Maria Goretti Vitima Pura - Elvira Cacciato
Maria Goretti Vitima Pura - Elvira Cacciato
Maria Goretti Vitima Pura - Elvira Cacciato
GORETTI
VITIMA PURA
GAROTA MARAVILHOSA
Bem-vindo
ela Presagna, em Corinaldo d'Ancona, dentro de uma casa pobre,
Maria Goretti nasceu, no sereno silê ncio dos campos, quando a terra é
mais pró diga no N para dar seus frutos, no mê s consagrado a Maria,
Rainha da Vitó rias. Foi 16
outubro de 1890.
Os pais de sabedoria esclarecida quiseram chamá -la Maria em
homenagem à Mã e do Redentor, que do Cé u teria abençoado esta
menina terna que um dia seria uma heroı́na invencı́vel para defender a
virtude mais querida da Virgem das virgens.
Acolheram esta terceira ilha em sua casinha onde seu amor terno e
simples era uma riqueza imensurá vel, iluminada pela fé cristã , animada
pelo sorriso do sol e da terra fé rtil. Fié is à Lei divina, sem que a pobreza
os intimidasse, con iantes na Providê ncia, aceitaram com alegria o
nascimento de sete ilhos.
Este precioso depó sito, con iado a eles por Deus, foi ocasiã o para
novas consolaçõ es e con iança mais viva: cada dom aumentou seus
esforços e sacrifı́cios, mas expandiu suas almas na fé e no amor.
O Padre, Luigi Goretti, foi para todos um exemplo de honestidade,
diligê ncia e tenacidade nos puros afetos da famı́lia.
Sua mã e, Assunta Carlini, ainda jovem esposa, aceitou com ardor e
con iança os sofrimentos que seus deveres lhe impunham: ela foi, pode-
se dizer, treinada para sofrer. Ela havia sofrido muito desde a infâ ncia,
tendo icado ó rfã quando criança. A sua peregrinaçã o em busca de
trabalho no campo fora um lento martı́rio diá rio, obrigada a servir a
vá rios senhores, em meio a perigos dos quais se libertara pela
prudê ncia que é fruto da fé : Deus a guiou e ela resistiu em meio à s lutas
de vida, sustentada pelo medo de ofender o seu Divino Benfeitor e pela
prá tica constante dos Sacramentos, juntamente com uma ardente e
terna devoçã o a Maria Santı́ssima, venerada em Corinaldo sob o tı́tulo
de "Rainha dos Má rtires". Assunta, amparada pela graça divina,
conformou-se com o que a Igreja invoca para cada uma das suas ilhas
que escolheu o caminho da maternidade, e fez da sua pobre quinta um
templo de paz onde Deus se assentava, onde havia trabalho e oraçã o, fé
simples mas profundamente sentida , vivi icado pela escrupulosa
observâ ncia da lei divina. Apó s o dia cansativo, o jantar frugal e, antes
do descanso, a recitaçã o do Santo Rosá rio com as habituais oraçõ es.
Nos dias de festa, Jesus esperava o casal no altar.
Esses jovens humildes, de mã os endurecidas, mas de alma re inada
pela virtude endurecida na fé , prepararam a verdadeira famı́lia cristã da
qual saem os santos e os heró is, as gló rias invictas da Igreja e da pá tria.
Quando Maria nasceu, todos os cuidados mais delicados de Assunta
se voltaram para a educaçã o de seu primeiro ilho com a esperança de
que fosse a ajuda mais vá lida para ela. Ele a via já grande quando ainda
estava aparando, via-a sá bia quando ainda gaguejava: Maria nã o
decepcionou suas ansiedades maternais.
Cresceu como uma lor do campo que o sol ilumina, que o cé u cobre,
que os zé iros acariciam: percorreu a terra, saltou nos prados, gorjeou
docemente, sorriu ao mais puro azul como um anjo: era mais do Cé u do
que da terra, e ningué m percebeu.
Sua disposiçã o era dó cil, mas sua bondade era fruto de um exercı́cio
contı́nuo de sua vontade. «Sempre, sempre, sempre Maria me
obedeceu», disse a mã e em louvor à Filha num acesso de emoçã o, e foi o
maior elogio que ela poderia dar.
Maria obedeceu desde cedo e na obediê ncia sacri icou a sua
vontade: este sacrifı́cio diá rio voluntá rio do melhor de si, o mais
aceitá vel a Deus, foi uma preparaçã o para o amor incondicional à sua
pureza. mas mais tarde ela reconheceu que as meninas geralmente
diferiam de sua Mary. Hoje, infelizmente, uma educaçã o, errô nea em
seus princı́pios, que faz dos pais servos de seus ilhos, os torna
caprichosos, descontentes ainda que acariciados, amantes apenas de si
mesmos, sempre interessados em seus afetos, incapazes de renú ncias e
até sacrifı́cios mı́nimos.
Maria, obrigada a viver no meio do campo, nã o pô de ir à escola: nã o
aprendeu nada do conhecimento humano, aprendeu apenas as oraçõ es
e as principais verdades da religiã o de Cristo, recolhendo-as dos lá bios
de sua mã e, na verdade esculpindo-os indelevelmente em seu coraçã o.
Aproveitando-se desses ensinamentos, ela os assimilava para ensiná -
los aos irmã os menores.
Aos seis anos, recebeu em Corinaldo os dons do Espı́rito Septiforme
com o Sacramento da Con irmaçã o das mã os de Dom Giulio Boschi,
entã o Bispo de Senigallia, depois Cardeal e Arcebispo de Ferrara, o
Espı́rito Santo a investiu de sua luz e força, ciê ncia e piedade, de amor
ardente e temor por seu Deus, para fazê -la amadurecer
prematuramente.
Forte na dor
Maria perdeu o pai quando tinha apenas dez anos: teve que se
preparar para novos sofrimentos e a gló ria que vem da dor. Sua
inteligê ncia precocemente esclarecida percebeu que di iculdades mais
difı́ceis se apresentavam à sua famı́lia. Ele redobrou seus cuidados
delicados com sua mã e, enquanto intensi icava suas oraçõ es por seu
pai, com o desejo de que ele logo iria para o Cé u se estivesse no
Purgató rio.
Para nã o deixar faltar pã o aos ilhos, a pobre Assunta teve que agir
como pai. Ela era de temperamento forte, mas quantas vezes,
lembrando-se da bondade de seu companheiro desaparecido, chorou
inconsolavelmente; quantas vezes, vendo seu trabalho em vã o pela
ganâ ncia de quem a tratava, sentiu um grande desâ nimo ao se ver
pobre como se nada tivesse feito pelos ilhos. Quem a apoiou em sua
dor, em suas angú stias maternais? Lá estava sua Maria que se apertava
contra ela, acariciando-a: «Vamos, mã e, do que você tem medo?
Estamos crescendo agora.
Basta que o Senhor nos dê saú de. A Providê ncia nos ajudará :
viveremos, viveremos! ». E Assunta lembra que o disse com o coraçã o
con iante em Deus.
Ersilia tinha cerca de dois anos e Teresina alguns meses: quem os
teria guardado? Havia sua Marietta que era a mã e dos irmã os. E na casa
havia muito o que fazer: limpar, preparar o jantar, consertar, obedecer
à s ordens dos Serenellis, que icavam com eles. «Mã e, estou aqui: vai
com calma... Mã e, eu vou... vou fazer». A Donzela, aos dez anos, como a
pró pria mã e repetia em lá grimas, era quem governava a casa.
Nos episó dios simples de sua vida, nas frases curtas pronunciadas
por você , você sente uma força espiritual que supera a da mã e nã o
fraca. Assunta lembra que, quando ia para o campo, tinha medo de
cobra, e Maria lhe dizia: "Vou em frente, mã e: você tem medo, eu nã o".
Na verdade, continuou e as cobras fugiram.
A generosidade era realmente incrı́vel para a idade dela. E
comovente o que Assunta Goretti nos deu a conhecer ao depor nos
processos canô nicos. Na hora do jantar, ele primeiro fazia porçõ es para
sua mã e e irmã os, satisfazendo-os em seus gostos; reservou para si o
que restava e foi o ú ltimo a começar.
Enquanto isso, tudo era feito por ela com uma simplicidade tã o
espontâ nea, tã o humilde a ponto de esconder dos olhos de sua famı́lia o
que havia de extraordiná rio na conduta de uma jovem.
Maria era ó tima apesar de seus onze anos, porque se comportava
como uma mulher madura.
Ela també m teve de suportar as frequentes censuras dos Serenellis,
que tinham tantas pretensõ es e nã o entendiam os sacrifı́cios da
Donzela, que, no entanto, permanecia quieta e continuava a servi-los
com diligê ncia e solicitude igual à que mostrava para sua famı́lia. Maria
conquistou a todos com sua mansidã o e com seu amor.
Terno educador dos irmãozinhos
Ele amava muito seus irmã os mais novos, mas queria que fossem
bons e obedientes, e quando os corrigiu encontrou palavras que
tocaram seu coraçã o. Ao irmã o mais velho, que dava algum desagrado,
dizia: «Você deixa a mamã e chateada porque o papai nã o tem mais. O
que você faria se sua mã e nã o estivesse lá ? ».
Os irmã os sabiam que deviam ser obedecidos, mas sobretudo
compreendiam que a doce irmã os amava com ternura, que quando
eram bons sempre tinha algo para dar que guardava privando-se disso
com alegria. Se a mã e os repreendia ou batia, eles se voltavam para ela,
exclamando: "Marietta, mamã e me conduz!" Nesta invocaçã o há toda
uma compreensã o do amor por parte das almas infantis, que sã o mais
capazes de reconhecer quem as ama verdadeiramente. Maria os
acolheu em seus braços, mas os convidou a pedir perdã o à mã e e a nã o
repetir as faltas que haviam cometido.
Ele foi um vigilante guardiã o do coraçã o de seus irmã os menores,
sempre inspirado por Deus, para quem seus ensinamentos e seu
exemplo foram orientados. Ensinava-lhes oraçõ es, explicava as
verdades da fé como sua mã e izera com ela e, depois das tarefas
ordiná rias, era sua imensa alegria falar de Deus, acender chamas de
amor divino em coraçõ es ternos.
Ciência Divina
Maria nã o sabia ler e escrever: morava em um lugar onde nã o havia
escolas e as igrejas eram distantes. Ele nã o teve outras professoras alé m
da mã e analfabeta, que deu mais exemplos do que palavras e lançou as
bases de seu trabalho educativo na obediê ncia, que ela obteve de seus
ilhos com força viril combinada com ternura. Era tã o dó cil em realizar
os ensinamentos maternos que a pró pria Assunta Goretti reconheceu
que nã o merecia uma ilha tã o boa.
O que a menina sabia e ensinava foi aprendido misteriosa e
efetivamente das fontes da ciê ncia divina, que se derrama clara e
abundantemente na alma que ora. Nã o é sabedoria humana, e
queremos dizer isso. Na "Imitaçã o de Cristo" é Deus quem fala assim:
"Depois de ter lido e aprendido muito, basta voltar a este princı́pio: Eu
sou Aquele que ensina ciê ncia aos homens, dou à s crianças uma
inteligê ncia mais clara do que o que pode ser comunicado por qualquer
homem. Aquele com quem falo logo se tornará sá bio e fará grandes
progressos no espı́rito ». Mas com quem Deus está falando? Aquele que
o busca e o escuta, que faz dos ensinamentos divinos sua pró pria vida,
tendo-os aprendido nã o por palavras, mas por obras, nã o na letra
inerte, mas no espı́rito que move todo o ser, nã o como erudiçã o, mas
como exercı́cio constante segundo os Mandamentos de Deus. Agora
Maria buscou a Deus como os sá bios do mundo nã o sabem em sua
maioria: com humilde submissã o à sua Lei e com o desejo de conhecer
a Verdade eterna. Para ela, seus pais eram mensageiros divinos e,
quando os obedecia, pensava com alegria que estava cumprindo as
ordens de Deus. Se nã o recebeu a recompensa merecida, nã o se
arrependeu de ter cumprido seu dever.
Pouco a pouco ele foi se desprendendo do que era terreno.
Renunciou à satisfaçã o dos sentidos com a simplicidade de quem nã o se
ama, mas vive apenas para os outros: as melhores porçõ es para sua
mã e e irmã os, enquanto na sua idade nã o se pode conter facilmente a
garganta sem uma força para sustentar a vontade .contra os sentidos;
ela nã o pediu um vestido novo, enquanto suas companheiras apareciam
aos domingos em vestidos lamejantes e gostavam de ser admiradas.
Ela nã o queria ser elogiada: escondia o rosto com o xale atado à
maneira de Marche "como uma freira", tã o graciosa quanto com os
olhos grandes, profundos e expressivos, o cabelo castanho claro
esvoaçante, bonito e bastante desenvolvido .para sua idade.
A sua vida de sacrifı́cio ajudou-a a desprender-se das coisas da
terra, para depois vir a desprezá -las com a renú ncia total ao seu ser.
Mas enquanto a alma se esvazia do amor-pró prio, abre-se ao amor das
coisas eternas, deixa que Deus penetre e dê a conhecer os arcanos
divinos, as alegrias celestes que quem busca satisfaçõ es terrenas, vazias
e passageiras, nã o consegue compreender.
Fé verdadeira
Sua mã e lhe falava de Deus desde criança e a ensinara a crer com a
fé de uma mente humilde, "sem clamor de palavras, sem confusã o de
opiniõ es, sem confrontos de disputas": a verdade, a inal , é isso que é , e
é a vida que é transfundida. Esta é a verdadeira sabedoria e nã o a dos
falsos profetas, dos orgulhosos iló sofos, que acreditam raciocinar
enquanto renunciam aos direitos de sua razã o, insistindo em negar que
a verdade eterna nos vem de Deus e que o homem abdica de sua
dignidade somente quando se desprende de seu Princı́pio, pretendendo
ser autossu iciente e encontrar sozinho a força para nã o cair no mal. Se
a experiê ncia mostra que uma fé fraca nã o basta para que a vontade
observe as mesmas leis humanas, quando esta fé está completamente
ausente, nã o se pode obter um controle justo e severo da consciê ncia, o
que só é possı́vel se a vontade se puser a lei divina. .como termo de
comparaçã o.
A pequena Maria guardava no coraçã o os ensinamentos maternos e
cada ideia, que era a luz do intelecto, tornava-se uma nova força para a
vontade. As verdades divinas constituı́am seu patrimô nio cultural, e ele
se tornou sá bio e forte, como provaram até agora aqueles que obtê m
sua sabedoria apenas do mundo.
Deus era para ela uma realidade presente: em cada açã o ela nunca
se sentia sozinha, e nessa certeza ela encontrava forças para ser melhor.
"Deus está comigo, Ele vê tudo o que faço: devo fazer o que Ele gosta".
Assim Mary repetiu para si mesma.
Por uma falha involuntá ria sua mã e a repreendeu, e ela
humildemente reconheceu seu erro: nã o se desculpou, mas pediu
perdã o e prometeu nã o repetir o mesmo erro, sempre com uma doçura
singular.
Pena ardente
Capítulo II
Pureza a todo custo! Sua mã e lhe dissera em outras ocasiõ es que
uma menina deve ser pura em pensamentos, palavras, açõ es, ou seja,
deve preferir apenas o que Deus quer. Esta foi a razã o poderosa que
Assunta apresentou para Maria regular sua vida: inspirar em ilha o
amor de Deus, ela obteve uma custó dia zelosa da mente, do coraçã o, da
vontade, ela obteve mais do que é possı́vel obter do raciocı́nio.
A educaçã o da pureza sempre foi um grave problema familiar e
social, que os pais devem propor com seriedade, e que infelizmente é
tratado por nã o poucos com uma leveza muito dolorosa ou com
excessivos escrú pulos que o desviam de tratá -lo.
O exemplo dado por um humilde camponê s deve confundir muitas
mã es que nã o sentem a ansiedade de resolvê -lo com serenidade e
e icá cia. Cultivar a modé stia é uma tarefa muito delicada que exige fé
viva e bom senso. E uma virtude que preserva o que é sagrado e
precioso no homem.
A educaçã o da pureza nã o tem um objeto especı́ ico a dar a
conhecer, mas tem a tarefa primordial de defender o que se sente
profundamente na misteriosa intimidade da natureza humana. Nã o se
trata de descrever o que é impuro, mas de inspirar o gosto pelo que é
puro, realizando essa tarefa no complexo quadro de uma educaçã o
integral, na qual se trata sobretudo de cuidar da educaçã o da vontade
em para obter o domı́nio perfeito da alma sobre a maté ria. Para
alcançar este resultado, a vontade deve ser exercitada no sacrifı́cio e
nas renú ncias impostas pela vida cotidiana, e na humildade que torna
leve a obediê ncia a quem pode nos ajudar a escolher aquele Bem que
dá à vida o esplendor da pureza.
Se Maria soube defender a sua pureza até ao heroı́smo, que nã o se
improvisa, a sua pobreza sustentada pela serena e feliz con iança na
Providê ncia, a guia ené rgica de sua mã e que a ajudou a obedecer
mansamente, muito poderia fundar-se na desejo vivo de conhecer as
verdades divinas, no desejo ardente de se unir a Jesus na Eucaristia.
Quando Maria com a sua alma simples e sincera, sempre aberta à
mã e, manifestou a sua ná usea por ter ouvido certos companheiros que
falavam sem escrú pulos e conversavam pouco reservados com os
jovens, já demonstrava o fruto da educaçã o que recebera. A Donzela
sentiu espontaneamente, sem que ningué m a induzisse a apontar, o
contraste com o que sempre vira e ouvira em sua casa pelos familiares.
Assunta nã o tinha estudado tratados sobre a educaçã o da castidade,
mas apreendeu o sinal com sabedoria: sabia que devia educar a
vontade de um modo particular e o fez inspirada na doutrina cristã que
oferece as razõ es da açã o e se dispõ e a receber e manter a Graça, que
permite aplicar essas razõ es de maneira decisiva. Essa mã e exigia
pronta obediê ncia, e a vontade da ilha foi assim exercida para se
superar, para dominar todos os instintos que predispõ em ao mal e que
in lamam a imaginaçã o; na verdade, vai mais longe: chega a esquecer-se
de si para agradar a Deus.
A educaçã o materna, exercendo a vontade da ilha, procurava com
escrupulosa circunspecçã o tirar-lhe tudo o que pudesse ofender a
delicada virtude. Ele nã o permitia que seus irmã os menores se
despirassem ou guardassem imagens indecentes em casa, tanto que
certa vez disse a Alessandro Serenelli que retirasse as que mantinha
nas paredes de seu quarto. E a menina cresceu "inocente como a á gua":
o pró prio Alexandre a irma isso depois de tantos anos.
Maria sempre sentira uma rejeiçã o espontâ nea e invencı́vel pelo
que constituı́a um perigo para sua pureza. Quando no domingo ela foi à
capela rural de Campomorto e, passando pelos jovens que costumavam
parar para observar as moças que iam à missa, ouviu sua beleza ser
elogiada, corou e endireitou-se, sem demora, como os outros faziam ,
agradando-a.
Sua mã e sempre o aconselhara a nã o imitar aqueles que paravam
para conversar com os jovens, e Marietta escapou da companhia deles.
Quando ela foi tirar á gua da nascente, onde era fá cil encontrá -los, ela se
apressou para que todos os membros da famı́lia icassem surpresos ao
vê -la voltar para casa tã o cedo. Os avisos maternos foram su icientes
para fazê -la evitar o que de alguma forma poderia obscurecer a
brancura de sua alma. Ele sabia que a garota tinha que se considerar
como um vidro transparente que embaça facilmente: se algué m se
aproxima e o toca, ele nã o manté m mais sua pureza original. E entã o
nã o havia outra razã o para ela alé m desta: Deus quer que toda garota
seja modesta e pura.
Ela mesma nã o havia escolhido Maria Santı́ssima como seu modelo
e escudo? Nã o levava sempre consigo a arma da Virgem Mã e, o rosá rio?
"Pureza a todo custo!" Quantas vezes ele repetiu essas palavras em
seu coraçã o! Era como a aliança da primeira uniã o com Jesus: ela queria
apresentar-se pura a Ele, mas sabia que, para manter a pureza, tinha
que procurar sempre fazer o que Deus quisesse. Assunta lembra que na
manhã da Primeira Comunhã o sua irmã ozinho, comunicando també m:
«Ele fez um capricho em casa e ela o repreendeu dizendo:« Pense em
quem você vai receber: você deve ser sempre melhor».
Com Jesus!
Capítulo III
PRESENTE DE SANGUE
A sombra na luz
A pureza da noivinha de Jesus nã o poderia agradar ao diabo,
inimigo de Deus e das almas, a quem tende a enlaçar tanto mais forte
quanto mais sã o queridas ao Divino Redentor. Marietta nã o tinha que
amar Jesus com seu coraçã o puro, nã o tinha que desprezar os exemplos
daquelas meninas licenciosas, daqueles jovens cujos elogios a faziam
corar: muito rabugenta, muito intransigente ela era para o inferno... Era
necessá rio tentar dissuadi-la dessa idelidade excessiva à s advertê ncias
maternas, para que sua consciê ncia perdesse de vista a razã o de todas
as suas açõ es: fazer o que agrada a Deus... Usaremos a persuasã o,
també m recorreremos à força... só precisava de um instrumento do
diabo... Logo foi encontrado: Alessandro Serenelli.
Ele nã o era ruim, mas o que era desprezı́vel nele vinha das
circunstâ ncias de sua vida.
Era respeitoso com o pai e com Assunta, ia à missa todos os
feriados, todas as noites rezava o Rosá rio com os outros: isso també m é
atestado pela mã e e pelo irmã o de Maria Goretti.
Apesar disso, pode-se cair em crimes que, segundo o pró prio
Alexandre: "nunca sã o pagos o su iciente".
Ele nã o tinha uma consciê ncia clara da vida: aceitava tudo, o mal e o
bem, com super icialidade, nã o tendo tido um guia amoroso e sá bio em
sua tenra idade, iluminado pela sabedoria divina. Ele nã o conhecia sua
mã e. Ele foi assistido primeiro por dois anos pela esposa de um primo,
depois pela esposa de seu irmã o. Ningué m tinha que ela cuidasse dele
com amor maternal. Nã o conhecer a mã e na mulher já é um argumento
que explica por que o sagrado nã o é respeitado na mulher. Por tudo
isso, deve-se observar que quanto mais profunda a veneraçã o pela mã e,
mais elevado é o conceito em que a mulher é tida.
O pai era incapaz de dar ao ilho uma educaçã o moral e religiosa: as
ocupaçõ es muitas vezes o afastavam, e entã o - é preciso reconhecer -
dedicado como estava a satisfazer as necessidades da vida material, ele
nã o conseguiu curar a alma do ilho .
Alessandro recebeu a Con irmaçã o em Paterno aos doze anos e na
Torrette d'Ancona fez sua Primeira Comunhã o. Aprendeu muito pouco
de catecismo: a boa semente foi logo sufocada por há bitos que o
distraı́am da prá tica dos ensinamentos religiosos.
Com um cará ter fechado e silencioso; quando estava sozinho no
Agro Romano, sentia desejos ansiosos em seu coraçã o que tornavam
sua labuta diá ria mais sé ria e o tornavam cada vez mais taciturno.
Nos dias abafados de junho, ainda mais tristes naqueles bairros
insalubres, onde os poços pú tridos exalavam morte e melancolia
sombria, Alessandro sentia com grande tormento o contraste entre sua
juventude vigorosa e a natureza que o cercava. Nele era a vida que
gemia, que se rebelava contra aquela solidã o, aquela uniformidade
melancó lica dos dias passados entre o campo e a casa.
Buscava algo que tornasse sua vida menos triste e,
inconscientemente, seguia as insinuaçõ es do espı́rito infernal que aos
poucos o enredava e o fazia voltar sua atençã o para a pequena Maria.
Alexandre nã o encontrou paz e, cautelosamente, procurou o momento
oportuno para sacri icar uma vı́tima. A Donzela tentou pela primeira
vez, o que
- como ele mesmo a irmou - "mostrou que nã o conhecia o mal", mas
se rebelou para nã o cometer pecado. Uma segunda vez a pomba pura
escapou da garra do papagaio com uma força que o deixou espantado e
furioso. Nã o achava que encontraria tanta resistê ncia: sentia as chamas
da paixã o insatisfeita e a humilhaçã o da dupla derrota. Foi justamente o
momento em que o diabo persistiu com suas insinuaçõ es naquele
pobre jovem que se tornou um bruto covarde, incapaz de medir as
consequê ncias de seus atos. Ele queria ter sucesso a qualquer custo.
Nã o era o amor que o impelia: se tivesse amado verdadeiramente a
Donzela, teria respeitado sua candura virginal com uma ternura que se
inspira no que é reconhecido como sagrado e deve ser preservado como
tal. Alessandro, desde a primeira recusa, mostrou-se ainda mais amargo
com Maria, dando-lhe ordens pesadas com a intençã o de fazê -la
despeito e medo. "Ele já nã o se sentia bem" - lembrou Assunta Goretti,
que teve que explicar a conduta de Alessandro tarde demais.
Lágrimas secretas
Em direção à vítima
Alexandre, de pé no pá tio para dirigir a carroça sob os raios do sol
escaldante, vê de longe a Donzela com a intençã o de costurar a camisa
deixada por ele. Esse pensamento, que nã o lhe dava descanso há cerca
de um mê s, torna-se um tormento que ele quer satisfaçã o à custa de
tudo.
Maria teve que ceder aos seus desejos e, se ela recusasse, ele a
mataria... Por que matá -la? Ele nã o poderia reduzi-la à obediê ncia com
sua força?... Ah! a triste ló gica do egoı́smo!
"Vou matá -lo, sim, se ele ainda me deixar decepcionado...".
O sol estava se pondo entre vé us de vapores. Os bois, lentos, sob a
canga, davam a volta ao pá tio, sacudindo a carroça a cada chamada.
O jovem diz a Assunta que precisa fugir e lhe dá seu lugar. Assunta
sobe na carroça e com ela até os ilhos mais novos, que com alma festiva
levantam seus gritos para empurrar os bois que rugem.
Começa quase a correr... Passa na frente do pai deitado à sombra da
casa para descansar durante um ataque de malá ria, sobe a escada que
passa na frente de Maria sem dizer uma palavra e vai para o armazé m,
onde o punhal é colocado entre ferramentas antigas. Isso deve ajudá -lo
a vencer. Ele o pega e vai até a cozinha para colocá -lo em um caixote
para que ele possa pegá -lo facilmente se precisar. Imediatamente
chame a Donzela imperiosamente:
«Maria, entra!». Continua a segurar a agulha na mã o. Ela teria
descido as escadas correndo, teria chamado a mã e... Mas nã o tem
tempo para pensar mais: uma mã o a agarra pelo braço. Maria resistiu,
mas foi arrastada à força para a cozinha, junto à entrada. A Donzela
sente que Alexandre quer voltar ao assalto e tenta libertar-se daquelas
garras repetindo: «Nã o, nã o, Deus nã o o quer; se você izer isso você vai
para o inferno!"
O jovem nã o entende: o inferno já o tem em seu coraçã o, e ele nã o
quer nada mais do que terminá -lo de uma vez por todas. Ele tenta calar
a boca dela, mas: “O que você está fazendo, Alessandro? Deus nã o
quer!..."
A paixã o infame do jovem nã o restringe. Duas vontades estã o em
con lito: Deus na Donzela, Sataná s no jovem; dois "eu quero"... mas
Deus triunfa atravé s dos fracos!
Convidar!
Morte preciosa
Capítulo IV
PODER DO MARTÍRIO
Apostolado do martírio
o ar, no entanto, nã o está morto. Ele vive no reino da Gló ria e seu
espı́rito, livre das amarras do corpo, poderoso do pró prio poder de
Deus, ao qual estava intimamente unido, nã o permanece inerte. A
menina pura deixou na terra a marca profunda do seu exemplo: do Cé u
ela ainda ensina à s almas como amar a Deus e quais as virtudes que lhe
sã o caras.
Com efeito, o Má rtir é essencialmente um apó stolo: é uma
testemunha da verdade, pela qual sacri ica a sua vida.
O apostolado que Maria Goretti havia realizado em silê ncio, na
prá tica cotidiana de virtudes humildemente ocultas, durante sua curta
vida terrena, encontra seu coroamento no glorioso martı́rio que
comoveu os povos, suscitou admiraçã o em ilustres prelados e generoso
favor dos Supremos Papas .
O primeiro entusiasmo tornou-se cada vez mais vivo, e a Donzela
apareceu como um raio de luz esplê ndida entre os brilhos sombrios das
paixõ es insanas, do egoı́smo e do ateı́smo rebelde que, no inı́cio do
sé culo XX, estava escondido no teorias do social-comunismo. Em meio
aos gritos de ameaça e ó dio que subiam das profundezas escuras dos
coraçõ es ressequidos pela incredulidade, corrompidos pela insaciá vel
â nsia de bem-estar material, divididos por lutas incurá veis, em uma
sociedade que se corrompia e semeava a morte, Maria Goretti serviu de
recordaçã o má xima à consideraçã o da virtude que triunfa sobre a
arrogâ ncia do vı́cio, impondo à natureza o sacrifı́cio que distingue o ser
humano do bruto.
Enquanto seu corpo continuava a se desenrolar sob a terra
queimada pelo sol, junto ao mar que con iou a está tua da Madonna
delle Grazie à costa netuniana, vozes de louvor se ergueram para
honrar a virtude heró ica de Maria. Compê ndios de sua vida foram
escritos, versos compostos, a musa popular derreteu suas cançõ es nas
encruzilhadas e nas praças, monumentos foram erguidos para glori icar
a memó ria do Má rtir.
Em Nettuno, depois de dois anos, em 10 de julho de 1904, no
pequeno Santuá rio de N. Signora delle Grazie, que a Santa Donzela
visitava com frequê ncia, os Padres Passionistas cuidaram da construçã o
de um monumento em homenagem a Maria Goretti, no iniciativa do
Diretor do semaná rio romano «La vera Roma», Cav. Enrico Feliziani,
auxiliado por alguns senhores romanos e pelo povo netunense. O Prof.
Raffaele Zaccagnini a esculpiu com arte animada pela fé , resumindo a
morte da pura Vı́tima, que pode ser vista deitada abaixo como a Virgem
Cecı́lia e acima atraı́da para o Cé u envolta em luz e escoltada por Anjos.
Ao fundo o assassino, a sombra do mal dominada pela luz do eterno
Bem.
Este monumento foi removido e preservado pelos Padres.
Passionistas, quando o Santuá rio que, por estar muito pró ximo do mar,
estava prestes a desabar, foi de initivamente destruı́do.
A reconstruçã o do Santuá rio foi realizada pelos Passionistas com
louvá vel força diante de muitas di iculdades e concluı́da para a proteçã o
de Sã o Pio X que o declarou Santuá rio Pontifı́cio. Assim, em setembro
de 1912, o novo Santuá rio foi erguido em homenagem a Maria SS.ma
delle Grazie. Nesta ocasiã o, a publicaçã o do perió dico "La Stella del
mare", editado pela PP. Passionistas, para quem foi um vá lido meio de
apostolado que serviu també m para tornar conhecida e amada a
Martire delle Ferriere.
O Municı́pio de Nettuno, ao qual pertencia o lugar do martı́rio na
é poca, agora sob a jurisdiçã o de Latina, honrou a virtuosa Donzela
colocando um monumento em seu tú mulo, continuamente visitado por
admiradores e ié is de toda a Itá lia. A inscriçã o sobreposta dizia que o
Corpo estava sepultado por tempo indeterminado e aguardando uma
morada mais digna no Santuá rio de Nossa Senhora da Graça, onde o
monumento já estava preparado, recolocado apó s a reconstruçã o.
O padre Romolo Allegrini esperava conseguir o transporte do corpo
de Maria para Roma, onde era pá roco, e colocá -lo na tumba da famı́lia
que havia construı́do com tanto sacrifı́cio, desejando que seus ossos
repousassem um dia ao lado daqueles da Virgem Donzela, o que lhe
daria sua proteçã o. Fortalecido pela razã o de que cabia ao corpo de um
Má rtir repousar em Roma, terra dos Má rtires, conseguiu obter
transporte e marcar a data. Faltavam quatro dias para a trasladaçã o do
venerado corpo e o bom Sacerdote foi ao encontro de Maria no Cé u,
antes que uma prová vel decepçã o o izesse sofrer tanto.
També m em Corinaldo, terra natal de Maria, o Rev. D. Marinelli
havia pedido os ossos da Donzela, mas Netuno teve a honra de guardar
o corpo da Má rtir, no templo dedicado a Nossa Senhora, onde o tú mulo
de má rmore o aguardava. para ela. Corinaldo quis entã o erguer um
monumento à ilha, do qual honra e orgulho terá ao longo dos sé culos.
A ideia també m foi acolhida com entusiasmo por Santidade Pio X, que
fez uma oferta conspı́cua para encorajar a iniciativa. O escultor calabrê s
Giovanni Scrivo deu seu admirá vel trabalho, que lembra a inspiraçã o do
monumento de Netuno.
Digno de memó ria foram as festas de Montevergine, na agradá vel
colina que se ergue na provı́ncia de Lecce. Naquele santuá rio,
consagrado a Maria Santı́ssima para uma apariçã o sua em 1595, o povo,
preparando-se para celebrar o cinquentená rio da de iniçã o do dogma
da Imaculada Conceiçã o da Mã e de Deus, pediu a bê nçã o do Sumo
Pontı́ ice Pio X , que o concedeu expressando amplamente o desejo de
que a Má rtir Maria Goretti fosse celebrada naquela ocasiã o como
exemplo de verdadeira devoçã o a Maria Imaculada. O voto do Papa foi
cumprido com entusiasmo, e as celebraçõ es foram coroadas com a
ereçã o de uma placa de má rmore que exaltava o amor à pureza virginal
e deveria servir "de grande estı́mulo para as jovens preservarem sua
dignidade em meio à s corrupçõ es". . (Discurso de Sua Eminê ncia o
Cardeal Agliardi à s comissõ es de Montevergine).
Em 1928 os Pes. Passionistas, guardiõ es do Santuá rio da Madonna
delle Grazie, estavam interessados na traduçã o do corpo da Virgem
Má rtir do Cemité rio de Netuno para o Santuá rio. Apó s cerca de um ano,
as relı́quias do Corpo de Maria foram exumadas e trazidas ao Santuá rio
da Madonna delle Grazie com uma solenidade que nunca antes havia
sido admirada. Manifestaçõ es de alegria e fé con irmaram a cada vez
mais viva e profunda admiraçã o e devoçã o pela Donzela que - segundo
as palavras do entã o Mons.
Salotti, depois ilustre cardeal e hoje cidadã o do Cé u - merecia ser
conhecido, assim como por seu martı́rio, por suas heró icas virtudes
cristã s. Na procissã o fazia parte Assunta Goretti, mã e de sorte como
Monna Lapa, que pô de presenciar o triunfo de sua ilha Catarina em
Siena, quando a cabeça da santa foi trazida de Roma. Foi entã o que se
publicou a vida da Donzela, composta por Pe Aurelio della Passione,
ilho digno de Sã o Paulo da Cruz, que, no seu zelo incansá vel e terna
devoçã o pelo Pequeno Má rtir, reunia preciosas informaçõ es que mais
tarde seria ú til para facilitar a introduçã o da causa de beati icaçã o.
O entusiasmo pelo Má rtir sempre foi crescendo diante da corrupçã o
desenfreada de um mundo pagã o, envenenado por teorias insidiosas.
Sempre foram frequentes as peregrinaçõ es ao tú mulo da Pequena
Mestra da Virtude, e ainda se vê com profunda emoçã o que o vigoroso
jovem vai ajoelhar-se para lhe pedir forças para manter-se pura em
meio aos muitos perigos do mal. . E Maria do Cé u indica o caminho pelo
qual é possı́vel recuperar a dignidade perdida pelo pecado. Ao contato
espiritual com ela, as né voas impuras desaparecem e uma onda de paz
e alegria incomum se eleva nos coraçõ es. Tã o pequena, aterrada por
ferro homicida, é , no entanto, ajuda e conforto para jovens
inexperientes, para homens tenazes nas lutas da vida, para altas
personalidades sobre as quais a responsabilidade de suas tarefas
difı́ceis nã o pesa pouco.
Em 1925 o Santo Padre Pio XI recordou a uma peregrinaçã o de
Netuno que, poucos dias antes de ir à Polô nia como Nú ncio Apostó lico,
havia meditado e rezado no monumento erguido em homenagem ao
Má rtir, no Santuá rio onde hoje se guardam as preciosas relı́quias uma
capela de má rmore decente.
Proteção do céu
Capítulo V
O CAMINHO GLORIOSO
A Má rtir inicia sua marcha triunfal, que avança em gló ria crescente,
sempre colhendo novas vitó rias.
Vai a todas as almas, acende o amor a Jesus e a força intré pida nos
coraçõ es puros, desperta a contriçã o humilde nas consciê ncias
obscurecidas pela culpa, inspira os pais a uma sé ria consciê ncia da sua
missã o educativa, infunde em todos um ardor mais vivo da oraçã o, uma
vontade nova procurando um perdido e nunca encontrado bem entre as
alegrias da terra.
Quando ocorreu a beati icaçã o, o venerado corpo de Maria estava
em Roma desde 1943. I Pes. Os passionistas, no inı́cio da imensa guerra,
pensaram em guardar as preciosas relı́quias e, tendo obtido a
permissã o da autoridade eclesiá stica, em silê ncio, levaram-nas a Roma
na Bası́lica de SS. Giovanni e Paolo, no Generalato. Permaneceram
escondidos até o dia da glori icaçã o, e entã o, compostos em uma
magnı́ ica urna de cristal, foram expostos à devoçã o dos ié is.
A lembrança do que aconteceu naqueles dias no silencioso Celio é
comovente.
A via di S. Paulo della Croce e a subida de Clivo di Scauro, quase
sempre solitá ria, foram atravessadas por grandes grupos de pessoas e
carros, enquanto a Bası́lica estava lotada do amanhecer ao anoitecer e o
PP. Os passionistas suportaram com alegria o esforço de ordenar a
a luê ncia dos ié is, ouvir con issõ es e distribuir o Pã o Eucarı́stico.
Sem tré gua, a multidã o passava diante do caixã o, derramando
lá grimas sinceras, rezando com fé viva, pedindo graças ansiadas no
fundo do coraçã o.
Famı́lias inteiras acorreram e os pais levantaram os ilhos nos
braços para que pudessem ver a pequena santa e nunca esquecer sua
franqueza. As crianças choraram de ternura pelo fervor com que
pararam para admirar a Má rtir, de mã os dadas e olhando para os seus
olhos claros e pensativos... A pequena Maria atrai particularmente os
pequeninos... Uma mulher simples do povo contou que seu pequeno de
cerca de cinco anos, assim que entrou na Bası́lica, soltou a mã o da mã e
e correu para a frente. Por um momento temeu perdê -lo, mas,
aproximando-se da balaustrada, viu-o ajoelhado diante da imagem do
Beato, com as mã ozinhas levantadas para ela... Que conversas
misteriosas entre Maria e almas inocentes!
Entã o os jovens, e em grande nú mero estudantes das escolas de
Roma, pararam para contemplar a pura Vı́tima, sacri icada pela turva
paixã o juvenil: confusa diante da fortaleza de uma menina fraca, com a
dor de sua misé ria, humilhada, sentiu a precisam puri icar a alma com o
Sacramento da Penitê ncia e revigorar com o Pã o dos fortes.
Tanta juventude pretendia reparar da melhor maneira o ato nefasto
do assassino e exaltar a beleza de uma vida pura, que na fé defende a
dignidade humana.
Nos dias do trı́duo solene celebrado em honra do novo Beato, a
Bası́lica nã o podia conter a multidã o que vinha venerar a Filha e prestar
homenagem à Mã e que assistiu à celebraçã o no primeiro dia.
Pensava-se que depois do trı́duo haveria algum descanso, mas a
multidã o continuou a se alternar até 15 de maio, dia da Ascensã o, já
destinada a transportar o Beato de Roma a Netuno.
A a irmaçã o unâ nime de fé e devoçã o ao Má rtir pode ser
considerada um novo milagre. O maravilhoso triunfo da virtude e da fé !
Viajando
Roma ainda podia venerar o corpo do Má rtir que foi trazido por
Netuno, remontado em uma urna magnı́ ica e vestido com um vestido
branco.
Na Bası́lica de SS. Giovanni e Paolo foi celebrada uma oitava solene,
apó s a qual a urna foi transportada para a Igreja de S. Maria degli Angeli
pelas principais ruas da cidade.
A monumental igreja foi destino de inú meras peregrinaçõ es
durante seis dias, mas teve que ser retirada para agradar os ié is de
Albano, Velletri, Frascati que queriam conservá -la para expressar sua
alegria e celebrar o esperado triunfo.
Finalmente, a Madonna em Nettuno o recebeu, onde os Pes. Os
passionistas prepararam para ela uma capela muito decente, na qual
descansará para sempre e dispensará seus sorrisos com seus favores.
Depois de cinquenta anos
Cinquenta anos logo se passaram desde o glorioso martı́rio, e em
1952 um novo triunfo foi celebrado em Netuno com excepcional
solenidade.
Mas as celebraçõ es externas nã o sã o su icientes para exaltar as
virtudes essencialmente cristã s em seu valor intrı́nseco: devemos
honrar nelas o amor sobrenatural que as informa e a vontade de imitar
ielmente o Má rtir Redentor, que com seu Sangue Purı́ssimo selou a
verdade de sua doutrina e a força divina de seu exemplo.
O entusiasmo pela Santa nã o para e torna-se cada vez mais fecundo
de trabalhos.
A velha cabana, onde a Vı́tima Pura foi sacri icada, foi reorganizada
como no momento em que o sacrifı́cio foi consumado: a cozinha com a
grande lareira, o quarto onde a Santa dormia, o quarto do assassino e o
local onde ela foi morta a tiros. , reconhecı́vel por uma placa colocada
no chã o depois que o pobre Alessandro, que foi à Siderurgia a convite
do Padre Postulador, apontou para ele, prostrado de dor e
arrependimento, relembrando os detalhes da tragé dia daquele
longı́nquo pô r do sol sangrento.
A pequena casa vizinha, entã o habitada pelos bons cô njuges
Allegrini, tornou-se um centro de educaçã o com jardim de infâ ncia e
escola de trabalho para as meninas do distrito.
Em Nettuno, o Santuá rio, apó s a construçã o da capela onde repousa
o venerado corpo da Santa, foi ampliado e restaurado para adquirir
uma aparê ncia imponente e poder acolher numerosas romarias. As
obras foram abençoadas e inauguradas no primeiro dé cimo aniversá rio
da Canonizaçã o, em setembro de 1960.
Uma cerimó nia muito sugestiva teve lugar ao pô r-do-sol, em frente
ao mar sereno e sob o cé u avermelhado pelo sol poente... Altas
personalidades religiosas e civis e um povo emocionado prestaram uma
terna e afetuosa homenagem à quela que ensina a morrer para para
alcançar a verdadeira vida.
Capítulo VII
A SABEDORIA DOS HUMILDES
A santidade é fruto da preparação
A esta altura convé m observar que a santidade nã o é efeito de uma
iluminaçã o divina gratuita, sem a cooperaçã o daquele que por ela é
enriquecido. Para uma jovem, portanto, que aceita um martı́rio
angustiante com a irme vontade de nã o violar a lei de Deus, deve-se
pensar que a escolha do sacrifı́cio é consequê ncia de uma preparaçã o
espiritual que, pensada com cuidado, pode nos oferecer ensinamentos
de inestimá vel valor.
Há dois fundamentos para esta fecunda preparaçã o: a educação
familiar, que dispõ e Maria a aceitar o sacrifı́cio de si mesma, e a
correspondência ao dons divinos, como poder concluir que Deus
trabalhou nela e foi seu ú nico guia.
(Decreto de introduçã o à Causa de Beati icaçã o).
A famı́lia que prepara os ilhos para a santidade só pode ser santa,
fundada na verdade, na boa vontade e no amor que germina no
sacrifı́cio.
E dever dos pais dar à famı́lia, em primeiro lugar, o cará ter de paz,
que é ordem, fundamento da tranquilidade, da con iança mú tua, da
idelidade incorruptı́vel.
Seu cuidado constante é manter irmes os vı́nculos de sua uniã o
para que seus ilhos vivam em um ambiente sereno que favoreça o
aprimoramento moral de todos. Mas a ordem moral deve ser integrada
pela vida sobrenatural: só entã o a pessoa humana está completa,
quando com a Graça já está pronta para alcançar o Fim sobrenatural
para o qual está destinada.
Hoje, infelizmente, a famı́lia está em grave perigo: há quem a queira
romper no seu fundamento moral e envenená -la nas suas raı́zes,
separando-a de Deus e negando a santidade e a indissolubilidade do
matrimó nio, que é uma instituiçã o divina.
Entre os inimigos da instituiçã o familiar estã o aqueles que invocam
o divó rcio a pretexto de resolver casos infelizes, que, se formos analisá -
los pela raiz, sã o provocados pelos pró prios que deles se tornam
vı́timas. Na base de tais casos está a desordem moral, em uma das
partes ou em ambas, e é sempre a cegueira egoı́sta, que esquece os
outros, que vem arrebatar o pai ou a mã e dos ilhos pobres, que se
vê em entã o disputados entre o pai e a mã e, sem poder entender qual
dos dois os ama.
Em todo o caso, invocam a paz, com a irme vontade de separar,
aqueles que um dia juraram amor e idelidade mú tua. A paz, ao
contrá rio, nã o divide, nã o desintegra, nã o desintegra: é harmonia, uniã o
ordenada de seres que estã o juntos para cumprir uma missã o, com
senso de responsabilidade, pró prio de uma consciê ncia ordenada a
uma im que eleva o homem a uma dignidade muito elevada.
Quando falta uma concepçã o exata da vida, vive-se sem perceber o
que se faz, nã o se compreende que se renuncia à pró pria dignidade,
invocando os direitos da natureza que se rebelam contra a razã o, os
direitos do coraçã o dissolvidos pelo regime da liberdade vontade, que é
a escolha da lei que protege o bem. Quando negamos a lei moral que é a
defesa da dignidade humana - nunca é demais repeti-la - vamos
vagando em busca de entendimento na tentativa de silenciar a voz da
consciê ncia; deixa-se a pá tria para buscar proteçã o de leis estrangeiras;
a tentativa de aliviar os problemas que derivam do desconforto da
consciê ncia depende de ganhos fá ceis.
Sã o tantas as misé rias que comprometem a ordem e a integridade
da famı́lia, e nã o se pode deixar de tentar novamente o perigoso
trabalho de uma imprensa pouco esclarecida que traz à tona crô nicas
inapropriadas e con issõ es desavergonhadas que apresentam, sob a
forma de ordiná rio, autê ntico fatos crimes sociais.
A educaçã o familiar, como foi considerado, encontra o seu papel
principal no exemplo e nos ensinamentos dos pais, mas cabe aos ilhos
aplicá -los e integrá -los à sua boa vontade. Há casos felizes em que os
ilhos guardam na alma as pegadas profundas deixadas pelos pais; ao
contrá rio, há resultados infelizes quando as crianças esquecem a
preparaçã o saudá vel recebida no ambiente familiar e, apesar de terem
aprendido o bem, preferem o mal.
Para validar essas verdades será ú til considerar como os pais e o
santo se comportaram para alcançar a gló ria.
Educação familiar
Maria “é fruto maduro do lar, onde rezamos, onde os ilhos sã o
educados no temor de Deus, na obediê ncia aos pais, no amor da
verdade, da veracidade e da ilicitude; onde desde a infâ ncia se
acostumam a contentar-se com pouco, a ser ú teis muito rapidamente
em casa e na fazenda, onde as condiçõ es de vida e a aura religiosa que
os cerca cooperam poderosamente para torná -los um com Cristo e
crescer em sua graça " . (Discurso de SS Pio XII de 28-4-1947). Estas
palavras, que partem da Cá tedra infalı́vel, resumem as tarefas e os
deveres da famı́lia cristã , onde nada se perde e tudo se constró i
e icazmente quando os pais conhecem a obrigaçã o de dar aos ilhos
uma educaçã o que forme o homem "como deve ser e como ele deve se
comportar nesta vida terrena para alcançar o im sublime para o qual
foi criado". (Enc. De SS Pio XI: "Divini Illius Magistri").
Os pais de Maria ensinaram como a famı́lia cristã pode dar ilhos
santos. Dois camponeses explicaram, de forma prá tica e com clareza
esclarecida, um tratado educativo de e icá cia incompará vel, que vai
alé m das doutrinas pedagó gicas inspiradas nas ideologias humanas,
esté reis porque carecem do motivo sobrenatural que eleva o homem a
Deus. os problemas educativos mais importantes que sã o conturbados
na vida familiar e que nos fazem perguntar antes de tudo: como se
forma na famı́lia uma aura que preserva o homem do mal e eleva a
dignidade humana? que relaçõ es sã o necessá rias entre pais e ilhos e,
consequentemente, qual é a concepçã o exata de autoridade e
liberdade? que ritmo deve ter a vida familiar para nã o perturbar sua
harmonia?
Liberdade
Missão social
CONCLUSÃO
Algué m pode observar que, sendo uma menina de apenas doze anos
e analfabeta, muito já foi escrito. Mas pode-se responder que quanto
mais simples o argumento, mais difı́cil é resumir as consideraçõ es que
vã o surgindo aos poucos: quanto mais se contempla a simplicidade
desta Donzela, mais se sente a imensidã o do In inito que operou em
você .
Marietta é uma pequena camponesa do Agro Romano, mas a Igreja
a coloca ao lado da aristocrá tica Agnese; a Catarina de Siena que
corajosamente escreveu e falou com macacos, prı́ncipes e rainhas; a
Francisco de Assis pregador da humildade e da caridade; a Domenico di
Guzman, professor da verdade; a Giovanni della Croce, um mı́stico
muito doce; ao lado das ileiras eleitas de Má rtires de todos os sé culos,
Confessores, Doutores, Apologistas e Fundadores de Ordens, que
escreveram e muito escreveram.
Quanto mais fraco o instrumento da Providê ncia, mais resplandece
a obra de Deus e, neste caso, muito teria que ser dito para exaltar as
maravilhas divinas. Nã o vemos mais a criatura pequena e limitada, mas
o Criador in inito em sua sabedoria, em seu poder, em sua bondade.
E é claro que Deus prefere os pequeninos: neles pode multiplicar
livremente os seus prodı́gios e tornar os humildes sá bios para dar
novos impulsos à s almas.
Ele, Sá bio, assim como usou Joana d'Arc para confundir os inimigos
de sua pá tria e despertar o antigo valor em seus compatriotas, usou
Maria Goretti para estabelecer a honra de sua pá tria prostrada na
ignomı́nia que nã o merecia , depois de uma guerra que trouxe a ruı́na
moral mais grave do que a devastaçã o material. Deus, que olha para a
Itá lia com particular predileçã o, nã o poderia permitir que a desgraça de
uma ofensa injusta contra as mulheres italianas se somasse ao dano da
derrota. Ordenou que, passado o terrı́vel lagelo, o Pequeno Má rtir
aparecesse triunfante no maior templo de Roma para dizer ao mundo
inteiro: «As mulheres da Itá lia també m sabem morrer para defender a
sua sinceridade!».
E as mulheres italianas devem assumir este grito vingativo para
serem exemplo de força cristã , proteçã o da famı́lia, dignidade da pá tria.
Este grito de vitó ria nã o deve deixar-se abafar por vozes
discordantes e, muito menos, extinguir-se na secura deixada pelo fogo
das paixõ es. A dignidade de um povo deve ser defendida antes de tudo
por aqueles que, por diversos meios, tê m a tarefa de guiar as almas. A
dignidade da pessoa humana deve ser respeitada e defendida dos
perigos que seduzem as almas à morte, mais do que o ferro assassino.
Reclamamos demais dos males que a ligem a humanidade: do
egoı́smo, do materialismo, da violê ncia, da subversã o dos valores
humanos; mas nã o queremos encontrar uma forma de opor a prá tica do
bem ao mal.
O Pequeno Santo nos ensinou como desarmar a violê ncia, como
defender os valores da vida.
Olhando para dentro de nó s encontramos Deus e é -nos fá cil
libertar-nos do nosso miserá vel egoı́smo: com Deus encontramos a
Verdade. Isso dissipa o vazio de dividir opiniõ es e na unidade universal
dá paz.
Se os homens estiverem conscientes da presença contı́nua de Deus
que governa, prontos a renunciar a dar aos que sofrem, ao sacrifı́cio que
oferece e puri ica, à generosidade que perdoa, obterã o a paz almejada
por todos, a consciê ncia de um senhorio que tudo coroa, boa vontade.
INDICE
Introduçã o
Prefá cio da primeira ediçã o
Capı́tulo I.
GAROTA MARAVILHOSA
Capı́tulo II
�PUREZA A TODO CUSTO�
Capı́tulo III
PRESENTE DE SANGUE
Capı́tulo IV
PODER DO MARTIRIO
Capı́tulo V
O CAMINHO GLORIOSO
Capı́tulo VI
PIEDOSOS!
Capı́tulo VII
A SABEDORIA DOS HUMILDES
CONCLUSAO
PARA MARIA GORETTI
ALGUMAS AVALIAÇOES DA PRIMEIRA EDIÇAO