encontrando as raízes da equação característica, vem:

(D2  3D  2) y(t )  0  D2  3D  2  0  D1  2 e D2  1

Logo:

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y h (t )  k1 e2t  k 2 e  t

 Passo 2 – Solução Particular:

Pelo método dos coeficientes a determinar, como f(t) = 4 = cte, deve-se propor:

y p (t )  A  cte

Na equação diferencial não homogênea, tem-se:

d2 d
2
A  3 A  2A  4  0  0  2A  4  A2
dt dt
y p (t )  2

 Passo 3 – Solução Geral:

Somando as soluções anteriores, tem-se a solução geral:

y(t )  k1 e 2t  k 2 e t  2

 Passo 4 – Determinação da Constante k:

Tomando a derivada de y(t):

y' (t )  2k1 e2t  k 2 e t

Fazendo t  0+ nas expressões de y(t) e y'(t):

y(0  )  k1 e 20  k 2 e 0  2  y(0  )  k1  k 2  2

y' (0  )  2k1 e 20  k 2 e 0  y' (0  )  2k1  k 2

Igualando aos valores numéricos conhecidos de y(0+) e y'(0+):

k1  k 2  2  0
 2k1  k 2  1

Tem-se, portanto, o sistema linear:

k1  k 2  2

2k1  k 2  1

A solução do sistema é:

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k1  1
k 2  3

Com esses valores, monta-se a solução final do PVI:

y(t )  e 2t  3 e  t  2

Exemplo

Obter a solução do PVI:

d  3t
 y( t )  3 y ( t )  4 e
 dt
y(0)  2

 Passo 1 – Solução Homogênea:

Aplicando o operador D = d/dt, e encontrando a raiz da equação característica, vem:

(D  3) y(t )  0  D3 0  D  3

y h (t )  k e 3t

 Passo 2 – Solução Particular:

Pelo método dos coeficientes a determinar, como f (t )  4 e 3t , deve-se propor:

y p ( t )  A e 3t

Na equação diferencial não homogênea, tem-se:

d
A e  3t  3A e  3t  4 e  3t   3A e 3t  3A e 3t  4 e 3t  04
dt

Note que o resultado obtido é incoerente! Considere a observação a seguir.

Observação

Para evitar este tipo de problema, deve-se verificar se a solução particular proposta tem a
mesma forma de algum termo da solução homogênea. Se isso ocorrer, deve-se tomar a so-
lução particular proposta inicialmente e multiplicá-la por tm, onde m é a multiplicidade da
raiz da EC em que houve a coincidência.

Neste exemplo, a EDO é de 1ª ordem e, naturalmente, a raiz da EC (que neste caso é –3)
tem multiplicidade m = 1. Logo, basta multiplicar a proposta inicial por t, i.e.:

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y p ( t )  At e 3t

Agora, na equação diferencial não homogênea, tem-se:

d
dt
   
At e  3t  3 At e  3t  4 e  3t

At
dt
 
d  3t
e  e  3t At  3At e  3t  4 e  3t
d
dt

 3At e 3t  Ae3t  3At e 3t  4 e 3t

Ae3t  4 e 3t

A4

Assim, a solução particular é:

y p ( t )  4t e 3t

 Passo 3 – Solução Geral:

Somando as soluções anteriores, tem-se a solução geral:

y(t )  k e 3t  4t e 3t

 Passo 4 – Determinação da Constante k:

Fazendo t = 0 na solução geral, e igualando seu resultado à condição inicial, vem:

y(0)  k e30  4  0  e30  2

k2

Logo, a solução final do PVI é:

y(t )  2 e 3t  4t e 3t

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