Avaliação Isocinética em Jogadores de Futebol
Avaliação Isocinética em Jogadores de Futebol
Avaliação Isocinética em Jogadores de Futebol
APARELHO LOCOMOTOR
NO EXERCÍCIO E NO ESPORTE
Abstract
The aim of this study was to analyze the data collected from the peak torque (PT) and the fatigue index in
isokinetic tests from forwards (F), midfielders (M) and defenders (D) in order to draw a profile of these athletes.
Twenty-seven elite male soccer players (mean age 26.55±5.1 years) were tested, and divided in groups F (6), M
(7) and D (14). They were submitted to an isokinetic test with five maximal repetitions of knee flexion (concentric
and eccentric) and extension (concentric) at 60°/s and 30 maximal concentric repetitions (flexion and extension)
at 300°/s. The collected data evidenced that group D showed significantly higher values of concentric flexors
PT at 60 °/s on the dominant side (DS) compared to M (p = 0.05). However, for the other PT variables and
fatigue index no differences were found between positions. Concerning bilateral deficit (BD), the athletes
presented values within normality. Regarding ratios, it was observed that the players were within the norma-
tive values for conventional ratio, but were below the normal values for the functional ratio. We concluded
that despite the different positions in the field the players have, this fact does not seem to dramatically influence
on the majority of neuromuscular characteristics of lower limbs in the assessed soccer players.
Keywords: soccer, functional, conventional ratio, fatigue and bilateral deficit.
Tabela 3. Valores de média (desvio padrão) dos testes de pico de torque (PT) a 60°/s 50
do lado dominante e não dominante separadamente para as diferentes posições. 40
30
PT (Nm) Lado Atacante (A) Meia (M) Defesa (D) P
20
Isquiotibiais CON 60°/s D 248,8 ± 32,5 218,0 ± 48,6a 259,7 ± 28,2 0,05 10
Quadríceps CON 60°/s D 379,1 ± 53,8 353,0 ± 49,8 403,0 ± 72,3 ns 0
atacante meia defesa atacante meia defesa
Isquiotibiais EXC 60°/s D 306,0 ± 45,1 275,0 ± 68,1 320,1 ± 42,1 ns
Ísquiotibiais Quadríceps
Isquiotibiais CON 60°/s ND 361,3 ± 58,0 337,4 ± 36,7 379,2 ± 74,5 ns
Quadríceps CON 60°/s ND 238,6 ± 36,1 203,1 ± 41,7 241,8 ± 27,8 ns * valores significativamente diferentes (p<0,01) entre o índice de fadiga dos ísquiotibiais e quadríceps para todos
os grupos do lado dominante (LD).
Isquiotibias EXC 60°/s ND 271,6 ± 29,6 244,2 ± 55,4 297,5 ± 49,2 ns
D = dominante; ND = não dominante; ns = não significativa; CON = concêntrica; EXC = excêntrica.
Figura 2. Índice de fadiga dos grupos atacante (A), meia (M) e defesa (D) nos testes
a
valores de PT concêntrico de isquiotibiais para o lado dominante significativamente inferiores aos valores de PT concêntrico (CON) para os isquiotibiais e quadríceps femoral ambos a 300°/s separados
concêntrico de isquiotibiais para o lado dominante do grupo D (p = 0,05). em lado dominante (LD) e não dominante (LND).
Todos os grupos encontraram-se dentro dos valores considerados Foram também calculadas a razão convencional (Icon/Qcon) e a ra-
normais de até 15%(7,9) de déficit bilateral (figura 1). Os três grupos zão funcional (Iexc/Qcon). Com relação à razão Icon/Qcon, todos os grupos
apresentaram maiores valores de PT do LD, observados a partir dos encontravam-se dentro dos valores normativos, com médias muito
valores positivos resultantes do percentual de DB. próximas a 0,66 para LD como também para o LND(7,9). Já na razão
funcional, todos os valores encontraram-se abaixo da normalidade para
jogadores de futebol, que seria igual ou superior a 1(3,12,13) (figura 3).
25
DISCUSSÃO
20 O objetivo deste estudo foi o de aplicar testes isocinéticos em joga-
Déficit Bilateral (%)
0,9 0,9
0,8 0,8
0,7 0,7
0,6 0,6
0,5 0,5
Atacante Meia Defesa Atacante Meia Defesa
0,9 0,9
0,8 0,8
0,7 0,7
0,6 0,6
0,5 0,5
Atacante Meia Defesa Atacante Meia Defesa
A = Figura apresentando os valores da razão convencional (PT isquiotibiais concêntrico/PT quadríceps concêntrico a 60º/s) para o lado dominante (LD). B = Figura apresentando os valores da razão funcional (PT isquiotibiais excêntrico/
PT quadríceps concêntrico a 60º/s) para o lado dominante (LD). C = Figura apresentando os valores da razão convencional (PT isquiotibiais concêntrico/PT quadríceps concêntrico a 60º/s) para o lado não dominante (ND). D = Figura
apresentando os valores da razão funcional (PT isquiotibiais excêntrico/PT quadríceps concêntrico a 60º/s) para o lado não dominante (ND).
Figura 3. Razão convencional (Icon/Qcon) e razão funcional (Iexc/Qcon) dos grupos atacante (A), meia (M) e defesa (D) nos testes concêntricos e excêntrico a 60°/s.
Analisando as médias de PT concêntrico de extensores e PT ex- valores iguais ou mais elevados que o LND, visto que o percentual sempre
cêntrico de flexores na velocidade de 60°/s, não foram encontradas foi positivo. Para Gür et al. (1999) esse maior torque no LD é apresentado
diferenças significativas entre os grupos, porém, uma tendência de pelos jogadores de futebol devido aos anos de treino, visto que atletas
o grupo D apresentar maiores valores de PT excêntrico dos flexores mais jovens não mostram esse padrão de diferença bilateral(3,14).
no LD em comparação ao M foi observada (p = 0,06). Tourny-Chollet Outros estudos também encontraram resultados semelhantes e re-
et al. (2000), assim como o nosso estudo, não encontraram diferença latam que, apesar de algumas habilidades específicas do futebol serem
no PT excêntrico nessa mesma velocidade para diferentes grupos de habitualmente realizadas com preferência lateral e o PT deste ser maior,
jogadores, porém, para PT concêntrico dos extensores, dois estudos os resultados do teste isocinético sugerem que, independentemente da
mostraram valores significativamente maiores para os atacantes em função desempenhada, os atletas avaliados são funcionalmente equili-
comparação aos jogadores de meio-campo. Ambos os estudos justi- brados bilateralmente(2,3,8). Magalhães et al. (2001) justificam esse equilí-
ficaram esta diferença devido ao treino dos atacantes, que é realizado brio pela participação ativa e diferenciada quanto ao modo contrátil do
principalmente com movimentos técnicos de sprints curtos, saltos e membro LND nas ações de passe e chute como perna de apoio(8).
chutes demandando grande trabalho do quadríceps femoral(2,10). Além O índice de fadiga indica a habilidade do indivíduo de realizar o
dessa diferença, em um dos estudos, foram observados valores supe- mesmo movimento repetidas vezes com determinada resistência. Na
riores de PT do quadríceps nos defesas centrais em comparação às avaliação isocinética, ele é analisado levando em consideração a dife-
demais posições, com exceção dos goleiros(2). Para os isquiotibiais, o rença do torque entre as primeiras e as últimas repetições realizadas
presente estudo encontrou diferenças significativas no PT concêntrico durante o teste. No teste de fadiga, para os grupos M e D, observou-se
do LD para os grupos D e M (p = 0,05), sendo que o grupo D apresen- maior percentual de queda de PT dos isquiotibiais em comparação
tou maiores valores para esta variável. Em um estudo com jogadores ao quadríceps para o LD (p < 0,01). Sangnier e Tourny-Chollet (2008)
portugueses também foram encontradas diferenças de PT concêntrico também avaliaram jogadores de futebol e observaram que essa queda
de flexores, entre goleiros, meias e atacantes e também entre zaguei- de torque ocorre de forma linear tanto para os flexores quanto para os
ros e meias, sendo que os goleiros e zagueiros apresentaram sempre extensores de joelho(15). Em outro estudo recente, os mesmos autores
maiores valores(2). Essa diferença, apresentada em ambos os estudos, mostraram que, durante o teste isocinético de fadiga, a resistência à
também pode ser explicada devido ao tipo de treinamento principal- fadiga diverge entre o quadríceps femoral e os isquiotibiais, sendo que,
mente técnico, diferenciado entre os jogadores com funções de defesa, os flexores reduzem mais o torque em comparação aos extensores(16),
envolvendo maior utilização dos flexores para os movimentos. resultados estes que estão de acordo com os do nosso estudo. Essa
Sabe-se que os jogadores de futebol raramente usam ambas as per- maior diminuição de PT dos isquiotibiais pode ser atribuída a caracte-
nas com igual ênfase, e normalmente priorizam o uso do LD para ativida- rísticas estruturais e metabólicas dos mesmos, visto que há maior pro-
des específicas do jogo; desta forma, os programas de treino especializa- porção de fibras do tipo II nestes músculos em relação ao quadríceps(17).
dos (técnicos) poderiam desenvolver mais a força de um lado em relação Como as fibras do tipo II fadigam mais rapidamente(18), os isquiotibiais
ao outro(3). No estudo de Tourny-Chollet et al. (2000) foi observada maior apresentam maior diminuição de PT ao longo do tempo. Sendo assim,
força concêntrica dos isquiotibiais em velocidade alta (240º/s) no LD em pode-se especular que pelo fato dos músculos isquiotibiais apresenta-
relação ao LND, porém em velocidades mais baixas nenhuma diferença rem maior número de fibras rápidas e também por serem mais suscep-
significativa foi encontrada(10). No nosso estudo não foram observados tíveis à fadiga, os jogadores M e D apresentaram percentual de queda
déficits bilaterais maiores de 15% a 60°/s, ou seja, os atletas se encontra- maior de PT dos flexores. Curiosamente, o comportamento do grupo
vam dentro dos valores de normalidade, porém, o LD apresentou sempre A para LD foi contrário, apresentando menor índice de fadiga para os
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