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Recuperação de Áreas Degradadas: Aula 1

O documento discute a recuperação de áreas degradadas, definindo termos-chave como degradação, recuperação e modalidades de recuperação. Apresenta as principais atividades humanas que degradam o meio ambiente e as fases do processo de recuperação, incluindo diagnóstico, plano de recuperação, execução e monitoramento.

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Recuperação de Áreas Degradadas: Aula 1

O documento discute a recuperação de áreas degradadas, definindo termos-chave como degradação, recuperação e modalidades de recuperação. Apresenta as principais atividades humanas que degradam o meio ambiente e as fases do processo de recuperação, incluindo diagnóstico, plano de recuperação, execução e monitoramento.

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RECUPERAÇÃO DE ÁREAS

DEGRADADAS
AULA 1

Prof. Francisco von Hartenthal


CONVERSA INICIAL

A Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) reúne ciência, direito e


economia. Assim, o nosso objetivo principal será desenvolver um
conhecimento instrumental sobre essas disciplinas. A partir daí, você poderá se
aprofundar conforme as demandas do seu dia a dia.
A parte científica da disciplina de Recuperação de Áreas Degradadas
engloba noções de ecologia e geografia, entre outras. Abrange, ainda, a
aplicação de diferentes métodos e tecnologias.
O profissional da área também deve conhecer a legislação ambiental e a
organização dos órgãos reguladores e fiscalizadores da atividade. Há muitas
demandas legais e conhecê-las é essencial para o desenvolvimento do
trabalho.
Finalmente, é preciso distinguir as atividades econômicas que geram
maior impacto ambiental e que impactos são esses. Além disso, a RAD tem
custos, o que se apresenta como um fator limitante para o sucesso das
operações.
Nesta aula, vamos tratar do essencial dos textos legais para, nas aulas
seguintes, podermos tratar dos demais assuntos.

TEMA 1 – DEFINIÇÕES BÁSICAS

A palavra degradação significa deterioração, decomposição, perda de


complexidade ou de energia. Chamar uma área de degradada, portanto, é uma
valorização negativa que se dá por comparação entre o seu estado atual e um
estado anterior. Essa comparação é feita mediante critérios específicos de
qualidade ambiental, que variam conforme o tipo de atividade degradadora e o
ambiente sobre o qual ela incidiu.
A Lei n. 6.938/1981, que estabelece a Política Nacional de Meio
Ambiente, em seu art. 3°, inciso II, define degradação ambiental como “a
alteração adversa das características do meio ambiente” (Brasil, 1981). Essa
definição foi aprimorada pela Instrução Normativa n° 4, de 2011, emitida pelo
IBAMA, que dividiu essa alteração adversa do meio ambiente em dois tipos:
áreas degradadas, e áreas alteradas ou perturbadas. Áreas degradadas são
aquelas impossibilitadas de retornar naturalmente ao seu estado anterior. As
áreas alteradas ou perturbadas são aquelas que, embora tenham sofrido

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alteração ambiental adversa, ainda possuam a capacidade de regeneração
natural (IBAMA, 2011).
Em termos ecológicos, essa distinção entre uma área capaz, ou não, de
regenerar-se naturalmente é muitas vezes controversa. No entanto, ela é
essencial para o tratamento legal da atividade de recuperação de áreas
degradadas. Sabendo o que é degradação, nos resta agora ver o que, afinal, é
a recuperação.
Foi a Lei n. 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), que definiu o termo recuperação. No texto da Lei,
recuperação é a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre
degradada a uma condição não degradada” (Brasil, 2000). Ou seja, é a
atividade que permite que uma área degradada retome a sua capacidade de
regeneração natural, ainda que não retorne exatamente às mesmas condições
ambientais anteriores à degradação.
Resumindo, área degradada é aquela incapaz de regenerar-se
naturalmente. Já recuperação é a intervenção humana, por métodos de gestão
ambiental, que restitui essa capacidade.

TEMA 2 – ATIVIDADES DEGRADADORAS DO MEIO AMBIENTE

São várias as atividades humanas que degradam o meio ambiente. A


expansão das cidades, a agropecuária, o depósito de resíduos e o
desflorestamento são alguns exemplos. Fenômenos naturais também podem
gerar impacto ambiental negativo sobre uma região. Nesses casos, o que nos
interessa é a atuação desses fenômenos, quando potencializam a degradação
originada da atividade humana. Por exemplo, quando uma chuva muito forte
causa desmoronamento do solo em uma área desflorestada.
Os impactos ambientais negativos podem se dar pela erosão, com perda
de solo e matéria orgânica, ou, ao contrário, pelo acúmulo de matéria originada
de outro local. O solo, a água e a atmosfera podem sofrer alterações negativas
em suas propriedades físicas e químicas, devido à poluição. Ou, ainda, os
impactos podem se dar pela perda da biodiversidade ou alteração das
comunidades de organismos vivos.
Falaremos ainda sobre o impacto ambiental e a recuperação de áreas
degradadas pelo acúmulo de resíduos sólidos, pela mineração, pelo petróleo
bruto e seus derivados, pelas atividades industriais e pela agropecuária.
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TEMA 3 – MARCOS TEMPORAIS DA RAD

Dizer que uma área está degradada equivale a atribuir um valor negativo
a essa área, comparando o seu estado atual a um estado anterior. Em outras
palavras, é dizer que antes havia menos substâncias poluentes, ou mais
biodiversidade etc. Por outro lado, a recuperação dessa área significa restituir a
capacidade dela de se regenerar naturalmente, ou seja, sua capacidade de
retornar, no futuro, às condições do passado.
Dessa forma, na Recuperação de Áreas Degradadas temos três marcos
temporais. O primeiro trata de uma situação ambiental que existia no passado.
O segundo, do estado tal como se encontra hoje. E o terceiro, da condição que
se deseja atingir no futuro.
Para conhecermos o estado anterior da área a ser recuperada,
precisamos recorrer aos registros existentes. A primeira fonte a ser buscada
são os estudos ambientais realizados para o licenciamento ambiental do
empreendimento. Os empreendimentos geradores de impactos ambientais
devem passar por licenciamento antes do início das suas atividades, e o
empreendedor deve manter os estudos feitos à época.
Eventualmente, esses estudos podem não existir (para casos anteriores
à sua obrigação), ou não estarem disponíveis, ou serem insuficientes. Nesses
casos, será preciso buscar outras fontes que revelem o estado ambiental
anterior. Podem ser estudos de outros empreendimentos da região, trabalhos
acadêmicos, ou até o diagnóstico ambiental atual de uma área próxima não
degradada.
Somente com a definição das condições anteriores será possível
elaborar um Plano de Recuperação que estabeleça uma metodologia capaz de
superar a degradação atual. Em alguns casos, porém, é impossível voltar a
como era antes. Por exemplo, após o fechamento de um lixão ou aterro
sanitário, não há como eliminar todo o material que foi acumulado ali. Ou,
ainda, depois do encerramento de uma atividade de mineração, quando,
literalmente, uma montanha foi eliminada do lugar.
Em ocasiões como essas, a legislação permite métodos de recuperação
que não visem à restituição das condições anteriores, mas a uma nova
situação ambiental. Mesmo assim, deve haver, necessariamente, uma melhoria
da qualidade ambiental. Ou seja, um futuro melhor do que o presente.

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TEMA 4 – MODALIDADES DE RAD

Conforme o tipo de degradação e os objetivos que se deseja atingir com


a intervenção, podemos realizar quatro modalidades diferentes de trabalho:
recuperação, restauração, remediação ou reabilitação. A rigor, são conceitos
distintos, com objetivos diferentes. Vamos tratá-los aqui, para que você
conheça as suas principais diferenças.
A Lei n. 9.985/2000 define recuperação como a restituição “a uma
condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original”, e
restauração como a restituição ao estado “mais próximo possível da sua
condição original” (Brasil, 2000). A restauração é um trabalho mais exigente,
que requer conhecer exatamente como era a área antes do impacto ambiental,
além do comprometimento com o retorno a essa situação. Dificilmente um
empreendimento será obrigado a restaurar a área utilizada, exceto em casos
especiais.
A remediação consiste na aplicação de técnicas capazes de retirar, do
solo ou da água, determinados contaminantes, adequando a área às normas
ambientais. Existem diversos contaminantes listados na legislação, como
metais pesados, solventes orgânicos, pesticidas e hidrocarbonetos. Cada um
possui limites de concentração aceitos conforme o uso do solo ou da água, e
há várias tecnologias capazes de retirá-los do ambiente. A remediação,
portanto, age sobre áreas contaminadas, e não degradadas.
Por fim, a reabilitação se aplica, principalmente, a áreas degradadas
pela atividade de mineração ou por lixões. Consiste na conquista de um
ambiente estável e de melhor qualidade após o encerramento da atividade
econômica, mas sem se preocupar em retornar a condições anteriores. Busca-
se a readequação da área à região circunvizinha, dentro das exigências
estéticas, sociais e ambientais impostas pela legislação.

TEMA 5 – FASES DA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Podemos dividir a recuperação de áreas degradadas em quatro fases:


diagnóstico, elaboração do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
(PRAD), execução e monitoramento.
A etapa de diagnóstico consiste em registrar detalhadamente as
condições físicas, bióticas e socioeconômicas atuais da área a ser recuperada.

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O diagnóstico é importantíssimo, pois dele depende tudo o que virá a seguir. O
investimento de tempo e dinheiro nesta fase pode trazer economia no futuro.
Um bom diagnóstico exige uma equipe multidisciplinar e competente.
O PRAD descreve o conjunto de medidas que levarão a área degradada
a sua recuperação e é uma exigência legal. Ele pode integrar o processo de
licenciamento de atividades degradadoras do meio ambiente, antes do seu
início. Em outras situações, ele será exigido após uma punição, como parte de
um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Os órgãos ambientais costumam
disponibilizar Termos de Referência que estabelecem os tópicos exigidos,
conforme a atividade e o ambiente.
Deste momento em diante o trabalho consiste, basicamente, em seguir o
PRAD aprovado. Conhecimentos básicos de ecologia mostram seu valor no
momento da execução, pois muitas vezes há uma sequência imposta pela
natureza. Por exemplo, primeiro recupera-se o solo, depois se plantam as
mudas e só então os animais retornarão, não há como inverter esse processo.
Durante a execução, algumas soluções propostas podem se mostrar
inadequadas. A princípio, não há problemas em fazer mudanças, mas tudo
deve ser documentado. Essa é a etapa de monitoramento.
O monitoramento pode ser a etapa mais cara de toda a Recuperação,
até pela sua duração prolongada em anos. Por isso, ele deve ser estudado
cuidadosamente. Caso contrário, o custo real da RAD superará em muito o
custo previsto.
Alguns itens que devem constar na previsão de um bom monitoramento
são: substituição de mudas em um reflorestamento, contratação de
funcionários e manutenção de máquinas e automóveis (incluindo combustível).
É compreensível não prever um fenômeno natural muito raro, mas é inaceitável
ser pego desprevenido por um evento típico como uma estação chuvosa, por
exemplo.

NA PRÁTICA

Vamos falar um pouco sobre duas atividades econômicas


importantíssimas para o país, mas que geram grande degradação ambiental: a
pecuária e a mineração.
A degradação das pastagens usadas para pecuária diminui a produção e
aumenta a pressão para a expansão da fronteira agrícola sobre os biomas
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preservados. Hoje, a demanda que existe sobre a pecuária é desafiadora:
aumentar a produção, mas sem expandir as áreas de pastagens e mantendo o
sistema de criação no pasto. Em médio prazo, isso não será possível sem a
recuperação de áreas degradadas.
Entre 50% e 70% das áreas de pastagens do Brasil apresentam algum
grau de degradação. Isso equivale a cerca de 100 milhões de hectares (Dias-
Filho, 2014). Estima-se que cada hectare de pastagem recuperado
possibilitaria a migração de outros três para atividades não pecuárias, como
agricultura ou preservação. Esses números revelam o enorme potencial da
atividade de recuperação de áreas degradadas na pecuária.
Outra atividade econômica com grande impacto ambiental é a
mineração. A recuperação de áreas degradadas pela mineração é
expressamente determinada no art. 225 da Constituição Federal,
demonstrando a importância dessa atividade. Na mineração, a recuperação da
área deve ser, preferencialmente, simultânea à exploração econômica, pois
isso reduz custos e melhora os resultados.
A mineração tem características peculiares e inclui extrações de areia,
água mineral, pedreiras e diversos minerais. Espalha-se por todo o país e está
presente tanto em áreas rurais como urbanas. A atividade de recuperação de
áreas degradadas pela mineração é, portanto, outro campo promissor de
atuação profissional.

FINALIZANDO

Nesta aula vimos algumas características fundamentais da Recuperação


de Áreas Degradadas. Falamos sobre a necessidade de o profissional
conhecer a legislação que trata do assunto, pois é ela que norteará todo o seu
trabalho. Também tratamos da importância de se conhecer as Ciências
Ambientais afeitas à atividade e os recursos técnicos que elas trazem.
Finalmente, abordamos algumas das atividades econômicas que mais geram
degradação ambiental. Na próxima aula, falaremos sobre o Plano de
Recuperação de Área Degradada (PRAD). Até lá!

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Leitura obrigatória

MÉTODO garante produção e recupera áreas degradadas. PlayBr, 12 ago.


2017. Disponível em: <https://youtu.be/hS3G3FmlZhE>. Acesso em: 10 jul.
2018.

RESTAURAÇÃO de Áreas Degradadas. EMBRAPA. Disponível em:


<https://www.embrapa.br/agrobiologia/pesquisa-e-
desenvolvimento/recuperacao-de-areas-degradadas>. Acesso em: 10 jul. 2018.

RESTAURAÇÃO de Áreas Degradadas. Ministério do Meio Ambiente.


Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/camara-federal-de-
compensacao-ambiental/item/8705-recupera%C3%A7%C3%A3o-de-
%C3%A1reas-degradadas>. Acesso em: 10 jul. 2018.

SPITZCOVSKY, D. Áreas degradadas no Brasil equivalem a duas Franças.


Exame, 12 jul. 2012. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/mundo/areas-
degradadas-no-brasil-equivalem-a-duas-francas/>. Acesso em: 10 jul. 2018.

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REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, 2 set.


1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>.
Acesso em: 10 jul. 2018.

_____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 10 jul. 2018.

_____. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Diário Oficial da União, 19 jul.


1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm>.
Acesso em: 10 jul. 2018.

DIAS-FILHO, M. B. Diagnóstico das pastagens no Brasil. Belém: Embrapa


Amazônia Oriental, 2014. Disponível em:
<2018.https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/986147/1/DOC402
.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis. Instrução Normativa n. 4, de 13 de abril de 2011. Diário Oficial da
União, 14 abr. 2011. Disponível em:
<http://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/legislacao/IBAMA/IN0004-130411.PDF>.
Acesso em: 10 jul. 2018.

NEPOMUCENO, A. N.; NACHORNICK, V. L. Estudos e técnicas de


recuperação de áreas degradadas. Curitiba: InterSaberes, 2015.

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